*RESQUÍCIOS DO TEMPO* EDIÇÃO ESPECIAL COM OS DESTAQUES DO ‘BLOG RAFAEL DANTAS, BAHIA’ – SALVADOR BAHIA 2014, SÈCULO XXI – Editorial A Persistência da Intolerância: A tristeza de uma campanha eleitoral. Rafael Dantas. Atualmente é aluno de História na UFBA também é Desenhista e Artista Plástico. Criou o ‘Blog Rafael Dantas, Bahia’ em 2010. Foi representante dos alunos no Colégio Úrsula Catharino e no Colégio Manoel Novais. Estuda as transformações urbanas na Cidade do Salvador durante o século XX (Belle Époque e décadas de 1967 - 1975), e os monumentos do Egito Romano erguidos ou alterados no período do Imperador Trajano. Inicialmente destinou o Blog para analisar a rica História da Bahia destacando a velha Cidade de Salvador, priorizando especialmente o nosso rico patrimônio histórico e questões ambientais. Depois começou a abordar outros temas diversificando a linha de atuação, ampliando os assuntos para além da Bahia. George Grosz - Explosion. 1917. Museum of Modern Art (Moma) Rafael Dantas. História UFBA. Arrependo-me de não ter escrito e publicado esse texto antes, afinal o que me motivou foi o deplorável “debate” que presenciei em um grupo no facebook um dia antes das eleições no 2° turno. Mesmo assim publico-o com a doce esperança de instigar a reflexão em alguns, nessa reta final ou em qualquer outro momento, onde a intolerância se faz presente. Realmente é interessante observar (deplorável levando em consideração alguns constantes comentários presentes nessa rede social) como os que se dizem defensores “disso e daquilo” e de outras tantas liberdades, tratam aqueles que pensam diferente dos demais. E como vários estão despreparados para conviverem em sociedade. Respeito, tolerância, liberdade de expressão, um bom diálogo, onde estão? “O que vi em menos de um mês foi um verdadeiro espetáculo de horrores, onde são claras as demonstrações carregadas de um instinto de violência extrema e falta de educação medonha, que se fossem transladadas para o diálogo ao vivo poderiam significar atos de total covardia, onde provavelmente sangue seria derramado sob a justificativa débil de defender candidatos, alçados a categoria de santos e seus respectivos projetos políticos.” O que vi em menos de um mês foi um verdadeiro espetáculo de horrores, onde são claras as demonstrações carregadas de um instinto de violência extrema e falta de educação medonha, que se fossem transladadas para o diálogo ao vivo poderiam significar atos de total covardia, onde provavelmente sangue seria derramado sob a justificativa débil de defender candidatos, alçados a categoria de santos, e seus respectivos projetos políticos. Estaríamos discorrendo com bobas crianças? Adolescentes rebeldes em plena puberdade na ânsia para usar suas emoções ao bel-prazer? Ou estamos conversando com cidadãos conscientes que vivem em uma sociedade democrática (e ressalto isso), por mais que não pareça em determinadas situações, onde a diversidade sempre existirá! 1 Na busca pelo espetáculo gratuito e pelo menosprezo do outro a humanidade já fez horrores, vejo que em pleno o século XXI, em um espaço virtual, a história se repete. Fora dele os horrores continuam existindo. Envergonha-me ver várias pessoas das mais diversas áreas se comportarem como quase ditadores que não perdem a chance de impor sua opinião e seus apaixonados argumentos, expondo a sede pela barbárie e aviltamento presente em escritos e falas lastimáveis. Realmente recuso-me a perder tempo em debates onde os donos da “verdade” se colocam como arautos da “razão”. Recolho-me, não por temer o enfrentamento daqueles que se elevam a tão alto desnível de “esperteza e ilusão de soberania”, mas sim por constatar que onde existe a intolerância, e principalmente a falta de respeito, não nascerá e não existe espaço para a ideia de liberdade, por mais que alguns se intitulem defensores dela. Recolho-me, mas não desisto! Quem prega o não respeito ao outro, como vi nesses dias, abre espaço para inúmeras formas de tratamento, que podem variar das mais simples demonstrações de repúdio, asco, ou mesmo, a sinais de verdadeiros pedidos de linchamento ou morte “adoçados” na forma de ironias (como vi em uma publicação meses atrás de um futuro professor); ocultados em sentimentos que dormem enquanto os dedos digitam violentamente no facebook. Se quiserem criticar algo (ou mesmo destroçar opiniões apresentadas) argumentem, fundamentem seus votos e pontos de vista em um ou no outro candidato; ou em qualquer questão em algum debate. Construam teses, ou não, sobre os mais diversos assuntos, mas respeitem o outro! O saudável debate político não pode ser realizado com ações desprezíveis como as que observamos nessas eleições. Pena em ver a fraqueza e a tristeza de opiniões que giravam em torno de preconceitos e generalizações carregadas de tamanho ódio. Colocando o outro sempre como inimigo, ou coisa pior, só por apoiar algum candidato. Um bom Domingo para os eleitores da Dilma e do Aécio, os que vão votar Nulo, justificar ou não votar. Atenciosamente. Rafael Dantas. Infelizmente a intolerância e o preconceito persistem depois das eleições. Observação: A pintura de Grosz retrata os horrores da I Guerra Mundial, trazendo a barbárie do momento com prédios demolidos, incêndios e corpos mutilados. Foi usada para ilustrar o caos durante as eleições, especialmente do 2° turno, onde a intolerância marcou presença. Ponte Salvador Ilha de Itaparica. Crônicas de saveiros, restos de natureza e histórias. O Fim do sossego na ilha de Itaparica. Projeto da Ponte. Imagem Jornal A Tarde. Rafael Dantas. História UFBA. São séculos de História que envolvem a Baía de Todos os Santos. Neste véu de natureza observada desde os primeiros habitantes aos primeiros viajantes, a “entrada” do Brasil e da Bahia continua bela, porém ameaçada. Há tempos a discussão sobre uma ponte que ligasse Salvador a Ilha de Itaparica é notícia entre os habitantes, claro, com "altos e baixos" no "grau" das notícias do momento. Recentemente acompanhamos as notas divulgadas sobre a tão sonhada construção. Entretanto “obstáculos” por um lado obscuros, por outros, claro até de mais, viram pontos mais que essenciais no diálogo que deveria existir com a população sobre o projeto. Claro que uma ponte ligando duas zonas urbanas: uma a capital do Estado, e a outra uma importante ilha, a maior ilha marítima do Brasil, possibilitaria pontos positivos e poderia acabar com tantos outros problemas existentes nesse trecho, ainda dependente do sucateado, mas não acabado Ferry-boate e a ponte do Funil (que teria a companhia de uma nova ponte, segundo o secretário estadual de infraestrutura, João Leão em entrevista para o Jornal A Tarde em janeiro de 2010). A ponte que vem sendo imaginada há muito tempo teria 13 km, e já desperta fácil suspeita se vingaria ou não, afinal o metrô da Cidade de Salvador já esta virando “adolescente”, e até hoje não saiu dos 6 km; um dos maiores exemplos do mau uso do dinheiro público, irresponsabilidade administrativa, e vergonha de toda a população. Sendo quase impossível não compararmos os dois projetos, que no momento correspondem a um sonho, no caso do metrô ainda incomple- toda a população. Sendo quase impossível não compararmos os dois projetos, que no momento correspondem a um sonho, no caso do metrô ainda incompleto, e um esboço, no caso da ponte. A Odebrecht saiu na frente quando há 30 anos desenhou um projeto de uma ponte que ligaria Salvador / Itaparica, mas não foi levado a diante pelo governo. Importante lembrar que hoje a própria construtora entre outras como a OAS, desempenham grande atuação junto o governo Jaques Wagner. Os projetos divulgados apontam para um conjunto de obras viárias que ligariam rodovias importantes como a BR-242, tendo como objetivo melhorar a entrada e saída da capital baiana, praticamente restrita a outra importante BR, a 324. Os custos previstos para a construção da ponte ficariam na faixa dos 1,5 bilhões. Se compararmos os valores com o sistema Ferry-boat, poderia-se comprar aproximadamente 40 ferrys do modelo mais novo, conhecido pelo nome de Ivete Sangalo, que custou R$ 35 milhões - Na realidade em que vivemos, tais valores poderiam sim ser aplicados em necessidades 2 custou R$ 35 milhões - Na realidade em que vivemos, tais valores poderiam sim ser aplicados em necessidades maiores. Como já mencionado vários pontos entram na discussão sobre a construção da ponte. Entre o "progresso" e o "atraso", ainda veremos bastante esse assunto tão polêmico. O escritor João Ubaldo Ribeiro acredita que para a Ilha essa radical aproximação com a capital representaria um risco a esse paraíso ecológico, que já sofre bastante com o avanço imobiliário e a violência. João Ubaldo é responsável pela criação de um abaixo assinado que conta com a assinatura de diversas pessoas, intitulado: “Itaparica: ainda não é Adeus”. No abaixo assinado Ubaldo aponta vários fatores de extrema importância sobre os problemas que a Ilha enfrenta, e passaria a enfrentar com a construção da ponte: “Conheço esse progresso. É o progresso que acabou com o comércio local; que extinguiu os saveiros que faziam cabotagem no Recôncavo; que ao fim dos saveiros juntou o desaparecimento dos marinheiros, dos carpinas, dos fabricantes de velas e toda a economia em torno deles”. Fantástica observação do escritor ao tratar do comércio local, sendo exemplo os importantes saveiros, que hoje se resumem a poucas raridades ainda em uso. Outro ponto tocado é “A cultura e a especificidade locais são violentadas e prostituídas e o progresso chega através do abastardamento de toda a verdadeira riqueza das populações assim atingidas”, mais do que uma observação, é uma realidade vista em toda a Bahia, que poderia sim ser agravada com a ponte. Fato claro, e mais que evidente, é a triste situação da Ilha hoje. Assim como outros pontos turísticos da Bahia, a aparência atual da bela ilha é da desorganização, seja pelo trânsito mal organizado, pelo lixo ou por outros problemas, a Ilha hoje é um amontoado de resorts e condomínios de veranistas. Podendo piorar, ou mesmo virar uma “Miami de pobre”, como escrito no abaixo assinado já mencionado. Na ilha ainda podemos encontrar muito verde - fico feliz em dizer isso matas ainda densas, com grande riqueza em sua fauna e flora; paisagens tão belas, que da orgulho em dizer que a ilha está em nosso Estado. Um recanto da Bahia que podemos encontrar, em alguns lugares ainda pouco explorados, belos exemplos das características naturais da nossa terra. Tais riquezas podem simplesmente desaparecer, ou mesmo virar uma grande propriedade com destino incerto, com a construção da ponte. A construtora OAS admitiu que pretende construir condomínios fechados no centro da ilha. Tal situação também pode ser comparada ao ocorrido em muitos bairros da Cidade de Salvador, que antes tinha áreas verdes com árvores seculares, e a até mesmo animais presente. Isso até o grande avanço urbano e a cruel especulação imobiliária, que modificou a natureza existente e destruiu os antigos casarões, trazendo os grandes edifícios. Como o ocorrido no Corredor da Vitória e sua escarpa cercada de verde e alguns raros animais. Alguns relatos de antigos visitantes que passavam pelo mar e avistavam o paredão, mostram como era linda a paisagem. Hoje a realidade é outra, grandes prédios com seus píeres estão dominando a encosta, onde antes reinava a mata atlântica. É óbvio que tais medidas usadas em nome do "progresso" não podem ser simplesmente implantadas, sem o diálogo com a população, muito menos direcionadas apenas a determinadas elites do mercado. Construir uma ponte sem ser feito pesquisas sérias de impacto ambiental, histórico e social na região, é um enorme erro. E tais projetos estão infelizmente direcionados, se não corrigidos imediatamente, ao fracasso, levando ao desequilíbrio de um lugar ainda tão belo como a Ilha de Itaparica e a Baía de Todos os Santos. Baía que em 1949 recebeu a visita do escritor Albert Camus, escrevendo o seguinte relato: “Prefiro essa baía à do Rio, muito espetacular para o meu gosto. Esta, pelo menos, tem uma medida e uma poesia”. A pergunta que fica é até quando as medidas e o ar do que restou de poesia ainda existirá na Bahia de todos os Santos? Com ponte ou não a atenção sobre o lugar deve sempre existir. Atenciosamente. Abaixo-Assinado de João Ubaldo Ribeiro: http://www.gopetition.com/petition/33 669.html Demolindo a própria História. O Descaso com os antigos casarões em Salvador. Modernidade? Importantes símbolos do passado e retratos “presentes” das transformações da Cidade do Salvador. Atualmente os velhos casarões do Corredor da Vitória continuam ameaçados ou mesmo sendo demolidos. Em matéria especial veremos uma retrospectiva da febre demolidora que atingiu Salvador, especialmente no Corredor da Vitória, Campo Grande, Graça e Barra ao longo dos anos. Chegada da Família Real e Casarões da Graça e Vitória. 3 Rafael Dantas. História UFBA. A Abertura dos Portos em 1808 possibilitou uma série de modernizações que marcaram significativamente algumas regiões de Salvador. Especialmente no século XIX destacamos a vinda de comerciantes estrangeiros para Bahia, entre eles: ingleses, franceses, alemães, suíços e portugueses. A região do Corredor da Vitória e da Graça, principalmente, foram os lugares escolhidos pelos ricos comerciantes do período, entre eles esses estrangeiros, que encontraram ali a região “ideal” para construir suas residências. Seguindo a ideia de modernidade, junto com as questões de salubridade, e os estilos arquitetônicos que vigoravam na Europa especialmente em Paris, com as reformas do Barão de Haussmann. O contexto urbano do Centro Antigo da velha Cidade de Salvador, marcado pela predominância do Colonial nos casarios, residências que dividiam paredes, ruas estreitas, e com vários problemas sanitários (realidade de várias cidades pelo mundo na época), começaram a ser considerados exemplos do atraso. É importantíssimo também mencionar a crise açucareira e a abolição da escravidão, fatos que abalaram a elite do final do século XIX caracterizada pelos ricos senhores de engenho. O século XIX abriu as portas para essa burguesia e posteriormente a construção dos casarões que já embelezaram a Cidade. Até serem demolidos sob uma nova visão de crescimento e modernidade que passou por cima de tudo, e continua destruindo o que sobrou. Nos últimos anos o conhecido Corredor da Vitoria (trecho da Avenida Sete de Setembro) perdeu vários imóveis históricos. As demolições mais recentes foram a Mansão Wildberger (2007) o Casarão do Jornalista Jorge Calmon (demolido em 2009), o Chalé que ficava ao lado do Curso UEC (hoje uma ridícula concessionária de automóveis, demolido em 2012) e o velho Casarão do curso UEC, demolido recentemente. imagens o imóvel começou a ser demolido no dia 27 de abril de 2013, e no dia 4 de Maio, o terreno já estava sendo limpo. As imagens de Vitória Régia Sampaio, e um vídeo disponível no YouTube, são os únicos registros até agora encontrados sobre a demolição do casarão. As Reações. Conversei com comerciantes locais, museólogos, moradores, trabalhadores da região, e transeuntes, sobre a demolição do casarão (a maioria não quis se identificar). Sete dos entrevistados não concordaram com a demolição do imóvel, destacando a importância histórica e a beleza arquitetônica da velha mansão. Duas pessoas concordaram com a demolição; uma não vê importância alguma na preservação do casarão demolido, e a outra pessoa diz que no lugar poderá ser construído algo de positivo para o Bairro da Vitória. O comentário mais marcante foi o da museóloga que alertou sobre a triste banalização das demolições. O que restou e o que foi demolido. A recente demolição (do casarão na Vitória) representa mais uma perda para a memória urbana da Cidade do Salvador do final do século XIX e inicio do XX. Triste realidade presente principalmente nos bairros que passaram, e passam, por grande especulação imobiliária. Recente Demolição no Corredor da Vitória. Assim como os outros casarões do Corredor da Vitória, a mansão (imagem a cima) serviu de residência até meados do século XX (Na década de 60 muitos dos casarões que ainda existiam começaram a ser vendidos e demolidos, no lugar começaram a aparecer os edifícios residências). Segundo informações de uma das pessoas entrevistadas, o imóvel foi sede de uma construtora e na década de 80 passou a funcionar o conhecido curso de inglês UEC (Universal English Course). Em 2010 a UEC encerrou suas atividades em Salvador depois de 30 anos de funcionamento No início de 2012 um site de vendas mostrava o casarão a venda. Algumas imagens exibiam detalhes internos do imóvel, que devido às várias reformas realizadas ao longo dos anos, perdeu muito de suas características originais. Com exceção de alguns detalhes internos, e da escadaria em madeira. Aparentemente a modificação externa mais visível foi realizada na fachada do imóvel, cobrindo a janela central do andar térreo, onde tínhamos o nome do Curso de Inglês UEC. Externamente o imóvel ainda apresentava a maioria das características com poucas modificações, como pode ser visto em uma imagem do inicio do século XX (infelizmente indisponível). A fotógrafa Vitória Régia Sampaio registrou o momento da demolição do casarão. Pelas No Campo Grande perdemos importantes construções durante o século XX. Entre elas destacava-se o antigo Palacete Machado, onde em 1920 foi instalada a Câmara dos Deputados da Bahia (futura Assembleia Legislativa da Bahia), permanecendo ali até 1930. No lugar do Palacete foi construído o Condomínio Edifício Palácio da Assembleia. Ao lado da antiga Câmara dos Deputados tínhamos a sede da Igreja Anglicana da Bahia construída em 1853, demolida em 1975: no lugar construíram o edifício residencial Britania Mansion. No Bairro da Graça e Barra a maioria das antigas construções desapareceram. No Largo da Graça e na Avenida Princesa Leopoldina só restaram duas construções, o Chalé Alpino em estilo Inglês dos Carvalhos construído em 1890 ao lado da Igreja da Graça. E outro é o casarão que pertence à família Soares da Cunha, pioneiros da Medicina Homeopática na Bahia, localizado entre dois edifícios: Olga 4 Pontes e Princesa Isabel. O professor Heraldo Lago Ribeiro lembra que ao lado da residência dos Carvalhos ficava a casa do Industrial Baiano Luiz Tarquínio que foi demolida e no lugar construíram o Edifico Paulo Nunes. Na Avenida Princesa Isabel (Graça) o Casarão conhecido como Villa Augusta, que pertenceu ao renomado Professor Thales de Azevedo será demolido para construção de dois edifícios. (Clique aqui para ler o Artigo sobre a Villa Augusta). Na Ladeira da Barra em 2009 tivemos a 15° edição da Casa Cor Bahia em um dos últimos casarões da região, que pertenceu ao ex-cacaicultor Nelito Carvalho (o último proprietário do imóvel foi Manoel Joaquim de Carvalho) logo depois a velha mansão foi demolida para construção de um edifício residencial: o Solaire. (No próximo mês será publicado um artigo sobre a evolução da destruição dos casarões no Corredor da Vitória.). A partir da década de 50/60 significativas mudanças no bairro da Barra começaram a transformar a região. O que se intencionaria nas décadas seguintes com a demolição de centenas de casarões, chalés e palacetes, surgindo modernos edifícios residenciais e hotéis. O mesmo pode ser aplicado para os outros bairros da região central, que com suas devidas características, perderam um número significativo das antigas construções. No meio da destruição, os "remanescentes". Evidente que não podemos ser contrários a melhorias urbanas ou defendermos que absolutamente "tudo" seja preservado em uma cidade, ignorando os valores de cada imóvel ou região (preservar só por preservar). Porém, especificamente no caso da recente demolição - do casarão no Corredor da Vitoria, e dos outros tantos tristes episódios, temos mais uma perda em um lugar onde poucos imóveis com características históricas e arquitetônicas para tombamento ainda existem. Felizmente ainda permanecem de pé no Corredor da Vitória: o Museu de Arte da Bahia, O Museu Carlos Costa Pinto, a antiga Residência Masculina da Universidade Federal da Bahia, o casarão que fica em frente ao Edifício Margarida Costa Pinto, e o outro que fica em frente ao Edifício Victory Tower (primeiro a ser preservado e ao fundo construído um edifício). Existem mais três imóveis que pertencem a instituições públicas e privadas, e outro que abriga uma agência do Banco Santander. Os dois últimos são o Solar Cunha Guedes e o velho Chalé vizinho (Conhecido como Ferro Velho). Alguns desses casarões entraram na Os bairros do Bonfim, Subúrbio Ferroviário, Ribeira, Itapagipe, Nazaré, Brotas, Rio Vermelho, (entre outros) também possuem importantes construções que não são tombadas,e outras que já foram demolidas ou modificadas. Se expandirmos esse debate para as áreas verdes ameaçadas em Salvador, notaremos que a situação também é grave. (clique aqui para ver os artigos sobre as áreas verdes da Avenida Paralela, Corredor da Vitoria e Bairro do Canela) Em muitos casos as leis patrimoniais só tombam a parte externa do casarão. Internamente o proprietário pode fazer modificações. Quando o casarão não é tombado podem existir acordos que preservem completamente ou parte do imóvel, como exemplo temos os prédios que preservaram as antigas residências na frente do edifício. Foi isso o que aconteceu com a antiga Residência Cardinalícia no Campo Grande ou também conhecida como Palácio Arquiepiscopal. Nome que recebeu quando a sede foi transferida do antigo Palácio colonial na Praça da Sé, para a residência do Campo Grande que pertenceu ao engenheiro Hugh Wilson. Em 1927 a casa foi ampliada e adquirida pelo Arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva (envolvido no triste episódio da demolição da Sé) tornando-se residência cardinalícia. A construção da Morada dos Cardeais causou grande polêmica pois ameaçava o antigo casarão. Mesmo com a contrariedade de vários arquitetos, historiadores, sociedade em geral, o edifício foi construído e entregue aos moradores em 2005. Durante as obras do empreendimento os azulejos da parte externa do casarão foram retirados, toda a parte interna do Palácio Arquiepiscopal destruída (virou salão de festas, academia, etc), derrubaram os jardins (para construção do Edifício), e demoliram o observatório (torre) que ficava no fundo da propriedade (sem necessidade). Atualmente o atual Casarão do Edifício Morada dos Cardeais é simplesmente uma “cumbuca” sem nenhuma beleza ou relevância histórica internamente. Externamente a fachada ainda mantém a maioria das suas características, inclusive os detalhes em ferro das varandas importados por H. Wilson. lista de imóveis tombados provisoriamente em 2003 pelo IPHAN, mas infelizmente em 2004 o processo foi arquivado. Inclusive as Mansões Wildberger (clique aqui para ver artigo sobre a Mansão W.) e a do Jornalista Jorge Calmon (hoje Mansão Leonor Calmon demolido em 2009), que estavam na lista, já foram demolidas. O historiador Rubens Antonio registrou a demolição do Casarão que pertenceu ao jornalista. As imagens de R. Antonio são os únicos registros até agora encontrados sobre a demolição. Rubens Antônio também registrou a demolição do chalé eclético de 1919 que pertenceu a Sr. Pedro T. Velloso Gordilho, localizado entre a Doceria Doces Sonhos no Corredor da Vitória e o casarão da UEC. O imóvel foi demolido e no lugar construído um terrível “galpão” da concessionária Honda. Algumas pessoas apontaram a recente demolição do imóvel (2012) como uma das perdas mais significativas no Corredor da Vitória. Durante muitos anos funcionou no Chalé uma clínica infantil Se expandirmos a triste realidade dos velhos casarões do Corredor da Vitória, Graça Campo Grande, Barra, para os outros bairros de Salvador, observaremos que perdas importantes marcaram e continuam marcando o solo da velha capital baiana. Conclusão. Tais atitudes expõem de forma dramática a triste realidade de uma sociedade que não preserva, nem dá a atenção correta a sua História Visual. Essas construções simbolizam importantes testemunhos das transformações que ocorreram em Salvador durante as várias etapas de melhoramentos urbanos, estilos arquitetônicos, embelezamentos e modernizações; e a expansão da própria Cidade. Permitir que esse importante patrimônio simplesmente desapareça é jogar a História de Salvador nos escombros da ignorância. E legar para todos os soteropolitanos um futuro que não conhecerá o passado da sua cidade. 5