Relato de caso Protocolo digital smile design (DSD) no planejamento de laminados cerâmicos Digital smile design (DSD) protocol on the treatment planning of ceramic venners Sérgio Ricardo Moura Saraiva1 Silvio Ramos Evangelista2 Maria Walderez Andrade de Araújo3 | Case report Resumo O DSD – Digital Smile Design – é uma valiosa ferramenta para o diagnóstico, planejamento e integração interdisciplinar do tratamento odontológico, visando atingir o melhor potencial estético para o caso. Com um projeto baseado na filosofia DSD, consegue-se atingir esse potencial através de um protocolo digital que se inicia com a análise estética da face, continua com a análise estética das estruturas bucais, e é finalizado integrando-as novamente à face, levando ainda em consideração sua morfopsicologia (visagismo). Ainda, o DSD facilita a comunicação para o planejamento interdisciplinar de como tornar esse projeto realidade. Aqui é apresentado um caso clínico conduzido seguindo a filosofia DSD, com protótipos e provisórios de resina bisacrílica, cimentação adesiva e porcelanas com dissilicato de lítio. Descritores: DSD, Design digital do sorriso, estética, lentes de contato, porcelanas dentais. Abstract The DSD - Digital Smile Design - is an invaluable tool for diagnosis, planning and interdisciplinary integration of dental treatment, to achieve the best aesthetic potential. With a design based on the DSD philosophy, it is possible to reach this potential through a digital protocol which starts with a facial aesthetics analysis, followed by an aesthetics analysis of oral structures and at the end integrates them back to the face the analysis, also considering its Morphopsychology (Visagism). DSD also facilitates the communication for interdisciplinary planning in order to make this project a reality. Here we present a case study conducted following the DSD philosophy, with prototypes and provisionals in bisacrilic resin, adhesive cementation and porcelain with lithium disilicate. Descriptors: DSD, Digital Smile Design, aesthetics, contact lenses, dental porcelain. DSD Instructor, Mestre – UFC. DSD Instructor, Mestrando – Mandic. 3 Especialista em Ortodontia, Mestre – UFC. 1 2 E-mail do autor: [email protected] Recebido para publicação: 01/07/2015 Aprovado para publicação: 13/08/2015 PROSTHESIS S C I E N C E L Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. A B O R A T O R Y i n 329 Introdução A Odontologia está vivendo uma mudança de paradigma. Se antes os pacientes buscavam os consultórios odontológicos quando sentiam dores físicas, atualmente percebemos também uma procura causada pela dor emocional de não poderem sorrir com a espontaneidade que gostariam devido a desconfortos estéticos. Dentes escuros, mal posicionados ou com forma desagradável são apenas algumas das queixas atuais desses pacientes1,2. A forte influência da mídia sobre os padrões estéticos e a facilidade de acesso às informações por meio da internet também criaram um novo perfil de pacientes: mais informados e exigentes. Sintonizada a essa mudança de perfil, a Odontologia também tem experimentado grandes avanços, como a consolidação dos procedimentos adesivos e o desenvolvimento de materiais e técnicas que permitem procedimentos cada vez menos invasivos, além de restaurações cada vez mais miméticas, na busca por um sorriso considerado natural e perfeito. O sucesso nos resultados exige também a utilização de protocolos de trabalho que sejam simples e ao mesmo tempo reprodutíveis. Outro ponto importante nesse sucesso é a atuação por meio de uma equipe interdisciplinar, unindo conhecimentos e técnicas nas mais diversas especialidades para que sejam atingidos os melhores resultados. O ponto crítico nesse sentido é a comunicação entre todos os profissionais envolvidos5,6,12,14,16,18-20. Este artigo tem como objetivo apresentar, por meio de um caso clínico de laminados cerâmicos e lentes de contato dentais, o protocolo de trabalho Digital Smile Design (DSD), criado por Christian Coachman e Livio Yoshinaga3,4. DSD – Digital Smile Design O DSD (design digital do sorriso, em tradução livre) utiliza um conjunto de ferramentas gráficas dos programas Power Point (Microsoft inc. USA) ou Keynote (Apple inc. USA) sobre fotografias especialmente tomadas para fins de planejamento digital3,4,7,8. Para termos um entendimento tridimensional da relação dentofacial por meio de fotografias bidimensionais, nós analisamos 6 fotografias em 4 ângulos específicos: • Facial Frontal (fotos sorrindo e com retrator); • Oclusal; • 12 horas; • Perfil (fotos em repouso e sorrindo); 330 PROSTHESIS S C I E N C E L A B O R A T O R Y i Fotografias adicionais podem ser incorporadas ao protocolo de acordo com a necessidade ou conveniência de cada caso. Sobre essas fotografias são traçadas linhas referenciais que orientarão a análise e o desenho das dimensões e posicionamento das estruturas intraorais envolvidas no projeto do novo sorriso. Os elementos principais são7,13,15: • Plano horizontal; • Linha média; • Curva do sorriso; • Régua de proporção interdental; • Retângulo de proporção dentária (Largura/ Altura); • Curva gengival; • Curva das papilas; • Linha do vermelhão do lábio. Uma régua digital milimetrada calibrável permite que as medidas reais tomadas no paciente sejam transferidas para as fotografias e reproduzidas nos modelos de trabalho enviados para o laboratório3,4,7,8. Conhecimentos sobre visagismo10,11,17 poderão orientar a escolha das formas dentais, seguindo formas e disposições mais quadradas, retangulares, triangulares, arredondadas, ou ainda combinação entre elas. O design final só é estabelecido após a integração dos profissionais envolvidos no projeto, sendo levado em consideração todo o conhecimento pertinente ao caso como oclusão, fisiologia, limites biológicos, características dos materiais restauradores; e sendo realizadas as avaliações necessárias (tomografias, montagem em articuladores, etc). Assim, baseado em um planejamento interdisciplinar sólido e realista, o design do sorriso chega a um resultado a ser apresentado ao paciente por meio do mock up. É importante ter em mente que o design proposto nem sempre é um plano a ser seguido a todo o custo, até mesmo porque sabemos que a beleza nem sempre está ligada à perfeita simetria. A ideia é que possamos, por meio do DSD, visualizar de forma mais clara todos as nuances e assimetrias existentes no paciente, o que nos permitirá tomar decisões clínicas mais acertadas e desenvolver um tratamento que chegue o mais próximo possível do ideal, sempre com o conceito de oferecer aos pacientes o tratamento mais simples e conservador possível. n Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. Paciente C.M.R, 27 anos, procurou consultório particular com queixa do resultado estético de tratamento anterior. Paciente relatou que devido à agenesia dos incisivos laterais superiores fora submetida a tratamento ortodôntico com o objetivo fechar os espaços correspondentes aos elementos ausentes. Após a finalização desta etapa do tratamento, foi realizado o recontorno estético dos caninos e primeiros pré-molares superiores, com o objetivo de transformá-los em incisivos laterais e caninos respectivamente. A primeira consulta teve como objetivo coletar o maior número de informações possíveis, que nos deram uma base sólida para construir um bom diagnóstico e plano de tratamento. Nesta consulta foi realizada anamnese, entrevista estética, exame clínico, protocolo de fotografias e vídeos, moldagem e solicitação de exames complementares. Foi realizada anamnese, acrescida de uma entrevista clínica, na qual a paciente foi inquerida a respeito daquilo que a desagradava em seu sorriso. A A paciente referiu insatisfação quanto à cor e ao novo formato dos dentes citados (Figura 1). Nada mais foi relatado. Figura 1 – Situação inicial. Saraiva SRM, Evangelista SR, Araújo MWA. Relato de caso Primeira Consulta Em seguida foi realizado um exame clínico para verificar outras necessidades não citadas pela paciente. Nada a acrescentar foi encontrado. Seguimos com um protocolo de fotografias (Figuras 2-7) e vídeo com o objetivo de termos mais elementos para o planejamento. Também foi realizada moldagem de ambos os arcos e solicitação de radiografia panorâmica. B Figura 2 (A-B) – Fotos padrão para o design do sorriso: A) Facial frontal sorrindo e B) facial frontal com retrator. O detalhe é que essas fotos devem ser realizadas com o paciente com a cabeça na mesma posição, permitindo futura sobreposição. Figura 3 – Fotografias de perfil e meio perfil esquerdo e direito. Figura 4 – Fotografia oclusal superior. PROSTHESIS S C I E N C E L Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. A B O R A T O R Y i n 331 A B C Figura 5 (A-C) – Fotografias complementares: A) lábio em repouso, B) sorriso contido e C) sorriso forçado. Figura 6 – Fotografia 12 horas. Figura 7 – Fotografia intraoral em protrusiva – topo a topo. Entre Consultas Uma vez finalizada a etapa de coleta de informações, seguimos com a análise por meio do protocolo DSD. Sequência DSD Figura 8 – Template com as linhas de referência para a análise dentofacial. 332 PROSTHESIS S C I E N C E L A B O R A T O R Y i Figura 9 – Análise dentofacial, mostrando a falta de paralelismo entre as linhas interpupilar e da comissura labial. No caso, a linha interpupilar foi utilizada como plano horizontal de tratamento. n Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. Figura 11 – Linha da curva do sorriso em harmonia com a linha da borda superior do lábio inferior. Nessa foto já é possível observar uma discrepância no nivelamento entre as bordas incisais dos dentes anteriores do lado direito e esquerdo, sendo necessária sua adequação para criarmos um sorriso mais harmônico. Figura 12 – Análise da proporção interdentária por meio da Régua de Proporção RED 70. Figura 13 – Uma vez que a análise dento-facial está completa, concentraremos agora a nossa análise na região intraoral. Figura 14 – Calibração da régua digital milimetrada. Figura 15 – 2 linhas (em amarelo) são utilizadas para sobrepor a fotografia com afastador bucal à foto do sorriso sem afastador. Isso permitirá uma análise dentogengival efetiva em relação à face. Figura 16 – Fotografia com afastador bucal sobreposta com exatidão à foto do sorriso sem afastador. Figura 17 – Proporção dental (largura / altura X 100) atual. PROSTHESIS S C I E N C E L Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. A B O R A T O R Y i n Saraiva SRM, Evangelista SR, Araújo MWA. Figura 10 – A linha média facial e linha média dentária são coincidentes. Nesse ponto, já definimos o que chamamos de arco facial digital, que é formado pelos planos horizontal e vertical de tratamento. 333 334 Figura 18 – Nova proporção dental (largura / altura X 100) da reabilitação estética. Figura 19 – Curva da papila. Figura 20 – Curva gengival. Figura 21 – Desenho dos incisivos centrais - guiado pela cruz facial, pela curva do sorriso e pelo retângulo de proporção ideal para o caso. Figura 22 – Desenho dos incisivos laterais. Figura 23 – Desenho dos caninos. Figura 24 – Medição das alterações necessárias para a reabilitação estética a partir da régua previamente calibrada. Figura 25 – Análise da fotografia 12 horas. PROSTHESIS S C I E N C E L A B O R A T O R Y i n Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. Figura 27 – Quadro do desenho do sorriso do caso: fotografias em 3 diferentes vistas e com desenhos sobrepostos. Ao lado um vídeo casual de face em dinâmica da paciente, fornecendo importantes informações complementares aos desenhos sobre as fotos. Saraiva SRM, Evangelista SR, Araújo MWA. Figura 26 – Análise da fotografia oclusal superior. Figura 28 – Simulação digital das modificações (mock up digital) – foto intraoral. Na possibilidade da realização do mock up clínico, a simulação digital fica exclusivamente para a comunicação interdisciplinar entre os profissionais, para evitar compreensão imprecisa por parte do paciente. Figura 29 – Mock up digital integrado à face – antes. Figura 30 – Mock up digital integrado à face – depois. PROSTHESIS S C I E N C E L Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. A B O R A T O R Y i n 335 Enceramento Figura 31 – Modelo inicial. Figura 32 – Modelo encerado (TPD Rodrigo Monsano). Segunda consulta Figura 33 – Modelo encerado e guia para mock up em silicona de adição (Express XT - 3M ESPE). Figura 34 – Mock up: antes (centro) e depois (esquerda e direita). Figura 35 – Mock up: antes (esquerda) e depois (direita). Fotografias evidenciando a modificação daquilo que mais incomodava a paciente – o formato dos incisivos laterais e caninos. Uma vez aprovado o mock up, o plano de tratamento é apresentado à paciente. Terceira consulta Nessa sessão damos início à execução do plano de tratamento. Figura 36 – Preparos minimamente invasivos guiados por guias de desgastes confeccionadas a partir do enceramento. 336 PROSTHESIS S C I E N C E L A B O R A T O R Y i Figura 37 – Visão geral dos preparos minimamente invasivos. n Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. Figura 39 – Confecção dos provisórios utilizando a mesma guia de mock up e resina bisacrílica. Saraiva SRM, Evangelista SR, Araújo MWA. Figura 38 – Moldagem dos preparos com Silicona de Adição (Express XT – 3M ESPE). Quarta consulta Figura 40 – Lentes de contato e laminados cerâmicos confeccionados em dissilicato de lítio (Emax – Ivoclar Vivadent) – TPD Rodrigo Monsano. Figura 41 – Lentes de contato e laminados cerâmicos com espessuras variando entre 0,4 mm e 0,9 mm. Na fotografia, lente de contato do elemento 11 com espessura de 0,4 mm - TPD Rodrigo Monsano. Figura 42 – Lentes de contato e laminados cerâmicos perfeitamente integrados à face e aos tecidos circunvizinhos logo após a cimentação. PROSTHESIS S C I E N C E L Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. A B O R A T O R Y i n 337 Figura 43 – Antes (centro) e depois (esquerda e direita). Figura 44 – Proservação de 6 meses. 338 PROSTHESIS S C I E N C E L A B O R A T O R Y i n Prosthes. Lab. Sci. 2015; 4(16):329-339. A tecnologia digital do DSD – Digital Smile Design, associada à evolução nas técnicas adesivas e nos materiais cerâmicos, proporciona tratamentos muito mais previsíveis e menos invasivos, com maior precisão na execução e, consequentemente, uma maior satisfação do paciente, que deve ser sempre o objetivo final da ciência e das artes odontológicas. Acreditamos que o investimento de tempo na utilização desse protocolo traz alguns benefícios: • Melhora a visualização dos tecidos e estruturas envolvidas na integração dentofacial, potencializando o diagnóstico e planejamento; • Facilita o processo de discussão interdisciplinar dos casos clínicos; • Permite apresentar de forma clara e compreensível o plano de tratamento para os pacientes, motivando-os, gerenciando melhor as sua expectativas e aumentando a aceitação de planos de tratamento mais próximos do ideal; • Estabelece um protocolo de comunicação visual com o laboratório, guiando com mais precisão o enceramento e etapas de confecção das restaurações; • Permite ainda que realizemos mock ups que se integrem perfeitamente à face do paciente e com menores necessidades de ajustes intraorais. 13. Kokich VO, Kokich VG, Kiyak HA. Perceptions of dental professionals and laypersons to altered dental esthetics: Asymmetric and symmetric situations. 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