UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA OCORRÊNCIA DE INFECÇÃO PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) E DO CONHECIMENTO GERAL SOBRE O VÍRUS EM MULHERES RESIDENTES EM RONDÔNIA, BRASIL FÁBIA MARIA PEREIRA DE SÁ Belém – Pará 2013 FÁBIA MARIA PEREIRA DE SÁ ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA OCORRÊNCIA DE INFECÇÃO PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) E DO CONHECIMENTO GERAL SOBRE O VÍRUS EM MULHERES RESIDENTES EM RONDÔNIA, BRASIL Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos R. Vallinoto Belém – Pará 2013 1 FÁBIA MARIA PEREIRA DE SÁ ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA OCORRÊNCIA DE INFECÇÃO PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) E DO CONHECIMENTO GERAL SOBRE O VÍRUS EM MULHERES RESIDENTES EM RONDÔNIA, BRASIL Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto Laboratório de Virologia, ICB-UFPA Banca Examinadora: Prof. Dr. Luiz Fernando Almeida Machado Laboratório de Virologia, ICB-UFPA Profa. Dra. Rosimar Neris Martins Feitosa Laboratório de Virologia, ICB-UFPA Profa. Dra. Hellen Thais Fuzii Núcleo de Medicina Tropical, NMT-UFPA Profa. Dra. Izaura Maria Vieira Cayres Vallinoto Instituto de Ciências Biológicas, ICB-UFPA Prof. Dr. Vânia Nakauth Azevedo Laboratório de Virologia, ICB-UFPA (suplente) Belém, 30 de setembro de 2013. 2 Escolho sempre assuntos acima das minhas forças. (Dostoievski) 3 À mainha, painho e Antônios (Antônio Gabriel, Antônio Victor e Antonio Carlos). Dedico. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, princípio e fim de tudo, pela saúde e perseverança necessárias para a conclusão deste curso. À minha família, principalmente meu esposo, Antônio Victor Zeferino, e filho, Antônio Gabriel de Sá Zeferino, pela paciência e por terem entendido minhas ausências, em muitos momentos, durante esses anos de curso. Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto, pelo apoio, confiança e pela inestimável ajuda em todos os momentos deste curso. Aos professores do programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, em especial ao prof. Dr. Ricardo Ishak, pelos conhecimentos compartilhados e pelo apoio em todas às vezes que estive em Belém. A professora Drª. Helena Meika Uesugui pela imensa ajuda na organização sequencial da metodologia e a professora Drª. Rosani Aparecida Alves Ribeiro de Souza pela carinhosa ajuda em todas as fases de desenvolvimento deste trabalho, bem como na preparação para a defesa do mesmo. Aos funcionários do Laboratório de Virologia da UFPA, principalmente a senhora Terezinha, pelo carinho e ajuda. À Jacqueline Cortinhas Monteiro e Drª. Hellen Fuzii pela ajuda fundamental durante a realização das análises de laboratório. Aos componentes da banca examinadora por compartilharem seu tempo e conhecimento para a melhoria deste trabalho. Enfim, a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a construção e finalização deste trabalho. Muito obrigada! 5 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS 7 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS 8 RESUMO 11 ABSTRACT 12 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 13 1.1 PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV)........................................................... 13 1.1.1 Morfologia e classificação taxonômica.................................................. 13 1.1.2 Transmissão e mecanismos de infecção............................................... 17 1.1.3 Aspectos imunológicos........................................................................... 20 1.2 HPV E O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO................................................ 21 1.2.1 História natural do câncer do colo do útero.......................................... 21 1.2.2 Cofatores associados ao HPV e a oncogênese cervical...................... 24 1.3 EPIDEMIOLOGIA DO HPV......................................................................... 25 1.4 DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO POR HPV................................................ 1.5 TRATAMENTO E PROFILAXIA DE INFECÇÕES CAUSADAS POR HPV 29 1.5.1 Vacinas para HPV..................................................................................... 1.6 28 30 CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO SOBRE HPV E SUA RELAÇÃO COM O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO.................................................. 34 1.7 OBJETIVOS................................................................................................ 36 1.7.1 Objetivo geral............................................................................................ 36 1.7.2 Objetivos específicos............................................................................... 36 2 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 37 2.1 LOCALIDADE DO ESTUDO....................................................................... 37 2.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO........................................................................ 38 2.3 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE E DE EXCLUSÃO................................ 2.4 ETAPAS DE EXECUÇÃO........................................................................... 39 2.4.1 Coleta dos dados ..................................................................................... 39 2.4.2 Coleta das amostras cervicais................................................................ 39 2.4.3 Análises de biologia molecular............................................................... 41 2.4.3.1 Extração do DNA das amostras.............................................................. 41 38 6 2.4.3.2 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)................................................ 42 2.4.3.3 Eletroforese............................................................................................... 42 2.4.3.4 PCR em Tempo Real................................................................................. 43 2.5 CAMPANHA DE DIVULGAÇÃO SOBRE HPV E CÂNCER DO COLO DO ÚTERO................................................................................................. 43 2.6 ANÁLISES ESTATÍSTICAS........................................................................ 43 2.7 ASPECTOS ÉTICOS.................................................................................. 44 3 RESULTADOS........................................................................................... 45 4 DISCUSSÃO............................................................................................... 59 5 CONCLUSÕES........................................................................................... 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 66 ANEXO 1 – FICHA DE SAÚDE................................................................................ 78 ANEXO 2 – CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO NÚCLEO DE SAÚDE (CEP/NUSAU) DA FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA....................................................................................... 79 APÊNDICE 1 – QUESTIONÁRIO PARA COLETA DAS INFORMAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS................................................................................................ 80 APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO PARA COLETA DAS INFORMAÇÕES DE CONHECIMENTO GERAL SOBRE HPV................................................................. 83 APÊNDICE 3 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO........... 85 APÊNDICE 4 – CARTILHA INFORMATIVA SOBRE HPV...................................... 86 7 LISTA DE FIGURAS Página Figura 1 – Representação do capsídeo do Papilomavírus Humano (HPV).................................................................................................................. 13 Figura 2 – Representação esquemática do genoma do HPV 16....................... 14 Figura 3 – Progressão do câncer do colo do útero associado ao HPV............. 22 Figura 4 – Etapas gerais do desenvolvimento do câncer do colo do útero....... 23 Figura 5 – Sequência de eventos na evolução do colo do útero....................... 24 Figura 6 – Distribuição global do câncer do colo do útero nos grandes países em desenvolvimento............................................................................... 26 Figura 7 – Mapa de localização do município de Ariquemes no Estado de Rondônia............................................................................................................ 37 Figura 8 – Características demográficas das servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia......................................................................................... 47 Figura 9 – Idade da primeira relação sexual e número de parceiros das servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia................................................ 48 Figura 10 – Métodos contraceptivos empregados pelas servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia...................................................................... 49 Figura 11 – Tempo de realização do último PCCU e paridade entre as servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia................................................ 49 Figura 12 – Percentual das servidoras que realizaram coleta da amostra cervical................................................................................................................ 52 Figura 13 – Resultado do PCCU das servidoras que participaram da coleta das amostras cervicais....................................................................................... 55 8 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ASC-H Células escamosas atípicas sem excluir a lesão de alto grau ASC-US Células escamosas atípicas de significado indeterminado CEP Comitê de Ética em Pesquisa COX-2 Ciclooxigenase-2 DNA Ácido desoxirribonucleico dNTP Desoxirribonucleotídeos fosfatados DST Doença Sexualmente Transmissível E Early E6-AP E6 associated protein ligase EUA Estados Unidos da América FAEMA Faculdade de Educação e Meio Ambiente FDA Food and Drug Administration º Grau ºC Graus Celsius HCl Ácido clorídrico HIV Vírus da Imunodeficiência Humana HLA Antígenos Leucocitários Humanos HPV Papilomavírus Humano HSIL Lesões intraepiteliais escamosas de alto grau HSPG Sulfato de heparina peptideoglicano IARC Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer ICB Instituto de Ciências Biológicas ICTV International Comittee on Taxonomy of Viruses Ig Imunoglobulina INCA Instituto Nacional do Câncer KCl Cloreto de potássio Km Quilômetro Km² Quilômetro quadrado L Late LCR Long control region 9 LSIL Lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau M Metro MgCl2 Cloreto de magnésio MHC Complexo Principal de Histocompatibilidade mL Mililitro mM Milimolar Mm Milímetro mm/ ano Milímetro por ano MS Ministério da Saúde µL Microlitro µM Micrômetro Nm Nanômetro nM Nanomolar NUSAU Núcleo de Saúde nº Número OMS Organização Mundial de Saúde ORF Open Reading frames Pb Pares de base PCCU Preventivo de Câncer do Colo do Útero PCR Reação em Cadeia da Polimerase pH Potencial hidrogeniônico Pmol Picomolar pRb Proteína do retinoblastoma % Por cento qPCR Reação em Cadeia da Polimerase Quantitativa REM Representação de Ensino Municipal RNAm Ácido ribonucleico mensageiro Rpm Rotações por minuto SEDUC Secretaria Estadual de Saúde SEMED Secretaria Municipal de Saúde SUS Sistema Único de Saúde UFPA Universidade Federal do Pará 10 UNIR Universidade Federal de Rondônia VLP Partículas semelhantes a vírus 11 RESUMO Os Papilomavírus Humano (HPV) são vírus que apresentam genoma composto de ácido desoxirribonucleico, de fita dupla circular, não envelopados e que infectam células epiteliais em peles e mucosas. Mais de 100 tipos já foram identificados, do quais mais de 70 tipos atingem a região anogenital, com os de alto risco associados ao desenvolvimento do câncer do colo do útero, sendo esta a neoplasia mais incidente na Região Norte e a segunda no Estado de Rondônia. O presente estudo objetivou detectar a ocorrência e avaliar o grau de conhecimento sobre a infecção pelo HPV entre funcionárias da Secretaria Municipal de Ariquemes, Rondônia, Brasil. O estudo foi executado em duas etapas: a primeira com intuito de coletar dados sociodemográficos e de conhecimento geral sobre HPV entre as mulheres participantes, ocorreu no período de fevereiro a abril de 2012, por meio de aplicação de formulários, e a segunda, realizada entre os meses de abril e setembro de 2012, com o objetivo de colheita de amostras cervicais destinadas à análise citológica e a pesquisa do HPV por meio de biologia molecular, bem como verificar a adesão à realização do exame preventivo. Um total de 375 servidoras atendeu aos critérios de inclusão estabelecidos e participaram da pesquisa. Os resultados mostraram que 40,3 % (151/ 375) das mulheres apresentavam faixa etária entre 40 e 49 anos, das quais 55,7 % (209/ 375) eram casadas, 49,3 % (185/ 375) informaram ter mantido relações sexuais com até cinco parceiros durante a vida e todas as participantes informaram ter vida sexual ativa. A maioria da população investigada, 75,5 % (283/ 375), afirmou já ter ouvido falar em HPV, 58,7 % (219/ 375) relataram saber como o HPV pode ser transmitido e 18,7 % (70/ 375) já ouviram falar em vacina para HPV. Das 375 mulheres que participaram da primeira etapa da pesquisa, 68 (18,1 %) realizaram coleta das amostras cervicais, o que revelou baixa adesão à realização do exame Papanicolaou e a pesquisa do HPV por métodos moleculares. Destas, um total de quatro amostras se mostraram positivas para HPV, sendo encontradas duas amostras positivas para HPV 58 e duas indeterminadas. Quanto à análise citológica, realizada em 64 amostras, um total de 56,5 % foi classificado como ausente de células atípicas. Por fim, no que concerne ao conhecimento geral sobre o HPV e o câncer do colo do útero, a análise dos resultados conclui que há conhecimento insuficiente sobre a temática na população investigada, o que corrobora com dados da literatura, refletindo na baixa adesão à realização do exame. 12 ABSTRACT Human papillomavirus (“HPV”) consists of a genome composed of deoxyribonucleic acid, is circular, double-stranded, and non-enveloped. It infects epithelial cells in skin and mucous membranes. More than 100 kinds have been identified, of which 70+ types affect the anogenital region. There is an associated elevated risk of developing cancer of the cervix, which is the most frequent cancer in the Northern region and the second most common in the State of Rondonia. The present study aimed to detect the occurrence and assess the level of knowledge about HPV infection among employees of the Municipal Porto Velho, Rondonia, Brazil. The study was performed in two stages: the first in order to collect demographic data and general knowledge about HPV among women participants, which occurred in the period from February to April 2012, through application forms, and the second, held between April and September 2012, with the aim of collecting cervical samples for cytology and detection of HPV by molecular assays, as well as verify adherence to completion of screening. A total of 375 employees met the inclusion criteria and participated in the survey. The results showed that 40.3 % (151/ 375) of women had aged between 40 and 49 years, of whom 55.7 % (209/ 375) were married, 49.3 % (185/ 375) reported having maintained sex with up to five partners during life and all participants reported having active sex life. The majority of the population studied, 75.5 % (283/ 375) reported having heard of HPV, 58.7 % (219/ 375) reported how HPV can be transmitted and 18.7 % (70/ 375) have heard of HPV vaccine. Of the 375 women who participated in the first phase of the study, 68 (18.1 %) underwent collection of cervical samples, which showed low adherence to Papanicolaou smear exam and HPV research by molecular methods. Of these, a total of four samples were positive for HPV, two samples were found positive for HPV 58 and two indeterminate. According to cytological analysis, performed on 64 samples, a total of 56.5 % was rated as absence of atypical cells. Finally, with regard to general knowledge about HPV and cervical cancer, result analysis concludes that there is insufficient knowledge on the subject in the population studied, which agrees with literature data, reflecting the low adherence to the realization of examination. 13 1 INTRODUÇÃO 1.1 PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) 1.1.1 Morfologia e classificação taxonômica Os Papilomavírus humano – Human papilomavirus (HPV) são vírus que apresentam genoma composto de ácido desoxirribonucleico (DNA) de fita dupla circular (Jastreboff & Cymet, 2002), com aproximadamente oito mil pares de bases (pb) de nucleotídeos, capsídeo icosaédrico (Figura 1), de cerca de 55nm de diâmetro, não envelopados e que infectam células epiteliais em peles ou mucosas (Psyrri & DiMaio, 2008; Chen et al., 2009). O termo papiloma vem do latim papilla (pústula) e do sufixo grego oma (tumor) (Sanclemente & Gill, 2002). Figura 1 – Representação do capsídeo do Papilomavírus Humano (HPV) (Fonte: Modis et al., 2002) O genoma viral (Figura 2) é dividido em três regiões: a regulatória (LCR – long control region), que contém a origem de replicação e a maioria dos promotores da transcrição, e as codificadoras (ORF – open reading frames), que são divididas em sequências precoce e tardia. A região precoce (E – early) codifica as proteínas envolvidas na replicação do DNA viral e na transformação celular, das quais se destacam E1, E2, E4, E5, E6 e E7, e a região tardia (L – late) que codifica as proteínas do capsídeo (L1 e L2), responsáveis pelas etapas finais da replicação do vírus (Jung et 14 al., 2004; Angulo & Carvajal-Rodríguez, 2007; Heng et al., 2009; Rosa et al., 2009; Figura 2). Figura 2 – Representação esquemática do genoma do HPV 16 (Fonte: Adaptado de Baldi, 2008) As proteínas codificadas pelos genes E6 e E7 do HPV são reconhecidas como oncogênicas. Cada uma delas têm vários alvos celulares, com a p53 e a proteína do retinoblastoma (pRb) sendo as mais importantes. A proteína E7 é considerada a proteína de transformação principal e ambas, E6 e E7, são expressas em níveis baixos durante o processo infeccioso. Entretanto, em algum ponto ainda indefinido na progressão para pré-câncer, a expressão de E6 e E7 é desregulada, quer por alterações genéticas ou epigenéticas, levando a sua superexpressão na lesão epitelial (Vaeteewoottacharn et al., 2005; Schifmman, 2007). O Quadro 1 mostra os produtos dos genes das regiões precoce e tardia do genoma do HPV e suas respectivas funções. 15 Quadro 1 – Produtos dos genes da região precoce e tardia do genoma do HPV e suas respectivas funções Produto do Gene Função E1 - Codifica proteínas para a manutenção do genoma viral. Importante na indução da replicação viral. E2 - Juntamente com a E1, induz a replicação viral. Tem efeitos positivos e negativos na transcrição viral. Importante na prevenção da transformação oncogênica em células contendo o DNA viral. E3 - Não possui função conhecida. E4 - Pouca informação a respeito desta proteína. Associada a colapso da rede de citoqueratina celular, provavelmente auxiliando na saída do vírus da célula. É o que promove o característico aspecto de coilocitose nas células infectadas pelo HPV. Possível papel na regulação da estabilidade do RNAm. Não parece ser necessária para a transformação oncogênica. E5 - Parece diminuir a expressão de moléculas de antígenos leucocitários humanos (HLA) de Classe I, alterar a expressão de superfícies de moléculas do Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC) de Classe II. Pode interagir com receptores de fatores de crescimento. E6 - Pode ativar a telomerase. Induz a instabilidade genômica. Apresenta efeito anti-apoptótico. Envolvida no processo de transformação e imortalização celular. Envolvida na degradação do gene supressor tumoral p53. E7 - Induz a instabilidade genômica. Envolvida no processo de transformação e imortalização celular. Interação com a proteína pRB. L1 - Principal proteína do capsídeo. L2 - Envolvida no transporte nuclear do DNA viral. Contribui para a encapsidação do DNA viral. Fonte: Adaptado de Motoyama et al. (2004); Boulet et al. (2007); Passos et al. (2008) 16 De acordo com o International Committee on Taxonomy of Viruses (ICTV, 2012), o Papillomavirus humano (HPV) pertence à Família Papillomaviridae, a qual é composta de 30 gêneros. Destes, os gêneros Alphapapillomavirus, Betapapillomavirus, Gammapapillomavirus, Mupapillomavirus e Nupapillomavirus possuem espécies que infectam os seres humanos (Bernard et al., 2010). Os vírus estão agrupados em gêneros, espécies, tipos, subtipos e variantes (Hazard et al., 2007). Sendo agrupados, no mesmo gênero, os HPV com homologia maior que 60%, com relação ao gene L1; as espécies, dentro de um mesmo gênero, têm entre 60% e 70% de homologia; já os tipos, subtipos e variantes apresentam 7189%, 90-98% e 98-99% de similaridade, respectivamente (de Villiers et al., 2004). O gênero Alphapapillomavirus agrupa o maior número de espécies (14 espécies), sendo considerado o mais importante clinicamente, por conter todos os tipos de HPV associados às lesões da mucosa genital (de Villiers et al., 2004). Mais recentemente, alguns HPV pertencentes ao gênero Betapapillomavirus (Beta-HPV 5, 8 e 38) foram implicados na progressão do câncer de pele, apesar dos mecanismos moleculares de desenvolvimento do câncer ainda serem desconhecidos (Bedard et al., 2008). Mais de 120 genótipos de HPV já foram identificados (Bernard et al., 2010; White et al., 2012), dos quais cerca de 70 tipos atingem a região anogenital (D’Hauwers et al., 2007). Os HPV genitais são divididos em grupos, de acordo com o risco oncogênico, em: HPV de alto risco, comumente associados ao câncer do colo do útero, e HPV de baixo risco, reconhecidos como os patógenos causadores do condiloma acuminado (Zur Hausen, 1996; Kawana et al., 2009). Atualmente, doze tipos de HPV são designados, pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC), como carcinogênicos, e oito tipos adicionais são designados como provavelmente ou possivelmente carcinogênicos (Quadro 2) (Erickson et al., 2012). 17 Quadro 2 – Classificação dos Papilomavírus Humano (HPV) de acordo com risco oncogênico Classificação dos HPV Tipos de HPV de alto risco Carcinogênicos: 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 Provavelmente carcinogênicos: 68 Possivelmente carcinogênicos: 26, 53, 66, 67, 70, 73, 82 Tipos de HPV de baixo risco 6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 72, 81, 89 Fonte: Adaptado de Erickson et al. (2012) Os HPV podem ser classificados, ainda, de acordo com a afinidade por determinados tecidos, em mucosotrópicos (apresentam afinidade por mucosas) e epidermotrópicos (exibem maior afinidade pela pele) (Passos et al., 2008; Jayshree et al., 2009; Rosa et al., 2009). 1.1.2 Transmissão e mecanismos de infecção As infecções por HPV anogenitais são transmitidas, principalmente, pelo contato pele-a-pele ou mucosa-mucosa, sendo a principal via a sexual, sem diferença entre os tipos de HPV conhecidos. Por causa da via de transmissão comum, os tipos de HPV tendem a ser transmitidos em conjunto, resultando, desta forma, em uma elevada proporção (20-30%) de infecções concomitantes, com vários tipos diferentes. Os homens também são frequentemente infectados com vários tipos de HPV simultaneamente, o que implica que, um ato sexual, poderia transmitir vários tipos de uma só vez (Schifmman, 2007). Embora o principal método de transmissão do HPV seja a exposição sexual, outras vias não sexuais de transmissão já foram relatadas, como a materno-fetal, por meio do contato com a mucosa vaginal e cervical durante o parto, transmissão transplacentária, através do líquido amniótico e transmissão horizontal durante a infância (Queiroz et al., 2007; Erickson et al., 2012). Em um estudo realizado por Rombaldi et al. (2009), com 49 mães de Caxias do Sul (Brasil), estes autores detectaram a transmissão perinatal do DNA do HPV em 24,5% (12/ 49) dos casos. 18 Os HPV infectam os queratinócitos basais (Stanley, 2009; Lace et al., 2011) e, antes de estabelecer a infecção, é necessário que o vírus consiga se ligar e entrar na célula hospedeira, o que envolve receptores celulares (Letian & Tianyu, 2010). Neste processo, no caso de vírus não envelopados, como os HPV, o capsídeo viral exerce papel chave no estabelecimento da infecção, pois, além da função de proteger o ácido nucleico viral, fornece o local de interação inicial da partícula viral com a célula hospedeira (Horvath et al., 2010). A interação das partículas virais com receptores celulares é dependente principalmente de L1, embora seja possível que L2 também possa participar dos processos de interação de superfície. Entre os receptores envolvidos nesta etapa, destaca-se o Sulfato de Heparina Peptideoglicano (HSPG), encontrado nas membranas dos queratinócitos basais; outros receptores ligados a este processo incluem: laminina5 e integrina-α-6, considerados receptores secundários (Finnen et al., 2003). A internalização celular das partículas virais geralmente ocorre por mecanismo de endocitose, dependente de actina. Entretanto, apesar dos avanços significativos e do surgimento de um quadro geral da via de entrada do HPV na célula, o mecanismo completo ainda não está elucidado (Horvath et al., 2010). Ao penetrar na célula germinativa, o HPV pode seguir dois caminhos: (i) infecção produtiva, na qual o genoma viral é mantido como extracromossomal (epissomos), não se associando ao DNA da célula hospedeira, e induzindo à mitose com formação de lesões benignas, como condilomas; e (ii) infecção não produtiva, com a integração do genoma viral ao genoma humano, associada, muitas vezes, aos carcinomas do colo do útero, havendo, para isto, quebra no genoma viral, principalmente, nas regiões E1 e E2 do vírus, com perda da função destes genes, acompanhada de desregulação dos oncogenes E6 e E7 (Burd, 2003). É importante comentar que a capacidade das infecções por HPV progredir para malignidade tem sido atribuída às ações das proteínas E6 e E7 e de sua capacidade em manipular os reguladores do ciclo celular. A expressão dos genes E6 e E7, em HPV de alto risco, é suficiente para induzir a imortalização de queratinócitos primários humanos em culturas de tecido (Fehrmann & Laimins, 2003). Portanto, algumas proteínas sintetizadas pelo HPV têm a capacidade de interferir nos mecanismos que controlam a proliferação da célula hospedeira, principalmente interferindo no 19 funcionamento normal das proteínas sintetizadas pelos antioncogenes p53 e pRb (Rocha et al., 2007). A sequência de eventos que interferem no processo de apoptose das células normais do colo do útero, transformando-as em células displásicas imortais, resumidamente, são os seguintes: o DNA viral se integra ao DNA da célula hospedeira na região E1/E2, com a divisão e inativação de E2, a expressão dos genes E6 e E7 é aumentada, o que leva a inativação de p53 e pRB, que, por sua vez, leva à progressão do ciclo celular e imortalização de células cervicais normais (Jastreboff & Cymet, 2002). Além disso, os oncogenes virais E6 e E7 são os únicos expressos em quase todos os carcinomas cervicais HPV positivos (Beaudenon & Huibregtse, 2008). É importante comentar ainda que as oncoproteínas E6 e E7, além da E5, são sintetizadas durante a fase precoce (E – early) do ciclo replicativo. A E6 forma um complexo com proteína E6-AP (E6 associated protein ligase), a qual pertence à família E3 das ubiquitinas ligases, que se liga à p53 promovendo sua degradação proteolítica através da via da ubiquitina, diminuindo os níveis de p53 nas células infectadas. A E6, independentemente, também induz a atividade da telomerase, resultando em imortalização das células (Anschau et al., 2005). A proteína codificada por E5, também considerada como oncogene, parece alterar a sinalização dos receptores do fator de crescimento epidérmico, interferindo na reciclagem destes receptores, levando a proliferação celular. Entretanto, como E5 é, muitas vezes, perdida ou não manifestada após a integração viral, seu papel nas fases posteriores da carcinogênese cervical é incerto, embora possa contribuir para o desenvolvimento de lesões de baixo grau (Arends et al., 1998; Anschau et al., 2005). As proteínas virais vão agir, ainda, sobre uma série de proteínas que regulam e controlam o ciclo celular. Dentre elas estão a p15 e p16 que atuam bloqueando as CDK (cyclin dependent kinases) e as ciclinas, componentes essenciais para a progressão do ciclo celular, resultando no impedimento do avanço do ciclo da fase G1 para S. Além da proteína p21 (associada ao proto-oncogênese ras), a qual também é inativadora do ciclo celular, monitorando a viabilidade da célula, a integridade de seus cromossomos e a execução correta das diferentes fases do ciclo celular, respondendo pela inibição da proliferação celular e apoptose (Chen & Hunter, 2005; Rivoire et al., 2006). 20 A infecção pelo HPV apresenta um padrão transitório, no qual a maioria dos indivíduos (70 a 90%) elimina o vírus até 12 a 24 meses após o diagnóstico inicial, havendo persistência quando o HPV consegue escapar do processo imunológico natural (Gonçalves & Donadi, 2004). Assim, grande parte das mulheres infectadas por HPV, não apresenta sintomas clínicos e a infecção regride espontaneamente (Bosch et al., 2002; Van der Graaf et al., 2002; Yassoma et al., 2005). 1.1.3 Aspectos imunológicos Os mecanismos de defesa envolvidos na regressão da infecção pelo HPV envolvem a resposta imune inata, que é mediada pela ação de citocinas (interferon, fator de necrose tumoral e interleucinas). Depois de alguns meses, há uma resposta de imunoglobulinas IgM e IgG. Posteriormente, ocorre resposta mediada por células, sendo necessária uma apresentação adequada aos linfócitos, com ativação de linfócitos T-helper citotóxicos. Durante a replicação, as proteínas do capsídeo viral não são expressas até as células terem se diferenciado nas camadas epiteliais superficiais, onde as células dendríticas do sistema imune não poderão mais reconhecer esses antígenos (Araújo-Souza et al., 2008). A presença de infiltrado inflamatório perilesional com células T (CD4+ e CD8+) e macrófagos parece estar associada à capacidade de regressão da doença (Stanley, 2009). O aumento da expressão da Ciclooxigenase-2 (COX-2), da proteína p16 e a detecção de mutações na proteína p53 têm sido apontados como fatores associados ao risco de progressão das lesões. Entretanto, os mecanismos envolvidos na regressão das lesões potencialmente malignas ainda são pouco compreendidos. Assim, o aparecimento de um tumor pode ser devido, em parte, ao escape dos mecanismos de controle do sistema imunológico, o que pode estar associado à perda de sensibilidade das células infectadas pelo HPV ao controle do sistema imunológico (FonsecaMoutinho, 2008). 21 1.2 HPV E O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO 1.2.1 História natural do câncer do colo do útero Antes da década de 1970, a teoria predominante sobre a causa de doenças malignas do trato genital era infecção com o vírus herpes simples. Até que o médico e virologista alemão, Dr. Harald Zur Hausen, e sua equipe, em 1983 e 1984, sugeriram a participação do HPV 18 e 16 no desenvolvimento do câncer do colo do útero, descobrindo, assim, os dois tipos de HPV que hoje são conhecidos por causar cerca de 70 % dos casos de carcinoma cervical e muitas outras lesões invasivas e pré-invasivas da vulva, vagina, pênis, ânus e cabeça e pescoço (Erickson et al., 2012). Existem evidências morfológicas e clínicas de que o câncer cervical invasivo é precedido por uma série de modificações no epitélio original, as quais constituem as lesões pré-malignas (Medeiros et al., 2005; Fonseca-Moutinho, 2008). As células alteradas podem ser divididas, de acordo com a proporção de substituição de células normais do epitélio cervical por células atípicas, em graus de gravidade: NIC – Neoplasia Intraepitelial Cervical I, II e II, nas quais se observa relação núcleo/ citoplasma aumentada e um padrão irregular de cromatina (Fonseca-Moutinho, 2008; Santana et al., 2008). Nas lesões classificadas como NIC I (grau 1) há displasia leve, com as células atípicas restritas ao terço inferior do epitélio e aquelas pertencentes aos dois terços superiores com diferenciação e maturação normais, embora as células se encontrem achatadas, frequentemente apresenta-se coilocitose do epitélio. As de NIC II (grau 2) correspondem à displasia moderada, com presença de células atípicas nos dois terços inferiores do epitélio, o terço superior com diferenciação e maturação normais, com achatamento das células e presença de mitoses anormais em todo o epitélio. As lesões consideradas de NIC III (grau 3) correspondem à displasia acentuada e carcinoma in situ. Nestes casos, as células atípicas estão em todo o epitélio, com um mínimo de diferenciação e maturação na superfície, as células escamosas são dos tipos basal e parabasal, mitoses atípicas e contornos nucleares atípicos, apresentam, ainda, alta relação núcleo/ citoplasma (Figura 3). O câncer do colo do útero invasivo evolui, em cerca de 90 % dos casos, a partir da NIC III (Lowry & Schiller, 2006; Santana et al., 2008). 22 Citologicamente, o Sistema Bethesda, criado em 1988 e revisto em 1991, classifica as lesões pré-malignas em: células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASC-US), que se caracterizam por padrão atípico das células escamosas; lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL), com presença de displasia leve, coilocitose ou atipias condilomatosas; lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (HSIL), como presença de displasia moderada a severa; e carcinoma in situ (Jastreboff & Cymet, 2002). Figura 3 – Progressão do câncer do colo do útero associado ao HPV (Fonte: Adaptado de Lowry & Schiller, 2006) O câncer do colo do útero surge de uma série de etapas após a transmissão do HPV: a persistência viral, a progressão de um clone de células persistentemente infectadas para pré-câncer e invasão (Figura 4). O inverso também ocorre, ou seja, eliminação da infecção pelo HPV e regressão, menos frequente, de pré-câncer à normalidade (Schiffman et al., 2007). Ainda segundo Schiffman et al. (2007), a idade típica de infecção cervical por HPV é semelhante ao de outras infecções sexualmente transmissíveis, com um grande 23 pico após a idade média da iniciação sexual. Entretanto, a maioria das infecções por HPV não mostram nenhuma anormalidade citológica e a detecção de lesões précancerígenas é pequena devido principalmente à baixa sensibilidade dos métodos de triagem. Em regiões com rastreio citológico, estas lesões são identificadas em torno de 25 a 30 anos de idade (cerca de dez anos após o primeiro contato sexual). Figura 4 – Etapas gerais do desenvolvimento do câncer do colo do útero (Fonte: Adaptado de Schiffman et al., 2007) De acordo com o Programa Viva Mulher do Ministério da Saúde (Brasil, 2002), a evolução das formas pré-malignas até o câncer invasivo ocorre de forma lenta (Figura 5). Na ausência de tratamento, o tempo médio entre a detecção de uma lesão de baixo grau (NIC I) e o carcinoma in situ é de 58 meses, já para as neoplasias intraepiteliais (NIC II e NIC III) o tempo é de 12 a 38 meses. Na maioria das vezes, as lesões de baixo grau regridem de forma espontânea e, lesões de alto grau não tratadas, evoluem para câncer invasor em 40 % dos casos, em um período médio de 10 anos (Bosch et al., 2002). 24 Figura 5 – Sequência de eventos na evolução do câncer do colo do útero (Fonte: Brasil, 2002) Considerando a divisão dos subtipos de HPV em duas grandes classes, observase que os subtipos 16 e 18 encontram-se presentes em 50-80 % das lesões de NIC II e NIC III e em 90 % dos cânceres (Arends et al., 1998). 1.2.2 Cofatores associados ao HPV e a oncogênese cervical A infecção pelo HPV é considerada uma causa necessária do câncer do colo do útero. DNA de HPV é identificável em biópsias de tumores ou espécimes cirúrgicos de praticamente todos os casos da doença, independentemente da linhagem celular, ou seja, escamoso ou glandular. Invariavelmente, os tipos de HPV 16 e 18 são considerados os mais importantes, sendo responsáveis, em média, por 70% de todos os cânceres cervicais, com o HPV 16 considerado o tipo mais dominante. É importante ressaltar que, em cânceres cervicais, o HPV é causa necessária, ao contrário de outros tipos de câncer, como o de cavidade oral e de orofaringe, os quais o HPV não é o único agente causal (Franco et al., 2012). Assim, a literatura associa a presença do HPV ao câncer do colo do útero. Entretanto, vários fatores, como paridade, uso de contraceptivos orais, tabagismo, imunossupressão, particularmente em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e deficiências nutricionais estão envolvidos na instalação deste mecanismo no epitélio escamoso cervical. Porém, seus papéis na evolução da oncogênese cervical ainda não estão bem esclarecidos. Já o número de parceiros sexuais, idade da sexarca e história de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) estão ligados ao processo de aquisição do HPV (Chan et al., 2001; Pinto et al., 2002). 25 Estudo realizado em mulheres que frequentam o Sistema Único de Saúde (SUS) de três cidades brasileiras mostra a associação significativa entre o início da atividade sexual precoce e a infecção por HPV de alto risco. Isto demonstra que a prematuridade no início da atividade sexual das mulheres e suas possíveis consequências são fatores de risco para o desenvolvimento de carcinomas das células escamosas quanto para adenocarcinomas (Roteli-Martins et al., 2007). Outro estudo demonstra ainda que a faixa etária de maior ocorrência do câncer do colo do útero é de 40 a 50 anos, 10 a 15 anos após a idade de maior frequência das lesões pré-invasivas (Lima et al., 2006). Em relação ao tabagismo, vários estudos relacionam a exposição, idade de início, período e frequência de consumo de cigarros como fatores na incidência de NIC III e câncer cervical (Villa, 1997; Pinto et al., 2002). Em um estudo realizado no município do Rio de Janeiro, com 40 mulheres com diagnóstico de lesão precursora de câncer do colo do útero, verificou-se a associação do ato de fumar com o desenvolvimento dessas lesões (Carvalho et al., 2011). A presença de outras infecções genitais como cofator associado ao HPV no desenvolvimento de câncer vem sendo demonstrado importante, devido, provavelmente, ao aumento da umidade vaginal, pelo aumento da secreção vaginal. Sendo a infecção por Chlamydia trachomatis e Candida sp frequentes, principalmente quando associada à gestação, pois a gravidez, por si só, é um fator predisponente ao aparecimento de microrganismos (Murta et al., 2001). Em relação à infecção pelo HIV estudos mostram que a ocorrência de câncer cervical em mulheres HIV positivas é maior quando comparada em mulheres HIV negativas (Mahdavi & Monk, 2005; Moodley et al., 2006). 1.3 EPIDEMIOLOGIA DO HPV O câncer do colo do útero é um importante problema de saúde pública global (Medeiros & Ramada, 2011). Acredita-se que o HPV está envolvido em 10 a 15% de todas as neoplasias humanas (Cirilo et al., 2010). De acordo com Qiao (2010), 83% dos casos de câncer do colo do útero no mundo ocorrem em países em desenvolvimento, sendo responsável por 15% das neoplasias malignas em mulheres, enquanto, nos 26 países desenvolvidos, este tipo de câncer representa apenas 3,6% das neoplasias malignas em mulheres. É consenso na literatura à associação do HPV com câncer do colo do útero, vagina, pênis e ânus, bem como em alguns cânceres de cabeça e pescoço, verrugas anogenitais e papilomatoses respiratórias recorrentes (Insinga et al., 2008). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que de 500 mil novos casos anuais, 80 % atinjam mulheres entre as idades de 15 e 45 anos que vivam em países em desenvolvimento, principalmente na América Latina, Caribe, em parte da África e sudeste da Ásia (Nour, 2009; Figura 6). Figura 6 – Distribuição global do câncer do colo do útero nos grandes países em desenvolvimento (Fonte: Adaptado de Nour, 2009) A presença de vaginites associadas ao HPV é a doença sexualmente transmissível mais frequente em todo mundo, constituindo-se em um importante problema de saúde pública, principalmente em decorrência da crescente exposição a fatores de riscos ambientais e da manifestação de hábitos de vida da população. Sendo o câncer do colo do útero o segundo câncer mais comum entre mulheres de países em desenvolvimento. Estima-se que 75% da população sexualmente ativa estabeleçam contato com um ou mais tipos de HPV durante toda a vida (Queiroz et al., 2007; Jalil, 2007). 27 Em estudo realizado nos Estados Unidos, observou-se que, em lesões de baixo grau (NIC I), os HPV 16, 31, 66, 52 e 51 são os mais frequentes, em ordem decrescente de prevalência. Nas lesões de alto grau (NIC II e NIC III), os tipos mais prevalentes em ordem decrescente, foram os HPV 16, 31, 18, 33 e 35. Já cânceres cervicais invasivos de células escamosas, os cinco tipos mais prevalentes, em ordem decrescente, foram os HPV 6, 18, 45, 33 e 31 (Insinga et al., 2008). Em estudo realizado no Havaí, a precocidade no início da vida sexual bem como número de parceiros sexuais na vida foram determinantes na incidência de HPV (Goodman et al., 2008). Estudo da infecção genital por HPV de alto risco, por grupo etário, mostra que mulheres abaixo dos 25 anos apresentam uma prevalência maior do que em outros grupos, indicando maior infecção após o início da atividade sexual (Rama et al., 2008). Na África, a prevalência da infecção pelo HPV é alta, independentemente dos grupos etários, atingindo 23% da população maior de 55 anos. Fato que pode ser explicado pela ocorrência de outras infecções concomitantes e pela desnutrição (Thomas et al., 2004). Na Hungria, há cerca de 1.100 novos casos de câncer do colo do útero diagnosticados e 500 mortes a cada ano, o que dão a este país a sexta maior taxa de mortalidade devido ao câncer do colo do útero na União Europeia (Marek et al., 2012). Na Itália, o câncer cervical é uma causa importante de morbidade e mortalidade, fazendo cerca de 3500 novos casos e 1000 mortes por ano (Donati et al., 2012). No Brasil, o câncer do colo do útero é o segundo tipo mais prevalente entre as mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama (Albring et al., 2006). O HPV 16 é o tipo predominante em todas as regiões do Brasil, com prevalências de 52%, 57%, 59%, 43,5% e 52% nas regiões Sul, Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sudeste, respectivamente. No que diz respeito aos outros tipos de HPV, o genótipo 18 é o segundo mais frequente, com exceção da região Centro-Oeste que predomina o HPV 33 e da região Nordeste, onde o HPV 31 é o segundo mais prevalente (Rosa et al., 2009). O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que o número de casos novos de câncer do colo do útero esperado para o Brasil, no ano de 2012, seja de 17540, com um risco estimado de 17 casos a cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de 28 pele não-melanoma, o câncer do colo do útero é o mais incidente na Região Norte (24/100.000) e o segundo no Estado de Rondônia, perdendo apenas para o câncer de mama, estimando-se cerca de 110/ 100.000 novos casos para o ano de 2012, neste estado (BRASIL, 2012). 1.4 DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO POR HPV O diagnóstico morfológico, tanto em esfregaços de células quanto em cortes de tecidos, é amplamente utilizado, sugerindo a infecção por HPV (Wolschick et al., 2007). Entretanto, o uso de técnicas de biologia molecular tem contribuído para o conhecimento dos mecanismos envolvidos na oncogênese cervical, principalmente àqueles baseados na identificação do DNA, como as hibridizações moleculares e a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), sendo este último atualmente considerado o método mais eficaz (Manzione et al., 2004). A captura híbrida permite identificar os grupos de HPV de alto e baixo risco e a PCR que torna possível identificar os tipos virais específicos (Rivoire et al., 2006). É importante ressaltar que ao rastreio do câncer cervical por meio do exame Papanicolaou é creditado uma redução substancial da morbidade e da mortalidade por esta doença nos últimos 50 anos. Entretanto, o advento dos testes moleculares para detecção de HPV abriu um nova era de prevenção secundária de câncer cervical (Franco et al., 2012). As técnicas de hibridização molecular possibilitam a quantificação e a tipagem do vírus, sendo atualmente o método de escolha para a detecção de HPV em esfregaços e amostras de tecidos. Estas técnicas envolvem: (i) Southern blot – usado para a detecção de DNA do HPV a partir do DNA de espécimes celulares, leva a resultados qualitativos, usado apenas em pesquisa, por ser trabalhoso e requerer amostras frescas; (ii) Dot blot – método rápido e pouco dispendioso, analisa um grande número de amostras em um único experimento, estando comercialmente disponível (Wolschick et al., 2007); (iii) Captura híbrida – método não radioativo de amplificação de sinal, foi desenvolvido para detectar 14 tipos de HPV, divididos em de alto risco (tipos 16, 18, 31, 33, 35, 45, 51, 52 e 56) e de baixo risco (tipos 6, 11, 42, 43 e 44). Sua sensibilidade é comparada à PCR (Clavel et al., 1998). 29 A PCR foi desenvolvida na década de 1980 por Kary Mullis e ocorre em três etapas, repetidas de 25 a 40 ciclos, cada um em temperatura adequada (Mauchline et al., 2002). A PCR é caracterizada pela alta sensibilidade, com a detecção de menos de dez cópias de HPV em uma mistura. A reação é baseada na amplificação da sequência alvo por meio da utilização de iniciadores específicos ou consenso, este último permite o sequenciamento do DNA de diferentes tipos de HPV, já que a região utilizada, geralmente a L1, é altamente conservada no genoma do HPV (Molijn et al., 2005). O Nested-PCR é baseado em duas etapas (rounds): a primeira é semelhante à PCR convencional, a qual utilizada um par de iniciadores que amplificará uma região alvo do DNA; a segunda etapa, por sua vez, utiliza iniciadores internos à região amplificada, o que aumenta a sensibilidade, especificidade e eficiência do método. Entre os iniciadores utilizados estão os iniciadores consenso GP05/ 06 e sua versão estendida GP05+/ 06+, bem como os iniciadores degenerados MY09/ 11 (Lima-Júnior et al., 2011). A PCR em tempo real permite o monitoramento da reação de amplificação ciclo a ciclo. O processo requer um termociclador com um sistema óptico para captar fluorescência e um computador com software capaz de capturar os dados e executar a análise final da reação. A emissão de fluorescência gera um sinal que aumenta em proporção direta com a quantidade de produtos da PCR. Os valores de fluorescência são registrados durante cada ciclo e representam a quantidade de produto amplificado. Os compostos fluorescentes usados são SYBR® Green e TaqMan® (Valones et al., 2009). 1.5 TRATAMENTO E PROFILAXIA DE INFECÇÕES CAUSADAS POR HPV Lesões de baixo grau geralmente não são tratadas, pois a maioria retrocede espontaneamente durante uma média de nove meses. Para acelerar a sua resolução, as verrugas cutâneas benignas são tratadas localmente através do congelamento, aplicação local de ácido tricloroacético, de podofilina (que é um potente irritante e induz a eliminação completa em 93% dos casos, com recorrência em 22%) e, mais recentemente, de Imiquimod (1-{2-metilpropil}-1H-imidazo{4,5-c}quinolina-4-amina), o qual é um modificador da resposta imune atuando como ligante de receptores Toll-like e, desta forma, induzindo a diminuição das verrugas genitais em 50% dos casos, com 30 uma taxa de recorrência de 20%. Além do interferon-α-2 ou β, empregados por meio de injeções subcutâneas, aumentando a eliminação espontânea de verrugas genitais (Hung et al., 2008). 1.5.1 Vacinas para HPV A identificação de um agente viral, como o HPV, como causa de doença (s) implica que medidas profiláticas contra este agente devem prevenir a (s) doença (s) que ele causa (Lowry & Schiller, 2006). Mesmo após o estabelecimento da relação de causalidade entre o HPV e o câncer cervical, atualmente a presença ou a ausência de HPV não tem qualquer impacto sobre decidir o tratamento. As estratégias empregadas são essencialmente anticâncer e não antiviral, sendo de natureza ablativa e com o objetivo remover a lesão, quando esta é visível, e não necessariamente eliminar a infecção pelo HPV (Bharti et al., 2009). O estudo de vacinas contra o HPV começou há cerca de 10 anos atrás. Em 2002, Koutsky et al. foram os primeiros a mostrar os efeitos clínicos profiláticos da vacina contra HPV (Kawana et al., 2009). As vacinas contra HPV atualmente disponíveis são preparadas a partir de partículas semelhantes a vírus (VLP), e são dadas como três injeções intramusculares de 0,5 mL durante um período de seis meses (Sankaranarayanan, 2009). As vacinas VLP L1 quadrivalente (HPV tipos 6, 11, 16 e 18) sob o nome de Gardasil ® (Merck and Co. Inc.) e VLP L1 bivalente (HPV 16 e 18) sob o nome de Cervarix® (Glaxo SmithKline) são recomendadas pela Food and Drug Administration E.U.A (FDA) para prevenir infecções pelos HPV 16 e 18 associados a mais de 70% dos casos de câncer do colo do útero (Bharadwaj, 2009; Garland, 2009). A vacina contra HPV, portanto, deve diminuir a aquisição de infecções por este agente, o precursor de neoplasias genitais invasoras, bem como a morbidade associada. No entanto, informações sobre eficácia em longo prazo ainda não estão disponíveis (Ogunmodede et al., 2007). É importante comentar que a constatação de que tipos de câncer não cervicais relacionados ao HPV (como câncer anal, de pênis, de orofaringe, de vulva e vagina) 31 são atribuíveis ao HPV 16, destaca também a necessidade de vacinas profiláticas contra o HPV para meninos (Kim, 2012). A prevenção primária, através da vacinação, parece ser uma ferramenta promissora para prevenir o câncer cervical, o que é indicado pelo fato de as vacinas contra o HPV serem consideradas seguras e que sua utilização reduz cerca de 70% a probabilidade de desenvolvimento de câncer cervical. Entretanto, a adesão da população à vacinação depende de vários fatores, incluindo o conhecimento e as crenças sobre o HPV e o câncer do colo do útero e o tipo de educação dada aos profissionais de saúde (Medeiros & Ramada, 2011). Vacinas contra o HPV já foram introduzidas em muitos países desenvolvidos nos últimos anos com algum sucesso. Entretanto, para uma redução significativa das taxas mundiais de câncer cervical, as vacinas também devem ser introduzidas em países em desenvolvimento, onde 80% ou mais dos carcinomas cervicais ocorrem (Li et al., 2009). Em 2009, um preço anunciado nos EUA da vacina contra HPV quadrivalente, estipulava o valor de $ 120,00 por dose, o que não incluía os custos da administração. Assim, a vacina contra HPV é considerada a vacina mais cara da história (Li et al., 2009). O alto valor da vacina pode levar a diminuição na adesão à vacinação, como mostrado em um estudo na Bélgica conduzido por Donders et al. (2009), bem como um estudo na Hungria feito por Marek et al. (2012). Desde que a vacinação contra HPV foi incorporada nas práticas de imunização de alguns países, no final de 2006, houve mobilização considerável com a tarefa de planejar e financiar esta nova forma de estratégia preventiva (Franco et al., 2012). Na Polônia, a vacina é recomendada como de rotina, mas seus custos não são cobertos por fundos públicos. É importante ressaltar que nenhuma das vacinas profiláticas atualmente disponíveis pode fornecer proteção total contra todos os tipos de HPV oncogênicos. A duração da proteção também é limitada, razão pela qual as mulheres ainda precisam ser rastreadas (Kamzol et al., 2012). No Brasil, as duas vacinas são comercializadas (Gardasil® e Cervarix®), sendo que a partir de março de 2014 a vacina quadrivalente (Gardasil®) será introduzida no calendário de vacinas do SUS. A estratégia de vacinação incluirá meninas de 10 e 11 anos e a vacina será aplicada com autorização dos pais e responsáveis, em três doses, após a aplicação da primeira dose, a segunda será aplicada em dois meses e a terceira 32 em seis meses. Além disso, a estratégia de aplicação será mista, ou seja, a imunização acontecerá tanto nas unidades de saúde quanto nas escolas, com o objetivo de aumentar a agilidade e ampliar a adesão (Ministério da Saúde, 2013). Entretanto, como observa Donders et al. (2009), campanhas de sensibilização devem ser realizadas a fim de aumentar o conhecimento das mulheres sobre a prevenção do câncer cervical por meio de uma vacina contra o HPV. Segundo Waller et al. (2012), teste de HPV e vacinação são elementos importantes para a prevenção do câncer cervical. Entretanto, o conhecimento público sobre os aspectos relacionados ao HPV, incluindo vacinação, tem ficado para trás, apesar do progresso científico em relação à compreensão da infecção. A vacinação tem provado ser mais eficaz quando administrada antes do início da atividade sexual do indivíduo e as campanhas de vacinação são agora alvo de adolescentes e pré-adolescentes. Espera-se que, com a utilização em larga escala de vacinas, 70% dos cânceres cervicais possam ser evitados, bem como a mesma proporção de outras doenças anogenitais associadas com a infecção pelo HPV (Cirilo et al., 2010). É plausível que a vacinação exerce um efeito profilático em todos os locais da mucosa que servem de porta de entrada para as infecções de HPV. No entanto, há poucos dados sobre a proteção contra novas infecções ou lesões em sítios não cervicais. A vacinação não irá eliminar infecções existentes, mas pode ter um efeito protetor nas zonas adjacentes, portanto, potencialmente, ter um benefício na prevenção de infecções multi-focais e lesões recorrentes no colo do útero, vagina e sítios orais. Uma questão importante é a vacinação de homens, os benefícios são a proteção contra doenças associadas ao HPV em homens e maior imunidade, com consequente redução da transmissão do HPV na população (em última análise, beneficiando ambos os sexos) (Franco et al., 2012). McRee et al. (2011) destacam a importância do diálogo dos cuidadores (pais) com seus filhos sobre sexo, incluindo DST e HPV, entretanto o estudo destes autores demonstrou que os pais não se sentem à vontade e a maioria não tem conhecimento suficiente. Assim, prestadores de cuidados de saúde podem utilizar as visitas de vacinação para fornecer orientações aos pais para discutir sexo com seus filhos, com vistas na saúde sexual destes. No estudo realizado por esses autores com 609 33 cuidadores (mães e pais) de meninas, com idade entre 10 e 18 anos, na Carolina do Norte, Estados Unidos, onde o índice de câncer cervical é alto, verificou-se que a conversa sobre a vacinação contra HPV entre pais e filhos pode ser uma ferramenta para promoção da saúde sexual, bem como prevenção da transmissão de DST. Assim, embora as vacinas atuais de profilaxia protejam mulheres não infectadas, infectados continuam a exigir o diagnóstico e tratamento de lesões pré-neoplásicas. Mesmo se fosse extremamente eficiente e envolvesse uma taxa de cobertura grande, um programa de vacinação em larga escala contra o HPV levaria anos para mostrar notáveis efeitos epidemiológicos. É importante destacar que a vacinação não elimina a necessidade de exames de rotina para câncer do colo do útero (Cirilo et al., 2010). Desde o ano em que a primeira vacina contra o HPV foi aprovada, tem havido muito progresso em todas as áreas de pesquisa sobre este agente infeccioso. O reconhecimento veio na forma de um prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina para o Dr. Harald zur Hausen, o primeiro proponente da relação causal entre HPV e câncer cervical, em cujo laboratório muitos dos diferentes tipos de HPV foram clonados e sequenciados (Franco et al., 2012). Tem sido demonstrado que a vacinação contra o HPV é imunogénica e bem tolerada, não apenas entre as mulheres com idades entre 10-55 anos, mas também em rapazes com idades entre 10-18 anos. Em outubro de 2009, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso de uma vacina contra o HPV quadrivalente (contra os tipos 6, 11, 16, 18) em homens com idade entre 9-26 anos. Isso chamou a atenção em estudos sobre a importância da vacinação contra o HPV em adolescentes do gênero masculino (Franco et al., 2012). Nos EUA, a FDA aprovou a vacina quadrivalente contra HPV para o gênero feminino (idades entre 9 e 26 anos) em 2006, que é administrada em 3 doses em um período de 6 meses e protege contra câncer cervical, vulvar e vaginal associados pelos tipos 16 e 18 e verrugas genitais e verrugas genitais causadas pelos tipos 6 e 11. Em 2009, a FDA aprovou o uso da vacina quadrivalente para o gênero masculino (idades entre 9 e 26 anos) para prevenção de verrugas genitais. Recentemente, a FDA aprovou o uso da vacina para prevenir cancro anal em homens e mulheres (Katz, 2011). 34 1.6 CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO SOBRE HPV E SUA RELAÇÃO COM O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO Apesar da infecção pelo HPV ser comum, a falta de conhecimento sobre a relação entre HPV, o exame Papanicolaou e o câncer do colo do útero é fato. Embora os prestadores de cuidados de saúde sejam encorajados a desempenhar um papel na educação dos pacientes e do público sobre HPV, torna-se difícil aconselhar sobre todas as questões de saúde do gênero feminino. Assim, a divulgação de informações corretas sobre o HPV em nossa sociedade é imperativa para diminuir a taxa atual de câncer cervical. Além disso, tem sido sugerido que a educação sobre HPV deva se concentrar mais na redução do risco (em vez da prevenção) de infecção persistente, dada a sua elevada prevalência na população (Merzouk et al., 2011). Kim (2012) afirma que informações sobre HPV e sua relação com câncer cervical devem ser incorporadas mais cedo na educação escolar, o que aumentaria o conhecimento sobre HPV. Vários estudos foram realizados, em todo mundo, com o intuito de examinar o conhecimento sobre HPV e sua relação com câncer cervical entre homens e mulheres e revelaram que, de modo geral, este conhecimento é pobre (Massad et al., 2010; Medeiros & Ramada, 2011; Katz et al., 2011; Kim, 2012; Merzouk et al., 2011; Waller et al., 2012). Em estudo realizado na cidade de Fortaleza, Ceará, no ano de 2008, observouse que, apesar das mulheres terem diversos meios de acesso à informação, os conceitos que elas têm sobre o HPV são equivocados, associando, muitas vezes, a infecção à promiscuidade e que a divulgação dos seus aspectos ocorrem em menor escala quando comparadas a outras DST, como, por exemplo, a AIDS (Souza et al., 2008). O conhecimento e as crenças afetam o comportamento sexual, assim, lacunas e equívocos sobre o HPV, podem levar a comportamento de risco para desenvolvimento de câncer cervical, já que, muitas vezes, acredita-se que o principal fator de risco é o histórico familiar de câncer e não a infecção por HPV. Desta forma, estratégias em saúde são necessárias com esta finalidade (Medeiros & Ramada, 2011), como a divulgação de resultados de pesquisas científicas na mídia, mas em uma linguagem acessível à população. Uma estratégia interessante seria o reforço do ensino de 35 prestadores de cuidados de saúde, o que aumentaria o conhecimento geral do HPV na população. Desta forma, a educação oportuna pode ajudar a minimizar o custo, a morbidade e a mortalidade associadas ao HPV (Li et al., 2009). Nos últimos 25 anos, pesquisas em saúde comportamental, bem como da prevenção do câncer do colo do útero têm progredido a um ritmo muito rápido. O reconhecimento de que infecção HPV é a causa central, necessária de câncer cervical, abriu o caminho para novas frentes de prevenção através de métodos de rastreio melhorados e vacinação contra o HPV. Embora os desafios pareçam grandes, há ganhos substanciais no controle e prevenção de doenças que podem ser realizados no futuro imediato (Franco et al., 2012). A Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC) verificou que, nos cinco continentes, houve aumento na cobertura dos registros de câncer da população, entretanto esta cobertura não ultrapassou 11% da população mundial e extensas áreas do mundo ainda têm uma considerável incerteza em relação à sua carga de câncer. Estas incluem grandes populações da Ásia e da África, bem como algumas populações da Europa Oriental e América Latina (Franco et al., 2012). Como estratégia de profilaxia está a vacinação, entrentanto, a adesão da população está relacionada com o conhecimento sobre HPV e, muitas vezes, os próprios educadores em saúde apresentam baixo conhecimento sobre este assunto. Isto foi evidenciado em um estudo com 757 professores de saúde da Coréia que revelou baixo conhecimento sobre o assunto. O autor comenta que professores em saúde devem receber educação continuada sobre as formas de prevenção do HPV, isto vai refletir diretamente na adesão à vacinação, tanto em meninas como em meninos, maximizando, desta forma, as chances de prevenção (Kim, 2012). 36 1.7 OBJETIVOS 1.7.1 Objetivo geral Detectar a ocorrência e avaliar o grau de conhecimento sobre Papilomavírus Humano (HPV) entre funcionárias da Secretaria Municipal de Educação de Ariquemes, Rondônia. 1.7.2 Objetivos específicos Identificar o perfil sociodemográfico das mulheres estudadas; Investigar o conhecimento geral sobre HPV e sua relação com o câncer do colo do útero; Relacionar as variáveis demográficas e epidemiológicas com o conhecimento geral sobre HPV na população investigada; Investigar a adesão das mulheres participantes do estudo quanto à realização da coleta de amostra cervical para pesquisa de HPV e realização do exame Papanicolaou; Identificar os genótipos de HPV presentes; Relacionar os resultados obtidos na análise citológica com os resultados da biologia molecular; Elaborar cartilha informativa sobre HPV e sua relação com câncer do colo do útero e realizar campanha de divulgação entre a população investigada. 37 2 MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, do tipo observacional transversal, com abordagem quantitativa. 2.1 LOCALIDADE DO ESTUDO Ariquemes (09º54'48"S e 63º02'27"W) é a terceira maior cidade do Estado de Rondônia, localizado na Região Norte do Brasil (Figura 7). Está distante cerca de 200km da capital Porto Velho, apresentando área geográfica de 4.426,576km2, com 64km2 de área urbana, altitude de 148m, temperatura média de 28ºC, pluviosidade entre 1.850mm a 2.000mm/ano e economia subsidiada basicamente pela agropecuária. A população é estimada em 90.353 habitantes, destes 44.046 (48,7%) são mulheres (BRASIL, 2010). Figura 7 – Mapa de localização do Município de Ariquemes no Estado de Rondônia (Fonte: Macedo, 2010 apud Matheus, 2012) Segundo dados da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), o município de Ariquemes possui 28 instituições de ensino, sendo quatro de ensino superior, 22 escolas de ensino fundamental e médio, com duas privadas e vinte públicas, destas, quatorze são municipais e seis estaduais. Existem ainda duas creches, uma mantida 38 pela prefeitura e a outra pelo Estado de Rondônia. A Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de Ariquemes é vinculada à Prefeitura Municipal e é responsável pela gestão das escolas e creches municipais (Sá, 2012). 2.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO A SEMED, segundo dados da Prefeitura Municipal de Ariquemes (2010), possui 1335 funcionários, destes 1117 (83,7%) são do sexo feminino e ocupam diversos cargos, a saber: professora, agente de gestão escolar, agente de serviço escolar, agente de transporte escolar, assessor especial, diretor executivo, técnico escolar, merendeira e estagiária, fazendo parte do quadro efetivo ou contrato temporário. O presente estudo foi realizado em parceria com a SEMED e fez parte do Programa “Estar Bem para Atender Bem”, realizado com 780 funcionárias desta secretaria, com o objetivo de avaliar às condições gerais de saúde, o que reflete diretamente na qualidade do atendimento. Estas funcionárias preencheram uma Ficha de Saúde (Anexo 1), aplicada pelo Departamento de Qualidade de Vida da prefeitura entre janeiro e dezembro de 2010, e àquelas que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos foram convidadas a participar desta pesquisa, o que resultou em um total de 375 servidoras, o que pode ser considerada uma amostra representativa do total (780). 2.3 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE E DE EXCLUSÃO Os critérios utilizados para inclusão na pesquisa foram: a) Pertencer ao quadro efetivo da SEMED, Rondônia; b) Responder aos formulários para coleta das informações epidemiológicas e de conhecimento geral sobre HPV (Apêndices 1 e 2); c) Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 3). Os critérios de exclusão utilizados foram: a) Não estar presente no local de trabalho no momento da visita; b) Estar grávida no período da coleta das amostras cervicais; c) Recusar a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 39 2.4 ETAPAS DE EXECUÇÃO O estudo foi executado em duas etapas: a primeira com o intuito de coletar dados sociodemográficos e de conhecimento geral sobre HPV entre as mulheres participantes, e a segunda, de colher amostras cervicais destinadas à análise citológica e pesquisa deste agente por meio de biologia molecular, bem como verificar a adesão à realização deste exame. 2.4.1 Coleta dos dados A coleta das informações se deu por meio da aplicação de dois questionários, ambos submetidos a pré-teste, com o intuito de verificar a objetividade e clareza das questões. O primeiro, com 25 questões abertas e fechadas, contendo questões relativas aos dados sociodemográficos; e o segundo, dez com questões fechadas, abordando o conhecimento geral sobre HPV e câncer de colo de útero. Vale mencionar que as questões referentes ao estudo de conhecimento basearam-se em Reis et al. (2010). Esta etapa foi realizada entre os meses de fevereiro e abril de 2012. As servidoras selecionadas responderam aos questionários em seus locais de trabalho, que incluíram escolas, centros de ensino, creches e a sede da secretaria, totalizando dezenove instituições, as quais serão identificadas em momento posterior. As datas das visitas seguiram um calendário elaborado pela SEMED, que foi responsável, também, em comunicar, via ofício, aos gestores de cada local, a data e horário de realização da pesquisa. Durante a aplicação dos questionários, as participantes foram convidadas a comparecer ao Centro de Prevenção e Diagnóstico Jamari, localizado na Avenida Jamari nº 4019, Setor 02, na cidade de Ariquemes, Rondônia, para coleta das amostras cervicais, sem necessidade de agendamento prévio. Em reforço ao convite, foram enviados ofícios, emitidos via SEMED, às escolas convidando as servidoras a participarem da coleta. 2.4.2 Coleta das amostras cervicais As coletas das amostras cervicais ocorreram entre os meses de abril e setembro de 2012. Para cada uma das mulheres foram coletadas, no mesmo momento, duas 40 amostras: uma destinada ao preparo da lâmina para análise citológica e outra para a biologia molecular. Para a colheita da amostra, a participante foi colocada em posição ginecológica e, então, o espéculo vaginal, com tamanho adequado às características perineais e vaginais (pequeno, médio ou grande), foi introduzido levemente até expor completamente o colo uterino. Com o auxílio de uma espátula de madeira do tipo Ayres, foi coletado material da ectocérvice, o que foi realizado por meio de movimento giratório de 360º em torno do orifício cervical. Então, o material foi espalhado, em sentido transversal e de maneira uniforme, na metade superior da lâmina. Para coleta do material da endocérvice, empregou-se uma escovinha do tipo Campo da Paz, a qual foi introduzida no canal cervical e rodada cinco vezes, em sentido horário, o material coletado foi espalhado, de forma longitudinal, na porção inferior da lâmina. Estas foram fixadas imediatamente após a coleta, com o auxílio de álcool etílico 96%, e posteriormente submetidas à coloração pela técnica de Papanicolaou. As lâminas foram identificadas com o número constante da ficha de cada entrevistada. Todas as lâminas foram enviadas para análise e classificação por um Patologista do Laboratório de Citopatologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Os resultados que apresentaram citologia anormal foram classificados em esfregaço livre de células atípicas, esfregaço inflamatório inespecífico e esfregaço inflamatório provocado por microrganismo. Já as lesões pré-malignas foram classificadas através do sistema de Bethesda em LSIL (lesão de baixo grau), HSIL (lesão de alto grau), ASC-US (células escamosas atípicas de significado indeterminado) e ASC-H (células escamosas atípicas sem excluir a lesão de alto grau). Na obtenção das amostras para biologia molecular, empregou-se escovas endocervicais, que, imediatamente após a coleta, foram introduzidas em tubos contendo 2mL de solução salina (soro fisiológico estéril), a haste da escova então foi quebrada, o tubo fechado, vedado com fita crepe e identificado com o número da ficha de entrevista da servidora. 41 O material foi acondicionado em caixas térmicas vedadas e conservado em freezer, a temperatura de -20ºC, no Laboratório de Microscopia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA), localizada na cidade de Ariquemes, Rondônia. E posteriormente, enviado ao Laboratório de Virologia do ICB da UFPA, na cidade de Belém, Estado do Pará, onde foi armazenado até o momento das análises. 2.4.3 Análises de biologia molecular 2.4.3.1 Extração do DNA das amostras As amostras coletadas foram submetidas à extração do DNA total, a partir de células da mucosa genital, o que foi realizado de acordo com o Método de Extração Fenol-Clorofórmio, que é dividido em três etapas: lise de hemácias, lise de leucócitos e precipitação de proteínas. A etapa de lise de hemácias foi empregada nas amostras que apresentavam sangue. Nestes casos, adicionou-se 1mL de amostra cervical em um tubo de 2mL e procedeu-se a centrifugação com 14.000rpm/min por dez minutos. Em seguida, desprezou-se o sobrenadante e adicionou-se 500µL de lise de hemácias ao precipitado e o sistema foi submetido à agitação por inversão durante 20 minutos. Após isto, a amostra foi centrifugada a 14.000rpm por três minutos e o sobrenadante descartado. Para o restante das amostras, iniciou-se o procedimento com a lise de leucócitos. Nesta fase, acrescentou-se 500 µL de lise de leucócitos ao precipitado e agitou-se a mistura em vortex até sua completa dissolução. Deixou-se, então, a mistura em banho-maria a 55ºC por duas horas para incubação. Na etapa de precipitação de proteínas, adicionou-se 200μL de solução de proteínas ao material incubado, agitou-se em vortex e incubou-se o material novamente em banho-maria a 55ºC por 30 minutos. Após a incubação, o material foi centrifugado a 14.000rpm durante dez minutos e a fase aquosa transferida para um tubo de 2mL, onde se adicionou 500μL de fenol-clorofórmio. Agitou-se, por inversão, durante dez minutos e, em seguida, centrifugou-se a 14.000rpm por dez minutos, o sobrenadante foi transferido para um outro tubo e acrescentou-se 1,5mL de isopropanol gelado. Após a visualização da turvação, procedeu-se à centrifugação do material a 14.000rpm por dez minutos. Então, foi acrescentado 200μL de etanol a 70% com a finalidade de lavar a parede do tubo. O etanol foi desprezado e o tubo colocado para 42 secar durante tempo suficiente para que ocorresse a evaporação completa do etanol. A reação foi finalizada com a adição de 80μL de água para a hidratação do DNA obtido. 2.4.3.2 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) Para verificar se o procedimento de extração de DNA foi bem sucedido, o material obtido neste processo foi submetido à reação em Cadeia da Polimerase (PCR) com o intuito de amplificar o gene TNF-α, o qual está presente em todas as células humanas. Depois de confirmada a presença de DNA nas amostras, procedeu-se a PCR com finalidade de amplificar um segmento do gene L1 (450 pares de bases), o qual está relacionado com a síntese de proteínas do capsídeo, que são altamente conservadas entre as espécies de HPV (Molijn et al., 2005). A amplificação foi realizada em equipamento Termociclador GeneAmp PCR System 2400 (Perkin Elmer, USA). Na reação de amplificação, foi utilizado volume de 50µL contendo 200ng de DNA extraído, 200µM de cada dNTP, 12,5pmol de cada iniciador, 50nM de KCl, 2,5mM de MgCl2, 10mM de Tris-HCl pH 8,3 e 1U de Taq DNA polimerase. Os iniciadores consenso envolvidos na reação foram: MY09 (5’CGTCCMAARGGAWACTGATC-3’) e MY11 (5’-GCMCAGGGWCATAAYAATGG-3’). Em cada reação de amplificação, após desnaturação inicial a 95ºC por cinco minutos, foram realizados 40 ciclos de um minuto a 95ºC, um minuto à 57ºC e um minuto a 72ºC, com tempo de cinco minutos para extensão final a 72ºC (Manos et al., 1989). Os produtos da amplificação foram visualizados após eletroforese. Em seguida, as amostras que se mostraram negativas na PCR realizada com o conjunto de primers MY09/11 foram submetidas à Nested-PCR. A amplificação foi realizada com os primers GP05+ (5’-TTGTTACTGTGGTAGATACTAC-3’) e GP06+ (5’GAAAAATAAACTGTAAATCATATTC-3’), empregando-se as mesmas condições e ciclagens utilizadas para os primers MY09/11. 2.4.3.3 Eletroforese Os produtos das PCR foram visualizados após eletroforese em gel de agarose a 2,0%, utilizando tampão TAE 1x (TAE 50x estoque) contendo 6μL de brometo de etidium, mediante a utilização de transiluminador com fonte de luz ultravioleta. 43 2.4.3.4 PCR em Tempo Real Na determinação dos tipos de HPV, foi realizada PCR em tempo real, no equipamento StepOnePlus Real Time PCR System (Applied Biosystem), utilizando sondas PrimeTime (IDT) específicas para os subtipos HPV 6, 11, 16, 18, 31, 33, 35, 52 e 58. O mix empregado na reação foi o Platinum® qPCR SuperMix-UDG (Invitrogen). Para cada amostra foi utilizado 0,1µg de DNA, 200nM de sonda, 0,1µL de ROX Dye, 10µL de tampão de reação 2X e água Milli Q autoclavada qsp 20µL. Foram executados 40 ciclos de 95°C por 15 segundos e 60°C por 60 segundo. Os resultados foram analisados pelo StepOnePlus V2 software. 2.5 CAMPANHA DE DIVULGAÇÃO SOBRE HPV E CÂNCER DO COLO DO ÚTERO Os resultados da pesquisa de HPV nas amostras, bem como os resultados do exame Papanicolaou, foram entregues às servidoras em seus locais de trabalho e, durante as visitas, realizou-se campanha de divulgação de informações básicas sobre HPV e câncer do colo do útero através da entrega de uma cartilha informativa (Apêndice 4). 2.6 ANÁLISES ESTATÍSTICAS Para descrever as características epidemiológicas do grupo de mulheres estudado empregou-se análise descritiva dos dados. O teste qui-quadrado foi usado para medir o grau de associação entre às questões de conhecimento sobre HPV com aquelas que pesquisavam as características sociodemográficas. Para comparar o conhecimento sobre HPV em relação ao grupo que coletou a amostra cervical e o grupo que não coletou, empregou-se o teste de igualdade de duas proporções. Este teste também foi empregado para verificar se houve um tipo de resposta mais prevalente no questionário que avaliava o nível de conhecimento sobre HPV e sua relação com câncer do colo do útero. Para este trabalho adotou-se intervalo de confiança de 95% (pvalor< 0,05) e empregou-se o software BIOESTAT 5.0 (Ayres et al., 2007). 44 2.7 ASPECTOS ÉTICOS O presente trabalho foi submetido a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleo de Saúde (CEP/NUSAU) da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e aprovado conforme carta nº 056/2011/CEP/NUSAU (Anexo 2), em concordância com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde (CNS/MS). 45 3 RESULTADOS De um total de 780 funcionárias da SEMED que participaram do Programa “Estar Bem para Atender Bem”, 48,08 % (375) participaram do estudo por atenderem aos critérios de inclusão estabelecidos. A Tabela 1 mostra a distribuição das servidoras de acordo com as localidades, bem como a quantidade mulheres entrevistadas. Tabela 1 – Locais de aplicação dos questionários e quantidade de mulheres que participaram do estudo em cada localidade Local da Entrevista Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Balão Mágico Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Sonho Meu Centro Municipal de Educação Infantil Sonho de Criança Creche Madre Teresa de Calcutá Quantidade de mulheres entrevistadas N % 17 4,53 13 3,47 22 5,87 19 5,07 31 8,27 12 3,20 17 4,53 39 10,40 29 7,73 33 8,80 Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Chapeuzinho Vermelho Centro Municipal de Educação Infantil Criança Feliz Centro Municipal de Educação Infantil Eva dos Santos de Oliveira Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Jorge Teixeira Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Mário Quintana Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Dirceu de Almeida 46 Tabela 1 – Locais de aplicação dos questionários e quantidade de mulheres que participaram do estudo em cada localidade (continuação) Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Magdalena Tagliaferro Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof. Venâncio Kottwitz Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Aldemir Lima Cantanhede 23 6,13 11 2,93 14 3,73 10 2,67 18 4,80 22 5,87 16 4,27 20 5,33 9 2,40 375 100% Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Prof. Levi Alves de Freitas Escola Municipal de Ensino Fundamental Ireno Antônio Berticelli Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Pingo de Gente Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Roberto Turbay Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Prof. Pedro Louback SEMED Total Os dados referentes às questões demográficas e epidemiológicas da população investigada estão descritos a seguir. Com relação às variáveis demográficas investigadas, 40,3% (151/375) das mulheres apresentavam faixa etária entre 30 e 39 anos, com idade mínima de dezenove anos e máxima de 72 anos, e um total de 55,7% (209/375) declarou-se casada. Em relação à renda familiar, 64,5% (242/375) afirmaram que a família possuía renda em torno de dois a quatro salários mínimos (SM), 56,8% (213/375) que haviam concluído um curso universitário e apenas 4,5% (17/375) declararam não possuir o ensino fundamental completo (Figura 8). 47 Figura 8 – Características demográficas das servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia Em relação às variáveis epidemiológicas, 34,1% (128/375) das servidoras relataram que a idade de sua primeira relação sexual foi entre 17 e 18 anos e somente 1,1 % (4/375) afirmou ter sido entre 11 e 12 anos. Quanto ao número de parceiros sexuais, 49,3% (185/375) informaram terem mantido relações sexuais com até cinco parceiros durante a vida, enquanto 2,9% (11/375) de 16 a 20 parceiros. Todas as participantes informaram ter vida sexual ativa (Figura 9). 48 Figura 9 – Idade da primeira relação sexual e número de parceiros das servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia Ainda em relação às variáveis epidemiológicas, 18,4% (69/375) afirmaram utilizar algum tipo de medicamento contraceptivo oral ou injetável e 4,1% (15/375) informaram usar mais de um método contraceptivo, de forma concomitante. De um total de 306 mulheres que informou não utilizar medicamentos orais ou injetáveis como contraceptivo, 38,9% (119/306) declararam usar preservativo e 30,4% (93/306) informaram não empregar nenhum método contraceptivo (Figura 10). Ao serem questionadas sobre o tempo de realização do último Preventivo do Câncer do Colo do Útero (PCCU) ou exame Papanicolaou, 58,9% (221/375) afirmaram tê-lo feito no último ano, enquanto 2,7% (10/375) disseram nunca ter realizado o exame. A respeito da quantidade de filhos, a maioria, 37,1% (139/375), afirmou ter dois filhos, enquanto apenas 3,2% (12/375) disseram ter mais de quatro filhos. O valor máximo encontrado foi oito filhos. Ao serem questionadas sobre o hábito de fumar, 94,1% (353) declararam-se não fumantes e nenhuma entrevistada disse já ter tomado a vacina contra HPV (Figura 11). 49 Figura 10 – Métodos contraceptivos empregados pelas servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia Figura 11 – Tempo de realização do último PCCU e paridade entre as servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia Em relação às questões que investigavam o conhecimento geral sobre HPV, observou-se que, com exceção das questões de número 3, 4, 5 e 8, tem-se uma resposta (sim ou não) que é estatisticamente mais significante (p<0,05). A Tabela 2 apresenta estes dados. 50 Tabela 2 – Conhecimento geral sobre HPV e sua relação com câncer de colo de útero entre as servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia Sim Questões Não p-valor N % n % Questão 1 283 75,5% 92 24,5% <0,001 Questão 2 219 58,4% 156 41,6% <0,001 Questão 3 199 53,1% 176 46,9% 0,093 Questão 4 196 52,3% 179 47,7% 0,214 Questão 5 198 52,8% 177 47,2% 0,061 Questão 6 151 40,3% 224 59,7% <0,001 Questão 7 112 29,9% 263 70,1% <0,001 Questão 8 196 52,3% 179 47,7% 0,214 Questão 9 362 96,5% 13 3,5% <0,001 Questão 10 70 18,7% 305 81,3% <0,001 Em relação às questões que apresentaram uma resposta (sim ou não) mais prevalente, a maioria da população investigada, 75,5% (283/375), afirmou já ter ouvido falar em HPV e 58,4% (219/375) relataram saber como o HPV pode ser transmitido (questões 1 e 2, respectivamente). No que diz respeito à possibilidade de transmissão do vírus HPV pela mãe para o recém-nascido durante o parto (questão 6), 40,3% (151/375) responderam que esta possibilidade existe e somente 29,9% (112/375) afirmaram que o HPV pode acometer outras regiões do corpo, além da genital (questão 7). A grande maioria, 96,5% (362/375), afirmou conhecer a importância da realização do exame Papanicolaou (questão 9) e apenas uma parcela de 18,7% (70/375) já ouviu falar de vacina para HPV (questão 10). As questões que tratavam do conhecimento sobre o fato de tanto o homem quanto a mulher transmitir o HPV (questão 3), da presença de HPV estar associada ao desenvolvimento de doenças (questão 4), da infecção pelo HPV estar relacionada ao surgimento do câncer de colo de útero (questão 5) e do modo como a infecção pode ser diagnosticada (questão 8) não apresentaram diferença significativa no padrão de resposta, como demonstrado pelo p-valor> 0,05, o que também pode ser observado na Tabela 2. 51 Ao se realizar o teste que mede a associação entre cada questão do formulário de conhecimento sobre HPV com os dados epidemiológicos, observou-se que praticamente não existe relação estatística significativa entre estes dados, com exceção das questões 6 e 9 do formulário de nível de conhecimento com a variável epidemiológica “Idade da primeira relação sexual”, os quais demonstram relação estatística significativa (p< 0,05). Estes dados estão presentes na Tabela 3. Tabela 3 – Associação entre as questões 6 e 9 do formulário de nível de conhecimento e a variável “Idade da primeira relação sexual” do formulário epidemiológico Questão 6: Existe o risco da mãe infectada Não Sim Total transmitir o HPV para o recém-nascido durante o n % n % n % De 11 a 12 4 2% 0 0% 4 1% De 13 a 14 11 5% 10 7% 21 6% primeira De 15 a 16 40 18% 29 19% 69 18% relação De 17 a 18 75 33% 53 35% 128 34% De 19 a 20 48 21% 14 9% 62 17% Acima de 21 anos 46 21% 45 30% 91 24% parto? Idade da sexual Questão 9: Sabe a importância do Não exame Papanicolaou? Sim p-valor % n % n % De 11 a 12 1 8% 3 1% 4 1% De 13 a 14 0 0% 21 6% 21 6% primeira De 15 a 16 2 15% 67 19% 69 18% relação De 17 a 18 8 62% 120 33% 128 34% De 19 a 20 1 8% 61 17% 62 17% Acima de 21 anos 1 8% 90 25% 91 24% sexual 0,012 Total n Idade da p-valor 0,043 A análise da Tabela 3 mostra que o conhecimento sobre o risco da mãe infectada por HPV transmitir o vírus para o recém-nascido durante o parto aumenta, de maneira geral, com o aumento da idade da primeira relação sexual. A mesma observação pode ser feita em relação ao conhecimento sobre a importância do exame 52 Papanicolaou, o qual, de uma maneira geral, também cresce de acordo com o aumento da idade da primeira relação sexual. De um total de 375 servidoras que participaram da primeira etapa do estudo, 68 compareceram ao local pré-estabelecido para a coleta da amostra cervical, para pesquisa de HPV e realização de exame Papanicolaou, ou seja, a adesão à realização do exame foi de 18,1%, o que pode ser considerada baixa (Figura 12). Figura 12 – Percentual das servidoras que realizaram coleta da amostra cervical Assim, usando como critério a adesão à realização da coleta, a amostra foi dividida em duas partes (Servidoras que realizaram o exame para pesquisa de HPV e Servidoras que não realizaram o exame para pesquisa de HPV) e comparou-se cada uma delas com as respostas do formulário de nível de conhecimento. A Tabela 4 contém os dados que comparam o conhecimento geral sobre HPV e a adesão à realização da coleta. 53 Tabela 4 – Comparação entre o conhecimento geral sobre HPV e a adesão à realização da coleta de amostra cervical para pesquisa de HPV entre as servidoras da SEMED de Ariquemes, Rondônia Questões Não realizou coleta Realizou coleta de de amostra cervical amostra cervical n % n % Não 70 22,8% 22 32,3% Sim 237 77,2% 46 67,7% Não 121 39,4% 35 51,5% Sim 186 60,6% 33 48,5% Não 139 45,3% 38 55,9% o Sim 168 54,7% 30 44,1% Questão 4: A presença Não 144 46,5% 37 53,8% alguma doença? Sim 166 53,5% 31 46,2% Questão 5: O HPV pode Não 137 44,6% 38 55,9% Sim 170 55,4% 30 44,1% Não 179 58,3% 45 66,2% durante Sim 128 41,7% 23 33,8% Questão 7: O HPV pode Não 215 70,0% 48 70,6% Sim 92 30,0% 20 29,4% Não 141 45,9% 39 57,4% Sim 166 54,1% 29 42,6% Não 10 3,3% 3 4,4% Papanicolau? Sim 297 96,7% 65 95,6% Questão 10: Já ouviu Não 244 79,5% 61 89,7% Sim 63 20,5% 7 10,3% Questão 1: Já ouviu falar em HPV? Questão 2: Sabe como o HPV pode ser transmitido? Questão 3: Tanto o homem quanto a mulher podem transmitir p-valor 0,109 0,099 0,133 HPV? de HPV está associada a levar a câncer de colo de útero? Questão 6: Existe o 0,278 0,110 risco da mãe infectada transmitir o HPV para o recém-nascido 0,246 o parto? infectar outras regiões do corpo além da região 0,902 genital? Questão 8: Sabe como a infecção pelo HPV é diagnosticada? Questão 9: Sabe da importância do exame falar em vacina contra HPV? 0,103 0,850 0,032 54 A Tabela 4 mostra que há diferença estatisticamente significativa entre o percentual de servidoras que não realizaram o exame e que realizaram apenas na distribuição das respostas da questão 10 (Já ouviu falar de vacina contra HPV?) do formulário de conhecimento (p<0,05). Sendo que, em ambos os casos, a maioria das mulheres responderam nunca ter ouvido falar em vacina para HPV. Em relação à questão 1 (Já ouviu falar em HPV?), observa-se que, em ambos os grupos, a maioria das servidoras respondeu já ter ouvido falar em HPV, com um total de 77,2% (237/307) de resposta “Sim” no grupo que não realizou a coleta da amostra e 67,7% (46/68) no que realizou a coleta. Na questão 2 (Sabe como o HPV pode ser transmitido?) 60,6% (186/307), do grupo que não realizou a coleta, informaram saber as formas de transmissão do HPV, enquanto 51,5% (35/68) das servidoras que realizaram o exame disseram desconhecer como este agente é transmitido. No que diz respeito à questão que aborda o fato de que tanto o homem quanto a mulher podem transmitir (questão 3) o HPV, 54,7% (168/307) e 44,1% (30/68), do total de mulheres que não realizaram o exame e que realizaram, respectivamente, afirmaram conhecer este fato. Ao responderem as questões que verificam o conhecimento quanto a associação do HPV a doenças, como o câncer do colo do útero (questões 4 e 5), 55,4% (170/307), do grupo de mulheres que não coletaram a amostra, afirmaram conhecer a relação do HPV com o surgimento de câncer de colo de útero. Já no grupo que aderiu à realização do exame, 44,1% (30/68) disseram conhecer a associação da presença de HPV e câncer do colo do útero. Na questão 6, que verificou o conhecimento em relação à transmissão do HPV da mãe infectada para o feto durante o parto, observou-se que a maioria das mulheres pertencentes aos dois grupos, 58,3% (179/307) das servidoras que não realizaram o exame e 66,2% (45/68) do que realizou, desconheciam este método de transmissão do vírus. O mesmo aconteceu em relação à questão 7 (O HPV pode infectar outras regiões do corpo além da genital?), já que a maioria das servidoras dos dois grupos, 70% (215/307) e 70,6% (48/68) das servidoras que não realizaram o exame e que realizaram, respectivamente, responderam que não sabiam que a infecção por HPV pode acometer várias regiões do corpo, além da genital. 55 Nas questões que abordavam o conhecimento de como a infecção por HPV pode ser diagnosticada (questão 8) e da importância do exame Papanicolaou (questão 9), observou-se que 54,1% (166/307), do grupo que não realizou a coleta, e 42,6% (29/68), do que realizou, afirmaram conhecer como o diagnóstico do HPV pode ser feito. Já em relação à questão 9, a maioria das mulheres dos dois grupos disse conhecer a importância do exame Papanicolaou, o que correspondeu a 79,5% (244/307) no grupo que não realizou a coleta e 89,7% (61/68) no grupo que realizou. Das 68 lâminas preparadas, foi realizada análise citológica de 64, pois quatro foram consideradas insatisfatórias. Destas, a maioria, 53,1% (34/64), foi classificada como ausente de células atípicas. Entre aquelas que apresentaram alterações citológicas, 12,5% (8/64) apresentaram esfregaço inflamatório inespecífico e 14,1% (9/64) apresentaram esfregaço com alterações sugestivas de infecção por microrganismos. De acordo com o Sistema Bethesda, 20,3% (13/64) dos esfregaços possuíam alterações pré-malignas, dos quais 7,8% (5/64) foram classificados como ASC-H, 6,25% (4/64) como ASC-US e 6,25% (4/64) como LSIL. Vale ressaltar que a alteração celular coilocitose, sugestiva da infecção pelo HPV, foi encontrada em dois esfregaços de lesões pré-malignas LSIL e não foi encontrada nenhuma alteração do tipo HSIL. O resultado do exame preventivo está apresentado na Figura 13. Figura 13 – Resultado do PCCU das servidoras que participaram da coleta das amostras cervicais 56 Dentre as mulheres que apresentaram resultado de citologia normal (n=32), a maioria, 62,5% (20/32), estavam com idade entre 30 e 39 anos, 53,12% (17/32) declararam-se casadas, 62,5 % (20/32) possuíam renda familiar entre dois e quatro salários mínimos e 59,37% (19/32) disseram ter curso universitário completo. Entre as variáveis epidemiológicas, 40,62% (13/32) disseram que a primeira relação sexual ocorreu na idade entre 17 e 18 anos, 87,5% (28/32) que tiveram até cinco parceiros sexuais durante a vida, 34,37% (11/32) afirmaram usar preservativo em suas relações sexuais e 53,12 % (17/32) que realizaram o exame preventivo a mais de dois anos. Entre as mulheres que apresentaram lesões pré-malignas (n=10), 50% (5/10) estavam na faixa etária de 30 a 39 anos, 50% (5/10) eram solteiras, 90% (9/10) disseram ter renda familiar entre dois e quatro salários mínimos e 50% (5/10) possuíam curso universitário incompleto. Além disso, 50% (5/10) disseram ter tido sua primeira relação sexual até os dezoito anos, 80% (8/10) declaram já ter tido mais de 11 parceiros sexuais durante a vida, 60% (6/10) afirmaram não usar preservativo durante as relações sexuais e 50% (5/10) alegaram que o último exame preventivo foi realizado a mais de cinco anos, enquanto uma mulher (10%) respondeu que nunca realizou este exame. Independente do resultado citológico, todas as amostras foram submetidas à PCR com o objetivo de amplificar um segmento da ORF L1 (450 pb) do HPV, ou seja, 68 amostras, incluindo àquelas amostras as quais as lâminas não apresentaram leitura satisfatória. A visualização do produto da PCR demonstrou que 5,9% (4/68) das amostras amplificaram o segmento alvo, o que ocorreu para as duas PCR realizadas, tanto a que empregou os primers MY09/11 como a realizada com os primers GP05+ e GP06+. A Tabela 5 contém os dados epidemiológicos das quatro amostras infectadas, sendo encontradas duas amostras positivas para HPV 58 e duas indeterminadas. 57 Tabela 5 – Características demográficas e epidemiológicas das servidoras com resultado positivo na PCR Variáveis Amostras infectadas 1 2 3 4 19 a 25 Acima de 50 30 a 39 30 a 39 Variáveis demográficas Idade (anos) Estado civil Renda familiar (salários mínimos) Parceiro regular Separada Parceiro regular Casada Entre 2 e 4 Entre 5 e 10 Entre 2 e 4 Entre 2 e 4 Universitário Universitário Universitário Universitário completo completo completo completo Idade da 1ª relação sexual (anos) Acima de 21 Acima de 21 Acima de 21 Entre 19 e 18 Número de parceiros sexuais 6 a 11 6 a 11 6 a 11 6 a 11 Método contraceptivo utilizado Preservativo Sem método Sem método Laqueadura Nunca realizou 2 a 5 anos 2 a 5 anos 2 a 5 anos HPV 58 HPV 58 Indeterminado Indeterminado Grau de escolaridade Variáveis epidemiológicas Tempo de realização do último PCCU (anos) Tipo do HPV A análise das características demográficas da Tabela 5 mostra que, entre as quatro servidoras que apresentaram resultado positivo na PCR, duas tinham idade média de 34,5 anos, três declararam ter renda média familiar de três salários mínimos, duas disseram possuir parceiro regular e as quatro afirmaram ter concluído um curso universitário. Em relação às variáveis demográficas, a idade da primeira relação sexual foi acima de 21 anos em três, das quatro mulheres infectadas por HPV. Além disso, as quatro afirmaram ter tido de 6 a 11 parceiros sexuais durante a vida e duas delas não utilizam nenhum método anticoncepcional. Em relação ao tempo de realização do último exame preventivo, três servidoras afirmaram ter realizado entre dois e cinco anos e uma respondeu nunca tê-lo realizado. Em relação ao resultado citológico, as quatro amostras positivas para HPV foram classificadas como ausentes de células atípicas. Após a realização do trabalho, e com os dados obtidos no formulário de conhecimento geral sobre HPV e sua relação com o câncer do colo do útero, foi 58 elaborada uma cartilha informativa (Apêndice 4) contendo aspectos relacionados à infecção por HPV. Em posse dos resultados das PCR e do exame Papanicolaou, todas as 19 localidades, onde foram aplicados os formulários, foram visitadas e, juntamente com a entrega dos exames, realizou-se campanha de divulgação sobre o HPV por meio da entrega da cartilha elaborada com os resultados deste estudo. 59 4 DISCUSSÃO Investigar o conhecimento da população em geral em relação ao câncer do colo do útero, bem como as crenças que envolvem esta doença, é essencial para se determinar a estratégia mais adequada no planejamento de uma intervenção eficaz (Medeiros & Ramada, 2011). Além disso, torna-se cada vez mais necessário aumentar a conscientização sobre este grave problema de saúde pública, a fim de incentivar à realização do PCCU e a vacinação (Kamzol et al., 2012), principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, onde a quantidade de informação disponibilizada ao público é pequena quando comparada aos países desenvolvidos (Thelmo et al., 2009). Neste estudo, que envolveu 375 mulheres com idade média de 34,5 anos, verificou-se que a maioria (75,5 %) já ouviu falar em HPV, resultado que corrobora com os dados de Gerende & Magloire (2008), os quais, ao estudarem o nível de conhecimento de estudantes universitários americanos, encontraram um valor de 78 %. Apesar do estudo de Gerende & Magloire ter envolvido estudantes do gênero masculino e feminino, as mulheres apresentaram nível de conhecimento maior sobre o tema. Já em um levantamento realizado com 6024 mulheres chinesas, apenas 15,5 % já ouviram falar em HPV, indo de encontro aos resultados deste estudo (Li et al., 2009). Em relação à forma de transmissão do HPV, 58,4 % das mulheres investigadas alegaram saber como ocorre a transmissão do vírus. Este dado pode ser considerado preocupante, já que uma parcela considerável da população investigada não sabia que a infecção por HPV é uma doença sexualmente transmissível. Assim, como comenta Donati et al. (2012), a consciência da existência do HPV não implica, necessariamente, o conhecimento correto sobre as reais consequências que essa infecção pode trazer ao organismo. Ainda em relação às formas de transmissão, 53,1% das mulheres sabiam que tanto os homens quanto às mulheres podem transmitir este agente viral, percentual esse não considerado estatisticamente maior do que aquele que não tinha conhecimento desta forma de transmissão. Este valor é considerado inferior aos resultados obtidos por Cirilo et al. (2010), que, ao pesquisarem o conhecimento sobre essa forma de transmissão do HPV entre 80 estudantes de Enfermagem de uma instituição privada de ensino superior da cidade de Bauru, São Paulo, chegaram a um 60 valor de 60%. A diferença entre os valores pode ser atribuída ao fato de que, no estudo realizado em Bauru, a população investigada cursava uma faculdade da área de saúde, onde estas temáticas são geralmente abordadas, o que é diferente da amostra deste estudo, na qual uma parcela de 74,4% apresentava curso superior ou estava cursando uma faculdade e que, não necessariamente, era da área de saúde. Nas questões relativas à associação entre o HPV e alguma doença, bem como ao câncer do colo do útero, também não se verificou uma resposta estatisticamente prevalente, sendo que um total de 52,8% respondeu que conhecia essa ligação, o que denota falta de conhecimento sobre o fato de que uma infecção por HPV de alto risco pode levar ao câncer cervical. É importante ressaltar ainda que, apesar da maioria da população investigada nesse estudo já ter ouvido falar em HPV, um percentual bem menor associou a presença deste agente ao desenvolvimento do câncer do colo do útero. Esse valor é inferior ao obtido por Kim (2012) que, ao estudar o conhecimento sobre o tema entre 757 professores do ensino fundamental da área de saúde da Coreia do Sul, chegou a um percentual de 89,2%; entretanto, de um modo geral, este autor concluiu que o conhecimento em outras questões associadas ao HPV foi baixo. E próximo aos achados de Li et al. (2009) que, ao estudarem 6024 mulheres chinesas, chegaram a um percentual de 48,2%. A familiaridade com o tema não garante conhecimento exato sobre a relação do HPV com o câncer cervical e verrugas genitais. Desta forma, a educação em saúde deve ser subsidiada de forma a aumentar a profundidade da compreensão sobre as consequências potenciais da infecção por HPV (Li et al., 2009). A maioria das mulheres investigadas nesse estudo (70,1%) respondeu que não sabia que o HPV pode afetar outras regiões do corpo, além da genital, o que está próximo dos resultados obtidos por Katz et al. (2011) que, ao estudarem 165 estudantes americanos, chegou a um valor de 70,3%. Esses resultados demonstram a necessidade da implementação de programas educacionais sobre o assunto, para que a população se torne menos susceptível à infecção pelo HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis (Cirilo et al., 2010). No que diz respeito à importância do exame preventivo ou Papanicolaou, a grande maioria (96,5 %) respondeu saber por que o exame é realizado. Entretanto, é importante observar que, apesar de responderem positivamente a esta questão e 61 relacionarem o resultado do exame à saúde do colo uterino, fica evidente, por meio das respostas anteriores que grande parte das mulheres investigadas não associa lesões cervicais à possível presença de HPV, demonstrando mais uma vez conhecimento equivocado sobre o tema. Em um estudo realizado por Gomes et al. (2012), com 71 pacientes portadoras de neoplasia maligna do colo uterino na região norte do Estados de Minas Gerais Brasil, grande parte das pacientes relatou nunca ter realizado o exame preventivo, entre elas, 42% informaram que não sabiam da necessidade de realização deste exame, reforçando a ideia de que o desconhecimento da importância do exame é um fator de grande relevância para a não realização do rastreio do câncer cervical. Assim, como afirma Cermak et al. (2010), entre mulheres que realizam o rastreio do câncer do colo do útero por meio do exame preventivo, há conhecimento insuficiente sobre HPV e sua associação com esse tipo de câncer. Estes autores, ao estudarem o conhecimento sobre este tipo de câncer e as informações recebidas dos médicos entre 109 trabalhadores do sexo feminino de uma organização de saúde mental dos EUA, descobriram que, de um modo geral, as mulheres não são bem informadas pelos médicos, durante as consultas ginecológicas de rotina, sobre a relação entre HPV e câncer do colo do útero, fatores de risco e medidas preventivas. Assim, eles concluíram que outros meios precisam ser empregados para proporcionar às mulheres essas informações, como folhetos, boletins informativos, comunicações pessoais, palestras, aulas, mídia, entre outros. Em termos de vacinação, apenas 18,7% da população investigada nesse estudo respondeu que já havia ouvido falar em vacina contra HPV, valor esse inferior ao descrito por Gunasekaran et al. (2011) que, ao estudarem o conhecimento sobre HPV entre 203 mulheres australianas, chegaram a um valor de 76%, embora a maioria não compreendesse bem a necessidade da vacina. E inferior também ao achado de Kamzol et al. (2012) que, ao investigarem 400 mulheres polonesas, observaram que 50% tinham conhecimento sobre a existência da vacinação. Assim, embora a vacina já esteja disponível no Brasil, há necessidade de melhor informar a população para que, dessa forma, a adesão a esse meio de prevenção da infecção aumente. Ao estudar a relação entre os dados sociodemográficos da população investigada com o conhecimento sobre a temática, encontrou-se relação 62 estatisticamente significativa entre idade da primeira relação sexual e a questão “importância do exame Papanicolaou” (questão 42 do formulário), p< 0,05, ou seja, que o conhecimento sobre o exame aumenta com o aumento da idade da primeira relação sexual, o que pode ser atribuído a maior procura ao médico ginecologista a partir do início da vida sexual. Donders et al. (2009), ao estudarem o conhecimento sobre HPV entre 321 mulheres da Bélgica, também não observaram relação estatística entre a maioria dos dados sociodemográficos e as questões de conhecimento, como por exemplo, relação com o grau de escolaridade. Já Li et al. (2009), em seu estudo com mulheres chinesas, encontrou associação estatística entre o grau de escolaridade e o conhecimento sobre o HPV. De um total de 375 mulheres que participaram do estudo, apenas 18,1% realizaram a coleta das amostras cervicais para o exame Papanicolaou e pesquisa de HPV, ou seja, a adesão à realização do exame foi baixa. Este fato pode ser devido à falta de conhecimento sobre o tema em questão, o que pode resultar em medo de realizar o exame. Merzouk et al. (2011) comentam que a falta de informação sobre HPV causa à população confusão, medo e preocupação, e que o entendimento sobre a associação entre HPV e câncer do colo do útero afasta a ansiedade de que todas as mulheres com HPV desenvolverão este tipo de câncer. Entretanto, para conseguir informações corretas sobre o HPV e aos aspectos a ele relacionados, a população dever ter acesso a fontes de informação confiáveis. Katz et al. (2011), em seu estudo, verificou que as fontes de informação mais relatadas foram televisão, internet, publicidade e amigos, as quais não podem ser consideradas confiáveis. Esse fato é motivo de preocupação, sugerindo o desenvolvimento de programas educacionais. Medeiros & Ramada (2011) também ressaltam a importância da criação de campanhas de educação apropriadas que visem à redução da infecção pelo HPV e, consequentemente, a incidência e mortalidade por câncer cervical. McCree et al. (2006) comentam que a distribuição de folhetos educativos pode ser uma estratégia para fornecer informações sobre HPV, como evidenciado em seu estudo, realizado com 128 mulheres americanas, no qual houve consenso geral entre 63 as mulheres de que essa forma de divulgação é adequada, principalmente em locais de fácil acesso e muito frequentados. Assim, como uma tentativa de melhorar o conhecimento sobre HPV na população investigada nesse estudo e enfatizar a importância do rastreio do câncer cervical, foram distribuídos folhetos educativos com algumas informações sobre HPV, em campanhas realizadas em cada uma das localidades que participaram do estudo. Este tipo de abordagem é comentado por Gerende & Magloire (2008), os quais, em um estudo com 121 adolescentes americanos, evidenciaram que, após aplicação de um protocolo educacional, o conhecimento sobre essa temática aumentou significativamente, indo de 63% para 87%. Esses autores afirmam ainda que testes de detecção de HPV têm sido associados à ansiedade, angústia, estigma e medo, assim, o entendimento cognitvo da infecção pelo HPV e testes de Papanicolaou é um fator chave na previsão de respostas psicossociais e comportamentais para a infeccção pelo HPV e testes de Papanicolaou anormais. Assim, a fim de minimizar o risco de câncer do colo do útero, bem como melhorar a adesão das mulheres a estratégias de prevenção, a divulgação de informações apropriadas e adequadas e orientação dos profissionais de saúde parecem ser elementos cruciais. Embora o conhecimento não seja um preditor direto do comportamento de saúde, acredita-se que representa um passo fundamental para o sucesso de qualquer intervenção (Donati et al., 2012). E, segundo Wetzel et al. (2007), apesar de sua alta prevalência e consequências potencialmente graves, as mulheres adolescentes e adultas jovens demonstram má compreensão sobre o HPV e o exame Papanicolaou. Desta forma, é necessário suprir as lacunas no conhecimento sobre HPV, o que pode ser conseguido através de materiais de campanha (Hilton & Smith, 2011), além da conscientação dos médicos sobre esta temática, já que eles são os maiores divulgadores de informações durante as consultas de rotina (Esposito et al., 2007). No Brasil, a estratégia de rastreamento recomendada pelo Ministério da Saúde é o exame citopatológico em mulheres na idade de 25 a 64 anos, prioritariamente (Brasil, 2012). Entretanto, segundo Schiffman et al. (2007), os casos de câncer do colo do útero são frequentemente detectados em estágios avançados, devido ao rastreio inexistente 64 ou inadequado, e as opções de tratamento padrão são muitas vezes ausentes ou inacessíveis, principalmente em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Das 64 amostras submetidas à análise citológica, 56,5% se mostraram normais (ausência de células atípicas) e 16,1% apresentaram alterações pré-malignas, com 6,5% do tipo ASC-H, 4,8% ASC-US e 4,8% LSIL. Resultados semelhantes foram obtidos por Entiauspe et al. (2010) que, ao estudarem a prevalência de HPV em 60 mulheres HIV-negativas, chegaram a valores de 50 % das mulheres com citologia normal, 4,2% com lesões do tipo LSIL e 4,2% com ASC-US. Entre o percentual das mulheres que apresentaram citologia com alterações prémalignas, 50% relataram ter iniciado suas relações sexuais com menos de dezoito anos, resultado semelhante foi observado por Rotelli-Martins et al. (2007) que, ao estudarem a relação entre a idade da primeira relação sexual com a presença de alterações citológicas no exame Papanicolaou em 8649 mulheres brasileiras, observaram um percentual maior de alterações pré-malignas em mulheres que tiveram a sexarca até os dezoito anos de idade. Um total de 5,9 % das amostras submetidas à PCR se mostraram positivas em relação à presença de HPV, este resultado é inferior aos achados de Bardin et al. (2008), que chegou a 16,6 % de prevalência ao estudarem a presença deste agente infeccioso em mulheres polonesas, utilizando metodologia semelhante a empregada neste estudo. Esta diferença pode ser atribuída ao tamanho da amostra que correspondeu a 68 no presente estudo em comparação ao total de 834 na pesquisa de Bardin et al. 65 5 CONCLUSÕES O conhecimento geral sobre HPV e sua relação com o câncer do colo do útero foi baixo, na população investigada, no que diz respeito à aplicação na prática de saúde, o que pode estar relacionado à baixa adesão em relação à coleta de amostras cervicais para pesquisa de HPV e exame Papanicolaou. O conhecimento sobre HPV, de um modo geral, não mostrou relação com as variáveis sociodemográficas. A presença de infecção foi verificada em amostras que mostraram análise citológica classificada como ausente de células atípicas, o que demonstra que a infecção por HPV pode, de início, não provocar alterações citológicas. Fica evidente a necessidade de um agente confiável à população, como médico, agente comunitário de saúde, professor, para que haja conversão do conhecimento adquirido em práticas confiáveis de saúde. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRING, L.; BRENTANO, J. E.; VARGAS, V. R. A. O câncer do colo do útero, o papilomavírus humano (HPV) e seus fatores de risco e as mulheres indígenas Guarani: estudo de revisão. Revista Brasileira de Análises Clínicas, 38(2): 87-90, 2006. ANGULO, M; CARVAJAL-RODRÍGUEZ, A. Evidence of recombination within human alpha-papillomavirus. Virology Journal, 4(33): 1186-1193, 2007. ANSCHAU, F.; SCHMIDTT, V. M.; GONÇALVES, M. A. G.; GARICOCHEA, B. Associação entre o polimorfismo no códon 72 da p53 e lesões pré-malignas e malignas cervicais. 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IDENTIFICAÇÃO DA PARTICIPANTE 2.1 Nome: __________________________________________________________ 2.2 Número de identificação no estudo: _____________ 2.3 Endereço: _______________________________________________________ 2.4 Telefone para contato: (_____) ___________ 2.5 Cargo: __________________________________________________________ 2.6 Data de nascimento: ______/______/______ 3. Aspectos socioeconômicos / Saúde 3.1 Estado civil: (1) casada (2) tem parceiro regular (relações sexuais regulares, por mais de 6 meses) (3) separada (4) viúva (5) solteira (nunca foi casada ou viveu com parceiro) 3.2 No caso de união estável, quanto tempo? _______________ 3.3 Renda familiar mensal: (1) até 1 salário mínimo (2) entre dois e quatro salários mínimos (3) entre cinco e dez salários mínimos (4) acima de dez salários mínimos 81 3.4 Grau de escolaridade: (1) 1º grau incompleto (2) 1º grau completo (3) 2º grau incompleto (4) 2º grau completo (5) universitário incompleto (6) universitário completo (7) pós-graduação completa (8) pós-graduação incompleta 3.5 Idade da 1ª relação sexual: ________ 3.6 Usa contraceptivos orais/injetáveis? (1) Sim (2) Não 3.6.1 A quanto tempo? ________ 3.6.2 No caso de não usar contraceptivo oral/injetável, utiliza outro método contraceptivo? (1) Sim (2) Não 3.6.3 Qual o método? ______________________ 3.6.4 Qual a frequência de utilização? (1) sempre (2) de vez em quando (3) raramente (4) nunca 3.7 Número de partos: ________ 3.7.1 Número de partos normais: _______ 3.7.2 Número de partos cesáreas: _______ 3.8 Consome bebidas alcoólicas? (1) Sim (2) Não 82 3.9 Fumante? (1) Sim (2) Não 3.10 Realizou o exame citopatológico (Papanicolaou) há quanto tempo? _________ (1) menos de 1 ano (2) entre 1 e 2 anos (5) nunca (3) entre 2 e 5 anos (4) a mais de 5 anos 3.10.1 Onde? ____________________________ 3.11 Já tomou a vacina contra o HPV? (1) Sim (2) Não 3.11.1 Onde? ___________________________________ 3.11.2 Há quanto tempo? __________________________ 4. Exame Atual 4.2 Data de coleta: ______/______/_______ 4.3 Hora da coleta: ____________________ 4.4 Resultado da PCR: (1) negativo (2) positivo 4.5 Tipo de HPV encontrado ________ 83 APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO PARA COLETA DAS INFORMAÇÕES DE CONHECIMENTO GERAL SOBRE HPV ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA OCORRÊNCIA DE INFECÇÃO PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) E DO CONHECIMENTO GERAL SOBRE O VÍRUS EM MULHERES RESIDENTES EM RONDÔNIA, BRASIL QUESTIONÁRIO II 1. Identificação da Participante 1.1 Número de identificação no estudo: _____________ 2. Nível de conhecimento HPV/câncer de colo de útero 2.1 Já ouviu falar em HPV? (1) Sim (2) Não 2.2 Sabe como o HPV pode ser transmitido? (1) Sim (2) Não 2.3 Tanto o homem quanto a mulher pode transmitir o HPV? (1) Sim (2) Não 2.4 A presença de HPV está associada a alguma doença? (1) Sim (2) Não 2.5 Sabe que o HPV pode levar a câncer do colo do útero? (1) Sim (2) Não 2.6 Existe risco da mãe infectada pelo HPV transmitir o vírus para o recém-nascido durante o parto? (1) Sim (3) Não 2.7 O HPV pode infectar outras regiões do corpo, além da região genital? (1) Sim (2) Não 2.8 Sabe como a infecção pelo HPV é diagnosticada? 84 (1) Sim (2) Não 2.9 Sabe da importância do exame Papanicolaou? (1) Sim (2) Não 2.10 Já ouviu falar de vacina contra HPV? (1) Sim (2) Não 85 APÊNDICE 3 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA OCORRÊNCIA DE INFECÇÃO PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) E DO CONHECIMENTO GERAL SOBRE O VÍRUS EM MULHERES RESIDENTES EM RONDÔNIA, BRASIL TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pesquisadora principal: Ms. Fábia Maria Pereira de Sá Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos R. Vallinoto Eu, _________________________________________________, fui convidada a participar do estudo intitulado “Estudo Epidemiológico da Ocorrência de Infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) e do Conhecimento Geral sobre o Vírus em Mulheres Residentes em Rondônia, Brasil” que visa saber a ocorrência do HPV, os tipos de HPV, a relação com as características individuais e o câncer de colo de útero. Fui informada que deverei responder a um questionário com perguntas sobre dados pessoais, hábitos e algumas perguntas sobre meu histórico sexual e passado ginecológico. Fui informada que posso me negar a responder as perguntas. Fui informada de que todas as informações são confidenciais. Estando satisfeita com as informações recebidas, autorizo a Farmacêutica Ms. Fábia Maria Pereira de Sá a utilizar as minhas. Ariquemes, _______ de ____________ de 2012. Nome:______________________________________________________________ Assinatura:__________________________________________________________ (Impressão Digital) Observação: O documento será impresso em duas vias para que uma via fique com a servidora participante da pesquisa. 86 APÊNDICE 4 – CARTILHA INFORMATIVA SOBRE HPV 87