Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 ASPECTOS DA NATUREZA DA CIÊNCIA EXPRESSOS EM ARTIGOS DE UMA REVISTA CIENTÍFICA Francisco Brenzam Filho - UEL1 Mariana A. Bologna Soares de Andrade – UEL2 Grupo de Pesquisa em Ensino e Epistemologia da Ciência- GPEEC Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A compreensão da natureza da ciência é essencial para que se possa abordar outros aspectos relativos à ciência, tanto ao que se refere ao ensino, a aprendizagem e ao contexto que se referem. O presente trabalho tem por objetivo analisar como os aspectos da Natureza da Ciência (NOS) vem sendo discutidos nos artigos publicados na revista Investigações em Ensino de Ciências nos últimos 17 anos, de 1999 até 2015. Selecionamos apenas os artigos que continham nas suas palavras-chave o termo NOS. Durante os 17 anos de publicação encontramos 5 artigos que continham o termo NOS em suas palavras-chave, e que eles fazem uma abordagem sobre as concepções dos professores, dos alunos e maneiras de inserção da NOS dentro dos currículos. Palavras-chave: Natureza da Ciência. Currículo. Formação de professores. Introdução A sociedade é dinâmica, passa por inúmeras modificações ao longo do tempo, como em seu modo de viver, moradias, meios de transporte, estilos de vida, valores e entre muitos outros aspectos. A ciência, segundo Paixão e Cachapuz, (2003, p.31), “pode ser tomada como uma forma de dar sentido ao mundo natural e tecnológico, ao mesmo tempo tendo em mente a construção da cidadania responsável.” Assim, a ciência é uma forma de se ver o mundo e, para compreendê-la profundamente, é importante que se conheça a Natureza da Ciência (NOS). De acordo com Lederman (2006), a NOS está relacionada às características do conhecimento científico que são, necessariamente, derivados da maneira como o conhecimento é 1 Licenciado em Ciências Biológicas, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM-UEL). E-mail: [email protected] 2 Doutora em Educação para a Ciência, Professora do Curso de Ciências Biológicas UEL, do Programa de PósGraduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM-UEL) e do Mestrado Profissional em Ciências Humanas, Sociais e da Natureza (PPGEN-UTFPR). E-mail: [email protected] 2360 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 desenvolvido. Ela faz parte de uma linha de pesquisa dentro da História e Filosofia da Ciência que por sua vez é um ramo da didática das ciências (ALMEIDA; FARIAS, 2011). Como uma forma de conceituar a natureza da ciência Vazquez et al (2007) afirmam que A natureza da ciência inclui a reflexão sobre os métodos para validar o conhecimento científico, os valores implicados nas atividades da ciência, as relações com a tecnologia, a natureza da comunidade científica, as relações da sociedade com o sistema tecnocientífico e as contribuições desta para a cultura e o progresso da sociedade. Este construto ou conceito faz referência a questões como: Que é ciência? Qual o seu funcionamento interno e externo? Como se constrói e desenvolve o conhecimento produzido pela ciência? Que métodos são usados para validar este conhecimento? Quais os valores implícitos nas atividades científicas? Qual é a natureza da comunidade científica? Quais foram e são as relações da ciência com a tecnologia até se constituir o atual sistema tecnocientífico? Quais são as relações da sociedade com este sistema? Quais são as contribuições deste a cultura e progresso da sociedade? (VÁZQUEZ et al., 2007, p.128). Historicamente, Lederman (1992) identifica quatro focos que concentram as pesquisas sobre a NOS: concepção de estudantes; concepções de currículos; concepções de professores; e implicações entre as concepções dos professores, sua práxis em sala de aula e as concepções dos estudantes. Uma das características da NOS é reconhecer que a ciência possui um caráter multifacetado e complexo e, similar ao conhecimento científico, as concepções sobre sua natureza são provisórias e dinâmicas. A ciência é empírica e, ao contrário do que pensam, não é uma atividade sem vida, racional e ordenada. Muitas vezes, envolve a invenção de explicações e entidades teóricas exigindo assim, uma grande dose de criatividade por parte dos cientistas (LEDERMAN, 2002). Dessa maneira, segundo o mesmo autor, a ciência é um empreendimento humano praticada dentro de uma cultura maior e o produto dessa cultura são os seus praticantes. Existe uma grande divergência entre filósofos, historiadores, educadores e sociólogos da ciência em conceituar a NOS devido ao seu próprio caráter dinâmico e complexo porém existe uma sabedoria compartilhada entre eles sobre os aspectos que compõem a NOS (LEDERMAN, 2002). Tais aspectos permeiam a ideia de que o conhecimento científico é provisório; empírico; carregado de teorias; em partes é produto de inferência humana o que envolve imaginação e criatividade e que é socialmente e culturalmente incorporado (LEDERMAN, 2002). Diante das considerações a respeito dos aspectos que compõem a NOS, julgamos necessário fazer uma análise dos artigos publicados na revista Investigações em Ensino de Ciências entre os anos de 1999 a 2015, afim de observar como esses aspectos são apresentados 2361 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 e discutidos dentro dos quatro focos que se concentram as pesquisas sobre a NOS de acordo com Lederman (1992). Metodologia Para conseguir responder a questão proposta, realizamos uma pesquisa bibliográfica nos artigos publicados na revista Investigações em Ensino de Ciências nos últimos 17 anos, selecionando apenas artigos que continham nas palavras-chave NOS. Este trabalho faz uso da técnica conhecida como análise de conteúdo definida como “um conjunto de instrumentos metodológicos que se aperfeiçoa constantemente e que se aplicam a discursos diversificados” (BARDIN, 1977, p.9). Selecionamos essa revista por estar vinculada a uma boa instituição (UFRGS) de ensino, por estar no estrato A2 do Qualis da CAPES e por se tratar de uma revista bastante expressiva em relação as publicações voltadas para o ensino de ciências. Busca-se com essa caracterização, evidenciar, além da palavra-chave NOS, quais outras palavras aparecem de forma mais expressiva nos artigos pesquisados. Vale ressaltar que selecionamos apenas as palavras-chave, pois são representativas do texto, o que não significa que não tenham outros artigos da revista que discutam os aspectos da NOS. Vale ressaltar que consideramos o ano inicial de 1999 por ser a data da publicação do primeiro artigo contemplando os critérios utilizados para esta análise. Após a constituição do corpus da pesquisa, buscou-se selecionar frases presentes nos artigos que representam como as características da NOS são evidenciadas pelos autores, para posterior discussão de sua compreensão e comparação entre os mesmos. Resultados e Discussão Durante os 17 anos de publicação da revista encontramos 5 artigos que continham nas palavras-chave NOS como mostra a tabela 1. Como podemos observar, as duas palavras seguintes que aparecem em dois artigos são formação de professores (2007, 2011) e ensino de ciências (1999, 2011). 2362 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Tabela 1. Organização do ano de publicação, título e palavras-chave. ANO 1999 2004 2007 TÍTULO PALAVRAS-CHAVE UMA REVISÃO DE PESQUISAS NAS CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE A NATUREZA DA CIÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO 1. concepções dos professores; 2. natureza da ciência; 3. ensino de ciências. CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DE 1. Natureza da ciência ; ESTUDANTES DE BIOLOGIA E SUA 2. Ensino superior de Biologia; TRANSFORMAÇÃO POR UMA PROPOSTA 3. Abordagem explícita de Ensino de EXPLÍCITA DE ENSINO SOBRE HISTÓRIA E Biologia. FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS CONCEPÇÕES SOBRE A NATUREZA DA 1. Natureza da ciência; CIÊNCIA NUM CURSO DE CIÊNCIAS 2. formação de professores; BIOLÓGICAS: IMAGENS QUE DIFICULTAM A 3. epistemologia; EDUCAÇÃO CIENTÍFICA 4. Ludwik Fleck. 2009 EXPERIMENTOS E CONTEXTOS NAS EXPOSIÇÕES INTERATIVAS DOS CENTROS E MUSEUS DE CIÊNCIAS 1. centros e museus de ciências; 2. educação científica; 3. natureza da ciência; 4. pesquisa-ação. 2011 A NATUREZA DA CIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: REFLEXÕES A PARTIR DE UM CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 1. Natureza da ciência; 2. ensino de ciências; 3. formação de professores. O artigo do ano de 2011 apresentou as duas palavras que houve repetição entre o corpus utilizado, que foram as palavras-chave ensino de ciências e formação de professores. Conhecendo um pouco sobre os artigos O artigo publicado no ano de 1999 intitulado “UMA REVISÃO DE PESQUISAS NAS CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE A NATUREZA DA CIÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO” realiza uma revisão bibliográfica e apresenta como resultado que os professores, de modo geral, apresentam uma visão empirista da ciência conforme a frase: [...] de modo geral, uma aproximação das CNC dos professores a uma imagem empirista da ciência, apoiada fortemente no papel da observação e na produção do conhecimento através de um método único: o método científico (HARRES, 1999, p. 205). De acordo com os trabalhos de Lederman (2002), esse é o equívoco mais difundido sobre a ciência. Segundo ele, não existe um método único ou uma única sequência de atividades que levem a soluções válidas ou ao conhecimento certo. 2363 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Outro aspecto levantado pela revisão foi a crítica a visão da ciência como absolutista, definitiva e acabada conforme o fragmento: [...] sem defender uma concepção de ciência como sendo a A verdadeira, a A definitiva ou a A acabada, uma vez que isto recairia na posição que criticamos, isto é, no absolutismo epistemológico (HARRES, 1999, p. 205). Como observamos, essa frase corrobora com os trabalhos de Lederman (2002) que salienta que a ciência não é absoluta e acabada e que o conhecimento científico é provisório e sofre mudanças. No artigo publicado em 2004, com o título: “CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DE ESTUDANTES DE BIOLOGIA E SUA TRANSFORMAÇÃO POR UMA PROPOSTA EXPLÍCITA DE ENSINO SOBRE HISTÓRIA E FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS” buscou-se conhecer as concepções dos estudantes de biologia acerca da NOS por meio de aplicação de questionário antes e depois de leituras e discussões de textos relacionados a História e Filosofia das Ciências. Uma das características da ciência é o uso da criatividade e imaginação. De acordo com o artigo, essas características não foram satisfatórias conforme o fragmento: No que tange ao papel da criatividade e da imaginação no trabalho científico, foi observada uma involução conceitual dos alunos ao longo da disciplina [...] (El-NINO; TAVARES; ROCHA, 2004, p. 306). Segundo Lederman (2002), a ciência não é uma atividade sem vida, inteiramente racional e ordenada. A ciência é uma atividade humana e envolve a invenção de explicações requerendo uma grande dose de criatividade por parte dos cientistas. Algo que nos chamou a atenção é que nesse artigo, o autor traz uma referência de como deveria ser uma proposta que contemplasse os aspectos da NOS no ensino conforme o fragmento abaixo: Estas propostas podem ser caracterizadas como ‘implícitas’, quando utilizam instrução sobre habilidades relacionadas à prática científica ou engajamento em atividades investigativas como um meio para a melhoria das visões sobre a natureza da ciência, ou ‘explícitas’, quando o ensino enfoca diretamente conteúdos epistemológicos ou emprega elementos de história e filosofia das ciências no tratamento de conteúdos específicos (ABD-EL-KHALICK & LEDERMAN, 2000, p. 268) Neste artigo a NOS é caracterizada por meio da investigação e, também, pela visão da história e da filosofia da ciência. Em relação à história e filosofia das ciências, Forato, Martins e Pietrocola (2010) defendem que a história da ciência 2364 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 [...] têm sido amplamente considerada como adequada para atingir vários propósitos na formação científica básica podendo apresentar a construção sócio-histórica do conhecimento, a dimensão humana da ciência, e, especialmente, promover o entendimento da NdC (FORATO; MARTINS; PIETROCOLA, 2010, p. 2). No artigo de 2007 intitulado como “CONCEPÇÕES SOBRE A NATUREZA DA CIÊNCIA NUM CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: IMAGENS QUE DIFICULTAM A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA” teve como objetivo caracterizar as concepções sobre a NOS presentes entre estudantes de um curso de Ciências Biológicas. Em um de seus resultados, os estudantes apresentam a visão do conhecimento científico: [...] percebe-se que eles acreditam que, para o conhecimento ser científico, precisa haver a comprovação experimental [...]. Aceitam que as teorias têm algum papel, porém, enfatizam mais o processo experimental (SCHEID; FERRARI; DELIZOICOV, 2007, p.162). Como apresentado nos trabalhos de Lederman (2002), o conhecimento científico começa com as observações dos fenômenos naturais. Isso inclui fatos, interpretações, leis e teorias que fundamentam o funcionamentos dos instrumentos científicos. Sobre a neutralidade da ciência, o artigo constatou que os estudantes apresentam essa visão de acordo com o fragmento: [...] A ciência aparece revestida pela imagem da neutralidade, ignorando-se a relação entre o sujeito, o objeto e o estado do conhecimento (SCHEID; FERRARI; DELIZOICOV, 2007, p. 165). De acordo com os trabalhos de Lederman (2002) a ciência afeta e é afetada pelos vários elementos intelectuais da cultura na qual ela está inserida. Esses elementos envolvem a estrutura social, política, fatores socioeconômicos, filosofia, religião e outros. Portanto, a ciência não é neutra mas sim é vista como um empreendimento humano praticada no contexto de uma cultura (LEDERMAN, 2002). O artigo de 2009 intitulado como: EXPERIMENTOS E CONTEXTOS NAS EXPOSIÇÕES INTERATIVAS DOS CENTROS E MUSEUS DE CIÊNCIAS procurou identificar, através da análise dos experimentos e dos contextos nas exposições interativas dos centros e museus de ciências, as condições necessárias para a apreensão da cultura científica na concepção pós-positivista. Um resultado que nos chamou a atenção está no fragmento abaixo: 2365 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 No que diz respeito à primeira categoria de análise, a experimentação, os resultados revelam haver algumas dificuldades para que o público dos museus e centros de ciências possa vivenciar a interatividade sem o risco do cientificismo induzido apenas pelo uso de procedimentos participativos e interativos nas exposições. Os equipamentos, em geral, são manipulados com curiosidade, mas sem reflexão, visto não haver uma base teórica que dê suporte ao observado, produzindo resultados imediatos e ilusoriamente puros. A ciência expressa nessa experimentação é a ciência clássica, que procura por dados observacionais neutros, desprovidos de qualquer interpretação (CHINELLI; AGUIAR, 2009, p. 388). Destacam-se dois pontos nesse trecho: a experimentação sem reflexão e dados observacionais neutros. A experimentação sem reflexão não passa de um técnica de reprodução na qual os estudantes devem seguir um procedimento e chegar a uma conclusão pronta. O conhecimento científico surge justamente de uma reflexão de observação na qual o cientista faz uso de todo seu aparato perceptual de um fenômeno natural (LEDERMAN, 2002). A partir desse ponto, o cientista irá questionar, levantar hipóteses e, se for o caso, elaborar e desenvolver experimentos. A ciência não é neutra portanto os dados observacionais dependem da interpretação do cientista e do contexto na qual está inserido. Outro fragmento que corrobora com o artigo de 2007 supracitado é a não relação da ciência como empreendimento humano conforme o fragmento: As exposições mostram coerência com o paradigma clássico. A ciência conformada neste paradigma, ciência positivista, pressupõe a separação total entre a natureza e o ser humano (CHINELLI; AGUIAR, 2009, p. 389). Como já apresentado, a ciência é uma prática humana envolvida dentro de uma cultura. Essa prática envolve a criatividade e a imaginação de grande parte dos cientistas. Em 2011, o artigo “A NATUREZA DA CIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: REFLEXÕES A PARTIR DE UM CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS”, é uma revisão teórica sobre a NOS na formação de professores da área do ensino das ciências. Os autores buscam apresentar referência no campo dos estudos atuais sobre a NOS e suas implicações para a educação em ciências; e, também, servir de base para refletir sobre a prática docente e o currículo de formação de professores de ciências e biologia. Sobre a inserção das concepções sobre a NOS, destacamos o seguinte fragmento: [...] as políticas curriculares brasileiras já contemplam há mais de uma década concepções de ciência e tecnologia como práticas humanas, construídas social e historicamente (vide os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCN), por outro, ainda permanece um desafio para os cursos de graduação e para os próprios 2366 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 formadores dos futuros professores de ciências da educação básica, construírem e sustentarem espaços e componentes curriculares que sejam capazes de contribuir efetivamente para o uso da NdC como ferramenta para a educação em ciências. (ALMEIDA; FARIAS, 2011, p. 474) Em seus estudos Lederman (2007) aponta que os professores de ciência não possuem concepções adequadas sobre a NOS. Como forma de melhorar essa situação, um dos caminhos apontados pelo autor para minimizar essa incompreensão é incluir disciplinas de metodologia científica e história e filosofia da ciência dentro dos cursos de formação. Além disso, Brasil (2001) aponta que, um dos conteúdos estruturais básicos no curso de formação de professores de Biologia é a história, filosofia e metodologia da ciência. Essa relação fica evidenciada também no fragmento do texto [...] esbarra-se com a precária formação dos professores em História e Filosofia da Ciência. A isso se soma a escassez de materiais pedagógicos para serem usados pelos professores em sala de aula que contenham estratégias para se trabalhar HFC com vistas a problematizar a NdC (ALMEIDA; FARIAS, 2011, p.438). Como podemos perceber, um dos grandes problemas está na formação dos professores em História e Filosofia da Ciência para que tenham uma boa base para trabalhar com os aspectos da NOS. Considerações Finais Com essa análise percebemos que atualmente são poucos os trabalhos que discutem sobre a NOS, dentro da revista Investigações em Ensino de Ciências. Também observamos que os trabalhos se concentram em discutir sobre as concepções dos professores, concepções de alunos e formas de inserção da NOS dentro dos currículos conforme Lederman (1992) já havia apresentado. De acordo com os resultados dos trabalhos analisados, é possível perceber que os aspectos da NOS ainda estão pouco claros tanto para os professores quanto para os alunos. Uma forma de tentar diminuir esse problema seria introduzir nos cursos de formação a disciplina de História e Filosofia da Ciência para que os professores consigam compreender os aspectos da NOS. Consequentemente, os professores com um bom entendimento conseguirá trabalhar de maneira eficiente e correta com os seus alunos. 2367 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Referências ALMEIDA, A. V.; FARIAS, C. R. O. A natureza da ciência na formação de professores: reflexões a partir de um curso de licenciatura em ciências biológicas. Investigações em ensino de Ciências, V16(3), pp. 473-488, 2011. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. CHINELLI, Maura Ventura; AGUIAR, Luiz Edmundo Vargas de. Experimentos e contextos nas exposições interativas dos centros e museus de ciências. Investigações em Ensino de Ciências, V.14, p. 377-392, 2009. FORATO, T. C. M., MARTINS, R. A., & PIETROCOLA. M. (2010). A história e a natureza da ciência no ensino de ciências: obstáculos a superar ou contornar. In: XII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física – SP, Águas de Lindóia: 2010, Atas... 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