UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM CIÊNCIAS MORFOLÓGICAS Caracterização de Linhagens de Carcinoma de Mama e Papel do Fator Tecidual em Células-Tronco do Câncer ARACI MARIA DA ROCHA RONDON RIO DE JANEIRO 2012 ii Araci Maria da Rocha Rondon Caracterização de Linhagens de Carcinoma de Mama e Papel do Fator Tecidual em Células-Tronco do Câncer Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Morfológicas. Orientadora: Profª Maria Isabel Doria Rossi Laboratório de Biologia Celular Aplicada à Medicina Instituto de Ciências Morfológicas - UFRJ Co-Orientador: Profº Robson de Queiroz Monteiro Laboratório de Trombose e Câncer Instituto de Bioquímica Médica - UFRJ RIO DE JANEIRO 2012 iii Araci Maria da Rocha Rondon Caracterização de Linhagens de Carcinoma de Mama e Papel do Fator Tecidual em Células-Tronco do Câncer Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Isabel Doria Rossi Co-Orientador: Prof.ª Dr.ª Robson Queiroz Monteiro Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Morfológicas. Revisão: Prof.ª Dr.ª Valéria de Mello Coelho, ICB/UFRJ Avaliadores: Prof.ª Dr.ª Tatiana Lobo Coelho de Sampaio, ICB/UFRJ Prof.ª Dr.ª Vivian Mary Barral Dodd Rumjanek, IBqM/UFRJ Prof.ª Dr.ª Adriana Cesar Bonomo, IMPPG/UFRJ e Fiocruz Suplentes: Prof.ª Dr.ª Valéria de Mello Coelho, ICB/UFRJ Prof.ª Dr.ª Lina Benedeta Zingali, IBqM/UFRJ MAIO/2012 iv RONDON, Araci Maria da Rocha Caracterização de Linhagens de Carcinoma de Mama e Papel do Fator Tecidual em Células-Tronco do Câncer/Araci Maria da Rocha Rondon. Rio de Janeiro: UFRJ/ICB/PCM, 2012. xiii, 59 p. il. Orientadores: Maria Isabel Doria Rossi e Robson de Queiroz Monteiro Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto de Ciências Biomédicas/ Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas, 2012 1.Câncer de Mama. 2. Células-Tronco do Câncer. 3. Fator Tecidual. 4. Coagulação Sanguínea. 5. Biomarcadores. 6. Biologia Celular – Tese. I. Rossi, Maria Isabel Doria. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Biomédicas, PCM. III. Título v Agradecimentos Aos meus pais, por me possibilitarem fazer o que realmente gosto. Ao meu pai, por sempre apoiar minhas decisões. À minha mãe, pelo amor infinito e incentivo durante minha formação. Aos meus irmãos, Leonardo, Clarisse e Emanuel, pelo companheirismo desde sempre. Aos meus sobrinhos, primos e afilhados por alegrarem meus dias. Aos meus amigos queridos: Débora, Flavia, Janaína, Stephan e Taíssa. Ao Thiago, pelos questionamentos, por sempre estar disponível para me ouvir e ajudar. Aos meus amigos, também amantes da pesquisa, pelo apoio nas horas difíceis. Às minhas companheiras do Laboratório de Biologia Celular Aplicada à Medicina: Ana Paula, Anneliese, Daiana, Danielle, Mariana, Rhayra e Suzanna. Um especial agradecimento à Ana Paula e Anneliese, pelo envolvimento com este trabalho. Às minhas companheiras do Laboratório de Trombose e Câncer: Ana Carolina, Andréia Mariano, Andréia Oliveira, Angélica, Daniella, Giana, Jorgeane, Luize e Tatiana. Especialmente a Andréia Oliveira, Angélica, Giana e Luize pela ajuda nos experimentos. Aos meus colegas do Laboratório de Cultura e Criopreservação de Medula Óssea, pelo apoio e amizade. Ao Professor Roger Chammas e sua aluna de pós-doutorado Camila Machado, pela colaboração. À profª Isabel, pela orientação durante a iniciação científica e mestrado, por acreditar em mim e por ser um exemplo de comprometimento com a ciência e educação. Ao prof. Robson, pela co-orientação, pelo grande incentivo e participação na minha formação. À Capes-CNPq pelo suporte financeiro. vi Resumo Apesar da detecção precoce do câncer de mama, algumas pacientes sofrem recaída no período de cinco anos após o tratamento. A identificação de potenciais biomarcadores de prognóstico ruim pode orientar a abordagem terapêutica e melhorar a sobrevida da paciente. O Fator Tecidual (FT), uma proteína que inicia a coagulação sanguínea ao se ligar ao Fator VIIa (FVIIa), tem sido reconhecido como um marcador de progressão tumoral e metástase. Em câncer de mama, células com o fenótipo CD44+CD24-/lo tem sido descritas como célula-tronco do câncer (CTC), que originam células luminais mais diferenciadas CD24 +. Entretanto, dados recentes sugerem que a transição epitélio-mesenquimal (TEM) pode gerar células com característica de CTC. O objetivo deste estudo foi investigar a expressão e função de FT em linhagens de câncer de mama, correlacionando com a expressão das moléculas CD44 e CD24 e comportamento invasivo. A linhagem de carcinoma mamário MDA-MB-231 apresentou fenótipo CD24-, Basal e invasivo. Enquanto a linhagem MCF-7 apresentou fenótipo CD24+, Luminal e não invasivo. Curiosamente, na linhagem T-47D, classificada como Luminal, foram identificadas duas subpopulações, CD44+CD24-/lo e CD44-CD24+. Estas subpopulações foram selecionadas e verificou-se que mantiveram fenótipo estável in vitro. A análise da morfologia e da capacidade invasiva das linhagens em modelo tridimensional de medula óssea do tipo esferoide mostrou uma correlação direta com o fenótipo. Ao avaliar o potencial pró-coagulante das linhagens, este foi associado à capacidade invasiva e correlacionou-se a expressão e atividade da proteína FT. Ou seja, as linhagens com o fenótipo Basal/CTC (MDA-MB-231 e T-47DCD44+CD24-/lo) foram pró-coagulantes e positivas para FT e as linhagens com fenótipo Luminal (MCF-7 e T-47DCD44-CD24+) apresentaram baixos ou indetectáveis níveis de FT e não foram capazes de iniciar a coagulação sanguínea. Como os níveis de FT foram distintos entre células com maior ou menor agressividade (atividade invasiva e prócoagulante), a regulação do FT pode estar associada a processos de progressão tumoral, através de eventos como CTC e TEM no câncer de mama. vii Abstract Despite early detection of breast cancer, some patients relapse within five years after treatment. Identification of potential biomarkers of poor prognosis may guide the therapeutic approach and improve patient’s survival. Tissue factor (TF), a protein that initiates blood clotting upon binding to coagulation factor VIIa (FVIIa), has been recognized as a marker of tumor progression and metastasis. In breast cancer, cells with the phenotype CD44+CD24-/lo have been described as cancer stem cells (CSC) that originate the more differentiated luminal CD24+ cells. However, recent data suggest that epithelial-mesenchymal transition (EMT) generates cells with CSC characteristics. The aim of this study was to investigate the expression and function of TF in breast cancer cell lines correlating with the expression of CD44 and CD24 molecules and invasive behavior. MDA-MB-231 cells were CD24- and showed a Basal and invasive phenotype. MCF-7 cells were CD24+ and showed a Luminal and noninvasive phenotype. Interestingly, we identified two subpopulations, CD44+CD24/lo and CD44-CD24+, in T-47D cell line that is classified as Luminal. These subpopulations were selected and the phenotype remained stable in vitro. Analysis of morphology and invasive capacity in a three-dimensional culture model of bone marrow spheroids showed a direct correlation with the phenotype. The procoagulant potential was evaluated and it was associated with invasiveness, TF expression and activity. Cell lines with the Basal/CTC phenotype (MDA-MB-231 e T-47DCD44+CD24/lo ) were procoagulant and positives for TF while cells with Luminal phenotype (MCF7 e T-47DCD44-CD24+) exhibited low or undetectable levels of TF and were not able to initiate blood clotting. Since TF levels were distinct between cells with higher or lower aggressivity, FT regulation may be associated with tumor progression through events like CSC and EMT in breast cancer. viii Lista de Siglas e Abreviaturas BSA Albumina Sérica Bovina (Bovine Serum Albumin) CD24 Cluster De Diferenciação 24 (Cluster of Differentiation 24) CD24pos CD24 positivo ou CD24+ CD44 Cluster De Diferenciação 44 (Cluster of Differentiation 44) CD44pos CD44 positivo ou CD44+ CFSE 5-(e 6)- Carboxifluoresceína Diacetato de Succinil Éster CFU-F Unidade Formadadora de Colônia Fibroblastoide (Colony Forming Unit Fibroblast) CTC Célula-tronco do Câncer (CSC, Cancer Stem Cell) DMEM Meio Eagle Modificado Por Dulbecco (Dulbecco’s Modified Eagles Medium) EDTA Ácido Etilenodiamino Tetra Acético (Ethylene Diamine Tetraacetic Acid) TEM Transição Epitélio-Mesenquimal (EMT, Epithelial-Mesenchymal Transition) TNM Classificação Tumor-Nódulo-Metástase FT Fator Tecidual (TF, Tissue Factor) FVII Fator Sete FVIIa Fator VII ativado FX Fator Dez FXa Fator X ativado FACS Separador de Células Ativado por Fluorescência (Fluorescence Activated Cell Sorter) ix GAPDH Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase HE Hematoxilina e Eosina HER2 Receptor do Fator de Crescimento Epidérmico Humano Tipo 2 IMDM Iscove’s Modified Dulbecco’s Medium (Meio Dulbecco Modificado por Iscove) MMPs Metaloproteases MO Medula Óssea MSC Células Mesenquimais de Estroma Multipotentes (Mesenchymal Stromal Cells) NOD/SCID Diabético Não Obeso/Imunodeficiência Combinada Severa (Non-Obese Diabetes/ Severe Combined Immunodeficiency) PAR Receptores Ativados por Proteases (Protease-activated receptor) PE Phycoerythrin (ficoeritrina) SFB Soro Fetal Bovino PBS Salina Tamponada Com Fosfato (Phosphate Buffered Saline) RP Receptor de Progesterona (Progesterone Receptor) RE Receptor de Estrogênio (Estrogen Receptor) x Sumário 1. 2. 3. Introdução........................................................................................................... 1 1.1. Epidemiologia do Câncer de Mama .............................................................. 1 1.2. Diagnóstico e Classificações ........................................................................ 2 1.3. Heterogeneidade Tumoral ............................................................................ 7 1.4. Metástase ................................................................................................... 11 1.5. Câncer e Alterações na Coagulação Sanguínea ........................................ 17 1.6. Fator Tecidual e Sinalização Celular........................................................... 21 1.7. FT em CTC e Justificativa do Estudo .......................................................... 22 Objetivos ........................................................................................................... 24 2.1. Objetivo Geral ............................................................................................. 24 2.2. Objetivos Específicos .................................................................................. 24 Material e Métodos ........................................................................................... 25 3.1. Células e Amostras ..................................................................................... 25 3.2. Obtenção de células mesenquimais do estroma da medula óssea ............ 25 3.3. Cultivo em sistema de cultura tridimensional do tipo Matrigel ..................... 26 3.4. Diferenciação para linhagem osteogênica das MSC................................... 27 3.5. Modelo de cultura tridimensional do tipo esferoide .................................... 27 3.6. Ensaio de invasão ....................................................................................... 27 3.7. Histologia .................................................................................................... 28 3.8. Imunofluorescência ..................................................................................... 28 3.9. Citometria de fluxo ...................................................................................... 29 3.10. Tempo de Recalcificação do Plasma Sanguínea ........................................ 30 3.11. Ensaio de Ativação do Complexo de Tenase Extrínseco ............................ 31 xi 4. Resultados ........................................................................................................ 32 4.1. Caracterização fenotípica das linhagens de tumor de mama quanto à expressão das moléculas CD24 e CD44 ................................................................... 32 4.2. Caracterização das subpopulações CD24pos e CD24neg da linhagem T47-D .....................................................................................................................35 4.3. Análise da invasão de linhagens de carcinoma de mama em modelo de cultura tridimensional ................................................................................................ 37 4.4. Indução de atividade pró-coagulante por linhagens de carcinoma de mama . .....................................................................................................................40 4.5. Expressão de Fator Tecidual nas linhagens de carcinoma de mama ......... 42 4.6. Análise da ativação da cascata de coagulação medida pelo FT presente nas células de carcinoma mamário ........................................................................... 47 5. Discussão ......................................................................................................... 48 6. Conclusões ....................................................................................................... 54 7. Referências Bibliográficas .............................................................................. 55 xii Lista de Figuras FIGURA 1. A sobrevida relativa de 10 anos correlaciona com o estadiamento tumoral.. ...................................................................................................................... 3 FIGURA 2. Unidade lobular dutal terminal (TDLU). ..................................................... 7 FIGURA 3. Modelos de heterogeneidade em tumores sólidos.................................... 9 FIGURA 4. Transição Epitélio-Mesenquimal (TEM) e plasticidade epitelial. ............. 13 FIGURA 5. Modelos da cascata metastática. ............................................................ 14 FIGURA 6. Curva de sobrevida de pacientes com câncer de mama pós-cirurgia de acordo com a presença ou não de células tumorais disseminadas nos linfonodos ou MO. ........................................................................................................................... 16 FIGURA 7. Cascata de coagulação sanguínea. ........................................................ 20 FIGURA 8. Papéis distintos do FT na biologia tumoral. ............................................ 21 FIGURA 9. Expressão fenotípica das moléculas CD24 e CD44 em linhagem de tumor de mama. ........................................................................................................ 33 FIGURA 10. Seleção por citometria de fluxo das subpopulações da linhagem de tumor de mama T-47D. ............................................................................................. 34 FIGURA 11. Expressão de CD44 e CD24 nas células T-47D selecionadas por citometria de fluxo e mantidas em cultura por 3 meses.. .......................................... 34 FIGURA 12. Aspectos morfológicos das subpopulações T-47D CD24neg e T-47D CD24pos em cultura.................................................................................................... 35 FIGURA 13. Aspectos morfológicos das subpopulações T-47D CD24neg e T-47D CD24pos em Matrigel.................................................................................................. 36 FIGURA 14. Co-culturas de esferoides de MO com células T-47D CD24neg, T-47D CD24pos, MDA-MB-231 ou MCF-7. ............................................................................ 38 FIGURA 15. Tempo de coagulação do plasma sanguíneo em contato com linhagens de câncer de mama.. ................................................................................................. 41 FIGURA 16. Expressão do FT na superfície de células de carcinoma de mama.. .... 43 FIGURA 17. Expressão de FT membranar e intracelular nas linhagens de carcinoma de mama. .................................................................................................................. 44 FIGURA 18. Atividade dos anticorpos anti-FT (10H10 e 5G9). ................................. 46 FIGURA 19. Ensaio de ativação do FX. .................................................................... 47 xiii Lista de Tabelas TABELA 1. Estadiamento de tumores primários correlacionados com a classificação TNM para câncer de mama. ........................................................................................ 3 TABELA 2. Correlação entre a classificação molecular e a classificação clínicopatológica. ................................................................................................................... 6 TABELA 3. Características dos anticorpos que serão usados para imunofluorescência e citometria. ............................................................................... 29 . Introdução | 1 1. Introdução 1.1. Epidemiologia do Câncer de Mama O câncer é a segunda doença que mais mata no mundo, ficando atrás somente das cardiopatias (Jemal et al., 2010). Já o câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e é o principal entre as mulheres, representando 16% de todos os cânceres femininos. Foram estimadas para 2008, aproximadamente 460.000 mortes por câncer de mama no mundo (Jemal el al., 2011). Em países desenvolvidos a mortalidade das pacientes com câncer de mama vem diminuindo, o número de pacientes diagnosticadas em estágios iniciais aumentou. Essa mudança surgiu em grande parte devido ao rastreamento do câncer de mama, a evolução dos exames com imagem e a maior conscientização da doença entre as mulheres (Louwman et al., 2008; Corina et al., 2011). Apesar das melhorias no diagnóstico e tratamento, a incidência do câncer de mama vem aumentando nas últimas décadas (Louwman et al., 2008), sendo ainda considerada uma doença devastadora. No Brasil, a estimativa para o ano de 2012 é de 52.680 novos casos, com 11.735 mortes (Estimativa INCa, 2012). Um valioso indicador do progresso no controle do câncer é a sobrevida relativa das pacientes, que geralmente é proporcional ao desenvolvimento econômico da região. No Brasil a sobrevida relativa após cinco anos da doença é de 58,4% das pacientes de câncer de mama, enquanto nos EUA e Europa estas taxas são de 83,9% e 73,1%, respectivamente. As reduzidas taxas encontradas no Brasil, e em outros países em desenvolvimento, são decorrentes de diagnóstico e tratamento tardios (Coleman et al., 2008; Lee et al. 2012). Introdução | 2 1.2. Diagnóstico e Classificações Diversos fatores clínicos e patológicos são rotineiramente usados para caracterizar tumores de pacientes com câncer de mama com o objetivo de avaliar o progresso da doença e determinar a terapia adequada. Atualmente, os principais fatores utilizados são: a idade da paciente, a presença de metástases nos linfonodos axilares, o tamanho do tumor, características histológicas, análise da presença de receptores hormonais (estrogênio e progesterona) e do oncogene HER2 - receptor do fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 (Schnitt, 2010). As duas principais classificações utilizadas no diagnóstico e estadiamento de tumores são: a classificação TNM (tumor-nódulo-metástase) e a classificação molecular. O sistema tumor-nódulo-metástase (TNM) baseia-se nos principais atributos morfológicos de tumores malignos: tamanho do tumor primário, nódulos, ulcerações, microinvasão e inflamação (T), presença e extensão de metástase linfonodal (N), e presença de metástases distantes (M). Utilizando o sistema TNM é possível determinar o estadiamento do câncer de mama (Tab. 1), que é muito útil para estimar o prognóstico. Pacientes com tumores em estágios iniciais apresentam sobrevida superior a de pacientes em estágios mais avançados, conforme apresentado na Fig. 1 (Singletary & Connolly, 2006). Introdução | 3 TABELA 1. Estadiamento de tumores primários correlacionados com a classificação TNM para câncer de mama. Estadiamento Classificação TNM Estágio 0 Tis* N0 Estágio IA T1 N0 T0 N1mi** Estágio IB T1 N1mi T0 N1 Estágio IIA T1 N1 T2 N0 T2 N1 Estágio IIB T3 N0 T0 N2 T1 N2 Estágio IIIA T2 N2 T3 N1, N2 Estágio IIIB T4 N0,N1,N2 Estágio IIIC Tis,T1,T2,T3,T4 N3 Estágio IV Tis,T1,T2,T3,T4 N0,N1,N2,N3 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M1 Sobrevida relativa de 10 anos Tabela adaptada de http://www.cancerstaging.org/staging/index.html (último acesso em 20/05/2012). *Tis = Carcinoma in situ. **N1mi = entre 0,2 mm e 2,0 mm. Estágios TNM FIGURA 1. A sobrevida relativa de 10 anos correlaciona com o estadiamento tumoral. 1.3 milhões de casos (1985 até 1996) da Base de dados Nacional do Câncer (National Cancer Data Base). Traduzido de Singletary et al., 2006, apud Bland, et al., 1998. Introdução | 4 Análises da expressão gênica em carcinomas de mama resultaram na identificação de cinco principais subtipos, luminal A, luminal B, basal, Erb-B2 e perfil similar à mama normal, que apresentam diferentes expressões gênicas, características clínicas, respostas ao tratamento e prognóstico (Perou et al., 2000; Sorlie et al., 2001). As principais características desses subtipos estão listadas a baixo: Luminais A e Luminal B - apresentam padrões de expressão gênica semelhantes aos dos componentes luminais da mama, como citoqueratinas 8/18, receptor de estrogênio (RE) e gênese associados com a ativação de RE. O grupo luminal representa o subtipo mais frequente entre os tumores de mama. O subtipo luminal A caracteriza baixo grau histológico, tumores bem diferenciados e pouca atividade mitótica, além de expressar RE e/ou receptor de progesterona (RP) e ser negativo para HER2. O subtipo luminal B indica um tumor menos diferenciado, além de RP. Pode ser HER2 positivo e pode ter altos índices de Ki-67 (marcador de proliferação). O subtipo luminal B apresenta pior prognóstico e menor tempo de sobrevida quando comparado ao subtipo luminal A (Sorlie et al., 2001, Brenton et al., 2005; Schnitt, 2010). Basal - recebeu esse nome por apresentar um padrão de expressão similar ao observado em células do epitélio basal. A maioria é “triplo negativo”, ou seja, não apresenta expressão do RE e do RP, e apresenta baixa expressão de HER2. Grande parte das mulheres com mutação em BRCA 1 desenvolve câncer de mama do subtipo basal. Geralmente esse grupo pode ser associado a um prognóstico ruim, assim como não responde bem a terapias convencionais, como terapia endócrina e trastuzumabe, que é um anticorpo monoclonal anti-HER2 que mostra benefícios na Introdução | 5 sobrevida de pacientes em estágios iniciais e avançados com presença de metástase. Contudo, tumores do subtipo basal podem ser sensíveis a quimioterapias convencionais. (Brenton et al., 2005; Schnitt & Connolly, 2010). Erb-B2 - apresenta expressão de genes de epitélio basal, superexpressão de HER2 e ausência de receptores hormonais. Geralmente apresentam alto grau histológico e são pouco diferenciados. Os subtipos Erb-B2 e basal estão associados a uma sobrevida mais curta dentre todos os grupos (Sorlie et al., 2001; Brenton et al., 2005). Perfil similar à mama normal (normal-like) - apresenta expressão de muitos genes tipicamente expressos em tecido adiposo, epitélio basal e em outras células não epiteliais, além de pequena expressão de genes encontrados em células epiteliais luminais. Esse subtipo é geralmente negativo para RE, RP, HER2. Contudo, ainda não foram descritos marcadores para imunohistoquímica que determinem seu diagnóstico preciso (Perou et al., 2000, Sorlie et al., 2001; Yu et al., 2009). Na prática clínica, os tumores são classificados em luminal A, luminal B, basal e HER2, por imunohistoquímica para RE, do RP, HER2 e Ki-67 (Tab. 2) Essa correlação permite que os médicos determinem o melhor tipo de abordagem terapêutica para cada paciente, utilizando uma técnica acessível financeiramente e amplamente empregada, já que ainda não é viável a utilização de varreduras genéticas para o diagnóstico das pacientes individualmente (Schnitt, 2010; Goldhirsch et al., 2011). Introdução | 6 TABELA 2. Correlação entre a classificação molecular e a classificação clínico-patológica. Subtipo Molecular Luminal A Luminal B Definição ClinicoPatológica “Luminal A” RE+ e/ou RP+, HER2-, baixo Ki-67 (<14%) “Luminal B (HER2-)” RE + e/ou RP+, HER2-, alto Ki-67 (>14%) “Luminal B (HER2+)” RE + e/ou RP+, HER2, Ki-67 Marcadores Erb-B2 “HER2+ (não luminal)” RE - e/ou RP-, HER2 Basal “Triplo negativo” RE - e/ou RP-, HER2- RE=Receptor de Estrogênio; RP=Receptor de Progesterona; HER2=Receptor 2 do fator de crescimento epidérrmico humano; Ki-67=marcador de proliferação. Tabela adaptada de Goldhirsch et al., 2011. Existe uma correlação entre os diferentes subtipos tumorais e a organização histofuncional da mama. A glândula mamária é uma glândula composta por um sistema de dutos, lobos e lóbulos. Os dutos e alvéolos são revestidos por duas camadas epiteliais, camada interna, luminal, e uma externa mioepitelial que está em contato com a membrana basal. As células luminais são as secretoras de leite durante a gestação e lactação, enquanto as células mioepiteliais são contráteis, favorecendo o transporte de leite ao longo do sistema de dutos. Atualmente, acredita-se que as células epiteliais e mioepiteliais originam-se de um precursor comum, derivado da célula-tronco mamária que se localiza predominantemente na região conhecida como unidade lobular dutal terminal (TDLU, terminal ductal lobular unit). Essa região parece ser o sítio de origem dos carcinomas dutais de mama, Fig. 2 (Hennighausen & Robinson, 2005; LaBarge et al., 2007). Introdução | 7 FIGURA 2. Unidade lobular dutal terminal (TDLU). A TDLU é a unidade básica funcional da mama, onde se acredita estar localizada a célula-tronco do tecido mamário que pode dar origem a um progenitor bipotente que é capaz de se diferenciar tanto em células mioepiteliais como em células luminais (Modificado de LaBarge et al., 2007 ). 1.3. Heterogeneidade Tumoral Células dentro de um único tumor exibem variações consideráveis de propriedades, como tamanho, morfologia, expressão de antígenos, composição da membrana celular, marcadores de superfície, alterações genéticas e epigenéticas, proliferação, predisposição para metástase e sensibilidade a quimioterápicos. Essa ampla série de diferentes fenótipos celulares produz a heterogeneidade tumoral (Heppner, 1984; Dick, 2008). Existem dois principais modelos para explicar a heterogeneidade tumoral: a evolução clonal e as células-tronco do câncer (CTC), (Fig. 3). A evolução clonal, descrita por Peter C. Nowell em 1976, baseia-se no surgimento do tumor a partir de mudanças em uma única célula que se torna Introdução | 8 neoplásica e possui a capacidade de crescimento superior a das células normais. De tempos em tempos, como resultado da instabilidade genética da população tumoral em expansão, células mutantes são produzidas. A maioria das variedades é eliminada devido a desvantagens metabólicas ou destruição metabólica. Ocasionalmente, uma população apresenta vantagens adicionais tanto em relação ao tumor original como em relação às células normais, e essa mutação torna-se precursora de uma nova subpopulação predominante (Nowell, 1976). As terapias tradicionais seguem este modelo, levando em consideração a possibilidade de todas as células do tumor serem capazes de proliferar abundantemente e produzir metástase, desta forma, as terapias buscam a eliminação de toda a população tumoral (Shackleton et al., 2009). Por outro lado, o modelo das CTC propõe que os tumores seriam organizados hierarquicamente, e uma pequena subpopulação das células seria responsável pela heterogeneidade tumoral. Essas células dariam origem a células com variados fenótipos, ou seja, células mais diferenciadas, e ainda teriam a capacidade de realizar a autorrenovação, que consiste na geração de progênie idêntica. O modelo das CTC pode explicar as altas taxas de recidiva da doença após tratamento, uma vez que essas células seriam resistentes aos tratamentos convencionais, produziriam metástase e reconstruiriam a heterogeneidade tumoral. De acordo com esse modelo, as CTC poderiam ter origem nas próprias células-tronco dos tecidos adultos, assim como poderiam se originar de células normais, que se tornariam malignas e adquiririam essas características (Reya et al., 2001; Clevers, 2011). Com o propósito de desenvolver terapias de maior eficiência com base no modelo das Introdução | 9 CTC, é necessário entender os mecanismos celulares e moleculares dessa população em cada tipo de câncer (Dick, 2008). Em 1997, pela primeira vez foram identificadas células oriundas de pacientes de leucemia mielóide aguda com propriedades de CTC. Somente uma pequena população celular com os marcadores, CD34posCD38neg, que também são marcadores de células-tronco hematopoéticas normais, eram capazes de gerar a doença, semelhante a do doador, em camundongos imunodeficientes NOD/SCID (Bonnet e Dick, 1997). CTC também foram identificadas em tumores sólidos, cérebro e mama, através da mesma estratégia experimental: separação de subpopulações de tumores, identificação da expressão de marcadores de superfície e transplante em modelos animais (Singh et al., 2003; Al-Hajj et al., 2003). FIGURA 3. Modelos de heterogeneidade em tumores sólidos. Em (a) o modelo de evolução clonal, onde as células tumorais apresentam diferentes fenótipos e em sua maioria são capazes de proliferar amplamente e formar novos tumores. Em (b) o modelo de célulastronco do câncer, onde as células também apresentam diferentes fenótipos, porém somente as CTC são capazes de proliferar amplamente e produzir novos tumores (Reya et al., 2001). Introdução | 10 Em 2003, Al-Hajj e colaboradores utilizaram as moléculas CD44 e CD24 para identificar populações de acordo com sua capacidade tumorigênica em câncer de mama humano. A molécula CD44 é uma glicoproteína transmembranar que se liga ao ácido hialurônico e desencadeia sinalização intracelular e sua presença parece estar relacionada com a progressão tumoral. Já a molécula CD24 é uma pequena proteína de membrana altamente glicosilada que se liga a membrana através de uma âncora glicosilfosfatidilinositol e está presente principalmente em balsas lipídicas. Células provenientes de efusões pleurais com o fenótipo CD44posCD24neg/low eram capazes de proliferar extensivamente e dar origem a diversos tipos celulares, gerando um tumor similar ao de origem, em modelo de camundongos imunodeficientes NOD/SCID. Por outro lado, células com o fenótipo CD44negCD24pos não eram capazes de produzir a heterogeneidade tumoral. Levando em consideração os resultados obtidos pelos autores, a fração CD44posCD24neg/low representaria as CTC do câncer de mama (Al-Hajj et al., 2003). O potencial tumorigênico da subpopulação de células CD44posCD24neg, proveniente de tumores de mama humanos, foi confirmada em modelo de animal imunodeficiente e essa subpopulação exibiu propriedades de CTC (Ponti et al. 2005). Mais recentemente, o modelo de CTC foi questionado, uma vez que em muitos tumores, como o câncer de mama, as diferenças entre as células identificadas como CTC, tumorigênicas, e não tumorigênicas estão relacionadas a fenômenos genéticos ou epigenéticos. Exemplificando a identificação de CTC se baseia no fenótipo associado ao potencial tumorigênico em animal imunocomprometido. No entanto, influências do microambiente, incluindo o grau de Introdução | 11 imunodeficiência do modelo animal, podem alterar os resultados. Portanto, a incapacidade de formar um tumor pode estar ligada na verdade ao modelo experimental utilizado (Quintana et al. 2008; Shackleton et al. 2009) Contribuindo para a discussão das CTC, já foi descrito que a partir da indução de transição epitélio-mesenquimal (TEM), que será descrita abaixo, é possível obter células com o fenótipo CD44+ CD24-/lo, mesmo fenótipo descrito para as CTC. Esses marcadores determinariam o subtipo celular Basal B ou mesenquimal, levantando então a hipótese que as células tumorais passariam pelo processo de TEM com a finalidade de alcançar novos sitos durante o processo de metástase, momento que adquiririam os marcadores de CTC (Mani et al., 2008). 1.4. Metástase A metástase tem origem na disseminação de células de um tumor primário que dão origem a tumores em órgãos distantes. É um processo extremamente complexo no qual, apesar de diversas células migrarem a partir dos tumores primários para outros sítios, somente uma pequena minoria será capaz de se estabelecer e proliferar em um órgão distante (Chambers, et al., 2002; Gupta & Massagué, 2006; Fidler, 2003). Muitas etapas sequenciais são necessárias para que ocorra a metástase, sendo que as principais etapas são: iniciação, intravasação e extravasação (Chambers, et al., 2002). A primeira etapa, a iniciação, é o momento que uma fração das células tumorais passa por uma série de modificações que são atribuídas a um mecanismo semelhante ao que ocorre durante a fase de gastrulação da embriogênese: a TEM. Esse mecanismo se caracteriza pela perda da polaridade e de junções celulares, com diminuição da expressão de moléculas do tipo E-caderina e aquisição de Introdução | 12 propriedades de células mesenquimais, como expressão de vimentina e de moléculas que promovem mobilidade e capacidade de invadir a matriz extracelular (Fig. 4) (Chambers, et al., 2002; Micalizzi et al., 2010). A segunda etapa é a intravasação, quando as células tumorais penetram o sistema circulatório sanguíneo. Este processo pode ocorrer através do sistema linfático ou diretamente pelos vasos sanguíneos (Fig. 5). As plaquetas e a deposição de fibrina sobre as células tumorais circulantes apresentam um papel importante nesse processo, já que podem promover a entrada dessas células nos vasos e a saída para sítios distantes do tumor primário (Pantel & Brakenhoff, 2004; Palumbo, 2008; Gay & Felding-Habermann, 2011). A terceira etapa é o extravasamento, momento que as células saem dos capilares e alcançam sítios distantes. Uma vez neste novo sítio, as células terão um novo desafio, iniciar e manter o crescimento tumoral (Chambers, et al., 2002; Fidler, 2003). Introdução | 13 Perda da polaridade Ganho de proteínas apical-basal mesenquimais FIGURA 4. Transição Epitélio-Mesenquimal (TEM) e plasticidade epitelial. Durante a TEM as células epiteliais perdem sua polaridade apico-basal devido a perda de junções ocludentes, permitindo a mistura das proteínas de membrana das regiões apical e baso-lateral. Junções mediadas por E-caderina e integrinas epiteliais (em verde) são perdidas e são substituídas por junções mesenquimais como N-caderina e integrinas específicas (em azul). O citoesqueleto de actina se remodela formando fibras de estresse e protrusões contrátreis. Os filamentos intermediários epiteliais como citoqueratinas passam a ser menos expressos e dão lugar a expressão de vimentina. Esse processo é acompanhado pela secreção de metaloproteases (MMPs) que degradam a membrana basal (fibras em vermelho) permitindo a invasão do estroma adjacente (Micalizzi et al., 2010). Introdução | 14 Metástase linfonodal Tumor primário Disseminação linfática Disseminação hematogênica Metástases secundárias distantes Metástases primárias distantes FIGURA 5. Modelos da cascata metastática. As células tumorais podem disseminar do sítio primário através da via linfática (setas vermelhas) ou pela via hematogênica (setas azuis). No primeiro modelo (disseminação linfática), as células tumorais disseminadas proliferam nos linfonodos e formam metástases sólidas. Em estágios mais avançados, estas células tumorais saem dos linfonodos e estabelecem metástases secundárias distantes. No segundo modelo, as células tumorais disseminam primeiramente pela via hematogênica e estabelecem metástases distantes. Isto ocorre em pacientes que desenvolvem metástases distantes, mas nos quais os linfonodos não apresentam células tumorais, como nas pacientes com câncer de mama. A disseminação hematogênica parece se iniciar em estágios iniciais da progressão tumoral (Pantel & Brakenhoff, 2004). Introdução | 15 Como citado, a presença de metástase nos linfonodos é utilizada rotineiramente no estadiamento de tumores de mama. Além disso, tem sido proposta a avaliação de células tumorais disseminadas para medula óssea (MO) como uma forma de prognóstico independente. Entre 24-43% das pacientes com câncer de mama apresentam micrometástases na MO, que pode ser justificado como um evento de disseminação precoce no desenvolvimento tumoral (Pantel & Otte, 2001). Ao se observar os índices de mortalidade das pacientes com nódulos negativos e com micrometástase para a MO, verifica-se que 14% destas morrem por causas relacionadas ao câncer, bastante diferente do 1% encontrado em pacientes com nódulo negativo e sem micrometástase (Fig. 6, Braun et al., 2000). Apesar de todas as evidências da importância da avaliação de células tumorais disseminadas para a MO em pacientes com câncer de mama, a avaliação não é utilizada na rotina clínica devido ao grande desconforto causado na obtenção de aspirados da medula óssea. O monitoramento de micrometástase medular é feito indiretamente através da análise de células tumorais no sangue periférico (Criscitiello et al., 2010; Muller et al., 2005) e na caracterização, no tumor primário, de células com potencial de disseminação precoce (Falck et al., 2010; TarangerCharpin et al., 2009; Woelfle et al., 2003). Introdução | 16 Nódulo negativo, sem micrometástase para MO Probabilidade de sobrevivência Nódulo positivo, sem micrometástase para MO Nódulo negativo, Micrometástase para MO Nódulo positivo, Micrometástase para MO Meses depois da cirurgia FIGURA 6. Curva de sobrevida de pacientes com câncer de mama pós-cirurgia de acordo com a presença ou não de células tumorais disseminadas nos linfonodos ou MO. Pacientes em que não se encontrou células tumorais disseminadas apresentaram a curva de sobrevida mais favorável, em contraste com aqueles em que as células tumorais disseminadas foram encontradas em ambos os órgãos. As curva de sobrevida de pacientes que apresentaram células metastáticas ou nos linfonodos ou na MO foi semelhante (Braun et al., 2000). Introdução | 17 1.5. Câncer e Alterações na Coagulação Sanguínea A relação entre o câncer e desordens da coagulação sanguínea foi descrita pela primeira vez pelo médico francês Armand Trousseau em 1865 ao observar a alta incidência de eventos inexplicáveis de trombose em pacientes que posteriormente seriam diagnosticados com câncer (Trousseau, 1865). Atualmente, inúmeras evidências demostraram que distúrbios da coagulação sanguínea estão associados com neoplasias malignas (Furie & Furie, 2006). Posteriormente a descoberta da correlação entre câncer e distúrbios da coagulação, verificou-se que a ativação da coagulação poderia favorecer o processo de metástase (Nieswandt et al., 1999; Bambace & Holmes, 2011). Mais de 50% dos pacientes de câncer apresentam alterações da coagulação sanguínea, situação ainda mais grave em pacientes com metástase, entre os quais aproximadamente 90% possuem essas alterações (De Cicco, 2003). Dentre as diversas coagulopatias, o tromboembolismo pode ser a primeira manifestação clínica do câncer e é a segunda maior causa de morte em pacientes de câncer (Hoffman & Brenner, 2001; Mandalà, 2003). As alterações na coagulação são bastante complexas e surgem como resultados de diversos fatores pelos quais os pacientes de câncer são submetidos. A hipercoagulação pode resultar de fatores relacionados indiretamente à doença ou tratamento, como imobilização, cirurgias e uso de cateteres, mas podem também ser causados por fatores diretamente relacionados à doença, como a existência de células metastáticas na circulação, terapias e vasos rompidos. Além de todos esses fatores, mudanças oncogênicas podem levar ao aumento do fator tecidual (FT), que vem sendo apontada como principal responsável pela hiperativação da coagulação vista em pacientes de câncer (Rao, 1992; Zwicker at al., 2007), sendo possível Introdução | 18 observar sua elevada expressão tanto nas células tumorais, como no nicho vascular tumoral (Contrino et al., 1996). Especificamente no câncer de mama, a presença do FT no tumor e o aumento da sua concentração plasmática tem sido correlacionados com a ocorrência de metástase e pior prognóstico (Ueno et al., 2000). O FT é uma glicoproteína de membrana presente em diversos tecidos, exibindo altos níveis de expressão em órgãos vascularizados como pulmão, cérebro e placenta. Também é encontrado em níveis intermediários no coração, rins, intestino, testículos e útero, e em baixos níveis no baço, timo e fígado. (Osterud & Bjorklid, 2006). Acredita-se que apenas uma pequena fração do FT presente na membrana esteja ativo, ou seja, capaz de ativar a coagulação sanguínea. Então, a maior parte do FT na membrana estaria criptado, forma incapaz de ativar a coagulação. Ainda não estão claros quais mecanismos estão envolvidos na modificação entre as diferentes conformações do FT e quais seriam as diferenças conformacionais. Contudo, já se sabe que o aumento da fosfatidilserina (PS) está correlacionado com a decriptação do FT (revisado em Rao et al., 2012). Adicionalmente, estudos mais recentes vêm apontando a importância da proteína dissulfeto isomerase na decriptação do FT através de sua atividade de oxirredução na ponte dissulfeto Cys186-Cys209 no domínio extracelular do FT e também através da regulação do equilíbrio de PS na membrana plasmática (Ahamed et al., 2006). Em 1954, Eiseman e Stefanini mostraram que o FT poderia estar presente na superfície de células tumorais, evidenciado pela atividade pró-coagulante de células leucêmicas (Zwicker et al., 2007). Em células tumorais, o FT pode estar aumentado em até 1000 vezes quando comparado ao tecido normal (Mueller, et al., 1992). Introdução | 19 Adicionalmente o FT também pode ser expresso de forma aumentada no estroma adjacente ao tumor (vasos sanguíneos, fibroblastos, células inflamatórias). Durante o processo de coagulação sanguínea (Fig. 7), o rompimento de vasos sanguíneos promove o contato de células de tecidos extravasculares (que expressam FT) com o sangue. Este fenômeno leva à formação do complexo FT/FVIIa (Fator VII ativo), que atua então como o principal iniciador da cascata de coagulação. Este complexo promove a conversão dos fatores X (FX) e IX (FIX) nas suas formas ativas, FXa e FIXa. O FXa ativa a protrombina (FII) em trombina (FIIa). A trombina, por ação proteolítica, ativa as plaquetas e leva à formação dos fatores Va, VIIIa e XIa, além de promover a conversão de fibrinogênio solúvel em fibrina insolúvel. O recrutamento de plaquetas e a geração de fibrina levam à rápida formação do coágulo (Colman, 2008). Introdução | 20 Injúria Vascular FIGURA 7. Cascata de coagulação sanguínea. A partir do rompimento dos vasos, o FT presente em células extravasculares desencadeia a ativação de diversos fatores que resultam na formação do coágulo sanguíneo. Introdução | 21 1.6. Fator Tecidual e Sinalização Celular Além da sua contribuição na ativação da coagulação sanguínea em pacientes com câncer, mediando processos trombóticos e metastáticos (Hoffman & Brenner, 2001), o FT também influencia a biologia tumoral através da sua sinalização celular (Fig. 8). A atividade sinalizadora do FT é dependente de receptores ativados por proteases (PAR), que são componentes da superfamília dos receptores acoplados à proteína G e apresentam sete domínios transmembranares. Estes receptores participam de processos fisiológicos em diversos tecidos saudáveis e tem sido demonstrado que também são importantes em processos inflamatórios e na progressão tumoral (Belting et al., 2005; Adams et al., 2011). O papel desses receptores, principalmente PAR1 e PAR2, vem sendo estudado no câncer, inclusive no câncer de mama, implicando na produção de fatores angiogênicos, reguladores imunes, crescimento tumoral, invasão e metástase (Boire et al., 2005; Morris et al., 2006; Ruf et al., 2010). FIGURA 8. Papéis distintos do FT na biologia tumoral. No esquema superior, o FT presente na membrana de células tumorais está ativando a cascata de coagulação. No esquema inferior mostra-se a sinalização do FT mediada pelos receptores PAR (Modificado de Mackman & Taubman, 2009). Introdução | 22 Diversas funções vêm sendo descritas para os receptores PAR na progressão tumoral. Alta expressão e sinalização de PAR1 e PAR2 são descritas em tumores de pulmão, colorretal, próstata, mama e ovário (Adams et al., 2011). Como citado, na metástase, plaquetas e a deposição de fibrina são essenciais para a proteção e manutenção das células tumorais circulantes. Adicionalmente, a sinalização de PAR1 induz proliferação de células tumorais metastáticas, sobrevivência de células tumorais na presença de pequenas quantidades de trombina e aumento da motilidade de células tumorais. E, PAR 2 induz a produção de fatores próangiogênicos, crescimento tumoral e metástase (Belting et al., 2005; Versteeg et al., 2008). Contudo, novos estudos são necessários para entender os mecanismos que promovem a progressão tumoral mediados pela sinalização do FT in vivo. 1.7. FT em CTC e Justificativa do Estudo Recentemente foi levantada a hipótese de haver uma correlação entre a sinalização TF/PAR e as CTC (Milsom et al., 2007), o que parece ser bastante razoável, já que há uma convergência entre diversos mecanismos moleculares. A sinalização TF/PAR pode levar ao crescimento tumoral, interrupção da dormência tumoral, migração e invasão tumoral, angiogênese e especialmente a metástase, que é profundamente influenciada pelo FT e pela coagulação sanguínea (Milsom et al., 2009). O único estudo que comprovou uma correlação entre o fenótipo de CTC e a expressão de FT foi realizado com a linhagem A431 de carcinoma epidermóide. Células CD133pos apresentaram elevada expressão de FT, acentuada atividade prócoagulante e potencial tumorigênico mais precoce, quando comparadas com as células CD133neg (Milsom et al., 2007; Milsom et al., 2009). Introdução | 23 As linhagens celulares tumorais, apesar de representarem células que sobreviveram a seleção in vitro, constituem um modelo amplamente utilizado, já tendo sendo especificamente demonstrado no câncer de mama que existe grande similaridade molecular e biológica entre linhagens e tumores primários. Diversas linhagens de câncer de mama representam diferentes subtipos tumorais. Desta forma, linhagens com tendências mesenquimais e com propriedades invasivas foram classificadas como Basal B/mesenquimal; linhagens mais diferenciadas, com fenótipo epitelial e não invasivas foram classificadas como Luminal; e linhagens com características intermediárias entre os dois subgrupos citados foram denominadas como Basal A. A análise molecular das linhagens ditas luminais mostrou que elas expressam transcrito de CD24, enquanto as denominadas como Basal B mostram uma regulação negativa de CD24. O contrário se observou em relação à expressão de CD44 (Blick et al., 2010; Neve et al.2006). Desta forma, as linhagens basais apresentam um fenótipo semelhante ao descrito para as CTC do câncer de mama. Tendo em vista a descrição de marcadores de CTC em tumores de mama e metástases e a correlação entre o fenótipo das linhagens de tumor de mama e os subtipos tumorais, estas podem ajudar a elucidar os mecanismos celulares envolvidos na biologia das CTC. Neste trabalho, nos propomos a estudar a correlação entre o fenótipo CTC de mama e a expressão de FT em linhagem celulares. Objetivos | 24 2. Objetivos 2.1. Objetivo Geral O objetivo deste trabalho é investigar a expressão e função do FT em linhagens humanas de carcinoma de mama, correlacionando com o fenótipo e propriedades biológicas de células iniciadoras do câncer. 2.2. Objetivos Específicos -Caracterizar fenotipicamente e funcionalmente linhagens humanas de carcinoma de mama MCF-7, MDA-MB-231, MDA-MB-468 e T-47D quanto à expressão das moléculas CD44 e CD24. - Determinar o potencial de coagulação das linhagens de câncer de mama. - Avaliar a expressão de FT e sua atividade nas linhagens de câncer de mama e nas subpopulações da linhagem T-47D, correlacionando-os com o fenótipo e propriedades invasivas. Material e Métodos | 25 3. Material e Métodos 3.1. Células e Amostras As linhagens humanas de carcinoma de mama MCF-7 e MDA-MB-468 foram fornecidas pelo Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ, RJ, Brasil). As linhagens humanas de câncer de mama T-47D e MDA-MB-231 foram cedidas pelo Professor Roger Chammas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). As linhagens de câncer de mama foram cultivadas em meio de cultura IMDM (Iscove’s Modified Dulbecco’s Medium, LGC), suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB, Cultilab) e antibióticos (penicilina G sódica 100 U/mL e estreptomicina 100 µg/mL, Sigma-Aldrich). Todas as culturas foram mantidas em estufa com 5% de CO2 à 37º C. Após atingirem 70% de confluência, as linhagens tumorais foram dissociadas com 2 mM de ácido etilenodiamino tetra acético (EDTA) em PBS. Amostras de medula óssea foram obtidas a partir de aspirados da crista ilíaca de doadores voluntários da Unidade de Transplante de Medula Óssea, afiliada ao Serviço de Hematologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFFUFRJ), como descrito (de Barros et al., 2010). A utilização das amostras foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do HUCFF-UFRJ, estando o projeto cadastrado sob as seguintes numerações: CIC: 066/02 e CEP: 022/02. Uma exceção à necessidade do termo de consentimento foi aprovada pela Comissão de Investigação Científica (CIC) do HUCFF, uma vez que os dados foram analisados de forma anônima e foram derivados de amostras descartadas. 3.2. Obtenção de células mesenquimais do estroma da medula óssea A obtenção foi feita mediante a lavagem com solução salina tamponada de fosfato (PBS, phosphate buffered saline) das bolsas de coleta de medula óssea, Material e Métodos | 26 após a transferência dos aspirados para as bolsas de infusão. As células mesenquimais de estroma de medula óssea humana (MSC) foram obtidas seguindose o protocolo descrito de unidade formadora de colônia fibroblastóide (CFU-F, Colony Forming Unit - Fibroblast) (Fridenstein et al., 1976). Resumidamente, após hemossedimentação com Hespan® (hidroxietil de amido, McGaiy Inc.), um polissacarídeo que acelera a sedimentação de hemácias, as células foram quantificadas em hemocitômetro usando o líquido de Turk. As células foram distribuídas na concentração de 1 x 106 células/mL em frascos de cultura de 25 cm 2 em meio DMEM (Dulbecco’s Modified Eagles Medium- Low Glucose, LGC, São Paulo, SP, Brasil) suplementado com 10% SFB e antibióticos e incubadas a 37ºC com 5% de CO2 por 3 a 4 dias. Após este período, o sobrenadante foi removido juntamente com células não aderentes através de lavagem com PBS, o meio de cultura foi trocado e as células aderentes foram novamente incubadas a 37ºC com 5% de CO2 até atingirem pré-confluencia (aproximadamente 70% da superfície plástica coberta por células), quando foram dissociada enzimaticamente com solução de tripsina 0,125% EDTA 0,78 mM e expandidas até a terceira ou quarta passagem para a realização dos experimentos. 3.3. Cultivo em sistema de cultura tridimensional do tipo Matrigel Os poços de placas de 48 poços foram recobertos com 100 l de Matrigel (BD MatrigelTM Basement Membrane Matrix, BD Biosciences). A placa foi mantida a 37ºC com 5% de CO2 por 30 minutos para a polimerização do Matrigel. As células tumorais foram ressuspensas em meio IMDM suplementado com 20% SFB e 2% de Matrigel, na concentração de 2,5 x 104 células em 200 l que foram aplicados sobre a camada de Matrigel polimerizada. A cultura foi mantida a 37ºC com 5% de CO 2 durante 4 dias. Uma troca de meio foi realizada no segundo dia. Material e Métodos | 27 3.4. Diferenciação para linhagem osteogênica das MSC As MSC foram induzidas para a linhagem osteogênica com meio de cultura osteoindutor constituído por DMEM suplementado com 10% de SFB, 10 mM de βglicerofosfato, 50 μM de ácido ascórbico e 10 -7 M de dexametasona (todos da Sigma-Aldrich) e antibióticos (Pittenger et al., 1999; de Barros et al., 2010). As células foram mantidas em cultura por sete dias, realizando uma troca de meio de cultura no terceiro ou quarto dia. 3.5. Modelo de cultura tridimensional do tipo esferoide O modelo de esferoide de medula óssea, desenvolvido pelo grupo, (de Barros et al., 2010), foi realizado para avaliar o potencial invasivo das linhagens humanas de câncer de mama. Resumidamente, poços de placa de 96 com fundo em “U” foram revestidos com uma fina camada de agarose a 1 %, que impede a aderência das células ao plástico. Esferoides de MO foram desenvolvidos em duas etapas, primeiro esferoides de osteoblastos foram formados distribuindo-se 1,25 x 104 células osteoinduzidas por poço e, após sua formação, 1,25 x 10 4 células mesenquimais não induzidas foram distribuídas sobre os esferoides de células osteoinduzidas. A formação dos esferoides ocorre em três dias a 37º C com 5 % de CO2. 3.6. Ensaio de invasão As células tumorais, após serem removidas dos frascos de cultura, foram ressuspensas em IMDM com 20% SFB e antibióticos e foram quantificadas em hemocitômetro. Foram adicionadas aos esferoides já formados 3 x 103 células tumorais. As co-culturas foram mantidas a 37ºC com 5% de CO2 por 72h. Após este período, os esferoides foram coletados para avaliação do potencial invasivo por histologia. Para análises morfológicas, os esferoides foram mantidos íntegros, Material e Métodos | 28 lavados com PBS e fixados com paraformaldeído tamponado a 4%. Cada ponto do experimento foi feito em duplicata, sendo cada duplicata o pool de três esferoides. 3.7. Histologia Os esferoides íntegros foram fixados paraformaldeído 4% por no mínimo 6h. Os esferoides foram processados para inclusão em parafina, procedendo-se a desidratação com banho de álcool 70% por 20 min e dois banhos de álcool absoluto por 20 min cada. Em seguida, dois banhos de xilol por 20 min cada e dois banhos de parafina por 20 min foram realizados e os esferoides foram incluídos em parafina. Posteriormente, os blocos foram cortados em micrótomo manual (Lupe “820” Spencer, São Carlos) com 5 m de espessura e coletados em lâminas de vidro, que, para imunohistoquímica foram cobertas por silano 2% em acetona. As lâminas passaram por 3 banhos de desparafinização, cada um de 3 min em xilol, 3 banhos de álcool em concentração decrescente, absoluto, 90% e 70% por 3 min cada e um banho em água destilada por 5 min. As lâminas foram coradas com hematoxilina de Harris e eosina (HE), desidratas e montadas com entellan. 3.8. Imunofluorescência As células foram cultivadas em placas de 24 poços, contendo lamínula circular no fundo do poço. Após atingir 70% de confluência as células foram lavadas três vezes com PBS e fixadas com paraformaldeído tamponado a 4%. As células foram lavadas quatro vezes com PBS e permeabilizadas, quando a marcação era intracelular, com 0,2% de Triton em PBS por 15 min. As células foram novamente lavadas com PBS e, em seguida, incubadas com 4% de BSA em PBS por 30 a 60 min a temperatura ambiente, para bloquear sítios inespecíficos. O anticorpo primário anti-FT humano (Tab. 3) foi diluído para uma concentração de 1:100 (5 µg/ mL) em 1% BSA em PBS e foi incubado durante a noite a 4º C. As células foram novamente Material e Métodos | 29 lavadas com PBS e incubadas com o anticorpo secundário anti-camundongo conjugado a Alexa 546 (Tab. 3) diluído a 1:500 em 0,3% de BSA em PBS por 1h a temperatura ambiente. As células foram novamente lavadas com PBS e marcadas com DAPI. Após lavagem, as lamínulas foram montadas em uma lâmina com Npropilgalato e seladas com esmalte para observação em microscópio confocal (LSM 510 Meta, Carl Zeiss). TABELA 3. Características dos anticorpos que serão usados para imunofluorescência e citometria. Anticorpos primários Fabricante Diluição FACS IF Camundongo FT anti-humano American Diagnostica 1:5 1:100 Camundongo anti-CD24 humano - PE Caltag Lab, Invitrogen 1:40 Rato anti-CD44 humano/camundongo - APC eBioscience 1:40 Camundongo anti-humano FT (5G9) * 0,5µg/106 Camundongo anti-humano FT (10H10) * 0,5µg/106 Anticorpo secundário Fabricante Rato anti-camundongo IgG conjugado a Alexa 546 Invitrogen 1:500 1:500 * Anticorpos gentilmente cedidos pelo professor Wolfram Ruf (The Scripps Research Institute, CA, EUA). 3.9. Citometria de fluxo As suspensões celulares obtidas como descrito acima e foram lavadas com tampão de FACS. As células foram incubadas por 30 min, no gelo, com os anticorpos primários ou diretamente conjugados ao fluorocromo (Tab. 3). Em seguida as células foram lavadas com tampão de FACS e, quando necessário, o anticorpo secundário foi incubado por 30 min no gelo. A suspensão celular foi novamente lavada com tampão de FACs e as amostras foram analisadas em citômetro de fluxo (FACSCalibur, BD Biosciences). Para marcação intracelular, após a marcação de superfície, as células foram fixadas em paraformaldeído 1% por 40 min a temperatura ambiente ou na geladeira durante a noite. A suspensão celular foi lavada duas vezes com tampão de FACS e permeabilizada com 1 mL de etanol 70% Material e Métodos | 30 a -20º C por pelo menos 1 hora. As células foram lavadas três vezes com tampão de FACS e a marcação foi feita como descrito anteriormente. As análises foi realizadas com o programa livre WinMDI 2.9 (http://en.bio-soft.net/other/WinMDI.html) (Obtido em 20/05/2010). Recentemente foram desenvolvidos anticorpos que podem ajudar distinguir efeitos resultantes da sinalização e da ativação da coagulação, mediados por FT em modelos de xenoenxerto. O anticorpo monoclonal 5G9 liga-se a uma grande porção do sitio de ligação do FT ao FX, impedindo a formação do complexo ternário FT/FVIIa/Xa, sinalização e coagulação. Por outro lado, o anticorpo monoclonal 10H10 inibe a sinalização do complexo binário FT/FVIIa, não possuindo potencial anticoagulativo (Ruf et al., 2011). 3.10. Tempo de Recalcificação do Plasma Sanguínea O tempo de coagulação, induzido pelas diferentes linhagens, MDA-MB-231, MCF7, T-47D CD24neg e T-47D CD24pos, foi determinado utilizando o coagulômetro Amelung KC4 (Labcon, Heppenheim). Amostras de sangue humano foram coletadas de pacientes saudáveis em 3,8% de Citrato Trissódico (9:1, v/v) e o plasma pobre em plaquetas foi obtido através de centrifugação a 2.000 g por 10 min. As células foram diluídas em PBS nas concentrações de: 10 6, 105 e 104 células/mL. Foram adicionados 50 μL de plasma humano que foi incubado por um minuto à 37º C na cubeta do coagulômetro e, em seguida, foram adicionados 50 μL de células nas diferentes concentrações, ou PBS como controle. Por fim, a reação foi disparada com 100 μL de 12,5 mM de Cloreto de Cálcio (CaCl2). O tempo de formação do coágulo foi cronometrado. As amostras foram feitas em triplicata, e o experimento foi repetido três vezes. Material e Métodos | 31 3.11. Ensaio de Ativação do Complexo de Tenase Extrínseco Este ensaio avalia a formação do complexo FT/FVIIa/FX através da quantificação do FXa liberado no sobrenadante. Como fonte de FT e superfície para a formação do complexo, utilizamos células de linhagens de carcinoma de mama, MDA-MB-231, T-47D CD24neg e T-47D CD24pos, na concentração de 5 x 104/mL, que foram incubadas por 10 min com 1 nM de Fator VIIa (Protein Purification, Novo Nordisk A/S). Para iniciar a reação foram adicionados 100 nM de FX (Haematologic Technologies, EUA). Após 5 min de reação, 25 µL da mistura da primeira linha da microplaca de 96 poços foram adicionados a segunda linha contendo 50 µL de tampão de parada (50 mM de Tris-HCl, 150 mM de NaCl, 20 mM de EDTA, 1 mg/mL de polietilenoglicol 6000, ajustado para pH 7,5) e assim sucessivamente nos 30 min seguintes. Em seguida, foram adicionados 50 µL do peptídeo sintético S-2765 (concentração final de 200 µM) em tampão de parada, que é um substrato cromogênico específico para o FXa. A absorbância foi avaliada a 405 nm por 30 min a 37ºC através do leitor de microplacas Spectramax (Molecular Devices). Foram utilizados dois controles, o primeiro na ausência de Fator VIIa e o segundo na ausência de células. As amostras foram feitas em duplicata ou triplicata, e o experimento foi repetido três vezes. Resultados | 32 4. Resultados 4.1. Caracterização fenotípica das linhagens de tumor de mama quanto à expressão das moléculas CD24 e CD44 A presença da molécula de adesão CD44, descrita como marcador de células-tronco mamárias tem sido utilizada para identificar células-tronco do câncer de mama. O fenótipo CD24low/negCD44pos foi descrito em subpopulações com alta capacidade de tumorigênese em modelo de camundongos imunodeficientes (Al-Hajj et al, 2003). Nesse sentido, nosso grupo investigou a presença das moléculas de adesão CD44 e CD24 por citometria de fluxo (FACS) nas linhagens de câncer de mama humano MDA-MB-231, MCF-7, MDA-MB-468 e T-47D, Fig.9. A linhagem agressiva, MDA-MB-231 é descrita como basal B; a linhagem MDA-MB-468 é descrita como basal A, tendo um perfil intermediário entre basal B e luminal; já as linhagens MCF-7 e T47-D são descritas como luminais (Neve et al., 2006). Notar que a linhagem basal B, MDA-MB-231 é negativa para CD24 e apresenta alta expressão de CD44 (CD44Hi), enquanto a linhagem MCF-7, pouco agressiva, é majoritariamente CD24posCD44pos, não apresentando células CD44Hi. Embora a maioria das células da linhagem T-47D seja CD24posCD44pos, compatível com a classificação de subtipo luminal, um pequeno percentual das células tem fenótipo basal (CD24negCD44Hi). Inicialmente esta população representava menos de 1% da população total, contudo ao ser mantida por 21 dias em cultura, usando IMDM suplementado com 20% de SFB, foi capaz de aumenta sua proporção, chegando até a 22,9% da população total. Resultados | 33 FIGURA 9. Expressão fenotípica das moléculas CD24 e CD44 em linhagem de tumor de mama. As linhagens de câncer de mama humano foram analisadas por citometria de fluxo. Painel A mostra a expressão de CD24 e CD44 nas linhagens MDA-MB-231, MDA-MB468 e MCF7. O painel B mostra o aumento percentual da população CD44Hi na linhagem celular T47-D após expansão em cultura com IMDM suplementado com 20% de SFB. Os números representam o percentual de células CD44Hi nos quadrantes. Painel C é representativo da distribuição de FCS e SSC (C1) e do controle de fluorescência das linhagens utilizadas. Figura representativa de 3 experimentos independentes. . A partir do resultado obtido na caracterização fenotípica das linhagens, a linhagem T-47D destacou-se por possuir duas populações distintas quanto à expressão das moléculas CD24 e CD44, o que possibilitou a separação das mesmas por citômetro de fluxo acoplado a sorter (Fig. 10), com o objetivo de estudar as duas populações separadamente. Na análise após a seleção foi observada uma pureza de 97,3% para a subpopulação CD24neg/lowCD44pos/Hi (denominada CD24neg, Fig. 10 B), e de 97,1% para a subpopulação CD24posCD44neg/low (denominada CD24pos, Fig. 10 C). A manutenção in vitro da subpopulação CD24pos apresentou uma progressiva expansão da subpopulação CD24neg, o que levantou a hipótese de contaminação ou interconversão de fenótipos. Desta forma, foi realizada uma dupla seleção da subpopulação CD24pos, com objetivo de atingir 99,8% de pureza (Fig. 10 D). Após a segunda seleção, a subpopulação CD24pos se manteve estável em cultura, assim como a população CD24neg, mesmo após 3 meses em cultura (Fig. 11). Resultados | 34 FIGURA 10. Seleção por citometria de fluxo das subpopulações da linhagem de tumor de mama T-47D. (A) Análise pré-seleção, da população CD24pos (Região 2, R2) e da CD24neg (R3). (B) Análise pós-seleção da população CD24negCD44Hi. (C) Análise após a primeira seleção da população CD24posCD44pos que foi novamente selecionada (D) para atingir 99,8% de pureza, n=2. FIGURA 11. Expressão de CD44 e CD24 nas células T-47D selecionadas por citometria de fluxo e mantidas em cultura por 3 meses. Expressão de CD24 e CD44 nas células (A) T47D CD24neg e (B) T-47D CD24pos. Resultados | 35 4.2. Caracterização das subpopulações CD24pos e CD24neg da linhagem T47-D Com intuito de avaliar a morfologia das subpopulações CD24 pos e CD24neg, estas foram observadas em monocamada. As duas subpopulações apresentaram morfologias distintas. A subpopulação CD24neg apresentou morfologia fibroblastóide (mesenchymal-like) com células de aspecto fusiforme e que estendiam projeções de membrana (lamelipódios) (Fig. 12 A e C). Em contrapartida, as células da subpopulação CD24pos apresentaram morfologia poligonal, epitelióide, formando colônias (Fig. 12 B e D). T-47D CD24neg T-47D CD24pos A B C D FIGURA 12. Aspectos morfológicos das subpopulações T-47D CD24neg e T-47D CD24pos em cultura. (A e C) As células T-47D CD24neg cultivadas em monocamada apresentaram fenótipo fibroblastóide. (B e D) As células T-47D CD24pos apresentaram aspecto epitelial luminal. Notar em (D) o crescimento em colônias das células. Microscopia de contraste de fase. Os números nas barras de escala representam o valor de cada barra. Resultados | 36 Com o propósito de aprofundar as observações acerca das diferenças entre as subpopulações CD24pos e CD24neg, foi utilizado um modelo de cultura mais complexo, baseado em culturas tridimensionais do tipo Matrigel. Após 4 dias em cultura, a subpopulação T47-D CD24neg possuía estruturas semelhantes a túbulos, com inúmeras ramificações (Fig.13 A e B). Por sua vez, as células T47-D CD24pos formaram colônias circulares de tamanhos variados (Fig.13 C e D). Após 10 dias em cultura, estruturas sugestivas de lúmen foram observadas na subpopulação CD24pos (Fig.13 E). Análises por microscopia confocal (Fig.13 F) confirmaram que as estruturas formadas eram semelhantes a ácinos. FIGURA 13. Aspectos morfológicos das subpopulações T-47D CD24neg e T-47D CD24pos em Matrigel. As subpopulações CD24neg (A e B) e CD24pos (C e D) da linhagem T47D foram cultivadas por 4 dias (A-D) ou 10 dias (E e F) em Matrigel. Notar as estruturas ramificadas semelhantes a túbulos (A e B) e as colônias circulares (C e D). Microscopia de contraste de fase. (F) Microscopia de confocal. Notar estrutura na região central semelhante a lúmen (setas). Núcleos corados em azul com TOPRO-3. Barras de escala correspondem a 50 µm (A, C, E, F), 20 µm (C, D e insertos em E e F), n=2. Resultados | 37 4.3. Análise da invasão de linhagens de carcinoma de mama em modelo de cultura tridimensional A capacidade invasiva das subpopulações da linhagem T-47D foi avaliada em modelo de cultura tridimensional do tipo esferoide de MO, o qual mimetiza o nicho subendosteal. Este modelo se mostrou adequado para estudos de migração e quiescência de progenitores hematopoéticos (de Barros et al., 2010). Após 72 horas de co-cultura, observou-se que as células CD24pos estabeleceram um limite nítido com os esferoides de MO (Fig. 14 B), sugerindo que estas células não foram capazes de invadir estas estruturas. A ausência de limites nítidos verificada entre as células CD24neg e o esferoide (Fig. 14 A), indicou que as mesmas foram capazes de invadi-los. Foram realizadas análises histológicas para melhor avaliar a interação entre as células tumorais e os esferoides. Mediante imunohistoquímica para citoqueratinas de baixo e alto peso molecular, para identificar as células tumorais, confirmou-se que as células CD24pos aderiram à superfície dos esferoides de MO, mas que não foram capazes de invadi-los (Fig. 14 D). Apesar das células CD24neg apresentaram uma marcação mais tênue para citoqueratinas, foi possível observar que elas se encontravam entre as células do estroma da MO, indicando, então, que estas células foram capazes de penetrar e migrar através dos esferoides de MO (Fig. 14 C). As linhagens MDA-MB-231 e MCF-7 foram utilizadas nesse experimento como controles de alta e baixa capacidade invasiva, respectivamente. Os resultados obtidos na subpopulação CD24neg foram semelhantes aos observados na linhagem invasiva, MDA-MB-231 (Fig. 14 E e G), por outro lado, os resultados observados pela subpopulação CD24pos foram semelhantes aos encontrados na linhagem MCF7 (Fig. 14 F e H) Resultados | 38 FIGURA 14. Co-culturas de esferoides de MO com células T-47D CD24neg, T-47D CD24pos, MDA-MB-231 ou MCF-7. Células CD24neg (A e C), células CD24pos (B e D), MDAMB-231 (E e G) ou MCF-7 (F e H) foram co-cultivadas por 72h com esferoides de MO. Notar os limites nítidos que as células CD24+ e MCF-7 estabelecem com os esferoides e a ausência destes limites nas co-culturas com células CD24neg e MDA-MB-231. Microscopia de contraste de fase. (A-B, E-F) Imunohistoquímica para citoqueratinas de baixo e alto peso molecular nas secções histológicas dos esferoides de MO co-cultivados com as subpopulações da linhagem T-47D e os controles, MDA-MB-231 e MCF-7. Notar em (D e H) que as células CD24pos e MCF-7 encontram-se aderidas à superfície do esferoide. Notar em (C e G) as células CD24neg e MDA-MB-231 em permeio ao esferoide. Microscopia óptica. Os números nas barras de escala representam o valor de cada barra. Fotomicrografia representativa de dois experimentos independentes feitos em setuplicata. Resultados | 39 T-47D CD24 neg T-47D CD24 A B C D MDA-MB-231 MCF-7 E F G H pos Resultados | 40 4.4. Indução de atividade pró-coagulante por linhagens de carcinoma de mama Tendo em vista que as linhagens de carcinoma mamário apresentaram distintas capacidades invasivas, interessamo-nos em investigar se elas eram capazes potencializar a coagulação sanguínea, já que existe uma forte correlação entre a desregulação da coagulação sanguínea e eventos metastáticos. Quando as células potencializam a coagulação do plasma sanguínea, ou seja, quando há formação do coágulo em menor tempo, isso é um indicativo da presença do FT nas células testadas. O FT presente na membrana das células se liga ao FVII presente no plasma, iniciando a coagulação sanguínea (Fernandes et al., 2006). Diferentes concentrações de células tumorais foram incubadas com plasma humano na presença de cloreto de cálcio e o tempo de formação de coágulo foi determinado como descrito na metodologia. Verificou-se que a subpopulação T-47D CD24negCD44pos ativou a coagulação de forma similar ao observado com a linhagem MDA-MB-231. Por outro lado, a subpopulação T-47D CD24posCD44neg apresentou propriedade reduzida de ativação da coagulação, semelhante a da linhagem MCF-7 (Fig. 15). Resultados | 41 FIGURA 15. Tempo de coagulação do plasma sanguíneo em contato com linhagens de câncer de mama. No eixo X, as linhagens de carcinoma de mama, T-47DCD24pos (triângulo azul), T-47DCD24neg (triângulo vermelho), MDA-MB-231 (quadrado preto preenchido) e MCF-7 (quadrado preto vazado), diluídas em três diferentes concentrações: 2,5 x 105, 2,5 x 104 e 2,5 x 103 células por mL, ou na ausência de células (circulo preto preenchido). No eixo Y, o tempo que transcorrido até a formação do coágulo em segundos. Média e desvio padrão; n=3; * p<0,05. Resultados | 42 4.5. Expressão de Fator Tecidual nas linhagens de carcinoma de mama A atividade pró-coagulante de linhagens tumorais pode ser resultado da expressão do FT, principal proteína iniciadora da cascata de coagulação. Por essa razão, a expressão deste fator na superfície membranar das linhagens humanas de tumor de mama foi avaliada por citometria de fluxo (Fig. 16) e microscopia confocal (Fig.17). Verificou-se que as células tumorais pró-coagulantes, T-47D CD24neg e MDA-MB-231, são homogeneamente positivas para FT e a intensidade de fluorescência foi semelhante em ambas as linhagens (Fig. 16A e B), assim como apresentaram elevados valores de ΔMFI (Variação da Intensidade Média de Fluorescência), respectivamente, 118,3 e 113,28 (Fig. 16E e F). A expressão de FT foi observada inclusive em compartimento intracelular (Fig. 17B e F). As células com baixa atividade de coagulação, T-47D CD24pos e MCF-7, foram negativas para FT (Fig. 16, 17C e G), embora um discreto deslocamento do pico de fluorescência fosse observado na análise por citometria de fluxo da linhagem MCF-7 (Fig. 16D), o que sugere uma baixa expressão do fator. No entanto, não se observou, por microscopia confocal, expressão membranar ou intracelular de FT nestas linhagens (Fig. 17). Esta diferença pode ser devido à distinta sensibilidade de detecção entre os métodos utilizados. Resultados | 43 F E Linhagens MDA-MB-231 T-47D CD 24MCF-7 T-47D CD24+ Isotipo FT Isotipo FT Isotipo FT Isotipo FT MFI 4,9 118,18 6,3 124,6 6,3 10,9 9,1 12,5 ΔMFI 113,28 118,3 4,6 3,4 FIGURA 16. Expressão do FT na superfície de células de carcinoma de mama. Histograma de intensidade de fluorescência de FT nas linhagens pró-coagulantes T-47D CD24neg (A), MDA-MB-231 (B), e sem atividade de coagulação, T-47D CD24pos (C) e MCF-7 (D) foram incubadas com anti-FT e este foi revelado com anticorpo secundário conjugado a Alexa-488. Linha pontilhada corresponde ao controle negativo. (E-F) Intensidade média de fluorescência (MFI) e ΔMFI, n=2. Resultados | 44 T-47D CD24neg T-47D CD24pos MDA-MB-231 MCF-7 B C D E F G H Superfície A Intracelular FIGURA 17. Expressão de FT membranar e intracelular nas linhagens de carcinoma de mama. Marcação de superfície (A, B, C e D) e marcação intracelular (B, D, F e H). (A e E) T-47D CD24neg, (B e F) MDA-MB-231, (C e G) T-47D CD24pos e (D e H) MCF-7 por microscopia de fluorescência. As barras representam 20 μm. FT em vermelho e núcleos corados com DAPI (azul), n=2. Resultados | 45 Diferentes funções do FT envolvidas em mecanismos tumorais podem ser avaliadas através da utilização de anticorpos monoclonais que se ligam a diferentes epítopos do FT. O anticorpo 5G9 reconhece o sítio de ligação do FX, impedindo a formação do complexo ternário (FT-FVII-FX) e consequentemente inibindo a ativação da cascata de coagulação e sinalização. Enquanto o anticorpo 10H10 bloqueia a sinalização do complexo binário (FT-FVII), não sendo capaz de bloquear a coagulação (Versteeg et al., 2008). A reatividade dos anticorpos foi testada para verificar se eram capazes de se ligar aos complexos do FT na membrana da linhagem T47-D CD24neg. Estes resultados são importantes para futuramente analisarmos o bloqueio das diferentes funções do FT sobre a capacidade invasiva dessas células. Também utilizamos como controle as linhagens MDA-MB-231 e MCF-7 que são amplamente utilizadas nessa área do conhecimento. Verificou-se que, de forma semelhante a linhagem MDA-MB-231, as células T47-D CD24neg foram positivas para ambos os anticorpos (Fig. 18). Resultados | 46 A T-47D CD24neg B MDA-MB-231 C 93% 2% 89% D E 97% MCF-7 F 92% 1% FIGURA 18. Atividade dos anticorpos anti-FT (10H10 e 5G9). Marcação na superfície de FT nas linhagens T-47D CD24neg (A e D), MDA-MB-231 (B e E) e MCF-7 (C e F) por citometria de fluxo. 10H10 (A-C) e 5G9 (D-F), n=1. Resultados | 47 4.6. Análise da ativação da cascata de coagulação medida pelo FT presente nas células de carcinoma mamário Como visto nos resultados anteriores, as linhagens T-47D CD24neg e MDAMB-231 expressam FT membranar. Contudo, somente a presença da proteína não caracteriza sua funcionalidade, sabendo-se que o FT pode estar presente na membrana em uma conformação inativa (Chen e Hogg, 2006). Desta forma, o ensaio de ativação do FX em FXa permite avaliar a formação do complexo tenase extrínseco ativo (FT-FVII-FX). O FT presente nas células tumorais se liga ao fator VIIa adicionado e juntos são capazes de ativar o FX também adicionado ao ensaio (Fig. 19). Vmax (mOD/min) 5 T-47DCD24neg + FVIIa T-47DCD24neg 4 T-47DCD24pos + FVIIa 3 T-47DCD24pos 2 MDA-MB-231 + FVIIa MDA-MB-231 1 FVIIa 0 0 5 10 15 20 25 30 35 tempo (min) FIGURA 19. Ensaio de ativação do FX. As linhagens T-47D CD24pos, T-47D CD24neg e MDA-MB-231 foram incubadas com FX, na presença (símbolos preenchidos) ou ausência (símbolos vazios) de FVIIa. A ativação do FX foi avaliada através da quantificação do seu substrato cromogênico específico por densidade óptica. Resultado representativo de n=3. Discussão | 48 5. Discussão No câncer de mama, o principal fator que determina um pior prognóstico é o surgimento de metástases, sendo esta a principal causa de morte das pacientes (Sleeman & Stegg, 2010). Segundo a teoria das Células-Tronco do Câncer (CTC), uma pequena população celular seria responsável pela manutenção do tumor, disseminação precoce e micrometástase medular. Em pacientes de câncer de mama metastático, cerca de 70% das células tumorais presentes na medula óssea apresentam os marcadores descritos para CTC (Balic et al., 2006). Esta observação reforça a proposta destas células como sendo as responsáveis pela recidiva da doença após retirada do tumor primário e tratamento. Entretanto, a teoria das CTC vem sendo questionada por alguns grupos de pesquisadores que demostraram que a TEM é capaz de gerar células com fenótipo semelhante ao das CTC (Mani et al., 2008; Morel et al., 2008; Blick et al., 2010). Por meio desse mecanismo, células de carcinoma perderiam sua polaridade apicalbasal, apresentariam uma inversão na expressão de caderinas de membrana, exibindo queda nos níveis de E-caderina e aumento nos níveis de N-caderina; e adquiririam mobilidade e capacidade de invadir a matriz extracelular. Além dessas modificações essenciais para a conquista de novos sítios, essas células também passariam a expressar marcadores de CTC, CD44posCD24neg (Mani et al., 2008), o que indicaria que esse fenótipo pudesse ser adquirido por meio da TEM. Como citado anteriormente, as linhagens celulares são um interessante modelo para o estudo da biologia tumoral, além de já ter sido demonstrado que são capazes de representar os diferentes subtipos tumorais encontrados em pacientes. Utilizando os marcadores CD24 e CD44, nosso estudo identificou na linhagem de tumor mamário humano, T-47D, classificada na literatura (Blick et al., 2010; Neve et Discussão | 49 al., 2006) como luminal e, por isso mesmo apresentando fenótipo CD44 neg/LoCD24pos e comportamento não invasivo, uma pequena população com o fenótipo de CTC de mama, CD44posCD24neg, que mostrou características morfofuncionais de linhagem Basal. As subpopulações da T-47D apresentaram crescimento in vitro, em sistema bidimensional ou tridimensional, em matrigel, com morfologia característica dos respectivos subtipos. Curiosamente, nas culturas da subpopulação CD24pos com 10 dias em matrigel foram observadas estruturas semelhantes a ácinos que são descritas como sendo formadas somente a partir de células epiteliais não malignas (Kenny et al., 2007). Este resultado precisa ser melhor avaliado neste modelo, podendo ser resultante do tempo prolongado de cultura, seis dias a mais do que foi testado por Kenny e colaboradores. Ao utilizar o modelo de cultura tridimensional que mimetiza o microambiente da medula óssea, desenvolvido pelo grupo (de Barros et al., 2010), verificou-se neste estudo que somente a população com fenótipo CTC foi capaz de invadir estes esferoides. Este resultado sugere que, como suspeitado, as metástases medulares, majoritariamente constituída por células com fenótipo de CTC (Balic et al., 2006), sejam efetivamente dependentes da presença destas células nos tumores primários. Finalmente, deve ser ressaltado que, embora tenha sido descrita a conversão in vitro entre os fenótipos luminal (CD24pos) e basal (CD24neg) em linhagens de câncer de mama (Meyer et al., 2009), isto não foi observado nesse estudo, onde as subpopulações mantiveram um fenótipo estável in vitro. Experimentos adicionais para verificar o potencial tumorigênico das linhagens e a capacidade das células T-47D CD24neg de gerarem in vivo células mais diferenciadas, luminais, estão sendo realizados pelo nosso grupo. Resultados preliminares indicam que somente a linhagem T-47D CD24neg é tumorigênica, Discussão | 50 formando tumores com um padrão heterogêneo quanto à organização celular, ou seja, apresentam regiões típicas de carcinoma sólido, outras regiões com células mioepiteliais e outras regiões de transição; e também quanto à expressão de citoqueratinas características de diferentes subtipos tumorais. Independentemente da população T-47D CD24neg ser realmente uma população de CTC ou ter sido gerada pelo processo de TEM, ela apresenta características relacionadas com o subtipo basal de carcinoma dutal invasivo de mama, também denominado de triplo negativo, RE-, RP- e HER2- (Schnitt, 2010) e, portanto, representa uma população de alta malignidade. Estudos comparativos entre linhagens com comportamentos de baixa e alta agressividade geralmente são realizados com as linhagens de tumor mamário humano MDA-MB-231 e MCF-7, que são linhagens originadas de diferentes tumores e, portanto, de indivíduos geneticamente distintos. A utilização das duas linhagens T-47D CD24pos e T-47D CD24neg é bastante promissora, já que as duas populações se mostraram estáveis em cultura, apresentaram características morfofuncionais bastante distintas e tiveram origem em um tumor de uma única paciente, ou seja, apresentam o mesmo código genético. Tanto a linhagem MDA-MB-231 quanto a linhagem T-47D CD24neg mostraram potencial invasivo em modelo tridimensional complexo, onde as células de estroma de MO secretam e organizam a matriz extracelular de forma similar a vista in vivo (de Barros et al., 2010). Portanto, estas linhagens são potencialmente capazes de desenvolver metástase. Como a subpopulação CD24neg tem um fenótipo descrito para CTC de mama, levantou-se então a hipótese de que esta subpopulação, como descrito para a MDA-MB-231, também teria modulado positivamente fatores Discussão | 51 envolvidos na ativação da coagulação sanguínea, que já foram descritos como tendo papel importante na metástase tumoral. O FT tem sido descrito como principal responsável pela desregulação da coagulação constatada em pacientes com câncer, podendo estar aumentada tanto em células tumorais, como no microambiente tumoral, como no plasma sanguíneo. Já foi relatado que a presença de FT no microambiente tumoral poderia ser tão relevante quanto a presença de células tumorais positivas para FT, demonstrando então uma correlação entre níveis de FT no estroma e o processo tumoral (Ueno et al., 2000). Contudo, utilizando modelo de nocaute para FT, demonstrou-se que somente a presença deste nas células tumorais, e não em células do microambiente, é capaz de estimular o crescimento tumoral (Liu et al., 2011). Recentemente foi demostrado que a fosforilação do domínio citoplasmático do FT poderia dar resultados mais fidedignos quanto ao prognostico, já que muitas vezes a ligação extracelular do FT com o FVII pode impedir a ligação do anticorpo ao FT. Desta forma, a fosforilação do sítio citoplasmático do FT foi correlacionada com a expressão de PAR2 e a sobrevida reduzida (Ryden et al., 2010). Estes resultados sugerem que além de seu papel na coagulação, a sinalização de FT via receptor PAR-2 poderia ser relevante na biologia tumoral. De fato, utilizando anticorpo específico que bloqueia a sinalização via PAR-2, mas não a ativação da cascata de coagulação, verificou-se bloqueio de angiogênese e redução do volume de tumor induzido por MDA-MB-231 em xenoenxerto (Versteeg et al., 2008). Neste trabalho, a expressão de fator tecidual foi avaliada em linhagens representativas do fenótipo basal e luminal, MDA-MB-231, MCF-7, respectivamente e as subpopulações da linhagem T-47D que, como vimos, se enquadraram nestes subtipos. A presença do FT se correlacionou com o comportamento das mesmas. Discussão | 52 Em acordo com a literatura, as linhagens com maior grau de malignidade (MDA-MB231 e T-47DCD24neg) apresentaram fator tecidual na sua membrana, enquanto as linhagens mais diferenciadas (MCF-7 e T-47DCD24pos) apresentaram baixos ou indetectáveis níveis desta proteína. Além disso, a presença do fator tecidual foi correlacionada com um perfil pró-coagulante das linhagens, ou seja, a presença do FT na membrana permitiu a formação do complexo tenase extrínseco e consequente ativação do FX. No entanto, na linhagem MCF-7, o baixo nível de expressão do FT não foi suficiente para potencializar a ativação da cascata de coagulação, como foi observado nas linhagens com maior expressão. Portanto, o fenótipo Basal, ou de CTC, correlaciona-se com a atividade pró-coagulante, devendo-se investigar o grau de fosforilação de FT, a expressão dos receptores PAR-1 e PAR-2 e a sinalização mediada por estes. Os mecanismos envolvidos na elevação dos níveis de expressão do FT são complexos, finamente controlados e variam entre diferentes tipos celulares. Na linhagem A431 de carcinoma epidermóide verificou-se que o estímulo da sinalização do receptor do fator de crescimento epitelial (EGFR) levou a um aumento da expressão do FT. Além disso, o bloqueio de E-caderina também levou a um aumento dos níveis de FT e as células passaram a apresentar um fenótipo mais metastático (Milsom et al., 2008). Na linhagem de câncer de mama MDA-MB-231, foi visto que a ativação de via de MAPK/ERK, que é promovida por EGF, está envolvida no aumento de FT e a inibição do EGFR foi capaz de reduzir os níveis de FT (Hu et al., 2012). Esses dados sugerem uma notável correlação entre mecanismos que promovem o aumento do FT e a TEM, que pode ser induzida com TGF-β associado à EGF em linhagens de carcinoma de mama (Mani et al., 2008). Além disso, a perda de E-caderina também está associada a TEM e gera células com fenótipo Basal Discussão | 53 (Mani et al., 2008; Milsom et al., 2008). Desta forma, neste trabalho encontramos correlação entre o fenótipo Basal/CTC de mama, expressão de FT, atividade prócoagulante e aquisição de comportamento invasivo, o que condiz com resultados obtidos em linhagem de carcinoma epidermóide (Milsom et al., 2007) e sugere que a diferente expressão de FT nas subpopulações de T47-D esteja associada aos processos de progressão tumoral, como TEM e ativação das vias de MAPK/ERK e sinalização por EGFR, que devem ser investigadas. As células T47D com fenótipo basal mostraram atividade pró-coagulante, expressão de TF funcional, enquanto as células com fenótipo luminal apresentam comportamento oposto. Portanto, estas subpopulações, por serem derivadas da mesma linhagem, são um modelo atrativo para o estudo de moléculas relacionadas à aquisição de comportamento invasivo e metastático, como expressão e função de FT. Conclusões | 54 6. Conclusões - A expressão de CD24 e CD44 na linhagem MCF-7 e na subpopulação T47D CD44negCD24pos correlacionou-se com o fenótipo luminal. Enquanto na linhagem MDA-MB-231 e na subpopulação T47D CD44posCD24neg, o perfil correlacionou-se com o fenótipo basal. - Duas populações morfológica e funcionalmente distintas foram identificadas e isoladas na linhagem de tumor de mama T-47D. A população majoritária, CD44negCD24pos, apresentou comportamento não invasivo, semelhantemente a linhagem MCF-7. Enquanto a população com fenótipo descrito para CTC de mama, ou seja, CD44posCD24neg, apresentou características invasivas, assim como a linhagem MDA-MB-231. As duas populações da linhagem T-47D mantiveram fenótipo e propriedades biológicas estáveis em cultura e, portanto, são um modelo interessante para estudos comparativos entre células oriundas da mesma linhagem parental, ou seja, do mesmo tumor, mas que apresentam características distintas quanto ao potencial invasivo. - A atividade pró-coagulante, capacidade de ativar o FX da coagulação e a expressão de FT se correlacionaram com o perfil de CTC e a invasividade nas linhagens T-47D CD44posCD24neg e MDA-MB-231. Referências Bibliográficas | 55 7. Referências Bibliográficas ADAMS, M. N.; RAMACHANDRAN, R.; YAU, M. et al. (2011). Structure, function and pathophysiology of protease activated receptors. Pharmacology & Therapeutics, v. 130, n. 3, p. 248-282. AHAMED, J.; Versteeg, H. H.; Kerver, M. et al. (2006). Disulfide isomerization switches tissue factor from coagulation to cell signaling. 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