UM OLHAR PARA AS CRIANÇAS DO LAR: PERCEPÇÕES DO

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UM OLHAR PARA AS CRIANÇAS DO LAR: PERCEPÇÕES DO PIBID
Daiane Koehler (Uergs)
Tatiana Luz Mello (Uergs)
Fernanda Costa da Costa (Uergs)
Gracieli Brandão (Uergs)
Maria da Graça Prediger Da Pieve (Uergs/Orientadora)
RESUMO
O presente estudo “Um olhar para as crianças do lar: Percepções do Pibid” constituise em uma pesquisa-ação, ainda em fase inicial de observação e coleta de dados
junto à Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Gomes, na cidade de Cruz
Alta/RS, estando ligado ao Pibid – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência e articulado ao Subprojeto de Licenciatura em Pedagogia na Unidade de
Cruz Alta. Objetiva apresentar as percepções do Pibid com relação às crianças do
lar incluídas nas turmas do Ensino Fundamental realizando uma análise com relação
às interações (dimensão social) entre essas crianças, seus colegas e professores,
como também perceber dificuldades que apresentam relacionadas à aprendizagem
(dimensão cognitiva). As crianças serão observadas e acompanhadas em seis
turmas dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da escola. O referencial teórico
que dá sustentação ao trabalho está sendo organizado e cita-se neste momento, o
artigo encontrado na Web de Alexandre & Vieira (2004) e na legislação vigente. As
bolsistas estão vivenciando um momento de grande aprendizagem relacionado ao
paradigma da escola inclusiva e do direito de todos a uma educação de qualidade.
Palavras-chave: Pibid. Crianças do lar. Escola. Interação.
Introdução
Este estudo “Um olhar para as crianças do lar: Percepções do Pibid”
constitui-se em uma pesquisa-ação, ainda em fase inicial de observação e coleta de
dados junto à Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Gomes, na cidade de
Cruz Alta/RS, estando ligado ao Pibid – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
à Docência e articulado ao Subprojeto de Licenciatura em Pedagogia na Unidade de
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Cruz Alta. O foco da investigação são as crianças do lar incluídas nas turmas dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Objetiva apresentar as percepções do Pibid com relação às crianças do lar
incluídas nas turmas do Ensino Fundamental realizando uma análise com relação às
interações (dimensão social) entre essas crianças, seus colegas e professores,
como também perceber dificuldades que apresentam relacionadas à aprendizagem
(dimensão cognitiva).
A Casa Lar é um sistema de organização de instituições que abrigam
crianças em situação de risco pessoal, social, ou abandono. O objetivo da estrutura
de uma casa lar é garantir o direito da criança às necessidades básicas de
educação, saúde, lazer e afeto, através do convívio familiar substituto, denominado
família social. A família social é composta, geralmente, por um casal social, ou
apenas uma “mãe social”, que passa a morar na casa, com as crianças abrigadas.
Quem passa por lá não escapa da dor de crescer longe da família, mas fica mais
perto da chance de poder mudar a própria história.
O
trabalho
está
estruturado
em
três
(03)
partes:
Procedimentos
metodológicos, crianças do lar e resultados parciais. No final, apresenta algumas
considerações.
Procedimentos Metodológicos
O desenvolvimento da pesquisa está pautado na abordagem qualitativa
(MINAYO, 1994.) e no método da pesquisa-ação (THIOLLENT, 2002), pois
apresenta como características a interação entre pesquisadores e pessoas
implicadas na situação investigada, além de ter como objetivo resolver ou esclarecer
os problemas da situação investigada. Como instrumento da pesquisa optou-se pela
observação participante e o registro em diário de campo.
Crianças do lar
Às vezes ouvimos falar de crianças e adolescentes que moram em abrigos,
mas sabemos pouco sobre suas vidas e as razões de seu abandono. Os abrigados
têm o direito de manter os vínculos com suas famílias e estas necessitam de apoio
para receber seus filhos de volta e conseguir exercer suas funções de forma
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adequada. É garantida pela Constituição Federal do Brasil, no artigo 227 (BRASIL,
1988) a convivência familiar e comunitária sendo um direito fundamental de crianças
e adolescentes. Também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seu
artigo 19 (BRASIL, 1990), estabelece que toda criança e adolescente tem direito a
ser criado e educado por sua família e, na falta desta, por família substituta.
Segundo o Ministério Público Federal (BRASIL, 2014), sobre os motivos que
levam essas crianças aos abrigos estudos mostram que a pobreza é o mais
recorrente, dos casos, em seguida vem o abandono, a violência doméstica, a
dependência química dos pais ou responsáveis, incluindo alcoolismo, a vivência de
rua a orfandade. Quando há um número elevado de crianças e adolescentes
vivendo em um abrigo, é difícil dar a eles um atendimento individualizado. De acordo
com psicólogos, se uma situação assim se prolonga por muito tempo, pode provocar
grande carência afetiva, dificuldade para estabelecer vínculos, baixa autoestima,
atrasos no desenvolvimento psicomotor e pouca familiaridade com rotinas familiares.
Nesses casos, crianças e adolescentes também têm dificuldade para adquirir
sentimento de pertencimento e adaptar-se ao convívio em família e na comunidade.
As crianças e os adolescentes que vivem em abrigos não devem ser
privados de liberdade Propõe-se, hoje, um papel de inclusão para a escola que, para
ser exercido, exige a não seleção prévia de uma categoria determinada de alunos, a
desconstrução do preconceito, a aceitação da diversidade da clientela da escola, da
contemplação das diferenças, no âmbito escolar, o que poderia facilitar a
negociação de papéis e a construção de novos significados para a criança abrigada.
O paradigma inclusivo que vivenciamos estende seus tentáculos ao espaço
escolar, não se referindo apenas às pessoas com deficiências. As escolas inclusivas
são para todos, implicando um sistema educacional que reconheça e atenda às
diferenças individuais respeitando as necessidades de qualquer aluno. A escola
inclusiva deve ser para todos: pessoas com deficiência, altas habilidades,
superdotação, dificuldades de aprendizagem e para as minorias excluídas.
Segundo Stainback & Stainback (1999, p. 21), a educação inclusiva pode ser
definida como a prática da inclusão de todos independente de seu talento,
deficiência, origem socioeconômica ou cultural em escolas e salas de aula
provedoras, onde as necessidades desses alunos sejam satisfeitas.
Pesquisadores dizem que os problemas emocionais também interferem
negativamente na aprendizagem. Para alguns autores, crianças ansiosas e com
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pobre autoconceito, denotando sentimentos de inadequação e culpa relacionados a
impulsos agressivos, dificuldades de comunicação e timidez, apresentam problemas
de aprendizagem.
Wallon (apud MAHONEY & ALMEIDA, 2012), em sua teoria
psicológica, ao estudar a pessoa completa em seus domínios afetivo, cognitivo e
motor, de forma integrada, mostra como se dá, no transcorrer do desenvolvimento, a
interdependência e a predominância desses diferentes conjuntos. Wallon reforça a
integração das dimensões afetiva, cognitiva e motora lembrando que qualquer
atividade humana interfere em todos os campos funcionais; a atividade motora tem
ressonâncias afetivas e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas
e motoras; e todas elas têm impacto no quarto conjunto, a pessoa.
Dessa forma, uma criança com baixo rendimento escolar pode apresentar
dificuldades quanto a suas habilidades sociais, que associadas a falhas
educacionais e condições familiares podem agravar-se.
As crianças por mais que estejam vivendo de forma adequada nos abrigos,
sentem falta dos pais, de uma casa. Quando veem outras crianças com uma família
constituída (com pai e mãe) ficam completamente sentimentais. O que se passa na
cabeça delas? Não sabemos explicar, mas podemos perceber no olhar de cada um,
o sentimento de tristeza, de saudade.
Em muitos casos, no Brasil inteiro, enfrentam também o preconceito dentro
da própria escola. Outras crianças veem de modo diferente essas que moram em
abrigos, como se tivessem necessidades especiais. Deixam de interagir com elas, só
pelo fato de não terem pais, não terem uma família constituída.
O comportamento das crianças revela um mundo imenso, no qual podemos
identificar questões importantes como presença ou não da família, valores
ensinados e partilhados incluindo a relação entre o sensível e o material,
desenvolvimento ou não de empatia em sua criação e até mesmo o atendimento ou
não a suas necessidades básicas.
Há, portanto, uma ressalva: uma criança sem nenhuma estrutura familiar
pode eventualmente ter a chance, ainda que modesta de, na escola, descobrir um
novo universo, no qual se sinta apta a lutar por uma vida diferente daquela que
conheceu, e isso sem dúvida se dará não apenas pela sala de aula, mas também, e
principalmente, pela hora do recreio, pela interação com outros profissionais da
escola, pela experiência com os pais de outros alunos e pela inserção da
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coordenadora pedagógica ou da diretora na intimidade da família quando há
oportunidade.
Resultados Parciais
Na escola constatamos que existem meninos e meninas que moram no Lar.
São crianças que por motivos pessoais foram deixadas lá para que possam ter uma
vida melhor. Observamos também que em relação à aprendizagem, essas crianças
apresentam dificuldades, muitas delas, com idade entre 7 a 9 anos, ainda não
sabem ler, nem escrever corretamente.
A Casa Lar, denominada “Lar Dona Emília”, está localizada na Rua Barão do
Rio Branco n° 988, no centro da cidade. São vinte e cinco (25) crianças na faixa
etária de zero (0) a doze (12) anos de idade, sendo dez (10) meninos e quinze (15)
meninas e quatro (04) professoras por turno.
Com relação às crianças que moram no Lar, seguem algumas falas:
O lar e muito bom, mas espero que eu e meu irmão encontramos uma outra
família que nos de um futuro (ANDRÉ).
Outra criança destaca:
Eu gosto muito do lar e meus colegas são minha família (MÁRCIA).
As professoras também se pronunciam:
Nós tentamos dar o melhor de nós para essas crianças para que elas não
venham a pensar em seus sofrimentos (MARTA).
A professora Vera fez uma opção e coloca:
Eu trabalhava nas escolas, mas preferi trabalhar com essas crianças
(VERA).
As relações interpessoais dessas crianças que moram no Lar e estão
matriculadas na escola, são boas. As que moram com os pais aceitam e entendem
que as outras, algumas vezes, não têm o material, o lanche, por falta de condições
materiais, financeiras, ou por outros casos. Entendem também que são crianças
normais, que tem capacidades sim de aprender, ter uma boa relação com os
colegas, e que no Lar elas têm uma família, não de sangue, mas de coração, onde
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tem pessoas dispostas a cuidar, ensinar, educar várias crianças com muito amor e
carinho.
Diversos fatores chama a atenção nessas crianças como: afetividade,
necessidade de chamar atenção, traumas de abandono, carência, dificuldade de
falar de si mesma, de expor ao grupo suas vivências, enfim suas raízes.
Demonstram suas vivências em desenhos, em textos e em outras formas de
linguagem, evidenciando o que passaram e o que sentem nos dias de hoje.
Observamos também, que estas crianças demonstram um comportamento
mais fechado, são mais caladas. Percebe-se, no olhar de cada uma das crianças,
que sentem falta dos pais. Certa ocasião, uma aluna chorou e nos contou que está
com saudades e que os pais dela não vão visitá-la.
Algumas considerações
Enquanto bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência – Pibid – em início de processo de construção da identidade docente, cabe
destacar a importância que o referido programa propicia. Destacamos aqui as
aprendizagens de docência em sala de aula, no caso, com crianças dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental e, não menos importante, a necessidade de
investigação de situações de ensino-aprendizagem que ocorrem no dia a dia das
escolas e das salas de aula. Em nosso caso, permitiu olhar para as crianças e
compreendê-las que, apesar das diferenças (físicas, sociais, psicológicas), são
todas iguais e todas independentes de suas condições econômicas, familiares,
culturais, tem o direito a uma escola e a aprendizagem de qualidade. Permitiu-nos
“olhar” para estas crianças do “Lar”, incluídas em várias turmas da escola e vê-las
em seu potencial.
É emergente a necessidade de novos estudos na área dos direitos
humanos, a fim de investigar as significações que estão sendo atribuídas a essas
crianças vindas de lares e incluídas nas escolas. Além disso, há também a
necessidade de qualificar os professores, técnicos, educadores e demais
profissionais dos abrigos e das escolas, na tentativa de desconstruir preconceitos
existentes e de evitar atitudes de exclusão dentro dessas instituições com relação à
criança abrigada.
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De nossa parte continuaremos as investigações e ações no sentido de
compreender as dificuldades de aprendizagem que apresentam procurando
relacionar as causas às situações vivenciadas pelas crianças, em suas interações
nos grupos a que pertencem e nas relações de afetividade que lhes cercam.
Procuraremos mostrar que essas crianças que moram no Lar podem e devem ser
vistas e tratadas como qualquer outra criança, que essas crianças vivem sem o
convívio com os pais, mas tem todo o carinho das "tias" do Lar. Pretendemos, nas
vivências pibidianas na escola, realizar atividades interativas entre as crianças e
ajudá-las nos seus processos de desenvolvimento e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, D. T.; VIEIRA, M. L. Relação de apego entre crianças
institucionalizadas que vivem em situação de abrigo (2004). Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/pe/v9n2/v9n2a07.pdf. Acesso em: 01 jul. 2014.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, 1990.
BRASIL, Ministério da Educação. Constituição Federal da República Federativa
do Brasil. Disponível em: www.mec.gov.br. Acesso em 12 jul. 2014.
.
BRASIL. Ministério Público Federal. Como é a vida de crianças e adolescentes
nos abrigos? Disponível em: http://www.turminha.mpf.mp.br/direitos-das-criancas.
Acesso em 8 jul. 2014.
CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva: Com os Pingos nos “is”. Porto
Alegre: Mediação, 2004.
MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (org). Henri
Wallon: Psicologia e Educação. 11 ed. São Paulo: Loyola, 2012.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade.
Vozes, 21ª. Edição, Petrópolis, RJ. 1994.
STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre:
Artmed, 1999.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2002.
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