Aceite que você é amado por Deus Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar o passo para uma humanização real. José Saramago1 Ouvir a Deus. Alguns diriam que há ousadia, presunção e perigo nesse pensamento. Mas e se tivermos sido criados exatamente para isso? E se o sistema que é o ser humano não conseguir funcionar adequadamente sem ouvir a Deus? Dallas Willard2 O admirável filósofo Jean-Paul Sartre, o homem que melhor entendeu o ser humano em meados do século 20, escreveu, desesperado: 1 SARAMAGO, José. O fator Deus. Disponível em <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2001/09/7316.shtml>. 2 WILLARD, Dallas. Ouvindo Deus. Rio de Janeiro: Textus, 2002, p. 9. Sete passos e meio para a felicidade O que é o homem, para que o elétron se preocupe com ele? O homem é apenas um grão no cosmos, abandonado pelas forças que o criaram. Desassistido, desgovernado pela autoridade onisciente ou benevolente, precisa defender-se sozinho, e com ajuda de sua inteligência limitada encontrar seu caminho num universo indiferente.3 O poeta da Bíblia canta, ao contrário, esperançoso: SENHOR, SENHOR nosso, como é majestoso o teu nome em toda a terra! Tu, cuja glória é cantada nos céus. Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: “Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste". SENHOR, SENHOR nosso, como é majestoso o teu nome em toda a terra! Salmos 8.1,3-6,9 Sartre não está sozinho. Infelizmente com ele estão os muitos que não creem, como o também filósofo Bertrand 3 A conferência "Existencialismo é um humanismo" (várias edições) foi proferida em 1945. Parte dela é comentada por CLARK, Kelly James. (Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001, p. 174), que cita também os pensamentos de Bertrand Russell (p. 173) e Jacques Ellus (p. 50). 16 Aceite que você é amado por Deus Russel, que igualmente prefere crer no acaso da criação e no acaso da história, convencido que a origem do homem, “seu crescimento, suas esperanças e temores e crenças, nada mais são do que o resultado da disposição acidental de átomos”. O poeta bíblico também não está sozinho. Felizmente estão com ele todos aqueles que reconhecem, pela fé, que “o universo foi formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hebreus 11.3). Quem crê assim canta: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Apocalipse 4.11). Não crer é uma escolha, a escolha de ficar sozinho, como um amontoado de átomos, como ontem diziam alguns filósofos, ou como um conjunto de genes, como hoje indicam os biólogos. Crer é uma escolha, a escolha de que Deus existe, nos criou, nos amou, demonstrando-o ao vir morar entre nós, por meio de Jesus Cristo, e ainda nos ama, mantendo permanentemente aberta a via de acesso a ele. Jesus inaugurou uma nova era, na qual homens e mulheres podem crer que podem ter acesso especial a Deus. Por meio da fé em Jesus, homens e mulheres podem ver a chegada do Reino de Deus à terra no passado e podem esperar a completude deste Reino no futuro. Quem faz esta escolha, a escolha da fé, experimenta alto nível de felicidade e confiança (Harvie Ferguson).4 É esta escolha, a escolha por Deus, que nos abre o acesso ao sentido da vida. O escritor Albert Camus concluiu seu magnífico ensaio “O mito de Sísifo” com uma pergunta: 4 Harvie Ferguson é citado em McCLORY, Robert. History of happiness. Disponível em <www.uscatholic.org/2000/09/cov0009.htm>. 17 Sete passos e meio para a felicidade “Concluo que o sentido da vida é a mais urgente das perguntas. Como responder a ela?”. Para ele, crer em Deus, e derivar dessa fé o sentido para vida, era absurdo. Diferentemente desta postura de “contumaz orgulho ou insanável desespero”, o absurdo não é crer. O absurdo, o vazio, o semsentido é não crer nele.5 A vida tem um sentido, que é voltarmos, por meio da fé, para casa, para Deus, de onde nos afastamos. “A fé é um vislumbre, um momento de discernimento quando vemos nossa casa futura e nos comprometemos a completar a jornada antes do pôr do sol” (Kelly James Clark).6 O verbo que abre o sentido da vida é um só: crer. E crer não é uma concordância de natureza racional, porque envolve toda a personalidade. “A fé é uma substância terrivelmente cáustica, um ácido que queima. Ela testa cada elemento de minha vida e da sociedade; não poupa nada. Leva-me a questionar inelutavelmente todas as minhas certezas, minha moralidade, minhas crenças e diretrizes. Proíbe-me de dar uma importância máxima a qualquer expressão da atividade humana. (...) A fé não deixa nada intacto. Se a minha fé não é da mesma espécie que a de Abraão, não é nada” (Jacques Ellul). O itinerário para a fé É por isto que a fé não é para todos, frase que exige uma explicação: nem todos escolhem ter fé, embora Deus tenha escolhido a todos para crerem nele. 5 Um bom ensaio sobre a obra de Albert Camus aparece em BORGES, José Ferreira. O absurdo em Albert Camus; uma leitura de O Mito de Sísifo. Disponível em <http://zonanon.com/letras/ensai_2.html>. 6 CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001, p. 63. 18 Aceite que você é amado por Deus 1. Tem fé quem ousa duvidar de suas certezas Quando olho para um agnóstico ou para um ateu, tenho o maior respeito. Por ocasião da divulgação do Censo 2000, os jornais contaram a história de uma família em que todos são ateus. Inicialmente, eles não tiveram a coragem de assumir sua falta de fé e se afirmavam luteranos. Na esteira do crescente agnosticismo, inclusive no Brasil, eles saíram do armário da incredulidade e assumiram que não creem que Deus existe. Eu respeito, mas fico admirado: Como podem ter tanta certeza? Eu uso a palavra “certeza” de propósito, porque ela indica crença. Em outras palavras, penso no ateísmo ou no agnosticismo como um tipo de fé. Para não crer de modo tão radical, uma pessoa precisa crer... Para não crer, uma pessoa tem de ignorar uma multidão de evidências contrárias. Não dá para não crer a não ser crendo. É o credo do não, mas é um credo. O descrente pode chegar à fé a partir do instante em que começar a duvidar da sua certeza. Este passo demanda coragem. Muitos preferem esconder-se atrás do comodismo de não duvidar de suas próprias verdades. Muitos temem abrir-se para Deus, com vergonha de verem a obviedade do seu amor. Muitos temem correr em direção a Deus, com preguiça de pesquisarem em honestidade de propósito. Estão satisfeitos com as suas verdades, e não querem outras, mesmo que entre elas haja uma – a transcendência se tornou imanência, vivendo entre nós e deixando-se matar na cruz, tão somente por amor –, que pode trazer sentido a uma história universal e a uma trajetória pessoal sem sentido. Ouse duvidar. 19 Sete passos e meio para a felicidade 2. Tem fé quem tem a coragem de ser humilde A quem não tem fé, sugiro que olhe para os que creem não como servos da irracionalidade, mas como humildes buscadores da verdade, como você, com a diferença de que eles escolheram crer, enquanto você optou por não crer. Quem crê merece respeito. O humilde é aquele que faz todas as perguntas. O arrogante é aquele que tem todas as respostas. O humilde olha para a amplidão do amor e do firmamento e se pergunta: Quem fez tudo isto? O arrogante responde: Ninguém; foi tudo obra do acaso. O humilde olha a perfeição do corpo humano e se pergunta: Quem organizou tudo isto? O arrogante responde: Ninguém; tudo resultou de um longo processo de coincidências sem nenhum propósito definido. O humilde olha para a profundeza da alma humana e se pergunta: Quem criou este mistério? O arrogante responde: A alma é uma autoinvenção humana. Quem está mais perto da verdade: quem responde ou quem pergunta? Certamente, é quem pergunta, é quem se admira, é quem se encanta, como o poeta da Bíblia: Os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento proclama as obras das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia, e uma noite o revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Salmo 19.1-4a A fé está para os humildes como a incredulidade está para os arrogantes. Entre a incredulidade e a fé, prefiro a que 20 Aceite que você é amado por Deus traz felicidade: a fé, que é: “o ser, ao ser ele mesmo e desejar ser ele mesmo, descansa transparentemente em Deus”. Sören A. Kierkegaard7 3. Tem fé quem se livra de tudo (ou de qualquer coisa) que o afasta de Deus A razão não é o único inimigo da fé. “A fé em Deus custa tudo: tempo e bens, relações e engajamentos, nosso eu secreto, nossa vida mesmo. Mas o que Deus tira com a mão esquerda, devolve com a mão direita. Ganhamos paz, paciência, bondade, descanso para nossa alma e felicidade eterna” (Kelly James Clark).8 Jesus tanto sabia disso que, por seis vezes, os evangelhos repetem um de seus pensamentos fundamentais: Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á. Mateus 10.39 Quem quiser salvar a sua vida por amor de mim perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Mateus 16.25 Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á. Marcos 8.35 Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará. Lucas 9.24 7 O conceito de fé, de Kierkegaard, está em HOUSTON, James. Mentoria cristã. Rio de Janeiro: Textus, 2003, p. 110. 8 CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001, p. 48. 21 Sete passos e meio para a felicidade Qualquer que procurar preservar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, conservá-la-á. Lucas 17.33 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. João 12.25 (ARA) Este é o paradoxo da fé. É por isso que a fé é uma escolha radical. Para experimentar a paz, para obter paciência, para fruir bondade, para alcançar descanso, para receber felicidade, é preciso renunciar a toda e qualquer coisa que nos afasta de quem (Deus) nos pode oferecer isto que buscamos. Só ganha a vida quem se dispõe a perdê-la. Crendo naquele que perdeu a sua vida por nós, é que ganhamos a vida que ele nos dá. 4. Tem fé quem reconhece que é amado por Deus Creia que ele sacrificou por você seu único filho. “Devemos crer como Abraão. O teste de crença para nós é como o teste de fé de Abraão.” Para sermos cristãos, não precisamos matar nosso único filho, mas precisamos acreditar “que Deus sacrificou seu filho único” (Kelly James Clark).9 Diante dos traumas da rejeição humana, felicidade é saber-se aceito e querido por Deus. Mesmo que seu pai tenha rejeitado você, Deus o aceita e quer você de volta na sua casa. Mesmo que seu pai ou avô ou tio tenha abusado (sexualmente, fisicamente, moralmente) de você, Deus ama você e quer a sua companhia respeitosa. Mesmo que seus pais não tenham feito outra coisa senão criticar você, Deus sabe 9 CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001, p. 59. 22 Aceite que você é amado por Deus o valor que você tem e ele quer dizer isto para você. José do Egito se sabia amado por Deus, mesmo rejeitado por seus irmãos, mesmo achando ter sido abandonado por seu pai. Deixe Deus amar você. 5. Tem fé quem sabe que é especial para Deus Deixe o apóstolo Paulo lhe falar: “Pois quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o ‘sim’. Por isso, por meio dele, o ‘Amém’ é pronunciado por nós para a glória de Deus. Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos selou como sua propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações como garantia do que está por vir” (2Coríntios 1.20-22). Este texto narra uma conspiração, uma conspiração divina a nosso favor. Estamos diante de uma afirmativa de fé que pode ser resumida em duas palavras: “Somos especiais”. O autor escreve aos coríntios, cristãos como nós. Eles eram especiais para Deus. Nós somos especiais para Deus. Analise agora que diz o psiquiatra norte-americano Gerald May (1940-2005): “Sei que Deus é amoroso e o seu amor é confiável. Sei disso pela via direta, por meio da experiência da minha vida. Houve inúmeras vezes em que duvidei, principalmente quando eu achava que a bondade de Deus significava que eu não seria atingido por coisas ruins. Mas tendo passado por sofrimento um número razoável de vezes, hoje sei que a bondade de Deus é algo muito mais profundo do que sofrimento e prazer – ela inclui as duas coisas”. 10 Dos grandes homens que conheci, um deles, o pastor Xavier (Manoel Xavier dos Santos Filhos, pastor da Igreja 10 Citado por MANNING, Brennan. Confiança cega. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. 33. 23 Sete passos e meio para a felicidade Batista Memorial da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro), foi levado por um câncer, mas nem por isto suas últimas palavras não foram diferentes das proferidas ao longo de sua vida: Deus é bom. Precisamos da bondade de Deus. Por isto, alguns de nós fazemos qualquer negócio para receber esta bondade sobre a nossa vida familiar, sobre a nossa saúde física e mental, sobre a nossa vida profissional. Parte da experiência religiosa, em muitos credos, tem como objetivo garantir esta bondade. Neste caso, religião é algo debaixo (do homem) para cima (em direção a Deus). Neste caso, então, religião tem a ver com resultado. Quem dá mais? É para lá que eu vou. Há uma igreja onde a bênção acontece. Vou para lá. Há uma comunidade em que o pastor ora com poder. Vou para lá. Precisamos entender as palavras “ungidos”, “selados” e “garantidos” do apóstolo Paulo. Ungidos – A palavra “unção” tem quatro sentidos no Novo Testamento. 1. Um sentido é o uso do óleo derramado sobre o corpo ou parte do corpo para fins de cura. Somos informados que os discípulos de Jesus “expulsavam muitos demônios e ungiam muitos doentes com óleo, e os curavam” (Marcos 6.13). Tiago recomenda que as orações dos enfermos sejam acompanhadas com óleo (Tiago 5.14), indicando que a fé não precisa abrir mão da medicina. 24 Aceite que você é amado por Deus 2. Outro sentido indica a honra dada a uma pessoa. Foi o caso da mulher que “se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume” (Lucas 7.38). 3. Era comum ao tempo de Jesus que os corpos mortos fossem perfumados como parte de seu preparo para o sepultamento. Neste sentido, lemos: “Quando terminou o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram especiarias aromáticas para ungir o corpo de Jesus” (Marcos 16.1). 4. Destas práticas, temos a que venceu o tempo, por seu caráter simbólico. Ungir significa separar uma pessoa para uma missão específica no Reino de Deus. Jesus aplica a si mesmo o verbo “ungir”, usado também no Antigo Testamento, para a consagração de reis, profetas e sacerdotes. Disse ele na sinagoga em Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos” (Lucas 4.18). Quando diz que Deus nos ungiu, Paulo incorpora todos estes significados. Primeiramente, Deus nos curou dos nossos pecados, pela morte de Jesus na cruz, como escreve Pedro: Jesus “mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os 25 Sete passos e meio para a felicidade pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados” (1Pedro 2.24). Mais ainda, Deus nos olha como filhos amados, destila óleo sobre nossa cabeça, óleo de honra e óleo que nos perfuma, de modo que possamos ser vistos e cheirados, por causa da fragrância de Cristo (2Coríntios 2.14). Somos, então, especiais também porque a unção de Deus significa que ele tem expectativas em relação a nós. O ungido é aquele que tem uma missão. Somos especiais para Deus porque ele nos deixa uma missão: como ele quer que a graça alcance o mundo, quer que sejamos os anunciadores, pela voz e pela vida, desta graça. Selados – A imagem é pastoril: um animal é selado com ferro quente sobre a pele para indicar quem é o seu dono ou a que pasto pertence. Desta imagem limitada, desenvolvem-se outras para indicar um relacionamento. Essa unção divina sobre nós estabeleceu um novo de relacionamento bem pessoal. O Senhor deixa de ser percebido como um Deus cósmico e genérico, para ser recebido como um Deus pessoal e específico. Deixamos de ser pessoas anônimas para sermos pessoas com nome e sobrenome, nome e sobrenome que Deus profere como quem entoa uma canção. É por isto que Pedro nos escreve: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9). Já sabíamos disto, porque o poeta dos salmos canta que Deus “é o nosso Deus, e nós somos o povo do seu pastoreio, o rebanho que ele conduz” (Salmo 95.7a). Por essa razão ele nos convida: “Reconheçam que o SENHOR é o nosso Deus. 26 Aceite que você é amado por Deus Ele nos fez e somos dele: somos o seu povo, e rebanho do seu pastoreio” (Salmo 100.3). Paulo diz que, quando ouvimos e cremos na palavra da verdade, vale dizer, o evangelho que nos salvou, os fomos selados em Cristo “com o Espírito Santo da promessa” (Efésios 1.13). Fomos selados para o dia da redenção (Efésios 4.30). Entretanto – lembra o apóstolo em outro lugar – o firme fundamento de Deus permanece inabalável e selado com esta inscrição: “O Senhor conhece quem lhe pertence” e “Afaste-se da iniquidade todo aquele que confessa o nome do Senhor” (2Timóteo 2.19). Há confiança neste relacionamento, mas há responsabilidade também, responsabilidade decorrente da gratidão e do senso de dever. Somos selados para a comunhão com Deus. Somos selados para viver de acordo com a confissão que fazemos de que Jesus é o nosso Senhor. Garantidos – Não creio que tenhamos anjos da guarda, mas a Bíblia nos garante que o Espírito Santo habita em nós (2Timóteo 1.14). Presente em nós, ele nos guarda o coração e a mente (Filipenses 4.7). Deus nos fortalece e nos guarda do Maligno (2Tessalonicenses 3.3). Na verdade, “foi Deus que nos preparou para esse propósito, dando-nos o Espírito como garantia do que está por vir” (2Coríntios 5.5). Em que “por vir” (futuro) estamos garantidos? Recebemos a promessa de que nada de ruim (assalto, desemprego, doença e morte) nos acontecerá? Não, porque não somos tirados do mundo. Aqui é a nossa casa, casa sujeita a ataques. 27 Sete passos e meio para a felicidade Recebemos a promessa de que, na corrida da vida, correremos na frente de ponta a ponta e chegaremos em primeiro? Não, mas que em nossa corrida cruzaremos a linha final, onde o pódio nos espera. Recebemos a promessa de que, quando chegar a nossa vez, o sistema de saúde ou o sistema de justiça funcionarão, e seremos atendidos rápidos e bem no hospital e a nossa causa será julgada com justiça e celeridade? Não. Estamos sujeitos às mesmas crueldades e injustiças, com uma diferença: nosso futuro está garantido. Pode parecer que perdemos, porém somos mais que vitoriosos, não nas coisas humanas, mas em Cristo Jesus (Romanos 8.37). Quando olho para meus problemas, meus ouvidos se detêm no testemunho do apóstolo Paulo: “Sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia” (2Timóteo 1.12). A dinâ mica da fé Felicidade tem a ver com fé, mas fé viva. Há muitos cristãos (ou seriam ex-cristãos, mesmo que dentro de igrejas?) que mantêm a fé, mas a fé da letra, não a fé do Espírito. São aqueles que não vivem mais segundo a Palavra, mas segundo suas próprias palavras. Estão neste grupo os que não vivem os valores morais de Cristo, mas também os que conservam esses valores, porém sem a vitalidade da vida em Cristo. Sua fé não traz felicidade, porque é experiência morta. Ela não lhe faz diferença no dia a dia. Se estas pessoas estão bem de vida, não erguem altares, como Abraão, ao Senhor, em reconhecimento de que foi ele quem o fez. Se vão mal na vida, não conseguem tirar força para dar 28 Aceite que você é amado por Deus a volta por cima, para ter de volta a alegria de viver. É a fé dinâmica que mantém acesa a chama da alegria da vida. Se a sua fé não torna você feliz, há algo errado, e não é com Deus; é com você e com a sua fé, porque Deus não muda. “Ele é a Rocha; suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são justos; Deus é fiel e sem iniquidade; justo e reto é ele” (Deuteronômio 32.4). Faça uma revisão na sua vida e chame Deus de novo para o centro da sua emoção, da sua razão, da sua visão do mundo, dos seus projetos. Feliz é quem é guiado pelo Espírito Santo de Deus. Há muito cristãos que deixaram escravizar de novo, ou pelo pecado da desobediência ou pelo pecado do medo, da tristeza, da amargura, da intolerância, da falta de sentido. Segundo o apóstolo Paulo (Romanos 8.14-16), há muitos cristãos infelizes porque se esqueceram de que "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus". Eles estão esquecidos que não receberam o espírito de escravidão, para viverem, outra vez, atemorizados. O sacrifício de Cristo na cruz nos tornou filhos de Deus. Este espírito de adoção nos leva a chamar a Deus de “Pai”. Se o evento da cruz nos parece um pouco distante, o Espírito Santo mesmo, quando permitimos que reine em nossa vida, nos recorda, segundo a segundo, que somos filhos de Deus. Passos para uma fé bíblica Se você crê, acaba de ler um resumo do ensino bíblico sobre a fé. Se você não crê, recordo-lhe que a Bíblia não apoia a fé cega e superficial. 29 Sete passos e meio para a felicidade O que é crer, então? A partir de Isaías 6.10b (“Que eles não vejam com os olhos, não ouçam com os ouvidos, e não entendam com o coração, para que não se convertam e sejam curados”), podemos trazer à mente os passos de uma fé bíblica. 1. Crer é ver com os olhos Precisamos perceber a nossa necessidade de saúde, família, dinheiro e amigos, e a possibilidade de enfrentar a depressão, o fracasso, a vergonha, a culpa e o vazio. Não podemos controlar as circunstâncias e as pessoas e, pior, não podemos contentar nem a nós mesmos. Somos capazes de fazer coisas que nos envergonham e de agir de um modo que não queremos. 2. Crer é ouvir com os ouvidos Precisamos sentir que há um Deus que é amoroso, sábio e poderoso. Ele não apenas nos dá tudo aquilo de que necessitamos; ele é tudo aquilo de que necessitamos. Esta compreensão fica clara se ouvimos aquilo que a Bíblia diz acerca de Deus. 3. Crer é entender com o coração Precisamos entender que há uma evidência que confirma que a Bíblia vem de Deus, é verdadeira e confiável. Não é apenas o registro humano de acontecimentos, ideias e esperanças, mas a Palavra da verdade absoluta. A ciência nos dá verdades relativas, alteráveis com mais conhecimento. A Bíblia nos dá a verdade absoluta, no sentido de que nela está tudo aquilo de que precisamos para sermos salvos. 30 Aceite que você é amado por Deus 4. Crer é decidir por uma vida com Deus Precisamos arrepender-nos de uma vida sem Deus e nos comprometer de modo pleno com ele. Quem tem fé sabe que Deus está aperfeiçoando, para terminar um dia, o trabalho que começou na grande história, por meio da vida-morte-ressurreição de Jesus, e na pequena história de cada um de nós, por meio do Seu Espírito (Filipenses 1.6). Esta é a fé que faz diferença: aquela que nos leva a ter certeza de que, sendo filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros do Pai e co-herdeiros com Cristo (Romanos 8.17). Aceitar-se amado por Deus é um passo primordial. Sem ele, os outros não poderão ser dados. Ou melhor: quando ele não é dado, os outros são esforços inúteis. Dá-lo implica uma escolha, escolha que tem a ver com o seu lugar no mundo e na história. Você pode ficar com a palavra de um grande filósofo, mas pode ficar também com a Palavra do próprio Deus. É ao Deus que é poderoso para confirmar, no coração que se oferece para acreditar, a verdade que edifica o novo a partir do velho e transforma o mundo pela força do Evangelho. É ao Deus que é único para agora revelar o mistério de Cristo que nos veio outorgar para que deixássemos de ver como num espelho a clara plenitude do seu eterno conselho. 31 Sete passos e meio para a felicidade É ao Deus que é sábio para ensinar e proclamar à comunidade dos marcados para amar que Jesus Cristo é a razão de ser da história. É a este Deus, Senhor poderoso, único e sábio, que, movido pela fé e pleno de prazer, meu lábio canta, em nome do Filho, hoje e sempre, toda a glória. (Doxologia da gratidão – Romanos 16.25-27) Para Continuar Caminhando CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001. HOUSTON, James. Mentoria cristã. Rio de Janeiro: Textus, 2003. STOTT, John. Crer é também pensar. São Paulo: ABU, 1978. 32