tão perto e tão longe

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TÃO PERTO E TÃO LONGE
A descoberta de um planeta muito parecido com a Terra e, em termos cósmicos, vizinho ao
sistema solar anima a ideia de que um dia habitaremos outros mundos JENNIFER ANN THOMAS
QUÃO DISTANTE a humanidade está de sair pelo universo colonizando
outros planetas? Uma descoberta divulgada na semana passada pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) indica que a resposta pode chegar em breve. Na quarta-feira 24, os astrofísicos
anunciaram a detecção de um planeta
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muito parecido com a Terra. Isso não
é novidade. Desde os anos 90, quando
começaram a ser rastreados os chamados exoplanetas — aqueles situados fora do sistema solar — com o uso
de ferramentas como o telescópio
Hubble, já foram encontrados 3 300
corpos celestes desse tipo, e estima-se
que existam 14 bilhões deles na Via
Láctea. Há, contudo, duas grandes (e
empolgantes) diferenças em relação
ao Proxima b, o novato da lista. Em
um ranking que elenca quais desses
planetas contam com mais características terrestres — composição atmosférica análoga, temperatura amena
©© ILUSTRAÇÃO COM FOTO DA NASA
etc. —, ele está no topo. É quase igual
à nossa casa no cosmo. Entretanto, foi
um segundo elemento que mais embasbacou os cientistas. Em termos astronômicos, Proxima b fica “logo ali
ao lado”, como um vizinho que observamos pela janela. A 4,2 anos-luz da
Terra, situa-se na órbita de Proxima
Centauri, a estrela que fica mais perto
do sistema solar.
Isso não significa, é claro, que necessariamente existam seres vivos lá.
Vale lembrar que não só a Terra mas
também Vênus e Marte estão na chamada Zona Habitável — termo que define a área na qual existe possibilidade
de vida — de seu sistema estelar. “Não
sabemos ao certo todos os padrões da
natureza cósmica. Por exemplo, como
se dá o nascimento desses planetas ou
o surgimento da vida?”, pondera o astrofísico brasileiro Claudio Melo, chefe
do departamento de ciência do ESO.
“Por isso, buscamos os planetas que se
assemelham à nossa realidade, para
assim aumentar a chance de eles serem habitáveis”, explicou.
Mas é preciso ter paciência quando se trata de ciência. Quando os pesquisadores constataram que Proxima
b está, com o perdão da redundância,
“próximo”, isso quer dizer que demo-
raríamos 70 000 anos para chegar a
ele. Há, contudo, pesquisas que poderão diminuir, em muito, o tempo da
viagem. É o caso da bancada pelos
bilionários Yuri Milner, investidor
russo, e Mark Zuckerberg, o americano dono do Facebook, com aval teórico do físico inglês Stephen Haw­king. Com uma sonda do tamanho de
um smartphone propulsionada por
lasers, o trajeto levaria duas décadas
para alcançar Proxima b. Problema: a
tecnologia para isso não existe (estima-se que será desenvolvida em no
mínimo 25 anos). Proxima b já está
perto, mas ainda está longe. ƒ
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