FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO AUTARQUIA ESTADUAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM RELAÇÕES INTERPESSOAIS E ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS EM CRIANÇAS COM CÂNCER: PRÉ E PÓS-DIAGNÓSTICO TALITA FERNANDA PEREIRA PAVESI PROFº Drº ALEXANDRE LINS WERNECK (ORIENTADOR) SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 2016 Talita Fernanda Pereira Pavesi Relações Interpessoais e Aspectos Socioeconômicos em Crianças com Câncer: Pré e Pós Diagnóstico Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto para obtenção do grau de Enfermeira. Orientador Profº Drº Alexandre Lins Werneck São José do Rio Preto 2016 Pavesi, Talita F. Pereira Relações Interpessoais e Aspectos Socioeconômicos em Crianças com Câncer: Pré e Pós Diagnóstico / Talita Fernanda Pereira Pavesi São José do Rio Preto, 2016 Monografia (TCC) – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP Orientadora: Prof° Dr° Alexandre Lins Werneck 1. Relações interpessoais; 2. Aspectos socioeconômicos; 3. Crianças; 4. Câncer; FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - AUTARQUIA ESTADUAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Trabalho de Conclusão de Curso – TCC Data: 06/12/2016 Orientador: Prof° Dr° Alexandre Lins Werneck 1º Examinadora: Profª Drª Claudia Bernardi Cesarino 2º Examinadora: Profª Drª Maria Helena Pinto Sumário Dedicatória .............................................................................................................................. 10 Agradecimentos....................................................................................................................... 10 Epígrafe ................................................................................................................................... 10 Lista De Gráficos .............................................................................................. 11 Lista De Abreviaturas ....................................................................................... 12 Resumo ............................................................................................................ 13 Introdução .......................................................................................................... 6 Objetivos .......................................................................................................... 12 Objetivo Geral ........................................................................................................................ 12 Objetivos Específicos ............................................................................................................. 12 Casuística E Métodos ...................................................................................... 12 Resultados ....................................................................................................... 15 Diagnóstico .............................................................................................................................. 15 Renda Familiar ........................................................................................................................ 19 Dinâmica Familiar .................................................................................................................... 22 Relacionamento Familiar ......................................................................................................... 26 Relacionamento Com Outras Crianças ................................................................................... 27 Relacionamento Conjugal ....................................................................................................... 28 Religião .................................................................................................................................... 30 Dificuldades ............................................................................................................................. 32 Comportamento ....................................................................................................................... 34 Conclusão ........................................................................................................ 36 Referências ...................................................................................................... 37 Apêndices......................................................................................................... 40 Instrumento de Coleta De Dados ............................................................................................ 40 Dedicatória Gostaria de dedicar essa pesquisa primeiramente á minha inspiração, meu avô José Sebastião Pereira, ao meu marido, á minha família, á Daise Lais Machado, por sempre guiar meus caminhos e me encorajar a buscar meus sonhos, e principalmente, ao meu querido orientador Alexandre Lins Werneck, pelos aprendizados, pelos ensinamentos, pela paciência e por acreditar em mim. Agradecimentos Quero agradecer a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto pelo estímulo a pesquisa, a ala de quimioterapia do Hospital de Base e a ala de doenças crônicas do Hospital da Criança e Maternidade pelo acolhimento e abertura para que este trabalho fosse realizado. Epígrafe “A viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos” Marcel Proust Lista de Gráficos Figura 1: Reação dos pais ao diagnóstico de câncer, p.16 Figura 2: Conhecimento dos pais sobre o câncer, p.19 Figura 3: Situação financeira dos familiares antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento, p.21 Figura 4: Atividades de lazer das famílias antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento, p.23 Figura 5: Dinâmica familiar antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento, p.25 Figura 6: Frequência escolar antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento, p.27 Figura 7: Relacionamento familiar antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento, p.29 Figura 8: Relacionamento de outras crianças em tratamento de câncer com outras crianças, p.30 Figura 9: Saída do membro da casa após o inicio do tratamento, p.32 Figura 10: Fé dos pais no tratamento de câncer dos filhos, p.34 Figura 11: Dificuldades enfrentadas pelas famílias durante o tratamento de câncer, p.36 Figura 12: Dificuldades enfrentadas pelas famílias durante o tratamento de câncer, p.36 Figura 13: Comportamento da criança antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento, p.39 Lista de Abreviaturas OMS: Organização Mundial da Saúde; AC: Antes de Cristo, LLA: Leucemia Linfocítica Aguda; LMA: Leucemia Mieloide Aguda; PCSN: Parte Central do Sistema Nervoso, LH: Linfoma Hodgkin; LNH: Linfomas não-Hodgkin; SUS: Sistema Único de Saúde; NBH: Necessidades Básicas Humanas; NBH: Necessidades Básicas Humanas; TFD: Tratamento Fora do Domicílio; SIC: Segundo Informações Colhidas. RESUMO O câncer mesmo descoberto há séculos atrás, possui grande impacto no mundo, no ano de 1998, foram diagnosticadas mais de 12.400 crianças com câncer, se tornando a primeira causa de morte em crianças. No ano de 2007, registros da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostraram que 9.890 crianças foram diagnosticadas com câncer e estimativas norte-americanas avaliam que para 900 adultos, um é sobrevivente de câncer na infância. Além da grande repercussão mundial, o câncer não impacta apenas a criança e sim, se estende por todo o sistema familiar, tornando necessária uma reorganização dos membros para atender as necessidades cotidianas e as do enfermo de forma eficaz e eficiente, se não resolvidas adequadamente, pode ocorrer á desestruturação e influenciar diretamente a qualidade de vida dos membros e a resposta ao tratamento da criança. Esta pesquisa tem como objetivo identificar os principais impactos, dificuldades e mudanças da família durante o tratamento do câncer infantil. Possui uma metodologia transversal, quantiqualitativa e dois métodos diferentes, Bardin, Survey. A coleta de dados consistiu em 20 entrevistas de responsáveis legais de crianças com câncer em tratamento, em 3 diferentes lugares, por meio de um questionário criado pela própria pesquisadora. Entre os resultados, após a análise de dados, os mais impactantes foram: a dinâmica familiar, de 100% organizada para 100% desorganizada; renda familiar, de 70% boa para 75% dificultosa; frequência na escola, de 75% para 65% (pararam ou abandonaram); e relacionamento familiar, 95% bom para 80% ruim. Estes resultados demonstram mudanças de extrema importância com o inicio do tratamento que prejudicam toda a família em diferentes âmbitos, como impactos financeiros, qualidade de vida, principais dificuldades apresentadas em diferentes momentos do tratamento e no relacionamento familiar. Descritores: Relações Interpessoais; Aspectos Socioeconômicos; Crianças; Câncer; INTRODUÇÃO O câncer se dá pela mutação gênica do DNA celular, transformando uma célula normal em uma célula anormal, fazendo com que ela perca sua capacidade natural de regular sua proliferação, reproduzindo-se de modo desregulado em seu ambiente. (1-5) O câncer no adulto é evitado com diagnósticos precoces, não existindo essa possibilidade no câncer infantil, descoberto na maioria das vezes tardiamente, seus sintomas aparecem quando a doença já atingiu estágios avançados, apresentando sinais inespecíficos dificultando mais seu diagnóstico. Outra desvantagem do câncer infantil é a alta taxa de proliferação das células, porém, como vantagem, a criança é mais sensível ao tratamento, aumentando a possibilidade de cura. (5,6) O mais antigo registro de tumor foi em um maxilar humano com sinais de linfoma no ano de 4.000 AC, suas primeiras menções foram pelas civilizações egípcias, persas e indianas nos séculos A.C. seguintes. Ganhou sua primeira definição por Hipócrates, como um tumor maciço que reaparecia depois de extirpado, causado por desequilíbrio dos fluidos corpóreos e do sistema linfático. Passou a ser mais entendido apenas no século XVII, pelo anatomista Giovanni Battista Morgagni e o médico Marie François Xavier Bichat, nesse mesmo período o médico Joseph Claude Anthelme Recamier identificou o primeiro caso de metástase causada pela corrente sanguínea ou sistema linfático.(7) No século XIX, o câncer era conhecido como uma doença fatal, tinha como associação a tumoração deformante, dor, odor fétido, em que seu único tratamento consistia na diminuição do sofrimento com medidas de apoio e contado apenas aos familiares, nunca ao paciente. Pela hipótese de que o câncer fosse transmissível, o doente era isolado do resto da sociedade, sofrendo rejeição e preconceito. No fim do século, houve a evolução do tratamento, a extirpação cirúrgica, após a criação da anestesia geral, no ano de 1860, que obteve sucesso cirúrgico na remoção de um tumor no estômago (1881) e uma mastectomia (1890), porém, não se obteve a cura, apenas alivio nos sintomas em todos os casos. Em 1920, surgiu o segundo tratamento do 6 câncer, a radioterapia, usado sempre que a cirurgia falhava. A primeira droga anticâncer foi desenvolvida em 1940, surgindo o terceiro tratamento, a quimioterapia, havendo alterações drásticas no prognóstico de alguns tumores, principalmente em crianças e jovens. (5,7-9) Os três tipos de tratamentos se perpetuaram ao longo do tempo, sendo os mesmos nos dias de hoje. Atualmente, esses tratamentos são utilizados como base em todos os tipos de câncer, porém, mais atualizados pelas tecnologias atuais, tendo-se como exemplo a quimioterapia que contêm mais de sessenta drogas anticânceres.(5,8,9) Nos últimos anos, pesquisas mostram que em 70 a 80% dos casos obtém-se sucesso no processo de cura em virtude de novas terapias associadas a tratamentos, como quimioterapia, radioterapia e cirurgias. (1,4,5) Atualmente, as taxas de cura variam entre 70 e 90% dos casos, nos Estados Unidos. No Brasil, as crianças e jovens com Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) apresentam um índice de cura entre 70 e 89%. (4) Em 1998, nos Estados Unidos, foram diagnosticadas 12.400 crianças portadoras de oncologias. A partir desse ano, o câncer se tornou a primeira causa de morte em crianças. No ano de 2007, registros da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostraram que 9.890 crianças foram diagnosticadas com câncer (3) e estimativas norte-americanas avaliam que para 900 adultos, um é sobrevivente de câncer na infância. (9) Esse número aumentou em 2010, que em 250 adultos, um foi portador de algum tipo de oncologia na infância.(1,9,19) Já em 2008, acredita-se que mundialmente tenham sido descobertos 175.058 novos casos de crianças menores de 15 anos portadoras de alguma oncologia, com 7,9 milhões de mortes no ano. A taxa de incidência é de 94/1.000. 000, e dessas, faleceram 96.439, assim, seu índice de mortalidade é de 52/1.000. 000, resultando em uma taxa bruta global de 150,5 novos casos por 1.000.000 crianças. (1, 3, 9,12) No Brasil, o câncer se mantém como primeira causa de morte em crianças e adolescentes entre as idades de 01 a 19 anos. (1,5,13) São estimados mais de 9.000 novos casos de câncer infanto-juvenil por ano. No estado de São Paulo também se mantêm como primeira causa de morte em crianças de 0 a 14 anos de idade. (11) A OMS acredita que em 2030 esse número cresça para 12 milhões em todo o mundo. (3) Apesar da taxa de incidência de câncer infantil 7 crescer 1% a cada ano e a taxa de cura acompanha esse aumento sendo atualmente 85% em todo o mundo.(11) Em países desenvolvidos ainda se mantém o câncer infantil como a segunda causa de morte em menores de 19 anos, perdendo apenas para acidentes e violência. (5,13,14) Os menores de 15 anos de idade são os mais diagnosticados e, crianças de 0 a 4 anos, os mais propensos a desenvolver o câncer. Há ainda predomínio do sexo masculino até os 11 anos de idade. Os tipos de câncer mais comuns são as leucemias com 27%, neoplasias da parte central do sistema nervoso 22% e linfomas 14%. (6,12-18) A leucemia é predominante entre os tipos de câncer na infância (30%), dentre seus tipos, a mais comum é Leucemia Linfocítica Aguda (LLA), possuindo tratamento prolongado e variando de dois a três anos e acometendo crianças de 0 a 14 anos. Essa predominância tem exceção no Japão, China e Zimbábue, em que são mais frequentes a Leucemia Mieloide Aguda (LMA). (3,5,16) O instituto nacional do câncer demonstrou que hoje, 70% dos casos de crianças diagnosticadas com LLA são curadas pela escolha assertiva de tratamentos individualizados, baseando-se na idade, quadro clínico, resultados laboratoriais e na resposta do tratamento inicial. (3, 6, 16,19) A taxa de sobrevida é de 6,5 anos em 70% dos pacientes e como sinais e sintomas linfadenopatias, pancitopenia, dor óssea, febre recorrente, proptose e sangramentos. (11) As neoplasias que acometem a parte central do sistema nervoso (PCSN) estão mais comumente entre os tumores com a classificação de segunda neoplasia mais diagnosticada em crianças (20%). A incidência é de 3,3 casos para 100.000 crianças, na faixa etária de 0 a 15 anos. (5,16) Possui como sinais e sintomas cefaleia, vômitos e náuseas. (11) Os linfomas respondem por 11,3% dos casos, dividindo-se em 60% não Hodgkin e 40% Hodgkin. de 5 e 14 anos. (16) (5,6) A prevalência em crianças ocorre na faixa etária Os linfomas são neoplasias que acometem o sistema linfático, são diferenciados entre Hodgkin e não-Hodgkin. Suas diferenças consistem em aspecto clínico, quadro anatômico, resposta a terapia e evolução. O Linfoma Hodgkin (LH) é uma neoplasia histiocística, diferenciandose dos demais linfomas pelo polimorfismo celular. Os Linfomas não-Hodgkin (LNH) são considerados proliferações clonais de linfócitos T, linfócitos B ou células reticulares, havendo predominância nos chamados linfomas de células 8 B. (20) A taxa de sobrevida é de 85% e em seus sinais e sintomas apresentam linfoadenopatia, massa abdominal e mediastinal, perda de peso, anemia e fraqueza. (11) O tratamento o câncer infantil, assim como o do adulto, é feito por meio de cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou transplante de medula óssea, conforme a especificidade de cada caso. (3,5) Além disso, faz parte de todo tratamento: a dieta adequada, colocação e cuidados com o cateter, transfusões, uso de medicamentos (antibióticos e antieméticos) que melhora a qualidade de vida do paciente e diminui os efeitos colaterais. (3) O diagnóstico da doença marca o inicio do tratamento. (5) Quimioterapia: É tratamento complexo que pode variar de meses a anos. Consiste em medicamentos administrados em ambiente hospitalar ou domiciliar, por injeções ou via oral. Esses medicamentos têm como função matar células cancerígenas e, normalmente, afetam outros tecidos como o cabelo e mucosas. Apresentam como efeitos colaterais apatia, perda de apetite, queda de cabelo, diminuição da resistência, hematomas, sangramento nasal, edemas, aftas na boca, náuseas, vômitos e diarreia. A quimioterapia é parte do tratamento em aproximadamente 60% a 70% dos casos. (5) Radioterapia: Utiliza a radiação para erradicar a neoplasia, tendo a vantagem de não atingir outros tecidos, sendo um tratamento local e preciso. Delimita na pele a área que será afetada pelo tratamento com marcações por fucsina (tipo de tinta). A criança deverá estar sozinha na sala de tratamento e permanecer na posição indicada pelo técnico, por isso, recomenda-se informar aos pais com antecedência, o método de tratamento. Apresentam como efeitos colaterais alterações na pele irradiada, aparecimento de aftas, queda de cabelo, alterações no paladar, salivação prejudicada, modificações na digestão e fadiga. Aproximadamente 50% a 70% dos pacientes se submetem à radioterapia em alguma etapa de seu tratamento. (5) Transplante de medula óssea: Indicado para pacientes que não apresentam respostas satisfatórias às terapias mais comuns. Essa tem a função de aumentar o sistema imune a parâmetros normais ou mais altos, substituindo as células anormais do corpo por progenitores hematopoiéticos medulares (células normais). Apresenta como efeito colateral a maior susceptibilidade a 9 contrair infecções por bactérias ou fungos, que nesse caso, possuem o potencial de serem fatais. (5) Cirurgia: tem como objetivo a cura e prolongamento da vida, para pacientes paliativos. Alivia os sintomas e previne complicações. Tanto a cirurgia quanto a radioterapia possuem a mesma meta principal, o controle da doença. (5) A equipe de saúde responsável pelo tratamento do câncer infantil é composta na maioria das vezes, por oncologistas, patologistas, cirurgiões oncológicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e nutricionistas. Estes devem manter uma comunicação clara e frequente com a família e a criança, do diagnóstico até a cura da criança. (5) O câncer tem a particularidade de desencadear uma carga de extrema negatividade com diagnóstico, abalando o doente e toda sua família, pela constante presença do medo sofrimento, dor e a morte. Quando diagnosticada em uma criança, torna o enfrentamento da família mais difícil, encarando de forma mais dramática, pois, ainda há muito que ser vivido. (12, 21,22) O momento do diagnóstico gera crise na família e complicações no crescimento da criança, afetando os relacionamentos dentro e fora da família. (8,23) A aceitação da família perante todas as informações tem ligação direta com a capacitação dos profissionais de informar e explicar todo o conjunto da doença, dos valores psicossociais dos familiares, prognóstico da criança, além da rede de apoio. (22,23) Estes fatores contribuirão também para a aceitação da própria criança de sua condição, que apenas percebe que está doente com o início do tratamento. Quando se vê rodeada por desconhecidos, num ambiente hospitalar e sendo submetida a vários procedimentos invasivos e dolorosos, percebe a gravidade da doença e se sente em constante perigo, e de um modo só dela, conhece por sua própria realidade, o câncer. (1,9) Quando há o internamento do filho, os pais são surpreendidos com vários sentimentos inesperados como choque, recusa da situação, incapacidade, revolta e culpa. (12,18) Essas dificuldades têm ligação direta com os aspectos familiares, laborais e condições de alojamento, enquanto os constrangimentos prendem-se às técnicas invasivas, os equipamentos e o ambiente em que se encontra. A família vivencia uma desestruturação do cotidiano, sobretudo no ambiente doméstico, no qual mantêm as responsabilidades anteriores, acrescidas de novas atividades, sendo forçada a uma mudança significativa na 10 sua estrutura de vida, de forma a conseguir adaptar-se e dar resposta às necessidades da criança. (2,10) A doença então começa a se estender em todo o sistema familiar, obrigando a uma reorganização que consiga atender as necessidades do dia-a-dia e as do enfermo de uma forma eficaz e eficiente. (24) As tarefas diárias que eram simples agora se tornam complicadas, pois ao tentar esconder os impactos da doença, a família tenta manter a rotina anterior ao diagnóstico, porém não é capaz de manter essas condições que agora tem a criança com câncer como centro das atenções. (25) Desse modo, a família traz consigo cargas positivas e negativas pela constante transformação dos papéis e dinâmica, precisando da atenção e cuidado dos profissionais envolvidos no tratamento do paciente que sofre influências diretas da família pela vulnerabilidade apresentada. Preconiza-se o suporte assistencial às famílias e cuidadores de crianças com câncer para haver melhora no tratamento e maior suporte emocional. (8, 9, 22, 24, 26) A partir desse momento, os membros da família e a criança não tem mais duvidas que nada regressará ao que era antes, passando agora a elaborar estratégias para superar os acontecimentos previstos e imprevistos e lidar com as novas experiências.(25) Em meio a tudo isso, os cuidados frequentes com o doente podem ser contribuintes de estresse e geradores de conflitos, como a nova alimentação, períodos de internações, efeitos adversos e mudanças no comportamento, prejudicando a qualidade de vida e respostas do tratamento. (9,25) Quando analisamos os dados epidemiológicos, percebemos o grande impacto que o câncer infantil produz na sociedade, mesmo tendo sido descoberto há muitas décadas. A doença oncológica não acomete apenas a criança, mas abrange todo o sistema familiar, provocando uma reorganização dos familiares para que consigam atender as necessidades do dia-a-dia e as do enfermo de uma forma eficaz e eficiente. A família desempenha função essencial no tratamento da criança, pois é dela que vem o apoio, como o entendimento da doença, o que leva conforto tantos aos familiares quanto à criança. Com essa reorganização obtém-se um bom resultado da resposta da criança ao tratamento, aumentando suas chances de cura. O objetivo do presente trabalho 11 é identificar as principais mudanças na família e os reais problemas e dificuldades desde o diagnóstico de câncer até o final do tratamento. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Investigar as principais mudanças, dificuldades e necessidades de famílias de crianças com câncer durante seu tratamento OBJETIVOS ESPECÍFICOS Analisar as organizações familiares antes e durante o tratamento da criança Traçar as principais mudanças na dinâmica familiar analisando sua rotina antes e depois do tratamento Identificar as dificuldades mais enfrentadas pelas famílias após o inicio do tratamento Compreender as principais necessidades e reais problemas da família durante o tratamento CASUÍSTICA E MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, que contou com a metodologia de análise de conteúdo de Bardin (2002), que é um conjunto de instrumentos metodológicos aplicados aos dados, para torná-los passíveis de análise e tratamento Por fim, a análise deverá proporcionar uma síntese dos dados levantados, apresentando-se de maneira coerente com o suporte teórico escolhido previamente. Essa análise é composta de três fases: a “pré-análise”, na qual deve ser estabelecido um esquema de trabalho, a “exploração do material” que consiste em cumprir o que foi decidido anteriormente e o “tratamento dos resultados”, no qual o pesquisador apoia-se nos resultados brutos, procurando torná-los válidos e significativos, e com a metodologia quantitativa por levantamento ou Survey, que se entende pelo levantamento das características de um grupo estudado, feito através de entrevistas governadas por um questionário, com representatividade de tabelas por 12 porcentagens. Os resultados serão expressos por meio de porcentagens e organizados nas variáveis: diagnóstico, conhecimento sobre o câncer, dinâmica familiar, escola, relacionamento familiar, relacionamento com outras crianças, relacionamento conjugal, religião, dificuldades e comportamento. A pesquisa foi realizada na Unidade de Internação Pediátrica (SUS) do Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto, na Unidade de quimioterapia do Hospital de Base (HB) de São José do Rio Preto e na Casa de Apoio do Vovô António em Barretos, interior de São Paulo. Os ambientes para a realização da coleta foram os próprios quartos de internação, e a brinquedoteca no HCM, na sala de espera da quimioterapia no HB e em uma sala reservada na Casa de Apoio do Vovô Antônio. Foram convidadas a participar da pesquisa, 20 pais ou responsáveis legais de crianças com câncer tratamento na unidade, que foram entrevistadas após aceitação e confirmação em Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas foram realizadas por meio de questionário aberto criado pela própria pesquisadora composto por duas partes: identificação do (a) entrevistado (a) e perguntas relacionadas à percepção de possíveis mudanças em sua dinâmica, problemas enfrentados e suas estratégias para lidar com as dificuldades e com a criança durante todo o período do tratamento. A criação do questionário foi baseado na pirâmide de Necessidades Básicas Humanas (NBH) de Wanda Horta, nas dificuldades familiares descritas em artigos científicos que fazem parte da referência bibliográfica do projeto e no depoimento de dois pacientes que passaram pelo tratamento de câncer e suas famílias. As perguntas foram formadas de forma simples, para atingir qualquer tipo de público, e caso, ainda não houvesse o entendimento do entrevistado, foram anexados imagens nas perguntas que a pesquisadora julgou mais complexas. O questionário foi dividido em três partes, a identificação para que apenas pesquisadora identifique os entrevistados, antes do diagnóstico para que se conheça a antiga organização e rotina da familia, e depois do diagnóstico, para que se análise as principais mudanças sofridas pela família. Após a criação do questionário, foi testado com 5 pessoas diferentes, para avaliar se haveria um correto entendimento por parte dos entrevistados e suas respostas alcançariam os objetivos específicos da pesquisa. 13 As famílias serão abordadas individualmente em ambiente com privacidade adequada. Todas as respostas serão gravadas por aparelho MP3 Player e preservadas por cinco anos, sendo apagadas ao término desse período. Após, serão transcritas na íntegra e subdivididas em categorias. Ao final de leituras repetitivas, as entrevistas serão transcritas na íntegra, sem alterar o conteúdo das falas. Os conteúdos serão agrupados em categorias e discutidos com a literatura. Para preservar o anonimato, os participantes receberam pseudônimos de árvores frutíferas. A pesquisa só será realizada após ter sido aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FAMERP, conforme resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os critérios de inclusão são os pais ou responsáveis legais de crianças que estão em tratamento de doenças oncológicas, que concordem com a entrevista. Os critérios de exclusão são os demais acompanhantes de crianças, pacientes que estão no término do tratamento ou com outras doenças e famílias que não pertençam aos lugares descritos na metodologia. Esta pesquisa tem como intuito, obter informações sobre as mudanças na dinâmica familiar, dificuldades enfrentadas e impactos sofridos pelas famílias de crianças portadoras de doenças oncológicas. Apresenta como possível benefício a elaboração de um manual para ajudar as famílias a lidar com essa criança, possíveis soluções e estratégias para os problemas mais encontrados e as redes de apoio existentes. Não terá nenhum desconforto, os procedimentos adotados se limitam a entrevista, um questionário e acompanhamentos durante o tratamento. 14 Resultados Diagnóstico O momento do diagnóstico para os familiares é relatado como um grande choque, muitos relatam ficar “sem chão”, podendo ter a sensação de paralisação ou anestesiamento, precisando de um tempo para assimilar o que foi dito pelo profissional(26). O familiar pode procurar algum significado ou explicação para a doença, responsabilizar-se, causando grande estresse, dor, frustração, se sentindo na obrigação de proteger a criança para recompensar sua “falha”(27, 28). Alguns artigos, dizem que os familiares passam pela fase de negação antes de aceitarem a doença, outros, que passam pelo sentimento de perda, luto antecipatório, o que pode resultar na desistência de investimento na criança, mesmo frente a prognósticos positivos, com grande possibilidade de cura (26-28). Por isso, os primeiros a necessitarem de ajuda são os familiares, pois, a criança não conhece a doença e são os pais, que transferem todos os sentimentos, interferindo diretamente no enfrentamento perante o tratamento. Quanto mais a família esta orientada, mais efeitos prejudiciais serão evitados, pois saberão lidar melhor com as inúmeras dificuldades do dia a dia e evitando mais sofrimento à criança(26-28). Figura 1 – Reação dos Pais ao Diagnóstico de Câncer 9 8 7 6 5 4 Reação ao Diagnóstico 3 2 1 0 Aceitação Choque Tristeza Negação 15 Pais “Eu fiquei em choque, porque nesse dia eu sofri muito, acho que foi o dia que eu sofri mais... eu não comia, eu não me alimentava, eu passei semanas... eu me isolei, não falava, não conversava com ninguém. Eu tava só tentando estudar, analisar, o que que ia acontecer com o meu filho.” Pitangueira “Ai a gente fica sem chão! É um momento que até respirar dói! É uma sensação horrível, e pra mim foi muito difícil porque a minha mãe tava acabando de se tratar do câncer...” Figueira “Ai do primeiro instante foi um baque pra gente sabe, a gente achou que tudo ia se acabar ali naquele momento sabe. Mas começou a passar os dias, começou a fazer o tratamento, a gente vimo que ele se reagiu muito bem ao tratamento, sabe, é, a primeira vista médica não dava nem três meses pra ele, pra ele sobrevive, hoje ele já ta a três anos, tendeu?!” Laranjeira “A muito triste né. Muito é... Não tem nem como explicar... É desesperador!” Açaizeiro Familiares “Assim... comoveu com a situação, né, ficaram muito tristes também, ajudaram a gente no que, com o que podiam”. Figueira “Afastada... Afastada!” Mamoeiro “É... não muito bem né! Ninguém quer receber uma noticia dessa! Esperava qualquer coisa, menos que fosse leucemia, qualquer coisa! Mas todo mundo se uniu, todo mundo se apoiando, dando força um pro outro. Ajudando bastante!” Amoreira “Não acredita até hoje né”. Limoeiro “No primeiro momento foi um choque pra todo mundo né... Mas agora tá todo mundo... A gente tá em oração, que é o que a gente pode fazer né!” Abacateiro 16 “A minha família inteira, inteira ficou revoltada, ficou abalada, inteira, inteira”. Tagerineira Criança “Quando eu descobri era mais pelos filme. Mais ai ela falou que não era a mesma coisa... Que o deles era caso mais grave... Tendeu!? Quando eu descobri eu chorava por causa daquilo sabe, eu assistia aqueles filme feio lá, tendeu?”. Limãozinho (própria criança) “Eu vou ver se eu consigo fazer ela entender. Ainda não sei isso, se eu sou que vou explicar ou se eu vou fazer ela entender que o que ela tem é além de uma dor na barriga, além de uma dor de cabeça... além de um machucado porque correu, caiu e ralou o joelho, eu não sei entendeu... Sinceramente, eu ainda não parei pra pensar nisso ainda.” Jaboticabeira “Ela tinha ido no banheiro (do quarto de internação), eu fui no banheiro com ela, e ela chegou e falou: - Mãe o que que eu tenho? - Ah você não tem nada não... Você vai ficar bem. - Que que eu tenho?... Mãe... eu tenho câncer? - É... E comecei a chorar, ela começou a chorar também, e eu falei: Ó... você vai superar isso ai, você vai cair, mais isso é o de menos, o que importa é a sua vida né. Depois de conversar com ela, a psicóloga chamou e conversou com ela, e ela voltou sorrindo já... (risos)” Açaizeiro De acordo com as falas acima, nota-se que estão de acordo com os artigos quando falamos do sofrimento envolvido no momento do diagnóstico, porém, 1 de 20 entrevistados mostrou sentimentos de negação, que são muito descritos na literatura, contradizendo-a, o mais evidenciado nesta pesquisa são as sensações de choque e tristeza(26,29,30). 17 Figura 2 – Conhecimento dos pais sobre o câncer 18 16 14 12 10 8 Conhecimento 6 4 2 0 Sabem Não sabem O que você sabe sobre o câncer? “É uma doença que já deveria ter né, a... a... a cura né. A tecnologia ta tão avançada... Eu tava observando que o câncer pelo infanto-juvenil, ele... a estatística é mais pra pardo e branco, eu não sei se eu posso tá enganada... eu observo muito no hospital onde eu tô... (figiu totalmente do assunto...)” Bananeira “Ai num sei dizer não... eu sei que é difícil de combater, mas não tenho medo não.” Macieira “(risos) Não sei (vergonha)... Como assim? Você sabe alguma coisa sobre a doença dela? Ai... não... Mas assim, eu perguntei pra ela (médica) se era maligna e ela disse que todo câncer é maligno... A médica né... e que tinha noventa por cento né? Noventa por cento eu acho... Oitenta por cento de cura, né... E eu tinha que entregar na mão de Deus né... Fé...” Açaizeiro Todas essas informações foram adquiridas como? “Sobre o tipo dele sim, nós pesquisamos... é... sobre a cura, sobre o grau de risco dele, outros tipos também nós pesquisamos.” Figueira 18 “Os profissionais”. Cajueiro “As médicas. Eu já olhei na internet mais não procuro muito não, porque senão você fica doido”. Mangabeira “As mães que ta aqui sempre falam comigo, e também os profissionais sabe?!”. Tangerineira Outro problema muito evidenciado, é a falta de conhecimento dos familiares sobre o câncer, isso porque as informações recebidas são dadas na hora da confirmação do diagnóstico, no qual podemos facilmente notar, não ser o momento adequado, já que todos eles passaram por uma experiência extremamente negativa, incapacitando-os de receber qualquer tipo de informação sobre a doença, sendo ela um prognóstico bom ou ruim. É necessário que dê aos familiares tempo, para assimilar e digerir a noticia, para que depois eles consigam entender o que realmente é a doença e seu tratamento. Apenas dois dos entrevistados demonstraram saber o que é a doença, os dois, profissionais da saúde. Renda Familiar Ao começo do tratamento, um membro da família acaba assumindo os cuidados, esse cuidador, fica afetado na vida social, no lazer, no autocuidado e na vida familiar, consumido em período integral, se sente obrigado a deixar seu emprego, repercutindo em grande impacto financeiro na família. Mesmo com um salário a menos na renda, as despesas aumentam, referente ao tratamento, as medicações, transporte, hospedagem e refeições, no inicio do novo cuidado com a criança, principalmente com a nova alimentação, higiene e medidas preventivas. Muitas dessas famílias, não conhecem os direitos da criança com câncer e seus como cuidador, assumindo todos esses gastos, que são altos o tratamento é distante de suas casas, ou até mesmo fora dos seus municípios/estados. (28,30-31) 19 Figura 3 – Situação financeira dos familiares antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento 12 10 8 Antes 6 Depois 4 2 0 Boa Estável Regular Dificultosa Muito Dificultosa Antes do Diagnóstico: “Tava indo bem... Que meu salário foi bom, era bom... Quando eu podia trabalhar, eu podia sair, o salário era bom, porque eu sou operador... mas depois eu não consegui para mais no serviço né, por causa dela né...” Macieira “Ah era estável né. Por causa que a gente tinha um comércio, então dava pra viver um pouco... menos apertada né. Fora os lanches que a gente fazia né...” Pitangueira “A era assim, estável, sabe, antes do tratamento, era mais estável”. Figueira Depois do Diagnóstico: “A tá tendo algumas despesas a mais. Ta tendo porque meu marido vem todo dia pra cá. A gente é de Ubarana... Ele vem todo dia pra cá e... Precisa de roupa, precisa de... Tipo agora ele não tá comendo mais, todo dia ele quer comer alguma coisa diferente, então ta tendo uma despesa maior sim...” Abacateiro 20 “É ficou mais difícil, com ela assim né, ficou difícil. Eu também, já to com cinquenta e sete ano também né. O que tem que fazer é cuidar dela né.” Tomateiro “Agora que esta memo! (apertado) Agora que ta tudo vencido já! (risos) Vai fazer três aluguel que ta vencido...” Mangueira “É... dificultou um pouquinho porque eu tive que parar de trabalhar pra ficar cuidando dele, então, é só meu marido que continua trabalhando. Mais... tá bem! (risos)” Amoreira Figura 4 – Atividades de lazer das famílias antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento 14 12 10 8 Antes Depois 6 4 2 0 Tem Raramente Não tem Antes do Diagnóstico: “A gente saia, ia na praça, comia uma pizza, um x-salada...” Macieira “Fazenda, monta a cavalo, que eu gostava muito. O pai dele tomava conta de uma roça e a gente ia. A gente gosta! E família também, viajar, praia! A gente mora perto de praia, ilhéus, e a gente ia... passear na casa da titia.” Bananeira Depois do Diagnóstico: “Ah agora... sem divertimento nenhum né”. Macieira 21 “Não é todos os lugares que a gente saia antes, que no dia da minha folga a gente podia sair, por exemplo, prainha a gente não pode nem pensar mais nisso agora. Parque essas coisas que a gente ia, nem ta podendo muito. Por ter muita criança, essas coisas não é bom ter muito contato.” Amoreira “Uma vez eu levei no shopping, uma “veizinha” só pra passear! Mas é normal, só preso aqui dentro! No hospital eu num levo, pra passear no hospital... eu num gosto de ficar saindo muito, porque eu ficava com medo da... imunidade dele baixa. Eu num gosto de ficar saindo muito não. Aqui o ar é seco! É muita poeira e ele começa a gripar quando ele sai...” Bananeira As principais despesas relatadas pelos entrevistados foram transporte, medicamentos e hospedagem, lembrando que, as entrevistas aconteceram em diferentes locais e diferentes cidades. Todos os cuidadores tiveram que abandonar os empregos ao longo do tratamento, contribuindo para o impacto financeiro na família. Alguns deles cientes de seus direitos, requisitaram a ajuda governamental, o Tratamento Fora do Domicílio (TFD), que segundo informações colhidas (SIC), continuavam a passar necessidades, pois não podiam contar com essa ajuda mensal devido aos atrasos nos pagamentos. As atividades de lazer em família que deixaram de ser realizadas, tanto pela dificuldade financeira como pelas restrições que o tratamento impõe. Dinâmica Familiar A rotina familiar é a que mais sofre alterações, com um membro da família como cuidador, geralmente a mãe, que assume os cuidados com medicações, consultas, tratamento, seus efeitos colaterais e internações, fica, em comparação aos outros membros, mais exposta ao estresse(28,29). Os outros membros acabam assumindo novos papéis e habilidades em casa, atingindo diretamente a organização e dinâmica da família, levando em consideração também, essa mudança estar relacionada com o modo que cada um enfrenta a situação(31). Porém, essa reorganização, é um a estratégia de mecanismo de enfrentamento, que quando aceita e logo reorganizada, sem muitas dificuldades, traz conforto e segurança a criança, ajudando-o em sua recuperação e no alívio de sobrecarga aos pais(26,27). 22 Figura 5 – Dinâmica familiar antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento 20 18 16 14 12 Antes 10 Depois 8 6 4 2 0 Organizada Desorganizada Inexistente Antes do Diagnóstico: “Ah era tranquilo. Saia pra trabalhar, ele ficava em casa com a irmã, no horário de almoço, almoçava com o pai, o pai levava eles pra escola, saia do serviço ás cinco e pegava, ai ficava em casa, final de semana fazia alguma coisa em família... Era tranquila nossa rotina.” Laranjeira “Era tudo certo, nóis vivia normal. Vai pra escola, trabalho, mãe trabalha, normal”. Limoeiro Depois do Diagnóstico: É... um pouco diferente né. Assim... a gente só fica aqui preso num quarto ou no culto! (risos) Bananeira “A... Agora deu uma encaixada as coisas. Meu marido já esta trabalhando... Eu de vez em quando faço algumas unhas, só não comecei com a depilação e sobrancelha ainda. Porque meus filhos ta amontoado no quartinho ainda, não tem nem como! Porque... Pode anoitecer bem e amanhecer ruim né... Tenho que... Vim. Porque num fica com ninguém a não ser eu!” Goiabeira 23 “Não agora eu não posso tá trabaiando não, eu só cuido dela. Ela precisa de mim, assim, eu levo ela no banheiro, tudo, ela precisa de mim, eu não posso trabaia.” Tomateiro “Ai o dia-a-dia agora tá naquela luta né. Só hospital e correndo atrás, e só correndo atrás da saúde dele, mai nada né”. Tangerineira “Bagunçada! Muito bagunçada, porque o João devido... quando ele parou a quimio, nós fomos para casa, e ele conseguiu ficar um ano e meio com a doença estável, ela num... tava assintomática. Em outubro de dois mil e treze, quatorze, a doença ficou ativa novamente, e agora ele ta internado, pra tentar voltar com a amputação, ele não pode mais fazer quimio né, então... fica tudo muito bagunçado né....” Laranjeira Escola Outro ponto que sofre impacto nas famílias é a escola, que depois do inicio do tratamento a criança fica afastada por um tempo, e muitas vezes, não volta a frequenta lá. Mesmo com seus direitos reservados, que a criança deve receber as lições e professor a domicilio regularmente, para que não perca o ano letivo, isso na prática não é bem realizado, que com inúmeras dificuldades impostas, há desistência por parte dos familiares. Figura 6 – Frequência escolar antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento 16 14 12 10 Antes 8 Depois 6 4 2 0 Frequentam Pararam em um Não frequentam momento 24 Não se aplica Antes do Diagnóstico: “Eu gosto de fazer bastante curso né! Fiz teatro, fiz curso de artes, fiz muito curso! Violão, arte e pintura, eu to pensando em faculdade... (risos) Eu fiz um monte de coisa, arte, essas coisa, um monte de coisa.” Maçãzinha (própria criança) Depois do Diagnóstico: “Ele parou de frequentar, na verdade quando viemos pra cá ele tinha acabado de fazer quinze anos! O hospital ele fornece escola pros pacientes né, mas devido ele tá mais internado, como eu falei, ele era bem sensível à quimioterapia, passava muito mal, ele acabou não frequentando o primeiro ano de tratamento. Ai compricou com a condição cardíaca dele... mesmo assim quando voltamos pra casa ele foi matriculado de novo na escola, mas devido às dores e a condição cardíaca mesmo, porque ele não consegue andar uma quadra, ele chegou a ir mas teve que parar de novo... ai você tenta ir atrás da escola, porque você ouve falar de direito, que a criança tem direito que os professores forneçam o material didático pra que a criança fique em casa, que a criança tem direito que o professor vai em casa uma vez por semana, mais isso é muito bonito na teoria, porque na pratica não acontece, você vai na escola buscar o material, eles não fizeram! Eles acham que quando... ele chegou até vim, ele tava matriculado, ele vinha a cada trinta dias, ai ele chegava aqui, quando ele voltava ele tinha que pegar caderno de colega pra copiar matéria de uma semana de aula! No ensino médio isso é muito complicado! Ele achavam que era ele que tinha que correr atrás, eles não queriam fornecer o material, foi ficando complicado, e isso vai desmotivando...[...]” Laranjeira Em todos os aspectos mostrados acima, há mudanças importantes como a rotina que se mostra desestruturada ou inexistente, nenhuma das famílias conseguiu manter uma dinâmica estável ou parecida com o que tinham antes do diagnóstico. Já a escola, a criança para de frequentar por um tempo ou abandona pelas dificuldades do tratamento ou impostas pela própria escola. A família então, deve se adaptar a nova rotina, aceitar as dificuldades, restrições 25 e ao tratamento de câncer, se tornando um potente causador de estresse entre os membros, que nos leva ao próximo item a ser visto: Relacionamento Familiar Em meio o tratamento, os pais direcionam a atenção à criança doente, tentando entender seus sentimentos e os próprios, e esquecem o restante da família, podendo causar ciúmes por parte dos outros irmãos (26). Se não dada à devida atenção aos outros membros e os acompanhando de perto, esses sentimentos podem se transformar em sintomas psicossomáticos ou em quadros psicopatológicos. Quando os pais recebem apoio e assistência, se sentem mais preparados para apoiar o restante dos familiares, diminuindo a tensão no relacionamento familiar, pois compartilharam as angustias tristezas, e dificuldades, este método, é uma das principais estratégias de enfrentamento que pode ser adotado pela família, pois qualquer dificuldade poderá ser rapidamente compreendida pelos outros membros(27,28). Figura 7 – Relacionamento Familiar antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento 20 18 16 14 12 Antes 10 Depois 8 6 4 2 0 Bom Regular Ruim Antes do Diagnóstico: “Era bom... era bom... a gente era bem próximo.” Mamoeiro ”Bom, graças a Deus... Sem brigas, sem nada.” Aceroleira 26 “Aaa... Uma família maravilhosa, todo mundo sempre unido, eu não falo só de pai e mãe e filhos mais, de tios, avós, primos... Uma família muito unida que esta assim... No final de semana tem que estar todo mundo grudado um no outro... Pessoal bem apegado um ao outro.” Jabuticabeira Depois do Diagnóstico: A família apoiou... Minha mãe, minhas irmãs... o pai dele foi um pouco ausente! Não veio visitá lá em Salvador quando a gente ficou, e nem aqui, teve que vim agora! E eu senti muito a ausência do pai entendeu? Mas fora isso, a minha família, minha mãe sempre tava do meu lado graças a Deus... Mais é difícil... Não é fácil não...” Bananeira “Tá difícil... Dá muita saudade, tá muito difícil, muito difícil! (choro)” Pitangueira A família acaba usando a desculpa que “Ai, eu não quero ir pra num ver o sofrimento do outro...”. Acho que isso é muita hipocrisia, porque você não tem que se preocupar com o sofrimento do outro, você tem que se preocupar se o outro fica feliz em te ver! E nesse ponto nós acabamos ficando muito só! Laranjeira Relacionamento com Outras Crianças Figura 8 – Relacionamento de crianças em tratamento de câncer com outras crianças 16 14 12 10 8 Antes 6 Depois 4 2 0 Relaciona-se Não relacionase Discriminados 27 Não se aplica Antes do Diagnóstico: “Os primos. Tem os amigos da escola mais no final de semana os amigos dela são os primos. Tem bastante primo da faixa etária dela... Ela é a mais nova da turminha.” Goiabeira Depois do Diagnóstico: “Sim, normal. As médicas mandam evitar quando ela esta com a imunidade baixa. Tem que brincar fazer o que... Por numa bola de vidro?! É difícil né. Fazer que nem as mãezinhas falam: Em nome do senhor Jesus, vai minha filha! Ta protegida!” Aceroleira Os amigos tende a se afastar! Isso é fato! Não só os amigos mas a família em si. Os primos se afastam porque... tão na idade que são adolescentes né, e... gostam de sair, querem jogar bola, querem ver os amigos... as primas estão da idade de treze, quatorze anos, hora de sair com as amigas, fazer grupinho, fazer charminho pro outro colega, e a pessoa que esta na cama, acamada, num ta atrativo, ai acabam se afastando. Laranjeira “Normal, assim, se relaciona normal. Algumas perguntam porque ele é carequinha e tudo pra ele né, ai ele fala: tomo um remedinho (risos) ele fala isso pras crianças (risos). ” figueira Tem-se significativas mudanças nos relacionamentos tanto com os membros da família quanto aos amigos, esses resultados vão de encontro á literatura, que relata que com o tratamento, a atenção é voltada a criança, podendo deixar os outros membros em segundo plano, que é um grande causador de desconfortos e desavenças, inclusive quando há outros filhos, além disso, os tratamentos provocam mudanças físicas nas crianças, que podem levar a discriminações junto a este fato, o tratamento longo e intermitente já pode ser o principal motivo de afastamento do paciente e do cuidador dos outros membros ou amigos. Relacionamento Conjugal A criança necessita de cuidados integrais durante todo o tratamento, por isso o cuidador, que é um de seus pais, se distancia dos outros membros, 28 desenvolvendo dificuldades na interação social, isso resulta em um desgaste nos relacionamentos ao longo do tempo, inclusive no relacionamento conjugal, que perde espaço pela atenção direcionada á criança. O casal passa por inúmeras divergências perante novos papeis assumidos, se identifica na posição de maior sofrimento em relação ao outro, sentindo-se desamparado, alterando assim, as percepções em vista do parceiro dentro do relacionamento, abalando tanto a comunicação quanto à intimidade, que aumenta diante o nível de estresse vivenciado(26,30). Figura 9 – Saída do membro da casa após o inicio do tratamento 20 15 Depois 10 5 0 Sim Não “Ai, no começo eu pensei que eu ia ficar solteira... (risos) Porque não é fácil... porque a gente chega em casa... não tem... aquela coisa com o marido... (risos)... como se diz, namorar, não tem! Isso... conversando com as mães não é só comigo menina... Tem mães também que falam...” Goiabeira “Agora ta equilibrado, nós conversa, agora por celular nós discuti... (risos) Porque mais assim, é... uma discussão construtiva né. O que que tá fazendo que.. precisa ser resolvido né. Porque eu to aqui e minha mulher ta lá... Pagando as conta né...” Macieira “Então... mudou bastante! Mudou bastante. Tem meu marido, eu falo com ele, de vez em quando eu falo com ele. Antes a gente não brigava, agora a gente vive brigando... que ele tá pra lá e eu to pra cá. Eu não sei o que ele tá fazendo, ele não sabe o que eu to fazendo... ai tudo é motivo de briga.” Mamoeiro 29 “Agora é ficar aqui, e minha filha mais velha ta morando com a vó que é mais próximo da escola e meu esposo ta assim, ping pong, esta trabalhando ainda, e no ping pong né. Mais fica na rua do que em casa. Vai pra casa só tarde, pula cedo da cama e começa né, trabalho, e aqui, e lá com a Rebeca, bem dividido.” Goiabeira Com todas as mudanças, dificuldades e adaptações que os pais são submetidos, o relacionamento do casal fica bastante afetado, tanto pela sobrecarga de afazeres quanto pelo estresse que os envolve. As entrevistas relatam exatamente o que a literatura descreve. Religião Quando se relaciona a religiosidade com os sentimentos identificados nos cuidadores, alguns artigos evidenciaram a entrega da situação, doença e tratamento a Deus, mais que isso, consideram o adoecimento da criança como vontade divina, quanto o não religioso assume toda responsabilidade pelo adoecimento, tratamento e as dificuldades(32). A religião é utilizada como uma estratégia que auxilia a família para enfrentar os momentos difíceis e o desconhecido, requisitado em situações de estresse(26,28). Esse tipo de enfrentamento é nomeado como coping, uma estratégia de defesa cognitiva e comportamental, que ajuda a reduzir o sofrimento e estresse, o coping religioso então, é quando a pessoa se resguarda na religião, lidando melhor com toda a situação que esta sendo vivida, reduzindo a carga negativa, resolucionando melhor os problemas ou encontrando caminhos melhores, pois esta amparada pela fé (30). 30 Figura 10 – Fé dos pais no tratamento de câncer da criança 20 15 Credibilidade 10 5 0 Acreditam Não Acreditam “A gente coloca pra Deus agora! Eu já costumo falar que é Deus e ele! O que a gente podia fazer, o que os médicos podiam fazer, eles já fizeram. Agora é Deus, e é isso.” Laranjeira “Sim, muito confiante, muito mesmo.” Parreira “Eu tinha um voto... que quando chegasse aqui e começasse o tratamento eu tinha que raspar meu cabelo... meu cabelo era muito comprido... eu era muito vaidosa... e eu vou manter até o final do tratamento. Tem muita gente que não tem coragem mais... eu tive... [...] Agora vai sair uma outra ressonância, meu coração já bate forte. Eu já vou logo antecipar, coração de mãe nunca se engana, já contei pra várias pessoas, que pra mim... não tá funcionando... [...] então pra mim a rádio num ta nem funcionando, então nem vou assustar com o resultado que vai vim.” Pitangueira Em todas as entrevistas evidencia-se que a fé é um grande aliado do cuidador, que se sente amparado nas situações difíceis e na resolutividade dos problemas, não o fazendo se sentir abandonado e que lhe traz forças diariamente para acompanhar o tratamento e suportar o sofrimento da criança. Quando não há aliança entre a religião e a credibilidade no tratamento, o enfrentamento do cuidador ou da família é diferente das que se mostram crentes, na maioria das vezes, com resultados negativos, afastamento dos membros, maior estresse e desesperança. 31 Dificuldades O câncer traz consigo repercussões de grande importância da vida de qualquer um, ligadas a esse assunto, estudos apontam que entre as diversas dificuldades que as famílias relatam, a maioria esta ligada ao tratamento, aos longos períodos de internações, terapêutica e seus efeitos colaterais, a distancia da família, quebra da rotina e vida financeira. Em suma, a família passa a conviver com muitas perdas diariamente, da saúde, do financeiro, do social, além de se sentir impotente em relação a doença e o prognóstico (26,31). Figura 11 – Dificuldades enfrentadas pelas famílias durante o tratamento de câncer 8 7 6 5 4 3 Dificuldades 2 1 0 “Olha... quando você tem que deixar pra trás filho pequeno, porque eu não tinha só ele, tinha menina com sete anos, deixa emprego, deixa casa, eu nunca tinha dormido uma noite fora de casa! Sem ela, deixei o marido. Vim pra um lugar onde vem você e um filho doente, cê não tem nenhum parente, é muito compricado, então bagunça tudo na vida! Ai vem, além da dificuldade de ficar longe de casa, de tá longe, a dificuldade de te que trata de uma pessoa sozinho. O João quando ele fez a primeira quimioterapia ele vomitou quinze dias seguido! Eu lembro uma vez que eu liguei pro meu marido, eu chorava de cansaço! Porque eu tava muito cansada e eu não podia dormir, não é porque eu não queria, eu num conseguia me manter acordada, mais eu sabia que eu não podia dormir porque eu tinha que cuidar dele. Tinha que ta ajudando, tinha 32 que tá cuidando dos vômitos. As internações, quando interna ele mesmo já passou vinte e cinco dias, trinta dias. Tem mãe que fica sessenta dias com o filho dentro de um hospital sem sair! E você não ter com quem revezar é muito difícil! O emocional fica bem complicado!” Laranjeira ] Figura 12 – Planos futuros dos familiares antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento 16 14 12 10 Antes 8 Depois 6 4 2 0 Tinham Não Tinham Interrompidos “Tinha, tinha... nós tava mudando de casa, mas... nós perdimo uma casa... Morava em Curitiba, daí chegamo, nós tinha comprado um terreno né, no Mato Grosso... e... daí eu comecei trabalhar e tinha um terreno né, quando começou (tratamento), foi bem na época que nós ia construir a casa. Era pra construir a de alvenaria e acabei construindo a de madeira né, porque... fomo obrigado... a mudar...” Macieira “Ah, projeto todo mundo tem né. Era ele (criança) que tava fazendo curso já pra implementa pra entrar no menor aprendiz, mas infelizmente a doença barrou tudo isso né...” Laranjeira “Tinha... (suspiros)... De ter a nossa casa, tava rebocando tudo... Ai parou tudo também”. Cajueiro As dificuldades mais relatadas foram as internações para o tratamento ou das intercorrências em meio a ele, que causam muito desgaste no cuidador e na criança pelo estacionamento das atividades exercidas pelo cuidador e pela criança, principalmente se ela já iniciou o período pré-escolar ou escolar. As perdas não param por ai, com a diminuição da renda, o aumento dos deveres e 33 responsabilidades da família e a desestruturação da rotina, as obrigam a abrir mão de seus sonhos ou projetos futuros que iriam iniciar ou já estavam em construção. Comportamento Pela agressividade do tratamento do câncer, a criança sofre a perda de seu próprio controle, como o autocuidado e as tarefas diárias que passam a ser responsabilidade do cuidador, perdendo a sua privacidade e ganhando cada vez mais a sensação de limitação relacionada a superproteção da família, nessa fase, a criança pode sofrer mudanças comportamentais pela maneira que ela enfrenta a situação com tristeza, raiva ou depressão, dependendo da fase em que a criança se encontra, quanto maior for a naturalidade da família durante o tratamento, menos impactos a criança sofrerá, aumentando sua aceitação e enfrentamento(27). Figura 13 – Comportamento da criança antes do diagnóstico e após o inicio do tratamento 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Antes Depois Antes do diagnóstico: “Uma criança normal. Sem de ficar muito doente, nada. Brincava, ia pra creche. Normal”. (Aceroleira) “Uma criança ativa, bem sapeca, bem... Inteligente... Uma criança determinada, você determina alguma coisa pra ela e ela vai até o final... [...]”.Goiabeira 34 Depois do Diagnóstico Acho que ele amadureceu... Acho que não só eles, acho que os adolescentes com quem ele conviveu, que vem pra cá, que se descobre com essa doença, eles amadurecem muito rápido! Eles começam a ver a vida diferente, tratam das pessoas diferente, o jeito de encarar as coisas pra eles é diferente. Laranjeira “Ela depois que começou, eu não sei se é por causa das... muita picada que ela toma... até a quimio mesmo, ela ta mais nervosa, mais agressiva, mais estressada... Depois que ela começou a fazer né”. Parreira Agora... Ta mimada, tá teimosa... Tá birrenta! Eu acho que não sei, eu acho que todo o mimo depois que eu descobri, ai paparica de tudo quanto é jeito. Ai agora... Tá difícil! Mamoeiro “Ela está bem apática, bem apática, até ontem a minha mãe veio visitar ela, ela só deu um meio sorrisinho só e ficou séria o resto do tempo ela... Ela não é assim. Ela é uma criança bem ativa, comunicativa, que quando começa a falar você fala pelo amor de Deus para um pouco! Dá um descanso pra língua! Agora ela ta falando só o necessário, se ela quer fazer xixi ou quer vomitar, é isso que ela fala.” Goiabeira Ele chora muito, ta muito enjoado... eu acho que teve mais a ver com a medicação também... Ele tá muito dificil... nossa... [...] Às vezes até pra trocar uma fralda ele chora muito! Pra trocar uma fralda! E quando ele faz a quimio ele fica assim mesmo, muito agitado. Ele chora muito! Muito, muito, muito! Ai dá um desespero também, e eu choro junto. Pitangueira As famílias relatam significativas mudanças comportamentais nas crianças após o inicio do tratamento, tanto pela agressividade do tratamento quanto pela forma de recompensação e superproteção dos familiares. O comportamento mais comum relatado pelos entrevistados foi a agressividade apresentadas pelas crianças. 35 Limitações A pesquisa obteve algumas limitações, primeiramente, pelos diferentes locais de coleta de dados, os resultados tiveram diferentes conceitos e realidades. Durante a coleta de dados, por se tratar de pais ou responsáveis, acompanhados de suas crianças, houve em algumas situações, dificuldades para a aplicação do questionário (pela constante atenção que a criança necessita) e conseguir entender os áudios (principalmente pelo barulho das crianças enquanto brincavam). Conclusão Conclui-se que, não apenas a criança com câncer submetida ao tratamento sofre, mas sim, todo núcleo familiar é envolvido, as organizações familiares passam por mudanças impactantes desde o diagnóstico até o final do tratamento, dentre elas, mostraram-se mais relevantes à dinâmica familiar, o relacionamento familiar e a vida financeira. As dificuldades mais enfrentadas relatadas pelos familiares foram a distancia da família, as internações e as intercorrências durante o tratamento. A principal necessidade da família é simplesmente o apoio, que se divide em três categorias primeiramente, profissionais da saúde preparados para acolher não só a criança, mas toda a família, capacitando-a para que haja um legítimo entendimento sobre a doença e de todo o tratamento em um momento propício e em um local adequado, quantas vezes forem necessárias, se mostrando a disposição para quaisquer duvidas que possam surgir durante o tratamento. Em segundo, o apoio familiar, que nesta jornada é tão importante tanto para a criança, para o cuidador, quanto para os membros, pois a união dela pode não fazer que desapareçam as dificuldades, porém, faz com que elas se tornem mais fáceis de ser enfrentadas e solucionadas. Em terceiro, o apoio baseado nas leis, que façam valer os direitos garantidos a todas as crianças ou criados especificamente para estas, tão quanto projetos que ajudam financeiramente as famílias, mostrado nos resultados como um dos mais importantes problemas que a família enfrenta. 36 REFERÊNCIAS 1- Dias JJ, Silva APC, Freire RLS, Andrade ASA. A experiência de crianças com câncer no processo de hospitalização e no brincar. Rev Min Enferm. 2013; 17(3): 608-13. 2 - Paro D, Paro J, Ferreira DLM. O enfermeiro e o cuidar em oncologia pediátrica. Arq Ciênc Saúde. 2005; 12(3): 151-7. 3 - Barros MA. Câncer infantil: fé e enfrentamento de mães [dissertação]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo; 2009. 4 - Duarte MLC, Zanini LN, Nedel MNB. O cotidiano dos pais de crianças com câncer e hospitalizadas. O cotidiano dos pais de crianças com câncer e hospitalizadas. Rev Gaúcha Enferm. 2012; 33(3): 111-8. 5 - Lanza LF. 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APÊNDICES INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Identificação Nome Idade Procedência Grau de Parentesco Idade da Criança Tempo de diagnóstico da criança Tempo de tratamento da criança Antes da Descoberta da Doença Membros da família Grau de escolaridade 40 Estava fazendo algum curso? Como era o comportamento da criança? Como era a rotina da família? Frequentavam algum tipo de religião? Tinham projetos futuros? 41 Como era a vida financeira? Como era a alimentação? Praticavam alguma atividade de lazer? A família costumava fazer passeios, tirar férias? A criança frequentava a escola? Como era o relacionamento da família? Tinham amigos? 42 A criança tinha amigos? Depois da Descoberta da Doença Os membros da família continuam os mesmos? O que você sentiu depois de receber o diagnóstico? E a família? Ficou satisfeita com as informações ou gostaria de tivesse sido de forma diferente? Como contaram a criança? Qual foi a reação dela? 43 Você usa alguma estratégia para facilitar o tratamento da criança? Você usa alguma distração durante o tratamento da criança? Como está o comportamento da criança? Como está a rotina da família? Como se organizam no dia-a-dia? Esta confiante no tratamento e na equipe? Tenta complementar pela busca da fé? 44 O que você sabe sobre o câncer? Todas essas informações foram adquiridas como? Você tem conhecimento de todo o tratamento da criança? Quais as maiores dificuldades que você enfrentou? Como elas foram resolvidas? Quais as dificuldades que está enfrentando? 45 Como está encontrando soluções? Quais são os cuidados especiais que a criança está tendo? Como está a vida financeira? Como está a alimentação? Pratica alguma atividade de lazer? Estão tendo alguma despesa a mais? Houve impacto nas finanças? Fazem alguma atividade em família? 46 A criança frequenta a escola? Como está o relacionamento com a família? E com os amigos? A criança se relaciona com outras crianças? Você, sua família ou a criança recebem algum apoio ou gostariam de receber? 47