UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR E RELAÇÃO FILOGENÉTICA DO GENOMA COMPLETO DOS ARBOVÍRUS BUSSUQUARA, IGUAPE, ILHÉUS E ROCIO (FAMÍLIA FLAVIVIRIDAE, GÊNERO FLAVIVIRUS) DANIELE BARBOSA DE ALMEIDA MEDEIROS Belém-Pará 2009 DANIELE BARBOSA DE ALMEIDA MEDEIROS CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR E RELAÇÃO FILOGENÉTICA DO GENOMA COMPLETO DOS ARBOVÍRUS BUSSUQUARA, IGUAPE, ILHÉUS E ROCIO (FAMÍLIA FLAVIVIRIDAE, GÊNERO FLAVIVIRUS) Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, do Instituto de Universidade Ciências Federal Biológicas do Pará da como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Pedro Fernando da Costa Vasconcelos Co-Orientador: Prof. Dr. Márcio Roberto Teixeira Nunes BELÉM-PA 2009 1 CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR E RELAÇÃO FILOGENÉTICA DO GENOMA COMPLETO DOS ARBOVÍRUS BUSSUQUARA, IGUAPE, ILHÉUS E ROCIO (FAMÍLIA FLAVIVIRIDAE, GÊNERO FLAVIVIRUS) Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Pedro Fernando da Costa Vasconcelos Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas, IEC Co-Orientador: Prof. Dr. Márcio Roberto Teixeira Nunes Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas, IEC Banca Examinadora: Profª. Dra. Rita Catarina Medeiros Sousa Núcleo de Medicina Tropical, UFPA Prof. Dr. Eduardo José de Melo Santos Instituto de Ciências Biológicas, UFPA Profª. Dra. Ana Cecília Ribeiro Cruz Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas, IEC Profª. Dra. Elizabeth Salbé Travassos da Rosa Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas, IEC Suplente: Prof. Dr. Paolo Marinho de Andrade Zanotto Instituto de Ciências Biomédicas, USP Prof. Dr. Ricardo Ishak Instituto de Ciências Biológicas, UFPA Belém, 27 de Novembro de 2009 2 EPIGRAFE "A ciência humana de maneira nenhuma nega a existência de Deus. Quando considero quantas e quão maravilhosas coisas o homem compreende, pesquisa e consegue realizar, então reconheço claramente que o espírito humano é obra de Deus, e a mais notável." Galileu Galilei 3 DEDICATÓRIA Dedico essa tese de doutorado a minha amada filha, Julia, que veio iluminar à minha vida; aos meus pais, George e Vanda, pelas incansáveis horas de dedicação; á minha irmã Cláudia, pela amizade e carinho; e ao meu companheiro Marcio Levy, por me ensinar o significado da palavra felicidade. 4 AGRADECIMENTO Agradeço a Deus pelos momentos de felicidade, que iluminam e me dão força para seguir a minha caminhada, e pelos momentos de dificuldade que me moldam a cada instante para ser um ser humano mais digno a exemplo do Cristo. Agradeço pela graça da minha filha, tão amada, que cresce forte em meu ventre e que me realiza nas menores descobertas. Agradeço a minha família, o alicerce de minha vida: meus pais, George Medeiros e Vanda Medeiros, pelo eterno cuidado, dedicação e amor; pelo apoio nos momentos difíceis e de inquietantes decisões; por estarem ao meu lado a cada passo, a cada pequena conquista e grandes realizações, pois estes não teriam valor se vocês não estivessem comigo. Agradeço a minha irmã, pela mulher que hoje desabrocha, pelos momentos de orgulho e pelo companheirismo e amizade. Agradeço aos meus tios e primos pelos abraços calorosos de saudade e pelo apoio. Agradeço ao meu amor, Marcio Levy, pelo companheirismo em todos os momentos, pelos sorrisos, pelo cuidado carinhoso e por mostrar que sonhos podem ser reais. Obrigada pela família maravilhosa que tu me proporcionaste, o nosso amodo filho(a) e a família Levy, que me recebeu de braços abertos repletos de carinho. Agradeço em especial aos meus sogros, Salim e Clarice Levy, e a minha cunhada, Claudia Levy, pelo apoio e amizade. Ao Instituto Evandro Chagas, por me acolher e permitir, desde minha iniciação científica, o desenvolvimento de meu trabalho. Agradeço ao Dr. Pedro Vasconcelos por ser mais do que meu chefe e orientador, por acreditar na minha capacidade e no meu crescimento profissional e pessoal, pelo apoio em todos os momentos e, principalmente, pela amizade. Agradeço ao meu Co-orientador Márcio Nunes pelos conhecimentos repassados e por me ensinar a fazer ciência, tendo sempre respeito ao próximo e promovendo a união do grupo. 5 Agradeço a Dra. Elizabeth Salbé, por ser minha parceira de trabalho, minha amiga, pelo carinho maternal, por ser um grande exemplo de mulher, de mãe e de profissional a ser seguido. Agradeço a minha terceira família, a Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas (IEC), pela luta diária, pelos momentos de descontração e pela parceria a fim de servir à saúde pública e produzir novos conhecimentos. Em especial às equipes: do laboratório de Raiva e Hantavírus - Armando Pereira, Lívia Casseb, Taciana Barbosa, Darlene Simith, Ivy Prazeres, pelo o apoio, compreensão e amizade; do laboratório da biologia molecular - Adriana Carneiro, Ana Cecília, Helena Baldez, Mayra Silva e Samir Casseb pelo auxílio nas etapas de sequenciamento e analise filogenética; do laboratório de cultivo celular, em especial a Eliana Pinto, pelo apoio na infecção dos cultivos celulares utilizados neste trabalho; aos amigos da registro de amostras, Osvaldo Vaz e Jefferson Buna, pelo companheirismo. Agradeço a Dra Amélia Travassos da Rosa pelo apoio na interpretação dos dados sorológicos. Agradeço ao Dr. Goro Kuno pela parceria neste trabalho. Agradeço aos membros do campus Bragança da UFPA, em especial ao Dr. Marcelo Vallinoto, pelos ensinamentos na área de filogenia. Agradeço aos meus eternos amigos, Aline Lira, Fabíola Brasil, Flávia Biondi, Eduardo Santos, Jannifer Chiang, Leda Guimarães e Perpétua Costa, por estarem sempre ao meu lado, mesmo quando separados pela distância e pela correria da vida diária. Agradeço aos meus professores da graduação e pós-graduação, a Universidade Federal do Pará, à secretaria da pós-graduação, a todos que contribuíram para o meu crescimento profissional e pessoal, muitíssimo obrigada. 6 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS................................................................................... 10 LISTAS DE QUADROS E TABELAS......................................................... 14 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS................................ 16 RESUMO.................................................................................................... 23 ABSTRACT................................................................................................ 24 1. INTRODUÇÃO........................................................................................ 25 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS: FAMÍLIA FLAVIVIRIDAE, GÊNERO FLAVIVIRUS........................................................................................ 25 1.2. CICLO BIOLÓGICO............................................................................ 28 1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS FLAVIVÍRUS................................................. 31 1.4. ESTRUTURA DOS FLAVIVÍRUS........................................................ 35 1.5. REPLICAÇÃO DOS FLAVIVÍRUS....................................................... 37 1.6. GENOMA DOS FLAVIVÍRUS.............................................................. 43 1.6.1. Região não-codificante 5’............................................................ 45 1.6.2. Região não-codificante 3’............................................................ 46 1.6.3. Ciclização do RNA viral............................................................... 52 1.7. ESTRUTURAS DAS PROTEÍNAS...................................................... 57 1.7.1. Proteína do Capsídio (C)............................................................. 57 1.7.2. Glicoproteína de membrana (M)................................................. 58 1.7.3. Proteína do Envelope (E)............................................................. 59 1.7.4. Proteína não-estrutural NS1........................................................ 62 1.7.5. Proteína não-estrutural NS2A..................................................... 63 7 1.7.6. Proteína não-estrutural NS2B..................................................... 64 1.7.7. Proteína não-estrutural NS3....................................................... 65 1.7.8. Proteína não-estrutural NS4A..................................................... 66 1.7.9. Proteína não-estrutural NS4B.................................................... 66 1.7.10. Proteína não-estrutural NS5........................................................ 67 1.8. FILOGENIA E EVOLUÇÃO DOS FLAVIVÍRUS................................... 68 1.8.1. Evolução e Dispersão dos Flavivírus............................................ 75 1.9. RECOMBINAÇÃO ENTRE FLAVIVIRUS............................................. 1.10. FLAVIVÍRUS BRASILEIROS EM ESTUDO....................................... 79 1.10.1. Vírus Bussuquara.......................................................................... 79 1.10.2. Vírus Iguape................................................................................... 80 1.10.3. Vírus Ilhéus.................................................................................... 80 1.10.4. Vírus Rocio..................................................................................... 82 1.11. RELEVÂNCIA..................................................................................... 84 1.12. OBJETIVOS....................................................................................... 86 1.12.1. Objetivo Geral............................................................................... 86 1.12.2. Objetivos Específicos................................................................... 86 2. MATERIAL E MÉTODOS...................................................................... 88 2.1 AMOSTRAS………………………………………………………………… 88 2.2. PROPAGAÇÃO VIRAL EM CÉLULAS VERO………………………….. 89 2.3. EXTRAÇÃO DO RNA……………………………………………………... 89 2.4. TRANSCRIÇÃO REVERSA SEGUIDA DA REAÇÃO EM CADEIA MEDIADA PELA POLIMERASE (RT-PCR)………………...........………….. 90 2.5. SEQUENCIAMENTO NUCLEOTÍDICO………………………………… 95 8 2.6. ALINHAMENTO DAS SEQUÊNCIAS NUCLEOTÍDICAS…………...... 96 2.7. IDENTIFICAÇÃO DOS MOTIVOS CONSERVADOS, SÍTIOS DE CLIVAGEM, SÍTIOS DE GLICOSILAÇÃO E RESÍDUOS DE CISTEÍNA NA POLIPROTEÍNA.................................................................................... 98 2.8. ESTRUTURA SECUNDÁRIA DAS 5’RNC/ 3’RNC E CICLIZAÇÃO DO RNA VIRAL........................................................................................... 2.9. DETERMINAÇÃO E ANÁLISE DE 99 SIMILARIDADE (BOOTSCANING) DA REGIÃO CODIFICANTE......................................... 100 2.11. ANÁLISE FILOGENÉTICA COMPARATIVA..................................... 101 3. RESULTADOS........................................................................................ 102 3.1. ANÁLISE DO GENOMA VIRAL............................................................ 102 3.2. REGIÕES NÃO CODIFICADORAS..................................................... 104 3.2.1. Sequências Conservadas............................................................... 104 3.2.2. Estruturas Secundárias das 5’ RNC e 3’RNC e Ciclização do RNA viral.................................................................................................... 107 3.3. ANÁLISE DA POLIPROTEÍNA............................................................. 111 3.3.1. Identificação dos sítios de clivagem, sítios de glicosilação e resíduos de cisteína.................................................................................. 111 3.3.2. Identificação de motivos conservados nas proteínas E, NS3 e NS5.............................................................................................................. 114 3.4. ANÁLISE DE SIMILARIDADE.............................................................. 117 3.5. FILOGENIA.......................................................................................... 123 3.5.1. Região codificadora ....................................................................... 125 3.5.2. Região estrutural............................................................................. 127 9 3.5.3. Região não estrutural.................................................................... 130 3.5.4. Filogenia concatenada E-NS5........................................................ 133 4. DISCUSSÃO........................................................................................... 135 5. CONCLUSÕES....................................................................................... 162 6. REFERÊNCIAS BICLIOGRÁFICAS....................................................... 165 ANEXO I...................................................................................................... 201 ANEXO II..................................................................................................... 202 ANEXO III.................................................................................................... 203 ANEXO IV.................................................................................................... 204 ANEXO V..................................................................................................... 205 ANEXO VI.................................................................................................... 205 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - (A) Crioeletromicroscopia do VDEN, (B) Mapa eletrondenso dos flavivírus.................................................. Figura 2 - 35 Formas das partículas virais dos flavivírus (A) partícula viral imatura; (B) partícula viral madura; (C) esquema das formas madura e imatura..................................................... Figura 3 - (A) Apresentação esquemática do genoma 36 e processamento das poliproteínas dos integrantes do gênero Flavivirus. (B) Topologia e interação dos flavivírus ao nível da membrana do retículo endoplasmático.............. 40 Figura 4 - Esquema da replicação viral dos flavivírus.......................... 42 Figura 5 - Estrutura secundária da 5’RNC do VNO.............................. 46 Figura 6 – Estrutura secundária preditiva da 3’SL na 3’RNC dos flavivírus VDEN-2 e VNO..................................................... Figura 7 – 48 Sequências nucleotídicas de alguns motivos conservados na região 3’RNC do genoma de flavivírus transmitidos por mosquitos............................................................................. Figura 8 – 49 Características das 5’- e 3’RNC de flavivírus transmitidos por mosquitos, destacando as sequências envolvidas na ciclização do RNA - CS, CYC, CS1, CS2, RCS2, C3, RCS3 (caixas) – e as repetições em série presentes no genoma do VFA................................................................... Figura 9 – Sequências nucleotídicas dos terminais 5’- e 3’- de alguns 51 11 flavivírus transmitido por mosquitos, mostrando alinhamento entre o genoma de RNA sentido positivo e o RNA complementar sentido negativo................................. 52 Figura 10 – Estrutura de ciclização do RNA dos flavivírus..................... 54 Figura 11 - Representação da árvore filogenética dos flavivírus, subdivididas nos quatro principais grupos........................... Figura 12 – Mapa mundial ilustrando a localização aproximada e dispersão dos flavivírus........................................................ Figura 13 - 69 76 Esquema da estratégia de amplificação do genoma (RTPCR) e seqüenciamento nucleotídico.................................. 90 Figura 14 - Esquema dos protocolos 5’RACE (A) e 3’RACE................. 93 Figura 15 - Representação esquemática das 3’RNC dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC em comparação a outros flavivírus transmitidos por mosquitos dos grupos: Encefalite japonesa, Kokobera, Kedougou, Spondweni e Dengue....... 105 Figura 16 - Alinhamento entre as sequências nucleotídicas conservadas da 3’RNC dos flavivírus transmitidos por mosquitos do gênero Culex, seguindo a disposição 5’→3, comparando com os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC................................................................................... Figura 17 - Estrutura secundária das 5’RNC e 3’RNC dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC na ciclização do RNA viral.... Figura 18 - 106 108 Sequências complementares entre as 5’RNC e 3’RNC (5’CS-3’CS) dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC..... 109 12 Figura 19 - Alinhamento correspondente entre as sequências a 5’CYC (5’RNC) nucleotídicas dos flavivírus transmitidos por mosquitos do gênero Culex comparando com as sequências correspondentes dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC....................................................................... Figura 20 - Análise de similaridade (Bootscan) realizada 110 pelo programa SimPlot, utilizando as sequências dos VBSQ (A) e VILH (B) como referência.................................................. Figura 21 - 119 Análise de similaridade (Bootscan), utilizando o VROC como referência. Notar a maior similaridade com o VBAG e VESL para todo a ORF..................................................... Figura 22 - 120 Árvore filogenética pelos métodos MV das sequências da ORF dos flavivírus. Os valores bayesianos foram plotados dentro de parêntese............................................................. Figura 23 - 126 Árvore filogenética pelo método MV, com valores bayesianos inseridos em parênteses, das sequências da região estrutural dos 32 flavivírus........................................ Figura 24 - 128 Árvore filogenética gerada pelo método de MV e Bayesiano (valores bayesianos dentro de parênteses) realizada com as sequências nucleotídicas do gene E de 32 flavivírus.......................................................................... Figura 25 - 129 Árvore filogenética pelos métodos MV e Bayesiano (valores inseridos dentro dos parênteses) das sequências da região não estrutural dos 32 flavivírus............................ 131 13 Figura 26 - Árvore filogenética pelos métodos MV das sequências do gene NS3 (A) e NS5 (B) dos flavivírus................................. Figura 27 - Árvore filogenética pelo Método MV concatenada das sequências parciais dos genes E e NS5 de 38 flavivírus..... Figura 28 - 132 134 Número de mutações no peptídeo de fusão dos flavivírus encontrado por Seligman (2008).......................................... 146 14 LISTAS DE QUADROS E TABELAS Quadro 1 - Espécies virais e cepas registradas no CITV................................. Quadro 2 - Comparação dos tamanhos nucleotídicos das 5’ e 3’RNCs no genoma de alguns flavivírus........................................................... Quadro 3 - 33 44 Localização das posições das sequências de ciclização no genoma de flavivírus....................................................................... 56 Quadro 4 - Amostras virais utilizadas neste estudo.......................................... 88 Quadro 5 - Iniciadores utilizados para a técnica de RT-PCR e sequenciamento nucleotídico......................................................... Quadro 6 - Iniciadores específicos para os flavivírus brasileiros utilizados no protocolo 5’ RACE e 3’RACE......................................................... Quadro 7 - 94 Sequências do genoma completo dos 32 flavivírus utilizados para o alinhamento e filogenia neste estudo.................................. Quadro 8 - 91 97 Comparação do genoma dos quatro flavivírus brasileiros em estudo: tamanho do genoma, regiões codificadoras para proteínas estruturais e não-estruturais, RNCs............................... Quadro 9 - 103 Sítios de clivagem dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC em comparação com membros do complexo da encefalite japonesa e três flavivírus transmitidos por mosquitos procedentes da África Tabela 1 - 112 Sítios de glicosilação determinado para as proteínas PrM, E e NS1 pelo programa NetNglyc para os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC................................................................................. 113 15 Tabela 2 - Principais domínios das proteínas E, NS3 e NS5 determinado pelo Pfan para os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC.............. Tabela 3 - Percentual de identidade aminoacídica entre os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC e outros flavivírus transmitidos por Culex... Tabela 4 - 122 Modelo de substituição nucleotídica determinado pelo critério de informação de Akaike..................................................................... Tabela 5 - 114 124 Recíproca das relações antigênicas pelo teste de FC entre os flavivírus do VROC e VILH com os integrantes do grupo Ntaya e encefalite japonesa......................................................................... 160 16 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS % Percentagem α Alfa β Beta Δdiv Divergência genética μL Microlitro µM Micro molar 3’CYC Sequência de ciclização conservada na região não-codificadora 3’ 3’SL 3’ haste-alça (3’ stem-loop) 5’CYC Sequência de ciclização conservada na região não-codificadora 5’ A Adenina aa Aminoácidos AIC Akaike Information Criterion Ala Alanina AnchC Âncora hidrofílica C-terminal (proteína do capsídio) Ans Asparagina Arg Arginina Asp Ácido aspártico AV Agrupamento de vizinhos C Citosina; proteína do capsídio CDC Centro para Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention) cDNA Ácido desoxirribonucléico complementar 17 Cis Cisteína CITV Comitê Internacional de Taxonomia Viral CS1 Sequência conservada 1 CS2 Sequência conservada 2 DNA Ácido desoxirribonucléico (Deoxyribonucleic Acid) dNTPs Deoxinucleotídeo trifosfato DTT 1,4-ditiotreitol E Proteína do envelope ECP Efeito citopático EDTA Etileno-diamino tetra acetato de sódio FC Fixação do complemento Fen Fenilalanina FHD Febre hemorrágica do dengue G Guanina g Grama Gli Glicina Gln Glutamina Glu Ácido glutâmico His Histidina IEC Instituto Evandro Chagas IH Inibição da hemaglutinação IL Interleucina Ile Isoleucina Kcal Quilocaloria 18 KDa Quilodáltons L Litros Leu Leucina Lis Lisina M Glicoproteína de Membrana MEM Meio Mínimo Essencial (Minimum Essential Medium) Met Metionina MgCl2 Cloreto de magnésio Min Minutos mL Mililitro mm Milímetro mM Milimolar MP Máxima Parcimônia MTase Metiltransferase Nm Nanômetro NS1 Proteína Não-estrutural 1 NS2A Proteína Não-estrutural 2A NS2B Proteína Não-estrutural 2B NS3 Proteína Não-estrutural 3 NS4A Proteína Não-estrutural 4A NS4B Proteína Não-estrutural 4B NS5 Proteína Não-estrutural 5 nt Nucleotídeos NTPase RNA nucleosídeo trifosfatase 19 ºC Graus centígrados OMS Organização Mundial da Saúde ORF Matriz de leitura aberta (Open Reading Frame - ORF) pb Pares de bases PBS Solução salina tamponada (Phosfate buffer solution) PCR Reação em cadeia mediada pela polimerase pH Potencial hidrogeniônico PrM Precursor da glicoproteína de membrana Pro Prolina RCS2 Repetição da sequência conservada 2 RdRP RNA polimerase dependente de RNA RE Retículo endoplasmático RNA Ácido ribonucléico (Ribonucleic Acid) RNAm RNA mensageiro RNC Região não codificadora RT Transcrição reversa RTPase RNA trifosfatase RT-PCR Transcrição reversa seguida da reação em cadeia mediada pela polimerase SAM S-adenosil-metionina SCD Síndrome do choque SCy Sequência de ciclização SEARB Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas seg Segundos 20 Ser Serina SNC Sistema nervoso central SVS Secretaria de Vigilância em Saúde T Timina Thr Treonina Tir Tirosina TN Teste de neutralização Trp Triptofano U Uracila; Unidade Internacional UV Ultravioleta VAEF Vírus aedes flavivírus Val Valina VAROA Vírus Aroa VBAN Vírus Banzi VBDQ Vírus bussuquara VBOU Vírus bouboui VCFA Vírus cell fusion agents VCPC Vírus cacipacoré VCXF Vírus culex flavivírus VDEN Vírus dengue VDEN-1 Vírus dengue sorotipo 1 VDEN-2 Vírus dengue sorotipo 2 VDEN-3 Vírus dengue sorotipo 3 VDEN-4 Vírus dengue sorotipo 4 21 VEH Vírus Edge Hill VEJ Vírus da encefalite japonesa VEMV Vírus encefalite Murray Valley VENT Vírus entebbe bat VERO Células de rim de macaco verde africano linhagem VESL Vírus da encefalite São Luis VFA Vírus da febre amarela VIGU Vírus Iguape VILH Vírus Ilhéus VJUG Vírus jugra VKFD Vírus Kyasanur Forest disease VKR Vírus Kamitii River VKUN Vírus kunjin VLGT Vírus langat VLI Vírus louping ill VMOD Vírus Modoc VNJL Vírus Naranjal VNO Vírus do Nilo ocidental VNTA Vírus Ntaya VOHF Vírus da febre hemorrágica do Omsk VPOW Vírus Powassan VQB Vírus quang binh VRB Vírus Rio Bravo VROC Vírus rocio 22 VSAB Vírus saboya VSEP Vírus sepik VSOK Vírus sokoluk VTAB Vírus tamana bat VTBE Vírus tick-borne encephalitis VTYU Vírus Tyuleniy VUGS Vírus Uganda S VYOK Vírus Yokose 23 RESUMO Os flavivírus são conhecidos por seu complexo ciclo biológico e importância na saúde pública e na economia mundial. Os aspectos ecológicos e quadros clínicos estão estreitamente relacionados à filogenia e evolução dos flavivírus. Este trabalho objetiva a caracterização molecular dos genomas dos flavivírus Bussuquara (VBSQ), Iguape (VIGU), Ilhéus (VILH) e Rocio (VROC), determinando relações filogenéticas com os demais integrantes do gênero Flavivirus. Foi realizado o seqüenciamento completo da região codificadora (ORF) e regiões não codificantes (RNC) 5’ e 3’; análise da estrutura secundária do RNA viral e das sequências conservadas da 3’RNC; determinação dos sítios de clivagem, glicosilação, resíduos Cis e motivos conservados na poliproteína; e as análises de similaridade e filogenética. Os genomas dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC apresentaram a mesma organização que os demais flavivírus, medindo 10.815 nt, 10.922 nt, 10.775 nt, 10.794 nt, respectivamente. O padrão das sequências conservadas da 3’RNC do VBSQ foi RCS2-CS2-CS1, enquanto que para os VIGU, VILH e VROC foram CS3-RCS2-CS2-CS1. As características das estruturas secundárias do RNAs dos flavivírus em estudo foram similares aos demais flavivírus. O número dos sítios de glicosilação das proteínas PrM, E e NS1 foi distinto entre os flavivírus brasileiros, porém o padrão 6,12,12 dos resíduos de Cis e do sítios de clivagem permaneceram conservados. Na proteína E, alterações aminoacídicas pontuais foram observadas no peptídeo de fusão dos VBSQ, VIGU e VROC, e a sequência do tripepídeo RGD foi distinta para os quatro vírus em estudo. Os motivos determinantes das atividades de MTase-SAM da NS5, bem como da helicase e protease da NS3, permanecem conservados. Dentre os oito motivos da polimerase viral (NS5), somente os motivos V, VI e VII possuem alguma substituição nucleotídica para o VILH e VROC. As análises de similaridade mostram que VBSQ apresenta maior relação com VIGU enquanto que o VILH e VROC são mais relacionados entre si, porém sendo consideradas espécies virais distintas. Com base nas análises filogenéticas, características moleculares do genoma e biológicas, propõem-se a formação de três grupos genéticos: o grupo Rocio, que agrupa VROC e VILH; o grupo Bussuquara formado pelos VBSQ e Vírus naranjal e o grupo Aroa que inclui o Vírus Aroa e VIGU. 24 ABSTRACT Flaviviruses have been known due their complex biological cycle and their relevance in public health and global economy. The ecologic aspected and clinic pictures are related with phylogeny and evolution of flaviviruses. This work aims the molecular characterization of Bussuquara (BSQV), Iguape (IGUV), Ilheus (VILH) e Rocio (VROC) flaviviruses genomes, determining their phylogenetic relationships with others members of genus Flavivirus. The study included: the full-length sequencing of the four Brazilian flaviviruses; analyzes of the predictive secondary structure of RNA and conserved sequences in the 3’NCR; determination of cleavage and glicosilation sites, cisteine residues and conserved motifs in the polyprotein; and similarity and phylogenetic analyzes. The BSQV, IGUV, VILH and VROC genomes present 10815 nt, 10922 nt, 10775 nt, and 10794 nt, respectively. The conserved standard sequences in 3’NCR of BSQV was RCS2-CS2-CS1, while to IGUV, ILHV and ROCV were CS3-RCS2-CS2-CS1. The secondary structure of RNA obtained for the Brazilian flaviviruses were similar to the other flaviviruses. The numbers of the glicosilation sites to PrM, E and NS1 proteins were distinct among the studied Brazilian flaviviruses, therefore the pattern 6,12,12 Cis residues and the cleavage sites were conserved. In the E protein, some singles mutations were observed in fusion peptide of BSQV, IGUV and ROCV, and the RGD motif were distinct for the flaviviruses under study. The motif that determines the MTaseSAM activity in NS5, as well as the helicase and protease activity in NS3 were conserved. Among the eight polimerase motifs in NS5, only the V, VI and VII motifs were observed single mutations in ILHV and ROCV. The similarity analyzes showed that BSQV presents high relationship with VIGU, while ILHV and ROV were more related among themselves, however those viruses were considerated distincts species. Based in the phylogenetic analyzes, molecular and biological characteristics, it was proposed the establishment of three distinct genetic groups: the Rocio group, grouping ILHV and ROCV, Bussuquara group formed by BSQV and Naranjal virus; and Aroa group, that include Aroa virus and IGUV. 25 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS: FAMÍLIA FLAVIVIRIDAE, GÊNERO FLAVIVIRUS A família Flaviviridae é composta por vírus cujo genoma é composto de RNA (Ácido Ribonucléico), não segmentado, sentido positivo, cujo protótipo é o Vírus da febre amarela (VFA). Essa família compreende três gêneros: Flavivirus, Hepacivirus e Pestivirus (ICTV, 2005; Lindenbach et al., 2007), além de dois grupos de vírus não classificados, GBV-C e GBV-A, que estão aguardando uma classificação formal dentro da família (Lindenbach et al., 2007). Quanto ao táxon de superfamília, na qual os vírus de RNA são classificados quanto à dependência da RNA polimerase, a família Flaviviridae é membro da Superfamília 2 (Lindenbach et al., 2007); em que, os integrantes da família Flaviviridae codificam a RNA helicase, que coordena cátions bivalentes dentro do sítio de catálise (Gorbalenya & Koonin, 1993). O gênero Flavivirus apresenta 70 integrantes registrados no Comitê Internacional de Taxonomia Viral (CITV) (ICTV, 2005). A maioria dos flavivírus, cerca de 53 vírus, são considerados Arbovírus (termo derivado da expressão em inglês Artrophods-borne virus) por apresentarem um ciclo biológico que envolve vetores/transmissores como artrópodes hospedeiros os hematófagos. vertebrados Outros e flavivírus como são classificados como agentes zoonóticos e são transmitidos entre roedores ou 26 morcegos, sendo considerados vírus sem vetores ou que o possível vetor artrópode permanece desconhecido (Karabatsos, 1985; Travassos da Rosa et al., 1997; Kuno et al., 1998; ICTV, 2005). Os flavivírus apresentam uma distribuição cosmopolita. A evolução, o padrão de dispersão e as características epidemiológicas desses vírus são determinados pela combinação de fatores impostos pelo vetor artrópode e também pelo hospedeiro vertebrado. Outros fatores associados à ecologia, quase sempre deletéria, e à atividade humana ao meio ambiente têm, certamente, contribuindo à disseminação e a emergência dos flavivírus (Vasconcelos et al., 1992; Zanotto et al., 1995; Lindenbach et al., 2007; Gubler et al., 2007). As infecções humanas por flavivírus permitem um espectro clínico variado, envolvendo desde infecções inaparentes, síndromes febris até formas severas potencialmente fatais, caracterizadas por encefalites ou por infecções sistêmicas que culminam no desenvolvimento de síndrome icterohemorrágica (Barrett, 2001). Os flavivírus transmitidos por mosquitos incluem vários vírus de grande importância epidemiológica por causarem doenças em humanos e/ou animais de interesse econômico e por apresentarem ampla distribuição geográfica. Cerca de 40 flavivírus já foram associados à infecção humana, dentre os quais, além do VFA, se destacam o Vírus dengue (VDEN), o Vírus da encefalite Saint Louis (VESL), o Vírus da encefalite japonesa (VEJ), o Vírus do Nilo Ocidental (VNO) e o Vírus rocio (VROC), todos capazes de causar epidemias (Travassos da Rosa et al., 1997, Vasconcelos et al., 1998). O VFA é 27 reconhecido desde o século XVII como responsável por febres hemorrágicas, sendo que, segundo estimativa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus acomete cerca de 200.000 pessoas anualmente em países tropicais e subtropicais da África e América do Sul com a ocorrência de letalidade de 15% (Monath, 2001). A Dengue é considerada um dos maiores problemas de saúde pública nas regiões tropicais e subtropicais, sendo o arbovírus de maior incidência no mundo. O VDEN, com seus quatro sorotipos reconhecidos VDEN-1, VDEN-2, VDEN-3 e VDEN-4, é endêmico nas regiões tropicais das Américas, Ásia, África e Oceania e pode causar desde um quadro clínico inaparente, passando por uma síndrome febril - Dengue Clássico - até formas mais severas: a Febre Hemorrágica do Dengue (FHD), Síndrome do Choque do Dengue (SCD) (WHO, 2009). A estimativa da OMS de ocorrência anual de casos de Dengue Clássico é de 50 a 100 milhões de casos registrados em mais de 80 países. Desses, 500.000 casos são de FHD com o registro de 20.000 a 25.000 mortes, a maioria das quais em crianças (Gubler, 2006). Em 1999, o VNO surgiu como um importante patógeno emergente nas Américas, causando encefalite em equinos e humanos; desde então o vírus vem se tornando endêmico nos EUA e Canadá e, pouco a pouco, vem sendo detectado em países latino-americanos (Lanciotti et al., 1999; ElizondoQuiroga et al., 2005). Dentre os flavivírus já identificados, onze vírus já foram isolados no Brasil: Bussuquara (BSQV), Cacipacoré (CPCV), VDEN (sorotipos 1, 2, 3 e 4), VFA, VROC, Iguape (VIGU), Ilhéus (VILH) e Naranjal (VNJL). Os VCPC, VIGU 28 e VNJL não foram isolados de seres humanos, nem relacionados a infecções humanas (Travassos da Rosa et al., 1997). 1.2. CICLO BIOLÓGICO Os flavivírus podem ser transmitidos para humanos e outros vertebrados por meio da picada de artrópodes hematófagos ou entre hospedeiros artrópodes, via transovariana (Karabatsos, 1985). A transmissão para os artrópodes frequentemente necessita que o vírus produza uma elevada viremia no hospedeiro vertebrado e replique nos tecidos dos artrópodes infectados. Dois grupos de artrópodes estão envolvidos na transmissão dos flavivírus: mosquitos e carrapatos (Gubler et al., 2007). Os artrópodes se tornam infectados durante o repasto sanguíneo. Após a ingestão, os vírus infectam células do intestino médio, estendendo para hemocela e então para os vários tecidos, incluindo a glândula salivar. Uma vez infectada a glândula salivar, o artrópode é capaz de transmitir os vírus através da saliva para os hospedeiros vertebrados, e nesses, após a replicação viral em diversos tipos celulares, atingem a corrente sangüínea (Karabatsos, 1985; Travassos da Rosa et al., 1997; Gubler et al., 2007). O período de tempo entre a infecção do artrópode através do repasto sangüíneo durante a viremia no hospedeiro vertebrado até quando as glândulas salivares do artrópode tornamse infectadas é chamado de período de incubação extrínseco. Esse período de tempo dura de oito a 14 dias e depende da temperatura ambiente, da cepa viral 29 e do vetor. O período de incubação extrínseco não se aplica a vírus transmitidos por carrapatos (WHO, 1985; Gubler et al., 2007). A transmissão vertical ou transovariana é a transferência de vírus entre gerações sem que haja nenhum outro modo de transmissão envolvido. Ambos os flavivírus, transmitidos por mosquitos e carrapatos, apresentam transmissão vertical. A transmissão transovariana ocorre quando os ovários dos artrópodes fêmeas se tornam infectados e o vírus é passado para os ovos. Quando os ovos eclodem, o vírus é mantido nos artrópodes nos diversos estágios de vida até a fase adulta. Na transmissão vertical, os ovos em maturação são infectados quando passam pelo ovoduto (Rosen, 1987). Uma grande variedade de flavivírus transmitidos por mosquitos apresentam transmissão vertical em natureza, incluindo VDEN, VFA, VEJ, VNO (Gubler et al., 2007). A habilidade dos artrópodes de transmitir os flavivírus depende de fatores intrínsecos e extrínsecos (Gubler et al., 2001, Kramer & Ebel, 2003). Um dos principais fatores intrínsecos é a variabilidade genética exibida pelos artrópodes. Dentre os fatores extrínsecos, observa-se que tanto mosquitos quanto carrapatos apresentam seus metabolismo e biologia altamente influenciados pelas condições do ambiente. A temperatura afeta diretamente a taxa de replicação viral e, consequentemente, o período de incubação extrínseco. Dentro dos limites de cada espécie, altas temperaturas podem aumentar a transmissão viral ou podem ocasionar um aumento da taxa de mortalidade dos mosquitos. Ademais, umidade, períodos chuvosos e velocidade do vento podem influenciar na taxa de mortalidade, bem como nas 30 características biológicas e comportamentais dos vetores, tais como extensão de vôo e oviposição (Kramer & Ebel, 2003). A extensão de hospedeiros vertebrados entre os vetores artrópodes é bastante variável. Carrapatos geralmente são mais específicos, mas infestam diferentes hospedeiros em diferentes estágios do seu ciclo de vida. Sendo assim, carrapatos imaturos podem infectar hospedeiros naturais, tais como os roedores. Nos estágios de ninfa e fase adulta, os carrapatos podem se alimentar de outros hospedeiros, como os humanos, permitindo que vírus zoonóticos de roedores possam infectar o homem, tal como ocorre com o Vírus da encefalite transmitida por carrapato (do inglês Tick borne encephalitis vírus - VTBE) (Gubler et al., 2007). Quanto aos mosquitos, sua preferência por hospedeiros não é específica. Alguns se alimentam exclusivamente de aves, enquanto outros se alimentam de mamíferos, sendo, portanto, os vetores de maior importância na transmissão e disseminação dos flavivírus. Espécies dos gêneros Culex e Aedes estão mais relacionadas com a transmissão dos flavivírus, muito embora outros gêneros também possam estar envolvidos na manutenção dos ciclos biológicos desses vírus, tais como Sabethes sp. e Haemagogus sp. (Travassos da Rosa et al., 1997; Vasconcelos et al., 1998). Há uma estreita relação entre a transmissão de flavivírus que causam encefalites por Culex sp., tal como VNO que é mantido em seu ciclo enzoótico por Cx. pipiens e Cx. restuans, enquanto que os flavivírus que causam febres hemorrágicas são transmitidos por Aedes sp., Aedes sp. e Haemagogus sp., como por exemplo VDEN e VFA, respectivamente (Kuno et al., 1998; Gaunt et al., 2001; Gubler et al., 2007). 31 1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS FLAVIVÍRUS Dentro do gênero, os flavivírus são categorizados em complexos antigênicos e subcomplexos, baseado em critérios sorológicos clássicos, ou dentro de grupo, clados e espécies de acordo com a filogenia (Calisher & Gould, 2003). O relacionamento antigênico dos flavivírus é determinado pela reatividade de testes sorológicos de inibição da hemaglutinação (IH), fixação do complemento (FC) e neutralização (TN). Assim, os flavivírus são distribuídos sorologicamente em dois grupos antigênicos: o grupo B e o grupo Vírus da febre hemorrágica de macaco (Simian hemorrhagic fever virus), existindo ainda flavivírus não sorogrupados (Karabatsos, 1985; Travassos da Rosa et al., 1998; ICTV, 2005). Uma classificação antigênica mais antiga determinou a existência de oito complexos: Os quatro sorotipos do VDEN pertencem ao complexo Dengue; os VEJ, VESL, VNO, Vírus Kunjin (VKUN), Vírus da Encefalite Murray Valley (VEMV), entre outros, são grupados no sorocomplexo da Encefalite Japonesa; VTBE, Vírus Louping ill (VLI), Vírus langat (VLGT), Powassan (VPOW), Vírus da Febre hemorrágica do Omsk (VOHF) e o Vírus da doença da floresta Kyasanur (Kyasanur Forest disease virus - VKFD) formam o complexo das encefalites transmitidas por carrapato; o VFA é o único membro do complexo da febre amarela; existindo ainda os complexos Tyuleny (Vírus Tyuleny - VTYU), Ntaya (Vírus Ntaya - VNTA), Uganda S (Vírus Uganda S VUGS) e Rio Bravo (Vírus Rio Bravo - VRB) (Calisher et al, 1989; Pugachev et al., 2003). 32 O gênero Flavivirus é composto, atualmente, por 53 espécies de arbovírus, das quais 27 são flavivírus transmitidos por mosquitos, 12 são transmitidos por carrapatos e 14 são agentes zoonóticos com vetor desconhecido (Quadro 1) (ICTV, 2005), além dos vírus que estão em processo de inclusão no gênero: Vírus Tamana Bat (VTAB), isolado de morcego (de Lamballerie et al., 2002), e os vírus relacionados como flavivírus de insetos: Vírus agente fusionador celular (Cell fusion agents virus - VCFA) (CammisaPark et al., 1992), Vírus Rio Kamitii (Kamitii River virus - VKR) (Crabtree et al., 2003), Vírus Aedes flavivírus (VAEF) (Hoshino et al., 2009), Vírus Culex flavivírus (VCXF) (Hoshino et al., 2007) e Vírus Quang Binh (VQB) (Crabtree et al., 2009). Esta classificação é baseada nos conceitos de espécie viral e no conjunto de informações sobre morfologia, organização do genoma, relação das sequências nucleotídicas, associação com vetor e ecologia viral (ICTV, 2005; Gubler et al., 2007). Considerando a mortalidade e morbidade, 22 cepas de flavivírus transmitidos por mosquitos, 13 dos vírus transmitidos por carrapatos e cinco dos agentes zoonóticos com vetor desconhecido são capazes de causar doença em humanos (Gubler et al., 2007). Os flavivírus transmitidos por mosquitos têm evoluído em dois grupos maiores distintos pela apresentação clínica em humanos e ecologia. Os flavivírus encefalíticos estão no grupo da encefalite japonesa, incluindo os vírus VEJ, VNO, VEMV, VROC e VESL. Todos são arbovírus zoonóticos que apresentam como hospedeiros vertebrados naturais aves e como vetores mosquitos do gênero Culex (Gubler et al., 2007). O outro grupo inclui o VFA e o 33 VDEN, que são vírus viscerotrópicos e podem causar febres hemorrágicas. Esses vírus apresentam um ciclo silvestre tendo primatas como hospedeiros vertebrados e mosquitos do gênero Aedes como principal vetor. Os quatro sorotipos do VDEN são adaptados aos humanos no ambiente urbano e, geralmente, não necessitam de ciclo silvestre para a sua manutenção (Gubler et al., 2007). Quadro 1 - Espécies virais e cepas registradas no CITV, distribuídos por grupos e sorogrupos (ICTV, 2005) GRUPO VIRAL Aroa Dengue Kedougou Encefalite Japonesa Kokobera Ntaya Spondweni vírus Febre Amarela FLAVIVÍRUS TRANSMITIDOS POR MOSQUITOS ESPÉCIE VIRAL CEPAS / SOROTIPOS Vírus Aroa Vírus Bussuquara Vírus Aroa Vírus Iguape Vírus Naranjal Vírus Dengue 1 Vírus Dengue 2 Vírus Dengue Vírus Dengue 3 Vírus Dengue 4 Vírus Kedougou Vírus Cacipacore Vírus da Encefalite Japonesa Vírus Koutango Vírus Alfuy Vírus Murray Valley encefalite Vírus Murray Valley encephalitis Vírus St. Louis encefalite Vírus Usutu Vírus Kunjin Vírus Nilo do Oeste Vírus Nilo do Oeste Vírus Yaounde Vírus Kokobera Vírus Kokobera Vírus Stratford Vírus Bagaza Vírus Ilheus Vírus Ilhéus Vírus rocio Vírus Israel turkey meningoencefalomyelite Vírus Ntaya Vírus Tembusu Vírus Spondweni Vírus Zika Vírus Zika Vírus Banzi Vírus Banzi Vírus Bouboui Vírus Edge Hill Vírus Jugra Vírus Potiskum Vírus Saboya Vírus Saboya Vírus Sepik Vírus Uganda S Vírus Wesselsbron Vírus da febre amarela SIGLA (VAROA) (VBSQ) (VIGU) (VNJL) (VDEN- 1) (VDEN- 2) (VDEN- 3) (VDEN- 4) (VKED) (VCPC) (VEJ) (VKOU) (VALF) (VEMV) (VESL) (VUSU) (VKUN) (VNO) (VYAO) (VKOK) (VSTR) (VBAG) (VILH) (VROC) GENBANK b AF013362 NC009026* NC009027* b AF013390 NC001477* NC001474* NC001475* NC002640* NC012533* b AF013367 NC001437* b AF013384 a AF013360 NC000943* NC007580* NC006551* a EU074020 NC009942* b AF013413 NC009029* b AF013407 NC012534* NC009028* AF013397* (VIT) AF013377 (VNTA) (VTMU) (VSPO) (VZIK) (VBAN) (VBOU) (VEH) (VJUG) (VPOT) (VSAB) (VSEP) (VUGS) (VWESS) (VFA) AF013392 b AF013408 b AF013406 NC012532* b L40951 b AF013364 b AF013372 b AF013378 b AF013395 b AF013400 NC008719* b EU074020 NC012735* NC002031* b b 34 Quadro 1 - Espécies virais e cepas registradas no CITV, distribuídos por grupos e sorogrupos (continuação) FLAVIVÍRUS TRANSMITIDOS POR CARRAPATOS GRUPO VIRAL ESPÉCIE VIRAL Vírus Gadgets Gully Vírus Kyasanur Forest disease Vírus Langat Vírus Louping ill flavivírus transmitidos por carrapatos com hospedeiros mamíferos Vírus Tick-borne encefalite Grupo do Entebbe bat Flavivírus de insetos SIGLA (VGGY) GENBANK b AF013374 (VKFD) X74111 (VLGT) (VLI-Brit) (VLI-1r) (VLI) (VLI-Span) (VLI-Turk) NC003690* b D12937 b X86784 NC001809* b X77470 b X69125 (VOHF) NC005062* (VPOW) (VKSI) (VRF) (VTBE-Eu) (VTBE-Eu) (VTBE-FE) (VTBE-Sib) (VTBE) (VKAD) (VMEA) (VSRE) (VTYU) NC003687* NC006947* b AF013398 b M27157 b M33668 b X07755 b L40361 NC001672* b AF013380 b AF013386 b X80589 b X80588 British subtipe Irish subtipe Vírus Louping ill Spanish subtipe Turkish subtipe Vírus Omsk hemorrhagic fever Vírus Powassan Vírus Royal Farm flavivírus transmitidos por carrapatos com hospedeiros aves marinhas CEPAS / SOROTIPOS Vírus Karshi Vírus Royal Farm European subtipe European subtipe Far Eastern subtipe Siberian subtype Vírus Tick-borne encefalite Vírus Kadam Vírus Meaban Vírus Saumarez Reef Vírus Tyuleniy AGENTES ZOONÓTICOS COM VETORES DESCONHECIDO Vírus Entebbe bat Vírus Entebbe bat Vírus Sokoluk Vírus Yokose Vírus Apoi Vírus Cowbone Ridge Vírus Jutiapa Vírus Modoc Vírus Sal Vieja Vírus San Perlita Vírus Bukalasa bat Vírus Carey Island Vírus Dakar bat Vírus Montana miotis leukoencefalite Vírus Batu Cave Vírus Phnom Penh bat Vírus Phnom Penh bat Vírus Rio Bravo TENTATIVA DE INCLUSÃO NO GÊNERO Vírus Cell fusing agent Vírus Kamiti River Vírus Tamana bat b (VENT) (VSOK) (VYOK) (VAPOI) (VCR) (VJUT) (VMOD) (VSV) (VSP) (VBB) (VCI) (VDB) NC008718* b AF013405 NC005039* NC003676* b AF013370 b AF013379 NC003635* b AF013401 b AF013402 b AF013365 b AF013368 b AF013371 (VMML) NC004119* (VBC) (VPPB) (VRB) AF013369 b AF013394 NC003675* (VCFA) (VKR) (VTAB) NC001564* NC005064* NC003996* b * número de acesso ao GenBank referente ao genoma completo; ª referente à sequência nucleotídica da poliproteína; b referente ao gene NS5. Fonte: ICTV, 2005 35 1.4. ESTRUTURA DOS FLAVIVÍRUS Os integrantes do gênero Flavivirus possuem partículas virais esféricas, medindo cerca de 50 nm de diâmetro; são vírus com envelope lipoprotéico, que envolve o núcleo protéico de aproximadamente 30 nm: o nuclocapsídio, que é constituído pela proteína C e protege o genoma viral. A superfície contém duas proteínas virais, as glicoproteínas E (envelope) e PrM/M (membrana) (Figura 1). A glicoproteína E é o principal determinante antigênico da partícula viral, media a ligação e a fusão durante a entrada do vírus na célula. A proteína Pr é um pequeno fragmento proteolítico precursor da proteína M; é produzida durante a maturação da partícula viral, sendo encontrada no meio intracelular (Lindenbach & Rice, 2003; Lindenbach et al., 2007). prM/E PrM/E Bicamada lipídica B Nucleocapsídio Figura 1 - (A) Crioeletromicroscopia do VDEN, mostrando o envelope viral, no qual estão inseridas as proteínas estruturais PrM/E, e o nucleocapsídio com aproximadamente 50 nm de diâmetro; (B) Mapa eletrondenso dos flavivírus, destacando os domínios I, II e III (verde, roxo e azul, respectivamente) e o peptídeo de fusão (vermelho) da proteína E dos flavivírus. Fonte: (A) http://www.lightsources.org/cms/?pid=1002693, (B) Adaptado de Lindenbach & Rice, 2003. 36 O Genoma dos flavivírus consiste de um RNA de fita simples de polaridade positiva, com média de 11.000 nucleotídeos (nt); possui um cap tipo I (m7GppAmpN2) na extremidade 5’, e metilação do resíduo N2 (cap tipo II) e cauda poliadenilada na extremidade 3’, que é perdida durante a replicação quando o RNA viral funciona como RNA mensageiro (RNAm) (ICTV, 2005; Lindenbach et al., 2007). Durante cultivos celulares, duas formas virais podem ser distinguidas: a forma viral madura, encontrada fora das células, possui duas glicoproteínas associadas ao envelope viral, E e M; e a forma imatura, exclusiva do meio intracelular, que apresenta o precursor da proteína M, PrM, o qual é clivado durante o processo de maturação (Figura 2) (Lindenbach et al., 2007). A Vírion imaturo B Vírion maduro PrM M E E Nucleocapsideo (C) C Figura 2 – Formas das partículas virais dos flavivírus (A) partícula viral imatura; (B) partícula viral madura; (C) esquema das formas madura e imatura. Fonte: (A) http://www.purdue.edu/uns/x/2007b/071019CelHockmeyer.html; (B) Lindenbach et al., 2007; (C) adaptado de Heinz & Allison, 2003. 37 1.5. REPLICAÇÃO DOS FLAVIVÍRUS Para o processo de replicação dos flavivírus, diferentes tipos celulares e de espécies hospedeiras estão envolvidos, sendo utilizados diversos receptores que proporcionam a adsorção e, em seguida, a entrada e replicação viral. A infecção em células dendríticas é de particular importância, por serem os alvos iniciais no processo de infecção (Lindenbach et al., 2007). Estudos com o VDEN mostraram que a infecção das células dendríticas depende do receptor DC-SIGN (CD209) - um tipo de Lectina tipo C –, que participa somente do processo de adsorção viral (Navarro-Sanchez et al., 2003; Tassaneetrithep et al., 2003). Outras proteínas foram identificadas como receptores para flavivírus, incluindo as αvβ3 integrina, GRF78 (BiP), a CD14, glicosaminoglicanas altamente sulfatadas (exemplo: heparan sulfato) (Chen et al., 1997b; Kroschewski et al., 2003). Ademais, a opsonização das partículas virais por imunoglobulinas aumentam a infecção de células que expressam receptores para a porção Fc das imunoglobulinas (Barba-Spaeth et al., 2005). A internalização das partículas virais é mediada via interação com proteína tipo Clatrina, que são encaminhadas em direção aos compartimentos endocíticos perilisossomal, na qual o pH ácido induz a fusão entre o envelope viral e a membrana da célula hospedeira, liberando o nucleocapsídio para o citoplasma. Devido à fluidez do capsídio, o RNA viral é disponibilizado para tradução logo após a fusão entres as membranas. A tradução do RNA viral produz proteínas que permitem a nova síntese do RNA viral e a montagem de novas partículas virais (Lindenbach & Rice, 2003; Lindenbach et al., 2007). 38 Uma vez no citoplasma, o RNA viral desempenha três papéis importantes para a replicação viral: (i) como RNAm para a tradução de todas as proteínas virais; (ii) molde para a síntese de RNA; e (iii) material genômico empacotado dentro das partículas virais recém sintetizadas (Lindenbach et al., 2007). A eficiência da tradução pode ser o primeiro determinante da infectividade dos flavivírus. Portanto, esses vírus utilizam diversos mecanismos para o processo de tradução, incluindo estruturas especializadas dentro das regiões não codificadoras (RNC) 3’ e 5’. A tradução é dependente da estrutura cap tipo I e inicia com o scanner ribossomal. O códon de iniciação para muitos flavivírus transmitidos por mosquitos não apresentam o motivo Kozak, onde se observa frequentemente a presença de múltiplas sequências AUG próximas umas das outras (sequências in-frame). Para ajudar a seleção do sítio de iniciação, o VDEN aparentemente utiliza uma pequena estrutura em grampo (do inglês hairpin) no gene C para induzir a parada do ribossomo no códon de parada AUG (Clyde & Harris, 2006) Uma única cadeia de leitura codifica uma grande poliproteína de aproximadamente 3.400 aminoácidos (aa), que é clivada co- e póstraducionalmente por proteínas de origem celular e viral em dez proteínas, sendo três estruturais e sete não-estruturais (ICTV, 2005; Lindenbach et al., 2007). A sequência da tradução da poliproteína dos flavivírus foi confirmada com base no mapeamento da tradução de células infectadas pelo Vírus kunjin (VKUN) (Scheader & Westaway, 1988), na qual o processamento completo se 39 dá em torno de 17 minutos estendido a 30 minutos devido aos processos de clivagem pós-traducional (Westaway et al., 2003). Na poliproteína, as proteínas estruturais C-prM-E localizam-se na porção N-terminal e são seguidas das proteínas não-estruturais NS1-NS2ANS2B-NS3-NS4A-NS4B-NS5 (Chambers et al., 1990; Lindenbach & Rice, 2003). A peptidase do hospedeiro é responsável pela clivagem entre as junções C/PrM, PrM/E, E/NS1 e 2K-NS4B. A protease serina codificada pelo vírus é responsável pela clivagem entre as junções NS2A/NS2B, NS2B/NS3, NS3/NS4A, NS4A/2K e NS4B/NS5. A enzima responsável pela clivagem NS1/NS2A ainda permanece desconhecida. Uma proetase similar a furina presente no complexo de Golgi (CG) faz a clivagem da Pr/M durante o processo de maturação da partícula viral (Figura 3) (Lindenbach et al., 2007). A síntese do RNA viral ocorre na membrana do retículo endoplasmático (RE) perinuclear, e pode ser detectada três horas pós-infecção (Lindenbach & Rice, 1997). Após a tradução do RNA genômico, a síntese do RNA começa com a formação da fita negativa complementar que é usada como molde para a síntese do RNA viral de polaridade positiva. Estas fitas são sintetizadas por um mecanismo semiconservativo envolvendo intermediários replicativos, contendo regiões de fitas duplas, bem como moléculas de fita simples nascente e formas replicativas (moléculas de RNA duplex) (ICTV, 2005). A síntese do RNA viral é assimétrica, com o acúmulo da fita RNA positiva em relação à fita molde (RNA negativa) (Cleaves et al., 1981; Muylaert et al., 1996). Para a maioria dos flavivírus esse RNA viral metabólico tem sido descrito como: RNA genômico; uma forma intermediária constituída por dupla- 40 fita; e uma população heterogênea da síntese intermediária, que comumente apresenta regiões duplex e o RNA padrão recém-sintetizado. Essas duas últimas formas são reconhecidas como precursores do RNA genômico (Chun & Westaway, 1985). (A) Genoma dos Flavivirus Cap RNA viral 5’ m7G Estrutural 3’ OH Não estrutural Poliproteína ? P ancC prM E H NS1 NS2A NS2B NS3x’ R NS4A NS4B ? Protease desconhecida M P Protease similar a furina presente no CG pr NS5 Sinal para a peptidase do hospedeiro Protease NS3 Topologia das proteínas virais na membrana do retículo endoplasmático Citoplasma (B) NS5 E NS1 NS 4B M Pr A B NS2 2 NS NS4A NS3 C Lumen do RE Figura 3 – (A) Apresentação esquemática do genoma e processamento das poliproteínas dos integrantes do gênero Flavivirus. (B) Topologia e interação dos flavivírus ao nível da membrana do retículo endoplasmático. Fonte: (A) adaptado de ICTV, 2005; (B) Lindenbach et al., 2007. 41 Durante a montagem das partículas virais, são observadas ao microscópio eletrônico mudanças nas membranas das células infectadas, principalmente, na região perinuclear. Inicialmente, ocorre a proliferação da membrana do RE, seguido da formação de estruturas de membranas densas, que são grupamentos de vesículas de 70 a 200 nm de diâmetro, contendo material eletrondenso dentro do lúmem do RE rugoso. Essa estrutura continua acumulando ao longo do processo de infecção, quando elas tornam-se adjacentes dando origem a uma nova estrutura: aglomeração de membranas, que parece ser contínua com o RE. O RNA viral acumula em associação às vesículas empacotadas na região perinuclear (Lindenbach et al., 2007). As proteínas virais NS2B e NS3 localizam-se nas membranas aglomeradas para o processo de reorganização da membrana, muito embora estruturas subcelulares distintas estejam dedicadas ao processamento da poliproteína versus síntese da replicação, resultando no acúmulo de partículas virais dentro dos compartimentos do RE. Os vírions nascentes são, então, transportados, através das vias secretórias, até a superfície celular. O estágio tardio da maturação viral está associado ao processamento da PrM e da proteína C, bem como à glicosilação das proteínas E e PrM num mecanismo similar da glicosilação das proteínas celulares. Finalizando o processo, as partículas virais maduras são liberadas por exocitose (Figura 4) (Lindenbach et al., 2007). 42 Partícula viral 1. Adsorção Tradução (+) ssRNA 2. Receptor media a endocitose 4. Desnudamento 3. Fusão de membrana dependente de pH baixo Núcleo 5. Tradução e síntese de RNA RE + processamento (-) ssRNA Formação do complexo de replicação (+) ssRNA Morfogênese viral CG 6. Morfogênese 7. Liberação das partículas virais maduras Alteração de membrana causada pela infecção por flavivírus Figura 4 - Esquema da replicação viral dos flavivírus. Fonte: adaptado de Clyde et al., 2006 e www.klinikum.uniheidelberg.de/2-Replication-Cycle.104948.0.html 42 43 1.6. GENOMA DOS FLAVIVÍRUS 1.6. GENOMA DOS FLAVIVÍRUS O genoma dos flavivírus apresenta uma única matriz de leitura aberta (Open Reading Frame - ORF), que é flanqueada por duas RNC, 5’RNC e 3’RNC, com aproximadamente 100 nucleotídeos (nt) e 350 a 700 nt, respectivamente. São reconhecidos dez genes seguidos no sentido 5’-3’: CprM-E-NS1-NS2A-NS2B-NS3-NS4A-NS4B-NS5 (Figura 3) (Rice et al., 1985; Chambers et al., 1990; Lindenbach et al., 2007). As RNCs no RNA genômico de flavivírus podem estar envolvidas na iniciação da síntese de RNA de sentido negativo e em muitos processos podem estar relacionadas com a mudança na síntese do RNA de sentido negativo para a produção de RNA viral da progênie (sentido positivo). Ademais, as RNCs podem também desempenhar um importante papel no empacotamento dos vírions nascentes e conter sequências nucleotídicas requeridas para iniciar a tradução (Markoff, 2003). Quando se compara a extensão das RNCs dos flavivírus, nota-se que algumas 5’RNC são extremamente pequenas. De modo geral, a 5’RNC dos flavivírus transmitidos por mosquitos são menores quando comparadas com as 5’RNC de flavivírus transmitidos por carrapatos (Quadro 2) (Markoff, 2003). A extensão das 3’RNCs dos flavivírus está diretamente ligada à presença ou ausência de uma cauda poli(A). A perda dessa cauda poli(A) em 44 algumas espécies virais é causada por deleções das sequências que flanqueiam essa estrutura (Markoff, 2003). Quadro 2 - Comparação dos tamanhos nucleotídicos das 5’ e 3’RNCs no genoma de alguns flavivírus (Adaptado de Markoff, 2003). Vírus 5’RNC (nt) 3’RNC (nt) Genoma (nt) VDEN-1 cepa WP74 97 466 10.736 VDEN-2 cepa NGC 89 451 10.723 VDEN-3 cepa H87 93 432 10.696 VDEN-4 cepa 814669 101 384 10.649 VEJ cepa JaOAR5982 95 585 10.976 VNO CEPA NY99 96 631 11.029 VEMV 95 614 11.014 VFA cepa 17D 118 511 10.862 VTBE cepa Sofjin 131 518 10.894 VTBE cepa Neudorfl 132 764 10.469 VPOW 111 480 10.839 VCFA 113 559 10.695 1.6.1. Região não-codificante 5’ A região 5’RNC tem por característica não ser completamente conservada entre os flavivírus, embora possam ser encontradas sequências 45 nucleotíticas com significante homologia entre subgrupos distintos, entre vírus de um mesmo grupo sorológico e entre cepas de uma mesma espécie viral (Brinton & Dispoto, 1988), além da formação de uma estrutura secundária com tamanho, forma e estabilidade termodinâmica similar aos integrantes do gênero (Markoff, 2003). A forma secundária consiste de uma haste com uma pequena alça no topo da estrutura e uma ramificação lateral. Essa estrutura trata-se do pareamento de bases nucleotídicas por pontes de hidrogênio, que é invariavelmente interrompida por alças formadas pela aposição de nucleotídicos que são incapazes de formar tais ligações intermoleculares. A ramificação lateral é formada por sequências 3’ terminal da 5’RNC, incluindo o códon de iniciação da ORF e por nucleotídeos da porção inicial do gene C. A estabilidade termodinâmica dessa estrutura fica em torno de -17,3 kcal (com base na sequência do VESL) a -27,8 kcal (para a cepa E101 do VNO). A conservação dessa estrutura entre os flavivírus evidencia a possível participação e relevância da 5’RNC na replicação viral (Markoff, 2003) (Figura 5). Por vez, uma segunda haste-alça pode ser observada (Mandl et al., 1993) . Dentre os processos funcionais, a 5’RNC pode estar envolvida na tradução do genoma e na complementaridade da cadeia negativa, que serve de sítio de iniciação da cadeia positiva durante a síntese do RNA (Brinton & Dispoto, 1988; Lindenbach & Rice, 2003). Ademais, estudos sugerem que fatores hospedeiro-específicos interagem com a 5’RNC (Li et al., 2002; Yocupicio-Monroy et al., 2003). 46 Alça Haste Ramificação Figura 5 - Estrutura secundária da 5’RNC do VNO. Nucleotídeos são numerados (seta) a partir do terminal 5’, excluindo o cap (5’-m7G) (amarelo). Nucleotídeos da ORF começam a partir do nucleotídeo número 96 e são mostrados em verde. Fonte: Brinton & Dispoto, 1988. 1.6.2. Região não-codificante 3’ A região 3’RNC exibe uma grande variabilidade no gênero, no entanto, apresenta sequências conservadas entre os flavivírus transmitidos por mosquitos, sendo estas diferenciadas das sequências observadas no genoma dos flavivírus transmitidos por carrapatos (ICTV, 2005). Essa variabilidade é determinada por diferenças no tamanho da região 3’RNC, que é determinada pela inserção ou deleção de sequências repetidas na porção inicial, o que contrasta com a região altamente conservada da porção final, quando se comparam vírus do mesmo sorocomplexo/grupo (Poindinger et al., 1996). 47 A maior estrutura de similaridade entre os flavivírus é reconhecida como 3’ haste-alça (do inglês 3’ stem loop - 3’SL) - formada por aproximadamente 30 pontes de hidrogênio -, que difere na sequência primária entre os flavivírus transmitidos por mosquitos e os transmitidos por carrapatos (Tilgner et al., 2005; Markoff, 2003; Yu & Markoff, 2005) e apresenta uma estabilidade térmica em torno de 40 a 45,2 kcal (Khromykh et al., 2001b; Markoff, 2003). Estudos com VNO e VDEN-2 revelaram regiões funcionais vírus-específicas e hospedeiro-específicas dentro da 3’SL (Tilgner et al., 2005; Yu & Markoff, 2005). Outrossim, a região 3’SL pode interagir com muitas proteínas de relevância funcional, ativando as polimerases virais NS3 e NS5 (Chen et al., 1997a; Cui et al., 1998). Uma pequena haste-alça adjacente, característica da 3’RNC dos flavivírus, é observada entre os nucleotídeos 90 a 100, sentido 3’→5’, a partir do terminal 3’ do genoma (Markoff, 2003) (Figura 6). Na porção mais próxima do terminal 3’ localiza-se o pentanucleotídeo 5’-CACAG, que faz parte de uma região não-pareada dentro da estrutura 3’SL (Hahn et al., 1987). A função do pentanucleotídeo no ciclo replicativo dos flavivírus ainda não é conhecida, mas há hipóteses que sugerem sua participação na ligação celular ou de proteínas virais na estrutura 3’SL durante a síntese do RNA (Khromykh et al., 2001a) (Figura 6). No sentido 5’ terminal, uma região de 25 nt, reconhecida como CS1, é bem conservada entre os flavivírus transmitidos por mosquitos e apresenta uma região pareada complementar (5’CYC) no início do gene do capsídio (gene C). A complementaridade entre essas sequências para a 48 ciclização é essencial para a replicação dos flavivírus e é requerida para a seleção do molde de RNA para a sua síntese, no entanto a ciclização do genoma aparentemente não está envolvida no processo de tradução (Lindenbach et al., 2007). A CS1 não está presente no genoma dos flavivírus transmitidos por carrapatos e não é totalmente conservada entre os vírus de um mesmo grupo (Markoff, 2003). Figura 6 – Estrutura secundária preditiva da 3’SL na 3’RNC dos flavivírus VDEN-2 e VNO. Em negrito, destaca-se o pentanucleotídeo 5’-CACAG-3’. Fonte: Markoff, 2003. Uma ou duas cópias de uma segunda sequência conservada CS2 e RCS2 - também podem ser encontradas em alguns flavivírus transmitidos por mosquitos, mas não está presente na 3’RNC de flavivírus transmitidos por carrapatos (Hahn et al., 1987). Deleções na CS2 ou RCS2 tornam os vírus viáveis, mas altamente atenuados (Alvarez et al., 2005a; Lo et al., 2003). 49 A CS2 localiza-se próximo ao terminal 3’, entre os nucleotídeos 12 a 22 a frente da CS1 (sentido acima, 3’→5’) referente aos genomas do VDEN, VFA e dos vírus do grupo VEJ. A sequência de 20 nt da CS2 é completamente conservada entre os vírus do grupo da encefalite japonesa (VEMV, VNO e VKUN) e entre os quatro sorotipos do VDEN, exceto por uma substituição simples (G→U) no genoma do VDEN-3 (Figura 7) (Markoff, 2003). CS2 CS1 Consenso AGCAUAUUGACACCUGGGAA-AGAC Consenso GGACUAGAGGUAGAGGAGACCC VEMV ....................A.... VEMV ...................... VNO ...................U-.... VNO ...................... VEJ ....................U.... VEJ ...................... VDEN-1 ...........G.-.....G-.... VDEN-1 ...................... VDEN-2 ...........G.-.....G-.... VDEN-3 ............U......... VFA .C.........G..A.....-.... VFA ..U..................U CS3 e RCS3 NA 3’RNS DO VEMV CS3 CCCCAGGAGGACUGGGUUACCAAAGCUG RCS3 .................A.A......C. REPETIÇÕES EM SÉRIE NA 3’RNC DO VFA 1 *UAACCGGGAUACAAACCACGGGUGGAGAACCGGACUCCCCACA 2 GA..........U.........C...........G....G...U 3 GA..........A....U....A................A.... Figura 7 – Sequências nucleotídicas de alguns motivos conservados na região 3’RNC do genoma de flavivírus transmitidos por mosquitos. Deleções na CS1 são representadas por ponto (.). Substituições nucleotídicas encontram-se destacadas em azul e sublinhadas. Em vermelho, destaca-se a 3’CYC na CS1. Legenda: VDEN-1 = Vírus do dengue sorotipo 1; VDEN-2 = Vírus do dengue sorotipo 2; VEMV = Vírus da encefalite Murray Valley; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VFA = Vírus da febre amarela; VNO = Vírus do Nilo Ocidental;. Fonte: Adaptado de Markoff, 2003. 50 Não há repetições da CS2 (RCS2) no genoma do VFA. Ao invés, existem três repetições em série próximas da extremidade 5’ da 3’RNC. A primeira dessas repetições apresenta 40 nt no genoma do VFA cepa 17D e inicia no sentido 5’→3’ do terceiro códon de parada encontrado no terminal 3’ de sua ORF (Figura 7). Muito embora a segunda repetição seja quatro nucleotídeos maior que a primeira, apenas cinco nucleotídeos diferem entre os dois segmentos. Similarmente, o terceiro segmento difere do primeiro em quatro nucleotídeos (Markoff, 2003). Nos vírus do sorogrupo da encefalite japonesa existe um par adicional de repetições no sentido 3’→5’ da CS2 e RCS2 na 3’RNC, designadas de CS3 e RCS3. Esses segmentos apresentam 28 nt de comprimento. O segmento RCS3 situa-se a partir do nucleotídeo 153 (referente ao terminal 5’ da 3’RNC), após o códon de parada da ORF do VEMV. São observados apenas dois nucleotídeos diferentes entre as CS3 e RCS3 do VEMV (Markoff, 2003) (Figura 8). Segundo Proutski e colaboradores (1997), as 3’RNCs dos flavivírus podem formar uma estrutura secundária, descrevendo três regiões dentro dessa estrutura caracterizada como elementos centrais: (i) A região I consiste de sequência nucleotídica, que apresenta grande variabilidade nucleotídica, localizada no sentido 3’→5’ da CS1, CS2 e RCS2 no genoma dos flavivírus transmitidos por mosquitos; corresponde, em todos os flavivírus, a um grande grampo com uma grande ramificação lateral haste-alça, ou, em alguns casos, uma alça no lado 5’ do grampo principal; (ii) A região II inclui a CS2 e RCS2 e apresenta uma estrutura secundária distinta entre 51 grupos de flavivírus; (iii) A região III inclui a CS1 e a 3’SL (Proutski et al., 1997; Markoff, 2003). ORF 5’ Proteínas estruturais 3’ Proteínas não-estruturais 3’ RNC 5’ RNC AUG RCS2 5’CYC 3’SL CS2 CS1 VDEN-2 3’ CYC VDEN-4 RCS3 CS3 VJE VEMV VNO VWN Repetição em série VFA Figura 8 – Características das regiões não codificantes (RNCs) dos flavivírus transmitidos por mosquitos, destacando as sequências conservadas na 3’RNC (CS1, CS2, RCS2, C3, RCS3), as sequências envolvidas na ciclização do RNA – 5’CYC, 3’CYC – e as repetições em série presentes no genoma do VFA. Linhas horizontais representam as sequências nucleotídicas alinhadas das 5’RNC (lado esquerdo) e 3’RNC (lado direito) do vírus VDEN-2, VDEN-4, VEJ), VEMV, VNO e VFA. Traços verticais voltados para cima representam o códon de iniciação, AUG, para a tradução da ORF, enquanto que os traços verticais voltados para baixo representam os códons de parada. A estrutura 3’ haste-alça (3’SL) está representada no terminal 3’. Legenda: VDEN-2 = Vírus do dengue sorotipo 2; VDEN-4 = Vírus do dengue sorotipo 4; VEMV = Vírus da encefalite Murray Valley; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VFA = Vírus da febre amarela; VNO = Vírus do Nilo Ocidental. Fonte: Adaptado de Markoff, 2003. 52 1.6.3. Ciclização do RNA viral A primeira sequência genômica completa de um flavivírus foi publicada em 1985, por Rice e colaboradores. Esses autores notaram que as extremidades 5’- e 3’-terminal do genoma do VFA cepa 17D eram parcialmente homólogas a uma região complementar no VNO. Em ambos os genomas foi observado que; (i) dois nucleotídeos 5’-terminal (5’-AG) eram complementares a dois nucleotídeos 3’-terminal (3’UC); e (ii) a presença de uma pequena região de cinco nucleotídeos idêntica entre os segmentos proximais do 3’-terminal do RNA sentido positivo e o 3’-terminal RNA sentido negativo de cada um dos vírus: as sequências 3’ UGUGU na 3’RNC e a sequência 5’-ACACA na 5’RNC (Figura 9). VFA (+) 5’ AGUAAAUCCUGUGUGC . . . A ACACAAAACCACU 3’ (-) 3’ UCAUUUAGGACACACG . . . UUGUGUUUUGGUGA 5 ’ VWN (+) 5’ AGUAGUUCGCCUGUGUG . . . A ACACAGGAUCU 3’ (-) 3’ UCAUCAAGCGGACACAC . . . UUGUGUCCUAGA 5 ’ VEMV (+) 5’ AGACGUUCAUCUGCGUGAGC . . . GAGAAGACCACAGGUCU 3 ’ (-) 3’ UCUGCAAGUAGACGCACUCG . . . CUCUUCUGGUGUCCUGA 5 ’ VDEN-3 (+) 5’ AGUUGUUAGUCUACGUG . . . AUCAACAGGUUCU 3 ’ (-) 3’ UCAACAAUCAGAUGCAC . . . UAGUUGUCCAAGA 5 ’ VKUN (+) 5’ AGUAGUUUAUCUGUGUGAAC . . . GGUUCGAGA ACACAGGAUCU 3’ (-) 3’ UCAUCAAAUAGACACACUUG . . . CCAAGCUCUUGUGUCCUAGA 5 ’ VJE (+) 5’ AGAAGUUUAUGUGUGUGAAC . . . GAGGAAGA ACACAGGAUCU 3’ (-) 3’ UCUUCAAAUAGACACACUUG . . . CUCCUUCUUGUGUCCUAGA 5 ’ Figura 9 – Sequências nucleotídicas dos terminais 5’- e 3’- de alguns flavivírus transmitidos por mosquitos, mostrando alinhamento entre o genoma de RNA sentido positivo e o RNA complementar sentido negativo. Dinucleotídeos conservados nas extremidades 5’ e 3’ são mostrados nas caixas em vermelho. A sequência semiconservada pentanucleotídica, ACACA, é mostrada em destaque (negrito) nas extremidades 3’-terminal dos RNA sentido positivo e negativo. Fonte: Markoff, 2003. 53 A análise do genoma de flavivírus mostrou que os pares dinucleotídicos complementares das extremidades do RNA viral (5’-AG/UC-3’) são altamente conservados entre os flavivírus transmitidos por mosquitos e por carrapatos, mas não são conservados para o flavivírus de insetos, tal como o VCFA (5’-GU e GC-3’). Por outro lado, a sequência pentanucleotíca 5’-ACACA3’ e sua sequência complementar não é conservada em posições análogas nas 3’RNC e 5’RNC nos genomas de diversos flavivírus (Markoff, 2003). Além de participar da formação da ciclização do RNA viral, a sequência 5’-ACACA também pode atuar como sítio de reconhecimento para a polimerase viral que pode ser usada durante a síntese do RNA sentido positivo ou negativo (Rice et al., 1985). A estrutura secundária do RNA dos flavivírus foi inicialmente descrita por Hahn e colaboradores (1987), observando a complementaridade, entre sequências conservadas da 5’RNC e a região conservada que precede o 3’SL, designadas de sequência de ciclização (CYC). Com isso, foi sugerido que o pareamento entre as 5’CYC e 3’CYC pode, em teoria, permitir a formação da ciclização do RNA, que ocorre provavelmente durante as fases de sínteses do RNA viral (Figura 10). Essa conformação supostamente permitiria a polimerase viral se ligar em ambas as extremidades do RNA molde simultaneamente, gerando cópias do genoma viral (Hahn et al., 1987). No entanto, a função dessa estrutura secundária dos RNA genômicos dos flavivírus durante a replicação viral só foi possível ser comprovada com o estudo de Khromykh & Westaway (1997). 54 3’RNC 5’RNC Região Codificante C PrM E NS1 NS2ANS2B NS3 NS4A NS4B NS5 5’-3’ CYC 5’-3’ CS 5’SCy 3’SCy 5’CYC 5’-3’ SCy ORF 3’CYC 5’-3’ CYC ORF Figura 10 – Estrutura de ciclização do RNA dos flavivírus, mostrando as sequências conservadas de ciclização (5’CYC, 5’SCy, 3’CYC e 3’SCy) e estrutura secundária das 5’RNC (SLA, SLB e cHP) e 3’RNC (3’ SL). Legenda: SLA=estrutura principal da 5’RNC, SLB=segunda haste-alça da 5’RNC; cHP=Harpain da região do capsídio. Fonte: Adaptado de Villordo & Gamarnik, 2009. 55 A 3’CYC é comum a todos os flavivírus e apresenta localização variável entre as posições 99 a 112 em relação ao terminal 3’ do genoma (Quadro 3) e está incluída dentro da CS1 (Figura 8) que também é semiconservada entre os genomas dos flavivírus transmitidos por mosquitos (Mandl et al., 1993). Estudos utilizando programas computacionais de análise de genoma demonstraram que o pareamento de bases ocorre entre a 5’CYC (5’-UCAAUAUG-3’) e a 3’CYC é através de ligações covalentes e esse pareamento é essencial para a replicação viral (Westaway et al., 2003). Para o genoma dos flavivírus transmitidos por carrapatos, duas 5’CYC em potencial foram identificadas, sendo designadas C1 (5’-GGAGAACAAGA-3’) e C2 (5’GGGGCGGUCCC-3’), mas essas são distintas das 5’CS dos flavivírus transmitidos por mosquitos (Quadro 3) (Khromykh et al., 2001b; Mandl et al., 1993). Mathews e colaboradores (1999) analisando a sequência dos VKUN e outros flavivírus transmitidos por mosquitos, além dos VTBE e VCFA, pelo programa MFOLD, revelou que o genoma de todos os flavivírus contém complementaridade, com polaridade trans, entre as 5’CYC e 3’CYC. Essa estrutura pode ser ainda mais estabilizada pela presença de nucleotídeos adicionais não-conservados de um segmento rico em pirimidinas, localizado no sentido 3’→5’ da 5’CYC, que são complementares a uma região rica em purinas, situadas próximas a 3’CYC, totalizando 11 ou 12 pareamento de bases que possibilita a ciclização do RNA dos VFA, VEMV, VNO e VDEN-2, formada por uma estabilidade termodinâmica de -9,1 kcal (para o VEMV) a -2,3 kcal (para o VFA). Essa energia livre é suficiente para a formação da estrutura 56 secundária do RNA viral, tendo por base a ciclização dos flavivírus que requer condições fisiológicas mais baixas (Hsu et al., 1973). Quadro 3 - Localização das posições das sequências de ciclização (CS) no genoma de flavivírus (Markoff, 2003). Flavivirus Transmitido por mosquitos VÍRUS CÓDON DE INICIAÇÃO* VKUN 97 VEJ 96 VEMV 96 VNO 97 VDEN-1 81 VDEN-2 97 VDEN-3 94 VDEN-4 102 VFA 119 114 VCFA Flavivírus transmitidos por carrapatos 114 VTBE 133 VPOW 112 VLI 130 VTBE 133 VPOW 112 VLI 130 LOCALIZAÇÃO DA CS** 5’ CYC (137) 3’ CYC (-104) 5’ CYC (136) 3’ CYC (-111) 5’ CYC (136) 3’ CYC (-111) 5’ CYC (137) 3’ CYC (-105) 5’ CYC (118) 3’ CYC (-103) 5’ CYC (134) 3’ CYC (-103) 5’ CYC (132) 3’ CYC (-103) 5’ CYC (136) 3’ CYC (-99) 5’ CYC (156) 3’ CYC (-112) 5’ (169) 3’(-134) 5’ CS “D” (149) 3’ CS “C” (-471) 5’ C2 (164) 3’ C2’ (-193) UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC UCAAUAUG AGUUAUAC CCCCGUUCUGG GGGGCA-GGUC GCCAGGG CGGUCCC GGGGCGGUCCC CCCCGAGGGG 5’ C2 (136) 3’ C2’ (-189) 5’ C2 (160) 3’ C2’ (-193) 5’ C1 (115) 3’ C1’ (-81) GGGGGCGGUCC CCCCCG-AGG GGGGGCGGUCC CCCCCG-AGG GGAGAACAAGA CCUCUUGUUCU 5’ C1 (88) 3’ C1’ (-81) 5’ C1 (112) 3’ C1’ (-81) GGAGAACAAGA CCUCUUGUUCU GGAGAACAAGA CCUCUUGUUCU GENBANK D00246, L24511 M10370 NC000943 M12294 M87512 M20558 M93130 M14931 NC002031 M91671 M91671 U27495 L06436 Y07863 U27495 L06436 Y07863 * – Número da posição do primeiro nucleotídeo do códon de iniciação AUG; ** – 5’ e 3’ sequências de ciclização (CYC). Em negrito, o primeiro nucleotídeo de cada CYC. Dentro dos parênteses está indicada a posição do primeiro nucleotídeo de cada CYC em relação aos terminais 5’ e 3’ (sinal negativo) de cada genoma. 57 Alvarez e colaboradores (2005b) mostraram uma segunda sequência de ciclização na 5’RNC (5’SCy) que provavelmente participa da estrutura de secundária do RNA viral, que está localizada no sentido 3’→5’ do códon de iniciação AUG, na segunda haste-alça. Essa 5’ SCy é complementar a uma região presente dentre da 3’SL, a 3’SCy (Figura 10). Baseado na localização conservada das sequências de ciclização, foi proposto que a estrutura secundária do RNA viral apresenta duas funções importantes no mecanismo de síntese do RNA: (i) promotor do complexo da polimerase próximo do sítio iniciação 3’; (ii) e promover a conformação correta do 3’RNC durante o processo de iniciação (Villordo & Gamarnik, 2009) 1.7. ESTRUTURAS DAS PROTEÍNAS 1.7.1. Proteína do Capsídio (C) A proteína do capsídio é altamente básica, com massa molecular de aproximadamente 11 KDa, sendo responsável pela formação do nucleocapsídio junto com o RNA viral. Resíduos carregados positivamente estão inseridos nas terminações -N e -C, separados por uma região hidrofóbica que media a associação da membrana (Lo et al., 2003). A proteína C recém sintetizada apresenta uma âncora hidrofílica C-terminal (AnchC) que serve como peptídeo-sinal para a translocação da PrM. Esse domínio hidrofílico é 58 clivado para a maturação da proteína C pela protease serina viral (Lobigs, 1993). A proteína C dobra-se dentro de um dímero compacto com cada monômero contendo quatro α-hélices. No entanto, não está claro como o dímero da proteína C é organizado dentro do nucleocapsídio, mas a interação com o RNA pode induzir dímeros de proteínas C isolados à montagem junto a partículas ainda não formadas (Kiermayr et al., 2004). 1.7.2. Glicoproteína de membrana (M) A proteína precursora da glicoproteína M (PrM) com 26 KDa é translocada para dentro do RE pelo domínio AnchC. A clivagem desse peptídeo sinal ocorre tardiamente até que a proteína serina viral seja clivada. Este processo da coordenação da clivagem da AnchC/Pr serve para atrasar o processamento das proteínas estruturais e a produção viral até que os níveis da protease serina viral estejam suficientemente elevados (Chambers et al., 1990; Nowak & Wengler, 1987). A região N-terminal da PrM contém um dos três sítios de glicosilação e seis resíduos de cisteína conservados (Chiu et al., 2005), nos quais há a ligação dissulfeto (Nowak et al., 1989). A principal função da PrM é prevenir que a proteína E sofra rearranjo por catálise ácida durante o trânsito através da via secretória. A conversão da partícula viral imatura para o vírus maduro ocorre na via secretória e coincide com a clivagem da PrM nos fragmentos Pr e M pela protease furina encontrada no CG ou por enzimas relacionadas (Stadler et al., 1997; Elshuber et al., 2003). 59 A resposta imune humoral contra a PrM/M inclui anticorpos neutralizantes e conferem proteção em camundongos. Este fato sugere que a clivagem entre Pr/M pode ser incompleta em uma subpopulação de vírus maduros e/ou que epítopos protetores podem estar localizados no ectodomínio da proteína M nas partículas virais maduras (Bray & Lai, 1991) 1.7.3. Proteína do Envelope (E) A proteína E (53 KDa) é a maior proteína de superfície dos flavivírus e media a ligação com o receptor celular e a fusão intermembrana. É sintetizada como uma proteína de membrana tipo II, contendo 12 resíduos conservados de Cis, que formam as ligações dissulfetos. Para alguns flavivírus, a proteína E é N-glicosilada (Heinz & Allison, 2003; Lindenbach et al., 2007). Vem sido proposto que a proteína E dos flavivírus está envolvida em inúmeras atividades biológicas, incluindo adsorção do vírus ao receptor celular, fusão de membrana (Heinz & Allison, 2003; Heinz et al., 2004) e montagem da partícula viral (Li et al., 2006; Limjindaporn et al., 2009). A proteína E é composta de duas subunidades, cada uma constituída por três domínios: domínios I, II e III. O contato entre os monômeros que formam o dímero não é contínuo ao longo de todo o comprimento da molécula, resultando em um sulco ao longo do eixo do dímero. O contato no centro envolve sítios hidrofóbicos pertencentes apenas ao domínio II, enquanto que o contato distal é monopolar e composto por resíduos dos domínios I e III 60 de uma subunidade e a ponta do domínio II da outra subunidade (Heinz & Allison, 2003) Com exceção de duas pequenas cadeias α-hélices no domínio II, as estruturas β-pregueadas constituem a estrutura secundária predominante em toda a molécula. O domínio I é formado por uma estrutura β-pregueada com o seu eixo orientado paralelamente à membrana viral. Esse domínio Nterminal contém duas ligações dissulfetos e exibe na superfície uma única cadeia de carboidrato (Heinz & Allison, 2003). O domínio II é projetado ao longo da superfície viral por entre as regiões transmembranas da subunidade homodímero (Lindenbach et al., 2007). O domínio II é constituído por duas alças descontínuas estendidas a partir do domínio I. Uma dessas alças é estabilizada por três ligações dissulfetos e constitui uma estrutura que interage com o sulco hidrofóbico constituído por resíduos adjacentes da junção dos domínios I e III da segunda subunidade. Essa alça funciona como peptídeo de fusão (Heinz & Allison, 2003). O peptídeo de fusão, que media a inserção dentro da membrana da célula-alvo é localizado na ponta distal do domínio II com relação à região transmembrana (Lindenbach et al., 2007), correspondendo aos aminoácidos 98 a 110 referente à proteína E do VTBE. Essa sequência é altamente conservada entre os flavivírus com exceção da posição 104, que é uma Histidina (His) nos flavivírus transmitidos por carrapatos e uma Glicina (Gli) para os vírus transmitidos por mosquitos. Ademais, outras variações afetam o aminoácido 107, que é uma Leucina (Leu) para a maioria dos flavivírus, mas que pode ser 61 a Fenilalanina (Fen) no VPOW (Kuno et al., 2001; Ebel et al., 2001), ou uma Cis em cepas do VEJ (Nitayaphan et al., 1990) e VDEN-2 (Blok et al., 1989). O domínio III contém a porção C-terminal da proteína e uma estrutura em prega similar à observada nas imunoglobulinas. Uma única ligação dissulfeto a conecta ao domínio I através de 15 aa (Heinz & Allison, 2003). Entre os ectodomínios da proteína E e a membrana existe uma pequena região composta por duas α-hélices que atravessa a membrana e que atua como âncora para a síntese da proteína E (Lindenbach et al., 2007). No domínio III da proteína E do VEMV (Hurrelbrink & McMinn, 2001) e VEJ (Lee & Lobigs, 2000), bem como de outros integrantes do complexo da Encefalite Japonesa (Gubler et al., 2007), é reconhecido à sequência tripeptídica RGD (Arg-Gly-Asp) remanescente de um motivo integrina-ligante. Esse motivo parece estar envolvido na ligação ao receptor celular e é o maior alvo de anticorpos neutralizantes (Heinz & Allison, 2003; Crill & Roehrig, 2001). Sequências similares ao motivo RGD também ocorrem no genoma dos vírus VFA (Van der Most et al., 1999), VDEN (Chen et al., 1997b) e VTBE (Bhardwaj et al., 2001). A proteína E contém antígenos conservados grupos-específicos, que podem ser identificados pelos testes de IH e TN (Vasconcelos, 2003), determinada, principalmente pela propriedade de hemaglutinina (Casals & Brown, 1954). O teste de neutralização de redução em placa (PRNT), bem como o TN é mais específico e utilizado para identificar espécies virais (Calisher et al., 1989). Quanto à indução da resposta imune, 19 epítopos já foram caracterizados, 16 dos quais estão contidos no domínio II. A exposição 62 da maioria dos epítopos é dependente da conformação da proteína (Roehrig, 2003). Seis regiões de neutralização foram mapeadas, utilizando anticorpos monoclonais, em todos os três domínios da proteína E do VTBE, muito embora as regiões presentes no domínio III sejam fortemente bloqueadores da adsorção celular (Crill & Roehrig, 2001). 1.7.4. Proteína não-estrutural NS1 A glicoproteína NS1 (46 KDa) é translocada para dentro do RE durante a síntese e clivagem da proteína E por uma peptidase do hospedeiro (Falgout et al., 1989; Falgout & Markoff, 1995). A NS1 é formada por homodímeros e possui um ou dois sítios de glicosilação e 12 resíduos de Cis conservados que formam as pontes dissulfetos. Não se sabe ao certo como a NS1 desempenha o seu papel na síntese do RNA, entretanto, é nesta proteína que estão localizados os sítios da síntese do mesmo (Mackenzie et al., 1996). Ademais, mutações nos sítios N-ligantes da glicosilação ocasionam efeitos drásticos na síntese do RNA (Muylaert et al., 1996). A NS1 pode ser facilmente encontrada dentro das células infectadas, bem como na superfície celular e é lentamente secretada pelas células de mamíferos. Uma vez que a NS1 é altamente hidrofílica e perde o domínio transmembrana, a natureza de sua associação com a membrana ainda não é compreendida. A função da forma extracelular ainda não foi esclarecida, no entanto uma forte resposta humoral é ativada contra essa proteína e os anticorpos contra a forma da superfície celular pode induzir a lise 63 mediada por complemento, sendo por isso designada como antígeno fixador do complemento solúvel (Lindenbach & Rice, 2003), sendo detectada pelo teste de FC (Vasconcelos, 2003). Ademais, a forma extracelular foi caracterizada como o antígeno fixador de complemento presente no soro e tecidos de animais infectados, tendo o ápice de produção durante a fase aguda da infecção (Alcon et al., 2002). Anticorpos anti-NS1 específicos podem produzir a fosforilação da tirosina em proteína de células infectadas pelo VDEN, o que sugere que a NS1 pode mimetizar importantes moléculas humanas (Chang et al., 2002). A NS1 vem sendo alvo de ensaios sorológicos (ELISA) desenvolvidos para sorotipagem a nível de espécie específica, subcomplexo específica, bem como complexo-específico (Hall et al., 1995; Shu et al., 2004). 1.7.5. Proteína não-estrutural NS2A A NS2A é uma proteína pequena hidrofóbica com aproximadamente 22 KDa. A extremidade N-terminal é gerada pela clivagem NS1/NS2A por uma enzima do RE não identificada (Falgout & Markoff, 1995). A clivagem citosólica da junção NS2A/NS2B pela protease serina viral, indica uma topologia transmembrana dessa proteína. Estudos sugerem que a NS2A esteja envolvida no processo de montagem da partícula viral (Liu et al., 2003). Sítios subcelulares da NS2A interagem com a polimerase das proteínas NS3 e NS5, bem como com a 3’RNC do genoma (Mackenzie et al., 1998). Portanto, a NS2A está possivelmente associada com a coordenação da mudança do RNA 64 empacotado para o RNA a ser replicado (Khromykh et al., 2001a). Ademais, a NS2A pode agir como antagonista de interferon pela inibição de sua sinalização (Muñoz-Jordán et al., 2003). 1.7.6. Proteína não-estrutural NS2B A NS2B é uma proteína associada à membrana (12 KDa), que forma um complexo estável com a NS3, agindo como um cofator NS2B-NS3 protease serina (Falgout et al., 1991). A atividade de cofator encontra-se numa região hidrofílica central conservada com 40 resíduos (Chambers et al., 1993; Falgout et al., 1993; Leung et al., 2001), flanqueada por regiões hidrofóbicas que mediam a associação com membranas (Clum et al., 1997). Em estudos com o VKUN, um sítio de clivagem inesperado foi descoberto. Um peptídeo sinal precede o sítio de clivagem da NS2B, mas não da NS2A, entretanto ambos são clivados depois da sequência conservada ValX-Ala, onde X pode ser qualquer aminoácido, e que revela uma sequência octapeptídica relativamente conservada. Essa clivagem não-usual pode ser mediada por uma peptidase celular com uma especificidade bem definida (Speight et al., 1988). Ademais, durante a expressão da proteína do vírus amarílico 17D (VFA vacinal), a clivagem do peptídeo sinal precedente de NS4B é dependente da NS2B-NS3 protease no sítio NS2A/2K (Lin et al., 1993). 65 1.7.7. Proteína não-estrutural NS3 A NS3 é uma proteína multifuncional (70 KDa), exercendo várias atividades durante o processamento da poliproteína e da síntese do RNA. O terço N-terminal dessa proteína é o domínio catalítico do complexo NS2A-NS3 protease serina, que está localizada dentro dos primeiros 180 aa, relacionado à tríade His-Asp-Ser nas posições aminoacídicas 51, 75 e 137, respectivamente (com base na sequência da NS3 do VKUN), como sítios catalíticos (Li et al., 1999). As clivagens das junções NS2A/NS2B, NS2B/NS3, NS3/NS4A, NS4B/NS5, C/AnchC e NS4A/2k ocorre num sítio interno do complexo NS2BNS3, no qual a protease serina cliva preferencialmente após resíduos básicos adjacentes (Lindenbach et al., 2007). A região C-terminal da NS3 apresenta significante homologia com a RNA helicase do supergrupo 2. Apesar da atividade helicase ter sido demonstrada ou sugerida para muitos vírus de RNA sentido positivo, seu papel preciso na síntese do RNA ainda permanece desconhecido. Possíveis funções incluem ligações com regiões da estrutura secundária do RNA envolvidas no modelo de reconhecimento; aumento da atividade da polimerase pela eliminação da estrutura secundária, resultando em formas duplex durante o processo de síntese; e ativação com translocação para a remoção ou mudanças de ligações de proteínas para o RNA viral. Produtos clivados contidos nessa região acreditam-se formar componentes enzimáticos da RNA polimerase (Lindenbach et al., 2007). 66 A estrutura da RNA helicase apresenta três subdomínios, dois dos quais são conservados em todos os membros da família helicase e está envolvido na hidrólise de nucleosídios trifosfato e um subdomínio C-terminal, que pode estar envolvido no reconhecimento de proteínas e RNA vírus específicos (Lindenbach et al., 2007). A atividade RNA nucleosídeo trifosfatase (NTPase) e a atividade de extensão do RNA têm sido demonstradas para muitos flavivírus (Warrener et al., 1993), do mesmo modo que a atividade RNA trifosfatase (RTPase), envolvida na desfosforilação da terminação 5’ do RNA genômico antes da adição do cap tipo II. Ademais, a NS3 se liga a 3’SL em associação a NS5, tendo sua atividade RTPase aumentada na presença da NS5 (Chen et al., 1997a; Cui et al., 1998). 1.7.8. Proteína não-estrutural NS4A A NS4A é uma proteína hidrofóbica (16 KDa). Seu papel na síntese do RNA é sustentado pela co-localização dessa proteína com complexos de síntese. Ademais, esta proteína esta envolvida no rearranjo da membrana (Roosendaal et al., 2006). 1.7.9. Proteína não-estrutural NS4B A NS4B (27 KDa) é uma proteína hidrofóbica, resultante da clivagem mediada pela NS2A-NS3 protease serina entre as junções 2K/NS4B e 67 NS4B/NS5. A associação da membrana com a NS4B pode ser independente do peptídeo sinal 2K, indicando que esta proteína seja uma proteína de membrana politópica (Miller et al., 2006). A NS4B co-localiza-se juntamente com a NS3 e com a fita dupla de RNA na estrutura de membrana derivada do RE, que é presumidamente o sítio de síntese do RNA. De modo similar, a NS4A, a NS4B pode bloquear a sinalização do tipo I de interferon (MuñozJordán et al., 2005). 1.7.10. Proteína não-estrutural NS5 A NS5 é uma proteína multifuncional (103 KDa) altamente conservada tanto em tamanho como na sequência nucleotídica entre os flavivírus; apresenta atividades metiltransferase (MTase) e de RNA polimerase dependente de RNA (RdRP). A região C-terminal da NS5 exibe homologia com a MTase dependente de S-adenosil-metionina (SAM), sugerindo que essa proteína esteja envolvida na modificação do cap 5’ (Koonin, 1993). A atividade de polimerase da NS5 tem sido confirmada com NS5 recombinante (Ackermann & Padmanabhan, 2001; Guyatt et al., 2001). O complexo NS3-NS5 pode estimular as atividades NTPase e RTPase da NS3 (Cui et al., 1998) e se liga ao 3’SL do RNA genômico (Chen et al., 1997a). A NS5, especialmente a forma fosforilada, é encontrada no núcleo das células infectadas, podendo estar envolvida na ativação e secreção da interleucina-8 (IL-8), citocina envolvida com o recrutamento de células inflamatórias para o sítio de infecção, o que agrava a infecção viral (Lindenbach et al., 2005). 68 1.8. FILOGENIA E EVOLUÇÃO DOS FLAVIVÍRUS Diversos estudos filogenéticos têm possibilitado uma melhor compreensão sobre a natureza evolutiva dos flavivírus, bem como colaborado para o entendimento da epidemiologia molecular e dispersão global desses vírus (Kuno et al., 1998; Gubler et al., 2007). A comparação de sequências do gene NS5 de 71 flavivírus permitiu avaliar a relação filogenética entre esses vírus com base na divergência genética (Δdiv). Um grupo é designado com base num valor de bootstrap acima de 95% e associação comum entre hospedeiro vertebrado e vetor. Um clado é definido como um grupo de flavivírus que apresenta um valor de bootstrap a partir de 69% ou uma elevada identidade nucleotídica (Calisher et al., 1989; Zanotto et al., 1996). A espécie viral é definida como uma classe de vírus com identidade nucleotídica maior que 84%, baseada nas diferenças entre duas cepas de uma mesma espécie viral (Kuno et al., 1998; Gaunt et al., 2001). Árvores filogenéticas baseadas na sequência aminoacídica da proteína NS5 apresentaram resultados similares da análise nucleotídica com relação a subdivisões em grupos, clados e espécies virais (Kuno et al., 1998; Gubler et al., 2007). As análises filogenéticas do gene NS5 e ORF demonstraram a associação de quatro grandes grupos de associação entre os flavivírus: os flavivírus transmitidos por mosquito, por carrapatos, os agentes zoonóticos com vetores ainda desconhecidos e o flavivírus de insetos (Figura 11) (Kuno et al., 2009). DD V EE NN V-4 VD D EE NN V- 2 DD V EE NN DD V V-1 EE NN V3 SP V KK P VYF S V VA KV KO VKOK IGUV VIGU KEED VK DV ZIK V ZIK V V SUU VUSEEVJ V U J A V FLF AL U V V N UN KK V L SV LE SE V V ZG BA B VG V HH ILIL V 69 ME V VM EV KK V AR VPPO A R V OW WV Flavivírus Transmitidos Flavivírus por Mosquitos >84% >84% >84% >69% >95% >84% V K LKL D V D VA A FF G T V KK V LT K LG V KV SS MM OO V LI LIV V EV TBBE VT Flavivírus Flavivírus transmitidos transmitidos por por carrapato carrapato >69% L LV MM VM M V BB RR V MODV VMOD IV APOOI VAP >69% >69% Agentes Zoonó Agentes Agentes Zoonóticos Zoonóticos V CFAA VCF VKR KRV Tentativa Tentativa de de Flavivírus Flavivírus de de insetos insetos Figura 11 - Representação da árvore filogenética dos flavivírus, subdivididas nos quatro principais grupos: flavivírus transmitidos por mosquitos (verde), flavivírus transmitidos por carrapato (azul), agentes zoonóticos com vetor desconhecido (amarelo) – e os flavivírus de insetos (vermelho) Fonte: Adaptado de Kuno et al., 1998; Kuno et al., 2009. O grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos inclui nove clados: (i) grupo da encefalite japonesa: VKUN, VNO, VEJ, VEMV, Cacipacoré - VCPC; (ii) o grupo representado pelos vírus Kokobera (VKOK) e Strateor; (iii) o grupo constituído pelos flavivírus VBSQ, VIGU, VNJL e Aroa (VAROA); (iv) grupo Ntaya, no qual estão incluídos os flavivírus brasileiros VROC e VILH; (v) grupo do vírus Zika (VZIK); (vi) grupo do VDEN; (vii) o grupo do VFA representada pelas cepas do VFA e o vírus Sepik (VSEP); (viii) o clado que inclui três vírus de vetor desconhecido, que perderam a capacidade de serem transmitidos por mosquitos ou que não foram completamente estudados: Entebbe bat (VENT), Sokoluk (VSOK) e Yokose (VYOK); (ix) e o clado que contém os vírus Banzi (VBAN), Bouboui (VBOU), Edge Hill (VEH), Jugra 70 (VJUG), Saboya (VSAB), Wesselsbron (VWESS) e Uganda S (VUGS) (Gubler et al., 2007). Gaunt e colaboradores (2001) realizaram uma análise conjunta da sequência parcial do gene NS5 e do gene E, sugerindo a subdivisão dos flavivírus transmitidos por mosquitos, correlacionando os gêneros dos vetores Culex sp. e Aedes sp., os principais hospedeiros vertebrados (aves, roedores e primatas) e o tropismo viral nas infecções humanas (neurotrópicos e viscerotrópicos). Os flavivírus pertencentes ao grupo Aedes estão associados a doenças hemorrágicas e a hospedeiros mamíferos, enquanto que a maioria dos integrantes do grupo Culex (20 dentre os 21 vírus) é responsável por encefalites e estão associados às aves, como principal hospedeiro, e equinos. Os flavivírus transmitidos por carrapatos encontram-se divididos em dois clados (Kuno et al., 1998; Gubler et al., 2007). Estudos mostram associação dos clados dos flavivírus transmitidos por carrapatos com possíveis hospedeiros vertebrados: roedores e aves marinhas, respectivamente, no qual o VTBE encontra-se no clado associado aos roedores (Gaunt et al., 2001). Os flavivírus com vetor artrópode desconhecido apresentam relação filogenética estreita com seus hospedeiros. Portanto, o grupo dos flavivírus de vetor desconhecido foi subdividido em três clados, nos quais os dois primeiros agrupam os vírus associados a roedores e o terceiro clado agrupa vírus que estão associados a morcegos (Kuno et al., 1998; Kuno & Chang, 2005; Gaunt et al., 2001). A característica antigênica também pôde ser correlacionada à filogenia baseada nas sequências dos genes E e NS5, sendo demonstrado o 71 mesmo tipo de agrupamento observado anteriormente para a classificação dos sorocomplexos (Kuno et al., 1998; Billoir et al, 2000; Gaunt et al., 2001; Gould et al., 2001). Esses estudos enfatizam a ligação existente entre métodos filogenéticos e antigênicos (Calisher & Gould, 2003). Resultados similares quanto à subdivisão filogenética dos flavivírus baseado na análise da NS5 (Kuno et al.,1998; ICTV, 2005) foram obtidos através da análise das sequências do gene NS3, proteína E e genoma completo viral, demonstrando uma considerável conservação genética entre os flavivírus (Billoir et al., 2000; Charrel et al., 2001; Gaunt et al., 2001; Marin et al., 1995; Zanotto et al., 1995). Com relação a 3’RNC, foi demonstrada a mesma disposição organizacional para o complexo da febre amarela e o complexo dos flavivírus transmitidos por carrapatos. Entretanto, foi evidenciada uma maior proximidade genética dos diferentes genótipos do VFA com o vírus Sepik (VSEP), sugerindo uma provável origem ancestral comum desses com o grupo do VUGS (Mutebi et al., 2003). Ao se sugerir teorias evolutivas dos flavivírus devem ser levadas em consideração as relações genéticas observáveis, a ecologia individual das espécies virais em natureza e a distribuição geográfica (Gubler et al., 2007). As análises da base da relação genética entre os flavivírus sugerem que o processo evolutivo, no que tange a segregação de grupos virais, está provavelmente associada ao acúmulo de mutações ao longo do tempo, relacionadas à adaptação viral a um dado hospedeiro, culminando a uma divisão evolutiva primária (Blok et al., 1992; Monath et al., 1996; Zanotto et al., 1996; Kuno et al., 1998; Billoir et al., 2000; Cook & Holmes, 2006). O principal 72 fator que age sobre o direcionamento na evolução dos flavivírus é, provavelmente, o mecanismo de escape da resposta imune. Entretanto, deve ser ressaltado que muitos flavivírus são constantemente transferidos entre vertebrados e artrópodes e podem se readaptar em cada passagem durante as alternâncias de hospedeiros (Lin et al., 2004). Estudos mostram que a taxa de mutação ao nível de aminoácido dos vírus transmitidos por mosquitos e carrapatos é baseada no conceito de uma taxa evolutiva lenta nos vírus transmitidos por carrapatos. De fato, a estimativa da taxa de divergência aminoacídica entre os flavivírus transmitidos por mosquitos é estimado ser de 2 a 2,5 vezes mais rápida do que no grupo dos vírus transmitidos por carrapatos (Zanotto et al., 1995; Torny et al., 2005). Os primeiros trabalhos sobre filogenia e evolução dos flavivírus basearam-se na sequências dos genes E, NS3 e NS5, e evidenciaram a subdivisão desses agentes virais em dois grandes grupos: os flavivírus transmitidos por mosquitos e os transmitidos por carrapatos (Blok & Gibbs, 1995; Lewis et al., 1993; Gibbs & Blok, 1989). Posteriormente, as análises filogenéticas incluíram sequências nucleotídicas de diferentes flavivírus isolados de vertebrados com vetores artrópodes desconhecidos, e revelam a presença de um terceiro grupo filogenético: o grupo dos flavivírus zoonóticos com vetores desconhecidos (Kuno et al., 1998) De acordo com a análise do gene NS5, Kuno e colaboradores (1998) demonstraram que, primeiramente, um ancestral comum do gênero Flavivirus, não identificado, deu origem a dois grupos de vírus: os transmitidos por vetores e os flavivírus de vetor desconhecido. Posteriormente, os flavivírus 73 transmitidos por vetores foram subdivididos em flavivírus transmitidos por mosquitos e flavivírus transmitidos por carrapatos. Gould e colaboradores (2003a) complementaram essa teoria, sugerindo que os flavivírus transmitidos por vetores originaram-se a partir dos agentes zoonóticos, que se adaptaram aos artrópodes. Alguns dados suportam a hipótese de que os vírus transmitidos por carrapatos são mais primitivos do que os flavivírus transmitidos por mosquitos (Kuno & Chang, 2005), tais como os repetidos isolamentos dos flavivírus transmitidos por mosquitos, os vírus Koutango, Saboya, VNO e VFA, em carrapatos (Monath et al., 1996; Billoir et al., 2000), além do fato observado de que alguns vírus transmitidos por carrapatos podem se replicar em mosquitos (Lawrie et al., 2004a; 2004b). Zanotto e colaboradores (1996), analisando o gene E, revelaram importantes diferenças no modo de evolução dos dois grupos de flavivírus transmitidos por vetores. Árvores filogenéticas que comparam flavivírus transmitidos por mosquitos e por carrapatos mostram uma topologia assimétrica entre os dois grupos. Os flavivírus transmitidos por carrapatos segregam-se continuamente através do tempo, contrastando com a estrutura de ramificação mais balanceada dos flavivírus transmitidos por mosquitos, em que, num período relativamente longo de tempo, observou-se a intensa ramificação, seguido pela extinção de linhagens e conseqüente formação de subclados que passaram a evoluir separadamente, suportando o modelo evolutivo de “Boom and Bust”. 74 Por outro lado, o estudo evolutivo realizado por Cook & Holmes (2006), utilizando diversos métodos de alinhamento de sequências aminoacídicas (Clustal W, T-Coffee e Muscle) e análise filogenética pelo método de máxima verossimilhança (MV), demonstraram que as sequências do gene da proteína NS3 e da ORF completas indicam uma segregação precoce dos flavivírus transmitidos por mosquitos, e em separado dos vírus transmitidos por carrapatos e de vetores desconhecidos, que, por sua vez, evoluíram em associação. Anteriormente, mas seguindo a mesma linha de raciocínio, Billor e colaboradores (2000), com base nas análises filogenéticas da NS3, NS5 e ORF completas, propuseram que a posição dos clados dos agentes zoonóticos com vetores desconhecidos, flavivírus transmitidos por mosquitos e por carrapatos pode diferir de acordo com o gene que é usado na filogenia. Numa análise evolutiva envolvendo os três gêneros da família Flaviviridae, observou-se que apenas o gênero Flavivirus contém arbovírus e que alguns dos vírus mais divergentes desse gênero não são transmitidos por vetores. Este fato sugere que a condição ancestral dentro da família Flaviviridae é de que a transmissão independe de vetor e que a transmissão por vetores é uma recente adaptação evolutiva, o que suporta a teoria de que os agentes zoonótico com vetores desconhecidos foram os primeiros a divergirem dentro do gênero Flavivirus (Gould et al., 2003b). Tem sido também sugerido que esse processo evolutivo tenha ocorrido no início da Era do Gelo e que vem acompanhando o desenvolvimento da civilização humana há aproximadamente 10.000 anos (Zanotto et al., 1996; Gould et al., 2003b) 75 Quanto à evolução dentro do clado dos flavivírus transmitidos por mosquitos, análises filogenéticas mostraram que a segregação dos flavivírus associados a mosquitos do gênero Aedes é parafilética enquanto que dos flavivírus associados a mosquitos do gênero Culex é monofilética (Billor et al., 2000; Jenkins et al., 2001). Finalmente, Gaunt e colaboradores (2001) propuseram que os vírus transmitidos por Culex surgiram no Velho Mundo a partir dos flavivírus transmitidos por Aedes. 1.8.1. Filogenia, Evolução e Dispersão dos Flavivírus É sabido que os flavivírus ocorrem em todos os continentes, com exceção da Antártida. Nos continentes afetados, eles podem ter sido introduzidos muitas vezes e permanecido circulantes e estáveis em condições ambientais adversas. Entretanto, as espécies virais apresentam uma distribuição geográfica distinta (Figura 12) e sua dispersão está estritamente relacionada a: (i) infecção de diferentes hospedeiros vertebrados e/ou invertebrados; (ii) ecologia do habitat natural em que cada vírus é encontrado; (iii) condições climáticas; e (iv) impacto da urbanização e do sistema de transporte. Os dados filogenéticos ilustram claramente como a adaptação de cada vírus em hospedeiros vertebrados e invertebrados específicos influenciam na evolução viral, dispersão, epidemiologia e, possivelmente, na patogênese dos flavivírus (Gould et al., 2003b). 76 POWV MMLV VWN VMOD VFETBE VFETBE VPOW VPOW VTYU VTYU VOHF Siberian VTBE VLI VAPOI VAPOI VTBE VTBE VWN VYOK VYOK VEJ VEJ VKSI VTSE VTSE VKSI VFETBE VFETBE VIT VWN VRF VWN VRF VEJ VEJ VWN VWN VWN VDEN VDEN VFA VFA VZIK VZIK VALK VALK VKFD VKFD VEJ VEJ VSAB VSAB VUSU VUSU VWN VDEN VEJ VWN VWN VWN VSPO VSPO VEB VEB VKOU VKOU VLGT VLGT VJUQ VJUQ VEJ VEJ VBAG VBAG VBB VBB VPPB VPPB VCI VCI VUGS VUGS VYAO VYAO VSPK VSPK VDEN VDEN VNTA VNTA VALF VALF VEH VEH VDB VDB VTMU VTMU VEJ VEJ VWN VWN VKED VKED VBOU VBOU VKUN VKUN VDEN VDEN VKAD VKAD VBAN VBAN VEMV VEMV VPOT VPOT VKOK VKOK VSTR VSTR VMEA VMEA VSSE VSSE VWN VESL VCR VSP VSV VFA VFA VJUT VFA VFA VESL VESL VILH VILH VCPC VCPC VARO VARO VROC VROC VNJL VNJL VDEN VDEN VBSQ VBSQ RBV VIGU VIGU VSRE VGGY VGGY Flaviv írus írus transmitidos por mosquitos Flavivírus Flaviv írus transmitidos transmitidos por por carrapato carrapato Agentes zoóticos zoóticos com vetor desconhecido desconhecido Figura 12 – Mapa mundial ilustrando a distribuição dos flavivírus. Alguns vírus são mostrados mais de uma vez, enfatizando a ampla distribuição geográfica dos mesmos. Fonte: Adaptado de Gould et al., 2003b A filogenia dos flavivírus sugere a ocorrência de pequenas peculiaridades para a compreensão do padrão de dispersão desses vírus no mundo. A partir da hipótese de que os flavivírus transmitidos por mosquitos se originaram dos vírus transmitidos por carrapatos, foi proposto que os flavivírus surgiram na África, e ainda, que todos os flavivírus transmitidos por carrapatos e por mosquitos divergiram a partir de um ancestral comum proveniente do Velho Mundo (Gubler et al., 2007). Os flavivírus transmitidos por carrapatos parecem estar distribuídos no norte e oeste da Ásia e da Europa, e possivelmente também na América do Norte (Figura 12), com uma linhagem ancestral na porção oriental e 77 mais espécies recentes no noroeste da Eurásia (Gubler et al., 2007). Tem sido sugerido que esse complexo do VTBE tenha dado origem aos flavivírus transmitidos por carrapatos que causam encefalomielite em ovelhas e cabras e que são propagados, principalmente, via transporte de animais domésticos (Charrel et al., 2001). A ausência de vírus transmitidos por carrapatos no Novo Mundo, com uma única exceção (VPOW), se acredita ser devido à recente introdução dos flavivírus nas Américas (Gould et al., 2003b). Apesar dos flavivírus transmitidos por carrapatos apresentarem o mesmo ancestral, observa-se que esses vírus recentemente segregaram dando origem a dois clados estreitamente associadas à manutenção desses vírus entre carrapatos e roedores, bem como entre carrapatos e aves marinhas. Muitos desses flavivírus são transmitidos por diversas e diferentes espécies de carrapatos, muito embora eles possam estar mais comumente associados a uma determinada espécie. Isso explica, pelo menos em parte, como esses vírus são capazes de apresentar, simultaneamente, ampla distribuição geográfica no hemisfério norte (Gould et al., 2003b). Em contrapartida, a filogenia dos flavivírus transmitidos por mosquitos mostra uma descontinuidade no padrão evolutivo, com muito menos confinamento geográfico e freqüente extinção de linhagens (Cook & Holmes, 2006; Gould et al., 2003b; Zanotto et al., 1996). Como consequência, os humanos foram expostos a uma crescente diversidade de cepas de flavivírus transmitidos por mosquitos. Esse padrão da dispersão viral pode ser derivado de um período de vida relativamente curto dos mosquitos (mensurado em dias ou semanas), bem como de outros fatores que diferenciam os mosquitos dos 78 carrapatos, tais como: (i) o número de repasto sanguíneo durante o período de vida e o volume de sangue ingerido; (ii) o número de hospedeiros vertebrados envolvidos; (iii) a mobilidade desses vetores, que é maior para os mosquitos em relação aos carrapatos; e (iv) a freqüência da transmissão vertical (Zanotto et al., 1996; Gould et al., 2003b; Lin et al., 2004). Ademais, as atividades humanas têm demonstrado um importante papel para a dispersão dos flavivírus transmitidos por mosquitos, tal como foi visto para o vírus amarílico e a sua dispersão do Velho Mundo para o Novo Mundo, através do tráfico de escravos (Bryant et al., 2007), além da disseminação global do VDEN (Twiddy et al., 2003). No grupo dos agentes zoonóticos com vetores artrópodes desconhecidos, tanto os flavivírus associados a roedores quanto os associados a morcegos são equivalentemente encontrados no Velho e no Novo Mundo, (Karabatsos, 1985). A presença desses flavivírus tanto no Novo Mundo quanto no Velho Mundo implica que esses vírus foram amplamente dispersos logo após a emergência dos mesmos (Gubler et al., 2007). A emergência e a dispersão dos agentes zoonóticos têm sido claramente ditadas pelos roedores e morcegos, que estão associados a esses vírus e o sucesso de sua permanência em natureza, vem do fato que tanto os roedores quanto os morcegos se agrupam em grande número de indivíduos, promovendo excelentes condições para a transmissão entre os hospedeiros. Apesar do número limitado de isolamentos desses vírus, evidências sugerem que muitos desses vírus ocupam áreas geográficas distintas, provavelmente, devido à estreita dependência das espécies de roedores ou de morcegos. 79 Ademais, roedores e morcegos infectados pelos agentes zoonóticos são capturados aparentemente saudáveis, sugerindo que esses vírus infectam o hospedeiro persistentemente, com baixos níveis de replicação viral e, consequentemente, que o movimento global dos vírus resulta ser relativamente baixo (Gould et al., 2003b). 1.9. RECOMBINAÇÃO ENTRE FLAVIVIRUS A suspeita da ocorrência de recombinação entre os flavivírus surgiu a partir de análises individuais de diferentes genes, onde se observa frequentes mudanças na topologia da árvore filogenética para alguns vírus (Billor et al., 2000; Gaunt et al., 2001; Gould et al., 2003b). Uma segunda evidência da recombinação é a cerca da possibilidade de que fenótipos virais podem ser alterados como resultado de recombinações, o que pode ter permitido o aumento da virulência para hospedeiros mamíferos ou mesmo resultar na alteração da especificidade do vetor artrópode (Gould et al., 2003b). Ao se avaliar a possibilidade da ocorrência de recombinação, os flavivírus exibem alguns fatores que propiciam esse processo: (i) a dispersão global dos flavivírus e a sobreposição geográfica e ecológica de diversos desses vírus em diferentes regiões do mundo; (ii) carrapatos e mosquitos permanecem infectados por flavivírus durante todo o ciclo de vida, realizando o repasto sanguíneo, e isso possibilita a exposição a um segundo vírus; e (iii) ocorrência de epidemias e infecções crônicas dos hospedeiros vertebrados - 80 por exemplo, infecção crônica de humanos pelo VTBE (Gritsun et al., 2003) e infecção de aves pelo VNO ou VESL (Gubler et al., 2007). Alguns estudos de filogenia em que genótipos são identificados e às vezes correlacionados com doenças severas sugerem que a evolução dos flavivírus seja clonal e que a divergência é gerada pelo acúmulo de mutações (Chen et al., 1990; Leitmeyer et al., 1999; Rico-Hesse, 1990). Por outro lado, as análises das árvores filogenéticas individuais utilizando genes de qualquer parte do genoma ou mesmo o genoma completo são relativamente congruentes, o que implica em sugerir que a recombinação entre os flavivírus ocorre entre vírus relativamente próximos (Gould et al., 2003b). De fato, recombinações homólogas foram demonstradas para os quatro sorotipos do VDEN (Holmes et al., 1999; Worobey et al., 1999; Tolou et al., 2001; Uzcategui et al., 2001), bem como para cepas de VNO, VFA, VEJ, VESL e complexo VTBE (Twiddy & Holmes, 2003), mostrando o importante papel da recombinação no processo evolutivo dos flavivírus. 1.10. FLAVIVÍRUS BRASILEIROS EM ESTUDO 1.10.1. Vírus Bussuquara O VBSQ foi isolado em 1956, na floresta do antigo Instituto Agronômico do Norte (IAN), hoje EMBRAPA, município de Belém, Estado do Pará, a partir do sangue de um macaco sentinela da espécie Alouatta belzebul, 81 tendo sido caracterizado antigenicamente como integrante do Grupo B dos flavivírus, com base nos resultados obtidos por testes sorológicos de FC e IH (Gomes & Causey, 1959; Karabatsos, 1985). O VBSQ tem sido freqüentemente isolado na Amazônia brasileira em roedor silvestre Proechimys guyannensis, bem como em mosquitos culicídeos no Panamá e na Colômbia (Galindo et al., 1966; Vasconcelos et al., 1998). Apenas um relato de infecção humana foi descrita por Srihongse & Johnson (1971), no qual o paciente apresentou um quadro febril agudo, acompanhado por anorexia, cefaléia e artralgia. Até o presente não houve registro de surtos (Figueiredo, 2000). 1.10.2. Vírus Iguape O Vírus Iguape (VIGU) foi isolado a partir de camundongo sentinela exposto à picada de artrópodes na mata Atlântica do município de Iguape, Estado de São Paulo, sudeste brasileiro, em 1979 (Coimbra et al., 1999). Antigenicamente, foi classificado como integrante do Grupo B, sendo portanto um flavivírus. Nenhum caso de infecção humana foi associado ao vírus até o momento (Figueiredo, 2000). 1.10.3. Vírus Ilhéus O VILH foi originalmente isolado a partir do lote misto de Aedes sp. e Psorophora sp. capturados no município de Ilhéus, estado da Bahia, em 82 1944 (Laemmert & Hughes, 1947; Karabatsos, 1985). Em 1957, o primeiro isolamento do VILH em humanos foi obtido a partir de uma paciente que apresentava quadro febril (Causey et al., 1961). Subsequentemente, esse vírus foi isolado de humanos e de vertebrados silvestres (morcegos e aves) em diferentes países da América do Sul e Central, no entanto nenhum surto atribuído ao VILH foi registrado (Vasconcelos et al., 1998), embora haja uma considerável soroprevalência para o VILH em muitos países tropicais, o que sugere que a maioria das infecções pelo VILH é inaparente ou subclínicas (Pinheiro et al., 1986; Pinheiro, 1994; Figueiredo, 2000). Nos ciclos biológicos de manutenção onde atuam diversas espécies de artrópodes, têm papel como vetor a espécie Psorophora ferox, identificada como vetor primário na Amazônia brasileira, Colômbia, Panamá e Trinidad. Outras espécies do gênero Psorophora e o Aedes serratus parecem atuar como vetores secundários. Vários grupos de animais, tais como morcegos, aves silvestres, macacos e eqüinos parecem atuar como hospedeiros vertebrados. A infecção de humanos parece ser fortuita e decorrente da exposição em áreas silvestres (Travassos da Rosa et al., 1997; Vasconcelos et al., 1998). VILH e VROC são antigenicamente relacionados, observando-se frequentemente reação sorológica cruzada entre estes vírus nos testes de IH. A infecção por um deles só pode ser determinada com precisão utilizando o TN (Vasconcelos et al., 1998). Sendo relacionado ao VROC, o VILH apresenta potencial encefalitogênico. O espectro clínico varia desde infecções assintomáticas até quadro de encefalite. No entanto, a maioria absoluta dos 83 casos de VILH registrados caracterizou-se por quadros febris, com evolução média de três dias (Vasconcelos et al., 1992; 1998). A doença apresenta início súbito, com febre moderada ou elevada, por vezes acompanhada de cefaléia, calafrios, fotofobias, artralgia, mialgias e astenia, sendo a recuperação completa sem sequelas (Vasconcelos et al., 1992; Travassos da Rosa et al., 1997; Figueiredo, 2000). Depois dos vírus VDEN e VFA, o VILH é o flavivírus com maior soroprevalência pelo teste de IH na Amazônia brasileira. Ressalta-se, no entanto, que o isolamento viral em amostras humanas é muito difícil em virtude da maioria dos casos ocorrerem como infecção assintomática ou oligoassintomática e apresentar curto período de viremia (Pinheiro et al., 1986; Vasconcelos et al., 1998). A distribuição geográfica do vírus é ampla no Brasil e anticorpos específicos para o VILH têm sido detectados na população do Vale do Ribeira, estado de São Paulo (Iversson et al., 1982) 1.10.4. Vírus Rocio O VROC foi isolado pela primeira vez em 1975 no litoral sul do estado de São Paulo, na região do Vale do Ribeira, a partir de tecidos de cerebelo e medula espinhal de caso fatal de encefalite (Lopes et al., 1978a; 1978b; Karabatsos, 1985). Sorologicamente, o VROC está relacionado aos vírus VILH, VESL, VEJ, e VEMV (Lopes et al., 1978a; 1978b; Iversson et al., 1988; Vasconcelos et al., 1998). 84 O VROC foi amplamente distribuído no Vale do Ribeira, tendo sido endêmico na região no período de 1973 a 1980. Desde a epidemia ocorrida entre 1975-1976 (Tiriba et al., 1976; Lopes et al., 1978a; 1978b), vários casos fatais adicionais foram registrados em 1985, caracterizados por encefalite severa e associados à baixa resposta imune (Iversson, 1988; Iversson et al., 1989; Figueiredo, 2000). Fora da área epidêmica, cinco casos de infecção pelo VROC foram diagnosticados no estado do Paraná, numa região próxima ao Vale do Ribeira (Iversson, 1988) e oito casos como sorologia positiva para o VROC foram diagnosticados em quatro municípios do estado da Bahia (Straatmann et al., 1997). Os principais sintomas gerais associados à infecção pelo VROC são febre elevada de início súbito, cefaléia, anorexia, náuseas, vômito e mialgia. O quadro encefalítico aparece tardiamente, acompanhado por convulsões, distúrbios dos reflexos superficiais, flacidez motora, irritação meníngea e síndrome cerebelar. Alguns pacientes apresentam distensão abdominal e retenção urinária. A infecção pode causar sérias seqüelas neurológicas tais como distúrbios visuais, olfatórios e auditivos, falta de coordenação motora, distúrbio do equilíbrio e da marcha, inconsciência e graves apresentaram seqüelas severas (Figueiredo, 2000). O ciclo de manutenção viral com base em raros isolamentos parece incluir aves silvestres (Zonothrichia capensis), roedores e o mosquito Psorophora ferox, no entanto, devido à falta de consistência de isolamentos e dados sorológicos, necessita ser melhor esclarecido (Lopes et al., 1978a; 1978b; Vasconcelos et al., 1998). Por outro lado, a susceptibilidade do 85 mosquito Aedes scapularis à infecção oral com o VROC, sua habilidade de transmitir o vírus experimentalmente, e a sua abundância e estrita associação com o homem na zona epidêmica, torna essa espécie suspeita de ter também atuado como vetor durante as epidemias ocorridas entre 1975-1976, embora nenhum isolamento do VROC tenha sido obtido em natureza dessa espécie de mosquito (Forattini et al., 1985). 1.11. RELEVÂNCIA Muitos flavivírus são agentes virais, que em um contexto mundial, são considerados importantes patógenos humanos e com grande impacto em termos de saúde pública. De fato, vários flavivírus são responsáveis por considerável morbidade e mortalidade em humanos, bem como uma diversidade clínica que compreende desde quadros febris agudos, encefalites e síndromes hemorrágicas (Vasconcelos et al, 1998; Barrett, 2001). A grande variedade de vetores hematófagos e hospedeiros vertebrados silvestres naturais, aliado às intensas atividades antrópicas com alterações importantes no ambiente natural, tem proporcionado o aparecimento de casos isolados, surtos, epidemias, bem como a emergência e reemergência de flavivírus patogênicos para seres humanos (Srihongse & Johnson, 1971; Travassos da Rosa et al, 1997; Vasconcelos et al, 1998; Lanciotti et al., 1999; Monath, 2001; Gubler, 1997). 86 A complexidade das interações dos flavivírus com os diferentes ecossistemas existentes, bem como o amplo espectro clínico impulsionaram vários estudos voltados para o entendimento da epidemiologia molecular desses agentes virais. Os resultados até então obtidos vêm permitindo determinar a origem evolutiva, a correlação entre os dados epidemiológicos e sorológicos com as características genéticas (Kuno et al., 1998; Gaunt et al., 2001), bem como diferenciar genotipicamente as espécies virais e, também, associar as divergências genéticas à gravidade das doenças (Gubler, 1997), Entretanto, esses estudos têm sido realizados pontualmente e com poucos flavivírus. De fato, a identificação de pelo menos sete genótipos do vírus amarílico circulantes na África (cinco) e nas Américas (dois) e as diferenças genéticas observadas entre esses genótipos têm gerado informações, que podem explicar, por exemplo, a maior ou menor patogenicidade para o homem (Mutebi et al., 2002; Vasconcelos et al., 2004). A existência de diferentes populações genotípicas do VDEN, exibindo diferenças filogenéticas, também já foi associada à maior ou menor gravidade das manifestações clínicas durante epidemias de FHD (Gubler, 1997; King et al., 2008). Portanto, a exemplo dos intensos estudos genéticos sobre os VDEN, VFA e VNO, desenvolver um estudo molecular amplo com os flavivírus brasileiros VBSQ, VIGU VILH e VROC, envolvendo o sequênciamento completo do genoma, a análise das sequências nucleotídicas e aminoacídicas, bem como análise evolutiva, provavelmente, proporcionará um melhor entendimento da estrutura genômica desses vírus e, ao mesmo tempo, gerar 87 informações sobre possíveis sítios antigênicos presentes, patogênese e aspectos evolutivos. Finalmente, os dados obtidos poderão ser utilizados em estudos sistemáticos, bem como para o desenho de iniciadores específicos que poderão ser empregados no desenvolvimento de técnicas moleculares para o diagnóstico rápido dos mesmos, contribuindo para futuros programas de monitoramento desses flavivírus. 1.12. OBJETIVOS 1.12.1. Objetivo Geral Realizar a caracterização molecular do genoma completo dos flavivírus brasileiros Bussuquara, Iguape, Ilhéus e Rocio. 1.12.2. Objetivos Específicos • Sequenciar a região codificadora, bem como as regiões não codificantes 5´ e 3´ do genoma dos flavivírus Bussuquara, Iguape, Ilhéus e Rocio, identificando as semelhanças e diferenças genéticas entre os vírus em estudo; • Demonstrar a estrutura secundária do RNA dos vírus Bussuquara, Iguape, Ilhéus e Rocio e comparar suas estruturas e sequências conservadas com as de outros flavivírus; 88 • Identificar os sítios de clivagem, resíduos de cisteína e sítio de glicosilação nas sequências de aminoácidos das poliproteínas dos flavivírus Bussuquara, Iguape, Ilhéus e Rocio; • Identificar os domínios e os motivos conservados das proteínas E, NS3 e NS5 dos flavivírus Bussuquara, Iguape, Ilhéus e Rocio • Realizar a análise filogenética com base nos genes estruturais e não-estruturais, promovendo a comparação da região codificante, bem como gene por gene desses vírus com outros flavivírus; 89 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 AMOSTRAS Para este estudo foram utilizadas as amostras dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC (Quadro 4) provenientes do acervo da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas (SEARB) do Instituto Evandro Chagas (IEC), conforme o termo de consentimento em anexo (ANEXO I), em parceria com a equipe do Dr. Goro Kuno, da Divisão de Doenças Infecciosas Transmitidas por Vetores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Fort Collins, Colorado, EUA. Quadro 4 – Amostras virais utilizadas neste estudo, mostrando o número de registro da cepa, amostra biológica de origem e número de passagens. Vírus VBSQ VIGU VILH VROC Cepa BE AN 4073 SP AN 71686 BE H 7445 SP H 34675 Amostra de origem Sangue de Alouatta belzebul Vísceras de camundongo sentinela Sangue de caso humano febril** Encéfalo de caso de encefalite humana Ano de isolamento 1956 1979 1957 1975 Estoque inicial* Passagem* Liofilizado de cérebro de camundongo Cérebro de camundongo Liofilizado de cérebro de camundongo Cérebro de camundongo * amostras utilizadas no estudo; ** paciente procedente de uma colônia japonsesa do bairro do Guamá em Belém, Pará. 9ª 5ª 4ª 5ª 90 2.2. PROPAGAÇÃO VIRAL EM CÉLULAS VERO As amostras virais liofilizadas ou de suspensão de cérebro de camundongos infectados foram propagadas em cultivos celulares mediante a inoculação das suspensões virais em garrafas de 175 cm2 contendo monocamadas confluentes de células VERO (células de rim de macaco verde africano) mantidas em meio de manutenção Minimum Essential Medium (MEM,Sigma) enriquecido com soro bovino fetal a 2%. As culturas infectadas foram examinadas diariamente até a observação de efeito citopático (ECP) em 70 a 75% da área da monocamada celular, quando então o sobrenadante das culturas infectadas foram colhidos e usados para a obtenção do RNA viral. 2.3. EXTRAÇÃO DO RNA VIRAL A obtenção do RNA viral a partir das culturas infectadas foi feita mediante a aplicação do método do reagente TRIZOL LS (Invitrogen) e, alternativamente, empregando o kit comercial QIamp Viral RNA Mini kit (Qiagen), seguindo estritamente as instruções dos fabricantes. O RNA obtido foi então usado imediatamente para a obtenção do cDNA ou mantido em estoque à –70ºC até o uso. 91 2.4. TRANSCRIÇÃO REVERSA SEGUIDA DA REAÇÃO EM CADEIA MEDIADA PELA POLIMERASE (RT-PCR) A técnica de RT-PCR foi feita em duas etapas, primeiro a Transcrição reversa (RT) seguida da reação em cadeia mediada pela polimerase (PCR), com base nos protocolos descritos por Chang (1997) e Kuno & Chang (2005), utilizando os iniciadores descritos no Quadro 5. O cDNA referente à região entre o término 5’ do genoma e a região conservada CS2 da 3’RNC dos flavivírus foi obtido pela técnica de RT, utilizando o iniciador VD8 (Pierre et al. , 1994) (Figura 13). Iniciadores adicionais específicos para os quatro vírus em estudo foram desenhados, com base nas sequências geradas pelo protocolo de Chang (1997) e Kuno & Chang (2005), para complementar as sequências genômicos dos flavivírus, bem como para confirmar as sequências obtidas. Estrutural Não-estrutural 5’RNC C PrM E NS1 2A 2B NS3 4A 4B NS5 3’RNC Figura 13 – Esquema da estratégia de amplificação do genoma (RT-PCR) e seqüenciamento nucleotídico estabelecida por Chang (1997) e Kuno & Chang (2005). Em azul, destacam-se os iniciadores utilizado pelo protocolo 5’RACE e 3’RACE, a seta “←” indica o iniciador VD8 descrito por Pierre e colaboradores (1994). 92 Quadro 5 - Iniciadores utilizados para a técnica de RT-PCR e sequenciamento nucleotídico (Chang, 1997; Kuno & Chang, 2005). Localização genômica Motivos (sequência de aminoácido) Capsídio Envelope Direção do Iniciador Senso ATGWCTAARAAACCAGGA Senso TCAATATGCTRAAACGCGG DRGWGNGC Senso GAYMGWGGVTGGGGHAAYGGVTG GLFGKGS Reverso GGMYTKTTYGGDAARGGRAGC GHLKCRV Senso GGMCAYSTBWMYTGTMGVSTG PFGDSYIV Senso CCSTTYGGWGAYTCNTACATHGT Reverso NS1 NS3 NS5 Sequência dos Iniciadores (5’Æ3’) TCCYCTKCCHACYACDATGTA DTAWDFGS Senso GAYACDGCBTGGGAYTTTGGMTC GCWYGMEI Senso GGHTGTTGGTAYGGMATGGA YGMEIRP Senso TAYGGMATGGARAYHMGRCC GTSGSPI Senso GGMACDTCNGGHTCNCCHAT GLYGNG Senso GGNCTNTAYGGNAAYGG LAPTRVV Senso YTRGCDCCNACNMGRGTNGT DVMCHATF Senso GAYGTSATGTGYCAYGCHAC MDEAHF Senso ATGGAYGARGCHCAYTT SIAARGY Senso AGYATMGCNGCHMGAGG MTATPPG Senso ATGACNGCVACNCCNCCNGG ISEMGAN Senso ATHTCNGARATGGGDGCVAA SAAQRRGR Senso WSYGCWGCBCARAGRMGRGGVMG DLGCGRG Senso GAYCTNGGNTGYGGNMGNGG SRNSTHEMY Senso TCAAGGAACTCCACACATGAGATGTACT NMMGKREKK Senso TACAACATGATGGGAAAGAGAGAGAA ADDTAGWDT Senso GCTGATGACACCGCCGGCTGGGACAC Reverso GTGTCCCAGCCGGCGGTGTCATCAGC Reverso AGCATGTCTTCCGTGGTCATCCA Reverso GGGTCTCCTCTAACCTCTAG WMTTEDML 3RNC/ CS2* Legenda : * iniciador VD8 descrito por Pierre et al., 1994 ; bases degeneradas D,B, H, K, M,N, W, Y,R,T ver Anexo III 93 A desnaturação do RNA viral a 94ºC por 2 minutos, foi seguida da realização da etapa de RT, cuja mix conteve 5 µL do tampão de RT (5X), 1 µL de mix de deoxinucleotídeo (dNTPs - 10mM), 1 µL (6 U) da enzima transcriptase reversa (Superscript II, Invitrogen), 1 µL do iniciadores reversos (100 µM), 5 µL do RNA viral desnaturado, completando a reação para 20 µL com água deionizada livre de RNase e DNase (Invitrogen). A RT ocorreu em um único ciclo a 42ºC por 1 hora. A PCR foi realizada empregando o kit Expand Long Template PCR System (Roche), no qual uma alíquota de 10 µL do cDNA obtido da etapa de RT foi processada em uma reação contendo: 10 µL do Tampão de PCR (10X), 2 µL de dNTP mix, 1 µL de cada iniciador, senso e reverso (50 µM), 2 µL da DNA polimerase (Platinum Taq polimerase, Invitrogen), para uma reação final para 100 µL. O termociclador foi programado para um ciclo de 94°C-1 min/50°C-1 min/68°C-5 min; três ciclos de 94°C-20 sec/50°C-1 min/68°C-4 min; dez ciclos de 94°C-20 sec/50°C-30 sec/68°C-4 min e um ciclo de extensão final a 68°C por 7 min. As 5’RNC e 3’RNC foram amplificadas com auxílios do kits 5’RACE e 3’RACE (Invitrogen, Life Technologies), respectivamente, segundo o protocolo do fabricante (Figura 14), para os quais foram desenhados iniciadores específicos para os flavivírus em estudo (Quadro 6). Os amplicons obtidos foram observados em gel de agarose 1,5% corado com brometo de etídio (10 mg/mL), utilizando transiluminador com luz UV (Vilber Lourmat). 93 (B) 5’ RACE (A) 3’RACE RNAm 5’ RNAm 5’ (A)n Anelamento do primeiro iniciador específico do vírus ao RNAm (A)n Produção do cDNA ao RNAm utilizando a SuperscriptTM II RT GSP1 5’ 3’ 3’ Anelamento “Adapter Primer (AP) Para o RNAm AP 5’ 3’ AAA...AAAn TTT...TTT 5’ Extensão do AP usando a SuperscritTM II RT 3’ TTT...TTT 5’ Degradação do RNA molde usando a RNase H TTT...TTT 5’ Purificação do cDNA com a coluna GlassMax Sinp 5’ AAP GI...IG 3’ CC...CC 5’ Degradação do RNAm pela RNase mix 5’ 3’ CC...CC Calda poli(A) AAA...AAAn TTT...TTT 5’ GSP2 UAP Amplificação por PCR da calda C utilizando o iniciador ancora abrangente (AAP) e o segundo iniciador específico do vírus (GSP2) GSP1 3’ Amplificação do cDNA por PCR usando o iniciador específico para o vírus (GSP1) e o iniciador universal (UAP) ou o iniciador universal abrangente (AUAP) UAP AUAP AUAP 5’ 3’ 3’ 5’ GI...IG CC...CC GSP3 Nested-PCR utilizando o terceiro iniciador específico do vírus (GSP3) GSP2 5’ 3’ 3’ 5’ UAP Nested-PCR usandos iniciadores UAP ou AUAP e o segundo iniciador específico para o vírus (GSP2) AUAP Figura 14 – Esquema do protocolos 5’RACE (A) e 3’RACE. Fonte: adaptado do protocolo do fabricante (Invitrogen). Os iniciadores em azul são iniciadores disponíveis nos kits, enquanto os iniciadores em azul estão demonstrado no Quadro 6. 94 95 Quadro 6 – Iniciadores específicos para os flavivírus brasileiros utilizados no protocolo 5’ RACE e 3’RACE 5’RACE Vírus VBSQ VIGU VILH VROC iniciador Sequência Tm (oC) GP1 CAGACAAGCGGTCAACAGCA 63,59 GP2 TGCTCTCAACGGAGCGTTTT 63,29 GP3 CCAGCATGCTTCCAATCTCC 63,01 GP1 TTCCGGTTTGGAAACACAATG 62,9 GP2 AGTCCGTGCAGTCCACGTTT 63,5 GP3 TGGATCATCGAGCCAAGTTGT 62,91 GP1 CGACCGCTGTGATCATGGTA 63,06 GP2 TCCTTGCGCTTGTTGACTGA 63,07 GP3 TTGTTGACAGAACGCCATCG 63,19 GP1 GATTGACATCAAAACTTTGCCTTG 62,01 GP2 AAGCGCGATCCAAAGTAGCA 63,18 GP3 TGGCCTTCCGTCTATTGATGA 62,78 3’RACE Vírus VBSQ VIGU VILH VROC iniciador Sequência Tm(oC) GP1 GTCTGGAACAGAGTGTGGAT 54,89 GP2 ATATTTGGGAAAAAGGGAAG 54,64 GP1 TGAGAGACTGGAAGGAAGTG 55,42 GP2 GAAGCCTTATTGGTTACCG 54,92 GP1 GTCTGGATTGAGGACAATGA 55,92 GP2 GGACTGACATCCCCTACAT 54,57 GP1 GTGGAACAGAGTGTGGATCT 54,89 GP2 GACTGACGTCCCCTACATT 54,85 Tm = temperatura de melt 96 2.5. SEQUENCIAMENTO NUCLEOTÍDICO Os cDNAs obtidos foram purificados usando o kit comercial GFXTM PCR DNA and Gel Band Purification kit (GE healthcare). As sequências dos flavivírus estudados foram obtidas em sequenciador automático modelo ABI 377 (Applied Biosystems) empregando o método de terminação de cadeia descrito por Sanger e colaboradores (1977). A estratégia de sequenciamento foi a mesma descrita por Kuno & Chang (2005). Na reação de sequenciamento foram utilizados 4 μL de Terminator ready reaction mix, 2 μL (80 ng) do produto de PCR purificado e 3,2 pmoles de oligonucleotídeos, ajustados com água livre de RNase e DNase para um volume final de 10 μL. A amplificação foi realizada em termociclador (GeneAmp PCR Systems 9600, Applied Biosystems), usando um programa específico que consiste de 25 ciclos, cada um composto por etapas de desnaturação a 96ºC por 10 segundos, anelamento dos iniciadores a 50 ºC por 5 segundos e extensão a 60 ºC por 4 minutos. O produto final foi precipitado com a adição de 80 µL de isopropanol 75% (álcool isopropílico, Merck). A mistura foi agitada, incubada por 20 minutos a temperatura ambiente e centrifugada a 14.000 rpm por 25 minutos. Ao final, o sobrenadante foi retirado e desprezado, e em seguida o precipitado foi lavado com 250 μL de etanol a 70% e centrifugado a 12.000 rpm por 5 minutos. O sobrenadante foi descartado e o precipitado foi incubado a 90ºC por 2 minutos para a completa evaporação do etanol. O precipitado foi então reconstituído em 5 μL de solução de formamida (Amresco) deionizada, 97 na proporção de 5:1 com azul dextran/EDTA (Applied Biosystem), aquecido a 95 ºC por 3 minutos e submetido à eletroforese no sequenciador automático. 2.6. ALINHAMENTO DAS SEQUÊNCIAS NUCLEOTÍDICAS As sequências nucleotídicas foram montadas pelo programa SeqMan™ II, versão 5.03 (DNASTAR ® Lasergene, EUA). Este software também foi utilizado para indicar a ORF relacionada à poliproteína dos vírus em estudo, bem como determinar as regiões 5’RNC e 3’RNC. O alinhamento das sequências obtidas juntamente com sequências de outros flavivírus (Quadro 7) foi feito pelo programa Clustal W (Thompson et al., 1997), implementado pelo programa BioEdit versão 5.0 (Hall, 2001), e ajustadas manualmente. 98 Quadro 7- Sequências do genoma completo dos 32 flavivírus utilizados para o alinhamento e filogenia neste estudo. ISOLAMENTO VÍRUS SIGLA ANO HOSPEDEIRO LOCAL Austrália Vírus Alfuy VALFUY 1966 Vírus Apoi VAPOI 1954 Centropus plasinius Apodimus sp Clethrionomys sp Vírus Bagaza VBAG 1966 Mixed cullex Vírus Bussuquara Vírus cell fusion agent Vírus da encefalite japonesa Vírus encefalite Murray Valley Vírus da encefalite Saint Louis Vírus da febre amarela Vírus dengue sorotipo 1 Vírus dengue sorotipo 2 VBSQ VCFA 1956 1999 Alouuatta belzebul mosquitos Bagaza República Central Brasil Kenya VEJ 1935 Humano VEMV 1951 VESL ApMAR NC003676 DakAr B209 NC012534 BeAn 4073 ? NC009026 NC001564 Tokyio, Japão ? NC001437 Humano Victoria/AS ? NC000943 1933 Humano Missouri/EUA Kern217 NC007580 VFA VDEN1 VDEN2 1927 1944 1944 Humano Humano Humano ? ? 16681 NC002031 NC001477 NC001474 Vírus dengue sorotipo 3 VDEN3 1956 Humano ? NC001475 Vírus dengue sorotipo 4 VDEN4 1956 Humano ? NC002640 VIGU 1979 Camundongo sentinela África Hawai Nova guiné Tanda Filipinas Quezon Filipinas São Paulo SP AN 71686 NC009027 BE H 7445 NC009028 NC005064 NC012533 Vírus Iguape Vírus Ilhéus Vírus Kamiti river Vírus kedougou VILH VKR VKED 1944 ? ? Ae. psorophora Ae. macintoshi ? Vírus kokobera VKOK 1960 Culex annulirostris Vírus Langat VLGT 1956 Ixodes granulatus Vírus Louping ill VLI 1929 Ovis ovis (ovelha) Peromyscus mampulatus Japão GENBANK NUMERO CEPA DE ACESSO MRM-3929 AF013360 Ilhéus/BA Kenya Senegal Norte Queensland/AS Malásia Escócia NC009029 TP21 NC003690 369/T2 NC001809 M544 Vírus Modoc VMOD 1958 Vírus Montana miotis leukoencefalite Vírus do Nilo Ocidental Vírus omsk hemorrhagic fever VMML 1958 Myotis lucifugus Montana ? NC004119 VNO 1937 Humano Original EU074020 VOHF 1947 Humano Bogoluvovska NC005062 Vírus powassan VPOW 1958 Humano Uganda OMSK oblast Rússia Ontário Canadá LB NC003687 Vírus Rio Bravo VRB 1954 Califórnia RiMAR NC003675 Vírus rocio VROC 1975 Tadarida brasiliensis mexicana Humano SP H 34675 AF013397 Vírus sepike VSEP ? mosquitos São Paulo Papua Nova Guiné MK7148 NC008719 Vírus tick-borne encefalite Vírus Usutu VTBE 1975 ? ? ? NC001672 VUSU 2001 Pássaro negro Áustria Vienna 2001 NC006551 Vírus Wesselsbron VWES ? ? África do Sul SAH177 NC012735 VZIK ? Macaco sentinela Uganda MR 766 NC012532 Vírus zika California SR-82 DakAar D1470 AusMRM 32 NC003635 99 2.7. IDENTIFICAÇÃO DOS MOTIVOS CONSERVADOS, SÍTIOS DE CLIVAGEM, SÍTIOS DE GLICOSILAÇÃO E RESÍDUOS DE CISTEÍNA NA POLIPROTEÍNA, Os sítios de clivagem da poliproteína dos flavivírus em estudo foram identificados seguindo o esquema de processamento proteolítico em cascata para ORF dos flavivírus previamente descrito por Rice e Strauss (1990). As junções do capsídio intracelular e pre-membrana (Ci/prM), prM e envelope (prM/E), proteína E e a proteína não estrutural NS1 (E/NS1) foram determinadas com base no escore de maior potencial de clivagem para signalase da célula hospedeira, utilizando o programa Signal PNN (http://www.cbs.dtu.dk/services/) (Chang et al., 2000). Os sítios de glicosilação e resíduos de Cisteína foram determinados pelos programas NetNglyc (versão 1.0) (http://www.cbs.dtu.dk/services/) e Protean (versão 5.03) (Lasergene, DNASTAR ®), respectivamente. Para a identificação dos principais domínios das proteínas E, NS3 e NS5 foram realizadas análises de similaridade em bancos de dados biológicos secundários (também conhecidos como bancos de dados de padrões ou de assinaturas) que determinam as funções específicas de proteínas. Tais análises de domínios protéicos foram realizadas no banco de dados INTERPRO através da ferramenta Interproscan (http://www.ebi.ac.uk/ Tools/InterProscan). O INTERPRO alberga vários bancos de dados de domínios, motivos e famílias protéicas, tais como: ProDom, SMART, TIGRFAMS, Pfam, SUPERFAMILY, PANTHER e SignalPHMM, diminuindo assim a redundância de dados e aumentando a acurácia da predição. Os 100 resultados dessas análises corroboram a identificação de proteínas nãoredundantes como também direcionam na inferência de função de proteínas espécie-específicas. Os motivos conservados das proteínas E, NS3 e NS5 foram verificados no alinhamento as sequências aminoacídicas entre os vírus em estudo e os demais flavivírus, com base nos achados da literatura (Kamer & Argos, 1984; Koonin, 1991; Chang, 1997; Gorbalenya et al., 1989; Matusan et al., 2001; Zhou et al., 2007; Seligman, 2008). 2.8. ESTRUTURA SECUNDÁRIA DAS 5’RNC/ 3’RNC E CICLIZAÇÃO DO RNA VIRAL A estrutura secundária ao nível da 3’RNC e formação de alças entre os términos 3´RNC e 5´RNC foram determinadas pelo programa MFOLD 3.0 (Zuker et al., 1999) (http://mfold.burnet.edu.au/). Os primeiros 200 nt no terminal 5’ e toda a sequência nucleotídica do terminal 3’RNC após o códon de parada do gene NS5 foram utilizados na análise, bem como os dois terminais 3’ RNC e 5’ RNC para a construção da estrutura secundária de ciclização do RNA viral, similar ao estudo proposto por Khromykh e colaboradores (2001b). 101 2.9. DETERMINAÇÃO E ANÁLISE DE SIMILARIDADE (BOOTSCANING) DA REGIÃO CODIFICANTE Inicialmente, as regiões codificantes dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC foram identificadas utilizando o programa ORF finder disponível no portal NCBI (National Center for Biological Information; http://www.ncbi.nlm.nih.gov/projects/gorf/). Posteriormente, o programa Bootscan (SimPlot versão 3.5.1. http://sray.med.som.jhmi.edu/SCRoftware/simplot/) foi empregado para examinar as sequências nucleotídicas dos flavivírus em estudo ao longo de toda a região codificante (Felsenstein, 2009; Ray, 1999) e comparadas com sequências de outros flavivírus previamente selecionados. Árvores filogenéticas pelo método de Agrupamento de Vizinhos (AV) foram obtidas para valores de bootstrap fixados em 1.000 réplicas, usando os programas SEQBOOT e DNAPARS (PHYLIP software versão 3.69) (Felsenstein, 2009), utilizando o modelo de substituição nucleotídica* Kimura 2 parâmetros e alternativamente F84. A análise foi repetida de 20 em 20 nt ao longo de todo o genoma. Os valores obtidos para bootstrap indicaram o grau de relação filogenética entre os vírus em estudo e outros flavivírus, sendo tabulados e plotados a cada passo. * O modelo de substituição nucleotídica escolhido para a análise de bootscan foi determinado pela disponibilidade do programa. 102 2.10. ANÁLISE FILOGENÉTICA COMPARATIVA Para a análise filogenética foram adotados os métodos de MV utilizando o programa PHYML (Guindon & Gascuel, 2003) e Bayesiano, implementado pelo programa MrBayes versão 3 (Ronquist & Huelsenbeck, 2003). O programa Moldtest versão 3.7 (Posada & Crandall, 1998) foi utilizado para determinar o melhor modelo de substituição nucleotídica a ser usado baseado no critério de informação Akaike (Akaike Information Criterion, AIC), com o auxílio do programa PAUP, versão 4 (Swofford, 2002). Para o método MV, a análise de bootstrap foi realizada usando 1.000 pseudoréplicas (valor de confiabilidade de 95%) obtidas a partir do alinhamento original entre as sequências para a obtenção de resultados mais confiáveis (Felsenstein et al., 1985). A análise Bayesiana foi realizada empregando o modelo de Markov Monte Carlo (Markov Chain Monte Carlo, MCMC). A análise foi feita para dois milhões de réplicas, sendo a amostragem fixada a cada 1.000 árvores geradas. Os valores Bayesianos foram estimados em 50% das árvores consenso geradas (Huelsenbeck & Ronquist, 2003). O programa TRACER (www.evolve.zoo.ox.ac.uk) foi utilizado para verificar se a análise realizada pelo programa MrBayes alcançou a convergência apropriada. 103 3. RESULTADOS 3.1. ANÁLISE DO GENOMA VIRAL O tamanho dos genomas completos obtidos para os flavivírus brasileiros em estudo ficaram em torno de 10.800 nt, sendo determinado 10.815 nt para o VBSQ, 10.922 nt para o VIGU, 10.775 nt para o VILH e 10.794 nt para o VROC. Para cada vírus foi reconhecida uma única ORF, flanqueada pelas 5’ RNC e 3’RNC. Em cada ORF foram reconhecidos os três genes que codificam as proteínas estruturais, C-prM-E, e os setes genes das proteínas não-estruturais, NS1-NS2A-NS2B-NS3-NS4A-NS4B-NS5. A 5’RNC dos vírus VBSQ e VIGU apresentaram 92 nt, enquanto que para VILH e VROC foi de 104 nt. Maior variação em tamanho foi observada ao nível da 3’RNC, sendo que para o VILH determinou-se a de menor tamanho com 383 nt, seguido do VBSQ (418 nt), VROC (424 nt) e VIGU (564 nt). As características dos genomas dos quatro flavivírus em estudo encontram-se sumarizadas no Quadro 8. Os tamanhos dos genes Pr/M, NS2A, NS2B e NS4A/2K foram similares para os quatros vírus: 92/75 aa, 227 aa, 131 aa e 126/23 aa, respectivamente. Para a proteína C, o VBSQ apresentou o maior comprimento, 125 aa, seguido do VIGU (119 aa) e dos VILH e VROC (118 aa); a posição de clivagem da AnchC variou em um anti-códon para os VIGU e VROC, determinando um tamanho de 17 aa. Quanto a NS3, com exceção do VILH (618 aa), os demais vírus apresentaram 619 aa. A variabilidade no tamanho do genoma também foi observado quanto a NS4B (variação de 253 a 256 aa) e NS5 (904 aa para VIGU e VROC; 905 aa para VBSQ e VILH) (Quadro 8). 104 Quadro 8 – Comparação do genoma dos quatro flavivírus brasileiros em estudo: tamanho do genoma, regiões codificadoras para proteínas estruturais e não-estruturais, RNCs. VBSQ VIGU VILH VROC nt posição aa NT posição aa nt posição aa nt posição aa 5’RNC 104 1 a 104 - 104 1 a 104 - 92 1 a 92 - 92 1 a 92 - VirC 321 105 a 425 107 306 105 a 410 102 300 93 a 392 100 303 93 a 395 101 AnchC 54 426 a 479 18 51 411 a 461 17 54 393 a 446 18 51 396 a 446 17 480 a 755 92 276 462 a 737 92 276 447 a 722 92 276 723 a 947 92 estruturais do genoma Proteínas não-estruturais Proteínas Componentes Pr M 225 756 a 980 75 225 738 a 962 75 225 723 a 947 75 225 948 a 2.450 75 E 1.503 981 a 2.483 501 1.482 963 a 2.444 494 1.503 948 a 2.450 501 1.503 948 a 2.450 501 NS1 1.059 2.484 a 3.542 352 1.059 2.445 a 3.503 353 1.059 2.451 a 3.509 353 1.059 2.451 a 3.509 353 NS2A 681 3.543 a 4.223 227 681 3.504 a 4.184 227 681 3.509 a 4.190 227 681 3.510 a 4.190 227 NS2B 393 4.224 a 4.616 131 393 4.185 a 4.577 131 396 4.191 a 4.586 131 393 4.191 a 4.583 131 NS3 1.857 4.617 a 6.473 619 1.857 4.578 a 6.434 619 1.854 4.587 a 6.440 618 1.857 4.584 a 6.440 619 NS4A 378 6.474 a 6.851 126 378 6.435 a 6.812 126 378 6.441 a 6.818 126 378 6.441 a 6.818 126 2K 69 6.852 a 6.920 23 69 6.813 a 6.881 23 69 6.819 a 6.887 23 69 6.819 a 6.887 23 NS4B 759 6.921 a 7.679 253 762 6.882 a 7.643 254 765 6.887 a 7.652 255 768 6.888 a 7.655 256 NS5 2.718 7.680 a 10.397 905 2.715 7.644 a 10.358 904 2.718 7.653 a 10.370 905 2.715 7.656 a 10.370 904 3’NCR 418 10.398 a 10.815 - 564 10.359 a 10.922 - 385 10.371 a 10.755 - 424 10.371 a 10.794 - ORF 10.290 - 3.429 10251 - 3416 10.272 - 3424 10.275 - 3.425 Genoma Total 10.815 - - 10922 - - 10.775 - - 10.794 - - Legenda: VBSQ: vírus Bussuquara; VIGU: vírus Iguape; VILH: vírus Ilhéus; nt: nucleotídeos; aa: aminoácido; NCR: Região não-codificadora; ORF: Open Reading Frames 104 105 3.2. REGIÕES NÃO CODIFICADORAS 3.2.1. Sequências Conservadas Dentre as sequências conservadas da 3’RNC dos flavivírus transmitidos por mosquitos (CS1[3’CYC], CS2, RCS2, CS3, RCS3), as sequências localizadas dentro do 3’SL e o pentanucleotídeo 5’-CACAG-3’, mostraram a presença das CS1[3’CYC], CS2, RCS2 e 5’-CACAG-3’ nos genomas dos quatro vírus em estudo (Figura 15), muito embora a CS1 do VIGU seja considerada imperfeita por apresentar três alterações, sendo uma delas uma inserção de “A” (Figura 16). Quanto às sequências CS3 e RCS3, comumente observadas nos representantes do grupo da encefalite japonesa, as mesmas encontram-se ausentes no genoma do VBSQ, enquanto que a CS3 foi encontrada na 3’RNC dos VIGU, VILH e VROC. Comparando-se com a RNC dos demais flavivírus, o VBSQ apresentou disposição das sequências conservadas similar aos vírus causadores de doença icterohemorrágica do grupo dengue, enquanto que os VIGU, VILH e VROC apresentaram padrão similar aos vírus encefalitogênicos do grupo da encefalite japonesa (VEJ, VEMV, VNO), excetuando a RCS3 (Figura 15) Em relação à sequência consenso gerada pelo alinhamento dos quatro flavivírus em estudo com os flavivírus transmitidos por Culex, na região análoga da CS3 do VBSQ foram observadas oito substituições nucleotídicas, que descaracterizaram a CS3. Algumas alterações pontuais foram observadas: CS3 do VIGU, posição 10.614 (A→T); CS2 do VIGU, posição 10.771(A→T); CS2 do VILH, posição 10.616 (A→T); CS1 do VIGU, substituição nucleotídica 106 nas posições 10.817(G→A) e 10.823(T→C) – esta dentro da 3’CYC e uma inserção de “A” na posição 10.818; CS1 do VILH, posição 10.660 (A→G); pentanucleotídeo da 3’SL do VIGU, posição 10.880(A→C) (Figura 16). RCS3 CS3 RCS2 CS2 CS1 3’LH 3’CYC VBSQ VIGU VILH VROC VEJ VMVE VNO VBAG VKOK VKED VZIK VDEN-1 VDEN-4 Figura 15 – Representação esquemática das 3’RNC dos Vírus bussuquara (VBSQ), Vírus Iguape (VIGU), Vírus Ilhéus (VILH) e Vírus rocio (VROC) em comparação a outros flavivírus transmitidos por mosquitos dos grupos: Encefalite japonesa [Vírus da encefalite japonesa (VEJ), Vírus da encefalite Murray Valley (VEMV) e Vírus Nilo Ocidental (VNO)], Ntaya [Vírus Bagaza (VBGA)], Kokobera [Vírus kokobera (VKOK], Kedougou [Vírus kedougou (VKED)], Spondweni [Vírus zika (VZIK)] e Dengue [Vírus dengue sorotipo 1 (VDEN1) e Vírus dengue sorotipo 4 (VDEN4). Observar que a CS3 e RCS3 está ausente no VBSQ, bem como a RCS3 está ausente no VIGU, VILH e VROC. 107 Consenso VBSQ VIGU VILH VROC VALFUY VEJ VUSU VEMV VNO VKUN VESL VBAG VKOK VKED VZIK CS3 GCCCCAGGTGGACTGG Consenso T.T..G.AA...A.AA ........T....... ................ ................ ........T....... ................ ................ ................ ................ ................ ................ ........T....... CT.............. C...TG...CT.T... CG..AT.....G...G CS2 GACTAG-AGGTTAGAGGAGACCC VBSQ VIGU VILH VROC VALFUY VEJ VUSU VEMV VNO VKUN VESL VBAG VKOK VKED VZIK ....................... ............T.......... ..............T........ ....................... ....................... ....................... ....................... ....................... ....................... ....................... ....................... ....................... ....................... ......G................ ....................... posição 10477-10492 10606-10621 10451-10466 10289-10304 10644-10659 10667-10682 10750-10765 10703-10718 10718-10733 10711-10726 10640-10655 10710-10725 10567-10582 10457-10471 10481-10496 RCS2 GACTAGAGGTTAGAGGAGACCC posição ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ---------------------...................... GG..G.T.CG..A.AT-...A. ...................... CS1 CAG-CATATTGACACCTGGGA 10656-10677 10760-10781 10603-10624 10441-10462 10801-10822 10826-10847 10908-10929 10857-10878 10875-10896 10794-10815 10791-10812 10787-10808 10723-10744 10567-10589 10646-10668 ..................... ..AA....C............ .............G....... ..................... ........C............ ..................... ..................... ..................... ..................... ..................... ..................... ..................... ..................... ..................... ...-..........--..... posição 10579-10600 10681-10702 10529-10550 10364-10385 10724-10745 10748-10769 10832-10853 10783-10804 10801-10822 10794-10815 10716-10737 10646-10667 10508-10528 10564-10585 3’SL CACAG posição 10709-10728 10815-10835 10648-10667 10488-10507 10850-10869 10863-10882 10952-10971 10901-10920 10922-10941 10915-10934 10833-10852 10834-10835 10771-10790 10614-10633 10685-10702 CACAG CACCG CACAG CACAG CACCG CACAG CACAG CACCG CACAG CACAG CACAG CACAG CACAG CACAG CACAG 10770-10774 10877-10881 10709-10713 10549-10553 10914-10918 10928-10931 11018-11022 10966-10970 10983-10987 10976-10980 10893-10897 10896-10900 10831-10835 10677-10681 10746-10750 Figura 16 - Alinhamento entre as sequências nucleotídicas conservadas da 3’RNC dos flavivírus transmitidos por mosquitos do gênero Culex, seguindo a disposição 5’→3, comparando com os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC. A sequência de ciclização, 3’CYC está representada em negrito dentro da CS1. Em amarelo, destacam-se as sequências que apresentam mais de cinco alterações, o que descaracteriza as sequências conservadas. Legenda: VALFUY = Vírus alfuy; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus bussuquara; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VKUN = Víurs kunji; VNO = Vírus Nilo ocidental; VROC = Vírus rocio; VUSU = Vírus usutu; VZIK = vírus zika. 107 108 3.2.2. Estruturas Secundárias das 5’ RNC e 3’RNC e Ciclização do RNA viral As estruturas secundárias preditivas para a ciclização entre as regiões 5’ e 3’RNC dos flavivírus brasileiros, gerada pelo programa MFOLD, apresentaram similar organização para a 5’RNC e diferentes padrões para a 3’RNC. A Figura 17 representa os modelos da estrutura secundária de ciclização para os respectivos flavivírus brasileiros, que apresentaram baixos níveis de energia e distintos entre os flavivírus em estudo (VBSQ: -106,4 Kcal; VIGU: -261,7 Kcal; VILH: -101,1 Kcal; VROC: -97,0 Kcal). Nas estruturas de ciclização, os nucleotídeos terminais das 5’ RNC e 3’RNC estão localizados próximos, no entanto não estão ligados. Foram encontradas duas sequências complementares entre 5’ RNC e 3’RNC: (i) as sequências complementares, 5’SCy e 3’SCy; e (ii) as sequências conservadas entre os flavivírus transmitidos por mosquito 5’CYC e 3’CYC (Figura 17). As estruturas secundárias peculiares das regiões não codificantes também puderam ser identificadas na estrutura de ciclização dos flavivírus brasileiros, tais como: na 5’RNC a estrutura secundária da 5’ (5’ES), próximo ao terminal 5’, e o grampo na região do gene C (5’CapHS), localizada entre o códon de iniciação e a 5’CYC; e na 3’RNC, o 3’SL, observando na alça distal a presença do pentanucleotídeo 5’-CACAG-3’. Ademais, as sequências conservadas da 3’RNC – CS2, RCS2 e CS3 – foram representadas nas estruturas secundárias, observando a formação de grampos, com exceção da RCS2 do VIGU (Figura 17). 109 Nível de Energia = -261,7 VROC Nível de Energia = -97,0 Nível de Energia = -101,1 3’HS4 CS3 3’HS2 3’HS5 3’HS3 3’HS3 3’HS5 3’HS2 3’HS4 3’HS2 RCS2 3’HS3 3’H S3 3’HS1 3’HS2 3 ’H S1 3’HS4 CS3 3’HS6 3’HS1 RCS2 CS3 RCS2 5’SCy 3’SCy 3’ LSH CS1 5’ES 5’ ES 3’NCR 5’ NCR 3’SL 5’ ES 5’ NCR 3’ NCR 5’ 3’ NCR 5’ NCR 3’SCy 5’SCy 3’SL LSH 3’ 5’ ES 3’SL PA s 3’SCy 3’SCy PA 5’ CYC 5’CapHS NC R 5’SCy CS1 5’CapHS 3’ 5’SCy 3’ CYC 5’ CYC 3’ CYC 3’ CYC 5’ CY C 5’CapHS 5’CapHS 3’ CYC CS2 ImCS1 CS1 CS2 CS2 RCS2 CS2 3’HS5 NC R 3’HS1 5’ CYC Estrutura secundária 3’ RNC Nível de Energia =-106,4 Estrutura secundária 5’ RNC VILH VIGU VBSQ Figura 17 – Estrutura secundária das 5’RNC e 3’RNC dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC na ciclização do RNA viral. Em destaque região do gene C (vermelho), as sequências conservadas da 3’RNC (azul), o códon de iniciação (verde) as 5’CYC e 3’CYC pareadas, e o penta nucleotídeo CACAG (amarelo) 109 110 Na região que antecede o códon de iniciação da ORF dos flavivírus, encontram-se, em posições análogas do genoma dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC, as sequências complementares, 5’CS e 3’CS, com tamanhos variando entre 15 a 17 nt, sendo, porém não conservadas. A complementaridade entre as 5’SCy-3’SCy nos VBSQ e VROC não são completas, observando a formação de pequenas alças (PA). No VBSQ, esse fato é determinado pela inserção de duas bases, C e G, na 3’CS que é complementar à adenina na posição 91 da 5’CS; enquanto que no VROC observa-se a não complementaridade entre duas bases consecutivas, nas posições 86 e 87 (referente à região 5’CS) (Figura 18). 87 VBSQ 102 5’CS CGAGAAGCGAATTCTCGAATG ................ 3’CS GCTC.TCGTTTAAGAG 330 GC 88 VILH 352 521 86 VIGU 103 5’CS GGAGTAGAAACTTTCCGAATG ................. 3’CS CCTCGTCTTTGAGAGGC 703 687 78 VROC 102 5’CS AGCAAGGGATTTCCCATG ............... 3’CS TCGTCCCCTAGAGGG 507 92 5’CS AGCAGAGGTACTACCATG ............... 3’CS TCGTCTCCCAGAGGG 558 544 Figura 18 – Sequências complementares entre as 5’RNC e 3’RNC (5’CS-3’CS) dos flavivírus Bussuquara (VBSQ), Iguape (VIGU), Ilhéus (VILH) e Rocio (VROC). Legenda: verde = códon de iniciação; amarelo = bases não pareadas; azul = bases que formam pequenas alças. Na porção 5’, a sequência conservada 5’CYC, localizada dentro do gene C e complementar à região 3’CYC (5’-CATATTGA-3’), apresenta-se conservada nos VBSQ e VILH, porém no VIGU observa-se uma substituição no nucleotídeo 148(A→G), cujo nucleotídeo correspondente na 3’CYC (5’CATACTGA-3’ Figura 16) também foi alterado de T→C, permanecendo a complementaridade completa entre essas sequências. No VROC, percebe-se duas substituições em duas posições: uma na posição análoga ao nucleotídeo 111 148 do VIGU, 134(A→C), e outra no nucleotídeo 137(T→C) (Figura 29), muito embora a 3’CYC tenha se mantido conservada (Figura 16). Aparentemente, uma terceira sequência de complementaridade entre a região do capsídio e a 3’RNC foi observada na estrutura de ciclização do VBSQ (seta vermelha, Figura 17), sendo visualizada em todos os modelos gerados pelo programa MFOLD. Essa região corresponde a uma sequência de sete nucleotídeos: 5’-GGCGGCC-3’ (gene C, posição 167 a 170) complementar a 5’-GGCCGCC-3’ (3’RNC, posição 10.536 a 10.542). Consenso 5’CYC TCAATATG Posição VBSQ VIGU VILH VROC VALFUY VEJ VUSU VEMV VNO VKUN VESL VZIK VBGA VKOK VKED ........ ...G.... ........ ...C..C. ...G.... ........ ........ ........ ........ ........ ........ ........ ........ ........ ........ 145-152 145-152 133-140 131-138 136-143 136-143 137-144 136-143 137-144 137-144 139-146 147-154 138-145 124-131 141-148 Figura 19 - Alinhamento entre as sequências nucleotídicas correspondente a 5’CYC (5’RNC) dos flavivírus transmitidos por mosquitos do gênero Culex comparando com as sequências correspondentes dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC. Em destaque as posições de substituição nucleotídica observadas nos vírus VIGU e VROC. Legenda: VALFUY = Vírus alfuy; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VKUN = Vírus kunji; VNO = Vírus Nilo ocidental; VROC = Vírus Rocio; VUSU = Vírus usutu; VZIK = vírus zika. 112 3.3.. ANÁLISE DA POLIPROTEÍNA 3.3.1. Identificação dos sítios de clivagem, sítios de glicosilação e resíduos de cisteína As sequências dos cinco aminoácidos correspondentes aos sítios de clivagens dos flavivírus brasileiros foram comparadas aos respectivos sítios dos flavivírus VESL e VNO, do complexo do da Encefalite Japonesa e três flavivírus transmitidos por mosquitos procedentes da África, os vírus Bagaza (VBAG), Kedougou (VKED) e Zika (VZIK) (Quadro 9). Uma ou duas alterações de aminoácidos foram observadas, em comparação à sequência consenso, sendo mais evidente entre as junções VirC/AnchC, enquanto que os sítios de clivagem entre M/E, NS2A/NS2B, NS2B/NS3 e NS4A/2K foram mais conservados. O número de sítios em potencial para glicosilação N-ligantes (NLGlyS) ao nível das proteínas prM, E e NS1 foram diferentes para os quatros flavivírus brasileiros, correspondendo, respectivamente: 2,0,2 para VBSQ; 0,1,3 para VIGU; 1,1,2 para VILH e 1,1,2 para VROC. Todos os sítios foram encontrados nos domínios hidrofóbicos das referidas proteínas (Tabela 1). Seis resíduos de Cys foram encontrados no domínio N-terminal do precursor (Pr) da proteína de membrana e 12 no ectodomínio das proteínas E e NS1. No ANEXO IV encontra-se o quadro identificando os aminoácios, as abreviaturas e propriedades moleculares. 113 Quadro 9 – Sítios de clivagem dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC em comparação com membros do complexo da encefalite japonesa (VSLE e VNO) e três flavivírus transmitidos por mosquitos procedentes da África (VBAG, VKED e VZIK). Sítios de clivagem da poliproteína Vírus VirC/Anch C NKGKR / SVESS VBSQ NRKKK / RGLHG VIGU RKEKK / KSFST VILH RKAKR / GNGSV VROC KQKKR / GGKTG VNO PSKKR / GGTRS VESL GKKKR / GGTTV VBAG NKRKR / SPVNW VKED ERKRR / GADTS VZIK Consenso NKKKR / GGXTS Vírus VBSQ VIGU VILH VROC VNO VESL VBAG VKED VZIK Consenso NS2A/NS2B KHGKR / SWPPS NLKKR / SWPAS SLGKR / GWPAS CATKR / GWPAS PNRKR / GWPAT PNGKR / SWPAS PSNRR / GWPVS GEKRR / SWPPT RSGKR / SWPPS PXKKR / SWPAS Anch C/PR CLALG / FKVVT PITLC / FQTGN TAVAG / LKISS TGSMA / LRLGT ASVGA / VTLSN GLASS / LQLST GVAQA / IKIGS GVLTA / VKIGD TTAMA / AEITR XXAXA / XXIXS Pr/M KRSRR / NAVFP RRSKR / ETHLP RRGRR / AINIP RRGRR / SVNIP RRSRR / SLTVQ RRSRR / SISVQ RRSRR / SITVH RRSRR / SVSLP RRSRR / AVTLP RRSRR / SXXXP M/E APAYN / MRCIG APAYS / LRCIG APAYS / LNCLG APAYS / INCLG APAYS / FNCLG APAYS / FNCLG APAYS / FNCLG APAYS / IRCIG APAYS / IRCIG APAYS / XNCLG E/NS1 INVSA / DTGCV LGVGA / DSGCG VNVHA / DTGCA MNVHA / DTGCA VNVHA / DTGCA TSVQA / DSGCA TNVHA / DTGCA TSVNG / DQGCA TAVSA / DVGCS TXVHA / DTGCA NS1/NS2A SKVSA / GDGNE SKVSA / GKGSP SKVSA / GNGQT SKVTA / GTGND SQVNA / YNADM SRVTA / GVAGG SRVTA / YDGAG ARVSA / GSGSG SMVTA / GSTDH SKVXA / GXGXG NS2B/ NS3 KSGRR / AGALW KSGRR / AGALW KIHKR / GGVMW KIHKR / GGVLW QYTKR / GGVLW KHSKR / GGALW HSPKR / SGAIW KKAKR / SGALW KTGKR / SGALW KSGKR / GGALW NS3/NS4A GGRRS / VTTGL SGRRS / GVPSI AAGKR / SAGVS AAGKR / SAGSM ASGKR / SQIGL AAGKR / SALGM ACGKR / SAIGV AAGRR / GATAG AAGKR / GAALG AAGKR / SAXGX NS4A/2K PEKQR / SIQDN PEKQR / TIQDN PEKQR / SQTDN PEKQR / SQTDN PEKQR / SQTDN PEKQR / SQTDN PERQR / SQTDS PERQR / SVQDN PEKQR / SPQDN PEKQR / SQTDN 2K/NS4B GGIAA / NEMGM LAVAA / NEMGY GAVSA / NEMGW SAVSA / NEMGW SAVAA / NEMGW GVVAA / NEMGL GTVAS / NEMGW GLVAA / NEAGL GLITA / NELGW GAVAA / NELGW NS4B/NS5 NTGKR / GGADG PNKRG / GGADG PKLKR / GGGSA PKVKR / GGIAA PGLKR / GGAKG PKGKR / GGGKG GSMRR / GGGKG SSTKR / SNRGL LVKRR / GGGTG PXXKR / GGGKG Legenda: Em destaque estão marcados os aminoácidos que diferem da sequência consenso; VirC =Capsídio; AnchC = peptídeo-sinal no domínio hidrofóbico terminal; prM=precursos da Proteína M; E = proteína de envelope; NS=proteínas não-estrutural; x=qualquer aminoácido. VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VNO = Vírus Nilo ocidental; VROC = Vírus rocio; VZIK = vírus zika. 113 114 Tabela 1 – Sítios de glicosilação determinado para as proteínas PrM, E e NS1 pelo programa NetNglyc para os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC O valor limítrofe considerado é de 0,5. Vírus Proteína NNTC 0,6650 148 NRSQ 0,5066 - - - 130 NATF 0,5148 207 NLTW 0,6152 PrM - - - E 154 NDTS 0,7330 85 NLSV 0,5899 130 NNTF 0,5187 147 NRTW 0,6178 PrM 15 NKTD 0,8014 E 154 NYTA 0,7407 130 NSTF 0,6133 316 NCTL 0,5131 PrM 15 NKTD 0,7059 E 154 NYTT 0,7133 106 NTSD 0,6348 130 NSTF 0,6186 E NS1 VIGU NS1 VILH NS1 VROC e-valor 31 PrM VBSQ Posição* NS1 Legenda: * em relação ao primeiro aminoácido da proteína; em negrito o aminoácido Asparagina (N) que é glicosilado. 115 3.3.1. Identificação de motivos conservados nas proteínas E, NS3 e NS5 Dentre do banco de dados do Interproscan, foi escolhido os parâmetros Pfam para determinação dos domínios nas sequências das proteínas E, NS3 e NS5, muito embora os demais bancos tenham apresentado resultados similares. Nas referidas sequências aminoacídicas dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC foram encontrados: na proteína E os domínios central e dimerização (ectodomínio), que representa o domínio II; e o domínio III, que apresenta estrutura similar à imunoglobulina; na proteína NS3, os domínios da protease serina e helicase (DEAD); e na proteína NS5, os domínios MTase e RdRP. As localizações de cada domínio estão descritos na Tabela 2. Tabela 2 - Principais domínios das proteínas E, NS3 e NS5 determinado pelo Pfan para os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC. Vírus Proteína Domínio Central e dimerização Domínio III Protease Serina VBSQ NS3 DEAD (Helicase) MTase NS5 RdRP Central e dimerização E Domínio III Protease Serina VIGU NS3 DEAD (Helicase) MTase NS5 RdRP Central e dimerização E Domínio III Protease Serina VILH NS3 DEAD (Helicase) MTase NS5 RdRP Central e dimerização E Domínio III Protease Serina VROC NS3 DEAD (Helicase) MTase NS5 RdRP * Em relação ao primeiro códon da proteína NS5. E Posição* Tamanho 1-301 303-399 7-177 184-331 54-277 251-900 1-294 296-392 6-173 183-330 54-228 252-899 1-299 301-399 7-179 184-331 54-227 252-900 1-299 301-399 7-178 184-331 54-227 252-900 300 aa 96 aa 170 aa 147 aa 223 aa 649 aa 293 aa 96 aa 167 aa 147 aa 174 aa 647 aa 298 aa 98 aa 172 aa 147 aa 173 aa 648 aa 298 aa 98 aa 171 aa 147 aa 172 aa 648 aa Sítios ativos Resíduo/posição H51, D75, S135 H50, D74, S134 H51, D75, S135 H51, D75, S135 - e-value 6,1e-197 6,5e-54 1,5e-104 4,5e-102 2,7e-05 0 4,3e-202 1e-46 1,7e-90 4,6e-101 8,6e-05 0 7,4e-216 2,1e-53 9,4e-101 1,1e-103 1,9e-05 0 4,1e-196 9,7e-53 2,4e-99 1,4e-106 1,1e-05 0 116 A região do ectodomínio da proteína E (domínio II), constituída pelos domínios central e de dimerização, apresentaram tamanhos de 300 aa, 293 aa, 298 aa e 298 aa para os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC, incluindo a sequência conservada relativa ao peptídeo de fusão, DRGWGNGCGLFGKGSI (posições 99 a 114), para os flavivírus transmitidos por Culex sp. (Seligman, 2008). Nos VBSQ e VIGU foram observadas três e duas alterações, respectivamente, em relação à sequência consenso, como segue: VBSQ: NRGWNNGCGLFGKGDI (D99N; C103N; S113D); VIGU: DRGWNNGCGLFGKGSL (C103N; I114L). Dentre os seis resíduos de Gli existentes, os VBSQ e VIGU apresentaram somente cinco em virtude da mutação na posição 103, reconhecida por C103N. O VILH apresentou a sequência do peptídeo de fusão similar a sequência consenso, enquanto que para o VROC foi observada uma única substituição nucleotídica referente a I114L. O domínio III apresenta 96 resíduos para VBSQ e VIGU e 98 para VILH e VROC. O motivo RGD reconhecido na proteína E dos VALFUY (387389), VEJ (387-389), VEMV (388-390) e VUSU (387-389), correspondem aos VBSQ, VIGU, VILH e VROC, ao tripeptídeo VGD (388-390), SYD (381-383), QEN (388-390) e TGP (388-390), respectivamente. Na proteína NS3, os sítios catalíticos da tríade H-D-S (His-AspSer) do domínio catalítico da protease serina estão preservados nos quatro flavivírus em estudo, relacionados às posições 51, 75 e 135, respectivamente, para VBSQ, VILH e VROC e posições 50, 74, 134 para o VIGU (Tabela 2). Ainda no domínio da protease serina, o motivo conservado XXGLYGNG que está relacionado ao sulco de ligação do substrato (Chang, 1997), é 117 representado pela sequência VIGLYGNG para o VROC (posições 145 a 152) e VBSQ (posições 145 a 152) bem como para os VKUN, VZIK, VUSU e VNO, mas apresentam duas substituições nucleotídicas nas duas primeiras posições do motivo para o VIGU (TIGLYGNG) e VILH (ITGLYGNG). Os motivos conservados entre os flavivírus associados à família DEAD da RNA helicase [GAGKTRK (motivo I), MDEAH (motivo II) e SAAQRRGR(V/I)GR (motivo VI) (Gorbalenya et al., 1989; Matusan et al., 2001)], se mantiveram conservados nos quatro flavivírus em estudo. Na proteína NS5, dentre os oito motivos determinantes da atividade RdPd no genoma dos flavivírus: motivo I (MGKREKKLG), motivo II (KAKGSRAIWLGARFLEF), motivo III* [(G/A/S)GVEGXGI(Q/H)XLGY (V/I)LX(E/D)X], motivo IV (XGGXIYADD), motivo V* [XDQRGSGQV(V/G)TY (A/G)LNTFTNX(V/A)QL(V/I)RX(M/A)], motivo VI [R(M/L)(A/L)ISGDDCVV], motivo VII (VPFCS(H/N)HFX), motivo VIII (RX(L/I)VVPCRXQDEL) (Koonin, 1991), somente os motivos I, II, III, IV e VIII apresentam-se conservados para os quatro flavivírus em estudo, bem como os sítios da MTase: K61, D146, K182 e E218 (posições referentes ao VNO) (Zhou et al., 2007). No motivo V, o VROC apresenta uma mudança de aminoácido na posição 614, Y→F (NDQRGSGQVVTYALNTY614TNLAVQLIRCM). Ainda no motivo V, o VILH apresenta uma mudança de aminoácido na posição 619, V→A, (EDQRGSGQVVTYALNTFTNLAA619QLVRCM). No motivo VI uma única mudança aminoacídica R→P, na posição 661 (P661MAVSGDDCVV). No motivo VII, o VILH apresenta uma mudança de C→G na posição 713 (VPFG713SHHFN). Para os demais flavivírus em estudo os motivos V, VI e VII apresentam-se conservados. * Sequência consenso baseada apenas nos flavivírus transmitidos por mosquitos; X = locus com variação de aminoácido. 118 O motivo V(V/I)DLGCGRGGW associado à atividade MTase-SAM (Koonin, 1993), permanece conservado. 3.4. ANÁLISE DE SIMILARIDADE O grau de relação filogenética das sequências nucleotídicas entre os quarto flavivírus brasileiros foi demonstrado pelo método de plotagem de similaridade utilizando o valor de permutação de 50% como valor limiar com relação ao eixo Y, que corresponde ao percentual de permutação filogenética (ppt) baseado nos valores de Bootstrap, e o eixo X representa a posição no genoma dos flavivírus. As análises tiveram VBSQ e VILH como parâmetro de referência em relação VBAG, VIGU, VESL, VKED, VKOK, VROC VNO e VZIK os quais mostram maior similaridade filogenética entre si (Kuno et al., 1998; Gubler et al., 2007; Kuno et al., 2009). Para a ORF do VBSQ observou-se uma maior similaridade com o VIGU, mostrando um forte sinal para os genes C, PrM, porção inicial e N terminal da proteína E, NS4A e NSAB; e de moderada a forte para as regiões MTase e RdRp no gene NS5. Próximo a região C-terminal da proteína E, há uma maior similaridade com o VKOK (ppt>85%). Para o gene NS1, a porção central é similar com o VKOK (intensidade modera; ppt=80%) e a porção Nterminal com o VKED (intensidade forte; ppt>85%). A região da protease no gene NS3 apresenta forte similaridade com o VZIK (ppt>85%) e a região Nterminal com o VKOK (Figura 20 A). Para o VILH, de modo geral, um forte sinal de similaridade com o VROC foi observado para os genes C-PrM-E, NS2A-2B, NS3 e NS4, muito 119 embora as regiões C-terminal da NS1 e N-terminal da PrM apresentam similaridade forte (ppt>90%) e moderada (ppt>70%) com os VNO e VESL, respectivamente (Figura 20 B). Para verificar a relação do VROC com os demais flavivírus, excetuando o VILH, foi realizada a análise de similaridade genética pelo método de Bootscan, tendo o VROC como referência e em comparação com os vírus do grupo da encefalite japonesa e com o representante do grupo Ntaya, o VBAG. No decorrer da ORF, o VROC obteve maior similaridade com os VBAG e VESL. Para os genes C e NS2A, o VROC apresenta similaridade moderada a intensa com o VESL, enquanto que para os genes NS2B, NS4B (moderada a intensa) e PrM (baixa) apresentam maior similaridade com o VBAG. Os genes E, NS1, NS3, NS4A e NS5, a similaridade do VROC em relação ao VESL e VBAG foi mais balanceada, mas tendendo a maior similaridade, quanto à intensidade, com o VBAG (Figura 21) 120 (A) Sequência do VBSQ como referência Intensidade de Sinal Moderado Baixo Sem Sinal Percentual de permutação (%) Forte VIGU VNO VESL VILH VROC VBAG VKED VZIK VKOK Posição do genoma (nt) C rM P MTase RdRp Prot Hel II III E 1 A B N S N S2 NS2 NS 3 4A 4B N S NS NS 5 (B) Sequência do VILH como referência Intensidade de Sinal Moderado Baixo Sem Sinal Percentual de permutação (%) Forte VBSQ VIGU VNO VESL VROC VBAG VKED VZIK VKOK Posição no genoma (nt) C rM P MTase RdRp Prot Hel II III E 1 A B N S NS2 NS2 NS 3 4 A 4B N S NS NS 5 Figura 20 – Análise de similaridade (Bootscan) realizada pelo programa SimPlot, utilizando as sequências dos VBSQ (A) e VILH (B) como referência, O eixo Y representa percentual de permutação filogenética (ppt); o eixo X corresponde às diferentes regiões da ORF, O parâmetro vertical expressa às intensidades da relação filogenética (Forte, Moderado, Baixo e sem sinal de relação filogenética), tendo o valor de bootstrap igual a 50% corresponde ao valor limiar, Legenda: Prot= região da protease; Hel=região da Helicase; MTase=região da metiltransferase; RdRp = região da Polimerase. VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VNO = vírus do Nilo Ocidental; VROC = Vírus rocio; VZIK = vírus zika 121 Sequência do VROC como referência Intensidade de Sinal C PrM E NS1 NS 2A NS 2B NS3 4A NS NS 4B NS5 Forte Moderado Baixo Sem Sinal Posição no genoma (nt) Figura 21 – Análise de similaridade (Bootscan), utilizando o VROC como referência. Notar a maior similaridade com o VBAG e VESL para todo a ORF. Legenda: VBAG = Vírus Bagaza; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VNO = Vírus Nilo Ocidental; VROC = Vírus rocio. O percentual de identidade aminoacídica entre os flavivírus brasileiros VBSQ, VIGU, VILH e VROC, e os flavivírus encefalitogênicos dos grupos da Encefalite Japonesa (VJE, VWN e VESL), Ntaya (VBAG), Kedougou (VKED), Kokobera (VKOK) e Spondweni (VZIK) foi realizado pelo programa MegAlign (DNAstar) comparando-se tanto a ORF quanto a identidade de cada gene. Nota-se que os maiores percentuais de identidade entre os vírus transmitidos por Culex foram para as proteínas NS5 e NS3, enquanto que os menores percentuais foi com relação à proteína C. Entre VBSQ e VIGU a maior identidade aminoacídica foi observada para os genes NS2A, NS2B, NS4B e NS5, e para a ORF. Quanto aos genes C, PrM, NS1, NS3 e NS4A, o VBSQ apresentou maior similaridade com VKOK e VKED, e em maior percentual com o VZIK. O VIGU, para os 122 genes C, PrM, E, NS1 e NS4A, apresenta maior similaridade com VKOK, VESL, VKOK, e VROC, respectivamente (Tabela 3). Observou-se que entre VILH e VROC tanto a ORF quanto os genes estruturais (C-PrM-E) e os não estruturais (NS1-NS2A-NS2B-NS3NS4A-NS4B-NS5) apresentaram maior percentual de identidade entre si do que com qualquer outro flavivírus. Para a ORF, a identidade aminoacídica entre VILH e VROC foi de 77,5% (71% para nucleotídeo). Dentre as proteínas, os maiores percentuais de identidade entre os VILH e VROC foram para as proteínas E (78,6%), NS2B (85,6%), NS3 (85,4%) e NS5 (78,5%). A proteína C foi a que apresentou o menor percentual de identidade (55,1%), seguido da PrM (67,1%) e NS2A (70%). Quanto aos demais grupos, o VILH mostrou maior similaridade com o grupo da encefalite japonesa para os genes C, E, NS1, NS2A e NS5, e para a ORF, e grupo Ntaya para os genes PrM, NS2B, NS3, NS4A e NS4B. Para o VROC maior similaridade deu-se para o grupo da encefalite japonesa quanto aos genes C, PrM, NS2A, NS3, NS4A, NS4B e NS5, e para a ORF, e quanto aos genes E, NS1 e NS2B para o grupo Ntaya (Tabela 3). 123 Tabela 3 – Percentual de identidade aminoacídica entre os flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC e outros flavivírus transmitidos por Culex. VIGU VILH VROC VEJ VNO VESL VBAG VKED VKOK VZIK C 35,2 38,4 46,4 38,4 44,0 36,8 40,0 33,6 46,4 39,2 PrM 48,5 41,3 47,9 47,3 48,5 50,3 46,1 50,3 46,7 45,5 E 57,5 52,9 52,1 54,9 53,9 54,9 50,7 53,9 55,1 53,5 VBSQ VILH VROC VEJ VNO VESL VBAG VKED VKOK VZIK C 35,2 42,9 41,2 42,9 47,9 42,0 46,2 35,3 52,1 37,8 PrM 48,5 40,1 47,3 42,5 50,9 45,5 47,9 45,5 41,9 41,3 E 57,5 54,7 51,2 55,9 56,5 55,3 54,3 51,6 60,1 51,2 VBSQ VIGU VROC VEJ VNO VESL VBAG VKED VKOK VZIK C 38,4 42,9 55,1 48,3 49,2 45,8 39,8 39,8 44,1 41,5 PrM 41,3 40,1 67,1 50,9 53,3 41,9 54,5 41,9 44,3 40,7 E 57,5 54,7 78,6 64,5 64,3 66,1 64,7 52,1 60,1 54,3 C 46,4 41,2 55,1 (61,4) 48,3 52,5 50,0 46,6 39,8 44,1 42,4 PrM 47,9 47,3 67,1 (65,7) 59,3 58,7 47,9 57,5 47,9 51,5 48,5 E 52,1 51,2 78,6 (70) 64,3 62,5 65,3 64,7 50,5 59,1 54,3 VBSQ VIGU VILH VEJ VNO VESL VBAG VKED VKOK VZIK VÍRUS BUSSUQUARA NS1 NS2A NS2B NS3 56,8 46,7 62,6 65,4 56,5 34,4 39,7 64,9 56,8 37,4 38,2 64,7 54,5 38,3 38,2 63,9 53,7 38,3 37,4 65,5 53,4 36,6 36,6 63,3 54,0 33,9 36,6 64,1 56,5 32,2 46,6 62,8 56,8 38,3 45,0 61,7 57,7 39,2 55,0 67,6 VÍRUS IGUAPE NS1 NS2A NS2B NS3 56,8 46,7 62,6 65,4 56,9 35,2 42,4 61,8 56,9 37,9 41,7 63,2 56,4 41,9 37,9 62,6 57,2 35,2 37,1 62,9 58,4 34,4 37,9 62,9 53,8 33,5 33,3 61,8 56,7 31,7 41,7 64,0 57,8 35,7 47,7 60,8 56,4 38,3 54,5 65,3 VÍRUS ILHÉUS NS1 NS2A NS2B NS3 56,5 34,4 39,7 64,9 56,9 35,2 42,4 61,8 73,4 70,0 85,6 85,4 62,0 45,4 51,5 71,4 64,9 49,3 50,0 70,9 62,0 47,6 44,7 71,4 53,3 42,7 53,0 72,0 61,2 27,8 35,6 63,8 55,5 30,0 34,1 60,5 55,8 34,4 46,2 68,6 VÍRUS ROCIO NS1 NS2A NS2B NS3 56,8 37,4 38,2 64,7 56,9 37,9 41,7 63,2 73,4 70,0 85,6 85,4 (68,6) (66,5) (74) (75) 62,9 48,5 49,6 71,4 63,7 47,6 49,6 72,1 62,9 50,7 46,6 70,0 64,9 48,9 50,4 70,6 54,7 30,0 31,3 65,8 57,2 31,3 33,6 60,4 56,1 33,9 46,6 68,8 NS4A 40,7 37,3 42,7 46,0 45,3 45,3 42,7 36,7 37,3 44,0 NS4B 56,5 43,9 44,7 45,5 44,3 50,2 45,5 53,0 52,2 56,5 NS5 72,7 70,9 69,0 68,1 69,6 70,3 67,6 64,8 68,0 68,0 ORF 60,7 56,2 56,8 56,5 57,1 56,9 55,6 55,5 57,3 58,7 NS4A 37,3 41,6 52,4 47,6 47,6 50,8 50,8 51,6 45,2 42,1 NS4B 56,5 44,5 42,5 45,3 49,6 51,2 43,3 51,2 50,8 52,0 NS5 72,7 66,0 65,8 68,6 68,5 68,3 66,0 64,9 67,0 67,0 ORF 60,7 55,3 55,8 56,9 57,2 57,4 55,5 55,0 57,4 56,9 NS4A 37,3 41,6 77,9 57,7 55,7 59,1 60,4 34,2 30,9 40,9 NS4B 43,9 44,5 72,9 51,4 51,4 56,1 56,5 43,5 45,5 45,1 NS5 70,9 66,0 78,5 72,8 74,0 76,2 73,6 65,7 67,2 69,7 ORF 56,2 55,3 77,5 63,8 65,7 64,5 64,4 53,5 55,2 57,3 NS4A 42,7 52,4 77,9 (68,2) 59,1 62,4 61,1 59,7 38,3 34,2 38,9 NS4B 44,7 42,5 72,9 (70,5) 51,2 54,7 58,2 53,5 44,1 46,9 44,9 NS5 69,0 65,8 78,5 (70,3) 71,2 71,8 75,0 73,9 64,2 65,4 67,8 ORF 56,8 55,8 77,5 (72,5) 64,6 65,0 66,1 65,4 54,1 55,8 57,4 Legenda: cinza escuro: maior percentual de identidade; Dentro de parêntese são mostrados as identidades nucleotídicas de cada gene e da ORF entre VILH e VROC. VBSQ = Vírus Bussuquara; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VROC = Vírus Rocio; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VNO = Vírus Nilo ocidental; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VBAG = Vírus Bagaza; VKOK = Vírus kokobera; VKED = Vírus kedougou; VZIK = vírus zika 124 3.5. FILOGENIA O alinhamento entre as sequências nucleotídicas dos 32 flavivírus, incluindo os quatro flavivírus brasileiros em estudo, foi realizado de modo a coincidir os sítios de clivagem de cada gene, o que possibilitou a mesma organização ao se fazer a análise filogenética da ORF, bem como dos genes individuais. As análises filogenéticas pelos métodos MV e Bayesiano foram realizadas utilizando os quatro flavivírus em estudo (VBSQ, VIGU, VILH e VROC) juntamente com representantes dos quatros grupos principais de flavivírus: flavivírus transmitidos por mosquitos, flavivírus transmitidos por carrapatos, agentes zoonóticos com vetores desconhecidos e flavivírus de insetos, tendo o grupo dos flavivírus de insetos (VCFA e VKR) como grupo externo (Quadro 7, página 98). Primeiramente, foi analisada a ORF e depois foram avaliadas as regiões estrutural e não estrutural, separadamente, e os genes individuais. A topologia das árvores geradas pelos métodos de MV e Bayesiano foi similar, sendo mostradas as árvores da MV e plotados os valores bayesianos dentro de parênteses. Os modelos de substituição nucleotídica determinados pelo AIC para cada região do genoma analisada estão mostrados na Tabela 4. 125 Tabela 4 – Modelo de substituição nucleotídica determinado pelo critério de informação de Akaike (AIC), mostrando os dados para frequência das bases, taxa de matriz, parâmetros de distribuição gamma e proporção de sítios invariáveis. REGIÃO DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO NUCLEOTÍDICA (AIC) Modelo AIC ORF GTR+I+G Estrutural Frequências de base Taxa de Matriz Gamma pinvar 1 0,8556 0,0889 5,2646 1 1,0139 0,1472 1,0046 3,8151 1 1,2036 0,0174 1,2088 1,0215 4,7975 1 0,9292 0,0405 3,2755 1,5763 1,3814 5,6451 1 0,7038 0,0375 2,1940 2,9326 1,3912 1,3233 5,1501 1 0,8574 0,1047 0,2029 0,3119 3,9679 2,0758 1,8510 7,2012 1 0,7801 0,0826 0,2923 0,2376 1,9575 2,3360 0,8375 1,1144 3,3479 1 1,2679 0,0079 0,2192 0,2974 0,2307 2,7358 2,3802 1,6002 1,3769 4,1828 1 1,1961 0,0203 0,3058 0,2292 0,2598 0,2052 2,9864 4,3029 1,7208 1,5777 7,2007 1 0,7251 0,1104 22.832,62 0,2474 0,2256 0,3010 0,2260 2,1262 2,4339 1,0148 1,2554 4,4887 1 0,7176 0 GTR+I+G 49.464,71 0,2600 0,2411 0,2729 0,2260 1,6425 2,5814 1,1524 1,1426 4,0935 1 0,7537 0,0207 NS5 GTR+I+G 132.819,01 0,3164 0,2354 0,2692 0,1790 2,1258 2,9775 1,6953 1,3421 6,2232 1 0,8760 0,1812 3’RNC GTR+G 189.46,02 0,2577 0,2756 0,2707 0,1959 0,9646 2,6194 2,2307 0,5773 3,2512 1 1,8053 0 GENOMA A C G T A-C A-G A-T C-G C-T G-T 567.200,06 0,2890 0,2310 0,2710 0,2090 2,1834 2,9118 1,3606 1,3010 5,0231 GTR+I+G 396.648,84 0,2982 0,2265 0,2742 0,2011 2,1450 2,8328 1,4038 1,3553 C GTR+I+G 22.575,54 0,2865 0,2268 0,2873 0,1994 2,0575 2,4500 0,7382 PrM GTR+I+G 29.593,50 0,2752 0,2298 0,2766 0,2184 2,6715 2,8679 E GTR+I+G 82.980,60 0,2868 0,2338 0,2584 0,2209 2,1395 GTR+I+G 430.515,03 0,2904 0,2306 0,2724 0,2066 NS1 GTR+I+G 59.114,26 0,3119 0,2251 0,2601 NS2A GTR+I+G 45.840,84 0,2446 0,2254 NS2B GTR+I+G 24.615,41 0,2527 NS3 GTR+I+G 94.532,51 NS4A GTR+G NS4B Não Estrutural 125 126 3.5.1. Região Codificante A análise filogenética da região codificante (ORF) de 32 flavivírus, mostrou a formação de quatro grupos, os quais apresentam relação ecoepidemiológica: flavivírus transmitidos por mosquitos, suportado por um valor de bootstrap de 100% (VEJ, VUSU, VALFUY, VEMV, VNO, VESL, VROC, VILH, VBAG, VIGU, VBSQ, VKOK, VZIK, VKED, VDEN1, VDEN2, VDEN3, VDEN4, VSEP, VWES, VFA), flavivírus transmitidos por carrapatos, com bootstrap de 100% (VLI, VTBE, VOHF, VLGT e VPOW), os agentes zoonóticos com vetores desconhecidos, suportado pelo bootstrap de 100% (VMML, VVRB, VMOD e VAPOI) e os flavivírus de insetos, representados pelos VCFA e VKR (bootstrap = 100%). O grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos foi subdivido em nove clados: o clado I dos flavivírus do grupo da encefalite japonesa (VEJ, VUSU, VALFUY, VEMV, VNO, VESL); o clado II que agrupa VILH e VROC; o clado III representado pelo VBAG; clado IV que inclui os VBSQ e VIGU; o clado V, VI e VII representados pelos VKOK, VZIK e VKED, respectivamente; o clado VIII que inclui o grupo do dengue (VDEN1, VDEN2, VDEN3 e VDEN4); o clado IX que inclui os VFA, VSEP e VWES (Figura 22). Analisando o tropismo viral e vetores, associam-se os clados I, II, III, IV e V, como vírus neurotrópicos transmitidos por Culex sp. e os clados VI, VII, VIII e IX com vírus viscerotrópicos transmitidos por Aedes sp. 127 ORF CLADO (0,81) 100% (1) (0,88) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 65,8% (1) 89,6% (0,98) 87,4% (0,93) 100% (1) 72,3% (0,90) 97,2% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) 95,8% (1) 99,7% (1) 100% (1) 100% (1) 100% (1) VDEN2 VDEN4 VSEP VWES VFA VLI VTBE VOHF VLGT VPOW VMML VRB VMOD VAPOI VKR VCFA I II III Flavivírus transmitidos por mosquitos IV V VI VII VIII Aedes viscerotrópicos 100% (1) 99,7% (1) VNO VESL VROC VILH VBAG VIGU VBSQ VKOK VZIK VKED VDEN3 VDEN1 GRUPO Culex neurotrópicos 79,3% (0,83) VEMV VALFUY VEJ VUSU IX Flavivírus transmitidos por carrapatos Agentes Zoonóticos com vetores desconhecido Flavivírus de insetos Figura 22 - Árvore filogenética pelos métodos MV das sequências nucleotídica da ORF dos flavivírus. Os valores bayesianos foram plotados dentro de parêntese. Os grupos dos flavivírus transmitidos por mosquitos, flavivírus transmitidos por carrapatos, agentes zoonóticos com vetores desconhecidos e flavivírus de insetos, estão representados pela cores azul, verde, amarelo e vermelho, respectivamente. O grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos foi subdividido em nove clados. Legenda: VALFUY = Vírus Alfuy; VAPOI = Vírus apoi; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VCFA = Vírus Cell fusion agent; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VFA = Vírus da febre amarela; VDEN1 = Vírus dengue sorotipo 1; VDEN2 = Vírus dengue sorotipo 2; VDEN3 = Vírus dengue sorotipo 3; VDEN4 = Vírus dengue sorotipo 4; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKR = Vírus Kamitti river; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VLGT = Vírus Langat; VLI = Vírus louping ill; VMOD = Vírus modoc; VMML = Vírus Montana miotis leukoencephalitis; VNO = Vírus do Nilo ocidental; VOHF = Vírus Omsk hemorrhagic fever; VPOW = Vírus powassan; VRB = Vírus Rio Bravo; VROC = Vírus Rocio; VSEP = Vírus Sepike; VTBE = Vírus Tick-borne encephalitis; VUSU = Vírus Usutu; VWES = Vírus Wesselsbron; VZIK = vírus Zika. 128 3.5.2. Região estrutural A análise da região estrutural, compreendendo os genes C-PrME, mostrou topologia similar para a formação dos quatro grupos principais dos flavivírus, assim como observado na análise da ORF. No grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos, nove clados foram reconhecidos: o clado I, o qual inclui os vírus da encefalite japonesa (bootstrap de 76,6%); o clado II formado pelos VILH e VROC (bootstrap de 100%), que aparenta ser mais relacionado ao grupo da encefalite japonesa (bootstrap de 91,3%); o clado III representado pelo VBAG, do grupo Ntaya (bootstrap de 100%); o clado V formado pelos flavivírus brasileiros VBSQ e VIGU (bootstrap de 91,3%); o clado VI formado pelos quatro sorotipos do VDEN (bootstrap de 100%); e associados a este os clados VII e VIII, representado pelo VZIK e VKED, respectivamente; e o clado IX formado pelo grupo da febre amarela (bootstrap de 100%) (Figura 23). A análise individual dos genes estruturais mostrou a conservação da topologia dos quatro principais grupos dos flavivírus, no entanto a organização dos clados do grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos para os genes C e PrM apresentou topologia distinta da apresentada para a região estrutural e por vezes apresentando valores de bootstrap baixos para suportar a inclusão dos vírus em uma clado, porém com topologia similar ao observado na análise da região estrutural (Figura 23). Por sua vez, o gene E, apresentou valores de bootstraps mais elevados para a formação dos grupos e clados, porém discordando da análise da região estrutural apenas com relação aos VBAG, VILH e VROC, que neste caso, foram agrupados no mesmo clado, porém suportados por valores de boostrap inferiores a 70% (Figura 24). 129 Região Estrutural 84,9% (0,97) VEMV VUSU 87,9% (0,82) VEJ 100% (1) I VALFUY 76,6% (0,96) VNO 91,3% (1) VESL 100% 100% (1) VROC VILH 95,5% (1) 91,3% VBAG III VKOK IV VBSQ VIGU 100% (1) 99,8% (1) 92,8% (0,83) 100% (0,94) 85% (0,80) II V VDEN1 VDEN3 VDEN2 Flavivírus transmitidos por mosquitos VI VDEN4 79,4% (0,81) 100% (1) 100% (1) VZIK VII VKED VIII VSEP VWES IX VFA 100% (1) 100% (1) 98,6% (0,99) 100% (0,95) VTBE VLI VOHF VLGT Flavivírus transmitidos por carrapatos VPOW 77,6% 88% (0,90) 91,6% (0,98) 100% (1) VRB VMML VMOD Agentes Zoonóticos com vetores desconhecido VAPOI 100% (1) VCFA VKR Flavivírus de insetos Figura 23 - Árvore filogenética pelo método MV, com valores bayesianos inseridos em parênteses, das sequências nucleotídicas da região estrutural dos 32 flavivírus. Observar que VILH e VROC encontram-se associados ao grupo da encefalite japonesa. Legenda: VALFUY = Vírus Alfuy; VAPOI = Vírus apoi; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VCFA = Vírus Cell fusion agent; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VFA = Vírus da febre amarela; VDEN1 = Vírus dengue sorotipo 1; VDEN2 = Vírus dengue sorotipo 2; VDEN3 = Vírus dengue sorotipo 3; VDEN4 = Vírus dengue sorotipo 4; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKR = Vírus Kamitti river; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VLGT = Vírus Langat; VLI = Vírus louping ill; VMOD = Vírus modoc; VMML = Vírus Montana miotis leukoencephalitis; VNO = Vírus do Nilo ocidental; VOHF = Vírus Omsk hemorrhagic fever; VPOW = Vírus powassan; VRB = Vírus Rio Bravo; VROC = Vírus Rocio; VSEP = Vírus sepike; VTBE = Vírus Tick-borne encephalitis; VUSU = Vírus Usutu; VWES = Vírus Wesselsbron; VZIK = vírus Zika. 130 Gene E 76,6% (0,89) VUSU VEMV VALFUY 99,6% I VEJ VNO VESL 99,6% (1) 100% (1) 42,3% (0,57) 88,6% (1) VROC VILH II VBAG 98,1% (1) 90,7% (1) VIGU VBSQ VKOK 99% (1) 99,8% (1) 74,8% (1) 100% (1) 87,6% (1) 63,5% (1) III IV Flavivírus transmissão por mosquitos VDEN3 VDEN1 VDEN2 V VDEN4 89,9% (1) VZIK VKED 100% 99,1% VI VII VSEP VWES VIII VFA 97,4% (1) 99,5% (1) 91,6% (1) 100% (1) VLI VTBE VOHF VLGT Flavivírus transmissão por carrapatos VPOW 70,9% (1) 95,2% (1) 90,1% (0,67) 100% (1) VRB VMML VMOD Agente zoonóticos VAPOI 100% (1) VKR VCFA Flavivírus de Insetos Figura 24 – Árvore filogenética gerada pelo método de MV e Bayesiano (valores bayesianos dentro de parênteses) realizada com as sequências nucleotídicas do gene E de 32 flavivírus. Notar a organização com a formação da topologia conservada para os grupos e a inclusão dos VBAG, VILH e VROC no mesmo clado, porém com baixo suporte de bootstrap. Legenda: VALFUY = Vírus Alfuy; VAPOI = Vírus apoi; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VCFA = Vírus Cell fusion agent; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VFA = Vírus da febre amarela; VDEN1 = Vírus dengue sorotipo 1; VDEN2 = Vírus dengue sorotipo 2; VDEN3 = Vírus dengue sorotipo 3; VDEN4 = Vírus dengue sorotipo 4; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKR = Vírus Kamitti river; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VLGT = Vírus Langat; VLI = Vírus louping ill; VMOD = Vírus modoc; VMML = Vírus Montana miotis leukoencephalitis; VNO = Vírus do Nilo ocidental; VOHF = Vírus Omsk hemorrhagic fever; VPOW = Vírus powassan; VRB = Vírus Rio Bravo; VROC = Vírus Rocio; VSEP = Vírus Sepike; VTBE = Vírus Tick-borne encephalitis; VUSU = Vírus Usutu; VWES = Vírus Wesselsbron; VZIK = vírus Zika. 131 3.5.3. Região não estrutural A diferença na topologia dos flavivírus entre as regiões estrutural e não estrutural (NS1-NS2A-NS2B-NS3-NS4A-NS4B-NS5) também ficou a critério da formação dos clados do grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos. Neste caso, para a região não estrutural, oito clados foram identificados: o clado I representado pelo grupo da encefalite japonesa (bootstrap de 100%); considerando que os flavivírus VILH e VROC como espécies virais distintas, estes formam um clado (clado II, bootstrap de 100%), que está associado ao VBAG (clado III; bootstrap de 96,5%); clado IV que agrupa os flavivírus VBSQ e VIGU; os clados interrelacionados V, VI e VII, representados pelos VZIK, VKED e VKOK, respectivamente; o clado VIII representado pelo grupo Dengue (bootstrap de 100%); e o clado IX representado pelo vírus do grupo da febre amarela (bootstrap de 100%) (Figura 25). A exemplo do que foi observado anteriormente, para a região não estrutural a subdivisão em grupos foi mantida para todos os genes, porém a subdivisão em clados dos flavivírus transmitidos por mosquito apresentou algumas diferenças. As árvores geradas para os genes NS3 e NS5 foram as que apresentaram melhor topologia, similar à árvore gerada para o conjunto da região não-estrutural, com os valores de bootstraps mais elevados (Figura 26). Os demais genes apresentaram topologia similar a arvore filogenética para toda a região não estrutural, com exceção da NS1, no qual o VILH e VROC estão associados com o grupo da encefalite japonesa, tal como observado para a região estrutural. 132 Para o gene NS3, os VBAG, VILH e VROC agrupam-se no clado II. Os VIGU e VBSQ estão mais relacionados aos VZIK e VKED (Figura 26 A). Quanto ao gene NS5, a topologia foi similar a observado na análise da ORF dos flavivírus (Figura 26 B). Região Não estrutural 93% (0,99) VEJ 100% (1) I VUSU 100% (1) VNO VESL 100% (0,95) 100% (0,95) 96,5% (1) 82,5% (0,85) 100% (1) 82,6% (0,92) 85% (0,75) 100% (1) 100% (1) 99,3% (0,92) 100% VEMV VALFUY 100% (1) 100% (0,89) VROC VILH VBAG VBSQ VIGU VZIK IV V VKED VI VKOK VII Flavivírus transmitidos por mosquitos VDEN1 VDEN3 VDEN2 (1) II III VIII VDEN4 100% 100% (1) (1) 100% (1) 100% (0,98) 100% (0,87) 100% (1) VSEP VWES IX VFA VLI VTBE VOHF VLGT Flavivírus transmitidos por carrapatos VPOW 94,3% (1) 98,3% (0,95) 100% (0,89) 100% (1) VRB VMML VMOD Agentes Zoonóticos com vetores desconhecido VAPOI 100% (1) VCFA VKR Figura 25 - Árvore filogenética pelos métodos MV e Bayesiano (valores inseridos dentro dos parênteses) das sequências nucleotídicas da região não estrutural dos 32 flavivírus. Legenda: VALFUY = Vírus Alfuy; VAPOI = Vírus apoi; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VCFA = Vírus Cell fusion agent; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VFA = Vírus da febre amarela; VDEN1 = Vírus dengue sorotipo 1; VDEN2 = Vírus dengue sorotipo 2; VDEN3 = Vírus dengue sorotipo 3; VDEN4 = Vírus dengue sorotipo 4; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKR = Vírus Kamitti river; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VLGT = Vírus Langat; VLI = Vírus louping ill; VMOD = Vírus modoc; VMML = Vírus Montana miotis leukoencephalitis; VNO = Vírus do Nilo ocidental; VOHF = Vírus Omsk hemorrhagic fever; VPOW = Vírus Powassan; VRB = Vírus Rio Bravo; VROC = Vírus Rocio; VSEP = Vírus Sepike; VTBE = Vírus Tick-borne encephalitis; VUSU = Vírus Usutu; VWES = Vírus Wesselsbron; VZIK = vírus Zika. 133 77% (1) (A) 56,5% (0,68) 95,7% (1) VEMV VUSU 98,7% (1) 53,6% (0,59) (B) VALFUY 38,6% (0,57) 79% (0,73) I 100% (1) VEJ 66,2% (0,71) VESL 100% (1) 100% (1) 79% (0,90) 48,1% (0,67) VBAG 44,0% VKED VZIK 33,7% III 73,8% (0,79) 88,1% (1) 40,2% 96,3% 100% (1) 65% Flavivírus transmissão por mosquitos 98,2% (1) 61,9% (0,71) 100% 87,4% (1) IV 99,8% (1) 90,9% (1) 100% (1) VDEN4 97% (1) VKOK 100% 100% 92,8% (1) 1000% (1) 99,9% (1) VI 100% (1) 99,4% (1) 100% (1) VOHF VLGT 100% (1) Flavivírus transmissão por carrapatos 100% (1) 92% (1) 100% (1) 75,1% (0,82) VMML 99,9% (1) VRB 99,7% (0,98) VMOD VCFA VKR IV VDEN3 VDEN2 V VI VWES VSEP VII VTBE VLI VOHF Flavivírus transmissão por carrapatos VPOW 71,8% (0,73) Agente zoonóticos VRB 59,3% (0,66) VMML 99,9% (1) VMOD VAPOI 100% (1) Flavivírus transmissão por mosquitos VDEN1 VLGT VPOW 97,3% (1) III VFA 60,5% (0,80) VTBE VLI VKOK VKED 100% (1) VFA (1) II VDEN4 V VSEP VWES VIGU VZIK 73,9% (0,81) VDEN1 VDEN2 VROC VBSQ 77,9% (1) VBSQ VDEN3 VILH VBAG VIGU 71,6% (0,88) I VESL 99,7% (1) II VEMV VNO 99,5% (1) VROC VILH VUSU VALFUY 65,2% (0,66) VNO VEJ Agente zoonóticos VAPOI Flavivírus de Insetos 100% (1) VCFA VKR Flavivírus de Insetos Figura 26 – Árvore filogenética pelos métodos MV das sequências nucleotídicas do gene NS3 (A) e NS5 (B) dos flavivírus. Os valores bayesianos foram plotados dentro de parêntese. Perceber as mudanças de topológica dos flavivírus transmitidos por mosquitos. Legenda: VALFUY = Vírus Alfuy; VAPOI = Vírus apoi; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VCFA = Vírus Cell fusion agent; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VFA = Vírus da febre amarela; VDEN1 = Vírus dengue sorotipo 1; VDEN2 = Vírus dengue sorotipo 2; VDEN3 = Vírus dengue sorotipo 3; VDEN4 = Vírus dengue sorotipo 4; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKR = Vírus Kamitti river; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VLGT = Vírus Langat; VLI = Vírus louping ill; VMOD = Vírus modoc; VMML = Vírus Montana miotis leukoencephalitis; VNO = Vírus do Nilo ocidental; VOHF = Vírus Omsk hemorrhagic fever; VPOW = Vírus powassan; VRB = Vírus Rio Bravo; VROC = Vírus Rocio; VSEP = Vírus Sepike; VTBE = Vírus Tick-borne encephalitis; VUSU = Vírus Usutu; VWES = Vírus Wesselsbron; VZIK = vírus Zika. 133 134 3.5.5. Filogenia concatenada E-NS5 Com intuito de observar a topologia dos flavivírus, utilizando sítios informativos, simultaneamente das regiões estrutural e não estrutural, foi realizada a análise filogenética concatenada das sequências parciais dos genes E e NS5 para que se pudessem acrescentar outros flavivírus do grupo Ntaya: o Vírus Israel turkey meningoencefalomyelite (VIT; E = AF372415; NS5 =AF013377), Vírus Ntaya (VNTA; E =AF372416; NS5 =AF013392) e Vírus Tembusu (VTMU; E =AB110494; NS5 =AB110489), bem com o VAROA (E = AF372413; NS5 = AF013362) e VNJL (E = AF372411; NS5 = AF013390). Também foram acrescentados nesta análise outros flavivírus: VAEF (AB488408), VCXF (EU879060) e VQB (NC012671). O modelo de substituição nucleotídica determinado pelo AIC foi o GTR+I+G [Base=(A=0,2965; C=0,2462; G=0,2533) Nst=6 Rmat=(A-C=1,9077; A-G=3,0328; A-T=1,5385; C-G=1,2199; C-T=5,5299) gamma =0,8723 Pinvar=0,1350]. A subdivisão nos quatro grupos principais dos flavivírus se manteve, observando a inserção dos VAEF, VCXF e VQB juntamente com o VCFA e o VKR, no grupo dos flavivírus de insetos, tendo sido este grupo utilizado com grupo externo para o enraizamento da árvore. O grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos foi subdividido em dez clados: clado I, que inclui os vírus do grupo da encefalite japonesa (bootstrap = 100%); o clado II (bootstrap = 100%) representados pelos integrantes do grupo Ntaya (VBAG, VNTA, VIT e VTMU); associado ao clado II, porém distinto deste (suportado por valor de bootstrap = 70%), o clado III, que agrupa os flavivírus VILH e VROC (bootstrap = 99,9%); o clado IV representado pelos VBSQ e VNJL; o clado V que inclui o VAROA e o VIGU; o clado VI representado pelo VKOK; o clado VII que agrupa 135 os quatro sorotipos do VDEN; e associado ao VII os clados VIII e IX, representado pelos VZIK e VKED, respectivamente; e o clado X representado pelo vírus associados ao VFA (Figura 27). VEMV 71,2% (0,90) VALFUY VUSU 99,2% (1) I VEJ 100% (0,98) 100% 89,3% (0,80) 100% (0,90) VNO VITM VBAG II VNTA 70% (0,85) VTMU 99,9% (1) 100% (1) VILH VROC VBSQ III IV VNRJ 100% (1) 100% (0,95) 98% (0,90) VIGU VAROA VKOK 76,1% (0,80) 85,5% (0,92) 100% (1) 71,5% (0,80) V Flavivírus transmitidos por mosquitos VI VDEN1 VDEN3 VDEN2 VII VDEN4 91% (1) VZIK VKED 100% (1) 100% (1) VIII IX VWES VSEP X VFA 100% 98,9% 100% (1) VTBE 78,9% 90,1% 100% (1) VRB VOHF VLGT VPOW VMML VMOD VAPOI 100% 88,4% (0,90) 100% (0,85) Agentes Zoonóticos com vetores desconhecido VCXF VQB VCFA 99,7% (0,85) Flavivírus transmitidos por carrapatos VAEF Flavivírus de insetos VKR Figura 27 – Árvore filogenética pelo Método MV concatenada das sequências nucleotídicas parciais dos genes E e NS5 de 38 flavivírus. Os valores Bayesianos estão representados dentro de parênteses. Os grupos dos flavivírus transmitidos por mosquitos, flavivírus transmitidos por carrapatos, agentes zoonóticos com vetores desconhecidos e flavivírus de insetos, estão representados pela cores azul, verde, amarelo e vermelho, respectivamente. No grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos, notar a distinção entre os clados II (grupo Ntaya) e clado III (VILH e VROC), bem com a associação entre os VBSQ e VNJL distinta dos VAROA e VIGU. Legenda: VALFUY = Vírus Alfuy; VAPOI = Vírus apoi; VBAG = Vírus Bagaza; VBSQ = Vírus Bussuquara; VCFA = Vírus Cell fusion agent; VEJ = Vírus da encefalite japonesa; VEMV = Vírus encefalite Murray Valley; VESL = Vírus encefalite Saint Louis; VFA = Vírus da febre amarela; VDEN1 = Vírus dengue sorotipo 1; VDEN2 = Vírus dengue sorotipo 2; VDEN3 = Vírus dengue sorotipo 3; VDEN4 = Vírus dengue sorotipo 4; VIGU = Vírus Iguape; VILH = Vírus Ilhéus; VKR = Vírus Kamitti river; VKED = Vírus kedougou; VKOK = Vírus kokobera; VLGT = Vírus Langat; VLI = Vírus louping ill; VMOD = Vírus modoc; VMML = Vírus Montana miotis leukoencephalitis; VNO = Vírus do Nilo ocidental; VOHF = Vírus Omsk hemorrhagic fever; VPOW = Vírus Powassan; VRB = Vírus Rio Bravo; VROC = Vírus Rocio; VSEP = Vírus Sepike; VTBE = Vírus Tick-borne encephalitis; VUSU = Vírus Usutu; VWES = Vírus Wesselsbron; VZIK = vírus Zika. 136 4. DISCUSSÃO Os membros do gênero Flavivirus apresentam incontestável importância em saúde pública, bem como para a economia, isto devido às inúmeras epidemias ocorridas em comunidades humanas, com expressiva morbidade e mortalidade, bem como o comprometimento da produtividade de rebanhos, que são fundamentais para manutenção da economia e subsistência global (Gritsun et al., 2003; Halstead & Jacobson, 2003; Staples & Monath, 2008; Ulloa et al., 2009). Tendo em vista essa importância, valiosos esforços da comunidade científica brasileira vêm gerando importantes informações para o melhor entendimento dos aspectos clínicos, ecológicos e de distribuição geográfica dos flavivírus no país (Travassos da Rosa et al., 1997; Vasconcelos et al., 1998; Figueiredo, 2000). Os estudos de caracterização genética vieram complementar as lacunas do conhecimento deixadas pelos estudos sorológicos, infecções experimentais e epidemiologia dos flavivírus, contribuindo com informações no âmbito molecular, o que estreitou as relações entre as característcias biológicas e genéticas, além de contribuir com a taxonomia viral e constituir a base para o desenvolvimento de ferramentas diagnósticas mais precisas e rápidas (Kuno et al., 1998; Scaramozzino et al., 2001), bem como para a produção de vacinas (Schlesinger et al., 1992; Chang et al., 2004) e drogas antivirais (Ray & Shi, 2006; Sampath & Padmanabhan, 2009) . Um dos maiores obstáculos para o estudo dos flavivírus é o número limitado de sequências completas do genoma, uma vez que as características únicas para os subgrupos é frequentemente revelada apenas 137 quando se analisa vários membros de um dado grupo. Tal dificuldade pode ser vista nas análises envolvendo os grupos dos flavivírus transmitidos por mosquitos: Ntaya (VBAG - Kuno & Chang, 2007) – grupo Kokobera (VKOK) e Spondweni (VZIK - Kuno et al., 2005), onde apenas um membro foi completamente seqüenciado ou do grupo Aroa, cujas primeiras sequências completas são apresentadas neste trabalho. Por outro lado, nos últimos anos com o avanço dos métodos de sequenciamento e de filogenia, o número de sequências completas dos flavivírus vem aumentando consideravelmente, bem como, novos vírus têm sido geneticamente caracterizados (Crabtree et al., 2003; Kuno et al., 2005; Kuno & Chang, 2007; Hoshino et al., 2007; Crabtree et al., 2009; Hoshino et al., 2009), proporcionando: (i) um melhor entendimento das relações filogenéticas e evolutivas entre os integrantes do gênero Flavivirus (Zanotto et al., 1996; Kuno et al., 1998; Billoir et al., 2000; Gould et al., 2003b; Cook & Holmes, 2006); (ii) permitir a análise da organização genômica (Kuno et al. 2009); (iii) identificar motivos conservados nas sequências aminoacídica associados com a função da proteína (Gorbalenya et al., 1989; Chang, 1997; Koonin, 1991; 1993; Matusan et al., 2001; Stiasny et al., 2006; Seligman, 2008); (iv) descrever a estrutura secundária do RNA e sua relação com a síntese do RNA (Alvarez et al., 2005a; 2005b; Villordo & Gamarnik, 2009). Assim, este trabalho vem contribuir com a descrição e análises das sequências completas de quatro flavivírus brasileiros classificados segundo o ICTV como segue: os VBSQ e VIGU ditos como pertencentes ao grupo Aroa e os VILH e VROC, ditos como integrantes do grupo Ntaya (ICTV, 2005). 138 A caracterização genética dos genomas dos flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC mostraram uma organização genômica similar aos demais integrantes do gênero: uma única região codificante (ORF) flanqueada por duas RNC (5’RNC e 3’RNC). Na ORF, as dez proteínas virais, C-PrM-E-NS1NS2A-NS2B-NS3-NS4A-NS4B-NS5, também foram observadas, como anteriormente descritas (Rice et al., 1985; Chambers et al., 1990). As diferenças no tamanho do genoma, e consequentemente, no tamanho dos genes, observados entre os flavivírus brasileiros é também similare ao padrão apresentado ao se comparar aos demais flavivírus (ANEXO II). Os tamanhos dos genes Pr/M, NS2A, NS2B, NS4A/2K dos flavivírus brasileiros em estudo são iguais aos de outros flavivírus transmitidos por mosquitos do gênero Culex e associados à encefalite, observando-se pequenas variações quanto aos tamanhos dos genes NS1, NS3, NS4 e NS5. Em relação ao gene E, no entanto, o VIGU, com 1.482 nt/ 494aa, apresenta tamanho compatível com os vírus do grupo dengue e febre amarela (493 a 495 aa) que são associados com febres hemorrágicas e transmissão por Aedes e distinto dos flavivírus encefalitogênicos (500 a 501 aa), incluíndo os VBSQ, VILH e VROC (Quadro 8). Nota-se que o tamanho da poliproteína dos VILH e VROC difere em apenas um aminoácido, que provavelmente é determinado por uma deleção na NS3 do VILH (Quadro 8). Entre os flavivírus, a maior variação em tamanho (ANEXO II), bem como em variabilidade genética (Tabela 3) é observada para o gene C. Essa variação no tamanho da ORF e de genes individuais entre os grupos dos flavivírus transmitidos por mosquito foi observada, 139 estatisticamente pelos testes não paramétricos por Kuno e colaboradores (2009). Nessa análise, os autores comprovaram uma variação significativa crescente entre os grupos: flavivírus de insetos, agentes zoonóticos com vetores desconhecidos e flavivírus transmitidos por vetores (mosquitos e carrapatos), bem como que entre os flavivírus transmitidos por mosquitos, os vírus relacionados com encefalites apresentam a ORF maior; os VKOK, VIGU, VKED e VZIK apresentam tamanho intermediário; e grupo do VDEN apresenta ORF com menor tamanho. Quanto à variação no tamanho das RNCs, as 5’RNCs dos flavivírus brasileiros em estudo apresentaram tamanho compatível com a média dos flavivírus transmitidos por mosquitos (Markoff, 2003), notando-se que os VBSQ e VIGU apresentaram tamanhos equivalentes, o que também é observado entre os VILH e VROC (Quadro 8). A maior variação no comprimento foi observada para a 3’RNC, fato este também descrito para outros flavivírus (Hahn et al., 1987; Markoff, 2003). As sequências conservadas da 3’RNC dos flavivírus transmitidos por mosquitos RCS3-CS3-RCS2-CS2-CS1[3’CYC] (sentido genômico 5’→3’), também foram analisadas nos genomas dos flavivírus brasileiros, que apresentaram tamanho compatível com o descrito na literatura (Hahn et al., 1987; Markoff, 2003). O padrão das sequências conservadas da 3’RNC do VBSQ foi similar ao apresentado pelos sorotipos do VDEN e pelo VKOK, ao passo que para os VIGU, VILH e VROC o padrão foi mais relacionado ao grupo da encefalite japonesa, observando-se, no entanto, a ausência da RCS3 140 (Figura 15), o que reforça a similaridade desses vírus com o grupo da encefalite japonesa, a exemplo do que ocorre na filogenia (Kuno et al., 1998). Sabe-se que o padrão das sequências conservadas da 3’RNC está estritamente relacionado à subdivisão dos flavivírus em grupos/sorocomplexos: todos os integrantes do grupo da encefalite japonesa apresentam o padrão RCS3-CS3-RCS2-CS2-CS1, enquanto que os membros do complexo dengue possuem um padrão RCS2-CS2-CS1 (Hahn et al., 1987; Poindinger et al., 1996; Markoff, 2003). A presença de diferentes padrões entre os flavivírus transmitidos por mosquitos e flavivírus transmitidos por carrapatos (Markoff, 2003), sugere a importância dessas regiões para a classificação taxonômica desses agentes virais (Hahn et al., 1987; Charlier et al., 2002; Leyssen et al., 2002; Markoff, 2003; Kuno & Chang, 2006; Kuno & Chang, 2007; Hoshino et al., 2009). Apesar dos VILH e VROC serem incluídos no grupo Ntaya (ICTV, 2005), a análise mostrou que estes vírus apresentam um padrão CS3-RCS2CS2-CS1 (Figuras 15 e 16) e que é distinto do VBAG (RCS3-CS3-CS2-CS1) (Kuno & Chang, 2007). Da mesma forma, O VBSQ não apresenta a CS3, que por sua vez está presente no genoma do VIGU e ambos os vírus são ditos com membros do grupo Aroa, de acordo com o CITV (ICTV, 2005). É interessante notar que ao se comparar o padrão das sequências conservadas da 3’RNC com os diferentes quadro clínicos associados aos flavivírus, observa-se a presença das CS3 e/ou RCS3 no genoma dos vírus encefalitogênicos, tal como aqueles pertencentes ao grupo da encefalite japonesa (Gubler et al., 2006), como por exemplo o VBAG 141 (Bondre et al., 2009) e o VROC (Lopes et al., 1978a; 1978b). Por outro lado, o padrão RCS2-CS2-CS1 está associado aos vírus que causam manifestações exantemáticas e/ou icterohemorrágicas aqui representados pelos sorotipos do VDEN (Travassos da Rosa et al., 1997), VKOK (Nisbet et al., 2005) e VZIK (Hayes, 2009). Ressalta-se que o VFA apresenta um padrão das sequências conservadas que é distinto dos demais flavivírus transmitidos por mosquitos, possuindo três repetições em série de uma sequência conservada, ao invés da RCS2-CS2 (Markoff, 2003; Bryant et al., 2005). No entanto, para verificar essa hipótese seria necessário realizar estudos infecção experimental com cepas mutantes (sem as CS3 e/ou RCS3) para avaliar o papel dessa região em relação ao tropismo viral e ao tipo de alterações patológicas. Quanto à conservação das CS1[3’CYC], CS2, RCS2, CS3, RCS3, autores como Kuno e Chang (2007) consideram como sequências conservadas imperfeitas (ImCS) aquelas que apresentam entre duas a cinco alterações nucleotídicas, quando comparadas com a sequência consenso. Sendo assim, a análise do alinhamento nucleotídico das 3’RNC dos flavivírus transmitidos por mosquitos mostrou que a CS1 do VIGU é imperfeita (ImCS1), por apresentar três alterações nucleotídicas (duas substituições do tipo transições e uma inserção). Quanto a CS2 ser completamente conservada entre os integrantes dos grupos da encefalite japonesa e do dengue (exceto o VDEN3), VBAG, VKOK e VZIK (Markoff, 2003; Figura 16), para VIGU e VILH foi observado uma substituição em posições distintas. Ademais, na CS3 do VIGU observou-se uma substituição do tipo transversão (A→T) na posição 10.485, que também é observada na CS3 dos VALFUY e VBAG (Figura 16). 142 Estudos anteriores mostraram que mudanças pontuais nas sequências conservadas da 3’RNC estão relacionadas a importantes funções biológicas dos flavivírus, tais como sobrevivência e/ou patogenicidade (Bryant et al., 2005; Khromykh et al., 2001) e que deleções das CS2, RCS2 e CS1 estão associadas à redução considerável na competência da replicação viral (Men et al., 1996). Entretanto, estudos adicionais são necessários para correlacionar a não ocorrência de infecção humana pelos VIGU e VBSQ, bem como as infecções subclínicas pelo VILH, com as alterações observadas nas sequências conservadas da 3’RNC. O papel da estrutura secundária de ciclização do RNA dos flavivírus tem sido associada com os processos de síntese do RNA e tradução das proteínas virais, evidenciando a importância da conservação das sequências de ciclização 5’CYC e 3’CYC (Proutski et al., 1997; Khromykh & Westaway, 1997; Villordo & Gamarnik, 2009). A pesar da CS1 do VIGU ter sido considerada imperfeita (ImCS1) onde uma única alteração foi observada na região 3’CYC, a estrutura secundária do RNA foi conservada observando-se o pareamento com a região 5’CYC. As estruturas secundárias preditivas para flavivírus brasileiros foram similares às observadas nos estudos realizados por Proutski e colaboradores (1997) e Kuno & Chang (2006; 2007). As estruturas secundárias peculiares da 5’RNC - 5’ES e grampo do capsídio (5’CapHS) –, bem como da 3’RNC (3’SL) foram mantidas na estrutura de ciclização dos flavivírus brasileiros (Figura 18), corroborando a análise de Villordo & Gamarnik (2009). Como esperado, o pentanucleotídeo 5’-CACAG-3’, que é extremamente 143 importante para a replicação dos flavivírus (Hahn et al., 1987), foi encontrado ao nível da 3’SL dos quatro flavivírus em estudo (Figura 17). Comparando a energia livre necessária para manter a ciclização do RNA viral dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC, observa-se que a energia necessária para a formação da estrutura secundária do VIGU foi menor quando comparada com os demais flavivírus em estudo. Isso possivelmente se deve ao reduzido número de grampos observados na conformação secundária do RNA do VIGU (Figura 17). As sequências responsáveis pela ciclização do RNA, também estão presentes na estrutura preditiva dos flavivírus brasileiros: pareamento entre as sequências conservadas 5’CYC e 3’CYC (Hahn et al., 1987) e das sequências de ciclização, 5’SCy e 3’SCy (Alvarez et al., 2005b). Apesar do pareamento 5’SCy-3’SCy dos VBSQ e VROC não serem perfeitas (Figuras 18 e 19), observa-se a presença de pequenas alças (PA). Da mesma forma, a 5’CyC do VROC não é completamente pareada em virtude da presença de substituições nucleotídicas (Figura 19). Estes fatos parecem não interferir na formação da estrutura de ciclização desses vírus, tão pouco na infectividade viral, uma vez que o VROC foi capaz de causar lesões intensas no SNC de hamsters dourados (Henriques, 2009). Uma terceira sequência complementar entre a 5’RNC e a 3’RNC (com sete nucleotídeos) foi observada no VBSQ (Figura 17), que até o presente momento ainda não foi descrita para outros flavivírus. Muito embora as mutações não-silenciosas estejam ligadas diretamente à mudança conformacional das proteínas, o que pode resultar em 144 alterações bioquímicas e biológicas das proteínas e, consequetemente, podendo modificar a virulência, bem como a patogênese viral (atenuar um vírus ou mesmo modificar o seu tropismo tecidual/celular, etc.), as mutações silenciosas podem alterar a conformação da estrutura secundária dos vírus e com isso, interferir em suas características biológicas (Markoff, 2003; Villordo & Gamarnik, 2009). Sendo assim, as alterações genéticas (sinônimas e/ou não sinônimas) que distanciam o VILH do VROC, podem estar relacionadas com a distinta estrutura secundária do RNA do VILH de modo que tal vírus tornou-se menos virulento que o VROC, tal como mostrou o estudo de Henriques (2009). Com relação à poliproteína, os flavivírus brasileiros basicamente seguiram o mesmo padrão de clivagem de proteína estabelecido para os demais flavivírus isolados de mosquitos (Rice & Strauss, 1990; Billoir et al., 2000; Kuno & Chang, 2007). Como esperado, o padrão da distribuição dos resíduos de Cis nas proteínas PrM, E e NS1 (6,12,12) foi o mesmo para os demais flavivírus (Mackenzie et al., 1996; Heinz & Allison, 2003; Chiu et al., 2005), provavelmente devido à grande importância desses resíduos na formação das ligações dissulfeto responsáveis pela estabilização da estrutura secundária das proteínas (Nowak et al., 1989). O papel dos carboidratos não é completamente compreendido em relação à função biológica, imunogenicidade e estabilidade das glicoproteínas virais. Anticorpos monoclonais contra a proteína E de diferentes cepas do VESL mostraram que a glicosilação não é essencial para conformação dos epítopos ou atividade biológica, uma vez que cepas não glicosiladas mantêm a mesma antigenicidade (Vorndam et al., 1993). Ademais, a completa 145 deglicosilação da proteína E do VTBE, pela endoglicosidase F, não impede a infectividade viral nem a atividade hemaglutinante da proteína E, mostrando que a glicosilação não exerce um papel fundamental na estrutura antigênica do VTBE desde que a reatividade das partículas deglicosiladas é idêntica quando analisada por anticorpos policlonais e monoclonais (Winkler et al., 1987). Por outro lado, a importância dos sítios de glicosilação da proteína E nos processos de replicação e maturação viral (Goto et al., 2005; Li et al., 2006), bem como no aumento da eficiência replicativa é evidente (Scherret et al., 2001; Shirato et al., 2004). Ademais, os sítios de glicosilação também estão associados à neurovirulência (Halevy et al., 1994; Chambers et al., 1998; Shirato et al., 2004; Beasley et al., 2005). A presença de potenciais sítios de glicosilação ao longo das proteínas PrM, E e NS1 dos flavivírus brasileiros, objeto deste trabalho, mostrou que o número de tais sítios difere entre esses vírus, assim como para os demais flavivírus transmitidos por mosquitos (Kuno & Chang, 2006). É interessante notar que os sítios de glicosilação descritos nas posições 154 da proteína E (exceto VBSQ) e 130 da NS1, permanecem conservados entre os quatro flavivírus. A glicosilação na posição 154 da proteína E também foi reconhecida no VKUN (Adams et al., 1995), VDEN (Johnson et al., 1994) e VTBE (Heinz & Allison, 2003); enquanto que a glicosilação na posição 130 da proteína NS1, bem como na posição 207 (vista na NS1 do VBSQ), foi detectada no VDEN-2, mostrando a participação desses sítios na estabilidade da partícula viral e no processamento/transporte da NS1 (Crabtree et al., 2005). Ademais, a deglicosilação de um ou ambos os sítios de glicosilação da NS1 146 reduz a replicação do VDEN-2 em células de mosquitos clone C6/36, bem como a neurovirulência em camundongos para o VDEN-2 (Crabtree et al., 2005) e VFA (Muylaert et al., 1996). Entretanto, estudos adicionais de infecção experimental fazem-se necessários para tentar correlacionar a função dos sítios de glicosilação das proteínas virais com as características biológicas e antigênicas dos flavivírus. As análises dos domínios e dos motivos conservados foram realizadas para as proteínas E, NS3 e NS5 devido à relevância dessas proteínas no processo replicativo e na patogenicidade dos flavivírus (Gubler et al., 2007; Lindenbach et al., 2007), além de serem constantemente alvos de análises filogenéticas (Kuno et al., 1998; Gaunt et al., 2001; Kuno et al., 2009). O tamanho da proteína E varia entre 493 a 501 aa entre os flavivírus transmitidos por vetores (mosquitos e carrapatos) e os agentes zoonóticos. Dois, dos três domínios da proteína E foram identificados pelos bancos de dados do Interproscan: o domínio II (ectodomínio) e III (similar à imunoglobulina). As posições e o tamanho desses domínios dentre as proteínas E dos flavivírus em estudo foram mais ou menos equivalentes (Tabela 1). No domínio II, foi verificada a conservação do peptídeo de fusão e no domínio III, a do tripepídeo RGD. Sabe-se que apenas 18% da proteína E é conservada entre os flavivírus patogênicos (Seligman & Bucher, 2003). Apesar do peptídeo de fusão corresponder a 3,2% dos aminoácidos conservados, esse motivo contém cerca de 13% dos aminoácidos conservados da proteína E. A necessidade requerida para as mudanças conformacionais durante o processo da fusão da proteína E 147 com a membrana celular faz com que o peptídeo de fusão apresente alto grau de conservação entre os flavivírus, sugerindo que a ocorrência de mutações sejam raras, muito embora cinco sítios (N104, L108, F109, S113 e I114) sejam considerados mais variáveis quando se compara diferentes integrantes do gênero Flavivirus (Seligman, 2008) (Figura 28, Anexo V). Os peptídeos de fusão dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC estão em posição análoga aos peptídeos de fusão dos demais flavivírus. Ademais, a sequência aminoacídica para os flavivírus transmitidos por Culex (DRGWGNGCGLFGKGSI) apresenta-se completamente conservada para o VILH (Seligman, 2008). Notou-se que os seis resíduos de Gli necessários para que ocorra a rotação em torno das pontes C-C e C-N, facilitando as mudanças conformacionais da proteína E necessárias para a fusão com a membrana do hospedeiro (Seligman, 2008), permanecem conservada para VILH e VROC, havendo uma substituição de G103N nos VBSQ e VIGU. Dentre os resíduos de Gli, destaca-se o resíduo G105, que influencia diretamente a fusão de membrana e a replicação viral e é altamente conservado entre os flavivírus transmitidos por mosquitos (Seligman, 2008), assim como foi observada para os flavivírus brasileiros. Quanto aos VBSQ, VIGU e VROC, três, duas e uma alterações aminoacídicas foram detectadas ao nível dos peptídeos de fusão, respectivamente. Comparando-se o número de mutações por sítio (Figura 28), observa-se que mutações no sítio G103, não são muito frequentes entre os flavivírus, muito embora tenham sido observadas tanto no VBSQ quanto no VIGU. O mesmo foi observado para a posição D99, que no VBSQ é N99. Por 148 outro lado, as alterações nas posições S113 e I114, observada no VBSQ, VIGU e VROC, apresentam as maiores divergências entre os flavivírus (Seligman, 2008). A perda de uma das seis Gli do peptídeo de fusão do VBSQ e VIGU pela substituição de G→N, precisa ser melhor estudada. Nessa mudança, apesar da polaridade do aminoácido ter se mantido (G e N são ambos polares – ANEXO III), não se sabe o quanto tal mudança pode influenciar a infectividade dos VBSQ e VILH, sendo necessário realizar estudos de proteômica e infecção experimental com cepas geneticamente alteradas, objetivando elucidar essa questão. O tripeptídeo RGD (resíduos 388 a 390) encontrado no domínio III da proteína E dos VEJ (Lee & Lobigs, 2000), VALFUY (May et al., 2006), VUSU (Bakonyi et al., 2004) e VEMV (Hurrelbrink & McMinn, 2001) aparentemente envolvido no processo de adsorção viral à célula hospedeira, corresponde à RGE no VNO (Castle et al., 1985) e RPG no VESL (Ciota et al., 2007). O tripeptídeo TPG, visto na proteína E do VROC, é também encontrado no VKED, e difere no VBAG no último aminoácido (TGE), enquanto que o tripeptídeo VGD do VBSQ é encontrado no VZIK (Kuno & Chang, 2007). Em nenhum outro flavivírus foi encontrado a sequência QEN, observada no VILH. A função na interação vírus-célula hospedeira em relação aos diferentes tripeptídeos dos flavivírus brasileiros análogos RGD do grupo da encefalite japonesa, precisa ser melhor estudada. A atividade de protease da NS3 está localizada dentro dos primeiros 180 aa (Li et al., 1999) tal como foi encontrada para os VBSQ, VIGU, 149 VILH e VROC (Tabela 1). Os sítios catalíticos His-Asp-Ser nas posições aminoacídicas 51, 75 e 137, respectivamente (com base na sequência da NS3 do VKUN), também permanecem conservados entre os vírus em estudo, muito embora a localização tenha situado um aminoácido antes no VIGU (Tabela 1). O motivo VIGLYGNG, entre as posições 145 a 152 da NS3 do VKUN corresponde ao sulco de ligação do substrato (Chang, 1997) e está conservado para VROC e VBSQ. Ampliando a análise para os demais flavivírus, observase a variação nos dois primeiros aminoácidos, o que é compartilhado para o VIGU e VILH. Como esperado, os motivos são relacionados à atividade de protease serina da NS3 (Gorbalenya et al., 1989; Matusan et al., 2001). Os domínios MTase-SAM e RdRP da NS5 dos flavivírus (Koonin, 1993), apresentam posições análogas no genoma dos flavivírus brasileiros. Dentre os oito motivos determinantes para a atividade de polimerase (RdRP) da NS5 dos flavivírus, observam-se mutações nos motivos V, VI e VII dos flavivírus em estudo. A mesma alteração observada no motivo V do VROC (Y614F) foi também observada para os integrantes do grupo da febre amarela, enquanto que a alteração para o VILH (V619A) foi descrita para os sorotipos do VDEN. A única alteração do motivo VI foi observada exclusivamente para o VILH, assim como a mutação C713G no motivo VII. Ademais, o sítio DDC (também denominado de motivo B), que faz parte do sítio NTP-ligante para inúmeras enzimas ATP- e GTP-ligantes (Kramer & Argos, 1984; Koonin, 1993), também permanece conservado para os quatro flavivírus em estudo. Sabe-se que alterações nas proteínas que fazem parte do complexo de síntese do RNA viral (NS1-NS2A-NS3-NS4B-NS5) podem 150 interferir a infectividade viral e promover a uma melhor eficiência da replicação em células do SNC (Gubler et al., 2007), o que chama a atenção para as alterações nos motivos VI e VII do VILH, sugerindo a necessidade de realização de estudos adicionais para estudar essas características desses vírus. A análise gene por gene utilizando o Bootscan, proporcionou informações valiosas para a melhor compreensão das relações filogenéticas entre os quatro flavivírus em estudo com outros flavivírus transmitidos por Culex. Essa análise corroborou os achados da literatura (Kuno et al, 1998; Kuno & Chang, 2005; Kuno et al., 2009) que mostra a estreita relação genética entre VBSQ e VIGU (Figura 20 A) e uma proximidade desses vírus com os VKOK (E, NS1 e NS3), VZIK (NS3), VKED (NS1). O VILH e VROC são estreitamente relacionados entre si e próximos dos VNO (NS1) e VBAG (PrM) (Figura 20 B), corroborando as análises filogenéticas com base em estudos prévios com NS5 (Kuno et al., 1998; Gaunt et al., 2001), E (Gaunt et al., 2001) e ORF (Kuno et al., 2009), que mostram que os flavivírus brasileiros apresentam topologia posicionada entre os membros do grupo da encefalite japonesa e o VBAG do grupo Ntaya. Essa relação fica melhor evidenciada quando o VILH foi retirado da análise do Bootscan (Figura 21), em que se observa que ao longo da ORF, o VROC apresenta maior similaridade com os VBAG e VESL, corroborando com a filogenia de diferentes genes. Ademais, o programa Bootscan também já servir como ferramenta para avaliar recombinação entre cepas virais, tal como observado para Vírus da imunodeficiência humana (Lole et al., 1999). Apesar dos 151 flavivírus exibirem alguns fatores ecológicos bem como a ocorrência de epidemias e de infecções crônicas dos hospedeiros que propiciam a recombinação (Gritsun et al., 2003; Gubler et al., 2007), as análises das árvores filogenéticas individuais utilizando genes de qualquer parte do genoma ou mesmo o genoma inteiro sugerem recombinação entre os flavivírus de uma mesma espécie (Gould et al., 2003b). Portanto, a análise do Bootscan utilizando espécies distintas apenas mostra que um dado flavivírus pode apresentar maior similaridade com diferentes vírus, dependendo da região da ORF que está sendo analisada, afastando a possibilidade de recombinação entre esses agentes virais. A exemplo da similaridade nucleotídica entre os flavivírus vista na análise do Bootscan, o cálculo de identidade aminoacídica reflete a mesma proximidade genética: VBSQ com VIGU e VILH com VROC. É valido ressaltar que as identidades aminoacídica entre VILH e VROC (77,5%) e nucleotídica (72,5%) para a ORF, assim como para o gene NS5 (78,5% aa / 70,3% nt) demonstradas neste estudo são inferiores ao valor limítrofe de 84% para identidade nucleotídica utilizado como critério de inclusão de espécie viral dentro do gênero Flavivirus, como previamente descrito (Kuno et al., 1998; Gaunt et al., 2001). Portanto, esse dado suporta a hipótese de que os VILH e VROC correspondem a espécies distintas. Este raciocínio também se aplica para a situação dos VBSQ e VIGU (Tabela 2). Com base no critério de inclusão de grupo, que suporta valores > 71% para a identidade aminoacídica (Kuno et al., 1998; Gaunt et al., 2001), os VILH e VROC não apresentaram valores suficientes para a inclusão no grupo 152 Ntaya (média da identidade aminoacídica da ORF do VILH e VROC em relação ao VBAG: 64,9%) nem com o grupo da encefalite japonesa (média de 64,9%). Ademais, o gene C apresenta os menores valores de identidade aminoacídica entre os flavivírus (Tabela 2), o que explica a dificuldade de estabelecer relações filogenéticas utilizando tal gene. Ao se analisar o alinhamento das sequências nucleotídicas e aminoacídicas do gene C, percebe-se a grande variabilidade genética existente, com um número de gaps representativos capazes de gerar valores de bootstraps de baixa confiabilidade para dar suporte à relação filogenética. Por outro lado, a análise de 62 cepas virais do VDEN1, mostrou que o gene C é extremamente conservado dentro de uma dada espécie (Carneiro, 2009). Sendo assim, sugere-se que gene C seja melhor analisado e que este possa ser um bom alvo para diferenciar espécies virais do gênero Flavivirus para fins de diagnóstico. A avaliação de sequências genômicas completas e parciais para um crescente número de flavivírus tem se mostrado importante para estimar a relação filogenética e a base para hipóteses evolutivas. Análises filogenéticas tem sido feitas com base nas seqüências genômicas completas, sequências nucleotídicas parciais ou em sequências aminoacídicas das proteínas virais, principalmente dos genes E e/ou NS5 (Zanotto et al., 1996; Billoir et al., 2000; Gaunt et al., 2001; Gould et al., 2003a; Kuno & Chang, 2005; Cook & Holmes, 2006; Kuno et al., 2009). As subdivisões nos quatro grupos relacionados às características ecológicas/filogenéticas: flavivírus transmitidos por mosquitos, flavivírus transmitidos por carrapatos, agentes zoonóticos com vetor desconhecido e 153 flavivírus de insetos (Kuno et al., 1998; Billoir et al., 2000; Gaunt et al., 2001; Gould et al., 2003a; Kuno et al., 2009), foram mantidas em todas as análises filogenéticas apresentadas neste trabalho. Essa subdivisão reflete largamente a seleção adaptativa natural imposta ao vírus pelos hospedeiros vertebrados, vetores invertebrados e pelas associações ecológicas (Gould et al., 2003a). No que se refere à cladogênese dos flavivírus transmitidos por artrópodes, nota-se que a organização genômica do grupo dos flavivírus transmitidos por carrapatos é monofilética, ao passo que para flavivírus transmitidos por mosquitos é parafilética. De fato, essa peculiaridade também foi observada por Zanotto e colaboradores (1996), que relata intensa ramificação, seguido por extinção de linhagens e consequente formação de subclados para o grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos que se encontra associado com a teoria de “Boom and Bust”, enquanto que os flavivírus transmitidos por carrapatos segregam-se continuamente através do tempo. Percebe-se que a análise individual de cada gene, bem como das regiões estrutural e não estrutural, o subgrupo dos flavivírus transmitidos por Culex apresenta uma maior variação da topologia, contrastando com o padrão estável dos grupos do VDEN e VFA (flavivírus transmitidos por Aedes). Esse aspecto dá subsídios para a análise evolutiva de Gaunt e colaboradores (2001) que sugere que os eventos evolutivos dos flavivírus transmitidos por Culex sejam mais recentes, e por isso apresentam relações filogenéticas mais instáveis quando comparadas aos flavivírus transmitidos por Aedes. Foi Observado que o grupo da febre amarela constitui uma linhagem distinta dentre 154 os flavivírus transmitidos por mosquitos, que, provavelmente está associado às próprias características genéticas desses grupo que o separa dos sorotipos do VDEN. Dependendo da região gênica a ser analisada, o grupo constituído pelos VILH e VROC pode estar mais associado com o grupo da encefalite japonesa do que com o grupo Ntaya, que é o caso da análise da região estrutural, que, por sua vez, corrobora os dados sorológicos. Por outro lado, os VILH e VROC podem estar mais associados ao grupo Ntaya, como é observado na árvore construída pela região não estrutural. Sabendo que cerca de 80% da ORF é composta da região não estrutural, é evidente que a árvore filogenética da ORF seja similar a da região não estrutural. A associação filogenética entre VILH e VROC com o grupo da encefalite japonesa, e distinto do grupo Ntaya (tal como mostra a topologia da Figura 24) também foi observada na análise filogenética realizada por Bronde e colaboradores (2009), utilizando o método de AV. Sendo assim, variando-se o método filogenético, a associação entre VILH e VROC com os referidos grupos também pode ser observada. A relação peculiar entre os flavivírus transmitidos por Aedes (VDEN e VFA) e o viscerotropismo, bem como os flavivírus transmitidos por Culex com o neurotropismo (grupo da encefalite japonesa) foi primeiramente associado por Sabin (1959). Posteriormente, Gaunt e colaboradores (2001) confirmaram essa relação com base nas análises filogenéticas do gene NS5, muito embora algumas exceções a essa teoria tenha sido mostrada para alguns flavivírus transmitidos por mosquitos (Mutebi et al., 2004). 155 Com tudo, as análises filogenéticas da ORF, região estrutural e região não estrutural mostraram uma subdivisão com relação ao tropismo viral um pouco distinta da apresentada por Gaunt e colaboradores (2001). Atualmente, já se sabe que o VZIK é transmitido por Aedes sp. e está associado com síndromes exantemáticas (Kuno e Chang, 2005), tal como os VDEN e o VFA (Travassos da Rosa et al., 1997). O VKED está associado filogeneticamente ao VZIK e também é transmitido por Aedes sp., muito embora as manifestações clínicas do VKED sejam desconhecidas (Kuno e Chang, 2005). Na análise da região estrutural, que está diretamente associada às características biológicas dos flavivírus, observa-se claramente a associação do VZIK, VKED, com o grupo do VDEN (Figura 24). O grupo dos flavivírus transmitidos por Culex é formado pelos membros do grupo da encefalite japonesa, os VILH, VROC, VBAG, VBSQ e VKOK. Apesar do VILH e VROC terem sido isolados de Psorophora sp. (Vasconcelos et al., 1992; 1998), o VROC pode se replicar em mosquitos do gênero Culex sp., pelo menos em condições laboratoriais (Mitchell et al., 1981). A maioria desses flavivírus está associada à encefalite, com exceção dos vírus: VBSQ, cuja clínica foi associada há apenas um caso febril (Srihongse & Johnson, 1971); VIGU, para o qual não há registro de casos humanos (Figueiredo, 2000); e o VKOK, que causa doença febril exatemática (Nisbet et al., 2005). Essas lacunas da associação entre as características ecológica e tropismo viral com a filogenia vista no grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos é reflexo da própria organização parafilética desse grupo. 156 Provavelmente, essa questão só poderá ser elucidada com a descoberta de novos flavivírus. Sendo assim, quanto mais conhecimento se produz a respeito da filogenia dos flavivírus, mais sequências estarão disponíveis e, consequentemente, se novos isolados são identificados, eles podem ser inseridos em um grupo já existente ou mudar a posição de alguns vírus dentro da classificação atual determinada pelo CITV (ICTV, 2005). Esta plasticidade da organização filogenética dos flavivírus pode ser observada na análise do vírus Kadam (KADV) por Gaunt e colaboradores (2001), no qual este flavivírus transmitido por carrapatos era classificado, primeiramente, no grupo dos hospedeiros mamíferos, sendo sugerido a sua maior aproximação genética com o grupo dos hospedeiros de aves marinhas, formando um forte grupo filogenético juntamente com os vírus Tyuleniy (TYUV), Saumarez Reef (SREV) e Meanban (MEAV). A posição filogenética dos vírus VESL, VZIK, VEJ, VKED, Spondweni (VSPON) são constantemente contestadas e devem ser revistas (Gould et al., 2003b), a exemplo desta revisão quanto à classificação e posições filogenéticas dos VBSQ, VIGU, VILH e VROC. A análise filogenética concatenada das sequências parciais dos genes E-NS5 agrupou informações contidas tanto das regiões estrutural quanto não estrutural. Nessa análise ficou evidente a distinção entre VBSQ e VIGU, e que estes vírus pertencem a grupos genéticos distintos: sendo o VBSQ associado ao VNJL e o VIGU associado ao VAROA. Ademias, os VILH e VROC estão separados do grupo Ntaya, constituído pelos VBAG, VNTA, VITM e VTMU, mostrando serem dois grupos distintos, porém ambos associados ao 157 grupo da encefalite japonesa. Esses dados corroboram as análises filogenéticas das sequêncais parciais do gene NS5 realizada por Gould e colaboradores (2003a; 2003b) e Cook & Holmes (2006). Comprando todas as análises realizadas neste trabalho, acreditase que a filogenia da ORF ainda apresente dados mais fidedignos com relação à verdadeira associação entre os flavivírus do que utilizar análises de genes individuais, muito embora as análises dos genes E, NS3 e, principalmente NS5, possam resolver a topologia de alguns flavivírus. O VROC é classificado como subtipo do VILH e ambos incluídos no grupo grupo Ntaya. De maneira similar, o VIGU e VBSQ são classificados como subtipos VAROA. Com base nos próprios critérios do CITV para a classificação de espécie viral, analisaram-se as diferenças desses vírus quanto a: organização do genoma, identificação das proteínas, propriedades antigênicas, relações filogenéticas e características biológicas (ICTV, 2005). Os critérios de morfologia e propriedades físico-químicas que são frequentemente utilizados para a inclusão dentro da família viral, que no caso dos vírus em estudo não há dúvidas que pertençam à família Flaviviridae. Os critérios de organização do genoma, bem como, características das proteínas (número, tamanho e atividade funcional de proteínas estruturais; número, tamanho e atividade funcional de proteínas não-estruturais; sequências de aminoácidos; glicosilação), que relacionam uma dada espécie viral a um gênero, já foi discutida anteriormente, confirmando que os VBSQ, VIGU, VILH e VROC pertencem ao gênero Flavivirus. 158 As relações filogenéticas, como discutidas anteriormente, mostram que VILH e VROC são vírus distintos, relacionados entre si e formando num grupo filogenético a parte do grupo Ntaya: o grupo Rocio. Já o VBSQ e o VIGU não são subtipos do VAROA, tratando-se de espécies viaris distintas, sendo então, proposta a formação de dois grupos genéticos: o grupo Bussuquara, que agrupa VBSQ e VNJL e o grupo Aroa, constituído por VAROA e VIGU. Quanto às propriedades antigênicas os quatro flavivírus em estudo foram relacionados ao grupo B segundo a classificação sorológica de Casals (Karabatsos, 1985). Entretanto, algumas peculiaridades sobre a relação antigênica desses vírus devem ser relevadas. Como relatado anteriormente, VILH e VROC são antigenicamente relacionados entre si com os membros do grupo da encefalite japonesa (Lopes et al., 1978a; 1978b; Iversson et al., 1988; Vasconcelos et al., 1998), sendo diferenciados apenas pelo TN (Vasconcelos et al., 1998). De fato, as relações dos títulos dos anticorpos homólogos versus heterólogos obtidos quando o VROC é utilizado com antígeno ou com seu anticorpo específico é de >640/<10 e 1280/<10, respectivamente (Karabatsos, 1985). A reação cruzada existente entre os flavivírus, sobretudo observada por IH, já foi relacionada à existência de diversos epítopos da proteína E que são compartilhados por diferentes flavivírus (Gould et al., 1985; Heinz, 1986), e este fato deve estar diretamente relacionado à emergência recente dos flavivírus transmitidos por Culex (Gould et al., 2003b). Ademais, tendo em vista que a proteína E é de suma importância para a adsorção viral à 159 célula hospedeira, tropismo viral e patogênese, uma vez que mutações nessa proteína possam resultar em neurotropismo de vírus viscerotrópicos (Gubler et al., 2007), a existência de epítopos compartilhados entre os flavivírus deve ser reflexo de regiões conservadas importantes para a funcionalidade da proteína E. Quanto à relação antigênica não existem dados na literatura que comprovem a relação desses vírus com o grupo Ntaya. Baseado no teste de FC realizado na University of Texas Medical Branch (UTMB) (Travassos da Rosa, A.P.A., dados não publicados), não há reatividade entre o VROC com o VNTA enquanto que o VILH apresenta baixa reatividade (Tabela 5, Anexo V). O VNTA está mais relacionado antigenicamente com o grupo da encefalite japonesa (Tabela 5, Anexo V), assim como discrito para o VBAG (Kuno & Chang, 2007; Bondre et al., 2009). O que se deduz que a inclusão de VILH e VROC deve ter sido feita com base das análises filogenéticas do que NS5 e da ORF. As relações antigênicas por teste de FC e IH entre VAROA e VIGU são mais evidentes entre si do que com os VBSQ e VNJL, que por sua vez são mais correlacionados (Travassos da Rosa, A.P.A., comunicação pessoal; Karabatsos, 1985). Do ponto de vista ecoepidemiológico, VILH e VROC apresentam possivelmente o mesmo vetor (Psorophora sp.); a distribuição geográfica dos desses flavivírus é distinta, sendo o VILH detectado em regiões diferentes do Brasil e o Rocio mais restrito ao sudeste do país. 160 Com relação às características biológicas, muito embora o VILH e VROC apresentem potencial encefalitogênico, o VILH está mais associado a casos febris esporádicos com menor comprometimento neurológico, ao passo que para o VROC foram registrados casos de encefalites graves e por vezes fatais, o que claramente indica uma diferença na neurovirulência e no modo de transmissão desses dois vírus. De fato essas diferenças de patogenicidade foram observadas por Henriques (2009) ao analisar o padrão de resposta imune e características das lesões teciduais e persistência da infecção experimental em hamsters dourados inoculados via intraperitoneal. No referido estudo, VILH apresentou-se mais imunogênico ao passo que o VROC apresentou maior capacidade de neurovirulência; e o tempo de persistência da infecção para o VROC (três meses) foi maior do que para o VILH (30 dias). Estudos de infecção experimental com os VAROA, VBSQ, VIGU e VNJL são necessários e possivelmente elucidativas para a compreensão das diferenças e semelhanças das características biológicas desses vírus. Portanto, baseados nas características genéticas apresentadas neste trabalho, aliados às propriedades antigênicas e biológicas dos VILH e VROC, sugere-se que esses vírus sejam considerados espécies virais distintas e pertencentes a um grupo genético a parte do grupo Ntaya, designado de grupo Rocio, devido ao fato desse vírus ter maior importância médica que o VILH. Por outro lado, saber se os VBSQ e VNRJ, bem como VAROA e VIGU tratam-se de um mesmo vírus ou espécies diferentes, é uma questão que só poderá ser completamente respondida pelo sequenciamento completo do 161 genoma do VAROA e VNJL e consequente análise genética, aliada aos estudos de infecção experimental, a exemplo dos estudos conduzidos para VILH e VROC. Para finalizar, este trabalho estimula a comunidade científica a desenvolver estudos de caracterização genética e análise da patogenicidade dos VAROA, VNJL, além do VCPC e outros membros do grupo Ntaya, e ressalta a importância de concatenar informações genéticas, relações antigênicas, características biológicas e epidemiológicas para elucidar questões controversas. 162 5. CONCLUSÕES • Os Flavivírus VBSQ, VIGU, VILH e VROC apresentaram organização gênomica e tamanho da ORF, 5’RNC e 3’RNC similar aos demais integrantes do gênero Flavivirus, sendo mais estritamente relacionados ao grupo dos flavivírus transmitidos por mosquitos. • O padrão das sequências conservadas da 3’RNC do VBSQ assemelhouse com o padrão VDEN e VKOK, ao passo que os VIGU, VILH e VROC apresentaram um padrão similar aos vírus do grupo da encefalite japonesa, com exceção da ausência da RCS3; • As estruturas secundárias dos flavivírus brasileiros VBSQ, VIGU, VILH e VROC são similares à estrutura dos demais flavivírus, apresentando a conservação das estruturas secundárias da 5’RNC e 3’RNC e a presença das sequências de ciclização 5’SCy-3’SCy e 5’CYC-3’CYC; • Foi observado para o VBSQ um terceiro par de sequências pareadas entre a porção 5’ e a 3’RNC inexistente para os demais flavivírus; • Os flavivírus brasileiros basicamente seguiram o mesmo padrão de clivagem de proteína estabelecido para os demais flavivírus transmitidos por mosquitos; 163 • O padrão da distribuição dos resíduos de Cis nas proteínas PrM, E e NS1 para os flavivírus em estudo é similar aos dos demais membros do gênero Flavivirus; • O número de sítios de glicosilação para as proteínas PrM, E e NS1 é distinto entre os flavivírus brasileiros em relação aos demais flavivírus, muito embora tenha sido observada a conservação nos sítios de glicosilação na posição 154 da proteína E e 130 na proteína NS1; • A sequência do peptídeo de fusão (proteína E) para o VILH é similar a sequência consenso para os flavivírus transmitidos por mosquitos ao passo que para os VBSQ, VIGU e VROC, observam-se pequenas alterações aminoácidicas pontuais. • O tripeptídeo RGD, visto entre os membros do grupo da encefalite japonesa, apresenta diferentes sequências para os VBSQ, VIGU, VILH e VROC; • Os motivos conservados que determinam a atividade de helicase da NS3 apresentam-se conservados para os flavivírus transmitidos por mosquitos, enquanto que para os motivos relacionados à atividade RdPd da NS5, o VROC apresentou mutações pontuais no motivo V, e o VILH nos motivos V, VI e VII; 164 • As análises filogenéticas, associadas ao padrão das sequências conservadas da 3’RNC, a divergência aminoacídica e as características sorológicas e biológicas sugerem que o VILH e VROC são espécies virais distintas e que formam um grupo relacionado mas separado dos grupos Ntaya e da encefalite japonesa; • É proposta a formação de três grupos adicionais aos existentes para o gênero Flavivirus: o grupo Rocio, que agrupa o VILH e VROC; o grupo Bussuquara, composto por VBSQ e VNRJ; e o grupo Aroa, que inclui os VAROA e VIGU. 165 6. 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Kluwer Academic Publishers, Amsterdam, 1999. p.11-43. 201 ANEXOS 202 ANEXO I Documento de Autorização para a utilização das amostras dos vírus Bussuquara, Iguape, Ilhéus e Rocio fornecida pela direção do Instituto Evandro Chagas. 202 ANEXO II Distribuição dos tamanhos da sequências aminoacídicas entre os genes individuais e ORF dos quatro principais grupos dos flavivírus. genes e tamanho das proteínas Grupos Vírus JEV* DENV* Não-estruturais ORF C PrM E NS1 NS2A NS2B NS3 NS4A/2K NS4B NS5 125 119 118 118 167 167 167 167 501 494 501 501 352 353 353 353 227 227 227 227 131 131 131 131 619 619 618 619 149 149 149 149 253 254 255 256 905 904 905 904 3.429 3.417 3.424 3.425 SLEV 121 167 501 352 227 131 618 149 258 906 3.430 WNV 123 167 501 352 231 131 619 149 255 905 3.433 JEV 127 167 500 352 227 131 619 149 255 905 3.432 DENV-1 113 166 495 352 218 130 619 150 249 899 3.391 DENV-2 114 166 495 352 218 130 615 150 248 900 3.388 DENV-3 114 166 493 352 218 130 619 150 248 901 3.391 BSQV IGUV ILHV ROCV Flavivírus Transmitidos por mosquitos Estrutural DENV-4 113 166 495 352 218 130 618 150 245 900 3.387 YFV 121 164 493 352 224 130 623 149 250 905 3.411 Flavivírus Transmitidos por Carrapatos TBEV 112 168 496 352 230 131 621 149 252 903 3.414 POWV 110 168 497 353 230 131 622 149 252 904 3.416 Agentes Zoonóticos MODV RBV 110 102 162 165 482 484 353 353 221 229 132 130 618 617 144 144 254 258 898 897 3.374 3.379 Flavivírus KRV 143 143 de insetos * subgrupos; em cinza os vírus em estudo. 432 390 232 124 577 168 261 887 3.357 203 ANEXO III Código Genético 2ª BASE U C A G Fen Leu Leu Ile Met Val A Ser Pro Tre Ala UAU UAC UAA UAG CAU CAC CAA CAG AAU AAC AAA AAG GAU GAC GAA GAG G Tir Códon de Finalização His Gln Asn Lis Asp Glu UGU UGC UGA UGG CGU CGC CGA CGG AGU AGC AGA AGG GGU GGC GGA GGG Legenda: Vermelho – códon de iniciação; azul – códon de finalização Simbologia para substituição nucleotídica B C ou G ou T D A ou G ou T H A ou C ou T V A ou C ou G R A ou G (puRine) Y C ou T (pYrimidine) K G ou T Keto M A ou C aMino S G ou C Strong – 3 pontes de H W A ou T Weak – 2 pontes de H N qualquer base Cis Códon de Finalização Trp Arg Ser Arg Gli U C A G U C A G U C A G U C A G 3ª BASE 1ª BASE U UUU UUC UUA UUG CUU CUC CUA CUG AUU AUC AUA AUG GUU GUC GUA GUG C UCU UCC UCA UCG CCU CCC CCA CCG ACU ACC ACA ACG GCU GCC GCA GCG 204 ANEXO IV Nomes e Abreviaturas dos Aminoácidos comuns Aminoácido Abreviatura Carga Hidropacidade Estrutura Alanina Ala A Neutro Apolar Acíclica Arginina Arg R Básico Polar Acíclica Asparagina Ans N Neutro Polar Acíclica Ácido aspártico Asp D Ácida Polar Acíclica Cisteina Cis / Cys C Neutro Polar Acíclica Fenilalanina Fen /Phe F Neutro Apolar Cíclica Glicina Gli / Gly E Neutro Polar Acíclica Glutamina Gln G Neutro Polar Acíclica Ácido glutâmico Glu Q Ácida Polar Acíclica Histidina His H Básico Polar Cíclica Isoleucina Ile I Neutro Apolar Acíclica Leu L Neutro Apolar Acíclica Lis / Lys K Básico Polar Acíclica Metionina Met M Neutro Apolar Acíclica Prolina Pro P Neutro Apolar Cíclica Serina Ser S Neutro Polar Acíclica Treonina Ter / Thr T Neutro Polar Acíclica Tirosina Tir / Tyr Y Neutro Polar Cíclica Tritofano Trp W Neutro Apolar Cíclica Valina Val V Neutro Apolar Acíclica Leucina Lisina * No caso de aminoácidos indeterminados ou não padrão usa-se a letra “X”. 205 ANEXO V Mutações no peptídeo de fusão Número de Mutações VFA Outros flavivírus G Sequência aminoacídica Figura 28 – Número de mutações no peptídeo de fusão dos flavivírus segundo Seligman (2008). Nota-se que as posições N104, L108, F109, S113 e I114 apresentam maior variação entre os flavivírus. Em vermelho, destaca-se o sétimo aminoácido, representado por G105 nos flavivírus transmitidos por mosquitos e que corresponde a H105 nos flavivírus transmitidos por carrapatos, e que são altamente conservados entre esses dois grupos. Tabela 5 – Recíproca das relações antigênicas pelo teste de FC entre os flavivírus do VROC e VILH com os integrantes do grupo Ntaya (VNTA) e encefalite japonesa (VEJ, VNO e VESL). Antígeno VROC Teste de fixação do complemento Anticorpo VROC VILH VNTA VEJ VESL 256+ >512 64 128 32 8 32 8 128 32 64 >512 256 >512 32 32 32 32 128 32 VNO Controle (veronal) 16 128 512 64 >512 >512 VILH 8 32 128 512 32 128 128 >512 VNTA 512 16 256 512 128 8 128 128 512 256 >1024 VEJ 0 128 128 128 8 >1024 128 >1024 VESL 8 128 >512 >512 VNO 8 32 >1024 0 0 0 8 32 128 Legenda: Em vermelho, destacam-se os títulos recíprocos entre antígenos 0 0 0 0 0 0 0 e anticorpos homólogos. Os quadrantes marcados mostram: a relação antigênica do VILH e VROC entre si (verde); destes com o grupo encefalite japonesa (em amarelos); e destes com o VNTA (cinza). Fonte: Travassos da Rosa, A.P.A., UTMB. 206 ANEXO VI MEDEIROS, D.B.; NUNES, M.R.; VASCONCELOS, P.F.; CHANG, G-J.; KUNO, G. Complete genome characterization of Rocio virus (Flavivirus: Flaviviridae), a Brazilian flavivirus isolated from a fatal case of encephalitis during an epidemic in Sao Paulo state. Journal of General Virology, 88(8):2237-46, 2007. 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216