TÃO PERTO E TÃO LONGE A descoberta de um planeta muito parecido com a Terra e, em termos cósmicos, vizinho ao sistema solar anima a ideia de que um dia habitaremos outros mundos JENNIFER ANN THOMAS QUÃO DISTANTE a humanidade está de sair pelo universo colonizando outros planetas? Uma descoberta divulgada na semana passada pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) indica que a resposta pode chegar em breve. Na quarta-feira 24, os astrofísicos anunciaram a detecção de um planeta 66 31 DE AGOSTO, 2016 muito parecido com a Terra. Isso não é novidade. Desde os anos 90, quando começaram a ser rastreados os chamados exoplanetas — aqueles situados fora do sistema solar — com o uso de ferramentas como o telescópio Hubble, já foram encontrados 3 300 corpos celestes desse tipo, e estima-se que existam 14 bilhões deles na Via Láctea. Há, contudo, duas grandes (e empolgantes) diferenças em relação ao Proxima b, o novato da lista. Em um ranking que elenca quais desses planetas contam com mais características terrestres — composição atmosférica análoga, temperatura amena ©© ILUSTRAÇÃO COM FOTO DA NASA etc. —, ele está no topo. É quase igual à nossa casa no cosmo. Entretanto, foi um segundo elemento que mais embasbacou os cientistas. Em termos astronômicos, Proxima b fica “logo ali ao lado”, como um vizinho que observamos pela janela. A 4,2 anos-luz da Terra, situa-se na órbita de Proxima Centauri, a estrela que fica mais perto do sistema solar. Isso não significa, é claro, que necessariamente existam seres vivos lá. Vale lembrar que não só a Terra mas também Vênus e Marte estão na chamada Zona Habitável — termo que define a área na qual existe possibilidade de vida — de seu sistema estelar. “Não sabemos ao certo todos os padrões da natureza cósmica. Por exemplo, como se dá o nascimento desses planetas ou o surgimento da vida?”, pondera o astrofísico brasileiro Claudio Melo, chefe do departamento de ciência do ESO. “Por isso, buscamos os planetas que se assemelham à nossa realidade, para assim aumentar a chance de eles serem habitáveis”, explicou. Mas é preciso ter paciência quando se trata de ciência. Quando os pesquisadores constataram que Proxima b está, com o perdão da redundância, “próximo”, isso quer dizer que demo- raríamos 70 000 anos para chegar a ele. Há, contudo, pesquisas que poderão diminuir, em muito, o tempo da viagem. É o caso da bancada pelos bilionários Yuri Milner, investidor russo, e Mark Zuckerberg, o americano dono do Facebook, com aval teórico do físico inglês Stephen Haw­king. Com uma sonda do tamanho de um smartphone propulsionada por lasers, o trajeto levaria duas décadas para alcançar Proxima b. Problema: a tecnologia para isso não existe (estima-se que será desenvolvida em no mínimo 25 anos). Proxima b já está perto, mas ainda está longe. ƒ 31 DE AGOSTO, 2016 67