Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina A SEXUALIDADE NO CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: O PANORAMA HISTÓRICO E A QUESTÃO DO ESSENCIALISMO E O CONSTRUTIVISMO SOCIAL. MÁRCIA ANDRÉA RODRIGUES ANDRADE1 RESUMO: A Sexualidade tem sido atualmente no campo das ciências sociais uma categoria bastante ampla e pertinente para diversos estudos tais como, estereótipos, a questão do corpo, identidade sexual, exclusão social, gênero, moral, valores, doenças transmissíveis, mitos, tabus, saúde e bem estar sexual e as inúmeras normatividades sexuais que regem o campo, ou seja, uma verdadeira infinidade de temas a serem estudados e debatidos ao longo do discurso na modernidade, afirmando deste modo que a sexualidade não se constitui numa relação isolada. O presente trabalho tem como finalidade, explanar a importância do tema para as pesquisas em ciências sociais, e como esta ciência incorpora este conceito como um campo interdisciplinar com a saúde. Será discutido ao longo do trabalho o processo de construção histórica das ciências sociais em relação a saúde, bem como a da categoria sexualidade, como essas novas formas de pensar a sexualidade vão surgindo a medida que a sociedade avança na modernidade, e focalizar o debate teórico sobre essencialismo e o construtivismo social, enfim como afirma Heilborn (1999), o que as ciências sociais tem a dizer sobre a sexualidade?, buscando desta forma complementar a discussão acerca desta realidade e trazer contribuições sobre paradigmas e questionamentos acerca desta temática. Na busca de explicações e esclarecimentos utilizei-me de artigos disponibilizados no site da Scielo através das revistas que tratam do tema, além de bibliografias produzidas por diversos autores que se destacam no assunto. Neste sentido, o olhar das ciências sociais configura-se como um papel de extrema importância para a área da saúde,o reconhecimento das várias categorias configura um panorama em que há sim a necessidade de se repensar o campo na medida em que combina vários tipos de abordagens. Palavras – Chaves: Sexualidade, ciências sociais, saúde. 1 UFPB - [email protected]. Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina INTRODUÇÃO O campo das ciências sociais tem se tornado cada vez mais amplo, vários são os enfoques e as temáticas abordadas. Uma das áreas que tem tomado grande destaque se dá no campo da saúde que de certa forma é relativamente novo, numa interface que agrega diversas categorias antes negadas, e que agora, face as novas condições da modernidade caem no discurso. Neste novo conceito, uma das categorias da saúde de grande interesse nas sociologia foi e está sendo a Sexualidade, que também congrega uma amplitude, por ser complexa e assim conseguir abarcar conceitos subjacentes, como por exemplo os estereótipos, a questão do corpo, identidade sexual, exclusão social, gênero, moral, doenças transmissíveis, saúde e bem estar sexual, ou seja, uma verdadeira infinidade de conceitos e categorias a serem abordadas. Uma categoria é dita como válida quando nela se perpetua um enorme interesse entre os cientistas, na vertente que move um desconforto aos parâmetros estabelecidos pela sociedade, algo que incomoda o pesquisador e na maioria das vezes este, busca respostas a seus questionamentos que ao se deparar com o empírico confronta-se na tentativa de se chegar mais perto do que seja essa tal realidade. As categorias sociais refletem um agrupamento no qual vários indivíduos tem características comuns entre si, que podem ou não estabelecer relações. Essas categorias são de fundamental importância, pois é a partir delas que muitas vezes o pesquisador encontra o ponto de partida para suas pesquisas, de um conjunto de pressupostos sobre a realidade. No campo da sexualidade vários autores tem se destacado com a temática, como Foucault, Gagnon, Heilborn, Loyola, Luis Duarte, Giddens, Butler entre outros. Alguns desses autores trabalham sob a ótica da “normatividade sexual”, questão amplamente discutida, sobretudo com enfoques que dizem respeito a passagem das diferentes fases da sexualidade, chegando aos dias atuais. Segundo Heilborn (1999), a questão da sexualidade produz importantes efeitos normativos, na medida em que difunde entre as pessoas uma definição exclusivamente técnica do que seria um bom funcionamento sexual, cuja conseqüência indireta é reforçar as definições normativas do feminino e do masculino. Essa sexualidade moderna emana concepções bastante abrangentes e difíceis de serem determinadas apenas em seu aspecto individual unitário. É necessário, pois, Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina adicionar-lhes outros fatores para o seu entendimento como por exemplo as relações sociais entre os indivíduos. A sexualidade agora no campo da sociologia é estudada a partir do que está por trás do cenário, do que não é visto simplesmente, pois sabe-se a sexualidade ganhou o seu (não) lugar, estudá-la significa romper barreiras, padrões, regras, moral, discursos não ditos e enfrentamento do que a sociedade não está, ou está pronta a escutar; torna-se deste modo um campo bastante amplo mas que deve ser estudado com uma certa cautela por se enovelar por essas vertentes anteriormente apontadas. Assim, a proposta dada pela sociologia é estudar a sexualidade de outra visão, uma abordagem que em longe se apresenta como meio medicalizado. Neste sentido tomo nota das considerações feitas por Gagnon (2006), que ainda mais sobre essa visão, a qual passa dos impulsos puramente biológicos e da repressão social, para um campo de iniciativa social de busca por respostas que só podem ser encontradas pelo viés da sociedade e pelo campo da ação simbólica. Para tanto, é imprescindível a retomada histórica de como essa passagem foi feita e está sendo feita, na medida em que a sexualidade de antes, de maneira mais global não é a mesma de hoje e não será a de amanhã. Para Bozon (2004:145), “os debates públicos contemporâneos sobre as questões sexuais suscitam indagações tanto sobre o sentido das mudanças recentes na sexualidade quanto sobre as evoluções da sociedade”. Esses debates públicos percorrem universos familiares, locais, acadêmicos, nas instituições, no meio político, enfim por todos os lados, não há como fugir, é algo intrínseco e devemos portanto como Foucault aponta fazer referência ao cuidado de si. Em certa matéria publicada na revista Época, o ministro da saúde (Temporão) aponta para a necessidade dos idosos em fazer sexo para que assim melhorem sua saúde e baixem os níveis de pressão considerados altos. Esse exemplo foi demonstrado para simplificar não só a grande polêmica que causa as questões sobre sexualidade, mas retratar o discurso como base política e ainda medicalizada, a uma abordagem apenas com relação à saúde, que é diferente do que se pretende estudar a sociologia da saúde. Com isso o mistério ao que me parece não é simplesmente abordar e conceituar as questões sobre sexualidade, mas tentar buscar e ver no outro, ai volta-se a questão das relações sociais, uma vez que a própria sexualidade é uma relação social, e assim entender a dinâmica que se processa nesse momento a que chamamos modernidade. Mas antes de se entender como esse percurso ocorreu é necessário que se entenda como ele surgiu, por que afinal de contas a sexualidade não surgiu do nada, aliás ela sempre surgiu, mas o Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina que aqui quero estabelecer é como o campo da sociologia da saúde se apropriou dessa temática para explicar os fenômenos que ocorrem atualmente. Com isso e fazendo referência aos autores que citei anteriormente, tendo como base estudos sobre a sociologia da saúde, discutirei pontos pertinentes encaixados em três capítulos, sendo um deles destinados a um breve conceito a cerca do essencialismo e construtivismo social. 1. O campo das Ciências Sociais em saúde Por muito tempo a sociologia se empenhava em discutir questões sobre o conhecimento, religião, política e teoria social. Os temas ditos como contemporâneos, tais como identidades, gênero, questões de raça e etnia, interações sociais entre outros foram tendo destaque a partir do século XX. As ciências sociais, como campo abrangente de discussão teve a necessidade de se desdobrar em outros eixos para dar conta de alguns processos de mudanças que estavam acontecendo na sociedade. Era possível isso ocorrer com relação a processos que envolvem o âmbito da saúde, pois nem a psicologia, nem a antropologia, nem a medicina e outras ciências mais tinham condições de tomarem para si, todo o saber destinada a explicações de tais processos tão pertinentes na sociedade. Isso se deu por exemplo com o caso da Sexualidade, mas isso não significa que foi isoladamente sendo estudada. Historicamente, a sociologia não deu o primeiro passo para a discussão de questões que envolvesse a saúde. Isso aconteceu inicialmente com a medicina. Mais precisamente a medicina social. A medicina social surgiu em meados do século XIX, tratando de compreender os fatores sociais, econômicos e ambientais que desencadeavam patologias que apenas a medicina pura não dava conta. Esta mesma medicina social seria, segundo Foucault (1988), o resultado do desenvolvimento de diversas técnicas, saberes, questionamentos, cujo principal objetivo é o mundo social, com sua abrangência construída através de uma biopolítica. Esta época foi latente e teve suas concepções mais infundas no século seguinte, quando o modelo biomédico passou a ser questionado. Contudo, de acordo com Montagner (2008), esse modelo voltado a questões políticas, sociais e econômicas, ainda se mantém na atualidade, já que essa área médica serviu para resolver alguns dilemas sociais. Outros modelos foram se configurando, a medicina higienista e a urbana, o qual se deu na França e Inglaterra (FOUCAULT, 1988). Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina Este conceito só mostra que, dependendo do país e claro das condições sociais nele existentes, o rumo da medicina social tornava-se diferente e conseqüentemente a da sociologia da saúde que estaria por vir, se pensarmos sob o viés da evolução dos conceitos. O fato é que as Ciências Sociais só adquirem uma certa aproximação com a medicina nos anos 60, com alguns dilemas a serem apresentados, tais como: a inserção de novos grupos sociais no ambiente médico, questões envolvendo cura, papel do médico e das especialidades médicas, relação médico-paciente, mudanças hierárquicas, outras questões envolvendo questões envolvendo formação, prática e transformações tecnológicas da área da saúde também foram sendo abordadas (MONTAGNER, 2008). Já a década de 70 foi marcada por estudos que envolveram temas como as organizações das práticas de saúde e o processo saúde-doença, todas com abordagens nas Ciências Sociais. Nesse período um país que se destacou nos estudos sobre Sociologia e Saúde foi o Canadá, quando a saúde tornou-se objeto de disputa entre diferentes grupos, gerando muitas vezes situações conflitantes. A literatura mostra que após 10 anos, ou seja, nos anos 70, na Europa, a sociologia se institucionalizou através das mudanças sofridas nas tendências da saúde, da medicina e do cuidado médico, tornou-se então, mais sistemática. Nesse período os países que mais se destacaram foram França, Espanha e Hungria e nos anos 80 Portugal (MONTAGNER, 2008). Essa afirmação também foi constatada em Nunes (2006), já que foi em alguns países europeus e nos Estados Unidos que a sociologia da saúde (ele retrata como sendo uma sociologia não apenas médica) começou a se consolidar, enquanto que nos países latino-americanos isso ocorreu bem mais tardiamente. Especificamente nos Estados Unidos, a sociologia médica teve a porta de entrada através dos estudos de Parsons, durante quase duas décadas e depois com Merton [...] o interessante é que nas pesquisas da década de 70 o grande destaque se deu por cientistas com formação marxista (NUNES, 2003). Para Navarro apud Nunes (2003: 83): “O Conhecimento e a tecnologia médica não tem uma existência separada do capitalismo, ou melhor, eles são produtos dela e o biologicismo, o cientificismo, o mecanicismo, o positivismo são características intrínsecas ao próprio conhecimento médico sob o modo capitalista de produção”. Apesar dos países europeus se mostrarem bastante favoráveis as mudanças e consolidação de uma sociologia aberta a questionamentos do âmbito da saúde, houve alguns entraves que dificultou sua expansão, ocasionada pela rígida estrutura universitária e a imagem da sociologia Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina como uma atividade de extremo criticismo e politicismo, isso sem falar na falta de junção entre os grandes pensadores sociológicos e os de conhecimento medico social. Isto mostra que a importância dos debates sobre uma possível sociologia da saúde aconteceriam devido a crise no campo econômico, e não pelo livre interesse em estudar o tema. Era como se a sociologia da saúde pudesse dar as respostas aos acontecimentos não apenas sociais, mas econômicos que outras ciências como a própria economia não poderia solucionar, ou seja, esta seria secundária a primazia que estava acontecendo na sociedade. Nesse panorama segue-se a assertiva de Nunes (2006), onde a saúde emerge como tema sociológico a partir do momento em que significantes verbas forma destinadas as pesquisas sociomédicas, que obviamente tinham como pano de fundo a economia da saúde globalizante. Com toda convicção, aponto que o grande interesse do Estado e por que não da sociedade estaria relacionado a diminuição dos gastos com saúde,e ao aproveitamento dos recursos e ainda a satisfação da clientela e melhoria das realidades sociais em saúde. Segundo Montagner (2008), a definição da sociologia da saúde, ficou por muito tempo aplicada a mesma definição de sociologia médica e medicina social, ou seja, a sociologia da saúde ainda não tinha um campo que lhe era próprio, muitas vezes era aplicada como sinônimo para a saúde coletiva. De acordo com Nunes (2006), a década de 90 apresentou um momento das pesquisas em ciências sociais e saúde, incluindo novas temáticas antes não abordadas e formando um campo que não se limitava apenas as linhas acadêmicas ou dos âmbitos dos cursos de pós-graduação, embora foi a partir de tal campo ou seja, os cursos de pós graduação que a sociologia da saúde se firmou. Especificamente no Brasil, as Ciências Sociais em saúde constituíram um campo autônomo desde os anos 60, sendo conhecido como sociedade e saúde, que nada mais era que a relação entre os serviços de saúde, políticas públicas e o modelo de estado e de sociedade; Os quais sofriam influencia assim como ocorreu nos Estados Unidos, do pensamento estruturalista, do marxismo dialético (ZIONI e WESTPHAL, 2007). Segundo Barros e Nunes (2009), o ensino de Ciências Sociais em saúde ocorreu primeiramente na Unicamp no ano de 1965, para alunos do ensino médio, sendo estritamente teórico conceitual. No ano seguinte, ou seja, 1966, tornou-se necessária a contratação de cientistas sociais para ser então obrigatório no currículo médico a partir do ano de 1967. Especificamente no que tange a realidade aqui na Paraíba, a Ciência Social como campo de estudo voltada a questões da saúde, formou-se como um campo novo se comparada a outras vertentes da sociologia, aqui na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, o ano de iniciação da linha de pesquisa em sociologia da saúde do departamento de pós-graduação em sociologia foi Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina 2009, ou seja, muito recentemente esse novo campo tem se destacado, não que nunca se tenha estudado as concepções sobre sociologia e saúde, mas diante das exigências sociais e acadêmicas tornou-se necessária sua inauguração. Deste modo essa breve exposição, é apenas um esboço de como a sociologia da saúde vai ganhando cada vez mais espaço nas arenas universitárias, contudo, compilando a literatura existente, os estudos acerca da sociologia da saúde começaram não com relação a sociologia em si, mas de uma medicina social. 2. A Sexualidade no campo das Ciências Sociais: um breve debate. Sexualidade caracteriza-se por uma capacidade de se ligar a pessoas, objetos, idéias, a vida como um todo, é a busca do amor, do desejo, do prazer sexual, além de diversos sentimentos tais como admiração, companheirismo e amizade (RODRIGUES, 2008). Já para Foucault (1997), a sexualidade é um “dispositivo histórico” uma invenção social, se constitui historicamente a partir de múltiplos discursos sobre sexo, discursos que regulam, normatizam, que instauram saberes, que produzem “verdades”. Sua definição de “dispositivo” sugere a direção e abrangência de nosso olhar. Para Foucault, citado por Butler (2008), a sexualidade é um sistema histórico aberto e ao mesmo tempo um complexo discurso de poder, o qual produz a denominação imprópria de “sexo” como parte da estratégia de ocultar e até mesmo perpetuar essas relações de poder. O poder por sua vez é concebido como repressão e dominação, já o sexo é concebido como “energia vigorada” esperando por alguma libertação ou auto-expressão. Segundo Heilborn (1999:41), a sexualidade não se constituiria em domínio de significação isolada, estando sexo e prazer englobados por uma moralidade mais abrangente. A definição da sexualidade seria crucial para a definição do sujeito na sociedade moderna. Quanto a isso, Loyola (1999) afirma que a sexualidade pode ser abordada em relação à família, ao parentesco, ao casamento assim como de maneira “perturbadora” da ordem social, nessa abordagem mais específica para a sociologia e antropologia. A sexualidade constitui ainda um campo a ser delimitado, um objeto em pleno processo de construção. A sexualidade não é apenas um processo biológico dos desejos e das vontades, limitado a fases da vida, mas um processo complexo ligado ao contexto social. Sendo assim, aspectos históricos Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina demonstram que a partir da segunda metade do século XX surgiram as constantes mudanças no que concerne à ampliação do tempo sexual, como define Bozon (2004:122): “Com a temporalidade da sexualidade, entramos em uma sociedade onde impera a obrigação difusa e implícita de nunca interromper nem encerrar de vez a atividade sexual”. Para Gagnon (2006), a vida sexual se assemelha a vida social, é mais amiúde uma atividade provocada pelas circunstâncias sociais e culturais, é uma atividade que difere de uma era histórica para outra, de uma cultura para outra. Sendo assim, as questões sobre sexualidade abrem uma enorme discussão através de vertentes sociológicas, de explicação e fatores inerentes a sociedade e que não mais se reduzem a concepções medicas. O debate se adentrou em outras ciências como a psicologia por exemplo mas se consolidou como campo sociológico e que requer, constantes pesquisas para assim poder dar conta de toda mudança estrutural e moderna que ocorre na sociedade e os aspectos inerentes que concerne a sexualidade humana. 3. O essencialismo e Construtivismo sob a ótica da sexualidade/ saúde O Essencialismo e o Cosntrutivismo marcam a partir do século XIX, um dos modelos de estudos para a sexualidade humana. Sob a vertente medicalizada e obviamente contraposta a visão da sociologia, o essencalismo defende a idéia de que a sexualidade é determinada por fatores estritamente biológicos e fisiológicos, não sendo susceptível a nenhum fator externo. A biologização de seus conceitos estende-se por questões de ordem genética, a notar o grande conceito de homossexualidade ligada a pré – disposição genética, além do mais sob a vertente psicológica o essencialismo atribuía valores e conceitos a dados que não representassem aos padrões ditos como normais para a medicina. O ponto marcante ocorreu a mais de 100 anos com os estudos de Freud relativos aos impulsos internos, focalizando as condutas individuais e posteriormente a sua relação com os fatores sociais e culturais. Portanto, as idéias Essencialistas prevalecentes neste século XIX, defendiam que tudo que fugisse aquela padronização de normalidade, irradiada de preconceitos, poderiam ser vistos como patológicos. É uma visão bem positivista e que em muito se assemelha com a questão da ordem empregada nas concepções durkheimianas. Já o Construtivismo, que surge como uma luz no fim do túnel ao final dos anos 60 e começo dos anos 70 constrói sua marca ao questionar e contrapor as concepções do essencialismo, uma vez que tentava explicar a sexualidade como uma construção social, um produto de forças sociais e Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina históricas. Essa concepção foi empregada por vários estudiosos contemporâneos como é o caso de Gagnon e Simon. Segundo Heilborn (2006:43): “Sob uma perspectiva construtivista, o argumento da construção social do sexual considera que essa dimensão humana não é natural, nem universal em sua forma de expressão, nem inata e, de um ponto de vista sociológico, não pode ser interpretada como pulsão psíquica ou função biológica. Os antropólogos e sociólogos consideram que a expressão da sexualidade se dá em um contexto social muito preciso, o que orienta a experiência e a expressão do desejo, das emoções, das condutas e práticas corporais”. Mas tanto o essencialismo como o construtivismo tem algumas considerações em comum, que se deve ao fato de que ambas relacionarem ao estudos sobre sexualidade a importância das concepções históricas culturais. É por isso que tornou-se relevante esta abordagem no campo da sociologia da saúde, para ressaltar as concepções que ainda perpetuam o campo e como estas apenas de abordarem diferentes concepções em determinados contextos, poucos mais ainda assim se assemelham e definem o que de fato as versões de estudos sobre a sociedade em saúde revela. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode se perceber que a sociologia da saúde, embora com grande destaque em países europeus pode se desenvolver e se consolidar como campo efetivo no Brasil como também em outros países. É um campo relativamente novo, de abordagens novas, que requer grandes incentivos de estudos, não apenas sob vertentes econômicas, mas sociais para assim se entender como as dinâmicas entre sociedade e saúde se articulam e se modificam na modernidade. O presente trabalho veio com o intuito de resgatar a trajetória desse campo de estudo sociológico que começou sendo difundido na área médica, mas que com o passar dos anos foi se estruturando na sociologia e na antropologia. De fato muito terreno tende a ser investigado, são muitos os estudos e a dimensão a que se propõe a sociologia da saúde, as grandes instituições universitárias já mostram interesse, as pós graduações estão muito vigorosas e as contratações de recursos humanos em área mais especifica também, como demonstrado em algumas literaturas. E com relação a sexualidade, os estudos mostram que a concepção construtivista vem ganhando destaque nas arenas acadêmicas, não apenas por se constituir um parâmetro discursivo e sociológico, mas por se configurar como algo que imanentemente torna as questões humanas inteligíveis. Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina Como afirma Zioni e Westphal (2007), trata-se agora (na atualidade) de pensar a saúde como objeto próprio da sociologia, de pensar o quadro da saúde social como uma experiência socialmente construída, no qual pode-se estudar dentre outras coisas, as representações, as emoções, as condutas e as maneiras pelas quais os atores se explicam e as explicam. REFERÊNCIAS BARROS, N. F. de e NUNES, E. D. Sociologia, medicina e a construção da sociologia da saúde. Rev. Saúde Pública [online]. 2009, vol.43, n.1, pp. 169-175. ISSN 0034-8910. BOZON, M. A nova normatividade das condutas sexuais ou dificuldades de dar coerência às experiências íntimas. IN. Família e Sexualidade. Rio de Janeiro: FGV, 2004. p. 119 – 153. BUTLER, J. P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. FOUCAULT, M. História da Sexualidade: a vontade de saber. 12 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1997. __________. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1988. GAGNON, J. H. Uma interpretação do desejo: ensaios sobre o estudo da sexualidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. HEILBORN, M. L. (orgs.) Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. MONTAGNER, M. Â.. Sociologia médica, sociologia da saúde ou medicina social? Um escorço comparativo entre França e Brasil. Saude soc. [online]. 2008, vol.17, n.2, pp. 193-210. ISSN 01041290. NUNES, E. D. A trajetória das ciências sociais em saúde na América Latina: revisão da produção científica. Rev. Saúde Pública [online]. 2006, vol.40, pp. 64-72. ISSN 0034-8910. __________.A sociologia da saúde nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França: panorama geral. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2003, vol.8, n.1, pp. 79-95. ISSN 1413-8123. RODRIGUES, L. C. B. Vivências da sexualidade de idosos (as). Rio Grande: Universidade Federal do Rio Grande, 2008. Dissertação (mestrado). ZIONI, F. e WESTPHAL, M. F. O enfoque dos determinantes sociais de saúde sob o ponto de vista da teoria social. Saude soc. [online]. 2007, vol.16, n.3, pp. 26-34. ISSN 0104-1290. Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina