A SEXUALIDADE NO CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: O

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Anais do 1º Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana
Florianópolis, 14 a 16 de setembro de 2010
Universidade Federal de Santa Catarina
A SEXUALIDADE NO CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: O PANORAMA
HISTÓRICO E A QUESTÃO DO ESSENCIALISMO E O
CONSTRUTIVISMO SOCIAL.
MÁRCIA ANDRÉA RODRIGUES ANDRADE1
RESUMO: A Sexualidade tem sido atualmente no campo das ciências sociais uma categoria
bastante ampla e pertinente para diversos estudos tais como, estereótipos, a questão do corpo,
identidade sexual, exclusão social, gênero, moral, valores, doenças transmissíveis, mitos, tabus,
saúde e bem estar sexual e as inúmeras normatividades sexuais que regem o campo, ou seja, uma
verdadeira infinidade de temas a serem estudados e debatidos ao longo do discurso na modernidade,
afirmando deste modo que a sexualidade não se constitui numa relação isolada. O presente trabalho
tem como finalidade, explanar a importância do tema para as pesquisas em ciências sociais, e como
esta ciência incorpora este conceito como um campo interdisciplinar com a saúde. Será discutido ao
longo do trabalho o processo de construção histórica das ciências sociais em relação a saúde, bem
como a da categoria sexualidade, como essas novas formas de pensar a sexualidade vão surgindo a
medida que a sociedade avança na modernidade, e focalizar o debate teórico sobre essencialismo e
o construtivismo social, enfim como afirma Heilborn (1999), o que as ciências sociais tem a dizer
sobre a sexualidade?, buscando desta forma complementar a discussão acerca desta realidade e
trazer contribuições sobre paradigmas e questionamentos acerca desta temática. Na busca de
explicações e esclarecimentos utilizei-me de artigos disponibilizados no site da Scielo através das
revistas que tratam do tema, além de bibliografias produzidas por diversos autores que se destacam
no assunto. Neste sentido, o olhar das ciências sociais configura-se como um papel de extrema
importância para a área da saúde,o reconhecimento das várias categorias configura um panorama
em que há sim a necessidade de se repensar o campo na medida em que combina vários tipos de
abordagens.
Palavras – Chaves: Sexualidade, ciências sociais, saúde.
1
UFPB - [email protected].
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INTRODUÇÃO
O campo das ciências sociais tem se tornado cada vez mais amplo, vários são os enfoques e
as temáticas abordadas. Uma das áreas que tem tomado grande destaque se dá no campo da saúde
que de certa forma é relativamente novo, numa interface que agrega diversas categorias antes
negadas, e que agora, face as novas condições da modernidade caem no discurso. Neste novo
conceito, uma das categorias da saúde de grande interesse nas sociologia foi e está sendo a
Sexualidade, que também congrega uma amplitude, por ser complexa e assim conseguir abarcar
conceitos subjacentes, como por exemplo os estereótipos, a questão do corpo, identidade sexual,
exclusão social, gênero, moral, doenças transmissíveis, saúde e bem estar sexual, ou seja, uma
verdadeira infinidade de conceitos e categorias a serem abordadas.
Uma categoria é dita como válida quando nela se perpetua um enorme interesse entre os
cientistas, na vertente que move um desconforto aos parâmetros estabelecidos pela sociedade, algo
que incomoda o pesquisador e na maioria das vezes este, busca respostas a seus questionamentos
que ao se deparar com o empírico confronta-se na tentativa de se chegar mais perto do que seja essa
tal realidade.
As categorias sociais refletem um agrupamento no qual vários indivíduos tem características
comuns entre si, que podem ou não estabelecer relações. Essas categorias são de fundamental
importância, pois é a partir delas que muitas vezes o pesquisador encontra o ponto de partida para
suas pesquisas, de um conjunto de pressupostos sobre a realidade.
No campo da sexualidade vários autores tem se destacado com a temática, como Foucault,
Gagnon, Heilborn, Loyola, Luis Duarte, Giddens, Butler entre outros.
Alguns desses autores
trabalham sob a ótica da “normatividade sexual”, questão amplamente discutida, sobretudo com
enfoques que dizem respeito a passagem das diferentes fases da sexualidade, chegando aos dias
atuais.
Segundo Heilborn (1999), a questão da sexualidade produz importantes efeitos normativos,
na medida em que difunde entre as pessoas uma definição exclusivamente técnica do que seria um
bom funcionamento sexual, cuja conseqüência indireta é reforçar as definições normativas do
feminino e do masculino. Essa sexualidade moderna emana concepções bastante abrangentes e
difíceis de serem determinadas apenas em seu aspecto individual unitário. É necessário, pois,
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adicionar-lhes outros fatores para o seu entendimento como por exemplo as relações sociais entre os
indivíduos.
A sexualidade agora no campo da sociologia é estudada a partir do que está por trás do
cenário, do que não é visto simplesmente, pois sabe-se a sexualidade ganhou o seu (não) lugar,
estudá-la significa romper barreiras, padrões, regras, moral, discursos não ditos e enfrentamento do
que a sociedade não está, ou está pronta a escutar; torna-se deste modo um campo bastante amplo
mas que deve ser estudado com uma certa cautela por se enovelar por essas vertentes anteriormente
apontadas.
Assim, a proposta dada pela sociologia é estudar a sexualidade de outra visão, uma
abordagem que em longe se apresenta como meio medicalizado. Neste sentido tomo nota das
considerações feitas por Gagnon (2006), que ainda mais sobre essa visão, a qual passa dos impulsos
puramente biológicos e da repressão social, para um campo de iniciativa social de busca por
respostas que só podem ser encontradas pelo viés da sociedade e pelo campo da ação simbólica.
Para tanto, é imprescindível a retomada histórica de como essa passagem foi feita e está
sendo feita, na medida em que a sexualidade de antes, de maneira mais global não é a mesma de
hoje e não será a de amanhã.
Para Bozon (2004:145), “os debates públicos contemporâneos sobre as questões sexuais
suscitam indagações tanto sobre o sentido das mudanças recentes na sexualidade quanto sobre as
evoluções da sociedade”.
Esses debates públicos percorrem universos familiares, locais, acadêmicos, nas instituições,
no meio político, enfim por todos os lados, não há como fugir, é algo intrínseco e devemos portanto
como Foucault aponta fazer referência ao cuidado de si.
Em certa matéria publicada na revista Época, o ministro da saúde (Temporão) aponta para a
necessidade dos idosos em fazer sexo para que assim melhorem sua saúde e baixem os níveis de
pressão considerados altos. Esse exemplo foi demonstrado para simplificar não só a grande
polêmica que causa as questões sobre sexualidade, mas retratar o discurso como base política e
ainda medicalizada, a uma abordagem apenas com relação à saúde, que é diferente do que se
pretende estudar a sociologia da saúde.
Com isso o mistério ao que me parece não é simplesmente abordar e conceituar as questões
sobre sexualidade, mas tentar buscar e ver no outro, ai volta-se a questão das relações sociais, uma
vez que a própria sexualidade é uma relação social, e assim entender a dinâmica que se processa
nesse momento a que chamamos modernidade.
Mas antes de se entender como esse percurso ocorreu é necessário que se entenda como ele
surgiu, por que afinal de contas a sexualidade não surgiu do nada, aliás ela sempre surgiu, mas o
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que aqui quero estabelecer é como o campo da sociologia da saúde se apropriou dessa temática para
explicar os fenômenos que ocorrem atualmente.
Com isso e fazendo referência aos autores que citei anteriormente, tendo como base estudos
sobre a sociologia da saúde, discutirei pontos pertinentes encaixados em três capítulos, sendo um
deles destinados a um breve conceito a cerca do essencialismo e construtivismo social.
1. O campo das Ciências Sociais em saúde
Por muito tempo a sociologia se empenhava em discutir questões sobre o conhecimento,
religião, política e teoria social. Os temas ditos como contemporâneos, tais como identidades,
gênero, questões de raça e etnia, interações sociais entre outros foram tendo destaque a partir do
século XX. As ciências sociais, como campo abrangente de discussão teve a necessidade de se
desdobrar em outros eixos para dar conta de alguns processos de mudanças que estavam
acontecendo na sociedade. Era possível isso ocorrer com relação a processos que envolvem o
âmbito da saúde, pois nem a psicologia, nem a antropologia, nem a medicina e outras ciências mais
tinham condições de tomarem para si, todo o saber destinada a explicações de tais processos tão
pertinentes na sociedade. Isso se deu por exemplo com o caso da Sexualidade, mas isso não
significa que foi isoladamente sendo estudada.
Historicamente, a sociologia não deu o primeiro passo para a discussão de questões que
envolvesse a saúde. Isso aconteceu inicialmente com a medicina. Mais precisamente a medicina
social. A medicina social surgiu em meados do século XIX, tratando de compreender os fatores
sociais, econômicos e ambientais que desencadeavam patologias que apenas a medicina pura não
dava conta.
Esta mesma medicina social seria, segundo Foucault (1988), o resultado do desenvolvimento
de diversas técnicas, saberes, questionamentos, cujo principal objetivo é o mundo social, com sua
abrangência construída através de uma biopolítica.
Esta época foi latente e teve suas concepções mais infundas no século seguinte, quando o
modelo biomédico passou a ser questionado. Contudo, de acordo com Montagner (2008), esse
modelo voltado a questões políticas, sociais e econômicas, ainda se mantém na atualidade, já que
essa área médica serviu para resolver alguns dilemas sociais.
Outros modelos foram se configurando, a medicina higienista e a urbana, o qual se deu na
França e Inglaterra (FOUCAULT, 1988).
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Este conceito só mostra que, dependendo do país e claro das condições sociais nele
existentes, o rumo da medicina social tornava-se diferente e conseqüentemente a da sociologia da
saúde que estaria por vir, se pensarmos sob o viés da evolução dos conceitos.
O fato é que as Ciências Sociais só adquirem uma certa aproximação com a medicina nos
anos 60, com alguns dilemas a serem apresentados, tais como: a inserção de novos grupos sociais
no ambiente médico, questões envolvendo cura, papel do médico e das especialidades médicas,
relação médico-paciente, mudanças hierárquicas, outras questões envolvendo questões envolvendo
formação, prática e transformações tecnológicas da área da saúde também foram sendo abordadas
(MONTAGNER, 2008).
Já a década de 70 foi marcada por estudos que envolveram temas como as organizações das
práticas de saúde e o processo saúde-doença, todas com abordagens nas Ciências Sociais.
Nesse período um país que se destacou nos estudos sobre Sociologia e Saúde foi o Canadá,
quando a saúde tornou-se objeto de disputa entre diferentes grupos, gerando muitas vezes situações
conflitantes.
A literatura mostra que após 10 anos, ou seja, nos anos 70, na Europa, a sociologia se
institucionalizou através das mudanças sofridas nas tendências da saúde, da medicina e do cuidado
médico, tornou-se então, mais sistemática. Nesse período os países que mais se destacaram foram
França, Espanha e Hungria e nos anos 80 Portugal (MONTAGNER, 2008).
Essa afirmação também foi constatada em Nunes (2006), já que foi em alguns países
europeus e nos Estados Unidos que a sociologia da saúde (ele retrata como sendo uma sociologia
não apenas médica) começou a se consolidar, enquanto que nos países latino-americanos isso
ocorreu bem mais tardiamente.
Especificamente nos Estados Unidos, a sociologia médica teve a porta de entrada através
dos estudos de Parsons, durante quase duas décadas e depois com Merton [...] o interessante é que
nas pesquisas da década de 70 o grande destaque se deu por cientistas com formação marxista
(NUNES, 2003).
Para Navarro apud Nunes (2003: 83):
“O Conhecimento e a tecnologia médica não tem uma existência separada do
capitalismo, ou melhor, eles são produtos dela e o biologicismo, o cientificismo, o
mecanicismo, o positivismo são características intrínsecas ao próprio
conhecimento médico sob o modo capitalista de produção”.
Apesar dos países europeus se mostrarem bastante favoráveis as mudanças e consolidação
de uma sociologia aberta a questionamentos do âmbito da saúde, houve alguns entraves que
dificultou sua expansão, ocasionada pela rígida estrutura universitária e a imagem da sociologia
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como uma atividade de extremo criticismo e politicismo, isso sem falar na falta de junção entre os
grandes pensadores sociológicos e os de conhecimento medico social.
Isto mostra que a importância dos debates sobre uma possível sociologia da saúde
aconteceriam devido a crise no campo econômico, e não pelo livre interesse em estudar o tema. Era
como se a sociologia da saúde pudesse dar as respostas aos acontecimentos não apenas sociais, mas
econômicos que outras ciências como a própria economia não poderia solucionar, ou seja, esta seria
secundária a primazia que estava acontecendo na sociedade.
Nesse panorama segue-se a assertiva de Nunes (2006), onde a saúde emerge como tema
sociológico a partir do momento em que significantes verbas forma destinadas as pesquisas
sociomédicas, que obviamente tinham como pano de fundo a economia da saúde globalizante.
Com toda convicção, aponto que o grande interesse do Estado e por que não da sociedade
estaria relacionado a diminuição dos gastos com saúde,e ao aproveitamento dos recursos e ainda a
satisfação da clientela e melhoria das realidades sociais em saúde.
Segundo Montagner (2008), a definição da sociologia da saúde, ficou por muito tempo
aplicada a mesma definição de sociologia médica e medicina social, ou seja, a sociologia da saúde
ainda não tinha um campo que lhe era próprio, muitas vezes era aplicada como sinônimo para a
saúde coletiva.
De acordo com Nunes (2006), a década de 90 apresentou um momento das pesquisas em
ciências sociais e saúde, incluindo novas temáticas antes não abordadas e formando um campo que
não se limitava apenas as linhas acadêmicas ou dos âmbitos dos cursos de pós-graduação, embora
foi a partir de tal campo ou seja, os cursos de pós graduação que a sociologia da saúde se firmou.
Especificamente no Brasil, as Ciências Sociais em saúde constituíram um campo autônomo
desde os anos 60, sendo conhecido como sociedade e saúde, que nada mais era que a relação entre
os serviços de saúde, políticas públicas e o modelo de estado e de sociedade; Os quais sofriam
influencia assim como ocorreu nos Estados Unidos, do pensamento estruturalista, do marxismo
dialético (ZIONI e WESTPHAL, 2007).
Segundo Barros e Nunes (2009), o ensino de Ciências Sociais em saúde ocorreu
primeiramente na Unicamp no ano de 1965, para alunos do ensino médio, sendo estritamente
teórico conceitual. No ano seguinte, ou seja, 1966, tornou-se necessária a contratação de cientistas
sociais para ser então obrigatório no currículo médico a partir do ano de 1967.
Especificamente no que tange a realidade aqui na Paraíba, a Ciência Social como campo de
estudo voltada a questões da saúde, formou-se como um campo novo se comparada a outras
vertentes da sociologia, aqui na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, o ano de iniciação da
linha de pesquisa em sociologia da saúde do departamento de pós-graduação em sociologia foi
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2009, ou seja, muito recentemente esse novo campo tem se destacado, não que nunca se tenha
estudado as concepções sobre sociologia e saúde, mas diante das exigências sociais e acadêmicas
tornou-se necessária sua inauguração.
Deste modo essa breve exposição, é apenas um esboço de como a sociologia da saúde vai
ganhando cada vez mais espaço nas arenas universitárias, contudo, compilando a literatura
existente, os estudos acerca da sociologia da saúde começaram não com relação a sociologia em si,
mas de uma medicina social.
2. A Sexualidade no campo das Ciências Sociais: um breve debate.
Sexualidade caracteriza-se por uma capacidade de se ligar a pessoas, objetos, idéias, a vida
como um todo, é a busca do amor, do desejo, do prazer sexual, além de diversos sentimentos tais
como admiração, companheirismo e amizade (RODRIGUES, 2008).
Já para Foucault (1997), a sexualidade é um “dispositivo histórico” uma invenção social, se
constitui historicamente a partir de múltiplos discursos sobre sexo, discursos que regulam,
normatizam, que instauram saberes, que produzem “verdades”. Sua definição de “dispositivo”
sugere a direção e abrangência de nosso olhar.
Para Foucault, citado por Butler (2008), a sexualidade é um sistema histórico aberto e ao
mesmo tempo um complexo discurso de poder, o qual produz a denominação imprópria de “sexo”
como parte da estratégia de ocultar e até mesmo perpetuar essas relações de poder. O poder por sua
vez é concebido como repressão e dominação, já o sexo é concebido como “energia vigorada”
esperando por alguma libertação ou auto-expressão.
Segundo Heilborn (1999:41), a sexualidade não se constituiria em domínio de significação
isolada, estando sexo e prazer englobados por uma moralidade mais abrangente. A definição da
sexualidade seria crucial para a definição do sujeito na sociedade moderna.
Quanto a isso, Loyola (1999) afirma que a sexualidade pode ser abordada em relação à
família, ao parentesco, ao casamento assim como de maneira “perturbadora” da ordem social, nessa
abordagem mais específica para a sociologia e antropologia. A sexualidade constitui ainda um
campo a ser delimitado, um objeto em pleno processo de construção.
A sexualidade não é apenas um processo biológico dos desejos e das vontades, limitado a fases
da vida, mas um processo complexo ligado ao contexto social. Sendo assim, aspectos históricos
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demonstram que a partir da segunda metade do século XX surgiram as constantes mudanças no que
concerne à ampliação do tempo sexual, como define Bozon (2004:122): “Com a temporalidade da
sexualidade, entramos em uma sociedade onde impera a obrigação difusa e implícita de nunca
interromper nem encerrar de vez a atividade sexual”.
Para Gagnon (2006), a vida sexual se assemelha a vida social, é mais amiúde uma atividade
provocada pelas circunstâncias sociais e culturais, é uma atividade que difere de uma era histórica
para outra, de uma cultura para outra.
Sendo assim, as questões sobre sexualidade abrem uma enorme discussão através de vertentes
sociológicas, de explicação e fatores inerentes a sociedade e que não mais se reduzem a concepções
medicas. O debate se adentrou em outras ciências como a psicologia por exemplo mas se
consolidou como campo sociológico e que requer, constantes pesquisas para assim poder dar conta
de toda mudança estrutural e moderna que ocorre na sociedade e os aspectos inerentes que concerne
a sexualidade humana.
3. O essencialismo e Construtivismo sob a ótica da sexualidade/ saúde
O Essencialismo e o Cosntrutivismo marcam a partir do século XIX, um dos modelos de
estudos para a sexualidade humana. Sob a vertente medicalizada e obviamente contraposta a visão
da sociologia, o essencalismo defende a idéia de que a sexualidade é determinada por fatores
estritamente biológicos e fisiológicos, não sendo susceptível a nenhum fator externo. A
biologização de seus conceitos estende-se por questões de ordem genética, a notar o grande
conceito de homossexualidade ligada a pré – disposição genética, além do mais sob a vertente
psicológica o essencialismo atribuía valores e conceitos a dados que não representassem aos
padrões ditos como normais para a medicina.
O ponto marcante ocorreu a mais de 100 anos com os estudos de Freud relativos aos
impulsos internos, focalizando as condutas individuais e posteriormente a sua relação com os
fatores sociais e culturais. Portanto, as idéias Essencialistas prevalecentes neste século XIX,
defendiam que tudo que fugisse aquela padronização de normalidade, irradiada de preconceitos,
poderiam ser vistos como patológicos. É uma visão bem positivista e que em muito se assemelha
com a questão da ordem empregada nas concepções durkheimianas.
Já o Construtivismo, que surge como uma luz no fim do túnel ao final dos anos 60 e começo
dos anos 70 constrói sua marca ao questionar e contrapor as concepções do essencialismo, uma vez
que tentava explicar a sexualidade como uma construção social, um produto de forças sociais e
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históricas. Essa concepção foi empregada por vários estudiosos contemporâneos como é o caso de
Gagnon e Simon.
Segundo Heilborn (2006:43):
“Sob uma perspectiva construtivista, o argumento da construção social do sexual
considera que essa dimensão humana não é natural, nem universal em sua forma de
expressão, nem inata e, de um ponto de vista sociológico, não pode ser interpretada
como pulsão psíquica ou função biológica. Os antropólogos e sociólogos
consideram que a expressão da sexualidade se dá em um contexto social muito
preciso, o que orienta a experiência e a expressão do desejo, das emoções, das
condutas e práticas corporais”.
Mas tanto o essencialismo como o construtivismo tem algumas considerações em comum,
que se deve ao fato de que ambas relacionarem ao estudos sobre sexualidade a importância das
concepções históricas culturais. É por isso que tornou-se relevante esta abordagem no campo da
sociologia da saúde, para ressaltar as concepções que ainda perpetuam o campo e como estas apenas
de abordarem diferentes concepções em determinados contextos, poucos mais ainda assim se
assemelham e definem o que de fato as versões de estudos sobre a sociedade em saúde revela.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode se perceber que a sociologia da saúde, embora com grande destaque em países
europeus pode se desenvolver e se consolidar como campo efetivo no Brasil como também em
outros países. É um campo relativamente novo, de abordagens novas, que requer grandes incentivos
de estudos, não apenas sob vertentes econômicas, mas sociais para assim se entender como as
dinâmicas entre sociedade e saúde se articulam e se modificam na modernidade. O presente
trabalho veio com o intuito de resgatar a trajetória desse campo de estudo sociológico que começou
sendo difundido na área médica, mas que com o passar dos anos foi se estruturando na sociologia e
na antropologia.
De fato muito terreno tende a ser investigado, são muitos os estudos e a dimensão a que se
propõe a sociologia da saúde, as grandes instituições universitárias já mostram interesse, as pós
graduações estão muito vigorosas e as contratações de recursos humanos em área mais especifica
também, como demonstrado em algumas literaturas.
E com relação a sexualidade, os estudos mostram que a concepção construtivista vem
ganhando destaque nas arenas acadêmicas, não apenas por se constituir um parâmetro discursivo e
sociológico, mas por se configurar como algo que imanentemente torna as questões humanas
inteligíveis.
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Como afirma Zioni e Westphal (2007), trata-se agora (na atualidade) de pensar a saúde
como objeto próprio da sociologia, de pensar o quadro da saúde social como uma experiência
socialmente construída, no qual pode-se estudar dentre outras coisas, as representações, as emoções,
as condutas e as maneiras pelas quais os atores se explicam e as explicam.
REFERÊNCIAS
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BOZON, M. A nova normatividade das condutas sexuais ou dificuldades de dar coerência às
experiências íntimas. IN. Família e Sexualidade. Rio de Janeiro: FGV, 2004. p. 119 – 153.
BUTLER, J. P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 2ª Ed. Rio de Janeiro:
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FOUCAULT, M. História da Sexualidade: a vontade de saber. 12 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1997.
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GAGNON, J. H. Uma interpretação do desejo: ensaios sobre o estudo da sexualidade. Rio de
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HEILBORN, M. L. (orgs.) Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
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MONTAGNER, M. Â.. Sociologia médica, sociologia da saúde ou medicina social? Um escorço
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NUNES, E. D. A trajetória das ciências sociais em saúde na América Latina: revisão da
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RODRIGUES, L. C. B. Vivências da sexualidade de idosos (as). Rio Grande: Universidade
Federal do Rio Grande, 2008. Dissertação (mestrado).
ZIONI, F. e WESTPHAL, M. F. O enfoque dos determinantes sociais de saúde sob o ponto de
vista da teoria social. Saude soc. [online]. 2007, vol.16, n.3, pp. 26-34. ISSN 0104-1290.
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