[Digite aqui] Ano 8 nº 86 maio/2016 4 Embrapa Gado de Leite Rua Eugênio do Nascimento, 610 – Bairro Dom Bosco 36038-330 Juiz de Fora/MG Telefone: (32) 3311-7405 SAC: (32) 3311-7494 Fax: (32) 3311-7401 www.embrapa.br/fale-conosco/sac http//www.embrapa.br/gado-de-leite Coordenação geral Rosangela Zoccal e Vanessa da Fonseca Pereira Equipe técnica – Pesquisadores e Analistas da Embrapa Alziro Vasconcelos Carneiro, Médico Veterinário, D.Sc. Glauco Rodrigues Carvalho, Economista, Ph.D. João César de Resende, Engenheiro Agrônomo, D.Sc. José Luiz Bellini Leite, Engenheiro Civil, Ph.D. Kennya Beatriz Siqueira, Engenheira de Alimentos, D.Sc. Lorildo Aldo Stock, Engenheiro Agrônomo, Ph.D. Manuela Sampaio Lana, Administradora. Paulo do Carmo Martins, Economista, D.Sc. Rosangela Zoccal, Zootecnista, M.Sc. Samuel José de Magalhães Oliveira, Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Vanessa da Fonseca Pereira, Administradora, D.Sc. Ficha técnica Supervisão editorial: Rosangela Zoccal e Vanessa da Fonseca Pereira Revisão linguística: Emili Barcellos Martins Santos Normalização bibliográfica: Inês Maria Rodrigues Capa: Adriana Barros Guimarães Colaboração: Victor Muiños Barroso Lima Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610) CIP-Brasil. Catalogação-na-publicação. Embrapa Gado de Leite ________________________________________________________________ Panorama do Leite – Ano 6, n. 65 (abr/2012) - . – Juiz de Fora : Embrapa Gado de Leite, 2012 - . Boletim eletrônico mensal. Coordenação: Rosangela Zoccal e Vanessa da Fonseca Pereira. 1. Leite e Derivados. 2. Conjuntura. 3. Custo de produção. I. Zoccal, R. CDD 338.1 ______________________________________________________________________________________ © Embrapa 2016 2 Sumário 1. Conjuntura do setor lácteo ................................................................................................................ 4 2. Transpacífico: a consolidação do maior acordo global para o mercado de lácteos .......................... 5 3. Gestão eficiente de propriedades leiteiras – Relatório da propriedade ......................................... 8 3 Nota 1: conjuntura do setor lácteo Na última reunião de conjuntura foram da atividade, seja via abate de vacas, aluguel/venda de propriedade, mudança de atividade, e/ou retorno da discutidos temas relacionados a mercado de insumos, genética para rebanhos menos especializados em leite preços de leite e setor externo. Em relação aos insumos, no intuito de aproveitar o bom momento do mercado de verifica-se ainda uma pressão de alta nos custos de bezerros. A alta nos preços do leite ao produtor tende a produção, impulsionada por alimento concentrado. A continuar nos próximos meses, sustentada pela elevação safrinha brasileira de milho ficou em evidência devido à das cotações do UHT no mercado atacadista. Isso deverá escassez de chuva em abril em quase todas as áreas melhorar um pouco as margens do produtor. Em 2016, produtoras. Apesar das chuvas do início de maio, a o leite UHT já subiu 32% no atacado. Enquanto essa alta situação ainda é complicada em algumas regiões. O persistir, pode-se esperar repasses ao produtor. A dúvida preço do milho segue pressionando os pecuaristas, que fica refere-se à sustentação desses preços mais altos sendo necessários 40 litros de leite para comprar uma no tempo, em função da forte crise econômica que o país saca de 60 kg em abril/2016 (eram 28 litros em abril de atravessa e da deterioração do mercado de trabalho. 2015). No caso da soja, os últimos números do USDA Finalmente, em relação à balança comercial, o mês de sinalizaram uma queda de 0,5% na intenção de plantio abril registrou um déficit de 49 milhões de dólares, sendo nos EUA, queda da produção e recuo nos estoques finais. 38 milhões somente no leite em pó. O mais preocupante Isso acabou levando a uma pequena alta nos preços do é que, mesmo com preços domésticos acima do patamar farelo no início de maio. mundial, Os preços do leite ao produtor subiram em abril, muitos enfrentando produtores dificuldades locais financeiras. continuam Essa baixa seguindo o padrão sazonal da época. A alta foi de 5,7%, competitividade doméstica tem deixado as exportações em relação a março e de 23,6% em elação ao patamar de cada vez mais distantes e aumentado a exclusão de abril/2015. Apesar dessa elevação, a relação de troca produtores. ainda continua apertada para o padrão histórico. A fundiária, à ineficiência no processo produtivo e ao custo Figura 1 ilustra o preço do leite nos meses de abril em Brasil (infraestrutura, custos trabalhistas, produtividade Minas Gerais, deflacionado pelo ICPLeite/Embrapa. da mão-de-obra) têm prejudicado a competitividade Pode-se observar uma recuperação em relação ao ano brasileira no setor. As sinalizações de recuperação dos passado, mas ainda abaixo dos valores observados para preços internacionais estão mais distantes, a menos que aquele mês nos últimos 10 anos. Essa deterioração na eventos climáticos afetem a produção global este ano. Problemas relacionados à estrutura renda do produtor tem induzido à saída de produtores Figura 1. Preço do leite ao produtor em MG, expressos em Reais/litro, em abril de cada ano. Valores deflacionados pelo ICPLeite/Embrapa. Fonte: Cepea; Embrapa. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- -------------------------1 Essa nota é resultado da reunião mensal de conjuntura da equipe de socioeconomia da Embrapa Gado de Leite, 17/05/2016. Glauco Carvalho, Anderson Christ, João César de Resende, José Luiz Bellini, Lorildo Stock, Rosangela Zoccal, Samuel Oliveira e Vanessa Pereira. Pesquisadores e Analistas da Embrapa 4 Transpacífico: a consolidação do maior acordo global para o mercado de lácteos Glauco R. Carvalho e Samuel J. de M. Oliveira – Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite Juliana M. M. da Silva – Estudante de economia da UFJF Juntos, os países do Transpacífico possuem renda O Transpacífico é o primeiro grande acordo nacional de US$ 28,9 trilhões, população de 810 milhões comercial concluído nos últimos 20 anos, desde o fim da de habitantes e renda per capita bruta1 de US$ 35.718. rodada Uruguai da Organização Mundial do Comércio. Possuem a mesma renda per capita da União Europeia, Esse acordo foi firmado em outubro de 2015 entre doze porém com renda nacional e população superiores. Os países banhados pelo Oceano Pacífico. Os grandes valores da renda bruta e per capita, muito acima de produtores de alimentos desse acordo, notadamente países importantes como China e Brasil, ilustram a Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Canadá terão importância deste bloco econômico (Tabela 1). vantagens sobre concorrentes brasileiros em mercados extremamente fechados, como o Japão, e em emergentes com demanda crescente por alimentos, como Vietnã e Malásia, todos parte do acordo. Isto sem citar os Estados Unidos, maior mercado consumidor do planeta. Os países que compõem este bloco econômico recém-criado respondiam por cerca da metade do valor da renda bruta mundial nas últimas décadas do século XX. Este valor se reduziu para menos de 40% no século atual. É, no entanto, ainda muito expressivo e mostra a Enquanto os países que compõem o novo bloco força econômica desta área. A participação da dão exemplo de assertividade em questões comerciais, é população destes países no total mundial reduziu notória a paralisia do Brasil. Há 12 anos, o país esteve na progressivamente de cerca de 13% em 1970 para cerca liderança com de 11% em 2014. A renda per capita agregada dos países protagonismo na Rodada Doha, discussão da Alca e do bloco sempre esteve significativamente acima da acordo com a União Europeia. Mas nenhumas das média do mundo, atingindo mais de 400% em 2000. Em iniciativas foi concretizada e atualmente existem vários 2010 este valor esteve por volta de 340% e em 2014, acordos bilaterais celebrados ao redor do globo sem a 330%, mostrando que, neste último ano, a renda per participação brasileira. Cerca de 40% do comércio capita destes países foi, em média, 4,3 vezes maior que mundial atual se dá com bases estabelecidas em acordos a média mundial (Figura 1). de negociações internacionais, bilaterais. É grave e impactante a ausência do Brasil nestas negociações. No mercado lácteo, a participação do bloco é significativa em qualquer comparação, seja de oferta ou Diante disso, o Brasil e os demais países fora do demanda. De fato, quando comparados a produção e o Transpacífico vão ter de encontrar um meio de manter consumo, verifica-se que o bloco é um exportador suas exportações crescentes. De outro modo, os preços líquido, com 30% da produção global e 27% do consumo de seus produtos tenderão a ser afetados negativamente total de leite e derivados. Os países componentes no longo prazo. Mas o que realmente representa o respondem por 1/3 das importações mundiais. São Transpacífico no âmbito econômico global? O que esse responsáveis também pela maior parte da exportação de acordo representa no mercado de leite e derivados? lácteos do planeta, cuja participação evoluiu de 49% para 57% entre 2000 e 2015 (Figura 2). 1 Renda nacional bruta, em inglês, gross national income (GNI). 5 Tabela 1 – Indicadores para blocos econômicos e países selecionados, 2014 país ou bloco Transpacífico União Europeia China Brasil GNI (US$ trilhões) 28,9 18,2 10,1 2,4 Mundo população (milhões) renda per capita (USD ) 810 35.718 508 35.718 1.364 7.400 206 11.530 78,3 7.261 10.787 Fonte: World Bank, adaptado pela Embrapa (2016). 60% 14% 50% 12% 40% 500% 450% 400% 10% 350% 8% 300% 30% 250% 20% 10% 6% 200% 4% 150% 100% 2% 0% 50% 0% renda bruta 0% população renda per capita Figura 1. Participação do Transpacífico na renda bruta e na população mundiais e proporção entre renda per capita do bloco e do mundo, 1970-2014. Fonte: FAOStat, adaptado pela Embrapa (2016). É forte a participação do Transpacífico na produção Transpacífico crie novos mercados para os países mundial de lácteos como leite em pó, queijos e leite membros, com eliminação de tarifas em países como fluido. Em termos de comércio, os países do Japão, Brunei, Vietnã, Malásia e Peru. Um potencial Transpacífico são os principais atores globais. As beneficiário desse acordo serão os Estados Unidos, que importações de manteiga e queijos representam mais da em 2014, exportaram cerca de US$7,1 bilhões em metade das compras mundiais. No caso da exportação, produtos lácteos. Desse total, US$3,6 bilhões foram para todos os produtos são bastante representativos na membros do Transpacífico, segundo o Departamento participação mundial, com destaque para manteiga, leite Americano de Agricultura - USDA. Vale ressaltar que em em pó e queijos. Já no caso do consumo, os membros do alguns mercados, como Chile, Austrália, Singapura e bloco absorvem mais de 1/3 do total mundial. Portanto, México, não haverá grandes mudanças em relação ao em todas as bases de comparação no que se refere ao comércio de lácteos com os Estados Unidos, pois já setor lácteo, pode-se verificar uma forte presença dos existem acordos em andamento (Tabela 2). países que compõem o bloco. Assim, espera-se que o 6 No caso brasileiro, os acordos bilaterais celebrados necessário um maior esforço de acesso a mercados e se restringem basicamente ao Mercosul e a algumas criação de acordos comerciais. Além disso, há a iniciativas associadas ao Mercosul com Peru, México, necessidade de aumento da competitividade em custos Cuba, Índia e Israel. Considerando que grande parte do e qualidade para que o Brasil acesse o mercado mundial. comércio global se dá via acordos bilaterais, torna-se 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% produção importação 2000 exportação 2010 consumo doméstico 2015 Figura 2 – Participação do Transpacífico na produção, importação, exportação e consumo doméstico mundiais de lácteos, em equivalente leite, 2000-2015. Fonte: USDA, adaptado pela Embrapa (2016). Tabela 2 – Participação do Transpacífico no mercado mundial de lácteos, 2015, valores expressos em valores percentuais produto manteiga queijo leite em pó leite fluido produção 19,0 35,6 38,4 31,3 participação (%) importação exportação 54,3 67,5 57,6 46,1 16,5 63,7 11,1 27,6 consumo 14,9 35,9 18,6 22,8 Fonte: USDA, adaptado pela Embrapa (2016). 7 Gestão eficiente de propriedades leiteiras – Relatório da Propriedade Manuela Lana; Paulo Martins e Alziro Carneiro Pesquisador e Analistas da Embrapa Gado de Leite Diante deste problema e partindo de experiências A busca pela lucratividade, e pelo crescimento concretas, em 2011, a Embrapa, em parceria com a sustentável de um negócio é comum a todas as pessoas Cooperativa Central de Produtores Rurais – CCPR, criou que se propõem a empreender, a se dedicarem a alguma o projeto GepLeite (Gestão Eficiente de Propriedades atividade econômica. O lucro pode ser entendido como Leiteiras), com a finalidade de fornecer aos produtores o retorno financeiro positivo realizado no período, fruto uma do esforço e dedicação, da alocação eficiente de recurso, propriedade, assim que se termina o mês. Acreditando das decisões tomadas corretamente. Ele traz segurança neste projeto a Cooperativa Santa Clara também se e motiva o empresário a fazer novos investimentos para tornou parceira em 2014. ferramenta que informe o resultado da aumentá-lo, e assim sucessivamente, gerando um círculo virtuoso. Um dos resultados mais importantes desta parceria foi a construção do Relatório da Propriedade Tornar e manter a empresa sadia, com GEPLeite, que apresenta indicadores financeiros, rentabilidade crescente, é o desejo de todo gestor. Com econômicos e zootécnicos. Facilita, assim, a análise o produtor de leite não é diferente. Proporcionar uma integrada da propriedade leiteira e fornece subsídios vida digna e confortável à família, condições de trabalho para a tomada de decisão gerencial. e salários competitivos aos empregados e boa alimentação, estrutura adequada e os cuidados Além do resultado do mês, o relatório apresenta o necessários ao bem-estar dos animais é o propósito de resultado agregado dos últimos doze meses e, ainda, o cada um que se dedica e investe na atividade leiteira. melhor resultado do grupo considerado (benchmark), permitindo A administração da atividade leiteira é uma das uma análise completa do próprio desempenho e dele diante o grupo. mais complexas do agronegócio e o produtor deve ter conhecimento, senão o domínio, de diversas variáveis Neste texto, serão apresentados os indicadores que interferem diretamente no resultado da atividade. econômicos e financeiros que constam no Relatório da Por outro lado, a dinâmica da economia requer que Propriedade GEPLeite (Figura 1). Eles são amplamente decisões corretas sejam tomadas rapidamente. O utilizados no meio urbano e foram cuidadosamente produtor não pode mais esperar um ano para saber escolhidos de forma que além de representar muito bem como anda o resultado de sua propriedade para depois o resultado da propriedade, possam ser comparados implementar alguma modificação, sob pena de com resultados de outras atividades urbanas e rurais. presenciar, ao longo do tempo, o empobrecimento e até o fim de sua atividade. 8 Os indicadores financeiros são dispostos em ordem crescente de apropriação de custos, partindo da receita operacional líquida até o retorno sobre o investimento e o EVA, valor econômico adicionado, que agrega o Entendendo os indicadores financeiros ROL: revela, em reais, o quanto a propriedade vendeu no período, já conceito mais complexo de geração de riqueza na descontada a tributação incidente sobre as propriedade. vendas. Quanto maior, melhor é o indicador. O Relatório da Propriedade – GEPLeite é uma eficiente ferramenta de apoio à tomada de decisões, pois proporciona ao produtor uma série de informações importantes, de forma ágil. O produtor ganha Giro do Ativo: razão entre a receita obtida no período e o total de ativos. Expressa o quão bem são utilizados os ativos velocidade e conhecimento amplo dos resultados e da propriedade, ou, em outras palavras, o indicadores apresentados pela propriedade, no curto e quão eficiente é a utilização dos no médio prazo, já no último dia do mês corrente. É um investimentos feitos na propriedade, na retrato do desempenho da fazenda, apresentando os geração de receita. Quanto maior for esta resultados de forma detalhada e organizada, facilitando relação, melhor. o entendimento e a rápida intervenção. Margem EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization): percentual da receita que sobra em caixa após deduzir os custos e despesas de produção. Não se considera depreciação e juros de financiamento neste cálculo. Quanto maior for esta relação, melhor. ROI: razão entre o lucro/prejuízo obtido no período e o total de ativos disponíveis na empresa. Quanto maior, melhor. EVA (Economic Value Added): valor acrescido ou diminuído ao patrimônio da propriedade depois que todos os fatores empregados na produção foram remunerados. 9 Figura 1. Indicadores financeiros do Relatório da Propriedade GEPLeite. Fonte: Embrapa Gado de Leite. 10