Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares Daniel Guimarães Tedesco BRST: da quebra suave à quebra espontânea da simetria Rio de Janeiro 2014 Daniel Guimarães Tedesco BRST: da quebra suave à quebra espontânea da simetria Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do tı́tulo de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Fı́sica, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Orientador: Prof. Dr. Silvio Paolo Sorella Coorientador: Prof. Dr. Márcio André Lopes Capri Rio de Janeiro 2014 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/D T256 Tedesco, Daniel Guimarães. BRST: da quebra suave à quebra espontânea da simetria / Daniel Guimarães Tedesco. – 2014. 117 f.: il. Orientador: Silvio Paolo Sorella. Coorientador: Márcio André Lopes Capri. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares. 1. Simetria (Fı́sica) - Teses. 2. Campos de calibre - Teses. 3. Simetria quebrada (Fı́sica) - Teses. 4. Partı́culas (Fı́sica nuclear) - Teses. I. Sorella, Silvio Paolo. II. Capri, Márcio André Lopes. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares. IV. Tı́tulo. CDU 539.12 Autorizo, apenas para fins acadêmicos e cientı́ficos, a reprodução total ou parcial desta tese, desde que citada a fonte. Assinatura Data Daniel Guimarães Tedesco BRST: da quebra suave à quebra espontânea da simetria Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do tı́tulo de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Fı́sica, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aprovada em 16 de Abril de 2014. Banca Examinadora: Prof. Dr. Silvio Paolo Sorella (Orientador) Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares - UERJ Prof. Dr. Márcio André Lopes Capri (Coorientador) Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares - UERJ Prof. Dr. Vitor Emanuel Rodino Lemes Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares - UERJ Prof. Dr. Cesar Augusto Linhares da Fonseca Junior Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares - UERJ Prof. Dr. Rodrigo Ferreira Sobreiro Universidade Federal Fluminense Prof. Dr. José Abdalla Helayel-Neto Centro Brasileiro de Pesquisas Fı́sicas Prof. Dr. Luis Steban Oxman Universidade Federal Fluminense Prof. Dr. Bruno Wernecck Mintz Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares - UERJ Rio de Janeiro 2014 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus. Sem Ele não existiria esta tese. Ele me deu forças nos momentos mais difı́ces desta fase da minha vida. Muitas mudanças, muitos problemas, e algumas decepções. Consegui enfrentar somente graças à Ele. À Ele seja a glória desta tese. Agradeço as minhas meninas Grezielle e Sara. Duas lindas meninas que estão sempre do meu lado. Grezielle, a matriarca da famı́lia, é aquele ”doce”de sempre. Complicada e perfeitinha, assim como a música, perfuma minha vida desde adolescente. Sara, nossa filha, é outro doce. Sempre com o sorriso no rosto alegrando nossas vidas com tanta beleza. Minhas meninas que amo tanto, são um dos meus alicerces. Agradeço aos meus pais que me ensinaram a dar valor a vida. Me ensinaram a ter caráter e força de vontade. Dois exemplos a serem seguidos. Mesmo com todas as dificuldades e limitações, conseguiram educar dois doutores e uma pedagoga. Amo vocês papai e mamãe. Agradeço a meus irmãos Julio e Estela. Sempre estiveram ao meu lado, me apoiando (do jeitão deles, claro). Amo vocês dois. Não poderia esquecer do Adiel e sua prole imensa, Shasnay, Júnior, Josué e Emanuelle. Muitas saudades de vocês! Estarão sempre no meu coração. Agradeço aos meus sogros pois sem eles, minha linda Guigui não existiria! Meus grandes amigos Márcio, Miriam e Ana. Obrigado pelo carinho e por tudo que fizeram por minha famı́lia. Meus amigos Felipe Negreiros (Irmão preto), Bruno Inchausp (irmão gordinho, vulgo Maricá), Marcus Vı́nicius Colaço (nota 7), Anderson (o insuportável), Bulmer (vulgo Valdir), Otávio (continua sendo o senhor da mecânica analı́tica) e tantos outros (não muitos) que não me recordo agora e que levarei bronca pelo resto da vida. Vocês são felizardos de serem meus amigos! Meus orientadores que me ensinaram um bocado desta tal de fı́sica além da paciência em meio a tanta mudança. Silvio Sorella, Marcio Capri, Marcelo Guimarães e Vitor Lemes. Obrigado por todos os cafés, puxões de orelha e afins. A Capes pelo apoio financeiro. that God made the laws only nearly symmetrical so that we should not be jealous of His perfection! R. P. Feynman RESUMO TEDESCO, D. G. BRST: da quebra suave à quebra espontânea da simetria. 2014. 117 f. Tese (Doutorado em Fı́sica) – Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Nesta tese falamos essencialmente sobre a simetria BRST no modelo de GribovZwanziger. Estudamos a quebra suave, a quebra linear e a quebra espontânea, todas da simetria BRST. Na formulação padrão do modelo, quebrada suavemente, construı́mos o modelo de réplica usado para estimar os valores das massas das glueballs. Utilizando campos auxiliares construı́mos um modelo quebrado linearmente, e utilizando basicamente o mesmo procedimento, uma formulação mais recente onde a simetria é quebrada espontâneamente. Palavras-chave: BRST. Simetria. Confinamento. ABSTRACT TEDESCO, D. G. BRST: from soft breaking to spontaneous symmetry breaking. 2014. 117 f. Tese (Doutorado em Fı́sica) – Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. In this thesis we talk mainly about the BRST symmetry in the Gribov-Zwanziger model. We study the soft breaking, the linear breaking and spontaneous breaking, all of BRST symmetry. In the standard formulation of the model, broken softly, we built the replica model used to estimate the values of the glueballs’ masses. Using auxiliary fields, we built a linearly broken model, and using basically the same procedure, a newer formulation where the symmetry is broken spontaneously. Keywords: BRST. Symmetry. Confinement. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura Figura Figura Figura Figura 1 2 3 4 5 - Horizontes de Gribov . . . . . . . . . . . . . . . . . . Propagadores do gluon a esquerda e dressing function Massas das Glueballs em função de a para p = 5 . . . Massa das Glueballs em função de p para a = 1.3 . . m2 Quocientes entre as massas m20++ (a, p) . . . . . . . . . a . . . . . . . . direita. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 47 69 69 70 0−+ Figura 6 - Quocientes entre as massas Figura 7 - Quocientes entre as massas m2++ 0 (a, p) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 2 (a, p) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 m2++ 2 m2++ m2−+ 0 LISTA DE TABELAS Tabela Tabela Tabela Tabela 1 2 3 4 - Númetros quânticos do quarteto de fontes externas Númetros quânticos de campos e fontes . . . . . . . Números Quânticos para os campos . . . . . . . . . Números Quânticos para as fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 82 93 93 SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.2.1 1.2.2 1.3 1.3.1 1.4 2 2.1 2.2 2.2.1 2.2.2 2.2.3 2.2.4 2.3 2.4 2.4.1 2.5 3 3.1 3.2 3.2.1 3.2.2 3.3 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.3.3.1 3.3.3.2 3.3.3.3 3.3.4 3.3.5 3.3.6 3.3.7 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . TEORIA DE YANG-MILLS E A SIMETRIA BRST . . . . . Ação de Yang-Mills . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cohomologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Teorema dos dubletos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Uso dos Quartetos de BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Construção do subsespaço fı́sico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Estados de norma negativa e carga de BRST . . . . . . . . . . . . . . Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A PROBLEMÁTICA DE GRIBOV . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ambiguidades de Gribov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cópias de Gribov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Região e Horizonte de Gribov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Propriedades da Região de Gribov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Restrição da Integral à Região de Gribov . . . . . . . . . . . . . . . . Função Horizonte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A ação de Gribov-Zwanziger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quebra soft da simetria BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . MODELOS COM QUEBRA SUAVE DE BRST . . . . . . . . A quebra suave da simetria BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . Modelo de Gribov-Zwanziger e sua versão aprimorada (RGZ) Lidando com a quebra na GZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A teoria GZ aprimorada (RGZ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O modelo de réplica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Construção da ação do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introduzindo o conceito de i-particles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Renormalizabilidade e teoremas de não renormalização . . . . . . . . Obtendo a ação inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Identidades de Ward . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Caracterização do Contratermo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fatores de renormalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não-renormalização do parâmetro massivo v 2 . . . . . . . . . . . . . . Inclusão dos condensados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Construção dos operadores compostos locais BRST invariantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 18 18 22 23 23 24 27 29 31 31 32 32 33 35 36 38 40 41 42 43 43 45 45 47 48 49 51 53 53 54 56 57 58 59 60 3.3.7.1 3.3.8 3.3.8.1 3.3.9 3.3.10 3.4 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.5.1 4.5.2 4.6 4.7 5 5.1 5.2 5.2.1 5.3 5.3.1 5.4 5.4.1 5.4.2 5.5 Representação Espectral de Kallen-Lehmann dos operadores de Glueballs . Cálculo das massas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Abordagem de SVZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fórmula das massas das glueballs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Análise qualitativa das massas das glueballs m20++ , m22++ , m20−+ . . . . . . . Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . QUEBRA LINEAR DE BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ação quebrada linearmente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ação de GZ quebrada linearmente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Identidades de Ward . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Estabilidade e Contratermo Invariante . . . . . . . . . . . . . . . . . Construção do Contratermo Invariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Renormalização e Fatores Z . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Generalização para a RGZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conclusões do capı́tulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . QUEBRA ESPONTÂNEA DE BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . Ação com simetria exata de BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quebra espontânea de BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Modo de Goldstone . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Restrições na ação efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Identidades de Ward . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Prova da renormalizabilidade a todas as ordens . . . . . . . . . . . Construção do contratermo invariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fatores de Renormalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . APÊNDICE A - Simetrias Clássicas e Quânticas - De Noether a Ward . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . APÊNDICE B - Quebra de Simetria em Fı́sica . . . . . . . . . . . 62 64 64 67 68 70 72 72 72 74 76 80 80 83 84 86 88 88 90 92 92 92 97 97 100 101 103 105 112 115 12 INTRODUÇÃO A natureza muitas vezes nos surpreende ao exibir certos tipos de padrões que se repetem ao nosso redor. A esses tais padrões é comum associarmos a palavra simetria. Mas o que é exatamente simetria? E como a simetria se manifesta na fı́sica? Rigorosamente falando, algo é dito simétrico por uma dada operação, quando este não muda ao se aplicar tal operação. Na fı́sica, a simetria surge em diversos lugares. Na mecânica analı́tica e na teoria clássica de campos, por exemplo, o conceito de simetria tem um papel crucial. Sabemos, através dos trabalhos seminais de Emily Noether, elegantemente enunciados na forma de teorema1 , que, a uma simetria da ação de um sistema mecânico, está associada uma quantidade conservada. Ou seja, se a ação é invariante por alguma operação de transformação das coordenadas generalizadas e do tempo, existe uma quantidade desse sistema que é conservada e está ligada a esta transformação. Por exemplo, se um sistema é invariante por translações temporais a energia desse sistema é conservada. Além da mecânica clássica, grande parte da fı́sica moderna (mecânica quântica, teoria quântica de campos, etc) é baseada no conceito de simetria, sendo este sempre associado a leis de conservação. Já mencionamos os trabalhos de Noether e a importância destes no cenário clássico, porém, em teoria quântica de campos, existe ainda um “análogo quântico”do teorema de Noether que são as chamadas identidades de Ward2 . Assim, as identidades de Ward, juntamente com o teorema de Noether, são ferramentas essenciais para o entendimento das simetrias clássicas e quânticas dos campos e de fato, o conceito de cargas conservadas por transformações de simetria é extensamente usado em teoria de campos. Em especial, a simetria descoberta por Becchi, Rouet, Stora e, separadamente, por Tyutin, que é conhecida atualmente como simetria BRST, mostra-se como uma ferramenta poderosa em varias áreas da teoria de campos [10, 35] . A carga de BRST, que é a quantidade conservada obtida da invariância pela transformação de BRST, é responsável por prover a “real fı́sica“ de processos subatômicos, pois, é a partir dela que se pode extrair o espectro fı́sico das teorias de calibre. Ao longo desta tese, retornaremos à questão da simetria BRST e discutiremos em detalhes seus diversos aspectos, inclusive o conceito de quebra (tanto explicitamente, quanto espontaneamente) desta simetria. Agora, voltemos nossa atenção para um breve apanhado histórico sobre o uso da simetria na fı́sica. Até a primeira metade do século XX, as simetrias já desempenhavam um belo papel na fı́sica teórica. Os gregos, como Platão e outros, ficaram fascinados com as simetrias 1 Detalhes sobre o Teorema de Noether se encontram no Apêndice 5.5 2 Sobre as identidades de Ward, ver Apêndice 5.5. 13 de objetos e acreditavam que estes seriam espelhados na estrutura da natureza. Mesmo Kepler tentou impor suas noções de simetria sobre o movimento dos planetas. As leis de Newton estão cheias de simetria, como o princı́pio de equivalência entre referenciais inerciais, chamado de invariância de Galilei. As equações de Maxwell do eletromagnetismo incorporam a invariância de Lorentz e a invariância de calibre. No entanto, estas simetrias da teoria eletromagnética ficaram, por assim dizer, “abandonadas“ por cerca de 40 anos. Esta situação mudou drasticamente no inı́cio século XX com Einstein. Os avanços de 1905 (o ano mágico de Einstein) colocaram a simetria como principal caracterı́stica da natureza, restringindo leis dinâmicas. Einstein reconheceu a simetria de Lorentz implı́cita nas equações de Maxwell elevando-a para uma simetria do próprio espaço-tempo. Esta foi a primeira instância da geometrização de uma simetria. Dez anos mais tarde, este ponto de vista foi coroado com sucesso, através da construção de Einstein da relatividade geral. Nesta teoria, o princı́pio de equivalência, um princı́pio de simetria local que deixa invariante as leis da natureza sob transformações locais das coordenadas do espaço-tempo, ditou a dinâmica da gravidade e do próprio espaço-tempo. Com o desenvolvimento da mecânica quântica na década de 1920, as simetrias passaram a desempenhar um papel ainda mais fundamental e, a partir da segunda metade do século XX, têm sido o conceito dominante na exploração e formulação das leis fundamentais da fı́sica, servindo atualmente como princı́pio orientador na busca da unificação e de progresso da f´ isica. Ao falar sobre simetrias, é impossı́vel deixar de mencionar as teorias de calibre, a exemplo do eletromagnetismo, também conhecidas como teorias de Yang-Mills. Tais teorias, recebem este nome justamente por serem invariantes por transformações de calibre. Das quatro interações fundamentais conhecidas na natureza, apenas a gravitação parece não se enquadrar como uma teoria de calibre. As demais, eletromagnetismo, interação nuclear forte e fraca, são exemplos de teorias de calibre, sendo cada uma delas associada a um grupo de simetria especı́fico: o eletromagnetismo sozinho está associado ao grupo abeliano U (1); a interação fraca, juntamente com o eletromagnetismo, formam a teoria eletrofraca, associada ao grupo SU (2); e a interação forte ao grupo de cor SU (3). Além disso, essas três interações podem ser unificadas dentro de um grupo de simetria maior, englobando os demais, sendo cada uma delas uma manifestaç ao de uma única interação fundamental3 . Das três teorias de calibre listadas acima, a interação forte desperta-nos um parti- 3 De fato, as três interações, junto com o campo de Higgs, formam uma teoria unificada invariante pelo grupo U (1) × SU (2) × SU (3) que é um subgrupo de SU (5), o grupo de simetria da chamada grande unificação. 14 cular interesse devido ao chamado problema do confinamento4 . Essa teoria foi proposta nos anos 70 por David Politzer, Frank Wilczek e David Gross como a teoria que descreve a dinâmica de quarks e glúons5 . De acordo com a teoria, os quarks possuem um tipo de carga que aparece em três tipos, sendo então associados a cores (azul, vermelho e verde). Assim, essa teoria é comumente conhecida como Cromodinâmica Quântica, ou QCD (do inglês Quantum Chromodynamics). Um ponto crucial da teoria é que, em baixas energias, os quarks se combinam de maneira a formar estados (mesons e hadrons) de carga de cor neutra e de carga elétrica quantizada pela carga fundamental. Já os glúons são responsáveis por “colar”os quarks6 e também formam estados ligados conhecidos como glueballs, ou “bolas de glúons”. Dessa forma, não se encontra quarks e glúons livres na natureza e isto constitui o fenômeno do confinamento da QCD. Os observáveis fı́sicos da QCD, em baixas energias, são então objetos compostos de quarks e glúons. No entanto, a teoria possui o que chamamos de liberdade assintótica, o que significa que no regime de altas energias, ou limite ultravioleta, os métodos perturbativos utilizados em teoria de campos funcionam, o que não é verdade no limite infravermelho (baixas energias), onde surgem efeitos não perturbativos que são os prováveis responsáveis pelo confinamento. Entre esses efeitos, está o da quebra da simetria BRST. Nesta tese, veremos que esta quebra é um indı́cio do confinamento, sendo uma importante ferramenta na construção de uma teoria confinante. Portanto, podemos concluir desta breve introdução sobre simetrias na fı́sica, que a natureza não vive só de simetrias, mas também de algumas eventuais quebras dessas simetrias. Nas palavras de Feynman: Deus fez as leis apenas quase simétricas para que não tivéssemos ciúmes de Sua perfeição7 . Como dissemos inicialmente, esta tese tem como base o estudo da simetria BRST na teoria de Yang-Mills, com particular interesse na evolução do conceito de quebra dessa simetria. Por trás deste estudo, gostarı́amos de entender pelo menos alguns aspectos do confinamento de quarks e glúons na QCD, que continua até hoje um problema em aberto. Ninguém, até o momento, conseguiu completar o exemplo matemático da teoria quântica de calibre num espaço-tempo de quatro dimensões, nem forneceu uma definição precisa da teoria quântica de calibre em quatro dimensões. 4 Uma teoria do grupo SU (2) poderia, em princı́pio, ser também confinante. No entanto, no caso da teoria eletrofraca, ocorre ainda o efeito do campo de Higgs, responsável pela massa dos bósons Z e W através do mecanismo de quebra espontânea da simetria de calibre, e o grupo de simetria é o SU (2) × U (1). O efeito do campo de Higgs compete com outros efeitos não perturbativos e leva a uma fase não confinante da teoria [92]. 5 Em 2004, os três autores foram laureados com o prêmio Nobel de fı́sica por essa teoria. 6 De fato, o nome gluon vem de glue, que signfica cola em inglês. 7 A versão em inglês é a epı́grafe desta tese. 15 A frase anterior é uma tradução livre do texto feito por Witten e Jaffe para o Instituto de Matemática Clay [1]. O problema do gap de massa é conhecido como um dos sete maiores problemas do milênio, o que torna muito importante e até mesmo instigante o estudo das teorias de Yang-Mills, que, como vimos, trata-se do modelo matemático que descreve as interações fundamentais eletrofraca e forte. Observa-se o confinamento da QCD quando analisamos a constante de acoplamento da teoria. A baixas energias, seu valor deixa de ser pequeno, não fazendo mais sentido toda a formulação perturbativa da teoria de campos. Além disso, o pólo de Landau, que aparece numa análise via grupo de renormalização, sugere uma transição de fase, sendo, de um lado, uma teoria livre, e, após a transição, uma teoria confinante. Uma forma de entender o confinamento de modo simples é supondo um estado ligado de dois quarks vivendo a baixas energias, ou seja, com a constante de acoplamento sendo maior do que um. Ao tentar separar um quark do outro, como eles estão fortemente acoplados com um potencial que varia linearmente com a distância, precisamos de mais e mais energia para separá-los, até que, em certo ponto, a energia é tão alta que cria-se um novo par quark-antiquark. Um método que é geralmente utilizado como base de comparação de resultados é a chamada QCD na rede [2]. Este método consiste na discretização do espaço-tempo euclideano, formando redes de pontos espaciais. Com isso, consegue-se regularizar as divergências, tanto infravermelhas quanto ultravioletas. Para fazer simulações numéricas na rede é exigido um aparato computacional poderoso, resolvendo então a integral de caminho de Feynman diretamente. Existem ainda problemas com este método, como limite para o contı́nuo e o de introdução de férmions, mas, ainda assim, este continua sendo um dos melhores métodos de estudo e comparação que se tem disponı́vel até então. Há também estudos semi-perturbativos onde são usadas as equações do grupo de renormalização. Nesta abordagem, são estudados, no âmbito dos fenômenos crı́ticos, pontos fixos e transições de fase. Muitas vezes a temperatura se torna útil para estudar estas duas fases da QCD, a ultravioleta e a infravermelha. Também faz-se muito o uso de soluções clássicas estáveis para tentar definir o vácuo da QCD, os famosos instantons [8]. Algumas tentativas de entendimento do confinamento foram feitas dentro da teoria de cordas. A chamada dualidade AdS/QCD [25] mostra-se muito promissora, não somente no entendimento da QCD a baixas energias, como também é utilizada como ferramenta na matéria condensada [26–28]. Essa correspondência nos diz que uma teoria de cordas num background de AdS8 em 5 dimensões é equivalente a uma teoria de calibre conforme no espaço de Minkowski em 4 dimensões. Um outro método extensamente utilizado é o estudo através das equações de 8 AdS – anti de Sitter. 16 Schwinger-Dyson [3, 17–24]. Neste método são feitos ansätze para os propagadores e suas propriedades, que são levados em conta nas equações de Schwinger-Dyson. Para resolver estas equações são utilizados métodos numéricos em união com considerações fenomenológicas. E finalmente, existe a abordagem puramente analı́tica, sendo esta a forma que escolhemos para o decorrer desta tese. Nesta, leva-se em conta certos efeitos não perturbativos. Um deles é uma espécie de “patologia”da teoria de Yang-Mills que é o problema das ambiguidades de Gribov. Este problema, intrı́nseco de uma teoria de calibre, consiste no fato de que, mesmo após a fixação de calibre, existe ainda uma simetria residual fazendo com que persistam configurações equivalentes sendo computadas na medida funcional da integral de caminho de Feynman. O efeito das cópias de Gribov é essencialmente não perturbativo de maneira que a quantização de Faddeev-Popov ainda é satisfatória no regime perturbativo. No entanto, fundamentalmente falando, a existência das cópias de Gribov indicam que ainda não sabemos a maneira correta de se quantizar uma teoria de calibre, tal como afirmam Witten e Jaffe na citação anterior. No capı́ tulo 3, falaremos com mais detalhes sobre esta questão. Um outro efeito não perturbativo com o qual iremos nos deparar é o da condensação de operadores de campo de dimensão dois. Esses efeitos levam ao surgimento de parâmetros massivos na teoria que modificam os propagadores já ao nı́vel árvore. Tais modificações podem ser interpretadas como um indı́cio do confinamento. Podemos resumir esta tese como a evolução do entendimento da simetria de BRST. Partiremos da teoria de Yang-Mills clássica e, através do estudo do problema das cópias de Gribov, chegaremos, ao final, na formulação da teoria de Gribov-Zwanziger (GZ) em sua versão invariante de BRST. Essa versão da teoria apresenta indı́cios de quebra espontânea da simetria BRST. No caminho, passaremos pela construção original da ação GZ e sua versão aprimorada (ou refinada), que, como veremos, apresenta uma quebra explı́cita, porém suave, da simetria BRST. A quebra suave pode ser convertida em uma quebra linear nos campos e, indo um pouco mais além, esta primeira pode ainda ser convertida numa quebra espontânea. Além disso, veremos, através do chamado modelo de réplica, um exemplo interessante de como é possı́vel usar a quebra da simetria BRST para se obter outros modelos confinantes e ainda levar em conta a problemática de Gribov de uma maneira diferente daquela feita por Gribov e Zwanziger. No capı́tulo 2, começaremos falando sobre a teoria de Yang-Mills. Faremos sua quantização através do ansätz de Faddeev-Popov e enunciaremos a simetria de BRST desta ação. Ainda neste capı́tulo, faremos um exercı́cio sobre a construção de KugoOjima do espectro fı́sico de Yang-Mills utilizando a cohomologia da carga de BRST. No capı́tulo 3, iremos tratar da problemática de Gribov no calibre de Landau. Apresentaremos alguns conceitos importantes como a condição de existência de cópias de Gribov, a divisão do espaço funcional nas regiões de Gribov e a necessidade de se restringir 17 o domı́nio de integração do espaço funcional à primeira dessas regiões. Chegaremos ainda na ação de Gribov-Zwanziger, que é uma maneira local e renormalizável de se lidar com as cópias infinitesimais. Ainda neste capı́tulo, veremos que a ação GZ quebra explicitamente a simetria BRST. No capı́tulo 4, veremos como lidar com uma teoria que exibe quebra explı́cita, porém suave, da simetria BRST e apresentaremos dois exemplos que vão um pouco além da teoria GZ. O primeiro é a teoria GZ aprimorada e o segundo é o modelo de réplica. O modelo de réplica é, como veremos, particularmente adequado na determinação do espectro das glueballs. No capı́tulo 5, veremos como uma quebra suave pode ser convertida em uma quebra linear nos campos e como se reescreve a ação GZ neste contexto. Ainda, mostraremos a renormalização algébrica desta nova ação, reobtendo os mesmo teoremas de não renormalização da formulação original da teoria GZ. No capı́tulo 6, utilizando basicamente as mesmas ferramentas do capı́tulo anterior, iremos obter uma formulação da teoria GZ que possui simetria BRST exata, ou seja, consegue-se contornar a quebra, escrevendo uma teoria BRST invariante e abrindo, em princı́pio, caminho para a construção do espaço de Fock. No entanto, a quebra, antes explı́cita, agora dá lugar a uma quebra espontânea. Por fim, apresentaremos algumas conclusões e perspectivas. Alguns detalhes demasiadamente técnicos, porém fundamentais, foram deixados na forma de apêndices. 18 1 TEORIA DE YANG-MILLS E A SIMETRIA BRST Neste capı́tulo, será feita uma revisão da teoria de Yang-Mills9 , incluindo a quantização de Faddeev-Popov, e falaremos de algumas caracterı́sticas do operador de BRST. Algumas convenções e propriedades dos campos serão também discutidas. Ao final, construiremos o espectro fı́sico da teoria, utilizando a noção da cohomologia da carga de BRST. 1.1 Ação de Yang-Mills Para definir o que seria a ação de Yang-Mills e as notaç oões que serão utilizadas ao longo desta tese, começaremos com o grupo compacto SU (N ) de matrizes N × N unitárias, cujo determinante é igual a um. Denominando as matrizes do grupo como U (x), estas podem ser escritas como U (x) = exp[−igθa (x)X a ] (1) onde X a são os geradores do grupo, θa (x) são parâmetros locais e g é uma constante10 . Os ı́ndices latinos, {a, b, c, . . . }, são os ı́ndices do grupo SU (N ) que variam de 1 a (N 2 − 1). Os geradores obedecem a uma álgebra de Lie [X a , X b ] = if abc X c , (2) onde f abc são as constantes de estrutura do grupo. Outra relação importante é o traço entre produtos de geradores Tr(X a X b ) = δ ab . 2 (3) Os campos de calibre Aµ (x) tomam valores em uma álgebra de Lie, com geradores hermitianos X a de um dado grupo de calibre. Assim temos Aµ (x) = Aaµ (x)X a . 9 10 (4) Muitas vezes usa-se o termo “teorias de Yang-Mills”(no plural), por incluir todas as teorias de calibre. Nesta tese, no entanto, iremos, por simplicidade, adotar o termo “teoria de Yang-Mills”(no singular) com o mesmo efeito. Mais adiante a contante g aparecerá como a constante de acoplamento entre as interações da teoria. 19 Os ı́ndices gregos, {µ, ν, σ, . . . }, são ı́ndices vetoriais do espaço euclideano quadrimensional11 , variando de 1 até 4. Então, podemos construir uma lagrangeana que é simétrica sobre transformações do grupo12 . A ação clássica que descreve a dinâmica dos campos de calibre é, no espaço euclideano, dada por: SYM 1 = 4 Z d4 x Tr(Fµν Fµν ) , (5) que é conhecida como ação de Yang-Mills pura, ou simplesmente ação de Yang-Mills. Nesta, Fµν é o chamado tensor de curvatura do campo de calibre, ou, na linguagem de formas diferencias, é uma 2-forma da curvatura do fibrado principal com grupo de simetria SU (N ) [7], sendo então definido como: i Fµν = [Dµ , Dν ] = ∂µ Aν − ∂ν Aµ + ig[Aµ , Aν ] , g (6) onde Dµ · = ∂µ + ig[ · , Aµ ] (7) é a derivada covariante. A curvatura também toma valores em uma álgebra de Lie, a Fµν = Fµν X a, (8) e, dessa forma, podemos escrever a ação de Yang-Mills como SYM 1 = 4 Z a a d4 x Fµν Fµν (9) a onde o tensor Fµν assume a forma a Fµν = ∂µ Aaν − ∂ν Aaµ + gf abc Abµ Acν . (10) A ação de Yang-Mills é invariante frente a seguinte transformação da curvatura13 : 0 Fµν → Fµν = U Fµν U † . (11) 11 Nesta tese consideramos sempre o espaço euclideano quadridimensional e, portanto, esta convenção será adotada em toda a tese, a menos que se especifique o contrário. Além disso, a convenção de somatório para ı́ndices repetidos duas vezes é adotada, não havendo distinção entre ı́ndices covariantes e contravariantes, pois a métria do espaço é trivial. 12 Uma construção de uma teoria invariante frente transformações SU (N ) pode ser vista em detalhes em [4] 13 Representação adjunta 20 Isso se verifica imediatamente através da propriedade cı́clica do traço. Assim, a transformação do campo de calibre deve ser i Aµ → A0µ = U Aµ U † − (∂µ U )U † . g (12) Infinitesimalmente14 , a transformação acima se torna δAaµ = −Dµab θb (13) onde a derivada covariante, na representação adjunta, é dada Dµab = δ ab ∂µ − gf abc Acµ . (14) A ação de Yang-Mills permanece invariante mesmo quando fazemos a transformação de calibre (12). Classicamente, a presença da invariância de calibre já elimina qualquer possibilidade de se encontrar soluções consistentes das equações de campo [9]. E, mesmo a este nı́vel, para se obter a propagação clássica do campo, precisamos fixar o calibre. Tal fixação de calibre é necessária para não levar em conta graus de liberdade redundantes. Vale a pena citar que o termo de autointeração entre os campos de calibre permitem soluções topológicas como monopólos e vórtices [8]. Quanticamente, o caminho mais natural da quantização da teoria de Yang-Mills é através da integral de caminho de Feynman [4]. O processo de segunda quantização falha, e não podemos fazer o uso da prescrição de Gupta-Bleuler, que funciona apenas no caso abeliano U (1) [9]. Fisicamente, ao se calcular valores esperados através da integral de caminho, soma-se sobre todas as configurações possı́veis dos campos, sendo o fator e−SYM [A] o peso estatı́stico. A questão é que a simetria de calibre acaba com a interpretação probabilistica inerente, pois faz com que o campo seja sobrecontado, ou seja, o peso estatı́stico, e−SYM [A] , é o mesmo para infinitas configurações ligadas por transformações de calibre. A solução deste problema é fixar sobre um calibre introduzindo um vı́nculo para o campo de calibre. A primeira vista, a fixação resolveria o problema da degenerescência de campos. O método para se introduzir um vı́nculo na integral de caminho é chamado de ansatz de Faddeev-Popov [4, 9]. O custo é a introdução de campos escalares com estatı́stica de Fermi conhecidos como fantasmas, ou ghosts, de Faddeev-Popov. Estes campos violam a causalidade, via teorema spin-estatistica, porém estes campos aparecem em loops fechados, não sendo excitações fı́sicas da teoria. De fato, os ghosts têm a função de eliminar os graus de liberdade não fı́sicos da teoria, tornando-a unitária [5]. 14 Expandindo U = exp[−igθa X a ] em potências de g como U = 1 − igθa X a + O(g 2 ) 21 Fixando o calibre de Landau, ∂µ Aaµ = 0, temos a seguinte função de partição: Z Z= DAµ δ ∂µ Aaµ det Mab exp{−SYM [A]} , (15) onde surge o determinante do operador de Faddeev-Popov: Mab = −∂µ Dµab . (16) Esta expressão pode ser convertida em uma forma local, introduzindo os ghosts de FaddeevPopov {ca , c̄a }, Z Z ab 4 4 a ab b (17) det −∂µ Dµ δ (x − y) ∝ DcDc̄ exp − d x c̄ ∂µ Dµ c , e a representação da função delta, Z Z a 4 a a det ∂µ Aµ ∝ Db exp − d x b ∂µ Aµ . (18) O campo ba é o chamado campo de Lautrup-Nakanishi, que funciona como um multiplicador de Lagrange para o vı́nculo de Landau. Então, a ação local total é Z SFP = 4 dx 1 a a Fµν Fµν + ba ∂µ Aaµ + c̄a ∂µ Dµab cb 4 = SYM + Sgf . (19) A prova da renormalizabilidade desta ação a todas as ordens foi mostrada por ’t Hooft e Veltman [34]. Ao fixar o calibre como descrito anteriormente a simetria de calibre é claramete quebrada. No entanto, em 1974/1976, o trio Becchi, Rouet e Stora, e de forma independente Tyutin, descobriram que a ação de Faddeev-Popov possui uma simetria que é chamada hoje em dia de simetria BRST [10,35]. Reconheceu-se que esta simetria implica na renormalizabilidade da teoria e que, além disso, nos permite provar a unitariedade da teoria [36]. Definindo o operador BRST como s, a ação SFP se mostra invariante sob as seguintes transformações: sAaµ = −Dµab cb , g abc b c f cc , sca = 2 sc̄a = ba , sba = 0 . (20) Uma importante propriedade deste operador é a sua nilpotencia, ou seja, s2 = 0. Esta propriedade permite provar a unitariedade da matriz de espalhamento de uma teoria, dando sentido fı́sico à teoria [36]. 22 A questão do calibre a ser escolhido é importante. Na literatura há uma infinidade de calibres a serem escolhidos [referências]. Nesta tese, no entanto, utilizaremos essencialmente o calibre de Landau15 , ∂µ Aaµ = 0. Outro calibre utilizado frequentemente é o calibre de Feynman, ∂µ Aaµ + ba = 0, que será utilizado somente na seção 1.3. 1.2 Cohomologia As teorias de Yang-Mills possuem uma interpretação geométrica fascinante. De modo mais geral, a ação de Yang-Mills descreve a dinâmica da conexão Aaµ definida num fibrado principal, não trivial, do grupo de simetria SU (N ), e do espaço de imersão R4 . Neste contexto, os campos fantasmas são as 1-formas de Maurer-Cartan, enquanto que a variação de BRST é isomorfa à derivada exterior. A fixação de calibre, neste contexto geométrico, consiste na definição de uma seção no fibrado. Todavia, sabe-se, através de conceitos de topologia, que definir uma seção global em um fibrado não trivial não é algo possı́vel [7]. Este é um dos problemas fundamentais das teorias de calibre. De fato, usaremos um conceito de topologia para entender o esquema de renormalização que é a noção de cohomologia do operador de BRST, ou melhor, das classes de cohomologia deste operador. A partir do operador de BRST, e de sua propriedade de nilpotência, ou seja, s2 = 0 . (21) A cohomologia de s é dada pelas soluções da equação sΘ = 0 (22) que não podem ser escritas na forma Θ = sα . (23) A quantidade que obedece a equação (22) é chamada de forma fechada, enquanto que a quantidade que obedece a (23) é chamada de forma exata. A cohomologia de Θ é, portanto, identificada por quantidades que são fechadas, mas não exatas, ou melhor sΘ = 0 , 15 com Θ 6= sα . (24) O calibre de Landau é um dos poucos onde se pode lidar com o problema das ambiguidades de Gribov. A razão disso vem do fato que, neste calibre, o operador de Faddeev-Popov é hermitiano, o que não ocorre no calibre de Feynman, por exemplo. Um outro calibre onde se pode lidar com a problemática de Gribov é o maximal Abelian gauge (MAG) [30–33, 56], que não abordaremos nesta tese. 23 Mais precisamente, a parte não trivial de Θ é sempre definida adicionando uma parte arbitraria exata. De fato, pegando duas quantidade fechadas Θ1 e Θ2 , estas quantidades pertencem a mesma classe de cohomologia se Θ1 − Θ2 = s(...) (25) ou melhor, se Θ1 e Θ2 diferem por uma parte exata. Desta forma, podemos sempre escrever Θ como uma soma de uma parte trivial e uma parte não trivial Θ = Θn.trivial + s(...), (26) onde a parte não trivial não contém partes que possam ser escritas como s(...). O conteúdo observável da teoria é definido pelas classes de cohomologia não triviais do operador de BRST, e não dependem da escolha de calibre. Por outro lado, a parte da ação que envolve a fixação de calibre corresponde as classes de cohomologia triviais [11]. A própria teoria de Yang-Mills, após fixação de calibre, é escrita como a soma de um termo não trivial com um trivial: Z Z a 4 1 a (27) SFP = d x Fµν Fµν + s d4 x c̄a ∂µ Aaµ . 4 1.2.1 Teorema dos dubletos Considere, por exemplo, o campo de antighost c̄a e o campo de Lautrup-Nakanishi ba . De acordo com as transformações de BRST apresentadas anteriormente, eq. (20), esses campos aparecem na seguinte maneira: sc̄a = ba , sba = 0. (28) Esta estrutura é chamada de dubleto de BRST. O teorema dos dubletos, que não iremos demonstrar, diz que os campos que formam o dubleto nunca aparecem na parte não trivial da ação [11]. Isso será de suma importância mais a frente. 1.2.2 Uso dos Quartetos de BRST Além dos dubletos de BRST, existe ainda um outro tipo de estrutura, que, na verdade, é uma extensão do conceito de dubletos, que são os chamados quartetos de BRST. A estrutura de quarteto surge, por exemplo, no mecanismo de localização de 24 certos operadores não locais através da utilização campos auxiliares16 . Ao aplicar um mecanismo como esse, onde fatalmente se introduz novos campos na teoria, a pergunta que vem a tona é: — Esses campos trariam novos graus de liberdade à teoria? Para responder tal pergunta, consideremos um modelo simples envolvendo um par de campos bosônicos {v, v̄} e um par de campos fermiônicos {u, ū} (assim como os ghosts de FaddeevPopov). Consideremos ainda que esses campos se transformam pelo operador de BRST da seguinte maneira: su = v , sv = 0 sv̄ = ū , sū = 0 . (29) Note-se que esta estrutura consiste de dois dubletos e relaciona os dois pares de campos. Atribuindo-se dimensão um a todos os campos e número de ghost zero aos campos bosônicos, conclui-se que o campo v terá número de ghost (+1) e o campo v̄ terá número de ghost (−1). Logo, podemos construir uma ação invariante de BRST para este modelo: Z S = s d4 x [−v̄(∂ 2 − m2 )u + λ v̄u(ūu − v̄v)] Z = d4 x [−ū(∂ 2 − m2 )u + v̄(∂ 2 − m2 )v + λ(ūu − v̄v)2 ] . (30) Note-se que a estrutura de quarteto (29), permite que esta ação seja obtida a partir de uma variação exata do operador de BRST. Dessa forma, se calcularmos todos os gráficos de Feynman desta ação, veremos que cada gráfico de número de ghost zero de loop bosônico tem um equivalente constituido com um loop fermiônico de tal forma que se anulam todas as contribuições e esta ação é apenas uma forma complexa de se escrever campos que não possuem graus de liberdade geométricos. Além disso, os campos nesta estrutura de quarteto não pertencem à cohomologia do operador de BRST [11] 1.3 Construção do subsespaço fı́sico Simetrias geram quantidades conservadas globalmente. Então, podemos pensar na existência de uma carga de BRST. Discutiremos como, a partir da carga BRST, podemos construir o subespaço fı́sico da teoria, cujos estados apresentam norma positiva correspondente as duas polarizações fı́sicas transversas do campo de calibre, ou seja, o espectro dos observáveis. Seja a ação de Faddev-Popov no calibre de Feynman, no espaço-tempo 16 Um bom exemplo disso é a localização da função horizonte do modelo de Gribov-Zwanziger, que veremos no próximo capı́tulo. 25 de Minkowski17 : Z 1 a aµν 1 a a F ey 4 a µ a a µ ab b SFP = d x − Fµν F + b b + b ∂ Aµ + c̄ ∂ Dµ c 4 2 (31) e que possui a mesma simetria BRST de (19). Vamos considerar a ação livre, ou seja, sem a constante de acoplamento, Z Slivre = 1 1 2 µν µ 2 d x − fµν f + b + b ∂ Aµ + c̄ ∂ c , 4 2 4 (32) onde fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ e, além disso, estamos, por conveniência, omitindo os ı́ndices de cor, que, no entanto, podem ser facilmente reintroduzidos. Esta ação corresponde a parte livre da ação de Faddeev-Popov, podendo então ser considerada como a descrição dos campos assintoticamente livres e como tal, é a ação adequada para a construção do espaço de Fock da teoria. Estamos ignorando o problema do confinamento dos glúons. Esta análise se mostra como um exercı́cio útil para um melhor entendimento da simetria de BRST e seu uso. Além disso, com algum esforço adicional, tudo isso pode ser generalizado para modelos mais realistas, como as teorias de Yang-Mills massivas quebradas espontâneamente, caso em que as massas são fornecidas por campos de Higgs. Voltando à ação (32), esta possui a simetria BRST sAµ = −∂µ c, sc = 0, sc̄ = b, sb = 0 (33) que deixa a ação invariante. Já as equações de movimento ficam: δ Slivre δb δ Slivre δAµ δ Slivre δc δ Slivre δc̄ = ∂ µ Aµ + b = 0 = −∂ 2 Aµ = 0 = −∂ 2 c̄ = 0 = ∂ 2 c = 0. (34) Seguindo a linha do trabalho de Kugo-Ojima [36], iremos empregar as seguintes relações 17 A métrica de Minkowski tem assinatura ηµν = (+, −, −, −), e os ı́ndices gregos variam de 0 até 3, sendo o ı́ndice 0 relacionado à componente temporal. 26 de hermiticidade c† = c , c̄† = −c̄ , A†µ = Aµ , b† = b , (35) que tornam a ação hermitiana. Das equações de movimento (34), podemos ver que tanto o campo de calibre quanto os ghosts admitem solução de onda plana: Z d3 k 1 A0 (x) = (a0 (k)e−ikx + a†0 (k)eikx ) , (36) 3 (2π) 2ωk Z 3 d3 k 1 X (m) −ikx (m) ikx † am (k)i e + am (k)i e , (37) Ai (x) = (2π)3 2ωk m=1 → − onde i = 1, 2, 3; ωk = k 0 = | k |; e m i são os vetores de polarização, sendo a polarização longitudinal (3) i → − k = → − |k| (38) (1) e as polarizações transversas i (2) e i , que obedecem a relação n mn m . i i = δ A expansão Z c(x) = Z c̄(x) = (39) em onda plana para os ghosts ficam d3 k 1 (c(k)eikx + c† (k)e−ikx ) , (2π)3 2ωk d3 k 1 (c̄(k)eikx + c̄† (k)e−ikx ) . (2π)3 2ωk (40) (41) E finalmente, da equação b = −∂ µ Aµ , temos, para o vı́nculo Z b(x) = i i ikx † d3 k 1 h † −ikx a (k) − a (k) e + a (k) − a (k) e . 0 3 0 3 (2π)3 2 (42) Para fazer o procedimento canônico, precisamos dos momentos conjugados ∂L = −f0i , ∂(∂0 Ai ) ∂L = = b, ∂(∂0 A0 ) ∂L = = ∂ 0 c̄ , ∂(∂0 c) ∂L = = −f0i , ∂(∂0 c̄) πiA = π0A πc πc̄ (43) 27 onde L é a densidade lagrangeana, e das relações de comutação a tempos iguais [Aµ (t, ~x), πν (t, ~y )] = iηµν δ 3 (~x − ~y ) (44) {c(t, ~x), ∂ 0 c̄(t, ~y )} = iδ 3 (~x − ~y ) (45) {c̄(t, ~x), ∂ 0 c(t, ~y )} = −iδ 3 (~x − ~y ) (46) que, junto com as expansões em onda plana, nos dão as relações [a (k), a†0 (q)] = −2(2π)3 ωk δ 3 (~k − ~q) h 0 i ai (k), a†j (q) = 2(2π)3 ωk δij δ 3 (~k − ~q) {c(k), c̄† (q)} = −2(2π)3 ωk δ 3 (~k − ~q) {c̄(k), c† (q)} = −2(2π)3 ωk δ 3 (~k − ~q) . (47) 1.3.1 Estados de norma negativa e carga de BRST A fim de construir o espaço de estados, introduziremos um estado de vácuo |0i que é aniquilado por todos os operadores de destruição a0 (k)|0i = aj (k)|0i = c(k)|0i = c̄(k)|0i = 0. (48) Os estados de n particulas são obtidos agindo os operadores de criação no estado de vácuo. Contudo, isto nos leva a estados de norma negativa. Como exemplos podemos citar os seguintes estados de norma negativa: h0|a0 (q)a†0 (k)|0i = −2(2π)3 ωq δ 3 (~q − ~k) h0|c̄(q1 )c(k1 )c† (k)c̄† (q)|0i = −4π(2π)6 δ 3 (k~1 − ~q)δ 3 (~k − q~1 ). (49) Podemos citar ainda, um exemplo de estado com norma positiva, mas que leva a modos longitudinais não fı́sicos: h0|aj (q)a†i (k)|0i = 2(2π)3 ωq δij δ 3 (~q − ~k). (50) Portanto, os operadores de criação a†0 , c̄† e c† , criam estados com norma negativa, enquanto que o operador a†3 cria modos longitudinais não fı́sicos. Vamos recorrer a simetria de BRST para tentar obter informações do espectro fı́sico. Fazendo uso de uma ferramente fundamental da teoria de campos, podemos utilizar o teorema de Noether para construir a corrente associada µ JBRST = b∂ µ c − (∂ µ b)c (51) 28 usando as simetrias da ação sem o termo de interação, obviamente. Da corrente, podemos calcular a carga associada Z QBRST = d3 x(b∂ 0 c − (∂ 0 b)c) Z i d3 k h † † † a (k) − a (k) + c(k) a (k) − a (k) , (52) = c 0 3 0 3 (2π)3 k onde a carga associada a BRST também possui a propriedade de nilpotência Q2BRST = 0 . (53) Para contar os modos não fı́sicos da teoria, escrevemos um operador de contagem, a saber Z d3 k 1 † † † † a N = (k)a (k) − a (k)a (k) − c (k)c̄(k) − c̄ (k)c(k) . (54) 3 0 0 (2π)3 2ωk 3 Tal operador, ao atuar em um estado de vácuo, conta os modos não fı́sicos: †m †i †j †n †m †i †j N (a†n 0 a3 c c̄ )|0i = (n + m + i + j)(a0 a3 c c̄ )|0i . (55) Porém, o operador N pode ser expresso como como um anticomutador entre a carga de BRST e um certo operador R N = {QBRST , R} , onde R é dado por Z i d3 k 1 h † † † R= (a (k) + a (k))c̄(k) + c̄ (k)(a (k) + a (k)) . 0 3 0 3 (2π)3 8πωk2 (56) (57) Estas propriedades nos permitem definir como subespaço fı́sico o conjundo de estados que fazem parte da cohomologia da carga de BRST, ou, melhor dizendo, n o ¯ HP hys = |f i = 6 QBRST |f i QBRST |f i = 0 . (58) Um estado |f i é chamado de fı́sico se é aniquilado pela carga de BRST e não pode ser obtido por uma aplicação da carga em outro estado. É possı́vel mostrar que este espaço não contém modos não fı́sicos, sendo pertencentes a este conjunto somente estados de norma positiva. Vamos supor que um dado estado |αi sendo aniquilado pela carga QBRST |αi = 0 (59) e que este contenha modos não fı́sicos, vistos quando atuamos o operador de contagem N |αi = n|αi , n 6= 0. (60) 29 Assim, podemos utilizar a relação de anticomutação (56) na equação acima e escrever o estado |αi como 1 1 N |αi = {QBRST , R}|αi n n 1 = QBRST R|αi n |αi = (61) que vai de contra a definição do espaço fı́sico dita anteriormente. Em suma, estados invariantes de BRST que pertencem ao subespaço fisico HP hys são aqueles gerados pelos operadores de criação a†1 e a†2 , correspondentes a duas polarizações transversas do campo de calibre. Para um estado genérico, pertencente ao subespaço HP hys , podemos escrever |f1 i = a†1 m a†n 2 |0i (62) que é aniquilado atuando a carga de BRST. Este não pode ser obtido pela aplicação de QBRST |...i. 1.4 Discussão Começamos este capı́tulo falando da teoria de Yang-Mills e seus aspectos clássicos. Vimos que mesmo classicamente, a teoria de Yang-Mills precisa de um procedimento chamado de fixação de calibre, que serve para escolher sobre quais configurações de calibre devemos integrar funcionalmente. A fixação de calibre feita de maneira coerente é feita utilizando-se do ansatz de Faddeev-Popov, onde temos o aparecimento dos campos de ghost. Chegamos na chamada simetria de BRST que se mostra uma ferramenta essencial para o entendimento da teoria, tanto classicamente quanto quanticamente. Mais adiante, na discussão de outros modelos, faremos uso da chamada renormalização algébrica e da cohomologia de BRST para a construção do contratermo invariante mais geral18 . Mostramos ainda algumas propriedades topologicas do operador de BRST e usamos a cohomologia da carga de BRST para construir o espectro fı́sico observável. Podemos ainda notar que a cohomologia de BRST é algo imprescindı́vel na construção de observáveis fı́sicos na teoria de Yang-Mills. No entento, veremos mais adiante o modelo a ação de Gribov-Zwanziger que possui um termo que quebra explicitamente a simetria de BRST, sendo então inviável a construção feita neste capı́tulo. É um desafio até hoje a construção do espectro fı́sico da teoria de Gribov-Zwanziger e também de sua 18 A aplicação da renormalização algébrica para a teoria de Yang-Mills pode ser vista em detalhes em [11]. 30 versão refinada (o modelo RGZ). Contudo, abordaremos no final desta tese, uma forma de se reescrever a ação de Gribov-Zwanziger de tal forma que esta seja invariante de BRST, porém, a quebra da simetria passa a ser expontânea . 31 2 A PROBLEMÁTICA DE GRIBOV Neste capı́tulo iremos discutir toda a problemática da quantização das teorias de calibre na região infravermelha que foi exposta por Gribov em [37]: partindo da construção da idéia das chamadas cópias de Gribov, passando pelas propriedades das regiões de Gribov e, finalmente, chegando à ação de Gribov-Zwanziger. Como veremos, o modelo de Gribov-Zwanziger apresenta uma quebra explı́cita, porém suave (ou soft, como se costuma dizer), da chamada simetria de BRST (Becchi-Rouet-Stora-Tyutin). Esta quebra será o ponto fundamental que iremos explorar nesta tese. 2.1 Introdução Como vimos no capı́tulo anterior, a quantização da teoria de Yang-Mills pela integral de caminho de Feynman, tão conhecida na literatura [4], exibe problemas em sua correta definição, devido à simetria de calibre que a teoria apresenta, algo que não ocorre, por exemplo, na quantização do campo escalar. A definição da medida funcional se torna ambigua, pois, existe uma sobrecontagem de configurações equivalentes. Este problema é parcialmente resolvido através do ansatz de Fadeev-Popov, onde se faz a chamada fixação de calibre, levando-se em conta a necessidade da eliminação de graus de liberdade espúrios, introduzindo-se os chamados campos fantasmas (ou ghosts) de Faddeev-Popov [5]. Isto levou a um entendimento do comportamento quântico da QCD no regime perturbativo, ou seja, na região ultravioleta. No entando, esta abordagem falha quando estudamos o regime infravermelho. Assim, Gribov chamou a atenção para o fato de que a fixação de calibre feita por FaddeevPopov não é suficiente para eliminar a simetria de calibre, ou seja, o calibre não está inteiramente fixado. Existe ainda uma simetria de calibre residual que sobrevive ao processo de quantização perturbativa e seus efeitos ficam evidentes na região infravermelha. Este problema é conhecido como o problema das ambiguidades de Gribov que é uma patologia da teoria de Yang-Mills e não somente de um calibre especı́fico. De fato, provou-se que as ambiguidades de Gribov existirão em qualquer calibre [38] pois elas ocorrem em razão da teoria de Yang-Mills ser não trivial sob o ponto de vista topológico [7]. Portanto, é necessária, para uma quantização eficiente no regime infravermelho, a eliminação do problema de ambiguidades e isto será discutido em detalhes neste capı́tulo. O intuito deste é estudar as ambiguidades de Gribov desde o inı́cio do problema da quantização, passando pelas condições e restrições que devem ser impostas e chegando, por fim, na ação de Gribov-Zwanziger em sua versão local. 32 2.2 Ambiguidades de Gribov 2.2.1 Cópias de Gribov A maneira usual de se quantizar a teoria de Yang-Mills é pela integral de caminho de Feynman, usando o método de Faddeev-Popov. No calibre de Landau, o funcional gerador assume a forma Z Z = DA δ(∂µ Aaµ ) det(Mab )e−SY M , (63) garantindo a imposição do calibre de landau, ∂µ Aaµ = 0, e lembrando que Mab é o operador de Fadeev-Popov, já apresentado no capı́tulo anterior. No trabalho seminal de Gribov, foi mostrado que a condição de Landau não fixa o calibre univocamente. Isso significa que para uma dada configuração de calibre Aµ que obedece ao calibre de Landau, existe uma configuração equivalente A˜µ que também obedece a mesma condição de calibre. Para enxergar isso, faremos o seguinte: seja A˜µ uma transformação de calibre de Aµ , i.e., A˜µ = Aµ + U † Dµ U , (64) tal que ∂µ A˜µ = ∂µ Aµ = 0. (65) Derivando a equação (64) e usando a condição (65), temos ∂µ (U † Dµ U ) = 0. (66) que é conhecida como equação das cópias de Gribov. As soluções desta equação para os elementos do grupo definem a existência de cópias õ para uma configuração Aµ . Em primeira ordem, ou seja, para transformações infinitesimais, U = 1 + ω, a equação das cópias fica Mab ω b = 0, (67) onde ω a (x) é o parâmetro da transformação de calibre. Esta expressão é vista como ∂µ (∂µ ω + ig[ω, Aµ ]) = 0. (68) Esta equação conecta a existência das cópias de Gribov com os autovalores nulos (modos zero) do operador de Faddeev-Popov. Autovalores nulos dentro da integral funcional nos levam a integrar levando em consideração muitas configurações de calibre equivalentes, 33 ou seja, uma sobrecontagem de configurações. A idéia inicial seria contar a quantidade de cópias e retirá-las, porém, descobriu-se recentemente, em calibres distintos19 que há infinitas cópias a serem contadas [33, 39], sendo infinita a contagem. Voltando para o procedimento de Faddeev-Popov, é admitido que dada uma condição de calibre que intercepta com cada órbita de calibre uma vez somente, que é a condição ideal. A introdução do termo de Faddeev-Popov da maneira correta seria Z 1 , (69) Z = DA δ(∂µ Aaµ ) det(Mab )e−SYM 1 + N (A) onde N (A) é o número de cópias para cada órbita. Esta última expressão, embora correta, é apenas formal. Na prática, é possı́vel lidar com esse problema apenas am calibres onde o operador de Faddeev-Popov é hermitiano. Essa condição permite definir as chamadas regiões de Gribov (assunto que abordaremos a seguir) e a eliminação das cópias consiste em restringir o domı́nio de integração da integral funcional a primeira regial de Gribov, ou simplesmente região de Gribov, denotada por Ω e cuja definição veremos adiante. Assim, a função de partição dever ser Z Z = DA δ(∂µ Aaµ ) det(Mab )e−SYM ZΩ (70) = DA δ(∂µ Aaµ ) det(Mab )e−SYM ν(Ω) , onde ν(Ω) é o fator que promove tal restrição. 2.2.2 Região e Horizonte de Gribov A equação das cópias (68) fornece informações preciosas de como as cópias de Gribov se arrumam no espaço funcional dos campos de calibre. A fim de introduzirmos a noção do horizonte de Gribov vamos estudar os autovalores do operador de Fadeev-Popov, ou seja, −∂µ (∂µ ψ + [A, ψ]) = (A)ψ (71) Esta equação pode ser vista como uma equação de Schrödinger, com o campo de calibre Aµ desempenhando o papel de “potencial”e com o operador de Faddeev-Popov no papel de “hamiltoniano”. Vale lembrar que, no calibre de Landau, este operador é, de fato, hermiti- 19 Calibre de Landau e no Abeliano máximo 34 Figura 1 - Horizontes de Gribov Fonte: SOBREIRO, 2007, p.81. Adaptado pelo autor. ano, fornecendo, dessa forma, autovalores reais. Para pequenos valores do “potencial”Aµ , esta é equação possui apenas autovalores positivos de , basta lembrar que o termo cinético domina a equação e que −∂ 2 possui sempre autovalores positivos. Para estudar o operador em questão iremos começar considerando o conjunto {1 (A), 2 (A), 3 (A), . . . } como o conjunto de autovalores de uma dada configuração de calibre Aµ . Sabemos que para o campo de calibre pequeno os autovalores (A) são positivos. Porém, a medida que o campo de calibre Aµ começa a crescer em sua magnitude, um dos autovalores, digamos 1 , se torna nulo. Aumentando um pouco mais a magnitude do campo, o autovalor se torna negativo. E crescendo um pouco mais, um segundo autovalor, digamos, 2 , se anula, se tornando negativo conforme a configuração vai aumentando ainda mais, e assim por adiante. A fim de contornar o problema dos modos zero do operador de Faddeev-Popov, dividimos o domı́nio do espaço funcional dos campos de calibre em regiões {C0 , C2 , C3 , . . . , Cn } onde o operador possui {0, 1, 2, . . . , n} auto valores negativos, respectivamente, conforme representado na figura 2. Estas regiões são denominadas regiões de Gribov. As curvas li ≡ ∂Ci , são os horizontes de Gribov, definidos como curvas sobre as quais o operador possui autovalores nulos. A primeira região de Gribov, C0 , será chamada simplesmente de região de Gribov a partir daqui e será denotada por Ω, como é comumente encontrado na literatura. Também o primeiro horizonte, l0 ≡ ∂C0 , será chamado simplesmente de horizonte de Gribov. A partir desta análise podemos concluir que configurações onde Aµ → 0 ficam mais distantes do horizonte de Gribov. Na vizinhança do horizonte habitam configurações de maior autovalor do operador. Sendo assim, podemos dizer que o vácuo perturbativo reside dentro da região de Gribov. 35 2.2.3 Propriedades da Região de Gribov De acordo com a discussão anterior, a região de Gribov Ω define-se o conjunto de conexões calibre {Aµ } que são transversas e para as quais o operador de Faddeev-Popov é positivo. Portanto, em linguagem matemática, podemos escrever o seguinte: Ω := Aaµ | ∂µ Aaµ = 0 , Mab > 0 . (72) Na vizinhança do horizonte, os autovalores se aproximam de zero e as cópias cada vez ficam mais próximas uma das outras, que nos leva a concluir que as cópias infinitesimais estão próximas ao horizonte. De posse da definição da região, podemos mencionar algumas propriedades que são úteis para tentar eliminar as cópias. Para não ficarmos muito extensos, as demonstrações e outras propriedades da região de Gribov serão omitidas. Para o leitor mais curioso podemos indicar como leitura [6]. 1. A região de Gribov é convexa e limitada em todas as direções [40]. Esta simples propriedade nos diz que sempre podemos afirmar se uma dada configuração finita esteja dentro ou fora da região. Essencialmente, isto significa que qualquer ponto em ∂Ω pode ser visto como tendo uma distancia finita da origem do espaço funcional. 2. Toda órbita de calibre passa, pelo menos uma vez, dentro da região de Gribov [40,41]. Este resultado nos leva a pensar na proposta de restringir o dominio de integração funcional a região de Gribov, pois, não extarı́amos excluindo nenhuma configuração não equivalente, mas apenas cópias, ou seja, não se perde nenhuma informação relevante ao fazer tal restrição. Nas seções que seguem, vamos abordar essa questão com mais detalhes. 3. A configuração Aµ = 0 está contida na região de Gribov. Isto significa que a teoria da perturbação habitual, ou seja, a quantização de Faddeev-Popov, encontra-se dentro desta região. 4. Para cada campo de calibre Aµ , que pertence a região de Gribov próximo a fronteira ∂Ω, visto como Aµ = Cµ + aµ , onde Cµ fica na fronteira e aµ uma pequena perturbação, existe um campo equivalente A˜µ = Cµ + aµ + Dµ (C)ω, perto da fronteira mas localizado do outro lado do horizonte, fora da região Ω [37]. Essa propriedade é muito importante pois com ela podemos entender a quebra de simetria BRST na região infravermelha de Yang-Mills. Discutiremos isso logo mais. A pergunta natural a ser feita a esta altura é: — A região de Gribov é livre de cópias? A resposta, infelizmente, é não. Para entender melhor essa questão precisamos 36 olhar a formulação variacional da região de Gribov. A região de Gribov é o conjunto de todos os mı́nimos relativos do funcional Z U 2 (73) kA k = Tr d4 x AUµ (x)AUµ (x) , o que corresponde a selecionar sobre cada órbita de calibre, a configuração que minimiza a norma acima. Porém pode-se ter mais de um mı́nimo relativo. No caso do calibre de Landau, podemos ver a minimização como Z Z a 2 4 a (74) δkAk = δ d x Aµ (x)Aµ (x) = d4 x ω a (x)∂µ Aaµ (x) = 0 logo, as configurações de obedecem ao calibre de landau, ∂ · A = 0. Usando o teste da segunda variação e impondo que a configuração seja um mı́nimo, temos Z 2 2 δ kAk = dxω a (x)(−∂µ Dµab )ω b (x) > 0, (75) o que implica na positividade do operador de Fadeev-Popov, Mab = −∂µ Dµab , de acordo com o que já tinhamos visto. Como vimos, o conjunto de mı́nimos relativos corresponde a região de Gribov. O problema vem do fato de (73) ser uma função de Morse e ter um termo diferente de zero ao se calcular a terceira variação δ 3 kAk2 [42]. Podemos restringir mais ainda para o que chamamos de região modular fundamental (RMF) que é definida como o conjunto dos mı́nimos absolutos da norma do campo de calibre. Tomando somente o mı́nimo absoluto para cada conexão de calibre, vamos selecionar apenas uma configuração do mesmo. Esta região é um subconjunto de Ω. Esta região modular ainda não foi implementada analiticamente, ou seja, ainda não conseguimos restringir a integração funcional a RMF de maneira local e renormazável. Para sair deste impasse, de termos cópias de calibre na região de Gribov, foi mostrado formalmente que as cópias dentro da primeira região não afetam os valores esperados da teoria [43]. Esta prova é feita argumentando que a região de Gribov e a RMF possuem uma fronteira comum, e a maior contribuição para a integral de caminho viria desta fronteira. Juntando este argumento com o fato de não sabermos implementar a RMF, faremos a restrição da integral funcional somente na região de Gribov. 2.2.4 Restrição da Integral à Região de Gribov Como a fixação de calibre, via Faddeev-Popov, não escolhe apenas um representante por órbita de calibre, ou seja, há uma simetria residual que permite que a xistência das cópias Gribov, é natural, depois do estudo dos autovalores do operador de FaddeevPopov que venhamos a restringir a integração nos campos de calibre somente na região 37 onde não há cópias, ou pelo menos, que não afetem o conteúdo fı́sico da teoria. A restrição é feita na função de partição Z Z = DA δ(∂µ Aaµ ) det(M)e−SY M ZΩ = DA δ(∂µ Aaµ ) det(M)e−SY M ν(Ω) , (76) onde o fator ν(Ω) garante que a integração será feita apenas na região de Gribov. Para caracterizar esta função devemos analisar a relação entre o setor dos campos fantasmas com o operador de Faddeev-Popov. Gribov sugeriu a não existência de polos no propagador dos campos fantasmas, uma vez que este é justamente o inverso do operador de Faddeev-Popov, ou melhor dizendo: hc̄a (x)cb (y)i ≡ G ab (x, y) = M−1 ab (x, y) . (77) Então, a medida em que se aproxima do horizonte, o inverso deste operador se torna cada vez maior, até que, no horizonte, ele se torna singular. Como na região de Gribov o operador de Faddeev-Popov é positivo-definido, o propagador dos campos de ghosts também deve ser. Por fim, concluı́mos que para garantir que a integraçãoo seja feita apenas dentro da região de Gribov devemos impor que o propagador fantasma não possua pólos finitos. Para, de fato, chegarmos a uma expressão para ν(Ω), a condição de não existência de pólos finitos no propagador dos ghosts pode ser desenvolvida através do cálculo perturbativo de G ab (x, y; A) = N2 1 hc̄a (x)cb (y)iconexas . −1 (78) No trabalho de Gribov [37], a expressão do propagador no espaço dos momenta, é vista como G(k; A) = 1 1 2 k 1 − σ(k, A) onde G(k; A) é obtida fazendo a transformada de Fourier do traço de G(k; A) Z G(k; A) = d4 xd4 y exp {ik(x − y)} T r G ab (x, y; A) e o fator de forma σ(k, A) no limite termodinâmico é dado por Z N 1 d4 q (k − q)µ kν a A (−q)Aaν (q). σ(k, A) = 2 N − 1 k2 (2π)4 (k − q)2 µ (79) (80) (81) Como o fator de forma σ(k, A) acaba sendo uma função decrescente nos momenta, Gribov 38 impôs a condição σ(0, A) ≤ 1 (82) chamada de condição de não existencia de pólo (do inglês no-pole condition). Desta condição, temos um propagador do ghost sem pólos em valores finitos do momento k. Então, a expressão (79) fica sempre positiva, o que significa que estamos dentro do horizonte de Gribov. O único pólo permitido é em k = 0, que significa que estamos na vizinhança do horizonte, onde o propagador do ghost é singular, por causa dos modos zero do operador de Faddeev-Popov. Então, tendo em vista a condição (82), a maneira de restringir na integral funcional ao primeiro horizonte de Gribov é a uma função degrau Z dβ exp{β (1 − σ(0, A))}. (83) ν(1 − σ(0, A)) = 2πiβ A função de partição, logo após a integração em β, na aproximação de ponto sela [37] ficamos com Z Z = DA δ(∂µ Aµ ) det Mab exp − (SY M + β ∗ σ(0, k)) , (84) onde β ∗ é determinado pela equação do gap Z 3N g 2 d4 k 1 = 1. 4 (2π)4 k 4 + N2g2 2 β ∗ (85) 2(N −1) 2.3 Função Horizonte Como vimos, a restrição no espaço funcional dos campos de calibre nos leva a modificar o peso estatı́stico de tal forma que devemos somar um termo não local que gera modificações na teoria, porém não somos capazes de realizar contas explı́citas com este termo. Depois do trabalho de Gribov, Zwanziger conseguiu implementar a restrição de forma local partindo de um caminho diferente que consiste em estudar o menor autovalor do operador de Fadeev-Popov. Ele mostrou usando a equivalência entre os ensembles canônico e microcanônico no limite termodinâmico, que a restrição ao horizonte poderia ser feita acrescentando um termo não local na ação de Yang-Mills. O termo conhecido como função horizonte é dado Z Z ab 4 2 (86) H = d x h(x) = g d4 xd4 y f abc Abµ (x) M−1 (x, y)f dec Aeµ (y) . 39 Então, a função de partição, no limite termodinâmico V → ∞, em uma aproximação que exige que o traço do operador de Faddeev-Popov seja positivo, fica da forma Z Z = DA δ(∂µ Aµ ) det(Mab ) exp −(SYM + γ 4 H − 4(N 2 − 1)γ 4 ) , (87) onde o parâmetro massivo γ é um parâmetro dinâmico determinado de forma autoconsistente através da condição de horizonte hh(x)i = 4(N 2 − 1) . que a primeira ordem fica na forma Z d4 k 1 3N g 2 =1 4 4 4 (2π) k + 2N g 2 γ 4 (88) (89) que podemos identificar na expressão (85) com β ∗ , onde β ∗ = 4(N 2 − 1)γ 4 . De fato, Gribov e Zwanziger seguiram caminhos diferentes para resitringir a integração na região de Gribov, e suas prescrições coincidem. Foi mostrado explicitamente em [73] a equivalência entre a função horizonte H e o fator de forma do campo fantasma σ(0, k) a todas as ordens em teoria de perturbações, ou melhor dizendo, uma equivalência exata entre a nopole condition feita por Gribov e a condição de existência do horizonte de Zwanziger. No trabalho de Gribov é feita a expansão do fator de forma até segunda ordem na expansão do propagador dos ghosts, pois seu interesse era na modificação do propagador dos glúons. Em uma aproximação de primeira ordem, a função horizonte fica Z H≈ d4 x Aµ 1 Aµ , ∂2 (90) que é suficiente para se verificar a modificação do propagador de glúons, tal como desejava Gribov em seu trabalho. De fato, Zwanziger em seu trabalho consegue ressomar toda a série [45]. Ao restringir o espaço funcional introduzindo o corte (83) no espaço dos campos de calibre estamos afetando o peso estatı́stico na integral de caminho. Esta alteração deve garantir que a integração ocorra para configurações que estão na primeira região de Gribov. Sendo assim, o propagador do campo de calibre Aµ ao nivel árvore fica k2 kµ kν ab a b hAµ (k)Aν (−k)i = δ 4 δµν − 2 . (91) k + 2N g 2 γ 4 k Este propagador tem caracterı́sticas interessantes como ser nulo no limite infravermelho. Outra caracterı́stica é o fato deste propagador possuir pólos imaginários, indicando que o glúon não pertence ao espectro fı́sico de Yang-Mills. Além dos pólos, este propagador viola a positividade, que é um forte indı́cio de confinamento [44]. Olhando agora para o propagador dos ghosts, vemos que este também se altera. Ao nı́vel árvore, temos, no 40 limite infravermelho, o seguinte comportamento20 : G(k) ∼ 1 , k4 (92) que é mais singular do que na quantização de Faddeev-Popov, na qual o propagador de ghost vai como 1/k 2 . Isto indica forças de longo alcance [12]. 2.4 A ação de Gribov-Zwanziger Finalmente, precisamos saber o comportamento quântico da ação de Yang-Mills com a restrição à região de Gribov. Como vimos, ao impor o horizonte, devemos acrescentar à ação de Yang-Mills, além dos termos de fixação de calibre de Faddeev-Popov, um termo não local que é a função horizonte de Zwanziger, eq.(86). Isso define a ação do modelo de Gribov-Zwanziger21 : SGZ = SYM + Sgf + γ 4 H − 4(N 2 − 1)γ 4 . (93) Logo, a função de partição da teoria é: Z ZGZ = DADc̄DcDb e−SGZ . (94) O primeiro problema com o qual temos que lidar é com a não localidade da função horizonte. Para tanto, precisamos tentar localizar este termo. De fato, exite uma maneira de fazer isso que é através do uso de campos auxiliares na forma de quarteto de BRST, tal como descrito no capı́tulo anterior. O primeiro passo, é introduzir um par de campos ab bosônicos complexos {ϕ̄ab µ , ϕµ }, o que nos permite escrever: e −γ 4 H Z = Z 4 ac ab bc 2 abc ac ac b Dϕ̄Dϕ (det M) exp − d x[ϕ̄µ M ϕµ + γ gf (ϕµ − ϕ̄µ )Aµ ] . f (95) O determinante (det M)f , onde f = 4(N 2 − 1), também pode ser localizado usando campos vetoriais compexos anticomutantes {ω̄µab , ωµab }: f (det M) = Z Z 4 ac ab bc Dω̄Dω exp − d x ω̄µ M ωµ . (96) 20 Este resultado não estão de acordo com os resultados encontrados com a QCD na rede. Porém, devemos ainda levar em conta o efeito dos condensados que é feito na teoria GZ aprimorada, que iremos discutir no próximo capı́tulo. 21 Sobre a estabilidade na ação de Gribov-Zwanziger veja em [13, 14] 41 Assim, obtemos a versão local da ação de Gribov-Zwanziger: local local SGZ = SYM + Sgf + SH , Z local ab bc ac ab bc SH = d4 x[ϕ̄ac µ M ϕµ − ω̄µ M ωµ ] Z 2 ac b 2 4 −γ d4 x g f abc (ϕac − ϕ̄ )A µ µ µ − 4(N − 1)γ . (97) De acordo com o que foi mencionado no capı́tulo anterior a respeito dos quartetos de BRST, não queremos introduzir novos graus de liberdade em consequência da introdução dos campos auxiliares. Dessa forma, esses campos devem obedecer a uma estrutura de quarteto: ab sϕab µ = ωµ , sωµab = 0 , sω̄µab = ϕ̄ab µ , sϕ̄ab µ = 0. (98) A partir destas transformações, podemos também escrever a ação de Gribov-Zwanziger como Z 1 a a a a ac ab bc local 4 (99) SGZ = d x Fµν Fµν + s(c̄ ∂µ Aµ − ω̄µ ∂ν Dν ϕµ ) + Sγ , 4 onde Sγ é dado por Z 2 ac b 2 4 Sγ = −γ d4 x gf abc (ϕac µ − ϕ̄µ )Aµ − 4(N − 1)γ . (100) 2.4.1 Quebra soft da simetria BRST Ao localizar a função horizonte usando o conjunto de campos auxiliares deparamo-nos com o seguinte problema: a ação deixa de ser invariante de BRST. De fato, o problema está no termo Sγ , pois anulando este termo, vemos imediatamente que a ação é BRST invariante, ou seja, Z 1 a a local 4 a a ac ab bc sSGZ = s d x Fµν Fµν + s(c̄ ∂µ Aµ − ω̄µ ∂ν Dν ϕµ ) = 0 . (101) 4 γ=0 ab ab ab {ϕ̄ab µ , ϕµ , ω̄µ , ωµ }, A variação de BRST do termo Sγ é explicitamente diferente de zero Z 2 ac sSγ = gγ d4 xf abc Abµ ωµac − (Dµbm cm )(ϕac µ − ϕ̄µ ) 6= 0 . (102) Assim, fica claro que a presença do parâmetro de Gribov na teoria impede que a ação seja invariante de BRST. No entanto, esta quebra, embora explı́cita, é uma quebra dita suave, ou soft, do inglês, significando que a quebra tem dimensão, nos campos, menor que a do 42 espaço (neste caso a dimensão da quebra é dois), podendo então ser desprezada na região ultravioleta profunda, onde recuperamos a simetria BRST exata, assim como a noção de cohomologia do operador de BRST, usada para definir o espectro fı́sico da teoria. No próximo capı́tulo, ficará claro que a quebra não interfere no esquema de renormalização algébrica. Ocorre apenas uma ligeira modificação da identidade de Slavnov-Taylor, que agora apresenta um termo de quebra, que, sendo suave, pode ser controlado. O efeito da quebra surge na região não perturbativa, onde o termo de quebra não pode ser ignorado. A presença da quebra está intimamente relacionada com a perda da unitariedade do setor gluônico na região infravermelha, que, por sua vez, é um indı́cio de confinamento dos glúons. 2.5 Discussão Neste capı́tulo falamos das ambiguidades de Gribov, provenientes da simetria residual inerente ao processo de fixação de calibre de Faddeev-Popov. Para tentar contornar este problema, seguimos os passos propostos por Gribov [37] que é o de restringir o domı́nio de integração da integral de caminho de Feynman a uma região do espaço dos campos de calibre que é supostamente livre cópias de calibre. Esta região é chamada de região de Gribov que, na verdade, não é inteiramente livre de cópias. Porém, de acordo com o que foi discutido, esta região pode ser definida operacionalmente em alguns calibres, como o de Landau, fato que não ocorre com a região modular fundamental. Por fim, a ação que é encontrada de forma local é a ação de Gribov-Zwanziger. Esta ação seria a forma local de obtermos o comportamento quântico da teoria no limite infravermelho. No entanto, esta ação tem um termo de quebra soft da simetria BRST. De fato, a discussão feita neste capı́ tulo a respeito da quebra soft é apenas o começo de uma análise mais profunda. No próximo capı́tulo, etudaremos com mais detalhes a quebra suave e veremos como esta aparece em outros modelos confinantes além do modelo GZ. 43 3 MODELOS COM QUEBRA SUAVE DE BRST Neste capı́tulo, veremos outras teorias, além da de Gribov e Zwanziger, que também apresentam quebra suave da simetria BRST. São estas: a teoria de Gribov-Zwanziger aprimorada, ou refinada, que chamaremos simplesmente de teoria RGZ devido a sigla adotada em inglês, refined Gribov-Zwanziger theory, e o modelo de réplica. Em particular, no modelo de réplica, mostraremos sua renormalizabilidade e ainda, como obter o espectro fı́sico desta teoria, onde, para tanto, introduz-se um conceito recentemente criado que é o das chamadas i-particles, ou, em tradução livre, partı́culas imaginárias, que recebem este nome por possuirem massas cujos quadrados são números imaginários. 3.1 A quebra suave da simetria BRST O surgimento de um termo de quebra suave da simetria BRST na ação GZ é um fato interessante e merece ser estudado mais a fundo. Antes do inı́cio da análise, é bom lembrar de onde vem esta quebra. Podemos relacionar a transformação de BRST sAaµ = Dµab cb com a transformação de calibre δω Aaµ = Dµab ω b onde ω é o parâmetro de calibre que neste contexto é promovido a campo fantasma no esquema de Faddeev-Popov. Baseados nisso lembremos de uma propriedade da região de Gribov: ” Qualquer transformação de calibre infinitesimal de configurações de campo localizadas no interior da região de Gribov necessariamente dará origem à configurações que estão localizadas fora da região“. Para tentar demonstrar isso tomamos campos de calibre longe da fronteira da região de Gribov e campos de calibre localizados perto da fronteira. Primeiro, para campos longe da fronteira, mas que pertente a região de Gribov, temos que ele respeita a condição de Landau e possui autovalores positivos do operador de Faddeev-Popov. A cópia desse campo é obtida fazendo uma transformação de calibre õ = Aµ + Dµ (A)ω. (103) Supondo que o campo e sua cópia respeitam a condição de Landau temos que Dµ (A)ω = 0 o que contradiz a hipótese de Aµ não estar localizado no horizonte. Portanto não há modo zero compatı́vel. Já com campos próximos a fronteira podemos decompor em Aµ = Cµ +aµ onde Cµ pertence a fronteira e aµ é uma perturbação infinitesimal. Obviamente, estes dois campos também respeitam a condição de Landau. Fazendo uma transformação de calibre obtemos a cópia do campo õ = Cµ + aµ + Dµ (C)ω + ... (104) 44 a primeira ordem. Assim a cópia fica muito próximo a fronteira, onde é imediato concluir que está configuração está fora da região de Gribov. Podemos ver a quebra da simetria de BRST como um reflexo natural disto. Então, para dar inı́cio à análise da quebra soft, consideremos o termo Ssof t , tal que, sSsof t = ∆sof t . Consideremos ainda, a ação de partida S0 de um dado modelo. Podemos então dividir esta ação em dois setores: um setor invariante de BRST, que denotaremos Sinv , e um setor de quebra, que assumimos ser soft. Portanto, a ação de partida é escrita como S0 = Sinv + µ Ssof t , (105) sendo µ um parâmetro. Ao atuarmos o operador de BRST sobre esta, temos sS0 = s(Sinv + µ Ssof t ) = µ∆sof t . (106) Vemos então que o parâmetro µ é o parâmetro da quebra, exercendo o mesmo papel do parâmetro γ 2 na GZ. A questão da dimensão do parâmetro µ é fundamental para esta análise. De um modo geral, ∆sof t é um polinômio local nos campos, integrado em todo o espaço d-dimensional. Se este polinômio tem dimensão inferior a d e lembrando que a ação tem dimensão zero22 , então, necessariamente, o parâmetro µ adquire dimensão de massa não nula e positiva. Assim sendo, podemos reintroduzir o termo de quebra na ação de forma a preservar a simetria BRST, usando um dubleto de fontes externas. Em outras palavras, em lugar da ação S0 , escrevemos S1 = Sinv + s(Q Ssof t ) = Sinv + (sQ) Ssof t − Q sSsof t = Sinv + J Ssof t − Q ∆sof t , (107) sendo sQ = J , sJ = 0 . (108) A ação S0 é obtida então como caso particular de S1 , quando as fontes {Q, J} assumem seus “valores fı́sicos”: J|phys = µ , 22 Q|phys = 0 , S1 |phys = S0 . (109) A densidade lagrageana tem dimensão de massa d e a integral volumétrica tem dimensão −d, fazendo com que a ação, em unidades de ~, seja, como esperado, adimensional. 45 Vemos claramente que o termo S1 é invariante de BRST devido a nilpotência do operador s e, escolhendo adequadamente o sistema de fontes externas, contornamos a quebra. De fato, a escolha do sistema de fontes é fundamental para a questão da renormalizabilidade. Dependendo do modelo, é possı́vel que tenhamos que introduzir mais dubletos de fontes externas, ou quartetos de BRST, porém, o raciocı́nio apresentado acima continua válido. A questão da dimensão de ∆sof t é também importante para a discussão da renormalizabilidade, pois, se a dimensão desta fosse igual a da ação, as fontes teriam dimensões iguais a zero e não poderı́amos controlar polinômios de fontes, em qualquer grau, que apareceriam nos contratermos, ou seja, infinitos contratermos, acabando assim com a renormalizabilidade da teoria. Um caso deste tipo, constituiria uma quebra hard, em lugar de soft, que não poderia ser desprezada na região ultravioleta profunda e iria requerer um outro tratamento. É preciso deixar claro que o que estamos fazendo, na verdade, é imergir a teoria original em uma teoria mais geral, que depende das fontes externas, e ao final, para obter resultados fı́sicos, fazemos com que as fontes colocadas ad hoc sejam postas nos seus “valores fı́sicos”. 3.2 Modelo de Gribov-Zwanziger e sua versão aprimorada (RGZ) 3.2.1 Lidando com a quebra na GZ Relembrando o que foi dito no capı́tulo anterior, a teoria de Gribov-Zwanziger, que leva em consideração a ação de Faddeev-Popov integrada funcionalmente na primeira região de Gribov Z 1 a a local a a 4 ac ab bc SGZ = d x Fµν Fµν + s(c̄ ∂µ Aµ − ω̄µ ∂ν Dν ϕµ ) + Sγ , (110) 4 com Sγ = γ 2 Z ac b d4 x gf abc (ϕac µ − ϕ̄µ )Aµ , possui uma quebra da simetria BRST proporcional a γ 2 : Z ac local 2 d4 x gf abc Abµ ωµac − (Dµbm cm )(ϕac sSGZ = sSγ = γ µ − ϕ̄µ ) . (111) (112) Vejamos então como lidar com essa quebra que, como vimos, é uma quebra suave. De acordo com a discussão paresentada na seção anterior, devemos imergir a teoria original, numa teoria mais geral, dependente de um conjunto adequado de fontes externas. É esta teoria mais geral que será renormalizável e a teoria original será um caso partidular desta. Seguindo os passos de Zwanziger [45, 46], vamos primeiramente introduzir o seguinte 46 Tabela 1 - Númetros quânticos do quarteto de fontes externas Dimensão Número de ghost M M̄ N N̄ 2 0 2 0 2 1 2 −1 Fonte: O AUTOR, 2014. quarteto de fontes externas: ab ab , = Nµν sMµν ab = 0, sNµν ab ab , = M̄µν sN̄µν ab = 0. sM̄µν (113) As respectivas dimensões e os números de ghost das fontes externas se encontram na Tabela 1. A partir deste quarteto de BRST, podemos escrever, em lugar de Sγ , o seguinte: Z Sf ontes = s 4 dx ac −N̄µν Dµab ϕbc ν + ac Mµν Dµab ω̄νbc − ab ab N̄µν Mµν . (114) Este termo é claramente invariante de BRST e tem o termo de quebra Sγ como caso particular quando as fontes assumem os seguintes valores: ab Mµν phys ab = M̄µν phys = γ 2 δ ab δµν , ab Nµν phys ab = N̄µν = 0. (115) phys O fato de termos introduzido um quarteto, em vez de um simples dubleto, está ligado à necessidade de se encontrar a ação mais geral que seja renormalizável. Escolhendo as fontes dessa forma, a ação de partida mais geral tem um conjunto de identidades de Ward capaz de garantir sua renormalizabilidade a todas as ordens. Vale a pena comentar que é possı́vel mostrar as seguintes relações: 1/2 Zc ZA Zg = 1 1/2 e −1/4 Zγ 2 = Zg−1/2 ZA , (116) 1/2 sendo Zc o fator de renormalização do ghost e do antighost, ZA o fator de renormalização do campo de calibre, Zg a renormalização da constante de acoplamento g e Zγ 2 a renormalização do parâmetro de Gribov γ 2 . A primeira relação é o teorema de não renormalização do vértice ghost-gluon-antighost e a segunda relação nos mostra que o parâmetro de Gribov não é um parâmetro independente da teoria. 47 Figura 2 - Propagadores do gluon a esquerda e dressing function a direita. Fonte: MENDES, 2007, p.2. Adaptado pelo autor. 3.2.2 A teoria GZ aprimorada (RGZ) A teoria GZ é uma teoria que lida com a problemática de Gribov através de uma ação local, renormalizável e que possui um propagador confinante, violando a positividade e indo a zero a momento nulo, como se pode inferir da expressão abaixo: hAaµ (k)Abν (−k)i k2 =δ 4 k + 2N g 2 γ 4 ab kµ kν δµν − 2 . k (117) Entretanto, infelizmente, este não é exatamente o comportamento encontrado em simulações numéricas na rede [55, 57]. Antes, em trabalhos mais antigos [58], as simulações diziam que o propagador de glúons violava a positividade e era suprimido no setor infravermelho, sendo nulo a momento zero. No entanto, resultados mais recentes [55, 58] indicam que este é suprimido no infravermelho, viola a positividade, mas não é nulo à momento zero. Além disso, observou-se que o propagador dos campos fantasma têm uma divergência mais fraca do que aquela obtida no capı́tulo anterior, onde mostramos que o propagador de ghosts se comportava como 1/k 4 no regime de baixas energias. A proposta feita ao modelo de Gribov-Zwanziger, para tentar salvá-lo, foi a de incluir condensados de dimensão dois como forma de adicionar efeitos não perturbativos, gerando outros parâmetros de massa para os glúons e para os campos auxiliares23 . Surgiu então 23 Os efeitos não perturbativos dos condensados de dimensão dois nas teorias de Yang-Mills já eram conhecidos e haviam sido largamente estudados na literatura [48–54]. Em particular, pelos grupos da Uerj (Sorella, S. P. et al) e de Ghent (Dudal, D. et al), na Bélgica. 48 o modelo de Gribov-Zwanziger aprimorado, que chamaremos daqui para frente de RGZ (do inglês refined Gribov-Zwanziger), onde a ação é dada por 2 Z m a a local 4 2 ab ab ab ab SRGZ = SGZ + d x A A − M (ϕ̄µ ϕµ − ω̄µ ωµ ) . (118) 2 µ µ Esta mudança nos leva a um propagador hAaµ (k)Abν (−k)i k2 + M 2 =δ 4 k + (M 2 + m2 )k 2 + λ4 ab kµ kν δµν − 2 , k (119) onde λ4 = 2g 2 N γ 4 + M 2 m2 , que está de acordo com simulaçoes numéricas. Esta mudança gera uma modificação também no propagador dos ghosts, estando também em acordo com os dados da rede [55,58,74,87]. Notemos ainda que o parâmetro M 2 vem da condensação ab ab ab do operador (ϕ̄ab µ ϕµ − ω̄µ ωµ ), que é BRST invariante, ao contrário dos demais operadores que estão ligados aos parâmetros m2 e γ 2 . Este parâmetro só faz sentido na teoria na presença do termo de quebra, Sγ , pois, se fizermos m2 e γ 2 iguais a zero, podemos facilmente conferir que M 2 desaparece automaticamente da expressão do propagador de glúons e reobtemos o propagador perturbativo da teoria. 3.3 O modelo de réplica O modelo de réplica, como veremos em detalhes ao longo desta seção, recebe este nome devido ao fato de termos, como ponto de partida, duas teorias de calibre independentes (uma sendo a replicação da outra) ligadas por um termo de quebra soft da simetria BRST. O modelo surgiu originalmente em [47], sendo um modelo local e renormalizável, onde é possı́vel estudar aspectos do confinamento e ainda levar em conta os efeitos das cópias de Gribov. No entanto, tal como é dito em [47], não podemos afirmar que este modelo é equivalente, ou alternativo, ao modelo de Gribov-Zwanziger, ou seja, que os dois modelos dão origem à mesma fı́sica. Porém, podemos, e devemos, alertar que a principal motivação para o estudo deste modelo é a investigação das consequências da quebra soft da simetria de BRST em uma teoria confinante que exibe um propagador de glúons tipo Gribov. Uma grande vantagem deste modelo é que podemos introduzir operadores correspondentes aos estados das glueballs mais leves (0++ , 2++ , 0−+ ) de forma consistente24 . 24 Essa classificação das glueballs é dada através dos números quânticos arranjados na forma J P C , onde J é o momento angular total, C a conjugação de carga e P a paridade. 49 3.3.1 Construção da ação do modelo Para construir a ação do modelo de réplica, nosso ponto de partida será a ação de Faddeev-Popov no calibre de Landau, que vimos no capı́tulo sobre introdução à teoria de Yang-Mills, Z SFP = 4 dx 1 a a Fµν (A)Fµν (A) + iba ∂µ Aaµ + c̄a ∂µ Dµab (A)cb 4 . (120) a Note-se que nesta expressão, estamos frisando que Fµν (A) e Dµab (A) são funcionais do campo de calibre Aaµ : a Fµν (A) = ∂µ Aaν − ∂ν Aaµ + gf abc Abµ Acν , Dµab (A) = δ ab ∂µ − gf abc Acµ . (121) Isto será importante para que não ocorra confusão na notação. O próximo passo é considerar uma segunda teoria de calibre, também quantizada no calibre de Landau, porém com a mesma constante de acoplamento da teoria descrita pela ação (120). Em outras palavras, essa segunda teoria é uma replicação da primeira e será escrita com o conjunto de campos {Uµa , b̄a , ω a , ω̄ a }: Z SFP2 = 4 dx 1 a a U (U )Uµν (U ) + ib̄a ∂µ Uµa + ω̄ a ∂µ Dµab (U )ω b 4 µν . (122) Fica claro que: o campo Uµa é um campo de calibre com mesmo papel que Aaµ ; o campo b̄a é um multiplicador de Lagrange, tal como o ba , implementando o calibre de Landau; {ω a , ω̄ a } são, respectivamente, os campos de ghost e antighost de Faddeev-Popov desta teoria replicada, assim como {ca , c̄a } são os ghosts de Faddeev-Popov da teoria (120). Além disso, temos que: a Uµν (U ) = ∂µ Uνa − ∂ν Uµa + gf abc Uµb Uνc , Dµab (U ) = δ ab ∂µ − gf abc Uµc . (123) Suponha agora que as duas teorias (120) e (122) são acopladas, suavemente, uma a outra através do termo √ 2Z 4 d x Aaµ Uµa , (124) Sv = i 2v onde v é um parâmetro de massa que irá desempenhar um papel muito parecido com o do parâmetro que Gribov na ação de Gribov-Zwanziger [37,45,65]. O então chamado modelo 50 de réplica é descrito pela ação Sréplica = SFP + SFP2 + Sv Z √ 1 a 1 a a a 4 (A) + Uµν (U ) + i 2v 2 Aaµ Uµa (U )Uµν Fµν (A)Fµν = dx 4 4 a a a ab b a a a ab b +ib ∂µ Aµ + c̄ ∂µ Dµ (A)c + ib̄ ∂µ Uµ + ω̄ ∂µ Dµ (U )ω . (125) A primeira caracterı́stica interessante que salta aos olhos neste modelo são os propagadores dos campos de calibre: hAaµ (k)Abν (−k)i k2 =δ 4 k + 2v 4 kµ kν δµν − 2 , k hUµa (k)Uνb (−k)i k2 =δ 4 k + 2v 4 , (127) hAaµ (k)Uνb (−k)i √ kµ kν −i 2v 2 =δ 4 δµν − 2 . k + 2v 4 k (128) ab ab ab δµν kµ kν − 2 k (126) Estes propagadores têm o mesmo caráter confinante visto em Gribov, que correspondem a excitações não fı́sicas, não possuindo pólo de Lorentz. Note-se ainda, como o parâmetro v 2 é análogo ao parâmetro de Gribov. A segunda caracterı́stica deste modelo é que este contém somente uma única constante de acoplamento g. Ambos campos Aaµ e Uµa interagem com o mesmo acoplamento. O fato de terem a mesma constante de acoplamento nos leva a uma simetria discreta que reflete a simetria de réplica. Isto leva a uma invariância na ação (125) pelas seguintes transformações: Aaµ → Uµa , Uµa → Aaµ , ba → b̄a , b̄a → ba , ca → ω a , ω a → ca , c̄a → ω̄ a , ω̄ a → c̄a . (129) Esta simetria significa que os campos {Aaµ , ba , c̄a , ca } podem ser trocados por {Uµa , b̄a , ω̄ a , ω a }, e vice-versa. Esta simetria desaparece imediatamente quando muda-se uma das constantes. A terceira caracterı́stica da ação (125) é a existência da quebra soft de BRST. Sendo 51 as tranformações BRST dadas por sAaµ sca sc̄a sba = −Dµab (A)cb g abc b c = f cc 2 = iba = 0 sUµa sω a sω̄ a sb̄a = −Dµab (U )ω b g abc b c = f ωω 2 = ib̄a = 0 (130) a quebra suave da ação de réplica é: sSréplica = v 2 ∆quebra , (131) onde ∆quebra √ Z 4 = −i 2 d x Uµa Dµab (A)cb + Aaµ Dµab (U )ω b , (132) que é um polinômio de dimensão dois nos campos integrado no 4-volume. 3.3.2 Introduzindo o conceito de i-particles Façamos agora uma observação interessante a respeito dos propagadores tipo Gribov. É fácil verificar que os propagadores (126) e (127) podem ser reescritos na forma: k2 1 = 4 4 k + 2v 2 1 1 √ √ + 2 2 2 k + i 2v k − i 2 v2 . (133) Ou seja, um propagador tipo Gribov pode ser visto como a propagação de dois modos não fı́sicos cujas massas são mais que seus quadrados são números imaginários, i.e., m2± = √ ±i 2 v 2 . Estes modos não fı́sicos foram então batizados como i-particles, ou, “partı́culas imaginárias” [72]. Para escrevermos a ação em termos das i-particles devemos fazer uma mudança de váriaveis nos campos de calibre Aaµ e Uµa . Isto equivale a diagonalizar a ação. Tomemos então a forma quadrática da ação (125) do modelo de réplica: Z √ 2 a a 1 a 1 a quad 4 2 a 2 a Sréplica = d x A (−∂ )Aµ + Uµ (−∂ )Uµ + i 2v Aµ Uµ , (134) 2 µ 2 onde já levamos em conta o calibre de Landau para ambos campos. Utilizando a trans- 52 formação nos campos 1 λaµ = √ Aaµ + Uµa , 2 1 ηµa = √ Aaµ − Uµa . 2 (135) temos a ação quadrática em termos das i-particles: quad Si−particles Z 4 = dx √ √ 1 a 1 λµ (−∂ 2 + i 2v 2 )λaµ + ηµa (−∂ 2 − i 2v 2 )ηµa 2 2 , (136) que descreve a propagação de dois modos não fı́sicos cujos propagadores são dados por 1 h(Aaµ (k) + Uµa (k))(Abν (−k) + Uνb (−k))i 2 1 kµ kν ab √ = δ , δµν − 2 k k 2 + i 2v 2 1 hηµa (k)ηνb (−k)i = h(Aaµ (k) − Uµa (k))(Abν (−k) − Uνb (−k))i 2 kµ kν 1 ab √ δµν − 2 = δ . k k 2 − i 2v 2 hλaµ (k)λbν (−k)i = (137) (138) Vemos assim, que a ação 125 tem uma interpreção direta em termos das i-particles. Como visto em [72], a vantagem de se introduzir os campos {λaµ , ηµa } baseia-se no fato de que eles se tornam úteis na construção dos operadores compostos locais cuja função de correlação a 1-loop exibe uma representação espectral de Källén-Lehmann correspondente. Ou seja, integrais tı́picas como 2 I(k ) = Z 1 d4 p √ √ , 4 2 (2π) (k − p) + i 2v 2 p2 − i 2v 2 (139) possuem uma uma representação espectral [72]: Z 2 I(k ) − I(0) = ∞ √ 2 2v 2 dτ ρ(τ ) 1 1 − τ + k2 τ , (140) onde a densidade espectral ρ(τ ) é dada 1 ρ(τ ) = 16π 2 √ τ 2 − 8v 4 , τ (141) e é positiva no domı́nio de integração25 . O fato de podermos reescrever o modelo em 25 A subtração do fator I(0) em (140) é necessária para levar em consideração o carater divergente da expressão (139) em 4 dimensões. 53 termos de i-particles nos permite introduzir operadores com propriedades analı́ticas correspondentes as da integral (139) [72]. Como exemplo, seja o operador Oλη = ∂µ λaν − ∂ν λaµ ∂µ ηνa − ∂ν ηµa , (142) visto em [72], cuja função de correlação a dois pontos pode ser escrita na forma espectral: Z ∞ ρ(τ ) dτ hOλη (k)Oλη (−k)i = , √ τ + k2 2 2v 2 √ τ 2 − 8v 4 (8v 4 + τ 2 ) 2 . (143) ρ(τ ) = 12(N − 1) 32π 2 τ 3.3.3 Renormalizabilidade e teoremas de não renormalização Vamos adotar o procedimento da renormalização algébrica utilizando o mesmo procedimento feito na teoria de Gribov-Zwanziger convencional e na aprimorada (RGZ), onde fontes externas são utilizadas. 3.3.3.1 Obtendo a ação inicial Para escrever as identidades de Ward precisamos levar em conta primeiramente, as fontes acopladas a simetrias não lineares eq. (130): Z h i Sexternal = d4 x Ωaµ (sAaµ ) + La (sca ) + Ω̄aµ (sUµa ) + L̄a (sω a ) Z g abc a b c g abc a b c a ab b 4 a ab b = d x −Ωµ Dµ (A)c + f L c c − Ω̄µ Dµ (U )ω + f L̄ ω ω .(144) 2 2 Pela simetria de réplica (129) podemos extender para as fontes de BRST Ωaµ → Ω̄aµ , Ω̄aµ → Ωaµ , La → L̄a , L̄a → La . (145) Agora, precisamos adicionar o dubleto de BRST de fontes externas26 sK ab = J , 26 sJ ab = 0 , (146) Fontes com dois ı́ndices de cor evitam o aparecimento de termos no contratermo da forma Aaµ Aaµ +Uµa Uµa . 54 e escrevemos o termo BRST invariante Z Z h i 4 ab a b SJ = s d x K Aµ Uµ = d4 x J ab Aaµ Uµa + K ab (Dµac (A)cc )Uµb + K ab Aaµ Dµbc (U )ω b . (147) O termo soft Sv pode ser recuperado fazendo em SJ os seguintes limites fı́sicos nas fontes J ab e K ab √ J ab phys = i 2v 2 δ ab , K ab phys = 0 , SJ phys = Sv . (148) A invariancia na simetria de réplicas é garantida se J ab → J ba , K ab → K ba . Para fins de renormalização, devemos introduzir os termos extras Z ζ 4 ab ab abc ad bd c abc da db c s d x K J − gf K K c − gf K K ω Sextra = 2 Z 1 ab ab 4 J J − gf abc J ad K bd cc − gf abc J da K db ω c = ζ dx 2 2 g abc cmn ad bd m n g 2 abc cmn da db m n − f f K K c c − f f K K ω ω . 4 4 (149) (150) que não estragam a teoria quando tomados os limites fı́sicos. Aqui, ζ é um parametro, quando o valores fisicos são tomados, o único termo que sobrevive é o termo de vacuo de GZ Sextra phys = −ζ(N 2 − 1)v 4 V , (151) onde V é o volume 4-dimensional euclideano. O ponto de partida para a análise da renormalizabilidade é a ação Σ = SFP + SMFP + Sexternal + SJ + Sextra (152) 3.3.3.2 Identidades de Ward • Equações provenientes da fixação de calibre: δΣ = i∂µ Aaµ , δba δΣ = i∂µ Uµa . δ b̄a (153) 55 • Equação de movimento dos antighosts c̄a e ω̄ a : δΣ δΣ + ∂ = 0, µ δc̄a δΩaµ δΣ δΣ = 0. + ∂ µ δ ω̄ a δ Ω̄aµ (154) • Identidade de Slavnov-Taylor: Z S(Σ) = δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ + a a+ a a + a a a a δAµ δΩµ δUµ δ Ω̄µ δc δL δω δ L̄ δΣ δΣ δΣ = 0. +iba a + ib̄a a + J ab δc̄ δ ω̄ δK ab 4 dx (155) • Simetria rı́gida: Z δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ + bb c + c̄b c + cb c + Ωbµ c c δAµ δb δc̄ δc δΩµ δΣ δΣ δΣ +Lb c + J bd cd + K bd = 0, δL δJ δK cd Z δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ a abc 4 W (Σ) = gf d x Uµb c + b̄b c + ω̄ b c + ω b c + Ω̄bµ c δUµ δ ω̄ δω δ Ω̄µ δ b̄ δΣ δΣ δΣ +L̄b c + J db dc + K db = 0. δJ δK dc δ L̄ a W (Σ) = gf abc 4 d x Abµ (156) (157) Estas simetrias impõem que que o primeiro ı́ndice de cor das fontes J ab e K ab podem ser contraı́dos únicamente com os campos da famı́lia de campos A, isto é, (Aaµ , ba , c̄a , ca , Ωaµ , La ), enquanto o segundo ı́ndice pode ser contraı́do com a famı́lia de campos replicados, (Uµa , b̄a , ω̄ a , ω a , Ω̄aµ , L̄a ). Termos com a forma J ab Aaµ Abµ e J ab Uµa Uµb são proibidos no contratermo final. • Equações de movimento dos ghosts ca e ω a : a ¯a , G (Σ) = ∆ class G a (Σ) = ∆aclass , (158) onde G a ∆aclass δ abc b δ abc bd δ = dx − igf c̄ c + gf K , δca δb δJ cd Z g cmn b md nd 4 abc b c b c = d xf Ωµ Aµ − L c + f cK K , 2 Z 4 (159) (160) 56 e G a ¯a ∆ class δ abc b δ abc db δ = dx , − igf ω̄ c + gf K δω a δJ dc δ b̄ Z g cmn b dm dn 4 abc b c b c . = d xf Ω̄µ Uµ − L̄ ω + f ωK K 2 Z 4 (161) (162) • Simetria SL(2, R) : δΣ δΣ a δΣ D(Σ) = d x c a − i a a = 0, δc̄ δb δL Z δΣ δΣ 4 a δΣ D(Σ) = dx ω − i a a = 0. δ ω̄ a δ b̄ δ L̄ Z 4 (163) (164) 3.3.3.3 Caracterização do Contratermo Para obter o contratermo invariante mais geral perturbarmos a ação Σ, Σ → Σ + Σc , (165) com sendo um parâmetro perturbativo de expansão, e impomos que a ação perturbada obedece as mesmas identidades da ação não perturbada. Isto impõe os seguintes vı́nculos para o contratermo Sc : δ Σc = 0 , δba δ Σ = 0, a c δ b̄ δ δ + ∂ Σc = 0 , µ δc̄a δΩaµ δ δ + ∂µ a Σc = 0 , δ ω̄ a δ Ω̄µ SΣ Σc = 0 , W a Σc = 0 , a W Σc = 0 , G a Σc = 0 , a G Σc = 0 , DΣ Σc = 0 , D Σ Σc = 0 , (166) 57 onde SΣ , DΣ e DΣ são os operadores linearizados: Z δΣ δ δΣ δ δΣ δ δΣ δ δΣ δ δΣ δ 4 + + + a a+ a a SΣ = dx + a a a a a a a a δAµ δΩµ δΩµ δAµ δUµ δ Ω̄µ δ Ω̄µ δUµ δc δL δL δc δΣ δ δ δ δ δΣ δ + a a + a a + iba a + ib̄a a + J ab , δω δ L̄ δc̄ δ ω̄ δK ab δ L̄ δω Z δΣ δ δΣ δ 4 a δ DΣ = d x c a −i a a −i a a , δc̄ δb δL δL δb Z δΣ δ δΣ δ 4 a δΣ DΣ = dx ω −i a a −i a a . δ ω̄ a δ L̄ δ b̄ δ b̄ δ L̄ (167) (168) (169) O contratermo mais geral Σc , que obedece as equações (166) e a simetria de espelho é dado por Z n 4 Σc = a0 (SYM [A] + SYM [U ]) + SΣ d x a1 [(Ωaµ + ∂µ c̄a )Aaµ + (Ω̄aµ + ∂µ ω̄ a )Uµa ] o a3 ζ ab ab (K J − gf abc K ad K bd cc − gf abc K da K db ω c ) . (170) +a2 K ab Aaµ Uµb + 2 3.3.4 Fatores de renormalização Resta saber como o contratermo invariante (170) pode ser reabsorvido através da redefinição de parâmetros, campos e fontes na ação clássica Σ, de acordo com 1/2 φ0 = Zφ φ , Φ0 = ZΦ Φ , (171) onde φ ≡ {A, U, b, b̄, c, ω, c̄, ω̄} , Φ ≡ {g, ζ, Ω, Ω̄, L, L̄, J, K} , (172) de modo que Σ[φ0 , Φ0 ] = Σ[φ, Φ] + Σc [φ, Φ] + O(2 ) . (173) Por inspeção direta, os fatores que são encontrados são −1/2 1/2 ZU = Zb 1/2 Zc 1/2 = Zc̄ 1/2 = Zω 1/2 = Zω̄ −1/2 = Zb̄ 1/2 = ZA , −1/2 = ZΩ = ZΩ̄ = ZL −1/2 ZK = ZJ Zg 1/4 ZA , −1/2 = ZL̄ −1/2 = Zg −1/4 ZA , (174) 58 com a0 + 2a1 , 2 a0 = 1− , 2 = 1 − (a0 − a2 ) , 1/2 ZA = 1+ Zg ZJ Zζ = 1 + (2a0 − 2a2 + a3 ) . (175) As eqs. (308), (174), (175) mostram que o contratermo Σc pode ser reabsorvido por uma redefinição de campos parametros e fontesna ação inicial Σ, estabelecendo então a renormalizabilidadeda teoria. 3.3.5 Não-renormalização do parâmetro massivo v 2 O teorema de não renormalização do parâmetro v 2 não pode ser encontrado pois não há nenhuma identidade de Ward que nos fornece esta informação. É provavel que haja esta identidade mas não fomos capazes de encontrá-la. Nesta seção mostraremos com argumentos gráficos que o termo √ (J ab Aaµ Uµa )phys = i 2v 2 Aaµ Uµa (176) não se renormaliza. Em outras palavras, mostraremos que (v 2 Aaµ Uµa )0 = v 2 Aaµ Uµa , (177) que implica que Zv2 = ZA−1 , (178) e a2 = −2a1 em (175). Primeiro vamos prestr atenção a função de Green a dois pontos 1PI do campo Aaµ a 1-loop (resultados equivalentes são obtidos para o campo replica Uµa ). Neste caso, o contratermo v 2 Aaµ Aaµ pode surgir de um tadpole. O diagrama é visto como Z I= q2 dd q , (2π)d q 4 + 2v 4 (179) onde d = 4 − ε. a integral I pode ser reescrita como Z I= dd q 1 − 2v 4 d 2 (2π) q Z d4 q 1 . 4 2 4 (2π) q (q + 2v 2 ) (180) 59 A primeira integral é zero usando a regularização dimensional. A segunda é convergente na região ultravioleta por contagem de potência e o limite d = 4 pode ser tomado. Podemos então dizer que o contratermo na forma v 2 Aaµ Aaµ não existe. Um cálculo similar pode ser feito para função a dois pontos mista dos campos A-U para provar que o contratermo v 2 Aaµ Uµa também não é necessário. Contudo, graças ao comportamento do propagador misto, os graficos a 1-loop sao convergentes no limite UV por contagem de potência. Então, o termo de massa que aparece na ação não se renormaliza e, como consequência, todas as possı́veis divergências que occorrem neste modelo são todas familiares da teoria de Yang-Mills no calibre de Landau quando v 2 = 0. De fato, as integrais relevantes neste caso são do tipo Z I(k) = √ √ dd q −i 2v 2 −i 2v 2 . (2π)d q 4 + 2v 4 (q − k)4 + 2v 4 (181) 3.3.6 Inclusão dos condensados Para se obter o análogo do modelo RGZ, teremos que incluir condensados de dimensão 2 para obter os propagadores correspondentes. Podemos introduzir na ação Σ o termo de massa Z 2 4 m (Aaµ Aaµ + Uµa Uµa ) . (182) Sm = d x 2 Este termo de massa modifica o comportamento dos propagadores para a forma k 2 + m2 kµ kν ab δ δ − , µν (k 2 + m2 )2 + 2v 4 k2 k 2 + m2 kµ kν a b ab hUµ (k)Uν (−k)i = δ δµν − 2 , (k 2 + m2 )2 + 2v 4 k √ 2 kµ kν −i 2v ab δ δ − . hAaµ (k)Uνb (−k)i = µν (k 2 + m2 )2 + 2v 4 k2 hAaµ (k)Abν (−k)i = (183) Este termo também é invariante frente a simetria de réplica (129) e sob a simetrias rı́gidas (156) e (157). Logo, pode ser introduzido na teoria de forma BRST invariante com a introdução de um dubleto de BRST de fontes externas sλ = σ , sσ = 0 , (184) 60 como segue: Z ξ 4 a a a a Sσ = s d x λ(Aµ Aµ + Uµ Uµ ) − λσ 2 Z 1 ξ = d4 x σ(Aaµ Aaµ + Uµa Uµa ) + λ(Aaµ ∂µ ca + Uµa ∂µ ω a ) + σ 2 , 2 2 (185) onde o ultimo termo no lado direito da equação acima é permitido por contagem de potência e ξ um parâmetro constante. Então, obtemos o termo inicial quando σ phys = m2 , λphys = 0 . (186) Agora então, podemos definir a ação Σ0 = Σ + S σ , (187) que possui uma identidade de Ward extra Z 4 dx 0 0 δΣ0 a δΣ a δΣ − ic a − iω a δλ δb δ b̄ = 0. (188) Daı́, o contratermo mais geral de Σ0 é dado por : Σ0c Z = Σc + d4 x a 1 2 σ(Aaµ Aaµ + Uµa Uµa ) + a4 ξ 2 σ . 2 (189) E este termo pode ser reabsorvido na ação Σ0 quando escrevemos os fatores da forma −1/2 σ0 = Zg ZA σ, −1/4 λ0 = Zg1/2 ZA λ, ξ0 = [1 + (2a0 + 2a1 + a4 )] ξ , (190) em adição com os fatores já encontrados (174) e (175). 3.3.7 Construção dos operadores compostos locais BRST invariantes Os operadores de glueballs, no sentido da teoria quantica de campos, criam estados do vácuo. Glueballs são estados compostos de glúons que não possuem cores, invariantes de calibre, e são completamente caracterizadas por seu momento angular total (J), conjugação de carga (C) e paridade (P ). Portanto, um estado de glueball é representado por um operador composto local BRST invariante com os números quânticos J P C [59, 75, 88]. No que se segue, vamos olhar para a construção destes operadores BRST invariantes que descrevem os estados mais leves de glueballs, que são os estados J P C = 0++ , 2++ , 0−+ , e cujas funções de correlação possuem boas propriedades analı́ticas. Como já visto no exemplo visto anteriormente , este requisito pode ser obtido olhando para operadores 61 locais que devem ser escritas como i-particles. Para os estados com números quânticos J P C = 0++ , 0−+ estes operadores são facilmente identificados em [47] e são dados por 1 a a a a (x) , (x)Uµν (x) − Uµν Fµν (x)Fµν 2 1 a a a a O0−+ (x) = (x) . (x)Uρσ (x) − Uµν (x)Fρσ εµνρσ Fµν 2 O0++ (x) = (191) (192) Usualmente, o estado 2++ é associado com o tensor momento-energia, porém este não pode ser escrito em termos de i-particle. Apesar disso, conseguimos contruir um estado puro de 2++ exigindo-se que este seja simétrico, com traço nulo e um tensor conservado. Deve ser simétrico pois possui momento angular total 2, deve ter traço nulo pois caso contrátio, seu traço estaria associado com a glueball escalar e o tensor deve ser conservado pois, caso contrário, sua divergência estaria associada a glueball vetorial. Para construir este operador, usamos o procedimento feito em [88], e considerar o operador local 1 a a a a [O2++ (x)]µν = Pµα Pνβ − Pµν Pαβ Fασ (x)Fβσ (x) − Uασ (x)Uβσ (x) , (193) 3 onde Pµν ≡ δµν ∂ 2 − ∂µ ∂ν é o projetor transverso. Este operador pode ser escrito em termos de i-particles possuindo as caracterı́sticas descritas acima. Como visto anteriormente, fazendo a mudança para os campos de i-particles: Aaµ = Uµa = √1 2 1 √ 2 λaµ + ηµa λaµ − ηµa . (194) (195) os tensores, a 1-loop, possuem uma expressao similar para os tensores eletromagnéticos a Fµν = a Uµν = √1 2 √1 2 a λaµν + ηµν a , λaµν − ηµν (196) (197) onde λaµν = ∂µ λaν + ∂ν λaµ (198) a ηµν = ∂µ ηνa + ∂ν ηµa . (199) Os operadores de glueballs, a primeira ordem, assumem a forma a O0++ (x) = λaµν (x)ηµν (x) , 1 a a [O2++ (x)]µν = Pµα Pνβ − Pµν Pαβ λaασ (x)ηβσ (x) + ηασ (x)λaβσ (x) , 3 1 a a O0−+ (x) = εµνρσ λaµν (x)ηρσ (x) + ηµν (x)λaρσ (x) . 2 (200) (201) (202) 62 3.3.7.1 Representação Espectral de Kallen-Lehmann dos operadores de Glueballs As funções de correlação a 2 pontos destes operadores exibem uma representação espectral Källén-Lehmann a ordem mais baixa em teoria de perturbações. Relembrando os propagadores da i-paricles 1 kµ kν a b ab √ hλµ (k)λν (−k)i = δ δµν − 2 , (203) k k 2 + i 2v 2 1 kµ kν a b ab √ , (204) hηµ (k)ην (−k)i = δ δµν − 2 k k 2 − i 2v 2 hλaµ (k)ηνb (−k)i = 0 . (205) que correspondem aos progagadores (126),(127) e (128). A 1-loop, as funções a dois pontos contruı́das dos operadores de glueballs possuem a forma Z d4 p 1 1 √ √ fi (p, k − p) . hOi (k)Oi (−k)i = (206) 4 2 2 2 (2π) (k − p) + i 2v p − i 2v 2 onde fi (p, k − p), para i = 0++ , 2++ , 0−+ são polinômios em termos dos momentos (k, p). Há muitas formas para mostrar que as expressões das funções a dois pontos exibem uma representação espectral de Källén-Lehmann, que possui a forma Z ∞ ρi (τ ) . (207) hOi (k)Oi (−k)i = dτ τ + k2 0 Uma possibilidade é o procedimento feito em [72] baseando-se no uso dos parâmetros de Feynman e regularização dimensional. Nesta tese, iremos utilizar outro modo para chegar na representação espectral que são as regras de Cutkosky no espaço de Minkowski. Ao final, faz-se uma continuação analı́tica para as massas complexas no espaço Euclideano. Os resultados obtidos por este caminho coincidem com os encontrados em [72]. A função de corelação (216) pode ser considerada como uma função complexa com momento externo k 2 = s definido no plano complexo s com um corte no eixo real começando em s = τ0 que nós identificamos como limiar (da expressão em inglês threshold). A relação de dispersão para esta equação é Z 1 ∞ ImFi (τ ) hOi (k)Oi (−k)i = Fi (s) = dτ . (208) π τ0 τ +s O teorema ótico então, afirma que a discontinuidade ImFi sobre o corte é uma quantidade positiva definida que que dá a seção de choque total, que é, a função espectral. Isto segue como uma conseqüência direta da unitariedade da teoria. Para massas reais no espaço de Minkowski, onde as regras estão bem definidas temos p2 1 → 2πθ(p0 )δ(p2 − m2 ). − m2 (209) 63 As regras de Cutkosky [9] nos permitem calcular a discontinuidade associada a diagramas de Feynmann cortando as linhas no diagrama e substituindo propagadores correspondentes por funções delta, localizando assim o espaço de fases fı́sico correspondente. Para uma integral a 1-loop temos: Z d4 p ImFi = 2πθ((k − p)0 )δ((k − p)2 − m21 )θ(p0 )δ(p2 − m22 )fi (p, (k − p)) . (210) 4 (2π) √ Estamos interessados no caso onde as massas envolvidas são complexas m21 → m2λ = i 2v 2 √ e m22 → m2η = −i 2v 2 com os momentos definidos no espaço Euclideano. Então calculamos a eq. (210) como uma função de massas reais, momentos no espaço de Minkowski e efetuamos uma continuação analitica da expressão para massas complexas no espaço Euclideano. Isto nos leva a uma prescrição para a espressão das funções espectrais como sendo ρ(τ, mλ , mη ) = ρM ink (τ, m1 , m2 ) , (211) m1 =mλ ;m2 =mη onde ρM ink (τ, m1 , m2 ) é obtido da expressão (210). Agora (210) é prontamente calculada e podemos encontrar as representações espectrais a 1-loop para cada função a dois pontos dos operadores de glueball q 4 Z ∞ 2 1 − 8v 2(N − 1) 8v 4 τ2 2 = dτ +τ hO0++ (k)O0++ (−k)i ,(212) √ 8π 2 τ + k2 2 one−loop 2 2v 2 h[O2++ (k)]µν [O2++ (−k)]µν i = one−loop 4 (N 2 3 − 1) 8π 2 Z √ 2 2v 2 3 +2(8v 4 )τ 4 + τ 6 2 −+ −+ hO0 (k)O0 (−k)i 2 one−loop 8(N − 1) = 8π 2 Z q 1− ∞ dτ τ + k2 7 4 2 2 (8v ) τ 8 (213) q 1− ∞ √ 2 2v 2 8v 4 τ2 dτ 8v 4 τ2 τ + k2 τ 2 − 8v 4 . (214) √ 1 π onde o limiar encontrado é dado pela expressão 2 2v 2 = (mλ + mη )2 = (2 4 ei 4 v + −π 1 2 4 ei 4 v)2 . Por fim, podemos falar que todas as densidades espectrais para as glueballs 0++ , 2++ e 0−+ são positivas no domı́nio de integração. Os resultados para as glueballs 0++ e 2++ coincidem com os já encontrados em [67] 64 3.3.8 Cálculo das massas 3.3.8.1 Abordagem de SVZ Como é habitual na abordagem de Shifman-Vainshtein-Zakharov (SVZ) para a QCD [60], nós começaremos considerando as funções de correlação a dois pontos 2 Z Πi (q ) = d4 x eiqx hOi (x)Oi (0)i , (215) onde Oi , i = 0++ , 2++ , 0−+ , são os operadores compostos invariantes de calibre que geram estados de glueballs com númetros quânticos J P C = 0++ , 2++ , 0−+ , onde J é o momento angular, P paridade e C a carga A representação espectral de Källén-Lehmann exata de Πi (q 2 ) 1 Πi (q ) = π 2 ∞ Z dτ 0 ImΠi (τ ) , τ + q2 (216) a qual é esperada a partir das propriedades de unitariedade e analiticidade da teoria não perturbativa. Usamos então uma parametrização correspondente de uma ressonância para ImΠi (τ ), [63], ImΠi (τ ) = Ri δ(τ − m2i ) + θ(τ − τ0i )ρi (τ ) , π (217) onde m2i denota a i-ésima massa da glueball, τ0i é o limiar energético para a parte contı́nua do espectro, e ρi (τ ) a correspondente densidade espectral positiva. De fato, os valores reais de Ri , m2i , τ0i e da densidade espectral ρi (τ ) são desconhecidos. Até agora, o melhor que se pode fazer é calcular as funções de correlação (215) no nosso formalismo, tentando levar em conta todos os efeitos não perturbativos, como é resumido na seguinte equação Ri + 2 q + m2i Z ∞ dτ τ0i ρi (τ ) = Πnp i , τ + q2 (218) onde Πnp representa a expressão das funções de correlação (215) que, na prática, tei mos sido capazes de calcular. A expressão (218) estabelece as chamadas regras de soma ,possibilitando-nos dar estimativas das massas das glueballs em termos dos parâmetros presentes em Πnp i . Como é feito em [61, 62, 89, 90], esta ferramenta tem sido tem se mostrada ser muito bem sucedida, a fim de se obter as estimativas das massas dos hádrons na QCD. Com a regra de soma de SVZ, a quantidade Πnp i no lado direito da eq.(218) é calculada adici- 65 onando as contribuições perturbativas da QCD termos não perturbativos originados dos condensados de glúons e quarks bem como a partir de instantons, [63, 64] para alicações no espectro das glueballs . Aqui, não devemos seguir o caminho padrão das regras de soma de SVZ. Em vez disso, tentaremos calcular o lado direito da eq.(218) através do uso do modelo de replica definido por (125). Este modelo é renormalizavel e se torna a ação de Faddeev-Popov no regime UV. De fato, esperamos que qualquer candidata a teoria, data por uma ação S np , cumpra os seguintes requisitos gerais: • i) a ação S np exiba efeitos não perturbativos provenientes do horizonte de Gribov, cuja presença é parametrizada pelo parametro massivo de Gribov v 2 [91]. Contudo, no limite v 2 = 0, onde o horizonte é removido, a ação S np (v 2 ) é reduzida a ação usual perturbativa de Faddeev-Popov SF P , i.e. S (v ) np 2 v 2 =0 = SF P , (219) • ii) ela deve levar em conta o confinamento do glúon. Isso significa que a função de correlação de dois pontos do campo de glúon elementar, calculada com S np (v 2 ) não pode ser colocada na forma de representações espectrais com densidade espectral positiva, assim, esta não pode ser interpretado como o propagador de uma partı́cula fı́sica. • iii) tem que ser renormalizável, isso significa que calculos perturbativos podem ser realizados consistentemente. • iv) deveria possibilitar a introdução de operadores compostos locais invariantes de calibre, ou equivalentemente, invariantes de BRST Oinp com os números quânticos J P C = 0++ , 2++ , 0−+ , cuja função de correlação de dois pontos 2 2 Πnp i (q , v ) Z = d4 x eiqx hOinp (x)Oinp (0)i , (220) apresenta, ao menos na ordem mais baixa, uma representação espectral de KällénLehmann, ou seja 2 2 Πnp i (q , v ) Z ∞ = dτ (i)np τ0 (v 2 ) ρnp i (τ ) + O(~2 ) . τ + q2 (221) E antecipamos que as três funções de correlação em eq.(220), i = 0++ , 2++ , 0−+ , 66 possuem o mesmo limiar. √ τ0(i)np (v 2 ) = 2 2v 2 , i = 0++ , 2++ , 0−+ . (222) Os requerimentos i)–iv) são bastante restritivos. Como tais, eles devem fornecer um formalismo capaz de obter expressões preditivas para as funções de correlação 2 2 Πnp i (q , v ), eq.(220). Dois exemplos de teoria de campos compativeis com os requerimentos são conhecidos. O primeiro exemplo é fornecido pela ação de Gribov-Zwanziger [37, 45, 65] e sua versão aprimorada [66,67], que implementa de forma local e renormalizavel a restrição do domı́nio de integração da integral funcional a uma região no espaço de campos delimitada pelo horizonte de Gribov. Apesar de, até agora, o item iv) ainda não foi completamente resolvido [72]. O segundo modelo disponı́vel é o modelo de réplicas introduzido em [47]. Este modelo pode ser considerado como um instrumento útil que reproduz as caracterı́sticas da teoria de Gribov-Zwanziger. Ele contém um parâmetro de massa que desempenha um papel semelhante ao parâmetro de Gribov, enquanto que permite a introdução de operadores locais invariantes de BRST com números quânticos J P C = 0++ , 2++ , 0−+ , cujas funções de correlação possuem representação espectral de Källén-Lehmann a ordem mais baixa, cumprindo assim o item iv). Ambos os modelos possuem termos que quebram a simetria BRST suavemente. Antes de ir mais longe, como nas regras de soma de SVZ [60], precisamos fornecer uma estimativa para a quantidade Z ∞ dτ τ0i ρi (τ ) , τ + q2 (223) que aparece na eq.(217). O requerimento iv) acima indica que a expressão Πnp i na eq.(218), a menor ordem perturbativa: Ri + 2 q + m2i Z ∞ τ0i ρi (τ ) dτ = τ + q2 ρnp (τ ) dτ i 2 + O(~2 ) . (i)np 2 τ +q τ0 (v ) Z ∞ (224) Além disso, o limiar (222) é igualmente uma aproximação de primeira ordem do valor fisico verdadeiro. Uma vez que o único parâmetro massa que aparece na ação S np é dado pelo parâmetro de Gribov v 2 , vamos considerar o verdadeiro limiar fı́sico a ser dado por √ τ0i = a2 2v 2 , i = 0++ , 2++ , 0−+ , (225) onde a ∈ R+ representa um parâmetro livre que representa a diferença entre o valor do √ limiar fı́sico, τ0i , e o que somos capazes de avaliar na prática, i.e.: 2 2v 2 . Note que, para 67 um dado tipo de glueball,a eq. (225) na verdade expressa a expressão geral do verdadeiro limiar, estamos tornando-o menos geral, porém, impondo o mesmo parâmetro a para todos os tipos de glueball. Obtemos então Ri = 2 q + m2i ρnp (τ ) dτ i 2 − √ τ +q 2 2v 2 Z ∞ Z ∞ √ 2 2 av 2 dτ ρi (τ ) + O(~2 ) . 2 τ +q (226) Vamos assumir na expressão (223) a 1-loop que a aproximação 2 ρi (τ ) = ρnp i (τ ) + O(~ ) . (227) é válida. Portanto, a forma final das regras de soma é Ri = 2 q + m2i Z √ 2 2 av 2 √ 2 2v 2 ρnp (τ, v 2 ) dτ i + O(~2 ) . 2 τ +q (228) Esta equação é a base na construção da fórmula das massas para as glueballs. 3.3.9 Fórmula das massas das glueballs Agora estamos prontos para obter uma fórmula de massa para os estados de glueball. Para isso, devemos primeiro fazer uso da transformada de Borel q 2 Ri BM ( 2 ) = BM q + m2i q2 Z √ 2 2 av 2 √ 2 2v 2 ρnp (τ ) dτ i 2 τ +q ! , (229) onde BM representa o operador de Borel [59, 60] (−1)n 2 n+1 (q ) BM (f (q 2 )) = limn,q2 →∞ n! dn f (q 2 ) dn q 2 q2 n , (230) =M 2 =fixed e M 2 é a chamada massa de Borel [59, 60]. De BM 1 q 2 + m2i m2 i = e− M 2 , (231) chegamos facilmente em Ri m2i e m2 − i2 M Z = √ 2 2 av 2 √ 2 2v 2 τ − 2 M dτ τ ρnp . i (τ ) e (232) 68 Fazendo a transformação de Borel das regras de soma (228) − Ri e m2 i M2 Z = √ 2 2 av 2 τ − 2 M dτ ρnp , i (τ ) e √ 2 2v 2 (233) e calculando a relação entre eq.(232) e eq.(233), nos temos a fórmula de massa para os estados de glueballs R 2√2 av2 m2i = − τ2 √ M dτ τ ρnp i (τ ) e 2 2v 2 R 2√2 av2 − τ2 √ M dτ ρnp i (τ ) e 2 2v 2 . (234) Um dos aspectos da expressão (234) é que a massa m2i exibe uma dependência explicita (i)np do limiar τ0 (v 2 ) e a densidade espectral ρnp i (τ ). 3.3.10 Análise qualitativa das massas das glueballs m20++ , m22++ , m20−+ Nós temos todos os ingredientes para uma análise qualitativa das massas das glueball m20++ , m22++ , m20−+ . Eq. (234), utilizando todo o ferramental do anterior temos: 4 R 2√2 av2 √ τ 8v 2 2 − 8v 4 √ e− M 2 dτ τ + τ 2 2 2 2v m20++ = , (235) R 2√2 av2 √τ 2 −8v4 8v24 +τ 2 − τ 2 √ M dτ e τ 2 2v 2 R 2√2 av2 m22++ = √ 2 2v 2 √ dτ τ 2 − 8v 4 τ + 2(8v 4 )τ 4 + 23 τ 6 e− M 2 , R 2√2 av2 √τ 2 −8v4 ( 78 (8v4 )2 τ 2 +2(8v4 )τ 4 + 32 τ 6 ) − τ 2 √ dτ e M τ 2 2v 2 7 (8v 4 )2 τ 2 8 (236) R 2√2 av2 m20−+ = τ 3/2 √ dτ (τ 2 − 8v 4 ) e− M 2 2 2v 2 R 2√2 av2 (τ 2 −8v4 )3/2 − τ √ dτ e M2 τ 2 2v 2 . (237) É possı́vel reescrever estas expressões de tal maneira a fazer todas as massas proporcional ao parâmetro de Gribov v. Introduzindo a variável τ t= √ 2 2v 2 (238) 69 Figura 3 - Massas das Glueballs em função de a para p = 5 Fonte: CAPRI, 2010, p.21. Adaptado pelo autor. Figura 4 - Massa das Glueballs em função de p para a = 1.3 Fonte: CAPRI, 2010, p.21. Adaptado pelo autor. e o parâmetro p = √ 2 2v 2 . M2 Como resultado obtemos √ dt t2 − 1 ( 12 + t2 ) e−pt , R a √t2 −1 ( 21 +t2 ) −pt e dt t 1 (239) √ dt t2 − 1 ( 78 t2 + 2t4 + 32 t6 ) e−pt , R a √t2 −1 ( 78 t2 +2t4 + 23 t6 ) −pt dt e t 1 (240) √ = 2 2v 2 Ra m20++ (a, p) √ = 2 2v 2 Ra m22++ (a, p) m20−+ (a, p) R √ 2 1a dt (t2 − 1)3/2 e−pt = 2 2v R . a (t2 −1)3/2 −pt dt e t 1 1 1 (241) As massas são funções dos parâmetros a e p. Podemos ver os gráficos destas massas nas figuras 3, 4, 5,6 e 7. Olhando para a figura (3), gráfico que fixa p = 5 e varia a vemos que para valores de a no intervalo entre 1 > a > 1, 8, as massas possuem a mesma hierarquia vista na rede que é m20++ < m22++ < m20−+ . A figura, aqui fixamos o valor de a = 1, 35 (4) também 70 Figura 5 - Quocientes entre as massas m20++ m2−+ (a, p) 0 Fonte: CAPRI, 2010, p.21. Adaptado pelo autor. Figura 6 - Quocientes entre as massas m20++ m2++ (a, p) 2 Fonte: CAPRI, 2010, p.21. Adaptado pelo autor. vemos esta hierarquia porém para qualquer valor de p, ou seja, tem uma dependência muito fraca do valor p. 3.4 Discussão Neste capı́tulo vimos sobre a quebra suave, ou soft da simetria de BRST e exemplos de teorias que possuem esta quebra, e também como contornar esta do ponto de vista quântico. A quebra foi vista na ação de Gribov-Zwanziger, e em sua versão aprimorada, chamada de RGZ. Contorna-se esta quebra com a adição de fontes externas indo para um valor fisico para se recuperar a noção de cohomologia do operador linearizado de BRST [67]. Também vimos o modelo de réplica que consiste em duas ações com campos de calibres distintos acopladas por um termo que quebra suavemente a simetria de BRST, e, desta forma, mimetiza o confinamento visto na teoria GZ. Esta possui este nome por 71 Figura 7 - Quocientes entre as massas m22++ m2−+ (a, p) 0 Fonte: CAPRI, 2010, p.21. Adaptado pelo autor. ter uma simetria discreta entre estes campos. Esta teoria é um bom exercı́cio no cálculo das massas das glueballs mais leves. Ao final, viu-se que há uma faixa onde obtemos a hierarquia de massas vista na teoria quântica de campos na rede [55], a saber, m20++ < m22++ < m20−+ . Tomando os valores da rede conseguimos obter as massas [85] m0++ ≈ 1, 96GeV m0−+ ≈ 2, 19GeV m2++ ≈ 2, 04GeV (242) e comparando com os resultados da rede rede rede mrede 0++ ≈ 1, 73GeV m0−+ ≈ 2, 59GeV m2++ ≈ 2, 40GeV (243) podemos ver que está de acordo com os resultados da rede, todos os dados sendo dentro de um intervalo de 20% de aproximação. No próximo capı́tulo veremos uma forma de transformar a quebra suave em uma quebra linear, abrindo a oportunidade de se lançar fora as fontes externas. 72 4 QUEBRA LINEAR DE BRST Neste capı́tulo mostraremos que a quebra soft de BRST pode ser convertida em uma quebra linear introduzindo um conjunto de quartetos de campos auxiliares. Devido a compatibilidade com o Princı́pio de Ação Quântica, a quebra linear de BRST pode ser diretamente convertida num conjunto adequado de identidades de Ward. Como consequência, usando a cohomologia do operador nilpotente, podemos usar a renormalização algébrica para obter as correções quânticas. 4.1 Introdução A teoria de GZ surge quando impomos que a ação de Faddeev-Popov pode ser integrada funcionalmente somente até a primeira região de Gribov. Ao final de tudo o que ganhamos é uma ação que possui um termo que quebra BRST suavemente. Este problema é contornado com a adição de fontes que tomam certos limites [68]. A questão das fontes adicionadas a mão e depois postas a um limite fı́sico é algo questionável. Deverı́amos estudar a condensação destes operadores e se ver este limite fisico pode ser implementado, via LCO por exemplo. Neste capı́tulo lançaremos mão desta abordagem e escreveremos a ação de GZ (e também RGZ) com o uso de campos auxiliares em quartetos para reescrever a ação e termos somente uma quebra linear e que não estraga a cohomologia do operador linearizado, essencial para o esquema da Renormalização algébrica. 4.2 Ação quebrada linearmente Nosso ponto de partida será a ação de Gribov-Zwanziger, que relembramos como sendo SGZ 1 = 4 Z d 4 a a Fµν xFµν Z +s d4 x c̄a ∂µ Aaµ − ω̄µac ∂ν Dνab ϕbc µ + Sγ , (244) com Z Sγ = bc 2 4 d4 x γ 2 g f abc Aaµ (ϕbc , µ − ϕ̄µ ) − d(N − 1)γ (245) onde N é o número de cores e d = 4 a dimensão do espaço tempo. Relembrando também que γ 2 é determinado de forma consistente pela condição de horizonte, a saber ∂Evac =0, ∂γ 2 (246) 73 onde Evac é a energia do vácuo Z −Evac e = [dΦ] e−SGZ , (247) e [dΦ] entende-se pela integração funcional sobre todos os campos que aparecem em SGZ . Olhando para a ação sem o termo Sγ vemos claramente a nilpotência do operador de BRST sAaµ = −Dνab cb = −(∂µ δ ab + gf acb Acµ )cb , g acb b c f cc , sca = 2 sc̄a = iba , sba = 0 , sω̄µab = ϕ̄ab µ , sϕ̄ab µ = 0 , sϕab = ωµab , µ sωµab = 0 , (248) ou, da mesma forma Z s 4 dx 1 a a Fµν Fµν + s c̄a ∂µ Aaµ − ω̄µac ∂ν Dνab ϕbc µ 4 =0. (249) A questão é que a ação de Gribov-Zwanziger nao é invariante pois o termo Sγ não é nulo frente a transformação Z 2 bc abc a bc sSGZ = sSγ = γ d4 x −g f abc (Dµad cd )(ϕbc Aµ ωµ . (250) µ − ϕ̄µ ) + g f O problema era resolvido utilizando fontes externas em dubletos para que a nilpotência fosse preservada como já dissemos extensivamente no capı́tulo anterior. No entanto há uma maneira de se reescrever de forma consistente a ação gerando uma quebra linear lançando mão do artifı́cio das fontes externas. As fontes eram adicionadas a ação para que pudéssemos utilizar a cohomologia para a construção do contratermo. Como, no caso da simetria quebrada linearmente, temos um operador linearizado nilpotente, podemos novamente utilizar desta ferramenta para a construção do contratermo mais geral. Em suma, a quebra linear não afeta a renormalização algébrica, mesmo tendo um operador de Slavnov-Taylor exato. Falaremos mais a seguir. 74 4.3 Ação de GZ quebrada linearmente lin SGZ A ação de Gribov-Zwanziger quebrada linearmente é dada por Z Z 1 4 a a = d x Fµν Fµν + s d4 x c̄a ∂µ Aaµ − ω̄µac ∂ν Dνab ϕbc µ 4 Z cd a bd ab ab ab ab cd a bd ab + s d4 x gf abc C¯µν Aµ ϕν − C¯µν ηµν − C¯µν η̄µν − gf abc η̄µν Aµ ω̄ν − ρ̄ab µν η̄µν Z ab ab ab δ δµν + γ 2 λ̄ab + d4 x γ 2 ηµν µν δ δµν , (251) ab ab ab ab ab ab ab onde (C¯µν , λab µν , ηµν , Cµν ) e (ρ̄µν , λ̄µν , η̄µν , ρµν ) são dois quartetos de BRST , que possuem a simetria ab sC¯µν = λab µν , sλab µν = 0 , ab ab sηµν = Cµν , ab sCµν =0, ab sρ̄ab µν = λ̄µν , sλ̄ab µν = 0 , ab sη̄µν = ρab µν , sρab µν = 0 . (252) ab ab ab ab ab ¯ab ab Os campos (λab µν , ηµν ) e (λ̄µν , η̄µν ) são comutantes, enquanto (Cµν , Cµν ), (ρ̄µν , ρµν ) são anticomutantes. Cada um desses campos tem 16(N 2 − 1)2 componentes27 . Além disso, os ab ab ab , ρ̄ab campos (C¯µν µν ) possuem número de ghost (−1), e (Cµν , ρµν ) número de ghost (1). É fácil checar que a ação acima é quebrada linearmente da forma Z lin 2 ab d4 x δ ab δµν Cµν . (253) sSGZ = γ Vamos provar que a ação de GZ e a ação eq.(251) são equivalentes. Primeiro lin explicitamos a expressão, ou melhor,aplicamos a transformação BRST em SGZ Z Z 1 lin 4 a a SGZ = d x Fµν Fµν + s d4 x c̄a ∂Aaµ − ω̄µac ∂ν Dνab ϕbc µ 4 Z a bd abc cd ap p bd ab + d4 x gf abc λcd η̄µν Aaµ ϕ̄bd − λab µν Aµ ϕν − gf ν − (Dµ c )ω̄ν µν η̄µν Z cd cd abc a bd cd abc a bd + d4 x C¯µν Cµν + ρcd Aµ ων + gf abc (Dµap cp )ϕbd − ρcd Aµ ω̄ν ) µν − gf ν µν (ρ̄µν + gf Z ab 2 ab ab 2 ab ab (254) + d4 x λ̄ab µν (γ δ δµν − η̄µν ) + ηµν (γ δ δµν − λµν ) . ab ab ab Vemos que os campos (λab µν , ηµν ) e (λ̄µν , η̄µν ) podem ser eliminados usando a suas equações ab ab ab de movimento. Os campos anticomutantes (C¯µν , Cµν ), (ρ̄ab µν , ρµν ) se desacoplam com uma ab redefinição de campos, tudo a nı́vel da função de partição. A princı́pio, os campos ηµν e λ̄ab µν são muliplicadores de Lagrange. Dentro da integral de caminho eles vinculam os 27 Os ı́ndices de cor (a, b) variam de 1 até N 2 − 1, e os ı́ndices (µ, ν) de 1 até 4. 75 ab campos λab µν e η̄µν a valores constantes . De fato vemos como Z R 4 R 2 ab ab ab 2 ab ab ab lin lin [dΞ] e−SGZ = [dΞ̃][dη][dη̄][dλ][dλ̄] e−S̃GZ − d x(λ̄µν (γ δ δµν −η̄µν )+ηµν (γ δ δµν −λµν )) −S̃ lin R 2 ab ab 2 ab = [dΞ̃][dη̄][dλ]δ λab − γ δ δ δ η̄ − γ δ δ e GZ , (255) µν µν µν µν onde 1 = 4 lin S̃GZ Z Z 4 dx Z a a Fµν Fµν +s d4 x c̄a ∂Aaµ − ω̄µac ∂ν Dνab ϕbc µ cd cd abc a bd cd abc a bd d4 x C¯µν Cµν + ρcd Aµ ων + gf abc (Dµap cp )ϕbd − ρcd Aµ ω̄ν ) µν − gf ν µν (ρ̄µν + gf + Z a bd abc cd ap p bd ab d4 x gf abc λcd η̄µν Aaµ ϕ̄bd − λab µν Aµ ϕν − gf ν − (Dµ c )ω̄ν µν η̄µν + (256) ab Realizando a integral em λab µν e η̄µν , temos Z lin −SGZ [dΞ] e Z = lin [dΞ̃] 0 e−ŜGZ , (257) com lin lin ŜGZ = S̃GZ , λab =γ 2 δ ab δµν ;η̄ ab =γ 2 δ ab δµν µν (258) µν lin lin , , enquanto Ξ̃ são todos os campos ŜGZ onde Ξ são todos os campos que aparecem em SGZ ou seja, os campos que permanecem exceto η, η̄, λ, λ̄. A ação então fica na forma Z lin ŜGZ = SGZ + d4 x γ 2 gf abc (Dµad cd )ω̄µbc Z cd cd abc a bd abc ap p bd + d4 x C¯µν Cµν + ρcd − gf A ω + gf (D c )ϕ µν µ ν µ ν Z cd abc a bd − d4 x ρcd Aµ ω̄ν ) . µν (ρ̄µν + gf (259) cd Definindo os campos Cµν , ρ̄cd ν como cd cd abc a bd + ρcd Aµ ων + gf abc (Dµap cp )ϕbd C˜µν ≡ Cµν µν − gf ν , cd abc a bd ρ̄˜cd Aµ ω̄ν , µν ≡ ρ̄ν + gf (260) fazem com que estes se desacoplem da ação. Depois eliminamos o termo γ 2 gf abc (Dµad cd )ω̄µbc na expressão fazendo uma redefinição de campos ωµab ω̃µbc ≡ ωµbc + [(∂ · D)−1 ]bd γ 2 gf dec Dµep cp , (261) 76 Como as redefinições tem jacobiano unitário temos finalmente Z R R ab C˜ab +ρ̄ ab lin ˜ab µν µν ρµν ) ¯ C][d ˜ ρ̄˜][dρ]e−SGZ − d4 x (C¯µν [dΞ̃] eŜGZ = [dΦ][dC][d R = N [dΦ]e−SGZ , (262) onde N é um fator constante. Esta expressão (262) nos mostra a equivalência entre SGZ , lin e SGZ , dada pela equação (251). 4.4 Identidades de Ward A importância de termos uma teoria quebrada linearmente nos campos é que podemos converter diretamente em um conjunto de identidades de Slavnov-Taylor compatı́veis com o princı́pio da ação quântica [11]. Na ação quântica, o operador utilizado é o linearizado e este se apresenta nilpotente quando BRST é quebrado linearmente [11]. Vamos usar a notação multi-ı́ndice ab ab ab ϕab = (ϕai , ϕ̄ai , ωia , ω̄ia ) , µ , ϕ̄µ , ωµ , ω̄µ ab ab ab a a a , Cµi , , λaµi , ηµi C¯µν , λab = C¯µi µν , ηµν , Cµν ab ab ab a , ρaµi , ρ̄ab = ρ̄aµi , λ̄aµi , η̄µi µν , λ̄µν , η̄µν , ρµν (263) onde i = 1, ..., f , com f = d(N 2 − 1). Logo Z 1 a a lin 4 a a a ab b SGZ = dx F F + ib ∂µ Aµ + c̄ ∂µ Dµ c 4 µν µν Z + d4 x −ϕ̄ai ∂ν Dνab ϕbi + ω̄ia ∂ν Dνab ωib + gf amb (∂ν ω̄ia )(Dνmp cp )ϕbi Z c a + d4 x gf abc λcµi Aaµ ϕbi − gf abc η̄µi Aaµ ϕ̄bi − (Dµap cp )ω̄ib − λaµi η̄µi Z c c + d4 x C¯µi Cµi + ρcµi − gf abc Aaµ ωib + gf abc (Dµap cp )ϕbi − ρcµi (ρ̄cµi + gf abc Aaµ ω̄ib ) Z i a a i + d4 x λ̄aµi (γ 2 δ ab δµν δνb − η̄µi ) + ηµi (γ 2 δ ab δµν δνb − λaµi ) . (264) Como temos simetrias de BRST não lineares, introduzimos as fontes (Ωaµ , La ) acopladas a estas simetrias para fins de renormalização Z g acb a b c lin lin 4 a ab b ΣGZ = SGZ + d x −Ωµ Dµ c + f L c c , (265) 2 A ação Σlin GZ possui a identidade de Slavnov-Taylor quebrada linearmente a seguir Z 2 i a lin S(ΣGZ ) = γ d4 x δ ab δµν δbν Cµi (266) 77 onde Z S(Σ) = BΣ δΣ δΣ δΣ δΣ a δΣ a δΣ a δΣ + ϕ̄ + + ib + ω i i a δAaµ δΩaµ δLa δca δc̄a δϕi δ ω̄ia a δΣ a δΣ a δΣ a δΣ + λµi ¯a + Cµi a + λ̄µi a + ρµi a . δηµi δ ρ̄µi δ η̄µi δ Cµi 4 dx (267) Da equação (266) obtemos o operador linearizado de Slavnov-Taylor definido como Z δΣ δ δΣ δ δΣ δ δΣ δ δ 4 = dx + + a a + a a + iba a a a a a δAµ δΩµ δΩµ δAµ δL δc δc δL δc̄ δ δ δ a δ a δ a a a a δ +ωi a + ϕ̄i a + λµi ¯a + Cµi a + λ̄µi a + ρµi a , (268) δϕi δ ω̄i δηµi δ ρ̄µi δ η̄µi δ Cµi que é nilpotente, isto é BΣlin BΣlin =0. GZ GZ (269) De acordo com o arcabouço da renormalização algébrica [11], o contratermo invariante precisa ser renormalizado utilizando a cohomologia deste operador linearizado BΣlin no GZ espaço dos polinômios locais integrados nos campos com dimensão menor do que 4. Além da eq. (342), a ação Σlin GZ possui um conjunto de várias identidades de Ward, que são: a a e λ̄aµi , ρ̄aµi , ηµi 1. Equações de movimento dos campos ba , c̄a , Cµi δΣlin GZ = i∂µ Aaµ , δba δΣlin δΣlin GZ GZ + ∂ =0, µ δc̄a δΩaµ δΣlin GZ i , = −λaµi + γ 2 δ ab δµν δbν a δηµi δΣlin GZ a = −C¯µi , a δCµi δΣlin GZ a i = −η̄µi + γ 2 δ ab δµν δbν , δ λ̄aµi δΣlin GZ = ρaµi . δ ρ̄aµi (270) (271) (272) Onde todas estas eqs. (270), ( 271), (272) são lineares nos campos 2. Identidade de Ward identity para o parametro de Gribov γ, ∂Σlin GZ = ∂γ 2 Z i a d4 x δ ab δµν δbν (ηµi + λ̄aµi ) . (273) Que também é quebrada linearmente. Esta equação possui um papel especial. Ela 78 nos diz que o parâmetro de Gribov não deve possuir correções quânticas [45, 65, 71, 77]. 3. Equação de movimento de ϕ̄ai Ξai ϕ̄ (Σ) ≡ lin δΣlin δΣlin GZ GZ abc b δΣGZ + ∂ + gf A = ∆ai µ µ ϕ̄ , δ ϕ̄ai δλaµi δ λ̄cµi (274) onde 2 a a a 2 abc c i ∆ai Aµ δbµ . ϕ̄ = −∂ ϕi − ∂ν ηνi − ∂µ η̄µi − gγ f (275) 4. Equação de movimento de ω̄ia lin δΣlin δΣlin GZ GZ abc b δΣGZ Ξai (Σ) ≡ + ∂ + gf A + gf abc µ ω̄ µ a δ ω̄ia δ ρ̄cµi δ C¯µi δΣlin GZ i − γ 2 δµb δ λ̄bµi = ∆ai ω̄ , ! δΣlin GZ δΩcµ (276) onde 2 a a a ∆ai ω̄ = ∂ ωi + ∂µ Cµi + ∂µ ρµi . (277) 5. Equação de movimento de ϕai Ξai ϕ (Σ) ≡ lin lin δΣlin δΣlin GZ GZ abc b δΣGZ abc b δΣGZ − ∂ − igf ϕ̄ + gf ω̄ µ i i a δϕai δ η̄µi δbc δc̄c − gf abc lin b δΣGZ Aµ c δηµi − lin acm δΣGZ gf c δCµi δΣlin GZ = ∆ai ϕ , m δΩµ (278) onde a 2 abc b i 2 a a Aµ δcµ . ∆ai ϕ = −∂ ϕ̄i + ∂µ λµi + ∂µ λ̄µi − γ gf (279) 6. Equação de movimento de ωia Ξai ω (Σ) ≡ lin lin δΣlin δΣlin GZ GZ abc b δΣGZ abc b δΣGZ − ∂ − igf ω̄ − gf A = ∆ai µ i µ ω , c δωia δρaµi δbc δCµi (280) 79 onde 2 a a ¯a ∆ai ω = −∂ ω̄i + ∂µ ρ̄µi + ∂µ Cµi . (281) 7. Identidades de Ward integrada envolvendo campos auxiliares e ghosts de FaddevPopov Z i I (Σ) ≡ J i 4 dx − δΣlin ω̄ia GZ a δc̄ lin lin δΣlin GZ δΣGZ c δΣGZ + − ∂ c µ c c δCµi δΩcµ δCµi lin lin δΣlin δΣlin GZ δΣGZ a δΣGZ d x ca GZ + ϕ̄ − i δϕai δc̄a δLa δωia lin lin δΣlin GZ δΣGZ 2 i δΣGZ + γ δ =0. µa a δΩaµ δηµi δΩaµ Z (Σlin GZ ) δΣlin ca GZ δωia ≡ − =0. (282) 4 (283) 8. Equação do Ghost [11, 84] a G a (Σlin GZ ) = ∆c , (284) onde G a δ δ δ δ abc b δ + gf = dx −ic̄b c + ω̄ib c + ϕbi c + η̄µi a δc δb δ ϕ̄i δωi δρci δ δ δ b b + C¯µi + ρ̄bµi c + ηµi , c c δλµi δCµi δ λ̄µi Z 4 (285) e ∆ac é uma quebra linear nos campos ∆ac Z = i d4 x gf abc (Ωbµ Acµ − Lb cc − γ 2 δcµ ρ̄bµi ) . (286) 9. Identidade linearmente quebrada Nij Σlin GZ =γ 2 Z j a , d4 x δ ab δµν δνb ρ̄aµi + C¯µi (287) 80 e δ δ δ δ a a = d x −ω̄ia a + ϕaj a − η̄µj − C¯µi a δ ϕ̄j δωi δρµi δλaµj ! δ δ a a a − +(ρ̄aµi + C¯µi ) a + (ηµj + η̄µj ) a δCµi δ λ̄µj Z Nij 4 (288) 10. Simetria global linearmente quebrada U (f ) Qij (Σlin GZ ) Z 2 ab j a i ηµi − δbν λ̄aµj ) , d4 x (δbν = γ δ δµν (289) onde Qij = R 4 dx +ρaµi δρδa µj a δ ¯a δ ϕai δϕδ a − ϕ̄aj δϕ̄δ a + ωia δωδ a − ω̄ia δω̄δ a + Cµi a − Cµj δ C¯a δCµj j i j j µi a δ a δ − ρ̄aµj δρ̄δa + ηµi − λaµj δλδa + η̄µi − λ̄aµj δλ̄δa , δη a δ η̄ a µi µj µi µj (290) µi 11. Simetria Rı́diga linearmente quebrada W a (Σlin GZ ) 2 abc Z =γ f bc d4 x λ̄bc µµ + ηµµ , (291) com Z δ δ δ δ δ δ + Ωbµ c + cb c + Lb c + c̄b c + bb c c δAµ δΩµ δc δL δc̄ δb δ δ δ δ δ δ δ b b b + ηµi + C¯µi +ω̄ib c + ωib c + ϕ̄bi c + ϕbi c + η̄µi c c c δ ω̄i δωi δ ϕ̄i δϕi δ η̄µi δηµi δ C¯µi ! δ δ δ δ δ b + ρ̄bµi c + ρbµi c + λ̄bµi c + λbµi c . +Cµi c δCµi δ ρ̄µi δρµi δλµi δ λ̄µi a W = 4 d xf abc Abµ (292) Estas equações são necessárias para o procedimento da renormalização algébrica. 4.5 Estabilidade e Contratermo Invariante 4.5.1 Construção do Contratermo Invariante Para caracterizar o contratermo invariante mais geral que pode ser adicionado livremente a todas as ordens em teoria de perturbações, nós perturbamos a ação clássica 81 Σ adicionando um termo arbitrário Σct (um polinômio integrado local nos campos) de dimensão quatro e números quânticos iguais ao da ação original. Forçamos que a ação quântica (Γ = Σ + Σct ), é um pequeno parâmetro de expansão) satisfaça as mesmas identidades de Ward que a ação clássica Σ sem quebras clássicas. Este requerimento nos providencia vı́nculos para os contratermos Σct : BΣ Σct = 0 , δΣct = 0, δba δΣct = 0, a δηµi δΣct = 0, δ λ̄aµi δΣct = 0, a δCµi (293) δΣct = 0, δ ρ̄aµi ∂Σct = 0 , (294) ∂γ 2 δΣct δΣct + ∂ = 0, µ δc̄a δΩaµ ct Ξai ϕ̄ (Σ ) = 0 , ct Ξai ϕ Σ (Σ ) = 0 , G a (Σct ) = 0 , ct Ξai ω̄ Σ (Σ ) = 0 , Nij (Σct ) = 0 , (295) ct Ξai ω (Σ ) = 0 , IΣi (Σct ) = 0 , Qij (Σct ) = 0 , (296) JΣi (Σct ) = 0 , W a (Σct ) = 0 . (297) (298) a a As equações (294) implicam que o contratermo não depende dos campos (ba , ηµi , λ̄aµi , Cµi , ρ̄aµi ) e do parâmetro γ 2 . A equação (295) diz que os campos c̄a e Ωaµ só aparecem no contratermo na combinação (∂µ c̄a + Ωaµ ). Temos também as equações (297) associadas às identidades de Ward (276), (278), (282) e (283), que são ! δ δ δ δΣ δ δ i abc δΣ Ξai + ∂µ ¯a + gf abc Abµ c + gf abc − γ 2 δµb − gf (299) , ω̄ Σ = a b δ ω̄i δ ρ̄µi δΩcµ δΩbµ δ λ̄cµi δ Cµi δ λ̄µi δ δ δ δ δ − ∂µ a − igf abc ϕ̄bi c + gf abc ω̄ib c − gf abc Abµ c a δϕi δ η̄µi δb δc̄ δηµi δΣ δ δ abc δΣ −gf abc b − gf , c δΩbµ δCµi δCµi δΩcµ Z δ δΣ δ δΣ δ 4 a δ a δ a = dx c − ω̄i a − (∂µ c ) a + a − , a δωia δc̄ δCµi δCµi δΩaµ δΩaµ δCµi Z δ δ δ δΣ δ 4 i = d x ca a + ϕ̄ai a + γ 2 δµa − a a a δϕi δc̄ δΩµ δL δωi δΣ δ δΣ δ δΣ δ − a . − a a− a δωi δL δΩaµ δηµi δηµi δΩaµ Ξai ϕΣ = IΣi JΣi (300) (301) (302) O traço do operador Qij na eq.(298), define um novo númetro quântico: a carga Q, (ver tabela (2)). Finalmente, relembrando da nilpotência de BΣ , eq.(269), da eq. (293) 82 Tabela 2 - Númetros quânticos de campos e fontes Dimensão Número de ghost Carga Q A b c c̄ Ω L ϕ ϕ̄ ω ω̄ λ λ̄ η η̄ C C¯ ρ ρ̄ 1 0 0 2 0 0 0 1 0 2 −1 0 3 −1 0 4 −2 0 1 0 1 1 0 −1 1 1 1 1 −1 −1 2 0 −1 2 0 −1 2 0 1 2 0 1 2 1 1 2 −1 −1 2 1 1 2 −1 −1 Fonte: O AUTOR, 2014. podemos então escrever Σct olhando para a cohomologia de BΣ no espaço dos polinômios locais integrados nos campos de dimensão 4, número de ghost zero e carga Q também zero. De acordo com os resultados gerais da cohomologia de Yang-Mills [11], começamos escrevendo o contratermo mais geral como a0 Σ = 4 ct Z a a d4 x Fµν Fµν + BΣ ∆(−1) . (303) O primeiro termo do lado direito da equação (303) representa a parte não trivial da cohomologia de BΣ , com a0 sendo um coeficiente arbitrário, enquanto ∆(−1) é um polinômio local integrado nos campos e fontes com dimensão quatro, númetro de ghost −1 e carga Q nula. Usando as identidades de Ward (294) e (295), escrevemos o contratermo Z (−1) ∆ = d4 x a1 Aaµ (Ωaµ + ∂µ c̄a ) + a2 La ca + a3 gf abc Aa ϕb C¯c + a4 ϕa ∂µ C¯a µ i µi i µi c a a a +a5 gf abc Aaµ ω̄ib η̄µi + a6 ω̄ia ∂µ η̄µi + a7 C¯µi η̄µi + a8 ω̄ia ∂ 2 ϕai + a9 gf abc ω̄ia Acµ ∂µ ϕbi +a10 gf abc Acµ ∂µ ω̄ia ϕbi + β1abcd ϕai ϕ̄bi ϕcj ω̄jd + β2abcd ϕai ϕ̄bj ϕci ω̄jd + β3abcd ωia ω̄ib ϕcj ω̄jd +β4abcd ωia ω̄jb ϕci ω̄jd , (304) onde ak (k = 1, . . . , 10) são constantes arbitrárias, enquanto βlabcd (l = 1, 2, 3, 4) são tensores invariantes de rank 4. Usando os vinculos que restaram de Σct , e usando as relaçõs de comutação: ai BΣ , Ξai ϕ̄ = −Ξω̄ Σ , BΣ , Ξai = Ξai ω ϕΣ, BΣ , IΣi = −JΣi , {BΣ , G a } = W a , (305) chegamos a um termo ∆(−1) que depende de um único parâmetro livre a1 , onde temos (−1) ∆ Z = a1 d4 x a a a a ∂µ c̄a + Ωaµ Aaµ + ω̄ia ∂µ Dµab ϕbi + η̄µi Dµab ω̄ib − C¯µi Dµab ϕbi + C¯µi η̄µi . (306) Ao final, a forma do contratermo invariante mais geral que obedece a todas as identidades 83 de Ward fica da forma Z Z a0 ct 4 a a b Σ = d x Fµν Fµν + a1 d4 x Aaµ Dνab Fµν + ∂µ ca ∂µ c̄a + ∂µ ca Ωaµ + gf bac ∂µ ca ∂µ ω̄ic ϕbi 4 a a a m b m b ρµi + ρaµi ∂µ ω̄ia − C¯µi ϕi − λaµi ∂µ ϕai + λaµi η̄µi ω̄i + gf mab ∂µ ca C¯µi −gf mab ∂µ ca η̄µi −ϕ̄a ∂µ η̄ a + ω a ∂µ C¯b + ϕ̄a ∂ 2 ϕa − ω̄ a ∂ 2 ω a . (307) i µi i µi i i i i 4.5.2 Renormalização e Fatores Z Agora nos resta checar que o contratermo encontrado (307) pode ser reabsorvido na ação de partida Σ fazendo uma redefinição de campos, fontes e parâmetros da teoria, ou seja Σ(φ, Φ) + Σct (φ, Φ) = Σ(φ0 , Φ0 ) + O(2 ) (308) onde (φ, φ0 ) denota os campos renormalizados e os campos nús, respectivamente, enquanto (Φ, Φ0 ) entende-se por fontes e parâmetros renormalizados e nús , i.e. Φ = (La , Ωaµ , g, γ 2 ). As quantidades renormalizadas e nuas estão relacionadas entre si como 1/2 φ0 = Zφ φ , Φ0 = ZΦ Φ , (309) onde Z são os fatores de renormalização. Podemos provar que a eq.(308), é realizada escrevendo a ação nua em termos de dois parâmetros de renormalização independentes 1/2 Zg e ZA , ficando a ação escrita da forma: Z ZA 3/2 4 (∂µ Aaν )∂µ Aaν + Zg ZA gf abc (∂µ Aaν )Abµ Acν Σ(φ0 , Φ0 ) = d x 2 1 1/4 −1/2 + Zg2 ZA2 g 2 f abc f ade Abµ Acν Adµ Aeν + iZA ba ∂µ Aaµ + Zg−1 ZA c̄a ∂ 2 ca + gf abc (∂µ c̄a )Acµ cb 4 −1/2 −1/2 −Zg−1 ZA ϕ̄ai ∂ 2 ϕai − gf abc (∂µ ϕ̄ai )Acµ ϕbi + Zg−1 ZA ω̄ia ∂ 2 ωia −1/2 +gf abc (∂µ ω̄ia )Acµ ωib + Zg−1 ZA −1/2 a λµi ∂µ ϕai +Zg−1 ZA gf amb (∂ν ω̄ia )∂ν cm ϕbi + g 2 f amb f mnp (∂ν ω̄ia )Anµ cp ϕbi −1/2 a η̄µi ∂µ ϕ̄ai + gf acb λaµi Acµ ϕbi − Zg−1 ZA −1/2 a −gf acb η̄µi Acµ ϕ̄bi + Zg−1 ZA c c p b gf abc η̄µi (∂µ ca )ω̄ib + g 2 f abc f amp η̄µi Am µ c ω̄i −1/2 −1/2 a −1/2 c a −Zg−1 ZA λaµi η̄µi − Zg−1 ZA C¯µi ∂µ ωia − gf acb C¯µi Acµ ωib − ZA Zg−1 ρaµi ∂µ ω̄ia −1/2 ¯c c −1/2 −gf acb ρa Ac ω̄ b + C¯c C c + Z −1 Z C ρ + Z −1 Z gf abc C¯c (∂µ ca )ϕb µi µ i µi µi c p b +g 2 f amp f abc C¯µi Am µ c ϕi − g ρaµi ρ̄aµi A µi µi g i γ 2 λ̄aµi δ ab δµν δνb µi A a λ̄aµi η̄µi − + g −1/2 a a −ηµi λµi − Zg−1 ZA Ωaµ ∂µ ca − gΩaµ f acb Acµ cc + f abc La cb cc . 2 + i a ab i γ 2 ηµi δ δµν δνb (310) 84 1/2 Os dois fatores de renormalização independentes Zg e ZA coeficientes a0 e a1 da forma: estão relacionados com os Zg = 1 − a0 , 2 a0 1/2 ZA = 1 + + a1 . 2 (311) (312) 1/2 Todos os fatores de renormalização restantes podem ser escritos em termos de ZA e Zg como −1/2 Zb = ZA 1/2 Zω̄ 1/2 1/2 = ZC¯ = Zg−1 , 1/2 ZL = Zρ̄ −1/2 Zc = Zc̄ = Zϕ = Zϕ̄ = Zλ = Zη̄ = Zg−1 ZA , Zρ 1/2 = Zω −1/2 = ZA −1/2 , ZΩ = Zg Zη = Zλ̄ = Zg ZA , Zγ 2 = Zg 1/2 , −1/2 1/2 1/2 = ZA , −1/4 ZA , ZC −1/4 ZA . = Zg , (313) 1/2 Em particular, podemos mencionar duas relações em especial: Zc ZA Zg = 1 e −1/2 −1/4 Zγ 2 = Zg ZA . A primeira expressa o teorema de não-renormalização do vértice. A segunda nos diz que o fator Zγ 2 não é um parâmetro independente da teoria. Este resultado é consequência da identidade de Ward (273). Isto termina a prova da renormalizabilidade multiplicativa da ação de Gribov-Zwanziger nesta formulação linearmente quebrada. 4.6 Generalização para a RGZ Tanto a formulação quanto os resultados das seções anteriores podem ser generalizadas para a teoria de Gribov-Zwanziger com a adição dos condensados hAaµ Aaµ i e hϕ̄ai ϕai − ω̄ia ωia i , chamada RGZ. A presença destes condensados pode ser codificada na ação inicial modificando-se a ação de GZ como SRGZ = SGZ + µ 2 Z d 4 x (ϕ̄ai ϕai − ω̄ia ωia ) m2 + 2 Z d4 x Aaµ Aaµ , (314) onde o parâmetro de massa µ, m são dinâmicos relacionados com os condensados já mencionados [86]. A ação RGZ dá origem a um propagador do glúon que permanece suprimido na região infravermelha. Contudo, ao contrário do propagador de GZ, ele atinge um valor não nulo na origem. Aaµ (k)Abν (−k) RGZ k 2 + µ2 =δ 4 k + (m2 + µ2 )k 2 + m2 µ2 + γ 4 ab kµ kν δµν − 2 , k A expressão (315) está de acordo com recentes simulações na rede [58, 80]. (315) 85 Para começar a estudar a ação RGZ quebrada linearmente primeiro vamos analisar os dois termos, (ϕ̄ai ϕai − ω̄ia ωia ) e Aaµ Aaµ , separadamente. Primeiro o termo (ϕ̄ai ϕai − ω̄ia ωia ), é um termo trivial de BRST, ou seja, Z d 4 x (ϕ̄ai ϕai − ω̄ia ωia ) Z =s d4 x (ϕ̄ai ωia ) . (316) Este termo não afeta a quebra de BRST. Além disso, podemos checar todas as identidades de Ward eqs.(266), (270), (271), (272), (273), (274), (276), (278), (280), (284), (287), (353), (291) que permanecem válidas a menos de algum termo linearmente quebrado. Considere, por exemplo, a equação de movimento de ϕ̄ai , eq.(274). Com a inclusão de of (ϕ̄ai ϕai − ω̄ia ωia ), o termo quebrado ∆ai ϕ̄ , eq.(275), gera a modificação do termo linear , i.e. ai 2 a ∆ai ϕ̄ → ∆ϕ̄ + µ ϕi . (317) Então, a indentidade de Ward (274) continua válida. Este argumento pode ser aplicado a todas as outras identidades. De todo conjunto de identidades mencionadas nas seçoes anteriores somente as equações (282) e (283) não são mantidas devido a introdução do termo (ϕ̄ai ϕai − ω̄ia ωia ). Contudo, estas identidades não estragam a renormalizabilidade do modelo Já o segundo termo, Aaµ Aaµ , na expressão (314) requer atenção, pois não é BRST invariante. Z Z 4 1 a a s d x Aµ Aµ = − d4 x Aaµ ∂µ ca . (318) 2 Contudo, vemos que é uma quebra suave, e podemos repetir a abordagem introduzindo o quarteto BRST de campos auxiliares (Ẽ, E, σ, β), onde (Ẽ, E) são um par de campos anticomutantes, e (σ, β) são campos comutantes, sẼ = σ , sσ = 0 , sβ = E , sE = 0 . (319) Então, o termo m2 Z R d4 x Aaµ Aaµ pode ser escrito como Sm 1 a a ẼA A − Ẽβ 2 µ µ 2 Z d4 x β(x) +m Sm = s d x Z 1 a a 4 a a 2 = dx σA A + ẼAµ ∂µ c + ẼE − β(σ − m ) . 2 µ µ 4 (320) 86 Para checar rapidamente, obtemos a equação de movimento de β: δSm = −(σ − m2 ) = 0 . δβ e ficamos com 2 Z m a a a a 4 A A + Ẽ(Aµ ∂µ c + E) . Sm = d x 2 µ µ (321) (322) E também fazemos um shift linear em E que possui jacobiano unitário, E → E − Aaµ ∂µ ca , e obtemos então 2 Z Z m a a 4 Sm → d x Aµ Aµ + d4 x ẼE . 2 (323) (324) R O último termo, d4 x ẼE, desacopla da ação, e pode ser integrado sem problemas, então R obtemos o termo m2 d4 x Aaµ Aaµ . A quebra suave em eq.(318) é transformada em quebra linear e fica da forma Z 2 sSm = m d4 x E(x) . (325) A quebra linear (325) pode ser incorporada nas identidades de Ward (266), (270), (271), (272), (273), (274), (276), (278), (280), (284), (287), (353), (291), e a construção algébrica do contratermo repetida. Nos limitamos então a dizer que o resultado final é o mesmo da ação de GZ (314): renormalizável possuindo os teoremas de não renormalização do 1/2 −1/2 −1/4 vértice Zg Zc ZA = 1, e a relação entre o fator de Gribov Zγ 2 = Zg ZA . 4.7 Conclusões do capı́tulo Neste capı́tulo vimos como transformar uma quebra suave da simetria de BRST em uma quebra linear, oferendo-nos um novo modo de analisar a renormalizabilidade das ações de GZ e RGZ, obtendo os mesmos resultados da literatura. Faz-se isso com o uso de campos auxiliares em simetria BRST de quartetos. A nı́vel de renormalizabilidade, podemos fazer o uso da cohomologia do operador linearizado de BRST, pois este é nilpotente [11]. Ao final, vimos que tanto a nı́vel clássico como quântico, a versão quebrada linearmente e a ação de GZ são equivalentes, pois ao final conseguimos encontrar os mesmos fatores de renormalização No próximo capı́tulo veremos, utilizando basicamente o mesmo processo, como po- 87 demos transformar a quebra suave de BRST em uma ação invariante de BRST, ou seja, BRST exata, também usando quartetos. Esa versão nos abre o precedente de uma construção do espectro fisico utilizando as ferramentas de Kugo-Ojima, que é a cohomologia da carga de BRST. 88 5 QUEBRA ESPONTÂNEA DE BRST Neste capı́tulo iremos propor outra formulação da teoria de Gribov-Zwanziger no calibre de Landau. Utilizando campos auxiliares como no capı́tulo anterior, escreveremos uma ação invariante frente a simetria de BRST, quebrada devido a presença do horizonte de Gribov. Esta quebra espontânea de simetria pode ser descrita de uma maneira puramente algébrica através da introdução de um par de campos auxiliares que dão origem a um conjunto de identidades de Ward linearmente quebrados. O setor de Goldstone se desacopla. A invariância de BRST nos abre uma margem de uso da cohomologia de BRST dentro da região de Gribov. Ao final, chegamos em uma ação renormalizável a todas as ordens fazendo uso da renormalização algébrica. 5.1 Ação com simetria exata de BRST No capı́tulo anterior, fomos capazes de escrever a ação de Gribov-Zwanziger e sua versão refinada, de tal forma que, ao final, a simetria BRST fosse quebrada linearmente. Diferente da quebra suave, a quebra linear não compromete o esquema da renormalização algébrica, pois, a construção do contratermo invariante mais geral é feita com o operador linearizado βΣ . Este modelo foi um bom exercı́cio, onde fizemos o uso de campos auxiliares que possuı́am uma simetria BRST em forma de quarteto, que como já mencionamos anteriormente. Fizemos uso deste tipo de simetria pois, campos que possuem essa caracterı́sitca, não fazem parte do termo não trivial da cohomologia de BRST. Utilizando basicamente a mesma ideia, porém com um objetivo um tanto diferente, utilizaremos campos auxiliares em forma de quarteto de BRST, mas agora na intenção de se obter uma ação que possui uma simetria exata de BRST da ação. Obter uma teoria invariante de BRST é um grande avanço acerca do espectro fı́sico de YM. Como dito no capı́tulo 2, o operador de BRST se mostra uma ferramenta útil na construção do subespaço fı́sico da teoria de Yang-Mills. A teoria de Gribov-Zwanziger não é BRST invariante, e este fato não nos permite a construção de observáveis. Levando em consideração a cohomologia do operador s e, obviamente, da carga de BRST, deverı́amos ser capazes de mostrar quais são os operadores que criam estados de norma positiva. Não faremos o mesmo procedimento feito no capı́tulo 2 para essa formulação, mas há um modelo de brinquedo muito útil do ponto de vista didático que mostra como deve ser feito o procedimento [76]. 89 SGZ Nosso ponto de partida é a ação de Gribov-Zwanziger Z Z 1 4 a a ab bc = d xFµν Fµν + s d4 x ca ∂µ Aaµ − ω ac µ ∂ν Dν ϕµ 4 Z bc 2 4 + d4 x γ 2 g f abc Aaµ (ϕbc , µ − ϕµ ) − d(N − 1)γ (326) que possui a simetria de BRST (248). Relembrando, o último termo é o responsável pela quebra suave. A proposta de uma ação que equivale a GZ, que possua uma simetria exata de BRST é Z Z 1 ab bc 4 a a SGZ = d xFµν Fµν + s d4 x ca ∂µ Aaµ − ω ac µ ∂ν Dν ϕµ 4 ab Z ab ab ab ab b b b b 2 bab 2 b ab ak kb ak kb akl b lp p kb 4 + d x −G µν ∂ Gµν + F µν ∂ Fµν + F µν Dµ ων − G µν Dµ ϕν + gf F µν Dµ c ϕν Z ab ab ab ab ab akl ab lp p kb + d4 x −G µν ∂ 2 Gµν + F µν ∂ 2 Fµν − G µν Dµak ϕ̄kb − gf G D c ω̄ ν µν µ ν Z ab ab ab b ab ab ab b bµν + d4 x Hµν (G µν − δµν δ ab γ 2 ) + H (327) (G µν − δµν δ ab γ 2 ) − G µν G µν , onde introduzimos os quartetos de BRST (G, G) (comutantes) e (F, F) (anticomutantes), e seus companheiros com chapéu, que possuem a seguinte simetria ab ab ab b ab = G b ab , sG b ab = 0, sF µν = G µν , sG µν = 0, sF µν µν µν ab ab ab ab ab sF = G , sG = 0, sFb = Gb , sGbab = 0 µν µν µν µν µν µν (328) b ab = 0, sHab = 0. Vemos claramente b ab e Hab , que possuem a simetria sH e os singletos H µν µν µν µν que preservamos a nilpotência de BRST. Uma parte do setor dos campos auxiliares pode ser expressa como uma variação de BRST que é Z Z 1 4 a a ab bc SGZ = d xFµν Fµν + s d4 x ca ∂µ Aaµ − ω ac ∂ D ϕ ν µ ν µ 4 Z ab ab 2 ab ab ab b ak kb ak kb 4 2 bab + s d x −F µν ∂ Gµν − F µν ∂ Gµν − G µν Dµ ω̄ν − F µν Dµ ϕν Z ab ab ab b ab 4 ab ab 2 ab b ab 2 b + d x Hµν (G µν − δµν δ γ ) + Hµν (G µν − δµν δ γ ) − G µν G µν , (329) 0 e, aplicando a simetria BRST na ação podemos ver que sSGZ = 0. Olhando para o termo não expresso como forma exata, podemos notar o papel principal dos campos H e H, pois 90 b ab = G ab = γ 2 δ ab δ , temos usando suas equações de movimento ficamos com G µν µν µν ab ab 2 ab b ab ak kb b ab 2 bab d x −G µν Dµak ϕkb ν − G µν Dµ ϕν − G µν ∂ Gµν − G µν ∂ Gµν ab ab b ab ab ab 2 −G µν G µν + Hµν G µν − δµν δ γ Z b H−,H−EOM 2 4 bc . −→ d4 −γ 2 gf abc Aaµ ϕbc µ + ϕµ − 4(N − 1)γ Z 4 (330) Os conjunto de dubletos, juntamente com os singletos, são suficientes para reescrever o termo de quebra, transformando-o num termo invariante de BRST. Contudo ainda resta o termo trivial adicionado. Fazendo uma mudança de variáveis na integral funcional cujo jacobiano é unitário, 1 ab ab Fbµν → Fbµν − 2 Dµak ωνkb + gf ak` Dµ`p cp ϕkb , ν ∂ 1 ab ab Fµν → Fµν − 2 Dµak ωνkb + gf ak` Dµ`p cp ϕkb , ν ∂ tk ab ωνtb → ωνtb + (∂D)−1 gf ak` G µν Dµ`p cp , (331) nós temos uma equivalência entre as ações, pois os termos desacoplam. 5.2 Quebra espontânea de BRST A fim de perceber que a nova formulação de a ação Gribov-Zwanziger exibe uma quebra espontânea da simetria de BRST, reescrevemos a ação fazendo um uso explı́cito das equações de movimento dos singletos H e H: b ab = G ab = γ 2 δ ab δ G µν µν µν (332) ficando com a ação Z Z 1 0 4 a a am mc SGZ = d x Fµν Fµν + d4 x s ca ∂µ Aaµ + ω ac µ ∂ν Dν ϕµ 4 Z ab b ab ∂ 2 Fbab ab 4 + d x F µν ∂ 2 Fµν − γ 2 s(Dµak ω ka ) + F µ µν µν b ab s(Dak ϕkb ) − γ 4 d(N 2 − 1) . −γ 2 Dµak ϕka + F µ µν µ ν (333) 91 Esta ação é invariante frente a simetria de BRST nilpotente sAaµ = −Dµab cb = −(∂µ δ ab + gf acb Acµ )cb , sca = g acb b c f c c , sca = iba , sba = 0, 2 ab ab ab ab sω ab = ϕab µ µ , sϕµ = 0 , sϕµ = ωµ , sωµ = 0 , ab ab b 2 ab sF µν = γ 2 δ ab δµν , sF µν = γ δ δµν , ab ab ab = Fbµν , sFbµν = 0, sGbµν ab ab , = Fµν sGµν ab = 0, sFµν (334) onde podemos ver claramente sS = 0 e s2 = 0. Um olhar mais atento ao conjunto de simetrias acima revela que o operador BRST sofre quebra espontânea de simetria. b Podemos ver isto na transformação dos campos F e F ab ab b i = hsF i = γ 2 δ ab δ hsF µν µν µν (335) Algumas observações em ordem pertinentes: • ao contrário da formulação de [77], onde termos com quebra explı́cita de Lorentz são introduzidos nas transformações BRST, esta formulação de quebra espontânea não precisa de termos xµ dependentes. Esta caracterı́stica relevante nos permite estudar a quebra espontânea dentro do que conhecemos de uma teoria quântica de campos local. Tanto a ação quanto as simetrias são puramente locais. • a quebra da simetria é puramente pela existência de uma restrição da integral funcional. Vemos claramente a dependência da massa de Gribov no valor médio das simetrias. Este é um efeito puramente não perturbativo com um significado geométrico claro. b nos permitem • vale a pena ressaltar que a introdução dos campos auxiliares (H, H) tratar a quebra espontânea da simetria de maneira puramente algébrica, como segue das equações de movimento destes campos: δΣ a a 2 = G µi − δµi γ , a δHµi δΣ b a − δa γ 2 , =G µi µi ba δH (336) µi De fato, de acordo com o esquema de renormalização algébrica, estas equações adquirem um significado de identidade de Ward linearmente quebrada a nı́vel quântico, provendo um poderoso e elegante tratamento das propriedades da quebra espontânea a nı́vel quântico. • nós salientamos que a quebra de simetria é generalizada facilmente para o caso de RGZ. Também uma quebra suave no setor fermiônico se encaixa dentro deste novo esquema. 92 5.2.1 Modo de Goldstone Em se tratando de quebra espontânea de simetria, o teorema de Goldstone nos diz: Seja uma teoria invariante sob a ação de um grupo de transformações G. Se houver uma quebra espontânea da simetria, de tal forma que o vácuo seja invariante somente sob a ação de um subgrupo G0 , então aparecerão partı́culas de spin zero sem massa que tomam valores na álgebra do coset G/G0 , sendo o número de bósons de Goldstone que surgem é igual ao número de simetrias quebradas, ou melhor dizendo dim(G/G0 ) = dim G − dim G0 (337) Então, um grau de liberdade emerge na teoria, este sendo criado do vácuo sem custo energético usando a corrente de BRST. Escrevendo a parte relevante da corrente temos a b a ∂ Fba a +G jµBRST = ... + G νi ∂µ Fνi νi µ νi (338) onde uma combinação linear de F + Fb nos permitem identificar os graus de liberdade dos bósons de Goldstone provenientes da quebra de BRST. Contudo, fazendo o cálculo das identidades de Ward a nı́vel quântico, que nos permitem observar relações entre funções de Green, imediatamente temos que δ2Γ δ2Γ ab = −δµν,ij ∂ 2 δ(x − y) = a a b b b δF µi,x Fνj,y δ F µi,x Fbνj,y (339) nos dizendo que o modo de Goldstone é uma partı́cula livre, e como tal, pode ser desacoplada de qualquer definição consistente de um possı́vel subespaço fı́sico. 5.3 Restrições na ação efetiva 5.3.1 Identidades de Ward Tendo em vista a renormalização algébrica, precisamos listar as identidades de Ward que são necessárias para a construção algébrica do contratermo invariante. De antemão, introduzimos a notação de multiı́ndice, onde i = (µ, b).28 A existência de simetrias ab a a não lineares nos leva a introdução de duas fontes λab i , ρi , Kµ , L que se transformam da 28 ab a a Exemplos: ηµν = ηµi e χab ν = ηı 93 Tabela 3 - Números Quânticos para os campos A 1 0 0 Dimensão Número de Ghost Carga Q b 2 0 0 c̄ 2 −1 0 c 0 1 0 φ̄ 1 0 −1 φ 1 0 1 ω̄ 1 −1 −1 G 2 0 1 ω 1 1 1 G 0 0 −1 F 2 −1 1 F 0 1 −1 b G 2 0 −1 Gb 0 0 1 b F 2 −1 −1 b F 0 1 1 H 2 0 −1 b H 2 0 1 Fonte: O AUTOR, 2014. Tabela 4 - Números Quânticos para as fontes K L ρ Dimensão 3 4 1 Número de Ghost −1 −2 0 Carga Q 0 0 1 λ 1 −1 1 Fonte: O AUTOR, 2014. seguinte maneira ab sλab i = ρi , sρab i = 0 , sKµa = sLa = 0 , (340) onde as fontes Kµa , La são introduzidas acopladas aos operadores compostos Dµab cb e g acb b c f c c , que correspondem as transformações não lineares dos campos Aaµ e ca , eqs.(248), 2 b a Dbc cc e F b a Dbc cc . e as fontes λab , ρab acopladas aos operadores compostos G i i µi µ µi µ Após isto, podemos olhar enfim para ação clássica completa, invariante de BRST Z 1 a a 4 F F + iba ∂µ Aaµ + c̄a ∂µ Dµab cb + φ̄ai ∂µ Dµab φbi − ω̄ia ∂µ Dµab ωib Σ = dx 4 µν µν a a a a a a −gf abc (∂µ ω̄ia )(Dµbd cd )φbi − G µi ∂ 2 Gµi + F µi ∂ 2 Fµi − G µi Dµab φ̄bi + gf abc G µi (Dµbd cd )ω̄ic b a ∂ 2 Fba + F b a Dab ω b − G b a Dab φb − gf abc F b a (Dbd cd )φc b a ∂ 2 Gba + F −G µi µi µi µi µi µ i µi µ i µi µ i a a g a a b b − δa γ 2 − G G a a 2 a abc a b c ab b a bµi +Hµi G µi − δµi G L cc γ +H µi µi µi µi − Kµ Dµ c + f 2 o b a Dbc cc , b a Dbc cc − λab G +ρab F (341) i µi µ i µi µ Esta ação nos fornece as seguintes identidades de Ward: • Identidade de Slavnov-Taylor Z S(Σ) ≡ δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ + a a + iba a + φ̄ai a + ωia a a a δKµ δAµ δL δc δc̄ δ ω̄i δφi a δΣ δΣ δΣ a δΣ b ab a δΣ a +G µi a + Fµi a + G µi a + Fbµi + ρi = 0. ab a b b δGµi δλ δF µi δ G i δF µi 4 dx µi (342) 94 • Identidade de Ward para o parâmetro de Gribov γ 2 ∂Σ =− ∂γ 2 Z aa b aa . +H d4 x Hµµ µµ (343) Esta identidade em especial é responsável pela não renormalização do parâmetro de Gribov γ 2 . Sendo esta simetria quebrada linearmente, não afeta correções quânticas • Condição de calibre e equação do anti-ghost δΣ δΣ + ∂µ = 0, a δc̄ δKµa δΣ = ∂µ Aaµ , δba (344) • equações de movimento dos campos auxiliares δΣ a = −∂ 2 G µi , a δGµi δΣ ba , = −∂ 2 G µi δ Gba δΣ a = −∂ 2 F µi , a δFµi δΣ 2 a a = ∂ Fµi , δF µi (345) µi δΣ ba , = −∂ 2 F µi δ Fba (346) µi • Equação de movimento dos campos Multiplicadores de Lagrange δΣ b a − δa γ 2 , =G µi µi ba δH δΣ a a 2 = G µi − δµi γ , a δHµi (347) µi • Equações de movimento dos campos localizantes a Φi (Σ) δΣ δΣ ab δΣ ab δΣ ≡ + ∂µ a − Dµ − ∂µ λi b b δKµb δHµi δ φ̄ai δG µi = −∂ a Ωi (Σ) 2 a ∂µ Gbµi a b a + ∂µ G + γ 2 gf abc Ac δ b , + ∂µ H µi µ µi µi δΣ δΣ ≡ + ∂µ a − gf abc a b δ ω̄i δF µi =∂ Φai (Σ) ≡ 2 a ∂µ Fbµi δΣ b 2 + δµi γ b δHµi ! (348) δΣ ab δΣ + ∂µ ρi δKµc δKµb , (349) δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ δΣ + ∂µ a + igf abc φ̄bi c − gf abc ω̄ib c + gf abc bc − Dµab a bb δφi δb δc̄ δρi δG µi δH µi a b − γ 2 gf abc δ c Ab . a a + ∂µ Hµi − ∂µ G = −∂ 2 ∂µ Gµi µi µi µ (350) 95 • Identidades de Ward Integradas Z a δΣ a δΣ ab δΣ dx c + ω̄i a − δ = 0, δωia δc̄ δρab i (351) δΣ δΣ δΣ δΣ a δΣ a δΣ 2 a + φ̄i a + a a + = 0. d x −c + γ δµi ba δφai δc̄ δL δωi δKµa δH µi (352) 4 Ui (Σ) = Z 4 Vi (Σ) = • Identidade de Ward U (4(N 2 − 1)) Z Qij (Σ) ≡ ( d4 x φai δΣ δΣ δΣ δΣ a δΣ a δΣ − φ̄aj a + ωia a − ω̄ja a + G µi a − Gµj a a δφj δωj δ ω̄i δGµi δ φ̄i δG µj a δΣ b a δΣ + Fba δΣ − Ha δΣ a δΣ b + G − F µi µi µj µj a a a ba ba δHµi δ Gbµj δ Fbµj δG δF µi µi ) δΣ δΣ δΣ a ab ab bµi +H + λi + ρi ba δρab δλab δH j j µj Z a a a ba = γ 2 d4 x δµi Hµj − δµj Hµi . b −G µj • Identidades de Ward integradas exatas: (1) Tij (Σ) ≡ (2) Tij (Σ) ≡ (3) Tij (Σ) ≡ (4) Tij (Σ) ≡ (5) Tij (Σ) ≡ (6) Tij (Σ) ≡ (7) Tij (Σ) ≡ (8) a δΣ a δΣ d x F µi a − G µj a = 0 , δGµj δFµi ! Z a δΣ a δΣ b 4 d x F µi a − G µj = 0, a δGµj δ Fbµi ! Z a δΣ a δΣ b b d4 x F −G = 0, µi µj a a δ Gbµj δ Fbµi ! Z a δΣ δΣ a b d4 x F µi −G = 0, µj a a b δFµi δ Gµj ! Z δΣ δΣ a a + G µj a = 0, d4 x Fµi a δGµj δF µi ! Z a δΣ a δΣ d4 x F µi a − Fµj = 0, a δFµi δF µj Z a δΣ (δik δjl − δjk δil ) d4 x G µk a = 0 , δGµl ! Z a δΣ δΣ a b d4 x G − G µj = 0, µi a a δGµj δ Gbµi Z Tij (Σ) ≡ 4 (353) 96 Z (9) Tij (Σ) b a δΣ = 0 , d4 x G µk a δ Gbµl ! δΣ a δΣ a F µi a − Fµj = 0. a δFµi δF µj ≡ (δik δjl − δjk δil ) Z (10) Tij (Σ) d4 x ≡ (354) • Identidade de Ward SL(2, R) Z D(Σ) ≡ 4 dx δΣ δΣ δΣ c a −i a a δc̄ δb δL a = 0. (355) • Simetria Rı́gida SU (N ) linearmente quebrada a W (Σ) = −γ Z 2 b c b c bµi d4 x gf abc (Hµi δµi + H δµi ) , (356) com W a ≡ gf abc Z ( d4 x δ δ δ δ δ + ρdb + λbd + λdb y b c + ρbd i i i i cd dc cd δy δρi δρi δλi δλdc i y∈O X ) (357) onde O é O = Aaµ , ba , c̄a , ca , φai , φ̄ai , ωia , ω̄ia , . . . , (358) i.e., O é um conjunto de todos os campos e fontes que tem um ı́ndice de cor, onde não levamos em conta os ı́ndices escondidos na notação multiı́ndice i = (a, µ). • Equação de movimento da fonte λab i δΣ − Λab i (Σ) ≡ δλab i δΣ a + γ 2 δµi a b δH µi ! δΣ = 0. δKµb (359) • Carga Qf (6) Nesta identidade, combinamos os operadores Qij e Tij , que aparecem em (353) e (354), respectivamente, e construı́mos os seguintes operadores (6) QTij = Qij + Tij . (360) O operador QTij comuta com o operador de BRST s [s, QTij ] = 0 . (361) 97 Então, o traço de QTij define uma nova carga QTii ≡ Qf := Z ( d4 x φai δ δ δ δ δ δ a a − φ̄ai a + ωia a − ω̄ia a + G µi a − Gµi a a δφi δωi δ ω̄i δGµi δ φ̄i δG µi a δ b a δ + Fba δ − Ha δ ba δ − F a + Gµi µi µi µi a a ba b ba δHµi δ G δ Fbµi δG δ F µi µi µi ) δ δ δ δ δ a a ba +H + λab + F µi a − Fµi , + ρab µi i i a ab ab a b δFµi δρi δλi δF µi δ Hµi b −G µi (362) onde f ≡ 4(N 2 − 1). A carga Qf nos fornece uma identidade muito útil quando age em Σ, que é da forma Qf (Σ) = γ 2 Z 4 dx a a δµi Hµi − a ba δµi Hµi . (363) Esta nos providencia o uso da notação multiı́ndice i = (a, µ). Todas estas identidades são compatı́veis com o princı́pio de ação quântica, mesmo em algumas tendo termos de quebra linear. 5.4 Prova da renormalizabilidade a todas as ordens De posse de todas as identidades de Ward, eqs.(342)-(363), podemos então mostrar a renormalizabilidade a todas as ordens do modelo. Agora, faremos o mesmo procedimento feito nos capı́tulos anteriores para encontrar o contratermo mais geral compatı́vel com todas as identidades de Ward. 5.4.1 Construção do contratermo invariante Como já mencionado, nós perturbamos a ação clássica Γ + Γcount e impomos que esta também obedeça as identidades de Ward eqs.(342)-(363). Esta imposição nos dá as seguintes identidades para o contratermo Σcount : βΣ (Σcount ) = 0 , (364) 98 δ δ + ∂µ a δc̄ δKµa Σcount = 0 , (365) δ δ δ ∂ δ Σcount = 0, Σcount = 0, Σcount = 0, Σcount = 0, Σcount = 0, a a a 2 a δb ∂γ δGµi δFµi δ Gbµi δ δ δ δ Σcount = 0, Σcount = 0, Σ = 0, (366) a Σcount = 0, a a b a count δHµi δF µi δ Fbµi δH µi a Φi (Σcount ) = 0 , VΣi (Σcount ) = 0 , a,i ΩΣ (Σcount ) = 0 , DΣ (Σcount ) = 0 , Qij (Σcount ) = 0 , Φai (Σcount ) = 0 , W a (Σcount ) = 0 , (n) Tij (Σcount ) = 0 , Qf (Σcount ) = 0 . Ui (Σcount ) = 0 , Λab,i Σ (Σcount ) = 0 , n = 1, . . . , 10 , (367) (368) Nesta notação,operadores com subscrito “Σ” representam os operadores linearizados correspondentes a identidades de Ward que não são lineares em Γ [11]. Por exemplo, βΣ é o operador linearizado correspondente a identidade de Slavnov-Taylor (342), Z δΣ δ δΣ δ δΣ δ δΣ δ δ δ δ 4 + + a a + a a + iba a + φ̄ai a + ωia a βΣ = dx a a a a δKµ δAµ δAµ δKµ δL δc δc δL δc̄ δ ω̄i δφi δ a b a δ + Fba δ + ρab δ a δ +G µi a + Fµi + G . (369) µi µi i a ba ba δGµi δλab δF µi δ G i δF µi µi E, assim como o operador é BRST, o operador linearizado βΣ é nilpotente, βΣ βΣ = 0. Os outros operadores linearizados são dados por: ! δ δ δΣ δ δ a,i b 2 abc abc δΣ ab δ + ∂µ a − gf + δµi γ + gf + ∂µ ρi , ΩΣ = c b b δ ω̄ia δKµc δKµb δHµi δKµb δHµi δF µi Z δ δ δΣ δ δΣ δ VΣi = d4 x −ca a + φ̄ai a + a a + a a δφi δc̄ δL δωi δωi δL ) δΣ δ δΣ δ a + + γ 2 δµi + , a a b ba δKµ δKµa δ H δH µi µi Z δΣ δ δΣ δ 4 a δ DΣ = d x c a −i a a −i a a , δc̄ δb δL δL δb ! δ δΣ δ δΣ δ a Λab,i = − + γ 2 δµi − . (370) Σ ab b ba ba δKµ δKµb δ H δλi δH µi µi 99 Vamos então construir o contratermo mais geral fazendo o uso das identidades e o que elas significam. As identidades (366) implicam que o contratermo Σcount é independente b F, F, b F, H, H, b e do parâmetro de Gribov γ 2 . A equação (365) dos campos b, G, G, significa que Σcount depende de c̄ e K sempre aparecendo na combinação (∂µ c̄a + Kµa ). Além disso, da eq.(368) sabemos que Σcount possui carga Qf nula. E por fim, de posse das propriedades da cohomologia da teoria de Yang-Mills [11], a condição (364) nos leva a construir o contratermo na forma a0 SYM + βΣ ∆(−1) , Z 1 a a Fµν , = d4 x Fµν 4 Σcount = SYM (371) onde a0 é um parâmetro de dimensão zero e ∆(−1) é um polinômio nos campos e fontes com dimensão quatro e número de ghost −1. De posse de tudo isso e usando as tabelas 1 e 2, podemos escrever o termo ∆(−1) como Z n b a ∂ φa + a gf abc F b a Ac φb (−1) ∆ = d4 x a1 (∂µ c̄a + Kµa )Aaµ + a2 La ca + a3 F 4 µi µ i µi µ i b +a5 ω̄ia ∂ 2 φai + a6 gf abc (∂µ ω̄ia )Acµ φbi + a7 gf abc ω̄ia Acµ ∂µ φbi + a8 gf abc ω̄ia Acµ G µi a b a G a + tabcd ω̄ a φb φ̄c φd + tabcd ω̄ a φb φ̄c φd + tabcd ω̄ a φb ω̄ c ω d +a ω̄ a ∂ G + a F 9 µ 10 3 i i j j 2 i j i j 1 i i j j µi µi c c c b a b c d d abcd ab d abcd ab b abcd ab b ω̄i φj ω̄i ωj + α1 λi F µi ∂µ c + α2 λi (∂µ F µi ) c + α3 λi G µi Adµ bc d abcd ab 2 c d abcd ab c 2 d +α4abcd ρab λi (∂µ ω̄ic ) ∂µ cd + α6abcd λab λi ω̄i ∂ c i F µi Aµ + α5 i (∂ ω̄i )c + α7 i µi +tabcd 4 c d abcd ab abcd ab c abcd ab +α8abcd (∂ 2 λab λi (∂µ φ̄ci )Adµ + α10 λi φ̄i ∂µ Adµ + α11 ρi (∂µ ω̄ic )Adµ i )ω̄i c + α9 bc d e abcd ab c abcde ab c d e +α12 ρi ω̄i ∂µ Adµ + β1abcde λab λi (∂µ ω̄ic )cd Aeµ + β3abcde λab i F µi c Aµ + β2 i ω̄i (∂µ c )Aµ c d e abcde ab c d e c d e abcdef ab c d e f +β4abcde λab λi φ̄i Aµ Aµ + β6abcde ρab λi ω̄i c Aµ Aµ i ω̄i c (∂µ Aµ ) + β5 i ω̄i Aµ Aµ + τ o abcdef g ab cd e f g cd e f g +M1abcdef g λab λi λi φ̄j φ̄j c . (372) i λj φ̄i φ̄j c + M2 nesta expressão , ai , i = 1, ..., 10, são coeficientes de dimensão zero, enquanto {t}, {α}, {β}, {τ }, {M } são tensores invariantes do grupo de calibre SU (N ). Aplicando as identidades e usando as seguintes relações de comutação e anti-comutação n o δ δ δ δ δ δ SΣ , δF a = δG a , SΣ , δFba = δGbδa , SΣ , δba = −i δc̄a + ∂µ δK a , µ n o δ SΣ , δF a = 0 , µi a ai SΣ , Φi = −ΩΣ , µi h SΣ , δGδa µi i µi = 0, n o ai SΣ , ΩΣ = 0 , µi SΣ , δGbδa = 0, µi [SΣ , Φai ] = −gf abc Λbc,i Σ , µi 100 Z [SΣ , Ui ] = d4 x VΣi + δ ab Λab,i , Σ o n (7) (1) SΣ , Tij = Tij , n o SΣ , Λab,i = 0, Σ SΣ , VΣi = 0 , n o (2) (8) SΣ , Tij = Tij , o n (7) (4) SΣ , Tij = −Tji , [SΣ , DΣ ] = 0 , h n o (3) (9) SΣ , Tij = Tij , (10) SΣ , Tij [SΣ , W a ] = 0 , i = 0, SΣ , QTij = 0 , (373) chegamos a uma conclusão, após muitos cálculos que o único coeficiente que permanece é a1 . Então obtemos uma expressão para ∆(−1) , eq. (372), bem mais amigável que é dada por Z b a )Dab φb (−1) ∆ = a1 d4 x (∂µ c̄a + Kµa )Aaµ + (∂µ ω̄ia + F µi µ i a b a Dbc cc . b a G a − λab F + G µi Dµab ω̄ib + F µi µi µi µ i (374) e ficamos com o contratermo mais geral Z 1 a a Σcount = a0 d4 x Fµν Fµν 4 Z b a )Dab φb + G a Dab ω̄ b + a1 SΣ d4 x (∂µ c̄a + Kµa )Aaµ + (∂µ ω̄ia + F µi µ i µi µ i b a G a − λab F b a Dbc cc . . + F µi µi µi µ i (375) 5.4.2 Fatores de Renormalização Tendo já feito a construção algébrica do contratermo local invariante Σcount , eq.(375), compatı́vel com todas as identidades de Ward (342)-(363), resta saber como reabsorver Σcount na ação de partida Σ, mesmo procedimento feito nos capı́tulos anteriores Usando a expressão (375), depois da ação do operador linearizado βΓ podemos chegar aos fatores {Z} que ficam da seguinte forma a 0 1/2 ZA = 1 + η + a1 + O(η 2 ) , 2 a0 Zg = 1 − η + O(η 2 ) , (376) 2 101 1/2 Zc1/2 = Zc̄ 1/2 = Zφ 1/2 = Zg−1 , 1/2 = Zb Zω̄ ZG 1/2 ZG 1/2 1/2 = Zb = F 1/2 ZF 1/2 ZH 1/2 = Zφ̄ −1/4 = Zg−1/2 ZA −1/2 Zω1/2 = ZA , −1/4 = Zγ 2 = Zg−1/2 ZA G 1/2 ZGb = Zg−1 , , , 1/4 Zg1/2 ZA , 1/2 ZFb = Zg , 1/2 = ZF = 1 , 1/4 1/2 = ZHb = Zg1/2 ZA , 1/4 ZK = Zg1/2 ZA , 1/4 Zρ = Zg3/2 ZA , 1/2 ZL = Zg ZA , −1/2 Zλ = Zg−1 ZA . (377) E isto finaliza a prova da renormalizabilidade desta formulação da teoria de GribovZwanziger. Podemos ver que o fator Zγ 2 , do parâmetro de Gribov γ 2 não é uma quantidade independente, sendo expresso em termos dos fatores Z da constante de acoplamento g e −1/2 −1/4 do campo de calibre Aaµ , a saber, Zγ 2 = Zg ZA . Isto é visto no modelo convencional e expressa a propriedade de não-renormalização de γ 2 , vista nesta tese e nos trabalhos [45, 66, 67, 78, 79], e esta é uma simples consequencia da identidade (343). 5.5 Discussão Neste capı́tulo escrevemos uma nova formulação da ação da teoria de GribovZwanziger [76], que nos permite obter uma simetria exata do operador de BRST, de uma ação que restringe o espaço funcional ao primeiro horizonte de Gribov. Esta simetria é espontaneamente quebrada, por um termo de quebra que é proporcional ao parâmetro de Gribov γ 2 . Além disto, a nilpotência do operador s é mantida, que é um requisito crucial para a construção, tanto do contratermo quântico mais geral, como do espaço fı́sico de Fock, utilizando a cohomologia do operador, que nos permite construir operadores locais invariantes de calibre sem cor. Ao final, foi provada ser renormalizável a todas as ordens com apenas 2 parâmetros independentes. E, além disto, foi recuperado o teorema de não-renormalização do parâmetro de Gribov, uma importante propriedade que checa a equivalência entre as duas formulações a nı́vel quântico. Certamente, muitos aspectos do papel da simetria BRST na presença do horizonte Gribov não resolvidos muito embora, acreditamos que a formulação de Gribov-Zwanziger, nesta ideia da simetria de BRST espontaneamente quebrada possa ser útil a fim de enfrentar problemas abertos como a identificação de operadores compostos renormalizáveis, cuja função de correlação possui as propriedades necessárias de analiticidade e unitarie- 102 dade para fazer contato com o espectro fı́sico da teoria de Yang-Mills. Esta formulação nos permite utilizar as ferramentas de cohomologia para extrair objetos observáveis do espectro fı́sico. Como último comentário, esta formulação pode ser generalizada facilmente para a teoria de Gribov-Zwanziger aprimorada [76]. 103 CONCLUSÃO Este trabalho é essencialmente um estudo de como a simetria BRST tem ajudado na compreensão do confinamento do setor gluônico da QCD. Para isso, iniciamos nosso trabalho sobre as simetrias na Fı́sica de um modo geral, e como este conceito é utilizado para o entendimento das teorias modernas. Evidente que, para falar de confinamento e BRST precisarı́amos falar do tijolo fundamental, que é a teoria de Yang-Mills, ação esta que é a base do modelo padrão das partı́culas elementares. Esta teoria tem como base a simetria de calibre, que é essencial para o entendimento clássico da propagação dos campos, onde se faz necessária a fixação de um calibre. O nosso trabalho começa justamente onde a fixação de calibre falha. No geral, a fixação de calibre serviria para eliminar graus de liberdades espúrios da teoria de YangMills, porém isto não é verdade. Uma simetria residual surge na história, onde cópias dos campos surgem naturalmente. Gribov escreveu que para eliminar estes novos campos indesejáveis, seria necessária uma restrição no espaço funcional dos campos, região esta que seria livre de cópias dos campos de calibre. Esta implementação foi feita de forma local e renormalizável por Zwanziger que utilizou campos auxiliares nesta formulação. Esta chamada ação de Gribov-Zwanziger nos dá uma teoria confinante olhando para o comportamento do propagador a nı́vel árvore, onde vemos a decomposição deste em duas partı́culas de massas complexas chamadas i-particles, sendo essas massas, funções de um parâmetro de massa decorrente das imposições feitas por Gribov, chamado massa de Gribov γ. Além disso o propagador possui uma violação da positividade, sendo outro critério de confinamento. Se faz necessário, devido a resultados da QCD na rede, de se aprimorar esta teoria, adicionando operadores compostos que mudem o comportamento das funções de correlação do campo de calibre e dos campos de ghosts. Tanto a teoria de Gribov-Zwanziger, quanto a sua versão refinada, possuem uma quebra da simetria de BRST, sendo esta quebra de dimensão menor do que a dimensão da ação e proporcional ao parâmetro γ, chamada de quebra suave. Esta quebra suave, junto com as i-particles foram o estopim para a construção do modelo de réplica. Este modelo consiste em duas ações de Yang-Mills distintas, já com calibre fixado, acopladas com um termo que quebra suavemente a simetria de BRST, nos providenciando um propagador da mesma forma que na ação de Gribov-Zwanziger. Esta formulação nos fornece um método sistemático de cálculo das funções espectrais de operadores compostos que correspondem a estados de glueballs com números quânticos J P C , além de ser renormalizável e nos fornecer as mesmas caracterı́sticas da ação de Gribov-Zwanziger, como o teorema de não renormalização do parâmetro de Gribov, e o teorema do ghost. Mas claro, há problemas inerentes a esta formulação, como o que significaria este modelo a baixas energias, onde as cópias de Gribov devem ser levadas em consideração [47]. O modelo de réplica pode ser 104 visto como a aplicação da quebre suave de BRST na construção de uma teoria confinante. Deixando as fontes externas de lado, vemos que a ação de Gribov-Zwanziger pode ser escrita utilizando campos auxiliares, em uma ação que possui uma quebra linear de BRST, sendo de fato uma forma mais consistente do que utilizar fontes adicionadas a mão indo a um limite fı́sico, ou algum tipo de imersão da teoria em uma maior. Não se tinha noção se este limite fı́sico, a alguma ordem nos contratermos, seria quebrado, não tendo um mapeamento exato. Ao final desta formulação quebrada linearmente, fomos capazes de provar que esta ação era renormalizável a todas as ordens utilizando as identidades de Ward. A este nı́vel, poderı́amos utilizar o conceito de cohomologia para escrever o contratermo mais geral, pois o operador linearizado correspondente é nilpotente. De fato, com esta formulação linearmente quebrada ainda não somos capazes de construir o espectro fı́sico da ação de GZ. Esta construção depende da nipotência do operador de BRST. Isto motivou a uma formulação onde a simetria de BRST não era quebrada, ou seja, uma ação invariante de BRST. Após este exercı́cio, foi possı́vel, com o mesmo tipo de abordagem feita na teoria linearmente quebrada, escrever uma ação de Gribov-Zwanziger invariante de BRST, utilizando campos auxiliares em quarteto de BRST. É natural, após análise da ação e das suas simetrias, o surgimento de uma quebra espontânea desta simetria de BRST, caracterizada com o valor médio de campos auxiliares introduzidos. Esta quebra espontânea da simetria é bem comportada, no sentido que os bósons de Goldstone que surgem se desacoplam do espectro, e que identidades de Ward associadas as esta quebra provendo um tratamento adequado para esta quebra a nı́vel quântico. Esta ação também se mostra renormalizável a todas as ordens nos providenciando os mesmos teoremas de não renormalização encontrados na teoria convencional. Esta abordagem nos permite um entendimento profundo do que poderia ser o fenômeno do confinamento, associado a uma quebra espontânea da simetria de BRST. Mas esta formulação depende estritamente do calibre escolhido. Deverı́amos ser capazes de escrever, independentemente do calibre escolhido, como esta quebra de simetria ocorre. Isto ainda é algo desconhecido na literatura. Como próximo passo deste entendimento, o imediato a ser feito é estudar o espectro fı́sico desta teoria espontaneamente quebrada, a partir da cohomologia da carga de BRST, assim como foi feito nesta tese para o caso de YM. Precisa-se entender o espaço de Fock desta teoria, e por fim, a construção dos operadores compostos que são responsáveis pelas excitações fı́sicas. Outro passo importante seria reescrever a ação de Gribov-Zwanziger no calibre abeliano máximo nos mesmos moldes feitos. Outro passo importante seria o estudo de Glueballs mais pesadas para testar o modelo de réplicas. Por fim, a simetria de BRST se mostra uma ferramenta poderosa no caminho do entendimento do confinamento dos glúons. 105 REFERÊNCIAS 1 JAFFE, A.; WITTEN, E. Quantum Yang-Mills theory. Official problem description. Clay Mathematics Institute. Disponı́vel em: <www.claymath.org/millennium/YangMills Theory/yangmills.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2013. 2 WILSON, K. G. Confinement of quarks, Phys. Rev. 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Se a ação de um sistema possui uma simetria contı́nua, ou seja, se o sistema é invariante por uma transformação parametrizada por um parâmetro contı́nuo, então existe uma corrente conservada associada a essa simetria. Vamos provar essa afirmação. Considere um funcional de ação que tem a forma geral: Z dd xL(Φ, ∂Φ). (378) S= U Onde {Φ} é uma coleção de campos. Fazendo a seguinte transformação nas quantidades x → x0 (U → U 0 ) Φ(x) → Φ0 (x0 )[Φ(x)] (379) e sabendo que os novos campos são funcionais dos campos antigos Φ0 (x0 ) = F[Φ(x)] obtemos uma ação Z 0 S = dd xL(Φ0 (x0 ), ∂ 0 Φ0 (x0 )) 0 0 ZU ∂xν d ∂x = d x L F[Φ(x)], 0µ ∂ν F[Φ(x)] ∂x ∂x U (380) (381) onde supomos que a forma funcional da densidade Lagrangiana não é modificada e ganhamos o preço de um Jacobiano de transformação. Consideremos as transformações infinitesimais parametrizadas na ação, da seguinte forma δxµ δωa δF Φ0 (x0 ) = Φ(x) + ωa (x) δωa x0µ = xµ + ωa (382) onde {ωa } é um conjunto de parâmetros infinitesimais. Mantemos somente a primeira ordem. Podemos definir o gerador Ga de uma transformação de simetria pela expressão δω Φ(x) ≡ Φ0 (x) − Φ(x) ≡ −iωa Ga Φ(x) (383) 113 Obtemos em primeira ordem no parâmetro infinitesimal δF (x) δωa δxµ δF 0 = Φ(x) − ωa ∂µ Φ(x0 ) + ωa (x ). δωa δωa Φ0 (x0 ) = Φ(x) + ωa (384) A expressão para o gerador é então iGa = δxµ δF ∂µ Φ − . δωa δωa (385) Simples exemplos podem ser calculados, como o gerador das translações é simplesmente o momento Pµ = −i∂µ , ou o gerador das transformações de Lorentz como a soma do momento angular e o spin. Ao final dos cálculos, a equação (381), fica na forma 29 Z 0 δS = S − S = − dd x jaµ ∂µ ωa (387) onde temos a corrente ν ∂L δF ∂L δx µ µ − ja = ∂ν − δν L ∂(∂µ Φ) δωa ∂(∂µ Φ) δωa (388) chamada de corrente de Noether, associada a uma transformação infinitesimal. Integrando por partes obtemos Z δS = dd x(∂µ jaµ )ωa (389) E então podemos enunciar o teorema de Noether: se uma configuração de campo obedece as equações clássicas do movimento, a ação é estacionária sobre qualquer variação dos campos. Em outras palavras, para uma variação nula da ação δS para qualquer parâmetro ω a lei de conservação é dita ∂µ jaµ = 0. (390) Isto implica na existência de uma corrente que é classicamente conservada. A carga conservada associada a corrente, chamada carga de Noether é Z Qa = dd−1 x ja0 (391) 29 Usando para o Jacobiano a aproximação 0 ∂x µ ∂x ≈ 1 + ∂µ (δx ) (386) 114 onde ja0 é a componente temporal da corrente e a medida de integração é puramente espacial. A nı́vel quântico, funções de correlação são o objeto de estudo, e simetrias contı́nuas levam a vı́nculos entre diferentes funções de correlação. Novamente, é preciso da transformação infinitesimal dos campos, em termo dos geradores Φ0 (x0 ) = Φ(x) − −iωa Ga Φ(x). (392) Denotando X a coleção de campos Φ(x1 )...Φ(xn ), δω sua variação e Z o gerador funcional escrevemos Z Z 1 0 µ hXi = DΦ (X + δX) exp − S[Φ] + dx∂µ ja ωa (x) . (393) Z Assumimos que a medida de integração funcional é invariante sobre transformações locais. Expandindo a primeira ordem em ωa obtemos Z hδXi = dx∂µ hjµa (x)Xiωa (x) (394) A variação δX é explicitada na forma δX = −i n X (Φ(x1 )...Ga φ(xi )...Φ(xn )) ωa (x) i=1 Z = −i dxωa (x)δ(x − xi ) n X (Φ(x1 )...Ga φ(xi )...Φ(xn )) ωa (x) (395) i=1 e, comparando com a equação (394), podemos escrever o que se chama de Identidade de Ward para a corrente j n X ∂ n hj u Φ(x )...Φ(x )i = −i hΦ(x1 )...Ga φ(xi )...Φ(xn )i a 1 n ∂xν i=1 (396) onde também podemos definir uma carga conservada da mesma forma que classicamente, mas com um papel de gerador da simetria de transformação no espaço de Hilbert. 115 APÊNDICE B - Quebra de Simetria em FÍsica O segredo da natureza é a simetria, mas grande parte da textura do mundo é devida a mecanismos de quebra de simetria. Entendemos por quebra espontanea de simetria a situação na qual o estado fundamental de um sistema não é invariante por uma transformação que é uma simetria da Hamiltoniana do sistema. A simetria associada com tal transformação é então dita quebrada. Para melhor entender esse fenomeno é conveniente desenvolver uma linguagem que nos permita discutir as propriedades do vacuo quantico da teoria. Podemos chamar de vácuo clássico um estado de um sistema clássico quando este está no mı́nimo do seu potencial, dado pela parte não derivativa de sua ação clássica. Queremos uma definição análoga para o caso quântico. Primeiramente vamos definir a chamada ação quantica. Considere o funcional gerador das funções de correlação de um sistema qualquer: Z Z[J] = exp{iW [J]} = Z D DΦ exp i S[Φ] + d xJ(x)Φ(x) (397) onde, graficamente, W [J] representa a soma de diagramas conexos. Para definir a ação quantica, imaginamos que ao realizar a integração funcional para obter a forma explı́cita de W [J], esta pode ser colocada exatamente na mesma forma do integrando, ou seja, escrevemos algo da forma Z D exp{iW [J]} = exp i Γ[ΦJ ] + d xJ(x)ΦJ (x) (398) onde ΦJ é uma função de J a ser determinada. Dessa forma, vemos que Γ[ΦJ ] deveria representar a ação clássica de um sistema efetivo que leva em conta todos os efeitos quanticos do sistema original, por isso é chamada de ação quantica ou também de ação efetiva. Note que de fato, se os efeitos quanticos puderem ser ignorados a integração funcional seria definida pelo seu extremo e poderı́amos identificar Γ[ΦJ ] com o valor da ação clássica no seu extremo. Graficamente, a representação gráfica de Γ[ΦJ ] está associada aos diagramas 1PI (one-particle-irreducible). Para definir ΦJ , fazemos uma transformada de Legendre Z W [J] = Γ[ΦJ ] + dD xJ(x)ΦJ (399) Derivando funcionalmente em relação a J obtemos δW [J] = δJ(x) Z δΓ[ΦJ ] δΦJ (y) d y + δΦJ (y) δJ(x) D Z dD y δΦJ (y) J(y) + ΦJ (x) δJ(x) (400) 116 Portanto, se a ação quantica satisfaz a equação (que corresponde a extremização do argumento da exponencial em eq.(398), ou seja a equação de movimento do sistema efetivo) δΓ[ΦJ ] = −J(x) δΦJ (x) (401) temos δW [J] = ΦJ (x) δJ(x) (402) Mas sabemos que esta última é a equação que define o valor esperado no vácuo do campo Φ na presença da corrente externa J δΓ[ΦJ ] = hΦiJ δΦJ (x) (403) O vácuo quântico do sistema é definido por esse valor esperado para J = 0. Portanto, estabelecemos uma forma bastante intuitiva de determinar o vácuo do sistema, basta resolver a equação δΓ[Φ0 ] =0 δΦ0 (x) (404) onde Φ0 = hΦiJ=0 . Se a eq.(404) possuir uma solução nao-nula para Φ0 dizemos que existe um vacuo nao-trivial, em geral associado a quebra de alguma simetria. Note que a eq.(404) é o que temos em mente quando pensamos no calculo classico do mı́nimo de um potencial. De fato, podemos escrever a forma geral em expansão derivativa Z Γ[Φ0 ] = dD x(−U (Φ0 ) + Z(Φ0 )(∂Φ0 )2 + ...) (405) onde U (Φ0 ), parte não derivativa da ação, representa a energia potencial quântica do sistema. Considerando um vácuo invariante por simetria de translação, o que é razoável, temos que a energia sera minimizada quando U (Φ0 ) for minimizado. A quebra de simetria é um fenômeno do infravermelho (IR), associado ao comportamento em longas distâncias. Vamos supor um conjunto de campos escalares, que se transformem como φm (x) → φ0m = X Lmn φn (x) (406) n onde Lmn são os elementos de uma matriz constante qualquer. Suponha que a teoria não possua nenhuma anomalia, ou seja, é uma simetria da ação clássica e da ação quântica, 117 então temos Γ[φ] = Γ[Lφ] (407) a manifestação da simetria. O estado fundamental desta é definido pelo valor do campo φ no mı́nimo da energia potencial quântica associada a Γ. Ou seja, o campo φ será um valor constante φ̄ que minimiza a energia potencial U (φ̄) = −Γ(φ̄), mas Γ[φ̄] = Γ[Lφ̄] (408) e portanto, se φ̄ 6= Lφ̄ teremos múltiplos vácuos degenerados, e ao escolher um destes para quantizar a teoria, obviamente a simetria é quebrada. Exemplos não faltam de teorias com quebra espontânea de simetria. Dentre dezenas de exemplos podemos destacar: • A quebra de simetria quiral que possui por consequência a geração de 99% das massas dos núcleons. • O ferromagneto, que é um sistema canônico que quebra a simetria contı́nua de spins a temperatura de Curie e campos magnéticos externos nulos. • A geração da massas dos campos de calibre no modelo padrão através do mecanismo de Higgs-Brout-Englert, se basea na quebra espontânea da simetria. Com isto terminamos esta breve revisão. As simetrias e suas quebras são parte fundamental da fisica moderna, provendo propriedades importantes da natureza. Em algumas partes do texto admitimos que o leitor esteja habituado com conceitos da teoria clássica e quântica de campos. Indicamos como referencia os textos [4, 15, 16]