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SANTA IZABEL
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
ANO 1 |
Nº 04
| VO L . 0 1 | D E Z E M B R O 2 0 1 4
EDITORIAL
Os degraus da construção de uma
evidência científica.
ATUALIZAÇÃO DO TEMA
Fisiopatologia da lesão renal aguda
no paciente crítico.
RELATO DE CASO
RESUMO DE ARTIGO
Um caso raro de apendicite complicada
de longa duração.
Efeitos do ácido zoledrônico na
consolidação de fraturas.
Tumor Gastrointestinal Estromal (GIST)
diagnosticado no período neonatal.
ISSN 2357-7908
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
SUPERVISORES DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MÉDICA
1. ANESTESIOLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Jedson dos Santos Nascimento
10. MEDICINA INTENSIVA
Supervisor: Prof. Dr. Edson Marques Filho
2. CANCEROLOGIA CLÍNICA
Supervisor: Prof. Dr. Dálvaro de Oliveira Castro Júnior
11. NEONATOLOGIA (Maternidade Prof. José Maria de
Magalhães Netto)
Supervisora: Prof a. Dra. Rosana Pellegrini Pessoa
3. CARDIOLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Gilson Soares Feitosa
4. CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA
Supervisora: Prof a. Dra. Anabel Góes Costa
5. CLÍNICA MÉDICA
Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho
6. CIRURGIA GERAL
Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire
7. CIRURGIA DO APARELHO DIGESTÓRIO
Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire
8. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (Maternidade Prof. José
Maria de Magalhães Netto)
Supervisor: Prof. Dr. Rone Peterson Cerqueira Oliveira
12. NEUROLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Pedro Antônio Pereira de Jesus
13. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Rogério Meira Barros
14. OTORRINOLARINGOLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Nilvano Alves de Andrade
15. PNEUMOLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho
16. REUMATOLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Mittermayer Barreto Santiago
17. UROLOGIA
Supervisor: Prof. Dr. Luiz Eduardo Café
9. HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
Supervisor: Prof. Dr. José Carlos Raimundo Brito
COEDITORES DA REVISTA DE SAÚDE DO HSI
ANESTESIOLOGIA
Jedson dos Santos Nascimento
HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
José Carlos Raimundo Brito
ÁREA MULTIPROFISSIONAL
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MEDICINA INTENSIVA
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CANCEROLOGIA CLÍNICA
Dálvaro Oliveira de Castro Júnior
NEONATOLOGIA
Rosana Pellegrini Pessoa
CARDIOLOGIA
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NEUROLOGIA
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CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA
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ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
Marcos Antônio Almeida Matos
CIRURGIA GERAL
André Ney Menezes Freire
OTORRINOLARINGOLOGIA
Nilvano Alves Andrade
CIRURGIA DO APARELHO DIGESTIVO
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PNEUMOLOGIA
Jamocyr Moura Marinho
CLÍNICA MÉDICA
Alina Coutinho Rodrigues Feitosa
REUMATOLOGIA
Mittermayer Barreto Santiago
GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
Rone Peterson Cerqueira Oliveira
UROLOGIA
Luiz Eduardo Café
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2014|3
CONSELHO EDITORIAL
EXPEDIENTE
EDITOR-CHEFE
Gilson Soares Feitosa
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PROVEDOR
Roberto Albuquerque Sá Menezes
Hospital Santa Izabel - Santa Casa de Misericórdia da Bahia
Adriano Santana Fonseca
Adriano Dias Dourado Oliveira
Adson Roberto Santos Neves
Alex Guedes
Alina Coutinho Rodrigues Feitosa
Ana Lúcia Ribeiro de Freitas
Anabel Góes Costa
André Ney Menezes Freire
Angele Azevedo Alves Mattoso
Anita Perpétua Carvalho Rocha de Castro
Antônio Carlos de Sales Nery
Antônio Fernando Borba Fróes Júnior
Antônio Moraes de Azevedo Júnior
Aline Nunes de Araújo Gomes
Alinne de Souza Bernardes Reis
Augusto José Gonçalves de Almeida
Áurea Angélica Paste
Bruno Aguiar
Cristiane de Brito Magalhães
Cristiane Abbhusen Lima Castelo Branco
Dálvaro Oliveira de Castro Júnior
Daniela Barros
Darci Malaquias de Oliveira Barbosa
Daniel Santana Farias
Daniele Leal Braga da Silva
David Greco Varela
Diana Lessa Fernandes
Edson Marques Silva Filho
Elves Anderson Pires Maciel
Fábio Luís de Jesus Soares
Flávio Robert Sant’ana
Gilson Soares Feitosa - Filho
Giovanna Lúcia Oliveira Bonina Costa
Guilhardo Fontes Ribeiro
Gustavo Almeida Fortunato
Heitor Ghissoni de Carvalho
Humberto Ferraz França de Oliveira
Iana Conceição da Silva
Ilana D´Andrade Souza
Jamary Oliveira Filho
Jamile Seixas Fukuda
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
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SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
Jamocyr Moura Marinho
Jayme Fagundes dos Santos Filho
Jeany de Oliveira Barreto
Jedson Nascimento dos Santos
Joberto Pinheiro Sena
Joel Alves Pinho Filho
Jorge Bastos Freitas Júnior
Jorge Eduardo de Schoucair Jambeiro
José Alves Rocha Filho
Laís Matos Rebouças Matos
Lígia Beatriz Wanke de Azevedo
Liliana D’Almeida Galrão
Lívia Maria Quirino da Silva Andrade
Luciane Souza Coutinho
Luís Fernando Pinto Jonhson
Luiz Eduardo Fonteles Ritt
Marcos Vinícius Santos Andrade
Maria do Socorro Albuquerque Miranda
Maria Lúcia Duarte
Matheus Tannus dos Santos
Maura Alice Santos Romeo
Melba Moura Lobo Moreira
Nilzo Augusto Mendes Ribeiro
Paulo José Bastos Barbosa
Pedro Antônio Pereira de Jesus
Pepita Bacelar Borges
Patrícia Falcão Pitombo
Rajaná Regina Moura Itaparica
Reinaldo da Silva Santos Júnior
Renato Ribeiro Gonçalves
Ricardo Eloy Pereira
Rogério Meira Barros
Rone Peterson Cerqueira Oliveira
Rosalvo Abreu Silva
Rosana Pellegrini
Sandra Oliveira Silva
Sérgio Tadeu Lima Fortunato Pereira
Sheldon Perrone de Menezes
Ubirajara de Oliveira Barroso Júnior
Verusca de Matos Ferreira
Viviane Sampaio Boaventura Oliveira
4
VICE-PROVEDOR
Luiz Fernando Studart Ramos de Queiroz
ESCRIVÃO
Renato Augusto Ribeiro Novis
TESOUREIRA
Ana Elisa Ribeiro Novis
HOSPITAL SANTA IZABEL
SUPERINTENDENTE DE SAÚDE
Eduardo Queiroz
DIRETOR DE ENSINO E PESQUISA
Gilson Soares Feitosa
DIRETOR TÉCNICO-ASSISTENCIAL
Ricardo Madureira
DIRETORA ADMINISTRATIVA E DE MERCADO
Mônica Bezerra
EXPEDIENTE
AG EDITORA
Ana Lúcia Martins
Caroline de Carvalho
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5
EDITORIAL
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Os degraus da construção de uma
evidência científica
SUMÁRIO
Autor: Gilson Soares Feitosa 1
7
Editorial
39
Relato de Caso: Oncologia
8
Atualização de Tema: Anestesiologia
42
Resumo de Artigo: Cardiologia
17
Os degraus da construção de uma evidência
científica.
Gilson Soares Feitosa
Sonoanatomia para bloqueio seletivo do
ombro. Existe vantagem em relação ao
neuroestimulador?
Patrícia Falcão Pitombo
Atualização de Tema: Neurologia
Intervenções não-trombolíticas na fase aguda do
acidente vascular cerebral isquêmico.
Jamary Oliveira-Filho
21
Atualização de Tema: Medicina Intensiva
30
Relato de Caso: Cirurgia Geral
35
45
46
Fisiopatologia da lesão renal aguda
no paciente crítico.
Edson Marques Silva Filho
Um caso raro de apendicite complicada
de longa duração.
André Ney Menezes Freire
Relato de Caso: Neonatologia
Tumor gastrointestinal estromal (GIST)
diagnosticado no período neonatal.
Samir Nahass Gouveia Franco
Doença de Gorham como diagnóstico diferencial
de neoplasia óssea.
Daniela Galvão Barros
Técnica de Cribier
José Carlos Brito
Resumo de Artigo: Ortopedia
Efeitos do ácido zoledrônico na
consolidação de fraturas.
Marcos Almeida Matos
Artigo Multiprofissional: Fisioterapia
Capacidade funcional de pacientes submetidos
a exercícios resistidos no pós-operatório de
cirurgia cardíaca.
Marcela Araujo de Moura
53
Protocolo de Atendimento 65
Eventos Fixos
66
Instruções aos Autores Já se disse que ciência é a arte de medir as coisas.
A simplicidade dessa afirmação apenas pretende por
em destaque que: contar, comparar, tentar estabelecer
associações ou predizer fenômenos – bases da essência da pesquisa médica – têm no seu elemento básico
a necessidade de proceder com aferições.
No campo do tratamento das doenças, novos recursos foram surgindo e incorporados progressivamente com medições muito simples e óbvias, de início.
Imagine-se a satisfação em pela primeira vez obter-se
controle do diabetes mellitus com injeção de extrato
de pâncreas de feto de bezerro em garoto de 14 anos
com grave DM e sintomas, em 1921, rendendo aos
seus autores McLeod e Banting de Toronto-Canadá
o prêmio Nobel de Medicina de 1923. Portadores de
cetoacidose diabética quase que invariavelmente evoluiam para o óbito e agora sobreviver era a medida
simples e convincente do efeito terapêutico.
O mesmo se aplica a várias outras condições, tais
como o surgimento de extratos de tireoide para tratamento de mixedema no final do século XIX (dando início à era da hormonioterapia), ou o primitivo tratamento cirúrgico do abdome direito em tábua (resultante de
apendicite), onde a medida dos efeitos era tão contundente que não se permitiam dúvidas sobre o acerto
das atitudes tomadas.
No início do século XX, uma profusão de recursos
terapêuticos foi surgindo, às vezes como produtos da
imaginação, sem testes preliminares que mostrassem
sua eficácia e, com base apenas na boa vontade, aplicados diretamente em terapêutica clínica. Começaram a surgir dúvidas sobre suas eficácias e, quando
surgiu a estreptomicina, face a resultados conflitantes
de início, inclusive com surdez em um dos pacientes
tratados, desenvolveu-se o primeiro estudo randomi-
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zado da história da medicina,quando este produto foi
comparado a placebo, no tratamento de tuberculose.
A partir dos anos 50 houve uma verdadeira explosão de novas descobertas de recursos terapêuticos,
tornando-se necessária a medição precisa das diferenças observadas entre diferentes agentes, sendo criada
uma hierarquização da força da evidência construída
em torno da descoberta. Isso se fez por intermédio de
um modelo sequencial de fases de pesquisa, que será
motivo de uma abordagem aqui, no futuro.
O outro foi pela árvore hierarquizada da construção do conhecimento gerado pelas observações que
colocam no patamar mais simples a impressão do
investigador, ou do relato de casos (quando se consideram até 10 casos), num patamar mais elevado o
estudo de cortes ou estudos caso-controle; num plano mais elevado, os estudos controlados, porém sem
randomização, e, no plano mais elevado, o dos estudos comparativos, randomizados, com suas variantes
uni ou duplo-cego) e, mais recentemente, para alguns,
ocupando o topo da pirâmide, as revisões sistemáticas
e metanálises de estudos randomizados de qualidade
voltados para o mesmo desfecho.
A pesquisa médica contribui para o conhecimento
em qualquer uma dessas etapas. A forma mais reconhecida pela comunidade científica em estudos de intervenção é a que advem dos estudos randomizados
de boa qualidade.
1- Editor RSHSI
Endereço para correspondência: [email protected]
7
Pitombo, PF et al. Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador? Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 08-16.
Pitombo, PF et al. Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador? Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 08-16.
Atualização em Anestesiologia
Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem
em relação ao neuroestimulador ?
Patrícia Falcão Pitombo 1, Pedro Paulo Kimachi 1, Jedson dos Santos
Nascimento 1, Marcio Henrique Lopes Barbosa 1
Resumo: Pitombo PF, Kimachi PP – Sonoanatomia
para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador?
Justificativa e objetivos: patologias e/ou cirurgias
envolvendo a articulação escápulo-umeral cursam com
intensa dor pós-operatória. Bloqueios regionais ecoguiados vêm ganhando cada vez mais espaço na prática anestesiológica e no tratamento da dor. O objetivo
desse estudo foi descrever a anatomia e a sonoanatomia para realização do bloqueio seletivo do ombro,
além de suas possíveis vantagens em relação ao uso
do neuroestimulador.
Conteúdo: revisão literária sobre a anatomia e sonoanatomia dos nervos supraescapular e axilar, principais responsáveis pela inervação sensitivo-motora da
articulação escápulo-umeral, além da descrição técnica
ultrassonográfica para obtenção de bloqueio anestésico
adequado. Diretrizes para aliar segurança na execução
dos bloqueios também são abordadas.
Conclusões: o bloqueio seletivo do ombro é uma
alternativa ao bloqueio interescalênico quando não se
deseja bloqueio do nervo frênico ou bloqueio motor muito intenso dos membros superiores. A visualização da
anatomia e da dispersão em tempo real faz do ultrassom uma ferramenta útil, promissora e com possíveis
vantagens em relação ao uso isolado do estimulador de
nervo periférico na realização do bloqueio seletivo do
ombro. Trabalhos clínicos são necessários para confirmar essa superioridade.
Unitermos: ANESTESIA, regional; ANALGESIA,
pós-operatório; EQUIPAMENTOS, ultrassom; TÉCNICAS ANESTÉSICAS, regional: nervos periféricos.
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fato pode levar à analgesia cirúrgica incompleta, requerimento de suplementação analgésica venosa, infiltração
de anestésico local ou anestesia geral13. Normalmente,
ele é realizado por meio de referências anatômicas ou
com auxílio de estimulador de nervo periférico. Independentemente da técnica utilizada, o entendimento da
anatomia, indicações e contraindicações é fundamental
para proporcionar anestesia de qualidade e compreender as possíveis complicações e/ou eventos adversos
que porventura possam ocorrer.
O objetivo dessa revisão foi descrever a anatomia e
sonoanatomia para realização do bloqueio seletivo do
ombro, elucidar o papel da ultrassonografia no seu desfecho e descrever suas possíveis vantagens em relação
ao neuroestimulador.
INTRODUÇÃO
Avanços recentes em ultrassonografia melhoraram
significativamente o entendimento da anatomia dos
nervos periféricos. A articulação do ombro recebe aferência nociceptiva maciça1, envolvendo ramos do plexo
cervical, através dos nervos supraclaviculares, do nervo intercostobraquial, ramo de T2, e do plexo braquial,
através dos nervos supraescapular, axilar2, subescapular, musculocutâneo e peitoral lateral3. Os nervos supraescapular e axilar são os mais importantes, sendo os
principais responsáveis pelo suprimento sensitivo-motor
da articulação. No entanto, variações anatômicas e comunicações entre os nervos podem ser possíveis e parece não ser incomuns3.
O bloqueio interescalênico do plexo braquial é considerado o “padrão ouro” no controle da dor pós-operatória em cirurgias de ombro4-7. No entanto, por tratarse
de bloqueio proximal e, portanto, estar associado a bloqueio nervoso extenso, pode resultar em efeitos adversos significativos e possíveis complicações6,8. Tentativas
de diminuir o volume de anestésico local injetado com a
utilização do ultrassom minimizam, mas não eliminam a
incidência de efeitos adversos9,10, principalmente o bloqueio do nervo frênico. Dessa forma, o bloqueio seletivo
dos nervos supraescapular e axilar torna-se um aliado
interessante e desejável para o tratamento da dor pós-operatória. Além de ser útil como resgate nos casos de
falhas do bloqueio interescalênico, pacientes com patologias respiratórias significativas11 ou com contraindicação absoluta para bloqueio do nervo frênico são enormemente beneficiados com essa técnica, pois o nervo
frênico não é bloqueado6,12. Sua grande desvantagem é
que ramos proximais ao sítio de injeção ou regiões não
inervadas por esses nervos não são bloqueadas. Este
2014|8
CONTEÚDO
Anatomia dos nervos supraescapular e axilar
A articulação do ombro é formada pela escapula
e úmero. O manguito rotador do ombro é o grupo de
músculos que cobre a cabeça umeral. É formado pelos
tendões de quatro músculos: supraespinal, infraespinal,
subescapular e redondo menor. Os músculos supraespinal e infraespinal recebem suprimento do nervo supraescapular; o músculo subescapular é suprido pelo nervo de mesmo nome e o músculo redondo menor, além
do músculo deltoide, recebe inervação do nervo axilar.
Os nervos supraescapular e axilar suprem a maior parte
da articulação14.
O nervo supraescapular é responsável por 70% do
suprimento da articulação. É um nervo misto (sensitivo e
motor), mas com componente predominantemente motor, sem componentes sensoriais cutâneos. Faz a inervação sensitiva da região posterossuperior da articulação, cápsula posterior, bursa subacromial, articulação
acromioclavicular e ligamento coracoclavicular. Origina-se do tronco superior (C5-6) do plexo braquial, embora
ocasionalmente receba contribuição de C415. Cruza o
triângulo cervical posterior profundo, abaixo dos músculos omo-hióideo e trapézio, entrando na incisura supraescapular por baixo do ligamento transverso superior da
escápula, enquanto a artéria e veia supraescapulares
o fazem por cima do referido ligamento. Fornece dois
ramos motores para o músculo supraespinal e ramos
sensitivos para as articulações acromioclavicular, glenoumeral e ligamento coracoumeral16. Segue em trajeto oblíquo pela margem lateral da base da espinha da
escápula, contornando a incisura espinoglenóide para,
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então, entrar na fossa infraespinal, fornecendo dois ou
mais ramos para o músculo infraespinal17.
O nervo axilar é um dos ramos terminais do fascículo
posterior do plexo braquial, contendo fibras dos ramos
ventrais de C5-6 e ocasionalmente C4. Tipicamente,
inerva três músculos: o deltoide, o redondo menor e porção longa da cabeça do tríceps. Posiciona-se atrás da
artéria e veia axilares, cruzando a face anteroinferior do
músculo subescapular, onde cruza, em íntima relação
com a artéria circunflexa posterior do úmero (PHCA), o
espaço quadrangular (delimitado pelo músculo redondo menor, superiormente, pelo colo cirúrgico do úmero,
lateralmente, cabeça longa do tríceps, medialmente, e
borda superior do músculo redondo maior, inferiormente18), se dividindo em dois troncos: o tronco anterior supre a parte motora da face anterior e medial do músculo deltóide, ascendendo ao redor do colo cirúrgico do
úmero (ao lado da artéria circunflexa posterior do úmero
– PHCA19) e fornecendo um ramo para a parte anterior
da cápsula articular. O tronco posterior fornece um ramo
para o músculo redondo menor e face posterior do músculo deltóide, terminando como nervo cutâneo lateral
superior do braço. Este, por sua vez, faz a inervação
cutânea da pele que reveste o músculo deltoide20.
Sonoanatomia e técnica de bloqueio do nervo
supraescapular guiada por ultrassom
A imagem ultrassonográfica da fossa supraescapular é a estrutura mais relevante quando se pretende realizar o bloqueio do nervo supraescapular. Cinco artigos
descrevem sua sonoanatomia21-25. O acesso anterior25,
recentemente descrito, tem duas limitações importantes:
proximidade do plexo braquial, favorecendo a dispersão
anestésica para o mesmo; e o fato do nervo supraescapular estar em íntima relação com a pleura, aumentando o risco de pneumotórax. Dessa forma, o acesso
posterior21,23 é, atualmente, o mais utilizado. A posição
prona21, com um travesseiro debaixo do tórax, pode ser
utilizada, mas o mais comum é a posição sentada, com
o lado a ser bloqueado apoiado no ombro contralateral
(Figura 1). O operador é posicionado atrás do paciente, com o ultrassom locado do mesmo lado do membro
a ser operado, em frente ao paciente. Isto permite um
campo de visão ininterrupto da imagem ultrassonográfica. A espinha da escápula, o processo coracoide e o
acrômio são utilizados como referências anatômicas.
Por tratar-se de estrutura superficial, um transdutor linear de alta frequência é utilizado. Este deve ser deslizado em plano coronal sobre a fossa supraescapular,
2014|9
Pitombo, PF et al. Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador? Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 08-16.
com leve “tilt”, obtendo-se, do plano superficial para o
profundo, uma típica imagem ultrassonográfica dos
músculos trapézio e supraespinal, ligamento transverso
da escapula e a incisura supraescapular ou assoalho da
fossa. Este aparece como uma linha côncava e hiperecoica; a artéria e veia supraescapulares o fazem como
uma estrutura hipoecoica pulsátil, vista com o “Collor
Doppler”. O nervo supraescapular é visualizado como
uma estrutura hipoecoica, adjacente à artéria, numa
profundidade de aproximadamente 2,5-4 cm (Figuras 2
e 3). Algumas vezes, pode ser difícil sua visualização,
devido à orientação da agulha. Colocando o transdutor
“in plane”, uma agulha 22 Gauge, de 100mm, é inserida
de medial para lateral (Figura 1), superior à espinha da
escápula, até alcançar a fossa supraescapular. A ponta
da agulha deve estar bem próxima ao nervo e abaixo do
ligamento transverso da escápula. A incisura e o feixe
vascular são de mais fácil visualização do que o nervo
supraescapular propriamente e são as principais referências para o bloqueio24. Deve ser injetado um volume
de 5-8 mL, o que normalmente já é suficiente para preencher a fossa.
Pitombo, PF et al. Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador? Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 08-16.
é utilizado paralelamente ao eixo longitudinal com o
úmero, aproximadamente 2cm abaixo da face postero-lateral do acrômio, no lado dorsal do braço (Figura 4).
Procuramos identificar o colo cirúrgico do úmero e o
eixo onde atravessa a artéria circunflexa posterior do
úmero, usando o Collor Doppler. Adicionalmente, importantes estruturas anatômicas são identificadas: em
corte transversal, a cabeça e diáfise do úmero e o músculo redondo menor, que repousa cranialmente a artéria
circunflexa posterior do úmero; em corte longitudinal, a
parte posterior do músculo deltoide, em íntima relação
com o probe. Movendo-se o probe mais medialmente,
percebe-se a cabeça lateral e longa do músculo tríceps
braquial, imediatamente abaixo do músculo deltoide. O
nervo axilar está localizado cranialmente, em íntima relação com a PHCA, no espaço neurovascular entre o
músculo redondo menor cranialmente, o músculo deltoide, posteriormente, o músculo tríceps, caudalmente, e a
bainha do úmero, anteriormente (Figuras 5 e 6). Usando
a técnica “in plane”, inserimos uma agulha de 100 mm,
cranialmente a PHCA, abaixo da fáscia do músculo deltoide, caudal ao músculo redondo menor e acima do
músculo tríceps braquial. O volume necessário para
bloqueio adequado permanece indefinido3.
Figuras 5 e 6 - Imagens em plano longitudinal do
bloqueio do nervo axilar. O transdutor é posicionado como na figura 4 e o lado esquerdo da imagem
é orientado cranialmente. Podemos visualizar os
músculos deltoide e tríceps em corte longitudinal;
cabeça do úmero (C.U), diáfise do úmero e músculo
redondo menor em corte transversal; o nervo axilar
encontra-se cranial à artéria circunflexa posterior do
úmero (A).
Figuras 2 e 3 - Imagens em plano transversaldo
bloqueio do nervo supraescapular. É possível visualizar o ligamento transverso da escápula, a artéria
supraescapular(AS) e a fossa supraescapular, onde
se encontra o nervo supraescapular.
Figura 1 - Posição do transdutor no bloqueio do nervo supraescapular. O operador é posicionado atrás
do paciente. Uma agulha 22 Gauge, de 100mm, é
inserida de medial para lateral, superior à espinha
da escápula, até alcançar a fossa supraescapular.
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Sonoanatomia e técnica de bloqueio do nervo
axilar guiada por ultrassom
Para obtermos sucesso no bloqueio do nervo axilar3, a imagem ultrassonográfica dos músculos deltoide, tríceps braquial, redondo menor, cabeça e diáfise
do úmero e a artéria circunflexa posterior do úmero
(PHCA) devem ser priorizadas. O paciente deve ser
colocado em posição sentada, o ombro em posição
neutra, com ligeira rotação interna de 45°, o cotovelo
fletido em 90°, enquanto a mão repousa sobre os joelhos. Um transdutor linear de alta frequência (7-13MHz)
2014|10
Figura 4 - Posição do transdutor no bloqueio do nervo axilar. O operador é posicionado atrás do paciente.Uma agulha 22 Gauge, de 100mm, é inserida 2cm
abaixo do acrômio e com o transdutor paralelo ao
eixo longitudinal do úmero.
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Revisão de literatura sobre bloqueio seletivo dos
nervos supraescapular e axilar
Poucos estudos12,26,27 descrevem a associação do
bloqueio dos nervos supraescapular e axilar, e todos
em cirurgias artroscópicas do ombro. Na literatura, o
bloqueio do nervo supraescapular mostrou-se efetivo
em várias condições dolorosas do ombro28, dentre elas:
a lesão do manguito rotador, artrite glenoumeral, artrite
reumatoide, síndrome hemiplégica do ombro, metástase da cabeça umeral e capsulite adesiva29.
2014|11
Pitombo, PF et al. Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador? Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 08-16.
Karatas GK et al30 relataram que o bloqueio do nervo supraescapular, quando realizado em íntima relação
com o nervo, é muito mais efetivo do que a injeção às
cegas na fossa supraescapular. Obviamente, técnicas
que priorizam seletivamente os nervos são bem mais
vantajosas23. Price26 foi o primeiro a descrever a combinação do bloqueio supraescapular e axilar, mas apenas utilizando técnicas para analgesia pós-operatória.
Recentemente, ele descreveu uma abordagem ultrassonográfica para bloqueio do nervo axilar no NYSORA
Journal. Interessantemente, Checcucci et al27 utilizaram
o bloqueio seletivo como anestesia intra e pós-operatória, com bons resultados. Pitombo et al12 publicaram
o primeiro estudo comparando a eficácia da analgesia
entre o bloqueio seletivo desses nervos e o bloqueio interescalênico. Concluíram que ambas as técnicas são
seguras e efetivas, sendo o bloqueio interescalênico
mais efetivo no pós-operatório imediato e o bloqueio seletivo no pós-operatório tardio. Lee et al31 compararam a
analgesia obtida com PCA venoso, PCA mais bloqueio
interescalênico e PCA mais bloqueio combinado dos
nervos supraescapular e axilar e concluíram que o PCA
mais bloqueio combinado é a melhor escolha anestésica, superando o PCA mais bloqueio interescalênico ou
PCA venoso nas primeiras 24h. Outro estudo32 avaliou
os efeitos do bloqueio combinado, utilizando apenas referências anatômicas, e confirmou analgesia efetiva e
segura nesses procedimentos.
Comparando o bloqueio do nervo supraescapular
guiado por ultrassom ou eletrofisiologia e o método
encoberto (que utiliza apenas referências anatômicas
superficiais), Sang Hun Ko et al29 mostraram um resultado mais efetivo e substancial no controle da dor e no
consumo de morfina (por um período de até 3 dias) com
os primeiros.
O método encoberto do bloqueio do nervo supraescapular reduz a dor após cirurgia de ombro12,33,34, mas
tem sido considerado de pouca acurácia para correta localização do nervo por alguns autores. Volumes maiores
que 10 mL (até 25 mL) são constantemente utilizados35.
Como a ponta da agulha pode ficar longe da incisura36,
o método encoberto parece requerer grandes volumes
para mostrar os mesmos efeitos que os bloqueios guiados por US ou eletrofisiologia.
DISCUSSÃO
O bloqueio seletivo dos nervos supraescapular e axilar é um método simples, seguro e efetivo para reduzir
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a dor escapulo-umeral intra e pós-operatória. Embora
o estimulador de nervo periférico tenha uma alta taxa
de sucesso, poucas complicações, menor custo, maior
portabilidade e requeira menor tempo para configuração, o ultrassom, quando em mãos experientes e com
boa qualidade de imagem, parece apresentar características mais vantajosas em relação ao primeiro, dentre
elas: obtenção de imagens em tempo real; visualização
da dispersão anestésica e redução do volume de anestésico local necessário para bloqueio efetivo; diminuição da possibilidade de complicações; predição exata
da profundidade das estruturas-alvo; determinação do
ponto mais propício para a punção e trajetória de inserção da agulha; vantagens técnicas em pacientes com
variações anatômicas; provável aumento nas taxas de
sucesso37.
Dois estudos38,39 descrevem variações na morfologia
da incisura supraescapular, mostrando a importância
desse conhecimento para adequado bloqueio do nervo
supraescapular. São citados cinco formatos: Tipo I – ausência de incisura (8,3%); Tipo II - incisura de maior diâmetro transversal (41,85%); Tipo III - incisura com maior
diâmetro vertical (tipo III – 41,85%); Tipo IV – forâmen
ósseo unicamente (7,3%) e Tipo V – incisura com forâmen ósseo (0,7%). O tipo mais comum é o formato em
U ou incisura semicircular (Tipos I e II). Yϋcesoy et al24
avaliaram as medidas ultrassonograficas morfométricas
da mesma. Eles demonstraram que a incisura é mais
profunda em homens (7,19 mm a 8,81 mm) que em mulheres (6,32 mm a 7,82 mm) nos dois lados do ombro,
sem diferença na largura (14,24 ± 4,30 mm x 14,04 ±
5,14 mm) e na distância entre a pele e a base da incisura (41,04 ± 6,30 mm).
Baseados no entendimento da anatomia da escápula através de achados de fluoroscopia e dissecação de
cadáveres, Peng et al21 fizeram uma revisão sobre a
orientação do probe do ultrassom, assim como da interpretação das imagens ultrassonográficas no bloqueio
do nervo supraescapular. Segundo eles, autores como
Gofled et al22 descrevem uma orientação do mesmo paralelo à espinha da escápula. No entanto, como a espinha da escápula forma um ângulo de 39.5°± 5.8° com
o axis da pá da escápula, a posição final do probe deve
ser mais em plano coronal do que em plano transverso,
do contrário, as estruturas na fossa supraescapular são
todas obscurecidas pela espinha da escápula. A incisura supraescapular pode ser vista superior à espinha
da escápula, medial ao processo coracoide e lateral à
margem da costela40. Esse estudo ainda sugere que o
ponto alvo para adequado bloqueio do nervo deve ser
2014|12
Pitombo, PF et al. Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador? Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 08-16.
o assoalho da espinha supraescapular, entre as incisuras supraescapular e espinoglenoide, e não a incisura
supraescapular propriamente dita. Isso acontece por
várias razões, dentre elas: o assoalho da espinha forma um compartimento que retém o anestésico com pequenos volumes; esse alvo evita a porção mais anterior
da incisura supraescapular, que, além de estar ausente
em alguns indivíduos, dificulta a visualização completa
da agulha, usando a técnica “in Plane”; impede que a
agulha avance muito anteriormente, diminuindo o risco
de pneumotórax; medicações administradas na porção
anterior da incisura têm mais chance de dispersarem
para o plexo braquial21. Esses mesmos autores relataram também que a estrutura previamente identificada
como ligamento transverso da escápula é atualmente
a camada fascial do músculo supraespinal. Isso explica porque a artéria supraescapular é usualmente vista
abaixo do ligamento transverso, quando, na realidade,
nada mais é do que a fáscia do músculo supraespinal
recobrindo o assoalho da espinha da escápula. Como a
fossa supraescapular forma um compartimento nesse
sítio, a posição final da ponta da agulha ficará longe da
incisura, com potencial decréscimo no risco de pneumotórax ou dispersão do anestésico local para o plexo
braquial. Além disso, a imagem ultrassonográfica é fácil
de adquirir, mesmo naqueles indivíduos onde a incisura
supraescapular não está presente.
Com ambas as abordagens (incisura ou fossa supraescapular), o bloqueio do nervo supraescapular
pode ser efetivo. A maior desvantagem da abordagem
na incisura é o potencial risco de pneumotórax, injeção
intravascular ou desvio da agulha. O direcionamento da
agulha para dentro da fossa supraescapular tem sido a
alternativa mais popular. A técnica é de fácil execução e
minimiza o risco de pneumotórax, pois a agulha é direcionada para o assoalho da espinha da escápula21.
Quando o probe é colocado em posição coronal e
com leve “tilt” ou desvio anterior, pode ser difícil, mas
não impossível visualizar o ligamento transverso da escápula, que brilha sobre a incisura (porque o processo
coracoide forma a borda lateral da mesma, projetando-se ântero-superiormente). Esse leve desvio resulta no
escaneamento do assoalho da fossa, aparecendo como
uma linha hiperecóica côncava, o que pode ser erroneamente interpretado como a incisura supraescapular21.
A imagem do “Collor Dopller” também é uma ferramenta que pode ajudar na identificação do nervo supraescapular, pois identifica sinais de fluxo na artéria
supraescapular, que se encontra adjacente ao nervo41.
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Ela é uma pequena artéria que entra na fossa supraescapular após passar acima do ligamento transverso
e corre ao longo do assoalho da espinha, adjacente
ao nervo. Consequentemente, se o escaneamento demonstrar o ligamento transverso da escápula, a artéria
supraescapular deve estar separada do nervo supraescapular pelo ligamento. Um leve desvio da posição do
probe na incisura deverá capturar a imagem da artéria,
posterior à incisura, onde ela e o nervo se juntam. Isto
pode explicar porque a artéria supraescapular está mais
próxima do assoalho da fossa supraescapular e foi interpretada como dentro da incisura, como sugerido por
Yϋcesoy et al24.
A acurácia da ultrassom para localização da ponta
da agulha é, muitas vezes, equivocada21,28. Siegenthaler
et al25 relataram que o nervo supraescapular foi identificado em apenas 36% de 60 voluntários normais, devido
a sua profunda localização (31 a 38mm). Atualmente,
imagens realizadas com auxílio de fluoroscopia e dissecção de cadáver mostram que a ponta da agulha aparece lateral à incisura supraescapular, no assoalho da
espinha da escápula21.
A incidência de complicações com o bloqueio do
nervo supraescapular é bem pequena. Entre elas, destaca-se o pneumotórax (incidência de menos de 1%),
injeção intravascular, bloqueio motor residual, trauma
local42, dor periostal e resposta vasovagal à dor pela inserção da agulha24. Algumas diretrizes para aliar segurança aos bloqueios são sugeridas: 1 - Evitar avançar
a agulha muito profundamente em plano vertical (não
mais que 03 a 6,3 cm). Quando inserida mais de 05 cm,
a agulha fica mais susceptível a penetrar na incisura ou
acima da borda da escápula. Para reduzir o risco de
pneumotórax, a agulha deve ser retirada e reintroduzida num ângulo ligeiramente diferente até que o osso
seja atingido. Além disso, a posição da mão no ombro
contralateral irá elevar a escápula para longe da parede
torácica posterior, aumentando assim a distância entre
a pele e a parede torácica43. Direcionando a agulha para
fora da incisura supraescapular, diminuem-se as complicações na abordagem da incisura, minimizando também o risco de perda de anestésico local; 2 - aspiração
cuidadosa antes da injeção do anestésico local para
assegurar ausência de punção vascular e reação tóxica
sistêmica42; 3 - evitar múltiplas inserções e manobras
intempestivas na base da incisura para não deflagrar
dor periostal causada pela agulha24.
O efeito do bloqueio isolado do nervo axilar nunca foi
testado clinicamente. Somente três estudos encobertos
2014|13
Pitombo, PF et al. Sonoanatomia para bloqueio seletivo do ombro. Existe vantagem em
relação ao neuroestimulador? Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 08-16.
prévios descrevem a técnica para bloqueio específico
do nervo axilar e todos utilizam o estimulador de nervo
periférico12,26,27. Rothe at al3 o testaram recentemente
com auxílio do ultrasssom e constataram uma redução
significativa da dor durante cirurgias do ombro, e em algumas patologias crônicas, mostrando a importância do
nervo axilar em mediar a dor da parte proximal do úmero. O nervo axilar está em íntima relação com o úmero
nessa região. Na visão de Rothe et al3, a principal vantagem da técnica com ultrassom é a visualização da ponta da agulha em tempo real e a difusão do anestésico
local, o que pode tornar o bloqueio específico do nervo
axilar mais fácil e efetivo. Como a direta visualização do
nervo é difícil, o estimulador de nervo periférico pode
ser muitas vezes necessário à sua localização, tão logo
a agulha passe abaixo da fáscia. Esses mesmos autores3 sugerem que o ponto determinante para completo
bloqueio do nervo axilar é colocar a ponta da agulha
imediatamente cranial à PHCA, injetar e observar a difusão do anestésico no espaço neurovascular em volta
da artéria. Além disso, sugere que uma razão para falha do bloqueio motor é a injeção de anestésico local
acima da fáscia. É preciso novos estudos de difusão
anestésica no entorno do espaço quadrangular para
esclarecer isso. Aliás, esse conhecimento é de fundamental importância, pois nesse nível, ou mais adiante,
dentro do músculo deltoide, o nervo axilar divide-se em
seus dois maiores troncos (anterior e posterior)44 e o
completo bloqueio requer que ambos os troncos sejam
anestesiados. O teste sensitivo do bloqueio axilar é fácil, no entanto, o teste da função motora é complicado,
pois envolve um teste específico para a parte posterior,
média e anterior do músculo deltoide, e porque outros
músculos do ombro são capazes de compensar a perda
da força do músculo deltóide. Um teste fácil é pedir ao
paciente para abduzir ambos os ombros até 90 graus e
daí palpar as três partes do deltoide, bilateralmente. A
flacidez muscular delas confirma o bloqueio completo. A
posição sentada (ombro em posição neutra, rodado 45°
internamente e com o cotovelo flexionado em 90°), que
foi adotada nesse estudo, é possível em quase todas as
patologias do ombro, mas outras posições também são
possíveis.
Estudos com 08 a 15 mL de anestésico têm sido utilizados. Claramente, a relação volume /concentração ótima ainda precisa ser determinada. Em estudo realizado com auxílio de RNM45, aumentando-se a dose para
25ml, ocorreu a difusão proximal do anestésico local ao
longo do nervo axilar, sem afetar outros nervos do plexo
braquial. Porém, esse estudo não foi publicado. Segun-
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do esses autores, parece razoável realizar os bloqueios
regionais o mais distalmente possível. A principal vantagem do bloqueio isolado dele ou em combinação com
o nervo supraescapular inclui a habilidade de mover o
ombro, antebraço e mão, enquanto evita os efeitos colaterais e possíveis Do ponto de vista de segurança, os
cuidados são os mesmos de qualquer bloqueio periférico. Algumas de suas complicações são a agressão nervosa, injeção intravascular e a punção vascular, complicações associadas ao bloqueio interescalênico12, 26, 27.
A real dimensão do papel clínico do bloqueio seletivo dos nervos supraescapular e axilar na analgesia intra e pós-operatória precisa ser mais bem investigada.
Outra questão interessante é saber se há possibilidade de colocação do cateter para prolongar a analgesia
pós-operatória.
CONCLUSÃO
O bloqueio seletivo dos nervos supraescapular e axilar é bastante útil e efetivo como alternativa ao bloqueio
interescalênico, principalmente naqueles pacientes em
que não se deseja o bloqueio do nervo frênico ou bloqueio motor muito intenso dos membros superiores.
A ultrassom, apesar de algumas pequenas limitações, é uma ferramenta útil, promissora e, aparentemente, com possíveis vantagens em relação ao uso
isolado do estimulador de nervo periférico na realização do bloqueio seletivo do ombro. Além de permitir a
identificação da anatomia escápulo umeral, possibilita
a visualização das estruturas circunvizinhas, eventuais
variações anatômicas e, principalmente, a injeção anestésica em tempo real. Trabalhos clínicos comparando
a utilização das duas técnicas (neuroestimulador e ultrassom) são necessários para confirmação de possível
vantagem de um em relação ao outro.
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O acidente vascular cerebral (AVC) acomete atualmente um em cada seis indivíduos no mundo, sendo a
principal causa de incapacidade permanente1. No Brasil, há aproximadamente 400.000 casos por ano, com
uma incidência maior na população de baixa renda e
baixo nível educacional2-4. Em países desenvolvidos,
duas intervenções foram eficazes para reduzir a morbi-mortalidade da doença: a terapia trombolítica com alteplase e a internação em unidades de AVC5-7. Embora
a terapia trombolítica tenha trazido avanços inquestionáveis no cuidado da fase aguda do AVC, mesmo em
países desenvolvidos, ela só alcança 3% da população,
sendo maior em grandes centros urbanos.
O que está disponível para os pacientes que não
são candidatos ao tratamento trombolítico? As unidades de AVC, mais do que demonstrarem em estudos
randomizados e controlados a eficácia na redução da
mortalidade em 21% e da taxa de dependência funcional permanente em 19%5, são sítios de investigação
de outras intervenções que podem ser eficazes e mais
amplamente disponíveis aos pacientes internados em
outros ambientes. O presente artigo visa discutir o tratamento atual não-trombolítico do paciente com AVC
agudo, com ênfase na intervenção em parâmetros fisiológicos como pressão arterial, glicemia e temperatura
corpórea, facilmente aplicáveis em qualquer ambiente
hospitalar. Adicionalmente, discutimos a trombectomia
mecânica como uma opção para reperfundir mais pacientes na fase aguda do AVC. O resumo das intervenções discutidas é apresentado na Tabela.
PRESSÃO ARTERIAL (PA)
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Intervenções não-trombolíticas na fase aguda do acidente
vascular cerebral isquêmico
Já é antigo o conhecimento de que a hipertensão arterial sistêmica é o principal fator de risco modificável em
doenças cardiovasculares e cerebrovasculares8. A redu2014|16
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ção da PA é um dos fatores de maior impacto na prevenção secundária do AVC9. No entanto, nas primeiras
24 horas do início dos sintomas observamos um efeito
deletério da redução da PA10,11. Nessa fase, a oclusão arterial gera um tecido cerebral com isquemia parcialmente
reversível (“penumbra isquêmica”). Essa penumbra isquêmica sofre dano inversamente proporcional à PA sistêmica, cujo papel principal nessa fase é de manter uma
perfusão parcial através da circulação colateral leptomeníngea. Por isso, o consenso é não reduzir a PA, exceto
em extremos de PA (>220x120mmHg) ou quando há sinais de lesão aguda de órgão-alvo, como em dissecção
aguda da aorta ou angina instável12.
GLICEMIA
Na isquemia aguda, extremos de glicemia são deletérios para o tecido cerebral. Como o tecido cerebral
usa apenas glicose e oxigênio como substratos para
seu metabolismo, hipoglicemia é uma ocorrência temida e com efeitos adversos imediatos. Nos últimos anos,
o efeito da hiperglicemia também tem sido muito estudado e está associado ao pior desfecho funcional, maior
risco de transformação hemorrágica e menor chance de
recanalização após trombólise do AVC isquêmico13, 14.
O estudo INSULINFARCT randomizou 180 pacientes
para um regime de insulinoterapia intravenosa versus
insulina subcutânea e realizou ressonância magnética
cerebral para estimar o volume inicial e final do infarto
cerebral15. O grupo da insulinoterapia intravenosa atingiu um melhor controle glicêmico nas primeiras 24 horas, mas apresentou um crescimento maior do volume
do infarto cerebral. Por isso, a recomendação atual é a
de manter a glicemia entre 80-180mg/dl na fase aguda
do AVC isquêmico12.
2014|17
Filho, JO. Intervenções não-trombolíticas na fase aguda do acidente vascular cerebral
isquêmico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 17-20.
O estudo SHINE (clinicaltrials.gov número
NCT01369069) está em andamento, visando demonstrar em 1.400 pacientes se um tratamento intensivo da
glicemia (80-130mg/dl) é melhor do que um controle
mais liberal (<180mg/dl), mas só deve estar finalizado
em 2017.
HIPERTERMIA
A hipertermia aumenta o metabolismo cerebral, o
dano celular nas primeiras 24 horas do AVC e aumenta
a probabilidade de edema cerebral nos dias subsequentes16. No entanto, os efeitos benéficos da indução da
hipotermia são menos claros. A hipotermia moderada
(<32oC) apresenta diversos efeitos adversos que preocupam no AVC: a indução de coagulopatia e aumento
do risco de infecção sistêmica; e a necessidade de ventilação mecânica, sedativos e bloqueadores neuromusculares. Por isso, a maior parte dos trabalhos tem se
concentrado na indução de hipotermia leve (35-37oC).
Há apenas um estudo publicado com desfecho clínico após indução de hipotermia leve – o estudo PAIS
randomizou 1.400 pacientes para um tratamento com
acetaminofeno profilático (6g/dia por 3 dias) versus placebo17. O estudo foi negativo para o desfecho primário
de redução de mortalidade e incapacidade após o AVC.
No entanto, naqueles pacientes admitidos com temperatura corpórea acima de 37oC, observou-se um efeito
positivo do tratamento, sugerindo que nosso limiar para
tratamento da hipertermia deve ser mais baixo na fase
aguda do AVC do que em outros pacientes com infecção sistêmica, onde o limiar tipicamente é de 37,8oC.
ESTUDO QASC
O estudo Quality in AcuteStrokeCare (QASC) randomizou unidades de AVC na Austrália a receberem
um treinamento intensivo de melhoria de qualidade focado em três variáveis: controle glicêmico, hipertermia
e triagem para disfagia18. O grupo-controle foi composto por unidades de AVC que recebiam as mesmas
orientações por escrito, sem o treinamento intensivo.
Foram 19 unidades de AVC e 1.969 pacientes. Nas 10
unidades de AVC do grupo intervenção, 42% dos pacientes morreram ou apresentaram incapacidade por
sequelas neurológicas, comparado a 58% no grupo-controle (p=0,002)18.
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TROMBECTOMIA MECÂNICA
Na fase hiperaguda do AVC (< 6 horas), há diversos pacientes que não são candidatos ao trombolítico
intravenoso: cirurgias de grande porte recentes, AVC
intraoperatório, uso de anticoagulantes e punções recentes em sítio não-compressível – todas contraindicações comuns em pacientes internados. Além disso,
há uma proporção de pacientes que não recanalizam
o vaso sanguíneo cerebral após o trombolítico intravenoso. Todos esses pacientes podem teoricamente se
beneficiar de trombectomia mecânica, realizada com
dispositivos tipo saca-rolha (Merci), aspirativos (Penumbra) ou baseados em stent (Trevo ou Solitaire)19.
No único estudo comparativo, os dispositivos baseados em stent atingiram melhores e mais rápidos índices de recanalização19.
Apesar da vantagem teórica, os últimos ensaios clínicos falharam em demonstrar superioridade dos dispositivos em desfechos clínicos quando comparado a
trombólise intravenosa19. Possíveis motivos para a falha
incluem o uso de dispositivos menos eficazes, um tempo prolongado para iniciar o procedimento endovascular (tempo imagem-balão acima de 2 horas) e o recrutamento de uma proporção de pacientes que já haviam
recanalizado com o trombolítico intravenoso.
O estudo Multicenter Randomized Clinical Trialof
Endovascular Treatment for AcuteIschemic Stroke in
the Netherlands (MR CLEAN) foi apresentado no último
Congresso Mundial de AVC (outubro de 2014) e recrutou 500 pacientes na Holanda, comparando pacientes
que usaram trombolítico intravenoso com aqueles que
receberam trombolítico intravenoso e trombectomia
mecânica com o dispositivo Solitaire. A chance de bom
desfecho funcional (nenhuma ou mínima incapacidade)
90 dias após o AVC foi maior no grupo de trombectomia
mecânica (razão de chance 1,67, intervalo de confiança
de 95% entre 1,21 e 2,30). Os resultados finais do estudo ainda não estão publicados e por isso os resultados
acima devem ser interpretados com cautela.
CONCLUSÕES
Diversas intervenções beneficiam pacientes com
AVC isquêmico agudo. Cada tratamento deve ser implementado por protocolos institucionais que visem
aumentar o índice de identificação do caso suspeito e
agilizar o tratamento no menor tempo possível. O AVC
é uma doença onde a eficácia de qualquer tratamento
é tempo-dependente7. A corrida é contra o tempo e o
2014|18
Filho, JO. Intervenções não-trombolíticas na fase aguda do acidente vascular cerebral
isquêmico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 17-20.
principal benefício é uma maior chance de recuperação
sem incapacidade para nossos pacientes.
Tabela 1 -Resumos das principais intervenções para a fase aguda (< 24 horas) do acidente vascular cerebral
isquêmico.
Intervenção
Janela terapêutica
Alvos terapêuticos
Controle da pressão arterial
24 horas
1. Evitar drogas hipotensoras nas
primeiras 24 horas
2. Tratar extremos de hipertensão
(>220x120mmHg)
3. Reduzir 10-15% da PA sistólica a partir
de 24 horas do início dos sintomas
Controle da glicemia
24 horas
Usar insulina subcutânea ou
intravenosa visando alvo glicêmico
de 80-180mg/dl
Controle da temperatura
24 horas
Usar antitérmicos ou medidas físicas
visando manter temperatura < 37oC
Triagem para disfagia
24 horas
Protocolo assistencial de triagem
para disfagia em todos os pacientes
com AVC nas primeiras 24 horas
Trombólise intravenosa
4,5 horas
Tempo porta-agulha < 60 minutos
Trombectomia mecânica
6 horas
Tempo imagem-balão < 60 minutos
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Fisiopatologia da lesão renal aguda no paciente crítico
1- Serviço de Neurologia do Hospital Santa Izabel
Edson Marques Silva Filho 1, Elves Anderson Pires Maciel 1
Endereço para correspondência:
[email protected]
13. Ribo M, Molina CA, Delgado P, et al. Hyperglycemia during ischemia rapidly accelerates brain damage
in stroke patients treated with tPA. Journal of cerebral
blood flow and metabolism : official journal of the International Society of Cerebral Blood Flow and Metabolism
2007;27:1616-1622.
INTRODUÇÃO
A lesão renal aguda (LRA) é uma condição clínica
cada vez mais frequente nas Unidades de Tratamento
Intensivo (UTI), com uma incidência populacional comparável, na sua forma mais grave [aquela em que existe necessidade de Terapia Renal Substitutiva (TRS),
à de todo complexo diagnóstico de lesão pulmonar
aguda/síndrome da angústia respiratória aguda (LPA/
ARDS)]1,2. Estudos atuais reportam taxas de LRA em
UTI que variam de 22 a 67%, dependendo do tipo de
UTI avaliada e na definição utilizada para LRA3.
14. Ntaios G, Papavasileiou V, Bargiota A, Makaritsis K, Michel P. Intravenous insulin treatment in acute
stroke: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. International journal of stroke
: official journal of the International Stroke Society
2014;9:489-493.
O diagnóstico da LRA em pacientes críticos é um
fator de risco independente para desfechos desfavorá
15. Rosso C, Corvol JC, Pires C, et al. Intensive
versus subcutaneous insulin in patients with hyperacute stroke: results from the randomized INSULINFARCT trial. Stroke; a journal of cerebral circulation
2012;43:2343-2349.
veis, como morte e tempo de internamento4, e esta associação é mais forte quão mais grave for a disfunção
renal5, chegando a 60% de mortalidade em algumas
séries de LRA com necessidade de TSR6.
As definições diagnósticas sugeridas atualmente
são as classificações RIFLE (Tabela 1) e AKIN (Tabela
2), nas quais disfunção renal está estadiada em sua
gravidade, reforçando a importância clínica de elevações pequenas, antes não valorizadas, da creatinina
sérica, como preditora de desfechos desfavoráveis
em situações clínicas sabidamente associadas a AKI
como cirurgia cardíaca ou sepse.
Tabela 1 - Classificação RIFLE
16. Ginsberg MD, Busto R. Combating hyperthermia
in acute stroke: a significant clinical concern. Stroke; a
journal of cerebral circulation 1998;29:529-534.
Classificação RIFLE
17. den Hertog HM, van der Worp HB, van Gemert
HM, et al. The Paracetamol (Acetaminophen) In Stroke
(PAIS) trial: a multicentre, randomised, placebo-controlled, phase III trial. The Lancet Neurology 2009;8:434440.
18. Middleton S, McElduff P, Ward J, et al. Implementation of evidence-based treatment protocols to manage
fever, hyperglycaemia, and swallowing dysfunction in
acute stroke (QASC): a cluster randomised controlled
trial. Lancet 2011;378:1699-1706.
Janela terapêutica
Alvos terapêuticos
Risk
Aumento de ScR>1,5 vez ou redução de TFG>25%
<0,5ml/kg/h em 6 horas
Injury
Aumento de SCr> 2 vezes ou redução de TFG>50%
<0,5ml/Kg/h em 12 horas
Failure
Aumento de SCr>3 vezes ou diminuição de
TFG>75% ou SCr.4,0mg/dl
<0,3ml/kg/h em 24 horas ou
anúria por 12 horas
Loss
Perda completa de função renal por mais de 4
semanas
End Stage Renal diesase
Necessidade de TRS por mais de 3 meses
RIFLE- Risk Injury Failure Loss End; TFG-Taxa de Filtração Glomerular; SCr-creatinina sérica ; TSR- Terapia de substituição
renal Adaptado de: Bellomo R, Ronco C, Kellum J, Mehta R, Palevsky P, Acute Qualiity Dialysis Initiative(ADQI) workgroup.
Crit Care 2004;8(4):R204-12
19. Qureshi AI, Abd-Allah F, Aleu A, et al. Endovascular treatment for acute ischemic stroke patients: implications and interpretation of IMS III, MR RESCUE,
and SYNTHESIS EXPANSION trials: A report from the
Working Group of International Congress of IntervenREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
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2014|20
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2014|21
Filho, EMS e Maciel, EAP. Fisiopatologia da lesão renal aguda no paciente crítico.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 21-29.
Filho, EMS e Maciel, EAP. Fisiopatologia da lesão renal aguda no paciente crítico.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 21-29.
O aspecto mais importante da resposta renal a uma
queda da pressão de perfusão renal (PPR) é a capacidade de autorregular a Taxa de Filtração Glomerular entre grandes variações da PPR; PPR é igual à
Pressão Arterial Média (PAM) - Pressão Venosa Renal
(PVR), sendo os valores de PVR negligenciáveis em
situação normal, mas podem atingir valores iguais ou
superiores a 20mmHg em situações de Hipertensão
Intra-Abdominal.
Tabela 2 - Classificação AKIN
Classificação AKIN
Critério TFG
Stage 1
Aumento da SCr x1,5 ou > 0,3mg/dl
<0,5ml/kg/h por 6 h
Stage2
Aumento da SCr x 2
< 0,5ml/kg/h por 12 horas
Stage 3
Aumento da SCrx3 ou SCr> 4mg/dl( aumento
>0,5mg/dl)
< 0,3ml/kg/h por 24 horas ou
anúria por 12 horas
A despeito dos avanços nas terapias de substituição renal, a alta letalidade da LRA vem se mantendo
estável ao longo dos anos, o que tem levado a busca
do diagnóstico precoce, ou seja, antes da elevação da
creatinina ou redução do volume urinário. Nesse sentido, as pesquisas estão direcionadas no reconhecimento de substâncias que, quando presentes no soro
ou urina, indiquem precocemente a presença de LRA
e, idealmente, a sua gravidade. Essas substâncias
são denominadas de biomarcadores, entre as quais
as mais estudas são: KIM1 (kidney injury molecule 1),
IL18 (interleucina 18) sérica ou urinária, NGAL (Neutrophil gelatinase associeted lipocalin), cistatina C e
outras7.
A LRA em UTI ocorre principalmente em pacientes
com disfunção orgânica múltipla associada à sepse/
choque séptico e/ou em decorrência de eventos isquêmicos renais8, sendo essas situações frequentemente
coexistentes no paciente crítico. Este capítulo abordará a fisiopatologia da LRA isquêmica (por choque hipovolêmico e cardiogênico) e da LRA decorrente do
choque séptico.
FISIOPATOLOGIA
LRA isquêmica
Em situação normal, o fluxo sanguíneo renal (FSR)
excede, em muito, o necessário para manutenção
do consumo renal de oxigênio (RVO2). O rim recebe
aproximadamente 25% do débito cardíaco (DC) e é
responsável, em media, por 8% do consumo de oxigênio corpóreo (VO2).
Este excesso de perfusão, entretanto, não obedece a uma distribuição intra-renal homogênea, com o
córtex recebendo 2,5 vezes mais fluxo sanguíneo que
a medula renal, enquanto o oposto ocorre com o conREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
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Critério Diurese
sumo de oxigênio, que é substancialmente superior na
medula, em relação ao córtex renal (Fig.1).
Figura 1 - Sistema Vasa Recta. Adaptado de Mimura
I e cons; Nature (Ver Nephrol 2010)
Além disso, a anatomia vascular nos néfrons justamedulares é única porque os capilares que se originam da arteríola eferente destes glomérulos não só
geram os capilares peritubulares, mas, também, dão
origem ao Sistema Vasa Recta (Fig. 1), que são feixes de capilares de direção ascendente e descendente
que se entrelaçam aos segmentos tubulares aí localizados e são essenciais para a geração de gradientes
de contracorrente. A geração destes gradientes, facilitada por este arranjo vascular único e pelo transporte
ativo de sódio na alça de Henle, é necessária para a
manutenção da função precípua do rim que é a produção, processamento e excreção de um ultrafiltrado que
mantenha a homeostase nas mais adversas e diferentes situações.
Esta disposição anatômica peculiar (em forma de
U) permite o transporte difusivo de oxigênio (O2) (Fig.
2) entre os segmentos ascendentes e descendentes
do Sistema Vasa Recta, o que reduz a pressão parcial
de O2 (pO2) na medula renal externa e nos segmentos
cortico-medulares, onde está localizada a porção ascendente espessa da Alça de Henle (mTAL). Na mTAL
ocorre o transporte ativo de sódio, que permite o aumento da osmolaridade da medula renal e também é
fator primordial para geração dos gradientes de contracorrente. De fato, o principal determinante do RVO2 é
o transporte ativo de sódio na mTAL.
A combinação desta alta taxa metabólica com um
fluxo medular reduzido (em relação ao córtex) e com
esta baixa pO2 (Fig. 3) torna a medula renal externa e
a transição córtico-medular mais sensíveis à redução
da oferta de O2, colocando estes segmentos do néfron
em situação de risco para isquemia quando, eventualmente, ocorrer redução do FSR, como no choque
hipodinâmico, seja ele hipovolêmico ou cardiogênico9.
2014|22
Os limites de PAM em que a autorregulação renal
falha variam entre indivíduos e pode ser alterados por
doenças associadas, como por exemplo: hipertensão
arterial prévia, aterosclerose, hipertensão intra-abdominal e/ou uso de drogas que alterem a resposta renal
a hormônios vasodilatadores e/ou vasocontrictores,
como os anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) ou
drogas que atuam no Sistema Renina- AngiotensinaAldosterona (RAAS) (Fig. 4)
Figura 2 - Transporte difusivo de O2 – Adaptado de
Mimura I e cons; Nature Rev Nephrol 2010
Figura 4 - Autorregulação renal. Adaptado de Abuelo J, N Eng J Med 2007
Esta autorregulação depende de uma vasodilatação arteriolar aferente, mediada principalmente por
prostaglandinas, e de uma vasoconstricção arteriolar
aferente, mediada pela Angiotensina II (Fig. 5)10.
Figura 3 - Microcirculação e fluxo sanguíneo renal
regional, adaptada de Brezis M, Rosen S; Hypoxia
of the renal medulla – Its implications for disease. N
Eng J Med 1995
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Filho, EMS e Maciel, EAP. Fisiopatologia da lesão renal aguda no paciente crítico.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 21-29.
vação e disfunção da célula epitelial tubular. A ativação
da célula epitelial tubular resulta na síntese, pela mesma, de várias citocinas, que incluem mas não estão
limitadas a IL-1,IL-6,IL-8 e TNF, as quais participam
ativamente da manutenção e extensão da lesão celular, além de ativarem as células endoteliais locais11.
A isquemia renal pode causar lesões letais e subletais na célula epitelial tubular. A lesão renal letal
pode ser decorrente de necrose ou apoptose celular.
A necrose celular propriamente não é a lesão mais
proeminente em LRA isquêmica humana demonstrável em amostras de tecido renal obtidas por biópsia
ou autópsia.
Figura 5 - Autorregulação renal isolada e em presença de AINHs e IECA. Retirado de Brezis M, Rosen S. Hypoxia of the renal medulla – Its implications
for disease. N Eng J Med 1995
À medida que a autorregulação não consegue mais
manter o FSR, ocorre isquemia renal com suas repercussões deletérias na função renal (queda da TFG) e
subsequente desenvolvimento de LRA.
Embora o paradigma corrente da fisiopatologia da
LRA secundária a isquemia renal coloque a injúria tubular letal e subletal como de importância primordial
para a diminuição observada na função renal, evidências existem de que disfunções microvascular e
endotelial, além de alterações inflamatórias, locais e
sistêmicas, são fundamentais para a manutenção e
extensão da lesão tubular inicial e contribuam de maneira significativa na patogênese desta síndrome.
Durante a fase de instalação da LRA, a redução
do FSR leva a alterações no estoque de reserva energética das células epiteliais tubulares, principalmente
na localização cortico-medular e medular externa dos
segmentos S3 do túbulo contornado proximal e porção
ascendente espessa da alça de Henle, com disfunção
tubular subsequente.
As alterações tubulares vistas nesta forma de lesão
renal se iniciam por depleção dos estoques de Adenosina Trifosfato (ATP) e ruptura de citoesqueleto através
da degradação da estrutura da F-actina. Essas lesões
dependem da gravidade e da duração do episódio de
isquemia. Essas alterações celulares promovem a atiREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
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Embora a frequência da obtenção de tecido renal
para exame em humanos seja, compreensivelmente,
baixa, uma revisão sistemática da literatura mostrou
que necrose tubular aguda (NTA) esteve presente em
apenas 22% dos pacientes analisados e estes achados
foram mais frequentes nos segmentos tubulares com
maior consumo de oxigênio da medula externa e segmentos cortico-medulares12. Esse achados demonstram
a grande dissociação clínico-histológica que caracteriza
a LRA, tanto experimental quanto humana, fato que adiciona dificuldade ao entendimento e comprovação dos
mecanismos patogenéticos da síndrome.
Apoptose celular é menos demonstrável que necrose na fase inicial da isquemia renal, provavelmente por
várias razões, entre as quais: o fato do apoptose ser
mais difícil de ser analisada ao exame patológico, uma
vez que as células apoptóticas e seus resíduos são
clareados rapidamente do tecido; pela necessidade
de ATP (depletado pelo insulto isquêmico inicial) para
que o processo de apoptose se realize; e pelo fato de
que duas proteínas pró-apoptóticas (Bax e Bak) sofrem diminuição de sua expressão durante o início da
isquemia renal13. A apoptose é mais frequente com o
avançar da LRA isquêmica, onde se observa expressão destas proteínas pró-apoptóticas e ativação das
caspases (enzimas tipo proteases essenciais ao processo de apoptose). Inibidores das caspases são protetores de lesão renal em modelos experimentais.
As lesões das células tubulares mais relevantes
em LRA humana, demonstráveis à avaliação patológica, são subletais e resultam em esfoliação de células
para dentro dos túbulos renais com polimerização e
formação de cilindros celulares e obstrução do fluxo
de ultrafiltrado, rarefação da borda em escova do epitélio tubular (BBB) e perda das junções celulares com
2014|24
Filho, EMS e Maciel, EAP. Fisiopatologia da lesão renal aguda no paciente crítico.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 21-29.
“backleak” do ultrafiltrado, com manutenção de uma
TFG reduzida14.
Esta isquemia localizada provoca, também, alterações funcionais nas células endoteliais da microvasculatura regional que mantém a redução do FSR, mesmo
após a reperfusão (fenômeno “no reflow”), e explica
a dissociação clínico-histológica já citada (TFG muito
baixa, com poucas e sutis alterações histológicas a microscopia óptica), encontrada nesta condição.
A disfunção microvascular se manifesta por um desequilíbrio entre mediadores vasoconstrictores e vasodilatadores, congestão e aumento da permeabilidade
endotelial (que leva o edema intersticial e comprime
os capilares peritubulares e ajuda a manter a isquemia
tubular) e interação endotélio-leucocitária com agregação intravascular e extravasamento intersticial de células do sistema imune, tanto polimorfonucleares quanto
monócitos e ativação de macrófagos com potencialização da lesão inflamatória15.
citária. Esta adesão e a liberação local de citocinas
pelas células tubulares isquêmicas provocam ativação
leucocitária com liberação de enzimas proteolíticas,
geração de espécimes de radicais livres de oxigênio
(ROS) pelos leucócitos ativados e potencialização da
liberação de citocinas pró-inflamatórias. Estes fenômenos levam à quebra da matriz perivascular, ruptura das
junções celulares do endotélio com edema e aumento
da permeabilidade microvascular e ativação do sistema de coagulação com formação de microtrombos por
adesão de plaquetas e hemácias (Fig. 6).
Embora os mecanismos responsáveis por estas
alterações endoteliais citadas ainda não estejam totalmente elucidados, a via do óxido nítrico (NO) tem
papel importante na patogênese destas alterações. O
NO é sintetizado pelas células endoteliais através da
conversão da L-Arginina na L – Citrulina, mediada pelo
complexo enzimático da NO sintetase. Este complexo
enzimático existe em 3 isoformas, todas encontradas
no rim.
A NOS endotelial (eNOS) encontrada na Vasa Recta, ducto coletor medular e glomérulos; a NOS citocina-indutível (iNOS) que pode ser expressa na musculatura lisa vascular, em células tubulares e em células
do sistema imune como monócitos, macrófagos e neutrófilos; a NOS neuronal (nNOS) expressa nas células
da mácula densa e que participa do feedback túbuloglomerular (redução da TFG em resposta ao aumento
da oferta tubular de sódio).
Apesar de o produto final ser o mesmo (NO), a
ativação das diferentes isoformas parece levar a diferentes efeitos na função renal, e a ativação da iNOS
(que acontece após lesão endotelial) exerce papel na
disfunção microvascular com vasoconstricção e lesão
tecidual pós-isquêmica, enquanto a eNOS promove
vasodilatação e proteção renal16.
Esta ativação endotelial leva também à expressão
de moléculas de adesão tipo ICAM-1 e P e E-selectinas, as quais promovem a adesão endotélio-leuco-
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Figura 6 - Interação entre lesão microvascular e tubular antes (A) e depois (B) de injúria renal isquêmica. Retirada de Legrand M e cols. Renal hypoxia
and disoxia after reperfusion of the ischemic kidney.
Mol Med 2008.
Estas alterações supracitadas alimentam a isquemia renal e são responsáveis pela fase de extensão e
manutenção da LRA isquêmica, com persistência da
disfunção renal, a despeito da recuperação do estado
hemodinâmico.
A representação esquemática da interrelação de
fatores microvasculares, inflamatórios e tubulares na
gênese da LRA isquêmica está demonstrada no esquema abaixo (Fig. 7).
2014|25
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induzido choque séptico hiperdinâmico experimental
em ovelhas através de infusão endovenosa de Escherichia Coli e suporte do DC com infusão de solução salina, demonstrando aumento do DC e do FSR em até
três vezes e mesmo assim redução da TFG e elevação
da creatinina sérica. Apos 48h foi parada a infusão de
Escherichia Coli e iniciado tratamento com gentamicina e a melhora da função renal se fez acompanhar de
redução do DC, FSR e aumento das resistências vasculares sistêmica e renal19. Este fato demonstra queda
da TFG com aumento do FSR, o que pode representar
alteração na hemodinâmica intrarenal com vasodilatação arteriolar aferente e eferente, porém com predomínio da vasodilatação eferente e queda da pressão
capilar glomerular, que é a força física mais importante
na geração do filtrado glomerular (Fig. 8).
Figura 7 - Integração de fatores isquêmicos, inflamatórios e tubulares na patogênes da AKI. Retirado
de Sutton TA, Fischer C J, Molitoris BA. Microvascular endothelial injury during ischemic acute renal
failure. Kidney Int 2002.
LRA Séptica
A sepse grave e o choque séptico são responsáveis por aproximadamente 50% dos casos de LRA
em UTI em estudos populacionais recentes17. Além do
pior prognóstico dessa forma de LRA, sua fisiopatologia apresenta diferenças importantes em relação aos
quadros de LRA decorrentes de choque hipodinâmico
( hipovolemia, cardiogênico e em alguns casos de choque séptico pré-expansão volêmica), onde a redução
inicial do FSR é fator preponderante na iniciação da
lesão renal.
Nos casos de choque séptico podemos encontrar
o FSR reduzido, normal ou aumentado inicialmente.
Esta variação de FSR nos pacientes sépticos com
LRA coloca o “paradigma isquêmico” em xeque, principalmente quando avaliadas as reservas energéticas
renais (estoque de ATP) e o FSR na medula externa
(que esteve normal, em contraste com situações de
isquemia renal)18. Em uma revisão sistemática da literatura experimental sobre lesão renal aguda por sepse/choque séptico e FSR, este esteve preservado ou
aumentado em 33% dos estudos revisados, sendo o
DC a única variável estudada que foi preditora de FSR
aumentado após regressão logística multivariada, enquanto, de maneira oposta, o DC reduzido esteve associado a FSR reduzido. Para testar esta hipótese foi
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Figura 8 - Possíveis mecanismos responsáveis pela
queda inicial da TFG com manutenção do FSR em
choque hiperdinâmico. Adaptado de Bellomo R e
cols. Nephron Exp Nephrol 2008
Filho, EMS e Maciel, EAP. Fisiopatologia da lesão renal aguda no paciente crítico.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 21-29.
Um estudo experimental em ratos Choi e Cols20 demonstrou que animais ventilados com “altos volumes
correntes” apresentavam aumento de apoptose em
tecido intestinal e renal com disfunção renal clínica.
Eles postularam que o mediador desta disfunção era
o ligante de FAS (proteína da família TNF, cuja ligação
com seu receptor induz apoptose) e testaram esta hipótese em humanos, utilizando plasma de pacientes
que haviam participado dos ensaios clínicos de volume corrente em ARDS, encontrando correlação estatisticamente significativa entre os níveis séricos desta
proteína e de creatinina21.
Recuperação de Função Renal
O reparo renal que marca a recuperação renal em
pacientes com LRA se inicia por proliferação e migração das células tubulares sobreviventes (que expressam marcadores de atividade mitótica) para áreas
desnudas do epitélio tubular. Outras células envolvidas
neste processo são células progenitoras residentes nos
túbulos e originárias da medula óssea. Essas células
agem sob controle de alguns fatores de crescimento
celular, como fator de crescimento epidérmico (EGF),
Insulin-Like growth factor-1 (IGF-1), hormônio melanocítico estimulante α, eritropoietina, fator de crescimento
do hepatócito e outros.
Importante ressaltar que estudos com administração de alguns destes fatores de crescimento em
pacientes com LRA não resultaram em melhora dos
desfechos e em alguns casos houve aumento de mortalidade22.
2014|26
Recuperação e Prognóstico em Longo Prazo da AKI
Experimentalmente, do ponto de vista fisiopatológico, a não recuperação de função renal está associada
à manutenção da hipóxia medular com rarefação da microvasculatura (perda de até 50% da densidade vascular)23 e iniciação de fibrose túbulo-intersticial, através da
ativação de fatores fibrogênicos como o TGFß (Transforming Growth factor ß), colágeno e fibronectina24
Fatores Relacionados a Alta Hospitalar
Como mencionado anteriormente, o prognóstico da
LRA em UTI é ruim, com a letalidade hospitalar chegando a 60,3% em um grande estudo populacional25,
principalmente nas formas em que ocorre associação
com sepse, outras disfunções orgânicas e necessidade de TRS. Os fatores relacionados ao melhor desfecho em um grande estudo epidemiológico australiano
foram: menor idade, ausência de necessidade de ventilação mecânica (VM) e menor necessidade de drogas
vasoativas24, sendo importante frisar que o tipo de TSR
não esteve associado à redução da mortalidade26,27.
Prognóstico em Longo Prazo
A despeito da alta letalidade intra-hospitalar, o
prognóstico a longo prazo para os sobreviventes não
é tão sombrio.
Após alta hospitalar existe um pequeno incremento
da mortalidade em 1 ano (probabilidade de sobreviver
6 meses de 77% e 1 ano de 89%) e a recuperação de
função renal, definida como independência de TRS, é
algo em torno de 65 a 85%, a depender das séries,
sendo extremamente raro o retorno à TRS após parada inicial28.
Outros mecanismos, além do FSR, que podem estar envolvidos na patogênese desta forma de LRA, são
a atuação das diversas citocinas inflamatórias, alteração de metabolismo de derivados do ácido aracdônico,
do NO, exacerbação da resposta imune inata dependente dos “Toll Like Receptors” e apoptose.
Outro fato a ser levado em consideração é a associação de LRA com outras disfunções orgânicas, notadamente a LPA/ARDS, na qual o modo ventilatório
com volumes correntes reduzidos (6-8ml/Kg) mostrou
reduzir a mortalidade, possivelmente por efeitos outros
adicionais, além dos pulmonares. É demonstrada que
com este modo ventilatório existem reduções de citocinas pró-inflamatórias pulmonares e sistêmicas.
A representação das diferentes fases da LRA discutidas neste texto (iniciação, extensão, manutenção,
reparo e recuperação) e suas alterações fisiopatológicas estão demonstradas abaixo (Fig. 9).
Figura 9 - Fases da AKI e sua correlação clínica e
fisiopatológica. Adaptado de Sutton TA, Fischer C J,
Molitoris BA. Microvascular endothelial injury during ischemic acute renal failure. Kidney Int 2002.
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Entretanto, é cada vez mais reconhecida uma relação bidirecional entre LRA e doença renal crônica
(DRC), com a DRC aumentando a susceptibilidade
para LRA e esta acelerando o desenvolvimento de
DRC em uma percentagem destes pacientes, principalmente nos mais idosos e nos pacientes com maiores escores de gravidade29.
2014|27
Filho, EMS e Maciel, EAP. Fisiopatologia da lesão renal aguda no paciente crítico.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 21-29.
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[email protected]
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2014|28
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Freire, ANM et al. Um caso raro de apendicite complicada de longa duração.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 30-34.
Freire, ANM et al. Um caso raro de apendicite complicada de longa duração.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 30-34.
Relato de Caso – Cirurgia Geral
Um caso raro de apendicite complicada de longa duração
André Ney Menezes Freire¹, Isadora Teles Sanjuan¹, Alfredo Rogério
Carneiro Lopes¹, Álvaro Fernando Pereira Silva², Luiz Eduardo Lago de
Castro², Paulo Henrique Cerqueira Muccini²
INTRODUÇÃO
Apendicite aguda é uma das principais causas de
abdome agudo, que pode surgir em qualquer idade,
predominante na faixa etária entre 15-30 anos, com
prevalência no sexo masculino. A maioria dos pacientes são brancos, enquanto os negros perfazem apenas
5% dessa casuística¹.
O apêndice origina-se do ceco, na confluência das
três tênias colônicas, cerca de 3cm após a válvula íleo-cecal, tendo sua extremidade livre, que pode estar localizada em qualquer parte do quadrante inferior direito do abdome, próxima ao ponto de McBurney, sendo
as topografias mais comuns a paracólica direita e a
retrocecal.
A dor abdominal é a queixa mais frequente, migratória em 50% dos pacientes, desde o mesogástrio
até a fossa ilíaca direita (FID). Sua intensidade é progressiva e pode vir acompanhada de outros achados,
como inapetência, náuseas e vômitos. No início, os
pacientes estão afebris ou apresentam febre baixa,
que eleva-se após a perfuração do órgão. O sinal mais
característico, em 95%, é a defesa abdominal à palpação e a contratura do reto abdominal direito. Com
o avançar da doença e o acometimento do peritônio,
surgem os sinais de Blumberg (dor à descompressão
em FID), Rovsing (dor na FID à compressão da FIE),
peritonite difusa, entre outros.
O diagnóstico é predominantemente clínico, mesmo não havendo sintoma, sinal ou exame complementar patognomônico para a doença. Deve-se conduzir o caso no sentido de excluir outras afecções
com clínica semelhante e reforçar a possibilidade de
apendicite. Exames de imagem podem ser realizados
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para minimizar possíveis dúvidas e afastar diagnósticos diferenciais.
Ocasionalmente, há pacientes que apresentam dor
de intensidade variável e intermitente, durante meses.
Ao serem operados, constata-se apendicite crônica
com inflamação ativa em vários estágios, até fibrose².
Pacientes senis apresentam dificuldade diagnóstica por quadro clínico atípico e menos intenso, uma
vez que os fenômenos inflamatórios são menores,
possuem baixa reserva orgânica e bloqueiam menos
o processo¹. O erro e o retardo diagnóstico no idoso
ultrapassam 50% dos casos e a perfuração ocorre em
70% dessas apendicites².
Relataremos, aqui, uma evolução favorável de uma
apresentação clínica rara, que tem por objetivo ressaltar a importância da correta investigação diagnóstica,
com devido acompanhamento médico, uma vez que o
tratamento cirúrgico em tempo hábil influencia diretamente o prognóstico dessa patologia.
RELATO DE CASO
Paciente L.S.G., homem, 66 anos, negro, motorista, natural de Salvador, previamente hígido, iniciou
em julho/2012 quadro de dor abdominal difusa de leve
intensidade, associada à plenitude gástrica. Procurou
emergência de hospital público devido à intensificação
dos sintomas, contudo fora liberado por não apresentar quadro emergencial. Evoluiu com queixa de empachamento gástrico, hiporexia, piora da dor (tornando-se localizada em FID, do tipo cólica) e surgimento de
episódios febris isolados. Em setembro/12, prosseguiu
investigação do quadro em clínica particular, realizan-
2014|30
do exames ultrassonográficos e laboratoriais, ambos
dentro da normalidade. A febre e a dor eram intermitentes, cediam temporariamente com analgésicos comuns e recidivavam algum tempo após (ora dias, ora
semanas). Em momento algum houve queda do estado geral, náuseas e vômitos.
Já em 2013, as dores se tornaram mais frequentes,
a febre mais intensa (chegando a 40 graus) e, então,
surgiu uma massa palpável em FID, móvel, moderadamente dolorosa. Submetido a novos exames de imagem (USG+Colono) e laboratoriais, novamente sem
alterações. A partir de então, os sintomas começaram
a interferir nas suas atividades laborativas. No transcorrer do quadro, apresentou perda ponderal não mensurada, com indícios de desnutrição. Realizou primeira
tomografia de abdome em dez/13, após um ano e meio
de sintomas com piora clínica e exaustiva pesquisa.
O exame mostrou músculo iliopsoas direito aumentado de volume, com imagem sugestiva de abscesso (7
x 3,2 x 1,6 cm). Após esse achado, foi encaminhado
ao serviço de cirurgia geral do HSI, para condução do
caso, sendo admitido em fevereiro/14. Ao exame físico: afebril, taquicárdico, abdome flácido, massa dolorosa à palpação de FID, sem peritonite.
Devido ao quadro estável e de longa duração, optou-se inicialmente por nova TC do abdome que confirmou achado prévio e borramento de planos adiposos
pericecais, com apêndice de paredes mal definidas,
imagens sugestivas de fecalito, além de aumento de
volume do psoas D com coleção (6 x 2 x 2,3 cm), sugerindo abscesso.
Iniciamos antibioticoterapia empírica e solicitamos
punção guiada por USG, através da radiologia intervencionista. Foram realizadas duas punções em fevereiro, no intervalo de quase um mês, uma vez que
apresentou recidiva de coleção em mesma topografia,
confirmada pelos exames de controle do período. Após
resultado de culturas (positivação de E. Coli e Klebsiella pneumoniae ESBL), com base no antibiograma
e orientações da infectologia, ajustamos os antimicrobianos (principal uso de Ceftriaxone + Metronidazol e
posteriormente Tazocin).
No controle ultrassonográfico em março já não havia
mais coleções abdominais, com suposto controle do quadro. O paciente já não apresentava febre, havia melhora
parcial da dor abdominal, o dreno estava produtivo com
secreção purulenta; entretanto, mantinha resposta inflamatória com taquicardia e persistência de leucocitose.
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Nova USG foi pedida em abril, com evidência de
ressurgimento de coleção no psoas. Optou-se, então,
por abordagem cirúrgica no dia 07/04/2014, sendo
submetido à laparotomia exploradora, com achados
sugestivos de apendicite crônica retroperitoneal perfurada, com fecalito na cavidade, presença de líquido
purulento e fístula de base de ceco para psoas ipsilateral. Realizada hemicolectomia direita e enterectomia
de íleo terminal, com anastomose primária ileocolônica
látero-lateral, usando grampeador linear de 80 mm.
Recebido anatomopatológico, que concluiu abscesso pericecal com fibrose (questionando processo
apendicular? diverticular?), além de diverticulose colônica e linfadenopatia regional.
Após compensações clínicas, evoluiu bem na enfermaria, assintomático com dreno serohemático e recebeu alta hospitalar, com as devidas orientações, no
dia 12/04/14.
No 9o. DPO retornou com quadro infeccioso de foco
abdominal e suspeita de deiscência de sutura. Realizada nova laparotomia de urgência, no dia 17/04/14,
para lavagem exaustiva da cavidade e confecção de
ileostomia + fístula mucosa. Seguiu com cuidados
intensivos, vigilância infecciosa, antibioticoterapia e
nutrição parenteral, com ajuste do VET, por conta de
perda grave de peso (14%, em 5 meses). Realizou 2
novas punções, guiadas por TC, de coleções intra-abdominais peri-hepáticas, com sucesso.
Com investimento pleno em todas as condutas,
evoluiu com melhora clínica considerável, controle do
quadro infeccioso e do status nutricional, ostomias produtivas, sem demais alterações físicas, recebendo alta
hospitalar no dia 07/06/14.
Manteve o acompanhamento ambulatorial, atualmente em excelente estado geral, assintomático, exames normais, sem qualquer intercorrência há 5 meses,
recuperados os 16 kg perdidos nesses 2 anos de evolução e em programação de nova abordagem cirúrgica
para reconstrução do trânsito intestinal, em dez/14.
DISCUSSÃO
A grande diversidade de localização do apêndice
influencia na apresentação clínica. A maioria dos autores acredita que a obstrução apendicular seja a principal etiologia da apendicite, uma vez que provocaria
inflamação, aumento da pressão intraluminar, redução
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Freire, ANM et al. Um caso raro de apendicite complicada de longa duração.
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do fluxo arterial, isquemia, necrose da parede apendicular e perfuração do órgão. Não incomum, pode
haver bloqueio do processo, através dos tecidos que
circundam o apêndice, com formação de abscesso ou
fístula. Entretanto, se não houver resposta inflamatória
suficiente para conter o processo (assim como ocorrem nos idosos, imunodeprimidos, etc.) a perfuração
ocorrerá em cavidade livre, com consequente peritonite fecal e formação de abscessos à distância¹.
A apendicite aguda é a emergência abdominal mais
comum a nível mundial e, geralmente, pode ser conduzida sem problemas, mesmo se estiver perfurada.
No entanto, a formação de abscessos retroperitoneais
continua sendo uma das complicações mais graves e
raras, estando sempre associada à perfuração retrocecal, com diagnóstico e tratamento tardios².
O limite posterior do retroperitônio corresponde
ao compartimento iliopsoas, composto dos músculos
psoas maior, psoas menor e ilíaco. O acometimento
infeccioso deste compartimento retroperitoneal pode
ocorrer de forma primária (causas idiopáticas) ou secundária, que geralmente decorre da disseminação de
processos infecciosos com origem renal, óssea e de
alças intestinais (apendicite, diverticulite, doença de
Crohn, carcinoma de colon perfurado)³. Abscessos no
psoas devido à apendicite são observados ocasionalmente em 14,6% dos casos e a taxa de mortalidade
nesses casos continua a ser elevada (19%), por causa
da dificuldade em diagnosticar a origem do abscesso no pré-operatório⁴. Os sintomas de apresentação
geralmente são inespecíficos (febre + dor + limitação
de movimento), o que dificulta e retarda o diagnóstico.
Exames de tomografia e ressonância acabam sendo
de escolha por proporcionarem um excelente diagnóstico na maioria dos casos⁴.
Conforme a literatura, quando o quadro de apendicite evolui por alguns dias, pode-se identificar uma
massa palpável no exame físico, assim como no caso
relatado, e a tomografia pode revelar um fleimão ou
abscesso. Felizmente, muitos desses pacientes vão
responder a tratamento não-cirúrgico, com antibioticoterapia, sintomáticos e drenagem guiada por imagem.
ao aumento da morbidade, devido a aderências densas e inflamação na topografia. Sob essas circunstâncias, a apendicectomia, muitas vezes, requer ressecção extensa e pode levar à lesão das estruturas
adjacentes. Mas, nesses casos, apenas o tratamento
clínico raramente se torna eficaz.
A drenagem percutânea guiada por imagem é uma
boa opção de tratamento temporário para apendicite perfurada. Estudos sugerem que esta abordagem
frente aos abscessos resulta em menor complicação
e menor tempo de permanência hospitalar⁵. São indicados os pacientes que estão clinicamente estáveis,
com presença de abscesso bem circunscrito, ou aqueles que não possuem teto para cirurgia. Isso permite
que a inflamação diminua, por vezes, dispensando a
necessidade de ressecção intestinal ampliada. Há
descrito na literatura que mais de 80% dos pacientes
que apresentam este quadro com apêndice bloqueado
podem ser poupados de uma abordagem inicial e o
intervalo entre a tentativa não cirúrgica e a cirúrgica
tem sido entre seis e oito semanas. A falha do tratamento conservador pode ser considerada quando há
persistência da dor, febre, leucocitose, sepse e requer
apendicectomia de imediato.
Freire, ANM et al. Um caso raro de apendicite complicada de longa duração.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 30-34.
FIGURAS
Figura 1 - TC de abdome mostrando abscesso
na FID com espessamento do psoas e gás em
seu interior
Figura 3 - Imagem tomográfica do dreno no interior do abscesso
Figura 2 - Imagem de reconstrução tomográfica
demonstrando dreno na topografia da coleção
Figura 4 - Paciente com drenagem percutânea
que foi guiada por ultrassonografia
CONCLUSÃO
A apendicite aguda possui um grande espectro de
manifestações clínicas. A formação de abscessos retroperitoneais se mostra como uma complicação rara e
grave da apendicite perfurada, devendo ser aventada
em quadros atípicos.
O relato de caso supracitado soma-se aos escassos
registros literários e sua condução clínica mostra total
consonância com o que fora exposto em revisão de literatura. Pautados na alta suspeição clínica, detecção
dos sintomas, diagnóstico preciso e tratamento imediato adequado, obtivemos sucesso terapêutico neste
caso raro de apendicite complicada de longa duração.
Alguns autores aceitam a definição de apendicite crônica como quadro de dor prolongada na FID (>7 dias),
que pode ser intermitente, sem leucocitose e com achado
patológico de inflamação crônica ou fibrose do apêndice.
A cirurgia imediata em pacientes com longa duração dos sintomas e formação fleimão está associada
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Descrição do intraoperatório: alça de jejuno bastante distendida. Encontrado tumoração endurecida a
aproximadamente 25cm do ângulo de Treitz, invadindo
todo o meso, friável.
Descrição do anatomopatológico: material - tumoração de jejuno terminal.
1 – Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Santa Izabel
2 – Serviço de Bioimagem do Hospital Santa Izabel
Endereço para correspondência:
[email protected]
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Macroscopia: segmento de alça intestinal rotulado
como procedente do jejuno terminal, medindo 34cm de
comprimento por 0,5 a 3,0cm de diâmetro, exibindo serosa acastanhada e apresentando região de segmento
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estenosado. À abertura, observa-se massa compacta,
endurecida e esbranquiçada, que mede 4.0 x 2.5cm,
infiltrando tecido muscular e distando 9.5cm da margem cirúrgica mais próxima. A mucosa apresenta área
hemorrágica e pregueamento preservado. Do tecido
adiposo foram dissecadas 06 estruturas nodulares medindo a maior 0,7cm.
Acompanha anel de alça intestinal medindo 1.0cm
de comprimento por 2.0cm de diâmetro, exibindo serosa acastanhada com mucosa preservada.
Microscopia: secções revelam neoplasia constituída por proliferação de células fusiformes, escasso citoplasma, núcleos hipercromáticos. Há mitoses. Não
se observa necrose. Um de três linfonodos regionais
exibem células atípicas.
Conclusão: intestino delgado, segmentectomia.
Neoplasia de células fusiformes de histogênese incerta (vide nota). Margens cirúrgicas livres de neoplasia.
Dimensão da neoplasia: 4.0 x 2.5cm. Infiltrando até
camada serosa do órgão. Invasão vascular linfática
não detectada, foram dissecados e examinados 03 linfonodos, estando dois deles livres de neoplasia e um
contendo células atípicas.
Nota: os achados morfológicos impõem diagnóstico
diferencial, entre outros com GIST, leiomioma etc.
Relatório Imuno-histoquímico: fixação: formol;
tipo de corte: parafina. Cortes histopatológicos com
3 micras de espessura, aderidos com poly-L-lisina e
controles corados pela HE. Utilizado sistema Streptavidina-Biotina-Peroxidase (LSAB) com recuperação
antigênica pelo calor úmido. O exame microscópico
com controles positivos revelou os seguintes resultados dos antígenos pesquisados:
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Franco, SNG e Pessoa, RP. Tumor Gastrointestinal Estromal (GIST) diagnosticado no
período neonatal. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 35-38.
Tabela 1 - Exame microscópico com controles positivos
Anticorpos
Resultado
Actina muscular
Positivo (focos)
CD 34 - Cel Prpq.
Hematopoiética
Positivo (focos)
CD 117 - C kit
Negativo
Ll-67 Proliferação Celular
Positivo (<5%)
Proteína S-100
Negativo
Conclusão: Tumor Estromal Gastrointestinal (GIST) CD 117
(C-kit) negativo e índice de proliferação celular < 5%.
O paciente em questão apresentou evolução desfavorável com complicação infecciosa e posteriormente
obstrutiva, necessitando de nova abordagem cirúrgica
(aderências). No 42º dia de vida evoluiu com choque
cardiogênico de início súbito com evolução rápida e
fulminante, refratário ao suporte com aminas inotrópicas e suporte intensivo, evoluindo para óbito em
24/05/2014.
DISCUSSÃO
Os Tumores do Estroma Gastrointestinal (GIST)
são incomuns entre crianças e adolescentes. Dados
da literatura mostram uma incidência anual de 0,02/
milhão de crianças abaixo de 14 anos3.
O GIST é caracterizado pela expressão do receptor
kit (CD 117), o que o diferencia de outros tumores mesenquimais (hemangioma, hamartoma, rabdomiossarcoma e tumores fibrobásticos)5. É derivado das células
intersticiais do plexo mioentérico, chamadas células de
Cajal, e pode se originar em qualquer local do trato
gastrointestinal4.
As evidências atuais sugerem que o curso clínico,
características patológicas, assim como a biologia molecular do GIST pediátrico, são diferentes do adulto (3).
A maioria dos casos ocorre entre 10 e 18 anos
de idade, com idade média de apresentação de 13
anos, sendo incomum abaixo de 5 anos(3,7,8,9). A razão
masculino:feminino é de 1:2,5. Localiza-se no estômago em 85% dos casos pediátricos, sendo raros no colo,
enquanto nos adultos somente 50% dos casos são localizados nesta região5.
Em crianças, geralmente apresentam-se com sintomas sugestivos de obstrução intestinal, hemorragia
gastrointestinal ou palpação de massa abdominal10.
Imunohistoquimicamente em adultos, o GIST é positivo para CD117 e CD34 em 95% e 70% dos casos,
respectivamente3. Nos pacientes pediátricos apenas
7% a 15% exibem a mutação no kit (CD 117)6.
A estratificação do risco utilizada em adultos não é
preditiva de gravidade em pacientes pediátricos, embora deva ser utilizada até que novas diretrizes sejam
pontuadas pela literatura. Estudos mostram que os pacientes pediátricos têm um curso clínico relativamente
benigno, a despeito da recorrência do tumor e da ocorrência de metástases6.
O tratamento padrão para pacientes com GIST não
metastático é a ressecção cirúrgica completa da lesão,
pois oferece maior chance de cura3.
Dos seis casos de GIST no período neonatal descritos na literatura, a relação masculino:feminino foi de 1:1
e apenas 01 com diagnóstico pré-natal. A idade média
ao diagnóstico variou de 01 a 14 dias. Em 05 casos, o
tumor estava localizado no intestino delgado e em 01
caso no ceco. Todos foram submetidos a tratamento cirúrgico e 01 deles faleceu por complicações infecciosas.
Destes 06 casos relatados, apenas 02 com kit (CD117)
positivo, o que representa um perfil semelhante aos
GIST na faixa etária pediátrica (Tabela 2).
Tabela 2 - Pacientes com GIST diagnosticados no período neonatal descritos em literatura (1)
Referência
Idade ao
diagnóstico
Wu
1 dia
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Sexo
M
Localização e
tamanho
Jejuno
3.5cm
Imunohistoquímica
Tratamento
C-kit (+), CD34 (+),
Actina Muscular(-)
Cirúrgico
Sobrevida
Aproximadamente
1 ano
2014|36
Franco, SNG e Pessoa, RP. Tumor Gastrointestinal Estromal (GIST) diagnosticado no
período neonatal. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 35-38.
Shenoy et al
1dia
Bates et al
14 dias
Geramizadeh
et al
6 dias
Tanyeri et al
Nilgun et al
Este caso
M
Íleo terminal
2.5cm
C-kit (NR), CD34 (+), Cirúrgico
Actina Muscular (NR)
Aproximadamente
1 ano
Jejuno
1.5cm
C-kit (-), CD34 (-),
Actina Muscular (+)
ND
F
Ceco
3cm
C-kit (+), CD34 (-),
Cirúrgico
Actina Muscular (NR)
1 dia
F
Jejuno terminal C-kit (-), CD34(-),
6cm
Actina Muscular (+)
Cirúrgico
Óbito com 2 meses
de vida
Prenatal
36 semanas
M
Íleo
6cm
Cirúrgico
Aproximadamente
2 anos
Cirúrgico
42 dias de vida
USG obstétrica M
com sinais
de obstrução
intestinal
(IG=35
semanas).
Laparotomia
exploradora
com 3 dias
C-kit (-), CD34(-),
Actina Muscular (-)
Jejuno terminal C-kit (-), CD34(+),
4cm
Actina Muscular (+)
Cirúrgico
Aproximadamente
1 ano
ND= não descrito; M= masculino; F= feminino,USG= ultrassonografia; IG= idade gestacional
No caso descrito, o recém-nascido era do sexo
masculino e a suspeita de obstrução intestinal foi feita
em ultrassonografia obstétrica. O paciente apresentou
quadro clínico compatível com abdomen obstrutivo e
no terceiro dia de vida foi submetido à laparotomia
exploradora. Feito ressecção de tumoração localizada
em intestino delgado (jejuno terminal) a qual apresentava características imunológicas semelhantes às desse tipo de tumor na faixa etária pediátrica.
CONCLUSÃO
GIST no período neonatal é raro e tem características imunológicas que parecem assemelhar-se ao perfil do GIST pediátrico. Entretanto, mais dados clínicos
e de biologia molecular são necessários para definição
do perfil epidemiológico, critérios diagnósticos e estratégias apropriadas para a condução do GIST na faixa
etária pediátrica, especialmente no recém-nascido.
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INTRODUÇÃO
A doença de Gorham ou Gorham-Stout, também
conhecida pelos sinônimos osteólise essencial ou “doença do osso desaparecido”, é uma desordem rara que
se caracteriza por uma proliferação vascular e linfática
que compõe a linfangiomatose, uma substituição do
tecido ósseo por tecido fibrovascular.1 Seu mecanismo
não está claro, mas a associação com elevados níveis
de interleucina 6 contribui para a osteólise associada à
significativa ativação osteoclástica.2
1 - UTI Neonatal da Maternidade de Referência
Professor José Maria de Magalhães Netto
Endereço para correspondência:
[email protected]
São relatados cerca de 200 casos desta patologia
na literatura médica e seu diagnóstico inicial pode ser
difícil, devido à ausência de alterações anatomopatológicas típicas, sendo confundida com outras condições
benignas, como hemangioma cavernoso, ou com neoplasias ósseas, por causa de seu caráter destrutivo.
Alguns pacientes podem apresentar acometimento do
tecido conectivo de vísceras e partes moles, evoluindo
com ascite ou complicações torácicas como o derrame
quiloso (em pleura e/ou pericárdico).1,5,8
de neoplasia e com sinais de proliferação conjuntiva e
vascular sem atipias. Foi proposta cirurgia ortopédica
com substituição por endoprótese do segmento ósseo
já destruído. Contudo, devido a problemas sociais como
uso de drogas ilícitas e vivência em situação de rua, a
paciente abandonou acompanhamento diversas vezes.
Em 2010 retornou ao serviço médico já apresentando deformidade severa e linfedema em membro
superior direito, parede torácica e mama, não havendo mais benefício na realização de cirurgia, devido à
sequela já instalada. Nesta ocasião, evoluiu com o
primeiro episódio de quilotórax controlado com drenagem torácica e controle dietético hipolipídico, e evento semelhante em 2012. Em 2013 foi internada com
quadro de endocardite aguda, com comprometimento
de válvula aórtica, associada à ruptura de cordoalha,
evoluindo com acentuada piora clínica, sem condições
para abordagem cirúrgica cardiovascular, falecendo
poucos dias após.
CASO CLÍNICO
CSR, feminina, negra, 39 anos, com queixa de dor
de característica progressiva, passando a apresentar
deformidade em região de articulação escápulo-umeral, notada desde o ano de 2005, que motivou exame
de ressonância magnética. Este evidenciou lesão infiltrativa irregular com impregnação heterogênea acometendo úmero e clavícula à direita.
Primeiro exame anatomopatológico demonstrava
proliferação plasmocitária sugestiva de plasmocitoma,
porém exames de eletroforese e mielograma não foram
compatíveis com mieloma múltiplo. A paciente foi submetida, então, a duas novas biópsias, sem evidência
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2014|38
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Figura 1 - Deformidade em cintura escapular direita
com destruição da articulação secundária à absorção proximal de úmero, escápula e clavícula com
linfaedema em mama e em membro superior.
2014|39
Barros, DG e Dias, JJS. Doença de Gorham como diagnóstico diferencial de neoplasia óssea.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 39-41.
Barros, DG e Dias, JJS. Doença de Gorham como diagnóstico diferencial de neoplasia óssea.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 39-41.
combinação dos aspectos clínicos, radiológicos e histológicos, devendo, portando, ser considerada como
diagnóstico diferencial de lesões ósseas de aspecto lítico, principalmente no contexto de apresentação clínica concomitante com derrames cavitários, a fim de ser
possível oferecer tratamentos capazes de melhorar a
qualidade de vida dos pacientes.
1- Serviço de Oncologia do Hospital Santa Izabel
Endereço para correspondência:
[email protected]
REFERÊNCIAS
Figura 2 - Tomografia de tórax - derrame pleural, apagamento das estruturas ósseas da articulação escapuloumeral direita
DISCUSSÃO
A doença de Gorham-Stout foi descrita inicialmente
em 1838, mas somente apropriadamente documentada por Gorham e Stout numa série de casos de 24
pacientes em 1955. É caracterizada por destruição
óssea relativamente indolor, com osteólise maciça,
devido ao desenvolvimento de tecido linfangiomatoso em substituição ao tecido ósseo normal, podendo
haver significativa ativação osteoclástica associada,
sem proliferação maligna.10 Seu mecanismo não está
claro, mas há indícios de proliferação endotelial localizada dos vasos linfáticos, resultando em reabsorção e
destruição óssea. Atinge uma ampla faixa etária, sem
predomínio de gêneros, raça ou predileção por sítio do
esqueleto apendicular ou axial. A destruição lítica da
cortical óssea pode extender-se aos ossos adjacentes
que compõem determidada articulação, havendo pouco ou nenhum efeito de massa em partes moles.3,4,6
As características radiológicas principais são focos radiolucentes semelhantes ao encontrado na osteoporose, que podem ser irregulares, na fase inicial,
até a redução das extremidades ósseas, produzindo
uma aparência de “doce sugado” na sua fase final. O
diagnóstico diferencial é feito com outras lesões de aspecto lítico secundárias a causas infecciosas, neoplásicas, distúrbios endócrinos/metabólicos e anormalidades hematológicas.1
Os tratamentos disponíveis têm o objetivo de minimizar as deformidades que podem ser limitantes e
consistem em ressecção do segmento ósseo acometido, quando possível, radioterapia e uso de medica-
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ções, mas que, devido aos graves problemas sociais,
a paciente descrita não pôde realizá-los.
Há diversos relatos de tentativa de tratamento medicamentoso, considerando a fisiopatologia da doença, como o uso de Interferon Alfa e de bisfosfonatos
venosos ou orais, porém todos esses com resposta
limitada e sem atividade no comprometimento visceral.7,2,9 O uso de radioterapia pode ser indicado de
maneira isolada (particularmente em sítios não factíveis de cirurgia, como segmentos vertebrais altos),
no contexto adjuvante, após um tratamento cirúrgico
inicial ou, também, para tentativa e controle de quilotórax recorrente.3,4,5,10
O GCG-BD, Grupo Cooperativo Germânico de Radioterapia para Doenças Benignas, realizou uma avaliação retrospectiva baseada em informações de 197
centros, dentre hospitais universitários, centros privados e hospitais comunitários, a fim de identificar o benefício da radioterapia radical, tendo sido identificados
apenas seis casos tratados exclusivamente com esta
abordagem. Foram utilizados esquemas de dose entre
30 e 40Gy, com aparente impedimento de progressão
em 80% dos casos.10
CONCLUSÃO
A doença de Gorham é uma condição rara e que
apesar de benigna e habitualmente caracterizar-se
apenas pela sequela deformante, pode levar ao risco de graves complicações sistêmicas e até mesmo
ao óbito. O diagnóstico é de exclusão e baseado na
2014|40
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2014|41
Brito, JC et al. Técnica de Cribier. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 42-44.
Brito, JC et al. Técnica de Cribier. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 42-44.
Resumo de Artigo – Cardiologia
Técnica de Cribier
José Carlos Brito 1
Artigo Original Publicado
Antônio Azevedo Júnior, Adriano Oliveira, Fernando Bullos Filho, Ademar Santos Filho, Jorge
Braga, Marcelo Góes, Manuela Silveira, Cristiano Lucena, Maria Lúcia Duarte, Jorge Torreão,
Heitor Carvalho. Publicado na Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva – Vol 13, nº 2; junho
de 2005
Descritores: Valva mitral. Estenose da valva mitral. Valvotomia por balão.
Key words: Mitral valve. Mitral valve stenosis. Balloon valvotomy
INTRODUÇÃO
A introdução da comissurotomia mitral percutânea
(CMP) por Inoue et AL. em 1984 mudou a perspectiva dos pacientes portadores de estenose mitral, que
passaram a dispor de um método não operatório com
resultados iniciais promissores.1 Durante mais de uma
década que se seguiu à introdução da CMP, o cateter-balão reinou absoluto como único instrumento de
dilatação, sendo as técnicas de Inoue (BI) - hegemonicamente - e técnica de duplo-balão (DB) as mais utilizadas, cenário que permanece até os dias atuais1,2,3
Porém, o custo do cateter-balão se constitui numa limitação para ampla utilização do método em países em
desenvolvimento, que apresentam alta prevalência da
doença reumática. Por outro lado, a prática de reutilização do cateter-balão acresce potenciais riscos ao
procedimento, devido a problemas com reesterilização
e alteração do seu perfil.
Em 1997, Cribier et al. introduziram a técnica de
CMP, utilizando um dispositivo metálico semelhante ao
usado por cirurgiões na comissurotomia fechada. Os
resultados iniciais causaram grande impacto entre os
praticantes da CMP, devido a importantes observações
para efeito de comparação com as técnicas que utilizavam cateter-balão: excelente comissurotomia, com
elevado porcentual de abertura das duas comissuras;
área valvar mitral (AVM) acima da média em pacientes
com Eco Escore (EE) elevado; maior reutilização do
dispositivo.4
Este artigo faz uma revisão da literatura e analisa
os resultados de um estudo randomizado dos autores,
comparando as técnicas de Cribier e Inoue, no tratamento da estenose mitral.
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MÉTODOS E RESULTADOS
No Hospital Santa Izabel, Salvador-BA, entre setembro de 1999 e março de 2001, comparamos em
estudo randomizado o Comissurótomo Metálico (CM)
versus o Balão de Inoue (BI). Rotineiramente, os pacientes realizaram exame clínico, eletrocardiograma,
radiografia do tórax e ecocardiograma transtorácico
(ETT). Pacientes com fibrilação atrial, contraste espontâneo em AE e história de tromboembolismo sistêmico
também realizaram ecocardiograma transesofágico
(ETE). Critérios para exclusão do estudo foram: trombo em AE, insuficiência mitral >2+ pelo critério de Sellers (angiográfico), EE >10, lesão grave em outra valva
e estado gestacional.
Foram randomizados 84 pacientes, 44 para o CM e
40 para o BI, grupos semelhantes em relação às características clínicas e demográficas (Tabela 1). A técnica
indicada pela randomização foi completada em todos
os 40 (100%) casos com o BI e em 43 (97,7%) casos
no grupo tratado pelo CM (em 1 caso o CM não ultrapassou a valva mitral, sendo a técnica mudada para o
BI). Após intervenção, a pressão média do AE (PAE)
foi 14±3,5 mmHg versus 14,2±4,3 mmHg (p=0,82);
média do GM de 6,5±4,7 mmHg versus 5,3± 6,5 mmHg
(p=0,36); a pressão média da artéria pulmonar (PAP)
de 26,7±12,6 mmHg versus 22,7±6,0 mmHg (p=0,09);
AVM de 2,07±0,33 cm² versus 2,1±0,28 cm² (p=0,76);
abertura das duas comissuras (2 C) em 57,1% versus
54,1% (p=0,48); insuficiência mitral >2+ em 2,3% versus 2,5% (p=0,74), com o CM e o BI, respectivamente.
O sucesso definido com AVM final ≥1,5 cm², insuficiência mitral ≤2+, procedimento completado pela
técnica indicada e ausência de óbito foi de 95% com
o BI versus 93% com o CM (p=0,46) - Tabela 2. No
2014|42
grupo tratado pelo BI, um paciente com EE de 10 e
AVM pós-intervenção de 1,1 cm² foi encaminhado para
cirurgia eletiva. No acompanhamento médio de 5,2±2,1
meses no grupo do CM, e 6,2±2,3 meses, no grupo do
BI (p=0,21), não se observou diferença significativa na
AVM 1,96±0,30 cm² versus 2,05±0,27 cm² (p=0,21) e na
CF I 91% versus 88% ou CF II 8,6% versus 12% com
o CM e o BI, respectivamente (p=0,24). Complicações
ocorreram em quatro pacientes: no grupo tratado pelo
CM, um paciente desenvolveu tamponamento cardíaco
(TC), causado por perfuração do VE pela corda-guia,
vindo a falecer no pós-operatório por complicações
neurológicas; no grupo do BI, um paciente desenvolveu
derrame pericárdico durante cateterismo transeptal, porém completou o procedimento com sucesso. Um paciente em cada grupo desenvolveu insuficiência mitral
moderada (3+), sendo mantidos em tratamento clínico.
CONCLUSÃO
Podemos concluir que o CM apresenta bons resultados imediatos, incidência de complicações e evolução
favorável no médio prazo, equivalente ao BI. A reutilização dos dispositivos metálicos componentes da TC foi
superior ao BI.
COMENTÁRIOS
Este estudo randomizado, realizado no Hospital Santa Izabel, publicado na Revista Brasileira de Cardiologia
Invasiva dentro do Artigo de Revisão – Técnica de Cribier, foi premiado como melhor tema livre do XIII Congresso de Cardiologia do Estado da Bahia realizado no
ano de 2001 e destacado como um dos dez melhores
temas livres do Congresso Brasileiro de Cardiologia do
mesmo ano, comparou duas técnicas intervencionistas
de tratamento percutâneo da estenose mitral. A técnica
de Inoue mais antiga, utilizando um cateter-balão com o
nome do introdutor da técnica (BI) versus a técnica de
Cribier (utilizando o Comissurótomo Metálico - CM).
Os resultados do nosso estudo, não mostrando diferenças significativas entre o CM e o BI, diferem do estudo
de El-Sayed et AL. e a discrepância nos achados pode
ser atribuída a alguns fatores. Primeiro, à estratégia de
dilatação com a técnica de Inoue utilizada no nosso estudo - insuflação única com diâmetro máximo do balão
- produzindo melhor comissurotomia e maior AVM que a
estratégia de dilatação gradual utilizada no estudo de
El-Sayed et al.6 Seguindo a mesma lógica do estudo de
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Kang et al., a estratégia de insuflação única visou oferecer para ambas as técnicas a máxima capacidade de
dilatação, suprimindo dificuldades para estabilização
do balão no orifício mitral após a primeira insuflação (4
mm a menos do diâmetro máximo do balão), que pode
ocorrer na dilatação gradual, levando a resultados não
ideais. Utilizando os mesmos critérios do estudo Kang
et al.4, selecionamos pacientes com EE ≤10 e também
não observamos aumento significativo da incidência de
insuficiência mitral grave com a estratégia de dilatação
única. Segundo, a AVM pós-intervenção dos pacientes
tratados pelo CM no nosso estudo foi inferior a AVM
do CM no estudo de El Sayed et al. Não encontramos
uma explicação plausível para esta discordância, mesmo porque a média do EE foi baixa no nosso estudo
(CM 7,7±1,0 versus BI 7,5±1,0), enquanto 30% dos
pacientes tratados pelo CM no estudo de El Sayed et
al tinham EE > 9. Além disso, os procedimentos foram
acompanhados pelo ETT para otimizar os resultados do
CM. Entre 4 e 6 aberturas do CM foram feitas visando
à abertura das duas comissuras, e o cálculo da AVM foi
feito no dia seguinte, após a intervenção - pelo método
de planimetria, como é indicado - pelo mesmo ecocardiografista. Talvez a interrupção do procedimento com o
surgimento ou aumento do grau de insuficiência mitral
– critério utilizado para prevenir o surgimento de insuficiência mitral grave - possa ter interferido no resultado.
Em termos de complexidade, a TC, sem dúvida nenhuma, é mais complexa e com algumas limitações,
como por exemplo dificuldades em transpor a VM em
pacientes com grande dilatação do átrio esquerdo e
também mais arriscada, pela presença de uma corda-guia rígida na cavidade ventricular esquerda para permitir ao CM ultrapassar a VM.
Uma vantagem da TC seria a redução de custos
decorrente da reutilização dos componentes metálicos
do instrumental. Apesar de não ter sido feita uma análise de custos no nosso estudo, observamos uma grande diferença na reutilização entre o CM e o BI (1 CM
contra 10 catéteres-balão), achado concordante com
outros estudos. Essa vantagem em países subdesenvolvidos com certeza seria relevante. Entretanto, nos
anos seguintes, houve uma redução acentuada dos
custos do BI, que passaram a ser usados 1:1, ou seja,
um balão para cada procedimento. Esse fato, associado à maior complexidade da técnica, não superioridade
nos resultados, fez com que a Técnica de Cribier caísse em desuso e fosse abandonada, permanecendo o BI
como a técnica mais utilizada no mundo.
2014|43
Brito, JC et al. Técnica de Cribier. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 42-44.
Matos, MA. Efeitos do Ácido Zoledrônico na Consolidação de Fraturas.
Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 45.
Resumo de artigo – Ortopedia
Efeitos do Ácido Zoledrônico na Consolidação de Fraturas
REFERÊNCIAS
1. Inoue K, Owaki T, Nakamura T, Kitamura F, Miyamoto N. Clinical application of transvenous mitral commissurotomy by a new balloon catheter. J Thorac Cardiovasc Surg 1984; 87:394-402.
Marcos Almeida Matos 1
2. Palacios IF, Block PC, Wilkins GT, Weyman AE.
Follow-up of patients undergoing percutaneous mitral
balloon valvotomy: analysis of factors determining restenosis. Circulation 1989;79:573-9.
Artigo original: Matos MA1, Tannuri U, Guarniero R. The effect of zoledronate during bone healing. J Orthop Traumatol. 2010 11(1):7-12, 2010.
3. Brito JC, Carvalho H, Braga J, Santos Filho A,
Azevedo Jr. A, Duarte ML et al. Valvuloplastia mitral com
cateter-balão de Inoue: análise de 112 casos. Arq Bras
Cardiol 1993; 61:213-6.
RESUMO DO ARTIGO
Os bisfosfonatos se tornaram tratamento de escolha
para uma variedade de doenças nas quais atividade osteoclástica intensa é uma característica patológica importante. Contudo, a inibição da atividade osteoclástica
pode levar a alterações negativas da remodelação óssea
durante a fase de consolidação ou reparo esquelético. O
objetivo do estudo é investigar os efeitos do ácido zoledrônico, que é o mais potente bisfosfonato, no processo
biológico de reparação óssea. Método: foi realizado estudo experimental controlado utilizando-se trinta coelhos
divididos em dois grupos (controle e experimental), com
15 animais cada. Ambos os grupos foram submetidos a
osteotomia fibular. Após uma, duas e quatro semanas,
os animais dos dois grupos sofreram eutanásia e o sítio da osteotomia foi avaliado histomorfometricamente.
Os parâmetros analisados no estudo foram volume tecidual (TV), volume de osso trabecular fracionário (BV/
TV), volume fracionário de osso novo (WoV/TV), volume
fracionário de fibrose perióstica (FbV/TV) e volume de fibrose medular (MaV/TV). Resultados: a primeira semana
de consolidação foi caracterizada por pequena área do
calo no grupo experimental e menor área de fibrose periosteal. A segunda semana foi caracterizada por grande
quantidade de osso novo e marcada diminuição da fibrose periosteal nos dois grupos. No grupo controle houve
também aumento significante do osso trabecular. A quarta semana se caracterizou por acréscimo da quantidade
de osso novo e trabecular no grupo experimental; houve
aumento da fibrose medular nos dois grupos, enquanto
que a quantidade de fibrose periosteal continuou significativamente menor no grupo experimental. Conclusões:
o ácido zoledrônico não apresentou capacidade de interferir negativamente na reparação óssea. Ao contrário, os
efeitos do zoledronato foram caracterizados por acentuado estímulo à produção de osso primário (novo) e prová-
4. Kang DH, Park SW, Song JK, Kim HS, Hong MK,
Kim JJ et al. Long-term clinical and echocardiographic
outcome of percutaneous mitral valvuloplasty: randomized comparison of Inoue and double-balloon techniques.
J Am Coll Cardiol 2000;35:169-75.
5. Cribier A, Rath PC, Letac B. Percutaneous mitral
valvotomy with a metal dilatator. Lancet 1997;349:1667.
6. Bastos MD, Esteves CA, Araújo D, Bastos LA, Eistein M, Santana GP et al. Comissurotomia mitral mecânica percutânea utilizando o valvótomo metálico de Cribier:
resultados iniciais. Arq Bras Cardiol 2001;77:120-5.
7. El-Sayed MA, Anwar AM. Comparative study between various methods of percutaneous transvenous mitral
commissurotomy, metallic valvotome, Inoue balloon,and
double-balloon technique (VID) study. J Interv Cardiol
2000;13:357-64.
1- Serviço de Hemodinâmica do Hospital Santa Izabel
Endereço para correspondência:
[email protected]
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
2014|44
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
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vel inibição da remodelação, levando à retenção de osso
trabecular no processo de consolidação.
COMENTÁRIOS
Este estudo foi pioneiro em mostrar que o zoledronato
(e provavelmente todos os bisfosfonatos) apresenta efeitos
catabólicos e anabólicos ao mesmo tempo. Antes deste
trabalho, os pesquisadores imaginavam que este tipo de
medicamento apenas inibia a ação do osteoclasto, sendo
exclusivamente catabólico. Alendronato, ibandronato, zoledronato e outras drogas deste mesmo grupo são utilizadas
para tratamento de osteoporose, doença de Paget, osteogênese imperfeita e outras alterações onde há fragilidade
óssea. No curso do tratamento, os pacientes sofrem fraturas
ou procedimentos cirúrgicos ortopédicos que necessitam
de remodelação óssea eficiente. Desta forma acreditava-se
que o uso dos bisfosfonatos poderia ser prejudicial nestas
condições e a suspensão da droga era a única escolha, prejudicando a continuidade do tratamento da doença de base.
A partir deste estudo pioneiro, mostrou-se que estas medicações, contrariamente ao que se pensava, eram potentes agentes formadores de osso. Comprovou-se, então, os
efeitos anabólicos do mais potente agente desta classe, o
zoledronato, caracterizando-se que o uso durante a consolidação óssea não só é seguro, como também é desejável.
Esta publicação teve grande relevância na literatura sobre
o tema, conforme comprovado por 28 citações que foram
recebidas entre 2011 e 2013, em revistas de alto impacto,
tais como BONE, OSTEOPOROSIS INTERNATIONAL e
MEDICAL CLINICS OF NORTH AMERICA.
1- Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Santa Izabel
Endereço para correspondência:
[email protected]
2014|45
Moura, MA et al. Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 46-52.
Moura, MA et al. Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 46-52.
Artigo Multiprofissional – Fisioterapia
Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca
Marcela Araujo de Moura¹, Renata Bispo Batista 1, Iana Verena
Sampaio Albuquerque 1, Diana Lessa Fernandes 1, Patrícia Alcântara
Doval Carvalho Viana 1
RESUMO
INTRODUÇÃO: as doenças cardiovasculares estão
entre as principais causas de mortalidade e incapacidade no mundo. As cirurgias cardíacas são utilizadas
para tratamento desses pacientes e o exercício resistido pode ser utilizado para proporcionar adaptações
neuromusculares, melhorando a capacidade funcional.
OBJETIVO: verificar a distância percorrida por indivíduos submetidos a exercícios resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca. METODOLOGIA: trata-se de um ensaio clínico de braço único, com mostra
composta por pacientes adultossubmetidos à cirurgia
cardíaca. Foram incluídos aqueles com liberação médica, de ambos os sexos e aqueles que caminharam
no pós-operatório. Excluídos aqueles com instabilidade esternal e hemodinâmica, portadores de aneurisma
de aorta torácica ou abdominal, queixa de dor precordial, dispneia, limitação motora e os que sofreram reabordagem cirúrgica no mesmo internamento. O teste
de caminhada de 6 minutos foi realizado em dois momentos, logo após a cirurgia e na alta hospitalar, e o
programa de exercícios resistidos para MMII entre esses dois momentos. RESULTADOS PRELIMINARES:
a mostra foi composta por nove pacientes, havendo
predominância do sexo masculino 77,8 %, com idade
média de 50,11±19,40. A distância percorrida foi significativa entre o primeiro e segundo TC6min. (p = 0,001).
Aqueles que fizeram cirurgia de troca valvar e os não
dislipidêmicos alcançaram maior distância no TC6min
com p(0,029). CONCLUSÃO: houve um aumento na
distância percorrida de pacientes submetidos a exercícios resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca,
destacando-se aqueles que realizam cirurgia de troca
valvar e os que não apresentavam dislipidemia.
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SANTA IZABEL
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Palavras-chaves: reabilitação, cirurgia cardíaca,
terapia física
Key words: rehabilitation, heart sugery, physical
therapy
INTRODUÇÃO
Dentre as questões de saúde pública mais relevantes da atualidade está o desenvolvimento das estratégias para a promoção de saúde de pacientes portadores de doenças cardiovasculares, que estão entre
as principais causas de mortalidade e incapacidade no
mundo1. Cirurgias cardíacas são procedimentos amplamente utilizados para tratamento de tal grupo de
pacientes e as taxas de complicações pós-operatórias
(PO) a elas relacionadas permanecem expressivas2,3.
A restrição ao leito, o uso de circulação extracorpórea
e ventilação mecânica, a dor causada pela esternotomia e safenectomia, a presença de drenos e acesso
venoso, edema periférico, entre outros fatores relacionados ao procedimento cirúrgico e período pós-operatório limitam a mobilidade e consequentemente a
funcionalidade do paciente4.
A reabilitação cardíaca é composta por quatro fases, sendo a fase I aquela que se aplica ao paciente
na unidade hospitalar, cujos objetivos são minimizar os
efeitos da restrição ao leito e proporcionar ao indivíduo
um retorno antecipado a suas atividades de vida diária5.
As estratégias terapêuticas prescritas nesta fase constituem de exercícios ativos e passivos no leito, exercícios
respiratórios, estresse gravitacional e físico6. Porém, os
protocolos não são bem estabelecidos quanto à duração, intensidade e quantidade dos exercícios.
Como estratégia para reduzir perdas funcionais e
2014|46
proporcionar menor tempo de internação ao indivíduo,
encontram-se os exercícios resistidos (ER); que oferecem como benefícios para essa população melhor
controle do peso, prevenção de deficiências e quedas,
aumento da capacidade funcional e melhora da força
e resistência muscular, do metabolismo e da função
cardiovascular, além de significante redução de esforço para atividades submáximas7. Esse recurso já
vem sendo utilizado na fase II da reabilitação cardíaca, porém a sua utilização na fase I ainda é escassa,
surgindo então a necessidade de se aplicar o ER na
fase hospitalar, antecipando seus benefícios e proporcionando ao indivíduo autoconfiança e independência
após alta hospitalar. gráficos, clínicos e antropométricos. Em seguida foram
monitorizados, segundo as recomendações da VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial11, pressão arterial
sendo utilizado um tensiômetro digital automático, calibrado, de braço ONROM modelo HEM-7200 para adulto
médio; a frequência cardíaca (FC) e Saturação periférica
de oxigênio (SpO2) utilizando-se um oscimetro de pulso da CONTEC; a frequência respiratória (FR) através
da percepção visual do número de expansões torácicas
durante um minuto; e a intensidade do esforço foi acompanhada por meio da escala de percepção subjetiva de
esforço Borg Modificada. O VO2 pico foi calculado indiretamente através da fórmula Peak VO2 max= 0.03 x distance (m)+3.98 no teste de caminhada.12
A capacidade funcional traduz o nível de aptidão física do indivíduo para realização das suas atividades
do cotidiano. O teste de caminhada de 6min é uma das
ferramentas propostas para avaliar a capacidade funcional do indivíduo, ainda no ambiente hospitalar. É um
Instrumento bem estratificado na literatura para diferentes intervenções clínicas, entre elas o pós-operatório de
cirurgia8. Dentro dessa perspectiva, o estudo tem como
objetivo verificar a distância percorrida, no teste de caminhada de 6min, por indivíduos submetidos a exercícios resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca.
O teste de caminhada de 6 minutos foi realizado
segundo as normas da ATS (American Thoracic Society)13, ano 2002, em local plano, com distância previamente demarcada a cada 3 metros, no momento da
admissão na enfermaria (distância inicial). A pressão
arterial, saturação de oxigênio (SpO2), frequência cardíaca, frequência respiratória e intensidade do esforço
foram medidas antes e depois do teste. Após a realização do TC 6min, os indivíduos descansaram durante
10 minutos em sedestração com pés apoiados e quadril e joelhos a 90°. No momento seguinte era aplicado
o programa de exercícios resistidos para MMII, com
uso de caneleiras. A predição da carga foi estabelecida
com o maior peso que eles conseguiram realizar uma
série de doze repetições, o que representa 70-80% da
carga máxima (Conforme a Figura 1 de predição de
carga)14, sem que haja compensação por outros grupos musculares. O protocolo diário consistiu portanto
de uma série de 12 repetições para três grupos musculares dos membros inferiores e com intervalo entre
as séries de dois minutos uma vez ao dia.
METODOLOGIA
Trata-se de um ensaio clínico de braço único em uma
população alvo, constituída de indivíduos que foram submetidos à cirurgia cardíaca, admitidos nas enfermarias
de um hospital filantrópico, referência em cirurgia cardíaca da cidade de Salvador, no período de janeiro a outubro de 2014. Foram incluídos pacientes submetidos à
cirurgia cardíaca (revascularização do miocárdio e troca
valvar), com liberação médica, idade≥18 anos e aqueles
que caminharam no pós-operatório. Excluídos aqueles
com instabilidade esternal e hemodinâmica (SpO2<90%,
PAS>200mmHg, PAD>105 mmHg)9, portadores de
aneurisma de aorta torácica ou abdominal, queixa de dor
precordial, dispneia, limitação motora, os que sofreram
reabordagem cirúrgica no mesmo internamento, aqueles
que não completaram a série de exercícios e ainda os
que não realizaram o segundo teste de caminhada.
Os dados foram colhidos pelos pesquisadores previamente treinados para as etapas do estudo. Os pacientes
permaneciam sentados, confortavelmente, durante cerca
de 10 minutos, período em que era explicado o protocolo
a ser seguido e realizada a coleta de dados sociodemo-
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Figura 1 - Predição de carga- Baechele, Tomas;
Westcott W. Treinamento de força para terceira idade. 2013. 2ª edição, p.39.
2014|47
Além do protocolo proposto pelo estudo, os indivíduos realizavam a fisioterapia convencional do hospital. Os exercícios eram aplicados de acordo com a
descrição a seguir:
do sexo masculino 7 (78%). A idade média foi de 50
anos (±19,40), 6 (67%) dos participantes são economicamente ativos, 5 (56%) residem na capital e 5 (56%)
convivem com esposo(a) ou companheiro(a), Tabela 1.
• Quadríceps: indivíduo em sedestração na cama,
com os membros inferiores pendentes e com 90 graus
de flexão de joelho coxo – femoral, solicitando a extensão do joelho de forma alternada.
Tabela 1 - Dados sociodemográficos de indivíduos
submetidos a exercícios resistidos no pós-operatório
de cirurgia cardíaca, Salvador-BA. 2014.
• Isquiotibiais: foi realizado em ortostase com apoio
manual, realizando a flexão de joelho unilateral até 90
graus.
• Abdutores: realizado em ortostase com apoio manual e abdução unilateral com ângulo de 45 graus.
Os participantes realizaram o programa de exercícios durante todo o período em que permaneciam na
enfermaria. No último dia, na alta hospitalar, foi aplicado novamente o TC 6min e monitoradas as variáveis
cardiocirculatórias como descrito na fase inicial (distância final).
A análise descritiva e analítica do banco de dados
foi realizada através do software Statistical Package for
Social Sciences (SPSS), versão 14.0 para Windows. As
variáveis categóricas apresentadas em termos de frequência absoluta, enquanto os dados numéricos, em
termos de média e desvio padrão (XD±DP). A significância estatística da diferença entre as médias das distâncias do teste de caminhada de 6min (antes do protocolo
de exercício resistido e na alta hospitalar) foi estabelecida pelo teste t de Student para amostras pareadas e a
comparação do Delta (distância final - distância inicial)
das mesmas variáveis entre os fatores de risco e dados
clínicos pelo teste t de Student para amostras independentes. A distribuição das variáveis numéricas avaliadas através do teste de Kolmogorov-Smirnov.
O estudo obteve aprovação pelo Comitê de Ética e
Pesquisa do Hospital Santa Izabel, através do protocolo de número 07/2010. Todos os indivíduos assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
RESULTADOS PRELIMINARES
Dos 14 participantes coletados, foram excluídos cinco, dois por não completarem a série de exercícios, um
por recusa, outro por complicação no pós-operatório
(AVC) e o último recebeu alta antes da realização do
segundo teste de caminhada. A amostra final foi composta por 9 (64,28%) participantes, predominantemente
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Moura, MA et al. Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca.Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 46-52.
HAS
4 (44,4)
<55
IAM
2 (22,2)
Complicação Pós-Operatório
DCV
1 (11,1)
Sim
72,59 ± 57,72
Tabagismo
1 (11,1)
Não
86,17 ± 43,73
Diabetes
1(11,1)
Tipo de cirurgia
RM
46,37 ± 23,77
Troca Valvar
5(55,6)
Troca Valvar
102,13 ± 44,15
Tipos de cirurgia
Média±DP
RM
4(44,4)
Idade (anos)
50,11±19,40
Variáveis clínicas
Média ±DP
Sexo
n(%)
Fração de ejeção
57,88±17,86
Masculino
7(77,8)
Tempo de CEC
82,78±24,76
Feminino
2(22,2)
Capital
5(55,6)
Interior
4(44,4)
Situação conjugal
Casados
5(55,6)
Solteiros
4(44,4)
Escolaridade
Superior
4(44,4)
Fundamental/ Médio
4(44,4)
Analfabeto
1(11,1)
Atividade Profissional
Ativo
6(66,7)
Inativo
3(33,3)
N= número de paciente; DP= desvio padrão.
Em relação aos fatores de risco, cinco (55,5%) apresentavam sobrepeso/obesidade, quatro (44,4%) eram sedentários e quatro (44,4%) hipertensos. Sobre os tipos de
cirurgia, cinco (55,6%), realizaram cirurgia de troca de válvula e quatro (44,4%) RM (Revascularização do Miocárdio). Todos os pacientes realizaram cirurgia com suporte
de circulação extracorpórea, com tempo médio de 82min.
E a média da fração de ejeção foi de 57%. Tabela 2.
Tabela 2 - Fatores de risco, tipo de cirurgia e variáveis clínicas de pacientes submetidos a exercícios resistidos no
pós-operatório de cirurgia cardíaca, Salvador-BA, 2014.
Fatores de risco
n (%)
Sobrepeso/Obesidade
5 (55,5)
Sedentarismo
4 (44,4)
2014|48
HAS=Hipertensão Arterial Sistêmica; IAM= Infarto Agudo do
Miocárdio; DCV= Doença Cardiovascular. DP: Desvio Padrão, n: número de pacientes, RM= Revascularização do
Miocárdio; CEC= Circulação Extracorpórea
As análises dos fatores de risco e dados clínicos associados revelaram variação divergente e significativa na
variação do delta da distância nos pacientes dislipidêmicos (23,77) em relação aos não dislipidêmicos (44,15)
(p=0,029), nos pacientes que realizaram cirurgia de troca
valvar (44,15) em relação aos que fizeram revascularização do miocárdio (23,77) (p=0,029) Tabela 3.
Tabela 3 - Associação dos fatores de risco e os dados
clínicos com a da distância percorrida (distância final
- distância inicial) de pacientes submetidos e exercícios resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Salvador-BA, 2014.
Variáveis
Distância
percorrida ± DP
P
Estrófico
75,09 ± 56,71
0,904
Sobrepeso/Obesidade
82,80 ± 46,37
IMC
Bebida Alcoólica
Sim
87,54 ± 60,90
Não
64,60 ± 11,46
0,686
0,029
Comorbidades
Variável Analisada
Residência
92,31 ± 48,76
0,487
Duas ou mais
47,72 ± 25,03
Não
101,05 ±45,28
0,074
HAS/
Sim
47,72 ± 25,03
Não
101,05 ± 45,28
0,074
Dislipidemia
Sim
46,37 ± 23,77
Não
102,13 ± 44,15
0,029
DP= Desvio Padrão; IMC= Índice de Massa Corpórea; RM=
Revascularização do Miocárdio; HAS= Hipertensão Arterial
Sistêmica.
O gráfico 1 ilustra a distância do teste de caminhada
de 6min em dois momentos: antes do protocolo de exercício resistido (293,64 m) e na alta hospitalar (370,99
m), com diferença demonstrando um aumento significativo (p=0,001). A medida indireta da média do VO2 pico
na distância inicial (primeiro TC 6min) foi de 11,70 e na
distância final (segundo TC6min) foi de 13,48.
Distância percorrida
Moura, MA et al. Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca.Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 46-52.
Atividade Física
Sedentário
86,46 ± 42,87
Ativo
70,06± 50,71
0,623
Fração de ejeção
≥55
73,54 ± 50,58
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0,626
Gráfico 1 - Distância da caminhada de 6min antes do
protocolo de exercício resistido (distância inicial) e na alta
hospitalar (distância final) de indivíduos no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Salvador-BA, 2014.
2014|49
Moura, MA et al. Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca.Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 46-52
DISCUSSÃO
Neste estudo observou-se que a capacidade funcional, expressa pela distância percorrida, em pacientes submetidos a sessões de exercício resistido, após
cirurgia cardíaca, apresentou um aumento no período
em que o paciente obteve alta da UTI em relação ao
momento da alta hospitalar. Essa distância, no entanto, foi maior naqueles indivíduos que fizeram cirurgia
de troca valvar, quando comparados àqueles que não
realizaram cirurgia de troca valvar. Os indivíduos que
não apresentavam dislipidemia também tiveram melhor desempenho em relação àqueles que apresentavam tal comorbidades.
Na comparação entre as médias da distância percorrida no teste de caminhada, aplicado no momento
da admissão ao programa de exercícios resistidos e
o teste realizado no momento da alta hospitalar, houve um aumento significativo. Este aumento pode ser
explicado pelas adaptações do paciente ao ambiente
hospitalar e às suas condições clínicas no período
pós-operatório, além dos benefícios da realização de
exercícios ativos livres e caminhada como parte do
programa convencional de fisioterapia do hospital.
Apesar de o tempo de exercícios resistidos ter sido
curto para esta população, a literatura mostra que,
desde as fases iniciais do treinamento com resistência, observa-se benefícios como adaptações intra e
intermuscular para ajustes do ato motor.15
A força muscular é fundamental para a manutenção
de capacidade funcional satisfatória. Pacientes que
apresentam eventos cardíacos mostram limitação da
funcionalidade, associada à redução de massa e força
muscular16. Santos, 2014, realizou estudo para avaliar
a força de indivíduos submetidos à cirurgia cardíaca e
demonstrou que ocorre um declínio de força muscular
no período logo após a intervenção cirúrgica. Entretanto, uma melhora de força subsequente é observada
ainda no período de internamento, sem retorno à força inicial, que não é recuperada totalmente, ainda no
ambiente hospitalar.17 Os mecanismos para ganho de
força estão intimamente relacionados às adaptações
neuromusculares que ocorrem nas fases iniciais do
treinamento, aumentando o número de unidades motoras recrutadas e aumento da frequência de disparo
das mesmas.15
O sistema de transporte de oxigênio para os tecidos
sofre uma adaptação com o treinamento físico, sendo
o VO2 máx a medida que avalia a capacidade aeróbiREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
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ca ou funcional do indivíduo16. O teste de caminhada
de 6 minutos possui uma forte correlação com o pico
de VO2 12,sendo este utilizado para medida indireta do
consumo de oxigênio. A medida do consumo máximo
de oxigênio, nesse estudo, revela um perfil de pacientes
com média de VO2 inicial que se enquadra na medida
de pacientes de médio risco para morte cardiovascular,
denominada área cinzenta,onde o VO2 se encontra entre 10ml/kg/min e 18ml/kg/min17. Apesar de terem obtido uma medida de pico de VO2 melhor no segundo TC
6min, este valor permaneceu no risco médio, revelando
capacidade funcional comprometida nessa população.
Os resultados do presente estudo demonstram que
houve uma diferença na distância percorrida entre os
tipos de cirurgia. Aqueles que realizaram cirurgia de
troca valvar obtiveram melhor desempenho no teste de
caminhada, quando comparados àqueles que realizaram cirurgia de revascularização do miocárdio e este
achado corrobora com os resultados encontrados por
Oliveira em 201418. A população submetida à cirurgia
de troca valvar nesse estudo é composta por indivíduos jovens, que apresentaram doença de válvula proveniente de patologia reumática e endocardite, além de
fração de ejeção acima de 55%.
Acredita-se que essas características influenciaram
no desempenho no teste de caminhada, uma vez que
a literatura evidencia que indivíduos jovens, com idade
entre 20 e 40 anos, demonstram uma maior distância
percorrida no TC 6min19. Além disso, as valvulopatias
de etiologia reumática permanecem prevalentes, acometendo indivíduos jovens em fase reprodutiva e laboralmente ativos, pressupõe-se que devido a essas
características apresentem boa capacidade funcional,
revelada pela distância no TC 6min. 20,21
Foi possível observar também que pacientes que
não apresentavam dislipidemia tiveram distâncias
médias maiores quando comparados àqueles que
possuem esta comorbidade. A dislipidemia é um importante fator de risco para Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP), que ainda é subdiagnosticada e
subtratada22, onde muitos indivíduos permanecem assintomáticos e sem o diagnóstico23. Pressupõe-se que
a população desse estudo apresente tais características e mesmo sem repercussões clínicas apresentem
alterações decorrentes desta patologia. A DAOP gera
um processo isquêmico crônico, resultado da deposição de placas ateroscleróticas, que diminui o aporte de
2014|50
Moura, MA et al. Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca.Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 46-52.
oxigênio aos músculos distais.
A diminuição na perfusão muscular ocasiona alterações na estrutura, levando a uma isquemia de reperfusão, inflamação sistêmica, liberação de radicais
livres, atrofia e desnervação de fibras musculares, alteração do metabolismo muscular, redução de força e
resistência muscular, com impacto na capacidade de
locomoção e consequentemente na distância percorrida.24 É possível fazer uma inferência, portanto, que
o exercício pode ter contribuído para uma distância
percorrida maior no grupo não dislipidêmico, pois sua
perfusão periférica proporcionou ganhos na adaptação
neuromuscular mais acentuados do que no grupo dislipidêmico.
Esse estudo teve como limitações a ausência de
um grupo controle, porém podem surgir a construção
de novos projetos de pesquisa com a comparação de
um grupo controle para fornecer informações adicionais referentes ao impacto do exercício na distância
percorrida. No teste de caminhada, as limitações se
referem à utilização de um corredor de 15 metros, devido à dificuldade de se encontrar um corredor com
essa metragem, que se encaixe nos padrões estabelecidos pela ATS e a não realização de um pré-teste
para efeito aprendizado. Por fim, a implementação
dos exercícios resistidos ainda no ambiente hospitalar
demonstrou-se possível, porém a elevada recusa dos
pacientes, falta de conhecimento dos profissionais de
saúde a respeito dos exercícios resistidos e o pouco
tempo de internamento levaram à redução significativa
no quantitativo da mostra.
CONCLUSÃO
Houve um aumento na distância percorrida de pacientes submetidos a exercícios resistidos no pós-operatório
de cirurgia cardíaca. Devido ao número de pacientes observados até o momento da construção desse estudo,
é possível fazer uma inferência da capacidade funcional
sobre alguns subgrupos que apresentaram distância percorrida maior, sendo eles aqueles que foram submetidos
à cirurgia de troca valvar e os não dislipidêmicos.
REFERÊNCIAS
1. Avezum Á, Piegas LS, Pereira JCR, Paulo S. Fatores de Risco Associados com Infarto Agudo do Miocárdio na Região Metropolitana de São Paulo . Uma
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
Região Desenvolvida em um País em Desenvolvimento Risk Factors Associated With Acute Myocardial Infarction in the São Paulo Metropolitan Region . A Devel. Arq Bras Cardiol. 2005;84(3):206–13.
2. Zanini M, Loureiro A, Barbisan JN. Alterações na
capacidade funcional de pacientes após dois anos da
cirurgia de revascularização do miocárdio Changes in
functional capacity of patients two years after coronary
artery bypass grafting surgery. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2010;25(2):224–8.
3. Arcêncio L, Souza MD De, Bortolin BS, Martinez
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pós-operatórios em cirurgia cardiotorácica: uma abordagem fisioterapêutica. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc.
2008; 23(3): 400–10.
4. Santos KMS, Neto MLC, Carvalho VO, Santana
Filho VJ, Silva Junior WM, Cerqueira TCF, et al. Evaluation of peripheral muscle strength of patients undergoing elective cardiac surgery: a longitudinal study.
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5. Macedo RM, Faria-Neto JR, Costantini CO, Casali D,Muller AP, Costantini CR et al. Phase I of cardiac
rehabilitation. A new challenge for evidence based physiotherapy. World Journal of Cardiology. 2011 July 26;
3: 248–255.
6. Maria C, Costa C, Célia A, Almeida C De, Maria K,
Baqueiro M, et al. Resposta Circulatória à Caminhada
de 50 m na Unidade Coronariana, na Síndrome Coronariana Aguda. Soc. Bras. Cardiol. 2009;92(2):135–42.
7. Pastre CM, Carlos L, Vanderlei M. Exercício resistido no cardiopata : revisão sistemática. Fisioter
Mov. 2012;25(1):195–205.
8. Feo S De, Tramarin R, Lorusso R, Faggiano P.
Six-minute walking test after cardiac surgery: instructions for an appropriate use. Eur J Cardiovasc Prev
Rehabil. 2009;16(2):144–9.
9. I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular - Departamento de Ergometria e Reabilitação
Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 1997.
10. Original A. Relação do teste de caminhada
pós-operatório e função pulmonar com o tempo de
internação da cirurgia cardíaca. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc. 2009; 24(4): 478–84
11. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial.
2014|51
PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
Moura, MA et al. Capacidade funcional de pacientes submetidos a exercícios
resistidos no pós-operatório de cirurgia cardíaca.Rev. Saúde HSI. 2014; 1 DEZ (4): 46-52.
Arq. Bras. Cardiol. 2007 Sep; 89(3): e 24-e79
12. Cahalin L.P., Mathier M.A., Semigran M.J., Dec
W., DiSalvo T.G. The six-minute walk test predicts peak
oxygen uptake and survival in patients with advanced
heart failure. Chest 1996;110:325-332.
13. Issues S, Test MW, Equipment R, Preparation
P. ATS Statement : Guidelines for the Six-Minute Walk
Test. Am Thorac Soc. 2002;166:111–7.
14. Baechle T, W.W. Treinamento de Força para terceira idade. 2ª ed. 2013; 39.
15. Maior AS, Brasileiro I, Reabilitação M De. A contribuição dos fatores neurais em fases iniciais do treinamento de força muscular : uma revisão bibliográfica.
Motriz. 2003;9(3):161–8.
rações do Brasil. Arq. Bras. Cardiol. 2008 Dec; 91(6):
402-414.
24. Wolosker N, Mendes R, Dias R. Exercícios resistidos terapêuticos para indivíduos com doença arterial obstrutiva periférica: evidências para a prescrição.
J Vasc Bras. 2007;6(3):247–57.
1- Serviço de Fisioterapia do Hospital Santa Izabel
Endereço para correspondência:
[email protected]
1. OBJETIVO
Atualizar padronização para antibioticoprofilaxia cirúrgica no HSI.
3. TERMOS E DEFINIÇÕES
ISC - Infecção de Sítio Cirúrgico
MRSA - Staphylococcus aureus resistente à oxacilina
MSSA - Staphylococcus aureus sensível à oxacilina
18. Oliveira GU, Carvalho VO, Cacau LPA, et al.
Determinantsofdistancewalkedduringthesix-minute
walktest in patientsundergoingcardiacsugeryat hospital
discharge.JournalofCardiothoracicSugery. 2014, 9:95
Uso profilático de antibiótico - quando se deseja prevenir infecção por um agente conhecido ou fortemente
suspeito, em um paciente que se encontre em risco de contraí-la. Na maioria das situações deve ser dose única,
em poucas situações devem ser der curta duração (<24 h) ou se estender por até 24-48h.
19. Pires SR, OLiveira AC, et al. Teste de caminhada
de seis minutos em diferentes faixas etárias e índices de
massa corporal. Rev Bras Fisioter. 2007;11(2):147–51
Uso curativo de antibiótico – quando o antimicrobiano for prescrito para uma situação na qual o processo
infeccioso estiver estabelecido. Pode ser empírico ou baseado em antibiograma, de curta ou de longa duração.
Sempre que possível, o tratamento deve ser ajustado com as culturas e o período deve ser o mais curto possível,
para reduzir o surgimento de resistência.
20. Grinberg M, Sampaio RO, Spina GS, Tarasoutchi F. Validação de um Novo Escore de Risco Cirúrgico para Cirurgia Valvar: VMCP. Soc Bras Cardiol.
2009;92(4):320–5.
4. DESCRIÇÃO DO PROTOCOLO
Objetivos
21. Fernandes AMS, Bitencourt LS, Lessa IN, Viana
A, Pereira F, Bastos G, et al. Impact of socio-economic
profile on the prosthesis type choice used on heart surgery. Rev Bras Cir Cardiovasc [Internet]. 2012
• Prevenir a ISC.
• Reduzir a duração da internação e os custos.
• Ação contra os agentes patogênicos mais prováveis a contaminar o local da cirurgia.
22. Gabriela A, Jesus M De, Machado ÉG, Lopes
TDS, Gentile PC, Vieira AC, et al. Prevalência de Alterações do Índice Tornozelo-Braço em Indivíduos Portadores Assintomáticos de Doença Arterial Obstrutiva
Periférica. Rev. Bras. Cardiol. 2012; 25 (2):87–93.
PRINCÍPIOS GERAIS DA ANTIBIOTICOPROFILAXIA
a) Indicação
Em procedimentos cirúrgicos que tem um risco de alta taxa de infecção (isto é, cirurgias potencialmente contaminadas ou contaminadas) e em certos procedimentos considerados limpos (por exemplo, implantes protéticos)
onde risco de infecção é pouco provável, mas se ocorrer será grave.
23. Makdisse M, Borges JL, Lins GL, Marques R,
Neto N, Carlos A, et al Prevalência e fatores de risco
associados à doença arterial periférica no projeto co-
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As infecções do sítio cirúrgico (ISC) são as principais patologias que acometem os pacientes dentro do contexto cirúrgico e a antibioticoprofilaxia cirúrgica exerce papel de destaque para redução das taxas de ISC dentro
do arsenal de medidas. A antibioticoprofilaxia adequada é fundamental para garantir um procedimento cirúrgico
seguro, uma vez que previne a infecção, reduzindo a carga bacteriana no campo operatório. No entanto, sua
eficácia é restrita e deste modo não permite negligência sobre as demais medidas de prevenção de ISC . A última padronização internacional era de 1996. Com o surgimento de novo guia em 2013, é necessário reavaliar a
padronização e atualizá-la.
Os colaboradores responsáveis pela execução da prática desse protocolo são os médicos, farmacêuticos,
enfermeiros e técnicos de enfermagem.
17. Rocha RM, Santo EPE, Gouveia EP, Bittencourt
MI, Dowsley R, Meirelles LR, et al. Correlação entre
o teste de caminhada de 6 minutos e as variáveis do
teste ergométrico em pacientes com insuficiência cardíaca: estudo piloto. Rev SOCERJ. 2006;19(6):482-6
SANTA IZABEL
INTRODUÇÃO
2. APLICAÇÃO
16. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq. Bras.
Cardiol. 2005 May; 84( 5 ): 431-440.
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
Antibioticoprofilaxia cirúrgica
2014|52
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b) Escolha
Gentamicina
Escolher um antimicrobiano correlacionado com a microbiota provável a ser encontrada no sítio de intervenção
e que poderá ocasionar infecção pós-operatória. A escolha também deverá considerar o perfil de sensibilidade
bacteriológica identificado no hospital. O antimicrobiano deve ter apresentação parenteral, mínima toxicidade e
custo, ser fraco indutor de resistência, ter boa farmacocinética.
c) Tempo
O momento da infusão (início) do antimicrobiano profilático é fundamental. A maioria dos agentes antimicrobianos deve ocorrer dentro de 60 minutos antes do procedimento cirúrgico, para que haja níveis tissulares adequados dos mesmos no momento do procedimento. Alguns agentes como Vancomicina e Fluoroquinolonas devem
sem administrados com intervalo maior de 60 a 120 minutos antes do procedimento, devido a características
destas drogas.
d) Dose
A meta primordial da antibioticoprofilaxia é atingir a concentração da droga no sangue e tecidos superior à
concentração inibitória mínima dos agentes mais frequentemente causadores de ISC, durante todo o tempo cirúrgico, em suma, administrar dose efetiva antes da incisão cirúrgica. Importante ajustar a dose conforme peso
(ex: pacientes obesos). A dose também deverá ser repetida no intraoperatório, conforme o tempo cirúrgico, droga
utilizada e quando excede duas meias-vidas da droga, principalmente em pacientes com função renal normal.
Nos procedimentos onde houver sangramento importante (>1500ml), a dose deve ser repetida, ou em situações
onde há redução da meia-vida, como em pacientes com queimaduras extensas.
Em anexo tabela c/ indicações e doses de antimicrobianos (tabela 1).
A dose de gentamicina é baseada no peso atual do paciente. Nos pacientes “com peso” 20% acima do peso
ideal deve-se calcular a dose pelo peso ajustado =peso ideal + 0,4X (peso atual - peso ideal).
Procedimento Cirúrgico e Prevenção Endocardite Infecciosa (EI)
Embora a indicação de profilaxia antimicrobiana para EI antes de procedimentos que envolvam o trato gastrointestinal ou geniturinário tenha sido abolida das sugestões da American Heart Association, a Sociedade Brasileira de Cardiologia tem mantido a profilaxia para tais procedimentos.
Paciente em tratamento de infecção ativa
A infecção idealmente deve ser resolvida para que procedimento cirúrgico seja realizado. Caso não seja possível, esta deve estar controlada e o antimicrobiano deve ser mantido. Nessas situações, o SCIH recomenda a
avaliação do paciente pela equipe de infectologia ou pelo SCIH, para garantir maior segurança da assistência.
Deve ser avaliado se esquema terapêutico cobre os germes considerados para profilaxia cirúrgica.
Caso o esquema terapêutico seja apropriado para a profilaxia cirúrgica, considerar droga em uso:
• Vancomicina - realizar dose extra se houver passado 8 horas da última dose e em menos de 8 horas fizer ½ da dose.
• Outros antimicrobianos- deve ser feita somente uma dose extra do antimicrobiano utilizado na terapia 60min
antes da incisão cirúrgica.
Caso o esquema terapêutico não cubra os germes considerados para profilaxia cirúrgica, então deve ser feito
o esquema padrão recomendado para a cirurgia específica.
Alergia a B-lactâmicos
e) Duração
Usar por curto período (em geral, dose única). A nova recomendação é de realizar somente dose durante
intraoperatório e no máximo nas 24 horas. Duração prolongada leva à pressão sobre a flora, não reduz risco de
infecção associado ao procedimento e aumenta o risco de surgimento de germe multirresistente. Esta duração
não deve ser estendida mesmo na presença de drenos ou catéteres. Nas cirurgias cardíacas tem se mantido a
profilaxia por 48 horas, sem evidências fortes, baseado na prática clínica.
SITUAÇÕES ESPECIAIS
Uso de Vancomicina
Não deve ser usada na rotina com profilaxia. Devendo ser considerado uso conforme orientação do SCIH em
situações de surto de mediastinite por MRSA ou S. coagulase negativo, resistente à oxacilina. Deve ser considerado em paciente colonizado por MRSA ou com fatores de risco para MRSA (hospitalização recente, pacientes
em hemodiálise). A vancomicina é menos efetiva do que a cefazolina na profilaxia de Staphylococcus sensíveis
à oxacilina, por isso não deve ser usada de forma sistemática, e quando há risco de MRSA e MSSA devem ser
utilizadas a vancomicina + cefazolina. Outro inconveniente da vancomicina é que ela, quando utilizada, deve ser
iniciada a administração 120 minutos antes da incisão cirúrgica em 60 minutos (para evitar eventos adversos e
garantir nível tecidual) e não necessita de dose extra, pois tem meia-vida prolongada. Profilaxias para pacientes
colonizados por VRE ou outros germes multirresistentes não estão bem definidas, sendo necessária a avaliação
do SCIH em cada caso.
Uso de Fluoroquinolonas
As fluoroquinolonas, quando utilizadas, devem ter o início da infusão 120 minutos antes da incisão cirúrgica e
a infusão deve ser de 60 minutos.
Paciente com história de reação alérgica à penicilina que não é mediada por IGE (como anafilaxia, urticária
e broncoespasmo) ou dermatite esfoliativa (Síndrome Steven-Johnson, necrose epidérmica tóxica) pode utilizar
cefalosporinas ou carbapenêmicos. Alternativas estão nas tabelas anexas.
Descolonização
O paciente sabidamente colonizado por MRSA e que vai ser submetido à cirurgia cardíaca, ou imunodepressão severa, ou colocação de prótese, ou cirurgia ortopédica, ou neurocirurgia com colocação de prótese, deve
ser descolonizado com mupirocina 2% 3X ao dia, em vestíbulos nasais por 5 dias e banho com clorexidina 2%
1x ao dia, por 5 dias, devido ao risco de indução de resistência à mupirocina, da falta de evidência em outros
procedimentos à descolonização sistemática não orientada no momento no HSI.
Garroteamento
Em cirurgias em que é necessária a realização de garroteamento este só pode ser realizado após infusão
completa do antimicrobiano.
Pacientes com disfunção renal e hepática
Não há consenso para pacientes com disfunção renal ou hepática, contudo a dose de antimicrobiano profilática em geral não precisa ser ajustada, pois normalmente está indicada apenas uma única dose em até 60min
antes da incisão.
Profilaxia para endocardite infecciosa
Há uma discordância entre as recomendações nacionais (com indicação mais ampla) e internacionais (com
indicação mais restrita).
No HSI utiliza-se a norma nacional, sendo indicada a profilaxia:
• Todos os pacientes portadores de valvopatias anatomicamente significativas e também os portadores de val-
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Antibioticoprofilaxia cirúrgica-­‐HSI Tabela 1 - Deve ser iniciada em até 1 hora antes da incisão (administrar o antimicrobiano antes da indução anes-
vopatias que não de alto risco, possivelmente, também se beneficiam da profilaxia antes procedimentos potencialmente contaminados ou com manipulação de mucosa nos tratos gastrointestinal e geniturinário (vide final da
Tabela 1).
• No caso dos procedimentos que envolvam o trato respiratório, o maior benefício de profilaxia também será
para pacientes de alto risco para endocardite infecciosa (paciente com prótese valvar, valvopatia corrigida com
material protético, antecedente de endocardite infecciosa, valvopatia adquirida em paciente transplantado cardíaco, cardiopatia congênita cianogênica não corrigida, cardiopatia congênita cianogênica corrigida que evolui
com lesão residual, cardiopatia congênita corrigida com material protético com incisão cirúrgica da mucosa, ou
amigdalectomia, ou broncoscopia com aparelho rígido(vide final da Tabela 1).
Não está indicada profilaxia:
• Em casos de comunicação interatrial (CIA) isolada; comunicação interventricular ou persistência do canal arterial
corrigida e sem fluxo residual; cirurgia de revascularização miocárdica; prolapso de valva mitral sem regurgitação;
após colocação de stents; sopros cardíacos inocentes; portadores de marca-passo ou CDI; história de doença
de Kawasaki ou febre reumática sem disfunção valvar, que serão submetidos a procedimentos odontológicos,
esofagianos, trato respiratório, geniturinário ou gastrointestinal.
tésica),
excetoser
quando
for utilizada
e/ouincisão
ciprofloxacina,
que devem
ter infusão iniciada
120min
antes
Tabela
1. Deve
iniciada
em até 1vancomicina
hora antes da
(administrar
o antimicrobiano
antes da
indução
anestésica)
exceto
quando (tempo
for utilizada
Vancomicina
do início do
procedimento
de infusão:
60min). e/ou ciprofloxacina que devem ter infusão iniciada
120min antes do início do procedimento (tempo de infusão 60min)
CIRURGIA CABEÇA E PESCOÇO
ATB ESCOLHA
Cirurgia limpa sem incisão de mucosa
Cirurgia limpa com incisão de mucosaou com colocação
de prótese (exceto tubo de timpanostomia) ou Cirurgia
oncológica limpa
Não indicado
Cefazolina
24 h
Cirurgia oncológica infectada
Clindamicina +
Ceftriaxona ou
Cefepime
Clindamicina +
Ciprofloxina
10 dias tratamento
CIRURGIA CARDÍACA
ATB ESCOLHA
ALTERNATIVA
DURAÇÃO
Cirurgia Cardíaca, Transplante Cardíaco (fazer dose extra
após CEC)
Cefuroxima
Clindamicina
48 horas
Instalação de marcapasso
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
Apendicectomia (não complicada grau 1 e 2)
ATB ESCOLHA
Cefazolina +
Metronidazol
Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Izabel.
Apendicectomia (complicada, grau 3 e 4)
6. REFERÊNCIAS
Tabela 02
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Cirurgia Bariátrica
Gastrostomia
Colangio-pancreatografia endoscópica (CPRE)
Colecistectomia
Alto risco: paciente >60
anos,inflamação aguda,
colédoco litíase, DM,
imunodepressão,ASA≥3,
gravidez, colangiografia
no intraoperatório
56
Ceftriaxona +
Metronidazol
Esofâgica
SANTA IZABEL
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Ampicilina/Subactam
ou
Clindamicina ou
Metronidazol +
Ciprofloxacina ou
Gentamicina ou
ceftriaxona
Clindamicina ou
Metronidazol +
Ciprofloxacina
Clindamicina
Cefazolina
Clindamicina
DURAÇÃO
Intraoperatório
Tratamento por 7 dias
Intraoperatório
Dose única
Intraoperatório
Não indicado
Cefuroxima +
Metronidazol
Esplenectomia (no caso esplenectomia fazer vacina
anti-pneumocóccica2 semanas antes do procedimento, se
não fazer antes ou logo após alta)
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
ALTERNATIVA
Cefazolina
Cipro 1g vo1 hora
antes do
procedimento
PediatriaCeftriaxona
Baixo risco
Gastroduodenal (Procedimento envolvendo lúmen. ou
não evolvendo lúmen em pacientes de alto risco como em
uso anti-H2, inibidor bomba, gastroparesia, CA, obesidade
mórbida, perfuração, ASA≥3)
Gastroduodenopancreatectomia
Tabela 01
Intra operatório
Clindamicina
Tempo de Infusão - Vide Tabela 2
7. ANEXOS
Clindamicina
Cefazolina
+metronidazol
CIRURGIA GERAL
• Dale W. Bratzler.Clinical practice guidelines for antimicrobial prophylaxis in surgery Am J Health-Syst Pharm—
Vol 70 Feb 1, 2013.
• HC-FMUSP.Guia de utilização de anti-infecciosos e recomendações para prevenção de infecções hospitalares.
2012-2014.
• ANVISA. Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Série Segurança do Paciente
e Qualidade em Serviços de Saúde. 2013.
• ANVISA. Cirurgias Seguras Salvam Vidas Manual. Aliança Mundial para Segurança do Paciente.Segundo Desafio Global para a Segurança do Paciente.2008.
• UPTODATE.Consultado em Agosto a Outubro de 2013.
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• Douglas R. O.Diagnosis and Management of Prosthetic Joint Infection: Clinical Pratice Guidelines by the Infectious Diseases Society of America.CID.2013:56:1-9.
• SBC.II Diretriz de Avaliação Perioperatória da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq. Bras. Cardiol. 2011;
96(3 supl.1): 1-68.
DURAÇÃO
Cirurgia oncológica potencialmente contaminada
• Em procedimentos em que não envolvam risco de bacteremia.
5. EQUIPE DE ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO
ALTERNATIVA
Ampicilina+ Sulbactam ou
Clindamicina ou
Metronidazol +
Gentamicina ou
Ciprofloxacina
Intraoperatório
Não indicado
Cefazolina
Clindamicina +
Gentamicina ou
Ciprofloxacina
Intraoperatório
57
Gatifloxacin
01 gota colírio
60,45,30 e 15 min
antes da cirurgia
Qualquer tipo
CIRURGIA ORTOPÉDICA
Artroplastia primária
Antibioticoprofilaxia cirúrgica-­‐HSI 01 gota ao final
da cirurgia
ATB ESCOLHA
Cefuroxima
Fratura exposta tipo I
Cefazolina
Clindamicina +
Gentamicina
Fratura exposta tipo II e III
Procedimento limpo, eletivo, envolvendo mão, joelho e
pé, sem colocação de prótese ou órtese ou corpo
estranho.
Hepatectomia
Não indicado
Procedimento espinhal com ou sem instrumentação,
Osteossíntese de fratura fechada
Baixo risco
Cefazolina
Herniorrafia
Clindamicina
Intraoperatório
•
•
•
•
•
•
•
Cistocele
Histerectomia abdominal/vaginal
Miomectomia
Ooforectomia
Pahisterectomia
Retocele
Uretrocistopexia
ATB ESCOLHA
DURAÇÃO
Ampicilina+ Sulbactam ou
Clindamicina ou
Metronidazol +
Gentamicina ou
Ciprofloxacina
Cefazolina
Histerosalpingografia(com história de
Doença Inflamatória Pélvica- DIP ou
procedimento mostra dilatação tuba
de falópio.
•
Cromotubação
Biópsia endometrial
Histeroscopia
Histerosalpingografia (sem DIP prévia)
Inserção DIU
ALTERNATIVA
Intraoperatório
•
•
•
•
•
CIRUGIA DE MAMA
•
•
•
•
Nodulectomia
Quadrantectomia
Mastectomia
Cirurgia estética c/ protése
CIRURGIA OFTALMOLÓGICA
Qualquer tipo
CIRURGIA ORTOPÉDICA
Artroplastia primária
Fratura exposta tipo I
Fratura exposta tipo II e III
Doxicilina 100mg vo 12/12 horas por 5 dias
Não indicado
ATB ESCOLHA
Cefazolina
ATB ESCOLHA
Gatifloxacin
01 gota colírio
60,45,30 e 15 min
antes da cirurgia
ATB ESCOLHA
Cefuroxima
Cefazolina
Clindamicina +
Gentamicina
Procedimento limpo, eletivo, envolvendo mão, joelho e
pé, sem colocação de prótese ou órtese ou corpo
estranho.
Procedimento espinhal com ou sem instrumentação,
Osteossíntese de fratura fechada
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
Baixo risco
DURAÇÃO
Clindamicina
INTERVALO
INTRA
POS
01 gota ao final
da cirurgia
ALTERNATIVA
Clindamicina
Clindamicina +
Gentamicina
Clindamicina +
Ceftriaxone (>60 anos ou
choque ou mioglobinúria)
Intraoperatório
DURAÇÃO
01 gota colírio
quinolona4 x/ dia, por
01 semana no pós
operatório
DURAÇÃO
24 horas
2 semanas
2 semanas
Cefazolina
Cefuroxima
Procedimento espinhal
com ou sem
instrumentação,
Osteossíntese de fratura
fechada
Clindamicina
24 horas
58
5 dias, reavaliação
após resultado de
DURAÇÃO
24 horas
2 semanas
Clindamicina +
Ceftriaxone (>60 anos ou
choque ou mioglobinúria)
2 semanas
Procedimento espinhal
com ou sem
instrumentação,
Osteossíntese de fratura
fechada
Cefazolina
Clindamicina
24 horas
5 dias, reavaliação
após resultado de
culturas e aspecto
intra-operatório (se
resultados negativos
antes suspender atb,
sutura asséptica)
Antibioticoprofilaxia cirúrgica-­‐HSI Revisão de
Artroplastia
alto risco( pela história,
PCR, VHS iniciar
tratamento após coleta
das culturas no intraoperatório)
<1ano
>1 ano
•
•
•
•
Timpanomastoidectomia
Mastoidectomia
Septoplastia / rinoplastia (realizar quando
houver tampão > 48 h)
Hemilaringectomia
Laringectomia total
Tireoplastias/cirurgias de arcabouço laríngeo
Submandibulectomia /parotidectomia
•
•
•
•
Ressecção de Tumor de ângulo ponto cerebelar
Descompressão de saco endolinfático
Neurectomia vestibular
Implante coclear
•
•
•
Cirurgias endoscópicas de seios
paranasais(sinusites crônicas, poliposes nasais,
papilomas nasais)
Ressecção externa de tumores naso sinusais
Fechamento de fístulas liquóricas
•
•
•
•
Microcirurgias de laringe(pólipos,cistos,nódulos)
Ressecção de tumores glômicos
Ligadura de artéria esfenopalatina
Amigdalectomia
•
Tamponamento nasal com previsão de duração
>48 horas
•
•
•
CIRURGIA PLÁSTICA
Estéticas: abdominoplastia, blefaroplastia,
dermolipectomia, lipoaspiração, mamoplastia redutora,
otoplastia, ritidoplastia
Estética com prótese: mamoplastia c/ colocação de
prótese.
Reparadora: cranifacial, microcirurgia, reconstrução de
mama
Cirurgia de mão (bridas, sindactilia)
CIRÚRGIAS POR VÍDEO
Vancomicina
Cefepime
Eletiva (cólon e íleo)
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
Urgência (cólon e íleo)
Vancomicina
+
Piperacilina/Tazobactam
Clindamicina+
Gentamicina
ATB ESCOLHA
Cefazolina
Ceftriaxona
Cefuroxima
ALTERNATIVA
DURAÇÃO
Clindamicina
Intraoperatório
Clindamicina +
Ciprofloxacinaou
Gentamicina
Intraoperatório
Clindamicina
Intraoperatório
Não indicado
Amoxacilina
500mg +
clavulanato 125mg
vo de 8/8 horas
ATB ESCOLHA
OPCIONAL
Cefazolina
Clindamicina 600mg vo de
8/8 horas
Enquanto
durar
tamponamento
ALTERNATIVA
Intraoperatório
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
OPCIONAL
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
ATB ESCOLHA
o
DURAÇÃO
Clindamicina
ALTERNATIVA
DURAÇÃO
Indicação semelhante a cirurgia aberta
ATB ESCOLHA
Cefazolina +
Metronidazol
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
+
Cefuroxima
Procedimentos:Gastrointestinal, Ginecológico,
Ortopêdico,Torácico
CIRURGIA PROCTOLOGICA
Não indicado
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
ALTERNATIVA
ALTERNATIVA
Clindamicina
Clindamicina +
Gentamicina
Não indicado
Cefuroxima
CIRURGIA OTORRINOLARINGOLÓGICA
CIRURGIA GINECOLÓGICA
01 gota colírio
quinolona4 x/ dia, por
01 semana no pós
operatório
Ceftriaxona +
Metronidazol
ALTERNATIVA
Ampicilina+ Sulbactam
ou
Clindamicina ou
Metronidazol +
Gentamicina ou
Ciprofloxacina
Clindamicina ou
Metronidazol +
DURAÇÃO
Intraoperatório
59
Tratamento por 7 dias
dermolipectomia, lipoaspiração, mamoplastia redutora,
otoplastia, ritidoplastia
Estética com prótese: mamoplastia c/ colocação de
prótese.
Reparadora: cranifacial, microcirurgia, reconstrução de
mama
Cirurgia de mão (bridas, sindactilia)
CIRÚRGIAS POR VÍDEO
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
OPCIONAL
Cefazolina
ATB ESCOLHA
Procedimentos:Gastrointestinal, Ginecológico,
Ortopêdico,Torácico
CIRURGIA PROCTOLOGICA
Eletiva (cólon e íleo)
Urgência (cólon e íleo)
CIRURGIA TORÁCICA
Intraoperatório
ALTERNATIVA
DURAÇÃO
Orquiectomia, postatectomia, vasectomia,
varicocelectomia
Indicação semelhante a cirurgia aberta
ATB ESCOLHA
Cefazolina +
Metronidazol
ALTERNATIVA
Ampicilina+ Sulbactam
ou
Clindamicina ou
Metronidazol +
Gentamicina ou
Ciprofloxacina
Tratamento por 7 dias
ATB ESCOLHA
ALTERNATIVA
DURAÇÃO
Biópsia de gânglio, biópsia pleural,
biópsia de pulmão ao céu aberto, biópsia de tumores de
parede, biópsia transtorácica, broncoscopia rígida e
flexível, costéctomia segmentar, drenagem pleural,
laringoscopia de suspensão, mediastinoscopia,
mediastinotomia, pleuroscopia diagnóstica, toracocentese
diagnóstica, traqueostomia.
CIRURGIA UROLÓGICA
Paciente sem uso prévio de quinolona
nos últimos 3meses
Paciente sem uso prévio de quinolona
nos últimos 3meses e transplantados
Braquiterapia prostática transperitoneal
Cistoscopia e Pielografia
retrógada simples ,
Estudos urodinâmicos
Cirurgia Endourológica ambulatorial(colocação ou troca de
stent, ureteroscopia diagnóstica ou terapêutica)
Orquiectomia, postatectomia, vasectomia,
varicocelectomia
Cirurgias com manipulação de intestino
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
Cirurgias com manipulação de intestino em pacientes com
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
Sulfametoxazol +
Trimetropim 800mg+160mg
12 horas e 2 horas.
Cefazolina
Clindamicina
Cirurgias com manipulação de intestino em pacientes com
alto risco para endocardite (prótese valvar, prótese
vascular menos 1 ano, endocardite prévia, cardiopatia
complexa cianótica congênita)
Ampilicina +
Gentamicina
Vancomicina
+Gentamicina
24 horas
Litotripsia extracorpórea (LECO) em paciente com cálculo
infectado,
LECO pós NPLC,portadores de prótese valvar cardíaca,
manipulação de trato urinário simultâneo ao LECO, DM,
pacientes com >65 anos, hepatopatas crônicos,
transplantados, HIV/AIDS
Ampicilina 2 g
vo +
Gentamicina IM
ou IV
Clindamicina + Gentamicina
400mg12/12 horas
Cefazolina
Cefuroxima +
Metronidazol
Limpa
Infectada (tratamento)
Prótese penianas, Esfincter artificial
Prostatectomia aberta ou ressecção transuretral de
próstata e bexiga
Ureteroscopia
CIRURGIA VASCULAR
Gangrena seca
Ciprofloxacina
500mg VO(se
ATB recente
orientar
antimicrobiano
por cultura ou
usar SMX/TMP)
Urocultura
prévia positiva:
Seguir
antibiograma,ini
ciar 7 dias antes
do procedimento
e manter até
retirada de
nefrostomia
Não Indicado
Orientada por
Urocultura ou
Ceftriaxona
Cefuroxima
Cefazolina ou
Ciprofloxacina
400mg (se uso
ATM recente
guiar por
urocultura)
Ceftriaxonaou
Cefepime ou
Gentamicina
ATB ESCOLHA
Cefuroxima +
Metronidazol
Amputação
Gangrena úmida
Dose única
Clindamicina +
Ciprofloxacina
Baixo risco (CPK <150)
Clindamicina
Intraoperatório
Metronidazol+ gentamicina,
ou
Metronidazol
+
ciprofloxacina
24 horas
60
Até retirada
nefrostomia
Antibioticoprofilaxia cirúrgica-­‐HSI Intraoperatório
24 horas
Dose única
Urocultura
prévia negativa:
Ceftriaxona ou
Cefepimeou
Gentamicina
Não indicado
Norfloxacina
400mg VO
Intraoperatório
24 horas
3 dias
Manter Ciprofloxacina
conforme esquema
acima e Ceftriaxona
ou Cefepime só no
intra operatório
Clindamicina
Metronidazol+ gentamicina,
ou
Metronidazol
+
ciprofloxacina
Nefrolitotomia percutânea ( no intra-operatório coletar
urocultura da pelve renal e do cálculo- colocar em tubo
estéril com algumas gotas se SF 0,9% para não ressecar)
DURAÇÃO
Dose única
Cefuroxima +
Metronidazol
Nefrectomia
Usar esquema
acima +
Ceftriaxona 1g
Baixo Risco
Alto Risco
ALTERNATIVA
Cefazolina
24 horas
Cirurgias com manipulação de intestino
Intraoperatório
Não indicado
ATB
ESCOLHA
Ciprofloxacina
500mg vo 12
horas antes da
biópsia e 1 g vo
2 horas antes do
procedimento
400mg12/12 horas
Ciprofloxacina
500mg VO(se
ATB recente
orientar
antimicrobiano
por cultura ou
usar SMX/TMP)
Intraoperatório
Clindamicina ou
Metronidazol +
Ciprofloxacina
Cefazolina
Norfloxacina
400mg VO
DURAÇÃO
Ceftriaxona +
Metronidazol
Cefuroxima
ou
Clindamicina
Ou
Ampicilina/Sulbactam
Alto Risco
Cirurgia Endourológica ambulatorial(colocação ou troca de
stent, ureteroscopia diagnóstica ou terapêutica)
Antibioticoprofilaxia cirúrgica-­‐HSI Biópsia de próstata
transretal
Procedimento não cardíaco, incluindo lobectomia,
nodulectomia, mediastino pneumectomiatorácico + dreno,
videotoracoscopia, correção de hérnia/ eventração
diafragmática, correção de pectus, decorticação pulmonar,
pericardiectomia, ressecção de estenose de traqueal,
resssecção de tumor pleural, toracectomia (tumor de
parede), toracoplastia, tromboendarterectomia pulmonar,
trauma
Clindamicina
Estudos urodinâmicos
Embolectomia
Alto risco(extensas, em
membros inferiores, com
alterações neurológicas)
Enxertos com prótese vascular (sem lesão trófica
infectada)
Enxertos REVISTA
com veia
Autóloga
(sem lesão trófica infectada)
DE SAÚDE
DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
Sem prótese
Tratamento por 7 dias
Clindamicina +Gentamicina
24-48 horas
Clindamicina +Gentamicina
24 horas
ALTERNATIVA
Colher urocultura no
intraoperatório e sinal
de infecção tratar.
DURAÇÃO
Clindamicina ou
Metronidazol + Gentamicina
ouCiprofloxacina
24 horas
Metronidazol + Gentamicina
ou Ceftriaxona ou Cefepime
Tratamento
Não indicado
Cefazolina
Cefazolina
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
Clindamicina
24 horas
Clindamicina
Intraoperatório
Não indicado
61
Gangrena seca
Cefuroxima +
Metronidazol
Amputação
Gangrena úmida
Clindamicina +
Ciprofloxacina
Clindamicina ou
Metronidazol + Gentamicina
ouCiprofloxacina
24 horas
Metronidazol + Gentamicina
ou Ceftriaxona ou Cefepime
Tratamento
Baixo risco (CPK <150)
Embolectomia
Alto risco(extensas, em
membros inferiores, com
alterações neurológicas)
Enxertos com prótese vascular (sem lesão trófica
infectada)
Enxertos com veia Autóloga (sem lesão trófica infectada)
Não indicado
Cefazolina
Cefazolina
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
Clindamicina
24 horas
Clindamicina
Intraoperatório
Sem prótese
Fístula Artério-venosa
Com prótese
Tabela 2 - Dose, tempo de infusão e intervalo de administração no intraoperatório e pós-operatório das principais
drogas.
Não indicado
Cefazolina
Clindamicina
Intraoperatório
Não tunelizados - não indicado.
Implante de cateter de longa permanência
Tunelizados-Avaliar realização de cefazolinaintraperatória em pacientes
imunodeprimidos ou com história de infecção de cateter.
Baixo risco (ligaduras de
perfurantes e colaterais)
Alto risco (safenectomias,
tromboflebite,dermatofibros
e,Úlceras
de
estase,fibredema,dermatofi
tose,
distúrbio
de
imunidade,
varizes
exuberantes).
Varizes
NEURO CIRURGIA
Craniotomia sem implantação de corpo estranho
Não indicado
Cefazolina
ATB ESCOLHA
Cefuroxima
Clindamicina
Intraoperatório
ALTERNATIVA
DURAÇÃO
Clindamicina
Intraoperatório
Clindamicina
48 horas
Clindamicina
Tratamento por 5
dias
Clindamicina
24 horas
Cirurgia com acesso trans-esfenoidal
Cirurgia de coluna com fixação com material metálico
Fístula liquórica (fístulas >5-7 dias estácontra-indicado
uso continuado de antimicrobiano) e pneumoencefalo póstrauma
Implantação DVE,DVP e DVL
Cefuroxima
Cefuroxima
Cefuroxima
Cefazolina
Antibioticoprofilaxia cirúrgica-­‐HSI Laminectomia
Clindamicina
24 horas
ATB ESCOLHA
ALTERNATIVA
DURAÇÃO
Procedimentos geniturinários e gastrointestinais (Se
paciente de risco para endocardite infecciosa vide texto)
Ampicilina +
Gentamicina
Vancomicina +
Gentamicina
Intraoperatório ou
24 horas
Procedimentos que envolvam o tratorespiratório em
pacientes de alto risco para endocardite infecciosa com
incisão cirúrgica da mucosa,ou amigdalectomia, ou
broncoscopia com aparelho rígido (vide texto)
Cefazolina
PROFILAXIA PARA ENDOCARDITE INFECCIOSA
Clindamicina
Intraoperatório
OBS: Pacientes sabidamente portadores de MRSA (Estafilococos Aureus Meticilino Resistente) deverão realizar profilaxia
OBS: Pacientes sabidamente portadores de MRSA (Estafilococos Aureus Meticilino Resistente) deverão realizar profilaxia com vancomicina + Cefalosporina.
com
Vancomicina
+ Cefalosporina.
Aqueles
alérgicos asendo
ß lactâmicos,
realizar para
Clindamicina
ou deverá
Vancomicina;
sendo
necessária
Aqueles
alérgicos
a ß lactâmicos,
realizar Clindamicina
ou Vancomicina,
necessária cobertura
gram negativos
ser utilizado
Ciprofloxacina
ou gentamicina
ou Aztreonan.
CASO deverá
HAJA ser
SANGREMANTO
INTENSO A ouDOSE
DE ANTIMICROBIANO
SER SANGRAMENREPETIDO.
cobertura para
gram negativos
utilizado Ciprofloxacina
Gentamicina
ou Aztreonan. DEVERÁ
CASO HAJA
TO INTENSO, A DOSE DE ANTIMICROBIANO DEVERÁ SER REPETIDA.
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
62
REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL
SANTA IZABEL
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA
63
EVENTOS FIXOS
NOME DO EVENTO
SESSÃO DE
HEMODINÂMICA
SESSÃO DE CASOS
CLÍNICOS E ARTIGOS EM
CLÍNICA MÉDICA
SESSÃO DE ATUALIZAÇÃO
EM CLÍNICA MÉDICA
SESSÃO MULTIDISCIPLINAR
DE ONCOLOGIA
SESSÕES DE
OTORRINOLARINGOLOGIA
SESSÃO DE TERAPIA
INTENSIVA
SESSÃO DE RADIOLOGIA
TORÁCICA (PNEUMOLOGIA)
SESSÕES DE NEUROLOGIA
SESSÕES DE UROLOGIA
SESSÃO DE CIRURGIA
GERAL
SESSÕES DE
ANESTESIOLOGIA
SESSÃO DE PNEUMOLOGIA
SESSÕES DE CARDIOLOGIA
PEDIÁTRICA
LOCAL
AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA
DIA DA SEMANA HORÁRIO
2ª FEIRA
07 ÀS 09 HORAS
AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA
3ª FEIRA
10 ÀS 12 HORAS
AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA
5ª FEIRA
11 ÀS 12 HORAS
AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA
5ª FEIRA
07 ÀS 09 HORAS
SALA DE TREINAMENTO 04
3ª E 6ª FEIRA
07 ÀS 09 HORAS
SALA DE TREINAMENTO 04
4ª FEIRA
11 ÀS 13 HORAS
SALA DE TREINAMENTO 04
4ª FEIRA
07 ÀS 09 HORAS
AUDITÓRIO DO SENEP
SALA DE TREINAMENTO 04
AUDITÓRIO DO SENEP
AUDITÓRIO DO SENEP
AUDITÓRIO DO SENEP
4ª FEIRA
5ª FEIRA
3ª FEIRA
4ª A 6ª FEIRA
3ª FEIRA
17 ÀS 19 HORAS
16 ÀS 19 HORAS
07 ÀS 08 HORAS
07 ÀS 09 HORAS
08 ÀS 10 HORAS
SALA DE TREINAMENTO 01
2ª A 6ª FEIRA
07 ÀS 09 HORAS
5ª FEIRA
5ª FEIRA
6ª FEIRA
4ª FEIRA
4ª FEIRA
5ª FEIRA
08 ÀS 10 HORAS
07 ÀS 09 HORAS
07 ÀS 09 HORAS
13 ÀS 15 HORAS
07:30 ÀS 09:00 HORAS
09:00 ÀS 10:30 HORAS
AUDITÓRIO DO SENEP
SALA DE TREINAMENTO 02
SALA DE TREINAMENTO 03
SESSÃO DE ARRITMOLOGIA SALA DE TREINAMENTO 03
SESSÕES DE
SALA DE TREINAMENTO 02
REUMATOLOGIA
SALA DE TREINAMENTO 01
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INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Especificações do Editorial - Normatização Geral
Classificação manuscritos
Nº máximo de
autores
TÍTULO: Nº máximo
de caracteres com
espaço
RESUMO: Nº
máximo de
palavras
Editorial
Atualização de tema:
Resumo de artigos
publicados pelo HSI
Relato de casos
2
4
10
100
100
100
0
250
250
6
80
0
Continuação:
Classificação manuscritos
Nº máximo de
palavras com
referência
Nº máximo
de
referências
Nº máximo
de tabelas ou
figuras
Editorial
1.000
10
2
Atualização de tema:
6.500
80
8
Resumo de artigos publicados
pelo HSI
1.500
10
2
Relato de casos
1.500
10
2
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