JP ■ 8 GERAL ■ Segunda-feira, 8 de setembro de 2008 URBANISMO Cachoeira das vilas sem início nem fim Cidade tem hoje apenas dois bairros delimitados. O restante provoca confusões de localização > ROBSON NEVES Leitor do JP JP, morador da Rua Tiradentes, a duas quadras da Fenarroz, mora em vários bairros. Tecnicamente é um habitante do Bairro Carvalho, mas na sua conta de luz consta como Marques Ribeiro, já que no mapa da AES Sul a Rua Tiradentes pertence a esse bairro, embora a via atravesse outros dois pelo caminho, Aldeia e Frota. Por isso, outras contas variam também de bairro, dependendo do mapa utilizado. Sorte dos Correios que a cidade é pequena e os carteiros nunca erram o nome da rua e o número, sem dar bola para o bairro. Casos como este são comuns em Cachoeira. Pequenas comunidades dentro da cidade, os bairros são locais onde grande parte dos moradores se conhece e a vida é tranqüila, longe da agitação existente no Centro. O cotidiano é tão independente do resto da cidade que cada um deles apresenta seus próprios aspectos culturais. O problema é saber onde esse bairro começa ou termina. Apenas dois bairros - que em Cachoeira muitos preferem chamar de vila - são delimitados por lei, o Universitário e o Virgilino Jayme Zinn (ex-Beco dos Trilhos). Os demais bairros, que são parte da história da formação da zona urbana da cidade, vão se constituindo a partir de elementos de identidade das pessoas que vivem na comunidade. No Bairro Aldeia, por exemplo, o grande símbolo para os moradores é a Casa da Aldeia. No Parque Scopel, a antiga casa do médico Scopel. O Bairro São José tem a referência na Paróquia São José e o Bairro Marina tem origem no loteamento dos empregados em uma antiga indústria, cuja esposa do proprietário chamava-se Marina. Quinta da Boa Vista era o nome da chácara de Achyles Figueiredo, que depois de loteada virou um bairro. Ao analisar os mapas comerciais de Cachoeira se percebe que existem quase 40 bairros na cidade. Porém, como eles não foram criados por lei e não tiveram a sua delimitação feita pela Prefeitura, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não os considera bairros, dividindo a cidade em zonas rural e urbana, onde apenas o Universitário tem seus dados coletados em separado nos censos. “Para o IBGE existe apenas um bairro, que é o Universitário. Todos os demais são zona urbana. Para o IBGE reconhecer um bairro é preciso que tenha sido criado por lei e que ele seja delimitado com clareza”, afirma o chefe do IBGE em Cachoeira, Nei Oliveira Pereira. SEM CENTRO - De acordo com Pereira, como não existe lei delimitando os bairros não há nem como especificar onde fica o centro da cidade. “Nós não podemos considerar o que é centro ou não. Se chegarmos no Rio Branco, por exemplo, e o morador dizer que reside no Centro, não podemos contestar”, observa Pereira. Ele enfatiza que a delimitação é importante, pois pode servir de base para os municípios traçarem suas políticas públicas. “Em 2010 o IBGE fará um censo para radiografar todos os municípios, coletando dados como se uma residência é abastecida com água e energia elétrica, por exemplo, se tem posto de saúde no bairro. Enfim, será um trabalho minucioso, que poderá ser fonte para futuros investimentos onde hoje há carência”, observa Pereira. O mapa usado pelo IBGE é bastante antigo e foi criado pela Prefeitura, sendo atualizado pelo próprio instituto quando constata a criação de nova rua. >> IMPORTANTE ATENÇÃO Os moradores mais antigos da cidade continuam reconhecendo três grandes bairros na zona norte, o Oliveira, o Marina e o Noêmia, tudo por causa das linhas de ônibus da TNSG. Quando o final da linha era no Hotel União, só prosseguiam o trajeto os vilas. Chegando no Hotel União, o Vila Oliveira dobrava para a direita, o Noêmia para a esquerda e o Marina seguia em frente pela Avenida Brasil. Muito mais tarde surgiram os trajetos para outros bairros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pretende desenvolver o novo mapa de Cachoeira do Sul usando fotografia de satélite. Conforme o técnico em informações estatísticas e geográficas do IBGE, Círio Sabin, o sistema é uma novidade no IBGE, permitindo visualizar nitidamente as ruas da cidade. A idéia é criar o novo mapa no ano que vem. >> HISTORINHA Recentemente, a notícia publicada no Jornal do Povo sobre o assalto sofrido por um motorista no pátio do posto G Forte, na BR 153, deixou indignada pelo menos uma moradora do Bairro Promorar. Ela criticou o jornal por publicar que o crime ocorreu no Promorar, que fica quase em frente ao posto, do outro lado da estrada. Nos mapas comerciais o bairro mais próximo do posto realmente é o Promorar, mas no site do Engenho Moraes, que fica em frente ao G Forte, consta no endereço que a indústria fica no Bairro Marina. Então o G Forte fica no Marina? Não. O G Forte tem seu endereço como Bairro Santa Helena. Nem o IBGE nem os Correios sabem em que bairro fica o G Forte. TRÊS PERGUNTAS SOBRE ROBSON NEVES PERFIL Universitário com 1,1 mil moradores O Bairro Universitário foi criado pela Lei Municipal 3.274, de 16 de agosto de 2001, quando o prefeito era Pipa Germanos. O último censo populacional do IBGE apontou 1.164 mo- radores no Universitário, sendo 578 homens e 586 mulheres. Nas áreas sem lei de bairro na zona urbana, o IBGE contabilizou 69.675 habitantes. Correios: gerente Camargo apresenta o mapa da Prefeitura, de 1989 PARA SABER MAIS Os Correios e os bairros de Cachoeira Os limites do Universitário Leste - Avenida Marcelo Gama, entre ruas Cabo Toco e Coronel Santos Filho Oeste - Traçado na BR 153, entre prolongamentos da Cabo Toco e Santos Filho Sul - Cabo Toco, trecho com início da Marcelo Gama até o traçado na 153 Norte - Santos Filho, entre Marcelo Gama e traçado da BR 153 Antigo Beco dos T rilhos agora é bair Trilhos bairrro Conhecido como Beco dos Trilhos, o Bairro Virgilino Jayme Zinn foi criado pelo prefeito Marlon Santos em dezembro de 2005, através da Lei Municipal 3.657. No entanto, o IBGE não considera o Virgilino um bairro sob alegação que os limites não são claros. Na legislação consta que o limite ao norte é a Rua João Trevisan entre as ruas Comen- dador Fontoura e Isidoro Neves e o Loteamento da Vila Soares, conforme planta aprovada em 3 de abril de 1925. No entanto, o chefe do IBGE em Cachoeira, Nei Oliveira Pereira, argumenta que a lei não deixa claro onde está localizado o Loteamento da Vila Soares. A falta de um mapa certo dos bairros atrapalha os Correios em Cachoeira? O gerente do centro de distribuição dos Correios, Sandro Camargo, afirma que a falta de delimitação dos bairros atrapalha um pouco o trabalho em Cachoeira do Sul, quando precisa ser feita a divisão das zonas para a entrega. Atualmente a cidade é dividida em 17 áreas, sendo atendida por 26 carteiros, que entregam em média 10 mil correspondências simples por dia. Além disso, há as encomendas que são levadas pelas equipes motorizadas. Os carteiros são prejudicados? Na prática, Camargo afirma que o trabalho não é prejudicado, pois os carteiros não se orientam por bairros, mas pelo CEP. Nos Correios existem dois mapas, um comercial e o oficial, elaborado pela Prefei- tura em dezembro de 1989, há quase 20 anos. “O mapa da Prefeitura é desatualizado. Hoje os mapas comerciais estão mais atualizados que o da Prefeitura”, observa Camargo. Todas as ruas de Cachoeira possuem CEP? De acordo com Camargo, Cachoeira tem hoje cerca de 530 ruas cadastradas com seu devido CEP. Questionado sobre o que é considerado centro, ele salienta que não é possível definir devido à falta de delimitação. “Na prática, o Centro seriam as ruas centrais, como 7 de Setembro, Saldanha, Júlio de Castilhos e David Barcelos. No entanto, não há como dizer o que é ou não centro”, alega Camargo. O próprio centro de distribuição dos Correios, na Rua Barão do Viamão, recebe correspondências como bairros São José e Santa Teresinha.