E STA D O D E M I N A S 6 ● S E G U N D A - F E I R A , 2 0 D E M A I O D E 2 0 1 3 CULTURA ❚ VEM QUE TEM Simoninha honra o nome da família e segue apostando no suingue herdado do pai, Wilson Simonal. O samba é um dos ritmos mais presentes no novo disco do artista, Alta fidelidade NO CLUBE DO EDUARDO TRISTÃO GIRÃO Wilson Simoninha sempre andou ocupado. Trabalhou com o pai, Wilson Simonal, e Jorge Ben; produziu edições dos festivais Free Jazz e Hollywood Rock; foi diretor artístico da gravadora Trama e participou de vários projetos especiais, o último deles dedicado a Simonal. Essa última tarefa lhe tomou nada menos que cinco anos, atrasando o lançamento de seu quinto disco, Alta fidelidade, que acaba de chegar à praça. “Fiquei aflito com essa demora”, conta Simoninha. “Queria um trabalho autoral e estava difícil de achar o mote, de achar o que eu queria dizer. Para mim, o disco precisa contar uma história. Curto essa coisa de conceituar um álbum, mesmo que as pessoas o escutem como singles. Quis algo despretensioso, mas benfeito. Bem alto-astral e meio Rio de Janeiro, meio São Paulo, tanto que o disco foi feito entre as duas cidades.” REENCONTROS Nessas idas e vindas, Simoninha reencontrou amigos que ajudaram a construir o repertório, formado por 12 canções, a maioria dele (sozinho ou com parceiros) e uma de Jair Oliveira (Falso amor) – que reaparece ao final, remixada. Com Mu Chebabi, por exemplo, escreveu Quebra e Nós dois, enquanto Bernardo Vilhena, com quem não compunha há anos, assina com ele Pois é, poeira. “Bernardo me disse que queria voltar a fazer samba, pois acabou ficando marcado pelo rock e pop”, explica. Também são parceiros em Alta fidelidade João Sabiá (Meninas do Leblon), Edu Krieger (Morena rara) e João Marcello Bôscoli (Quando, com Marcelo Lima), além de Carlos Rennó, em Paixão (Meu Time). A maioria das faixas é inédita e foi composta recentemente, sendo uma das exceções Distraído, que o artista já havia tentado encaixar em repertórios anteriores e até então mantinha na gaveta. “A unidade do disco está no fato de serem minhas as canções, e olha que tive três mixadores trabalhando sem ouvir um ao outro”, diz. O balanço, característica bem presente neste trabalho, é algo muito importante na música que compõe, afirma o artista. “Eu quis descontração, que as pessoas sentissem isso ao ouvir as músicas no carro, no telefone, no computador”, observa. Entre os artistas que tem escutado e que acabam servindo de referência estão Adele, Marvin Gaye, o duo de Kanye West com Jay-Z e, mais recentemente, o cantor de jazz Gregory Porter, pelo qual se encantou no meio das gravações de Alta fidelidade. BALANÇO TUDO CERTINHO KIKO FERREIRA Para Simoninha, todo disco precisa contar uma história Assim como o chamado BRock e o Rock in Rio deram um impulso técnico e uma atualizada de timbres numa música brasileira comercial dos anos 1980 que andava com sonoridades desgastadas e discursos repetitivos, o grupo Artistas Reunidos e, na sequência, a gravadora Trama atualizaram os parâmetros para o século 21. Lançados em 2000, o Sambararo,deMaxdeCastro,eoVolume 2, de Simoninha, revelaram garotos que tratavam estúdios, mesas de som e programas de computador com intimidade. Filhos do rei do suingue,WilsonSimonal,estavam longe de usar essa tecnologia com frieza.Eainda,aoladodeJoãoMarceloBôscoli,Jairzinho,LucianaMello, Pedro Mariano e uma turma que só crescia, traziam um jeito elegante e desencanado de tratar a indústria. A turma foi também pioneiranadisponibilizaçãodefonogramas na internet, chegando a mais de 200 mil músicas de quase 80 mil artistas, nos 10 anos do site Trama Virtual, que sai do ar deixando saudades. ý% [ s _ Quinto álbum de Simoninha, Altafidelidademantémoníveltécnico e a postura coerente com o restante da carreira. A direção segura do artista, a produção que dividecomAlexMoreiraeBrunoBona, a masterização feita em Nova YorkporTomCoyne,oprojetográfico sóbrio e elegante... Tudo bem colocado, sem ressalvas. Mas num tempo de rapidez de avaliação, em que nem sempre se ouve um disco inteiro, por mais bem concatenadas que estejam as ideias, é fundamental ter um hit, umamúsicaquepeguelogodecara. Apesar de candidatas com algumfôlego,comoosbonssambas Pois é, poeira e Morena rara, o remix de Falso amor e de Nós dois, nenhum tema conquista de imediato,nocalordaprimeiraaudição. Talvez seja um disco de maturidade, e exija a paciência da repetição, da busca de detalhes, da conquista gradativa. Se for essa a proposta, tudo certo. Alta fidelidade. NA INTERNET OUÇA As faixas do disco Alta fidelidade PAULO LACERDA/DIVULGAÇÃO RAFAEL KENT/DIVULGAÇÃO INTERCÂMBIO Trocando experiências A Big Band Palácio das Artes terá como regente Marcelo Ramos ANA CLARA BRANT Pela primeira vez, a Big Band PaláciodasArtesvaidividiropalco com outra formação do gênero. O convidado é um dos principais grupos universitários de jazz dos EstadosUnidos,oSynthesis,eoencontroinéditoseráhojeànoite,no Grande Teatro do Palácio. Mais do que promover o intercâmbio entre as duas bandas, que têm vivências distintas de um mesmo estilo musical, o jazz, a apresentação vai possibilitar o desenvolvimento técnico dos artistas. “Recebemos aqui a Synthesis Big Band há algum tempo e desde entãoqueríamosfazerumconcertocomelaparahaveressatrocade experiênciasemtodososaspectos. É extremamente positiva essa vivência e ainda ter contato com uma sonoridade diferente. Fora que é a primeira vez que realizamos um intercâmbio assim, que dividimosopalcocomumabanda deumauniversidadeestrangeira”, justificaocubanoNestorLombida, maestro e arranjador da Big Band Palácio das Artes. Ao todo, estarão no palco cerca de 40 músicos. Quem abre a noite é o grupo mineiro, que vai execu- tar sete obras, como Daquilo que eu sei, de Ivan Lins, com a regência do maestro titular da Orquestra SinfônicadeMinasGerais,Marcelo Ramos. A apresentação também vaicontarcomaparticipaçãoespecialdacantoraconvidadaChonTai Yeung, da Happy Feet Jazz Band, em Don’t get around much anymore /In a sentimental mood, de Duke Ellington. Em seguida, a Big Band Synthesisfazareleiturademúsicasconhecidasdograndepúblicocomarranjojazzístico.Omaestroearranjador norte-americano Ray Smith dirige ogrupoamericanoemobrascomo West side story,Can’tbuymelovee a versão em inglês de Garota de Ipanema. “O repertório deles tem canções brasileiras também. E vamos apresentar algumas músicas em conjunto. Vai ser interessante essa mistura, e tenho certeza de queoresultadosonorovaiagradar a todos”, anseia Lombida, que tem a intenção ainda de reunir as três big bands de Belo Horizonte em um único concerto. BIG BAND PALÁCIO DAS ARTES E SYNTHESIS BIG BAND Hoje, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Informações: (31) 3236-7400. OS CONVIDADOS Criada na Escola de Música da Brigham Young University, em Utah (EUA), a Synthesis Big Band soma mais de 40 anos e já passou por 17 países. Em sua primeira visita ao Brasil, vai se apresentar em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraty e Niterói. O maestro Ray Smith é doutor em música e já gravou com os artistas Kurt Bestor, Johnny Mathis e The Supremes.