Maio - CILeite

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Ano 8 nº 86 maio/2016
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Embrapa Gado de Leite
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Coordenação geral
Rosangela Zoccal e Vanessa da Fonseca Pereira
Equipe técnica – Pesquisadores e Analistas da Embrapa
Alziro Vasconcelos Carneiro, Médico Veterinário, D.Sc.
Glauco Rodrigues Carvalho, Economista, Ph.D.
João César de Resende, Engenheiro Agrônomo, D.Sc.
José Luiz Bellini Leite, Engenheiro Civil, Ph.D.
Kennya Beatriz Siqueira, Engenheira de Alimentos, D.Sc.
Lorildo Aldo Stock, Engenheiro Agrônomo, Ph.D.
Manuela Sampaio Lana, Administradora.
Paulo do Carmo Martins, Economista, D.Sc.
Rosangela Zoccal, Zootecnista, M.Sc.
Samuel José de Magalhães Oliveira, Engenheiro Agrônomo, D.Sc.
Vanessa da Fonseca Pereira, Administradora, D.Sc.
Ficha técnica
Supervisão editorial: Rosangela Zoccal e Vanessa da Fonseca Pereira
Revisão linguística: Emili Barcellos Martins Santos
Normalização bibliográfica: Inês Maria Rodrigues
Capa: Adriana Barros Guimarães
Colaboração: Victor Muiños Barroso Lima
Todos os direitos reservados.
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em
parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610)
CIP-Brasil. Catalogação-na-publicação.
Embrapa Gado de Leite
________________________________________________________________
Panorama do Leite – Ano 6, n. 65 (abr/2012) - . – Juiz de Fora : Embrapa Gado de Leite, 2012 - .
Boletim eletrônico mensal.
Coordenação: Rosangela Zoccal e Vanessa da Fonseca Pereira.
1. Leite e Derivados. 2. Conjuntura. 3. Custo de produção. I. Zoccal, R.
CDD 338.1
______________________________________________________________________________________
© Embrapa 2016
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Sumário
1.
Conjuntura do setor lácteo ................................................................................................................ 4
2.
Transpacífico: a consolidação do maior acordo global para o mercado de lácteos .......................... 5
3. Gestão eficiente de propriedades leiteiras – Relatório da propriedade ......................................... 8
3
Nota 1: conjuntura do setor lácteo
Na
última reunião de conjuntura foram
da atividade, seja via abate de vacas, aluguel/venda de
propriedade, mudança de atividade, e/ou retorno da
discutidos temas relacionados a mercado de insumos,
genética para rebanhos menos especializados em leite
preços de leite e setor externo. Em relação aos insumos,
no intuito de aproveitar o bom momento do mercado de
verifica-se ainda uma pressão de alta nos custos de
bezerros. A alta nos preços do leite ao produtor tende a
produção, impulsionada por alimento concentrado. A
continuar nos próximos meses, sustentada pela elevação
safrinha brasileira de milho ficou em evidência devido à
das cotações do UHT no mercado atacadista. Isso deverá
escassez de chuva em abril em quase todas as áreas
melhorar um pouco as margens do produtor. Em 2016,
produtoras. Apesar das chuvas do início de maio, a
o leite UHT já subiu 32% no atacado. Enquanto essa alta
situação ainda é complicada em algumas regiões. O
persistir, pode-se esperar repasses ao produtor. A dúvida
preço do milho segue pressionando os pecuaristas,
que fica refere-se à sustentação desses preços mais altos
sendo necessários 40 litros de leite para comprar uma
no tempo, em função da forte crise econômica que o país
saca de 60 kg em abril/2016 (eram 28 litros em abril de
atravessa e da deterioração do mercado de trabalho.
2015). No caso da soja, os últimos números do USDA
Finalmente, em relação à balança comercial, o mês de
sinalizaram uma queda de 0,5% na intenção de plantio
abril registrou um déficit de 49 milhões de dólares, sendo
nos EUA, queda da produção e recuo nos estoques finais.
38 milhões somente no leite em pó. O mais preocupante
Isso acabou levando a uma pequena alta nos preços do
é que, mesmo com preços domésticos acima do patamar
farelo no início de maio.
mundial,
Os preços do leite ao produtor subiram em abril,
muitos
enfrentando
produtores
dificuldades
locais
financeiras.
continuam
Essa
baixa
seguindo o padrão sazonal da época. A alta foi de 5,7%,
competitividade doméstica tem deixado as exportações
em relação a março e de 23,6% em elação ao patamar de
cada vez mais distantes e aumentado a exclusão de
abril/2015. Apesar dessa elevação, a relação de troca
produtores.
ainda continua apertada para o padrão histórico. A
fundiária, à ineficiência no processo produtivo e ao custo
Figura 1 ilustra o preço do leite nos meses de abril em
Brasil (infraestrutura, custos trabalhistas, produtividade
Minas Gerais, deflacionado pelo ICPLeite/Embrapa.
da mão-de-obra) têm prejudicado a competitividade
Pode-se observar uma recuperação em relação ao ano
brasileira no setor. As sinalizações de recuperação dos
passado, mas ainda abaixo dos valores observados para
preços internacionais estão mais distantes, a menos que
aquele mês nos últimos 10 anos. Essa deterioração na
eventos climáticos afetem a produção global este ano.
Problemas
relacionados
à
estrutura
renda do produtor tem induzido à saída de produtores
Figura 1. Preço do leite ao produtor em MG, expressos em Reais/litro, em abril de cada ano. Valores deflacionados
pelo ICPLeite/Embrapa.
Fonte: Cepea; Embrapa.
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Essa nota é resultado da reunião mensal de conjuntura da equipe de socioeconomia da Embrapa Gado de Leite, 17/05/2016.
Glauco Carvalho, Anderson Christ, João César de Resende, José Luiz Bellini, Lorildo Stock,
Rosangela Zoccal, Samuel Oliveira e Vanessa Pereira.
Pesquisadores e Analistas da Embrapa
4
Transpacífico: a consolidação do maior acordo global para o
mercado de lácteos
Glauco R. Carvalho e Samuel J. de M. Oliveira – Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite
Juliana M. M. da Silva – Estudante de economia da UFJF
Juntos, os países do Transpacífico possuem renda
O Transpacífico é o primeiro grande acordo
nacional de US$ 28,9 trilhões, população de 810 milhões
comercial concluído nos últimos 20 anos, desde o fim da
de habitantes e renda per capita bruta1 de US$ 35.718.
rodada Uruguai da Organização Mundial do Comércio.
Possuem a mesma renda per capita da União Europeia,
Esse acordo foi firmado em outubro de 2015 entre doze
porém com renda nacional e população superiores. Os
países banhados pelo Oceano Pacífico. Os grandes
valores da renda bruta e per capita, muito acima de
produtores de alimentos desse acordo, notadamente
países importantes como China e Brasil, ilustram a
Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Canadá terão
importância deste bloco econômico (Tabela 1).
vantagens sobre concorrentes brasileiros em mercados
extremamente fechados, como o Japão, e em emergentes com demanda crescente por alimentos, como Vietnã
e Malásia, todos parte do acordo. Isto sem citar os
Estados Unidos, maior mercado consumidor do planeta.
Os países que compõem este bloco econômico
recém-criado respondiam por cerca da metade do valor
da renda bruta mundial nas últimas décadas do século
XX. Este valor se reduziu para menos de 40% no século
atual. É, no entanto, ainda muito expressivo e mostra a
Enquanto os países que compõem o novo bloco
força econômica desta área. A participação da
dão exemplo de assertividade em questões comerciais, é
população destes países no total mundial reduziu
notória a paralisia do Brasil. Há 12 anos, o país esteve na
progressivamente de cerca de 13% em 1970 para cerca
liderança
com
de 11% em 2014. A renda per capita agregada dos países
protagonismo na Rodada Doha, discussão da Alca e
do bloco sempre esteve significativamente acima da
acordo com a União Europeia. Mas nenhumas das
média do mundo, atingindo mais de 400% em 2000. Em
iniciativas foi concretizada e atualmente existem vários
2010 este valor esteve por volta de 340% e em 2014,
acordos bilaterais celebrados ao redor do globo sem a
330%, mostrando que, neste último ano, a renda per
participação brasileira. Cerca de 40% do comércio
capita destes países foi, em média, 4,3 vezes maior que
mundial atual se dá com bases estabelecidas em acordos
a média mundial (Figura 1).
de
negociações
internacionais,
bilaterais. É grave e impactante a ausência do Brasil
nestas negociações.
No mercado lácteo, a participação do bloco é
significativa em qualquer comparação, seja de oferta ou
Diante disso, o Brasil e os demais países fora do
demanda. De fato, quando comparados a produção e o
Transpacífico vão ter de encontrar um meio de manter
consumo, verifica-se que o bloco é um exportador
suas exportações crescentes. De outro modo, os preços
líquido, com 30% da produção global e 27% do consumo
de seus produtos tenderão a ser afetados negativamente
total de leite e derivados. Os países componentes
no longo prazo. Mas o que realmente representa o
respondem por 1/3 das importações mundiais. São
Transpacífico no âmbito econômico global? O que esse
responsáveis também pela maior parte da exportação de
acordo representa no mercado de leite e derivados?
lácteos do planeta, cuja participação evoluiu de 49% para
57% entre 2000 e 2015 (Figura 2).
1
Renda nacional bruta, em inglês, gross national income (GNI).
5
Tabela 1 – Indicadores para blocos econômicos e países selecionados, 2014
país ou bloco
Transpacífico
União Europeia
China
Brasil
GNI (US$ trilhões)
28,9
18,2
10,1
2,4
Mundo
população (milhões) renda per capita (USD )
810
35.718
508
35.718
1.364
7.400
206
11.530
78,3
7.261
10.787
Fonte: World Bank, adaptado pela Embrapa (2016).
60%
14%
50%
12%
40%
500%
450%
400%
10%
350%
8%
300%
30%
250%
20%
10%
6%
200%
4%
150%
100%
2%
0%
50%
0%
renda bruta
0%
população
renda per capita
Figura 1. Participação do Transpacífico na renda bruta e na população mundiais e proporção entre renda per capita do
bloco e do mundo, 1970-2014.
Fonte: FAOStat, adaptado pela Embrapa (2016).
É forte a participação do Transpacífico na produção
Transpacífico crie novos mercados para os países
mundial de lácteos como leite em pó, queijos e leite
membros, com eliminação de tarifas em países como
fluido. Em termos de comércio, os países do
Japão, Brunei, Vietnã, Malásia e Peru. Um potencial
Transpacífico são os principais atores globais. As
beneficiário desse acordo serão os Estados Unidos, que
importações de manteiga e queijos representam mais da
em 2014, exportaram cerca de US$7,1 bilhões em
metade das compras mundiais. No caso da exportação,
produtos lácteos. Desse total, US$3,6 bilhões foram para
todos os produtos são bastante representativos na
membros do Transpacífico, segundo o Departamento
participação mundial, com destaque para manteiga, leite
Americano de Agricultura - USDA. Vale ressaltar que em
em pó e queijos. Já no caso do consumo, os membros do
alguns mercados, como Chile, Austrália, Singapura e
bloco absorvem mais de 1/3 do total mundial. Portanto,
México, não haverá grandes mudanças em relação ao
em todas as bases de comparação no que se refere ao
comércio de lácteos com os Estados Unidos, pois já
setor lácteo, pode-se verificar uma forte presença dos
existem acordos em andamento (Tabela 2).
países que compõem o bloco. Assim, espera-se que o
6
No caso brasileiro, os acordos bilaterais celebrados
necessário um maior esforço de acesso a mercados e
se restringem basicamente ao Mercosul e a algumas
criação de acordos comerciais. Além disso, há a
iniciativas associadas ao Mercosul com Peru, México,
necessidade de aumento da competitividade em custos
Cuba, Índia e Israel. Considerando que grande parte do
e qualidade para que o Brasil acesse o mercado mundial.
comércio global se dá via acordos bilaterais, torna-se
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
produção
importação
2000
exportação
2010
consumo doméstico
2015
Figura 2 – Participação do Transpacífico na produção, importação, exportação e consumo doméstico mundiais de lácteos,
em equivalente leite, 2000-2015.
Fonte: USDA, adaptado pela Embrapa (2016).
Tabela 2 – Participação do Transpacífico no mercado mundial de lácteos, 2015, valores expressos em valores percentuais
produto
manteiga
queijo
leite em pó
leite fluido
produção
19,0
35,6
38,4
31,3
participação (%)
importação
exportação
54,3
67,5
57,6
46,1
16,5
63,7
11,1
27,6
consumo
14,9
35,9
18,6
22,8
Fonte: USDA, adaptado pela Embrapa (2016).
7
Gestão eficiente de propriedades leiteiras –
Relatório da Propriedade
Manuela Lana; Paulo Martins e Alziro Carneiro
Pesquisador e Analistas da Embrapa Gado de Leite
Diante deste problema e partindo de experiências
A busca pela lucratividade, e pelo crescimento
concretas, em 2011, a Embrapa, em parceria com a
sustentável de um negócio é comum a todas as pessoas
Cooperativa Central de Produtores Rurais – CCPR, criou
que se propõem a empreender, a se dedicarem a alguma
o projeto GepLeite (Gestão Eficiente de Propriedades
atividade econômica. O lucro pode ser entendido como
Leiteiras), com a finalidade de fornecer aos produtores
o retorno financeiro positivo realizado no período, fruto
uma
do esforço e dedicação, da alocação eficiente de recurso,
propriedade, assim que se termina o mês. Acreditando
das decisões tomadas corretamente. Ele traz segurança
neste projeto a Cooperativa Santa Clara também se
e motiva o empresário a fazer novos investimentos para
tornou parceira em 2014.
ferramenta
que
informe
o
resultado
da
aumentá-lo, e assim sucessivamente, gerando um
círculo virtuoso.
Um dos resultados mais importantes desta
parceria foi a construção do Relatório da Propriedade
Tornar
e
manter
a
empresa
sadia,
com
GEPLeite, que apresenta indicadores financeiros,
rentabilidade crescente, é o desejo de todo gestor. Com
econômicos e zootécnicos. Facilita, assim, a análise
o produtor de leite não é diferente. Proporcionar uma
integrada da propriedade leiteira e fornece subsídios
vida digna e confortável à família, condições de trabalho
para a tomada de decisão gerencial.
e salários competitivos aos empregados e boa
alimentação, estrutura adequada e os cuidados
Além do resultado do mês, o relatório apresenta o
necessários ao bem-estar dos animais é o propósito de
resultado agregado dos últimos doze meses e, ainda, o
cada um que se dedica e investe na atividade leiteira.
melhor resultado do grupo considerado (benchmark),
permitindo
A administração da atividade leiteira é uma das
uma
análise
completa
do
próprio
desempenho e dele diante o grupo.
mais complexas do agronegócio e o produtor deve ter
conhecimento, senão o domínio, de diversas variáveis
Neste texto, serão apresentados os indicadores
que interferem diretamente no resultado da atividade.
econômicos e financeiros que constam no Relatório da
Por outro lado, a dinâmica da economia requer que
Propriedade GEPLeite (Figura 1). Eles são amplamente
decisões corretas sejam tomadas rapidamente. O
utilizados no meio urbano e foram cuidadosamente
produtor não pode mais esperar um ano para saber
escolhidos de forma que além de representar muito bem
como anda o resultado de sua propriedade para depois
o resultado da propriedade, possam ser comparados
implementar alguma modificação, sob pena de
com resultados de outras atividades urbanas e rurais.
presenciar, ao longo do tempo, o empobrecimento e até
o fim de sua atividade.
8
Os indicadores financeiros são dispostos em ordem
crescente de apropriação de custos, partindo da receita
operacional líquida até o retorno sobre o investimento
e o EVA, valor econômico adicionado, que agrega o
Entendendo os indicadores financeiros
ROL: revela, em reais, o quanto a
propriedade vendeu no período, já
conceito mais complexo de geração de riqueza na
descontada a tributação incidente sobre as
propriedade.
vendas. Quanto maior, melhor é o indicador.
O Relatório da Propriedade – GEPLeite é uma
eficiente ferramenta de apoio à tomada de decisões,
pois proporciona ao produtor uma série de informações
importantes, de forma ágil. O produtor ganha
Giro do Ativo: razão entre a receita obtida no
período e o total de ativos.
Expressa o quão bem são utilizados os ativos
velocidade e conhecimento amplo dos resultados e
da propriedade, ou, em outras palavras, o
indicadores apresentados pela propriedade, no curto e
quão eficiente é a utilização dos
no médio prazo, já no último dia do mês corrente. É um
investimentos feitos na propriedade, na
retrato do desempenho da fazenda, apresentando os
geração de receita. Quanto maior for esta
resultados de forma detalhada e organizada, facilitando
relação, melhor.
o entendimento e a rápida intervenção.
Margem EBITDA (Earnings Before Interest,
Taxes, Depreciation and Amortization):
percentual da receita que sobra em caixa
após deduzir os custos e despesas de
produção. Não se considera depreciação e
juros de financiamento neste cálculo.
Quanto maior for esta relação, melhor.
ROI: razão entre o lucro/prejuízo obtido no
período e o total de ativos disponíveis na
empresa. Quanto maior, melhor.
EVA (Economic Value Added): valor acrescido
ou diminuído ao patrimônio da propriedade
depois que todos os fatores empregados na
produção foram remunerados.
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Figura 1. Indicadores financeiros do Relatório da Propriedade GEPLeite.
Fonte: Embrapa Gado de Leite.
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