Banco de Pele e Membrana Amniótica O principal objetivo do tratamento de um paciente grande queimado é a retirada do tecido lesado (necrosado) o mais precoce possível seguido da cobertura imediata da ferida.Assim, diminuemas chances de contaminações bacterianas e desidratação, que podem culminar em complicações funcionais maiores. Para realizar a cobertura da ferida queimada, costuma-se usar pele do próprio paciente, procedimento esse denominado enxerto de pele. Entretanto, nem sempre podemos realizar tal procedimento, uma vez que em determinados casos as lesões pela queimadura podem ser muito extensas e não temos pele suficiente do próprio paciente para enxertia. Uma alternativa nesses casos é o uso de um curativo biológico substituto. Nesse momento, torna-se imprescindível o trabalho realizado pelo banco de pele. O Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre vem desenvolvendo seu trabalho desde 2005. Até 2012, este foi o único banco de pele em atividade no Brasil ( hoje contamos com BP em São Paulo e em Curitiba ), captando, limpando e distribuindo pele para todo o território nacional para tratamento de centenas de pacientes grandes queimados ou vítimas de acidentes com politraumatismo e perdas teciduais. O transplante de pele é uma realidade mundial, ajudando no tratamento de pacientes vítimas de queimaduras extensas e profundas. No entanto, enfrentamos uma grande dificuldade nessa área: a falta de doadores suficientes para atender a demanda. O doador de pele é o doador de múltiplos órgãos. Após o falecimento, uma equipe treinada de assistentes sociais contatam os familiares. Infelizmente, existe um grande tabu acerca do assunto captação de pele. O leigo pode imaginar uma mutilação no corpo do doador, fato esse totalmente irreal. Capta-se pele de zonas não expostas, como o tronco, e retira-se uma camada de pele extremamente fina, de pouco milímetros, não acarretando nenhuma lesão ao corpo. Após a captação, profissionais capacitados limpam essa pele no banco de pele e a disponibilizam para transplante assim que houver solicitação de um grande centro de queimados em todo território nacional. Uma alternativa à utilização de pele alógena (captada de cadáver) seria a utilização de membrana amniótica. A membrana amniótica consiste em uma membrana que se localiza na camada mais interna da placenta. Pode ser captada no final do parto, apresenta baixo custo e é capaz de assegurar condições ideais ao leito da ferida queimada. Além disso, favorece o processo de cicatrização ao mesmo tempo que diminui a dor local, pois protege as terminações nervosas e reduz as chances de inflamação, como demonstrado na literatura internacional nas últimas décadas. O desenvolvimento de técnicas para o processamentode membranas amnióticas em território nacional poderia consolidar mais uma opção de tratamento ao paciente queimado, diminuindo a necessidade de utilização de substitutos dérmicos, que são produtos importados e extremamente onerosos. A membrana amniótica pode ser preservada através da utilização de glicerol em altas concentrações, da mesma forma que a pele alógena é conservada no Brasil e em outros países atualmente. Esse é um procedimento pouco oneroso e que permite a conservação do tecido por até 2 anos refrigerado. Vale também ressaltar as vantagens financeiras da membrana amniótica. O seu processamento pode ser realizado em alta concentração de glicerol com custos muito menores quando comparados à pele glicerolada ou, principalmente, aos biomateriais importados extremamente caros . Veja no gráfico abaixo o preço do Cm quadrado de cada material. Diante disso, podemos reforçar a importância de termos uma legislação nacional que regulamente a captação, o processamento e a utilização de membrana amniótica como uma opção de curativo biológico para queimaduras graves e extensas. Tendo em vista que dispomos de toda a tecnologia necessária para a execução de todos esses processos, seria um retrocesso não utilizarmos isto a nosso favor, e em benefício dos pacientes, por falta de legislação. Eduardo Mainieri Chem Rafael Netto Pablo Pase Paulo Favalli Luana Pretto Aline Francielle Damo Souza Equipe do Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem da Santa Casa de Porto Alegre