As veias permanecem abertas Eduardo, é difícil ser latino americano e amanhecer sabendo da tua ausência. Pelo menos de tua vida falada. Foste para o jornalismo um bastião crítico, um ânimo de coragem frente às injustiças. Colocas-te o dedo em muitas feridas. Assumiste para milhões deste continente tão esfoliado um movimento de luz, uma esperança acesa atrás do concreto armado das ditaduras. Eduardo, como fazes falta! Jornalismo de contraponto, de ruptura, de colher os frutos da terra e adoçá-los com teu conhecimento dos cantos dos Homens, de seus mitos ritos, para depois servi-los a nós tão frescos. Tu bem sabes, estamos tão idiotizados, meu amigo, tão imbecizilizados com certas inutilidades, que não valem uma lauda do livro dos Abraços, uma aventura da Memória do Fogo! Passaste na hora certa. Este mundo não merece mais tua beleza. Em outro planeta menos medroso e casto, quem sabe te abracem efusivamente, sem medo das tuas palavras, que só estiveram a serviço da fantasia, da criatividade e da libertação. Uma escrita provocadora, viva, pulsante e provocadoras de incêndios, só poderia mesmo é pedir a conta e se mandar, e deixar-nos aqui com a fatura neste Ártico mundial. Eu sei, eu sei. Isto tudo é demais para este mundo com a imaginação castrada e de sonhos monetários. Tu deves estar ótimo aí onde estiveres. Mas o problema é pra quem fica... e, depois de passarmos por ti, suportar toda esta literatura de superfície, que agora virou canônica em todos os lugares!? Correrá tudo sem ti? Decerto correrá. Os rios sempre correm. Ora mais cheios. Ora mais secos. Um brinde ao jornalismo e a literatura, que no teu viver sempre foram um bálsamo exalado pela tua escrita. Rafael Vargas é jornalista e membro da FENAJ.