20/02/2017 QUÂNTICA E ESPECTROSCOPIA Prof. Harley P. Martins Filho (06/03/17 a 24/04/17) Prof. Márcio E. Vidotti (26/04/17 a 19/06/17) • Química Quântica Introdução e princípios Partícula na caixa Oscilador harmônico Rotor rígido Átomos hidrogenóides Primeira prova (partícula na caixa e átomos hidrogenóides): 03/04/17 Átomos polieletrônicos Teoria da ligação de valência Teoria do orbital molecular. Moléculas diatômicas Uso de programas matemáticos para cálculo de orbitais moleculares em moléculas poliatômicas. Uso de programas de visualização de resultados de cálculos mecânico-quânticos. Segunda prova (uso de programas matemáticos para cálculo de orbitais moleculares em moléculas poliatômicas. Uso de programas de visualização de resultados de cálculos mecânico-quânticos.): 1 20/02/2017 Fundamentos da Mecânica Quântica Mecânica Quântica: conjunto de conceitos e leis que governam o comportamento de partículas em nível atômico e molecular. Segundo a mecânica clássica: É possível prever a trajetória exata de partículas (posições e momentos) dadas as condições iniciais. É possível excitar qualquer movimento (translação, rotação e vibração) a qualquer energia. A única manifestação da matéria está nas partículas. Ondas eletromagnéticas são formas de energia. Observações de quantização: Max Planck: energia de osciladores eletromagnéticos está quantizada em valores discretos dados por E = nh onde n = 0, 1, 2, 3 ... e h = 6,6260810-34 J s Albert Einstein: energia de um feixe de luz está concentrada em fótons, cada um carregando um quantum de energia h. No choque entre fóton e uma partícula como o elétron, o quantum de energia é integralmente absorvido pelo elétron. Louis de Broglie: qualquer partícula deslocando-se com um momento linear p tem (num certo sentido) um comprimento de onda dado pela relação h p 2 20/02/2017 Um elétron acelerado com uma diferença de potencial de 40 kV tem comprimento de onda de 6,1 pm, que é menor do que comprimentos típicos de ligação molecular estes elétrons podem ser usados como ondas para experimentos de difração para determinação de estruturas cristalinas. A dinâmica dos sistemas microscópicos Descrição clássica do movimento ondulatório: Movimento em uma direção x: = Acos(kx) ou = Asen(kx) é a amplitude da onda e A é o valor máximo da amplitude. Comprimento de onda da amplitude: = 2/k. Uma partícula não tem uma trajetória definida, mas se distribui no espaço como uma onda. Substituindo a trajetória da partícula, existe uma função de onda , que é em geral uma função complexa. 3 20/02/2017 o A equação de Schrödinger Para se obter as possíveis funções de onda de uma partícula de massa m movendo-se em uma dimensão resolve-se a equação de Schrödinger independente do tempo: 2 d 2 V ( x ) E 2m dx 2 V(x) é a expressão clássica para a energia potencial da partícula como uma função da posição e h 1,05457 1034 J s 2 Obtém-se com esta equação os estados estacionários possíveis para uma dada partícula. Para uma partícula mudando de estado é necessário resolver a equação de Schrödinger dependente do tempo. o A interpretação de Born para a função de onda Para uma onda eletromagnética, valor do quadrado da amplitude em um ponto do espaço dá a intensidade da onda neste ponto ou a probabilidade de se encontrar um fóton nesta posição. Para uma partícula, a probabilidade de se encontrá-la entre as posições x e x + dx é proporcional a 2dx. Valor de é a amplitude de probabilidade. Valor de 2 é a densidade de probabilidade. Se é complexa, 2 equivale a *, onde * é o complexo conjugado da função de onda, obtido pela substituição de todo número complexo i presente na função por –i. 4 20/02/2017 Para se obter a probabilidade de se encontrar a partícula em um intervalo finito de posições, integra-se 2 no intervalo: x2 2 Prob. dx x1 Em um gráfico de 2, a probabilidade é proporcional à area sob a curva. Para uma partícula movendo-se em três dimensões, é função do vetor posição r e a probabilidade de se encontrar a partícula em um volume infinitesimal d = dxdydz na posição r é proporcional a (r)2d. Valores negativos (ou complexos) de correspondem a probabilidades positivas de se encontrar a partícula. Quando funções de onda forem combinadas, sinal das funções indicará se interferência será construtiva ou destrutiva. Exemplo: para um elétron no átomo de hidrogênio, e-r/a0 , onde r é a distância ao núcleo e a0 uma constante. Probabilidade de se encontrar um elétron em um volume de 1,0 pm3 (muito pequeno mesmo em escala atômica) no núcleo: Pnucleo (e-0/a0)21,0 = 1,0 Probabilidade em um ponto a uma distância a0 do núcleo: Pa0 (e-a0/a0)21,0 = e-2 = 0,14 Pnucleo/ Pa0 = 7,1 5 20/02/2017 • Normalização Dada uma solução da equação de Schrödinger, qualquer função N, onde N é uma constante, também será solução. Condição de normalização: A probabilidade de se encontrar a partícula em todo o seu espaço de movimento deve ser igual a 1. Em uma dimensão, N Ndx N dx 1 * N 2 * 1 dx * 1/ 2 Probabilidade = ||2dx é adimensional e dx tem unidades de comprimento tem unidades de m-1/2. Em espaço d-dimensional, tem unidades de m-d/2. • Quantização. Restrições à função de onda decorrentes da interpretação de Born: Integral de ||2 dá no máximo 1 não pode ser infinita em nenhum ponto de seu domínio. Probabilidade de achar a partícula nas vizinhanças de um ponto é única deve ser unívoca. Funções inaceitáveis como funções de onda. (c) não-unívoca (d) tem singularidades. 6 20/02/2017 Restrições decorrentes da natureza da equação de Schrödinger: Derivada segunda de deve ser definida em todo o espaço de movimento da partícula deve ser contínua e sua derivada primeira deve ser contínua e derivável Funções de onda inaceitáveis devido à natureza da equação de Schrödinger. (a) descontínua (b) derivada primeira descontínua. Restrições fazem com que poucas funções sejam aceitáveis como funções de onda, cada uma correspondendo a uma energia definida para a partícula quantização da energia Princípios da Mecânica Quântica o A informação contida numa função de onda A função de onda contém toda a informação sobre a dinâmica do sistema que ela descreve. Equação de Schrödinger para uma partícula livre (V(x) = 0) se movendo em uma dimensão: 2 d 2 E 2m dx 2 ikx ikx Solução geral: Ae Be E k 2 2 2m (1) e (2) A e B são constantes arbitrárias. Usaremos este sistema como exemplo na análise de funções de onda. 7 20/02/2017 • A densidade de probabilidade Para a partícula livre, se B = 0, Ae ikx Aeikx Aeikx A*e ikx Aeikx A * 2 2 Probabilidade é independente de x. Partícula totalmente deslocalizada (mesmo resultado para A = 0). Se A = B, A(eikx e ikx ) i Relação de Euler: e cos isen 2 A cos kx 2 A cos kx 2 A cos kx 4 A cos2 kx 2 2 * Densidade de probabilidade varia entre 0 e 4|A|2. Um nó é um ponto onde a função de onda passa por um zero, mudando de sinal. • Autovalores e autofunções Cálculo do momento linear da partícula livre: EK 1 2 m 2v 2 p2 1/ 2 mv p 2mEK 2 2m 2m Toda a energia da partícula livre (eq. 2) é cinética. 1/ 2 k 22 p 2m 2m k 8 20/02/2017 Um operador é uma expressão matemática que, acoplada a uma função, efetua uma ou mais operações matemáticas na função. Se o resultado das operações for a própria função multiplicada por uma constante, a função é dita autofunção do operador e a constante é dita autovalor do operador. (Operador)(função) = (fator constante)(função) ˆ , onde é o autovalor e a autofunção do ou operador ̂ . A equação está na forma de uma equação de autovalor. Exemplo: mostrar que eax é autofunção e eax2 não é autofunção do operador d/dx. d ax e aeax dx 2 d ax 2 e 2axeax dx autovalor a autofunção eax função 2ax função eax2 Para cada propriedade mensurável do sistema existe um operador matemático. Se um função de onda for autofunção de um operador correspondente a uma propriedade, o autovalor é o valor quantizado que esta propriedade assume no estado correspondente à função de onda. 9 20/02/2017 • A construção dos operadores Um observável é representado pelo operador ̂ que se forma a partir da expressão clássica para o observável, substituindo-se aonde aparecerem coordenadas de posição e momento linear, os seguintes operadores da posição e do momento: xˆ x e pˆ x d i dx Exemplo: momento linear da partícula livre com função de onda Aeikx (B = 0) pˆ x deikx A A ikeikx kAe ikx k px k i dx i Para = Be-ikx (A = 0), px = -kℏ. Alternativamente, pela relação de de Broglie, px = h/. Mas eikx = cos(kx) + isen(kx) funções com = 2/k px = h/ = h/(2/k) = kℏ A expressão clássica da energia potencial de qualquer partícula é sempre uma função simples de suas coordenadas de posição e portanto o operador correspondente consiste na própria expressão clássica. Exemplo: energia potencial de uma partícula oscilante presa a uma mola com constante de força k (oscilador harmônico): V 1 2 1 kx Vˆ kx 2 2 2 Energia cinética de uma partícula movendo-se em uma dimensão: 1 m 2v 2 p2 EK mv 2 x 2 2m 2m Substituindo operador para momento linear: 1 d d 2 d 2 Eˆ K 2m i dx i dx 2m dx 2 10 20/02/2017 O operador para a energia total de um sistema (operador hamiltoniano) é a soma dos operadores para a energia cinética e a energia potencial. Para movimento em uma dimensão, 2 d 2 Hˆ Eˆ K Vˆ V ( x) 2m dx 2 A equação de Schrödinger pode então ser colocada na forma de equação de autovalor: 2 d 2 V ( x ) E 2m dx 2 2 d 2 V ( x ) E 2 2m dx Hˆ E As possíveis energias quantizadas da partícula são os autovalores do operador hamiltoniano. Para cada autovalor há uma autofunção . Se derivada segunda da função de onda é proporcional à energia cinética, curvatura da função de onda indica onde a partícula tem mais ou menos energia cinética. Curvatura média da função de onda dá uma idéia da energia cinética média da partícula. 11 20/02/2017 Operadores mecânico-quânticos correspondentes a propriedades são hermitianos e portanto suas autofunções correspondentes a diferentes autovalores são ortogonais entre si, ou seja, para duas autofunções i e j correspondentes a dois autovalores i e j, d 0 * i j Exemplo: autofunções do operador hamiltoniano com energia diferente são ortogonais. Exemplo: funções senx e sen2x são autofunções de d2/dx2, com autovalores -1 e -4, respectivamente. Visualmente podemos verificar que são ortogonais (integral corresponde à área sob a curva ). • Superposições e valores esperados Função de onda da partícula livre (A = B): 2 Acoskx Aplicação do operador de momento linear: d d cos kx k 2A 2 Asenkx i dx i dx i Não há autovalor. Momento não tem valor definido. Mas função é uma combinação linear de eikx e e-ikx, que têm momento angular kℏ e –kℏ , respectivamente. A função de onda é uma superposição de mais de uma função de onda. Simbolicamente, = + Momento kℏ Momento –kℏ 12 20/02/2017 Em uma sequência de observações do momento linear da partícula, metade dos resultados será kℏ e a outra metade –kℏ. Probabilidade de se encontrar a partícula deslocando-se para a direita ou para a esquerda são iguais. Para qualquer propriedade, é possível calcular o valor médio resultante de um grande número de observações, que é o valor esperado do operador correspondente à propriedade: ˆ d * Exemplo: Valor esperado de para uma função que é autofunção do operador, com autovalor : ˆ d *d *d * Exemplo: Superposição de estados = c11 + c22 em que as funções 1 e 2 são autofunções do operador com autovalores 1 e 2: * ˆ c11 c2 2 d c11 c2 2 c11 c2 2 c111 c22 2 d * c1*c11 1*1d c2*c22 2*2d c1*c22 1*2d c2*c11 2*1d c1*c11 1 c2*c22 1 c1*c22 0 c2*c11 0 c1 1 c2 2 2 2 13 20/02/2017 Quando se faz uma medida da propriedade, obtém-se um dos autovalores correspondentes a uma das autofunções. A probabilidade do resultado de uma medida ser um autovalor i é proporcional a ci2. Exemplo: Energia cinética média de uma partícula qualquer 2 d 2 Eˆ K 2m dx 2 2 2 d 2 2 * d d EK * d 2 2m dx 2 2m dx Para o valor médio da energia cinética contribuem a curvatura da função de onda e também a própria magnitude da função de onda. o O princípio da incerteza Partícula livre com função de onda Aeikx: momento definido kℏ mas posição completamente indefinida. Pode-se montar uma função de onda da partícula que corresponde a uma posição definida, mas então o momento linear ficará totalmente indefinido. Posição e momento são observáveis complementares, com incertezas governadas pelo princípio da incerteza: pq 1 2 onde p é a incerteza no momento linear paralelo ao eixo q e q é a incerteza da posição neste eixo. A incerteza em uma propriedade () é o desvio médio quadrático da propriedade em relação ao valor médio da propriedade 14 20/02/2017 • Observáveis complementares Comutador de dois operadores: ˆ , ˆ ˆ ˆ 1 2 1 2 ˆ ˆ 2 1 Exemplo: comutador dos operadores de posição e momento linear: xˆ, pˆ x xˆ pˆ x pˆ x xˆ d d x i dx i dx d d x x i dx i dx x d d x x i dx dx i xˆ , pˆ x = (-ℏ/i) = iℏ Quando o comutador de dois operadores é diferente de zero, diz-se que os operadores não comutam e as propriedades correspondentes aos operadores são observáveis complementares, com incertezas relacionadas pelo princípio da incerteza. Se o comutador é zero, os autovalores dos dois observáveis são definidos, e a cada autovalor de um observável corresponde um autovalor do outro. 15