COMPREENDENDO A FUNCIONALIDADE DA PALAVRA POLITICA

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COMPREENDENDO A FUNCIONALIDADE DA PALAVRA POLITICA
RICARDO DAVIS DUARTE1
RESUMO: Este artigo discute o significado da palavra política, indicando o seio de seu
surgimento, a cidade, diante da necessidade humana em ser organizado em seu modo de
vida social. Ele trata também, da forma organizacional deste homem às práticas
políticas, tal, que renova com sobriedade e solidificação as formas existentes de
organização social e política. Finalmente, o artigo também faz uma discussão da ação da
palavra politica sobre o indivíduo, já que a política de forma dura e, por vezes severa,
está ligada a ideia de poder, querer e ação. Toda a discussão tem por objetivo
compreender a significância da palavra política em sua ação e poder, na aplicação de
vida do indivíduo em sociedade.
PALAVRAS CHAVE: Palavra, Política, Indivíduo, Sociedade.
ABSTRACT: This paper discusses the meaning of the word politics, indicating the
bosom of its appearance, the city, before the human need to be organized in the way of
social life. He is also the organizational form of the man to political practices, such
renewing soberly and solidifying existing forms of social and political organization.
Finally, the article also makes a discussion of the word political action on the
individual, since the policy so hard and sometimes severe, is on the idea of power, will
and action. All discussion aims to understand the significance of the word in its political
action and power, the application of life of the individual in society.
KEYWORDS: Keyword, policy, Individual, Society
1 ENTENDO O SIGNIFICADO DA PALAVRA POLÍTICA.
O ser humano por necessidade procura sua organização. Viver em grupo requer
distribuição de tarefas, de responsabilidades e, exige pessoas a que lhe coordene e lhe
comande, exige um líder que lhe conduza de forma organizada. O líder não é apenas um
elemento a mais no sistema de trabalho do grupo, ele é aquele que tem a tarefa de
conduzir esse grupo e conduzi-lo com qualidade. O líder tem o poder de influenciar e
RICARDO DAVIS DUARTE – Mestre em Teologia Sistemática; Pós Graduado (Especialista) em
Filosofia Geral; Graduado em Bacharel em Teologia Sistemática; Graduado em Licenciatura em
Filosofia; Possui 02 Artigos Científicos publicados no site Recanto das Letras, 01 Artigo Científico
publicado no site Recanto das Letras, http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=46335, no
Iaulas
http://www.iaulas.com.br/site/arquivo/4538/trabalhos-prontos/administracao/o-lider-e-sua-acaosobre-o-grupo.html, e na revista Científica Àgora da Faculdade. ISES – Salgueiros PE; Possui três livros
publicados: Uma vida Abundante em Jesus, Uma Filosofia Popular no Sertão, e Poesias, Sob o Luar do
Sertão. Este artigo deu inicio a minha pesquisa para a construção da Monografia da Pós Graduação em
Filosofia Geral, Um Panorama Filosófico Político da Antiguidade.
1
conduzir o outro para o caminho que desejar e isso não vêm a ser um problema, desde
que ele saiba o que esta fazendo, desde que ele conheça os meios certos para fazê-lo.
Lemos em Filosofia, de Antônio Joaquim Severino, (SEVERINO, 2007, pág. 163).
... os ancestrais da espécie humana deixaram de viver isolado ou em
bandos, passando a viver em sociedade, em decorrência das
necessidades e exigências surgidas de sua forma de provimento dos
elementos naturais para a manutenção de sua existência. Na realidade
as divisões das tarefas produtivas acarretaram uma forma de
organização da sociedade. Fala-se em sociedade para designar
exatamente um grupo organizado...
Em certos casos pela história da humanidade, tais organizações deixaram o mito
ser a força dominadora e indicadora ao destino da sociedade a que pertencia. O povo
grego não ficou de fora desta ordem. A simplicidade de um povo pode inibir a sua
racionalidade de um modo geral. Foram estas as razões que por tanto tempo, atrelaram
ao estado de vida do povo grego, em suas vontades e ações, a influencia do Mito, de
onde buscaram respostas acerca do mundo e da natureza, encontrando nas formas
mitológicas essas respostas, para fazerem do governo humano uma extensão da vontade
dos deuses. Trataremos melhor a questão do Mito em um outro ponto, neste
discorremos a ideia de que política é arte de governar.
Notem que, do século VI ao V, o povo grego sofreu mudanças que variam das
suas conquistas territoriais as transformações culturais e políticas. De acordo com
Oliver Nay, (NAY, 2007, pág. 16), podemos dizer que as estruturas políticas e sociais
da antiga Grécia, andam lado a lado, por qual provocou uma outra mudança profunda no
homem, em sua regra moral e seu poder intelectual, já que a evolução exprimiu-se a
partir do século VI com a conduta do governo político e sua organização, como lemos:
“na conduta do governo político e na organização das relações sociais, antes de dar
nascimento a uma verdadeira reflexão política no século V – VI (com Platão e,
sobretudo, com Aristóteles), as mudanças sociais e as inovações intelectuais
permanecem inseparáveis”. Ney diz ainda que “A principal ruptura é a introdução da
razão no pensamento erudito e na organização da vida política”, uma razão que gerou
relações humanas em sua política organizacional. Segundo Christian Roby (ROBY,
1998, pág.13), “O homem é um ser da cidade, por conseguinte da lei, a política não
pôde constituir, para os filósofos gregos, uma questão entre outras”. O cidadão é
dependente da cidade, pois como vemos ao tratarmos de política – politéia, vida da
cidade – em sua ordem dos poderes e ou, de vinculo a lei em sua aplicação, que faz do
homem um elemento estreitamente ligado a pólis – cidade – lhe destina em sua
existência e continuidade. O homem não pode quebrar sua relação com a polis, pois nela
recebe a educação para sua formação de progresso a própria vida em sua estrutura. Para
os gregos, o político na falta do cumprimento de sua dignidade é classificado de idiotés
– cidadão solitário – se referindo ao individuo que não se envolve nos negócios da
cidade com busca ao seu aperfeiçoamento e progresso. Na Grécia antiga, não se admitia
ao cidadão, seu isolamento a questões publicas, pois fazer parte da cidade era discutir
com seu governo sobre o certo e o errado, o verdadeiro e o falso. Entendendo com isso,
que na variação de governo não se impõe à privação da consciência do dever como
cidadão. Como lemos de Roby, (ROBY, 1998, pág.14), quando trata do pensamento do
dramaturgo Aristófanes2:
... a filosofia não é um pensamento nas nuvens... Ela torna inteligível
a política, que parece por vezes caótica. Cabe-lhe, com efeito,
desenhar a conformidade necessária da cidade e de suas instituições
com o Bem, origem e causa primeira do mundo, de sua forma e de
sua ordem (cosmos). O filosofo tem o papel de ensinar ao futuro
governante a conhecer esse Bem, a fim de que ele seja refletido na
Cidade sob a forma de justiça, medida de uma boa política. Daí
resulta uma cidadania concebida como êtbos, um habito adquirido
que torna o ser plenamente humano e se desdobra na Cidade. Nesse
sentido, a cidadania define melhor o poder de formar-se, designando
a melhor forma de governo no que concerne aos assuntos, do que o
poder de influir sobre os acontecimentos.
A comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikos), isto é, pelos
homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais, portadores de dois direitos
inquestionáveis, a isonomia3 e a isegoria4, fizeram da democracia (Que vem do grego
2 Dramaturgo Aristófanes - Aristófanes nasceu em Atenas entre 448 e 380 a.C. Era ligado ao partido aristocrático combatendo os
demagogos Cléon e Hiperbolo. Aristófanes especializou-se na sátira social e política, tornando um escritor de agressividade
extrema, tendo como mérito os diálogos inteligentes, as parodias de grande agudez e no poder de inventivo de algumas cenas
produzidas. LARA, Tiago Adão. Caminhos da Razão no Ocidente, A Filosofia na suas origens gregas. Editora Vozes, vol. 1.
Petrópolis – RJ. 1989.
3 Isonomia – Igualdade perante a lei. É possível que o princípio da igualdade provavelmente tenha sido utilizado em Atenas, na
Grécia, cerca de 508 a.C. por Clistenes, o pai da democracia Ateniense. Tratar de isonomia como concepções filosóficas para
legitimá-la como princípio de igualdade, requer pensar no idealismo que sustenta a igualdade ínsita (inserido, congênito) aos
homens, que diz sobre o ser que detém a igualdade. Requer pensar também no realismo que diz sobre a igualdade como um bem
demos – povo, e kátia, de krátos – governo, poder, e ou autoridade), um ideal, dandolhes a capacidade de decidir o destino da pólis, em praça publica, a famosa ágora5, um
direito de ser. Como diz Chauí, em seu livro, Convite a Filosofia, (CHAUI, 2004, pág.
349), a palavra Polis, se traduz pela palavra latina Civitas que trata da Cidade como ente
público e coletivo. Como complemento, lemos de Oliver Nay (NAY, 2007, pág. 28),
que a invenção da cidadania, foi a mudança principal na Grécia, onde, como ideia, “...
consiste em considerar que os homens não são mais súditos (sujeitos) que devem
dobrar-se às exigências de uma ordem política superior e, por conseguinte, uma única
vocação é submeter-se à autoridade tradicional do rei”. A cidadania faz do homem
“cidadãos (politai)”, iguais em todos os planos, inclusive o plano político, detentores
de direitos e deveres iguais uns dos outros na comunidade. O aparecimento da cidade
trouxe mudanças sociais ao homem fazendo a sociedade grega evoluir. Com isso,
notadamente a Grécia passava a deixar de ser um agrupamento de indivíduos, com
formato de castas onde ocupavam posição soberana, porem não existiam como um todo,
de ordem ao progresso do individuo, do homem em si, pois começavam a olhar para o
cidadão, como elemento que “pertença a uma comunidade cívica.”. Lemos de
Aristóteles6 em A Política (ARISTOTELES – A POLITICA, pág. 75), que “a cidade é
uma multidão de cidadãos”, então saber da polis é saber do que significa o cidadão.
Esta concepção, que o homem em sua cidadania é um ser livre, com direitos e deveres
atribuído a todo o homem, a toda a pessoa humana. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Livraria Martins Fontes
Editora Ltda. São Paulo 2000.
4 Isegoria – O direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a Cidade deve ou não deve realizar. É um conceito
oriundo da democracia grega, significando o direito que todos os cidadãos tinham em manifestar sua opinião política na agora.
Quando a democracia foi introduzida passou a existir a isegoria traduzida por liberdade de expressão diante do direito de se defender
nas assembleias a sua opinião, mediante a igualdade que se tem um perante o outro com direito de falar o se deve falar.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo 2000.
5 Ágora – Era a praça principal na constituição da polis, a Cidade grega da antiguidade. Era o espaço livre de edificações,
configurada pela presença de mercados e feiras livres em seus limites, assim como por edifícios públicos. A ágora se manifesta
como a expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência. ARANHA, Maria Lucia de
Arruda. Filosofando, Introdução a Filosofia. Editora Moderna. São Paulo. 2000. LARA, Tiago Adão. Caminhos da Razão no
Ocidente, A Filosofia na suas origens gregas. Editora Vozes, vol. 1. Petrópolis – RJ. 1989.
6 Aristóteles – Aristóteles nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. – 322 a.C.), e como filosofo grego, foi aluno de Platão e
professor de Alexandre, o Grande, sendo considerado um dos maiores pensadores, já que é criador do pensamento lógico. A sua
filosofia, a de Platão e a de Sócrates transformaram a filosofia pré-socrática, já que foram a base para a construção da filosofia
ocidental. Sua contribuição foi a ética, a política, a física, a metafísica, a lógica, a poesia, a retórica, a psicologia, a zootecnia, a
biologia e a história natural. LARA, Tiago Adão. Caminhos da Razão no Ocidente, A Filosofia na suas origens gregas. Editora
Vozes, vol. 1. Petrópolis – RJ. 1989. ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando, Introdução a Filosofia. Editora Moderna. São
Paulo. 2000.
foi revolucionaria, digamos que, algo inovador para a época. O cidadão passava a ter
direito e dever de cidadania.
2 FORMA A QUE CONDUZ À PALAVRA POLÍTICA.
As práticas políticas renovam com sobriedade e solidificação as formas
existentes de organização social e política, como explica Denis L. Rosenfield, em seu
livro Filosofia Política & Natureza Humana, Uma Introdução à Filosofia Política,
(ROSENFIELD, 1990, pág. 128.), portanto, uma prática pode legitimar uma regra
política se tais regras partirem da pressuposição de que o homem é um ser livre. Na
Polis grega (cidade), se tem uma forma mais acabada e apurada da vida social
organizada, tornando-a diferente das sociedades anteriores. Da polis, deriva-se a
“política” e o “político”, sendo dela que apareceu o que se denomina por Estado, já
que, Estado e Polis são equivalentes. Chauí (CHAUI, 2004, pág. 349), quando se refere
a polis e civitas, diz que elas correspondem de forma imperfeita, ao que se chama no
vocabulário político moderno por Estado, o agrupamento das “... instituições públicas”,
referente às leis, erário e serviços públicos, onde cabe a administração pública pelos
membros da sociedade da Cidade a que corresponde. Chauí também diz:
... Ta politika e res publica correspondem (imperfeitamente) ao que
designamos modernamente por práticas políticas, referindo-se ao
modo de participação no poder, os conflitos e acordos na tomada de
decisões e na definição das leis e de sua aplicação, no
reconhecimento dos direitos e das obrigações dos membros da
comunidade política e às decisões concernentes ao erário ou fundo
público.
Como ela mesma diz o processo de governo na sua forma de poder e autoridade
já existia em outro lugar, mas não em sua forma política. Existiam e progrediam, mas
nunca com função a promover o bem ao cidadão livre. Roby, (ROBY, 1998, pág.23),
deixa claro que podemos ter duas visões sobre a filosofia política grega que são:
a) O edifício social grego contribui para representar imediatamente
uma totalidade orgânica, bela e eficiente, na qual se propagam
diálogos permanentes ligados as virtuosas expressões da verdade.
b) A Cidade grega, repousa sobre relações sociais agonísticas – de
agôn, assembleias diante das quais os discursos entram em conflitos,
mas também processos e hemiciclos obrigando a fazer o esforço de
ser o melhor –, confrontos, lembrando que a Cidade é constantemente
atravessada por forças adversas sem perspectiva (necessária) de
unidade. Certamente, as duas proposições são audíveis. Uma santifica
um ideal, a ponto de renunciar a ver o que existe, a ponto de justificálo.
Roby diz com isso que, independente da “relação mantida com a história da
Cidade grega”, permanecerá central a certeza de que há uma função política da palavra
Cidade, pois “A cidade – logicamente primeira em relação aos cidadãos – multiplica as
relações entre os homens (trabalho, comida, habitação, troca, etc.)”. Na compreensão
de Roby, ele diz que é a política das rivalidades traduzidas, pelos discursos, pelas
arbitragens múltiplas e decisões variadas, com o objetivo de “reconduzir o múltiplo à
unidade”. Entendendo melhor a idéia citamos Denis, (ROSENFIELD, 1990, pág. 131.),
que se refere a prática política, associada ao que se tem da recusa do sujeito político,
que recusa as regras preestabelecidas. Ele diz: “Se uma determinada proposta recusa-se
à argumentação, à confrontação de ideias e ao estabelecimento de condições factuais
suscetíveis de controlar o que á enunciado, são os próprios critérios de validade que
caem e desuso.”, podemos compreender que as regras constitutivas da democracia não
devem ser abandonadas, caso for, haverá o risco de, em seu desuso, perder em sua
forma, a capacidade de avaliação do moral e condução a prática do Bem em sua forma
de governo a palavra que se aplica como termo político, de governo ao grupo. Em
História das Ideias Políticas, (NAY, 2007, pág. 19), lemos que “O primeiro traço
constitutivo da vida política da cidade é a importância dada à argumentação e ao
debate na condução dos assuntos públicos”. É nessa intenção, que vemos Platão7
colocar a cidade bela, onde a verdade em companhia da opinião pública é objeto de
debate em busca da justiça ao cidadão, por aplicação de regras meticulosas com
interesse a ordem, fruto de regime político verdadeiro, ao Bem do individuo, do povo.
Olinto Pegoraro, (PEGORARO, 2006, pág. 31), diz que “O bem e a justiça se realizam
no exercício da cidadania. A obra máxima de Platão, A Republica, é um tratado
completo do que seja uma sociedade justa”, como Pegoraro mesmo diz de Platão, “A
sociedade nasce do homem, isto é, de sua condição natural”, fazendo-nos entender que
sem a sociedade não existe estrutura ontológica do homem, sem sociedade o homem
7 Platão - Nasceu em Atenas entre 427 a.C. e 347 a.C. Aos 20 anos teve seu primeiro encontro com o filosofo Sócrates. Foi um
filosofo matemático do período clássico da Grécia Antiga, sendo autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia de
Atenas, primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando, Introdução
a Filosofia. Editora Moderna. São Paulo. 2000.
não “é”. Quando observamos tais procedimentos, notamos que a Cidade passa a ter
uma só forma de vida, com busca ao Bem, retirando as diferenças entre as partes, que
são instrumentos de construção ao impedimento a continuidade de vida social. Em
Introdução a Filosofia Política, Roby (ROBY, 1998, pág.23), diz que, sendo isso objeto
de solução ao problema de relacionamento no meio social, a Cidade é definida “mais
como um espaço coletivo de deliberação. Ela confere a política – essa ação boa cujo
fim permanece o Um – a forma de uma arte do lugar justo.”. A cidadania concedia aos
gregos o usufruir de vantagens que em nenhum outro lugar e tempo, um homem já
conhecera. Todos os homens eram iguais em direitos e deveres, não havendo escravidão
ao estado, que por dominação lhe impusesse alguma coisa como obrigação a desordem e
impedimento ao Bem, ainda que um cidadão possuísse riqueza, beleza e inteligência,
eram considerados iguais. Elói, (ELÓI, 1986, 36), trata do pensamento aristotélico
dizendo que a natureza do Estado e a do corpo do cidadão são algo inseparável. Elói
repassa o pensamento de Aristóteles com clareza, dizendo que ao falar do cidadão em
seu sentido absoluto, “... não se define por nenhum outro caráter mais adequado pela
participação nas funções jurídicas e nas funções públicas em geral”. Quando Elói
discorre do pensamento de Aristóteles, ele traz a lembrança de que o próprio reconhece
que sua definição sobre cidadão é incompleta, já que a “essência de cidadão difere
segundo as diversas formas de governo”. Elói, (ELÓI, 1986, 37), na sequência de sua
exposição demonstra que Aristóteles recorre a uma “argumentação abstrata e geral”,
confirmando em sua argumentação que as “essências hierarquicamente subordinadas”,
onde existe o anterior e o posterior, “não pode haver gênero comum, distintas das
espécies subordinadas”. A sua conclusão é que “o caráter de anterioridade natural e
de sucessão se encontra em matéria de regime político, porque existem boas e más
formas de governo, e que as boas são necessariamente anteriores às más”, sendo
apenas desvios dos precedentes. Na citação lemos o que conclui Aristóteles dizendo:
Por conseguinte, o cidadão, necessariamente, difere segundo cada
forma de governo e tal é a razão pela qual a definição do cidadão que
temos dado é sobre tudo a de cidadão numa democracia. Ao cidadão
de outros regimes ela pode ser certamente aplicada, mas não
forçosamente.
Percebe-se na direção das palavras de Elói, a conclusão clara a que leva a idéia
de que não há uma definição una de cidadão. E, do conteúdo que se tem do seu
pensamento, podemos dizer que o cidadão é aquele homem que tem direito, que tem
acesso as funções públicas e ao poder legislativo e judiciário.
Lemos de Tiago Adão Lara, Caminhos da Razão no Ocidente, A Filosofia na
suas origens gregas, (LARA, 1989, pág. 164), “O grego vivia na cidade, pela cidade e
para a cidade”. Entendemos com isso que a cidade significa para os gregos a própria
existência, respirar o ar da liberdade, caminhar a estrada da segurança, descansar à
sombra da paz, construir a moral justiça e perfeita. Para confirma estas palavras lemos a
continuação do que ele diz:
A cidade representava, aos olhos do grego comum e, principalmente,
aos olhos do grego aristocrata, o valor maior da existência. Nela
sentia-se ele realizado, pois nela sentia-se livre de agressões da
natureza rebelde, dos conflitos sociais incontroláveis. Livre da tirania
dos reis que dominavam os outros povos... A cidade era a realização
mais perfeita de vida, a única realmente, aquela que traçava uma
distinção nítida entre o grego civilizado e os demais povos bárbaros.
As formas a que, pela política, vieram ao grego de um modo geral, em resultado
ao descobrimento da polis, foi a de desfruto do Bem, como belo e perfeito, facilitador a
ordem e progresso social, por compreensão e aplicação dos direitos e deveres de
cidadania, sem impedimento ao individuo como livre e igual ao outro.
3 A DISCUSSÃO DA AÇÃO DO GOVERNO PELO PODER DA PALAVRA.
Há lugares que a humanidade nunca iria sozinha e existem coisas que nunca
fariam sem a ajuda de alguém em quem acreditassem ter a capacidade de lhe liderar.
Existem coisas que nunca haveríamos pensado e planejado para a nossa vida se não
fossem por meio dos que nos governam; coisas que surgem da mente dos lideres em seu
governo, que faz-nos ficar fascinados por sua sabedoria e visão. São eles que possuem o
poder de levar as pessoas ao sucesso, mas também ao fracasso. Aristóteles descreve em
A Política, traduzido por Nestor Silveira Chaves, (ARISTOTELES – A POLITICA,
pág. 14):
Há também, por obra da natureza e conservação das espécies, um ser
que ordena e um ser que obedece. Porque aquele que possui
inteligência capaz de previsão tem naturalmente autoridade e poder
de chefe; o que nada mais possui além da força física para executar,
deve, forçosamente, obedecer e servir.
A política, de forma dura e, por vezes severa, está ligada a ideia de poder, querer
e ação. Poder é a imposição de um sobre o outro, poder é a imposição de uma vontade
sobre a outra, e, ao tratarmos do poder político, dizemos dele como sendo o poder do
homem sobre o outro homem. Neste caso é o poder de governo sobre o governado, o
Estado em sua autoridade que dirige a vida do cidadão, em sua ordem com busca ao
progresso de sua comunidade. Esse poder muitas vezes é identificado no comando do
governante político que impõe autoridade e espera obediência. Aristóteles diz também
em A Política, (ARISTOTELES – A POLITICA, pág. 16), “O Estado se coloca antes
da Família e antes de cada individuo, pois que o todo deve, forçosamente, deve ser
colocado antes da parte...”. O poder político tem inicio no poder ideológico e
econômico, que serve de influenciador a ação dominante do governante em sua atuação
política. Quando as ideias tomam força juntos aos membros da comunidade, lhe
exercendo autoridade, o político em sua política passa a gerenciar a vida do cidadão.
Denis, (ROSENFIELD, 1990, pág. 70 e 71), propõe em sua lógica, que na forma de
ideias ao individuo, o ser livre de capacidade a discutir e avaliar as tais ideias propostas
é um agir racional que tem de um lado o questionamento das regras que já existem e do
outro o “estabelecimento de parâmetros normativos suscetíveis de justificar as novas
‘regras’”. Denis acredita que todas as normas devem ser avaliadas num espaço público,
por um processo onde todos compartilhem a mesma concepção de homens e mundo e
que essas normas devem ser anunciadas numa cena pública e livre com modos de
confrontação pelo exercício da palavra. Ele diz:
O discurso com sentido é aquele que pode ser avaliado pelos
interlocutores em função do contexto no qual é proferido, daquilo que
é dito, de sua intenção e, sobretudo, do seu submeter-se a uma livre
confrontação, onde todos os pressupostos lógicos e políticos possam
virtualmente ser trazidos à luz. Assim enunciado, o espaço publico é
aquele que se funda numa idéia de racionalidade que não se confunde
com a de uma concepção restrita da liberdade, baseada num mutuo
acordo...
Complementando, lemos de Maria Helena da Rocha Pereira, (PEREIRA, 1988,
pág. 166), os antigos entendiam o Estado como “o conjunto dos cidadãos”, onde não
havia uma de liberdade do individuo atada ao governo do Estado democrático. Severino
Xavier Elói, na obra O Estado Aristotélico, (ELÓI, 1986, pág. 35), fala da
argumentação de Aristóteles sobre a ideia que se deva ter sobre o Estado, quando tem a
intenção de que se deva elucidar “os vários aspectos confusos que o Estado apresenta
tal como ele é”. Severino Xavier faz o comentário de que há um ajustamento da forma a
que argumenta a apresentação dos inúmeros tipos que o Estado grego demonstra em seu
tempo. Com isso lemos:
Assim Aristóteles prefere aqui defender sua opinião a buscar precisão
cientifica desinteressada. Não obstante, pela sua própria técnica de
argumentação, podemos inferir o seu conceito de Estado que ele
exprime pela sua relação com a extensão do território determinado,
tendo em vista a vida feliz, o que verificamos nestas diferentes
passagens do Livro III: “È evidente que o cidadão que deve, em
primeiro lugar, ser o objeto de nossa investigação, sendo o Estado
uma coletividade determinada de cidadãos”. “E chamamos Estado o
agrupamento dos cidadãos que tem direito de acesso ao Conselho ou
as funções judiciárias, e em numero suficiente para assegurar, se se
pode dizer isso, uma plena independência”.
Pelo que se pode entender, a ideia aristotélica8 se refere a: não basta apenas viver
agrupados em torno de bens materiais, mas que o agrupamento do cidadão no Estado
que lhe proporciona direitos e deveres, faça o cidadão acreditar que viver exige que se
viva feliz. O Estado deve promover ao cidadão a felicidade que tem por direito de
cidadão.
Antônio Joaquim Severino, em Filosofia, (SEVERINO, 2007, pág. 164 e 165),
expressa seu pensamento dizendo que “Os homens só podem ser plenamente homens na
condição de ser social”. Suas palavras servem para denotar que não interessa ao
homem apenas os bens materiais, mas a ideia de que faz parte do grupo e, que de certa
forma ocupa um lugar, ou função, dentro deste grupo. Severino diz ainda que:
Na realidade, os homens não se encontram em condições de
igualdade no interior da sociedade: uns podem mais que os outros e
acabam impondo o seu poder de maneira opressiva e dominadora.
Esse poder que impregna todo o tecido social vai se
institucionalizando através de instancias especificas de natureza
jurídica, política e administrativa: são os aparelhos de governo cujo
exemplo mais significativo é o Estado. Ele nasce em função da
8 Idéia Aristotélica - É um sistema em forma de redação e conexão entre as várias áreas pensadas pelo filosofo. Seus escritos
dividiam-se em duas espécies: as exotéricas, que eram destinadas ao público em geral, sendo obras de caráter introdutório
compostas na forma de diálogo. A outra espécie era a acroamática, que eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas
na forma de tratados. ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando, Introdução a Filosofia. Editora Moderna. São Paulo. 2000.
própria expressão das relações políticas estabelecendo-as de maneira
clara e explicita.
Entendemos com isso que o Estado já nasce com autonomia para reger o
individuo em sua sociedade, com fins a lhe proporcionar os direitos e deveres que lhes
cabe. Por essa razão, criam os gregos que, ainda que o governante político de posse do
poder, e da autoridade que lhe cabe, tome tal procedimento de dominação e subjugo ao
cidadão, não lhe é de direito o abuso, por imposição de ideias, a condução de vida da
cidade sem participação deste cidadão, com discussão as ideias propostas para governo
do Estado. Daí, a discussão em praça publica que faziam em busca das regras a que se
fizessem necessárias a continuidade da cidade para a construção do Bem, a vida feliz do
povo grego.
CONCLUSÃO
Procuramos através desta pesquisa, indicar o caminho do desenvolvimento
filosófico político da antiguidade observando a construção cientifica do significado do
termo política de aplicação à cidadania grega no momento do aparecimento da polis e a
degeneração dos princípios morais em seus valores de deveres quando mudado pela
retórica sofistica em suas palavras persuasivas. Procuramos também, pelo trabalho de
pesquisa indicar a racionalidade do cidadão grego como caminho a idealização da
política perfeita com proveito a felicidade, que pelo poder da palavra facilitaria o bem,
promovido pelo Estado ao cidadão.
Entendemos que ao tratarmos do significado da palavra política em sua forma e
atuação na força do governo, conseguimos definir sua funcionalidade, inclusive com a
apresentação do homem como um ser intrinsecamente ligado a Cidade.
Esperamos que a partir da discussão desta pesquisa, novos caminhos a
construção do conhecimento sejam descobertos. Que tenhamos contribuído através da
nossa provocação, a tais buscas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Obras do Pensamento Universal – 16. Editora Escala. São Paulo.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Editora Ática. São Paulo. 2001.
ELÓI, Severino Xavier. O Estado Aristotélico. Editora de Pernambuco. Recife – PE.
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NAY, Oliver. História das Ideias Políticas. Tradução de Jaime A. Clasen. Editora
Vozes. Petrópolis – RJ. 2007.
PEGORARO, Olinto. Ética, dos Maiores Mestres Através da História. Editora Vozes
Ltda. Petrópolis – RJ. 2006
PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de História da Cultura Clássica. 6ª edição.
I Volume. Fundação Calouste Gulbenkian – Oficinas Gráficas de Barbosa & Xavier.
Lisboa. 1988.
ROBY, Christian. Introdução a Filosofia Política. Editora Unesp. São Paulo. 1998.
ROSENFIELD, Denis L. Filosofia Política & Natureza Humana, Uma Introdução à
Filosofia Política, Série Filosofia Política. L&PM editora. Porto Alegre – RS. 1990.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. Cortez Editora. São Paulo – SP. 2007.
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