REDAÇÃO Mudanças climáticas e sociedade brasileira contemporânea INSTRUÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema ”Mudanças climáticas e sociedade brasileira contemporânea”, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. TEXTO I Alta do nível do mar pode afetar até cidades que estão longe dele Ondas na Califórnia (Staff/Getty Images) São Paulo – No debate sobre mudanças climáticas, o aumento do nível do mar, acompanhado de maior incidência de inundações, é comumente associado a riscos e prejuízos para as cidades costeiras. Mas seus impactos geográficos podem ir muito além — continente a dentro. Quando o furacão Katrina atingiu o estado americano de Louisiana em 2005, devastando a cidade de Nova Orleans, localizada às margens do Rio Mississippi, milhares de evacuados correram para as cidades do interior em busca de segurança, aumentando a pressão nessas regiões. Um novo estudo da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, prevê que isso poderia acontecer novamente como resultado do aumento do nível do mar. Em artigo publicado nesta semana na Nature Climate Change, pesquisadores estimam que, só nos EUA, aproximadamente 13,1 milhões de pessoas poderiam ser deslocadas pela subida das águas oceânicas. O estudo é a primeira tentativa de modelar o destino de milhões de migrantes potencialmente deslocados de comunidades costeiras densamente povoadas. Em busca de abrigo, os forçados a se mudar naquele país teriam como destino principal cidades como Atlanta, Houston e Phoenix. “Nós normalmente pensamos sobre a elevação do nível do mar como uma questão costeira, mas se as pessoas são forçadas a se mover porque suas casas são inundadas, a migração pode afetar muitas comunidades sem acesso ao mar”, disse o principal autor do estudo, Mathew Hauer. Segundo o pesquisador, embora as avaliações sobre o aumento do nível do mar sejam numerosas e ajudem a planejar o desenvolvimento de infraestruturas críticas nas zonas costeiras, poucos estudos investigam o destino das pessoas deslocadas e como a migração afetará essas regiões. O novo estudo combina estimativas de populações em risco de elevação do nível do mar dentro de uma simulação de sistemas de migração para estimar o número de afetados e destinos potenciais de migrações nos Estados Unidos ao longo do próximo século. “Alguns dos destinos inesperados sem litoral, como Las Vegas, Atlanta e Riverside, na Califórnia, já enfrentam problemas de gestão da água ou de crescimento”, disse Hauer, destacando que “incorporar, no planejamento, estratégias de acomodação de longo alcance poderia ajudar a aliviar a intensificação futura desses desafios”. Segundo o estudo, entender as relações entre estressores ambientais, como a alta das águas oceânicas, e os movimentos migratórios é uma tarefa complexa. As migrações podem ser tanto temporárias de curto prazo quanto permanentes, mas uma coisa é certa: o aumento do nível do mar é um estressor ambiental único porque converte permanentemente terra habitável em água inabitável. Embora restrita a um único país, a pesquisa dá uma ideia do efeito dominó que as mudanças climáticas podem ter sobre as cidades. Considerando o cenário mundial, os impactos da elevação do nível do mar ganham contornos ainda mais sombrios. Segundo pesquisa recente, atualmente, cerca de 1,9 bilhão de habitantes, ou 28% da população mundial, vivem a menos de 100 km das zonas costeiras em áreas menos de 100 metros acima do nível do mar. Por Vanessa Barbosa. http://exame.abril.com.br/ciencia/alta-do-nivel-do-mar-pode-afetar-ate-cidades-que-estao-longe-dele/ TEXTO II Mudanças climáticas impactarão ainda mais a área da saúde, diz OMS Ministra francesa do Meio Ambiente, Ségolène Royal, em discurso em conferência organizada pela OMS (Foto: DOMINIQUE FAGET / AFP) O mundo deve se preparar para os impactos potencialmente devastadores das mudanças climáticas na saúde humana, disseram autoridades de várias partes do mundo reunidas em Paris nesta quinta-feira. Algumas dessas consequências podem ser evitadas se a humanidade diminuir radicalmente o uso de combustíveis fósseis nas próximas décadas, mas muitas delas já estão sendo sentidas, disseram os participantes na abertura de uma conferência de dois dias organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "Saúde e clima são indissociáveis porque a saúde humana depende diretamente da saúde do planeta", afirmou a ministra francesa do Meio Ambiente, Ségolène Royal. Royal, que também é presidente rotativa das conversações da ONU sobre a melhor forma de lidar com o aquecimento global, disse que os impactos na saúde devem desempenhar um papel mais central nas futuras negociações. "De agora em diante, vou fazer o meu melhor para garantir que a saúde esteja integrada em todas as futuras conferências sobre o clima", começando com um fórum especial na próxima reunião climática da ONU em novembro em Marrakesh, na qual participarão 196 nações, disse a ministra à AFP. No Acordo de Paris, assinado em dezembro do ano passado, os países se comprometem a limitar o aquecimento global bem abaixo de 2º Celsius, além de ajudar as nações pobres a lidarem com seus impactos. Um número crescente de estudos científicos prevê um cenário alarmante de sofrimento humano causado por alterações nos padrões climáticos, elevação dos mares, secas e supertempestades. Além disso, os casos de doenças tropicais como malária, dengue e zika, entre outras, estão aumentando conforme os insetos que as transmitem se espalham com o aquecimento global. Setor da saúde 'sub-representado' Ondas de calor extremas que deverão ocorrer a cada década, em vez de uma vez por século, vão fazer mais vítimas, especialmente entre doentes e idosos. Em 2005, a OMS estimou que períodos quentes provocavam 150 mil mortes anualmente. Mais de 45 mil morreram só na Europa devido a uma onda de calor no verão de 2003. A maior preocupação de todas talvez seja a ameaça para o abastecimento alimentar global. "Podemos alimentar tantas pessoas" - nove bilhões na metade do século, segundo projeções da ONU "quando o clima que nos sustenta está mudando de maneira tão adversa?", perguntou à plateia Letizia Ortiz, rainha da Espanha e embaixadora especial para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Muitos alimentos básicos, especialmente nos países em desenvolvimento, não podem se adaptar rápido o suficiente às mudanças do tempo, resultando em rendimentos mais baixos. Os peixes, que são a principal fonte de proteína para bilhões de pessoas, não só escassearam pela colheita industrial, mas estão migrando conforme os oceanos aquecem e os recifes de coral morrem. Às vezes a saúde é mais prejudicada pelas fontes, e não pelos impactos, das mudanças climáticas provocadas pelo homem. A OMS estima que sete milhões de pessoas morrem a cada ano por causa da poluição do ar, que também contribui para o aquecimento global como um gás do efeito estufa. "O setor da saúde tem sido sub-representado nesta discussão, quando você pensa sobre os milhões de vidas que serão afetados, e até mesmo perdidas", disse Richard Kinley, chefe interino do fórum climático da ONU. "O mundo já está comprometido com níveis altos de alteração climática. O setor da saúde terá que lidar com as consequências", completou Kinley. A Segunda Conferência Global sobre Saúde e Clima terminará na sexta-feira (8) com uma proposta de "programa de ação" para os governos nacionais. http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/07/mudancas-climaticas-impactarao-ainda-mais-area-da-saude-diz-oms.html TEXTO III Mudanças Climáticas no Brasil 2014 está sendo um dos anos mais secos do Brasil. As chuvas escassas estão prejudicando a agricultura, ameaçando o fornecimento de energia elétrica e fazendo com que o debate sobre as mudanças climáticas volte com força total. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas Globais (IPCC), o aquecimento global é inequívoco. O fenômeno é causado por fatores naturais, mas é intensificado significativamente pela ação humana: o IPCC avaliou 577 trabalhos científicos, descrevendo cerca de 80 mil séries de dados, para chegar a essa conclusão. E as consequências já podem ser sentidas na pele. A temperatura média do planeta subiu 0,7ºC ao longo do século 20. E não é só: esse aquecimento vem ocorrendo de maneira mais rápida nos últimos 25 anos. Em geral, espera-se uma elevação em torno de 4°C até o fim do século. Isso está desencadeando várias alterações em todo o planeta, como mudança no regime das chuvas; elevação do nível do mar (que deverá subir em média entre 18 e 59 cm até o final do século, consumindo regiões costeiras e até ilhas inteiras); e aumento na frequência de eventos climáticos extremos, como enchentes, tempestades, furacões e secas; além de interferir na agricultura e contribuir para o processo de desertificação. No Brasil, o clima ficará mais quente (com aumento gradativo e variável da temperatura média em todas as regiões do país entre 1oC e 6oC até 2100) e o regime de chuvas também vai mudar: as precipitações diminuirão significativamente em grande parte das regiões central, Norte e Nordeste do país; e aumentarão nas regiões Sul e Sudeste. Isso é o que aponta o primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1), lançado em 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). “Estes estudos mostram que, no Brasil, a temperatura média aumentou aproximadamente 0,75°C até o final do século 20 (considerando a média anual entre 1961-90 de 24,9°C), sendo 1998 o ano mais quente”, afirmou o pesquisador José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima), que lançou o sumário executivo do relatório. Regiões diferentes, mudanças diferentes O relatório aponta que, como o Brasil é um país de dimensões continentais, as mudanças climáticas não afetarão da mesma forma todas as regiões. “De modo geral, é possível perceber um aumento nas temperaturas em todo o país, porém com intensidades diferentes em cada região. Já o regime de chuvas será diferente, com regiões tendo diminuição no volume de precipitações e outras tendo aumento”, explica o meteorologista Tercio Ambrizzi, professor de Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP e um dos coordenadores do Grupo de Trabalho 1 do RAN1. Na região Norte, a temperatura deverá aumentar de 1oC a 6oC até 2100, com diminuição de 40% a 45% no volume de chuvas. No entanto, os pesquisadores sugerem que o desmatamento da Amazônia é uma questão mais urgente, tanto para proteger o bioma quanto para evitar o agravamento das mudanças climáticas. Caso o desmatamento alcance 40% na região no futuro, haverá uma mudança drástica no padrão do ciclo hidrológico, com redução de 40% na chuva durante os meses de julho a novembro – o que prolongaria a duração da estação seca e provocaria o aquecimento superficial do bioma em até 4oC, de acordo com o relatório. As temperaturas terão um aumento relativamente baixo, e em ritmo mais lento, na região Nordeste: entre 0,5oC e 4oC até 2100, sendo que o maior aquecimento acontecerá no final do século. As chuvas também diminuirão em taxa menor, ficando em torno de 10% a 35% no período. Já as regiões Sul e Sudeste seguem uma tendência diferente, com aumento relativamente baixo das temperaturas e crescimento do número de chuvas. De acordo com o relatório, essas regiões ficarão entre 0,5oC e 3oC mais quentes até 2100, e entre 25% e 30% mais chuvosas. A região Centro-Oeste deve seguir a mesma tendência, com projeção da elevação das temperaturas entre 3oC e 6oC no período e aumento no volume de chuvas. Muitas dessas mudanças já podem ser sentidas. Em São Paulo, por exemplo, a temperatura mínima (durante a madrugada) aumentou nos últimos anos, ou seja, estamos tendo madrugadas mais quentes. Impacto Essas mudanças no clima trarão uma série de impactos em diversos setores, como nos recursos hídricos, na geração e distribuição de energia, e na agricultura. Não apenas a quantidade, mas também a qualidade dos recursos hídricos está comprometida. Entre os problemas a serem enfrentados, está o risco de colapso no abastecimento de água em várias regiões urbanas, devido a estiagens mais prolongadas; maior risco de inundações; elevação do nível do mar e entrada de água salina nos lençóis subterrâneos que abastecem grande parte das cidades litorâneas e intensificação dos efeitos da poluição nos corpos hídricos, reduzindo ainda mais a disponibilidade e a qualidade hídrica. “Mesmo nas áreas em que houver aumento de vazão, prevê-se uma diminuição da qualidade, tanto pelo aumento da temperatura como pela elevação da carga poluente proveniente do escoamento superficial e da superação da capacidade das estações de tratamento e dos sistemas de esgotamento sanitário”, apontou o engenheiro agrônomo Eneas Salati, diretor-técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, durante o 1º Conclima. A energia também é um ponto preocupante. Como as hidrelétricas são responsáveis por 85% da geração de eletricidade no Brasil, a redução do volume das chuvas em grande parte do país acarretará perdas significativas. Até mesmo o biocombustível sentirá o impacto, já que a elevação das temperaturas e a diminuição das chuvas inviabilizarão culturas como mamona e soja, sobretudo no Nordeste e no CentroOeste, fazendo com que essas culturas migrem mais para o Sul. A agricultura também será afetada, com muitas culturas tendo que se deslocar devido às temperaturas elevadas e à estiagem. Culturas como feijão, soja, trigo e milho serão especialmente atingidas, sofrendo grandes reduções de área de plantio e deslocamento para regiões mais frias. “Com as mudanças climáticas, as zonas agrícolas do país deverão ser repensadas”, afirma Ambrizzi. Ainda há tempo Mas os pesquisadores apontam que ainda há tempo de mudar esse cenário. Existe uma série de ações que podem ser tomadas para mitigar o impacto das mudanças climáticas e minimizar suas consequências. O primeiro passo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Caso os níveis desses gases continuem a aumentar na atmosfera, as alterações climáticas serão ainda mais severas. “O problema é que esses gases permanecem na atmosfera por cerca de 50 a 100 anos. Então os gases já emitidos demorarão a ser dissipados. Por isso, a redução das emissões é de extrema importância”, declara Ambrizzi. Para contribuir com a diminuição da emissão de gases de efeito estufa, governo e sociedade precisam pensar em fontes de energia limpa, além de novos modelos para a indústria e o transporte. Outra ação importante consistirá em brecar o desmatamento e a exploração ilegal de madeira, já que esses fatores contribuem mais para as emissões globais do que o setor dos transportes. “Temos que continuar tentando diminuir as emissões para que seja possível manter o nível de elevação da temperatura o mais baixo possível para daqui a 100 anos ou mais. A discussão agora é tentar não passar de um limiar aceitável e tentar nos adaptar a essas mudanças”, acredita Ambrizzi. Por Chris Bueno. http://pre.univesp.br/mudancas-climaticas-no-brasil#.WP86nYjyvIV