Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos A PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIOS COMO FORMA DE CONSCIENTIZAÇÃO E COMPREENSÃO DAS DISPARIDADES SOCIAIS E ECONÔMICAS DECORRENTES DO SISTEMA CAPITALISTA AUTORA: Profª. Alessandra Hideko Miyao1 ORIENTADOR: Prof. Ddo. Ricardo Aparecido Campos2 RESUMO: O presente artigo é o resultado de estudos e da produção do documentário, no qual ressalta as desigualdades sociais do município de Andirá. O trabalho foi realizado no Colégio Estadual Stella Maris envolvendo os alunos do Primeiro ano do Ensino Médio. Fundamentou-se em estudos e ações realizados durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), tendo por princípio a problematização das disparidades sociais, realizado através do delineamento de um Projeto Político Pedagógico. A proposta de elaboração deste artigo se justifica pelo interesse em promover entre os estudantes a reflexão de como a desigualdade social tem se perpetuado nos dias de hoje. Nesse sentido, é importante promover o debate entre os próprios alunos para que estes possam pensar historicamente nas dinâmicas que constituem as relações sociais, bem como as práticas que permeiam a promoção de tal projeto e da desigualdade experimentada socialmente. Os objetivos que nortearam a intervenção pedagógica foi justamente presenciar e relatar a maneira de como vivem as pessoas em condições de miséria e pobreza, no qual foram registradas na produção do documentário, onde os próprios alunos ao vivenciarem esta realidade, compreenderam as consequências negativas que o sistema capitalista tem nos proporcionado. O desafio deste trabalho foi despertar no aluno uma consciência crítica e ao mesmo tempo de altruísmo, compaixão e desejo de ajudar ao próximo. Palavras-chave: Capitalismo. Desigualdade. Solidariedade. 1 INTRODUÇÃO Os estudantes durante o projeto de implementação se posicionaram e refletiram como a desigualdade social está presente no mundo e também ao nosso próprio redor, pois através dos documentários e atividades da produção didáticopedagógico percebemos o quanto estes ficaram surpresos ao relatarem as atrocidades que o capitalismo está causando ao mundo. Porém, ao sairmos pelas 1 Professora PDE; atua no Colégio Estadual Stella Maris, como professora de Geografia. E-mail: [email protected] 2 Docente do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, Campus de Cornélio Procópio, Doutorando em Geografia: Dinâmica Espaço Ambiental e Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UEL. E-mail: [email protected] periferias do município de Andirá, os estudantes se depararam com a realidade vivida pelos menos favorecidos, ou seja, “sentindo na pele” o sofrimento do outro, puderam constatar como é desumano e injusto o nosso sistema socioeconômico que tem cada vez mais gerado um abismo maior entre a pobreza e a riqueza. A produção do documentário pelos próprios alunos, despertou um maior conhecimento, ao registrarmos de maneira mais verídica a realidade que parte da população andiraense vivem e sobrevivem diante dos escassos recursos que lhe são oferecidos e que lhe restam, entendendo o quanto as relações de poder envolvem, constroem e destroem a materialidade, configurando o espaço geográfico de Andirá, o que permitiu dessa maneira propor uma educação aos nossos educandos que vise sobretudo recriar valores que estão atualmente ocultos em nossa sociedade. Valores estes que vão além dos conhecimentos científicos transmitidos em sala de aula, mas da democracia, igualdade, dignidade e fraternidade. Diante desta realidade, os alunos refletiram que é através das relações humanas, que compreendemos o espaço onde vivemos e o quanto este espaço está sendo transformado devido a busca desenfreada pelo dinheiro. Mas, que é possível a construção de uma nova identidade humana que seja baseada na cooperação, altruísmo e pelo desejo do bem comum, e como a sua participação como cidadão ativo é imprescindível nos setores da vida política, econômica, social e cultural, e que promovendo a solidariedade, compaixão e ajuda mútua aos menos favorecidos poderemos amenizar parte das consequências negativas que o amor servil ao dinheiro está provocando e adoecendo a nossa sociedade, e que apesar da indiferença e da oposição de muitos que estão alheios a está ideia, a prática deste projeto nos mostrou o quanto ainda vale a pena buscar uma educação comprometida com os verdadeiros valores que ainda permeiam e sobrevivem em nossa sociedade, mostrando aos nossos educandos o quanto é importante o papel de tomadores de decisões, líderes e beneficiários, se realmente desejamos reverter esta situação através da educação. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com Arruda e Boff (2000), a concepção dominante de desenvolvimento é a que o mundo experimenta hoje de forma cada vez mais generalizada e globalizada, sendo baseada no desenvolvimento como mero crescimento econômico, na democracia como um direito apenas individual, principalmente aqueles que têm acesso e vivem do capital, e o da educação como um processo seletivo, visando muitas vezes formar pessoas dispostas a perpetuar o sistema dominante de divisão do trabalho. [...] A educação conformada hoje para alimentar e perpetuar a globalização competitiva ou, no caso do Brasil, a inserção subordinada da nossa economia ao sistema do capital mundial, não tem servido para libertar, mas para moldar, ajustar crianças e jovens aos valores e aspirações vigentes, ou, ainda mais lamentável, à ausência de aspiração ou mesmo ao cinismo. Pois a promessa é a que se educando será possível obter automaticamente um lugar no mercado de empregos. O que se cala é que isto só se dará através de uma acirrada e mortal competição por postos e oportunidades de emprego cada vez mais escassas (ARRUDA e BOFF, 2000, p.136). É esta realidade que nós educadores estamos tentando mudar. Queremos uma educação que não apenas transmita os conhecimentos científicos, mas uma educação transformadora e libertadora, baseada em fundamentos de ética e moral. Fundamentos que se encontram em atitudes simples como de se solidarizar com o outro, fazendo com que isto o responsabilize na formação de seu caráter e da sua integridade. É neste ponto que faz sentido retornar àquilo (sic) que seria a educação na perspectiva da práxis (Arruda, 1997b). Trata-se de um modo de conceber e fazer a educação que difere profundamente da educação formal vigente, sobretudo em dois aspectos: um, o de estar voltada para a promoção e empoderamento de cada educando como sujeito principal (enquanto pessoa e coletividade) do seu próprio trabalho, desenvolvimento e educação; o outro, o de fundar-se numa concepção integral do ser humano, buscando educar a pessoa e as coletividades para a autogestão de si próprias e de todos os seus espaços e relações (ARRUDA e BOFF, 2000, p. 137). Observamos que o desenvolvimento do modo de produção capitalista provocou mudanças profundas não somente no espaço geográfico, mas principalmente na educação e no modo de vida das pessoas. Valores que há poucas décadas eram enaltecidos, hoje parecem estar esquecidos, devido a primordial necessidade do capitalismo: gerar lucro. Lucro que gera o poder do esbanjamento, do excesso, da gula, da voracidade e do dinheiro. Dinheiro que teria como objetivo suprir as necessidades do ser humano, porém o seu acúmulo demasiado gera multidões de famintos, deixados à margem da exclusão do bem comum, o que acaba aumentando ainda mais o abismo da desigualdade social. Portanto, o professor acaba se tornando um mediador que tenta mostrar ao seu aluno, que apesar de vivermos em um mundo totalmente individualista, fruto do capitalismo, devemos fazer o caminho ao “inverso”. Caminho do coletivismo, da cooperação, da solidariedade e da fraternidade. É preciso fazer com que aqueles que ensinam a geografia hoje tomem consciência de que o saber-pensar o espaço pode ser uma ferramenta para cada cidadão, não somente um meio de compreender melhor o mundo e seus conflitos, mas também a situação local na qual se encontra cada um de nós (LACOSTE, 2008, p. 256). Nessa perspectiva o estudo da desigualdade social a partir do local, possibilitará aos educandos de se transformarem em protagonistas de sua própria formação como um sujeito crítico, ativo e solidário, prontos a mudar e transformar nossa sociedade. [...] Nos dias de hoje só tem havido lugar para duas grandes vertentes ideológicas no ensino da geografia. Ensinar uma geografia neutra, sem cor e sem odor. Uma geografia que cria desde o início trabalhadores ainda que crianças, ordeiros para o capital. Ou ensinar uma geografia crítica, que forme criticamente a criança, voltada, portanto, para seu desenvolvimento e sua formação como cidadão. Uma geografia preocupada desde cedo com o papel que estas crianças-trabalhadores terão no futuro deste país. Uma geografia que possibilite às crianças, no processo de amadurecimento físico e intelectual, irem formando-criando um universo crítico que lhes permita se posicionar em relação ao futuro, que lhes permita finalmente construir o futuro (OLIVEIRA, 2005, p.143-144). Devido a dominação capitalista que se faz presente no processo educacional, o ensino da Geografia hoje muitas vezes se resume em transmitir um conhecimento voltado apenas para o mercado de trabalho. Porém, se queremos realmente uma verdadeira transformação da nossa sociedade devemos buscar uma geografia crítica que torne o nosso educando um cidadão pronto a nortear a veracidade com que o capitalismo nos apresenta, e a possibilidade de ao mesmo tempo fazer desse sistema um desafio de mudar e transformar essa competitividade em um processo humanizador, tornando-nos mais solidários, altruístas e responsáveis pelos problemas da realidade atual. [...] Devemos considerar a existência de três mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula. O segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade. O terceiro: O mundo como ele pode ser uma outra globalização (SANTOS, 2006). A globalização competitiva nos mostra um mundo em que o desenvolvimento econômico se mostra cada vez mais acelerado, e consequentemente uma melhora extraordinária nas condições de vida da população mundial. Porém, sabemos que tudo isso não passa de uma falácia, pois a realidade que vivenciamos e enfrentamos é totalmente diferente. Uma economia totalmente frágil, e um aumento considerável de pessoas vivendo à margem da exclusão social. Contudo, se a economia e política mundial fossem pautados na ética e moral, teríamos hoje uma globalização fundamentada talvez ainda pelo capitalismo, mas um capitalismo movido pela cooperação e não pela ambição, ou seja uma economia política do suficiente e acessível que assegure o respeito e a convivência pacífica a todos. Muitos podem pensar que é humanamente impossível, meramente utópico. Mas se houvesse uma reinvenção do capitalismo, onde se pensassem mais no coletivismo e menos no lucro, com certeza teríamos uma humanidade mais solidária, e problemas que hoje afligem o mundo todo como violência, tráfico de drogas e de pessoas, discriminação, preconceito, disparidades sociais, enfim realidades que surgiram com o avanço desse sistema, poderiam ser amenizadas e até extirpadas de nossa sociedade. Podemos supor que a sociedade capitalista é fruto da produção do espaço, assim a acumulação do capital tem provocado a desigualdade social, criando uma realidade presente que persiste em perpetuar em todo o mundo. Porém se o homem é um ser ativo, este poderá atuar sobre o meio em que vive e consequentemente modificar a produção deste espaço. O próprio evangelista Mateus (2007), nos exorta em suas escrituras o que disse Jesus: “Felizes os que têm fome de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Dessa maneira, devemos oferecer sempre nossa ajuda, pois misericordioso é quem se condói com o sofrimento dos outros, com suas dores, pobrezas ou tristezas. Estar sempre pronto a auxiliar as outras pessoas, participar de sua caminhada, ajudá-las de diversas formas e maneiras. Manifestar a nossa bondade, em um mundo tão egoísta e mesquinho, pode parecer até que estamos indo contra a maré, pois o que observamos hoje é a indiferença em que as pessoas demonstram em relação ao próximo. Não podemos ficar parados, esperando de braços cruzados que somente o governo faça algo pelos menos favorecidos Por isso devemos parar e rever nossos rumos, avaliar nossos objetivos, esquecer tanta coisa sem importância, escutar o que as pessoas tem a nos dizer e sempre tentar fazer mais por elas, enfim que possamos todos um dia, compreender que a verdade mais importante é a do amor, que nos transforma e nos une, e da qual viveremos através da comunhão uns pelos outros, e não da procura desenfreada pelo dinheiro e bens materiais. 3 METODOLOGIA E RESULTADOS DA IMPLEMENTAÇÃO Este trabalho foi realizado com os alunos do Primeiro ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Stella Maris, e teve como objetivo propor uma educação fundamentada em princípios de moral e ética, inspirada pelo altruísmo, compaixão e desejo do bem comum em ajudar o próximo, principalmente os menos favorecidos de nossa sociedade, fazendo-os presenciar o grande abismo existente entre a elite e os mais pobres, conscientizando-os que a nossa escolha e o modo de vivermos aqui no presente serão decisivos para eliminarmos esse abismo no futuro, pois em tempos em que a educação muitas vezes se resume à capacitar o indivíduo ao “sucesso” no mundo do mercado, ousamos em propor uma educação que vise a resgatar a sua formação integral como pessoa consciente, capaz de compreender, gerar e transformar a sociedade em que vivemos. Diante da realidade brasileira, marcada pela grande desigualdade social e pelo baixo poder aquisitivo da maioria da população, os meios de comunicação se tornaram uma ferramenta indispensável na transmissão de conhecimentos. Portanto, o uso de um documentário despertou e desenvolveu o entendimento da realidade que nos cerca, já que sua linguagem é de fácil compreensão. Nesse contexto, o documentário é um recurso audiovisual, e sua produção pelos alunos despertou ainda um maior conhecimento, que foi expressado e registrado de forma mais contundente ao vivenciarmos a realidade que parte da população andiraense tem presenciado em consequência deste sistema capitalista que nos aprisiona e nos torna reféns em nosso próprio mundo. Na primeira atividade assistimos o documentário: Encontro com Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá. Neste documentário refletimos sobre a última entrevista do geógrafo Milton Santos, na qual ele traça um painel das desigualdades entre o norte rico e o mundo do sul saqueado, apresentando alternativas e um prognóstico otimista sobre o futuro da humanidade. Trabalhamos com várias ‘falas’ deste documentário, principalmente o pensamento de Milton Santos, na qual ele analisa a existência de três mundos: o primeiro seria a globalização como fábula; o segundo a globalização como perversidade; e o terceiro a globalização por uma outra globalização. Os alunos analisaram e refletiram o que este processo do capitalismo está fazendo e ao mesmo tempo mascarando e alienando uma sociedade inteira. Debatemos ao máximo cada mundo explícito por ele e procuramos abordar várias questões que enriqueceram e aprimoraram os seus conhecimentos. Foram enfatizados também vários pontos do filme como as revoltas, as insurreições, consumismo, exclusão social. Outro ponto que trabalhamos bastante também foi sobre os jovens de Japeri no RJ, que produzem filmes para retratarem a sua cultura popular, onde mostram que através dos recursos audiovisuais é possível discutir e interagir as suas próprias vidas. Além de trabalharmos com as diversas falas do documentário, vimos, e analisamos as questões das revoltas de Cochabamba na Bolívia e do panelaço da Argentina, na qual ressaltamos a importância de lutarmos por aquilo que é correto e justo. Que não podemos ficar de braços cruzados e de nos conformar com as injustiças do mundo. Temos que sair da nossa "zona de conforto", se realmente quisermos valer aquilo que idealizamos. Enfim, este documentário deveria ser assistido e trabalhado por todos os professores de Geografia, pois ele é mais que um recurso audiovisual, ele é um exemplo verídico de uma aula de cidadania. Ainda nesta atividade trabalhamos com um texto que exemplifica o terceiro mundo, no qual nos diz que para que possamos reconstruir o mundo, é preciso primeiramente reconstruir o Homem. Encerrada esta atividade, demos início a outro documentário- Capitalismo: uma história de amor, do cineasta Michael Moore, onde vimos famílias destruídas pela ganância do capitalismo. Empresas multinacionais sem o conhecimento e consentimento da família e muito menos do próprio empregado e servidor, fazem seguros de vida dos empregados, sem que estes saibam. E quando estes morrem, o seguro de vida vai para a empresa, e não para a família. Observamos neste documentário a audácia dessas empresas que não estão se importando nem um pouco com a vida dos seus empregados, pois para estas empresas, seu empregado vale muito mais morto do que vivo. Diante deste documentário, analisamos esta grande crueldade que nos angustia e com certeza nos desespera, ao vermos mais uma vez as atrocidades que o capitalismo está fazendo com as pessoas, deixandoas egoístas e ambiciosas a ponto de não enxergar a necessidade do outro. Os próprios educandos observaram que as nossas atitudes valem muito mais que as palavras, portanto temos que fazer algo, e isso tem que partir de cada um, só assim poderemos ter um mundo mais fraterno e solidário. Também assistimos a um terceiro documentário: Tiros em Columbine. Neste documentário é retratado o fascínio de grande parte da sociedade norte-americana por armas de fogo, que são amplamente difundidas entre a população. Isso tem levado a crimes bárbaros, como o ocorrido em 1999, na escola pública em Columbine, no Colorado: dois jovens mataram doze alunos e um professor e em seguida se suicidaram. Os alunos discutiram as razões do crescimento da violência nos Estados Unidos e traçaram um ligamento com as grandes empresas bélicas, e o quanto estas têm faturado com esta cultura armamentista estadunidense. Os alunos chegaram a conclusão que este documentário é mais um exemplo de que como esse capitalismo selvagem é totalmente desumano, pois empresas preocupadas somente com seu lucro, tem difundido a venda constante de armas, o que leva a qualquer pessoa a adquirir uma arma naquele país, e esta quando cai em mãos de indivíduos não preparados e estruturados física e psicologicamente acabam provocando verdadeiras tragédias como esta na escola Columbine. Analisaram de que maneira poderiam reverter este mundo de armas de fogo propagadas pelas grandes empresas armamentistas dos Estados Unidos. Logo após, já demos início a mais uma atividade onde analisamos o desenvolvimento do município de Andirá, que hoje possui mais de 1330 empresas registradas; é também detentora de um parque industrial financeiramente importante para a independência do município. Ajudam com força nessa independência o comércio, a agricultura e a pecuária. A cidade ainda conta com empresas multinacionais que são fundamentais para o seu desenvolvimento. O faturamento de Andirá em 2011 foi de pouco mais de R$ 30,9 milhões provenientes do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Já o Produto Interno Bruto foi de US$ 87.568.456,59; e o PIB per capita foi de US$ 4.357,29, sendo que sua população economicamente ativa é de 10.483 habitantes. Segundo dados do IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), ainda temos 4.896 pessoas neste município vivendo em situação de pobreza, e a taxa de pobreza gira em torno de 20,77% Diante destes fatos, estudamos as possíveis causas desta desigualdade social do município de Andirá, enfocando as disparidades sociais, possivelmente causadas pelo sistema do capitalismo, onde analisamos e refletimos vários dados socioeconômicos do município, como o Indicador de Desenvolvimento Humano, o Índice de Gini, PIB per capita, Taxa de Pobreza, Taxa de Analfabetismo, Razão de Dependência, entre outros. Todas estas atividades foram realizadas dentro da sala de aula. Com o término destas, iniciamos a produção de nosso documentário, que contou com a participação dos alunos do Primeiro Ano do Ensino Médio. Foram realizadas várias entrevistas nos bairros mais pobres do município de Andirá. E antes disso fizemos um conhecimento prévio dos bairros e das famílias que vivem em situações precárias. Para a entrevista, foram escolhidos os alunos entrevistadores e aqueles que auxiliaram a entrevista. Também foi realizado um roteiro geral da entrevista. Quanto a produção do documentário, foi sendo realizado no período da tarde, já que os alunos estudam no período matutino. Infelizmente não pude envolver todos os alunos na produção do documentário, pois a cada tarde, saia com quatro alunos, além disso, outros trabalhavam neste período. Mas os que participaram, demonstraram grande interesse, principalmente em procurarmos famílias carentes, onde poderíamos realizar as entrevistas. O desenvolvimento deste documentário foi uma experiência única, trabalhosa, mas bastante gratificante, pois mostrar aos alunos a realidade em que as pessoas menos favorecidas de nosso município sobrevivem, com certeza é uma maneira de vivenciarmos e denunciarmos as desigualdades sociais decorrentes deste sistema perverso do capitalismo. Partimos, então, do fato de que a desigualdade tem sua especialidade e que esta especialidade é a própria dinâmica da sociedade. Por trás da lógica do espaço está a lógica da própria sociedade, e, se a sociedade é desigual, consequentemente o espaço será o espaço da desigualdade (OLIVEIRA, 2005, p.51). Percebemos a desigualdade do espaço, justamente através da complexidade dos lugares, pois o confronto entre a organização dos lugares da periferia, onde a pobreza existe e é percebida nitidamente em relação aos locais onde a riqueza domina. É realmente contrastante o choque de realidades diferentes entre o espaço moderno da população mais rica, em contraposição ao espaço dos menos favorecidos. (...) a mobilidade das fronteiras está relacionada ao arranjo espacial do poder, isto é, à maneira pela qual as classes sociais, principalmente as diretamente ligadas ao modo de produção hegemônico, delimitam seu poder, definem e concretizam a correlação de forças entre dominantes e dominados (OLIVEIRA, 2005, p.68). Sempre que delimitamos a ação dos dominantes e dominados em relação aos locais, territorializamos não somente o lugar, mas também sua vida social, o que se concretiza em suas ações no seu cotidiano. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após realizar esse trabalho proposto no projeto PDE-2013 “A produção de documentários como forma de conscientização e compreensão das disparidades sociais e econômicas decorrentes do sistema capitalista”, percebemos que promover a solidariedade, o altruísmo e ajuda mútua em relação aos menos favorecidos nas escolas não é uma tarefa fácil, muitas vezes alunos que vivenciam suas dificuldades não possuem noção de sua própria condição social e muito menos do local que o rodeia, mas é importante que a escola esteja disposta a organizar atividades que estimulem ações de solidariedade, altruísmo e ajuda mútua, como campanhas, projetos e dinâmicas, sempre associando as atividades e os resultados à importância de estabelecermos relações de cooperação para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Pois, todos nós professores queremos a transformação da sociedade através de uma educação que seja pautada na igualdade, na ética, na crítica, queremos que os nossos educandos pensem e repensem diferentes formas e maneiras para a construção de um mundo mais igualitário e democrático, e para que isto ocorra sabemos que o papel do professor é de suma importância no processo educacional. Os alunos ao produzirem o documentário, alteraram a visão de mundo que eles possuíam, e perceberam o quanto é preciso que haja mudanças em todos os âmbitos da sociedade, na qual foram feitas várias críticas tanto ao governo, a mídia, certas relações na cidade e principalmente a nós mesmos. Eles notaram que a omissão de cada um, se torna uma resposta em relação a tudo que está acontecendo não somente em nosso município de Andirá, como também no mundo todo. Sabemos que este projeto não irá resolver os problemas sociais que vivenciamos em nossa sociedade capitalista contemporânea, mas permitiu que os próprios estudantes debatessem, refletissem e criassem ações que poderão num futuro próximo alterar maneiras de se enfrentar a realidade da desigualdade social vivida e sentida por todos nós. Mas, apesar de sabermos muito bem da realidade que nos cerca, é inegável constatar que durante todo este projeto, nenhum de nós, professores e alunos perdemos a esperança de acreditar que a educação é uma forma de intervir e transformar o mundo. Portanto, sempre acreditaremos que podemos através da educação, ter um mundo mais solidário e justo. 4 REFERÊNCIAS ANDIRÁ GLORIOSA. Revista Andirá empreendedora, Andirá, n. 1, p.12-15, setembro 2012. AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Jovem, levanta-te!. 15. ed. Lorena: Cléofas, 2012. ARRUDA, Marcos; BOFF, Leonardo. Globalização: Desafios socioeconômicos, éticos e educativos. Petrópolis: Vozes, 2000. 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