a cooperação sul-sul e a dinâmica d

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38º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS
GT38 – TEORIA E PRÁTICA DAS RELAÇÕES SUL-SUL
TÍTULO: A COOPERAÇÃO SUL-SUL E A DINÂMICA DA EXPANSÃO
CHINESA
AUTOR: WALTER BARBIERI JUNIOR
I - Introdução
A ascensão da República Popular da China (RPC)promoveu transformação
no sistema internacional. Na última década, a RPC tornou-se o principal parceiro
comercial de países da América do Sul e da África. Dessa forma, a capacidade
de influência política externa dos chineses para os países do hemisfério Sul
adquiriu um novo escopo de poder.
A conjuntura internacional de enfraquecimento das potências centrais abre
uma lacuna para a construção de uma política internacional, a partir de um
arranjo político de países emergentes que possa contrabalançar os interesses
de países hegemônicos. Nesse sentido, o quadro aponta para a possibilidade de
construção de nova geopolítica atravessada pelo reordenamento de forças
internacionais.
O cenário de transformação acende um movimento de pesquisadores no
sentido de compreensão e análise dos impactos dessas mudanças em curso no
século XXI. Nesse rumo, é fundamental discutir os impactos da ascensão
chinesa sobre a dinâmica do sistema internacional.
Na atual conjuntura, o debate sobre a Cooperação Sul-Sul (CSS) é relevante
como possibilidade de construção de políticas multilaterais que enfoquem uma
interpretação da realidade que difere da perspectiva hegemônica dos países
centrais do hemisfério Norte.
1
O objetivo do artigo é discutir a dinâmica da expansão econômica chinesa e
de que forma, essa estrutura produtiva se relaciona com os avanços e os limites
da Cooperação Sul-Sul. A abordagem metodológica desse trabalho entende que
o sistema internacional representa um espaço hierarquizado no campo
econômico e político, na qual a relação entre os Estados é pautada pela disputa
pelo poder.
II –Cooperação Sul-Sul
A origem histórica da Cooperação Sul-Sul (CSS) remete a Conferência de
Bandung em 1955 na Indonésia, na qual países asiáticos e africanos inseridos
no contexto do processo de descolonização reuniram-se no sentido de afirmar
um posicionamento de neutralidade diante da divisão de forças entre os EUA e
a URSS, e criar uma estratégia de cooperação econômica e cultural que visava
romper com as estruturas de subordinação que marcaram as experiências
históricas amargas dos países afro-asiáticos com as potências desenvolvidas no
contexto do neocolonialismo. Bandung representa um marco histórico no sentido
de posicionamento de aspiração de autonomia na condução política, esse
sentimento expressa o espírito do ideal da Cooperação Sul-Sul.
No entanto, essa posição de neutralidade para a construção de uma
cooperação entre os países do Hemisfério Sul na segunda metade do século
XXencontrava barreiras estruturais devido a dinâmica política e econômica, na
qual esteve obstaculizada muitas vezes por interesses que refletiam a divisão
política da Guerra Fria.
Nas últimas décadas do século XX, a construção de um ideal político de
solidariedade da CSS tornou-se ainda mais distante na medida em que, muitos
países periféricos amargavam um processo de endividamento, atravessado pela
crise do modelo desenvolvimentista; frente a dinâmica da pressão do sistema
internacional, os países em desenvolvimento adotaram uma agenda de
liberalização econômica, que ficou conhecida nos anos 1990 de Consenso de
Washington. Essa situação de passividade frente à inserção no processo
deglobalização atendia principalmente a interesses de países desenvolvidos.
2
Entretanto, deve ser ressaltado que as receitas de liberalização das potências
centrais ocidentais não foram adotadas pela China, o país asiático estabeleceu
uma estratégia de inserção ativa preservando a soberania nacional, na qual o
dirigismo político do Partido Comunista manteve o controle estratégico na
condução do modelo de desenvolvimento, como enfatiza Medeiros1.
A partir dos anos 2000, a mudança da dinâmica econômica com a maior
expansão das economias de países em desenvolvimento comparativamente aos
países desenvolvidos, fez-se renovar o ideal da CSS. Nesse rumo, a recente
expansão econômica de países em desenvolvimento tem influência direta na
geopolítica política, na medida em que, o comportamento econômico, seja na
sua capacidade produtiva e mercado consumidor, fez com que a dinâmica
econômica nesses países torna-se fundamental para o desempenho das
economias de países desenvolvidos.
A conjuntura pós-crise de 2008 estabeleceu um estado de crise de
legitimidade das potências centrais no sistema internacional, na qual a
turbulência econômica expôs a fragilidade de politicas econômicas orientadas
pelo mercado, dessa forma reforçou a necessidade de um movimento de
rearranjo das forças politicas e econômicas com maior aglutinação de laços
entre os países em desenvolvimento.
A criação de novos canais de interlocução em países, como o G20 eFóruns
de diálogo entre os países em desenvolvimento como o BRICS (Brasil,
Federação Russa, Índia, China e África do Sul), e o IBAS (Índia, Brasil e África
do Sul) fez estabelecer novos mecanismos efetivados pelo Sul na defesa da
necessidade de construção de uma politica multilateral, que enraíza a
necessidade de reconstrução da política internacional, na qual seja estruturada
de uma forma a construir um espaço de diálogo múltiplo.
1
As reformas econômicas em direção ao mercado implantado pelo governo Deng Xiaoping a partir de 1979
foram graduais, o Partido Comunista Chinês (PCC) conduziu os rumos da política econômica do país
segundo os interesses do Estado-nação, constituindo-se dessa forma, uma inserção ativa no âmbito global.
Situação contrária realizada pelos países do leste europeu na década de 90 que adotaram uma atitude
política passiva diante do mercado, que levou a implantação de uma abertura radical ao capital estrangeiro,
resultando na destruição do seu parque industrial, ou mesmo a integração passiva realizada pelos países da
América Latina no mesmo período, que acarretou em fortes prejuízos estruturais na capacidade de
competição da indústria local. (MEDEIROS, 2008)
3
Os principais organismos da governança global ainda estão fundamentados
em Bretton Woods, na qual foram arquitetados num contexto internacional muito
diferente da realidade atual. Segundo relatório da PNUD2 (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) de 2013, a contribuição dos países do
Sul na composição do PIB mundial aumentou drasticamente, projetando o
produto interno bruto de Brasil, China e Índia para 2020,há uma tendência desse
grupo superar o produto somatório do Canadá, Alemanha, França, Itália, Reino
Unido e Estados Unidos. Em 1950, a economia do Brasil, da China e da
Índia,representava em conjunto apenas 10% da economia mundial, enquanto as
seis potências tradicionais do norte respondiam por mais de 50% do PIB
mundial. Até 2050, de acordo com as projeções do presente Relatório de 2013,
o Brasil, a China e a Índia representarão, em conjunto, 40% de toda a riqueza
mundial.
Tabela 1:
DADOS UNCTAD - CRESCIMENTO DO PIB
(dados em milhões de dólares)
Região
1980
1990
2000
2005
2010
2012
Continente Africano
434.414
494.952
599.205
1.009.905
1.736.610
2.037.067
América do Sul
462.525
708.701
1.333.708
1.634.601
3.709.118
4.128.631
China
306.520
404.494
1.192.836
2.283.671
5.951.462
8.094.362
EUA
2.783.456
5.787.087
9.968.008
12.650.457
14.518.157
15.698.325
Japão
1.086.988
3.103.698
4.731.199
4.571.867
5.488.424
5.937.203
França
691.724
1.246.616
1.328.991
2.140.836
2.551.424
2.610.779
Alemanha
919.651
1.714.447
1.886.400
2.766.836
3.306.028
3.391.480
Reino Unido
541.917
1.012.617
1.475.637
2.295.843
2.266.094
2.432.416
Dados UNCTAD3 (tabela 1),a respeito do crescimento Produto Interno Bruto
(PIB) apontam uma mudança estrutural no quadro do crescimento do PIB entre
países desenvolvidos e países em desenvolvimentonas últimas três décadas,
2
PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano 2013. A Ascensão do Sul: Progresso Humano num
Mundo Diversificado. Pag.02. http://www.pnud.org.br/arquivos/rdh-2013-resumo.pdf
3
UNCTAD, Handbook of Statistics 2013. pag.416.
http://unctad.org/en/pages/PublicationWebflyer.aspx?publicationid=759
4
enquanto nas duas últimas décadas o crescimento econômico mundial era
capitaneado principalmente pelos países desenvolvidos do Hemisfério Norte, no
cenário pós 2000, o crescimento aparece em destaque principalmente em
regiões do Hemisfério Sul. A China possui uma posição sui generis na medida
em que apresentou uma grande expansão econômica em todo esse período, se
constituindo nas últimas décadas a grande locomotiva da economia mundial.
Fica evidente a condição obsoleta da atual governança global a partir de um
olhar crítico com relação a contribuição da produção da riqueza mundial por
parte dos países periféricos, há um quadro de descompasso entre uma
configuração política que foi moldada em um contexto histórico de bipolarização
pós Segunda Guerra Mundial e uma realidade contemporânea assinalada pela
expansão de países em desenvolvimento, a nesse quadro a criação de
mecanismos institucionais que crie canais de construção de políticas de
integração regional representa uma estratégia crucial na política de Cooperação
Sul-Sul.
A análise da CSS deve valorizar a realidade de assimetria de poder também
entre os países em desenvolvimento, na medida em que, existe um quadro
heterogêneo de condições de desenvolvimento entre esses países que leva a
criação de múltiplos interesses de Estados nacionais, ou seja, podemos dizer
que que no interior do Conceito Sul, existe um Sul forte e um Sul fraco. A
ascensão de potências regionais como a China, Índia, África do Sul e Brasil cria
um espaço de debate quanto intencionalidade de cooperação solidária e
horizontal entre esses países e os países do Hemisfério Sul, na medida em que
as lideranças políticas que estão construindo a necessidade de CSS são
potências emergentes.
Deve-se a assinalar que o passado dessas potências emergentes do
Hemisfério Sul não foi caracterizado por um histórico de exploração ou
dependência de regiões periféricas, ao contrário, esses países ocupavam um
lugar de subordinação ao longo de sua formação histórica.
Vale ressaltar, no entanto, que a China teve uma história singular nessa
questão comparativamente aos outros países do Hemisfério Sul, uma vez que a
5
China na sua fase imperial entendia-se como o “Centro do Mundo”, mas a
relação com os vizinhos era construída em base em Estados tributários, e não
numa dinâmica de dependência e exploração característica do sistema
capitalista, por volta de 1800, durante a Dinastia Qing, a China era a maior
economia do planeta, representava 32% do PIB mundial. No intervalo da Guerra
do Ópio (1839-42) até a Revolução de 1949, a China perdeu a sua soberania e
ficou sob intervenção estrangeira em uma situação semicolonial. Nesse período
o crescimento econômico estagnou e até 1949 cresceu apenas 1% ao ano. Em
1949, a China representava apenas 5% do PIB mundial com renda per capita de
US$ 50.4
Nesse contexto, há uma extensa multiplicidade de determinantes que
caracterizam a Cooperação Sul-Sul5. No entanto, acredita-se que as relações
Sul-Sul tem por característica fundamental a confiança criada por uma
percepção de maior horizontalidade nas relações entre os países, na qual, a
cooperação, é um fenômeno complexo que engloba recompensas de várias
naturezas e maior abertura na troca de experiências.
Segundo Milani6, no campo do desenvolvimento internacional, a CSS tem
sido apresentada como uma alternativa, não uma estratégia de substituição, à
Cooperação Norte-Sul (CNS), na medida em que a concepção das políticas da
CSS são apresentadas como sendo mais horizontais, menos assimétricas e
fundadas na solidariedade entre países em desenvolvimento, enquanto que a
CNS foi construída para atender interesses estratégicos e geopolíticos,
pautada pela necessidade de difundir o ideal ocidental de modernidade de
políticas originários da Europa Ocidental e da América do Norte, na qual a
leitura dos países desenvolvidos era caracterizada por um olhar verticalizado a
respeito das necessidades da população de países periféricos.
4
DANTAS, Roberto Dumas. Economia Chinesa. Editora Saint Paul, São Paulo, 2014
LEITE, Iara Costa. Cooperação Sul-Sul: Conceito, História e Marcos Interpretativos.
http://observatorio.iesp.uerj.br/images/pdf/observador/observador_v_7_n_03_2012.pdf
6
MILANI, Carlos R. S. ; CARVALHO, T. C. O. . Cooperação Sul-Sul e Política Externa: Brasil e China no
Continente Africano. Estudos Internacionais: revista de relações internacionais da PUC Minas, v. 1, p. 1135, 2013.
5
6
Ainda Milani7, nos últimos anos a engenharia institucional que tem norteado a
CSS fundamenta-se no pressuposto de que países em desenvolvimento podem
e devem cooperar uns com os outros a fim de garantir reformas políticas da
governança global e solucionar os seus próprios problemas econômicos e
sociais com base em identidades compartilhadas, caracterizado por laços de
interdependência e reciprocidade, nesse sentido a construção estratégica da
CSS pressupõe uma geopolítica e uma geoeconomia do mundo que não sejam
exclusivamente a expressão das prioridades do Ocidente.
A maior expansão econômica dos países emergentes pós 2000 e a
consequenteconstrução de uma renovação politica da CSS tem como traço
constitutivo a criação de um modelo de desenvolvimento baseado na
importância da ação do Estado na condução do país, a China como líder natural
devido a sua pujança econômica consolidou ideal de uma forma de “capitalismo
de Estado”, com isso a defesa consensual na liberalização perdeu espaço,
ficando seu discurso semsentido no que tange ao seu caráter salvacionista,
segundo a qual as forças de mercado solucionariam as mazelas dos países do
hemisfério sul. Esse quadro de questionamento ao modelo neoliberal e as
vontade de reformas na governança global atingiu o seu ápice quando da crise
de 2008. Naquela conjuntura,os países em desenvolvimento enfatizaram a
necessidade de uma reconstrução das instituições globais, questionaram
mundialmente a desregulamentação do sistema financeiro e culparam
abertamente os países centrais como responsáveis pela crise.
III – A ascensão da República Popular da China (RPC)
A China é uma realidade na condição de potência global, considerada a
locomotiva da economia mundial, o país obteve um crescimento econômico sem
precedentes nas últimas décadas, atingiu a condição de segunda maior
economia do mundo. Seu grande crescimento do PIB provocou alterações na
Divisão Internacional do Trabalho8. (ARRIGHI, 2008).
7
IDEM
ARRIGHI, G.Adam Smithem Pequim. São Paulo. Boitempo, 2008.
8
7
Para Arrighi, a ascensão da China é um desafio a hegemonia norteamericana devido a condição da China de não ser um país vassalo dos EUA,
além disso, a China vem substituindo os EUA como principal motor da expansão
comercial e econômico na Ásia oriental e em outras partes do mundo,
principalmente nos países do Hemisfério Sul.A ascensão da China representa
uma possibilidade de criação de um mundo com maior igualdade de forças
política, caracterizado pela tendência de um multilateralismo em contramão ao
unilateralismo norte-americano. As forças produtivas do mercado impulsionadas
pela China construirá uma sociedade de maior equilíbrio diferentemente do
período de hegemonia das potencias ocidentais.9
O crescimento econômico de dois dígitos nas últimas décadas por parte da
China, foibaseado na exportação de produtos industrializados e na expansão de
sua infraestrutura, criou uma dinâmica de crescimento do capitalismo sem
precedentes históricos, na qual naturalmente catapultou principalmente os
países exportadores de recursos primários devido a grande necessidade de
insumos para incrementar o desenvolvimento chinês.
Segundo relatório publicado pela OMC em 201310 (tabela 2), aponta a
importância do continente asiático como centro dinâmico do comércio mundial, e
expõe o papel chave que a China, sendo o principal país exportador do mundo e
o segundo na questão importação.Essa posição do comércio internacional tem
efeitos no campo politico, norteia a necessidade de reformas multilaterais na
governança global.
Tabela 2:
9
ARRIGHI, G.Adam Smithem Pequim. São Paulo. Boitempo, 2008.
WORLD TRADE REPORT 2013.Factors Shiping the Future of World Trade.Pag.32.
http://www.wto.org/english/res_e/booksp_e/world_trade_report13_e.pdf
10
8
WORLD TRADE REPORT 2013: World merchandise trade by region
and selected economies, 2005-2012
(US$ billion and annual percentage change)
Região
Mundo
Exportação
2012
17.850
%
-
Importação
2012
18.155
%
-
Estados Unidos
1.547
8,67%
2.335
12,86%
União Europeia (27)
5.792
32,45%
5.927
32,65%
Ásia
5.640
31,60%
5.795
31,92%
China
Japão
2.049
799
11,48%
4,48%
1.818
886
10,01%
4,88%
O crescimento chinês criou uma situação singular na dinâmica do comércio
internacional no cenário pós 2000,na qual houve um quadro de reversão nos
termos de troca entre países exportadores de produtos manufaturadose países
fornecedores de commodities. Segundo a tradição do pensamento da Cepal
haveria um processo de deteriorização dos termos de intercâmbio entre os
países, na qual as condições estruturais de baixa produtividade faziam com que
os preços de produtos primários conservassem baixos comparativamente aos
produtos manufaturados, dessa forma criava-se uma situação estrutural de
desfavorecimento de países periféricos no comércio internacional.
Entretanto, na primeira década do século XXI até a crise de 2008, ocorreu
uma explosão dos valores de commodities motivado pela grande demanda
chinesa, aao mesmo tempo, os produtos manufaturas sofreram uma queda de
valor graças ao custo de produção da China. Dessa forma, os países periféricos
nesse período passaram a contribuircom uma maior parcela de riqueza na
composição do PIB global com índices de crescimento econômico superior aos
países centrais.
Os efeitos da Crise de 2008 atingiram o dinamismo da economia mundial e
comprometeram o crescimento chinês. O Partido Comunista Chinês através da
Terceira Plenária do 18.º Comitê Central do Partido de2013, busca estabelecer
uma mudança estrutural do seu modelo de desenvolvimento. Os lideres
aprovaram uma agenda de reformas que prevê diretrizesimportantes até 2020, a
estratégia central prevê um crescimento mais lento com o intuito de direcionar a
9
economia para um caminho mais sustentável, menos dependente de
investimentos estatais e mais voltado para o consumo interno, na qual a taxa de
crescimento do PIB chinês ficará em torno de 7% nos próximos anos.
Crucial na reorientação do Estado chinês com vistas ao equilíbrio
orçamentário e estrutural do desenvolvimento, passa pelo aumento do consumo
interno. A estratégia chinesa é transformar o consumo como uma força de
investimento para o motor da economia, substituído a taxa de investimento do
Estado, que anteriormente, nas últimas décadas era direcionada para a
modernização na área de infraestrutura.
Além disso, a reforma do sistema financeiro chinês anunciado em 2013
influenciará a dinâmica economia internacionalimpondo importante
transformação nos próximos anos, o yuan (moeda chinesa) deve passar por um
processo de valorizaçãocom maior flexibilização do câmbio. Dessa forma,o
futuro das transações financeiras e comerciais deverá posicionar de maneira
mais forte a China no quadro de poder internacional, na qual, o status do dólar
norte-americano, euro e o iene japonês sofrerão uma gradual desvalorização em
detrimento da moeda chinesa, o yuan.
Nesse sentido, o poder da China na dinâmica da globalização financeira
alcançará um novo escopo, na qual as decisões tomadas pelo PCC irão refletir
no coração da dinâmica do capitalismo internacional, o sistema financeiro. Essa
mudança do modelo de desenvolvimento leva a China a abandonar o rótulo de
fábrica de mundo devido aos crescentes custos de produção e a tendência do
encarecimento do câmbio para se transformar em um dos principais polos
financeiros mundiais, na qual a cidade de Xangai irá dividir o espaço de poder
financeiro mundial com Nova Iorque e Londres.
A internacionalização do yuan permitirá aos chineses diminuir a dependência
do dólar na composição de reservas cambiais. Esse movimento representará um
ganho para os cofres chineses na medida em que,há um custo financeiro
elevado em manter reservas em dólar frente as baixas taxas de juros
estabelecido pelo Banco Central (FED ou Federal Reserve System) dos EUA
nos últimos anos.
10
Além disso, a provável valorização cambial chinesa terá como consequência
uma potencialização na capacidade de investimento direto por parte dos
chineses, dessa forma, na medida em que, o yuan aumenta o seu poder de
compra, esse processo influencia a inserção chinesa em mercados emergentes
devido a diminuição comparativa de valor da moedas de países periféricos, ou
seja, se a China atualmente por uma politica estratégica de governo mantem um
cambio desvalorizado e mesmo assim ocupa um papel importante na
capacidade de investimento em países do Hemisfério Sul, no provável novo
cenário, a China tende a ocupar um espaço ainda maior e historicamente
dominado por países desenvolvidos.
Na conjuntura de maior competitividade comercial e de instabilidade do
sistema financeiro internacional, a China passou a desempenhar um papel
fundamental na construção de uma nova ordem. Segundo Daokui11, essa ordem
que está sendo formada está dividida dentro de três categorias: países ricos,
países pobres e a China, na qual o país asiático tornou-se uma ponte de
conexão entre países ricos e pobres.
O novo modelo de desenvolvimento chinês moldará novas relações
econômicas e politicas entre os países emergentes. Do ponto de vista
econômico, a China tende a transferir parte da sua produção industrial,
principalmente setores produtivos de menor valor agregado para países que
tenham menor custo de produção.
A importância do debate na análise do sistema internacional está atravessado
na questão de se mensurar o quanto a força do desenvolvimento chinês alterou
o protagonismo dos EUA na ordem internacional, considera-se que
ocrescimento asiático deve ser visto no contexto sistêmico e não isoladamente.
IV - A Inserção da China nos mercados periféricos e a Cooperação SulSul
11
DAOKUI, li. Global Governance and China’s Responsabilities.In Economists’ Analysis of China’s
Economic Transformation.Foreing Languages Press. Beijing, China, 2012. Pag.205
11
A política externa da China é construída no sentido de transformação do
sistema internacional na busca de uma redistribuição de poder na defesa do
multilateralismo, e particularmente reafirmar o papel da China como potência
emergente. Para atingir esse objetivo, diversas ações diplomáticas chinesas
contrariam o paradigma de liberalizaçãoeconômica como condições
fundamentais para o desenvolvimento.
O pensamento chinês defende o desenvolvimento estimulado pelo
investimento em infraestrutura e instituições sociais, uma visão de cooperação
entre os Estados para aconstruçãode uma nova ordem global com base na
interdependência econômica, mas que respeite as diferenças políticas e
culturais, em forte contraste com o unilateralismo norte americano, num esforço
de transmitir a ideia de ascensão pacífica e não interferência nos assuntos
internos de outros Estados, o chamado ideal“Consenso de Pequim”.12
A expansão diplomática chinesa no Hemisfério Sul está estritamente ligada a
dinâmica produtiva, a grande capacidade de mercado e investimento da RPC,
no entanto, essa conjuntura foi facilitada devido ao distanciamento político dos
EUA nas regiões da América Latina e África devido a preocupação das questões
do Oriente Médio no cenário pós 11 de setembro.
O protagonismo chinês cria a possibilidade de um arranjo político que pode
se transformar em uma estratégia de cooperação dos países do Hemisfério Sul.
Atualmente grandes investimentos chineses são direcionados para a América
Latina e África. Os investimentos ocorrem principalmente em mercados de
commodities, concentrados principalmente na área de exploração de petróleo,
mineração e infraestrutura. Esse investimentos estratégicos visam promover a
integração de sua extensa linha de negócios e preocupação chinesacom a
volatilidade dos preços das commodities.
As relações comerciais entre a China e a América Latina vêm crescendo
substancialmente nos últimos anos. No período, entre 2006 e 2011, as
exportações da América Latina e do Caribe para a China cresceram a uma taxa
anual de 33,5%, diante da expansão anual de 4,6% para os Estados Unidos e
12
RAMO, Joshua Cooper. The Beijing Consensus.Londres: http://fpc.org.uk/fsblob/244.pdf p. 4.
12
8,2% para a União Europeia. As importações originárias da China cresceram a
uma taxa anual de 23,3%, comparativamente a um crescimento de 8,4% dos
EUA e 10,8% da UE.13
No plano econômico internacional, a ação do Estado chinêscontrariao
movimento de desenvolvimento interno que obstaculizou o receituário de
liberalização, no campo externo, a ação chinesa não rompe com práticas da
chamada globalização financeira, mas sim, aplica o seu excedente de capital
obtido principalmente pelo saldo da balança comercial em oportunidades
financeira e a aquisição de recursos primários.Os bancos públicos da China
desempenham um papel estratégico no sentido de buscar ativos estratégicos
em termos de oportunidade, ao mesmo tempo, servem como apoio para as
empresas chinesas que investem no exterior.14 (ACIOLY, 2011, p.59)
A expansão chinesa provocou transformações nas estruturas no sistema
internacional. O paradoxo do desenvolvimento chinês está na forma de inserção
de sua economia no âmbito internacional. Do ponto de vista interno, as reformas
em direção ao mercado buscou preservar de forma substancial o poder do
Estado diante da ofensiva do capital internacional. No entanto, no plano externo,
o investimento estrangeiro direto chinês age em conformidade com o grande
capital, na medida em que, grande parte de seus investimentos ocorrem em
setores financeiros, através da composição de grandes holdings, que forma uma
estrutura de parceira entre bancos e setores produtivos. Dessa forma, a
dinâmica comercial entre a China e os países do hemisfério Sul apontam para a
reprodução do modelo hierárquico Norte-Sul.
Para alguns autores, a oportunidade de Cooperação Sul-Sul deve ser
relativizada, na medida em que, no cenário contemporâneo, a China é uma
potência internacional, nesse sentido deve-se ponderar a capacidade ou o
interesse da China em relação aos países emergentes. Subentende-se que a
ideia de cooperação envolve condição de poder horizontal, logo a grande
13
COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (CEPAL, 2012a), “La
República Popular China y América Latina y el Caribe.Diálogo y cooperación ante los nuevos desafíos de
la economía global.” Santiago, 2012
14
ACIOLY, Luciana; LEAO Pimentel. China. In: Internacionalização de empresas: experiências
internacionais selecionadas. Brasília: IPEA, 2011.
13
expansão chinesa pode ameaçar a construção de uma política de efetiva
cooperação.
Para Mendes15, a inserção chinesa nos mercados periféricos faz parte de
uma estratégia da política externa que estão em sintonia direta com os
interesses do Partido Comunista Chinês para assegurar a estabilidade política
interna e a sua manutenção no poder vinculadas as prioridades internas, na qual
a ação chinesa tem por objetivo assegurar o acesso a recursos energéticos para
garantir insumos para o seu desenvolvimento e evitar o reconhecimento
internacionalde Taiwan como Estado soberano. Dessa forma essa estratégia
fortalece o nacionalismo, ainda constrói a imagem de um partido pragmático,
que visa assegurar o papel de ator internacional responsável, que é motivo de
orgulho e alimenta o elemento de unidade nacional.A política externa chinesa é
pautada por conceitos securitários que procuram transmitir uma imagem
pacífica, assim como em princípios nacionalistas na defesa de “uma China
única” e “não-ingerência nos assuntos internos dos outros estados”, diretrizes
que se relacionam com interesses da política interna, impede assim influências
externas sobre às questões do Tibete, Xinjiang e violações de direitos humanos.
Para Mendes16, o crescente interesse chinês na África e América Latina estão
relacionadas anecessidade de ampliação de novos mercados na busca de
recursos energéticos frente a dependência chinesa de países fornecedores do
Oriente Médio, sendo essa região palco de instabilidade com conflitos regionais
e foco da presença militar norte-americana. A grande parte dos benefícios da
expansão chinesa na África e na América Latinarecaem sobreas elitese não
para as populações, o investimento chinês para se realizar não leva em
consideração a presença de governos autoritários, e além disso, há um
movimento de transferência de trabalhadores chineses e a entrada de produtos
baratosestabelece dificuldade para o mercado local, aumenta o desemprego e
fechamento de fábricas. Nesse sentido, o comportamento chinês sugere que, na
prática, esta cooperação reproduz a típica relação Norte-Sul.
15
MENDES, Carmen Amado. A China e a Cooperação Sul-Sul. Relações Internacionais, vol. 26, p. 39-46,
junio 2010.
16
MENDES, Carmen Amado. A China e a Cooperação Sul-Sul. Relações Internacionais, vol. 26, p. 39-46,
junio 2010.
14
Segundo Nakatani17, a China representa um dos principais compradores de
terras do mundo, movimento que se acentuou pós crise de 2008, motivado
pelas incertezas do mercado financeiro, a aquisição de terra têm sido
considerada como um ativo seguro e cada vez mais valorizado bem como uma
relevante alternativa para as aplicações financeiras.. A compra de terras atende
a necessidade de obtenção de recursos naturais estratégicos para garantir a
reprodução capitalista e o abastecimento de alimentos, somado a instabilidade
tradicional dos preços de commodities no mercado internacional. A expansão de
terras pela China ocorre principalmente em países da América Latina e África.
Entretanto, Ribeiro18apresenta um olhar benéfico em relação a inserção
chinesa no continente africano, aponta que após os anos 2000, os países
daquela região apresentaram um aumento substancial de seus produtos
primários a partir do aumento da demanda chinesa, associado a um aumento
relativo do valor das commodities, resultando na melhoria do balanço de
pagamentos. Além disso, as empresas chinesas expandem-se para diversos
países da África, ampliando os fluxos financeiros e a ajuda externa ao
continente. O cenário africano nessa conjuntura difere das últimas décadas do
século XX, quando o continente sofreu problemas com programas de ajuste
estrutural de instituições financeiras internacionais resultando em baixas taxas
de crescimento. Entre 2000 e 2010, a África cresceu em média 5,12% ao ano,
contra 1,59% de crescimento das economias avançadas no mesmo período e
2,76% de crescimento mundial. A África Subsaariana cresceu 5,3% neste
período.
Nesse sentido, na visão de Ribeiro19, devido a nova conjuntura econômica se
houver uma ampliação da atuação dos governos na expansão dos gastos
visando a ampliação do mercado interno e uma maior difusão dos investimentos,
sobretudo na área de infraestrutura, aumenta a possibilidade de países
17
NAKATANI, Paulo. A expansão internacional da China através da compra de terras no Brasil e no
mundo
18
RIBEIRO, Valeria Lopes. A expansão chinesa e seus impactos na África na primeira década do século
XXI: o caso de Angola. Artigo apresentado no XIX Encontro Nacional de Economia Política 2014.
http://www.sep.org.br/artigos/download?id=2676
19
RIBEIRO, Valeria Lopes. A expansão chinesa e seus impactos na África na primeira década do século
XXI: o caso de Angola. Artigo apresentado no XIX Encontro Nacional de Economia Política 2014.
http://www.sep.org.br/artigos/download?id=2676
15
africanos modificarem suas estruturais produtivas, cabe aos governos locais
uma atuação direcionada para o desenvolvimento econômico e social no
aproveitamento dos recentes ganhos econômicos.
A expansão chinesa no mercado de recursos naturais em países periféricos,
provoca intenso debate dos impactos desse movimento, devido ao risco de
criação de dependência e de especialização produtiva dos países da América
Latina, enquadrar-se cada vez mais, como fornecedores de commodities,
afetando as estruturas industriais da região.
Para Cano20, o crescimento da economia chinesa expandiu sobremodo sua
demanda externa. Entretanto, sua nova Divisão Internacional do Trabalho, sua
elevada produtividade, e câmbio desvalorizado, fizeram com que suas relações
comerciais com a América Latina passassem a ter a forma clássica da relação
Centro-Periferia, com a pauta exportadora chinesa, constituída
fundamentalmente por produtos manufaturados, e sua pauta importadora, de
produtos primários.
Nessa perspectiva, a expansão chinesa encareceu os preços de commodities
no mercado internacional, e criou uma perspectiva ilusória de grande
desenvolvimento da América Latina, no entanto, havia um processo de corrosão
das estruturas produtivas no interior das principais cadeias em setores de
envolve maior conteúdo tecnológico nos principais países latino-americanos.
O conteúdo das exportações chinesas segue um movimento no sentido de
incremento constante de produtos tecnológicos, na contramão,na América
Latina há um movimento de desintegração vertical dos segmentos de produtos
que envolve maior valor agregado.
Diferentemente para outros autores como Puga e Nascimento21, baseado em
um estudo desenvolvido pelo BNDES, aponta para uma forte correlação entre o
aumento do coeficiente de importações de produtos chineses e o grau de
competitividade da indústria brasileira, sob o argumento de que em nenhum dos
setores mais competitivos da indústria brasileira (alimentos, bebidas, produtos
20
CANO, Wilson. A desindustrialização do Brasil. IE.UNICAMP, número 200. 2012. Pag.11
PUGA, Fernando; Nascimento, Marcelo. O efeito China sobre as importações brasileiras. Visão do
Desenvolvimento, BNDES, n.89, 2010
21
16
de madeira, metalurgia, papel e celulose) houve significativa entrada de
produtos chineses.
Embora atualmente exista um grande movimento de importação de produtos
manufaturados chineses em todos os países da América Latina, o resultado das
relações comerciais da região com a China possui variações. Os países da
América Central e o México vêm incorrendo em déficits globais substanciais com
a China, uma vez que não exportam commodities para o país asiático, e
especialmente no caso mexicano, importam uma quantidade crescente de
manufaturas. Os países da América do Sul, por sua vez, ainda que incorram em
déficits significativos nos produtos manufaturados, apresentam superávits
globais (especialmente no caso do Brasil e do Chile) ou mesmo resultados
relativamente estáveis devido às exportações de commodities (casos do Peru e
da Bolívia), que cresceram em volume e em preço nos últimos anos.22
Nesse sentido, o caminho para a América Latina na busca de uma alternativa
como forma de melhor inserção no sistema internacional no século XXI, passa
pela construção de políticas públicas estratégicas que viabilize um modelo de
desenvolvimento de fato, que não leve em conta apenas a noção primária de
crescimento econômico, mas sim, a valorização de um desenvolvimento que
permita diluir as disparidades econômicas e sociais da região.
A mudança do panorama econômico internacional e as novas diretrizes de
desenvolvimento chinês 2013 abre a possibilidade de países em
desenvolvimento receberam um grande aporte de investimentos oriundos da
China, que serão direcionados principalmente em infraestrutura. Esse quadro
representa um projeto de grandes rotas logísticas no mundo, que visam
assegurar suprimento de minerais e alimentos; como importante componente
desse projeto chinês é o financiamento para a construção do Canal da
Nicarágua23, que rivalizará com o Canal do Panamá de influencia norteamericana. O Canal da Nicarágua interligará os oceanos Pacífico e Atlântico,
22
ROCHA, Érico R. P. A ascensão da China na economia global e seus impactos na América Latina.
Apresentado no XVIII Encontro Nacional de Economia Política, MG, 2013.
23
DNEconomia. Construção do canal da Nicarágua arranca em dezembro.
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=3627238&page=-1. 11.01. 2014
17
terá um oleoduto, uma estrada, dois portos de águas profundas, dois aeroportos
e duas zonas francas. Essa obra evidencia o caráter de influencia competidor na
América Latina entre China e EUA na América Latina.
O atual cenário de transformação do modelo de desenvolvimento chinês irá
refletir drasticamente nas relações econômicas e comerciais com os países
periféricos do Hemisfério Sul. No âmbito comercial, a China deverá abandonar a
posição de “fábrica do mundo”, devido ao encarecimento da mão-de-obra e do
câmbio, dessa forma a concorrência chinesa em termos de competitividade
deixará de ser um fator de desindustrialização de países da América Latina, que
de certa forma diminuirá a animosidade com relação ao “efeito China” de
determinados setores sociais que perderam espaço na competição internacional
nos últimos anos. Por outro lado, adiminuição da taxa de investimento do Estado
chinês, que financiava a modernização da infraestrutura, afeta o valor de
commodities como o ferro ou o cobre que são minérios exportados pelos países
em desenvolvimento para a China.
O benefício oferecido pela China no comércio internacional será no sentido
de ampliação do consumo interno, nesse sentido cabe aos países em
desenvolvimento estabelecer políticas de desenvolvimento compatíveis com a
nova realidade do comércio internacional para atender a nova demanda
chinesa.
A China criou estruturas produtivas que reproduzem as trocas econômicas
que países desenvolvidos historicamente estabeleceram com países periféricos
do Hemisfério Sul, no entanto, uma série de fatores particulares da China, abre
uma lacuna histórica importante para a transformação das relações
internacionais no sentido de criar instituições multilaterais. A história imperial da
chinesa é caraterizada pela ausência de relações de dependência estrutural
produtiva com regiões vizinhas, no contexto do pós Segunda Guerra, o país foi
precursor na luta política na defesa de uma política de cooperação e respeito a
autonomia nacional e sua política externa é pautada pela vontade respeito a
esses valores. No campo do poder, a conjuntura aponta a China na condição de
potência mundial, dessa forma adquiriu um dimensão política que proporciona a
capacidade de impor limites em relação a vontade de países desenvolvidos.
18
Nesse sentido, a ascensão chinesa representa uma oportunidade na
construção de um sistema internacional pautado pelo multilateralismo, indo ao
encontro dosinteresses dos países do Hemisfério Sul. A postura chinesa é
crucial para a constituição da CSS, no entanto, aestrutura produtiva mundial é
pautada por diversosinteresses competitivos e complementares deatores sociais
que influenciam a política nacional de cada Estado nação.
V – Conclusão
Ao longo do tempo, a construção de uma política de CSS é um desafio, na
medida em que, historicamente os países do Hemisfério Sul não possuem
economias complementares, no entanto, no período pós anos 2000 a mudança
da estrutura produtiva sofreu importantes transformações, na qual a China
passou um desempenhar um papel crucial nas trocas internacionais, tornandose o principal parceiro comercial de vários países do Hemisfério Sul.
Cabe a reflexão sobre oalcanceno qual a China construirá a sua política
externa. O país ocupa um papel central nas relações internacionais
tradicionalmente de construção de uma política multilateral desde Bandung, na
qual manifesta a vontade soberana de respeito à autonomia política de seus
pares, ideal fundamentaldo Consenso de Pequim. Por outro lado, a
modernização de sua estrutura produtiva e a composição das trocas comerciais
com países do Hemisfério Sul,é arquitetada principalmente na demanda por
commodities, o que pode levar a um quadro de dependência em países
periféricos.
Na atual conjuntura internacional, para a construção da política da
Cooperação Sul-Sul é central a discussão do modelo de desenvolvimento
chinês e de que forma esse desenvolvimento irá afetar as relações com os
países em desenvolvimento. De qualquer forma, a postura do Estado chinês de
defesa da soberania nos assuntos internos e o multilateralismo representam um
avanço nas relações internacionais, e abre um espaço de inédita força histórica
dos países emergentes para a necessária reforma das instituições de
governança global.
19
20
V - Bibliografia
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22
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