AVALIAÇÃO DE SEIS CULTIVARES DE SOJA EM ÉPOCA DE SAFRINHA NO ANO AGRÍCOLA 2012/2013 LOUVISON, L.A.S.; CÂMARA, G.M.S.; BRIGLIADORI, L.D.; PIEDADE, S.M.S. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/ ESALQ - USP [email protected] Resumo A época de safrinha ou segunda safra não é recomendada para a cultura da soja no Brasil. Devida a melhor remuneração da soja perante o milho em alguns anos comerciais, parte dos produtores de certas regiões procuram evitar o prejuízo semeando a cultura da soja em segunda safra, em sucessão à soja de primeira safra. Este experimento procurou avaliar o desempenho produtivo dos seguintes cultivares de soja semeados tardiamente em segunda safra: BRS 232, CD 208, BRS Valiosa RR, Anta 82, BMX Potência RR e M7211 RR, pertencentes a diferentes tipos de crescimento e grupos de maturação. Os seguintes parâmetros foram avaliados: duração do período entre a emergência e o início do florescimento; duração do período entre a emergência e o ponto de colheita; população final de plantas; altura final de planta; número de nós por planta; número de ramificações por planta; número de vagens e de grãos por planta; número de grãos por vagem; número de vagens chochas por planta; peso dos grãos formados por planta; produtividade agrícola; peso de mil grãos e índice de colheita. Constatou-se que o cultivar Anta 82 foi o que apresentou a menor duração de período vegetativo (31 dias), menor duração do ciclo fenológico (96 dias) e a menor produtividade agrícola (abaixo de 1000 kg ha-1); os cultivares BRS 232 e BMX Potência RR, com -1 período juvenil longo, apresentaram produtividades agrícolas acima de 1500 kg ha ; BRS 232 apresentou o menor número de cavidades chochas e consequentemente o maior peso de grãos por planta. Para o índice de colheita, os resultados observados se revelaram acima do encontrado para a maioria dos cultivares modernos (40%), exceção feita para BRS Valiosa RR (33,53%). Palavras Chaves: tipo de crescimento, produtividade, índice de colheita; Abstract It was evaluated the varieties BRS 232, CD 208, BRS Valiosa RR, Anta 82, BMX Potência RR e M7211 RR, with different types of plant growth and maturation groups, in “safrinha” period. The Anta 82 showed the lowest growing season, the lowest duration of phenological cycle and also the lowest agricultural productivity. The BRS 232 and BMX Potência RR showed agricultural productivity over 1500 kg ha-1. Key words: type of growth, yield, harvest index; SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP Introdução Atualmente, a cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) está consolidada como a cultura agrícola mais importante do Brasil. A época mais recomendada para se efetuar a semeadura continua sendo de outubro a novembro. Recentemente tem aumentado a área ocupada com semeaduras de segunda safra da cultura da soja, motivada pelos baixos preços de milho e bons preços de soja no mercado interno. Porém, as produtividades agrícolas tendem a ser mais baixas, quando comparadas àquelas obtidas nas épocas normais. Objetivos Avaliar o desempenho agronômico de seis cultivares de soja com diferentes tipos de crescimento (determinado, semideterminado, indeterminado) e grupos de maturação (precoce, semiprecoce e média) semeadas em época de safrinha. Materiais e Métodos O experimento foi instalado no dia 28/03/2013 em área do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Piracicaba-SP, na Universidade de São Paulo, constituída de solo classificado como Nitossolo Vermelho Eutrófico muito argiloso. O delineamento experimental constou de seis tratamentos (cultivares) repetidos quatro vezes em blocos ao acaso. Cada unidade experimental conteve quatro linhas espaçadas entre si de 0,45m com 4m de comprimento, com todas as parcelas representando a mesma área útil 3,15 m². A colheita das parcelas foi realizada à medida que cada cultivar demonstrasse o ponto de maturidade de campo ou ponto de colheita, fenologicamente simbolizado por R8 e caracterizado pela presença de, pelo menos, 95% de vagens maduras nas plantas. Os cultivares utilizados foram os seguintes: BRS 232 e CD 208, determinados e de ciclo semiprecoce; BRS Valiosa RR, determinado e de ciclo médio; Anta 82, semideterminado e de ciclo precoce; BMX Potência RR e Monsoy 7211 RR, indeterminados e de ciclo semiprecoce. Foram avaliados os seguintes parâmetros: duração do período entre emergência e início do florescimento e entre a emergência e o ponto de colheita; componentes de produção da planta; peso de mil grãos; produtividade agrícola e índice de colheita. Os resultados observados foram submetidos à análise de variância. Os parâmetros com prováveis diferenças significativas entre tratamentos tiveram seus valores médios submetidos ao teste de Tukey (5% de probabilidade). Resultados Na tabela 1 encontram-se os valores observados para cada cultivar, relativos ao número de dias transcorridos entre a emergência das plantas e o início do florescimento (R1) e o ponto de colheita (R8), por tipo de crescimento e grupo de maturação. Tabela 1 – Datas de ocorrência dos estádios R1 e R8 por cultivar de soja e respectivos números de dias transcorridos após a emergência (DAE), tipos de crescimento e maturação de seis cultivares de soja semeada em época de safrinha. Piracicaba, SP, 2013 Cultivares Data R1 DAE Data R8 DAE BRS 232 05/05/2013 33 15/07/2013 103 CD 208 BRS Valiosa RR Anta 82 BMX Potência RR M 7211 RR 05/05/2013 19/05/2013 03/05/2013 05/05/2013 08/05/2013 33 47 31 33 36 15/07/2013 28/07/2013 08/07/2013 15/07/2013 28/07/2013 103 116 96 103 116 Tipos de Maturação Crescimento Determinado Semiprecoce Determinado Semiprecoce Determinado Média Semideterminado Precoce Indeterminado Semiprecoce Indeterminado Semiprecoce É preciso realçar que a data de semeadura dos cultivares (28/03/2013) corresponde a uma data tardia, mesmo para a época safrinha, fazendo com que os diferentes subperíodos fenológicos vegetativos e SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP reprodutivos coincidam com menor disponibilidade de temperatura e de fotoperíodo no ambiente, embora a umidade tenha sido fornecida por meio de irrigações com frequência semanal (CÂMARA; HEIFFIG, 2000; CÂMARA, 2009). O cultivar Anta 82 apresentou o menor período vegetativo (31 dias), e a menor duração de ciclo fenológico (96 dias), revelando-se como o mais precoce. Na tabela 2 encontram-se os valores observados para as seguintes variáveis: população final de plantas, altura final de planta, número de nós por planta e número de ramificações por planta, com base em duas plantas amostradas por repetição. A análise de variância revelou valores significativos de F (P > 0,05), apenas para os parâmetros altura final de planta e número de nós formados por planta. Tabela 2 – Valores observados para população final de plantas (PF), altura final de planta (AFP), número de nós por planta (NP) e número de ramificações por planta (RP), de seis cultivares de soja semeada em época de safrinha. Piracicaba, SP, 2013 PF Cultivares -1 (plantas ha ) AFP NP RP (cm) (nº) (nº) BRS 232 CD 208 242.143 a 237.857 a 40,1 29,3 c d BRS Valiosa RR Anta 82 BMX Potência RR M 7211 RR 242.857 a 239.286 a 240.000 a 240.000 a 67,6 a 33,5 cd 39,6 c 50,5 b Médias 240.357 C.V. (%) 3,1 10,5 10,6 c c 5,5 a 5,4 a 14,3 a 11,3 c 11,4 c 12,5 b 4,4 a 4,0 a 5,6 a 4,5 a 43,43 11,75 4,89 8,69 4,04 25,26 Médias com diferentes letras na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância. As populações finais de plantas observadas podem ser consideradas satisfatórias para as épocas normais de semeadura de soja, mas não para safrinha tardia. As plantas não foram estimuladas ao crescimento em altura apresentando-se mais baixas e mais ramificadas, embora o número de nós formados por haste principal seja comparado ao observado em época normal. Provavelmente, devido ao seu maior valor de período juvenil e menor valor de fotoperíodo crítico, BRS Valiosa RR foi o único cultivar a se apresentar com altura final de planta acima de 60cm e, consequentemente, com maior número de nós na haste principal, diferindo estatisticamente dos demais cultivares. Tabela 3 – Valores observados para número de vagens por planta (VP), número de grãos por planta (GP), número de grãos por vagem (GV), número de vagens chochas por planta (VCP) e peso dos grãos formados por planta (PGP), de seis cultivares de soja semeada em época de safrinha. Piracicaba, SP, 2013 VP GP GV VCP PGP PMUG Cultivares (nº) (nº) (nº) (nº) (g) (g) BRS 232 CD 208 BRS Valiosa RR Anta 82 BMX Potência RR M 7211 RR Médias 27,13 a 27,75 a 26,63 a 27,63 a 24,75 a 24,25 a 26,35 49,8 a 57,1 a 50,0 a 47,1 a 51,1 a 43,6 a 49,79 1,87 ab 2,07 a 1,89 ab 1,72 b 2,09 a 1,81 ab 1,91 7,0 b 13,8 a 12,9 ab 10,5 ab 8,0 ab 9,1 ab 10,21 7,85 a 6,90 a 6,38 a 6,23 a 7,35 a 5,90 a 6,77 0,159 a 0,122 b 0,128 b 0,133 b 0,143 ab 0,136 ab 0,137 C.V. (%) 15,26 13,93 6,74 26,21 14,22 7,73 Médias com diferentes letras na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância. Na tabela 3 encontram-se os valores observados para as seguintes variáveis: número de vagens por planta, número de grãos por planta, número médio de grãos por vagem, número de vagens chochas por planta, peso dos grãos formados por planta e peso médio de um grão. A análise de variância revelou SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP valores significativos de F (P > 0,05), apenas para os parâmetros número de grãos por vagem, número de vagens chochas por planta e peso médio de um grão. Os valores observados na tabela 3 não possibilitam estabelecer interpretações entre os principais componentes da produção da planta, isto é, número de vagens por planta, número de grãos por vagem e peso médio dos grãos formados por planta. Entretanto, parece haver correspondência entre o peso médio de um grão e o número de vagens chochas por planta. O cultivar BRS 232 apresentou o menor número de vagens chochas e grão mais pesado, enquanto o cultivar CD 208, maior quantidade de vagens chochas e grão mais leve. Na tabela 4 encontram-se os valores observados para produtividade agrícola, peso de mil grãos e índice de colheita, para os quais a análise de variância revelou valores significativos de F (P > 0,05). Tabela 4 – Valores observados para produtividade agrícola (P.A), peso de mil grãos (PMG) e índice de colheita (IC), de seis cultivares de soja semeadas em época de safrinha. Piracicaba, SP, 2013. P.A. -1 PMG IC (g) (%) Cultivares (kg ha ) BRS 232 CD 208 1.537,9 a 1.437,5 a 174,53 a 123,55 c 48,09 ab 50,09 a BRS Valiosa RR Anta 82 1.352,7 a 992,8 b 133,39 bc 144,63 b 33,53 c 42,62 b BMX Potência RR M 7211 RR 1.546,8 a 1.399,0 a 142,01 b 140,82 b 46,31 ab 43,43 b Médias 1.377,78 143,15 44,01 C.V. (%) 8,49 3,75 6,2 Médias com diferentes letras na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância. Os baixos valores observados para produtividade agrícola de grãos dos seis cultivares de soja já eram esperados, considerando-se a semeadura tardia, mesmo para a época safrinha. Chama a atenção a baixíssima adaptabilidade do cultivar Anta 82 para a latitude de Piracicaba-SP em semeadura tardia de safrinha, com produtividade agrícola de grãos abaixo de 1.000 kg por hectare, significativamente inferior às produtividades agrícolas observadas para os demais cultivares Como índice de colheita compreende-se a relação percentual entre a massa de grãos produzidos e a massa total da planta (grãos inclusos), fornecendo uma indicação sobre a eficiência da planta quanto à partição dos produtos da fotossíntese destinados à produção de grãos. Espera-se que cultivares modernos de soja apresentem índices de colheita superiores a 40%, com tendência atual de valores crescentes em direção a 50%. Embora tenha sido o mais alto e com maior número de nós na haste principal, tais características não se refletiram em maior índice de colheita para o cultivar BRS Valiosa RR. Conclusões As expressões das produtividades agrícolas de cultivares de soja são penalizadas perante semeadura tardia em época safrinha. Os cultivares semiprecoces com tipo de crescimento indeterminado (BMX Potência RR) e com tipo de crescimento determinado (BRS 232), ambos com período juvenil longo, apresentam produtividades agrícolas de grãos acima de 1.500 kg por hectare, quando semeados tardiamente em época safrinha, já o cultivar precoce e semideterminado Anta 82, não indicado para o estado de São Paulo, apresenta baixíssima produtividade agrícola nessa época de semeadura. Maior número de nós formados na haste principal pode proporcionar maior altura de planta, porém, sem correspondente ganho em produtividade agrícola. Referências Bibliográficas CÂMARA, G.M.S.; HEIFFIG, L.S. Fisiologia, ambiente e rendimento da cultura da soja. G.M.S. Soja: tecnologia da produção II. Piracicaba: G.M.S. CÂMARA, 2000. p. 81-119. In: CÂMARA, SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP