Representações sociais da AIDS entre jovens universitários

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ISSN 1678-0493
Diálogos & Ciência
w w w. f t c . b r / d i a l o g o s
Representações sociais da AIDS entre jovens universitários:
traçando a vulnerabilidade a partir das relações de gênero
Jimi Hendrex Medeiros de Sousa*a e Mirian Santos Paivab
a
Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Salvador, BA, Brazil
Escola de Enfermagem,Universidade Federal da Bahia (UFBA), BA, Brazil
b
doi: 10.7447/dc.2012.016
INFORMAÇÕES
RESUMO
Histórico:
Recebido em
04/08/2011
O papel da sexualidade na prevenção da AIDS assume um interesse particular quando se considera
adolescência e a juventude, pois é nesta etapa da vida que o adolescente/jovem inicia sua vida sexual. Este
estudo teve como objetivos identificar as representações sociais da AIDS, sexualidade, sexo e práticas
sexuais de jovens universitários e identificar aspectos da vulnerabilidade dos mesmos ao HIV. Utilizou-se
da abordagem qualitativa, tomando como referencial teórico a teoria das representações sociais.
Participaram deste estudo 50 jovens universitários de uma faculdade de enfermagem da cidade de Salvador.
Esta pesquisa torna-se relevante por apreender as representações sociais da AIDS, sexo, sexualidade e
práticas sexuais entre jovens universitários e por nos permitir, a partir do processamento de dados pelo
software Tri-Deux Mots, inferir sobre aspectos do cotidiano destes.
Revisado em:
06/02/2012
Aceito em:
03/05/2012
Palavras-chave:
Representações Sociais,
AIDS, Jovens Universitários
Keywords:
Social Representations,
AIDS, Students.
AUTORES
ABSTRACT
JHMS
Enfermeiro e Mestre em
Enfermagem
*Autor para correspondência:
[email protected]
TITLE: Social representation of AIDS among young undergraduate students: mapping the
vulnerability from gender relationships.
The role of sexuality in the prevention of AIDS takes a particular interest when one considers adolescence
and youth, for it is at this stage of life that the teenager/young starts her sex life. This study had as its
objective to identify the social representations of AIDS, sexuality, gender, and sexual practices of students
and identify aspects of their vulnerability to hiv. We used the qualitative approach, taking as its theoretical
referential theory of social representations. Participated in this study 50 students of a nursing college in the
city of Salvador. This research becomes relevant by apprehending the social representations of AIDS, sex,
sexuality and sexual practices among university students and for allowing us, from data processing software
by Tri-Deux Mots, infer about everyday aspects of these.
MSP
Enfermeira e Doutora em
Enfermagem
1. Introdução
Sabe-se que a vulnerabilidade à infecção pelo HIV guarda
relação não só com os comportamentos individuais,
principalmente aqueles relacionados à sexualidade e
identidade de gênero, mas, também com o comportamento dos
parceiros, com as condições sociais que deveriam
proporcionar acesso aos serviços de saúde e com existência de
políticas públicas eficazes.
O fenômeno da AIDS está ligado às práticas sexuais e em
decorrência dos papéis sexuais. Para ser compreendido é
necessário conhecer melhor o papel que a variável sexo
desempenha na sua evolução, pois o sexo, além de indicar
uma propriedade natural dos seres humanos, indica padrões
psicossociais bastantes diferentes quanto à sociabilidade dos
indivíduos (SPENCER, 1993).
Sabe-se que quando a sexualidade é discutida, homens e
mulheres apresentam respostas diferentes em decorrência dos
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diferentes processos de socialização que experimentam ao
longo de suas vidas, o que estabelece padrões diferenciados de
vulnerabilidade entre eles.
Não se discute que medidas de prevenção são necessárias
para modificar o estado atual da epidemia. Para Aldana
(1992), se forem comparadas as possibilidades e dificuldades
que cada sexo tem para implantar as medidas de prevenção,
em particular, o feminino, percebe-se que elas são diferentes,
pois, para as mulheres, não existem medidas realmente
eficazes, já que a camisinha, mesmo quando usado por si
própria, requer a negociação com o parceiro.
As dificuldades de prevenção da AIDS por parte das
mulheres desvelam a importância de serem explicitadas as
questões de gênero que circundam todo o enfrentamento da
AIDS, já que a subalternidade de gênero tem se mostrado
determinante na vulnerabilidade das mulheres.
Estudo realizado por Paiva (2000) mostra que as mulheres
adquiriram o vírus HIV a partir do comportamento sexual de
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seus parceiros, que tinham relacionamentos extraconjugais,
embora, em muitos casos contasse com a cumplicidade delas.
Simões Barbosa (1995) põe em discussão a estratégia de sexo
seguro para as mulheres, e que essa discussão acaba não
ocorrendo e esbarra no fato de que, culturalmente, os casais
não discutem sexualidade, afeto e prazer.
Sabendo que é na adolescência que se inicia a vida sexual,
é importante que nesta etapa de vida seja discutida com esta
população as questões que permeiam o campo de sexualidade.
Isto se reveste de importância dado que a proporção de jovens
portadores do HIV está em torno de 13% do total de casos
notificados.
Este projeto de pesquisa ganha relevância por permitir
conhecer o cotidiano de jovens universitários, identificando
práticas e comportamentos individuais e sociais que possam
deixá-los mais vulneráveis à infecção pelo HIV.
Este trabalho tem como objetivos identificar as
representações sociais da AIDS, sexualidade, sexo e práticas
sexuais de jovens universitários e identificar, a partir das
relações de gênero, o conjunto de características individuais e
sociais presentes no cotidiano dos/das jovens que as/os tornam
mais vulneráveis à infecção pelo HIV.
.
2. Material e Métodos
Este estudo teve como referencial teórico a Teoria das
Representações Sociais. As Representações Sociais como
fenômeno são formas de saber, geradas a partir do
conhecimento do senso comum, considerando o sujeito como
parte de um conjunto indissociável com objeto e sociedade. A
partir dessa perspectiva, busca-se compreender processos que
ocorrem em contextos históricos e sócio-culturais precisos, na
construção do senso comum (SÁ, 1998; VEIGA et al, 2011).
Através da atividade de representar, o indivíduo constrói
uma nova realidade de seu mundo, dando-lhe novos
significados que o conduzem. Essa interpretação da realidade
é traduzida como um conjunto lógico de pensamento que vai
constituir a visão de mundo para certa coletividade
(JOVECHLOVITCH, 2000). As representações sociais da
AIDS têm um papel importante no modo como os
grupos/indivíduos agem diante dela e da sua prevenção.
O estudo foi desenvolvido em uma Faculdade de
Enfermagem, situada na cidade de Salvador, tendo como
sujeitos de estudo 50 estudantes. O instrumento utilizado para
coleta de dados foi um formulário construído a partir da
técnica de associação livre de palavras com seis questões
abertas relativas aos objetivos da pesquisa que abordavam as
temáticas de sexo, sexualidade, práticas sexuais e AIDS e na
parte introdutória foram inseridos os dados sóciodemográficos.
A associação livre ou evocação livre a partir de palavras,
segundo Jung (1905) apud Coutinho (2001), “é um tipo de
investigação aberta que se estrutura na evocação de respostas
dadas a partir de um estímulo indutor”.
Para a análise dos dados apreendidos a partir da
associação livre de palavras foi feita a Análise Fatorial de
Correspondência (AFC) através do Software Tri-deux-Mots.
Este Software, a partir da forma como foi programado,
realizou o processamento dos dados coletados - construídos a
partir das respostas aos formulários aplicados às profissionais
do sexo. A AFC revela o jogo de oposições que são
evidenciadas pelos sujeitos nas respostas aos estímulos
indutores, favorecendo a identificação das representações
sociais nele contido.
A análise qualitativa, realizada na perspectiva da
vulnerabilidade, foi realizada através da análise de conteúdo a
partir do que recomenda Bardin (1979), que estabelece três
fases, a saber: pré-análise; exploração dos resultados;
inferência e a interpretação.
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3. Resultados e Discussão
Perfil Sócio-demográfico.
Em relação à faixa etária, os jovens deste estudo
apresentam idades que variam de 19 a 32 anos. Em relação ao
sexo, 25 são homens e 25 mulheres. No que se refere à
parceria pode-se observar que 26 estudantes tinham parceria
fixa, os outros 24 estudantes tinham parceria eventual.
Todos os participantes relataram ser heterossexuais. Em
relação ao uso de drogas lícitas e ilícitas apenas 15 relataram
ter em algum momento feito uso de drogas, sendo a mais
citada a bebida alcoólica.
Analise Fatorial de Correspondência
O teste de associação livre de palavras destaca os
universos semânticos de palavras agrupadas por determinada
população. Isso ocorre em decorrência de ser ela uma
investigação aberta estruturada na evocação de respostas que
são dadas a partir de um estímulo indutor. Neste estudo foram
quatro os estímulos indutores utilizados, quais sejam: sexo,
sexualidade, práticas sexuais e AIDS.
Para a análise fatorial foram considerados três fatores:
sexo, semestre e parceria, responsáveis pelas três variáveis
fixas do banco de dados Tri-deux Mots. A parceria não
apresentou significância diante do percentual total das
respostas, esse resultado leva a constatar que o fato de ter ou
não um parceiro não influencia nas representações sociais do
grupo sobre o tema.
O processamento dos dados coletados foi feito pelo
software Tri-deux-Mots e a interpretação dos dados se deu por
meio da análise fatorial de correspondência (AFC). Segundo
Coutinho (2001), o princípio básico da AFC “consiste em
destacar eixos que explicam as modalidades de respostas,
mostrando as estruturas constituídas de elementos do campo
representacional ou gráfico”. Neste estudo, tomou-se como
referência a freqüência igual ou superior a 4 (quatro), para
cada estímulo indutor, para efetuar o tratamento dos dados
obtidos através do teste de associação.
A Análise Fatorial de Correspondência (AFC) revelada no
jogo de oposições evidenciadas pelas respostas aos estímulos
indutores permitiu a análise do plano fatorial dos dados. A
Figura 1 descreve a análise obtida dos dois primeiros fatores
F1 (sexo – feminino e masculino) e F2 (semestre). O mapa
fatorial é determinado pelas respostas aos quatro estímulos
indutores para os dois grupos (feminino e masculino) mais
relevantes na formação dos eixos.
O fator 1 (F1), linha horizontal, traduz as mais fortes
representações ou modalidades
e explica 58,6% de
significância, aos quais foram somados o percentual de 30,1%
relativos ao fator 2 (F2) linha vertical do gráfico, alcançando
88,7% da significância total das respostas. Foram evocadas
385 palavras pelos 50 sujeitos, das quais apareceram 148
palavras diferentes.
Para o primeiro fator (grupos feminino e masculino),
destacam-se as modalidades correspondentes às respostas
evocadas pelos sujeitos do grupo masculino, as quais se
encontram do lado positivo do eixo um (1) e são representadas
pelas palavras: mulher, prevenção, expressão sexual,
satisfação, desejo, comportamento, ato sexual e opção sexual,
são seguidas de um número que corresponde a cada estimulo,
conforme demonstra o Quadro 1.
No gráfico, do lado negativo do eixo 1 ou primeiro fator,
destacam-se as modalidades correspondentes às respostas do
grupo feminino, representadas pelas seguintes palavras
evocadas: carinho, prazer, sensualidade, amor, modo de vestir
e desejo, que igualmente tem as evocações sinalizadas por um
número ao final de sua grafia referente ao estímulo indutor.
As oposições entre as modalidades de respostas evocadas
pelos sujeitos do grupo masculino e do grupo feminino
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Tabela 1: Classificação ordinária dos estímulos indutores
Estímulo indutor
Número do estímulo
O que é sexo?
01
O que é sexualidade?
02
O que são práticas sexuais para você?
03
O que é AIDS para você?
04
tornam-se visíveis através das representações distribuídas ao
longo do eixo 1, que na Figura 1, estão situadas no lado
esquerdo e direito, respectivamente. Com referência ao
segundo fator (F2) ou eixo 2, o procedimento de análise
baseia-se na semestralidade (parte superior e inferior do
gráfico), ou seja, ocorre uma oposição entre o grupo do 1o ao
5o semestre, situado na parte superior do gráfico e o grupo do
6o ao 9o semestre que ficou situado na parte superior do
desenho gráfico.
Na análise dos resultados do teste de associação livre de
palavras, para o estímulo 1 (o que vem a sua cabeça quando a
palavra é sexo?) pode-se apreender que as representações que
o grupo feminino têm são evocadas pelas palavras amor e
carinho. Enquanto que o grupo masculino representa o sexo
pelas evocações desejo, mulher e satisfação. Ambas as
representações são mais significativas para quem cursa do 1o
ao 5o semestre.
Em estudo recente desenvolvido por SOUSA, PAIVA
(2002):
“Para as mulheres, a representação social de sexo
configura-se mediante aos sentimentos que estão envolvidos
na relação a dois, vivenciada por homens e mulheres, haja
vista que ao pensar em sexo, para elas, estão embutidas as
questões de carinho, união, amor, afetividade, cumplicidade,
refletindo a influência cultural do contexto social no qual
foram socializadas, que as leva a agir nas questões de
sexualidade a partir do paradigma sentimental”.
As diferenças entre as representações de mulheres e
homens possivelmente, advêm das relações de gênero que
estes vivenciam no seu cotidiano, pois na forma como são
socializados, há uma reprodução de valores estereotipados
para homens e mulheres.
Neste sentido, as mulheres encaram o sexo mais numa
perspectiva sentimental, ao passo que os homens, representam
o sexo mais tomando como paradigma o prazer e a satisfação
com uma mulher, ou seja, ancorados num sistema educacional
o qual valoriza a cultura heterossexista e patriarcal.
Quando estimulados (as) a responderem o que é
sexualidade, as mulheres evocaram sensualidade, modo de
vestir e desejo, ao passo que os homens manifestaram com
maior significância opção sexual, comportamento e expressão
sexual.
A sensualidade e o modo de vestir representados pelas
mulheres podem está relacionados à forma como a
sexualidade feminina é veiculada na mídia, a qual
coloca/impõe um padrão de beleza e moda que explora a
sensualidade como uma estratégia para conseguir bons
resultados na vida e no trabalho, sucesso e fama e,
principalmente, bom desempenho com o parceiro.
Ainda em relação à sexualidade, as mulheres a
representam com a palavra desejo, percebe-se que há um
sentimento quando o assunto é sexualidade, existindo uma
oposição em relação às representações dos homens, pois,
mesmo que o amor seja importante num relacionamento
sexual, o sentimento de desejo e prazer estão presentes.
O mesmo não ocorre quando se analisa a representação dos
homens, pois, estes associam a sexualidade à questão do
comportamento sexual humano, o que pode está relacionado à
homossexualidade mais presente entre os homens, divergindo
das mulheres que apontam para questões relacionadas com o
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F2+
_______________________________________EXPRESSÃO SEXUAL2_________________
¡
SATISFAÇÃO1
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡
!
CARINHO1
!
DESEJO1
1O AO 5O SEMESTRE
!
!
PRAZER3
!
MASCULINO
!
SENSUALIDADE2
!
¡
MULHER1
¡
PREVENÇÃO4
F1-___________________________________ +____________________________F1+
AMOR1
¡
COMPORTAMENTO2
¡
¡
¡
¡
!
MODO DE VESTIR2
FEMININO
!
!
ATOSEXUAL3
!
!
OPÇÃO SEXUAL2
!
!
6O AO 9O SEMESTRE
____________DESEJO2______________________________________________________
F2-
Figura 1: representação gráfica dos planos fatoriais 1 e 2. F1(eixo negativo ou lado esquerdo) = grupo feminino; F1+ (eixo
positivo ou lado direito) = grupo masculino; F2- (eixo negativo) = 1o
ao 5o semestre; F2+ (eixo positivo) = 6o ao 9o semestre.
seu próprio corpo.
Quando o estímulo é o que vem a sua cabeça ao falar em
práticas sexuais as mulheres as representam pela palavra
prazer. Esta evocação, com maior significância, nos remete ao
entendimento do sentimento que as mulheres ancoram ao falar
em práticas sexuais, pois se ao falar em sexo sobressai como
representação a palavra amor, nada impede de ter prazer com
quem se ama.
Entre os homens, observa-se que eles representam com a
palavra ato sexual. Esta representação pode ser analisada
considerando que os homens não necessariamente expressam
seus sentimentos nas suas relações sexuais, não divergindo,
portanto das representações do sexo para estes, na qual a
questão sentimental não foi evocada, mas uma vez
compreendemos que a forma como homens e mulheres são
educados contribuem para lhe dar com questões sexuais de
forma diferenciada.
Para o estímulo AIDS, analisando na perspectiva do fator
um (grupo masculino e feminino), aparece apenas à palavra
prevenção fortemente evocada pelos homens, porém, com
grande significância para as mulheres.
Por serem universitários e da área de saúde, esta
representação pode estar ancorada nas informações obtidas no
decurso de sua formação, pois, observa-se que esta evocação
foi mais significativa para o grupo do 6o ao 9o semestre, o que
nos remete ao entendimento de que o fato de passarem pela
disciplina saúde da mulher1 e terem avançado nos conteúdos
da grade curricular que tratam de forma mais profunda esta
temática, estejam influenciando nas representações dos jovens
estudantes de enfermagem sobre AIDS.
Naturalmente, as mulheres já possuem uma preocupação
maior com os aspectos preventivos em saúde, uma vez que de
acordo com o processo de socialização, o cuidado com a saúde
sempre esteve mais enraizado na natureza/conduta feminina.
Vulnerabilidade à infecção pelo HIV: interfaces das
representações sociais e gênero
A vulnerabilidade pressupõe um entendimento complexo
e, com o advento da AIDS, vem sendo trabalhada por vários
autores que tentam explicá-la tomando como contexto geral os
fenômenos sociais e, em particular, as questões que perpassam
a saúde. Neste sentido, ela incorpora um conjunto de
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elementos como o comportamento individual, as condições
sociais e as políticas públicas vigentes.
Para Oliveira (2001):
“A suscetibilidade biológica à infecção pelo HIV é uma
situação comum a toda e qualquer pessoa, que pode se tornar
soropositiva através da relação sexual ou do contato com
sangue. Se os modos de transmissão são limitados e estão
baseados em comportamento, é necessário o envolvimento de
dois ou mais participantes para que uma pessoa se torne
infectada pelo HIV ou para transmitir a outra”.
Reportando às representações sociais masculinas em
relação a sexo/sexualidade, que permeiam o prazer e o desejo
de exercê-los tornando-os vulneráveis à infecção pelo HIV,
uma vez que estas condutas lhes deixam expostos,
principalmente, pelo fato de que os homens têm maior número
de parceiras e de relações sexuais como forma de mostrar a
sua virilidade para a sociedade.
As representações sociais de sexo para as mulheres
denotam padrões de subjetividade, onde os sentimentos são
predominantes, em especial o amor, o que as tem colocado em
situação de vulnerabilidade, principalmente, dada a
dificuldade de assegurar o comportamento de seus
companheiros, bem como, à cumplicidade com que acabam
encarando a infidelidade masculina.
Já os homens são pressionados pelos próprios pais a
enfrentarem desde cedo as diversidades da vida cotidiana,
porém, a vulnerabilidade está intrínseca para ambos os sexos,
pois para as mulheres estar vulnerável é estar mais exposta,
receptiva, e sensível a uma determinada situação.
Para elas, a vulnerabilidade se constrói a partir de
parâmetros de passividade. Para os homens não se faz
diferente por conta da maior exposição, determinando um
comportamento de risco, uma vez que, há a busca pelas
profissionais do sexo e práticas sexuais de maior risco.
(SOUSA et al, 2002)
A virilidade masculina também é apresentada como um
contraponto para a vulnerabilidade ao HIV, pelo fato de que
esta atitude comportamental, de mostrar que é “macho" e que
“tudo pode", os levam a situação mais desprotegidas e pouco
pensadas, pois, neste momento de satisfação sexual o que
importa para eles é o cumprimento do dever de ser homem, e a
prevenção fica mais na perspectiva abstrata, ou seja, no
segundo plano.
Ao questionar os estudantes de enfermagem sobre quais as
diferenças de vulnerabilidade de homens e de mulheres em
relação à infecção pelo HIV, percebe-se que de acordo com as
concepções masculinas tanto homens quanto mulheres são
vulneráveis ao HIV.
Já na perspectiva das mulheres houve uma oposição nas
respostas das mesmas, pois 50% referiram que não tem
diferença de vulnerabilidade de homens e de mulheres, e o
restante afirmou que há diferenças entre homens e mulheres
quanto o assunto é infecção ao HIV, na qual para estas as
mulheres são mais vulneráveis ao HIV.
Fica clara a forma como as mulheres encaram a
vulnerabilidade, pois, são convictas da infidelidade masculina,
e conscientes da alta vulnerabilidade das mulheres a infecção
pelo HIV.
Neste caso, as relações de gênero que configuram num
jogo de poder entre homens e mulheres, tornam-se influentes
na hora de negociar práticas mais seguras, principalmente
quando o uso do preservativo é solicitado pelas mulheres.
Estas de acordo com o seu próprio processo de vida ficam
numa relação de submissão ao poderio masculino, muitas
vezes submetendo-se a práticas de risco sem devida proteção,
portanto, o gênero torna-se um recorte em pesquisas
importante ao tratar de estudos com homens e mulheres e suas
interações psicossociais.
Diálogos & Ciência, no 30, junho de 2012
4. Conclusões
Esta pesquisa torna-se relevante por apreender as
representações sociais da AIDS, sexo, sexualidade e práticas
sexuais entre jovens universitários e por permitir, a partir do
processamento de dados pelo software tri-deux mots, inferir
sobre aspectos do cotidiano destes.
Ao identificar as representações sociais de determinados
grupos espera-se contribuir com o trabalho de profissionais de
saúde e de outras áreas, seja no serviço ou em
estabelecimentos de ensino, pois, conhecer a forma como os
sujeitos representam a AIDS e as questões que norteiam a
sexualidade humana (sexo e práticas sexuais), podem
contribuir para a melhoria da atenção a este grupo nos serviços
de saúde, de forma eqüitativa e contextualizada.
Diante deste contexto, é necessário reorganizar os serviços
de saúde para oferecer um atendimento mais direcionado às
questões ligadas à identidade de gênero, favorecendo a
ampliação destas discussões com a missão de conscientizar os
usuários, homens e mulheres, da importância do diálogo,
confiança mútua, discurso sobre sexo e sexualidade para que
não continuem reproduzindo padrões psicossociais que os
levem a uma maior exposição à aids.
Destarte, a condição de gênero propicia a existência de
diferentes comportamentos entre homens e mulheres, que
implicam em vulnerabilidade dos jovens ao HIV. O fato de
mulheres e homens se posicionarem de forma diferenciada,
quanto ao sexo e sexualidade, fica claro que a ancoragem se
estabelece a partir de uma diferença de gênero nas concepções
sobre AIDS, apontando para a vulnerabilidade entre os jovens.
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