O Significado Biológico da Morte. Uma reflexão profunda sobre a vida tem necessariamente de levar em conta a morte, pois, afinal, todo ser vivo está sujeito a morrer. A qualquer instante, pelos mais diferentes motivos, o processo vital pode ser interrompido. O que é vida? O que é morte? Do ponto de vista biológico, vida é sinônimo de alta organização, mantida à custo de dispêndio de energia e a morte é o processo irreversível de perda da atividade altamente organizada que caracteriza a vida. Vamos voltar aos primórdios de nosso planeta e refletir um pouco sobre o aparecimento da vida na Terra. Pode-se dizer que a vida surgiu efetivamente com a reprodução, que garantiu sua perpetuação, contrapondo-se à inevitabilidade da morte. Graças a reprodução, os seres vivos venceram a morte, pelo menos por enquanto. Indivíduos morrem, espécies se extinguem, mas a vida, como fenômeno planetário, continua a existir ininterruptamente desde sua origem. Existem seres vivos que, salvo acidente, não morrem, embora deixem de existir como entes individuais. Uma célula que se reproduz por divisão binária não morre; apesar de desaparecer, sua existência adquire nova forma, perpetuando-se em suas filhas. Certos seres multicelulares, com as esponjas e alguns celenterados e vermes, são capazes de se reproduzir por fragmentação, continuando a viver em seus descendentes. Apenas seres multicelulares relativamente simples, todavia, possuem essa capacidade. Os seres mais complexos desenvolveram uma maneira muito peculiar de vencer a morte: dois indivíduos de sexos diferentes produzem gametas, que se unem para originar o zigoto. Nessa primeira célula serão misturadas suas receitas genéticas. Ao longo do desenvolvimento embrionário, as receitas genéticas dos pais vão sendo duplicadas e transmitidas para cada nova célula que surge. De certa forma, os pais permanecem vivos no novo ser que originaram. Os humanos talvez sejam os únicos seres que têm consciência de que sua vida individual chegará ao fim. E poucas pessoas conseguem encarar com naturalidade o fenômeno absolutamente inevitável que porá fim à sua existência individual. A humanidade tem enfrentado inúmeras maneiras de morrer: moléstias de infância, acidentes de adolescência, infecções virais e bacterianas da idade adulta e as doenças degenerativas da velhice: cardiopatias, artrite, câncer e arteriosclerose. Apesar das dificuldades, seria bom se conseguíssemos nos preparar para a morte. Um dia toda a incrível organização que nos faz viver é desfeita. O interior de nossas células, outrora formado por um monumental aparato molecular funcionante, se transformará gradualmente em uma sopa de moléculas orgânicas caoticamente reunidas. Muitos outros seres, os decompositores, irão se banquetear com nossas substâncias orgânicas, que para eles são nutritivas. E a vida continuará a existir. Resta-nos um consolo: nossa morte, com certeza, criará vida. (Fonte: Amabis, José Mariano e Martho, Gilberto Rodrigues. Fundamentos da Biologia Moderna. São Paulo: Moderna, 2002. P.506).