Segurança alimentar e combate à fome para um mundo sustentável PUBLICAÇÃO-SÍNTESE DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR: I SUSTENTABILIDADE E COMBATE À FOME I SALVADOR - BA I OUTUBRO DE 2013 REDE DE BANCO DE ALIMENTOS SE CONSOLIDA EM TODO O MUNDO CENÁRIO NACIONAL DE COMBATE À FOME APRESENTA AVANÇOS E DESAFIOS GOVERNO, EMPRESAS E VOLUNTÁRIOS MOBILIZADOS CONTRA O DESPERDÍCIO Um dia para repensar o nosso papel no mundo 3 Sesc Rede de ações sociais resgata a esperança 7 INSTITUTO WALMART Investimento social para as pessoas viverem melhor 5 CONFERÊNCIA Rede Global de Banco de Alimentos: entender para solucionar 9 PAINEL 1 Direito social, comida de qualidade e desenvolvimento sustentável 17 Qualidade e informação para garantir a segurança alimentar 20 PAINEL 2 Exemplos brasileiros já conquistam e inspiram 26 Voluntariado tem papel estratégico na luta contra a fome 30 Um direito universal, uma luta constante 18 Por um desenvolvimento consciente e multidimensional 22 Governo quer integração e parcerias com setor privado Regulação e engajamento para preservar a biodiversidade 28 32 3 SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR Um dia para repensar o nosso papel no mundo Salvador - BA • Outubro - 2013 Sesc, Instituto Walmart e representantes do Governo participaram da abertura O jornalista José Raimundo mediou os debates do evento O auditório do Teatro do Sesc, em Salvador, recebeu o público O Dia Mundial da Alimentação é Mindlin deu as boas-vindas pelo uma data apropriada para refletir, Instituto Walmart, e o gerente de aprender e discutir sobre um pro- Saúde e Ação Social do Departablema que tem mobilizado milha- mento Nacional do Sesc, Irlando res de entidades e milhões de Moreira, destacou a importância da pessoas ao redor do mundo: a fo- agenda. Também estiveram preme e o desperdício de alimentos. sentes o vice-presidente da FecoFoi por isso que o Instituto Wal- mércio da Bahia, Carlos Andrade, mart e o Sesc, parceiros na mis- que representou o presidente Carsão de promover uma melhor los Fernando Amaral na abertura; a distribuição dos alimentos, volta- secretária de Desenvolvimento da da para a cidadania e a melhoria Bahia, Moema Gramacho; e a direda qualidade de vida de pessoas tora do Sesc Bahia, Célia Batista. em situação de pobreza, escolheram o dia 16 Oportunidade A plateia, composta por de outubro de 2013 para de partilhar assistentes sociais, estudantes, empresários e realizar o primeiro Semiindicadores, funcionários públicos, ennário Internacional de Segurança Alimentar: pesquisas, tre outros, participou atiSustentabilidade e Comexemplos e vamente dos debates, comentando, nos interbate à Fome. perspectivas valos, a importância daRealizado no teatro do Sesc (Casa quele conhecimento para as do Comércio), em Salvador, na ações que já são desenvolvidas Bahia, o evento contou com pai- Brasil afora. néis e conferências de especialistas de diversas áreas cujas Para além do benefício identificapesquisas e formas de atuação do pelos participantes presentes convergiam para um único ponto: ao evento, o objetivo do Semináa erradicação da fome e da po- rio foi também multiplicar as boas breza. Durante todo o dia, foram ideias, compartilhando esse saapresentados indicadores, pes- ber entre todos os interessados quisas, exemplos e perspectivas no tema. Por isso, essas e outras sobre o assunto, nos cenários na- informações também estão disponíveis na página criada exclusicional e mundial. vamente para partilhar conteúdos No início do evento, representantes da área, o blog seminariodesegudas instituições envolvidas fala- rancaalimentar.wordpress.com. ram ao público. O diretor Paulo Confira e aproveite! 4 5 O INSTITUTO WALMART Está presente em 18 estados do Brasil + DF + AP (Floresta Nacional) O Programa de Doação a Bancos de Alimentos beneficiou cerca de 2 mil instituições em 2013 558 lojas participam das ações Mais de 300.000 pessoas assistidas por mês Investimento social para as pessoas viverem melhor Países como o Brasil têm tido um papel importante em mostrar que, onde existe pobreza e miséria, não dá para falar só em sustentabilidade ambiental. É preciso falar em sustentabilidade social. É importante falar de fome. É importante falar de desnutrição. Quem está com fome não se sustenta. Por isso, no Walmart nós temos algumas diretrizes internacionais de investimento social, e uma delas é a de nutrição e combate à fome, temas que nos foram apresentados por exemplos de países como Brasil e México. Quando nós, do Instituto Walmart, conhecemos o projeto do banco de alimentos do Sesc, ficamos curiosos com aquela ideia. Fomos aprender e claro que achamos o máximo. Nos unimos ao Programa Mesa Brasil Sesc, e essa parceria desde então só cresceu. Mais de dez anos se passaram, e hoje são mais de 150 lojas dos variados tamanhos doando regularmente para o banco de alimentos. Atendemos, junto com outros vários parceiros, cerca de 1.800 instituições e 300 mil pessoas de maneira regular. Todo esse traba- lho tem tido uma influência muito importante dentro da empresa, reforçando com os 80 mil funcionários no Brasil a luta contra o desperdício, que já é forte para a gente, pois o Walmart tem, em todos os seus aspectos, uma cultura de combate a essa prática. Entretanto, ainda há muito por fazer. Temos que manter a indignação contra o fato de simplesmente jogar fora. Não dá para aceitar. A ideia de provocar esse Seminário foi justamente porque queremos manter a indignação de todo mundo em alta, temos que trabalhar mais maneiras. No Walmart, estamos estudando mecanismos com a nossa área de segurança alimentar, pois mantemos a indignação de não ficar jogando fora. Por isso, continuamente, reforçamos as parcerias, estudamos outras possibilidades. Acreditamos no trabalho em rede, na necessidade contínua de aprender, de discutir. Dessa forma, o Seminário acontece porque, mais do que celebrar o Dia Mundial da Alimentação, a gente tem que tomar consciência desse problema que existe no mundo e no nosso país.” Paulo Midlin Diretor do Instituto Walmart 6 7 Rede de ações sociais resgata a esperança O número de pessoas que passam fome no Brasil caiu em quase 10 milhões nos últimos anos, segundo os dados mais recentes fornecidos pela Organização das Nações Unidas. Isso é significativo; no entanto, muita coisa ainda há para ser feita. Por isso, o Dia Mundial da Alimentação nos lembra a necessidade de unirmos esforços em torno de um grave problema: a fome. Por isso, há 10 anos, o Programa Mesa Brasil Sesc, junto a parceiros valorosos como o Instituto Walmart, trabalha nessa questão com uma abordagem nacional – trabalhos valorosos nessa área já vinham sendo desenvolvidos em outras localidades, como São Paulo, Ceará, Pernambuco e Paraná há quase 20 anos. Ao longo desse período, já foram mais de 250 mil toneladas de alimentos distribuídas em todo o país. Alimentos que complementaram refeições, aumentaram o seu valor nutricional e estimularam sorrisos. Irlando Moreira Gerente de Saúde e Ação Social do Departamento Nacional do Sesc A fome é um mal que cria desesperança. E sua existência ao lado do desperdício torna esse quadro ainda mais cruel. Há alimentos e há fome. Nós ainda somos incapazes de superar essas dificuldades. Contudo, ao reunir esforços de empresas que doam, voluntários que auxiliam e instituições que amparam, o Programa Mesa Brasil Sesc contribui para conter essa realidade, traçando um caminho digno e justo para a existência humana. Todos nós somos mais um elo dessa cadeia de ações que busca reduzir o número da fome e servir de modelo para futuras iniciativas. Todos integramos essa rede, pois somos multiplicadores de ideias. O que pretendemos com esse evento é simplesmente concentrar esforços para um trabalho cada vez mais abrangente e de grandes resultados. Hoje o Instituto Walmart abraçou de coração essa causa que defendemos e se empenha em não só auxiliar as entidades e instituições com seus produtos, mas fazê-las crescer por meio de ações educativas e sociais, o que também é um dos pilares do nosso trabalho. Desejo que esse evento renda bons frutos, com iniciativas de sucesso.” 8 9 CONFERÊNCIA Rede Global de Banco de Alimentos: entender para solucionar Encorajar, entusiasmar, conectar, resolver. É com essas palavras que Jeffrey Klein define o trabalho da Rede Global de Banco de Alimentos (GFN), instituição presidida por ele, com atuação Jeffrey Klein (EUA) Presidente e CEO da Rede Global de Bancos de Alimentos (GFN). Mestre em finanças pela Universidade de Georgetown. O americano integrou instituições financeiras como Citibank e Mellon Back e foi membro do conselho de empresas públicas e privadas, a exemplo da McCormick & Schmick, Chart House, Barri Financial Group e Progreso – esta última, uma firma de supermercado e distribuidora de alimentos, com a qual trabalha até hoje. Foi diretor de gerenciamento da Equity Group Investments. em mais de 25 países. Destaque na programação do Seminário Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate à Fome, o norte-americano falou ao público sobre sua experiência como consultor ao redor do mundo, revelando semelhanças e diferenças entre vários países, além de alguns exemplos dignos de serem conhecidos e seguidos. 10 11 Para Jeffrey, é encorajador saber que o Na luta contra o desperdício, a gestão é mundo tem comida suficiente para os a alma do negócio. A frase pode até quase 7 bilhões de pessoas que nele haparecer estranha quando se fala de uma bitam. O problema é que boa parte desentidade que não visa lucros. Jeffrey se alimento está no lugar errado, com a Klein, entretanto, logo explica a assologística errada. “É difícil valorar o desciação. Com uma movimentada agenperdício, pois ele envolve perdas no da de visitas a governos, empresas e meio de todo o processo. Entre as fainstituições beneficentes em vários paízendas, as indústrias e os pontos de ses, o presidente da GFN revela que venda, há desperdício de água, embaentender o país, o negócio e suas partilagem, combustível, força de trabalho. cularidades e, assim, identificar soluÉ mais fácil jogar fora”, afirma o amerições que se encaixem tanto em cano. Apesar disso, ele reconhece que empresas como em comunidades é o hoje existe uma maior valorização da segredo para que os bancos de alimencultura do reaproveitatos cumpram seu papel. mento em todo o munMais do que uma ação “Resta-nos encontrar do, seja por uma questão humanitária, trata-se de o caminho para que financeira, política ou um processo de otimização dos recursos e da as iniciativas sejam mesmo moral. força produtiva. mais fortes, efetivas Segundo a análise do e abrangentes” próprio Jeffrey, a varie“Parte do nosso trabalho dade de bens produzié de consultoria. A gente dos somada às iniciativas privadas e aos ajuda a entender o problema da fome, programas do governo já representam fazendo, por exemplo, análises de viaum cenário favorável ao combate à fobilidade para bancos de alimentos”, exme e ao desperdício. Não foi à toa que plica Jeffrey, revelando que a GFN conseguimos, com a ajuda de progratambém promove eventos para capacimas como o Fome Zero, do Governo tar lideranças com treinamentos técniFederal, importantes conquistas nos cos, o chamado Leadership Institute. A últimos anos. Resta-nos, contudo, enideia é ajudar a criar e fortalecer orgacontrar o caminho para que as iniciatinizações eficientes e sustentáveis que vas sejam mais fortes, efetivas e fornecem alternativas ecologicamente abrangentes. “Há diferentes agentes adequadas para o descarte do exceno mercado dos bancos de alimentos dente de produtos comestíveis. no Brasil, e isso é muito importante. O Programa Mesa Brasil Sesc é o maior e mais bem estruturado. Ficamos muito felizes com o programa”, afirmou Klein. Apesar de reconhecer avanços alcançados especialmente no Brasil, Jeffrey não deixou de apontar as questões críticas que nos impedem de conquistar índices ainda mais significativos. E o reforço na comunicação é um dos desafios enfrentados. “Nos Estados Unidos, o conceito de banco de alimento já é bem familiar a todos, mas, no resto do mundo, é novo, muita gente não sabe do que se trata”, enfatizou. Além disso, ainda faltam políticas que garantam proteção legal àqueles que se prontificam a ajudar. “Também no meu país, as pessoas físicas e as pessoas jurídicas ganham descontos nos impostos se ajudam o banco de alimentos”, concluiu o especialista. FOME E DESPERDÍCIO EM NÚMEROS A fome afeta hoje mais de 850 milhões de pessoas em todo o mundo. Mais de 2 bilhões de pessoas ainda vivem com menos de 2 dólares por dia (5 reais). A criança cujo desenvolvimento físico e mental é retardado pela fome e pela subnutrição está prestes a perder de 5% a 10% em rendimentos durante seu período de vida. O custo da subnutrição para o desenvolvimento econômico nacional é avaliado em 20 a 30 bilhões de dólares ao ano. Um terço dos alimentos produzidos para consumo humano não chega a ser ingerido. Isso equivale a 1,3 bilhões de toneladas de alimentos perdidos a cada ano. Fonte: Food and Agriculture Organization, órgão das Nações Unidas (FAO) 12 13 ENTREVISTA Jeffrey Klein É preciso acreditar em dias melhores Diante da sua experiência no Banco de Alimentos, como você enxerga o paradoxo do Brasil, que, mesmo sendo um dos maiores produtores de comida no mundo, ainda tem parte da população vitimada pela fome? JK: Infelizmente, esse não é um paradoxo único do Brasil, virtualmente, todos os países, mesmo aqueles que são grandes exportadores de comida, compartilham dessa realidade. O problema, pelo menos nos países mais desenvolvidos e naqueles que possuem forte agricultura e boa produção de comida, é menos relacionado à disponibilidade de comida e mais relativo ao acesso físico e econômico a essa comida. É comum que, de uma forma geral, a indústria do varejo não tenha presença nas áreas pobres das cidades. Os que residem em áreas mais rurais sofrem com a falta de acesso, normalmente relacionada a problemas de infraestrutura, dificuldade de transporte e escassez da prestação de serviços que inibem a população. Esse é o motivo pelo qual bancos de alimentos são essenciais. Eles estão relacionados à logística, pegando comida de onde há um amplo abastecimento e levando para onde ela é necessária. Que fator mais implica na falta de comida: o desperdício ou a falta de engajamento da sociedade na promoção da distribuição igualitária de comida? JK: Ambos os fatores contribuem de forma significativa para a falta de comida para certos segmentos da população. O primeiro deles, o desperdício, pode ser resolvido através da organização e coordenação de ajuda alimentar, como em redes de bancos de alimentos. Eles existem para coletar alimentos nutritivos, próprios para uso, antes que sejam desperdiçados. O segundo, a promoção social da distribuição igualitária de alimentos, é bem mais complexo. O setor comercial está focando, e realmente deveria, nas implicações econômicas da cadeia de distribuição e prováveis alvos produtivos. Essa não é uma coisa fundamentalmente ruim, promover o lucro é o trabalho do setor produtivo. Lembrando que é incumbência da sociedade determinar qual é a melhor forma de cuidar daqueles que precisam de cuidado. Todos os setores da sociedade devem se engajar nesse diálogo e participar do desenvolvimento da infraestrutura apropriada identificada nessas discussões. Qual é a perspectiva da Rede Mundial de Banco de Alimentos diante da escassez e do desperdício no mundo? O futuro promete dias melhores? JK: A Global FoodBanking Network/Rede Global de Banco de Alimentos (GFN) acredita que o recente foco, nos últimos três ou quatro anos, na extensão do desperdício global de alimentos e o reconhecimento do valor que os bancos de alimentos trazem para milhares de comunidades ao redor do mundo pode levar a um progresso significativo na redução da fome e da desnutrição. Para ser claro, a GFN não acredita que os bancos de alimentos irão acabar com a fome. E não acredita que eles irão acabar com a desnutrição. Mas a GFN sabe que os bancos de alimentos e as redes de organizações relacionadas à alimentação têm tirado dezenas de milhões de pessoas da desnutrição e da fome crônica todos os dias. A GFN também acredita que esses números podem crescer expressivamente para centenas de milhões com o rápido e saudável crescimento dos sistemas de bancos de alimentos e a expansão dos esforços para a utilização desses sistemas como pontes entre a necessidade e o suprimento (desperdício). Tão importante quanto os serviços básicos dos bancos de alimentos, a natureza e a abrangência da sua base de stakeholders unem pessoas do setor privado, do governo e da sociedade civil para contribuir para o sucesso do sistema de banco de alimentos. Muitas dessas pessoas não iriam se encontrar trabalhando juntas por outros objetivos. Essa é uma oportunidade maravilhosa de ver o impacto do banco de alimentos na comunidade e dos esforços colaborativos para conquistar esse impacto e identificar outros meios para que possam trabalhar juntos para mitigar a abrangência da fome. Então, sim, a GFN acredita que o futuro vai trazer dias melhores. É importante lembrar e focar nesses dias melhores para que conquistemos o resultado do trabalho duro, trabalho compartilhado por todos os que se preocupam com o problema da fome e do desperdício. Equipe do Programa Mesa Brasil Sesc, na Bahia, reunida com Jeffrey Klein durante o evento O Presidente e CEO da Rede Global de Bancos de Alimentos, Jeffrey Klein, ao lado da coordenação nacional do Programa Mesa Brasil Sesc, Ana Barros, René Castro e Cláudia Roseno José Raimundo, jornalista e mediador do evento, Adriana Franco e Paulo Mindlin, ambos do Instituto Walmart Sandra, Gleyse e Marília comandaram o primeiro painel do Seminário Kathleen, Alcione e Caio encerraram as discussões do evento A secretária de Meio Ambiente da Bahia, Moema Gramacho, destacou programas de combate à fome Carlos Andrade, Célia Batista e Irlando Moreira representaram o Sesc. Painelistas e organizadores do Seminário comemoraram o sucesso do encontro 16 17 PAINEL 1 Direito social, comida de qualidade e desenvolvimento sustentável Cidadania, mudança cultural, desenvolvimento social inclusivo, comida. “Afinal, a gente tem fome de quê?” Essa pode ser uma pergunta bastante complexa e foi ela que deu início aos debates do Seminário Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate à Fome. Provocadas a responder à questão, as painelistas Marília Leão, da Ação Brasileira pela 16 Desnutrição e Direitos Humanos (Abrandh), Sandra Maria Chaves, nutricionista e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Gleyse Peiter, secretária-executiva do COEP/ Rede Nacional de Mobilização Social, falaram, respectivamente, sobre alimentação como um direito social, sistemas alimentares saudáveis e desenvolvimento social, trazendo cenários e desafios sobre o tema. 18 19 Um direito universal, uma luta constante A VISÃO SOBRE A FOME NO BRASIL 1940 a 1960 QUEM DEFENDE A ALIMENTAÇÃO ADEQUADA ESTÁ DEFENDENDO TODOS OS OUTROS DIREITOS A UMA VIDA DIGNA A humanidade chegou a um nível de conhecimento que, muitas vezes, impressiona. Mesmo assim, grande parte do planeta ainda sofre com a falta de acesso à alimentação adequada e passa fome. Diante desse paradoxo social, Marília Leão, presidente da Ação Brasileira pela Desnutrição e Direitos Humanos (Abrandh), defende que, do ponto de vista das políticas públicas e do orçamento destinado à causa, o Brasil já avançou bastante. Ainda é preciso, entretanto, reforçar a participação social e a integração entre os agentes. De acordo com a especialista, no que diz respeito a políticas e legislação, o cenário é bastante positivo. Desde 2006, o Brasil já possui sua Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional e apresenta um longo histórico de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional, sendo o salário mínimo exemplo disso. “O problema é que o público não sabe trabalhar com o privado. E, quando a gente vê exemplos como o do Sesc e do Walmart, a gente percebe o quanto uma empresa pode fazer”, pontuou, lembrando ainda que é necessário lutar contra o assistencialismo. Marília Leitão Enfermeira-sanitarista, mestre em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Políticas Públicas e em Saúde Pública, é conselheira titular do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão assessor da Presidência da República, e suplente da Comissão Intersetorial de Nutrição, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde. O caráter político do problema da fome deu o tom da palestra da especialista, que citou Josué de Castro, lembrando que a fome é uma doença social que representa prejuízos para a economia de um país. E, para curar essa enfermidade, só uma cidadania muito forte. “Quem defende a alimentação adequada está defendendo todos os outros direitos a uma vida digna”, comentou a especialista. Entre os desafios que ainda se apresentam ao país, sobretudo no que diz respeito às ações do poder público, Marília Leitão defende uma intervenção em nível municipal no combate à fome. Ainda no sentido de se aproximar mais dos focos onde o problema é mais grave, é importante conhecer e fortalecer as ONGs que se dedicam a diminuir as causas e os efeitos da fome. Por fim, estimular a participação social nas mais variadas instâncias é de grande importância. “O Brasil reduziu à metade a quantidade de pessoas que passam fome. Mas não podemos perder o foco”, concluiu. Concepção de Josué de Castro FOME: Questão social e política 1964 a 1984 Ditadura Militar FOME: Tema proibido 1985 a 2002 Redemocratização do Brasil FOME: O tema volta a ser debatido 2003 aos dias atuais Lançamento do Fome Zero FOME: Erradicação é prioridade do Governo Federal 20 21 OBESIDADE NO BRASIL EM COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES 27,6 25,1 20,5 Qualidade e informação para garantir a segurança alimentar 14,8 BRASIL ARGENTINA CUBA EUA Fonte: Vigitel 2006 a 2011 Ter acesso à comida não é o suficiente, é importante também garantir a qualidade dessa comida. As mudanças na relação que o brasileiro possui com a comida têm refletido em graves problemas no que diz respeito à segurança alimentar e nutricional, como o aumento da obesidade no país. Para impedir que esse tipo de distorção continue a afetar a população, a professora Sandra Chaves defende mudanças tanto culturais quanto no reabastecimento e regulação por parte do governo. É NECESSÁRIO QUE O ESTADO PARTICIPE MAIS EM PONTOS COMO A REGULAÇÃO E A INFORMAÇÃO Sandra Chaves Formada em nutrição, fez mestrado em Saúde Pública e doutorado em Administração Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pesquisadora da área de Políticas Públicas em Segurança Alimentar e Nutricional, ela atua como orientadora e professora da graduação e da pós-graduação da UFBA nas áreas de Saúde Coletiva, Metodologia da Pesquisa em Alimentos e Nutrição, Nutrição e Políticas Públicas e Segurança Alimentar e Nutricional. “O padrão alimentar ditado pela dinâmica urbana de hoje faz com que o ser humano coma cada vez menos comida e mais produtos multiprocessados”, preocupa-se Sandra Chaves, tratando de distinguir alimentos (minimamente processados) dos produtos alimentícios (ultraprocessados e com muitas substâncias). Segundo dados apresentados pela professora, 14,8% dos brasileiros apresentam um quadro de excesso de peso ou obesidade, e os custos do Sistema único de Saúde (SUS) com patologias relacionadas com o sobrepeso é de quase R$ 500 milhões por ano. No que diz respeito à participação do Estado nesse processo de consumo consciente e saudável de alimentos, a professora lembrou que o sistema alimentar é uma cadeia que envolve produção, transporte, venda, compra e, finalmente, consumo dessa mercadoria. Por isso, o desenvolvimento de ações como uma política nacional de abastecimento e um fortalecimento da regulação é urgente. “Hoje existe uma série de políticas públicas para a agricultura familiar, mas ainda é necessário que o Estado participe mais em pontos como a regulação e a informação”, afirmou a nutricionista. Ainda nessa perspectiva do sistema alimentar como cadeia, é impossível deixar de pensar no impacto ambiental da agricultura de massa que existe hoje. Um grande percentual dos gases que provocam o efeito estufa vem da produção de alimentos. “Não dá para voltar ao modelo de manejo totalmente natural, que é bastante caro. Temos que saber encontrar o meio-termo”, pontuou. Antes de mais nada, lembra a professora, as pessoas têm o direito de saber o que estão comendo para que, a partir daí, possam reconstruir o hábito alimentar. 22 23 UMA MUDANÇA NECESSÁRIA Por um desenvolvimento consciente e multidimensional População em 2010 7 bilhões População em 2050 9 bilhões Limites do planeta Impacto ecológico do uso dos recursos globais Parcela dos recursos utilizados pelos 20% mais pobres Fonte: Oxfam - Crescendo para um futuro melhor AQUI NO BRASIL, NÓS TEMOS A TRADIÇÃO DE REMEDIAR, E NÃO DE PREVENIR Gleyse Peiter Secretária-executiva do Coep, da Rede Nacional de Mobilização Social e, desde 2004, é conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que tem como principal objetivo garantir a segurança alimentar e nutricional e o direito humano à alimentação adequada a todos brasileiros. Hoje ela coordena o grupo de trabalho Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdade, ligado ao Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e o Laboratório Herbert de Souza – Tecnologia e Cidadania. Crescimento é diferente de desenvolvimento, e isso muita gente já sabia. Muitos não sabem, entretanto, que aquilo que chamamos de desenvolvimento sustentável possui seis dimensões: social, econômica, ecológica, cultural, política e espacial. Foi para essa peculiaridade que chamou atenção a secretária-executiva da Rede Nacional de Mobilização (Coep), Gleyse Peiter. Para ela, o primeiro passo para garantir a tão falada e sonhada sustentabilidade é repensar culturalmente o consumo – inclusive o de alimentos. Segundo Gleyse Peiter, que também é conselheira do Consea, atualmente há uma demanda grande por alimentos que não é atendida, ao mesmo tempo que a pressão pelo biocombustível é cada vez maior. Por isso, grandes extensões de terra que poderiam estar produzindo alimentos para consumo interno são dedicadas a plantações para abastecer o mercado externo (soja) ou para produzir combustíveis (cana-de-açúcar). “A monocultura traz problemas para a segurança alimentar e nutricional, que precisa de biodiversidade”, alertou Peiter, lembrando ainda que o fortalecimento da agricultura local acaba por preservar a cultura também, através da gastronomia. É nesse contexto que as ações desenvolvidas para garantir a segurança alimentar e nutricional se mostram como um importante ponto de partida. Além de ser basilar para outras políticas por se tratar de um tema multidisciplinar e intersetorial, esse tipo de abordagem estabelece os parâmetros para o modelo do desenvolvimento sustentável, antecipando problemas e suas consequentes soluções. “Aqui no Brasil, nós temos a tradição de remediar, e não de prevenir”, comentou a painelista. Problemas recorrentes como o da seca apontam para a necessidade de adaptar para reduzir vulnerabilidades. Para que essa adaptação efetivamente aconteça, devem ser evitadas abordagens relacionadas a políticas assistencialistas. Como lembrou Peiter em sua palestra, homens e mulheres precisam ser protagonistas do próprio desenvolvimento. Citando o sociólogo brasileiro Herbert de Souza, o Betinho, ela lembra que, antes de tudo, somos cidadãos. Plateia atenta durante o primeiro painel do dia O evento contou com 350 inscritos de todo o Brasil Integrantes do Programa Mesa Brasil Sesc compareceram em peso Participantes receberam material do evento A multidisciplinaridade do tema foi percebida nos bate-papos do intervalo Material gráfico incluiu folders com dados sobre o cenário nacional O coffee break também foi momento de troca de experiências Profissionais de diversas áreas compuseram o público Público foi recebido pela equipe do Seminário pela manhã Em Salvador, os debates foram realizados em dois turnos Boa participação evidenciou a importância do debate 26 26 27 PAINEL 2 A ideia de trabalhar em rede, já adotada pelos bancos Exemplos brasileiros já conquistam e inspiram de alimentos em diversos países, pode ser aplicada também de uma forma mais ampla. A luta pela erradicação da fome e da miséria envolve agentes dos mais variados setores, demandando vontade política, engajamento social e muito investimento. Para falar sobre o que já vem sendo feito nesse sentido para além do Programa Mesa Brasil Sesc, o segundo painel do Seminário contou com a analista de políticas sociais do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Kathleen Souza Oliveira; o diretor do Instituto Ethos, Caio Magri; e a fundadora do Instituto Amigos do Bem, a empresária Alcione Albanesi. 28 29 DISTRIBUIÇÃO DOS BANCOS DE ALIMENTOS GOVERNAMENTAIS PELO PAÍS 74 unidades em funcionamento 47 unidades em implantação Centro-Oeste 19 Governo quer integração e parcerias com setor privado 9 29 3 61 Nordeste Norte Sudeste Sul Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome ASSIM COMO NO CASO DA INICIATIVA PRIVADA, EXISTE UMA NECESSIDADE FORTE POR PARTE DO GOVERNO DE OTIMIZAR OS ESFORÇOS Kathleen de Sousa Oliveira Analista do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e formada em Nutrição pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2000. Kathleen atua, há 11 anos, na área de saúde pública, na qual é mestra pela Fiocruz. Analista de Políticas Sociais especializada em Nutrição Clínica e Gestão de Políticas de Alimentação, já trabalhou na Secretaria de Saúde do Paraná e hoje é coordenadora-geral de Equipamentos Públicos da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan). Além da iniciativa privada, o Estado também se articula para abastecer bancos de alimentos em todo o país. Especificamente no Brasil, há dez anos, esse tipo de iniciativa figura na política nacional através do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Para traçar um panorama sobre o que vem sendo feito, a nutricionista e analista de políticas sociais do MDS, Kathleen Oliveira, ministrou palestra e ainda anunciou uma importante parceria. “No caso das ações do Governo Federal, trabalha-se não apenas com a doação de alimentos, mas também com o Programa de Aquisição de Alimentos, em que o governo compra alimento do agricultor”, explicou a analista. Independente do caso, a ideia é, além de implementar – o que já foi feito em muitas áreas –, monitorar o funcionamento desses bancos e dar apoio técnico para que eles se sustentem – etapas ainda em fase de estruturação. Para ela, entretanto, ainda faltam articulação e integração governo-governo e governo-empresa. “A relação entre o público e o privado ainda é complicada, pois não existe um código de ética sobre o assunto”, alertou Kathleen. Apesar de nem sempre ser fácil, o somatório de esforços do governo com as empresas é fundamental para que os benefícios sejam mais abrangentes e sustentáveis. Foi por isso que, em uma parceria inédita na área, o Programa Mesa Brasil Sesc assinou, ainda em 2013, um acordo de cooperação com o MDS para fortalecer a rede nacional de banco de alimentos e, no futuro, compor uma gestão compartilhada. Ainda apresentando o planejamento do MDS na área, Kathleen Oliveira explicou que, assim como no caso da iniciativa privada, existe uma necessidade forte por parte do governo de otimizar os esforços. “Nosso foco agora, por exemplo, está nas Ceasas do Brasil. Passa muito alimento por ali e boa parte sobra. Consideramos estratégica a integração dos bancos de alimentos nesses espaços”, revelou a analista, afirmando ainda que o governo pretende aumentar o número de bancos de alimentos, que hoje é de 74, para 102 até 2015. 30 31 Voluntariado tem papel estratégico na luta contra a fome A SITUAÇÃO SÓ PODE SER REVERTIDA COM A INTERVENÇÃO HUMANA No trabalho de erradicação da fome e da pobreza, o governo investe, as empresas criam boas estruturas e contam com uma ajuda imprescindível de voluntários. Trabalhos relevantes de dedicação e solidariedade podem ser conferidos em todo o mundo. Um exemplo desse engajamento é o que vem sendo desenvolvido pela Amigos do Bem, uma instituição fundada pela empresária Alcione Albanesi, em 1993, que luta no combate à fome no Sertão nordestino. Convidada para apresentar o seu trabalho como voluntária na causa, Albanesi exibiu um vídeo sobre a ONG que dirige e não hesitou em afirmar: “Tudo começa com o alimento. É a base de tudo”. Partindo desse princípio, a entidade procura os mais diversos tipos de parceria para levar cada vez mais comida a municípios pobres dos estados de Alagoas, de Pernambuco e do Ceará. Entre esses parceiros, está o Walmart, que realiza, em diversas lojas, campanhas de arrecadação de alimentos junto aos clientes, numa corrente de solidariedade loja-ONG-cidadão. “Existe miséria em todos os lugares, mas, no Sertão nordestino, há povoados inteiros sem comida e o pior: não há geração de empregos”, pontuou Albanesi. Por isso, o trabalho da instituição vai além da entrega da comida arrecadada. Há uma preocupação em capacitar a população inserida em um contexto de pobreza e dificuldade. Mais uma vez, entra em ação o poder dos voluntários, que, por diversas ocasiões, ministram cursos e oficinas em áreas que vão desde a matemática e o português até esportes, música, dança e corte de cabelo. Seja por meio de entidades organizadas ou do trabalho “formiguinha” feito por pequenos grupos de pessoas, o importante, segundo a empresária paulista, é fazer com que as pessoas se engajem de fato na causa. “A situação só pode ser revertida com a intervenção humana. É um problema de todos nós”, defendeu durante sua palestra, provocando uma importante reflexão em todos os presentes: o que já fazemos e o que mais podemos fazer para contribuir para a diminuição da miséria, da fome e do desperdício? AMIGOS DO BEM Funciona Alcione de Albanesi Empresária e fundadora da instituição Amigos do Bem, que desde 1993 tem a missão de erradicar a fome e a miséria no sertão nordestino, por meio de ações educacionais e projetos autossustentáveis, ela foi vencedora do Projeto Generosidade 2007, da Editora Globo, e do Trip Transformador 2011, da Editora Trip. desde 1993 Atua em 4 cidades nordestinas 5 mil voluntários Possui PROJETOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE • • • • • • • • • educação esportes cultura culinária agricultura construção civil combate à fome saúde formação profissional 32 33 Regulação e engajamento para preservar a biodiversidade DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS NA CONJUNTURA ATUAL É CRIME DE LESA-HUMANIDADE Caio Magri Formado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Magri é o atual gerente executivo de Políticas Públicas do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Foi gerente de Políticas Públicas da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e coordenador do Programa de Políticas Públicas para a Juventude da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto/SP. Integrou em 2003 a assessoria especial do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Programa Fome Zero. “Desperdício de alimentos na conjuntura atual é crime de lesa-humanidade.” A frase é impactante, mas a verdade é que, no fundo, faz todo sentido. Essa é a ideia defendida pelo sociólogo Caio Magri, do Instituto Ethos, último painelista do Seminário. Para ele, mais do que pensar na questão humanitária imediata, é importante perceber que algumas escolhas econômicas e sociais na área do agronegócio podem ter efeitos irreversíveis para o planeta. Pesquisas do Ministério do Meio Ambiente revelam que, ao longo da história, os homens utilizaram para sua alimentação cerca de 3 mil espécies de produtos de natureza vegetal. Hoje apenas 15 espécies fazem a base da segurança alimentar de cerca de 80% das pessoas que vivem no planeta – soja, mandioca, milho e arroz, entre outras. Os números apresentados por Magri são o reflexo do que uma cultura de consumo não consciente é capaz de provocar. “Precisamos discutir de uma forma mais profunda sobre a destruição da biodiversidade e da incapacidade que a gente pode dispor, num médio e longo prazo, de alternativas para a segurança alimentar de produtos que já utilizamos na nossa história e que foram muito importantes para o desenvolvimento humano”, enfatizou o sociólogo. O momento é de contradição: é importante gerar mais alimentos, mas temos a necessidade de preservar a biodiversidade, que é a base da segurança alimentar dos povos. “Depender somente de 15 produtos que se encontram concentrados na mão de poucas empresas é extremamente preocupante do ponto de vista do acesso, da democracia”, diz Magri. Por isso, apesar de já apresentar avanços no combate à fome e erradicação da miséria – investindo em políticas de fortalecimento da agricultura familiar e de distribuição de renda –, o governo brasileiro precisa também regular os impactos da atividade agroindustrial. Além de estimular a prática sustentável de produção e consumo, é necessário que o governo também seja capaz de estabelecer regras que garantam menor impacto, segundo o palestrante. Quem acompanhou os debates e as palestras do Seminário “A ideia é fazer a ponte entre as pessoas e os alimentos. Mais do que apenas repassar comida, é preciso conduzir para o consumo consciente e saudável. É difícil porque o hábito alimentar, muitas vezes errado, está muito enraizado na sociedade. Por isso, o programa busca estabelecer critérios para garantir refeições mais nutritivas.” Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate à Fome aproveitou para tirar lições e ampliar seus conhecimentos sobre o tema. Na plateia, estiveram assistentes sociais, estudantes, representantes de ONGs, entre outros. Todos interessados e animados diante das informações apresentadas. Confira o que algumas dessas Marion Cerqueira pessoas falaram sobre o evento e o tema de uma forma geral. “A demanda por alimentos é sempre muito grande, o que faz com que estejamos sempre envolvidos na captação de doadores, muito focados nas comunidades em que trabalhamos. Trabalhamos muito; entretanto, entendo que ainda precisamos correr muito atrás das ações educativas, que são muito importantes.” Gracie Pereira Assistente social do Programa Mesa Brasil Sesc (MBS) Salvador Nutricionista do MBS de Feira de Santana “Antes deste seminário, eu não tinha noção do cenário mundial do combate à fome, só conhecia a realidade brasileira. Além disso, os debates me ajudaram a entender o porquê da abordagem assistencialista ser tão combatida. Por fim, é sempre importante perceber o quanto o serviço social pode contribuir para a segurança alimentar e nutricional.” Naiara Bispo Estudante de serviço social na União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) “Em meio aos painéis e debates, eu consegui enxergar várias pautas. Quando a gente se coloca em contato com essa gama de informações, fica mais atento. O dia de hoje, sem dúvida nenhuma, mudou minha percepção sobre o tema e alertou formadores de opinião sobre algo grave que está tão próximo a nós.” “No processo de distribuição de alimentos excedentes ainda em condições de consumo, o Programa Mesa Brasil Sesc conta com o auxílio inestimável de parceiros e voluntários. Apenas nos primeiros nove meses de 2013, o programa arrecadou, na Bahia, mais de 1 tonelada de alimentos e materiais de limpeza. Juntos, Sesc e Walmart continuarão trabalhando pela sustentabilidade e pelo combate à fome, fortalecendo uma grande rede de solidariedade.” José Raimundo Jornalista e mediador dos debates do Seminário Carlos Amaral Presidente do Sesc Bahia “As palestras trouxeram uma série de novidades para mim, como, por exemplo, a questão do prazo de validade para consumo dos alimentos, que é diferente do prazo para venda. O Programa Mesa Brasil Sesc tem me ensinado bastante sobre a alimentação ideal para as mais de 80 crianças que a minha instituição assiste.” Liliana Mendonça Sociedade Beneficente Criança Feliz “Tem garotos na comunidade que, às vezes, vão para a escola por causa da merenda. Da mesma forma, a boa alimentação acaba atraindo crianças para entidades que trabalham com esportes, educação, etc. Os meninos têm consciência do valor do alimento e multiplicam essa cultura. Isso se reflete diretamente na comunidade.” Samuel Santana Presidente da Associação Beneficente Pernamboés Esta publicação é uma consolidação do conteúdo abordado durante o Seminário Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate à Fome, realizado no dia 16 de outubro de 2013, em Salvador/BA. REALIZAÇÃO PARCERIA APOIO LOCAL Projeto editorial DIÁLOGO COMUNICAÇÃO INTEGRADA [email protected] (81) 3426.2263 Jornalistas MÁRCIA GUENES (DRT/PE 1637) RENATA REYNALDO (DRT/PE 1902) 1/3 DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS DO PLANETA VAI PARA O LIXO. QUASE 870 MILHÕES DE PESSOAS PASSAM FOME NO MUNDO. O que você faz para mudar isso? Produção de Conteúdo LAURA CORTIZO Projeto Gráfico e Diagramação ISABELA FARIA BRUNO SOUZA LEÃO Revisão RAFAEL FILIPE SOUZA JOSÉ BRUNO MARINHO Fotografia MANUELA CAVADAS Todo o conteúdo desta publicação se encontra disponível no blog do evento: seminariodesegurancaalimentar.wordpress.com Permitida a reprodução desta obra desde que citada a fonte. 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