LUXAÇÃO INVETERADA DO OMBRO ATUALIZAÇÃO / UPDATE Luxação inveterada do ombro Chronic unreduced shoulder dislocation MARCO ANTONIO DE CASTRO VEADO1 RESUMO ABSTRACT O melhor tratamento para a luxação inveterada do ombro é, na verdade, a prevenção. Por isso, devem ser sempre valorizados a história clínica e o exame físico. Atenção redobrada deve ser dada aos pacientes epilépticos, alcoólatras, politraumatizados e àqueles em tratamento prolongado de “capsulite adesiva”. A incidência em axilar na investigação radiológica é indispensável, pois ela é a chave para o diagnóstico. Muitas vezes “o não fazer nada” constitui a melhor forma de tratamento dessa lesão. No planejamento operatório, identificar: o tamanho do defeito da cabeça umeral, as perdas ósseas da glenóide, o estado do manguito rotador, principalmente o do músculo subescapular, e as lesões nervosas. A tomografia computadorizada e a ressonância magnética são exames complementares de grande valia. Para o ato cirúrgico são indispensáveis: material apropriado, auxiliares treinados e em número suficiente. Redução aberta está bem indicada nos casos mal definidos ou que datem mais de duas semanas do trauma. As cirurgias reconstrutoras são a indicação de eleição nos pacientes mais jovens e com lesão da cabeça umeral menor que 45% da superfície articular. As hemiartroplastias são a melhor escolha quando o defeito umeral está acima desse percentual, e as artroplastias totais quando há comprometimento da glenóide, sempre dependendo da integridade do manguito rotador. É indicação questionável operar paciente desmotivado, pouco disposto a submeter-se ao programa de reabilitação funcional. The best treatment for the chronic shoulder dislocation is undeniably the prevention. Therefore, the clinical history and physical examination must always be valued. Doubled attention must be paid to epileptic patients, alcoholics, multiple injured patients, and those with a prolonged treatment of “adhesive capsulitis”. The radiographic axillary view is essential, as it is the key for the diagnosis. Many times the “do not touch” is the best form of treatment for such injury. During operative planning, the size of the humeral head defect, glenoid bone losses, rotator cuff status, mainly the subscapularis muscle, and nerve injuries must be identified. Computerized tomography and magnetic resonance imaging are complementary tests of great value. Appropriate material, trained and numerically sufficient surgical personnel are essential for the surgical procedure. Open reduction is well indicated for ill-defined cases or those evolving more than two weeks from the trauma. Reconstruction procedures are indicated for younger patients, and those with a humeral head lesion corresponding to less than 45% of the joint surface. Hemiarthroplasties are the best choice when the humeral defect is above that percentage, and total arthroplasties suit better glenoid compromising, ever depending on the rotator cuff integrity. It is debatable whether to operate an unmotivated patient, who would not be ready to be submitted to a functional rehabilitation program. Key words – Shoulder; hemiarthroplasty; rotator cuff Unitermos – Ombro; hemiartroplastia; manguito rotador 1. Cirurgião de Ombro do Hospital Mater Dei e Hospital da Previdência-IPSEMG de Belo Horizonte/MG; Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais-Hospital Universitário São José. 1. Shoulder Surgeon, Hospital Mater Dei and Hospital da Previdência – IPSEMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil; Associate Professor, Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais-Hospital Universitário São José, Belo Horizonte, Brazil. Endereço para correspondência (Correspondence to): Av. Celso Porfírio Machado, 104 – 30320-400 – Belo Horizonte, MG. Tels.: (31) 3286-3156 (residência), 32615700 e 3261-5157 (consultório). E-mail: [email protected]. Copyright RBO2004 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 1 M.A. CASTRO VEADO INTRODUÇÃO INTRODUCTION Segundo Loebenberg e Cuomo, foi White quem, pela primeira vez, em 1741, publicou comentários sobre o tratamento da luxação posterior crônica do ombro, chamando atenção para a gravidade dessas lesões, mostrando seu resultado final sombrio(1). According to Loebenberg and Cuomo, White first published in 1741 commentaries on the treatment of the chronic posterior shoulder dislocation, calling attention to the severity of those injuries, with a reserved outcome(1). Centuries have been through and this diagnosis is still being neglected. With the advances in the knowledge and treatment of shoulder diseases, unreduced chronic dislocation has been sporadically found in orthopedic practice. The diagnosis is eventually known, but the many patients – mainly the poorest – do not have their problem solved due to precarious conditions of our health system, the region where they live, or the lack of somebody able to solve the problem. Alcoholics, diabetics (seizures due to nocturnal hypoglycemia), and epileptic patients that use anticonvulsive medications erratically are often subject to have their dislocation neglected, whereas the same happens with comatose victims of serious accidents, with multiple injuries in the ICU, where other higher-risk injuries demand the attention of the attending team(2,3). Quite frequently the patient does not safely inform how long has the shoulder been dislocated, posing a great risk, as attempts of closed reduction may fracture the humerus, already atrophic by disuse, thus compelling the orthopedic surgeon to carry out an eventually complex open reduction, without previous preoperative planning. Time produces capsule, tendon and muscle scarring and adhesions, making the reduction difficult, and eventually impossible. The humeral head cartilage softening, along with intense soft tissue contracture and important glenoid bone loss, are quite often times associated to fractures and nerve injuries, predicting a poor outcome for those injuries(2). When is a dislocation considered to be chronic? In accordance to Schultz et al, a dislocation is considered chronic after 24 hours of an unrecognized trauma(4). Others consider after 45 days(5), although most – according to Rowe and Zarins – stated a period above 21 days(6). We consider that after the second week of trauma, we must be prepared for an open reduction. As to the direction of displacement, there is no agreement either. According to Schultz et al, and Rowe and Zarins, the posterior dislocation is more frequent than the anterior dislocation. Seizures account for 1/3 of posterior dislocations, and half of anterior dislocations(4,6). Buhler and Gerber showed, however, an equal frequency between both(7). Our experience Séculos já se passaram e esse diagnóstico continua sendo negligenciado. Com o avanço no conhecimento e no tratamento das afecções do ombro, a luxação crônica não reduzida tem sido encontrada na prática ortopédica de maneira esporádica. Algumas vezes, o diagnóstico é conhecido, mas muitos pacientes, principalmente os mais humildes, não têm o problema resolvido devido às condições precárias do nosso sistema de saúde, da região que habitam ou pela falta de alguém capaz de solucionar o problema. Pacientes alcoólatras, diabéticos (convulsão por hipoglicemia noturna), epilépticos que fazem uso de medicamentos anticonvulsivantes de maneira desordenada estão sujeitos com freqüência a ter sua luxação negligenciada, o mesmo ocorrendo com vítimas de acidentes graves, em coma, com múltiplas lesões, internados em CTI, quando outras lesões de maior risco e importância desviam a atenção da equipe de atendimento(2,3). Com muita freqüência, o paciente não informa com segurança há quanto tempo o ombro está luxado, decorrendo daí grande risco, pois as tentativas de redução incruenta podem fraturar o úmero já atrofiado por desuso, ou então obrigar o ortopedista a realizar uma redução aberta, às vezes complexa, sem prévio planejamento operatório. O tempo faz com que as contraturas e aderências da cápsula, tendões e músculos dificultem a redução, tornando-a impossível após certo tempo. O amolecimento da cartilagem da cabeça umeral deslocada, junto com intensa contratura de tecidos moles e perda óssea importante na glenóide, muitas vezes associada às fraturas e lesões nervosas, fazem com que essas lesões tenham prognóstico reservado(2). Quando uma luxação é considerada crônica? Segundo Schultz et al, quando não são reconhecidas após as 24 horas do trauma(4). Outros acham que seria após 45 dias(5), embora a maioria, segundo Rowe e Zarins, estabeleça o prazo como superior a 21 dias(6). A nossa opinião é de que após a segunda semana do trauma já devemos estar preparados para uma redução aberta. Em relação à direção do deslocamento, também não existe concordância. 2 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 LUXAÇÃO INVETERADA DO OMBRO in 12 cases of our sampling of Na experiência de Schultz unreduced dislocations showet al e Rowe e Zarins, o desed the same frequency as to the locamento posterior é mais incidence of anterior and posfreqüente que o anterior com terior dislocations. as crises convulsivas resIn a research performed in pondendo por 1/3 das luxaNew England, USA, 33% of the ções posteriores e metade das surgeons with one to five years’ anteriores(4,6). Buhler e Gerexperience had dealt with at ber mostraram, entretanto, least one case of chronic freqüência igual entre as shoulder dislocation, whilst duas(7). Nossa experiência the incidence was of 90% for em 12 casos de luxação irrethose with more than 20 years’ dutível mostra também igual freqüência em relação à in- Fig. 1 – Radiografia do ombro em axilar mostrando uma luxação experience. Therefore, the experience with chronic glenocidência de luxação anterior posterior Fig. 1 – Shoulder axillary view showing a posterior dislocation humeral dislocation is directe posterior. ly linked to the time length of Em pesquisa realizada em orthopedic practice(6). New England, EUA, 33% dos cirurgiões com um a cinco anos de experiência viram ou traIn 1855, according to Matsen and Rockwood, Malgaigne taram pelo menos um caso de luxação crônica do ombro, enpublished on 37 cases of posterior dislocations, based solely quanto a incidência foi de 90% naqueles com mais de 20 anos on careful observation, about 40 years before the discovery de experiência. Portanto, a experiência com a luxação escaof X-rays. puloumeral crônica está diretamente relacionada com o temA careful clinical history, a thorough physical examinapo de prática do ortopedista(6). tion, added to the essential axillary view, are the key for the Em 1855, segundo Matsen e Rockwood, Malgaigne publicorrect identification of the injury that will take us straight to cou 37 casos de luxação posterior, cerca de 40 anos antes da the diagnosis(1,2,8,9) (figure 1). descoberta do RX, unicamente baseado em sua atenta obserThere must be a high degree of suspicion about a blocked vação(8). dislocation, especially a posterior dislocation, whenever a História clínica minuciosa, exame físico atento e detalhapatient presents with shoulder pain and range of motion limdo, aliados à investigação radiológica com a indispensável itation that are resistant to treatment. incidência em axilar, são a chave para a correta identificação Once the diagnosis of unreduced chronic shoulder dislocada lesão e nos levarão certamente ao diagnóstico(1,2,8,9) (fig. 1). tion is done, there are some questions to be asked. The most Suspeitar sempre da luxação bloqueada, principalmente a important, according to some authors, is to know if the paposterior, frente a qualquer paciente com dor e limitação de tient is symptomatic(2,3,10). It is not uncommon to find patients presenting old, painmovimentos do ombro resistentes ao tratamento. free dislocations, with reasonable range of motion. ObviousUma vez diagnosticada a luxação crônica não reduzida do ly, those patients will not be candidates for a surgical interombro, existem vários questionamentos a ser feitos. O mais vention (figure 2). importante, segundo alguns autores, é saber se o paciente é Another aspect to consider is the rehabilitation. It is imsintomático(2,3,10). Não é incomum encontrarmos pacientes com luxações anportant to previously identify if the patient has capability, motigas sem dor e com amplitude razoável de movimentos. Obtivation, and conditions to take the long and intense program viamente, que esses não serão candidatos a uma intervenção of physical therapy that follows the surgery; alcoholics, epicirúrgica (fig. 2). leptics and people at the lowest social level are not usually Outro aspecto diz respeito à reabilitação. É importante idencooperative. tificar previamente se o paciente tem habilidade, motivação e The type of surgical procedure and its prognosis will dicondições de cumprir o prolongado e intenso programa de rectly depend on the time frame that the humeral head had fisioterapia que se segue à cirurgia: alcoólatras, epilépticos e lost its relation with the glenoid. Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 3 M.A. CASTRO VEADO A Fig. 2 – A) Paciente com uma luxação anterior crônica não reduzida há mais de cinco anos, assintomática; B) Aspecto radiológico. B Fig. 2 – A) Asymptomatic patient with chronic anterior dislocation for more than five years. B) Radiological aspect. aqueles com baixo nível social costumam não ser cooperativos. O tipo de cirurgia realizada e seu prognóstico vão depender diretamente do tempo que a cabeça umeral perdeu sua relação com a glenóide. O tamanho e a localização dos defeitos da cabeça, perdas ósseas na glenóide e lesões do manguito rotador, principalmente a do tendão do músculo subescapular, devem ser cuidadosamente avaliados para que um adequado planejamento operatório seja feito(1). 4 Fig. 3 – Radiografia em AP do ombro mostrando uma lesão de Hill-Sachs Fig. 3 – Shoulder AP X-ray showing Hill-Sachs lesion Head bone defects size and location, glenoid bone loss and rotator cuff injuries – mainly the subscapularis muscle – must be carefully assessed for an adequate preoperative planning(1). CHRONIC ANTERIOR DISLOCATION Shoulder anterior dislocation is one of the most familiar injuries to the orthopedic surgeon, and the diagnosis seldom goes unnoticed if seen during the acute phase. As previously mentioned, patients with mental state alteration or carriers of unknown seizures may deny important information about timing and cause of the injury. It is not difficult to find that the humeral head is out of the glenoid, viewed from an anteroposterior X-ray incidence. The posterolateral humeral head defect (Hill-Sachs lesion) may be sufficiently large in long standing cases (figure 3). As time goes by, there is a “false” glenoid formation within the scapular anterior neck, where the dislocated humeral head is(2,3). The axillary X-ray view seals the diagnosis of dislocation direction(1,2,5,11) and, when associated to computerized tomography, it may show glenoid fractures and humeral head defect size(1,2,3,8). Magnetic resonance imaging is not needed for those cases, but it helps to check the subscapularis muscle tendon status, as it is the main passive stabilizer on the anterior dislocation. Sometimes after reduction of the anterior dislocation, it recurs due to an anterior glenoid rim fracture, a situation that may not be diagnosed, especially in the aged and osteoporotic(2,3,8) (figure 4). Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 LUXAÇÃO INVETERADA DO OMBRO LUXAÇÃO ANTERIOR CRÔNICA A luxação anterior do ombro é das lesões mais familiares ao ortopedista e o diagnóstico dificilmente passa despercebido se visto na fase aguda. Como dito anteriormente, pacientes com estado mental alterado ou portadores de crise convulsiva não conhecida podem sonegar informações importantes em relação ao tempo e causa da lesão. Com uma radiografia feita em AP no plano do corpo não é difícil perceber que a cabeça umeral encontra-se fora da glenóide. O defeito póstero-lateral na cabeça umeral (lesão de Hill-Sachs) pode ser bastante grande em casos de longa duração (fig. 3). Com o tempo, forma-se uma “falsa” glenóide no colo anterior da escápula, que está em contato com a cabeça deslocada(2,3). A radiografia axilar é definitiva para o diagnóstico da direção da luxação(1,2,5,11) quando associada à tomografia computadorizada, pode mostrar fraturas da glenóide e dimensionar o defeito da cabeça umeral(1,2,3,8). A ressonância magnética é dispensável nesses casos, mas ajuda a verificar o estado do tendão do músculo subescapular, já que ele é o principal estabilizador passivo na luxação anterior. Algumas vezes, após a redução da luxação anterior, esta se refaz em função da presença de fratura da borda anterior da glenóide, situação que pode não ser diagnosticada, principalmente nos idosos osteoporóticos2,3,8 (fig. 4). Em presença de lesão nervosa concomitante, particularmente do nervo axilar, é necessário documentá-la, se possível com eletroneuromiografia, comunicando a complicação ao paciente antes da realização de qualquer procedimento. TRATAMENTO DA LUXAÇÃO ANTERIOR CRÔNICA O tratamento dessa condição pode variar desde uma conduta expectante, passando pela redução aberta com reconstrução articular e enxerto ósseo, chegando até mesmo à artroplastia. Uma clara e sincera conversa com o paciente e familiares deve acontecer a fim de mostrar-lhes a difícil situação a enfrentar. O desafio maior é o de escolher o tipo de procedimento mais adequado para cada paciente. Às vezes, o melhor é não fazer nada, apesar de o deslocamento anterior crônico ser mal tolerado pelo paciente quando comparado com o posterior. Neste, ele consegue alcançar a face e a boca devido à contratura fixa do membro em rotação Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 A C B D Fig. 4 – A) Radiografia em AP mostrando uma luxação anterior associada a uma fratura da borda anterior da escápula. B) Tomografia computadorizada. Feita redução incruenta da luxação com perda posteriormente dentro do Velpeau. C e D) Redução aberta e preenchimento do defeito ósseo com o processo coracóide três meses após o trauma. Fig. 4 – A) AP X-ray showing anterior dislocation associated to anterior scapular rim fracture. B) Computerized tomography. Closed reduction of dislocation and further loss of reduction within Velpeau immobilization. C and D) Open reduction and bone defect filling with coracoid process three months after the trauma. In presence of a concurrent nerve injury, particularly the axillary nerve, it is necessary to document the lesion with an electromyography, telling the patient about the complication before any procedure is performed. TREATMENT OF CHRONIC ANTERIOR DISLOCATION The treatment of this condition may range from simply waiting to open reduction, and joint reconstruction to arthroplasty. 5 M.A. CASTRO VEADO interna; na luxação anterior, o braço está fixo, afastado do corpo e em rotação externa, situação que é mais incapacitante(6). Redução fechada – Pode ser tentada com muita cautela através de manipulação suave, estando o paciente com anestesia venosa e com bom relaxamento, até no máximo duas a três semanas após a lesão. Segundo Matsen e Rockwood, se a lesão data de uma semana ou mais, a redução fechada não deve ser tentada porque a contratura de partes moles é tão intensa que aumenta muito o risco de fratura no úmero(8). Nos idosos os riscos são ainda maiores devido à menor elasticidade da parede das artérias e à osteoporose(6). Nossa experiência é não insistir na redução de uma luxação com mais de duas semanas ou com data de ocorrência mal definida. Redução aberta – Deve ser realizada em luxações bloqueadas nas quais a tentativa de redução fechada não obteve êxito. Até provavelmente seis meses considera-se a cartilagem ainda como preservada, sendo possível a reconstrução articular. Nos casos mais graves é prudente deixar sempre um cirurgião vascular de sobre-aviso, pois a intensa fibrose e a anatomia alterada aumentam muito o risco de lesão dos vasos axilares. Preferimos o acesso deltopeitoral longo com o paciente na posição de “cadeira de praia”. Liberação de parte da inserção do peitoral maior, do músculo subescapular e da cápsula articular contraturada deve ser realizada, ao mesmo tempo que ganhamos mais rotação externa, facilitando assim a capsulotomia posterior, num procedimento praticamente circunferencial. A ligadura da artéria umeral circunflexa anterior pode ser necessária, bem como a visualização e proteção do nervo axilar. Todo o conteúdo fibrótico da cavidade glenóide deve ser removido para que a cabeça umeral possa ser adequadamente reduzida. Após a redução, avaliamos a estabilidade da articulação, isto é, a quantidade de rotação interna necessária para manter a cabeça reduzida. Alguns preferem a estabilização temporária com fios ou parafusos(6,12) fixando-se a articulação glenoumeral ou o acrômio ao úmero, procedimentos criticados por Flatow et al(3). Eles acham que, se é necessário o uso desses fios, é porque a liberação não foi suficiente, o que facilitará a reluxação após a retirada dos mesmos(2,3). Além do mais, os fios ou parafusos causam dano à articulação (fig. 5). Após a redução cirúrgica, tem sido a nossa preferência realizar a cirurgia de Bristow para evitar a luxação recidivante, ao invés de procedermos ao reparo da lesão de Bankart. As 6 A direct and sincere talk with the patient and family must take place to show the difficult situation they face. A main challenge is to choose the most adequate type of procedure for each patient. Sometimes the best is to do nothing, despite that the chronic anterior dislocation is not as well tolerated as the posterior dislocation by the patient. In the posterior dislocation, the patient may reach the face and the mouth due to upper limb fixed internal rotation, whereas in the anterior dislocation the arm is fixed, away from the body, and in external rotation, a more disabling situation(6). Closed reduction – It may be carefully attempted by gentle manipulation, having the patient under IV anesthesia and adequate muscle relaxation, at the most within two to three weeks after the injury. According to Matsen and Rockwood, if the injury is older than one week or more, closed reduction should not to be attempted, as soft tissue contracture is so intense that it increases the risk of humeral fracture(8). In aged, the risks are even higher due to lesser arterial wall elasticity and osteoporosis(6). In our experience, we do not insist on the reduction of a dislocation with more than two weeks or an ill-defined occurrence date. Open reduction – The attempt of closed reduction must be performed in blocked dislocations, when a closed reduction attempt had not succeeded. The cartilage is considered to be preserved probably until six months, making possible the joint reconstruction. In most serious cases, it is advisable to have a vascular surgeon at hand, as the intense scarring and the modified anatomy largely increases the risk of axillary vessel injury. We prefer the long deltopectoral approach, with the patient on the beach chair position. A practically circumferential procedure is performed by the partial release of the pectoralis major muscle, subscapularis muscle, and contracted joint capsule insertions, at the same time that we get more external rotation, thus facilitating a posterior capsulotomy. Anterior humeral circumflex artery ligature may be necessary, as well as axillary nerve viewing and protection. All glenoid cavity fibrous content must be removed, so that the humeral head can be adequately reduced. After reduction, we assess joint stability, that is, the necessary amount of internal rotation to keep the head reduced. Some favor temporary stabilization with wires or screws(6,12) for glenohumeral joint or acromiohumeral fixation; Flattow et al criticized both procedures(3). They found that the use of those wires is explained due to an insufficient release, which Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 LUXAÇÃO INVETERADA DO OMBRO A B Fig. 5 – A e B) Sexo masc., 43 anos, há oito meses com dor e grande limitação de movimentos do ombro após crise de abstinência alcoólica. Pós-operatório: redução aberta instável (Bristow) e fixação com um fio de Steinmann. Fig. 5 – A and B) Male, 43 years, with pain and great shoulder range of motion limitation after alcohol withdrawal. Postoperative: unstable open reduction (Bristow), and Steinmann pin fixation. grandes lesões de Hill-Sachs, maiores que 40% de defeito do canto póstero-superior, facilitam a reluxação mesmo com pouca amplitude de rotação externa. Nesses casos, as reconstruções são necessárias. As osteotomias rotacionais foram preconizadas pelo Grupo AO, mas somente para a instabilidade recidivante(13). Na luxação crônica não existe nada publicado. As ressecções da cabeça umeral não têm lugar como procedimento de primeira escolha, uma vez que as artroplastias vieram para cobrir essa deficiência. Naqueles com luxações mais antigas – com seis meses ou mais – e com defeitos maiores que 40% da superfície articular, as artroplastias constituem a melhor opção, pois a cabeça torna-se osteopênica e se achatará após a redução (cabeça tipo bola de pingue-pongue)(1,2,3). A maior complicação da prótese é a tendência para a luxação anterior. Nesses casos, aumento na retroversão é imprescindível(10,11). Quando existe desgaste importante da glenóide anterior, é necessário proceder ao abaixamento da glenóide posterior (2,3). O osso ressecado da cabeça umeral pode também ser usado como enxerto para aumentar a glenóide anterior. Se a cartilagem da glenóide está em boas condições, alguns associam à hemiartroplastia, um reparo capsular semelhante ao reparo de Bankart, para dar mais estabilidade à articulação(1). Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 will later facilitate a redislocation upon wire removal(2,3). In addition, wires or screws damage the joint (figure 5). After the surgical reduction, there has been our preference to perform Bristow’s procedure to prevent the recurrent dislocation, instead of performing Bankart’s repair. Larger HillSachs injuries, consisting of more than 40% of posterosuperior corner defects, facilitate redislocation even at a little range of external rotation. In those cases, reconstructions are necessary. The rotational osteotomies had been advocated by AO Group, but only for recurring instability(13). There is nothing published for chronic dislocation. Humeral head resections do not take place as first-line procedures, as arthroplasties had come to replace that deficiency. Patients with older dislocations – six months or more – and joint surface defects in excess of 40% form the best option for arthroplasties, as the head becomes osteopenic and will flatten after reduction (ping-pong ball head)(1,2,3). The prosthesis most important complication is the trend for anterior dislocation. In those cases, a retroversion increase is essential(10,11). It is necessary to do a posterior glenoid lowering if there is an important anterior glenoid wearing(2,3). Resected humeral head bone can also be used as a graft to increase the anterior glenoid. If the glenoid cartilage is in good condition, the hemiarthroplasty is associated by some experts to a capsule repair similar to Bankart’s repair to increase joint stability(1). Our opinion is that only a prosthetic version change along with capsule tensioning is enough to provide adequate joint stability. If the subscapularis is torn, it should be mobilized and sutured. We do not have experience with calcaneal tendon grafts. Despite complex joint reconstructions, sometimes results are not satisfactory, and the patient may evolve with an important loss of motion. CHRONIC POSTERIOR DISLOCATION McLaughlin defined that “the posterior dislocation is a trap to the inattentive surgeon”, although its signs and symptoms are constant and unequivocal(14). Cooper stated that physical findings are so obvious that [it consists of] “a lesion that shall not be confused”(8). Neer and Hawkins reported a mean delay of one year for the posterior dislocation diagnosis(14). Elderly patients present more subtle symptoms, often with diagnostic delay. 7 M.A. CASTRO VEADO Somos da opinião de que somente uma alteração na versão da prótese, juntamente com maior tensionamento capsular, é suficiente para conferir boa estabilidade à articulação. Se o subescapular está rompido, este deve ser mobilizado e suturado. Não temos experiências com enxertos usando o tendão-de-aquiles. Apesar das complexas reconstruções articulares, os resultados nem sempre são bons, podendo o paciente evoluir com perda importante dos movimentos. LUXAÇÃO POSTERIOR CRÔNICA Segundo Hawkins e Cash, McLaughlin considerava “a luxação posterior uma armadilha para o cirurgião distraído”, embora os sinais e sintomas sejam constantes e inequívocos(14). Segundo Matsen e Rockwood, Cooper afirmou que os achados físicos são tão óbvios, que “é uma lesão que não pode ser confundida”(8). Neer e Hawkins relataram atraso em média de um ano no diagnóstico da luxação posterior (14). Nos idosos os sintomas são mais sutis, atrasando freqüentemente o diagnóstico. A incidência da luxação escapuloumeral posterior é estimada em 2%, mas provavelmente é muito maior, devido à elevada ocorrência de casos não reconhecidos(8). Rowe e Zarins, em 1982, relataram que o diagnóstico não foi feito em 79% dos seus casos(6). Essa lesão pode resultar de queda com a mão espalmada com uma força aplicada sobre o ombro em flexão, adução e rotação interna, ou após crise convulsiva, devido ao predomínio dos rotadores internos mais potentes. Hipoglicemia noturna pode provocar convulsão sem que o paciente perceba o que realmente aconteceu. Suspeitar sempre de luxação posterior crônica nos casos em tratamento prolongado de capsulite adesiva do ombro resistente ao tratamento conservador (2). Com o exame físico semiologicamente bem feito, a lesão torna-se evidente pela perda ou ausência completa da rotação interna (sinal importante para o diagnóstico), proeminência do processo coracóide, enchimento posterior do ombro quando observado de cima ou de trás, mau alinhamento do braço quando visto de lado. A elevação anterior e a rotação interna, embora limitadas, às vezes surpreendem(14). Rowe e Zarins descreveram um sinal físico típico: o paciente é incapaz de girar a palma da mão para cima com o lado afetado(6) (fig. 6). Radiografia feita somente em AP é a grande cilada, pois freqüentemente é dada como normal, apesar de haver vários sinais sugestivos de luxação, perda da sombra eliptiforme da 8 Fig. 6 – Sinal de Carter Rowe: incapacidade de girar a palma da mão para cima (perda da rotação externa). Fig. 6 – Carter Rowe sign: inability to turn the palm towards the ceiling (loss of external rotation). The incidence of the posterior glenohumeral dislocation is estimated around 2%, but it is probably much higher due to a high number of unrecognized cases(8). Rowe and Zarins in 1982 reported that the diagnosis was not achieved in 79% of their cases(6). This injury may result of a fall on the outstretched hand with a force applied towards the shoulder in flexion, adduction, and internal rotation, or after seizures, due to the predominance of the more powerful internal rotators. Nocturnal hypoglycemia may provoke seizures without the patient’s perception of what really happened. There must always be a high suspicion degree of chronic posterior dislocation in those cases of protracted treatment of adhesive capsulitis that are resistant to conservative treatment(2). A semiologically adequate physical examination unveils the lesion for the evidence of complete internal rotation loss or absence (an important diagnostic sign), coracoid process prominence, posterior shoulder filling upon the observation from above or from the back, and arm malalignment upon lateral observation. Although limited, anterior elevation and internal rotation are sometimes surprising(14). Rowe described a typical physical sign: the patient is unable to turn his/her palm of the hand towards the ceiling with the affected side(6) (figure 6). Frequently considered as normal despite the presence of several suggestive dislocation signs, such as an elliptical gleRev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 LUXAÇÃO INVETERADA DO OMBRO Fig. 8 Tomografia computadorizada exibindo uma luxação posterior associada à fratura da glenóide Fig. 8 Computerized tomography showing a posterior dislocation associated to glenoid fracture Fig. 7 Radiografia em AP sugerindo um deslocamento posterior da cabeça umeral Fig. 7 – AP X-ray suggesting a posterior humeral head displacement glenóide, aumento do espaço entre a parte medial da cabeça umeral e a borda anterior da glenóide, e o úmero em rotação interna(14) (fig. 7). A radiografia transaxilar é imperativa, não só para confirmar o diagnóstico, mas também para dar idéia do tamanho do defeito ântero-medial da cabeça umeral (Hill-Sachs reverso) e das fraturas da glenóide associadas. Na prática, é negligenciada com certa freqüência, seja por desconhecimento, incúria, ou mesmo pela dificuldade e receio que os técnicos têm em posicionar adequadamente o braço. A tomografia computadorizada é importante para melhor definição do tamanho do defeito e para identificar lesões articulares associadas. Tem sido relatado que, em torno de 50% das luxações posteriores, existe uma fratura do colo cirúrgico ou da escápula associada(1) (fig. 8). Nas luxações anteriores esse quadro não é tão comum. A presença dessas fraturas precisa ser conhecida antes que qualquer conduta seja tomada. A C D B E F Fig. 9 – A) Em qual dos lados essa paciente foi operada? B) Radiografia em axilar do ombro esquerdo não operado (assintomático). C e D) Radiografia em AP e axilar do ombro direito com fratura-luxação posterior. E e F) Hemiartroplastia realizada dois meses após a lesão. TRATAMENTO Fig. 9 – A) What side did this patient operate? B) Axillary view of non-operated left shoulder (asymptomatic). C and D) Right shoulder AP and axillary X-rays showing posterior fracture-dislocation. E and F) Hemiarthroplasty performed two months after the lesion. Em muitas situações, um quadro radiológico alarmante mostrando grande incongruência articular contrasta enormemente com o quadro clínico do paciente, que exibe amplitude de movimentos bastante razoável e com pouca ou nenhuma dor (fig. 9). noid shadow, increase of space between the medial part of the humeral head and the anterior glenoid rim, and humerus internal rotation, an isolated AP X-ray is grossly inaccurate(14) (figure 7). Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 9 M.A. CASTRO VEADO Em 1987, Hawkins et al publicaram sua experiência com 41 pacientes portadores de luxação posterior com seguimento de cinco anos e meio. Sete deles recusaram-se a receber qualquer tipo de tratamento(15). Pacientes mais idosos com demanda limitada, capazes de alcançar a boca e com o ombro contralateral funcionante, merecem ser observados. Não operamos também os com episódios de crise convulsiva não controlada ou os pouco cooperativos com o tratamento pós-operatório e de reabilitação. Reconstruções cirúrgicas devem ser reservadas para os pacientes com bom estoque ósseo e grande incapacidade funcional(1). Redução fechada – Após quanto tempo da lesão estaremos autorizados a tentar a redução com segurança? Não existe aqui também concordância entre os autores. Segundo Matsen e Rockwood, Hawkins et al tentaram a redução em seus 12 pacientes com menos de seis semanas de evolução e tiveram êxito em três(8). Schultz et al conseguiram a redução em três dos 17 casos com menos de quatro semanas(4). Acreditamos que, se a luxação tem menos que quatro semanas e defeito na cabeça umeral menor que 20%, a redução incruenta pode ser tentada. A tentativa de redução somente deve ser feita sob anestesia geral, com bom relaxamento muscular, tração suave e sem manobras tipo alavanca. Pode ser necessário relaxar o manguito posterior e a cápsula. Para isso, devemos rodar ao máximo o úmero internamente antes de tentar a redução, e associar tração lateral. Não rodar externamente antes de a redução ser obtida, devido ao alto risco de fraturar a cabeça ou a diáfise umeral(8). Conseguida, a redução, é necessário testar a estabilidade da articulação, avaliando se a amplitude da rotação externa é necessária para manter a cabeça reduzida. Em seguida, o membro superior envolvido é imobilizado em leve abdução e rotação externa de até 20° por período de seis semanas(1). Se o tratamento incruento falhar, estará indicada a redução aberta, após minuciosa análise do paciente no que se refere a dor, perda de movimento, qualidade óssea e disponibilidade para reabilitação. Redução aberta – É executada com o paciente sob anestesia, na posição conhecida como “cadeira de praia”. Após acesso pelo intervalo deltopeitoral, identificamos o cabo longo do bíceps, para então localizarmos a pequena tuberosidade com o tendão do subescapular inserido. Este pode ser liberado com osteotomia da pequena tuberosidade ou sem ela(1,14,16). A glenóide deve ser esvaziada do seu conteúdo fibrótico antes da redução e inspecionada em busca de defeitos articulares. 10 The transaxillary X-ray is imperative not only to confirm the diagnosis, but also to provide an idea about the humeral head anteromedial defect size (reversed Hill-Sachs) and associated glenoid fractures. In practice, it is eventually neglected, either by lack of knowledge, negligence, or even due to difficulty and fear that technicians have to adequately position the arm. Computerized tomography is important for a better definition of defect size and to identify associated joint lesions. It has been reported that around 50% of posterior dislocations carry an associated fracture of the surgical neck or scapula(1) (figure 8). Such picture is not so common in anterior dislocations. The presence of those fractures must be recognized before taking any other steps. TREATMENT In many situations, an alarming radiological picture with gross incongruity largely contrasts with the patient’s clinical picture, who exhibits a quite reasonable range of motion and little or no pain (figure 9). In 1987, Hawkins et al published their series with 41 patients who presented a posterior dislocation, followed up for 5.5 years. Seven patients refused to receive any treatment type(15). Older patients, with limited demands and able to reach the mouth with the contralateral functioning shoulder, should be observed. We do not operate patients with uncontrolled seizures or those who may have low postoperative and rehabilitation compliance. Surgical reconstructions should be reserved for patients with adequate bone stock and severe functional impairment(1). Closed reduction – How long after the injury are we entitled to attempt a safe reduction? There is not an agreement among the authors. Hawkins et al attempted a reduction for their 12 patients with less than six weeks of evolution, and succeeded in three patients(8). Schultz et al achieved reduction in three of 17 cases with less than four weeks(4). We believe that the closed reduction may be attempted if the dislocation is less than four weeks old, with a humeral head defect of less than 20%. Reduction attempt must only be performed under general anesthesia, with adequate muscle relaxation, gentle traction, and with no lever-like maneuvers. It may be needed to relax the posterior cuff and the capsule. For this purpose, we should maximally internally rotate the humerus before reduction attempt, with lateral traction associated. Do not externally roRev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 LUXAÇÃO INVETERADA DO OMBRO Fig. 10 Radiografia em AP: cirurgia de McLaughlin modificada por Neer. Fig. 10 AP X-ray: McLaughlin’s procedure modified by Neer. Tração é feita com a ajuda de um gancho, puxando-se a diáfise umeral lateralmente antes de empurrar a cabeça por meio de força aplicada de trás para diante em direção à glenóide. Não alavancar o úmero na hora da redução, pois a cartilagem articular pode estar muito amolecida. Em seguida, avaliamos o tamanho do defeito da cabeça umeral. Se a articulação é instável e o defeito menor que 40% da superfície articular, a melhor conduta é transferir o subescapular para o interior do defeito. Nos pacientes com boa qualidade óssea, optamos por osteotomizar a pequena tuberosidade e fixá-la com um ou dois parafusos maleolares associados a uma arruela, para minimizar a possibilidade de fragmentação do osso (fig. 10). Nos mais idosos soltamos o subescapular com uma capa óssea, para apressar a consolidação e dar mais segurança na fixação, a qual é feita com sutura não absorvível. Às vezes, utilizamos âncoras para a fixação do tendão do subescapular. Sempre cruentizamos o leito receptor antes da fixação do tendão. Se existir fratura associada, provavelmente a melhor opção será a redução aberta com fixação da fratura. A lesão da cápsula posterior ou pequenas fraturas da glenóide posterior raramente necessitam de tratamento além de um simples desbridamento. Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 tate before reduction accomplishment due to the risk of humeral head or diaphyseal fracture(8). The joint stability should be tested after reduction accomplished, assessing external rotation range, needed to keep the head reduced. Then, the upper limb is immobilized in slight abduction and external rotation of no more than 20° for a period of six weeks(1). If closed treatment fails, open reduction is indicated after careful patient assessment of pain, loss of motion, bone stock, and rehabilitation availability. Open reduction – It is performed with the patient on a beach chair position, under general anesthetic. After deltopectoral approach, we identify biceps long head to locate the lesser tubercle where the subscapularis tendon is inserted. It may be released with or without a lesser tubercle osteotomy(1,14,16). Glenoid scarring must be removed and inspected for joint defects before reduction. Traction is performed by a hook laterally pulling the humeral shaft before humeral head is pushed towards the glenoid with a back to front force. Do not lever the humerus during reduction, as the joint cartilage may be too soft. The humeral head defect size is then assessed. If the joint is unstable and the defect corresponds to less than 40% of joint surface, the best treatment is to transfer the subscapularis tendon to the inner part of the defect. In patients with adequate bone stock, our option is a lesser tubercle osteotomy fixation with one or two malleolar screws with washers aiming to minimize the possibility of bone fragmentation (figure 10). In the elderly we release the subscapularis with a bone coating to enhance healing and to provide a more secure fixation, performed with non-absorbable sutures. We sometimes employ bone anchors for subscapularis tendon fixation, and always leave a bleeding bone surface before tendon fixation. If there is an associated fracture, probably the best option is the open reduction and fracture fixation. Posterior capsule lesions or posterior glenoid fracture seldom need other treatment then a simple debridement. According to Loenberg and Cuomo, Keppler and Holz in 1994 advocated a humeral surgical neck rotational osteotomy and angled plate fixation only for those cases with less than 40% of involvement of joint surface. Of ten patients, six presented excellent and good results, two patients had reasonable results, and two patients had poor results(1). The advantage would be the absence of prolonged postoperative immobilization, although adding a new bone aggression – the osteotomy – which may pose an additional complication. 11 M.A. CASTRO VEADO Segundo Loenberg e CuoA mo, foram Keppler e Holz, em 1994, que preconizaram osteotomia rotacional no colo cirúrgico do úmero e fixação com placa angulada, somente nos casos com lesão menor que 40% da superfície articular. Em 10 pacientes, seis tiveram excelentes e bons resultados, dois razoáveis e dois pobres(1). A vantagem é a dispensa de imobilização prolongada no pós-operatório, emboB ra acrescente nova agressão óssea – osteotomia – que pode ser fator adicional de complicação. Além do mais, a placa exige maior desperiostização, com maior risco de infecção e retardo de consolidação ou não consolidação. Gerber e Lambert propõem, nas lesões menores que 50% e em ossos de boa qualidade, o preenchimento da cavidade com enxerto retirado da cabeça femoral e fixação por parafuso esponjoso(17). Seus resultados são semelhantes aos do procedimento de McLaughlin modificado por Neer, como relataram Gerber e Lambert(17). Se o defeito é maior que 45% da superfície articular, visto na radiografia transaxilar, com glenóide normal, a hemiartroplastia é a indicação de escolha da maioria dos cirurgiões(18). Se a glenóide está comprometida, a artroplastia total é melhor opção. O detalhe técnico fundamental é tirar a retroversão do componente umeral para diminuir a tendência da cabeça umeral de deslocar-se posteriormente. Quanto mais tempo a cabeça permanecer luxada posteriormente, menos retroversão deve ser colocada(11,14,18). Plicatura da cápsula posterior, após a osteotomia da cabeça umeral e antes da inserção da prótese definitiva, pode ser ne12 Furthermore, the plate requires more periosteal stripping, a higher chance of infection, delayed union, and nonunion. Gerber and Lambert proposed cavity filling with femoral head graft and cancellous screw fixation in lesions lesser than 50% and good bone stock(17). Their results are similar to McLaughlin’s procedure modified by Neer, Fig. 11 as reported by Gerber and A) Tentativa Lambert(14). de redução Most surgeons choose cirúrgica de uma luxação hemiarthroplasty if the defect posterior. is in excess of 45% on the B) Fixação transaxillary view, with a da grande tuberosidade normal glenoid. Upon glesem redução da noid compromising, the best luxação anterior. option is the total arthroplasFig. 11 ty. A) A surgical reduction The removal of humeral attempt of a component retroversion is an posterior essential technical detail to dislocation. lessen the humeral head B) Greater tubercle fixation trend for posterior displacewithout anterior ment. The longer the head dislocation remains posteriorly dislocatreduction. ed, the lesser retroversion should be placed(11,14,18). A posterior capsule plication after humeral head osteotomy and before definite prosthetic placement may be needed for final adjustments. It is sometimes recommended to immobilize the upper limb in slight abduction and external rotation to confer more stability and for plication protection(11). Once the diagnosis is performed, the surgeon must be acquainted with the severity of the lesion, should know the surgical approach, and ought to have adequate surgical team and material if he or she decides to operate an unreduced dislocation. True catastrophes may arise when the surgeon is not fully acquainted with such lesion (figure 11). Rev Bras Ortop _ Vol. 39, Nos 1/2 – Jan/Fev, 2004 LUXAÇÃO INVETERADA DO OMBRO cessária para os ajustes finais. Às vezes, é recomendado imobilizar o membro em leve abdução e rotação externa para dar mais estabilidade e proteger a plicatura(11). Uma vez feito o diagnóstico, o cirurgião que se propõe a operar uma luxação inveterada deve estar ciente da gravidade dessas lesões, conhecer a abordagem cirúrgica e ter equipe e material cirúrgico adequados. Verdadeiras catástrofes podem acontecer quando o cirurgião tem pouca intimidade com esse tipo de lesão (fig. 11). REFERÊNCIAS / REFERENCES 1. 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