homeopatia e complexidade nas escolas médicas

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HOMEOPATIA E COMPLEXIDADE NAS ESCOLAS MÉDICAS
NECHAR*, Rosana Mara Ceribelli-UEL
[email protected]
VOLPATO**, Rosangela Aparecida-UEL
[email protected]
Resumo
Em 2003 criei o projeto de divulgação da Homeopatia no norte do Paraná, inaugurando o
Curso de Especialização em Homeopatia de Londrina - CEHL - entidade formadora da
Comissão de Educação da Associação Médica Homeopática Brasileira, onde exerço o papel
de coordenadora. Seguindo as diretrizes curriculares propostas pela AMHB, iniciamos a
primeira turma do Curso de Especialização em Homeopatia de Londrina (CEHL), composta
por 35 alunos, que completaram o curso em dezembro de 2005. Durante a rica experiência
proporcionada pelo curso, pude conferir a mudança de paradigma surpreendente dos
profissionais de saúde, ampliando seus horizontes de conhecimentos pelos conceitos
homeopáticos, incluindo o adoecer como um processo na vida das pessoas, nos seus aspectos
físicos, mentais, emocionais e contextuais. Através da Homeopatia, os pacientes são vistos em
sua totalidade e não somente nas suas partes doentes, sendo esta última uma visão
reducionista que é característica do paradigma vigente na medicina. Tivemos, também, a
oportunidade de realizar trabalhos científicos nas áreas médica e farmacêutica, e pude
perceber o vasto campo a ser explorado e pesquisado. Diante das inquietações resultantes
dessa prática, resolvi, nesse ano, realizar estudos em nível de mestrado na área educacional.
No início dessa trajetória investigativa, vinculei-me ao projeto de pesquisa “Complexidade e
Educação”. Os resultados dos estudos desenvolvidos no interior desse projeto têm por
objetivo demonstrar que a racionalidade homeopática está em consonância com o pensamento
complexo. Além disso, penso que o modelo de ensino médico que pretende formar
profissionais voltados para a saúde integral, deve facilitar a ampliação dos conhecimentos e
articular os saberes da ciência contemporânea.
Palavras-chave: Educação; Homeopatia; Complexidade.
A Homeopatia é um sistema terapêutico fundado há duzentos e dez anos pelo médico
alemão Samuel Hahnemann, que após estudos e reflexões baseados na observação clínica e
em experimentos realizados na época, sistematizou seus princípios filosóficos e doutrinários
em suas obras Organon da Arte de Curar e Doenças Crônicas. A partir daí, essa racionalidade
médica experimentou grande expansão por várias regiões do mundo, estando hoje firmemente
implantada em diversos países da Europa, das Américas e da Ásia. No Brasil, a Homeopatia
foi introduzida por Benoit Mure em 1840, tornando-se uma nova opção de tratamento, e
* Médica especialista em Homeopatia, aluna do Mestrado em Educação Escolar.
** Professora orientadora do Programa de Mestrado em Educação Escolar
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reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina em 1980. Apesar
de ainda desconhecida por grande número dos médicos, que não tiveram oportunidade de
contato com esta modalidade durante sua formação, está presente em pelo menos 10
universidades públicas, em atividades de ensino, pesquisa ou assistência, e conta com cursos
de especialização em Homeopatia em 12 unidades da federação.
Os trabalhos científicos realizados no campo da Homeopatia, tanto nas pesquisas
básicas quanto nos trabalhos clínicos, comprovam cada vez mais os grandes benefícios que a
Homeopatia representa para a saúde humana, nos seus diferentes níveis de atuação, tanto nos
pacientes funcionais ou lesionais, como em nível profilático. Essa abordagem médica pode ser
uma forte aliada do profissional da saúde ao promover a cura e a prevenção das doenças.
O desconhecimento leva ao preconceito, e na prática médica é exatamente o que
observamos. Como a grande maioria dos estudantes de medicina ainda não tem acesso aos
conceitos homeopáticos na sua formação ou, o que é ainda pior, têm informações erradas e
distorcidas a respeito da Homeopatia, temos um panorama médico em que a maior parte da
população é privada dos seus possíveis benefícios, além de receberem orientações confusas a
esse respeito. Observamos, muitas vezes, na nossa realidade, situações em que os pacientes
que se interessam pelo assunto conhecem mais sobre aspectos homeopáticos do que os
próprios profissionais da saúde.
No decorrer do processo de construção das concepções de saúde e doença tivemos duas
propostas de modelos: o biomédico, que parte daquilo que os seres humanos têm de
semelhante e, o modelo humanístico ou biopsicossocial que atua com base na busca daquilo
que é diferente, peculiar em cada um. Conforme afirma de Oliveira (1982, p.11-14):
A Homeopatia está na encruzilhada desses dois modelos, pois admite que os seres
humanos possuam concomitantemente semelhanças e diferenças em relação aos
demais. Além disso, atua no mínimo em dois níveis de realidade - um sensível e um
racional - para compreender os pacientes em sua heterogeneidade constitutiva, na sua
energia vital e nos níveis físico, emocional e mental.
Assim, podemos afirmar que os seres humanos são portadores de um padrão de
organização complexa que se manifesta em toda natureza. Aí, residem as semelhanças. No
entanto, esse padrão de organização se configura de forma genuína em cada um de nós. Aí,
residem as diferenças. Dessa forma, um tratamento que se pretende integral, somente será
possível com terapêuticas presentes nas Medicinas Integrativas, as quais têm o foco nas interrelações das partes e, não, como na medicina tradicional, em que o foco está nas partes.
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Para Hipócrates (460-377a.C.), a individualidade e a complexidade dos pacientes
deviam ser respeitadas. Admitia uma phisis responsável pelo sistema de auto-regulação ou
homeostase dos organismos vivos e propunha a necessidade de se conhecer a natureza do
homem através de seus atributos individuais, afirmando que havia doentes e não doenças. Por
outro lado, Galeno (c.129 - c.200), também médico grego, ao contrário de Hipócrates,
privilegiava o tratamento das doenças, com a prescrição de medicamentos de ação contrária
aos sintomas – de acordo com o princípio dos contrários. É esta a visão médica que prevalece
nos meios acadêmicos ortodoxos e na medicina convencional.
Em seu contexto epistemológico, a Homeopatia fundamenta-se em princípios
distintos da medicina convencional: aplicação do princípio de cura pela similitude, aplicando
doses infinitesimais de substâncias que, ao terem sido experimentadas previamente em
pessoas sadias, apresentaram sintomas semelhantes aos do indivíduo doente (as chamadas
experimentações patogenéticas). Na aplicação terapêutica desses pressupostos, valoriza a
individualidade humana, elegendo, dentre os milhares de substâncias experimentadas, aquela
que englobe a totalidade característica dos sintomas de cada paciente (nos aspectos psíquicos,
emocionais, gerais e clínicos) empregando, para um mesmo tipo de doença, medicamentos
distintos para cada indivíduo enfermo. Trabalhos desenvolvidos nas últimas décadas, em
pesquisa básica e pesquisa clínica, têm procurado fundamentar cientificamente os
pressupostos e a prática clínica homeopática. Apesar do princípio de cura pela similitude
homeopática vir despertando interesses e debates crescentes na racionalidade médica
contemporânea, causa estranheza ao pensamento cartesiano o fato de as doses infinitesimais
homeopáticas produzirem sintomas em organismos vivos, fazendo com que comparem os
efeitos “inexplicáveis” ou “implausíveis” do tratamento homeopático ao “efeito placebo”.
Acreditar na eficácia das doses infinitesimais exige do meio científico um novo paradigma
biofísico; afinal, numa visão mecanicista de mundo, fica quase impossível comprovar não
apenas os princípios homeopáticos, mas inúmeros postulados da física moderna. No entanto, a
cada ano aumenta o número de profissionais voltados para essa questão, permitindo a
formulação de novas teorias e de experimentos capazes de esclarecer o enigma das
ultradiluições.
A complexidade proposta por Edgar Morin se refere a um conjunto de eventos,
especialmente aos ligados à área científica, que ocorreram no final do século XIX e que foram
sendo debatidos, combatidos e assimilados no decorrer do século XX.
Primeiramente, tem-se a revelação de que existem fenômenos que não se consegue
explicar dentro do modelo mecanicista. O próprio ser humano é um deles, o universo também,
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a vida e a morte, o amor, o ódio (a reaproximação da filosofia e da ciência). Depois, descobrese que o mundo pode ser um sistema, um ecossistema, e que suas partes (fragmentos) não
estão e nem podem ser vistas e estudadas sem a compreensão e aceitação do todo onde
figuram. A explicação das relações e inter-relações desse todo e de suas partes exige uma
nova lógica; é o que se chama pensamento complexo: a busca de um método que consiga
captar os antagonismos e complementaridades entre as partes constituintes de um sistema, ou
seja, realizar a tessitura daquilo que foi concebido isoladamente. É o que Morin denomina a
"ordem dentro da desordem" ou a "certeza da incerteza" e, é, justamente, por este motivo que
se chama complexidade (complexo: aquilo que é tecido junto) (MORIN, 2000).
Nosso Universo possui cerca de 162 milhões de galáxias, em um todo interligado; a
Via Láctea é um todo interligado com 100 bilhões de estrelas; nosso Sol e seus 10 planetas
compõem um todo interligado; a Terra é um sistema com centenas de ecossistemas, milhares
de habitats e milhões de espécies animais e vegetais inter-relacionados; o corpo humano, com
cerca de 100 trilhões de células, também é um todo interligado, um conjunto que se modifica
e se auto-regenera a cada instante.
Este é o padrão, a complexidade manifestada em toda natureza. A física quântica nos
revelou que a natureza é um conjunto indivisível, no qual tudo está contido: dois grãos de luz
ou fótons, mesmo separados por bilhões de quilômetros, fazem parte de uma mesma
totalidade; o princípio da complementaridade da mecânica quântica enuncia que os elétrons
são entidades de dupla face: ora nos aparecem como grãos de matéria sólida, ora como ondas
imateriais. A Teoria do Caos surge da busca de um padrão em todo evento irregular, como é o
caso, por exemplo, do comportamento dos seres vivos e dos fenômenos naturais.
Segundo Barollo (2005), Podemos entrever a presença do método complexo na
Homeopatia, desde a experimentação no homem sadio, a preparação e cuidado com os
medicamentos, coleta e classificação dos sintomas objetivos e subjetivos do paciente, o estudo
dos medicamentos (patogenesias) e a escolha do melhor medicamento para cada paciente. E,
ainda, no acompanhamento de cada caso, na evolução de acordo com os parâmetros de cura
integral (de terceiro nível), no momento de prescrever novamente e nas modificações na
dinâmica vital do paciente após cada dose de medicamento. O ser humano é um sistema
complexo, em que todas as suas partes estão, permanentemente, se inter-relacionando. Por
outro lado, esse sistema (o ser humano) está envolto em uma rede de relações - intrapessoais,
interpessoais e transpessoais. Assim, o tratamento homeopático caracteriza-se como complexo
na medida em que não consegue se fixar nas partes: na doença, no sintoma físico, psíquico ou
energético, entre outros, mas busca tecer as múltiplas dimensões presentes no indivíduo,
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buscando suas peculiaridades, ao mesmo tempo em que considera as diferentes dimensões
relacionais que esse indivíduo está inserido. É a busca incessante de articular as partes e o
todo.
Da completa sintonia e interdependência dos sistemas, emerge a idéia de
complexidade e rede: à medida que vamos conhecendo mais e mais nossos pacientes, as
histórias clínicas vão se revelando progressivamente e, quanto mais informações vamos
obtendo, mais as redes se ampliam e, paradoxalmente, a individualidade se configura, ou seja,
aquilo que é genuíno em cada um dos indivíduos.
Assim, podemos considerar racionalidade homeopática configura-se como uma lógica
complexa, ou seja, a permanente e incessante busca de um método que visa à tessitura daquilo
que o ocidente, com base numa racionalidade mecanicista que se tornou hegemônica,
fragmentou, dissociou. A Homeopatia sofre os pré-conceitos inerentes a toda e qualquer
proposta que tem como objetivo ultrapassar as dicotomias: homem-mundo, razão-corpo,
matéria-energia e, assim por diante.
Porém, mesmo sem o completo aval da comunidade científica, a Homeopatia cresce
em todo o mundo, ocupa um importante espaço na Europa, mobiliza milhões de pessoas em
países como a Índia e, com aproximadamente 15 mil médicos homeopatas no Brasil, torna-se
a cada dia uma importante especialidade médica no país. Não satisfeita com a importância que
vem ocupando hoje dentro da medicina, a comunidade homeopática quer, no entanto, deixar
de vê-la marginalizada no campo científico. Inúmeras pesquisas sérias vêm sendo realizadas
para demonstrar que o índice de cura dos pacientes tratados pelos remédios homeopáticos é
bastante elevado em comparação aos que receberam simplesmente o placebo. Nos últimos
anos, pesquisas em Homeopatia estão sendo realizadas nas várias áreas do conhecimento
médico, com crescente investimento acadêmico e institucional.
Pesquisas recentes (BASTIDE, 1994; POITEVIN, 1994; ZACHARIAS, 1997)
explicam a ação do medicamento homeopático: possibilitando a formação de “clusters” e
geração de campos eletromagnéticos no processo da dinamização (técnica de preparo dos
medicamentos), modificam as propriedades do solvente, mesmo sem a existência do princípio
ativo que antes se fazia presente de forma ponderal. Muitos estudos estão em andamento
atualmente e, no Brasil, importantes avanços têm se observado nas pesquisas do grupo do
Instituto de Química da Unicamp, que possui uma linha de pesquisa sobre o tema das
ultradiluições, incluindo importantes teses de mestrado/ doutorado (FAIGLE, 2002). O
medicamento é dinamizado a partir de processos sucessivos de diluição seguida de sucussões,
apresentando-se às experimentações como geradoras de sintomas de forma diferente de
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quando em sua forma bruta (algumas substâncias são inertes in natura e provocam uma série
de sintomas após serem dinamizadas, a exemplo do sal, carvão, sílica e cal). As pesquisas que
demonstram a atividade das ultradiluições homeopáticas podem ser encontradas em todas as
áreas, ou seja, físico-química, ensaios biológicos, imunológicos, culturas de células e ensaios
clínicos controlados. Dois trabalhos realizados por Linde, Clausius e Ramirez (1997) e
Kleijnen (1991), envolvendo 119 ensaios clínicos homeopáticos, comprovaram a eficácia da
Homeopatia sobre o placebo.
Desde 1988 a comunidade científica homeopática tem promovido bienalmente o
Simpósio Nacional de Pesquisas Institucionais em Homeopatia - SINAPIH - encontro entre
pesquisadores, físicos e químicos interessados em participar de pesquisas em ultradiluições. O
SINAPIH tem como objetivos: divulgar a produção científica em Homeopatia brasileira e dos
países latino-americanos, a partir de modelos de pesquisa inovadores e consistentes com a
racionalidade do conhecimento da especialidade; explorar os vários desenhos e propostas
metodológicas de pesquisa científica em Homeopatia, em relação aos seus aspectos
biológicos, clínico-epidemiológicos, farmacêuticos, educacionais, político-institucionais,
históricos e sociais e disseminar os mais recentes resultados e tendências de pesquisa em
Homeopatia por meio de convidados internacionais que são referência na área, contribuindo
para sua legitimação científica e aprimoramento metodológico. O número de trabalhos
apresentados durante esses encontros vem crescendo substancialmente, e o último Simpósio
Nacional de Pesquisas Institucionais em Homeopatia, realizado em São Paulo em 2005,
contou com 200 trabalhos científicos, de pesquisas básicas e clínicas em Homeopatia.
O Groupe International de Recherche sur L´infinitésimal – GIRI - organiza
anualmente simpósios com o objetivo de reunir pesquisadores das mais diversas áreas de
atuação (físicos, químicos, biólogos, entre outros) para trocar experiências, discutir resultados
e desenvolver colaborações em projetos científicos sobre a estrutura física e ação biológica de
substâncias ultra diluídas. O GIRI possui mais de 100 membros, oriundos de 20 diferentes
países.
Espera-se que o reconhecimento da Homeopatia como ciência médica propicie a
entrada de novos fundos de financiamento de pesquisas, e seja importante não só para os
profissionais da área, mas, sobretudo para os que podem vir a se beneficiar com uma
terapêutica que cuida da saúde humana como um sistema biológico integrado, isto é, toda a
população. Para que a pesquisa neste campo seja validada cientificamente, é fundamental
contemplar a racionalidade homeopática, com seus pilares básicos, entre os quais o princípio
da similitude e a ultradiluição das substâncias no preparo dos medicamentos.
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A influência da formação cartesiana nas escolas médicas de todo mundo ainda é
muito grande. Os novos profissionais formados nos frios academicismos tecnológicos
ressentem-se, contudo, de uma Medicina humanitária e vitalista, que lhe facultem visões mais
abrangentes do ser humano. Cansados de tecnicismos vazios, sentem-se necessitados de uma
medicina filosófica, que estude o esfacelado homem moderno como um todo unitário e
indivisível, que considere a doença de suas partes como um desequilíbrio desse todo. Uma
Medicina não somente vitalista, mas também social e psicológica. Enfim, uma Medicina que
saiba ver e tratar o ser humano em sua totalidade e recupere a relação médico-paciente,
satisfazendo, sobretudo, os anseios dos enfermos, perdidos em frias máquinas de diagnósticos.
Com o intuito de fomentar a discussão sobre o ensino de práticas não-convencionais
em saúde, principalmente a Homeopatia, nas faculdades de medicina brasileiras, Teixeira
(2003) apresentou revisão sobre o assunto, que constou de extenso levantamento
bibliográfico. Enfocou em seu trabalho as atitudes da população e da classe médica
(estudantes, residentes e especialistas) perante estas terapêuticas, a importância e as iniciativas
brasileiras e de outros países no ensino regular destas práticas, e as perspectivas para o futuro
da educação médica em práticas não-convencionais em saúde. Seus resultados foram: em
diversos países do mundo (EUA, Alemanha, Inglaterra, França, Japão, Brasil, etc.), grande
parte da população se utiliza de Práticas Não Convencionais em Saúde (PNCS); os médicos e
acadêmicos apresentam uma atitude bastante favorável a essa proposta pedagógica; há uma
incorporação gradativa do ensino com base nos PNCS nos programas da graduação,
residência e pós-graduação de diversas faculdades de medicina. O pesquisador concluiu
traçando o panorama global do interesse e do ensino de PNCS, objetivando estimular a
discussão nas escolas médicas brasileiras para a importância de se adequarem às crescentes
iniciativas mundiais nesta área, “pois o ensino e a pesquisa universitária em PNCS vêm ao
encontro das necessidades da nossa sociedade” (TEIXEIRA, 2003, p.3).
Pode-se compreender porque tem sido tão difícil modificar a educação médica no
Brasil. As iniciativas de mudança procuraram enfrentar, nos últimos anos, problemas
importantes. Entre eles, está a fragmentação do ato médico, a perda de qualidade da relação
médico-paciente, a exclusão de boa parte da população do acesso aos serviços, em função da
elevação astronômica dos custos, a introdução precoce da especialização levando à
fragmentação de conteúdos. Todos esses fatores estão relacionados diretamente à organização
curricular nas escolas médicas.
Assim, formar profissionais médicos habilitados a interagirem e intervirem na área da
saúde, considerando o ser humano como um todo, ou seja, considerando sua dimensão
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biológica, psíquica e social, significa modificar o modelo de educação médica influenciado
pelos estudos de Flexner, conhecido como “paradigma flexneriano”, estrutura essencialmente
individualista, biologicista, hospitalocêntrica e com ênfase nas especializações. Se algumas
práticas alternativas se mostrarem efetivas e seguras, os médicos saberão apreendê-las e se
capacitarão para usá-las apropriadamente. Caso contrário, tais práticas deverão ser recolhidas
aos arquivos históricos da medicina como mais uma promessa que não se concretizou.
Superar modelos arcaicos solidamente estabelecidos pode ser uma tarefa muito difícil,
particularmente numa área tão complexa como a saúde dos seres humanos, influenciada por
fatores econômicos, políticos, sociais, culturais, históricos ou religiosos, num campo do
conhecimento em permanente mutação.
Como enfatiza o educador Freire (1975), a dimensão humana não se reduz a nenhum
tipo de mecanismo e, por isso, temos que construir permanentemente uma prática pedagógica
humanizante, que vem ao encontro da visão de totalidade do ser humano proposta pela
Homeopatia em suas vivências, atitudes e pensares.
Ao longo dos últimos dez anos de exercício da medicina homeopática, tenho me
inquietado com o desconhecimento sobre os benefícios desta prática no sistema médico
vigente. As possibilidades que a visão homeopática proporciona, assim como a crescente
procura da população por abordagens médicas mais abrangentes, levaram-me a criar, em
2003, o projeto de divulgação da Homeopatia no norte do Paraná, inaugurando o Curso de
Especialização em Homeopatia de Londrina - CEHL - entidade formadora da Comissão de
Educação da Associação Médica Homeopática Brasileira, onde exerço o papel de
coordenadora. Durante a rica experiência proporcionada pelo curso de pós-graduação em
Homeopatia, posso conferir a mudança surpreendente dos profissionais de saúde, ampliando
seus horizontes de conhecimentos através dos conceitos homeopáticos, incluindo o adoecer
como um processo na vida das pessoas, nos seus aspectos físicos, mentais, emocionais e
contextuais.
Estes estudos iniciais realizados no interior do projeto de pesquisa intitulado
“Complexidade e Educação” são de fundamental importância na minha trajetória investigativa
na área educacional. Pretendo prosseguir em busca de aprofundamento da inter-relação
homeopatia-complexidade, a fim de facilitar a compreensão acerca das possibilidades de um
ensino que vise superar o modelo educacional vigente, favorecendo, assim, o processo de
reconhecimento e inclusão da Homeopatia nas escolas médicas.
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