resquícios do tempo – jornal rafael dantas

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*RESQUÍCIOS DO TEMPO*
EDIÇÃO ESPECIAL COM OS DESTAQUES DO ‘BLOG RAFAEL DANTAS, BAHIA’
– SALVADOR BAHIA 2014, SÈCULO XXI –
Editorial
A Persistência da Intolerância:
A tristeza de uma campanha eleitoral.
Rafael Dantas.
Atualmente é aluno de História na UFBA
também é Desenhista e Artista Plástico.
Criou o ‘Blog Rafael Dantas, Bahia’ em
2010. Foi representante dos alunos no Colégio Úrsula Catharino e no Colégio Manoel
Novais. Estuda as transformações urbanas na
Cidade do Salvador durante o século XX
(Belle Époque e décadas de 1967 - 1975), e
os monumentos do Egito Romano erguidos
ou alterados no período do Imperador
Trajano. Inicialmente destinou o Blog para
analisar a rica História da Bahia destacando
a velha Cidade de Salvador, priorizando
especialmente o nosso rico patrimônio
histórico e questões ambientais. Depois
começou a abordar outros temas diversificando a linha de atuação, ampliando os
assuntos para além da Bahia.
George Grosz - Explosion. 1917.
Museum of Modern Art (Moma)
Rafael Dantas.
História UFBA.
Arrependo-me de não ter escrito e publicado esse texto antes, afinal o que me motivou
foi o deplorável “debate” que presenciei em um grupo no facebook um dia antes das
eleições no 2° turno. Mesmo assim publico-o com a doce esperança de instigar a reflexão
em alguns, nessa reta final ou em qualquer outro momento, onde a intolerância se faz
presente.
Realmente é interessante observar (deplorável levando em consideração alguns constantes
comentários presentes nessa rede social) como os que se dizem defensores “disso e daquilo” e de outras tantas liberdades, tratam aqueles que pensam diferente dos demais. E
como vários estão despreparados para conviverem em sociedade.
Respeito, tolerância, liberdade de expressão, um bom diálogo, onde estão?
“O que vi em menos de um mês foi um
verdadeiro espetáculo de horrores, onde são
claras as demonstrações carregadas de um
instinto de violência extrema e falta de educação medonha, que se fossem transladadas
para o diálogo ao vivo poderiam significar
atos de total covardia, onde provavelmente
sangue seria derramado sob a justificativa
débil de defender candidatos, alçados a
categoria de santos e seus respectivos projetos políticos.”
O que vi em menos de um mês foi um verdadeiro espetáculo de horrores, onde são
claras as demonstrações carregadas de um instinto de violência extrema e falta de educação medonha, que se fossem transladadas para o diálogo ao vivo poderiam significar atos
de total covardia, onde provavelmente sangue seria derramado sob a justificativa débil de
defender candidatos, alçados a categoria de santos, e seus respectivos projetos políticos.
Estaríamos discorrendo com bobas crianças? Adolescentes rebeldes em plena puberdade
na ânsia para usar suas emoções ao bel-prazer? Ou estamos conversando com cidadãos
conscientes que vivem em uma sociedade democrática (e ressalto isso), por mais que não
pareça em determinadas situações, onde a diversidade sempre existirá!
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Na busca pelo espetáculo gratuito e pelo menosprezo do outro a
humanidade já fez horrores, vejo que em pleno o século XXI,
em um espaço virtual, a história se repete. Fora dele os horrores
continuam existindo. Envergonha-me ver várias pessoas das mais
diversas áreas se comportarem como quase ditadores que não
perdem a chance de impor sua opinião e seus apaixonados
argumentos, expondo a sede pela barbárie e aviltamento presente em escritos e falas lastimáveis.
Realmente recuso-me a perder tempo em debates onde os donos da
“verdade” se colocam como arautos da “razão”. Recolho-me, não por
temer o enfrentamento daqueles que se elevam a tão alto desnível de
“esperteza e ilusão de soberania”, mas sim por constatar que onde
existe a intolerância, e principalmente a falta de respeito, não nascerá
e não existe espaço para a ideia de liberdade, por mais que alguns se
intitulem defensores dela.
Recolho-me, mas não desisto!
Quem prega o não respeito ao outro, como vi nesses dias, abre
espaço para inúmeras formas de tratamento, que podem variar
das mais simples demonstrações de repúdio, asco, ou mesmo, a
sinais de verdadeiros pedidos de linchamento ou morte “adoçados” na forma de ironias (como vi em uma publicação meses
atrás de um futuro professor); ocultados em sentimentos que
dormem enquanto os dedos digitam violentamente no facebook.
Se quiserem criticar algo (ou mesmo destroçar opiniões apresentadas) argumentem, fundamentem seus votos e pontos de vista
em um ou no outro candidato; ou em qualquer questão em
algum debate. Construam teses, ou não, sobre os mais diversos
assuntos, mas respeitem o outro! O saudável debate político não
pode ser realizado com ações desprezíveis como as que observamos nessas eleições. Pena em ver a fraqueza e a tristeza de
opiniões que giravam em torno de preconceitos e generalizações
carregadas de tamanho ódio. Colocando o outro sempre como
inimigo, ou coisa pior, só por apoiar algum candidato.
Um bom Domingo para os eleitores da Dilma e do Aécio, os que vão
votar Nulo, justificar ou não votar.
Atenciosamente.
Rafael Dantas.
Infelizmente a intolerância e o preconceito persistem depois das
eleições.
Observação:
A pintura de Grosz retrata os horrores da I Guerra Mundial, trazendo a barbárie do momento com prédios demolidos, incêndios e
corpos mutilados. Foi usada para ilustrar o caos durante as eleições,
especialmente do 2° turno, onde a intolerância marcou presença.
Ponte Salvador Ilha de Itaparica. Crônicas de saveiros, restos de
natureza e histórias.
O Fim do sossego na ilha de Itaparica.
Projeto da Ponte.
Imagem Jornal A Tarde.
Rafael Dantas.
História UFBA.
São séculos de História que envolvem a
Baía de Todos os Santos. Neste véu de
natureza observada desde os primeiros
habitantes aos primeiros viajantes, a
“entrada” do Brasil e da Bahia continua
bela, porém ameaçada.
Há tempos a discussão sobre uma ponte
que ligasse Salvador a Ilha de Itaparica é
notícia entre os habitantes, claro, com
"altos e baixos" no "grau" das notícias do
momento. Recentemente acompanhamos as notas divulgadas sobre a tão sonhada construção. Entretanto “obstáculos” por um lado obscuros, por outros,
claro até de mais, viram pontos mais que
essenciais no diálogo que deveria existir
com a população sobre o projeto. Claro
que uma ponte ligando duas zonas urbanas: uma a capital do Estado, e a outra
uma importante ilha, a maior ilha marítima do Brasil, possibilitaria pontos positivos e poderia acabar com tantos outros
problemas existentes nesse trecho, ainda
dependente do sucateado, mas não acabado Ferry-boate e a ponte do Funil (que
teria a companhia de uma nova ponte,
segundo o secretário estadual de infraestrutura, João Leão em entrevista para o
Jornal A Tarde em janeiro de 2010).
A ponte que vem sendo imaginada há
muito tempo teria 13 km, e já desperta
fácil suspeita se vingaria ou não, afinal o
metrô da Cidade de Salvador já esta
virando “adolescente”, e até hoje não saiu
dos 6 km; um dos maiores exemplos do
mau uso do dinheiro público, irresponsabilidade administrativa, e vergonha de
toda a população. Sendo quase impossível não compararmos os dois projetos,
que no momento correspondem a um
sonho, no caso do metrô ainda incomple-
toda a população. Sendo quase impossível não compararmos os dois
projetos, que no momento correspondem a um sonho, no caso do
metrô ainda incompleto, e um esboço, no caso da ponte.
A Odebrecht saiu na frente quando
há 30 anos desenhou um projeto de
uma ponte que ligaria Salvador /
Itaparica, mas não foi levado a diante
pelo governo. Importante lembrar
que hoje a própria construtora entre
outras como a OAS, desempenham
grande atuação junto o governo Jaques Wagner. Os projetos divulgados
apontam para um conjunto de obras
viárias que ligariam rodovias importantes como a BR-242, tendo como
objetivo melhorar a entrada e saída da
capital baiana, praticamente restrita a
outra importante BR, a 324. Os custos previstos para a construção da
ponte ficariam na faixa dos 1,5 bilhões. Se compararmos os valores
com o sistema Ferry-boat, poderia-se
comprar aproximadamente 40 ferrys
do modelo mais novo, conhecido
pelo nome de Ivete Sangalo, que
custou R$ 35 milhões - Na realidade
em que vivemos, tais valores poderiam sim ser aplicados em necessidades
2
custou R$ 35 milhões - Na realidade em
que vivemos, tais valores poderiam sim
ser aplicados em necessidades maiores.
Como já mencionado vários pontos
entram na discussão sobre a construção
da ponte. Entre o "progresso" e o "atraso",
ainda veremos bastante esse assunto tão
polêmico. O escritor João Ubaldo Ribeiro acredita que para a Ilha essa radical
aproximação com a capital representaria
um risco a esse paraíso ecológico, que já
sofre bastante com o avanço imobiliário e
a violência. João Ubaldo é responsável
pela criação de um abaixo assinado que
conta com a assinatura de diversas pessoas, intitulado: “Itaparica: ainda não é
Adeus”. No abaixo assinado Ubaldo
aponta vários fatores de extrema importância sobre os problemas que a Ilha
enfrenta, e passaria a enfrentar com a
construção da ponte:
“Conheço esse progresso. É o progresso
que acabou com o comércio local; que
extinguiu os saveiros que faziam cabotagem no Recôncavo; que ao fim dos
saveiros juntou o desaparecimento dos
marinheiros, dos carpinas, dos fabricantes de velas e toda a economia em torno
deles”.
Fantástica observação do escritor ao
tratar do comércio local, sendo exemplo
os importantes saveiros, que hoje se
resumem a poucas raridades ainda em
uso. Outro ponto tocado é “A cultura e a
especificidade locais são violentadas e
prostituídas e o progresso chega através
do abastardamento de toda a verdadeira
riqueza das populações assim atingidas”,
mais do que uma observação, é uma
realidade vista em toda a Bahia, que
poderia sim ser agravada com a ponte.
Fato claro, e mais que evidente, é a triste
situação da Ilha hoje. Assim como outros
pontos turísticos da Bahia, a aparência
atual da bela ilha é da desorganização,
seja pelo trânsito mal organizado, pelo
lixo ou por outros problemas, a Ilha hoje
é um amontoado de resorts e condomínios de veranistas. Podendo piorar, ou
mesmo virar uma “Miami de pobre”,
como escrito no abaixo assinado já mencionado. Na ilha ainda podemos encontrar muito verde - fico feliz em dizer isso matas ainda densas, com grande riqueza
em sua fauna e flora; paisagens tão belas,
que da orgulho em dizer que a ilha está
em nosso Estado. Um recanto da Bahia
que podemos encontrar, em alguns
lugares ainda pouco explorados, belos
exemplos das características naturais da
nossa terra. Tais riquezas podem simplesmente desaparecer, ou mesmo virar
uma grande propriedade com destino
incerto, com a construção da ponte.
A construtora OAS admitiu que pretende construir condomínios fechados no
centro da ilha. Tal situação também
pode ser comparada ao ocorrido em
muitos bairros da Cidade de Salvador,
que antes tinha áreas verdes com árvores
seculares, e a até mesmo animais presente. Isso até o grande avanço urbano e a
cruel especulação imobiliária, que modificou a natureza existente e destruiu os
antigos casarões, trazendo os grandes
edifícios. Como o ocorrido no Corredor
da Vitória e sua escarpa cercada de verde
e alguns raros animais. Alguns relatos de
antigos visitantes que passavam pelo mar
e avistavam o paredão, mostram como
era linda a paisagem. Hoje a realidade é
outra, grandes prédios com seus píeres
estão dominando a encosta, onde antes
reinava a mata atlântica.
É óbvio que tais medidas usadas em
nome do "progresso" não podem ser
simplesmente implantadas, sem o diálogo com a população, muito menos direcionadas apenas a determinadas elites do
mercado. Construir uma ponte sem ser
feito pesquisas sérias de impacto
ambiental, histórico e social na região, é
um enorme erro. E tais projetos estão
infelizmente direcionados, se não corrigidos imediatamente, ao fracasso, levando ao desequilíbrio de um lugar ainda
tão belo como a Ilha de Itaparica e a
Baía de Todos os Santos. Baía que em
1949 recebeu a visita do escritor Albert Camus, escrevendo o seguinte
relato:
“Prefiro essa baía à do Rio, muito
espetacular para o meu gosto. Esta,
pelo menos, tem uma medida e uma
poesia”.
A pergunta que fica é até quando as
medidas e o ar do que restou de
poesia ainda existirá na Bahia de todos
os Santos? Com ponte ou não a atenção sobre o lugar deve sempre existir.
Atenciosamente.
Abaixo-Assinado de João Ubaldo
Ribeiro:
http://www.gopetition.com/petition/33
669.html
Demolindo a própria História. O Descaso
com os antigos casarões em Salvador.
Modernidade? Importantes símbolos do passado e retratos “presentes” das transformações da Cidade do Salvador. Atualmente os velhos casarões do Corredor da Vitória continuam ameaçados ou mesmo sendo demolidos. Em matéria especial veremos uma retrospectiva da febre demolidora que atingiu Salvador, especialmente no Corredor da Vitória,
Campo Grande, Graça e Barra ao longo dos anos.
Chegada da Família Real e Casarões da Graça e Vitória.
3
Rafael Dantas.
História UFBA.
A Abertura dos Portos em 1808 possibilitou uma série de modernizações que marcaram
significativamente algumas regiões de Salvador. Especialmente no século XIX destacamos a
vinda de comerciantes estrangeiros para Bahia, entre eles: ingleses, franceses, alemães, suíços
e portugueses. A região do Corredor da Vitória e da Graça, principalmente, foram os lugares
escolhidos pelos ricos comerciantes do período, entre eles esses estrangeiros, que encontraram ali a região “ideal” para construir suas residências. Seguindo a ideia de modernidade,
junto com as questões de salubridade, e os estilos arquitetônicos que vigoravam na Europa especialmente em Paris, com as reformas do Barão de Haussmann.
O contexto urbano do Centro Antigo da velha Cidade de Salvador, marcado pela predominância do Colonial nos casarios, residências que dividiam paredes, ruas estreitas, e com vários
problemas sanitários (realidade de várias cidades pelo mundo na época), começaram a ser
considerados exemplos do atraso. É importantíssimo também mencionar a crise açucareira e
a abolição da escravidão, fatos que abalaram a elite do final do século XIX caracterizada
pelos ricos senhores de engenho.
O século XIX abriu as portas para essa burguesia e posteriormente a construção dos casarões
que já embelezaram a Cidade. Até serem demolidos sob uma nova visão de crescimento e
modernidade que passou por cima de tudo, e continua destruindo o que sobrou. Nos últimos
anos o conhecido Corredor da Vitoria (trecho da Avenida Sete de Setembro) perdeu vários
imóveis históricos. As demolições mais recentes foram a Mansão Wildberger (2007) o Casarão do Jornalista Jorge Calmon (demolido em 2009), o Chalé que ficava ao lado do Curso
UEC (hoje uma ridícula concessionária de automóveis, demolido em 2012) e o velho Casarão do curso UEC, demolido recentemente.
imagens o imóvel começou a ser demolido no dia 27 de abril de 2013, e no
dia 4 de Maio, o terreno já estava
sendo limpo. As imagens de Vitória
Régia Sampaio, e um vídeo disponível
no YouTube, são os únicos registros
até agora encontrados sobre a demolição do casarão.
As Reações.
Conversei com comerciantes locais,
museólogos, moradores, trabalhadores
da região, e transeuntes, sobre a demolição do casarão (a maioria não quis se
identificar). Sete dos entrevistados não
concordaram com a demolição do
imóvel, destacando a importância
histórica e a beleza arquitetônica da
velha mansão. Duas pessoas concordaram com a demolição; uma não vê
importância alguma na preservação do
casarão demolido, e a outra pessoa diz
que no lugar poderá ser construído algo
de positivo para o Bairro da Vitória. O
comentário mais marcante foi o da
museóloga que alertou sobre a triste
banalização das demolições.
O que restou e o que foi demolido.
A recente demolição (do casarão na
Vitória) representa mais uma perda
para a memória urbana da Cidade do
Salvador do final do século XIX e
inicio do XX. Triste realidade presente
principalmente nos bairros que passaram, e passam, por grande especulação
imobiliária.
Recente Demolição no Corredor da Vitória.
Assim como os outros casarões do Corredor da Vitória, a mansão (imagem a cima) serviu de
residência até meados do século XX (Na década de 60 muitos dos casarões que ainda existiam começaram a ser vendidos e demolidos, no lugar começaram a aparecer os edifícios
residências). Segundo informações de uma das pessoas entrevistadas, o imóvel foi sede de
uma construtora e na década de 80 passou a funcionar o conhecido curso de inglês UEC
(Universal English Course). Em 2010 a UEC encerrou suas atividades em Salvador depois de
30 anos de funcionamento
No início de 2012 um site de vendas mostrava o casarão a venda. Algumas imagens exibiam
detalhes internos do imóvel, que devido às várias reformas realizadas ao longo dos anos,
perdeu muito de suas características originais. Com exceção de alguns detalhes internos, e da
escadaria em madeira. Aparentemente a modificação externa mais visível foi realizada na
fachada do imóvel, cobrindo a janela central do andar térreo, onde tínhamos o nome do
Curso de Inglês UEC. Externamente o imóvel ainda apresentava a maioria das características
com poucas modificações, como pode ser visto em uma imagem do inicio do século XX
(infelizmente indisponível).
A fotógrafa Vitória Régia Sampaio registrou o momento da demolição do casarão. Pelas
No Campo Grande perdemos importantes construções durante o século
XX. Entre elas destacava-se o antigo
Palacete Machado, onde em 1920 foi
instalada a Câmara dos Deputados da
Bahia (futura Assembleia Legislativa da
Bahia), permanecendo ali até 1930. No
lugar do Palacete foi construído o
Condomínio Edifício Palácio da Assembleia. Ao lado da antiga Câmara
dos Deputados tínhamos a sede da
Igreja Anglicana da Bahia construída
em 1853, demolida em 1975: no lugar
construíram o edifício residencial
Britania Mansion.
No Bairro da Graça e Barra a maioria
das antigas construções desapareceram.
No Largo da Graça e na Avenida Princesa Leopoldina só restaram duas
construções, o Chalé Alpino em estilo
Inglês dos Carvalhos construído em
1890 ao lado da Igreja da Graça. E
outro é o casarão que pertence à família Soares da Cunha, pioneiros da
Medicina Homeopática na Bahia,
localizado entre dois edifícios: Olga
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Pontes e Princesa Isabel. O professor
Heraldo Lago Ribeiro lembra que ao
lado da residência dos Carvalhos ficava
a casa do Industrial Baiano Luiz Tarquínio que foi demolida e no lugar
construíram o Edifico Paulo Nunes. Na
Avenida Princesa Isabel (Graça) o Casarão conhecido como Villa Augusta, que
pertenceu ao renomado Professor
Thales de Azevedo será demolido para
construção de dois edifícios. (Clique
aqui para ler o Artigo sobre a Villa
Augusta). Na Ladeira da Barra em 2009
tivemos a 15° edição da Casa Cor Bahia
em um dos últimos casarões da região,
que pertenceu ao ex-cacaicultor Nelito
Carvalho (o último proprietário do
imóvel foi Manoel Joaquim de Carvalho) logo depois a velha mansão foi
demolida para construção de um edifício residencial: o Solaire. (No próximo
mês será publicado um artigo sobre a
evolução da destruição dos casarões no
Corredor da Vitória.). A partir da década de 50/60 significativas mudanças no
bairro da Barra começaram a transformar a região. O que se intencionaria nas
décadas seguintes com a demolição de
centenas de casarões, chalés e palacetes,
surgindo modernos edifícios residenciais
e hotéis. O mesmo pode ser aplicado
para os outros bairros da região central,
que com suas devidas características,
perderam um número significativo das
antigas construções.
No meio da destruição, os "remanescentes".
Evidente que não podemos ser contrários a melhorias urbanas ou defendermos que absolutamente "tudo" seja
preservado em uma cidade, ignorando
os valores de cada imóvel ou região
(preservar só por preservar). Porém,
especificamente no caso da recente
demolição - do casarão no Corredor da
Vitoria, e dos outros tantos tristes
episódios, temos mais uma perda em
um lugar onde poucos imóveis com
características históricas e arquitetônicas para tombamento ainda existem.
Felizmente ainda permanecem de pé
no Corredor da Vitória: o Museu de
Arte da Bahia, O Museu Carlos Costa
Pinto, a antiga Residência Masculina da
Universidade Federal da Bahia, o
casarão que fica em frente ao Edifício
Margarida Costa Pinto, e o outro que
fica em frente ao Edifício Victory
Tower (primeiro a ser preservado e ao
fundo construído um edifício). Existem
mais três imóveis que pertencem a
instituições públicas e privadas, e outro
que abriga uma agência do Banco
Santander. Os dois últimos são o Solar
Cunha Guedes e o velho Chalé vizinho
(Conhecido como Ferro Velho).
Alguns desses casarões entraram na
Os bairros do Bonfim, Subúrbio Ferroviário, Ribeira, Itapagipe, Nazaré, Brotas, Rio
Vermelho, (entre outros) também possuem importantes construções que não são tombadas,e outras que já foram demolidas ou modificadas. Se expandirmos esse debate para as
áreas verdes ameaçadas em Salvador, notaremos que a situação também é grave. (clique
aqui para ver os artigos sobre as áreas verdes da Avenida Paralela, Corredor da Vitoria e
Bairro do Canela)
Em muitos casos as leis patrimoniais só tombam a parte externa do casarão. Internamente
o proprietário pode fazer modificações. Quando o casarão não é tombado podem existir
acordos que preservem completamente ou parte do imóvel, como exemplo temos os
prédios que preservaram as antigas residências na frente do edifício.
Foi isso o que aconteceu com a antiga Residência Cardinalícia no Campo Grande ou
também conhecida como Palácio Arquiepiscopal. Nome que recebeu quando a sede foi
transferida do antigo Palácio colonial na Praça da Sé, para a residência do Campo Grande
que pertenceu ao engenheiro Hugh Wilson. Em 1927 a casa foi ampliada e adquirida pelo
Arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva (envolvido no triste episódio da demolição da Sé)
tornando-se residência cardinalícia. A construção da Morada dos Cardeais causou grande
polêmica pois ameaçava o antigo casarão. Mesmo com a contrariedade de vários arquitetos, historiadores, sociedade em geral, o edifício foi construído e entregue aos moradores
em 2005. Durante as obras do empreendimento os azulejos da parte externa do casarão
foram retirados, toda a parte interna do Palácio Arquiepiscopal destruída (virou salão de
festas, academia, etc), derrubaram os jardins (para construção do Edifício), e demoliram o
observatório (torre) que ficava no fundo da propriedade (sem necessidade). Atualmente o
atual Casarão do Edifício Morada dos Cardeais é simplesmente uma “cumbuca” sem
nenhuma beleza ou relevância histórica internamente. Externamente a fachada ainda
mantém a maioria das suas características, inclusive os detalhes em ferro das varandas
importados por H. Wilson.
lista de imóveis tombados provisoriamente em 2003 pelo IPHAN, mas infelizmente em 2004 o processo foi arquivado.
Inclusive as Mansões Wildberger (clique
aqui para ver artigo sobre a Mansão W.)
e a do Jornalista Jorge Calmon (hoje
Mansão Leonor Calmon demolido em
2009), que estavam na lista, já foram
demolidas.
O historiador Rubens Antonio registrou a
demolição do Casarão que pertenceu ao
jornalista. As imagens de R. Antonio são
os únicos registros até agora encontrados
sobre a demolição.
Rubens Antônio também registrou a
demolição do chalé eclético de 1919 que
pertenceu a Sr. Pedro T. Velloso Gordilho, localizado entre a Doceria Doces
Sonhos no Corredor da Vitória e o casarão da UEC. O imóvel foi demolido e no
lugar construído um terrível “galpão” da
concessionária Honda. Algumas pessoas
apontaram a recente demolição do imóvel (2012) como uma das perdas mais
significativas no Corredor da Vitória.
Durante muitos anos funcionou no Chalé
uma clínica infantil
Se expandirmos a triste realidade dos
velhos casarões do Corredor da Vitória,
Graça Campo Grande, Barra, para os
outros bairros de Salvador, observaremos
que perdas importantes marcaram e
continuam marcando o solo da velha
capital baiana.
Conclusão.
Tais atitudes expõem de forma dramática a triste realidade de uma sociedade
que não preserva, nem dá a atenção
correta a sua História Visual. Essas construções simbolizam importantes testemunhos das transformações que ocorreram
em Salvador durante as várias etapas de
melhoramentos urbanos, estilos arquitetônicos, embelezamentos e modernizações; e a expansão da própria Cidade.
Permitir que esse importante patrimônio
simplesmente desapareça é jogar a História de Salvador nos escombros da
ignorância. E legar para todos os soteropolitanos um futuro que não conhecerá o
passado da sua cidade.
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