compreensão do espaço geográfico por meio do estudo da paisagem

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ISBN 978-85-8015-076-6
Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
COMPREENSÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO POR MEIO DO ESTUDO DA
PAISAGEM
RESUMO
Esta proposta de investigação da paisagem natural do município de Jacarezinho
ao longo do tempo teve como objetivo criar uma consciência crítica, ao observar a
paisagem, além de conhecer a paisagem natural do município, reconhecer que o
trabalho as necessidades e os interesses humanos são responsáveis pela
transformação das paisagens e construção e reconstrução do espaço geográfico.
PALAVRAS CHAVES: paisagem, espaço geográfico, transformação, trabalho,
tempo.
Introdução
Um dos conteúdos básicos da disciplina de geografia é a paisagem. Seu
estudo é muito importante, pois por meio dele é possível ao estudante
compreender o espaço em que vive, para alcançar esse objetivo é importante
pesquisar como a paisagem do lugar onde vive era constituída e as alterações que
sofreu ao longo dos anos, porque essas alterações ocorreram, e como as pessoas
que viveram, antes, nesse local, se relacionaram com ele. Como a geografia é
uma ciência que centraliza suas análises na relação sociedade - natureza,
pesquisar, refletir e discutir, na escola, esses aspectos é de suma importância
para que o aluno tome consciência que é a ação humana, o trabalho do homem
que transforma a paisagem dos lugares.
Estudando de forma mais específica o espaço geográfico do município de
Jacarezinho, observa-se que o mesmo sofreu, no decorrer de sua história, um
processo contínuo, acelerado e desordenado de desmatamento o que colaborou
para a escassez de cobertura vegetal, contribuindo para o surgimento de diversos
pontos de erosão do solo das áreas ocupadas de forma incorreta e de ribeirões
que assoreados, causam graves problemas e prejuízos para a população local.
É fundamental nesse estudo levar em conta que estudando a
transformação da paisagem local e a transformação ocorrida, nela, ao longo do
tempo contribui para a aprendizagem do conceito de paisagem natural e paisagem
cultural, assim, é necessário investigar a paisagem natural do município, conhecer
as dinâmicas do processo de transformação da paisagem natural, reconhecer as
transformações ocorridas na paisagem, perceber a atuação da sociedade na
modificação da paisagem natural, identificar problemas ambientais no município,
decorrentes da atuação humana na modificação da paisagem natural, participar de
ação concreta visando uma atuação consciente para a preservação da paisagem
natural do município.
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Breve estudo dos condicionantes do espaço geográfico de Jacarezinho
Sobre o espaço geográfico, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica
do Paraná o conceitua como o espaço produzido e apropriado pela sociedade
(PARANÁ, 2008 apud LEFEBVRE, 1974), composto pela inter-relação entre
sistemas de objetos naturais, culturais e técnicos e sistemas de ações-relações
sociais, culturais, políticas e econômicas (PARANÁ, 2008 apud SANTOS, 1996).
Além do ser humano outras instituições também praticam suas ações que
modificam e transformam o espaço geográfico.
Ainda, de acordo com as Diretrizes Curriculares, entende-se que para a
formação de um aluno consciente das relações sócio espaciais de seu tempo, o
ensino de geografia deve assumir o quadro conceitual das abordagens críticas
dessa disciplina, que propõem a análise dos conflitos e contradições sociais,
econômicas, culturais e políticas, constitutivas de um determinado espaço.
O conceito de paisagem, na discussão da Geografia, começou a ser
sistematizado no final do século XIX, a partir do pensamento naturalista e foi
marcado pela dicotomia entre paisagem natural e paisagem humanizada e cultural
(PARANÁ, 2008).
De acordo com a definição de Milton Santos, tudo o que vemos é
paisagem, tudo que está ao nosso redor e que nossa visão alcança é paisagem.
Para Vesentini paisagem é tudo o que a gente vê no horizonte, então tudo
que enxergamos quando olhamos em uma direção é paisagem (PARANÁ, 2008
apud SANTOS, 1996).
É importante reconhecer o significado da paisagem, pois ela é fruto das
relações sociais que se deram naquele espaço num determinado momento da
história daquela sociedade, pois o espaço resulta da relação entre a sociedade e a
paisagem. É possível perceber no espaço o movimento dessas vivências
anteriores.
Para iniciar as análises do espaço geográfico, a observação e a descrição
da paisagem são importantes, mas para compreendê-lo é necessário muito mais
que isso.
Segundo Cavalcanti (PARANÁ, 2008 apud CAVALCANTI, 2005), para
analisar a paisagem e atingir o significado de espaço é necessário que os alunos
compreendam que a paisagem atende a funções sociais diferentes, é
heterogênea, porque é um conjunto de objetos com diferentes datações e está em
constante processo de mudança. Portanto, a análise pedagógica da paisagem
deve ser no sentido de sua aproximação do real estudando por meio de diferentes
linguagens (PARANÁ, 2008 ).
Em relação a importância de se oportunizar aos alunos um ensino de
Geografia que coloque os estudantes em contato com o meio em que vive e possa
analisar e vivenciar, no dia a dia, o conteúdo que estudam na escola para
aprender de forma mais concreta e eficiente.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) propõem a seguinte
discussão: As abordagens atuais da geografia têm buscado práticas pedagógicas
que permitem colocar aos alunos as diferentes situações de vivência com os
lugares, de modo que possam construir compreensões novas e mais complexas a
seu respeito.
Nessa perspectiva busca-se que eles desenvolvam a capacidade de
identificar e pensar sobre a realidade atual compreendendo a relação sociedade-
natureza. Para que isso se concretize é necessário utilizar procedimentos de
problematização, observação, registro, descrição, documentação, representação,
e pesquisa dos fenômenos sociais, culturais ou naturais que compõem a
paisagem e o espaço geográfico, na busca e formulação de hipóteses e
explicações das relações, permanências e transformações que aí se encontram
em interação. Nesse contexto procura-se sempre a valorização do conhecimento
do aluno. Tendo em vista esses princípios abordados até agora em relação ao
estudo do espaço geográfico e da paisagem, tanto proposto pelas Diretrizes
quanto pelos Parâmetros Curriculares, é importante resgatar um pouco da história
da formação do município e destacar algumas características em relação ao seu
aspecto geográfico. O professor Thomas Aimone em seu livro Jacarezinho, seus
Pioneiros Desbravadores e os que labutam para o Progresso desta Terra enfatiza
a qualidade das terras roxas próprias para a agricultura, destaca a plantação da
rubiácea e da cana de açúcar. Destaca, também, o clima ameno e cercado de
inúmeros rios e riachos.
Percebe-se a ênfase dada pelo autor na vocação agrícola do município e
principalmente na produção do café e da cana de açúcar. Ele relata no livro o
plantio da cana de açúcar numa vasta área com centenas de alqueires plantados
e que o canavial cresceu assustadoramente e o fabrico do açúcar e da rapadura
aumentou bastante, assim como a produção de açúcar e álcool.
Nota-se, também, na narrativa do professor Thomas que o processo de
desmatamento era intenso e ocorreu a instalação de inúmeras serrarias, sendo a
peroba a árvore mais requisitada. Porém, havia outras espécies de árvores que
eram derrubadas e aproveitadas. Ainda sobre a derrubada das matas, o professor
Thomas Aimone, ainda escreve que em 1934 veio para Jacarezinho o senhor José
Vieira de Souza que se tornou o chefe da derrubada de matas, para a plantação
do café.
De acordo com o estudo intitulado Cenários do Norte Pioneiro do Paraná no
município de Jacarezinho, predominam os seguintes tipos de solo: podzólico
vermelho, amarelo, solos litólicos, latossolo vermelho - escuro, latossolo roxo,
terra roxa estruturada e solos hidromórficos gleyzados indiscriminados (PARANÁ,
2000, p.14).
Essa variedade de solos que formam o município garante também a
possibilidade de diversas culturas como o café, cana de açúcar, milho, arroz,
feijão, soja, trigo, entre outros. Segundo o mesmo documento, o mês mais
chuvoso normalmente é janeiro variando de 150 a 120 mm conforme (PARANÁ,
2000, p. 16 - 17).
O tipo de clima do município de Jacarezinho é classificado como Cfa: clima
subtropical, temperatura média no mês de mais frio inferior a 18ºC, temperatura
média do mês mais quente acima de 22ºC com verões mais quentes e geadas
pouco frequentes.
Os solos férteis e planos resistem a mecanização e aliados a temperaturas
altas favorecem a exploração de culturas como grãos, café e cana (PARANÁ,
2000, p.19 - 20).
O relevo de Jacarezinho é diverso o que permite várias explorações,
praticamente não se constituindo limitação para novos empreendimentos. São
poucas as práticas de conservação dos recursos naturais, e os tipos de solo
apresentam graus de sensibilidade à erosão e indicam que a degradação é um
fator preocupante, e que requer atenção quanto a implantação de novos
empreendimentos.
A região do Norte Pioneiro está inserida no sistema hidrográfico do Rio
Paraná, fazendo parte da Bacia do Rio Paranapanema, mais especificamente 35%
do município de Jacarezinho localiza-se na Bacia do Rio da Cinzas e 65% na
Bacia do Rio Paranapanema I.
São muitos os problemas que ao longo dos anos causaram a diminuição
das florestas no município de Jacarezinho, como reflorestamentos de modo
desorganizado, a falta de tradição em atividades de silviculturas dificulta a
introdução da atividade florestal, a deficiência de informação dos agricultores em
relação a renda econômica possibilitada pela atividade florestal, também a
resistência desses agricultores ao tempo necessário que a atividade demonstre
seus resultados e o desconhecimento de tecnologias silviculturais adequadas, em
face da obtenção de resultados desejados. Assim, a questão florestal aliada com
as demais preocupações do meio ambiente diagnostica a necessidade de um
novo modelo tecnológico de produção agropecuária que equilibre os sistemas de
produção ao meio ambiente e tenha como especial objetivo a sustentabilidade da
agricultura.
Em relação a paisagem natural no Paraná pode-se distinguir cinco grandes
paisagens naturais que são: o litoral, a serra do mar, o primeiro planalto ou de
Curitiba, o segundo planalto ou de Ponta Grossa e o terceiro planalto ou de
Guarapuava. Jacarezinho situa-se, exatamente, no limite entre o segundo e
terceiro planaltos.
Quanto
as
potencialidades
minerais
detectadas
no
Município
de
Jacarezinho, o Programa Levantamento das Potencialidades Minerais dos
Municípios aponta que as argilas para o fabrico de produtos estruturais em
Cerâmica Vermelha tem grande importância econômica e social por estarem
associadas à indústria da construção civil. Em Jacarezinho já é uma tradição a
exploração de arenitos silidificado da Formação Botucatu, no entanto, essa
formação geológica, aflorante, poderá fornecer, também, areias para a construção
civil e areias quartzosas de diversificado uso industrial.
A maioria das fontes de água potável do município de Jacarezinho, estão
situadas em terrenos de Formação Botucatu. As outras formações existentes na
área são de natureza argilosa, impermeáveis, de baixa vazão e, via de regra,
fornecem água "salobra". São muito importantes os conhecimentos sobre a
distribuição dos aquíferos, pois a água é essencial à vida dos seres vivos e
necessária aos empreendimentos que se queira realizar.
São
necessários
estudos
mais
detalhados
para
indicar
outras
potencialidades minerais na região e mais especificamente em Jacarezinho
principalmente em relação às argilas montmorieleníticas ou bentoníticas, bauxita,
quartzo e ágata. Existem indícios da presença desses minerais nas áreas
estudadas, mas a comprovação de suas existências e em que potencial requer,
estudos mais específicos, onde o fator estrutural deve ser considerado
(PARANÁ,1998,p.44)
Não se pode desconsiderar nesse estudo os apontamentos relativos a
ocupação do solo e erosão, mostrando que os processos intempéricos de
alteração transformaram espessos pacotes de arenito da Formação Botucatu em
solos. De fato, em superfície, a faixa de ocorrência dessa formação caracteriza-se
por solos avermelhados, permeáveis, incoesos e, portanto, muito susceptíveis à
erosão.
No município de Jacarezinho os principais focos de erosão estão
entalhados nesses solos. A cidade de Jacarezinho, em grande parte, está
assentada sobre esse tipo de solo.
1.2 Estudar a Paisagem para Compreender o Espaço Geográfico
Para um estudo mais efetivo, dinâmico e concreto, visando uma discussão
e apropriação de conteúdos mais eficiente sobre a modificação da paisagem
natural e compreensão do espaço geográfico é que se propôs a leitura de textos
de autores que apresentam diferentes conceitos para o tema paisagem.
O estudo dos condicionantes do espaço geográfico do município de
Jacarezinho é: solo, clima, relevo, hidrografia, cobertura florestal, características
geomorfológicas, substâncias minerais, água potável, ocupação do solo e erosão.
Também é de fundamental importância rever aspectos da história do
município, como foi sua ocupação, quais atividades econômicas foram relevantes
em cada época e a forma como o meio natural foi modificado pelo trabalho
humano para satisfazer suas necessidades e interesses.
Todas essas abordagens oportunizam, também, a reflexão sobre a
constante mudança que ocorre nela. Milton Santos (1982), por exemplo, revela o
conceito de paisagem como algo não estanque no espaço, e sim que a cada
período histórico se altera, renova e se adapta para atender os novos paradigmas
do modo de produção social.
Beringuier (1991) enfatiza que, a paisagem que vemos hoje não será a
mesma que veremos amanhã e nem tão pouco é a que vimos ontem, pois a
paisagem é produzida e reproduzida no decorrer do tempo.
Além das leituras, as atividades sugeridas para serem aplicadas no ensino
aprendizagem desse tema foram muito eficientes e bem aceitas por aqueles que
participaram das discussões propostas pelo Grupo de Trabalho em Rede (GTR),
que consideraram o seguinte, a respeito de um estudo, voltado para uma análise
mais aprofundada, do espaço geográfico, que no ensino da Geografia é muito
importante a observação da paisagem, a reflexão sobre o que acontece no lugar
que vivemos, que é necessário, também os questionamentos sobre por que essa
paisagem é assim hoje? Como ela era antes? Quem a modificou? Por que houve
essa modificação? Poderia naquele momento ter sido feito diferente? Quais as
consequências dessa alteração? O que é possível fazer hoje para minimizar os
prejuízos?
Os participantes do GTR ainda consideraram que, abordar esse tema no
âmbito local contribui para que os alunos tomem consciência de suas próprias
ações no lugar onde vivem. A contextualização fica mais fácil, eles terão a
oportunidade de ver as transformações ocorridas e que estão ocorrendo em loco.
A partir dessa percepção, os alunos podem avançar para âmbitos mais amplos
com no Estado, no País e no Mundo.
A experiência de vivenciar os fatos podendo ir ao local, enxergar, tocar,
sentir, observar, refletir e perceber as consequências dele no seu dia a dia pode
ser um fator determinante para que o desafio de se conseguir que a legislação
ambiental precisa ser mais divulgada e trabalhada tanto no campo escolar como
em outros setores públicos e privados, assim, cada vez mais aumentar o número
de pessoas com a preocupação de lidar com a paisagem natural de forma mais
sustentável para que a sociedade e o meio em que vivemos possam se
harmonizar e consequentemente ter uma qualidade de vida melhor.
Os cursistas do GTR consideraram também, um aspecto importante nessa
proposta que é o de criar uma consciência crítica do processo de construção e
reconstrução das paisagens no espaço vivido para além dos conhecimentos que
trazem o livro didático sobre paisagem. A proposta deste trabalho procura
desenvolver um resgate histórico do município de Jacarezinho, com imagens
antigas e atuais para serem comparadas e com o trabalho de campo, os alunos
vão perceber que as paisagens são transformadas pela ação humana ao longo do
tempo, pois os habitantes que os antecederam tinham necessidades e interesses,
além das intenções políticas e as atividades econômicas predominantes de cada
época que contribuíram para que a paisagem desse espaço seja como é hoje.
É importante, também, e é uma preocupação dessa proposta, os
questionamentos sobre as formas como as paisagens foram modificadas, as
consequências dessas transformações para a realidade atual.
Essas pontuações realizadas pelos colegas participante do GTR reafirmam
a relevância da observação e leitura de diversas imagens antigas da paisagem do
município confrontadas com as imagens atuais, despertou muita curiosidade e
interesse nos alunos. Ir até os lugares mostrados nas imagens antigas possibilitou
a observação crítica em relação as mudanças ocorridas e questionamentos
relacionados as transformações.
Dessa forma, os alunos puderam reconhecer que o trabalho e as
necessidades humanas são responsáveis pela transformação das paisagens ao
longo do tempo, compreenderam a necessidade de atuação consciente do homem
ao promover modificações na paisagem natural, identificaram problemas urbanos
e rurais causados pela modificação sem critérios da paisagem.
Numa perspectiva crítica, como propõe as Diretrizes Curriculares, algumas
perguntas devem orientar o pensamento geográfico e o trabalho do professor, tais
como: Onde? Como é este lugar? Por que este lugar é assim? Por que aqui e não
em outro lugar? Por que as coisas estão dispostas desta maneira no espaço
geográfico? Qual o significado desse ordenamento espacial? Quais as
consequências
deste
ordenamento
espacial?
Por
que
e
como
esses
ordenamentos se distinguem de outros? (PARANÁ, 2008)
Para responder a tais questões, conforme a concepção de espaço
geográfico adotada pelas Diretrizes é necessário compreender a intencionalidade
dos sujeitos e as ações que levou as escolhas das localizações; os determinantes
históricos, políticos, sociais, culturais e econômicos de tais ações (PARANÁ,
2008). Para a Geografia o conceito de paisagem tem um significado mais
abrangente. Segundo Milton Santos (apud ADAS, 2011.p. 16) "paisagem é aquilo
que nossa visão alcança tudo o que está presente no espaço, não apenas a
natureza, mas também elementos criados pelo ser humano".
Nas paisagens estão inseridos todos os elementos presentes no espaço
geográfico: os elementos naturais (vegetação, relevo, clima, nuvens, montanhas,
entre outros) e os elementos culturais (que são produzidos pela sociedade: carros,
edifícios, estradas, campos de cultivo, casas, prédios industriais, redes de água e
esgotos, entre outros).
2. Considerações Finais
Foi muito produtivo os exercícios propostos de observação das paisagens
pois os alunos tiveram a oportunidade de elencar elementos naturais e culturais
vistos no percurso de casa até a escola que antes não haviam sido percebidos.
Puderam desenhar uma paisagem que estavam acostumados a observar
e identificaram no desenho os elementos naturais e os culturais. Após observação,
leitura e desenho escreveram sua definição para paisagem e confrontaram com a
definição do livro didático utilizado em sala de aula.
Já o uso de imagens possibilitou aos alunos o desenvolvimento de um
conhecimento mais amplo, pois os aproximou de conteúdos teóricos do cotidiano.
O estudo de elementos e ações que juntos compõem o espaço geográfico,
fez os conhecimentos da geografia ficarem mais próximos da realidade deles. Por
meio das imagens foi possível identificar aspectos ligados a evolução econômica
da cidade, relacionar o patrimônio histórico e as transformações sociais e
ambientais pelas quais a cidade vem passando nos últimos tempos.
No exercício de observação de um Afloramento da Formação Botucatu,
por exemplo, os alunos tiveram a oportunidade de questionar se aquela paisagem
sempre foi assim, tentaram imaginar como era antes, como foi modificada, até
alcançar a forma apresentada atualmente na imagem. Observaram ainda, quais
agentes foram responsáveis pela modificação dessa paisagem, se essas
modificações ocorreram de forma lenta ou rápida.
Também analisaram nas fotografias antigas elementos muito diferentes
dos que são encontrados atualmente. Em uma foto de 1940, por exemplo, não
conseguiram identificar o lugar e se surpreenderam com a forma de trabalho e
construções que nunca tinham presenciado nem tinham noção que havia.
Puderam também, perceber o quanto a cidade cresceu e se surpreenderam com a
forma de construção das residências naquela época.
Em uma fotografia de 1954 que retratava um desfile cívico, os alunos se
surpreenderam com parte da Avenida Getúlio Vargas que se apresenta
irreconhecível em relação aos aspectos atuais. Constataram a inexistência das
árvores no canteiro central desta avenida, o calçamento composto por
paralelepípedos e também o início da construção da Catedral com a
terraplanagem e os andaimes.
Os alunos analisaram quais elementos predominavam (natural ou
cultural), quais lugares sofreram mais a intervenção humana e por quê?
Nas imagens de uma antiga fazenda de café que ainda mantém a
estrutura do período da grande produção, verificaram como era o processo de
produção de café desde o plantio a colheita, a secagem, o armazenamento e seu
beneficiamento.
Em relação a entrevista com o proprietário da antiga fazenda de café,
puderam compreender como era realizado o trabalho nos cafezais e a importância
do café para a economia do município naquele período e reconheceram as
manifestações dessa produção na paisagem urbana que ainda preserva muitos
armazéns, galpões, máquinas, estação ferroviária (desativada)
edifício e
armazéns do IBC, onde os vagões dos trens adentravam para serem carregados
de café, hoje em ruínas.
Por meio das informações do entrevistado também puderam compreender
o declínio da produção cafeeira no município, pois ele vive em Jacarezinho desde
1946 e o quanto a história do município está ligada ao café.
Ao observar as imagens antigas desses lugares tentaram relatar como era
a movimentação diária neles. Outra estratégia metodológica que contribuiu muito
para revisar e fixar os conhecimentos em Paisagem e Espaço Geográfico foi a
utilização do bingo da paisagem. Por meio dele, vários aspectos dos conteúdos
estudados puderam ser relembrados e repensados.
Utilizou-se também uma música popular e o hino do município de
Jacarezinho para contextualizar o estudo da paisagem. Este recurso didático foi
ótimo para identificar elementos naturais e culturais e os alunos gostaram muito.
O trabalho de campo trouxe grandes benefícios para o ensino e
aprendizagem do espaço geográfico, pois para a compreensão da organização
deste espaço pressupõe não só um aprofundamento teórico, mas também um
contato direto e investigador levando em conta a observação, identificação,
reconhecimento, localização, percepção, compreensão e análise do espaço
geográfico e a dinâmica de sua organização.
Um dos conteúdos básicos da disciplina de Geografia é a paisagem e
percebe-se que ao ser estudado no Ensino Fundamental, mas não é dado a ela
importância necessária, além de não ocorrer um aprofundamento maior no estudo,
da paisagem, do espaço vivido pelo aluno que é o do seu município, do lugar onde
mora, dos espaços que frequenta, dos trajetos que faz diariamente, do entorno da
sua escola, das ruas de sua cidade, e acaba-se por deixar de aproveitar essa
grande oportunidade de propiciar ao aluno a observação de muitos elementos e
acontecimentos que passam despercebidos, que não são pensados e não são
questionados.
Uma abordagem e uma reflexão mais sistemática nesse sentido poderiam
contribuir muito para que os estudantes conheçam como seu espaço era
constituído e as alterações que ele sofreu ao longo do tempo, porque ocorreram
essas alterações e como as pessoas que viveram antes, nesse espaço se
relacionaram com ele, quais as consequências da atuação do homem nesse local
e que o trabalho e as necessidades humanas são responsáveis pela construção e
reconstrução da paisagem do espaço onde se vive.
Essas transformações são observadas a cada dia quando transitamos
pelas ruas das cidades, pelas rodovias e pelas imagens veiculadas pelos meios de
comunicação. Elas têm como objetivo suprir as necessidades e interesses
humanos, mas é possível perceber que nem sempre elas obedecem a critérios
para não afetar de forma tão intensa o meio ambiente e por muitas vezes acabam
ocasionando descontroles ambientais que levam a ocorrência de catástrofes e
grandes prejuízos, tanto a natureza quanto à sociedade.
A capacidade de conhecer o mundo identificando a diversidade existente
nele pode favorecer e levar o aluno a compreender a construção das paisagens,
dos lugares e dos territórios.
No mundo atual se torna muito importante que o sujeito consiga identificar
e fazer avaliações das ações dos homens na sociedade e as consequências
dessas ações nesse espaço ao longo do tempo, podendo participar das decisões
quanto às questões sócio ambientais do lugar em que vive. Algumas modificações
que ocorreram na paisagem do município, pela própria natureza e pela ação do
homem, no meio em que vive, devido as suas necessidades e interesses.
Na observação da figura 1 é possível discutir com os alunos a ação do
intemperismo sobre a rocha ao longo do tempo e também a ação do homem.
Na
figura 2 uma
construção que abrigava
antiga
máquina de
beneficiamento de café.
A figura 3 mostra uma parte dos armazéns de café do IBC estão hoje em
ruínas.
Na figura 4 uma parte da estrutura que foi construída para a produção do
café em uma antiga fazenda que produzia café no município e que preserva as
características até hoje.
A figura 5 uma imagem panorâmica da uma parte da cidade, na qual é
possível observar o crescimento desordenado da cidade, o desmatamento, a
topografia do município além de uma parte da área rural.
Em seguida estão elencadas, as principais fotos utilizadas para o
desenvolvimento desta pesquisa.
Figura 1: Ação do Intemperismo BR 153
Figura 2: Construção que abrigava antiga máquina de beneficiamento de café.
Figura 3: Parte dos armazéns de café do IBC
Figura 4: Parte da estrutura construída para a produção do café em uma antiga fazenda
Figura 5: Imagem panorâmica de Jacarezinho
REFERÊNCIAS
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SANTOS, Milton "Pensando o espaço do homem" São Paulo: Hucitec, 1982.
SILVA, Geraldo. O Gato e o Velho. Navegando na Poesia. Coletânea de Poetas
e Poetisas de Jacarezinho. IV Volume. Jacarezinho, 2013.
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