1 Nova estratégia de distribuição da música

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I Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular
Tendências e convergências da música na cultura midiática
21 a 23 de outubro de 2009, UFMA, São Luis – MA.
1
Nova estratégia de distribuição da música através do videoclipe viral1
Pedro de Almeida Canto2
Polyana Amorim Chagas3
Resumo
Ao traçar a trajetória do videoclipe como estratégia de divulgação de música, o presente
artigo se propõe a analisar a nova tendência de produção de videoclipes que tem sido
praticada por artistas da música pop para divulgar sua música nos mais diversos meios com a
finalidade de alcançar um público maior, são os chamados videoclipes virais. A partir destas
analises o artigo aponta, ainda, algumas mudanças percebidas na influente estética do
videoclipe.
Palavras-chave: videoclipe, indústria fonográfica, consumo, novas tecnologias.
Introdução
A história da indústria musical nasce com o fonógrafo em 1877, um aparelho
desenvolvido por Thomas Edison que gravava e reproduzia sons. O fonógrafo tinha um limite
técnico por permitir um número limitado de gravações. Em 1888, surge o gramofone que
trazia a novidade de duplicação dos sons em discos.
Na época da Primeira Guerra Mundial, o rádio surge como um grande difusor de
música. O rádio tornou-se principal concorrente do gramofone e levou o mercado fonográfico
a trabalhar no desenvolvimento de mídias mais práticas para a reprodução sonora. Assim,
foram surgindo tipos de LPs até chegar ao compact disc (CD). E, hoje, a música também tem
sido distribuída na versão digital MP3 (Motion Picture Expert Group-Layer 3).
Outro meio que também contribuiu para a divulgação da música foi a televisão.
Mesmo tendo sido criada no final dos anos 20, a televisão só se torna um produto de massa
após a segunda guerra mundial. Um produto que no início, era considerado um tipo de “rádio
com imagens” pela pouca criatividade de seus programas que reproduziam exatamente o
formato dos programas radiofônicos. Com o avanço tecnológico, mais precisamente com o
1
Trabalho apresentado no I Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular – MUSICOM,
realizado de 21 a 23 de outubro de 2009, na UFMA, São Luis – MA.
2
Estudante do 8° período do curso de Comunicação Social, habilitação Rádio e TV, na Universidade Federal do
Maranhão. [email protected].
3
Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Rádio e TV, pela Universidade Federal do Maranhão.
[email protected].
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advento do videotape (em meados da década de 50), a televisão foi desenvolvendo seu modo
de produzir conteúdo, adquirindo uma identidade própria. Logo, a TV conquistou os lares em
todo o mundo e a cultura imagética começa a ditar regras na sociedade.
Para Talita Ferreira (2005), “a indústria cultural passou a impor padrões visuais e de
comportamento através da imagem”, mais especificamente pela televisão. Lúcia Santaella
(2003) acrescenta que a cultura das mídias (principalmente televisão e rádio) tornou-se
responsável pela ampliação dos mercados culturais e pela expansão e criação de novo hábitos
de consumir cultura. Além disso, a televisão passou a incorporar outros modos de produção à
sua programação: teatro, dança, cinema e música. A música passa a ter uma relação estreita
com a televisão através dos musicais, do show de calouros, dos programas de auditório com
participação de cantores e bandas, das trilhas sonoras nas telenovelas e, mais recentemente,
através do videoclipe.
Podemos considerar o cinema musical como um dos precursores do videoclipe.
Nascido na década de 30, o cinema musical teve como pioneiro o filme Broadway Melody de
Harry Beaumont. O filme dá início a uma série de produções que se tornam populares nos
Estados Unidos, ganhando notoriedade no mercado cinematográfico mundial. A partir dos
anos 50, os musicais passam a ser influenciados pela própria linguagem televisiva que vai se
estabelecendo no cenário de produção audiovisual.
À propósito, falar de videoclipe, um gênero genuinamente televisivo, nos obriga a
falar brevemente da trajetória das formas de produção estética na televisão, iniciada a partir
dos anos 50. Os programas gravados e editados passam a fazer parte da realidade televisiva
com o surgimento da fita magnética e do videotape que introduzem na televisão uma
linguagem própria.
A televisão quando surgiu exibia sua programação em tempo real, ou seja, ao vivo,
cheia de improvisos e, por conseqüência, erros. Com o advento do videotape, ela pôde
experimentar novas técnicas de exibição de seus conteúdos, sem recorrer às utilizadas pelo
cinema que demandavam mais custos.
Com o videotape os programas puderam ser gravados e editados. Foi com o videoteipe
que a estética na televisão começou a ser pensada com mais afinco. O videotape também
abriu portas para inúmeras produções alternativas e experimentais que eram televisivas por
serem produzidas em estúdios e/ou laboratórios de TV. No entanto, questões políticas e
econômicas impediram que tais produções tivessem espaço na “TV tradicional”. A maioria
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dessas produções era chamada de videoarte, destacando-se por explorar o potencial artístico
da televisão em detrimento do caráter comercial, estabelecendo-se como uma corrente estética
anti-televisiva.
Para Patrícia Silveirinha,
A arte vídeo valoriza, e procura explorar, as características técnicas do meio
electrónico. Assim, joga com uma autoreferencialidade a materialidade do meio
fazendo uso daquilo que a televisão considera ‘erros’ técnicos e ruído:
granulosidade, hipercoloração, deformação da relação espacial entre as linhas,
ausência de imagem, procedimentos de aceleração e desaceleração de imagens,
sobreposição [...]. (SILVEIRINHA: 1999, p.4-5)
Nam June Paik é o expoente de uma geração de produtores da videoarte que explorava
o vídeo e todas as suas possibilidades estéticas. Além de Paik, o alemão Wolf Vostell também
manifestou interesse pela nova tecnologia. Os dois artistas abriram caminho para uma geração
que buscava no vídeo uma nova linguagem para expressar sua arte e seus anseios.
1. Videoclipe
O videoclipe surge, então, para potencializar a relação de imagem e música já
praticada de outras maneiras na televisão, no cinema e na videoarte. Tal relação, por sinal, já
acontecia desde primórdios das manifestações culturais, mas foi se enraizando com os meios
de comunicação e os avanços tecnológicos.
O cinema nunca chegou a ser totalmente mudo. Pintores e músicos inspiravam-se
nas obras uns dos outros. Canções determinam o ritmo e a atmosfera dos filmes,
acrescentado algo à linguagem cinematográfica. (FERREIRA, 2005, p.58)
A videoarte, em termos estéticos, tornou-se a principal referência à produção de
videoclipe que começa a ser realizada na década de 70 com fins comerciais. Aliás, o caráter
comercial do videoclipe não pode ser renegado. Segundo Laura Corrêa,
Ele [o videoclipe] tem um formato televisual utilizado para promover a venda da
música (CD, DVD). Portanto, ele não pode ser analisado somente por um aspecto, o
artístico, por exemplo. Assim estaria excluída uma importante característica do
videoclipe nas condições de circulação dos bens simbólicos no modo de produção
capitalista que são o processo de venda e consumo. (CORREA, 2006, p. 04)
Na concepção de Arlindo Machado (2000), o videoclipe é um formato enxuto e
concentrado, de curta duração, de custos relativamente modestos se comparados com os de
um filme ou de um programa de televisão, e com amplo potencial de distribuição (p. 173). Foi
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pensando nessa possibilidade de aliar música a imagens que pudessem divulgar o trabalho dos
artistas, principalmente da música do pop e do rock, que as gravadoras passaram a investir na
produção de videoclipes.
O pioneiro do gênero é Bohemian Rapsody da banda inglesa Queen. Lançado em
1975, o vídeo nasceu com o intuito de divulgar o CD da banda entre o público televisivo e
obteve êxito. Segundo Laura Corrêa (2005), a constante exibição do videoclipe no programa
da rede BBC, Top of the Pops, levou o disco ao topo de vendas.
O sucesso do videoclipe se dá por ele utilizar iconografias armazenadas na memória
popular, ou seja, imagens que fazem parte do cotidiano e que não são estranhas ao público,
imagens com as quais o público se identifica. Goodwin enumera algumas dessas iconografias
da seguinte maneira:
a) imagens pessoais derivadas das histórias pessoais associadas com a música, b)
imagens associadas a música em si, as quais podem operar através de metonímias
ou metáforas, c) imagens dos músicos/ performances, d)visual significante derivado
da iconografia popular nacional, e) signos da cultura popular associados com a
musica rock (GOODWIN apud CARVALHO, 2006, p. 05).
Para Talita Ferreira, o videoclipe tornou-se uma ferramenta eficaz de divulgação da
música no âmbito global. Os Beatles, por exemplo, quando produziam os vídeos de suas
músicas, o faziam com a finalidade de “estar” em vários programas de televisão ao mesmo
tempo.
Artistas consagrados e bandas novas utilizam com cada vez mais freqüência o
videoclipe como meio de se manter ou de se introduzir na mídia. A indústria
fonográfica encontra o representante comercial que mais se aproxima da estética e
da linguagem de seu público consumidor (FERREIRA, 2005, p. 103).
Com a sua popularidade, o videoclipe deixou de ser apenas uma peça de divulgação
audiovisual e passou a apresentar narrativas elaboradas lineares, ou não. A popularidade do
videoclipe, por sinal, aconteceu, de fato, nos anos 80 com a criação de uma emissora voltada
exclusivamente para divulgação do clipe, a MTV (Music Television).
1.1 MTV
A MTV foi criada, em 1981, como canal de TV a cabo e logo se tornou um canal
aberto. A existência do canal, que tem como público-alvo o jovem, estimulou ainda mais a
produção de videoclipes como forma de divulgação do trabalho de algum cantor e/ou banda.
Segundo Talita Ferreira (2005),
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A mecânica da ligação entre música e imagem, institucionalizada com o surgimento
da MTV, Music Television, em 1981, fizeram com que músicas que não tinham
nenhum destaque nas rádios alcançassem o primeiro lugar nas paradas rapidamente
após terem seu videoclipe veiculado na TV. (FERREIRA, 2005, p.102 )
E assim muitos artistas aderiram ao apelo visual do videoclipe tanto para vender suas
músicas, como para criar uma identidade, uma marca dentro da cultura pop. Artistas como
Michael Jackson e Madonna, que surgiram ou alcançaram seu auge nos anos 80, e
desenvolveram, ao longo de sua carreira, uma produção de videoclipes que são peças
fundamentais de seus discos, pois englobam o conceito a ser trabalhado no disco e na turnê.
Retomando a história da MTV, o primeiro videoclipe a ser exibido na emissora foi
Killed in the Radio star da banda Buggles. O sucesso dos videoclipes e da emissora foi tão
grande que filiais da MTV foram sendo criadas em inúmeros países. A MTV Europa, por
exemplo, foi ao ar em 1987 com o clipe Money for nothing do Dire Straits. Estava
estabelecida, assim, a cultura “videoclíptica” que expandiu as possibilidades da indústria
fonográfica ao gerar toda uma indústria de programas e premiações voltados a destacar os
videoclipes.
No Brasil, antes mesmo do surgimento da MTV, o programa Fantástico, da Rede
Globo, já trabalhava o conceito de videoclipe. No programa, eram produzidas peças musciais
de artistas que estavam com música de trabalho no mercado. Foi produzida uma série de
vídeos de artistas brasileiros com essa intenção. O primeiro videoclipe exibido no Fantástico
foi da música América do Sul, interpretada por Ney Matogrosso, no ano de 1975.
Nos anos 80, já havia toda uma estrutura televisiva voltada para a produção e
disseminação de videoclipes em várias emissoras, como o FM-TV na TV Manchete; o Clip
Trip na TV Gazeta; o Som Pop na TV Cultura; o Fantástico e o Clip Clip, ambos da Rede
Globo, entre outros.
Em 1990, foi inaugurada a MTV Brasil que teve como videoclipe de estréia, o clipe da
música Garota de Ipanema interpretada pela cantora Marina Lima. A entrada da MTV no
Brasil remodela a produção e o consumo de música na televisão. Se antes, na década de
oitenta, só se consumia música por programas isolados, dentro da grade de programação das
emissoras, e as músicas geralmente estavam de alguma forma vinculada à emissora, como no
caso da Rede Globo que dava preferência àquelas que estavam nas trilhas das telenovelas. Em
1990, foi possível conhecer artistas novos que não tinham espaço nas outras televisões, a
MTV surgiu como meio de divulgação da produção da música independente no Brasil.
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“Temos exemplos em bandas como Skank, Nação Zumbi, Planet Hemp, Pato Fu, CPM 22,
Detonautas Roque Clube - grupos cujas histórias se confundem com a do videoclipe no Brasil
e mais especificamente na MTV”. (VERÍSSIMO, 2005)
Assim, a MTV se tornou vitrine para os artistas, tanto os consagrados quanto os
‘novatos’.
Estar na programação da MTV garante o sucesso artístico, com acesso maior ao
público.(...) Com seu estilo visual moderno e programação inovadora, a MTV
transformou-se na autoridade principal para o acesso à música no fenômeno
mundial da cultura pop. (BRITTOS E OLIVERIA, 2005, p. 102)
Existem hoje, 23 emissoras filiais da MTV em todo o mundo, alcançando cerca de 54
países e 384 milhões de casas. “A MTV é um importante comércio global de música,
mobilizador de US$ 40 bilhões por ano e detentor de um poder quase monopolizador no
segmento em que atua.” (BRITTOS E OLIVERIA, p. 103)
A MTV gerou um mercado lucrativo de publicidade para as gravadoras não só com a
exibição de videoclipes na programação diária da emissora. O investimento em premiações
como o VMA (Video Music Awards da MTV EUA) e o VMB (Video Music Brasil) que se
tornaram o principal termômetro das gravadoras para saber quais são os artistas preferidos do
público da emissora também gerou resultados positivos por revelar, por exemplo, novos
artistas que ainda estão no cenário de produção independente sem contrato com gravadoras. A
gravadora ao perceber a aceitação daquele artista pelo público, através da premiação, procura
incluí-lo em sua grade. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a cantora baiana Pitty que teve
sua ascensão musical demarcada por sua aparição e popularidade na MTV.
A MTV também gera produtos em parceria com as gravadoras como o Acústico MTV
que serve tanto para consagrar um artista, quanto para trazer de volta ao mercado um artista já
esquecido do público. A MTV Brasil, por sua vez, além do Acústico, trabalhou por uns anos
com a produção do MTV apresenta, um programa onde um artista novo e/ou independente
apresentava seu trabalho e dessa apresentação era produzido um CD e um DVD.
2. INVERSÃO DE PAPEIS
Com o estabelecimento da MTV como um meio de divulgação da música, através do
videoclipe, criou-se uma cultura imagética no mercado fonográfico. Hoje, é quase obrigatório
produzir um videoclipe para que o artista obtenha êxito na divulgação do seu trabalho. A
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cantora pop Madonna, por exemplo, explora muito bem a questão imagética nos clipes. São
eles que revelam ao público que estilo ela vai adotar no novo trabalho, através do figurino, do
cenário e até da cor e corte de cabelo. É uma cultura que ultrapassa a questão de divulgar
música e toca no quesito de identificação do jovem com aquele artista que passa a se vestir
igual ao ídolo.
E é nessa tendência de se aproximar mais do artista ao reproduzir seu estilo que o
público contribui, também, para a divulgação daquele artista através da associação imagética
que terceiros fazem entre os dois.
Um outro ponto marcante na cultura do videoclipe é a imitação do videoclipe feita
pelo público que gera uma repercussão maior, atingindo outras esferas midiáticas, além da
televisão. Quando o clipe Thriller do Michael Jackson foi lançado na década de 80, a música
e a coreografia tornaram-se uma febre mundial, levando inúmeras pessoas a reproduzirem a
coreografia seja no ambiente de suas casas, como em ambientes de interação social – festas,
danceterias etc. O disco Thriller vendeu 50 milhões de cópias no mundo todo, um recorde que
até hoje não foi superado. Foi também o clipe Thriller que deu início a uma produção de
videoclipes bem mais elaborados, com ‘ares’ de produção cinematográfica, salvo alguns
aspectos peculiares da estética do videoclipe. Nesse sentido, até mesmo pela indústria que se
criou em torno do gênero, a estética do videoclipe passou a ser mais bem trabalhada.
A narrativa empregada que, inicialmente servia como background para a música,
cresceu dentro do clipe tornando-se um atrativo a mais e nem sempre está explicitamente
relacionada com o tema da música. Como vimos anteriormente, o videoclipe é uma peça de
curta duração, ele dura em torno de 3 a 5 minutos, o tempo de uma música. Nesse tempo, o
produtor tem que passar um conceito ou uma idéia que interaja, de alguma forma, com a
música. A estética ‘videoclíptica’ é caracterizada pelo ritmo rápido, a edição de imagens
diversas que resultam em uma narrativa fragmentada e não-linear, onde o único elo entre as
diferentes imagens é a própria música que as embala.
Neste contexto, onde as possibilidades narrativas do videoclipe são expandidas,
principalmente a partir de meados dos anos 90 até a primeira metade dos anos 2000, vemos o
videoclipe transcender a própria música, seu ponto de partida. Enquanto artistas pops como as
bandas Bon Jovi, Aerosmith e as famosas “boybands”4 como Backstreet Boys, Nsync etc.
utilizam o videoclipe para se lançarem e, através da repetição deles na programação dos
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canais especializados, se fazem lembrados pelo público, a música acaba sendo resvalada a
segundo plano.
Para citar um exemplo, a banda Bon Jovi lançou em 2000 o videoclipe da música It’s
My Life. Neste vídeo, um rapaz está em casa acessando informações no site da banda e recebe
a ligação da sua namorada que estava em um show surpresa do Bon Jovi. A partir daí começa
a jornada do rapaz para chegar ao local do show, enfrentando obstáculos como um caminhão
pipa, perseguidores, saltando de prédios e evitando ser atropelado por vários carros. O clipe
ainda segue uma estética majoritariamente cinematográfica que vai desde a grande quantidade
de efeitos especiais até o formato da tela, que mesmo sendo exibido exclusivamente na
televisão, que possui a proporção da tela em 4:3, foi captado em 16:9, formato das telas de
cinema. Através desta música, a banda, que não emplacava um sucesso por alguns anos,
atingiu o primeiro lugar nas principais listas e em diversos países.
Casos como o do exemplo acima seguem por boa parte da primeira década do século
XXI, e o videoclipe superou seus limites, tornando-se uma das principais peças a ser
produzida quando se pensa em divulgar música e CD. Além disso, o clipe ultrapassou as
barreiras da televisão e hoje é exibido em outras mídias, como celulares e pela internet.
2.1 Novas Mídias
Atualmente, encontramos o contexto de expansão da internet em números
impressionantes. Esse movimento de popularização se deu de forma abrupta e bastante
acelerada, principalmente se compararmos com a popularização da TV após seu surgimento:
“Fruto do barateamento do computador (estimulado pela queda do dólar) e da
expansão do acesso, o fenômeno [de expansão da internet] tem contornos sociais
ainda não totalmente compreendidos. Trata-se de uma mudança veloz, radical. Cabe
lembrar que a tevê levou cerca de 27 anos desde o início da operação comercial para
atingir metade da população brasileira, entre 1950 e 1977. Se as previsões se
confirmarem, o acesso à internet atingirá esse percentual 14 anos depois de sua
introdução comercial no Brasil, em 1995.”5
4
Tipo de grupo musical formado por jovens rapazes que cantavam e dançavam em produções elaboradas, típicas
do fim dos anos 90.
5
Dados do IBOPE, divulgados na revista Carta Capital em 14 de agosto de 2008, acessado em:
http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=cald
b&comp=IBOPE//NetRatings&docid=95DE9809B12D739B832574A500581976 no dia 17 de setembro de
2009.
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A internet, por sinal, reconfigurou o processo de produção e recepção de videoclipes.
Ao perceber que os clipes tinham grande número de acesso nos canais de vídeo na internet, os
produtores começaram a remodelar a estética dos vídeos e a estratégia de divulgação do disco
através dos clipes. E as mudanças não são apenas mercadológicas, são também refletidas
esteticamente nas produções relacionadas ao videoclipe: Como a tela do computador é menor,
se comparado com a da televisão, e dependendo da conexão a qualidade na recepção e
absorção da mensagem varia de computador para computador, os produtores passaram a
produzir vídeos mais ‘cleans’ sem muita informação visual, adequados tanto para a agora
“telona” da TV quanto para a telinha do PC.
Essa alterações e o apelo que a novidade têm junto ao publico alvo dos videoclipes,
fez alguns especialistas e executivos afirmarem que seria o fim dos canais de TV
especializados em música, da forma como são conhecidos. Em 5 de Dezembro de 2006, o,
então, diretor da MTV Brasil, Zico Góes, afirmou em entrevista concedida ao site UOL
Notícias que o “videoclipe não pertence mais à televisão” e após este pronunciamento
seguiram-se uma série de mudanças na grade de programação do canal, que acompanhavam
tendências já percebidas na matriz americana, para o novo formato que não priorizaria o
videoclipe como matéria prima da TV.
A partir daí, cabe a este artigo analisar os aspectos e a forma do videoclipe em suas
novas formas de distribuição para, conseqüentemente, apresentá-lo, e suas modificações,
enquanto ainda principal canal para divulgação das produções musicais. No novo, e atual,
momento da história das transformações do videoclipe, podemos apontar o sucesso como
medido através da capacidade reprodutibilidade do mesmo. Entra em cena o “videoclipe
viral”.
3.0 VIDEOCLIPE VIRAL
O marketing viral e a publicidade viral referem-se a técnicas de marketing que tentam
explorar redes sociais preexistentes para produzir aumentos exponenciais em conhecimento
de marca, com processos similares à extensão
de
uma
epidemia, como define Andre
Telles (2006). As produções virais tornaram-se a principal ferramenta de divulgação de um
produto na internet. Nascida no meio publicitário, a peça viral tem por objetivo ser
disseminada pelos internautas, seja através da paródia ou encaminhamento da peça. A peça
viral deve transformar-se numa epidemia virtual, sendo multiplicada e passada adiante de
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consumidores para consumidores. Como marco inicial desta estratégia viral, e participativa,
assumida pela publicidade a partir da internet, podemos citar o caso do filme “A Bruxa de
Blair” (Blair Witch Project, 1999), que mostra as ultimas horas de um grupo de estudantes
que desapareceram misteriosamente enquanto filmavam um documentário sobre a bruxa que
assombrava o bosque de Burkestiville, nos Estados Unidos. Para promover este filme, foi
criado um website que contava a “história por trás do filme”, que seria lançado nos cinemas, e
no próprio site, era possível enviar vídeos caseiros com depoimentos sobre contatos
sobrenaturais com os mistérios que envolviam o desaparecimento dos estudantes. Esses
vídeos enviados por internautas através do site do filme, por motivos óbvios, eram de baixa
qualidade, o que não viria a ser problema algum para se manter uma identidade visual no
produto como um todo, uma vez que o próprio filme, o produto principal que estrearia nos
cinemas, estabelecia uma estética simplifica, como se o filme fosse feito por câmeras
manuais, com poucos recursos e por cinegrafistas amadores. O sucesso era tanto que antes
mesmo do lançamento do filme, muitos internautas já haviam contribuído com a divulgação
do mesmo, pelo simples fato de querer contribuir com o material. Percebe-se com isso, o
poder de disseminação da mensagem colaborativa possibilitada pela internet. Não demorou
muito, e a indústria da música pop, diretamente relacionada com o caso citado através do seu
publico alvo, começou a aplicar a técnica do produto viral nos videoclipes para atenuar o
processo de divulgação das músicas na internet.
Esses novos caminhos por onde trafegam a indústria que cerca o videoclipe e a música
pop acarretam mudanças importantes na sua estética, que por sua vez, tem sua importância
denotada quando observamos a influencia do formato em outras mídias como o cinema e a
própria TV. O que observávamos nos anos 80 e 90 como produções elaboradas e de alto
custo, hoje se resumem, em grande parte, à produções mais simplificadas que correspondam
aos critérios de disseminação e absorção nas (e pelas) novas mídias. É a atual simplicidade do
videoclipe, advinda das características aqui reconhecidas como limitações visuais de tela e
streaming da internet e dos recursos limitados das produções caseiras, que rege o panorama
do videoclipe e, como falaremos mais adiante, fazem o videoclipe ressuscitar características
observadas na sua origem, quando ainda não possuía sequer a denominação enquanto tal.
3.1 A nova estética e a sinestesia
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Para fins de explicação dos pontos percebidos na estética do videoclipe em seu atual
panorama, citaremos dois importantes exemplos. O Clipe Single Ladies (Put a Ring On It) da
cantora Beyoncé e o vídeo Boom Boom Pow do grupo Blackeyed Peas para tratarmos da
reprodutibilidade e da sinestesia, respectivamente, no videoclipe contemporâneo.
Em agosto de 2008, a cantora americana Beyoncé lançou o single Single Ladies (put a
ring on it) no canal de vídeo on demand Youtube. Contrariando a videografia da própria
artista, este vídeo possuía a simplicidade que em outras épocas seria o decreto de morte da
própria música, por não apresentar em seu clipe grandes atrativos. O vídeo consistia apenas na
cantora, acompanhada de outras duas dançarinas, em frente a um fundo branco, trajando maiô
preto e dançando ao ritmo da música a coreografia elaborada da canção. Os únicos recursos
visuais perceptíveis são a iluminação, que faz o fundo do cenário variar entre cinza e branco,
e os movimentos de câmera que dão movimento à imagem. Mas apesar da simplicidade, dias
depois do lançamento do clipe na rede, a música e seu vídeo eram sucesso absoluto em
número de acessos do canal. Prontamente, inúmeros fãs se aproveitaram da simplicidade do
clipe e reproduziram a coreografia, criando o seu próprio vídeo de Single Ladies (put a ring
on it) e cada um com sua particularidade. Era comum à época encontrar versões do vídeo
filmadas em escolas, no quarto dos usuários, em espaços públicos, em monumentos históricos
etc. Para citar um caso peculiar, apenas 3 dias após o lançamento, o usuário da rede Shane
Mercado, declaradamente fã da cantora, disponibilizou no seu perfil do canal Youtube a
versão que havia feito do clipe da cantora Beyoncé. Pela precisão na reprodução da
coreografia do vídeo, Shane ficou mundialmente conhecido e foi convidado a participar de
diversos programas de entrevistas logo em seguida, onde um deles inclusive promoveu o
encontro de Beyoncé e Shane.
Os números de acesso do vídeo oficial e a quantidade de citações do nome da musica
no campo de pesquisa do Youtube também afirmam a popularidade do vídeo: ao procurar as
palavras “single ladies” no campo de pesquisa do site, o resultado chega a 102.000 opções,
cujo vídeo principal, disponibilizado pela própria gravadora, possui 68.059.695 exibições
contando a partir de agosto de 2008. O caso deste vídeo especifico, é um entre muitos vídeos
que, pela sua simplicidade, permitem a reprodução pelo usuário e conseqüente popularização
da musica.
O outro caso que ilustra a sinestesia retomada pelas novas diretrizes do videoclipe na
atualidade é o vídeo Boom Boom Pow do grupo Blackeyed Peas. Este vídeo segue uma
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estrutura muito simples onde os quatro vocalistas do grupo aparecem durante o vídeo, de
aspectos futurísticos, em planos simples, que muito pouco variam. Há uma simples sucessão
de imagens dos vocalistas em plano fechado, onde vemos apenas seus rostos, intercaladas
com imagens de dançarinos cujas roupas e movimentação muda de acordo à base percussiva
da canção. Os 3 minutos e 30 segundos do vídeo são preenchido com estas imagens simples,
mas que muito remetem ao ritmo em si. Os rostos dos vocalistas e a roupa dos dançarinos são
sobrepostas com linhas, cubos, círculos e outras imagens geométricas que, aparentemente,
não possuem sentido nenhum que não seja acompanhar a batida evolutiva e percussiva da
música.
É esse aspecto sinestésico da imagem com o som, percebido neste vídeo que vai de
encontro aos populares videoclipes dos anos anteriores com suas imagens elaboradas e forte
teor narrativo, que podemos atribuir à intenção de se identificar com os “visualizadores” dos
populares programas de execução de mp3. Estes visualizadores nada mais são do que imagens
aleatórias que são geradas pelo programa de acordo a captação do som da música. Ao gerar
essa identificação com os “visualizadores”, o grupo Blackeyed Peas acabou por ressuscitar as
características sinestésicas do videoclipe percebidas em seu surgimento e potencializadas
pelos aspectos de videoarte, mas que ficaram esquecidos pela evolução do gênero e sua
popularização, nas décadas em que este produto se encontrava fortemente disseminado
através da TV.
I Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular
Tendências e convergências da música na cultura midiática
21 a 23 de outubro de 2009, UFMA, São Luis – MA.
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- Conclusão
Vimos como a entrada do videoclipe alterou o processo de produção simbólica na
indústria fonográfica. Foi pelo videoclipe e a inauguração da MTV que a música conseguiu
espaço reservado na televisão. As gravadoras passaram a explorar a imagem dos artistas para
vender discos.
Com a popularização do videoclipe, criou-se uma cultura imagética que ultrapassou os
interesses mercadológicos, influenciando o costume do público consumidor, acredita-se que
inicialmente, a intenção não era fazer com que o público imitasse o videoclipe ou a
coreografia pelos espaços onde transita, mas a introdução dessa tendência, preconizada pelo
clipe Thriller do Michael Jackson, surtiu um efeito muito mais lucrativo em termos de
divulgação de imagem e música.
Assim como todo meio de comunicação e todo gênero televisivo, o videoclipe foi se
configurando à medida que novas tecnologias de produção e reprodução foram surgindo. O
advento da internet, em meados dos anos 90, embora venha por um lado, mostrando-se como
“bicho-papão” na venda de discos, por outro lado, ajuda a disseminar ainda mais a imagem do
artista pelos clipes que agora são vistos na internet. Concomitante ao surgimento da internet,
tivemos o barateamento dos aparelhos de gravação de vídeo portátil e com a aparição de sites
de vídeo caseiros como o youtube, surgiu na internet uma corrente viral de videoclipes, onde
o espectador refaz o videoclipe, imitando o original e posta no canal.
A trajetória de evolução deste produto pode ser percebida através da migração entre
mídias diversas, que vão desde o cinema até os vídeos streaming na internet, e, por transitar
em diferentes mídias que imprimiam as suas necessidades no formato, o videoclipe pode
mostrar sua capacidade de adequação aos meios sem nunca, desde sua consolidação ao fim
dos anos 70, ter perdido o importante posto de principal meio de divulgação da música pop.
I Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular
Tendências e convergências da música na cultura midiática
21 a 23 de outubro de 2009, UFMA, São Luis – MA.
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