ambientalismo e educação ambiental

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AMBIENTALISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
JUAREZ DE QUEIROZ CAMPOS
LÚCIA HELENA PRESOTO
ANTÔNIO EDUARDO GIANSANTI
ARLINDO MORAES
DANTE RAGAZZI PAULI
ISAIAS DE ALMEIDA COSTA FILHO
LILIANE REIS TEIXEIRA
LÚCIO ANTÔNIO ALVES DE MACÊDO
EDITORA JOTACÊ
SÃO PAULO – 2.004
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Campos, Juarez de Queiroz, 1931Ambientalismo e Educação Ambiental / Juarez de Queiroz Campos – Lúcia Helena Presoto –
Antônio Eduardo Giansanti – Arlindo Moraes – Dante Ragazzi Pauli – Isaias de Almeida Costa Filho – Liliane Reis
Teixeira – Lúcio Antônio Alves de Macêdo – São Paulo: Editora JOTACÊ, 2004.
1. Meio Ambiente – 2. Saneamento – Brasil – 3. Saúde Ambiental – 4. Saúde Pública.
2004-5922
CDD-383.78
Índices para catálogos sistemático:
1. Saneamento Ambiental: problemas sociais – 383.78
2. Saúde e ambiente: problemas sociais – 383.78
Juarez de Queiroz Campos
Rua Alves Guimarães, 642 – apto. 155
CEP.: 05410-001 – Jardim América – São Paulo, SP
Tels.: (0XX11) 3081.0327 – 3085.3332 – 3081.6215 (FAX)
E-mail: [email protected]
Lúcia Helena Presoto
E-mail: [email protected]
TÍTULO I
O AMBIENTALISMO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Lucia Helena Presoto
Juarez de Queiroz Campos
1–
Introdução
A degradação ambiental é manifestação da profunda crise social, econômica, filosófica e
política atingindo a humanidade, resultado da introjeção de valores e práticas discordantes
das bases para a manutenção de ambiente sadio favorecendo uma boa qualidade de vida aos
membros da sociedade, a urbanização e a industrialização pelo problema.
A história mostrou a preocupação de filósofos, cientistas e pensadores com a questão
ambiental. No final do século XIX, o Presidente americano Theodore Roosevelt criou 53
reservas naturais, 16 monumentos nacionais, 5 novos parques e a Comissão das Vias
Navegáveis Interiores, mas enfrentou barreiras do Exército e do Congresso e ainda instituiu a
Comissão Nacional de Conservação porém sem continuidade.
Embora o espaço ocupado na mídia com discussões sobre meio ambiente seja novo e
tornou-se expressivo somente nas últimas décadas, esta preocupação existiu de forma
isolada.
Em 1923 o 1o Congresso Internacional para a Proteção da Natureza em Paris discutiu o
reflorestamento da região de Delhi, o papel dos terrenos não cultivados na propagação de
insetos e destruição das aves marinhas pelos resíduos de óleo, tornando a ecologia uma
ciência.
Em 1932 o 2o Congresso Internacional mostrou tempos propícios para uma reflexão
mais profunda e ampliação das informações referentes a proteção da natureza em nível
mundial.
No Brasil, Alberto Torres inspirou a criação da Sociedade de Amigos de Alberto Torres,
pregando, predominantemente, o uso racional dos recursos naturais, contribuindo para a
formulação do Primeiro Código de Águas e Minas e do Código Florestal Brasileiro.
Em 1948 foi criada em Fontainebleau, França, a União Internacional para a
Conservação da Natureza e dos seus Recursos – UICN para assegurar a perpetuidade dos
Recursos Naturais apoiada pelas bases científicas sobre a dinâmica dos ecossistemas.
Em 1951 a UICN publicou o “Estado da proteção da natureza no mundo em 1950, com
70 relatórios de diferentes países e desde 1958 o Brasil conta com representantes da UICN.
Na década de 1950 foram desenvolvidos importantes tratados de ecologia destacandose o “Fundamentals of Ecology, Odum, 1953, utilizando os princípios da termodinâmica para
descrever a estrutura e a dinâmica dos ecossistemas, inovando o tema: obra importante se
mantendo atual.
Em 1958 – Galbraith na “A Sociedade afluente” retratando a sociedade da época criticou
o consumo materialista das sociedades favorecidas e chamou a atenção para as
desigualdades sociais contrapondo-se ao discurso do atrelamento da solução dos problemas
sociais não incremento da produção para o mercado.
Os E.U.A. nas décadas de 1950-60 foram palco de um ativismo político influenciador do
ambientalismo: protestos de massa, estratégias de Martin L. King e outros sobre o tema
pobreza e racismo.
Estas atividades geraram uma confrontação pacífica com as autoridades criando um
processo educativo na geração emergente porém sem laços formais dos movimentos por
direitos civis e o ambiental com diferentes valores e clientela. Os testes atômicos pelo perigo
de precipitação nuclear constituíram a primeira questão ambiental do período pós-guerra.
Em março de 1954, o teste da bomba de hidrogênio americana no atol de Bikini com o
dobro da quantidade de partículas espalhadas pela explosão aumentou a apreensão pública
mundial e reuniu cientistas, líderes religiosos e congressistas.
Barry Commonez, fundador do St. Louis Commitee, dizia serem os testes nucleares
reveladores do quão pouco se sabia sobre o meio ambiente e no livro The Closing Circle
denunciou o aumento exponencial dos níveis de poluição no mundo desde a 2a Guerra e
apresentou à discussão como o crescimento da atividade econômica havia sido alcançado, o
papel da tecnologia e os riscos ambientais dos poluentes na água, alimentos e ar.
Em 1963, o Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares pôs fim aos testes
atmosféricos mas deixou brecha para os subterrâneos.
No período de 1948 a 1972, casos de Inversão Térmica, mistura de nevoeiro e gases
poluentes, desordem neurológica, mortes inexplicáveis de polvos, peixes, pássaros e gatos,
superaquecimento de reatores e outros aumentaram o interesse dos ambientalistas para
evitar o alastramento dos problemas.
A Inglaterra, em 1956, criou A Lei do Ar Limpo e a Comissão Real sobre Poluição
Ambiental (1969) gerando a Convenção Relacionada à intervenção em Alto-mar em caso de
acidentes com poluição de petróleo e a Convenção sobre a Responsabilidade Civil para
danos provocados por Poluição de Petróleo.
Considerada um dos marcos para o avanço do conhecimento científico a International
Biological Programme – IBP, em 1964, encorajou a pesquisa ecológica e o intercâmbio de
especialistas, produzindo metodologia de pesquisa confiável estimulando outros programas
ambientais e resultando em volumes de descobertas importantes para a Conferência de
Estocolmo, 1972.
2–
Contestações e os novos movimentos sociais
A partir da década de 60 o crescimento desordenado das cidades, a exclusão social, a
artificialização do modo de vida, a dilapidação de recursos não renováveis e outros geraram a
elevação do número de contestadores das agressões crescentes ao meio ambiente, a
qualidade de vida e a cidadania.
Em 1965 coincidindo com o desembarque das primeiras tropas de combate no Vietnã
surgiu uma onda de protestos estudantis em vários países e temas como materialismo,
tecnologia, poder, lucro e crescimento vistos como ameaças à sociedade.
A movimentação estudantil francesa em 1968 uniu estudantes, artistas, intelectuais e
operários culminando em greve nacional com repercussões veiculadas pela imprensa do
mundo inteiro. Ressalve-se terem estas organizações e pessoas motivações semelhantes
porém, objetivos, tendências e métodos variados acarretando problemas enquanto movimento
político e cultural mas com saldo positivo em termos de abrangência temática.
O surgimento da Educação Ambiental – Educação Ambiental na década de 60 e em
1965 na Keele Conference on Education and Count Tryside ouviu-se a expressão
Environmental Education –E.E. aceita como essencial para a educação das pessoas, o juízo
da época apontava para uma visão conservacionista, espécie de ecologia aplicada, cujo
veículo era a biologia.
Em 1968, a Grã-Bretanha implantou o Conselho para a Educação Ambiental, seguido de
deliberações ministeriais nos países nórdicos e França e a UNESCO em colaboração com a
FAO, OMS, UICN e o Conselho Internacional das Uniões Científicas organizou a Conferência
Intergovernamental de especialistas sobre Bases Científicas para uso e conservação racional
dos Recursos da Biosfera ou Conferência da Biosfera com um avanço de concepção “uma
política de conservação deveria visar, a organização do meio externo contribuindo para a
saúde física e mental do ser humano e o desenvolvimento da civilização e os métodos da
conservação visando a manutenção de condições para permitir o desabrochar das melhores
qualidades dos seres humanos enfatizando o caráter interrelacionado do meio ambiente e o
reconhecimento formal da deterioração ambiental ter como principais responsáveis o
crescimento populacional, a urbanização e a industrialização acelerados e concluíram não
serem os problemas ambientais respeitadores de fronteiras regionais ou nacionais e no início
da década de 70 a crise ambiental não passava mais desapercebida.
Em 1971, em Paris, representantes de 30 países e organizações internacionais como
FAO, OMS e IUCN realizaram a 1a. Reunião do Conselho Internacional de Coordenação do
Programa Homem e a Biosfera objetivando fomentar a “educação mesológica” em sentido
mais amplo.
O termo mesológico denota caráter científico e acadêmico das questões do meio
ambiente, na época os limites do crescimento apontavam para as raízes da crise ambiental
como decorrentes do crescimento exponencial da economia e da população.
No Brasil, na década de 60, foram instituídos: o novo Código Florestal, a nova Lei da
Proteção dos Animais e a criação de vários parques nacionais e estaduais, embora não se
discutisse um estilo de desenvolvimento e temas como poluição do ar, qualidade da água,
aglomeração urbana, governo das atividades urbano-industriais e isolamento de certas
atividades de maior impacto sobre o meio ambiente não suscitavam o debate.
Em 1971, foi criada a Associação Gaúcha de Proteção do Ambiente Natural, primeira
entidade ambientalista do Brasil e da América Latina, destacando entre seus objetivos a
defesa da fauna e da flora, combate a mecanização exagerada da agricultura, poluição
causada por veículos e indústrias, combate ao uso indiscriminado de pesticidas, poluição
hidráulica, luta pela salvação da humanidade da destruição, promovendo a ecologia como
ciência da sobrevivência e difundindo uma nova moral científica.
Nas décadas de 70 e 80 foram criadas unidades de preservação ambiental destinadas a
pesquisas científicas e monitoramento ambiental e conhecidas com estações ecológicas e em
1973 – o Governo Brasileiro implantou a Secretaria Especial do meio ambiente – SEMA,
vinculada a Presidência da República, objetivando: controle de poluição, uso racional dos
recursos naturais e preservação do estoque genético.
Em resposta a recomendação no 96 da Conferência de Estocolmo, a UNESCO e a
PNUMA criaram, em 1975, o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEducação
Ambiental (International Envinroment Educational Programme – IEEP) objetivando
resumidamente: promover o intercâmbio de idéias, informação e experiências em Educação
Ambiental entre as nações e regiões; fomentar o desenvolvimento e a coordenação de
atividade de pesquisa para melhor compreensão dos objetivos, conteúdos e métodos da E.A.;
favorecer o desenvolvimento e a avaliação de novos materiais, currículos, programas e
instrumentos didáticos na Educação Ambiental; impulsionando o treinamento e atualização de
pessoal-chave como professores, pesquisadores e administradores educacionais; oferecer
assistência técnica aos Estados Membros no desenvolvimento de Programa de Educação
Ambiental.
Em 1975, a UNESCO promoveu em Belgrado, o “Encontro de Belgrado” enfatizando
além da formulação dos princípios e estrutura para um programa de Educação Ambiental, a
necessidade de uma ética para enfrentar o problema da pobreza, do analfabetismo, da
poluição e da exploração humana.
Em 1977, a UNESCO e a PNUMA realizaram em Tbilisi a 1a. Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental considerado o evento mais decisivo para os
rumos da Educação Ambiental e no Brasil, a influência de Tbilise se fez presente na Lei no.
6938 de 1981 dispondo sobre a Política Nacional de meio ambiente referindo-se, num dos
princípios, à Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade capacitando-a para participar na defesa do meio ambiente e na segunda metade
da década de 80, o ambientalismo ultrapassou as fronteiras das agências ambientais estatais
e grupos ambientalistas e impregnou outros movimentos, ONGS, Universidades, mídia,
Agências governamentais não especificadamente ambientais e as empresas.
Paralelamente, Moscou sediou o Congresso Internacional de Educação e formação
Ambiental onde se discutiu as dificuldades e os progressos dos países no campo da
Educação Ambiental e a determinação das necessidades e prioridades em relação ao seu
desenvolvimento, gerando o International Education and Training (Estratégia Internacional
para Ação no Campo da Educação Ambiental e treinamento para os anos 90), publicado em
1988, reafirmando os objetivos e princípios orientadores da Educação Ambiental a partir das
recomendações de Tbilisi.
A Constituição Brasileira de 1988, no artigo 288 estabeleceu a “promoção da Educação
Ambiental, em todos os níveis de ensino e a conscientização pública”, como uma incumbência
do Poder Público para garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado a toda
população brasileira e a década de 1990 marcou o início do processo de reforma econômica e
abertura para a economia mundial, pois “os processos de expansão da consciência ambiental
e de desenvolvimento do movimento ambientalista estão associados à ascensão de correntes
globalistas dentro do ambientalismo... as sociedades nacionais são subunidades da
sociedade planetária.
Em 1992, a ONU promoveu no Rio de Janeiro, a 1a Conferência das Nações Unidas
sobre meio ambiente e desenvolvimento, a Rio-92, com representantes de 106 países e
participação maciça da sociedade civil, firmando vários acordos no evento destacando-se a
Agenda 21 sugerindo um plano de ação para a realização de desenvolvimento sustentável, a
ser adotado por todas as escalas de governo.
No concernente a Educação Ambiental, o XXXVI Capítulo do documento “Promoção do
ensino, da conscientização e do tratamento” explicita a necessidade de se orientar a
educação na direção do desenvolvimento sustentável, ampliando-se a consciência pública e o
incentivo ao treinamento e propõe bases para a ação, objetivos, atividades e meios de
implementação.
Os Ministérios do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos, da Amazônia – MMA e o da
Educação e do Desporto – MEC com a colaboração dos Ministérios da Cultura – MINC
formularam e aprovaram, em 1994, o Programa Nacional de Educação Ambiental –
PRONEducação Ambiental, para consubstanciar ações de Educação Ambiental
estabelecendo parcerias entre os organização governamental e a sociedade civil.
Em 1997, o MEC propôs novas políticas para o ensino formal pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs com a incumbência de conferir referências para as disciplinas
tradicionais, contemplar temas como Ética, Saúde, meio ambiente, pluralidade cultural e
orientação sexual.
3–
A resolução de problemas ambientais
A Conferência de Tbilisi, Geórgia, 1977, promovida pela UNESCO considerada o marco
conceitual da Educação Ambiental procurou mostrar estarem as origens da crise ambiental no
sistema cultural da sociedade industrial cuja estratégia desenvolvimentista pautada pelo
mercado competitivo como a instância reguladora da sociedade fornece uma visão de mundo
unidimensional, utilitarista, economicista e a curto prazo da realidade, onde o ser humano
ocidental percebe-se numa relação de exterioridade e domínio da natureza descaracterizando
a crença de muitos educadores das causas dos impactos ambientais serem, entre outros
fatores, a explosão demográfica, a agricultura moderna e a crescente urbanização e
industrialização como se tais fenômenos estivessem dissociados da visão de mundo
instrumental da sociedade de origem.
A grande relevância de Tbilisi é a ruptura com as práticas reduzidas ao sistema
ecológico, demasiadamente implicadas com a educação conservacionista e por ultrapassar a
concepção das ações educativas descontextualizadas e ainda recomendou a estratégia
metodológica da ação educativa.
A UNESCO, 1980, estabeleceu a Educação Ambiental, junto com a participação popular
como, um dos caminhos para a resolução dos problemas, construindo coletivamente
estratégias e atividades para eliminá-los de forma a repercutirem na qualidade do meio
ambiente.
Em 1985, a UNESCO lançou programas consistindo na promoção da Educação
Ambiental pela Resolução de problemas locais assumindo-a como uma estratégia
metodológica privilegiada para a prática educativa, partindo do princípio de ser indispensável
ao cidadão participar da organização e gestão do seu ambiente de vida cotidiana onde as
palavras-chave são participação, engajamento, emancipação e democratização.
Neste contexto, o “Center for Education Research and Innovation” julga a validade
do contexto
local como
ferramenta
para a Educação Ambiental, ao permitir o desenvolvimento da qualidade dinâmica nos
educandos, despertando o sentimento da visão crítica e da responsabilidade social,
vitais para a formação da cidadania.
Esta estratégia permite dois tipos de abordagem: tema-gerador de onde se irradia uma
concepção pedagógica com a compreensão e transformação da realidade ou como atividadefim, visando unicamente a resolução pontual daquele problema ambiental abordado.
Viola (1992) esquematizou as 3 abordagens teóricas para a análise do ambientalismo: o
Grupo de Interesse; o Novo Movimento Social e o Movimento Histórico, a primeira percebe o
mundo sob uma ótica reducionista, apenas um elemento ou um pequeno conjunto de
elementos, a segunda visualiza um sistema abordando a complexidade relacional dos
elementos internos e a terceira observa o sistema como um todo.
4-
A inserção da Educação Ambiental no ambientalismo
A Educação Ambiental é o porta-voz do ambiente, havendo similaridade com a questão
da estratégia metodológica da resolução de problemas ambientais, locais pelo enfoque das
atividades fim ou do tema gerador de Educação Ambiental: enquanto a abordagem do Grupo
de Interesse está relacionada a resolução de problemas como atividade fim,
o novo Movimento Social e Movimento
Histórico
converge para a solução de problemas ambientalistas como um tema gerador.
No Movimento Histórico, o problema ambiental, aparece com a desordem da biosfera
conseqüência de longa e complexa cadeia de relação do mundo humano com o natural.
A questão ambiental é uma das expressões originadas dos conflitos gerados no seu
interior materializando os desgastes da relação da sociedade industrializada de consumo com a
biosfera desenrolada em bases assimétricas por declinar-se um diálogo a favor de um
monólogo com a natureza, devendo-se considerar a articulação em cadeia dos aspectos
político, econômico, cultural, social e éticos do problema ambiental abordado.
Do reducionismo decompondo a realidade em fragmentos reduzindo a complexidade
dos sistemas, resulta a interpretação do significado da postura da resolução de problemas
ambientais locais ou como atividade fim.
O “efeito dominó” recordando o jogo onde as peças são dispostas em pé e enfileiradas,
quando derrubamos a peça inicial ocorre uma queda sucessiva até a última, parece
apropriada para entendermos o funcionamento da complexidade ambiental.
5-
A Educação Ambiental entre duas águas
O objeto da Educação Ambiental não é a ausência de conhecimentos ecossistêmicos, a
desinformação dos aspectos ecológicos é a visão de mundo instrumental para favorecer uma
atitude utilitarista e as orientações pedagógicas devem se voltar majoritariamente à busca de
um maior alcance da Educação Ambiental cuja proposta central reside na transferência da
realidade, caso contrário equivalerá a um adestramento ambiental.
A desarmonia não está na natureza, habita a nossa sociedade reforçando a necessidade
de se priorizar nos conteúdos educativos as relações político-econômicas e socioculturais nas
práticas pedagógicas transcendendo a lógica simplista dos conteúdos ecológicos.
A Educação Ambiental é ideológica, traduzindo-se em atos políticos visando a
manutenção da correlação de forças sociais na configuração ou sua transformação.
Observa-se duas vertentes compondo os projetos políticos ambientais: a hegemônica,
adequando o projeto conservador às novas realidades mas mantendo intacta a ideologia
racional
econômica
e
a
subversiva
buscando
implantar um projeto transformador traduzido pela inserção da racional ecológica no
núcleo ideológico da sociedade, a primeira se resume na possibilidade de mudança de
comportamento, não de valores e a segunda é a própria mudança de valores.
Algumas práticas educacionais locais mostram um atrelamento da Educação Ambiental
a atividades pontuais específicas como a organização de hortas e comemoração de festas
como o Dia da Árvore ou Dia do Meio Ambiente.
Não basta controlar as “pragas” na agricultura quando o padrão prevalecente é a
monocultura intensiva minando a biodiversidade, ao tornar a economia ecológica, a
racionalidade permanece econômica.
A Educação Ambiental a partir da resolução de problemas ambientalistas como atividade
fim fomenta a percepção equivocada de não estar o Problema Ambiental inserido numa
cadeia sistêmica de causa-efeito e sua salvação se encontrar na órbita da esfera técnica e
toma-se a parte pelo todo e reduz-se a causa pela conseqüência, acabando por promover a
realização de projetos reformistas, com mudança de ordem comportamental, reduzindo a zero
o risco de ameaça de desestabilização da ordem ideológica e o enfoque da resolução de
problema ambiental como atividade fim não é suficiente como finalidade porque a mudança
de valores nos educandos poderá ocorrer por conta própria.
Não há garantia de resolvido este alvo da ação pedagógica, o causador da degradação
ambiental não continuará ativo, pois não se instalará o potencial de crítica ao status quo.
Vincent Lebetrie dizia, em 1978 “a maior função do ecologista estava voltada à
restituição da complexidade das causas, colocando em xeque o simplismo do raciocínio
reducionista.
Enzenberger (1977) discutindo a implicação ideológica da mundialização da questão
ambiental causada por problemas globais como a chuva ácida e o efeito-estufa contribuiu
para a criação da imagem da espaço-nave-terra, da expressão “estamos todos no mesmo
barco” e da máxima “pensar global, agir local” e prossegue” estando a humanidade
comprometida como um todo, estaria diluída a responsabilidade social pelos danos
ambientais globais resultando em esvaziamento político daquilo que poderia conter um alto
teor crítico tornando os conflitos sociais invisíveis e todos seriam igualmente responsáveis e
atingidos.”
Bibliografia Recomendada
Campos JQ, Presoto LH. Cidade Saudável e Meio ambiente. São Paulo: Jotacê; 2002.
Pelicioni AF. Dissertação de Mestrado/FSP/USP-1998.
Pelicioni MCF. Educação em Saúde e Educação Ambiental – estratégias de construção
da escola promotora da saúde. FSP/USP. São Paulo; 2000 (Tese de Livre-docência).
Philippi Jr A, Pelicioni MCF. Educação Ambiental. São Paulo: Signus Editora; 2000.
Sorrentino M. Ambientalismo
EDU/FAPESP; 2001.
e
participação
na
contemporaneidade.
São
Paulo:
TÍTULO II
O SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL
Isaías de Almeida Costa Filho
1.
Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário
Quando se discute a questão do Meio Ambiente é comum invocar a extrema fragilidade de
nosso planeta como argumento contra a intervenção humana. Entretanto a realidade é
outra e muito mais preocupante. O ser humano, ao longo de sua existência, vem
projetando na terra suas fragilidades e limitações. Estudos geológicos revelam o fato do
nosso planeta ter passado por inúmeras vicissitudes: violentíssimos terremotos e erupções
vulcânicas, rompimento da crosta terrestre e impactos de grandes meteoros, mesmo a vida
vem resistindo às mudanças no ambiente terrestre. Se assistimos apreensivos à extinção
de espécies em decorrência da atividade humana vale lembrar os períodos críticos de
extinções maciças, ocorridos em eras geológicas passadas, muito antes de começarmos a
fazer fogueiras.
Nova abordagem do estudo do ambiente é ver nosso planeta como um grande ser vivo,
um superorganismo se adaptando a perturbações, buscando manter mínimas condições de
vida, sem privilegiar nenhuma forma viva em especial e esta visão – Hipótese Gaia – se uma
espécie tentar modificar as condições de equilíbrio ideais para a manutenção da vida, Gaia
pode reagir e eliminar a parte incômoda de seu corpo alterando as condições ambientais
alertando-nos caracterizados, como espécie, pela capacidade de ação transformadora sobre
o ambiente. A história registra as conseqüências desastrosas do manejo irresponsável do
ambiente, confirmando a crise ecológica não ser fenômeno recente, nem conquista da
sociedade moderna.
O ser humano vive numa sociedade global com um cenário confuso, injusto e desigual, o
tempo passa e a vida da espécie humana se fragiliza e no Brasil, as agressões se sucedem a
cada minuto, causando danos irreparáveis aos ecossistemas.
Os resultados da Cúpula de Joanesburgo (África do Sul – 2002) sinalizaram de maneira
marcante a falta de reconhecimento da dívida sócio-ambiental dos países ricos para com os
países pobres. Os textos genéricos e a falta de definição de metas e mecanismos de
financiamento enfraqueceram o resultado final dos acordos com relação às dificuldades para
alcançar a equidade social e reduzir a pobreza esquecendo compromissos para alcançarmos o
desenvolvimento sustentável.
Nos últimos anos, os problemas de Abastecimento de Água chegaram aos grandes
centros populacionais. No Brasil, especialmente no semi-árido do Nordeste, a situação é
crítica alertando quanto ao uso inadequado na agricultura irrigada, onde, somando-se ao
desperdício o consumo de água doce ultrapassa o índice de 70% do total consumido no País.
Segundo a ONU, a escassez não é somente um problema nordestino e até 2025 se os atuais
padrões de consumo se mantiverem, duas em cada três pessoas no mundo vão sofrer
escassez de água refletindo o esgotamento dos recursos naturais numa escala sem
precedentes em função dos padrões de produção e consumo gerando poluição, ameaçando
os ecossistemas locais, e o ambiente global.
A transformação da sociedade e sua relação com a natureza são fundamentais para a
construção de nova agenda de compromissos futuros e persistem dificuldades de
incorporação das questões socioambientais nas rotinas administrativas a serem enfrentadas
pelos nossos governantes é o momento de mudar as metas de sustentabilidade para ações
concretas, a concepção de desenvolvimento sustentável impõe mudança radical nos sistemas
de valores e processos institucionais.
O País terá de correr para implementar políticas públicas urgindo a obrigação de
tratarmos os problemas ambientais nacionais com políticas eficientes nas esferas do governo
para satisfazer as necessidades básicas e gerir os recursos naturais.
A história do saneamento mostra forte urbanização, principalmente nos últimos 30 anos
fato relevante para análise da evolução do setor no Brasil. Na década de 70, a população
urbana era de 45% a 50% do total de habitantes; no ano de 2002 este número passou de
85% a 90% uma diferença de 90 milhões de pessoas em apenas três décadas e enquanto em
30 anos os índices populacionais dobraram, o atendimento com saneamento quadruplicou:
em 1970, cerca de 45% da população era atendida com água tratada e cerca de 20%
contavam com serviços de esgotos. Em 2002, mais de 95% da população urbana dispunha de
água tratada e 50% contava com o sistema público de esgotos e a queda do índice de
mortalidade infantil é conseqüência clara dos trabalhos executados pelo setor e falando em
população rural observa-se um exemplo de iniqüidade social: apenas 25% desta é atendida
com água de boa qualidade, enquanto os índices de coleta não ultrapassam 3,5% ao
defender a universalização do saneamento, encarando como grande desafio, a melhoria nas
áreas rurais do País, outro desafio é o sistema de coleta e tratamento de esgotos,
fundamentais para a saúde e preservação ambiental. As regiões Sul e Sudeste estão mais
avançadas embora haja muito para fazer. Quais as carências básicas? Recursos e eficiência
na gestão pública. O governo fala em torno de R$ 4,5 bilhões/ano durante os próximos dez
anos para sanar esta imensa dívida social, sem investimento o caminho da universalização do
saneamento é mais longo e árduo – para não dizer impossível.
A gestão pública das empresas de saneamento deve ter transparência e na eficiência. O
Brasil dá exemplos de empresas públicas onde, devido a uma gestão adequada, conseguem
mostrar resultados e atrair investidores. Para quem não gosta de analisar números para traçar
cenários, basta caminhar pelas regiões mais pobres do Brasil ou periferias dos grandes
centros urbanos para perceber a questão central não ser apenas os números retratando o
saneamento no País, mas a realidade de milhares de brasileiros.
Os prestadores de serviços de abrangência regional (Companhias Estaduais) operam e
administram sistemas com um total de 267,5 mil quilômetros de água e 82,8 mil quilômetros
de rede de esgoto estando conectadas 23,7 milhões de ligações totais de água e 8,4 milhões
de ligações totais de esgoto. Em média para cada ligação de água são necessários 11,2
metros de rede e no sistema de esgoto é de 9,78 metros de rede por ligação e atendem a
28,8 milhões de economias ativas de água e 12,7 milhões de esgoto e as economias ativas
de água, cerca de 91,5% são residenciais, entre as de esgotos, 89,7% são desta categoria.
Chama a atenção a predominância dos valores da Sabesp-SP, com 5,2 milhões de ligações
ativas de água e sua diferença das demais é maior quando se comparam as quantidades de
ligações ativas de esgoto, representando menos da metade das ligações de água,
excetuando-se a Caesb (Brasília-DF) com relação superior a 0,9.
Na prestação de serviços de esgotamento sanitário, no ano 2001, foram coletados 2,2
bilhões de metros cúbicos de esgotos, com apenas 1,4 bilhão tratado, resultando num índice
de tratamento de 64,3% para os esgotos gerados se observa uma quantidade não desprezível
de prestadores de serviços com baixos índices de coleta, elevados valores para os índices de
tratamento mostrando a maior parte ou a totalidade do pequeno volume de esgotos coletados
submetida a algum tipo de tratamento além da precaríssima situação dos serviços de
esgotamento sanitário.
Os indicadores relacionando os volumes de esgotos coletados com o de água
consumido mostram as condições ambientais na atualidade dos sistemas operados pelos
prestadores de serviços de água e esgotos. Os 230 municípios servidos por prestadores
locais têm uma população urbana de 23,0 milhões de habitantes representando cerca de
16,4% da população urbana do Brasil em 2001.
O somatório das populações urbanas atendidas por estes prestadores resulta em 22,5
milhões de pessoas com acesso aos serviços de água numa média de atendimento urbano
em torno de 97,9%. Os prestadores de serviços dos 127 municípios com serviços de coleta de
esgotos atendem 16 milhões de pessoas, 69,4% da população urbana dos municípios com
serviços de água e 75,6% daquela correspondente aos municípios com os dois serviços.
Ligações ativas de água e de esgoto – companhias – segundo região geográfica
Região e
campanha
Norte
Ligações ativas de água (1.000
ligações)
Ligações ativas de esg. (1.000
ligações)
763,1
34,4
Nordeste
5.798,6
1.074,6
Sudeste
9.433,0
5.500,7
Sul
4.309,2
868,6
Centro-oeste
1.524,8
654,4
21.818,7
8.132,7
Sabesp – SP
5.155,1
3.793,6
Copasa – MG
2.597,3
1.030,0
Caer – RR
63,3
8,5
Caesa – AP
47,1
5,2
Brasil
Dois maiores valores
Dois menores valores
Níveis de atendimento urbano com água e esgoto dos prestadores segundo a
abrangência
Índices de atendimento urbano (%)
Abrangência
Água
Coleta de esgoto
Tratamento de esg. gerados
9
Regional
38,3
29,8
1,1
8
Microrregional
3,1
2,1
6,0
9
Local
77,4
17,0
7,8
9
Brasil
50,9
25,6
2,4
Índice de atendimento pelos serviços de água e de esgotos pelos prestadores de abrangência
regional, segundo região geográfica
Atendimento
Atendimento
Regiões
Água (%)
Esgoto (%)
Norte
62,7
4,1
Nordeste
90,9
21,4
Sudeste
91,9
58,0
Sul
93,4
23,7
Centro-oeste
90,7
45,7
Brasil
90,6
38,5
Principais indicadores
Abastecimento de água:
Índice médio nacional é de 92,4%
Coleta de esgotos: índice médio nacional é de apenas 50,9% sendo
38,3% prestado por companhias estaduais e 77,4% o índice dos
serviços locais.
Esgotamento sanitário:
Tratamento de esgotos gerados: média nacional é de apenas 25,6%.
Operadores regionais tratam 29,8% do esgoto gerado e os locais,
apenas 17%.
2.
Resíduos Sólidos
Os destinos das 228.413 mil toneladas de resíduos urbanos coletados diariamente são
lixões (76%), aterros controlados (13%), aterros sanitários (10%), compostagem (0,9%) e
incineração (0,1%); serviços de coleta insuficientes, resíduos jogados em lixões a céu aberto
e milhares de pessoas vivendo da coleta de rejeitos nesses locais.
Panorama da situação do lixo no Brasil, segundo a última Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico (PNSB), divulgada pelo IBGE, em 2002.
A reciclagem desapareceu nos dados oficiais – baseados em questionários das
Prefeituras, mas a estimativa aponta cerca de 5% como o índice de reciclagem dos resíduos
urbanos.
O índice, apesar de modesto se deve ao trabalho dos mais de 500 mil catadores vivendo
da coleta e venda dos materiais recicláveis (Veja no quadro os números da reciclagem de
materiais no Brasil).
A coleta seletiva é praticada em 451 municípios (de um total de 5.475) segundo dados
oficiais, apesar de baixos, parecem otimistas e levantamento realizado pela ONG CEMPRE
(Compromisso Empresarial para Reciclagem), em 2002 – baseado em visitas aos locais,
contabilizou 192 municípios com serviço de coleta seletiva e as pesquisas coincidem quanto
às concentrações de coleta seletiva nas regiões Sudeste e Sul do País e os destaques são
as metrópoles de Curitiba e Porto Alegre 100% dos bairros atendidos por este tipo de serviço.
Reciclagem de materiais no Brasil
Latas de alumínio –
85%
Latas de aço –
45%
Papel de escritório
– 38%
Pneus – 20%
Plásticos – 17%
Papelão – 73%
Vidro – 42%
PET – 33%
Óleo lubrificante – 18%
Embalagens longa vida
– 15%
TÍTULO III
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Isaías de Almeida Costa Filho
1.
O “Planeta Água”
A água constitui o recurso natural mais abundante do globo terrestre. Encontra-se
disponível sob várias formas e é uma das substâncias mais comuns existentes na natureza,
cobrindo cerca de 70 por cento da superfície do planeta. É encontrada principalmente no
estado líquido, constituindo um recurso natural renovável por meio do ciclo hidrológico.
Todos os organismos necessitam de água para sobreviver, sendo a sua disponibilidade
um dos fatores mais importantes a moldar os ecossistemas.
É fundamental aos recursos hídricos disporem de condições físicas e químicas
adequadas para sua utilização pelos organismos.
Eles devem conter substâncias essenciais à vida e estar isentos de outras produtoras
de efeitos deletérios aos organismos componentes das cadeias alimentares e disponibilidade
significa a presença desta em quantidade adequada em uma dada região e com qualidade
satisfatória para suprir as necessidades de um determinado conjunto de seres vivos (biota).
Há duas formas de caracterizar os recursos hídricos: com relação à sua quantidade e à
sua qualidade, estando estas características intimamente relacionadas.
A qualidade da água depende diretamente da quantidade de água existente para
dissolver, diluir e transportar as substâncias benéficas e maléficas para os componentes das
cadeias alimentares.
Estima-se ser aproximadamente igual a 265.400 trilhões de metros cúbicos a massa de
água total existente no planeta.Devido a esta abundância, costuma-se denominar a Terra de
“Planeta Água”.
1.1.
O Ciclo Hidrológico
O ciclo hidrológico é o contínuo movimento da água no planeta. É a representação do
comportamento da água no globo terrestre, incluindo ocorrência, transformação,
movimentação e relações com a vida humana. É um verdadeiro retrato dos caminhos da água
em interação com os demais recursos naturais.
A água existe em forma de vapor, na atmosfera e provém da evaporação das superfícies
líquidas (oceanos, mares, rios, lagos, lagoas) ou das umedecidas com água, como a dos
solos. Parte da água encontrada na atmosfera resulta de fenômenos hidrológicos e de
fenômenos vitais como a respiração e transpiração.
Apesar deste imenso volume, nem toda água é diretamente aproveitada pelo ser
humano. Por exemplo, a água salgada dos oceanos não pode ser diretamente utilizada para
abastecimento humano, pois as tecnologias atualmente disponíveis para dessalinização são
ainda um processo bastante caro quando comparado com os normalmente utilizados para o
tratamento de água para uso doméstico.
A água existente nas geleiras apresenta o inconveniente de estar localizada em regiões
muito distantes dos centros consumidores, implicando elevados custos de transporte. A
extração de águas muito profundas também está sujeita a limitações econômicas.
Do total apresentado de 265.400 trilhões de toneladas, somente 0,5 por cento
representa água doce explorável sob o ponto de vista tecnológico e econômico, podendo ser
extraída dos lagos, rios e aqüíferos. É necessário subtrair aquela parcela de água doce
encontrada em locais de difícil acesso ou aquela muito poluída, restando para utilização
direta, apenas 0,003 por cento do volume total de água do planeta. Portanto, se toda água do
planeta correspondesse a 100 litros, a parcela diretamente utilizável corresponderia a apenas
0,003 litros ou meia colher de chá.
Além disto, a água doce é distribuída de maneira heterogênea no espaço e no tempo.
Esta distribuição heterogênea no espaço pode ser observada pela existência dos desertos,
caracterizados por baixa umidade e das florestas tropicais, por alta umidade. Acrescida da
variabilidade temporal da precipitação em função das condições climáticas, variando devido
ao movimento de translação da Terra.
Além das variações naturais características das fases do ciclo hidrológico, importantes
alterações têm ocorrido nas fases deste ciclo devido a intervenções humanas, intencionais ou
não. Por exemplo, a ocorrência de vapor atmosférico pode ser alterada pela presença de
reservatórios, pela modificação da cobertura vegetal e também por alterações climáticas
causadas por gases estufa.
Evidentemente, tais modificações podem acarretar mudanças no regime de
precipitações, afetando, portanto, a disponibilidade da água. O uso do solo é fator de
importância fundamental na ocorrência natural de água.
O desmatamento e a urbanização podem modificar o ciclo hidrológico ao diminuírem,
por exemplo, a evapotranspiração.
Com o desmatamento há maior presença da umidade no solo e sua capacidade de
infiltração também diminui. Assim, existe uma tendência de aumento do escoamento
superficial durante eventos chuvosos, ampliando assim, a freqüência de ocorrência de cheias.
Tal fato tende a tornar-se gradativamente mais intenso pela diminuição da proteção do
solo contra a erosão e a conseqüente diminuição de sua permeabilidade devido ao
desmatamento.
Nas áreas urbanas ocorre impermeabilização do solo por meio das construções e
pavimentação das ruas. Quando a precipitação atinge o solo, ocorre escoamento superficial
mais intenso devido a pouca ou nenhuma capacidade de infiltração disponível e esta
impermeabilização do solo pela urbanização é uma das principais causas de inundações nos
meios urbanos.
2.
A qualidade da água
Além dos problemas relacionados à quantidade de água como escassez, estiagens e
cheias, há as relacionados à qualidade da água e a contaminação de mananciais impede, seu
uso para abastecimento humano.
A alteração da qualidade da água agrava o problema da escassez deste recurso.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima em 25 milhões o total de pessoas
mortas por ano devido a doenças transmitidas pela água como cólera e diarréias e nos países
em desenvolvimento 70 por cento da população rural e 25 por cento da urbana não dispõem
de abastecimento adequado de água potável.
Segundo números revelados em 2000 pela Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
(IBGE), o Brasil ainda tem um contingente de 31.452.673 pessoas sem acesso as redes
públicas de Abastecimento de Água.
3.
Características físicas da água
A água por se apresentar em estado líquido nas condições normais de temperatura e
pressão e ser uma das poucas substâncias inorgânicas com tal característica quando sua
densidade atinge valores relativamente elevados, gerando uma interface bem definida entre o
meio aquático superficial e a atmosfera, em função de sua densidade cerca de oitocentas
vezes superior a do ar.
Para ser considerada potável, sob o ponto de vista físico, a água não deve ter cor nem
turbidez acima dos limites estabelecidos nos Padrões de Potabilidade e odor e sabor não
serão objetáveis.
4.
Características químicas da água
Entre as características químicas mais importantes: ótimo solvente, conhecida como
solvente universal, capaz de dissolver grande número de substâncias orgânicas ou inorgânicas
nos estados sólido, líquido ou gasoso. Algumas das substâncias dissolvidas nas águas naturais
são essenciais para a sobrevivência dos organismos aquáticos.
A presença de alguns sais dissolvidos na água é fundamental para a constituição das
cadeias alimentares no meio aquático, servindo de nutrientes para os organismos autótrofos.
Em geral, os sais de fósforo ou de nitrogênio são fatores limitantes para o crescimento destes
organismos no ambiente aquático, logo, um aumento excessivo na concentração destes sais
pode gerar proliferação de algas, gerando a eutrofização e sais de outros elementos são
fundamentais para a vida aquática. Os organismos precisam de quantidades moderadas de
sais de sílica, cálcio, magnésio, sódio, potássio, enxofre, cloro e ferro e em quantidades
diminutas, porém fundamentais de sais de manganês, zinco, cobre, molibdênio e cobalto,
entre outros.
O pH é a medida da acidez ou alcalinidade relativa de uma determinada solução, seu
valor para a água pura a 25ºC é 7 e varia entre 0 e 7 em meios ácidos e 7 e 14 em meios
alcalinos. O pH é importante porque muitas reações químicas no meio ambiente são afetadas
pelo seu valor e sistemas biológicos são sensíveis ao valor do pH. E o meio deve ter pH entre
6,5 e 8,5 para os organismos não sofrerem grandes danos. Muitas substâncias decorrentes
da atividade humana despejadas no meio aquático podem alterar o valor do pH, como as
deposições ácidas provenientes da poluição atmosférica. Dentre as substâncias naturalmente
presentes no meio ambiente com possibilidade de alterar o pH temos o gás carbônico, este,
ao se dissolver na água, forma o ácido carbônico reduzindo o pH e a água saturada de gás
carbônico terá pH igual a 5,6.
5.
Características biológicas da água
Em condições físicas e químicas apropriadas no meio aquático, surgirá uma cadeia
alimentar composta por organismos produtores, consumidores de várias ordens e
decompositores. Além do papel destes estes organismos no meio aquático, eles são
importantes como fonte de alimento para o ser humano, por sua atuação na recuperação da
qualidade das águas poluídas, introdução e retirada de gases na atmosfera e na hidrosfera e
contribuição para a ocorrência de uma série de doenças.
Os organismos aquáticos podem pertencer a um dos grupos: vírus, bactérias, fungos,
algas, macrófitas, protozoários, rotíferos, crustáceos, insetos aquáticos, vermes, moluscos,
peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
Outra maneira de classificar os organismos aquáticos é pela região onde vivem. Por
exemplo, o plâncton se refere à comunidade de seres vivos convivendo em suspensão no meio
aquático, genericamente subdividido em fitoplâncton (comunidade vegetal do plâncton) e
zooplâncton (comunidade animal do plâncton). O nécton se refere ao conjunto de organismos
com capacidade de locomoção, independente das correntes. Finalmente, os organismos
bentônicos são os habitantes dos leitos dos corpos de água.
6.
Usos da água e requisitos de qualidade
A água é um dos recursos naturais mais intensamente utilizados é fundamental para a
existência e manutenção da vida por isto, deve estar presente no ambiente em quantidade e
qualidade apropriadas.
O ser humano tem usado a água para suprir suas necessidades metabólicas, outros fins.
Existem regiões no planeta com intensa demanda de água como os grandes centros urbanos,
pólos industriais e zonas de irrigação. Esta demanda pode superar a oferta quantitativa de
água e porque a qualidade da água local está prejudicada devido à poluição podendo afetar a
oferta de água e gerar graves problemas de desequilíbrio ambiental.
6.1.
Abastecimento humano:
É considerado o mais nobre e prioritário, pois o ser humano depende de uma oferta
adequada de água para sua sobrevivência. A qualidade de vida das pessoas está diretamente
ligada à água utilizada para o funcionamento adequado de seu organismo, preparo de
alimentos, higiene pessoal e utensílios e ainda, para irrigação de jardins, lavagem de veículos
e pisos, usos estes com exigências menores em relação à qualidade.
Ainda deve apresentar características sanitárias e toxicológicas adequadas, como estar
isenta de organismos patogênicos e substâncias tóxicas, para prevenir danos à saúde e bemestar das pessoas.
Organismos patogênicos transmitem doenças pela ingestão ou contato com água
contaminada, como bactérias, vírus, parasitas, protozoários, causadores de doenças como
disenteria, febre tifóide, cólera, hepatite e outras. A Organização Mundial de Saúde tem uma
estimativa de 13.700 pessoas morrendo por dia devido a doenças transmitidas pela água,
sendo mais da metade crianças com menos de cinco anos de idade, facilmente evitáveis com
a existência de saneamento básico adequado.
A água potável não causa danos à saúde nem prejuízo aos sentidos e deve haver uma
preocupação com a aparência da água porque um consumidor insatisfeito com o aspecto da
água oferecida pode utilizar o produto de outro manancial com melhor aspecto.
Todavia, não existe uma relação biunívoca entre aspecto e qualidade da água, pois esta,
com melhor aspecto, pode ser mais nociva à saúde quando comparada com outra de pior
aspecto, dependendo das substâncias dissolvidas e organismos patogênicos presentes em
ambas.
6.2.
Usos da água
Abastecimento industrial – Irrigação – Geração de energia elétrica –
Navegação – Diluição de despejos – Preservação da flora e fauna – Aqüicultura – Recreação
7.
Poluição e/ ou contaminação das águas
Poluição da água é a alteração de suas características por quaisquer ações ou
interferências, naturais ou provocadas pelo ser humano podendo produzir impactos estéticos,
fisiológicos ou ecológicos e o conceito de poluição da água tem se tornado cada vez mais
amplo em função de maiores exigências com relação à conservação e uso racional dos
recursos hídricos.
O vocábulo poluição está associado ao ato de manchar ou sujar, mostrando conotação
estética dada à poluição quando passou a ser percebida. Entretanto, a alteração da qualidade
da água não está ligada somente a aspectos estéticos porque a água de aparência
satisfatória para um uso específico pode conter microrganismos patogênicos e substâncias
tóxicas para determinadas espécies, e outras com aspecto desagradável podem ter
determinados usos. A noção de poluição estará associada aos determinados usos da água.
É importante distinguir a diferença dos conceitos de poluição e contaminação,
geralmente utilizados como sinônimos. A contaminação se refere à transmissão de
substâncias ou microrganismos nocivos à saúde pela água.
A ocorrência da contaminação não implica em desequilíbrio ecológico e a presença na
água de organismos patogênicos prejudiciais ao ser humano não significa estar o meio
ambiente aquático ecologicamente desequilibrado. De maneira análoga, a ocorrência de
poluição não implica em riscos à saúde dos organismos usuários dos recursos hídricos
afetados. A introdução de calor excessivo nos corpos de água pode causar profundas
alterações ecológicas no meio, não significando restrições ao seu consumo pelo ser humano.
7.1.
Principais poluentes aquáticos
Os poluentes são classificados de acordo com sua natureza e os principais impactos
causados pelo lançamento no meio aquático.
7.1.1. Poluentes orgânicos biodegradáveis
A matéria orgânica biodegradável lançada na água será degradada pelos organismos
decompositores presentes no meio aquático existem duas maneiras destes compostos,
constituídos principalmente por proteínas, carboidratos e gorduras, serem degradados:
·
havendo oxigênio dissolvido no meio, a decomposição será feita por bactérias
aeróbias, consumidoras do oxigênio dissolvido na água e se o consumo de oxigênio for
superior a capacidade do meio para repô-lo, haverá esgotamento e inviabilização de vida para
peixes e outros organismos dependentes do oxigênio para respirar; e
·
não
havendo
oxigênio
dissolvido no
meio
ocorrerá
decomposição anaeróbia com formação de gases como o metano e gás sulfídrico.
a
A presença de matéria orgânica biodegradável no meio aquático pode causar a
destruição da fauna ictiológica e de outras espécies aeróbias devido ao consumo do oxigênio
dissolvido pelos organismos decompositores e o impacto introduzido pelo despejo de esgotos
domésticos em corpos de água ocorre principalmente pela diminuição da concentração de
oxigênio dissolvido na água e não à presença de substâncias tóxicas.
7.1.2. Poluentes orgânicos recalcitrantes, refratários ou não biodegradáveis
Muitos compostos orgânicos não são biodegradáveis ou sua taxa de biodegradação é
muito lenta e também recebem a denominação de recalcitrantes ou refratários. A digestão de
uma determinada substância depende da possibilidade de fornecer energia para os organismos
e da existência de organismos capazes de digeri-la o caso da maioria dos compostos orgânicos
recalcitrantes criados por processos tecnológicos e dispostos há pouco tempo no ambiente.
O impacto introduzido por compostos orgânicos deste tipo está associado à sua
toxicidade e não ao consumo de oxigênio utilizado para sua decomposição. Alguns
compostos se encontram no meio aquático em concentrações não consideradas perigosas ou
tóxicas.
No entanto, devido ao fenômeno da bioacumulação, sua concentração no tecido dos
organismos vivos pode ser alta caso não possuam mecanismos metabólicos capazes de
eliminar tais compostos após sua ingestão. Alguns exemplos de compostos orgânicos desta
natureza são: defensivos agrícolas; detergentes sintéticos; e petróleo.
7.1.3. Outros poluentes hídricos
·
Metais – os metais pesados, devido à elevada toxidez: mercúrio, cádmio, lítio,
prata, cromo-hexavalente, chumbo e outros.
·
Nutrientes – os sais de fósforo e nitrogênio responsáveis pela proliferação
acentuada de algas e outros organismos aquáticos em corpos de água, como lagos e lagoas.
Este fenômeno chama-se Eutrofização e a maior causa é a presença de matéria
orgânica biodegradável existente no solo e nas águas residuárias (esgotos domésticos),
lançadas, sem tratamento, nestes corpos.
·
Organismos patogênicos – é enorme o número de pessoas por eles
afetados, principalmente nas regiões menos desenvolvidas onde o saneamento básico é
precário ou inexistente.
Estas doenças podem causar incapacitação temporária ou morte, responsabilizando-se
por boa parte da ocupação de leitos hospitalares e redução da qualidade de vida. As classes
de organismos patogênicos mais comuns e algumas doenças transmitidas pela água e pelo
esgoto ao ser humano são responsáveis por transmissão de:
Þ
bactérias – leptospirose, febre tifóide, febre paratifóide, cólera e outras;
Þ
vírus – hepatite infecciosa e poliomielite;
Þ
protozoários – amebíase e giardíase; e
Þ
helmintos – esquistossomose e ascaridíase.
·
Sólidos em suspensão – aumentam a turbidez da água, diminuindo sua
transparência. O aumento da turbidez reduz as taxas de fotossíntese e prejudica a procura de
alimento para algumas espécies, levando a desequilíbrios na cadeia alimentar. Sedimentos
podem carregar pesticidas e outros tóxicos e sua deposição no fundo de rios e lagos prejudica as
espécies bentônicas e a reprodução de peixes.
O desastre ecológico ocorrido em março/2003, quando 1,2 bilhão de litros de dejetos
químicos vazou da Industria Cataguases de Papéis, em Minas Gerais contaminando os rios
Pomba e Paraíba do Sul, resultou na destruição da fauna e da flora destes rios, devido ao
líquido residuário conter dentre outros poluentes, enxofre, chumbo, soda cáustica, sulfeto de
sódio e antriquinona. O acidente afetou o abastecimento de água de 08 (oito) municípios do
Estado do Rio, deixando cerca de 500.000 pessoas sem água potável além mortandade de
peixes.
8.
Medida da poluição orgânica
A poluição orgânica é provocada por matérias orgânicas suscetíveis de degradação
bacteriana e favorecida pela fraca solubilidade do oxigênio nas águas. A matéria orgânica
alimenta animais, fungos e bactérias. Estas, quando o alimento deixa de ser fator limitante,
multiplicam-se com espantosa rapidez e consomem muito oxigênio. Se a água for rica em
oxigênio dissolvido e a matéria orgânica pouco abundante, domina a degradação aeróbia e
formam-se gás carbônico, água e nitratos. Mas se a água não contiver oxigênio suficiente,
ocorre a degradação anaeróbia, com produção de gás carbônico, metano, amônia, ácidos
graxos, mercaptanas, fenóis e aminoácidos – alguns destes compostos são tóxicos. A
existência de um ou de outro processo dependerá das condições do meio, onde tem grande
importância a quantidade de esgotos lançados, o volume do corpo receptor, a rapidez de
oxigenação da água e a temperatura.
Quando a quantidade de esgotos lançada for muito grande em relação ao volume do
corpo receptor e à sua capacidade de oxigenação, a proliferação de bactérias “vorazes” pelo
oxigênio, consumirá todo oxigênio dissolvido na água, causando a morte da comunidade
aquática. Diz-se ter ocorrido a morte do corpo d’água, devido ao excesso de alimento servido
ao mesmo. Um corpo d’água morto não contém oxigênio dissolvido em suas águas e
conseqüentemente não tem forma de vida superior.
8.1.
(DQO)
Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio
Levando-se em consideração o fato da poluição orgânica acarretar grande consumo de
oxigênio, uma boa estimativa da poluição pode ser obtida através da DBO5 e da DQO. A
demanda bioquímica de oxigênio – DBO5 – corresponde à quantidade de oxigênio necessária
para as bactérias oxidarem a matéria orgânica (biodegradável).
A demanda química de oxigênio – DQO – representa a quantidade de oxigênio
dissolvido, cedida por via química para oxidação de matéria orgânica biodegradável e nãobiodegradável. Ambas contribuem para o fechamento de ciclos biogeoquímicos nas águas.
Em águas limpas, a DBO5 é fraca, da ordem de 2 a 4mg/l e em águas poluídas é de
várias dezenas de miligramas. No esgoto doméstico chega a 300mg/l e nos despejos
industriais varia com o tipo de indústria, porém é sempre superior à do esgoto doméstico.
A relação DQO/DBO5 dá uma idéia do tipo de matéria orgânica predominante na
poluição. Nas águas poucos poluídas, a relação DQO/DBO5 é pouco elevada, de 2 a 3 se
maior, indica predominância de matéria não biodegradável, muitas são tóxicas como
detergentes e pesticidas e a água pode estar saturada de oxigênio mas intensamente
contaminada (lembrando ser contaminação também poluição).
É importante determinar os sólidos em suspensão e sedimentáveis. Trata-se de
substâncias insolúveis responsáveis pela diminuição da transparência da água dificultando a
fotossíntese (diminuindo a reoxigenação), além de perturbar a vida dos organismos
bentônicos ao se depositarem lentamente sobre o fundo e promoverem o assoreamento dos
corpos d’água.
8.2.
Carga poluidora
A DBO5 dá uma idéia do grau de poluição do despejo ou do ambiente, porém, na
avaliação da poluição, deve-se correlacionar este indicador com a quantidade de despejos,
pois, para uma mesma DBO5, quanto maior o volume ou a vazão de lançamento, maior o
potencial poluidor do despejo.
Esta correlação é feita através da carga poluidora. A carga poluidora ou carga de
DBO representa a quantidade de oxigênio a ser requerida do corpo d’água na unidade de
tempo e obtida multiplicando-se a DBO5 do esgoto considerado pela vazão de lançamento do
corpo receptor.
A importância da medida da DBO5 e conseqüentemente da carga poluidora, sob o ponto
de vista ecológico é muito grande, pois através dela podemos saber quanto oxigênio vai ser
“roubado” da água, por determinada quantidade de um certo tipo de despeje.
Conhecendo-se o volume de água do corpo receptor e a quantidade de oxigênio nele
contida, pode-se saber também quanto oxigênio resta para a respiração dos peixes.
9.
Parâmetros da qualidade da água
Não existe água pura na natureza a não ser as moléculas de água presentes na
atmosfera sob a forma de vapor. Havendo ocorrência da condensação, começam a ser
dissolvidos na água, por exemplo, os gases atmosféricos e isto ocorre porque a água é um
ótimo solvente. Como conseqüência, são necessários indicadores físicos, químicos e
biológicos para caracterizar a qualidade da água.
Dependendo das substâncias presentes na atmosfera, da litologia do terreno, da
vegetação e de outros fatores intervenientes, as principais variáveis da qualidade da água
apresentarão valores diferentes. Por exemplo, é na água da chuva precipitada em locais
próximos ao oceano há a presença de maior concentração de cloreto de sódio. Rios cujos
percursos atravessam regiões de floresta densa devem apresentar coloração mais escura
quando comparados aos rios em regiões desérticas devido ao teor de matéria orgânica na
água.
As variáveis físicas são medidas em escalas próprias e as químicas são dadas em
concentração (mg/l) e as biológicas pela indicação da densidade populacional do organismo de
interesse. Para a caracterização da qualidade da água são coletadas amostras para de exames
e análises mediante cuidados e técnicas apropriados com volume e número adequados de
amostras. Os exames e análises são feitos segundo métodos padronizados e por entidades
especializadas.
9.1.
Classificação das águas
Os corpos d’água existentes no território brasileiro, atendendo Legislação Federal –
Resolução CONAMA no. 20/86 (Conselho Nacional de Meio Ambiente), são distribuídos em
três categorias (águas doces, salinas e salobras) e enquadradas em nove classes:
·
águas doces: classes especiais, I, II, III e IV
·
águas salinas: classes V e VI
·
águas salobras: classes VII e VIII
Pela resolução no. 274/2000 – CONAMA, as águas doces, salobras e salinas, destinadas
a balneabilidade (recreação de contato primário) terão a condição avaliada nas categorias
próprias e impróprias. As águas apropriadas poderão ser subdivididas em: excelente, muito
boa e satisfatória.
Os indicadores físicos, químicos e biológicos da água potável com qualidade adequada
ao consumo humano, devem estar de acordo com a Portaria no. 1469 de 29 de dezembro de
2000 – Ministério da Saúde.
9.2.
Indicadores físicos
Incluem-se nas características físicas: cor, turbidez, sabor e odor.
·
Cor – característica derivada da existência de substâncias em solução na
grande maioria dos casos, de natureza orgânica.
·
Turbidez – propriedade de desviar raios luminosos e decorre da presença de
material em suspensão na água, finamente divididos ou em estado coloidal e de organismos
microscópicos.
·
Sabor e odor – associados a poluentes industriais ou outras substâncias
indesejáveis como matéria orgânica em decomposição, algas e outros. Certas características
físicas podem prejudicar alguns usos da água. A cor e a turbidez elevadas podem tornar a
água imprópria ao consumo humano pelo aspecto estético ou manchar roupas e aparelhos
sanitários. A cor pode tornar o líquido inadequado para uso em industrias de bebidas e outros
alimentos, fabricação de louças e papéis ou para indústrias têxteis. Águas com sabor e odor
acentuados são rejeitadas para consumo humano. A turbidez acentuada em águas naturais
impede a penetração dos raios solares e prejudica a fotossíntese, causando problemas para o
meio aquático.
9.3.
Indicadores químicos
As características químicas da água ocorrem em função da presença de substâncias
dissolvidas, mensuráveis somente por meios analíticos. Entre as características químicas da
água destacamos:
·
Salinidade – conjunto de sais normalmente dissolvidos na água, formado
pelos bicarbonatos, cloretos, sulfatos e, em menor quantidade, pelo demais sais, podendo
conferir à água o sabor salino e características incrustantes. O teor de cloreto pode ser
indicativo de poluição por esgotos domésticos.
·
Dureza – característica da presença de sais de metais alcalino-terrosos
(cálcio, magnésio e outros.) e alguns metais em menor intensidade e se caracteriza pela
extinção da espuma formada pelo sabão, índice de uma reação mais complexa, dificultando o
banho e a lavagem de utensílios domésticos e roupas, criando problemas higiênicos. As
águas duras, por causa de condições desfavoráveis e equilíbrio químico, podem incrustar as
tubulações de água quente, radiadores de automóveis, hidrômetros, caldeiras e outros.
·
Alcalinidade – presença de bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos, quase
sempre de metais alcalinos ou alcalino-terrosos (sódio, potássio, cálcio, magnésio e outros).
Exceto quanto à presença de hidróxidos (sempre adicionados, não naturais), a
alcalinidade não constitui problema isolado, salvo se a salinidade estiver fora dos limites
aceitáveis para o uso desejado da água. A alcalinidade influencia o tratamento da água para
consumo doméstico.
·
Corrosividade – a tendência da água de corroer os metais pode ser devido à
presença de ácidos minerais (casos raros) ou existência em solução de oxigênio, gás
carbônico e gás sulfídrico, o oxigênio é fator de corrosão dos produtos ferrosos, o gás
sulfídrico dos não-ferrosos e o gás carbônico dos materiais à base de cimento.
·
Ferro e manganês – o ferro associado ao manganês, confere à água sabor,
ou melhor, sensação de adstringência e coloração avermelhada, decorrente de sua
precipitação.
As águas ferruginosas mancham as roupas durante a lavagem, mancham os aparelhos
sanitários e podem ficar depositadas nas tubulações. O manganês apresenta inconvenientes
semelhantes aos do ferro, menos comum e sua coloração é marrom.
·
Impurezas orgânicas, nitrogênio e cloretos – o termo impurezas orgânicas
é aplicável a constituintes de origem animal ou vegetal indicadores de poluição. Exemplo:
matéria orgânica em geral, nitrogênio sob diversas formas (orgânicos, amoniacal, nitritos e
nitratos) e, de forma associada, os cloretos, quando de origem estranha à natureza do
terreno.
O nitrogênio, por seguir um ciclo condutor à mineralização total sob a forma de nitritos,
permite avaliar o grau e a distância de uma poluição pela quantidade e forma de
apresentação dos derivados nitrogenados. Independentemente de sua origem, inclusive a
mineral, os nitratos presentes na água em quantidades maiores provocam em crianças a
cianose ou metamoglobinemia. Cloretos podem indicar mistura recente ou remota com águas
residuárias.
·
Características benéficas – a dieta humana exige certa concentração
mineral nas águas de consumo fisiológico. Por exemplo, são necessários 2mg de cobre e 6 a
10mg de ferro diariamente ao ser humano.
Os teores de iodo e flúor têm chamado a atenção, pois a deficiência de iodo das águas
usadas para a alimentação em certas regiões tem sido responsabilizada pela maior incidência
do bócio e presença de flúor constitue fator de redução da cárie dentária.
No entanto, em doses elevadas, o flúor pode causar problemas, provocando alterações
ósseas ou ocasionando a fluorose dentária (manchas escuras nos dentes).
·
Compostos tóxicos – alguns elementos ou compostos químicos na água,
tornam-na tóxica como o cobre, zinco, chumbo, cianetos, cromo hexavalente, cádmio,
arsênio, selênio, prata, mercúrio, bário e podem alcançar a água a partir de efluentes
industriais, drenagem de áreas agrícolas ou atividades de mineração.
·
Fenóis – e seus compostos existentes em resíduos industriais, além de
tóxicos, causam problemas em sistemas de tratamento da água, pois se combinam com o
cloro para produzir odor e sabor desagradáveis.
·
Detergentes – principalmente não biodegradáveis, causam problemas
quando incorporados à água: sabor desagradável, formação de espuma em águas agitadas,
problemas em estações de tratamento de água e de esgoto devido à espuma e à toxicidade
quando em teores mais elevados.
·
Agrotóxicos – substâncias químicas usadas no combate às pragas como
inseticidas, raticidas, herbicidas, fungicidas e formicidas. São tóxicos ao ser humano, aos
peixes e outros animais quando em concentrações mais elevadas, acima das consideradas
críticas. O uso destes produtos, tem causado a mortandade de peixes e prejuízo ao
abastecimento público de água.
·
Radioatividade – desenvolvimento da industria nuclear traz problemas de
aumento da radioatividade ambiente, onde as águas da chuva poderão carrear a contaminação
quando esta não ocorrer por lançamento direto.
9.4.
Indicadores biológicos
Os microrganismos aquáticos desenvolvem na água atividades biológicas de nutrição,
respiração, excreção e outros, provocando modificações de caráter químico e ecológico no
ambiente aquático.
Os microrganismos de origem externa como os patogênicos, introduzidos na água junto
com material fecal, não se alimentam nem se reproduzem no meio aquático tendo caráter
transitório neste ambiente.
·
Algas – de grande importância para o equilíbrio ecológico do meio aquático e
serem responsáveis por parte do oxigênio presente na água (produzido pelo processo da
fotossíntese), podem acarretar alguns problemas como a formação de grande massa
orgânica, levando à produção de quantidade excessiva de lodo e à liberação de vários
compostos orgânicos, muitos deles tóxicos ou produzir sabor e odor desagradáveis,
desenvolvimento de camadas de algas nas superfícies de reservatórios, causando turbidez e
dificultando a penetração da luz solar com conseqüente redução do oxigênio do meio,
entupimento de filtros de areia em estações de tratamento da água, ataque às paredes de
reservatórios de águas e piscinas e corrosão de estruturas de ferro e concreto. Devido a
elevada toxidez, a presença das cianobactérias (algas azuis) nos mananciais de superfície
(rios, lagoas, açudes e outros) constituí grande preocupação dos órgãos responsáveis pelos
Sistemas de Abastecimento de Água.
·
Microrganismos patogênicos – introduzidos na água junto com material
fecal de esgotos sanitários e são de vários tipos: bactérias, vírus e protozoários, não são
residentes naturais do meio aquático, têm sua origem nos dejetos de pessoas doentes,
sobrevivência limitada na água, podendo alcançar o ser humano por ingestão ou contato com
a água, causando-lhe doenças. Devido à grande variedade de microrganismos patogênicos
contidos na água é difícil sua detecção individualizada inferir com maior facilidade sua
existência a partir de indicadores da presença de matéria fecal no meio líquido.
As bactérias usadas como indicadores de poluição da água por matéria fecal são os
coliformes fecais encontrados no organismo humano demais animais de sangue quente e em
grande quantidade nas fezes. Embora não patogênicas estas bactérias na água indicam o
recebimento de matéria fecal e pode conter microrganismos patogênicos e entre as bactérias
do grupo coliforme a mais usada como indicadora da poluição fecal é a Escherichia coli
escolhida como indicadores da presença potencial de organismos patogênicos de origem
fecal na água porque:
a)
existem em grande número na matéria fecal e não há em nenhum outro tipo
de matéria orgânica poluente; por conseguinte, são indicadores específicos de matéria fecal,
atingindo até um bilhão por grama de fezes.
b)
algumas bactérias do grupo (Escherichia coli) não se reproduzem na água ou
no solo, mas exclusivamente no interior do intestino (ou em meios de cultura especiais a certa
temperatura) e só são encontradas na água quando foi introduzida matéria fecal e seu
número é proporcional à concentração desta matéria;
c)
apresentam um grau de resistência ao meio (à luz, ao oxigênio, ao cloro e a
outros agentes destruidores de bactérias) comparável ao dos principais patogênicos
intestinais, veiculados pela água; desta maneira, reduz-se a possibilidade de existirem
patogênicos fecais quando não se encontram coliformes; e
d)
sua caracterização e quantificação são feitas por métodos simples e as únicas
capazes de fermentar lactose, produzindo gás e resíduos na presença de bile (componente
normal do intestino) Se a água a ser testada for submetida a várias diluições e estas
‘semeadas’ sucessivamente em tubos, a formação de gás caracterizará a presença de
bactérias. Pelo valor das diluições máximas apresentando resultado positivo será possível
avaliar o chamado Número Mais Provável (NMP) de bactérias do grupo coliforme sua
concentração na amostra ensaiada.
Os coliformes têm menor resistência ao meio aquático ou tratamento pelo cloro quando
comparados com alguns vermes vírus e cuidados especiais devem ser adotados no
tratamento de águas poluídas com esgotos de origem doméstica para controlar estes
microrganismos.
10.
Sistema Público de Abastecimento de Água
Os sistemas de abastecimento de água para fins de consumo humano são constituídos
por instalações e equipamentos destinados a fornecer água potável a uma comunidade.
Os indicadores físicos, químicos e biológicos da água potável com qualidade adequada
ao consumo humano, devem seguir a Portaria no. 1469/2000, do Ministério da Saúde, cujo
objetivo é a aprovação de Normas o Padrão de Potabilidade da água destinada ao consumo
humano. Define-se Padrão de Potabilidade como “conjunto de valores máximos permissíveis
das características de qualidade da água destinada ao consumo humano” relacionados às
características físicas, organolépticas e químicas, seus Valores Máximos Permissíveis (VMP)
e as de qualidade bacteriológicas e radioativa.
O Padrão de Potabilidade define o limite máximo para cada elemento ou substância
química não considerando eventuais efeitos sinérgicos entre elementos ou substâncias.
Considerando o conceito de “qualidade de água boa” para consumo humano como
dinâmico, seus parâmetros definidos e seus valores-limite devem ser mantidos sob constante
revisão em função dos avanços tecnológicos para detecção de elementos tóxicos e novos
tóxicos, freqüentemente lançados no meio ambiente e novos efeitos sinérgicos descobertos a
cada dia.
10.1. Principais Unidades de um Sistema Público de Abastecimento de água
·
Manancial – fonte de suprimento de água. A escolha do manancial depende
de disponibilidade e qualidade da água.
·
manancial.
Captação – conjunto de equipamentos e instalações para retirar a água do
·
Adução – parte do sistema constituída de tubulações sem derivações,
ligando a captação ao tratamento ou este ao reservatório de distribuição por gravidade,
recalque ou mista, prioriza-se a adução por gravidade para evitar gastos adicionais de
energia.
·
Tratamento – visa remover impurezas na água e eliminar microrganismos
prejudiciais à saúde adequando a água do manancial ao Padrão de Potabilidade.
·
Reservatório de distribuição – empregado para acumular água para
atender à variação do consumo horário, manter uma pressão mínima ou constante na rede e
atender às demandas de emergência, como em casos de incêndio, ruptura da rede e outros.
·
Rede de distribuição – leva a água do reservatório ou da adutora para
pontos de consumo residenciais, escolas, hospitais, indústrias e outros locais a serem
abastecidos na comunidade.
Para se obter água adequada num Sistema Público de Abastecimento faz-se
necessário:
·
as características de qualidade da água presente no manancial sejam
compatíveis com os processos de tratamento de água economicamente disponíveis;
·
as características da qualidade da água bruta mantenham estáveis ao longo
do tempo significando-se o controle da poluição do manancial; e
·
o sistema seja projetado, construído, operado e mantido para criar condições
propícias para obter água de forma adequada, regular, sem ocorrência de alterações
sensíveis na qualidade e sua detecção feita por:
Þ
inspeção sanitária periódica em todo o sistema (do manancial ao consumidor);
e
Þ
conhecimento da qualidade da água em qualquer fase do seu percurso (do
manancial ao consumidor) por análises da água.
10.2. Tratamento da Água
Não é necessário à água existente no manancial em estado bruto apresentar do padrão
de qualidade exigido para fins de abastecimento público.
Há várias maneiras de alterar suas características para torná-la compatível com as
exigências do consumidor e da saúde pública cuja possibilidade de tratamento ou
condicionamento é ilimitada do ponto de vista técnico, mas exigências de ordem econômica
restringem sua execução o tratamento de água pode ser feito para atender a várias
finalidades:
·
higiênicas – remoção de bactérias, protozoários, vírus e outros
microrganismos, de substâncias tóxicas ou nocivas, redução do excesso de impurezas e
teores elevados de compostos orgânicos;
·
estéticas – correção de turbidez, cor, odor e sabor; e
·
econômicas – redução de corrosividade, dureza, cor, turbidez, ferro,
manganês e outros.
A seguir, descrevemos os principais processos de tratamento de água, quase nunca
utilizados isoladamente sendo freqüente a associação de vários processos.
·
Sedimentação ou decantação – eficiente na remoção da matéria em
suspensão, dependendo de tamanho; densidade das partículas existentes e tempo disponível
para o processo.
Partículas grandes ou pesadas são removidas em intervalo de tempo relativamente
curto, enquanto mais tempo é exigido para materiais leves ou finamente divididos e se a
concentração destas partículas não sedimentáveis for excessiva, este método isolado não
será eficiente e outros deverão ser empregados.
·
Coagulação/ floculação – técnica de tratar a água com produtos químicos
coagulantes aplicados para agregar partículas dificilmente sedimentáveis em aglomerados e
facilitando a sua retirada. Os aglomerados de material sólido resultantes, chamados flocos,
são removidos por sedimentação, filtração ou ambas as operações, o produto químico
coagulante mais utilizado é o sulfato de alumínio.
·
Filtração – o uso da areia, antracito, diatomita e outros materiais de
granulometria fina é capaz de remover impurezas muito leves ou finamente divididas para
serem retiradas pela sedimentação.
·
Desinfecção – destruição de organismos patogênicos feita pela aplicação de
cloro ou compostos de cloro, a desinfecção é a única etapa do tratamento especificamente
destinada ao controle da qualidade bacteriológica.
·
Remoção da dureza – o processo de remoção dos elementos responsáveis
pela dureza da água, principalmente cálcio e magnésio é chamado de abrandamento.
Produtos químicos são adicionados para precipitação do cálcio como carbonato de
cálcio e para remoção maior o magnésio é precipitado com hidróxido de magnésio.
Usualmente o processo reduz a quantidade total de sólidos dissolvidos na água. Na
troca iônica, sais de cálcio e magnésio são substituídos por sais de sódio pouco alterando a
quantidade total de sólidos dissolvidos.
·
Aeração – utilizável para vários propósitos. Como remove substâncias voláteis,
podendo ter influência sobre o sabor e o odor da água, a aeração é empregada em conexão com
o controle de sabor e odor.
Dióxido de carbono (CO2) em quantidade excessiva pode ser removido desta maneira,
reduzindo-se o efeito corrosivo de algumas águas e por suprir oxigênio dissolvido, a aeração
é útil na remoção de sais de ferro.
·
Remoção de ferro e manganês – processos específicos para remoção de
ferro e manganês são empregados somente em águas contendo concentrações
significativamente altas destas substâncias, podendo causar problemas.
·
Remoção de sabor e odor – processos de tratamento permitem reduzir o
sabor e o odor da água. Processos especiais de controle só são necessários quando existem
problemas excepcionais e alguns odores podem ser removidos por aeração enquanto outros
requerem adsorção ou oxidação para um controle eficiente.
·
Controle de corrosão – utilizado em alguns casos para remoção do excesso
de dióxido de carbono (por exemplo, por aeração) e em outros aumenta-se a alcalinidade da
água pela aplicação de um produto químico alcalino, como a cal e o carbonato de sódio
porém tem como maior objetivo a correção do pH da água, mantendo-o entre 6,0 e 9,5.
·
Fluoretação – conseguir uma concentração de fluoreto na água dando à
população maior resistência a cáries dentárias.
10.2.1. Etapas do Processo de Tratamento da Água
Pode-se observar na figura o esquema de uma estação de tratamento de água
convencional onde os coagulantes são adicionados e rapidamente dispersos na água com o
auxílio de misturadores hidráulicos ou mecânicos (mistura rápida). O sulfato de alumínio e sais
de ferro são empregados como coagulantes nas estações de tratamento.
Em águas com alcalinidade adequada o sulfato de alumínio reage formando o hidróxido
de alumínio, constituindo o floco e quando esta alcalinidade não existe na água bruta ou é
insuficiente, torna-se necessária a introdução de cal em diversas formas. Após a fase de
coagulação, com a aplicação de uma agitação mais branda, os coágulos dão origem a flocos
de maiores dimensões e constituídos basicamente dos sólidos em suspensão na água, agora
coagulados e substâncias húmicas, juntamente com os produtos da hidrólise do coagulante
empregado. Os flocos se separam da água clarificada por sedimentação e filtração.
Nos decantadores ocorre a sedimentação dos flocos contendo as partículas sólidas e
solutos de elevado peso molecular, ficando a água decantada isenta da maior parte destes
materiais.
Para haver uma sedimentação eficiente com remoção de grande porcentagem dos
flocos é necessário haver nos decantadores, um grande tempo de detenção (cerca de três a
quatro horas nos tipos clássicos de decantador de fluxo horizontal). Durante este processo a
velocidade de escoamento da água é baixa. O controle de quantidade, distribuição e tempo
real de detenção da água são fatores essenciais para a eficiência da decantação.
Os flocos não retirados na decantação devem ser retirados nos filtros de areia
classificada de acordo com padrões específicos e recebem água sob vazão controlada. Com
a passagem da água pelo leito filtrante, a deposição dos flocos provoca a colmatação da
camada de areia, provocando um aumento da perda de carga e a necessidade de lavagem do
filtro, feita por contrafluxo.
A desinfecção é feita pela aplicação de cloro ou de compostos do cloro. A quantidade de
cloro necessária é aquela capaz de manter uma dosagem de cloro residual livre ou
combinado ao longo do sistema de distribuição de água até as extremidades da rede.
Pela Portaria nº 1469/2000, após a desinfecção, a água deve conter um teor mínimo de
cloro residual livre de 0,5 mg/L e obrigatória a manutenção de no mínimo 0,2 mg/L em
qualquer ponto da rede de distribuição, recomenda-se ainda, um teor máximo de cloro
residual livre, no Sistema de Abastecimento, igual a 2 mg/L.
TÍTULO IV
DRENAGEM URBANA
Antonio Eduardo Giansante
Dante Ragazzi Pauli
1.
Introdução
A drenagem urbana é o conjunto de medidas com o objetivo de minimizar os riscos das
populações, diminuir prejuízos causados por inundações e possibilitar o desenvolvimento
urbano harmonicamente, articulado e sustentável e soluções eficazes de drenagem urbana
dependem de:
·
política para o setor definindo objetivos e meios (legais, institucionais,
técnicos e financeiros) para atingi-los;
·
política para ocupação do solo urbano articulada com a política de drenagem
urbana, no referente à ocupação das várzeas de inundação;
·
planejamento com medidas de curto, médio e longo prazos na bacia de
drenagem de águas pluviais no complexo maior do ambiente urbano;
·
entidade eficiente com domínio das tecnologias necessárias e adequadas,
implante, obras e medidas, desenvolva atividades de comunicação social, promova a
participação pública, estabeleça critérios, aplique leis e normas e exerça de forma positiva a
liderança do setor;
·
domínio da tecnologia adequada para planejamento, projeto, construção e
operação das obras; e
·
campanhas de educação da opinião.
2.
Impactos da Urbanização
A impermeabilização crescente do solo urbano tem causado maior freqüência de
inundações por falta de áreas verdes por onde se infiltraria a água da chuva escoando
superficialmente e chegando rapidamente aos cursos d’água.
2.1. Sobre o escoamento superficial
As conseqüências da urbanização interferindo diretamente com a drenagem urbana são
as alterações do escoamento superficial direto.
Poderão ser dramáticas, observando-se o pico da cheia numa bacia hidrográfica
urbanizada chegando a 6 vezes maior com relação ao da mesma bacia em condições
naturais.
Quadro 1: Causas e efeitos da urbanização sobre as inundações urbanas
CAUSA
EFEITO
Impermeabilização
Maiores picos e vazões
Redes de Drenagem
Maiores picos a jusante
Lixo
Degradação da qualidade da água
e entupimento de bocas de lobo e
galerias
Degradação da qualidade da água
Redes de esgotos deficientes
Doenças de veiculação hídrica; e
Inundações: conseqüências mais
sérias
Desenvolvimento
Indisciplinado
Maiores picos e volumes, mais
erosão e assoreamento em canais
e galerias
Ocupação das Várzeas
Maiores prejuízos, picos e custos
de utilidade públicas
Fonte: Hidrologia – Ciência e Aplicação – Tucci et alii
2.2.
Sobre a ocupação do solo:
·
proliferação de loteamentos sem condições técnicas; ocupação de áreas
impróprias (principalmente várzeas de inundação e cabeceiras íngremes); proliferação de
favelas e áreas invadidas; e ocupação extensa e adensada dificultando a construção de
canalizações e eliminando áreas de armazenamento compatíveis com as técnicas de uso do
solo.
2.3.
Comportamento político e administrativo:
·
o crescimento acelerado acirra a disputa por recursos da administração
pública e faz prevalecer a tendência de atuar corretivamente em pontos isolados; medidas
para disciplinar a ocupação do solo são dificultadas por conflitos de interesses; e políticas de
médio e longo prazos são relegadas a segundo plano.
3.
O Sistema Público de Drenagem Urbana
O sistema de drenagem é definido como o conjunto de obras visando coletar, transportar
e dar destino final às águas de chuva, quando em excesso indesejáveis em determinada
localidade, composto por dois sistemas a serem projetados sob diferentes critérios:
microdrenagem, formado pelos pavimentos das ruas, guias e sarjetas, bocas de lobo, galerias
de águas pluviais e canais de pequenas dimensões.
Dimensionado para o escoamento de águas pluviais cuja ocorrência com retorno
variando de 2 a 10 anos; quando bem projetado, praticamente elimina as inundações na área
urbana; e macrodrenagem, constituído por canais de dimensões maiores, projetados para
cheias com de retorno próximo de 100 anos.
3.1.
Planejamento do Sistema
O planejamento da drenagem urbana deve ser feito de forma integrada, considerando os
outros melhoramentos urbanos e os planos regionais.
Após estarem determinadas as interdependências entre o sistema de drenagem urbana
e os outros sistemas urbanos e regionais, o primeiro pode ser alvo de planejamento mais
específico.
3.1.1. Planos Diretores
A elaboração de planos diretores de drenagem urbana é recomendável e constitui
estratégia essencial para a obtenção de boas soluções. Possibilitam, quando bem elaborados:
·
estudar a bacia hidrográfica como um todo e chegar a soluções de grande
alcance no espaço e no tempo, evitando medidas de caráter restrito muitas vezes deslocando
e agravando as inundações em outros locais;
·
estabelecer normas e critérios de projeto uniformes para a bacia como
período de retorno a ser adotado, gabaritos de pontes e outros;
·
identificar áreas a serem preservadas ou adquiridas pelo poder público antes
de ocupações ou seus preços se tornarem proibitivos;
·
estabelecer o escalonamento da implantação de medidas de forma correta de
acordo com os recursos disponíveis;
·
possibilitar o desenvolvimento urbano de maneira harmônica pela articulação
do plano de drenagem com outros importantes na região (planos viários, transporte público,
abastecimento de água e outros);
·
respaldar técnica e politicamente os recursos; e
·
privilegiar a adoção de medidas preventivas de menor custo e maior alcance.
3.2.
Sistema de Drenagem – Benefícios
Quando bem projetado, o sistema de drenagem permite a área urbana se desenvolver
de forma ordenada, a salvo de inundações e prejuízos ao tráfego de pedestres e veículos,
outros benefícios:
·
obtenção de menores custos e melhores resultados; redução do custo de
construção e manutenção das ruas; melhoria do tráfego de veículos durante as chuvas;
benefícios à saúde e à segurança públicas; menor custo de implantação de parques e áreas
de lazer; recuperação de terras inaproveitadas; menor custo de implantação de conjuntos
habitacionais; e outros.
4.
Microdrenagem
4.1. Sarjetas: canais situados junto ao meio fio e ao longo da via com a finalidade de
coletar e dirigir o escoamento superficial para locais apropriados para sua captação;
4.2. Sarjetão: canais auxiliares para guiar o fluxo d’água na travessia de ruas
transversais ou desviá-lo de um lado para outro;
4.3. Bocas de lobo: dispositivos localizados em intervalos ao longo das sarjetas para
captar o escoamento superficial e encaminhá-lo à galeria subterrânea mais próxima, cujos
tipos são: com grade de entrada, grade lateral, grade e entrada lateral (maior engolimento) e
fenda longitudinal.
4.4. Canalização de esgotamento de bocas de lobo: interliga a boca de lobo à caixa
de ligação ou poço de visita, a jusante;
4.5. Caixas de ligação ou de passagem: caixas de concreto ou alvenaria, sem
tampão externo, ou visitável ao nível da rua (1,00 x 1,00 ou 1,40 x 1,40 m);
4.6. Poços de visita: unidades do sistema de galerias permitindo inspecioná-las e
executar serviços de operação e manutenção serem previstos nas seguintes situações:
·
mudanças de direção das galerias;
·
junções de galerias;
·
mudanças de secção;
·
mudanças de declividade;
·
extremidades de montante; e
·
em trechos longos (normalmente a distância será de 100 em 100 metros).
4.7. Galerias: canalizações para receber águas pluviais captadas na superfície e
encaminhá-las ao destino final e projetadas como conduto livre, à secção plena no eixo ou
terço transversal da rua.
Materiais: concreto simples para diâmetros entre 300 e 600mm; concreto armado entre
600 e 1200 ou 1500mm (diâmetro máximo varia conforme a localidade); e acima de 1200mm
adotar-se-á o concreto moldado “in-loco” e secções retangulares.
5.
Macrodrenagem
Intervenções em fundos de vale para coleta das águas pluviais de áreas providas ou não
de sistemas de microdrenagem.
Nos fundos de vale o escoamento é normalmente bem definido, mesmo sem curso
d’água perene.
Obras de macrodrenagem evitam as enchentes nas áreas urbanizadas, englobando
retificações e construções de canais, revestidos ou não, com maior capacidade de transporte
quando comparado o canal natural e bacias de detenção.
6.
Medidas para Controle de Inundações
6.1.
Estruturais
·
controle da cobertura vegetal – controle da erosão do solo – construção de
diques – modificações do rio – reservatórios.
6.2.
Não estruturais
·
regulamentação do uso da terra ou zoneamento da áreas inundáveis;
construção à prova de enchentes; sistema de previsão e alerta; e seguro de enchente.
7.
Bibliografia
CETESB. Drenagem Urbana – Manual de Projeto. 3a edição. São Paulo, 1986.
Furquim, S.L.L. – Hidrologia. São Paulo – Centro Acadêmico Horácio Lane – Escola de
Engenharia da Universidade Mackenzie
Macintyre, A,J. Instalações Hidráulicas Prediais e Industriais. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara, 1986.
Tucci, C.E.M et al. Hidrologia – Ciência e Aplicação. São Paulo: Edusp, 1993.
Wilken, P.S. Engenharia de Drenagem Superficial. São Paulo: CETESB, 1978.
TÍTULO V
DESTINO DOS DEJETOS
Lúcio Antônio Alves de Macêdo
Generalidades
Os dejetos humanos podem ser veículos de germes patogênicos de doenças como:
Febres Tifóide e Paratifóide, Diarréia Infecciosa, Amebíase, Helmintoses (Ancilostomíase,
Esquistossomose, Teníase, Ascaridíase, e outras), sendo indispensável afastar as
possibilidades de contato com: ser humano - águas de abastecimento - vetores (moscas,
baratas) - alimentos. A solução ideal é a construção de privadas com veiculação hídrica ligadas
a um sistema público de esgotos com adequado destino final. Esta solução é impraticável no
meio rural e, às vezes, difícil, por razões principalmente econômicas em comunidades urbanas
e suburbanas e pela falta de saneamento e educação sanitária, grande parte da população
tende a lançar os dejetos diretamente sobre o solo, criando situações favoráveis à transmissão
de doenças de toda natureza, capazes de contaminar os seres humanos.
1.1. Importância Sanitária
Sob o aspecto sanitário o destino adequado dos dejetos humanos visa ao controle e
prevenção de doenças. As soluções objetivam:
Iágua;
II -
evitar a poluição do solo e a contaminação direta ou indireta dos mananciais de
evitar o contato de vetores como moscas, com as fezes;
III propiciar a instituição de hábitos higiênicos na população, como construção e
uso conveniente de privadas higiênicas; e
IV 1.2.
promover o conforto e atender ao senso estético.
Importância Econômica
Como no caso do abastecimento de água, o destino dos dejetos visa elevar a vida média
do ser humano pela redução da mortalidade em conseqüência da diminuição de doenças,
especialmente as veiculadas pelas águas contaminadas por dejetos humanos e prevenir o
encarecimento do tratamento de água resultante da poluição dos mananciais. Num estágio
mais evoluído: evitar a obstrução de rios e canais – controlar a poluição das praias e dos
locais de recreação com o objetivo de promover o turismo e obter o aumento da renda e
preservar a fauna aquática e os criadouros de peixe.
2.
Ciclo do Nitrogênio na Natureza
O solo contém uma flora bacteriana abundante e necessária, quase toda composta de
bactérias saprófitas, oferece condições desfavoráveis à multiplicação dos germes patogênicos
e a sua existência por muito tempo. A matéria orgânica sofre transformações, conhecidas
como “ciclo da matéria orgânica”, cujo exemplo é o do nitrogênio, resumido
esquematicamente:
Proteínas animais ou vegetais (fontes de nitrogênio):
I pela morte do animal, do vegetal, ou da excreção de resíduo orgânico (dejetos)
sofrem sua primeira transformação;
II - a seguir, pela ação de bactérias de putrefação sobre o cadáver ou os excreta,
produzem, entre outros, o nitrogênio amoniacal;
III - a ação de bactérias aeróbias (oxidantes ou nitrificantes) presentes no solo,
produzem, sucessivamente, nitritos e nitratos (nitrosomonas e nitrobacter respectivamente); e
IV - fechando o ciclo, há a absorção dos nitratos pelas raízes dos vegetais e destes pelos
animais, recomeçando o ciclo. Ciclos semelhantes ocorrem com outros elementos como:
carbono, enxofre, e outros.
Disseminação de Bactérias no Solo: a horizontal é quase nula chegando a 1m de raio;
a vertical alcança até 3m em terreno sem fenda.
Disseminação de Bactérias em Águas Subterrâneas: como regra geral, é
imprevisível. Poderá ser determinada, localmente, por meio de teste fluorescência (uso de
Fluoresceína). A natureza se encarrega de um processo de autodepuração. Contudo, o
aumento de densidade humana por unidade de área obriga o ser humano a sanear o
ambiente para acelerar a destruição dos germes patogênicos e se precaver contra doenças.
3.
Doenças relacionadas com dejetos
É grande o número de doenças com controle relacionado ao destino dos dejetos
humanos. Exemplo: Ancilostomíase, Ascaridíase, Estrongiloidíase, Esquistossomose, Febres
Tifóide e Paratifóide e Diarréias. As Helmintoses nem sempre tem alto indice de mortalidade
mas alta incidência de morbidade e desgastam o ser humano, diminuindo-lhe a capacidade.
Modos de Transmissão: pelo contato direto da pele com o solo contaminado por larvas
de helmintos, provenientes de fezes de portadores de parasitoses. As fezes do ser humano
doente, portador de Ancilostomíase e Estrongiloidíase contém ovos dos parasitas e estes no
solo, libertam as larvas; estas penetram na pele de outra pessoa, e se localizam no seu
intestino, após longo trajeto por vários órgãos.
Medidas de Controle:

uso de privadas evitando a contaminação do solo; e contaminação pelo contato
direto da pele com coleção de águas contaminadas por cercárias de Shistosoma;

uso de privadas evitando a contaminação das águas de superfície (lagoas,
córregos, e outros). Evitar o banho em córregos e lagos, nas regiões com Esquistossomose;
ingestão de alimentos contaminados diretamente pelos dejetos ou água contaminada
(Ascaridíase, Amebíase, Febres Tifóide e Paratifóide); e outros;

lavar os alimentos com água potável, evitar poluição fecal das águas de irrigação
e não ingerir alimentos contaminados por vetores, especialmente moscas. (Diarréias
Infecciosas, Febre Tifóide);

proteger alimentos e eliminar focos de proliferação de moscas e não ingerir
alimentos contaminados diretamente pela mão do ser humano e por falta de higiene pessoal;
e

lavar as mãos após o uso de privadas, antes de manipular alimentos e ao cuidar
de crianças pequenas e evitar a ingestão de carnes contaminadas por cisticercos (Taênia
solium e saginata enquistam-se na carne do boi e do porco, sob a forma de larvas (os
cisticercos).
4.
Soluções Individuais para o destino dos dejetos
A)
Soluções Sanitárias: na falta de água encanada, utiliza-se:
privada com fossa seca
privada com fossa estanque
privada com fossa de fermentação (tipo Cynamon)
privada química
privada com receptáculos móveis
Havendo água encanada no domicílio, pode ser utilizada a privada de W.C. e quando a
localidade não dispuser de sistema de esgotos sanitários o efluente do W.C. será conduzido
a tanque séptico – tanque Imhoff ou Ohms.
B)
Soluções não Sanitárias:
I Fossa negra: dejetos e efluentes de tanques sépticos atingindo o lençol
subterrâneo de água, é solução condenável em saneamento tolerada onde não se utilize, nem
haja possibilidade de utilizar água subterrânea para abastecimento, na área onde se localiza a
fossa.
II - Privada construída sobre curso d’água: utilizada por habitantes da zona rural
residentes na proximidade de córregos. A casinha é construída sobre estacas à beira do
córrego, geralmente próximo de barrancos e os dejetos são lançados diretamente na água;
III - Privada sem fossa: possui apenas a casinha construída a pequena altura do solo,
os dejetos são lançados diretamente na superfície do solo e ingeridos por porcos e galinhas; e
IV - Privada de vaso sanitário; cujo efluente é lançado na superfície do solo,
geralmente em pequenas valas.
Soluções Sanitárias
I Privada com Fossa Seca: escavada no solo e se destina a receber os
dejetos, diretamente sem descargas de água. (Fig. 3)
Deve ser localizada em lugares de enchentes e acessíveis aos usuários, distante de
poços e fontes e em cota inferior a estes mananciais, para evitar contaminá-los e a distância
varia com o tipo de solo a ser determinado pelo teste de fluoresceina. Na impossibilidade de
ser feito o teste, adotar uma distância mínima de segurança, estimada em 15m.
Escavação: terá secção circular de 0,80m de diâmetro ou quadrada, com 0,80m de
lado. A profundidade varia com o nível do lençol freático; recomenda-se em torno de 2,5m, em
terrenos pouco consistentes a fossa será revestida com concreto armado, tijolos e madeira.
O assentamento para a base poderá ser de tijolo ou concreto para distribuir o peso da
casinha sobre o terreno, servir de apoio ao piso e proteger a fossa, impedindo a entrada de
baratas, roedores e outros com base de cerca de 20cm da superfície do solo.
O piso dispõe de uma abertura destinada à passagem dos dejetos para o interior da
fossa sendo preferível não instalar assento sobre a mesma, atender-se-á aos hábitos e
costumes da população.
Aproveitando a terra retirada da escavação fazer uma compactação até a altura da base,
formando uma plataforma em torno da privada para proteger a base, desviar águas da chuva
e dificultar a penetração de roedores.
Recomenda-se gramar o montículo para maior durabilidade. A tampa da privada (buraco
do piso) será mantida fechada quando não estiver em uso, para evitar a proliferação de
moscas e mosquitos podendo ser de madeira ou placa de cimento. Para facilitar a
manutenção fixa-se a tampa no piso, por uma articulação.
Manutenção: contra-indicado o lançamento de água no seu interior, lançando-se
apenas os dejetos e o papel higiênico, se ocorrer mau cheiro, recomenda-se empregar
pequenas porções de sais alcalinizantes, como os de K, Na, Ca, NH3, sendo mais comum o
uso de cal ou cinza.
Justifica-se esta medida pelo mau cheiro do esgoto desprendido na fase de digestão
ácida (esgoto séptico).
No início da digestão, há o desenvolvimento de bactérias do meio ácido, responsáveis
pela produção de compostos voláteis mau cheirosos como H2S, mercaptanas, ácido caprílico,
butírico, e outros. Elevando o pH do meio, desenvolver-se-ão bactérias produtoras de gases
inodoros como CH4 e CO2 e surgindo água na fossa, propiciando a proliferação de mosquitos
utiliza-se derivados de petróleo como querosene e óleo queimado.
II Privada com Fossa Estanque: tanque de concreto ou alvenaria destinado a
receber os dejetos, diretamente, sem descarga de água, idêntica à privada de fossa seca, o
tanque deverá ser totalmente impermeabilizado e capacidade em torno de 1000L. (Fig. 4),
solução adotada em:

zonas de lençol d’água muito superficial;

zonas rochosas de terrenos muito duros;

terrenos facilmente desmoronáveis; e

lotes exíguos com perigo de poluição de poços de suprimento de água.
Limpeza: para uma família de 5 pessoas, um tanque de 1000 L ficará cheio após o
período de 1 ano. Nesta ocasião, o tanque será esvaziado por uma tampa colocada atrás da
casinha e o material retirado imediatamente enterrado, não se prestando para adubo.
III Privada com Fossa de Fermentação, tipo Cynamon: consta de duas câmaras
(tanques) contíguas e independentes de 1m de profundidade para receber os dejetos, como nas
privadas de fossa seca, é solução apropriada para substituir a privada de fossa seca e a privada
estanque. De acordo com o tipo de solo, as privadas de fermentação poderão ter tanques
enterrados, semi-enterrados ou sobre a superfície do terreno. Podem ser revestidas, construídas
de concreto ou tijolo e impermeabilizadas em argamassa de cimento. As câmaras se compõem
de um corpo principal e um apêndice se comunicando com o interior da casinha para receber os
dejetos. (Fig. 5)
A casinha é construída junto ao corpo principal das câmaras e atrás da parede dos fundos.
As câmaras são providas de tampas removíveis e subdivididas para a sua remoção e evitar
a entrada de água de chuva, as tampas deverão ficar unidas e rejuntadas com argamassa
pobre de cal e cimento. É conveniente fazer um aterro de compactação e em encostas de
morro terá valetas para desvio de enxurradas capazes de danificar o sistema.
Funcionamento: para facilitar a compreensão do seu funcionamento, chamamos as
duas câmaras de I e II devendo-se:

isolar a câmara II, vedando a respectiva tampa, no seu interior;

usar a câmara I até esgotar sua capacidade para uma família de 6 pessoas,
a câmara ficará cheia em 1 ano, aproximadamente;

isolar a câmara I, vedando a respectiva tampa, o material acumulado sofrerá
fermentação natural;

usar a câmara II, até esgotar sua capacidade, durante o período de uso, o
material da câmara I terá sido mineralizado;

retirar o material da câmara I, removendo as tampas externas, recolocandoas após, o material retirado poderá ser utilizado como adubo. Por ocasião da limpeza deixar
pequena porção do material fermentado, para auxiliar o reinicio da fermentação; e

isolar a câmara II e usar a câmara I, como anteriormente.
Vantagens da Privada de Fermentação: em relação à privada de fossa seca, a de
fermentação pode ser:

adotada em situações idênticas as da fossa seca;

aplicada em locais de lençol d’água mais próximo da superfície, porque a
profundidade das câmaras é de 1 metro. Em casos mais difíceis, poderá ser elevada do solo e
terrenos rochosos (semi-enterrado);

duração superior ao da fossa seca, a solução é definitiva;

em áreas com população habituada a usar dejetos humanos como adubo, este
será substituído pelo adubo fermentado sem riscos;

o encarecimento é pequeno em comparação com a fossa seca em terrenos
de idênticas condições; apenas o custo da casinha será mais alto; e

a escavação é mais fácil pois as câmaras são mais rasas.
IV Privada Química: tanque cilíndrico, de aço inoxidável, contendo solução de
soda cáustica (NaOH) para receber os dejetos procedentes de uma bacia sanitária comum e
pode ser removível. A soda cáustica liqüefaz o material sólido e destrói as bactérias, ovos de
helmintos e outros microrganismos.
A dosagem recomendada é de 10kg de soda cáustica para 50 litros de água.
Periodicamente, o tanque é esvaziado e reabastecido com solução química. Na privada
química com receptáculo móvel, a OMS recomenda cuidados especiais nos pontos de
recepção e esvaziamento, objetivando a saúde coletiva e dos manipuladores.
Os locais devem ter água quente e fria e esvaziamento por dispositivos mecânicos,
evitando o manuseio direto. Devido ao custo elevado, é aplicada em circunstâncias
especiais: acampamentos, colônias de férias, ônibus, aviões, navios e outros.
V Privada com Receptáculos Móveis: simples vasilhame, funcionando como
depósito de fezes, usado em algumas prisões e minas subterrâneas mas exige cuidados
especiais quanto ao destino final dos dejetos e a manipulação dos receptáculos.
VI Privada de W.C. (Water Closet): bacia construída para recolher os dejetos e
permitir seu afastamento por um sistema de transporte hídrico. A bacia é dotada de sifão,
estabelecendo um fecho hidráulico, impedindo o refluxo de gases provenientes da rede de
esgotos.
A maioria das bacias tem forma especial, com assento e denominadas vaso sanitário. A
bacia turca possui pisadores onde o usuário apoia os pés e fica de cócoras. A bacia de W.C.
é geralmente construída de louça ou cerâmica esmaltada de fácil limpeza e conservação. O
seu uso exige a instalação de dispositivos para a descarga de água. A solução é a caixa de
descarga, exigindo água encanada no domicílio. O efluente do W.C. deve ser conduzido ao
destino final, na localidade sem rede de esgotos, poderá ser levado a um tanque séptico ou
tanque Imhoff ou lançado em fossa absorvente.
VII - Fossa Absorvente: escavada no solo, destina-se a recolher efluentes de tanques
sépticos e águas servidas dos domicílios.
Este tipo de fossa é muito utilizado em localidades servidas de água encanada e sem
redes de esgotos e recomendada para destino de efluente de tanques sépticos e águas
servidas.
Quando utilizada para receber o efluente direto do W.C. suas paredes se colmatam
facilmente, reduzindo o tempo de utilização.
Deve ficar distante de poços e fontes e em cotas inferiores a estes mananciais para não
contaminá-los. A distância é determinada pelo teste da fluoresceína, na falta deste teste, a
distância mínima é em torno de 15m. Ao escavar a fossa deve-se preferir a forma cilíndrica,
menos sujeita a desmoronamento escavada e revestida com tijolos ou madeira.
VIII - Caixa de Gordura: As águas servidas de bares, restaurantes, cozinhas e outros,
destinadas à fossa absorvente, devem passar por uma caixa construída para reter as
gorduras.
Esta medida previne a colmatação das paredes da fossa. (Fig. 6)

o sistema de fossa pode ser único

caixa de gordura para cozinhas, restaurantes, postos de gasolina separados
de óleo, e outros.
IX Tanque Séptico (Fossa Séptica): comum ou convencional, possui um ou mais
compartimentos horizontais, é um tanque fechado, enterrado e impermeável para tratar
esgoto domiciliar, recebe o material procedente da privada (W.C.) e libera um efluente, em
forma líquida.
As águas servidas procedentes de banheiros, lavatórios, pias de cozinha e outros serão
encaminhadas ao tanque séptico. Apesar de existirem tanques de duas ou mais câmaras,
para melhorar a qualidade do efluente, recomenda-se a câmara única, ou no máximo, com
uma compartimentação.
Funcionamento: o esgoto fica retido no interior do tanque, durante certo tempo,
enquanto ocorrem as seguintes modificações:

deposição de sólidos sedimentáveis (Iodo) e flutuação das substâncias com
densidade inferior a da água: graxa, óleo, gorduras (escuma); o tanque age como decantador;

o lodo e a escuma ficam armazenados e sofrem digestão por processo
bioquímico, onde a matéria orgânica é gaseificada, liqüefeita e mineralizada ou transformada
em matéria mais estável; o tanque age também, como digestor;

devido a processos pouco conhecidos, o líquido remanescente na zona
intermediária sofre sensível alteração, com redução de bactérias, em conseqüência de
processo anaeróbio, característico do meio séptico;

separa parte do material sólido, com os sólidos decantados ficam retidos
microrganismos patogênicos e não patogênicos e a retenção dos sólidos facilita a solução para
disposição do líquido no solo;

a entrada do esgoto no tanque será feita por uma curva com extremidade
mergulhada cerca de 30cm no líquido séptico, impedindo o retorno de gases e reduzindo o
turbilhonamento no meio líquido com possibilidade de prejudicar o processo de decantação.
Quando a instalação predial for provida de “coluna tubo de ventilação”, permite-se o
retorno de gases, substituindo a curva por um “T”, ou chicanas;

para evitar o arrastamento de sólidos flutuantes (escuma), o dispositivo de
saída constará de um “T” ou chicana, com extremidade inferior mergulhada cerca de 40cm.
A extremidade superior do “T” dará escape aos gases e a entrada e saída poderão
constar de chicanas funcionando com os dispositivos acima;

de saída;
haverá uma diferença de 5cm entre a geratriz do tubo de entrada e a do tubo

é contra-indicada a instalação de respiradouros (abertura de ventilação)
rentes ao chão e os recomendados, denominados tubos de ventilação, devem ser elevados
acima do telhado e distantes de chaminés. Esta medida evita explosões, pois o tanque
séptico produz gases inflamáveis.
Período de retenção – de 12 a 24 horas dependendo da contribuição, L/dia, estima-se
2 dias no máximo. Costuma-se dimensionar estes tanques com capacidade de 200 L/hab.
correspondendo a 2 dias de retenção para uma contribuição de 10L/hab.
Manutenção: o intervalo entre as limpezas do tanque varia de 6 meses a 2 anos. Após a
limpeza, deve-se deixar cerca de 20L de Iodo para facilitar o reinício da digestão dando-se
destino adequado ao lodo retirado e pela possibilidade de se formarem gases inflamáveis no
tanque séptico deve-se ter cuidados com fogo, por ocasião da limpeza. Os fumantes devem
ser advertidos em função da fácil inflamação dos gases. O tanque será bem dimensionado
para não se transformar em caixa de passagem. Cuidado com os “tanques comerciais”
(operação, manutenção e destino final).
Tanque Imhoff ou Ohms: tanques sépticos de câmaras superpostas destinados ao
tratamento primário do esgoto, à semelhança dos tanques sépticos comuns. Compõem-se de
uma câmara superior de sedimentação e outra inferior de digestão.
A comunicação entre os dois compartimentos é feita por uma fenda para dar passagem
aos Iodos.
A única diferença entre o Imhoff e o Ohms está no detalhe de construção da câmara de
decantação. No Ohms, esta câmara é vedada por cima, impedindo qualquer comunicação de
gases entre os dois compartimentos.
Funcionamento: os dispositivos de entrada e saída do esgoto no tanque são
semelhantes aos tanques sépticos comuns.
O esgoto penetra na câmara de decantação e a parte sedimentável se precipita na
câmara de digestão por uma abertura (fenda) com 15 cm de largura e comprimento igual à de
decantação. (Fig. 8)
Vantagens sobre o Tanque Séptico

econômico;
menor tempo de retenção, podendo ser reduzido a 2 horas, tornando-o mais

melhor digestão, pela ausência de correntes ascendentes e descendentes
com a separação, o processo de digestão não é perturbado, melhorando a eficácia;

melhor efluente; e

atendimento a maiores populações, até 5000 pessoas.
Destino dos Efluentes dos Tanques e Imhoff: o efluente do tanque séptico é um
líquido com certa turbidez, odor característico do meio séptico e, apesar de submetido a
tratamento primário, apresenta certo grau de contaminação e devem ser tomadas precauções
com relação ao destino final.
O destino do efluente dos tanques sépticos depende das características de absorção do
solo (conhecidas mediante testes de percolação), do terreno e de sua topografia e, no caso
de ser lançado no rio, de seu volume e capacidade de autodepuração.
Soluções para o destino
– fossa negra – fossa absorvente (sumidouro) – fossa de pedra ou biofiltro –
irrigação subsuperficial – trincheiras filtrantes.
Trincheiras filtrantes: em terrenos pouco permeáveis, recomenda-se dispor o efluente
no solo por um sistema de galerias filtrantes. Esta solução é recomendada, ainda, quando a
área disponível não atenda às dimensões calculadas para um campo de absorção. Associase à galeria de infiltração uma segunda rede destinada à drenagem, com o objetivo de
recolher o excesso de efluente, não absorvido pelo terreno, conduzindo-o a um curso d’água.
(Fig. 9)
Curso D’água: o lançamento do efluente dos tanques sépticos em cursos d’água está
condicionado ao volume do corpo receptor, sua utilização a jusante para abastecimento ou
outro aproveitamento, tal como irrigação. Os riscos serão considerados reduzidos quando o
efluente for proveniente de trincheiras filtrantes ou fossa de pedra.
Teste de Percolação: a finalidade é fornecer o coeficiente de percolação no solo, é
indispensável para o dimensionamento de fossas absorventes e campos de absorção.
Execução do Teste:
Icavar um buraco de 0,30m x 0,30 no fundo da vala para campo de absorção
ou na profundidade média, em caso de fossa absorvente;
II -
colocar cerca de 5cm de brita miúda, no fundo do buraco;
III -
encher o buraco de água e esperar sua absorção;
IV repetir a operação, várias vezes, até o abaixamento do nível da água se tornar o
mais lento possível;
Vmedir, com relógio e uma escala graduada em cm, o tempo gasto em minutos
para um abaixamento de 1cm. Este tempo (t) é, por definição, o tempo de percolação;
VI -
com tempo, determinar o coeficiente de percolação; e
VII -
coeficiente de percolação: C = 490
t+2,5
Caixa de Distribuição: na necessidade de subdividir a rede em ramais deve-se utilizar
uma caixa de distribuição uniforme do efluente no campo.
5.
Sistema de Esgotos Sanitários
Com o crescimento das comunidades, a concentração humana torna-se maior, exigindo
mudança das soluções individuais para a remoção e destino do esgoto doméstico nas
soluções coletivas, denominadas sistemas de esgotos.
Tipos de Esgotos
Esgotos Domésticos: incluem as águas contendo matéria fecal e as servidas, resultantes
de banho e lavagem de utensílios e roupas.
Despejos Industriais: compreendem os resíduos orgânicos e inorgânicos (águas
residuárias agressivas), procedentes de indústrias de alimentos, matadouros, indústrias
químicas, farmacêuticas e outras.
Águas Pluviais: águas procedentes das chuvas.
Águas de Infiltração: águas do subsolo a se introduzirem na rede.
TIPOS DE SISTEMAS
SISTEMA UNITÁRIO: consiste na coleta das águas pluviais, dos esgotos domésticos e
despejos industriais em um coletor permitindo a implantação de um sistema e vantajoso no
caso de lançamento do esgoto bruto, sem inconvenientes, num corpo receptor próximo. No
dimensionamento do sistema, devem ser previstas as precipitações máximas, com período de
recorrência, geralmente, entre 5 e 10 anos.
Como desvantagem, apresenta custo de implantação elevado, tendo em vista a estação
ser projetada com capacidade máxima caracterizada no sistema unitário, pela ocorrência no
período de chuvas.
A operação é prejudicada pela brusca variação da vazão na época das chuvas, afetando
a qualidade do efluente.
SISTEMA SEPARADOR: neste sistema, os esgotos doméstico e industrial ficam
separados do esgoto pluvial é o adotado no Brasil.
O custo de implantação está abaixo do anterior, em virtude de:
I as águas pluviais não oferecerem os perigos do esgoto doméstico, podendo
ser encaminhadas aos corpos receptores (rios, lagos, e outros) sem tratamento e projetado
apenas para o esgoto doméstico;
II -
nem todas as ruas de uma cidade necessitam de rede de esgotamento pluvial.
De acordo com a declividade das ruas, a própria sarjeta se encarrega do escoamento
reduzindo a extensão da rede pluvial;
III o esgoto doméstico terá prioridade por envolver problema sanitário, o diâmetro
dos coletores, é mais reduzido; e
IV nem todo esgoto industrial pode ser encaminhado, diretamente ao esgoto sanitário
e dependendo das exigências regulamentares, passará por tratamento prévio ou ser
direcionado à rede própria.
3.
SISTEMA MISTO: a rede é projetada para receber o esgoto sanitário e mais
uma parcela das águas pluviais. A coleta desta parcela varia de um país para outro. Em
alguns países colhe-se apenas as águas dos telhados; em outros, um dispositivo colocado
nas bocas de lobo recolhe as águas das chuvas mínimas, limitando a contribuição das chuvas
de grande intensidade.
Partes Constitutivas de um Sistema de Esgoto

Ramal Domiciliário: inicia-se no interior dos prédios e termina no ponto de
lançamento da rede situada na rua.

os esgotos.
Coletores Terciários, Secundários e Primários: coletam, sucessivamente,

Emissário: tubulação para receber os despejos dos coletores e levá-los a
estações elevatórias ou a de tratamento de esgotos.

Estações Elevatórias: a topografia local pode obrigar o encaminhamento
dos esgotos para um ou diversos pontos baixos.

Não havendo possibilidade do esgotamento neste ponto para o despejo final
por simples gravidade, deve ser feito bombeamento por estações para este fim, denominadas
“Estações Elevatórias”.

Estação de Tratamento: dependendo da relação entre o volume de esgoto
e o do corpo receptor e da capacidade de autodepuração do mesmo, haverá necessidade de
maior ou menor grau de tratamento prévio dos esgotos antes do seu lançamento final nos
cursos d’água.
Previsão da Contribuição para o Esgoto Sanitário
A contribuição domiciliária relaciona-se, diretamente, ao consumo de água. Todavia,
parte do consumo domiciliar não vai para a rede de esgotos em decorrência de perdas. Por
outro lado, a rede de esgotos é vulnerável à infiltração, com contribuição de significatividade
possível. O volume médio do esgoto sanitário varia entre 0,80 e 1,30 de “per capita” do
consumo de água.
Sistema de Traçado de Redes de Esgoto – Perpendicular
Utilizado nas cidades situadas à beira-rio ou a beira-mar, onde os esgotos correm,
perpendicularmente, a estes receptores. Constituirá problema sanitário, se o lançamento for
feito, no mar ou no rio.
Leque: recomendado para cidades situadas em fundo de vale. Os coletores convergem
para determinado ponto, conduzindo os esgotos a um emissário.
Interceptores: sistema perpendicular onde os coletores são interceptados por um coletor
de maior diâmetro, denominado INTERCEPTADOR. Este encaminha os esgotos a uma ETE ou
ao destino final.
Distrital: em função da topografia, a área urbana é subdividida em zonas ou distritos.
Em cada zona, os coletores conduzem os esgotos para pontos baixos, de onde são
bombeados para uma ETE ou ao destino final.
Coletores de Esgotos: os materiais empregados nos coletores de esgotos podem ser:

manilha de cerâmica, de barro vidrado;

tubos de cimento amianto;

tubos de ferro fundido; e

tubos de concreto, plástico, e outros.
O diâmetro mínimo recomendado para os coletores é 150mm (6”), podendo chegar a
4”. Para o ramal domiciliar, o mínimo é de 1“.
Poços de Visita: São câmaras construídas em alvenaria de tijolos ou com anéis de
concreto pré-moldado, com tampões metálicos, permitindo o acesso aos coletores de
esgotos.
Objetivam inspeção, limpeza e desobstrução.
Os poços de visita são obrigatórios nos seguintes casos:

cruzamento de 2 coletores;

mudança acentuada de declive do coletor;

mudança de direção de um coletor;

pontos onde se dá a mudança de diâmetro dos coletores;

no máximo a cada 100 m; e

no início das redes.
Operação e Manutenção: a rede de esgotos exige manutenção permanente.
A sua falta pode ocasionar o colapso do sistema, com riscos para a saúde da população.
Atualmente, dispõe-se de equipamentos para a limpeza dos coletores, facilitando o
trabalho com maior rendimento e segurança.
Tratamento de Esgotos
Importância - destino final das águas residuárias.
O mais comum é o destino por diluição: lançamento em águas naturais, rios, lagos e
mares por:

diluição e dispersão do material dos esgotos;

ação de forças naturais de purificação; e

destino por diluição (autodepuração).
6.
Conseqüências do Lançamento de Águas Residuárias “in natura” nos
Cursos d’água
Poluição maciça dos cursos d’água, com o estabelecimento de condições indesejáveis,
afetando seus diversos usos e problemas higiênicos, legais e estéticos.
Danos Causados pela Poluição das Águas Naturais
– De natureza física:
Disposição de materiais carreados em suspensão: obstrução à navegação; –
obstrução de obras de captação de água; – produção de depósitos e material orgânico
putrescível.
Presença de materiais flutuantes: óleos – escumas – material fecal.
– De natureza química e bioquímica: redução do O.D. - DBO; - mineralização
(eutrofilização); - desaparecimento de organismos servindo de alimento a peixes; - substituição
de espécies de peixes melhores por piores; - decomposição anaeróbica; - ataque a estruturas
de concreto.
– De natureza bacteriológica: germes patogênicos (doenças de veiculação hídrica) contaminação de alimentos, praias.
Medidas de Poluição e Autodepuração: conforme as condições físicas, químicas e
biológicas apresentadas, é possível avaliar o grau de poluição e o andamento dos processos
de autodepuração de um curso d’água. Elementos característicos ou condições, servindo
como padrões de medida: a) ciclo da matéria orgânica (ciclo do nitrogênio) - b) bactérias - c)
plankton - d) organismos de sedimentos do fundo - e) balanço de oxigênio. Pelo balanço do
oxigênio se mede a poluição e autodepuração de um curso d’água, outros processos de
medida podem ser úteis em determinadas circunstâncias e em casos particulares.
Balanço de oxigênio
DBO – mede o O2 consumido pelos microrganismos .
Reaeração: quantidade de O2 capaz de entrar na massa d’água, a partir do
O2 atmosférico.
Curva de depressão de oxigênio - avalia as condições de poluição ao longo do curso
d’água.
7.
Necessidade do Tratamento dos Esgotos
1 - Razões Higiênicas: evitar contaminação direta (banhistas, população e outros),
indireta (verdura, leite, e outros) e os efeitos desastrosos e indesejáveis sobre os
abastecimentos de água a jusante.
2 - Razões Econômicas: relacionadas ao valor da terra e propriedades nas zonas a
jusante, às industrias de caça e pesca e aos efeitos sobre estruturas fixas e flutuantes.
3 - Razões Estéticas: evitar mau aspecto, mau cheiro, desprendimento de gases,
presença de materiais suspeitos e outros.
4 - Razões Legais: direitos dos proprietários ribeirinhos.
Uso dos Cursos D’água:
- abastecimento das populações - fins industriais - irrigação - produção de energia elétrica
- gado (rebanhos) - transporte - meio natural para a vida aquática - indústria de pesca recreação e esporte.
Fases ou Graus de Tratamento
Tratamentos Preliminares: destinam-se a preparação das águas do esgoto para uma
disposição ou tratamento subseqüente e compreendem:

gases ou desintegradores;

caixas de areia ou desarenadores;

tanques de remoção de óleo e graxas;

aeração preliminar (flotação); e

floculação química.
Tratamentos Primários: além dos preliminares, pode-se incluir:

decantação simples;

precipitação química e decantação;

digestão dos lodos;

secagem dos lodos; e

desinfecção do efluente.
Tratamentos Secundários: além dos preliminares e primários, incluem-se:

precipitação química, precedida de decantação primária e seguida por
decantação final.

a)
tratamento biológico (de oxidação):
filtração biológica:

baixa capacidade: (filtros clássicos); e alta capacidade: filtro comum, biofiltros,
aerofiltros, accelo filtros
b)
iodos ativos:

capacidade convencional; - alta capacidade (alta taxa de aplicação); e - com
aeração prolongada (alta eficácia, com oxidação e mineração parcial do lodo).
A aeração no processo dos lodos ativados pode ser feita por ar comprimido (ar difuso)
ou mecanicamente (aeração mecânica).
Tratamentos Terciários: completam os processos anteriores por exigência das
condições locais de um grau mais elevado de depuração ou a remoção de nutrientes,
evitando a proliferação de algas no corpo receptor:  filtro de areia; - lodos ativados (em
seqüência e filtração biológica); - lagoas de estabilização; - processos de oxidação total; precipitação química de fosfatos e outros compostos; - eletrodiálise, osmose reversa (para
recuperação de água de elevado padrão de qualidade); e - tratamento especial para
determinado despejo industrial. Os tratamentos preliminares, às vezes, são suficientes,
constituindo uma preparação aos tratamentos seguintes. Em muitos casos, o tratamento
primário é suficiente e em outros é imprescindível o tratamento secundário. As condições
locais (corpo receptor) estabelecem o grau de tratamento.
8.
Processos de Tratamento dos Esgotos
Remoção de matérias em suspensão ou em flutuação:
Gradeamento: retenção mecânica de materiais grosseiros (trapos, detritos vegetais,
pedaços de madeira, papéis, animais mortos, e outros) entre as barras de uma grade.
Caixas de Areia: canais ou tanques por onde os esgotos escoam com velocidade
conveniente, obtendo-se a deposição de partículas minerais pesadas (areias), sem visar a
disposição de matéria orgânica, menos densa.
V = 0,30m/s + 30%
A manutenção da velocidade depende da variação da vazão, projeta-se a caixa de areia
com secção adequada e instala-se a jusante um dispositivo controlador de vazão
(vertedouro).
V < 0,30 m/s deposita muita matéria orgânica
V > 0,40 m/s permite a passagem de partículas nocivas de areia
Caixa de Gordura (separadores água-óleo): tanques onde o esgoto escoa lentamente,
permitindo a ascensão de óleos, gorduras e outras impurezas com densidade inferior a da
água.
Decantadores: tanques onde se obtém a sedimentação da parcela de materiais em
suspensão capazes de se depositar num período de tempo conveniente.
a)
primários: antes do tratamento secundário, ou do lançamento final, caso haja só
tratamento final:

decantador separado; - tanque séptico; - tanque Imhoff.
b)
secundários (final): remoção de materiais finos atravessando o decantador
primário e aglomerados por ação do tratamento biológico, presentes no efluente dos filtros
biológicos ou tanques de lodo ativado.
Tratamento Químico: introdução de produtos químicos (compostos de ferro, sulfato de
alumínio), para acelerar e aumentar a floculação, elevando a eficácia da
sedimentação: a)empregado quando há necessidade de tratamento de esgotos, em certas
épocas do ano – b) nos casos gerais é substituído pelos tratamentos biológicos.
Remoção ou Estabilização de Materiais Putrescíveis em Suspensão, em Estado
Coloidal ou em Solução - Tratamento Biológico:

tratamentos baseados nos fenômenos naturais de estabilização da matéria
orgânica, por ações vitais de bactérias e outros microrganismos; e

uma instalação de tratamento biológico do esgoto corresponde a um curso
de água maciçamente poluído, realizando sua autodepuração em área e tempo restritos.

Para se conseguir isso, os esgotos são submetidos a uma ação biológica
concentrada e desenvolvida:
a)
fazendo-se a semeadura de microrganismos favoráveis ao processo;
b)
proporcionando-se extensas superfícies de contato entre os esgotos e os
microrganismos:

meios de contato fixos: filtros biológicos e móveis: lodos ativados.
c)
favorecendo-se o desenvolvimento destes microrganismos, pela distribuição
dos esgotos nos meios de contato; e
d)
fornecendo-se oxigênio gasoso, indispensável
microrganismos aeróbios mediante aeração intensa.
ao
metabolismo
dos
Filtros Intermitentes de Areia: uma evolução do processo de irrigação superficial e por
valetas, as águas residuárias não são lançadas diretamente sobre o terreno, mas sobre leitos
de areia, especialmente preparados. Não se faz a exploração agrícola neste caso tratando-se
esgotos brutos ou efluentes de tratamento primário ou secundário como o refinamento.
Unidades de Tratamento Biológico
1
Filtros Biológicos: passagem do esgoto por pedras cobertas por camada
biológica ativa. A matéria orgânica é oxidada ou convertida em sólidos removíveis na
sedimentação secundária.
a)
baixa capacidade = (1,5 a 3,0 m³/m²/dia; 175g DBO/m³ de material filtrante):
b)
alta capacidade = (10 a 30 m³/m²/dia; > 700g DBO/m³ de material filtrante):

da Infilco.
biofiltro ou filtro de Jenks; - aerofiltro ou filtro de Halderson; e - filtro Accelo
2.
Lodos Ativados: esgotos misturados com lodo de grande poder de oxidação
(previamente ativados). Os lodos movem-se nos esgotos, mantendo-se em suspensão pela
aeração intensa.

tanques especiais (tanques de aeração)

o lodo ativado é separado, pela sedimentação secundária.
3.
Tratamentos sobre o Terreno: irrigação superficial e irrigação por valetas.
Irrigação: lançamento dos esgotos no terreno, por canalização ou valetas e analisada
sob os pontos de vista sanitário, agrícola e econômico.
TÍTULO VI
RESÍDUOS SÓLIDOS
Eng. Dr. Antonio Eduardo Giansante
1.
Definições
Constituído por qualquer resto das atividades humanas sem valor de uso para o seu
proprietário descartando-o rapidamente. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
na norma brasileira registrada NBR-10.004, o define: “Resíduos no estado sólido e semisólido resultando de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição, ficam incluídos nesta definição os lodos
provenientes de sistemas de tratamento de água gerados em equipamentos e instalações de
controle de poluição e determinados líquidos cujas particularidades inviabilizem seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água ou exijam soluções técnicas e
economicamente inviáveis face à melhor tecnologia disponível”.
Por isto, até materiais não sólidos como lodo de ETEs são objetos da norma,
ampliando sua aplicação. Os resíduos sólidos, vulgo lixo, têm história comum à do ser
humano, pois onde ele está e vive, aquele está presente e resultando das suas atividades.
Com o desenvolvimento são encontrados vários tipos de materiais: restos de alimentos,
papel, plásticos, metais, vidros, panos, borracha, couro e outros, alguns reaproveitáveis e
constituindo um dos problemas sanitários e ambientais de maior magnitude e complexidade,
cerca de 120.000 toneladas são geradas por dia no Brasil e aproximadamente 80% desta
quantidade destinadas para lixão, solução não sanitária. No lixão, mera disposição sobre o
solo, há poluição do solo, água e ar, além de veiculação de doenças para catadores.
2.
Tipologia
A origem é o principal elemento para caracterizar um resíduo sólido, assim
classificado:  residencial
ou
domiciliar;  serviços
de
saúde;  fontes
especiais;  comercial;  industrial;  varrição ou público (incluindo cadáveres de animais,
folhas, veículos e objetos abandonados);  radioativo;  portos e aeroportos.
3.
Importância
3.1. Sanitária – lixo mal disposto é causa indireta de doenças como abrigo e alimento
de vetores:  mosca: febre tifóide, salmoneloses e disenterias;  mosquitos: febre amarela e
malária;  barata: febre tifóide, cólera, amebíase e giardíase; e  roedores: tifo murino,
leptospirose, diarréia, disenterias e triquinose. Principais formas de transmissão de doenças:
inalação; ingestão; e injeção. Nem todo agente infeccioso nos resíduos causará dano à saúde,
há fatores determinando a instalação e o início do processo infeccioso:  dose infectante
(densidade e tempo de exposição);  agente infeccioso (virulência, persistência, formas de
propagação e ambiente);  suscetibilidade do hospedeiro; e  forma de penetração do
patógeno no hospedeiro.
3.2. Socioeconômica – pela heterogeneidade dos materiais como papéis, metais,
plásticos, restos de alimentos há alguns reutilizáveis, quando devidamente separados, outros
não como couros, borrachas, panos e outros.
Em média, no Brasil cerca de 50% do resíduo sólido em peso são reaproveitáveis pelo
uso de técnicas controladas e seu aumento depende do aprimoramento tecnológico e
melhorias da gestão da limpeza pública.
Os custos de reutilização de materiais excedem a receita da venda dos materiais
separados e a coleta seletiva diminuiria os custos existindo possibilidade de reciclagem de
materiais como:  papéis, plásticos, metais, vidros e outros; e  matéria orgânica: produção
do composto.
3.3. Ambiental – Poluição do Ambiente: o lixo disposto inadequadamente sobre o
solo o polui, o mesmo ocorrendo com a água subterrânea e a superficial além do ar por causa
da sua queima provocada ou espontânea. As vias de degradação do ambiente natural:  os
gases gerados pela degradação biológica dos resíduos ou combustão espontânea (CH, NH,
CO, HS e outros) emitidos para a atmosfera;  o percolado (chorume) gerado pela
degradação biológica da matéria orgânica e lixiviação causada pela passagem da água
através do lixo atingindo os corpos hídricos superficiais; e  o chorume infiltrado no solo
contamina as águas subterrâneas.

Qualidade de Vida: bem-estar da população prejudicado pelo mal aspecto do lixo
indevidamente disposto e acondicionado.
4.
Situação Atual
No Brasil a maior parte deles é disposta de forma inadequada no ambiente e de acordo
com o PNAD/IBGE (2001), 83,6% são coletados, mas cerca de 25% têm destino adequado
como aterro sanitário, não lixão, encaminhado para usinas de compostagem e reclicagem ou
a incineração, havendo ainda métodos como a esterilização por microondas, pirólise e outros,
menos expressivos. Em 1989, o IBGE apontava o seguinte:  75,5% lançados a céu aberto
(lixão);  0,6% em áreas alagadas;  12,5% em aterros controlados;  9,3% em aterros
sanitários; e  2,1% passam por unidades de tratamento provocando a degradação do
ambiente.
5.
Composição dos Resíduos Sólidos
A composição varia em função de:  local de geração como bairros
residenciais, comerciais, de serviços, industriais e outros;  clima
e
estações
do
ano;  períodos
econômicos
e
políticos
do
País;  hábitos
e
valores
da
população;  eficiência do serviço de coleta; e  existência de tratamento domiciliar prévio e
outros e expressa percentualmente.
A composição típica do lixo de São Paulo está no quadro 1 e a de Manaus nos 2 e 3
encontram-se outras características físico-químicas adicionais do lixo de São Paulo.
QUADRO 1: Composição do lixo de São Paulo – 1979.
Componente (base úmida)
% (em
peso)
Matéria orgânica putrescível
37,80
Papel e papelão
29,60
Metal ferroso
5,40
Trapo, couro, borracha
2,20
Plástico fino e grosso
9,00
Vidro, terra, pedra
14,60
Madeira
0,80
Metal não – ferroso
0,10
Diversos
0,50
Fonte: IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
QUADRO 2: Composição do lixo de Manaus – 1979.
Componente (base úmida)
Matéria orgânica putrescível
Papel e papelão
Metal ferroso
Trapo, couro, borracha
Plástico fino e grosso
Vidro, terra, pedra
Madeira
Metal não – ferroso
Diversos
% (em peso)
51,12
29,01
6,77
3,45
2,83
4,67
2,10
0,01
0,04
Fonte: L. M. Q. Lima – Análise do lixo de Manaus, AM, 1979
6.
Características Gerais dos Resíduos Sólidos
Determinadas para solução adequada passando pela Limpeza Pública e se dividem de
acordo com as propriedades usuais.
6.1. Físicas – não se determina quais os compostos presentes, mas suas
características mecânicas e de combustão, tendo em vista a coleta e destino final,
como:  peso específico;  poder calorífico;  umidade; e  odor.
6.2. Químicas – determina-se a presença e teores:  porcentagem de matéria
orgânica;  teores de carbono; nitrogênio; fósforo e potássio; matéria combustível, dentre
outros; e  pH.
6.3. Biológicas – presença de microrganismos verificando o desenvolvimento
microbiano e vetores ou sua viabilidade em função das doenças veiculadas.
QUADRO 3: outras características físico-químicas do lixo de São Paulo, 1979.
Componente
Relação carbono/nitrogênio
Peso específico
Umidade
Sólidos voláteis
Inertes
Poder calorífico superior
Poder calorífico inferior
Unidade
C/N
Kg/m³
%
%
%
Kcal/kg
Kcal/kg
Valor
25,80
192,00
61,20
32,30
6,50
4.267,00
1.285,00
Fonte: IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
7.
Geração de Resíduos Sólidos
A produção de lixo numa localidade aumenta em função de:  crescimento da
população;  elevação do nível econômico; e  modernização de costumes e a produção “per
capita” de lixo é variável. Para países em desenvolvimento imagina-se a produção pessoal
diária entre 0,5 – 1, 0 Kg: 
São Paulo – 1976 – 0,52 kg/hab./dia – 1992– 0,99
kg/hab./dia Brasília – 1976 – 0,514 kg/hab./dia  Índia – 1971 a 1973 – 0,1 a 0,25
kg/hab./dia
8.
Classificação de Resíduos Sólidos
Normas para classificação dos resíduos industriais e resíduos de serviços de
saúde:  NBR 10.004: Resíduos Sólidos. Classificação: I – perigoso por possuir uma ou mais
destas propriedades: patogênico, reativo, inflamável, tóxico ou corrosivo; II – não inerte; e III –
comum como o gerado nos domicílios residenciais.  NBR 12.808: Resíduos de Serviços de
Saúde. Classificação: A: infectante ou séptico; B: especiais: químico, farmacêutico ou
radioativo; e C: comum.
9.
Etapas da Limpeza Pública
A limpeza pública é o conjunto de serviços e equipamentos para acondicionar, coletar,
transferir, tratar e dar um destino final à totalidade de resíduos sólidos gerados. As
responsabilidades variam em função do agente gerador e como se classifica o resíduo. As
etapas são: acondicionamento: ato de colocar o resíduo numa “embalagem” ou container
adequado; coleta comum ou seletiva, separando o material úmido, i.é, putrescível, do seco;
transferência ou transbordo nas maiores áreas urbanas, pois o caminhão de coleta não é o
mesmo conduzindo o material recolhido até o destino final; tratamento, para diminuir a massa
ou reduzir a complexidade dos resíduos para o destino final, a sua disposição em locais
devidamente preparados.
10.
Acondicionamento e Coleta de Resíduos Sólidos

Responsabilidades:
1.
Resíduo Industrial: o agente gerador é o responsável por todas as etapas:
acondicionamento em containers, coleta, transporte e tratamento ou destino final.
2.
Resíduo Domiciliar Residencial (Classe III): o acondicionamento é de
responsabilidade do gerador, p.ex., o morador de uma casa, as demais etapas são de
responsabilidade da Prefeitura.
3.
Resíduos de Serviço de Saúde: responsabilidade do gerador, o destino destes
resíduos é colocado no item a seguir. A coleta executa a rotina e a eficiência junto aos
usuários, para se habituarem aos horários e períodos e acondicionarem adequadamente o
lixo e se divide em comum, quando há mistura dos materiais e seletiva quando há a
separação entre o material úmido, putrescível e o seco, papéis, vidros e outros, passíveis de
separação e reuso.
11.
Sólidos
Tecnologias Utilizadas para Tratamento ou Destino Final dos Resíduos
O tratamento de um resíduo sólido tem os propósitos de:  redução de
volume;  redução da “complexidade”;  aproveitamento de uma parcela do resíduo;
e  preservação da saúde pública e do meio ambiente. As formas mais
usuais de tratamento são:  trituração;  compactação;  compostagem;  incineração; 
esterilização por microondas; e  a reutilização e reciclagem.
Em geral há custos elevados associados ao tratamento e a destinação final tem por
objetivos:  a disposição do resíduo no ambiente de forma sanitária e ambientalmente
segura; e  não causar danos à saúde pública. As formas de destinação ou disposição final
são o aterro sanitário e o controlado este representando uma simplificação;
12.
Usinas de Triagem e Compostagem de Lixo
Estas unidades separam e reutilizam os do lixo. A coleta seletiva junto com a educação
da população barateiam o uso desta unidade porque o material chega separado na usina.
Em média, 50% do material em peso não é reutilizável, devendo junto à usina, haver um
aterro sanitário para receber o “refugo” e cujas etapas mais usuais são: separação ou
catação, embalagem ou enfardamento do material homogêneo, estabilização da matéria
orgânica e posterior trituração, peneiramento e “cura” final.
Em função do tipo de usina, as operações e processos podem ocorrer com o auxílio de
equipamentos mecânicos, chegando a custar mais de R$ 150,00 por habitante atendido e usinas
mais simples nas pequenas comunidades podem ter a maior parte da operação manualmente,
reduzindo o custo.
Como há contato dos catadores com o material, as usinas não podem receber resíduos
não-inertes e perigosos (classes I e II) e os de serviço de saúde classificados como
infectantes ou especiais (classes A e B).
13.
Incineradores de Grade Móvel ou Fixa
Reduzem massa, volume e complexidade dos resíduos sólidos numa média de cerca de
25% em massa para destiná-los a um aterro sanitário, mas o restante do material queimado
foi liberado na forma de gases, fumos, partículas e outros e junto ao incinerador devem estar
os equipamentos de controle de poluição atmosférica, aumentando os custos de implantação,
operação e manutenção.
14.
Aterro Sanitário
Utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo mediante critérios de engenharia
e normas operacionais específicas, para uma operação segura para controle de poluição
ambiental e saúde pública. É constituído pela compactação e cobertura diária com camadas
de terra dos resíduos de variadas origens de incineradores e usinas de compostagem e em
função do contato dos catadores com o material, os aterros não podem receber resíduos nãoinertes e perigosos (classes I e II) e os de serviço de saúde classificados como infectantes ou
especiais (classes A e B) havendo aterros industriais projetados para receber resíduos
industriais classe 2.
14.1. Aspectos Ambientais – o aterro deve evitar poluição do solo e contaminação das
águas superficiais e subterrâneas. A constante lixiviação dos resíduos pelas águas de chuvas
e sua decomposição formam o CHORUME (líquido de cor acentuada e odor desagradável). O
chorume tem elevado teor de matéria orgânica biodegradável e é fonte potencial de
microrganismos patogênicos cujos principais componentes são:  umidade natural do
lixo;  água de chuva;  água liberada na decomposição de determinados componentes do
lixo;  água gerada de decomposição biológica;  substâncias orgânicas e inorgânicas
solúveis; e  substâncias orgânicas solubilizadas pela ação de microorganismos no processo
de decomposição.
14.2. Medidas de Proteção Ambiental –  altura mínima de 2m entre a parte inferior
do aterro e o lençol freático;  impermeabilização da parte inferior do aterro por camadas de
argila compactada ou manta impermeável;  drenagem do líquido percolado;  desvio de
águas pluviais da área do aterro, contribuindo para a redução do volume do chorume e sua
operação;  tratamento do líquido percolado;  cobertura diária do lixo;  exaustão dos
gases gerados pela decomposição da matéria orgânica; e  isolamento da área não
permitindo o acesso de pessoas estranhas e catadores.
14.3. Escolha da Área:  respeitar a legislação relativa ao uso do solo, as áreas de
proteção aos mananciais e as de preservação e as com vegetação preservada;  evitar áreas
com nascentes ou pequenos córregos; opção por áreas secas de preservação
permanente;  observar a direção dos ventos dominantes e localizá-los a sotavento das
cidades; observar
a
localização
em
zonas
rurais
e
se
existentes,
áreas degradadas por mineração e emprestadas de solo,
procurando
recuperálas;  desenvolver esclarecimentos junto à vizinhança, mostrando: aterro sanitário não é
lixão.
14.4. Formas de disposição:
1. Técnica da Trincheira aplicada em área de topografia plana e suave:  escavação
de trincheira de dimensões adequadas;  estocagem do material removido para uso
futuro;  disposição do lixo diretamente na trincheira, formando células de 2 a 4m de altura,
em camadas sucessivas; e  cobertura do lixo no fim do dia com o material escavado do
fundo ou da lateral da trincheira. Preenchida a trincheira, novas camadas de células podem
ser superpostas utilizando-se a terra escavada para construção de diques de contenção
formando nova camada de lixo sobre a trincheira.
2.
Técnica de Rampa, aplicada em áreas relativamente secas e planas
apresentando disponibilidade de material de cobertura:

terraplanagem;  compactação do lixo junto a uma rampa, de baixo para cima;
e  cobertura do lixo no final do dia. As camadas de lixo poderão ser sobrepostas para
melhor aproveitamento da área estando as camadas inferiores compactadas.
3.
Técnica da Área, usada em locais onde a topografia é apropriada ao recebimento
do lixo sobre a superfície sem alteração sua configuração:  descarregamento do
lixo;  disposição e compactação; e  cobertura do lixo no final do dia.
14.5. Forma de Operação – a compactação do lixo nos aterros sanitários, realizada à
medida da formação das células possibilita redução do volume, tráfego dos veículos de coleta
carregados e equipamentos utilizados na operação do aterro e redução do rebaixamento da
massa aterrada:  descarregamento de lixo no solo, formando rampas com inclinação 1
(vertical): 3 (horizontal);  amassamento e quebra de caixas, latas, garrafas, pelo peso do
trator e do sistema de esteiras em sua traseira; e  compactação no sentido ascendente,
repetida de 3 a 5 vezes sobre cada camada de lixo.
Obs.: nos aterros onde o lixo é empurrado de cima de um barranco para baixo, a
operação de compactação é inexistente, pois o trator não efetua amassamento e quebra
enquanto o efeito da compactação bem executada aparecerá no mesmo dia ou no seguinte
possibilitando trafegar sobre a célula com caminhões de coleta ou basculantes carregados
com material de cobertura.
14.6. Frentes para Dias de Chuva – uma frente de trabalho deve ser conservada para
suportar bem o tráfego e reservada exclusivamente para os períodos de chuvas prolongadas.
As cabeceiras destinadas às épocas de chuvas devem ser fechadas ao acesso regular e
haver em estoque na área, cascalho ou pedra britada para a aplicação nos acessos e na
frente de trabalho evitando encalhes de caminhões e danos para os chassis, não
desorganizando os serviços.
14.7. Partes
de
um
Aterro
natural;  portaria;  balança;  acessos
estocagem;  galpão;  alojamentos;  tubos
drenagem de águas pluviais; e  iluminação.
Sanitário:  cercas
com
vegetação
internos;  pátios
de
de drenagem de gases;  sistema de
14.8. Equipamentos:  trator empurrador de esteiras com a possibilidade da lâmina
“BALDERSON”;  equipamento de rodas adaptados para lixo; e  rolo compactador
articulado, dotado de 4 (quatro) rodas e 1 (um) rolo na parte dianteira e duas rodas traseiras,
providas de pés de carneiro – importado para aterros para grandes volumes (mais de 1000
t/dia) de lixo.
15.
Soluções Conjuntas
A solução combinando usina de compostagem e reciclagem de materiais com o aterro
sanitário pode ser mais adequada, pois cerca de 50% do material chegando numa usina pode
ser considerado como rejeito, inaproveitável restando, enterrá-lo num aterro sanitário (fig. 5).
FIGURA 5
16.
Minimização de Resíduos Sólidos
Tecnologia desenvolvida nas décadas de 70 e 80 para solucionar problemas de resíduos
perigosos se aplicando aos demais resíduos e objetiva redução de:  volume sem aumento
da toxidade; e  toxidade, por outros métodos sem a diluição. Menor volume gerado implica
menos material para buscar uma solução adequada quanto a sua disposição ou tratamento.
17.
Nimby
Mesmo sabendo a necessidade de buscar uma solução adequada para o problema do
lixo, ninguém deseja a solução para o problema situada nas proximidades de sua moradia.
Por isto, esta situação é conhecida como NIMBY “never in my backyard” (fig. 6) e quando
utilizada a melhor técnica disponível, a população tende a rejeitar a localização do aterro,
usina ou incinerador, constituindo o maior problema no licenciamento ambiental destas
unidades.
18.
Resíduos de Serviço de Saúde – RSS.
Mais conhecidos como resíduos hospitalares, por uma associação implícita aos resíduos
gerados naqueles estabelecimentos, os RSS podem ser gerados por quaisquer
estabelecimento de saúde, porém nem todo material de lá é potencialmente perigoso, pois há
resíduos da administração, cozinha e outros locais semelhantes aos domiciliares. Em 1993 a
ABNT editou normas referentes a RSS:  NBR 12807 – Terminologia;  NBR 12808 –
Classificação; e  NBR 12809 e 12810 – Procedimento.
18.1. Classificação
Pela NBR – 12.808 os RSS são agrupados em três categorias:
Classe A – Resíduos infectantes, divididos em:
Tipo A. 1. – Biológico: cultura, inoculo, mistura de microrganismos e meio de cultura
inoculado proveniente de laboratório clínico ou de pesquisa, vacina vencida ou inutilizada, filtro
de gases aspirados de áreas contaminadas por agentes infectantes e qualquer resíduo
contaminado por estes materiais.
Tipo A. 2. – Sangue e hemoderivados: bolsa de sangue após transfusão, com prazo de
validade vencido ou sorologia positiva, amostra de sangue para análise, soro, plasma e outros
subprodutos.
Tipo A. 3. – Cirúrgico, anátomo – patológico e exsudato: tecido, órgão, feto, peça
anatômica, sangue e outros líquidos orgânicos resultantes de cirurgia, necropsia e resíduos
contaminados por estes materiais.
Tipo A. 4. – Perfurante ou cortante: Agulha, ampola, pipeta, lâmina de bisturi e vidro.
Tipo A. 5. – Animal contaminado: Carcaça ou parte do animal inoculado, exposto a
microrganismos patogênicos ou portador de doença infecto – contagiosa, e resíduos em
contato com este.
Tipo A. 6. – Assistência ao paciente: secreções e demais líquidos orgânicos
procedentes de pacientes, e resíduos contaminados estes materiais, inclusive restos de
refeições.
Classe B – Resíduos especiais, divididos em:
Tipo B. 1. – Rejeito radioativo: material radioativo ou contaminado com radionuclídeos
proveniente de laboratórios de análises clínicas, serviços de medicina nuclear e radioterapia
(ver resolução CNEN – NE- 6.05).
Tipo B. 2. – Resíduo Farmacêutico: Medicamento vencido, contaminado, interditado ou
não utilizado.
Tipo B. 3. – Resíduo químico perigoso: Resíduo tóxico, inflamável, explosivo, reativo,
genotóxico ou mutagênico (NBR 10.004).
Classe C – Resíduo Comum: não enquadrados nos tipos A e B e, por semelhança com
resíduos domésticos, não oferecem risco à saúde pública, exemplo: atividades
administrativas, varrição e limpeza de jardins e restos alimentares sem contato com
pacientes.
18.2. Legislação em Vigor – destacam-se:  Portaria MINTER No de 01.03.1979:
obrigava a incineração dos RSS, portos e aeroportos foi alterada pelas resoluções CONAMA
No 006/91 e 005/93;  Resolução CONAMA N 006 de 19.09.1991: desobriga a incineração
para RSS, portos e aeroportos, ressalvando casos previstos em leis ou acordos
internacionais; e  Resolução CONAMA N 005 de 05.08.1993: adota uma classificação
diferente da NBR 12808, com os mesmos fundamentos, estabelece a obrigatoriedade da
apresentação pela administração dos estabelecimentos de saúde de um plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos, a ser submetido aos órgãos de meio ambiente e saúde.
18.3. Geração de RSS – pela diversidade de estabelecimentos (farmácias, laboratórios,
hospitais, clínicas dentárias e outros), torna-se difícil estabelecer parâmetros de geração de
RSS. As tentativas se concentram em hospitais para relacionar o tipo Kg/RSS/leito/dia.
Verifica-se a quantidade de RSS gerada ser função de:  tipo de hospital;  hábitos e
procedimentos médico – hospitalares;  tipo de alimentação utilizada. Cerca de 80% em
massa do RSS gerados diariamente num hospital sejam do tipo C, comum e podem ter o
mesmo destino dos domiciliares, os outros 20% merecerão coleta e destino especiais.
18.4. Gerenciamento dos RSS. – o objetivo do gerenciamento dos RSS é reduzir os
riscos para a saúde da população interna e externa ao estabelecimento. Consultar:  NBR
12.809, trata de manuseio, segregação e acondicionamento, procedimento de coleta intra –
estabelecimento gerador, especificações das características físicas para abrigo de resíduos, e
condições específicas referentes a cada tipo de RSS; e  NBR 12.810 trata de equipamentos
de proteção individual – EPI’s e equipamentos destinados a coleta interna e externa.
Bibliografia Recomendada
Consideraciones sobre el manejo de Resíduos de Hospitais en America Latina –
OPSOMS, Lima, Peru,1991.
GIANSANTE AE. Notas de aula da disciplina saneamento do meio. Apostila UNAERP,
São Paulo; 1999.
GIANSANTE AE. Têm preço os danos ambientais – Revista Se, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo Mackenzie. São Paulo; 1999.
JOFFRE AF, Marvet IMJV. Gestión avanzada de resíduos biosanitários. Revista Todo
Hospital, pág. 97 junio; 1993.
ORTN MHA, Takeda. Aterros Sanitários. São Paulo: CETESB; 1998.
POVINELLI JI, BIDONE FR. Conceitos Básicos de Resíduos Sólidos. São Carlos: EESC
USP; 1999.
TÍTULO VII
FUNDAMENTOS DE EPIDEMIOLOGIA
Liliane Reis Teixeira
1.
Introdução à Epidemiologia
A trajetória histórica da epidemiologia tem seus registros na Grécia antiga (ano 400 a.C.),
quando Hipócrates apresentou explicações das doenças com fundamento no raciocínio e não
no sobrenatural.
Na era moderna, John Graunt, no século XVII, quantificou os padrões de natalidade,
mortalidade e ocorrência de doenças e a primeira tábua de mortalidade.Conferindo-lhe o mérito
de fundador da bioestatística e um dos precursores da epidemiologia.
Em meados do XIX, Willian Farr iniciou a coleta e análise sistemática das estatísticas de
mortalidade na Inglaterra e País de Gales e foi considerado o pai da estatística vital e da
vigilância, os pioneiros da epidemiologia o destaque foi John Snow cuja contribuição no ensaio
“Sobre a Maneira de Transmissão da Cólera”, publicado em 1855 apresentou memorável
estudo de duas epidemias de cólera em Londres em 1849 e 1854.
Na primeira verificou: os distritos de Londres com maiores taxas de mortalidade pela
cólera eram abastecidos de água por duas companhias: Lambeth Company e Southwark &
Vauxhall Company. Ambas utilizavam água captada no rio Tamisa num ponto abaixo da
cidade. Na segunda, a Lambeth Company mudara o ponto de captação de água do rio
Tamisa para um local livre dos efluentes dos esgotos. Este fato deu a Snow a oportunidade
de comparar a mortalidade por cólera em distritos servidos de água por ambas e captadas em
pontos distintos do rio Tamisa, formulando a hipótese da água captada abaixo da cidade de
Londres ser a origem da cólera e concluiu a água contaminada por fezes de doentes o
mecanismo
de
transmissão,
após
analisar
a
rede
de
processos
determinando a distribuição da doença nas condições de vida da cidade londrina (cotidiano
e hábitos de vida, processos de trabalho e natureza das políticas públicas). Daquela época
até o início do século XX, a epidemiologia foi ampliando o campo e suas preocupações se
concentraram nos modos de transmissão das doenças e combate às epidemias. Com o
declínio na incidência das doenças infecciosas, enfermidades de caráter não-transmissível
(doenças cardiovasculares, câncer e outras) foram incluídas como objeto de estudo da
epidemiologia.
2.
Conceito de saúde-doença
A Epidemiologia estuda o processo saúde-doença[1] em coletividades humanas,
analisando a distribuição[2] e os fatores determinantes[3] das enfermidades, danos à saúde e
eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção[4],
controle[5], ou erradicação[6] de doenças e fornecendo indicadores como de suporte do
planejamento a avaliação das ações de saúde. O universo dos estados particulares de
ausência de saúde é estudado pela epidemiologia sob a forma de doenças infecciosas
(sarampo, difteria, malária, e outros), não-infecciosas (diabetes, bócio endêmico, depressões,
e outros) e agravos à integridade física (acidentes, homicídios, suicídios).
3.
História natural das doenças
Conjunto de processos compreendendo “as inter-relações de agente, suscetível e meio
ambiente afetando o processo global, e seu desenvolvimento desde as primeiras forças,
criando o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar, passando pela
resposta do ser humano ao estímulo até às alterações levando a um defeito, invalidez,
recuperação ou morte” (Leavell e Clark, 1976) e tem desenvolvimento em dois períodos
seqüenciados: o epidemiológico e o patológico. No primeiro, o interesse é dirigido para as
relações suscetível-ambiente e no segundo suas modificações no organismo vivo.
3.1.
Período de pré-patogênese
É a evolução das inter-relações dinâmicas, envolvendo condicionantes sociais e
ambientais e fatores próprios do suscetível, até chegar a uma configuração favorável à
instalação da doença e as pré-condições da produção de doença formam uma estrutura
epidemiológica (sistema epidemiológico) e um dos componentes sofrendo alteração esta
atingirá os demais, num processo de busca de equilíbrio e com maior ou menor incidência de
doenças, modificações na variação cíclica e caráter epidêmico ou endêmico. Pode-se entender
este sistema a de:
A)
Fatores sociais:
Fatores socioeconômicos (classe social): associação inversa, de ordem
estatística, entre capacidade econômica e probabilidade de adquirir doença. Exemplo, os
pobres parecem mais doentios e mais velhos; duas ou três vezes mais propensos a
enfermidades graves; permanecem doentes mais amiúde; morrem mais jovens; procriam
crianças de baixo peso e em maior proporção;
Fatores sociopolíticos: instrumentação jurídico-legal, decisão e higidez
política, participação consentida e valorização da cidadania, participação comunitária e
acesso à informação;
Fatores socioculturais: preconceitos e hábitos culturais, crendices,
comportamentos e valores. Ex: passividade diante do poder incompetente ou má fé, alienação
dos direitos e deveres da cidadania, transferência para profissionais da política,
responsabilidade pessoal pelo social, passividade como beneficiários do paternalismo de
estado ou oligárquico e incapacidade de reivindicar; e
Fatores psicossociais: marginalidade, relações instáveis, desconexão
cultural, falta de apoio no contexto, condições de trabalho extenuantes, promiscuidade,
transtornos econômicos sociais ou pessoais, falta de cuidados maternos, carência afetiva,
competição desenfreada e agressiva nos centros urbanos e desemprego.
B)
Fatores ambientais:
Agressores ambientais: presentes de forma habitual em convivência natural ou
tradicional com o ser humano; pouco comuns em situações novas, alterações impostas por
novos hábitos, modificações no modo de vida, má administração ou manipulação inábil de
meios e recursos, como agentes, em algum evento epidemiológico; explodem em situações
como macroperturbações ecológicas, desastres naturais e catástrofes.
Ex: progresso e industrialização;
Ambiente físico: situação geográfica, solo, clima, recursos hídricos e
topografia, agentes químicos, físicos e biológicos;
-
Ambiente humano: uso de medicamentos. Ex: talidomida; e
o suscetível.
C)
Ambiente biológico: seres vivos com influência sobre o agente etiológico e
Fatores genéticos
Multifatorialidade: a associação dos fatores é sinérgica onde dois fatores estruturados
aumentam o risco de doença em número superior ao da simples soma. Ex: diarréia x
desnutrição.
Agentes patogênicos: levam estímulos do meio ambiente ao meio interno por presença
ou ausência como mensageiros de uma pré-patologia gerada e desenvolvida no ambiente.
Iniciadores e mantenedores de uma patologia passando a existir no ser humano de natureza
física, química, biológica ou psicológica são agentes biológicos os bioagentes, os nutricionais
e os genéticos.
3.2.
Período de patogênese
Inicia-se com as primeiras ações dos agentes patogênicos sobre o ser afetado. Seguemse às perturbações bioquímicas em nível celular continuam com as perturbações na forma e
função, evoluindo para defeitos permanentes, cronicidade, morte ou cura.
Interação estímulo-suscetível: a doença ainda não tomou desenvoltura, porém
os fatores necessários para a sua ocorrência estão presentes. Ex: má nutrição x tuberculose,
altas concentrações de colesterol x doenças coronarianas, CA pulmão x asbesto x fumo.
OBS: Imunidade do rebanho ou coletiva: resistência de um grupo ou população à
introdução e disseminação de um agente.
Alterações bioquímicas, fisiológicas e histológicas (ou período
prodrômico): a doença está implantada no organismo afetado, embora não se percebam
manifestações clínicas, há alterações histológicas, detectáveis por exames (“período de
incubação”).
Sinais e sintomas: estágio iniciado ao atingir uma massa crítica de
alterações funcionais no organismo acometido, a evolução encaminha-se para desenlace,
passar ao período de cura, evoluir para cronicidade ou progredir para invalidez ou a morte.
OBS: Período de transmissibilidade ou período de contágio: intervalo de tempo onde
uma pessoa ou animal infectado elimina um agente biológico para o meio ambiente ou para o
organismo de um vetor hematófago possibilitando a transmissão a outro hospedeiro.
Defeitos
permanentes, cronicidade: a evolução da
doença
pode
progredir até a cronicidade ou conduzir o doente a uma incapacidade física por tempo
variável, produzir lesões constituindo uma porta aberta para doenças, incapacitar
temporariamente para desempenho de alguma atividade, evoluir para invalidez, a morte ou a
cura.
Prevenção
A)
Prevenção primária
Promoção da saúde: moradia adequada, escolas, áreas de lazer, alimentação
adequada, educação em todos os níveis.
Proteção específica: imunização, saúde ocupacional, higiene pessoal e do lar, proteção
contra acidentes, aconselhamento e controle dos vetores.
B)
Prevenção secundária
Diagnóstico precoce: inquéritos para descoberta de casos na comunidade; exames
periódicos para detecção precoce de casos; isolamento para evitar a propagação de doenças;
tratamento para evitar a progressão da doença.
Limitação da incapacidade: evitar complicações e seqüelas.
C)
Prevenção terciária: reabilitação, fisioterapia, terapia ocupacional e emprego
para o reabilitado.
Cadeia do Processo Infeccioso
Fundamenta-se na compreensão da infecção como resultante da interação dos diversos
fatores do agente, meio e hospedeiro. Este processo ocorre quando o agente deixa o
reservatório por diferentes vias de eliminação e por uma forma conveniente de transmissão,
com maior ou menor participação do ambiente, introduz-se no novo hospedeiro pela via
adequada de penetração.
Doença infecciosa: doença humana ou animal clinicamente manifesta
resultando de uma infecção.
Infecção: penetração, alojamento e multiplicação de um agente etiológico
animado (parasita) no organismo de um hospedeiro, produzindo-lhe danos com ou sem
sintomas clínicos.
Infestação: alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na
superfície do corpo ou roupas de pessoas ou animais.
Colonização: o agente na superfície do organismo em quantidade mínima,
multiplica-se numa proporção suficiente para manter-se sem produzir qualquer reação do
hospedeiro.
Contaminação: agente na superfície do corpo ou de objetos inanimados
(fômites) servindo de fonte de infecção.
Características do reservatório
Reservatório: hábitat de um agente infeccioso, onde vive, cresce e se multiplica.
Distingue-se o reservatório da fonte de infecção pelo fato do primeiro ser indispensável
para a perpetuação do agente e o segundo ser indispensável para a transmissão. Ex: ser
humano, animais, ambiente.

A)
Reservatório humano
Pessoas com doença clinicamente discernível
B)
Portador: não apresenta sintomas clínicos de uma doença transmissível ao ser
examinado, mas albergando e eliminando o agente etiológico respectivo.
Portador ativo convalescente: age como portador durante e após a
convalescença da doença infecciosa. Ex: febre tifóide.
Portador ativo crônico: continua a albergar o agente etiológico muito tempo
após a convalescença da doença. Ex: albergar a Salmonella thyphi por mais de um ano.
Portador ativo incubado ou precoce: comporta-se como portador durante o
período de incubação de uma doença.
Portador passivo: sem sintomas de determinada doença transmissível, não
os está apresentando e não os apresentará no futuro; só pode ser descoberto por exames de
laboratório.

Portador eficiente: elimina o agente etiológico para o meio exterior através
de um vetor hematófago ou possibilita a infecção de novos hospedeiros de modo contínuo ou
intermitente.

Portador ineficiente: não elimina o agente etiológico para o meio exterior.

Reservatório animal: As doenças infecciosas transmitidas acidentalmente
de animais para o ser humano são denominadas Zoonoses, porém são transmitidas de animal
para outro. Ex: leptospirose, raiva, doença de Chagas.

Reservatório ambiental: Plantas, solo e a água. Ex: Clostridium botulinum.
Vias de eliminação: trajeto do agente a partir do reservatório ou fonte de infecção para
atingir o meio ambiente. Ex: tratos respiratório e digestivo; urina; sangue; pele; mucosas e
secreções.
Fatores do Agente: este interage com o meio e o hospedeiro, influenciando o
comportamento das doenças infecciosas:
Infectividade: capacidade do agente etiológico alojar-se e multiplicar-se no organismo
do hospedeiro e dele sair para um novo.
Patogenicidade: capacidade do agente biológico causar doença em hospedeiro
suscetível.
Virulência: grau de patogenicidade do agente infeccioso expressado pela gravidade da
doença, letalidade e proporção de seqüelas.
Poder imunogênico (ou imunogenicidade): capacidade do agente biológico de
estimular a resposta imune no hospedeiro.
a)
tipo específico: a imunidade produzida protege somente contra um dos tipos do
agente. Ex: poliovírus tipo 1, não protege contra os tipos 2 e 3; e b) grupo específico: a
imunidade produzida protege somente contra um dos grupos do agente. Ex: meningococo A,
não protege do B, C, X, Y.
Valência ecológica: capacidade do agente sobreviver em um ou mais reservatórios.
Resistência às condições do meio: capacidade de sobreviver nas condições do meio
ambiente. Ex: o bacilo da tuberculose resiste por vários dias no ambiente, na presença de
umidade e ausência de luz solar (transmissão por via indireta).
Inóculo ou dose infectante: é a quantidade do agente penetrando no novo hospedeiro
suscetível.
Fatores do ambiente físico: temperatura, umidade, e outros.
Fatores do ambiente biológico: grau de adaptação de determinadas espécies em sua
função de parasitar o ser humano.
Fatores do ambiente social: aglomeração, migrações, distribuição das riquezas e
outros.
Transmissão: Transferência de um agente etiológico animado de um reservatório ou
fonte de infecção para um novo hospedeiro:

Transmissão direta (contágio): transferência rápida do agente etiológico sem
a interferência de veículos.
•
Transmissão direta imediata: contato físico entre o reservatório ou fonte de
infecção e o novo hospedeiro suscetível.
•
Transmissão direta mediata: não há contato físico entre o reservatório ou
fonte de infecção e o novo hospedeiro; a transmissão se faz por meio das secreções
oronasais transformadas em partículas pelos movimentos do espirro (“gotículas de flügge”).

Transmissão indireta: transferência do agente etiológico por veículos
animados ou inanimados. É essencial serem os agentes capazes de sobreviver fora do
organismo durante certo tempo, existindo veículos transportadores de microrganismos ou
parasitas de um lugar a outro.
•
Transmissão indireta por veículo animado (vetor): dá-se por um artrópode
transferindo um agente infeccioso do reservatório ou fonte de infecção para um suscetível e
pode comportar-se como:
•
Vetor biológico: vetor no qual se passa, obrigatoriamente, uma fase do
desenvolvimento de determinado agente etiológico. Ex: anofelíneos – malária; e
•
Vetor mecânico: vetor acidental constituindo somente uma das modalidades
da transmissão de um agente etiológico. Ex: moscas

Transmissão indireta por veículo inanimado: dá-se por um ser inanimado
transportando um agente etiológico. Ex: água, ar, alimentos, solo, fômites.
Vias de penetração: trajeto do agente ao se introduzir no novo hospedeiro. Oferece
acesso a tecidos onde o agente pode multiplicar-se ou local onde a toxina, por ele produzida,
pode agir. Ex: tratos respiratório, digestivo e urinário, pele, mucosas e secreções.

Fatores do novo hospedeiro suscetível:
•
Suscetibilidade: situação de uma pessoa ou animal sem resistência contra
determinado agente patogênico protegendo-a da enfermidade ao entrar em contato com este
agente.
•
Resistência: conjunto de mecanismos do organismo servindo de defesa
contra a invasão ou multiplicação de agentes infecciosos ou contra os efeitos nocivos de seus
produtos tóxicos. Constituem a imunidade humoral e os inespecíficos abrangem vários
mecanismos: pele, mucosa, ácido gástrico, cílios do trato respiratório, reflexo da tosse,
imunidade celular.
•
Imunidade: resistência associada a anticorpos específicos (imunidade
humoral) capaz de inibir microrganismos específicos ou suas toxinas responsáveis por
doenças infecciosas particulares.
Imunidade ativa: imunidade adquirida pela infecção com ou sem manifestações
clínicas. Ocorre artificialmente pela inoculação de frações ou produtos de agentes infecciosos, do
próprio agente morto modificado ou de forma variante na forma de vacinas.
Imunidade passiva: imunidade natural da mãe ou artificialmente pela
inoculação de anticorpos protetores específicos (soro).

Invasão direta dos tecidos: Ex: amebíase, meningites bacterianas e outros.

Produção de toxina: Ex: difteria, tétano e outros.

Reação alérgica ou imunológica exacerbada: Ex: tuberculose, dengue
hemorrágica e outros.

Infecção latente ou persistente: Ex: infecções bacterianas crônicas ou
persistentes (Hemophillus influenzae, Neisseria meningitidis e outros) ou infecções virais
latentes (herpes I e II, varicela zoster e outros).

Medidas gerais de profilaxia e controle
Isolamento: segregação de caso clínico do convívio social no período de
transmissibilidade podendo ser domiciliar ou hospitalar.
Profilaxia: conjunto de medidas objetivando prevenir ou atenuar as doenças,
suas complicações e conseqüências.
Quarentena: isolamento de pessoas ou animais sadios pelo período máximo
de incubação da doença, contada a partir da data do último contato com caso clínico ou
portador ou da data de abandono deste comunicante sadio do local da fonte de infecção.
Quimioprofilaxia: administração de uma droga, inclusive antibióticos, para
prevenir uma infecção ou a progressão de uma infecção com manifestações da doença.
Tratamento profilático: tratamento de caso clínico ou portador com a
finalidade de reduzir o período de transmissibilidade.
Vigilância sanitária: observação dos comunicantes durante o período
máximo de incubação da doença, a partir da data do último contato com um caso clínico ou
portador quando o comunicante abandonou o local onde se encontra a fonte primária da
infecção.

Controle, eliminação e erradicação de doenças infecciosas:
•
Controle: aplicado para doenças transmissíveis, como a redução da
incidência e/ou prevalência de determinada doença por meio de diferentes tipos de
intervenções em níveis muito baixos, deixando de ser um problema de saúde pública, tipos:
-
controle da doença clínica, das seqüelas e mortalidade a ela associadas;
-
controle da infecção, sintomática ou assintomática; e
-
controle da presença do agente causal no ambiente e na fonte de infecção.

Eliminação: cessação da transmissão de uma doença em extensa área
geográfica, persistindo o risco de sua reintrodução por falha na utilização dos instrumentos de
vigilância ou controle ou modificação do comportamento do agente ou vetor. Ex: poliomielite.

Erradicação: extinção, por métodos artificiais, do agente etiológico de um
agravo ou vetor, tornando impossível sua reintrodução e desnecessária a manutenção de
quaisquer medidas de prevenção.
Ações de controle:

Campanhas: intervenção temporária e localizada.

Programas de saúde: desenvolvimento regular de ações de promoção,
prevenção, controle e recuperação da saúde.
Doenças infecciosas emergentes e reemergentes: recentemente identificadas na
população humana ou se existentes rapidamente aumentaram a incidência e ampliaram a
distribuição geográfica. Ex: AIDS, cólera, dengue, malária, hantavírus, coqueluche, febre
amarela, bactérias resistentes e responsáveis pela mortalidade por infecções hospitalares e
associadas a:
modelos de desenvolvimento econômico determinando alterações ambientais;
migrações e processos de urbanização e outros;
aumento do intercâmbio internacional, assumindo o papel de “vetor cultural”
na disseminação das doenças infecciosas;
-
incorporação de novas tecnologias médicas;
ampliação do consumo de alimentos industrializados, especialmente os de
origem animal;
desestruturação dos serviços de saúde e/ou desatualização das estratégias
de controle de doenças; aprimoramento das técnicas de diagnóstico; e processo de evolução
de microrganismos.
4.
Medida das Doenças
Indicadores: indica um problema, mas não o identifica.

Coeficiente: indicador de risco onde os números do denominador podem
estar no numerador. Ex: mortalidade infantil.

Taxa: relação entre dois eventos pertencentes ou não ao mesmo universo
ou seja, nem todos registrados no denominador podem estar no numerador. Ex: taxa de
mortalidade proporcional (<5anos).
Medidas de morbidade
Mede-se uma doença contando o número de vezes da sua ocorrência, identificando-se,
as características (sexo, idade, raça, profissão, e outros).
Os valores relativos – coeficientes ou taxas e índices ou razões – são as mais usadas
em epidemiologia.
A freqüência das doenças é conhecida por dados de morbidade: número de casos num
período e outra fonte é referente à mortalidade, medindo somente os casos das doenças com
êxito letal.
Medida
Numerador
o
N de casos
novos de uma
Incidência
doença num
intervalo de
tempo.
o
N de casos
novos de doença
Taxa de ataque
notificados numa
epidemia.
o
N de casos
novos de
doença
Taxa de
especificada
ataque secundário
entre contatos
de casos
conhecidos
o
N de casos de
doença
especificada
Prevalência
(novos e
conhecidos)
num período
Denominador
Unidade
de
Exemplo
referência*
o
N de pessoas
sob risco de
desenvolver a
doença no
mesmo período.
o
N de pessoas
sob risco no
início da
epidemia.
n
10
(onde n é
arbitrário)
o
Hanseníase (1996):
300 X 100.000 = 84,6
354.200
Hepatite A (creche):
7 X 100 = 10%
70
N de contatos
conhecidos sob
risco
Hepatite A (família):
5 X 100 = 20%
25
População
n
10
estimada para o
(onde n é
ponto médio do
arbitrário)
período
Hanseníase (1996):
450 X 100.000 = 127
354.250
* Os valores de n mais freqüentemente utilizados são 1.000, 10.000 e 100.000 (os valores
usados devem tomar em consideração o tamanho da população onde estão situados).
Fonte: Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention.
Medidas de gravidade das doenças
Letalidade ou fatalidade: No de óbitos pela doença X 100
No de casos da doença
Ex: raiva: 18 X 100= 100%
18
5.
Fontes de dados de Morbidade e Mortalidade
5.1.
Fontes normais:
notificação: doenças transmissíveis, moléstias profissionais, acidentes de
trabalho e neoplasias malignas.
estatística de doentes hospitalizados ou ambulatoriais (registro de
internações hospitalares): estudos tipo casos-controle.
estatísticas de serviços de assistência médica (registro de atendimento
a doentes): centros de saúde, serviços médicos escolares, médicos de indústrias, de
previdência, e outros.
registros de doenças crônicas: registro de câncer (hospitais; serviços de
anatomia; patologia; e laboratórios clínicos).
registros policiais: mortes violentas (suicídios, acidentes de trânsito,
acidentes de trabalho, homicídios).
5.2. Inquéritos de morbidade: levantamentos com a finalidade de conhecer a freqüência
de doenças na população ou inquéritos sobre afecções específicas. Ex: Inquérito Nacional de
Saúde dos EUA.
5.3.
Medidas de mortalidade
Mortalidade geral:
No de óbitos ocorridos numa área e ano X 1.000
População da área estimada para a metade do ano
Ex: Excesso de mortes em dezembro de 1952 em Londres, devido ao fog e grande
poluição atmosférica.
Mortalidade infantil: doenças infecciosas e desnutrição, além de precária assistência
pré-natal e ao parto.
óbitos de menores de 1 ano, numa área e ano X 1.000
Número de nascidos vivos na área e ano

Mortalidade neonatal: problemas maternos ligados à gestação, parto e
problemas de desenvolvimento fetal
óbitos de menores de 28 dias, numa área e ano X 1.000
Número de nascidos vivos na área e ano

Mortalidade infantil tardia: doença infecciosa e desnutrição
óbitos de crianças de 28 dias a 1 ano, numa área e ano X 1.000
Número de nascidos vivos na área e ano
OBS: A mortalidade infantil será afetada por fatores como sub-registro de nascimento,
de óbitos, declarações erradas da causa de morte e idade da criança, cemitérios clandestinos
e outros.

diabetes).
Mortalidade por uma causa: doenças crônicas (cardiovasculares e
No de óbitos por uma causa determinada, numa área e período X 10.000
População da área no período
Ex: Câncer em 1969:
4.227 = 74,4
5.684.233

Mortalidade proporcional (Índice de Swaroop & Uemura):
o
N de óbitos de pessoas com 50 e mais anos de idade X 100
No de óbitos totais
Ex: 2.280 = 48,8%
46.678
Nível I (RMP maior que 75%): países ou regiões onde 75% ou mais da população
morrem com 50 ou + anos de idade. Ex: Suécia
Nível II (RMP entre 50 - 74): nesta categoria encontram-se vários países não atingindo
tão elevado nível de saúde quanto o do grupo anterior. Ex: Brasil
Nível III (RMP entre 25 - 49): Países em desenvolvimento. Ex: Guatemala
Nível IV (RMP abaixo de 25%): regiões com alto grau de subdesenvolvimento, onde a
maioria das pessoas morre jovem: 75% ou mais dos óbitos em pessoas com menos de 50
anos de idade.
Causas múltiplas de morte
Atestado de óbito:

preenchimento incorreto da causa básica dos atestados de óbitos; causas
contribuintes (sem preenchimento ou preenchimento incorreto); e óbitos de direito (residência)
e de fato (ocorrência).
6.
Epidemiologia Descritiva: Pessoa, Lugar e Tempo
6.1.
Variáveis relacionadas ao tempo
Distribuição cronológica: relação entre uma seqüência de marcos cronológicos
sucessivos e uma variável de freqüência de casos ou de óbitos. Objetivos:
-
registrar a história da doença;
-
mostrar o tipo de variação do processo estudado; e
-
manifestar o caráter endêmico ou epidêmico da doença.

Importância epidemiológica:
-
na avaliação das medidas de controle: Poliomielite x campanhas vacinais;
-
na compreensão de eventos inusitados: Sarcoma de Kaposi x AIDS; e
-
na detecção de epidemias: doença meningocócica em SP.
6.2.
Variação cíclica
Distribuição com variação atípica: não é possível vislumbrar alguma
coerência ou lei geral de variação.
Distribuição com variação cíclica: um padrão de variação é repetido de
intervalo a intervalo. Ex: Sarampo - nos anos interepidêmicos com o nascimento e o acúmulo de
crianças não-imunizadas, atinge-se níveis críticos de suscetíveis, daí o aumento progressivo de
casos.

Variação sazonal: o fenômeno considerado é periódico e se repete na
mesma estação do ano. Ex: doença meningocócica x meses frios do ano (junho-agosto).

Tendência
secular: evento
epidemiológico
sob
observação,
independentemente ser cíclico ou errático, terá como atributo e intrínseco, em relação a variável
tempo, uma tendência a aumento, diminuição ou constância, podendo-se apontar três tendências
atuais:
mudança na estrutura da morbimortalidade nos países subdesenvolvidos,
traduzida por aumento seletivo da proporção das doenças crônico-degenerativas comparada
com a das doenças infecciosas;
diminuição da morbimortalidade por doenças imunopreveníveis: poliomielite,
tétano, difteria, coqueluche e sarampo; e
6.3.
permanência e agravamento dos níveis de pobreza.
Variáveis relacionadas ao espaço

Geopolíticas: diferenças político-culturais; nível de desempenho dos serviços
de estatística de saúde; facilidade de atendimento médico; confusão semântica: nomes iguais
dados a coisas diferentes e diferentes dados ao mesmo evento; e diferentes níveis de certeza
no diagnóstico de doenças: (diagnóstico x modernidade).
Político-administrativas: área delimitada para distinguir os eventos ocorridos: dispõem
de informações censitárias e dados sistemáticos referentes a casos e óbitos registrados na
área.
6.4.
Geográficas: Fatores ambientais
6.4.1. Elementos naturais:
-
localização: latitude (tropicalidade - malária), longitude e altitude;
relevo: Ex: alta incidência de raiva entre animais domésticos, nas regiões
acidentadas (cavernas – morcegos hematófagos);
hidrografia: componentes hidrográficos naturais, artificiais e composição
da água Ex: leptospirose, malária, febre amarela, dengue, cólera, febre tifóide, disenterias
bacterianas e viróticas e infecções parasitárias;
solo: composição do solo de uma região é fator determinante da composição
da água consumida. Ex: iodo x bócio;
clima: temperatura e umidade relativa do ar precipitação pluviométrica,
pressão atmosférica, nebulosidade, evaporação e insolação;
vegetação: espécies venenosas para o ser humano e animais: condições
propícias para o criatório de vetores e manutenção dos reservatórios; e
fauna: espécies interessantes pela
desenvolvimento da doença no organismo atacado.
ação
patológica
ligada
ao
Existe um grande número de espécies como reservatórios, vetores biológicos e
mecânicos e hospedeiros intermediários.
6.4.2. Elementos artificiais:
modificação
exploração agropastoril;
-
ou
destruição
da paisagem natural com o
objetivo
emissão de poluentes ambientais;
manipulação errônea, emprego e uso incorretos de agrotóxicos;
-
contaminação de alimentos;
-
introdução de aditivos;
-
restrição na quantidade e na diversificação dos alimentos;
-
tipo de habitação: Ex: doença de Chagas;
-
organização do espaço urbano (esquistossomose);
-
condições adversas nos locais de trabalho; e
de
contribuições de fatores psicossociais perturbadores da sanidade mental
(miséria e imigração com inadaptação).
6.5.
Fatores populacionais
6.5.1. Influência de fatores demográficos: local de moradia (urbano ou rural), estado
civil, profissão, etnia, nível econômico, idade, sexo, e outros.
6.5.2. Influência dos fatores sociais:
cultura: usos, costumes, crenças, opiniões, valorações e atitudes. Ex:
canibalismo x Kuru; secagem do umbigo com estrume seco x mortalidade infantil; defecar no
solo próximo aos rios;
-
religião: câncer de pulmão x seita mórmon; e
-
organização social e condições socioeconômicas.
6.6. Variação
comparados:
urbano-rural: os
coeficientes
de
mortalidade
não
podem
ser
rural: sub-notificações na área rural, acidentes ofídicos, envenenamentos por
pesticidas, doenças transmissíveis; e urbana: estresses, poluição, acidentes, suicídio,
homicídio, abuso de drogas lícitas e ilícitas, DST´s e endemias rurais.
6.7. Variação local: ambientes coletivos (escolas, asilos, hospitais, quartéis, prédios
de apartamentos e favelas). Na investigação associar a técnica de mapeamento aos
elementos ambientais.
6.8. Mobilidade espacial: movimento de pessoas ou de populações de uma área
geográfica para outra, denomina-se:
circulação: movimento de grupos ou pessoas, cíclico ou eventual com
estágios temporários em locais escolhidos ou não; e
migração: mobilidade espacial caracterizada pela mudança de residência com a
intenção de ser permanente ou razoavelmente durável.

forçada: migração independente da própria decisão. Ex: deportação, guerras,
hecatombes naturais, escravização e outros.

voluntária: motivações ou compulsões sociais dependem de decisão pessoal
ou grupal. Ex: Migrações internas (rural – urbana).
6.9.
Variáveis relacionadas à pessoa:
Características:
1.
-
Gerais:
idade; e
sexo: mulheres (infecções renais e as doenças do sistema osteomuscular e
tecido conjuntivo), homens - maior nascimento de homens: 5-6% (diabetes mellitus, doença
hipertensiva).
2.
Familiares: estado civil (maior mortalidade por suicídio para os não-casados),
idade dos pais, dimensão da família, posição na ordem de nascimento, privação de pais (um
ou ambos), morbidade familiar por causas específicas;
3.
Étnicas: raça, cultura, religião, lugar de nascimento;
4.
Hereditárias: Ex: hemofilia;
5.
Nível socioeconômico: ocupação, renda pessoal, familiar ou familiar per
capita, nível de instrução, tipo e zona de residência e outros sinais de riqueza;
6.
Ocorrências na vida intra-uterina e ao nascer: idade materna ao nascer,
número de fetos gestados (único ou gêmeos), ocorrências durante o parto, condições físicas
da mãe e vividas na gestação, características endógenas da mãe, ocorrências acidentais,
hábitos e atividades da mãe;
7.
Endógenas: constituição física, resistência individual, estado fisiológico, de
nutrição, doenças intercorrentes, tipo de comportamento;
8.
Ocorrências acidentais: ocorrências
(medicamentos consumidos), acidentes sofridos;
estressantes,
doenças
sofridas
9.
Hábitos e atividades: atividades ocupacionais, medicamentos utilizados com
constância, uso/abuso de inseticidas domésticos e agrícolas, abuso de drogas lícitas (fumo,
álcool, medicamentos) e ilícitas, comportamento alimentar, atividade física, repouso.
7.
Conglomerados, Endemias e Epidemias
7.1. Conglomerado espacial de casos (cluster ou clustering): são os casos de doença
de etiologia conhecida ou desconhecida, com doentes exibindo sintomas e sinais iguais, para os
quais pode ser suspeitada ou evidenciada uma origem idêntica, ou mesmo comum, associada, a
algum fator, ou fatores, surgidos em um território circunscrito cujos limites possam ser
perfeitamente definidos. Reciprocamente, a ocorrência de uma aglomeração de casos autóctones
num espaço delimitado pode indicar introdução de agente infeccioso, químico ou toxina, ou as
condições novas ativando um fator preexistente.
Casos autóctones: doença com origem nos limites do lugar em referência
ou sob investigação.
Casos alóctones: importados; o doente presente na área sob consideração,
adquiriu o seu mal em outra região, de onde emigrou.
Fatores inerentes ao lugar: agentes etiológicos e as condições
propiciatórias, contribuintes na geração da doença, existentes nos limites da área em estudo.
Fatores agregados: fatores inexistentes na área e trazidos de outros lugares
ou gerados na própria área, por modificação da estrutura epidemiológica.
7.2. Endemia: ocorrência coletiva de doença específica, no decorrer de longo período,
acometendo grupos humanos distribuídos em espaços delimitados e caracterizados. Mantém
incidência constante, permitidas as flutuações de valores como as variações sazonais.
7.3. Epidemia: alteração espacial e cronologicamente delimitada do estado de saúdedoença de uma população. Caracterizada por uma elevação crescente, inesperada e
descontrolada dos coeficientes de incidência de determinada doença, ultrapassando valores
acima do limiar epidêmico preestabelecido.
Surto epidêmico: ocorrência epidêmica restrita a um espaço extremamente
delimitado (colégio, quartel, e outros).
Ex: Maria Tifosa.
Pandemia: ocorrência
espacial, atingindo várias nações.
epidêmica
caracterizada
por
larga
distribuição
Ex: cólera.
Epidemia explosiva (ou maciça): rápida progressão até atingir a incidência
máxima num curto espaço de tempo.
Ex: intoxicações decorrentes da ingestão de água ou alimentos contaminados.
Epidemia lenta: a velocidade é lenta, a ocorrência é gradualizada e progride
durante um longo tempo. Ex: AIDS
Epidemia progressiva (ou propagada ou de contato ou de contágio): a
doença é difundida de pessoa a pessoa por via respiratória, anal, oral, genital, ou outra, ou
por vetores. Ex: meningite.
Epidemia por fonte comum: a epidemia é difundida a partir de uma fonte
comum, onde o fator extrínseco é veiculado pela água, alimento, ar ou introduzido por
inoculação.

Epidemia por fonte pontual: a exposição durante curto intervalo de tempo
e cessa, não repetindo. Ex: gases tóxicos.

Epidemia por fonte persistente: a exposição da população prolonga-se por
uma largo lapso de tempo. Ex: febre tifóide.
8.
Transição Demográfica e Epidemiológica
8.1.
Transição Demográfica – Crescimento desordenado das cidades:

desenvolvimento econômico: mecanização do processo de cultivo, êxodo
rural, implantação do parque industrial, explosão demográfica, predomínio da população
urbana (80%);

infra-estrutura: abastecimento de água e esgoto, coleta de lixo, energia
elétrica, telefonia, pavimentação de vias, transporte coletivo;

carência de serviços: sociais, saúde pública, educação, cultura, assistência
social, creches e recreação;

déficit habitacional;

ocupação irregular do solo: comprometimento dos ecossistemas, favelas,
ocupação de encostas e mananciais, invasão de áreas privadas e públicas; e

desemprego: aumento da criminalidade, violência, insegurança, roubos e
furtos, prostituição, consumo de drogas, homicídios, população marginal, número
de crianças abandonadas e pessoas carentes, mendigos e da subnutrição.
8.2.
Transição Epidemiológica
-
modelo clássico ou ocidental: Países europeus;
-
modelo de transição acelerada ou rápida: Japão; e
modelo
americanos e asiáticos.
de
transição
contemporânea ou retardada: Países
latino-

Morbidade e mortalidade:  períodos de: pestilências e da fome;
desaparecimento das pandemias; e doenças degenerativas e doenças provocadas pelo ser
humano.
9.
Testando Hipóteses
9.1. Unicausal: a cada doença infecciosa deveria corresponder um agente etiológico
específico (Postulados de Koch).
9.2. Multicausal: vários fatores estavam relacionados com a ocorrência das doenças
(Postulados de Henle-Koch-Evans, 1984):
a prevalência da doença deve ser mais alta entre os expostos à causa sob
suspeita com relação não expostos;
exposição à causa sob suspeita deve ser mais freqüente entre os atingidos
pela doença com relação ao grupo controle sem apresentá-la, mantendo constante os demais
fatores de risco;
incidência da doença deve ser significativamente mais elevada entre
expostos à causa sob suspeita com relação aos não expostos devendo ser demonstrado em
estudos prospectivos;
doença deve ocorrer num momento posterior à exposição ao hipotético
agente causal, enquanto a distribuição dos períodos de incubação deve apresentar-se na
forma de uma curva normal;
espectro da resposta do hospedeiro em um momento posterior à exposição
ao hipotético agente causal deve apresentar-se num gradiente biológico indo do benigno ao
grave;
-
resposta mensurável do hospedeiro tem alta probabilidade de se manifestar
após a exposição ao hipotético agente causal ou aumentar em magnitude, se presente
anteriormente (ex: anticorpos, células cancerosas e outros) de rara ocorrência em pessoas pouco
expostas;
reprodução experimental da doença mais freqüentemente em animais ou no
ser humano exposto à causa hipotética com relação aos não expostos; pode ser em
voluntários, experimentalmente em laboratório ou num estudo controlado de exposição
natural;
eliminação ou modificação da causa hipotética deve diminuir a incidência da
doença (ex: controle da água, remoção do hábito do tabagismo, modificações de hábitos
alimentares e outros);
prevenção ou modificação da resposta do hospedeiro à exposição à causa
hipotética eliminará a doença (ex: imunização, administração de drogas para a redução do
colesterol e outros); e
associações ou achados devem apresentar
conhecimentos no campo da biologia e da epidemiologia.
10.
Risco
consistência
com
os
Probabilidade de ocorrência de uma doença ou evento adverso à saúde. Limitações de
risco:


de tempo;
dependem do tempo, limitando comparações;
pressupõem serem todas as pessoas acompanhados pelo mesmo período

não consideram quando a pessoa desenvolve a doença;

não são adequados para exposições temporais; e

para intervalos de tempo curtos: Risco = taxa x tempo

Fator de risco: elemento ou característica positivamente associada ao risco
(ou probabilidade) de desenvolver uma doença.

Causalidade: multiplicidade de condições propícias quando reunidas em
configurações adequadas, aumentam a probabilidade (ou risco) de ocorrência de
determinada doença ou evento adverso à saúde:
Causa necessária: variável (patógeno ou evento) presente e preceder a
doença, produzindo uma associação causa-efeito;
Causa suficiente: certa variável ou um conjunto de variáveis cuja presença
inevitavelmente produz ou inicia a doença;
-
Fatores predisponentes: idade, sexo e outros;
Fatores facilitadores: alimentação inadequada, condições habitacionais
precárias, e outros;
Fatores desencadeantes: como a exposição a agentes específicos,
patogênicos ao ser humano; e
Fatores potencializadores: como a exposição repetida ou por tempo
prolongado a condições adversas de trabalho.
11.
Medidas de Associação
Mensuração da diferença do risco entre expostos e não-expostos a determinado fator,
sendo possível medir a associação entre a exposição a este fator e um determinado efeito.
Com esta finalidade, utilizamos como instrumentos de medidas de associação, o Risco
Relativo (RR) e o Odds Ratio (OR), indicadores medindo a força ou magnitude de uma
associação. O RR ou razão de incidências expressa uma comparação matemática do risco de
adoecer entre grupos de expostos e não-expostos a um determinado fator em estudo. RR =
(Inc. expostos) / (Inc. não-expostos). A interpretação dos valores no cálculo do RR é feita
quando:  o RR com valor igual a 1, há a ausência de associação;  o RR é inferior a 1, a
associação sugere ter o fator estudado uma ação protetora; e  o RR é superior a 1, a
associação sugere ter o fator estudado um fator de risco. O OR calcula indiretamente uma
estimativa do risco relativo utilizado em estudos tipo caso-controle e para doenças raras. OR
= (casos expostos x controles não-expostos) / (controles expostos x casos não-expostos).
Para doenças raras, OR são próximos do RR. Quanto mais freqüente a doença, mais
extremos os valores do OR (mais distantes da unidade) e mais utilizados como estimativa de
associação entre exposição e doença:  em estudos caso-controle não é possível estimar o
RR, mas é possível estimar o OR; e  métodos baseados em OR têm propriedades
matemáticas mais satisfatórias quando comparados aos de riscos.
12.
Validade Interna
12.1. Acaso: decorre de variações aleatórias podendo ser avaliado por testes
estatísticos.
12.2. Vício
ou
Viés
(bias): constituem
erros
sistemáticos:  Vícios
de
seleção: distorcem os resultados pelo modo dos participantes serem recrutados ou perdidos
no estudo. Ex: uso de reserpina x CA mama. Casos e controles hospitalizados. Excluídos os
controles com doenças cardiovasculares;  Vícios de aferição: quando as variáveis do
estudo são medidas erroneamente. Ex: Troca de equipamento na pesagem; e  Vícios de
confusão: quando não há comparabilidade dos grupos estudados na análise de uma
associação. Ex: baixo peso x mortalidade (esqueceu de controlar a variável fumo).
12.3. Verdade: quando a associação causa-efeito está correta.
Critérios de validação causal:
força da associação: maior a associação entre determinado fator e um
efeito, verificada por meio do cálculo do RR ou OR maior a probabilidade desta associação
ser de causa e efeito;
seqüência cronológica: a exposição ao provável fator de risco deve
anteceder o aparecimento da doença;
efeito dose-resposta: quanto maior a intensidade ou freqüência de
exposição ao provável fator de risco, haverá uma variação concomitante na ocorrência da
doença;
significância estatística: a associação deve ser significativa e é necessário
um elevado grau de certeza desta associação não sendo devido ao acaso;
consistência da associação: a demonstração da associação deverá repetirse em diferentes estudos efetuados em distintas populações e momentos, com o emprego
dos mais diferentes métodos;
especificidade da associação: quanto mais específica for a relação de um
fator com uma determinada doença, mais provável será tratar-se de uma associação causal;
coerência científica: os novos conhecimentos são coerentes com
paradigmas científicos validados por pesquisas anteriores e qualquer incongruência indica a
incorreção de um deles; e
reversão da intensidade da associação: quando a associação entre o efeito
e a exposição ao provável fator de risco perde sua força na medida da elevação do período de
interrupção da exposição.
13.
Associações e Causalidade em Epidemiologia

Associação causal: conhecimento da relação, tornam-se possíveis medidas
de prevenção de uma das condições associadas, mediante atuação sobre a outra, sem se
pretender afirmar ser uma causa e a outra efeito. Ex: diarréia x água não clorada.
Associação secundária ou coincidente: conhecimento da relação, as mudanças em uma
das condições nem sempre seguidas por mudanças na outra. Ex: crianças descalças x carência
protéica x salário
Arquitetura da Investigação em Epidemiologia
Tipo de estudo
Nome
alternativo
Retrospectivo
Prospectivo
Tipo caso controle
Coortes
Estudo no tempo
anterior; investiga
fator suspeito;
utilizados.
Estudo no tempo
posterior e a partida
é a exposição ao
fator.
Vantagens
Simples;
relativamente
fáceis; mais barato;
geram novas
hipóteses de
trabalho; e
freqüentemente
usado.
Incidência para
calcular o risco
relativo; pessoas
com diagnósticos
uniformes; para
calcular o risco
atribuível; conhecese com precisão as
populações expostas
e não-expostas; evita
vieses; e descobrir
outras associações.
Desvantagens
A determinação do
risco relativo é só
aproximada; e não
se pode determinar
a incidência,
calcular risco
atribuível; pouco
úteis quando a
freqüência de
exposição ao agente
causal estudado é
muito baixa ou este é
pouco identificável; a
representação é
relativa, limitando a
inferência dos
resultados;
dificuldade para
identificar os
grupos controles;
risco de viesses ou
distorções por parte
do investigador ao
questionar (erro);
baseiam-se na
memória do caso e
do controle, (erro de
recordações).
Resultado em longo
prazo;
desenvolvimento
complexo; alto
custo; só servem
para enfermidades
relativamente
freqüentes, não
servem para
investigar doenças
de baixa freqüência;
risco de viés ou
distorção
premeditada do
observador;
eventuais
mudanças na
equipe de
investigação; perda
ou deserção dos
membros das
coortes.
Não quantificam
o risco de
desenvolver a
doença; a
seqüência
temporal do
fenômeno não
aparece;
limitados ao não
poder
estabelecer
associações
causa-efeito;
podem induzir a
associações ou
interpretações
falsas ou
fortuitas.
Exemplo
Epidemia de febre
hemorrágica
Surto de
gastroenterite por
toxinfecção
alimentar
Estudos de caso
Características
Transversal
Estudos de
prevalência
Situação de
exposição e
efeito de
população num
momento.
Simples;
rápidos;
econômicos;
permitem
conhecer a prévalência
associada aos
agentes
suspeitos;
permitem a
descrição da
população.
baixo. A significação causal de uma associação é questão de julgamento ultrapassando qualquer
nível de probabilidade estatística. Para julgá-la ou avaliar fumar cigarros e CA de pulmão utilizase vários critérios:
intensidade: a medida mais direta da intensidade da associação entre fumo
e CA de pulmão é a razão entre os coeficientes de CA pulmonar em fumantes e não
fumantes, ajustados os dois coeficientes para as características de idade de cada grupo;
especificidade (valor preditivo, sensibilidade, rastreamento): à precisão
de um componente de um par associado poder ser utilizado para predizer a ocorrência do
outro, ou seja, a freqüência da presença de uma variável prediz, no mesmo indivíduo, a
presença de outra. Ex: padrão-ouro;
acurácia (consistência, validade ou reprodutibilidade): grau de valor de
uma mensuração representa o verdadeiro valor da variável em medição. Implica nos
diferentes métodos de abordagem do problema, no estudo de uma associação, fornecendo
conclusões semelhantes;
relacionamento temporal: em doenças crônicas, o início insidioso e a
ignorância de períodos precisos de indução suscitam o problema de saber qual vem primeiro,
geralmente de resposta difícil, o suspeito ou a doença; e
da doença.
14.
coerência: é a associação coerente com fatos conhecidos na história natural
Doenças não Transmissíveis
14.1. Modelo epidemiológico
14.1.1. Conceito do campo de saúde: compõe-se de 4 elementos:
biologia humana: processo natural do envelhecimento, herança genética e os
complexos sistemas internos;
estilo de vida: compreende hábitos nocivos à saúde, adotados pela
população como hábitos de consumo, tabagismo, alcoolismo, ingestão excessiva ou
preferências dietéticas por alimentos ricos em carboidratos ou gorduras animais, levam à
obesidade e a hipercolesterolemia e inclui ainda no estilo de vida o sedentarismo, determinado
por trabalho ou opções de lazer não envolvendo atividade física;
ambiente: eventos externos onde o indivíduo tem pouco ou nenhum
controle. O ambiente físico é representado pelo geofísico (poluição). Os ambientes social e
psicológico são determinados por interações sociais complexas com elementos modificadores
do comportamento (educação e o tipo de inserção nos setores de produção são causadores
de ansiedade/estresse); e
organização do sistema de atenção à saúde: disponibilidade quantitativa,
qualitativa e na abrangência da medicina preventiva curativa e de reabilitação para a
população (promoção da saúde).
14.1.2. Fatores de risco para as doenças não-transmissíveis (DNT)
Doenças cardiovasculares e Diabetes Mellitus: estilo de vida e biologia humana. Ex:
hipertensão arterial x doenças isquêmicas do coração e doenças cérebro-vasculares; diabetes
x hipertensão arterial, doenças isquêmicas do coração e doenças cérebro-vasculares.
Neoplasias malignas: ambiente, estilo de vida (tabagismo x álcool  CA esôfago; dieta
rica em gordura, pobre em fibras e em vitamina A), herança genética e associação com vírus
(hepatite B x carcinoma primário do fígado).
14.1.3. Problema social das DNT
A precariedade de procedimentos como medida da pressão arterial na prática médica ou
não-questionamento sobre fatores de risco para o diabetes resulta em diagnósticos tardios e
implica em gastos desnecessários com: hospitalizações; licenças médicas prolongadas;
subseqüentes
(hemodiálise
e
reabilitação);
aposentadorias
precoces
por
incapacidade/invalidez; prejuízo da qualidade de vida; mortes prematuras prejudicando a
força de trabalho e com pensões.
15.
Saúde Materno-Infantil
15.1. Período perinatal e neonatal
Anoxia neonatal: A criança pode nascer asfixiada, condição capaz de responder a
medidas imediatas de ressuscitação e se não for corrigida ocorrerão danos cerebrais
resultando em paralisia cerebral ou complicações neurológicas. Para registrar a sua condição
ao nascer, a criança deve ser avaliada ao 1o e ao 5o minuto pelos cinco critérios da escala de
Apgar. A prevenção depende de um monitoramento do feto no trabalho de parto, da
capacidade de intervir cirurgicamente para retirá-lo e ressuscitar o recém-nascido por ocasião
do parto. Em nível coletivo, recursos humanos capacitados e um sistema organizado de
atendimento e referência obstétrica para limitar a morbimortalidade associada com a asfixia
neonatal.
Baixo peso ao nascer: recém-nascido com menos de 2500g, estão associados ao
baixo peso, variações regionais, nível de renda e educação materna. O baixo peso ao nascer
é fator de risco para a mortalidade neonatal e infantil e a desnutrição infantil. Quando o peso e
o comprimento do recém-nascido são deficientes em relação à idade gestacional onde o feto
sofreu uma desnutrição fetal crônica, haverá limitada recuperação. Se o peso for deficiente
para a idade gestacional e o comprimento normal é diagnosticada uma desnutrição fetal
aguda, ocorrida no final da gestação, com maiores possibilidades de recuperação nutricional.
O meio mais eficaz para reduzir o número de casos é a atenção pré-natal. Neste
acompanhamento fatores específicos de risco na gestante podem ser identificados (anemia,
desnutrição materna, tabagismo) e tratamentos profiláticos oferecidos (sulfato ferroso,
suplementação alimentar).
Tétano neonatal: quando o recém-nascido é exposto à bactéria anaeróbica Clostridium
tetani, principalmente no manuseio do cordão umbilical, o controle do tétano neonatal é feito
por duas estratégias: assegurando o emprego de práticas de higiene durante e após o parto
(treinamento) a imunização de mulheres com o toxóide tetânico (anticorpos passam para o
feto).
Infecções congênitas: o feto pode adquiri-las da mãe por transmissão de
microrganismos através da placenta como sífilis, rubéola, toxoplasmose e o citomegalovírus e
podem ocorrer a hepatite B, AIDS e conjuntivites.
Estas infecções no recém-nascido podem apresentar quadros de deficiência mental,
surdez, catarata e levar à morte perinatal. A prevenção se baseia em: como imunização da
gestante antes da gravidez (rubéola), orientação no pré-natal para a prevenção da infecção
(toxoplasmose) e diagnóstico e tratamento da infecção durante o pré-natal (sífilis).
15.2. Período pós-neonatal e pré-escolar
Diarréia infantil: a diarréia aguda na criança é causada por múltiplos patógenos
incluindo bactérias (Salmonella), vírus (rotavírus) e protozoários (giárdia). Embora doença
autolimitada, pequena percentagem de casos continua além de 14 dias, tornando-se diarréia
prolongada necessitando de cuidado específico devido ao alto risco para a desnutrição grave e
mortalidade. A desidratação é a complicação principal da diarréia, outra é seu impacto
negativo no estado nutricional da criança por vários mecanismos e também a falta de ingestão
de alimentos, ocorrendo pela anorexia podendo acompanhar a doença, mas pela prática
comum, limitar ou suspender a alimentação durante a diarréia. A curta duração do aleitamento
materno de forma exclusiva e a falta de condições higiênicas pelas famílias carentes resultam
nas altas taxas de diarréia. O combate à diarréia infantil se baseia no tratamento dos casos e
na promoção de ações de prevenção primária. No tratamento dos casos, utiliza-se a terapia de
reidratação oral na prevenção e tratamento da desidratação além de dieta apropriada.
Infecções respiratórias agudas: infecções do trato respiratório superior (faringite,
amigdalite, sinusite, otite) e inferior (pneumonia, bronquite) cujos fatores de risco incluem a
poluição do ar doméstico (pais fumantes, preparação de alimentos) e do ar ambiental, baixo
peso ao nascer, baixo nível socioeconômico e desnutrição. O controle das infecções
respiratórias engloba a identificação precoce e tratamento eficaz dos casos de pneumonia e
sua prevenção primária. Para o diagnóstico, classifica-se criança com infecções respiratórias
agudas baseando-se em sinais clínicos. Para a prevenção primária, promove-se a
amamentação exclusiva, a vacinação anti-sarampo prevenindo a pneumonia pós-sarampo, e
a diminuição da poluição.
Desnutrição infantil: a desnutrição energético-protêica ocorre em sua forma primária,
por falta absoluta de alimentação, e secundária, por outros fatores externos, como práticas
inadequadas de alimentação e doenças infecciosas.
O aleitamento materno oferece o alimento mais adequado para o lactente, e traz
também uma proteção importante contra desnutrição, diarréia, infecções respiratórias agudas,
meningite e mortalidade infantil. As formas de combate à desnutrição energético-protêica
incluem promoção de alimentação adequada, prevenção e tratamento eficaz das doenças e a
monitorização do crescimento e deficiência dos micronutrientes (vitamina A e ferro são
importantes para a população infantil).
Parasitoses intestinais: elevada proporção das crianças na faixa pré-escolar tem
parasitoses intestinais. O tratamento clínico de casos de parasitoses intestinal é insuficiente
para o controle, devido à alta taxa de reinfecção ocorrendo quando a criança permanece no
mesmo meio ambiente.
O seu controle necessitará da implantação de saneamento, fornecimento de água
potável e implementação de medidas de higiene em nível domiciliar para reduzir a exposição
da criança aos parasitos.
15.3. Período escolar
Febre reumática: a cardiopatia resulta da febre reumática e constitui uma das doenças
cardiovasculares mais importantes. A febre reumática é uma complicação da amigdalite e as
válvulas mitral e aórtica são atingidas. A prevenção ocorre pelo tratamento de amigdalites.
Déficits visual e auditivo: déficits não diagnosticados podem se tornar evidentes na sala
de aula. Uma investigação do desempenho deficiente de um aluno pode revelar um problema
desta natureza. Muitas escolas fazem avaliações rotineiras da visão dos alunos por pessoal da
escola; usando o cartaz de Snelling ou “E” e a audição deve ser testada rotineiramente, por
audiômetro.
Cárie dentária: o controle depende da prevenção devido ao alto custo da recuperação
de dentes cariados e as estratégias principais de prevenção incluem higiene oral, uso de flúor
e promoção de dieta não cariogênica. A escovação dos dentes após as refeições diminui a
acumulação de placa e interfere com a aderência das bactérias aos dentes e o uso de flúor
torna o esmalte mais resistente à ação das bactérias. O flúor oral provém de água fluoretada,
sal de cozinha enriquecido ou soluções específicas e aplicações por bochechos com solução
de flúor, aplicação de flúor-gel diretamente nos dentes dentrifícios fluoretados.
Meninos de rua: dois grupos: os mantenedores de laços familiares e estão na rua para
contribuir no orçamento familiar (“menino na rua”) os moradores de rua, separados da família
(“menino de rua”) e predominando o sexo masculino iniciando atividades na rua entre os 7-12
anos de idade, permanecendo até os 15-16 anos e se envolvem com outras alternativas de
vida, no trabalho ou na delinqüência.
15.4. Período da adolescência
Violência: para as crianças e adolescentes, as formas importantes incluem maus tratos,
violência sexual, acidentes, homicídios e suicídios, a violência sexual é mais comum em
menores, freqüentemente cometida por pessoas conhecidas da vítima. As causas externas de
morte podem ser divididas em acidentes e violências não-acidentais (homicídios, suicídios e
outras), acidentes de trânsito e afogamentos são as causas mais importantes nas duas faixas
etárias e entre não-acidentais, o homicídio é a causa principal na faixa de 15-19 anos.
Uso de drogas: o álcool é a substância mais barata e mais acessível e a aceitação
social do abuso de álcool interfere com a percepção do consumo em excesso como algo
errado.
Além dos problemas do alcoolismo, o consumo é associado a problemas como
acidentes de trânsito e violência, outras substâncias usadas entre estudantes são solventes
(lança-perfume, esmalte, acetona, cola), ansiolíticos, anfetaminas, maconha e barbitúricos.
Doenças sexualmente transmissíveis DST´s: a vida sexual se inicia de 14-16 anos
para os homens e 15-18 anos para as mulheres colocando o adolescente em risco de contrair
doenças sexualmente transmissíveis: sífilis, gonorréia, clamídia, herpes e AIDS.
Enquanto infecções sintomáticas por sífilis, gonorréia e clamídia levam a pessoa a
receber atenção médica, uma proporção destas infecções não é percebida, resultando em
complicações silenciosas mais importantes, como a esterilidade na mulher. Os casos
assintomáticos perpetuam a transmissão das infecções para outros (herpes e HIV). Entre os
fatores de risco para as DST´s destacam-se as relações sexuais com múltiplos parceiros e o
melhor meio de prevenir as DST´s é praticar o “sexo seguro”, evitando parceiros de alto risco,
limitando o número de parceiros sexuais e utilizando a camisinha. Quando um caso de DST é
diagnosticado, necessita-se de uma investigação epidemiológica para identificar os contatos,
tratando-os.
Gravidez na adolescência: um número crescente de gestações ocorre em
adolescentes e os problemas associados com a gravidez concentram-se na adolescentemulher.
A gravidez não desejada leva a adolescente à tentativa de aborto e devido à ilegalidade,
será forçada a utilizar meios clandestinos com risco de complicação associada aumentando
na medida da demora na realização do aborto, uma situação comum entre adolescentes
inexperientes.
Para a adolescente com crescimento incompleto, a necessidade de satisfazer as
demandas nutricionais do feto podem prejudicar o estado nutricional e se o corpo da
adolescente for pequeno, pode haver dificuldade na passagem do feto durante o parto.
16.
Saúde da mulher
16.1. Regulação inadequada da fecundidade
16.2. Complicações do ciclo gravídico-puerperal

Óbitos obstétricos diretos: complicações obstétricas na gravidez, parto,
puerpério, intervenções, omissões, tratamento incorreto ou eventos relacionados.

Óbitos obstétricos indiretos: enfermidades prevalecentes durante a gravidez,
agravadas por efeitos fisiológicos.
16.3. Elevada morbidade relacionada à sexualidade e a condição feminina

Infecções ginecológicas: o aumento da incidência e prevalência das DST´s
decorre das transformações do perfil epidemiológico das DST´s em termos quantitativos e
qualitativos, acrescidas aos tradicionais grupos de risco, proporções importantes de outros
grupos, formados por adolescentes e mulheres em geral. As DST´s são adversas para o
grupo materno-infantil resultando em complicações e seqüelas imediatas e tardias, incluindo
alterações de gestação normal para a mãe e o feto, infecções nos períodos neonatal e pósneonatal, infertilidade, gravidez ectópica, estreitamento uretral e CA genital, mais
especificamente o carcinoma do colo uterino.

Gonorréia: a prática da automedicação comumente adotada nestes casos
seria um dos principais responsáveis pelo acentuado sub-registro. Um outro fato seria na
mulher a infecção pelo gonococo geralmente apresenta manifestações menos acentuadas
quando comparada ao homem e esta dificuldade pode ser resultante de associação com
outras infecções genitais como a candidíase, a tricomoníase e outras produzindo corrimentos
e mascarando a infecção gonocócica. A instalação mais freqüente dos gonococos em
mulheres se dá na uretra atingindo o colo uterino e se estender aos órgãos genitais internos,
incluindo as trompas de Falópio gerando infertilidade.

Sífilis: a mulher grávida pode transmitir a sífilis congênita ao feto, a partir do
segundo trimestre de gravidez, abortamento e natimortalidade podem ocorrer nestes casos.

Condiloma acuminado: causador – papilomavírus humano.

Câncer ginecológico: CA mama e do colo uterino. Os fatores de risco
importantes para o CA cervicouterino incluem os relacionados ao inadequado nível
educacional e ao comportamento sexual do ser humano. A etiologia do câncer do colo uterino
tem sido associada ainda a agentes virais como os do herpes simples e do papiloma. Há
medidas preventivas para deter o aparecimento do câncer de mama, mas seu diagnóstico
precoce em estágio pré-invasor (longa duração), pode significar para a paciente uma
relativamente alta probabilidade de cura ou sobrevida mais longa e a detecção desta
neoplasia em estágio inicial exige auto-exame das mamas após as menstruações.
A presença de fatores de risco de natureza orgânica, reprodutiva e ambiental (história
familiar de CA mama, primeira gestação tardia, nuliparidade, menarca precoce, menopausa
tardia, displasias mamárias, exposição a radiações) pode enquadrar a mulher em grupos de
risco requerendo uma vigilância redobrada.
17.
Vigilância Epidemiológica
17.1. Vigilância em saúde pública
contínua da distribuição e tendências da
consolidação e avaliação de informes de
relevantes e a regular disseminação destas
vigilância é composta por dois subsistemas:
(Langmuir, 1963): Vigilância é a observação
incidência de doenças por coleta sistemática,
morbidade e mortalidade e de outros dados
informações aos necessitados de conhecê-la. A
1.
Subsistema de informações para a agilização das ações de controle: situa-se
nos sistemas locais de saúde e tem por objetivo agilizar o processo de identificação e controle
de eventos adversos à saúde. A equipe deve estar perfeitamente articulada com a de
planejamento e avaliação dos programas e responsável pela elaboração das normas
utilizadas no nível local dos serviços de saúde; e
2.
Subsistema de inteligência epidemiológica: elaborar as bases técnicas dos
programas de controle de eventos adversos à saúde; identificar lacunas no conhecimento
científico e tecnológico; incorporar aos serviços de saúde o novo conhecimento produzido pela
pesquisa, aprimorando as medidas de controle pela introdução deste conhecimento nas bases
técnicas encaminhadas aos serviços de saúde na forma de recomendações em boletins
epidemiológicos. As bases técnicas guiarão os serviços de saúde na elaboração e
implementação dos programas de saúde com a preocupação de uma contínua atualização e
aprimoramento e constitui a ponte entre o subsistema de serviços de saúde e o de pesquisa do
Sistema Nacional de Saúde.
17.2. Objetivos dos sistemas de vigilância:
-
identificar novos problemas de saúde pública;
-
detectar epidemias;
-
documentar a disseminação de doenças;
agravos;
-
estimar a magnitude da morbidade e mortalidade causadas por determinados
identificar fatores de risco para a ocorrência de doenças;
recomendar, com bases objetivas e científicas, as medidas necessárias para
prevenir ou controlar a ocorrência de específicos agravos à saúde;
avaliar o impacto de medidas de intervenção por coleta e análise sistemática
de informações relativas ao específico agravo;
avaliar a adequação de táticas e estratégias de medidas de intervenção, com
base não só em dados epidemiológicos, mas também nos referentes à sua operacionalização;
e
revisar práticas de sistemas de vigilância para discutir prioridades em saúde
pública e propor instrumentos metodológicos.
17.3. Características gerais dos sistemas de vigilância
1.
Os sistemas de vigilância devem ser simples e contínuos e com três
componentes: coleta de dados; análise; ampla distribuição das informações analisadas a
todas as geradoras para conhecimento.
2.
A vigilância deve ser entendida como pré-requisito para elaboração de programas
de saúde, avaliação do seu impacto e identificação dos fatores de risco e das populações
vulneráveis à exposição ao risco, de forma a tornar mais efetivas as medidas de controle.
3.
Submetem-se a avaliações freqüentes para adequá-los às características dos
sistemas nacionais de saúde, em cada momento.
4.
Cada sistema de vigilância será responsável pelo acompanhamento contínuo de
eventos adversos à saúde específicos com o objetivo de estabelecer bases técnicas e normas
para a elaboração e implementação dos programas de controle e de acordo com seus
objetivos e peculiaridades apresentará características específicas.
5.
Os sistemas de vigilância de específicos eventos adversos à saúde são prérequisitos para a elaboração e instrumento para avaliação e reformulação periódica de
programas de controle de agravos à saúde. Incluem o acompanhamento dos programas de
controle com o objetivo de avaliar o seu impacto.
6.
Os sistemas de vigilância devem ser adequados, periodicamente, às condições da
estrutura e grau de desenvolvimento e complexidade tecnológica do Sistema Nacional de
Saúde e constituem a ligação entre o subsistema de serviços de saúde e o de pesquisa.
Abrangerão os eventos adversos à saúde, desenvolvidos nas formas ativa ou passiva e
utilizarão as fontes de informações necessárias e disponíveis. Podem ser entendidos como a
inteligência do Sistema Nacional de Saúde voltada ao estabelecimento das bases técnicas
para as ações de controle de eventos adversos à saúde.
7.
O Sistema Nacional de Saúde deverá desenvolver tantos sistemas de vigilância
para específicos eventos adversos à saúde quantos sejam os problemas prioritários de saúde
onde haja possibilidade de desenvolver programas nacionais, estaduais, regionais ou locais de
controle. Os sistemas locais de saúde poderão ou não aderir a cada um destes sistemas,
conforme suas prioridades e recursos disponíveis para desenvolver os programas de controle
dos agravos correspondentes salvo as doenças de notificação compulsória e pressupõem a
existência de programas continuados de formação e treinamento de recursos humanos,
especialmente de epidemiologistas.
17.4. Aspectos Operacionais da Vigilância em Saúde
identificação de prioridades; incidência e prevalência de casos; letalidade;
índices de produtividade perdida como dias de incapacidade no leito, dias de trabalho
perdidos; taxa de mortalidade; fatores de risco ou fatores de prognóstico suscetíveis a
medidas de intervenção; impacto potencial das medidas de intervenção sobre os fatores de
risco (risco atribuível); possibilidade de compatibilizar as diversas intervenções em programas
de controle polivalentes; anos de vida potencialmente perdidos; custo e factibilidade da
intervenção versus eficácia; medidas eficazes de profilaxia e controle (vulnerabilidade do dano
às intervenções profiláticas e terapêuticas); e identificação de subgrupos da população sujeitos
a risco elevado de serem atingidos pelo dano.
Etapas do desenvolvimento de sistemas de vigilância
1a etapa: definição dos objetivos do sistema de vigilância.
2a etapa: definição de caso: sua elaboração considerará os aspectos clínicos,
laboratoriais e epidemiológicos mais relevantes.
-
Caso suspeito: mais sensível; e
-
Caso confirmado: mais específico.
3a etapa: identificação dos componentes do sistema de vigilância.
Qual a população alvo deste sistema de vigilância? Qual a periodicidade da
coleta de informações? Quais informações serão coletadas? Qual a fonte destas
informações? Quem provê a informação para o programa? Como a informação será coletada?
Como é transferida a informação? Quem analisa as informações? Como são analisadas as
informações e com quê freqüência? Com quê freqüência são difundidos os relatórios?
4a etapa: elaboração do fluxograma para cada sistema de vigilância. Nesta etapa,
apresenta-se numa forma gráfica os principais passos de um sistema de vigilância; quanto
maior e mais complexo este esquema, mais dispendioso será o sistema.
17.5. Tipos de sistemas de vigilância
1.
Sistemas passivos: têm por fonte de informação a notificação espontânea,
apresentam menor custo e maior simplicidade porém com menor sensibilidade, pela
vulnerabilidade a subnotificação, menor representatividade, apresentando maior dificuldade para
a padronização da definição de caso. A subnotificação de doenças pode determinar a diminuição
da eficiência das ações de controle de doenças por induzir distorções na tendência observada em
sua incidência ou na estimativa do risco atribuível para se contrair uma enfermidade e interferir na
exatidão da avaliação do impacto de medidas de intervenção.
2.
Sistemas ativos: aplicados a doenças de ocorrência rara ou sistemas de
vigilância epidemiológica voltados aos programas de erradicação de doenças, se
caracterizam pelo estabelecimento de um contato direto, a intervalos regulares, entre a equipe
de vigilância e as fontes de informação constituídas por clínicas públicas e privadas,
laboratórios e hospitais e permitem um melhor conhecimento do comportamento dos agravos
à saúde na comunidade, em seus aspectos quantitativos e qualitativos, são mais
dispendiosos necessitando de melhor infra-estrutura dos serviços de saúde.
17.6. Fontes de dados para sistemas de vigilância
Vigilância com base em sistemas de notificações de doenças: tem por
base leis e regulamentos obrigando os profissionais de saúde a notificar doenças, da maneira
mais ágil possível às autoridades locais e estaduais da saúde. Neste caso, o tipo de vigilância
é passivo, porém a mais utilizada fonte de informação.
Vigilância
com
base
em
sistemas
articulados
de
laboratórios: desenvolve-se a partir do isolamento de cepas de microrganismos ou parasitas
em laboratórios, públicos ou privados, responsáveis pelo apoio diagnóstico aos serviços locais
posteriormente enviadas ao laboratório de saúde pública de referência para caracterização
taxonômica e identificação de marcadores epidemiológicos relacionados a determinado tipo
de interesse para a vigilância.
Vigilância com base em dados hospitalares: os sistemas ativos de
vigilância, utilizando diagnósticos de altas hospitalares e pacientes não-internados
(ambulatórios), permitem aumento significativo de sua representatividade e quando não for
possível, o levantamento periódico destes dados oferece avaliação do nível de subnotificação;
é utilizado na detecção de infecções hospitalares e aplicação de tecnologias médicas, como
evolução e efeitos colaterais devido a diferentes esquemas de radioterapia. A notificação de
doenças a partir do diagnóstico de altas hospitalares especificando a época do início da doença e
os locais de residência e trabalho dos pacientes permite a identificação da ocorrência de
agregados de casos de eventos adversos à saúde (clusters).
Vigilância com base em “eventos sentinelas”: capazes de servir de alerta
a profissionais da saúde sobre ocorrência de agravos preveníveis, incapacidades ou óbitos
associados à má qualidade de intervenções de caráter preventivo ou terapêutico a serem
aprimorados e permitem avaliar a importância de determinadas doenças profissionais ou
associadas à ocupação como causa de óbito.
Vigilância com base em informações obtidas de “médicos
sentinelas”: para obter informações relativas à incidência e aspectos mais importantes do
comportamento de eventos adversos à saúde porém apresenta problemas operacionais
relativos à garantia do grupo de médicos sentinelas como amostra representativa.
Vigilância com base em informações obtidas em unidade de assistência
primária à saúde: os profissionais da saúde não se engajam com a intensidade necessária e
a subnotificação e informações incompletas desprestigiam estes sistemas.
17.7. Avaliação de sistemas de vigilância
O desenvolvimento de sistemas de vigilância requer revisões e modificações periódicas
baseadas em critérios de utilidade, custo e qualidade podendo ser efetuado por métodos
específicos de avaliação. No processo de avaliação, serão considerados o fato dos sistemas
de vigilância variarem em metodologia, abrangência e objetivos, não obedecendo a uma única
versão aplicável a todos os casos e situações nacionais e regionais.
1.
Critérios para identificação de prioridades para o desenvolvimento de
sistemas de vigilância:
risco atribuível: impacto potencial das medidas de intervenção sobre os
fatores de risco;
-
severidade do dano: freqüência de seqüelas e letalidade;
magnitude do dano: incidência e prevalência do evento, taxas de
mortalidade, letalidade, índices de produtividade perdida (dias de incapacidade no leito e de
trabalho perdidos);
vulnerabilidade do dano: fatores de risco ou de prognóstico suscetíveis às
medidas de intervenção; identificação de subgrupos da população sujeitos a risco elevado de
serem atingidos pelo dano e medidas eficazes de profilaxia e controle; e
polivalentes.
2.
3.
sistema
4.
possibilidade de compatibilizar: as intervenções em programas integrais e
Identificação do objetivo do sistema de vigilância
Avaliação da compatibilidade da definição de caso com os objetivos do
Descrição dos componentes do sistema:
Qual público alvo deste sistema de vigilância? Qual a periodicidade da coleta
de informações? Quais informações serão coletadas? Qual é a fonte destas informações?
Quem provê a informação para o programa? Como a informação será coletada? Como é
transferida a informação? Quem analisa as informações? Como são analisadas as
informações? Com quê freqüência são analisadas as informações e difundidos os relatórios?
Como é o fluxograma para cada sistema de vigilância?
5.
Avaliação do sistema de vigilância segundo:
5.1. Utilidade: verifica se a capacidade do sistema está alcançando seus objetivos em
relação a:
tendências sinalizadoras do surgimento de novos problemas induzindo a
atividades de prevenção e controle;
-
epidemias;
estimativas quantitativas de magnitude de morbidade e mortalidade causadas
por agravos constituindo o objeto da vigilância;
-
fatores envolvidos na ocorrência da doença;
necessidades de pesquisas e incorporação de novos conhecimentos para
aperfeiçoar as bases técnicas das medidas de prevenção e controle; e
-
permitir a avaliação do impacto das medidas de controle.
5.2. Oportunidade: avaliado pela análise da agilidade do sistema em cumprir as
etapas, desde a notificação até a distribuição dos boletins epidemiológicos. Ex: início dos
sintomas e data da notificação; datas da notificação e início da investigação do caso; o início
de um surto epidêmico e o momento da sua identificação pelo sistema; da identificação do
surto e o início das medidas de controle.
5.3. Aceitabilidade: disposição favorável dos profissionais e instituições condutoras
do sistema, permitindo exatidão, consistência e regularidade das informações geradas.
Recebimento regular do retorno das informações analisadas com recomendações úteis e
operacionalmente viáveis, com aceitabilidade elevada. Ex: nível de participação de
instituições e rapidez do fluxo das informações; oportunidade da notificação; integralidade das
questões existentes nas fichas de notificação respondidas e proporção de recusa de resposta
a determinadas questões.
5.4. Simplicidade: fáceis de compreender, implementar e pouco dispendiosos, uma
representação gráfica do sistema com o fluxo de informações e respostas facilitará a avaliação.
Ex: quantidade e tipo de informações para o estabelecimento do diagnóstico; número e tipo de
fontes de informação; meios utilizados na transmissão de informações; número de
organizações envolvidas no sistema; necessidade de capacitação especial da equipe; tipo e
abrangência da análise de informações; número e tipo de usuários do produto final do sistema;
meios utilizados na distribuição do produto final do sistema; tempo despendido na execução
das tarefas (manutenção do sistema, coleta, análise e disseminação das informações
analisadas).
5.5. Flexibilidade: habilidade de se adaptar a novas necessidades em resposta às
mudanças de natureza ou importância de um evento adverso à saúde. Ex: AIDS.
5.6. Representatividade: a notificação dos casos obtidos por um sistema de vigilância
raramente é completa pois podem diferir dos não-notificados em suas características
demográficas, local, ou uso de serviços de saúde ou exposição a riscos, qualidade dos dados
resultando da clareza dos formulários, da capacitação e supervisão dos responsáveis pelo
preenchimento e o cuidado na consolidação das informações. Pode ser avaliada por estudos
de amostragem permitindo inferir o universo dos casos.
A confiabilidade e a validade das respostas exigiriam estudos especiais como revisão
dos prontuários ou repetição de uma parcela das entrevistas.
5.7 Sensibilidade: quantitativamente a sensibilidade é expressa pela razão entre o
número total de casos detectados pelo sistema de vigilância e o de casos verdadeiros
identificados por averiguação independente e mais completa: uma pesquisa.
A mensuração da sensibilidade de um sistema de vigilância epidemiológica exige
validação das informações colhidas pelo sistema e coleta de informações externas ao
sistema, para determinar a freqüência do agravo objeto do sistema na comunidade. Vários
fatores podem modificar a sensibilidade de um sistema de vigilância, entre eles a maior
mobilização da população ou de profissionais da saúde para a notificação de um agravo, a
introdução de novos testes diagnósticos, definições de caso ou mudança da fonte de
informação utilizada pelo sistema.
5.8. Valor preditivo positivo (VPP): é a proporção de pessoas identificadas como
casos pelo sistema de vigilância e o são. Um sistema de vigilância de baixo VPP com
freqüentes confirmações de casos falsamente positivos eleva os custos e induz à investigação
de epidemias não ocorridas.
Reflete a sensibilidade da definição de caso e depende da prevalência do agravo na
comunidade e será maior quanto maiores forem a especificidade e a prevalência.
17.8. Limitações de sistemas de notificações de doenças
Subnotificação: relativa a nível superior de 50% a 70% dos casos é
relacionada a: falta de conhecimento, por parte dos profissionais de saúde, da importância e
dos procedimentos necessários para a notificação; desconhecimento da lista de doenças
submetidas à vigilância; ausência de adesão à notificação, pelo tempo consumido no
preenchimento da ficha.
Também estão relacionados a ausência do retorno da informação analisada com as
recomendações técnicas pertinentes; preocupação dos profissionais da saúde com referência
à quebra da confidencialidade das informações; falta da percepção pelos profissionais da
relevância em saúde pública das doenças submetidas à vigilância.
Baixa representatividade: falta de homogeneidade da subnotificação,
dificultando a identificação de tendências, grupos e fatores de risco.
Os dois erros mais observados são a tendência a notificar mais os casos de maior
gravidade e os hospitalizados com relação aos com características benignas, embora estes
últimos possam constituir as principais fontes de infecção; e se notifica com maior intensidade
doenças localizadas pelos meios de comunicação.
Baixo grau de oportunidade: dificuldade de diagnosticar antes da
confirmação laboratorial; ineficiência dos serviços no procedimento de notificação; demora na
análise (um problema freqüente quando o sistema de vigilância é atividade mais burocrática
quando comparada a técnica voltada ao apoio dos serviços de saúde) e o retardo em qualquer
fase do sistema leva a uma demora na disseminação da informação analisada, impedindo à
população e profissionais da saúde deterem informações indispensáveis para uma ação eficaz.
Inconsistência da definição de caso: confirmar os casos aceitando o
diagnóstico dos clínicos, independentemente da forma como foram efetuados.
17.9. Medidas dirigidas ao aprimoramento de sistemas de vigilância
A participação dos profissionais da saúde é um ponto crítico da qualidade da coleta de
dados. O esclarecimento destas equipes, salientando a importância da notificação de doenças
para o aprimoramento dos serviços de assistência à saúde, deve ser prioritário nos programas
de treinamento recursos humanos. A adesão dos profissionais da saúde à notificação
sistemática de casos está condicionada à resposta da vigilância, à freqüência e agilidade de
devolução das informações analisadas acrescidas de recomendações técnicas úteis ao
aprimoramento dos serviços de assistência à saúde.
Bibliografia Consultada
Barata RB. Equidade e Saúde: contribuições da epidemiologia. Organizado por
Barata RB, Barreto ML, Filho NA, Veras RP. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ABRASCO; 1997
(Série Epidemiológica 1).
Barreto ML. Epidemiologia, Serviços e Tecnologias em Saúde. Organizado por
Barreto ML, Filho NA, Veras RP, Barata RB. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ABRASCO; 1998
(Série Epidemiológica 3).
Bellusci SM. Epidemiologia. Série Apontamentos. São Paulo: Editora SENAC; 1995.
Pereira MG. Epidemiologia Teoria e Prática. 1ª ed; Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan S.A.; 2003.
Rouquayrol MZ. Epidemiologia e Saúde. 5a ed; Rio de Janeiro: Editora Médica e
Científica Ltda; 1999.
TÍTULO VIII
CONTROLE DE ARTRÓPODES E ROEDORES
Lúcio Antônio Alves Macêdo
1.
Artrópodes
Os artrópodes são animais invertebrados com membros arti-culados e corpo coberto de
quitina. No ramo Artrópoda, a classe de maior interesse sanitário é a Insecta pelo número de
espécies e por causarem danos e em seguida coloca-se a classe Arachnidae.
Importância Sanitária: em Saúde Pública entre os vetores, artrópodes capazes de
transmitir agentes infecciosos são considerados os mais importantes e o seu combate visa à
prevenção e transmissão de doenças a eles relacionadas. Em áreas endêmicas, deve-se
reduzir e controlar a incidência da doença após o combate segue-se a vigilância sanitária para
proteger a população suscetível contra epidemias e o controle dos artrópodes propicia a
redução da mortalidade geral e o aumento da vida média do ser humano. Em estágio mais
evoluído elimina-se os artrópodes responsáveis por incômodos.
Importância Econômica: medidas de ordem sanitária para proteção ao ser humano
resguardando a capacidade de produção e o desenvolvimento das áreas sob controle.
Insetos: a classe dos artrópodes insetos compreende os com três pares de patas.
Insetos de interesse sanitário:

Moscas
(Muscídeos)   Mosquitos
(Culicídeos)   Piolhos
(Anoplura)   Pulgas
(Suctória)   Barbeiros
(Triatomídeos)   Percevejos
(Cimicídios)   Flebotomus
(Psicodídeos)   Borrachudos
e
Piuns
(Simulídeos)   Baratas (Blatídeos). Estes transportam o agente da parte infectada para o
ser humano susceptível e durante o transporte pode estar infectado pelo agente ou atuar
como portador passivo ou mecânico. Exemplos:

Febre Tifóide e Diarréias Infecciosas: moscas e baratas - transportam os
germes nas patas, depositando-os em alimentos, utensílios e outros;


Peste bubônica: pulga + regurgitação da pele, após a picada;
Tipo de Murino: pulgas infectadas - defecção sobre a pele, em seguida à picada;

Febre Amarela: mosquitos – picada;

Malária: mosquito – picada;

Doença de Chagas: barbeiro infectado - defecação sobre a pele, após picada
provocando prurido.
2.
Controle de insetos e roedores
As medidas baseiam-se na biologia dos insetos e roedores, hábitos, características e na
ecologia local.
3.
A)
Insetos
Moscas (Muscídeos)
A espécie mais importante é a mosca doméstica (Musca doméstica). Em busca de
alimento são encontradas nos lugares mais diversos, pousam e passeiam sobre alimentos
humanos, monturos de lixo, estrumes de animais e outros e devido a conformação de seu
aparelho bucal somente podem sugar alimentos líquidos e quando encontram alimentos
sólidos (ex: açúcar) regurgitam para liquefazê-los. Ao pousar em matérias fecais ou materiais
contaminados as moscas podem ingerir germes patogênicos ou retê-los nas patas e pêlos do
corpo, transportado-os, mecanicamente para alimentos e utensílios. A contaminação pode se
dar por contato das patas com os alimentos, regurgitação, também quando procura liquefazêlos e pelas fezes.

Ciclo Biológico da Mosca e da desova
Desova até o estado adulto, dura aproximadamente, 12 dias e compreende 4 fases. Os
ovos são depositados em lixo orgânico, no esterco ou matéria orgânica em decomposição,
após 24 horas, de cada ovo nasce uma larva; esta penetra cerca de 10 cm no monturo, após
4 a 7 dias, sai do monturo, penetra em terra fofa, perde a mobilidade e transforma-se em
pupa. A pupa permanece imóvel por 3 a 6 dias, quando se rompe a casca e nasce a mosca
adulta; sae da terra, seca as asas e voa iniciando a postura. Período de vida: 2 a 3 semanas;
número de posturas: 4 a 6, cada uma com 120 a 150 ovos.

Medidas de Controle
Permanentes: eliminação de meios favoráveis à procriação. Ex.: disposição sanitária do
lixo, destino adequado da excreta e construção de estrumeiras e temporárias:
envenenamento das larvas, pupas e combate à mosca adulta pela captura e inseticidas.
As permanentes, principalmente de controle da procriação, são mais eficazes e outros
meios adotados para impedir o acesso de moscas às habitações, estabelecimentos de
gêneros alimentícios e locais de trabalho. As estrumeiras à prova de moscas, geralmente, são
dotadas de plataforma de concreto cercada de água impedindo a larva de atingir a terra para
pupar e podem ser feitas com cobertura de tela evitando a aproximação do esterco e
impedindo às larvas de escapar à ação do calor durante a fermentação.
Pode-se fazer estrumeiras mais simples, colocando-se o estrume em montes e
cercando-as com canais de concreto onde circula água e a proteção da habitação poderá ser
feita por: 1- colocação de telas em janelas e portas, estas devem ser providas de mola para
fechamento automático; e 2 - proteção direta dos alimentos. O envenenamento das larvas e
pupas é feito aplicando-se venenos nos montes de esterco, lixo, fezes e locais onde as
moscas podem procriar e há dois tipos de veneno para este fim.
Composto de Arsênio: prejudica a qualidade fertilizante do esterco e é perigoso para o
ser humano e Bórax (Borato de Sódio): sal derivado do ácido bórico deve ser espargido sobre
a estrumeira na proporção de 1kg/m³.
É menos eficaz, comparativamente com os compostos de arsênio, não pode ser
aplicado em excesso para não causar prejuízo ao adubo e pela toxidez.
A água fervente é usada em pequenos focos e a captura útil como medida
complementar não resolve sozinha o problema, havendo várias técnicas de captura:
armadilha elétrica; alçapões; e papel pega-mosca.
Alçapões: gaiolas feitas com tela fina, para atrair as moscas para o seu interior usa-se
como isca um alimento de sua preferência.
Papel Pega-Mosca (preparo): 2kg de breu mais 1kg óleo de rícino – aquecer em banho
maria, pincelar sobre o papel evitando-se o vermelho e o amarelo.
B)
Mosquitos (Culicídeos): insetos dípteros e os mais importantes são dos gêneros:

Culex (pernilongo, muriçocas ou carapanã): filariose;

Aedes: febre amarela urbana e dengue; e

Anopheles: malária
Combate ao Mosquito: impedir a proliferação do mosquito, visando a destruição do
mosquito adulto o combate pode ser feito durante as fases aquática e alada e proteger o ser
humano contra a picada do mosquito na fase alada.
Característica dos Criadouros: qualquer coleção de água superficial de origens
diversas, subsolo ou de chuva, com carac-terísticas favoráveis à vida e desenvolvimento das
larvas.
Destruição: drenagem ou enxugamento do solo, pela eliminação da possibilidade de
desenvolvimento dos mosquitos evitando coleção de água para a solução do problema de
mosquitos. Usou-se D.D.T. – inseticida de ação residual, responsável pela redução da malária
no mundo não mais utilizado como método de controle de mosquitos pelos seguintes
motivos:  aparecimento de formas resistentes aos inseticidas; e  toxidez e poluição do solo
e cursos d'água.
Drenagem é o método radical de combate ao mosquito, nem sempre feita apenas com
esta finalidade, aproveitada para irrigação e recuperação de terras, propicia movimento rápido
das águas e intervir no ciclo biológico do mosquito e associado ao emprego de inseticida
resolve o problema de controle dos mosquitos. As valas a céu aberto devem receber
vigilância constante, pois constituem arma de dois gumes: evitar obstrução e erosão das
margens e eliminar arbustos e vegetação capazes de danificar as valas.
A drenagem é aplicada no controle de malária há milhares de anos, gregos e romanos
reduziam a incidência das "febres" ao drenarem os pântanos.
Aterro: usado onde a drenagem é impraticável por razões de ordem econômica e
quando permitir a solução de dois problemas: o destino do lixo, o controle de mosquitos e haja
interesse na recuperação de terrenos.
Petrolagem: impede o desenvolvimento das larvas nos criadouros destruindo-as pela
aplicação de derivados de petróleo sobre as superfícies das águas, acredita-se ser a causa
de morte da larva por efeito tóxico produzido de duas formas: penetração de vapores oleosos
no sifão e destruição das células da traquéia da larva pelo óleo. A petrolagem tem resultados
temporários e a vantagem de ser utilizável mesmo em pequenas coleções de água. As
experiências se relacionam com a toxidez do petróleo diretamente com a sua volatilidade e
inversamente com seu ponto de ebulição.
Larvicidas: mais comum é o verde-paris (aceto-arsenito de sódio), colocado na água,
flutua, algum tempo, de acordo com as características desta, mata as larvas por
evenenamento é específico para os anofelinos únicos cujas larvas se alimentam à superfície e
facilitar a sua difusão deve-se misturá-lo com: cinzas, pó de cimento, pó de tijolo, talco, pó de
estrada, areia fina, serragem, e outros.
D.D.T. como Larvicida: quando se usa o D.D.T. em solução de 5% é necessário
empregar 50gr/he com duração de 8 a 20 dias. D.D.T. em pó, muito mais tóxico para larva do
anofelino, deve ser usado 110g/hc, misturando 90% de poeira com 10% de D.D.T; é tóxico
para o ser humano, devendo-se observar os cuidados de proteção dos operadores durante a
operação.
Inimigos naturais dos mosquitos: importante (especialmente os peixes) com controle
mais eficaz e eficiente, para um peixe ser larvófago é preciso:  ter especial apetite para
larvas e tendência a alimentar-se na superfície;  grande poder de proliferação;  não ser
procurado para alimentação humana; e  suportar bem as condições ambientais mais
variadas e o mais conhecido larvófago é o Gambusca affinis, peixe de águas rasas,
estagnadas, doces ou salobras.
Desmatação: eliminação de vegetação em um raio de 500m ao redor da casa, ou em
qualquer coleção de água na área desmatada.
Emprego de Inseticidas: os maiores problemas dos inseticidas são toxidez e poluição
causada. Alguns cientistas observaram espécies de mosquitos resistentes ao DDT. O trabalho
deve ser feito durante certo período, aliado ao combate de mosquitos e tratamento de doentes
impedindo o aparecimento de novas formas resistentes.

Proteção ao Ser Humano
Mosquiteiros: devem ter malha para vedar a passagem de mosquitos, permitindo só a
entrada de ar, cor branca, pontas dobradas debaixo do colchão e antes de escurecer deve-se
baixá-lo.
Véus: protetores de rosto de filó preto e de boa qualidade.
Repelentes: substâncias esfregadas no corpo para afugentar o mosquito. Efeito de
poucas horas, alguns são tóxicos e incômodos. (Ex: óleo de citronela: 1 parte + vaselina 4
partes).
Telagem: protege o ser humano, eficaz no controle de moléstias transmitidas por
mosquitos e moscas. Porém é arma de dois gumes trazendo malefícios quando mal feita e
mal conservada e a sua eficácia depende das condições da casa e do local de trabalho.

Preceitos úteis para áreas malarigenas
O morador deverá:
I comunicar ao Inspetor Sanitário a ocorrência de qualquer doença febril ou
suspeita de malária na habitação;
II telas;
III -
zelar pela higiene e limpeza da habitação, conservação de pinturas claras e de
evitar pendurar quadros, roupas e objetos em paredes;
IV não retirar dispositivos telados do local ou modificações da disposição sem
consultar a autoridade sanitária; e
V evitar a abertura das portas duplas ao mesmo tempo ou permanecerem
abertas por meio de calços, suportes e outros.
C)
Piolhos (Anoplura): pequenos e achatados no sentido dorsoventral, parasitas
permanentes e obrigatórios dos mamíferos e vivendo do sangue sugado. Existem duas
espécies:

Pedículus Humanus - piolho de cabeça – menor e  Pedículos Humanus
Corporis - piolho do corpo – maior. Causam parasitoses características da falta de higiene e
se transmitem por contato direto, roupas do corpo ou da cama (para piolho de corpo), pentes,
chapéus, escovas de cabeça (para piolho de cabeça) e são combatidos por inseticidas, como
D.D.T. ou hexaclorobenzeno (gamexame).

Phithibus Pubis (chato): parasita a região pubiana do ser humano, podendo
generalizar-se pelo corpo.
Transmissão: contato sexual e raramente, por roupas, hematófogo e parasita
obrigatório, vivendo no hospedeiro e combatido por aplicações seguidas de DDT ou de
Neocid em pó, usa-se raspar pêlos na região infestada para eliminar o parasita.
D)
Pulgas (Suctória): Insetos hematófagos na fase adulta e desprovidos de asas e
vivem na superfície cutânea dos animais parasitados, corpo achatado em sentido lateral, o
terceiro par de patas mais longo e forte, permitindo saltar de um hospedeiro para outro.
A espécie comum – Pulex iritans – pode produzir reações cutâneas em pessoas
sensíveis, sinal importante de sua presença no corpo e Xenopsylla cheopis responsável pela
transmissão de Peste Bubônica entre os ratos e destes para o ser humano e Riquetsiatyphi,
agente do tifo murino. O controle é feito pulverizando-se DDT nos criadouros, na superfície do
corpo de animais (cães e gatos) e nas roupas de uso humano. Em caso de epidemia de peste
entre ratos, resultando em mortalidade, recomenda-se despejar gasolina em círculo, ao redor
do rato morto, num raio de 50 a 70cm e atear fogo evitando a fuga das pulgas.
E)
Barbeiros: Insetos dotados de 2 pares de asas encontrados desde a Argentina
até o Sul dos E.U.A., silvestres e outros se adaptam ao convívio domiciliar, abrigados em
casas de baixo padrão com frestas e as casas mais vulneráveis são de pau-a-pique
(estuque), suportam jejum e ambientes secos, transmitem o Tripanosoma cruzi, agente da
Doença de Chagas e usam como reservatórios naturais o ser humano doente, animais
domésticos e silvestres (raposa, tatu e outros).
O triatomídeo (barbeiro), ao picar um ser humano ou animal doente ingere, com o
sangue sugado, o protozoário passando por diversas mudas no trato intestinal do inseto. As
formas resultantes se acumulam na parte posterior do inseto e ao picar o ser humano defeca
próximo à picada e a forma infestante misturada com as fezes penetra pelo orifício da picada
e o ser humano, ao se coçar, facilita a penetração da forma infestante esta percorre o corpo
até chegar a parte posterior do intestino um reservatório da doença. O combate pode ser feito
por:
I melhoria da habitação, eliminando-se esconderijos e frestas; II - combate com
BHC ou Gamexame; e III - controle de animais domésticos e afastamento dos doentes,
considerados focos.
O professor Emanuel Dias apresentou uma técnica de erradicação do “barbeiro” com
emprego de BHC: consiste no estudo e no ataque de áreas restritas para combate total, com
segunda aplicação de 2 a 3 meses após.
F)
Baratas (Blatídeos): ortópteros de hábitos noturnos, extremamente vorazes,
destruidores e ofensivos ao senso estético. Pousam e vivem nas imundícies e passam aos
alimentos, contaminando-os, destroem comida, roupa, mordem pessoas e são inimigos
naturais dos percevejos, a Germânica é a mais prolífera, podendo uma fêmea dar origem a
400 mil descendentes/ano, a Americana a 800 e a Oriental a 200.
As baratas têm importância sanitária na transmissão de doenças gastroinstestinais por
transporte mecânico de bactérias e parasitas da imundície para os alimentos e eliminação das
fezes infectadas e transmitem doenças do trato respiratório e outras de contágio direto pelo
mesmo processo. Sob o aspecto econômico provocam estragos em alimentos, roupas, livros,
bebidas fermentáveis e outros e seu ciclo evolutivo é adulto-ovo-ninfa-adulto, a jovem é
semelhante à adulta, apenas, menor. A fêmea desponta as cápsulas portadoras de ovos com
eclosão de 38 a 49 dias de ovoposição, rompendo a cápsula a seguir depositada nas paredes
ou engenhosamente em frestas.
Controle: as duas formas mais eficazes são:
I construção de prédios sem frestas e facilidades de abrigo nas partes
acessíveis à limpeza, ralos de esgotos sifonados, caixas de gordura e inspeção sifonadas e
vedadas na limpeza; e
II o combate químico é prejudicado pela rápida aquisição de resistência
empregando-se com sucesso: Chiordane em solução ou emulsão a 2-3%, Dieldrima 0,5% em
solução ou 1% em fumaça. As baratas preferem líquidos fermentados, especialmente cerveja.
Pode-se capturar os adultos colocando-se nestes líquidos, veneno como Bórax, fora do
alcance das crianças e marcando-os para não serem confundidos pelos adultos.
G)

scabiei);
Aracnídeos: artrópodes com quatro pares de patas e são de interesse sanitário:
Sarcoptas – agente etiológico da sarna (uso de loções e asseio) - (sarcoptes

Carrapatos – uso de carrapaticidas nos animais;

Escorpiões – não vetores e o veneno não é mortal (BHC); e

Aranhas – algumas espécies inoculam veneno por suas picadas. Os casos fatais
são raros e ocorrem com pessoas de pouco peso, debilitadas ou em más condições físicas,
dentre causadoras de acidentes com maior freqüência as mais importantes são:
Viúva Negra (Lactrodectus mactans): causadora de maiores acidentes: dor local,
imediata, muito intensa, dores musculares, náuseas, vômitos, dificuldade de visão, e morte
por choque.
Outras: Lososciles surrata, Ctenus nigriventur, Licosa raptoria. O combate às
aranhas é feito pela aplicação de inseticidas nos locais utilizados como esconderijos e
criadouros.
Uso de Inseticidas no Controle de Artrópodes
Requisitos para um bom inseticida:  pouca toxidez para o ser humano e os
animais;  eficácia no combate à variedade de insetos de mesmo habitat ou hospedeiros
comuns, propriedade residual de longa duração;  capacidade de emprego em fórmulas
diversas, em estados físicos diferentes;  facilidade de utilização;  não ser repulsivo para o
ser humano;  eficaz em doses baixas;  resistência à umidade, à temperatura e à
luz;  baixo custo; e  não sujeito a variações em sua composição e atividade biológica.
Tipos de Inseticidas: quanto à toxidez:  por via respiratória; digestiva; e contato,
quanto à composição podem ser derivados de:  Cloro; Fósforo (muito tóxicos); Piperanilo; e
outros.
H)
Roedores: os roedores de
especificamente, ratazanas.
importância
sanitária
são os
ratos e mais
Aspectos Sanitários: o controle de roedores visa prevenção e controle de moléstias,
onde estão implicados:  reservatório de peste bubônica;  transmissores de moléstias, não
só contaminando os alimentos, após o contato com os focos, como por mordeduras e visa
protege crianças sujeitas ao ataque em habitações desprotegidas com mínimas condições de
segurança, como casebres, taperas e barracos de favelas.
Aspectos Econômicos: além dos aspectos econômicos relacionados aos sanitários, o
controle de roedores objetiva:  acabar com os prejuízos decorrentes dos estragos; evitar
deteriorização de certos produtos; e  acidentes decorrentes da ação destruidora dos ratos,
tais como incêndios. Em 1968 - Estimava-se uma perda devido a destruição anual por causa
de ratos suficiente para alimentar uma população de 85.000.000 de habitantes.
Os roedores podem estar implicados em moléstias como:
Peste bubônica – incidência entre ratos se transmite de rato para outro, pela pulga e
quando o rato morre procura outro ou o ser humano:  Tifo Murino – Ricketsia tiphy
moseri;  Leptospirose – moléstia de Well ou icterícia hemorrágica, transmitida pela
urina de rato; e  Várias parasitoses intestinais.
Economicamente, os roedores causam danos consideráveis às plantações e depósitos
de alimentos e é nos EUA o inimigo no 1 entre os animais daninhos. Espécies de interesse
sanitário:

Rattus rattus novergicus (ratos de esgoto);

Rattus rattus (ratos de telhado);e

Rattus rattus alexandrinos (variedade do rattus rattus)
Características:
Rattus Novergicus:  cor parda; cauda menor de tamanho inferior ao corpo; orelhas e
olhos pequenos; focinho rombudo; parte inferior da cauda clara. Hábitos:  hábitos rasteiros,
entoca-se em lixos, pilhas de madeira, e outros;  muito feroz, combate as outras
espécies;  onívoro;  reproduz-se com facilidade em ninhadas muito grandes;  barrigadas
de 22 dias trimestral pesando até 500 gramas.
Rattus rattus (rato negro ou de telhado):  cor negra; trepador, cauda muito longa,
orelhas compridas, focinho alongado e olhos grandes. Não é tão feroz como o Novergicus.
Rattus Alexandrinus: cor parda; semelhantes ao do Rattus rattus.
→
Sinais Indicativos da presença de Ratos:  presença de ratos vivos ou mortos;
caminhos de ratos;  manchas nas paredes;  sinais de dentes (característicos); manchas
de urina fluorescente quando submetida à luz ultravioleta;  excrementos em forma de
bastonetes, aspecto característico; e odor de ratos.
I-
Medidas de Controle: permanentes e temporárias.
As permanentes são mais eficazes e baseiam-se em dois princípios:
III lugares.
→
necessidade do rato se alimentar e se abrigar; e
eliminando o acesso ao alimento e ao abrigo impedindo sua instalação em novos
Medidas Permanentes:
Construção à Prova de Rato:  execução dos alicerces das edificações à
prova de ratos. Concreto penetrando no solo de 0,30 a 0,40m e elevando-se acima do
solo de 0,40 a 0,60m; construção de casas de madeira sobre pilares de tijolos de 0,40
- 0,60m de altura;  eliminação de espaços duplos;  ausência de aberturas para não
permitir a entrada de ratos;  proteção de portas e aberturas essenciais com dimensão
superior a 1/2"; e  frestas de portas e janelas, no máximo, de 3/8".
Eliminação de Aberturas:  vedar com tijolos ou argamassas de cimento os buracos e
frestas, alicerces, paredes, canalizações e nas travessias das redes;  vedar com chapas
metálicas, buracos de janelas de madeira;  cobrir as extremidades inferiores das portas e
soleiras das janelas com chapas de ferro galvanizadas; e  guarnecer com telas
preferentemente de cobre ou ferro galvanizado, janelas e porões, abertura de ventilação,
chaminés e aberturas limitando o acesso de ratos pelo chão, telhado e visores.
Eliminação de Abrigos e Ninhos: desmatação e eliminação dos lugares apropriados
aos abrigos e ninhos, atentar para cuidados e destino adequado do lixo.
Supressão de Alimentos: fundamental para o controle de ratos em grandes
estabelecimentos é difícil armazenar os alimentos em armários à prova de ratos devendo os
estrados ficar de 40 a 60cm de altura, atentar para o destino adequado do lixo.
Medidas Temporárias: podem oferecer bons resultados, porém não iguais aos das
permanentes, aplicam-se como medidas supletivas e de desratização em áreas altamente
infestadas.
Uso de Ratoeiras:  tipo: quanto mais simples mais eficaz;  número: depende do
grau de infestação e do tamanho do estabelecimento. Numa residência comum, muito
infestada, são necessárias 10 a 12 ratoeiras;  colocação: no caminho natural de passagem
do rato e em lugar conveniente; e  isca: não há tipo satisfatório depende da casa. Devem
ser frescas e retiradas quando não mordidas e são mais aceitos: cereais, aveia, farinha de
trigo, peixes, frutas e rodízio dos alimentos. As campanhas por ratoeiras devem ser curtas e
decisivas: depois de um período intenso, um intervalo de 2 a 3 meses, recomeçando-se em
seguida.
Fumigação: aplicação de veneno, em forma de gás (mais comum gás cianídrico e SO2).
Somente utilizada em casas aban-donadas e porões de navio onde não haja pessoas. Fechase a casa toda, calafetando as aberturas, faz-se a fumigação deixando-o agir de 2 a 3 dias,
depois areja-se o local por 2 ou 3 dias antes de ser habitada. Em buracos abertos pelos ratos
(geralmente não ultrapassam 1,50m de profundidade) coloca-se um maçarico com uma
chama de 0,45m. As pulgas morrem e se eles fugirem serão mortos a pauladas.
Inimigos Naturais (cães, gatos, gaviões, e outros): os pre-dadores são empregados
com algum resultado e, tornam-se perigosos para o ambiente, exemplo: gatos contra rato
norueguês exigindo maior cuidado da comunidade.
Envenenamento: medida mais eficaz, adicionar uma substância venenosa
(Rodenticida) a alimentos ou à água, a maioria exige pessoal treinado para aplicação,
perigosos para o rato, o ser humano e animais domésticos, seu emprego obedecerá
requisitos técnicos, baseados nos hábitos dos ratos.
Qualquer campanha de desratização será precedida de levantamento sobre a espécie
prevalente e a situação da área (infestação, situação do local, dos estabelecimentos de
gêneros e de abrigo, passagem de tetos, lixos, e outros). Antes da campanha usa-se a
técnica de distribuição:

distribuir e variar alimentos fartos e sem veneno por 4 a 5 dias e água de 1 a
2 dias; e  aplicar as iscas envenenadas.
Principais Rodenticidas e Técnicas de Aplicação: podem ser de ação lenta/ação
rápida, na maioria são anticoagulantes, do tipo Warfarin mais seguras para o ser humano e os
animais domésticos porque não requerem grandes quantidades para uso e existe antídoto e
os anticoagulantes são caros e inaplicáveis no caso de epidemia.
Principais Raticidas
 Carbonato
de
bário;  Sulfato
de
tálio;  Arsênico;  Estricnina;  Sila
vermelha;  1080;  Antu (Alfa Naftil-Thio-Uréia);  Warfarin;  DDT.
TÍTULO IX
ZOONOSES DE INTERESSE DA SAÚDE PÚBLICA URBANA
Arlindo Moraes
1.
Termos Técnicos, segundo o hospedeiro do agente etiológico
1.1. Anfixenose – circula entre homens e animais. Ambos são hospedeiros do agente.
Ex.: doença de Chagas. 1.1.1. Ciclo silvestre – 1.1.2. Ciclo peridoméstico – 1.1.3. Ciclo
doméstico
1.2. Antropozoonose – doença primária dos animais, podendo ser transmitida ao
homem. Ex.: Brucelose.
1.3. Zooantroponose – doença primária do homem, acometendo animais. Ex.:
esquistossomose S. mansoni. O homem é o hospedeiro normal (In.: NEVES, D. P. –
Parasitologia Humana, 1984).
1.4. Antroponose – doença exclusivamente humana. Ex.: Filariose bancroftiana,
sarampo, entre outras.
1.5. Enzoose – doença exclusiva dos animais. Ex.: peste suína, Dioctofime renale,
entre outras.
1.6. Zoonose – infecção ou enfermidade infecciosa transmissível em condições
naturais, entre os animais vertebrados e o homem. (OMS) Ex.: a raiva, toxoplasmose, peste,
entre outras.
2.
Principais meios de transmissão das zoonoses:
1) Agressão – 2) alimentação – 3) contato – direto e indireto – 4) imersão – 5)
inalação – 6) lixo – 7) vetores: biológico e mecânico
3.
Grupos dos animais e as zoonoses relacionadas com o estudo da saúde
pública urbana
3.1. Animais domésticos ou de estimação: o cão e o gato.
a)
do cão: Raiva; Leishmaniose; Leptospirose; Der-matofitose; Dipilidiose; Hidatidose
ou Equinococose; Dirofilariose; Dermatite por Larva Migrans; Larva Migrans Visceral; e Sarna.
b)
do gato: Toxoplasmose – doença causada pelo arranhão.
3.2. Animais peridomésticos ou sinantrópicos: rato; pombo; e morcego.
a)
do rato: Leptospirose; Peste; Tifo Murino; Salmonelose; Pneumonia por
Pneumocistos; e doenças causadas por fungos.
b)
do pombo: Salmonelose; Ornitose; e Criptococose.
c)
do morcego: Raiva.
3.3. Animais de uso econômico ou de fundo de quintal: suínos; caprinos e aves
terrestres (galinha, pato, peru, e outros)
a)
suínos: Teníase e Cisticercose; Brucelose; Erisipela.
b)
caprinos: Carbúnculo hemático.
c)
aves terrestres: (galinha, pato, peru e outros): Doença de Newcastle; Influenza
ou gripe; e Salmonelose
3.4. Animais de origem silvestre: macaco, sagüi; tartaruga; e papagaio, arara,
periquito
a)
macaco, sagüi: febre amarela.
b)
tartaruga: Doença Enterobacteriana por Arizona; Salmonelose.
c)
papagaio, arara e periquito: Psitacose.
4.
Raiva canina
4.1. Sinônimos: raiva canina; hidrofobia; e lisa.
4.2. Agente etiológico: lissavírus; família Rhabdoviridae; e vírus neurotrópico.
4.3. Distribuição geográfica: praticamente mundial.
4.4. Transmissão: o vírus já se encontra na saliva, uns três dias antes dos sintomas
se manifestarem; é pela saliva, através da mordida a outro animal ou homem.
4.5. Fases e alguns sintomas no animal
1)
Fase Inicial: comportamento estranho
2)
Fase de Excitação: fotofobia; convulsão; andar cambaleante; foge.
3)
Fase Paralítica: dificuldade de locomoção; latido agudo e grave; sialorreia
filamentosa (cabeça deslocada para o lado da sialorreia; e estrabismo convergente); paralisia
dos masseteres; e óbito.
4.6. Raiva atípica
4.7. Alguns sintomas no homem: angústia; cefaléia; espasmos musculares;
sialorreia; convulsão; paralisia; e morte.
4.8.
Medidas preventivas e de controle: vacinar os cães contra raiva; sendo
mordido(a), procurar com urgência, orientação médica; manter o animal sob a observação de
um médico veterinário por período mínimo de 10 dias; dependendo da situação, o animal
pode ser sacrificado; nunca interromper o tratamento, salvo, por ordem expressa e sob
responsabilidade médica; e lavar muito bem como água e sabão; e outros.
5.
Leishmaniose visceral (calazar)
5.1. Sinônimos: calazar; esplenomegalia; zoonose dos canídeos; e outros.
5.2. Agente etiológico: Complexo Donovani (protozoário)
5.3. Distribuição geográfica: a principal zona endêmica no Brasil está no Nordeste.
5.4. Ciclo básico de transmissão nas Américas: o mosquito “Phlebotomus
argentipes” (conhecido por mosquito palha, cangalinha ou birigui), pica o animal doente e
depois o homem.
5.5. Transmissão: transmitida ao homem pela picada de um mosquito conhecido por
“birigüi”, “mosquito-palha” ou “cangalhinha”, conforme a região (Flebótomo). O inseto se
contamina ao picar um cão doente para sugar-lhe o sangue, passando a infecção para o
homem ao picá-lo. Os cães são reservatórios especiais e considerados o principal elo da
cadeia “Calazar”.
5.6. Alguns sintomas no animal: ferimentos nas costas, articulações e orelhas; pode
aparecer ferimento na córnea; e o tamanho exagerado das unhas é característico.
5.7. Alguns sintomas no homem: anemia; febre contínua; emagrecimento;
esplenomegalia; e/ou hepatoesplenomegalia.
Observar a hepatoesplenomegalia e o quadro caquético característico do Calazar (In:
Veronesi)
5.8. Medidas preventivas e de controle: evitar a formação de coleções d’água;
combater o mosquito transmissor; aplicar inseticida de efeito residual nas casas e arredores;
os animais doentes devem ser sacrificados, pela existência de tratamento para eles; e
promoção de atividades de saúde pública e mobilização comunitária nas áreas trabalhadas.
6.
Leptospirose
6.1.
Sinônimos: febre de Stuttgart; tifo canino; e espiroquetose canina.
6.2. Agente etiológico: (bactéria) Leptospira interrogans.
6.3. Distribuição geográfica: mundial.
6.4. Papel dos animais na epidemiologia: é essencial
6.5.
Transmissão: no caso particular do cão, além de se contaminar, pode também
morder ou ingerir rato contaminado; e o homem, se contamina, ao entrar em contato com a
urina do cão doente; contaminação do solo, alimentos e água, com urina contendo
leptospiros; e em todos os casos, as portas de entrada são: pele e mucosas bucal e nasal.
6.6. Alguns sintomas no animal: ferida na boca, com sangramento e mau cheiro;
icterícia; diarréia sanguinolenta; entre outras. Obs.: no cão pode ser inaparente
6.7.
Alguns sintomas no homem: cefaléia; conjuntivite; dores musculares; diarréia;
vômitos; e podendo comprometer o fígado e os rins, tornando o prognóstico é sombrio.
6.8.
Medidas preventivas e de controle: vacinar os cães; evitar contato com urina
de cães; limpar os canis, sempre calçado; e medidas de higiene.
7.
Dermatofitose
7.1. Sinônimos: dermatofitose dos pés; infecção de natureza fúngica; e outros.
7.2. Agente etiológico: (fungos) Epidermophyton Flocosum; Microsporum sp; e
Trichophyton sp.
7.3. Distribuição geográfica: mundial.
7.4. Papel dos animais na epidemiologia: o reservatório dos dermatófitos e a fonte
de infecção para o homem são os animais.
7.5. Alguns sintomas no homem: queda do pelo ou cabelos em áreas circulares,
tendo no centro placas escamosas.
7.6. Alguns sintomas no animal: lesões na pele, semelhantes as do homem.
7.7. Transmissão: contato direto entre a pele do homem e as lesões; e indireto,
através de pêlos, escamas e objetos contaminados.
7.8.
Medidas preventivas e de controle: evitar contato com animais e/ou objetos
contaminados; queimar os objetos contaminados; e medidas de higiene.
8.
Dipilidiose
8.1. Agente etiológico: (helmintos) Dypilidium caninum
8.2. Distribuição geográfica: mundial.
8.3. Epidemiologia: cestódeo de 10 a 70cm de comprimento. Hospedeiro definitivo –
o cão e o gato e alguns caninos e felinos silvestres. Hospedeiros intermediários – as pulgas
dos cães (Ctenocephalides canis) e do gato (Ctenocephalides Felix).
8.4.
Alguns sintomas no homem: diarréia; insônia; irritabilidade; e perda de peso.
8.5. Alguns sintomas no animal: diarréia; irritação; e coceira na região anal.
8.6. Transmissão: o último dos seus segmentos fica carregado de ovos e se
desprende, por movimentos próprios ou junto com as fezes. No meio ambiente, os ovos são
liberados e, ingeridos pelas larvas das pulgas do cão, onde o embrião continua evoluindo,
enquanto a larva se transforma em pulga adulta e parasita o cão. Ingerida pelo cão a Tênia
chega ao final do ciclo, no intestino do cão; e acidentalmente uma pessoa, principalmente
criança, ingere também a pulga, com Tênia, a se desenvolver no intestino humano.
8.7.
Medidas preventivas e de controle: combater as pulgas e suas larvas; tratar
os cães contra as pulgas; evitar o contato excessivo entre a criança e o cão; e medidas de
higiene.
9.
Hidatidose ou equinococose
9.1. Sinônimos: equinococose hidática; e bolha d’água do homem do campo sulino.
9.2. Agente etiológico: (helmintos) Echinococus granulosus
9.3. Distribuição geográfica: o Brasil é considerado um País de infestação
moderada. (In: Veronesi)
9.4. Epidemiologia: o homem se infesta ocasionalmente, em seu convívio com o cão
parasitado. O pequeno cestódeo é encontrado no intestino delgado do cão, raposa, lobo,
chacal, e outros.
9.5. Transmissão: o homem – forma direta: oca-sionalmente ingerindo ovos aderidos
ao pêlo do cão. Forma indireta: pela ingestão de alimentos e água contaminados. Os cães: se
contaminam quando comem vísceras de ovinos infestados; e os ovinos: se infestam quando
pastam ou bebem água com ovos do verme, eliminados através das fezes do cão.
9.6. Alguns sintomas no homem: A gravidade está em função do local de fixação
das larvas, podendo passar pela parede intestinal e via corrente sanguínea se alojando no:
fígado; pulmões; coração; e cérebro.
9.7. Alguns sintomas no animal: raramente apresenta sintomas e ocasionalmente,
diarréia; os ovos são eliminados pelas fezes; e o cão é um importante hospedeiro.
9.8.
Medidas preventivas e de controle: não permitir a alimentação cães com
vísceras cruas de ovinos; tratar os cães regularmente com anti-helmínticos; não permitir a
presença de cães próximos a matadouros de ovinos; e manter hábitos higiênicos no trato com
o cão, principalmente no destino de suas fezes.
10.
Dirofilariose
10.1. Agente etiológico: Dirofilária immitis
10.2. Distribuição geográfica: mundial.
10.3. Papel dos animais na epidemiologia: do grande número de filarias existentes,
só 8 se adaptaram ao homem.
10.4. Alguns sintomas no homem: acidental; atinge principalmente o pulmão direito
da vítima, podendo apresentar: febre; dores; e perda de sangue pela boca (hemoptise).
10.5. Alguns sintomas no animal: tosse; fraqueza; ascite; e vermes na artéria
pulmonar e coração.
10.6. Transmissão: o homem é contaminado através da picada de mosquitos (Culex,
Aedes e Mansônia), anteriormente alimentadas com sangue de cão doente.
10.7. Medidas preventivas e de controle: combater mosquitos com inseticidas
adequados; nas regiões onde exista a ocorrência da doença, orientar para o tratamento
adequado dos cães; onde for necessário, estimular o hábito de dormir com mosquiteiros; e os
repelentes, convenientemente indicados, podem ser usados nas partes expostas do corpo.
11.
Dermatite Por Larva Migrans)
11.1. Sinônimos: Dermatite serpiginosa ou bicho geográfico.
11.2. Agente etiológico: (helmintos) Ancylostoma brasiliensis
11.3. Distribuição geográfica: países tropicais e subtropicais (Argentina, Brasil,
Uruguai, e outros).
11.4. Transmissão: o cão infestado elimina os ovos dos vermes adultos junto com as
fezes, em solo arenoso, contaminando o meio ambiente; e as pessoas, em particular as
crianças, contaminam-se em contato direto com o solo (arenoso), contendo as larvas.
11.5. Alguns sintomas no homem: Surgem lesões na pele, com a formação de uma
espécie de túnel sinuoso, onde a larva se aloja, podendo migrar para os pulmões e os olhos.
11.6. Alguns sintomas no animal: anemia e diarréia com sangue; e as infestações
leves não provocam nenhum sintoma.
11.7. Medidas preventivas e de controle: acionar os órgãos competentes para
recolher os cães soltos, principalmente nas praias e caixas de areia das praças; não andar
descalço em locais com muitos cães; e levar os cães para exame de fezes e tratamento das
infestações.
12.
Larva migrans visceral
12.1. Sinônimo: Granulomatosis larval
12.2. Agente etiológico: (helmintos) Toxocara canis; e Toxocara cati.
12.3. Distribuição geográfica: mundial.
12.4. Transmissão: a larva do verme parasitando a cadela, contamina o feto
(transplacentária); o ser humano pode se contaminar ao inalar, do meio ambiente, ovos do
verme, no ar, e quase sempre as mãos sujas são o veículo condutor dos ovos do verme.
12.5. Alguns sintomas no homem: reações alérgicas, principalmente em crianças; as
larvas podem atingir pulmões e fígado, provocando: crises asmáticas; vômitos; e anorexia.
12.6. Alguns sintomas no animal: problemas digestivos; diarréia; e apatia, e outros.
12.7. Medidas preventivas e de controle: medicar os cães contra verme, desde as
duas primeiras semanas de vida; nos cães adultos, realizar regularmente exame de fezes e
tratar os doentes; evitar a estreita convivência, principalmente de crianças, com cães; e
manter hábitos de higiene, na convivência com cães, e em particular no destino das suas
fezes.
13.
Sarna zoonótica
13.1. Sinônimos: escabiose; pira; e outros.
13.2. Agente etiológico: Sarcoptes scabiei (artrópode)
13.3. Distribuição geográfica: mundial (acentuado predomínio nas áreas mais pobres,
mal nutridas e com baixo nível higiênico).
13.4. Alguns sintomas no animal: lesões semelhantes as do homem, principalmente
nas orelhas, focinho e cotovelos.
13.5. Alguns sintomas no homem: lesão na pele, pela formação e um sulco sinuoso;
irritação; coceira; e descamação.
13.6. Transmissão: contato direto e contato indireto.
13.7. Medidas preventivas e de controle: levar os suspeitos para exame; tratar os
doentes; evitar contatos com as lesões e materiais contaminados; orientar os trabalhadores
de canis; proceder adequada limpeza no canil; e tomar medidas de higiene.
14.
Toxoplasmose – do gato
14.1. Agente etiológico: (protozoário) Toxoplasma gondii
14.2. Distribuição geográfica: mundial.
14.3. Alguns sintomas no homem: é grave para as mulheres grávidas ainda não
afetadas pela doença, pois pode apresentar lesões na formação do feto; estima-se que 1/3 da
população mundial tem anticorpos contra o parasita. Pode ser congênita ou adquirida; e
calcificação cerebral difusa.
14.4. Alguns sintomas no animal: lesões no cérebro; lesões no coração; distúrbio
intestinal; e há casos sem sintomas.
14.5. Transmissão para o gato: o gato é hospedeiro final.
14.6. Transmissão para o homem: ingestão de cistos de carne mal passada; infecção
transplacentária; e outros.
14.7. Medidas preventivas e de controle: evitar contato com fezes de gato,
principalmente as grávidas sem sintomas da doença; não ingerir carne crua ou mal passada;
proteger os alimentos; medidas de higiene, após manipular carne crua; e destino adequado às
fezes do gato.
15.
Doença por arranhão do gato
15.1. Distribuição geográfica: praticamente mundial.
15.2. Alguns sintomas no homem: gânglios infartados; febre ligeira; mal-estar; e
pode ocorrer lesões em órgãos nobres (pulmões e cérebro).
15.3. A doença no animal não apresenta sintomas
15.4. Transmissão: ferimentos causados pelas unhas e/ou mordida dos gatos.
15.5. Medidas preventivas e de controle: ter cuidado ao lidar com gatos; orientar as
pessoas e principalmente as crianças para evitarem os arranhões dos gatos; e lavar e
desinfetar bem os ferimentos, imediatamente após o ocorrido.
16.
Leptospirose – do rato
a
(3 Zoonose estudada como transmitida pelo cão)
16.1. Transmissão: contaminação do solo e água com urina contaminada.
Contaminação do solo, água e alimentos. Também, pele e mucosas bucal e nasal.
16.2. Medidas preventivas e de controle: combater roedores, nas áreas de maior
risco; canalizar e limpar as margens dos córregos e rios no perímetro urbano; proteger os
grupos de risco: operários na limpeza de esgotos, córregos e demais áreas sujeitas à
contaminação. A vacinação contra a Leptospirose, o uso de botas, luvas e orientação
preventiva, são úteis; e proibir as pessoas de nadar ou lavar roupas em águas suspeitas de
contaminação.
17. Peste – do rato
17.1. Sinônimos: morte negra; e peste bubônica.
17.2. Agente etiológico (bactéria) Yersínia pestis ou bacilo da peste
17.3. Distribuição geográfica: todos os continentes, exceto na Austrália.
17.4. Transmissão: indireta e efetua-se pela pulga do rato. Esta se contamina ao sugar
o sangue do animal doente e posteriormente o homem, transmitindo-lhe a infecção.
17.5. Alguns sintomas no homem: “bubônica” – lesões nos gânglios e elevada
mortalidade; “septicemia” – bactérias invadem a corrente sanguínea – 100% letal; e
“pneumônica” – compromete os pulmões e é altamente contagiosa.
17.6. A doença no animal: roedores silvestres são resistentes; e os “ratos da cidade”,
são sensíveis, principalmente pela forma bubônica.
17.7. Medidas preventivas e de controle: evitar o contato dos roedores urbanos e
silvestres; ao eliminar os roedores, combater também as pulgas; vacinar pessoas atuantes em
áreas de risco; e isolar e tratar as pessoas doentes.
18. Tipo murino – do rato
18.1. Sinônimos: confusão mental; vapor; e outros.
18.2. Agente etiológico: Rickettsia typhi; e Rickettsia mooseri.
18.3. Distribuição geográfica: mundial.
18.4. Transmissão: o agente etiológico é depositado com as fezes da pulga, após a
picada desta.
18.5. Alguns sintomas no homem: febre; dores generalizadas; manchas na pele, com
exceção do rosto e palma das mãos; e vômitos.
Obs.: óbitos em torno de 2%. A doença não apresenta sintoma no animal, pois este é
portador sadio.
18.6. Medidas preventivas e de controle: combater os ratos e suas pulgas; evitar
condições capazes de propiciar a proliferação dos ratos; proteger e conservar os alimentos; e
solicitar ao Centro de Zoonose do Município, as providências necessárias à prevenção e
combate dos roedores.
19. Salmonelose – do rato
19.1. Agente etiológico (bactéria) Salmonela sp
19.2. Distribuição geográfica: mundial.
19.3. Transmissão: contaminação pelas fezes; e ingestão de alimentos contaminados.
19.4. Alguns sintomas no homem: hipertermia; cefaléia; dores abdominais; diarréia; e
vômitos.
19.5. A doença no animal: Na maioria das vezes é inaparente. Entretanto, no meio
ambiente, eliminam as fezes contaminadas.
19.6. Medidas preventivas e de controle: impedir o acesso de roedores aos locais de
manipulação ou conservação de alimentos; com técnicas para eliminar roedores; e evitar,
pelos meios possíveis, a presença de roedores em hospitais, refeitórios, cozinhas e outros.
20
Pneumonia por pneumocistos – do rato
20.1. Agente etiológico: Pneumocystis carini
Obs.: há estudos evidenciando que o “ADN” é semelhante ao de um fundo. (OPAS/PC n,
538, de 199)
20.2. Distribuição geográfica: mundial.
20.3. A doença no homem: Pneumonia, nas crianças, debilitados e aidéticos.
20.4. A doença no animal: Os ratos não apresentam sintomas, mas podem transmiti-la.
20.5. Transmissão: ainda não está definida.
20.6. Medidas preventivas e de controle: realizar medidas de desratização,
principalmente nas instituições de saúde; e medidas de higiene, em especial evitando-se o
uso da vassoura, pela poeira levantada.
21.
Doenças causadas por fungos ou micoses – do rato
21.1. Principais agentes etiológicos: Emmonia crescens; Emmonia Brasiliensis;
Tricophyton mentagrophytes; e Sporotrichum schenkii.
21.2. Distribuição geográfica: o Tricophyton mentagrophytes é de distribuição
mundial.
21.3. A doença no homem: As lesões dependerão do fungo contaminante.
21.4. A doença no animal: A forma pulmonar é grave tanto no animal, como no
homem.
21.5. Transmissão: por contato, maior nas pessoas trabalhando em biotério.
21.6. Medidas preventivas e de controle: higiene pessoal e do ambiente, bem como a
separação do animal doente, do biotério.
22. Salmonelose – do pombo
(JÁ ESTUDADA, COMO A 4a ZOONOSE DO RATO)
22.1. A doença no animal: Alta mortalidade nas aves jovens; e o pombo idoso quase
não manifesta a doença (portador sadio).
22.2. Transmissão: os dejetos contaminam a água, os alimentos e o meio ambiente.
22.3. Medidas preventivas e de controle: desinfetar regularmente os pombais;
quarentena para as aves doentes; e não permitir concentrações de pombo, excessivas na
cidade.
23. Ornitose – do pombo
23.1. Sinônimo: Clamidíase aviária
23.2. Agente etiológico: Chlamydia psitaci
23.3. Distribuição geográfica: mundial.
23.4. Transmissão: inalação do ar contendo gotas de secreção das aves doentes;
inalação de ar contendo gotas de secreção das aves doentes; vias aerógenas e, às vezes,
digestiva.
23.5. Alguns sintomas no homem: febre; insônia; tosse; delírio; e pode atingir os
pulmões e os aparelhos digestivo e circulatório.
23.6. Alguns sintomas na ave: secreção na região do bico; inflamação purulenta nos
olhos; bronquite; respiração com o bico aberto e ruidosa; e os pombos podem se tornar
portadores sadios.
23.7. Medidas preventivas e de controle: tratar as aves doentes; proceder à higiene
corporal do tratador; evitar o contato com secreções dos pombos doentes; evitar a formação
de colônias numerosas, e proceder outras medidas de educação sanitária e epidemiológica.
24. Criptococose – do pombo
24.1. Sinônimos: torulose; blastomicosis européia; e granulomatose criptocócica.
24.2. Agente etiológico: Criptococcus neoformans (fungo)
24.3. Distribuição geográfica: mundial.
24.4. Transmissão: presumivelmente pela inalação de poeira contendo partículas
ressecadas de fezes com o fungo.
24.5. Alguns sintomas no homem: lesões nos pulmões e outros órgãos; e meningoencefalite.
24.6. A doença na ave: A criptococose não ocorre nos pombos e o agente etiológico se
desenvolve bem nas suas fezes.
24.7. Medidas preventivas e de controle: umedecer com solução desinfetante, os
locais contaminados por fezes de pombos, para depois varrer; e controlar a população de
pombos; e
25. Raiva – do morcego
25.1. A doença no homem: igual à raiva transmitida pelo cão.
25.2. A doença no animal: modificação no comportamento, excitação e morte.
25.3. Transmissão: pela saliva, após a mordida; a raiva transmitida pelo morcego é
mais comum em bovinos e eqüinos e há casos humanos, embora raros.
25.4. Medidas preventivas e de controle: aplicação de anticoagulantes em
exemplares capturados; não tocar nos morcegos encontrados mortos; e outros.
26. Teníase e cisticercose – do porco
26.1. Agente etiológico Taenia solium
26.2. Distribuição geográfica: mundial.
26.3. Transmissão: auto-infestação
interna;
auto-infestação
externa;
e
heteroinfestação. A partir do cisticerco desenvolve-se a forma adulta, no intestino do
hospedeiro definitivo, o homem.
26.4. Alguns sintomas no homem: transtornos intestinais; náuseas; fraqueza; perda
de peso; existe gravidade, quando o cisticerco se aloja no cérebro, no coração, e outros.
26.5. Alguns sintomas no animal: febre; rigidez muscular; convulsão; lesões
cardíacas; e as larvas são encontradas nos músculos dos suínos infestados.
Nestes animais desenvolvem-se as formas imaturas da tênia, os cisticercos.
26.6. Medidas preventivas e de controle: dar destino adequado às fezes humanas,
evitando a contaminação do meio ambiente; não consumir carne de suíno ou lingüiça de
procedência desconhecida; e evitar a criação de suínos soltos em quintais ou soltos nas ruas;
e outros.
27. Brucelose – do porco
27.1. Sinônimo: febre ondulante; de malta; e aborto contagioso.
27.2. Agente etiológico: Brucella sp
27.3. Distribuição geográfica: mundial.
27.4. Transmissão: entre os suínos, é transmitida pela cobertura da fêmea. O contágio
para o homem pode ser direto, pelo contato da pele com material contaminado, como
placenta ou fetos resultantes de abortos das porcas doentes. Os alimentos contaminados e
ingeridos (como carne de porco mal cozida), podem transmitir Brucelose ao homem.
27.5. Alguns sintomas no homem: febre; calafrios; transpiração, com cheiro
característico (palha podre e/ou urina de rato), durante o sono; impotência; e depressão.
27.6. Alguns sintomas no animal: aborto; infertilidade; artrite; e inflamação acentuada
dos testículos.
27.7. Medidas preventivas e de controle: sacrificar os animais doentes e enterrá-los;
desinfetar o material e ambiente contaminados; não se alimentar de carne de porco mal
passada; denunciar os abatedouros clandestinos; e outros.
28. Erisipela – do porco
28.1. Sinônimo: ruiva; e erisipeloide de Rosenbach.
28.2. Agente etiológico (bactéria): Erisipelotrix insidiosa; e Erisipelotrix rhusopatieae.
28.3. Distribuição geográfica: mundial
28.4. Transmissão: o homem se contamina por contato direto, ao manipular alimentos
ou dejetos contaminados.
28.5. Alguns sintomas no homem: lesões com edema, arroxeado nas mãos e dedos;
dor latejante; sensação de queimadura; e grave, quando ataca o coração.
28.6. Alguns sintomas no animal: manchas avermelhadas na pele, nas partes:
abdominal, pescoço e orelhas; diarréia; dificuldade respiratória; septicemia; e morte.
28.7. Medidas preventivas e de controle: vacinar os suínos; isolar os animais
doentes; enterrar rapidamente os animais ao morrerem; desinfetar os objetos e o meio
ambiente por eles contaminados; e princípios básicos de higiene.
29.
Carbúnculo hemático – do caprino
29.1. Sinônimo: Antraz; e Pústula malígna.
29.2. Agente etiológico: Bacilus anthracis (bactéria)
29.3. Transmissão: contato direto da pele humana com ferimentos e/ou órgãos do
animal ou subproduto do abate (couro, lã, pêlos, farinha de osso, inalação de esporos e
ingestão de carne carbunculosa e outros). A forma pulmonar da doença é contraída pela
inalação das bactérias (sob a forma de esporos) no ar. A forma digestiva é conseqüente à
ingestão de alimentos ou água contaminada. Contaminação do solo, água e alimentos.
29.4. Distribuição geográfica: mundial
29.5. Alguns sintomas no homem e formas: cutânea: ferimento na pele com casca
preta afundada no ponto da lesão; gastrointestinal: vômitos; e diarréia sanguinolenta;
e pulmonar: febre e sintomas semelhantes a um resfriado.
OBS.: há risco de vida em todas as formas.
29.6. Alguns sintomas no animal: lesões cerebrais; e geralmente mortal.
29.7. Medidas preventivas e de controle: vacinar os animais, quando da
constatação nas proximidades; os animais doentes devem ser isolados, sacrificados e
imediatamente enterrados em buraco de 2 metros de profundidade, recoberto com uma
camada de cal virgem e terra; não expor ferimentos em contato com animais suspeitos; e na
suspeita de carbúnculo hemático, não fazer necropsia.
30.
Doenças de Newcastle – das aves terrestres
30.1. Sinônimo: Pseudopeste aviária.
30.2. Agente etiológico (vírus) Paramixovírus (gênero)
30.3. Distribuição geográfica: mundial.
30.4. Transmissão: manipulação dos frangos e seus subprodutos (ovos, carne e
penas). A infecção efetua-se pela poeira ou contato das mãos contaminadas por secreção e
fezes das aves, com os olhos do homem.
30.5. Alguns sintomas no homem: lacrimejamento; conjuntivite; febre ligeira; calafrios;
e faringite.
30.6. Alguns sintomas nas aves: problemas respiratórios; problemas no sistema
nervoso: tremores; cabeça virada para trás e para cima; e a mortalidade entre 10 e 90%.
Obs.: o pato é muito resistente.
30.7. Medidas preventivas e de controle: vacinar as aves; evitar levar as mãos aos
olhos ao manipular aves ou instalações do galinheiro; desinfetar as gaiolas contaminadas;
quarentena para as aves recém-adquiridas; manter limpo o local de criação de aves; e outros.
31.
Influenza ou gripe – das aves terrestres
31.1. Agente etiológico (vírus): Ortomixoviridae (família)
31.2. Distribuição geográfica: mundial.
31.3. Transmissão: o homem se contamina pela inalação de gotas de secreções,
provocadas pelos espirros das aves doentes; pelo contato da boca ou nariz com objetos ou
mãos contaminadas pelas secreções.
31.4. Alguns sintomas no homem: hipertermia; cefaléia; cansaço; fraqueza;
corrimento nasal; inflamação; e espirros. OBS.: pode evoluir para bronquite e pneumonia
31.5. Doença nas aves: respiração ruidosa e difícil; restabelecimento rápido; e a
mortalidade situa-se entre 1 a 3%.
31.6. Medidas preventivas e de controle: evitar o contato de pessoas idosas ou
portadoras de doenças pulmonares, cardíacas, ou renais, com criações de aves; isolar as
aves doentes; manter higiene adequada nos locais de criação; proteger convenientemente as
aves do vento e frio; e a vacina humana é usada em epidemias é específica e de curto
período de proteção.
32
Salmonelose – das aves terrestres
32.1. Agente etiológico: Salmonela sp
32.2. Distribuição geográfica: mundial.
32.3. A doença no homem e nos animais, estudada nos ratos e pombos.
32.4. Transmissão: o homem adquire a doença principalmente por via digestiva, ao
ingerir alimentos contaminados.
32.5. Medidas preventivas e de controle: cozinhar bem os alimentos, inclusive os
ovos; construir os galinheiros longe da cozinha e ao abrigo do vento; manter a higiene do
quintal, evitando levantar poeira e molhando o solo para não espalhar pelo ar partículas de
fezes contaminadas; e verificar a procedência das novas aves de criação, mantendo-as
isoladas para a observação durante alguns dias.
33. Febre amarela – do macaco e sagüi:
33.1. Sinônimo: vômito negro.
33.2. agente etiológico: Flavivírus (gênero) (vírus amarílico)
33.3. Distribuição geográfica: África e Américas.
33.4. Transmissão: transmitida do macaco ao homem através da picada do mosquito
do gênero Haemagogus e do Aedes leucocelaenus contaminados com o vírus ao picarem o
animal doente, repassando-o ao homem e ocorre principalmente em florestas úmidas,
podendo atingir a periferia das cidades.
O mosquito Aedes aegypti é o responsável pela transmissão da doença, de homem a
homem e do macaco ao homem: pela picada do mosquito haemagogos e do aedes
leucocelaenus, em florestas úmidas. No meio urbano, o responsável é o mosquito “aedes
aegypti”.
33.5. Alguns sintomas no homem: subitamente, febre alta; cefaléia; dor nas costas;
calafrios; vômitos; icterícia; e nos casos mais graves, o fígado e os rins são atingidos.
OBS.: a morte pode ocorrer entre o 3o e o 7o dia.
33.6. A doença no animal: a sensibilidade dos macacos varia segundo a espécie; o
macaco-aranha morre em poucos dias; e os sintomas apresentados, são semelhantes aos do
homem. No macaco e no homem, pode ser inaparente.
33.7. Medidas preventivas e de controle: vacinar as pessoas, principalmente as
expostas a doença; combater os mosquitos, com inseticidas, evitando a formação de coleção
de água; manter vigilância nas áreas onde o inseto transmissor tenha sido eliminado; e as
campanhas de vacinação vêm permitindo regiões urbanas ficarem livres da doença.
34.
Doença enterobacteriana por arizona – da tartaruga
34.1. Sinônimo: Salmonela arizona
34.2. Distribuição geográfica: mundial.
34.3. Agente etiológico: Arizona hinshawi (bactéria)
34.4. Transmissão: ingestão de alimentos contaminados pelas fezes.
34.5. A doença no homem: gastroenterite.
34.6. Doença na tartaruga: não apresenta sintomas: e as doentes, transmitem a
doença.
34.7. Medidas preventivas e de controle: cuidados ao consumir ovos de tartaruga;
evitar a criação deste animal, próximo a crianças, pela sua maior suscetibilidade; e manter
medidas adequadas de higiene, após lidar com tartarugas.
35.
Salmonelose – da tartaruga
35.1. Agente etiológico: Salmonela sp
35.2. Transmissão: as tartarugas eliminam as bactérias nos seus dejetos, podendo
contaminar o meio ambiente, a água e alimentos.
Ao passar pela cloaca, os ovos também se contaminam com a Salmonela.
35.3. Medidas preventivas e de controle: evitar a presença destes animais onde se
processam alimentos; evitar consumir ovos de tartaruga; e manter as medidas higiênicas ao
lidar com estes animais, lavando bem as mãos após o contato com os mesmos.
OBS.: zoonose estudada nos: rato, pombo e aves terrestres.
36.
Psitacose – do papagaio, arara e periquito
36.1. Sinônimo: Clamidíase aviária
36.2. Agente etiológico: Chlamydia psitaci
36.3. Distribuição geográfica: mundial.
36.4. Transmissão: A transmissão para o homem é feita através das secreções e
excrementos espalhados no ar, junto com poeira.
As pessoas mais atingidas, lidam com criações de papagaio e periquitos, com suas
penas ou penugens.
36.5. Alguns sintomas no homem: febre; calafrios; mialgias; anorexia; as formas leves
confundem-se com enfermidades respiratórias; e os sintomas persistem de 7 a 10 dias.
36.6. Alguns sintomas no papagaio, arara, periquito: anorexia; febre; diarréia; e
sintomas respiratórios.
Obs.: na grande maioria é inaparente.
36.7. Medidas preventivas e de controle: aves suspeitas, devem ser isoladas e/ou
sacrificadas; evitar demasiada permanência do homem no ambiente das aves; os
trabalhadores que manipulam penas e penugens, devem usar máscaras; e pessoas com
problemas respiratórios não devem trabalhar com aves.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
ACHA, P. N. et SZYFRES – Zoonosis y Enfermidades Transmissibles, comunes al
Hombre y a Animales – 2a ed. – Organização Pan-americana de Saúde: Publicación Científica
no. 503, 1989.
BLOOD et HENDERSON – Medicina Veterinária – 3a. ed. – traduzida para o espanhol
pelo Dr. Fernando Colchero – Barcelona: Editorial Interamericana S. S.
CORRÊA, W. M. C. – Enfermidades Infecciosas do Mamífero Doméstico – Rio de
Janeiro: Editora Medsi, 1992.
HIPÓLITO, C. et al. – Doenças Infecto-contagiosas dos Animais Domésticos – São
Paulo: Edição Melhoramentos, 1965.
HUTYRA, et al. – Enfermidades Infecciosas – Trad. Para o Espanhol pelo Prof.
MONTES; S.G.M. – Barcelona: Editorial Labor S.A., 1968.
MINISTÉRIO DA SAÚDE – Zoonoses de interesse em Saúde Pública Urbana – Brasília:
Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde – Divisão Nacional de Zoonoses, 1988.
[1]. Surgimento da doença.
[2]. Estudo da variabilidade da freqüência das doenças de ocorrência em massa, em função de variáveis
ambientais (físicos, químicos e biológicos – do agente e do hospedeiro) e populacionais (fatores culturais e
socioeconômicos), ligadas ao tempo e ao espaço.
[3]. Aplicação do método epidemiológico ao estudo de possíveis associações entre um ou mais fatores suspeitos
e um estado característico de ausência de saúde.
[4]. Visa empregar medidas de profilaxia a fim de impedir que os indivíduos sadios venham a adquirir a doença.
[5]. Visa baixar a incidência a níveis mínimos.
[6]. Depois de implantadas as medidas de prevenção, consiste na não-ocorrência de doença, mesmo em
ausência de quaisquer medidas de controle (incidência zero).
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