VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG CLIMA URBANO E VEGETAÇÃO: ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA VEGETAÇÃO DA APA DO ITAPIRACÓ NO MICROCLIMA E CONFORTO TÉRMICO LOCAL EM SÃO LUÍS (MA). RONALDO RODRIGUES ARAÚJO1 CLEMILSON SILVA CALDAS2 RESUMO O objetivo desta pesquisa é analisar a importância da vegetação da Área de Proteção Ambiental do Itapiracó, localizada na Ilha do Maranhão - MA, para o microclima e conforto térmico local. A metodologia foi baseada na proposta teórica e metodológica de Monteiro (2011), denominado Sistema Clima Urbano (SCU), utilizando o campo de estudo do Subsistema Termodinâmico (Canal de percepção conforto térmico). Foram realizadas coletas de dados de temperatura do ar e umidade relativa do ar em três pontos com padrão de urbanização distinto durante no mês de julho e setembro de 2015. Os resultados tiveram de acordo com as hipóteses de que a vegetação da APA do Itapiracó tem influência nas condições climáticas e no conforto térmico local, os dados revelaram que as áreas com vegetação obtiveram menores temperatura e maiores umidade que a área sem vegetação. Palavras-chave: clima urbano, vegetação, conforto térmico, APA Itapiracó, São Luís (MA) ABSTRACT The objective of this research is to analyze the importance of vegetation Environmental Protection Area Itapiracó, located in Maranhão Island - MA, to the microclimate and local thermal comfort. The methodology was based on the theoretical and methodological proposal for Monteiro (2011), called the Urban Climate System (SCU) using the field of study of Thermodynamic Subsystem (Channel thermal comfort perception). collections of air temperature, and relative humidity were held at three points with distinct pattern of urbanization during the month of July and September 2015. The results were in accordance with the hypothesis that the vegetation Itapiracó APA influences climatic conditions and local thermal comfort, the data revealed that areas with vegetation had lower temperature and higher humidity than the area without vegetation. Keywords: urban climate, vegetation, thermal comfort, APA Itapiracó, São Luís (MA) 1 - Introdução Desde o princípio das cidades, o clima é um dos aspectos geoambientais que sofre influência do processo urbano. A partir da revolução industrial, o processo de urbanização imprimiu alterações drásticas no meio ambiente tendo como consequência problemas socioespaciais e ambiental, e o clima é um dos aspectos geoambientais que mais sofreu alterações. O clima urbano é entendido como “um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização” (MONTEIRO, 2011, p. 19). Resultado das alterações causadas pela ação antrópica no espaço urbano. A substituição dos ambientais naturais por 1 Prof. Dr. Departamento de Geociências/Universidade Federal do Maranhão. Email: [email protected] 2 Licenciado e Bacharel em Geografia/Universidade Federal do Maranhão. Email: [email protected] 1247 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG ambientes construídos, associado à verticalização da cidade, tem levado a mudanças térmicas relevantes nos centros urbanos no Brasil. A vegetação urbana desempenha um papel importante na atenuação térmica, uma vez que influencia na radiação solar, temperatura, umidade e vento. A vegetação desempenha um papel regulador climático, ao dispensar e absolver a radiação solar, impedindo que aqueça o solo urbano, libera umidade para a atmosfera pelo processo de evapotranspiração e influencia na circulação dos ventos nas cidades, assim atenua a temperatura e melhora a umidade. As áreas verdes, também, são muito importantes ao proporcionar conforto térmico, uma vez que o controle da radiação solar e a produção de sombreamento levam as condições climáticas confortáveis. A presente pesquisa trabalha com a vegetação da Área Proteção Ambiental do Itapiracó, localizado na Ilha do Maranhão, e sua relação com o microclima e conforto térmico. O objetivo é analisar a influência que a vegetação da APA do Itapiracó tem sobre o microclima e conforto térmico na área de estudo. 2 - O papel da vegetação no conforto térmico Desde o primórdio o ser humano procurou meios de se adaptar as diferentes condições climáticas por meio das vestimentas e construções, conforme Krüger (2002 apud DUMKE, 2007), a adaptação da espécie humana às características climáticas ao longo do tempo, foi uma questão de sobrevivência. Para além disso, as condições climáticas, também, influenciam na saúde humana, no bem-estar, nas condições psicológicas, etc. O homem é um animal homeotérmico, pois tem necessidade de manter constante a temperatura interna de seu organismo mesmo que as condições externas do ambiente variem. Possuem temperatura média interna em torno dos 37º C, e com limites um tanto rígidos, entre 36,1 e 37,2°C. Variações acima de 1,0 a 2,0 graus por um tempo relativamente longo (como algumas horas) podem afetar seriamente o organismo; um desvio da temperatura de 4,0 graus acima ou abaixo da média poderá causar lesão permanente ou morte (RORIZ, 1987, p. 21 apud DUMKE, 2007). Segundo Frota e Schiffer (2003 apud VIANA, 2013), um organismo humano experimenta conforto térmico quando não necessita recorrer a nenhum mecanismo de termorregulação (reação ao frio – arrepios – e reação ao calor – suor) e quando o calor produzido pelo metabolismo está compatível com a atividade desenvolvida. Para Rivero (1985 apud MARTINI, 2013), há duas definições de conforto: “o conforto térmico de uma pessoa é aquela condição da mente que expressa satisfação com o ambiente térmico" e "o conforto térmico de um indivíduo se alcança quando as condições do meio permitem que o sistema termorregulador esteja em estado de mínima tensão". 1248 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG As principais variáveis que atuam no conforto térmico são as temperaturas do ar, umidade relativa, vento e radiação. A temperatura é a que mais atua diretamente na sensação térmica. Além dessas, podemos destacar a precipitação, vegetação, permeabilidade do solo, águas superficiais e subterrâneas, morfologia do relevo, entre outras. Tem ainda as variáveis pessoais, como a vestimenta, idade, sexo, etc. A vegetação é um componente relevante na amenização térmica em lugares externos. A disposição das áreas verdes nas cidades está diretamente ligada com o conforto ambiental e térmico proporcionado pelas características das plantas. Como já exposto no item anterior, às vegetações funcionam como reguladoras térmicas melhorando as condições ambientais dos espaços urbanos. Interferem no clima urbano, influenciando a temperatura do ar, umidade relativa, fluxo de vento e radiação, amenizando, dessa forma, a percepção térmica. A presença da vegetação na cidade (seja áreas verdes, parques, praças, APAs, etc.) traz muitos benefícios para a população citadina. Além de reduzir a temperatura através do sombreamento e consumo de energia, gerando a “ilha de frescor”, muitos estudos apontam sua importância para a saúde humana, em tratamento psicológicos, dentre outros. Socialmente desenvolve um papel importante funcionando como áreas de lazer, parques, entre outros. 3 - Procedimentos Metodológicos A presente pesquisa fundamenta-se na proposta metodológica de Monteiro (2011) denominado sistema clima urbano (SCU), que por sua vez, foi construído a partir da teoria geral dos sistemas (TGS), criada por Ludwig Von Bertalanffy, associada ao princípio do holismo – holon – de Arthur Koestler. A proposta de Monteiro é apesentada em 10 anunciados sobre clima urbano, já exposto na fundamentação teórica, onde explana os princípios da sua metodologia. A Teoria Geral dos Sistemas, que tem sua origem na ciência biológica, compreende os fenômenos como um sistema (organismo) que possui um conjunto de partes que atuam de forma interdependentes, se comunicando. As partes são analisadas não de forma separada, mas, sua relação, o processo, o movimento, enfim, a organização. Onde o todo é resultado da interação entre as partes. Na análise sistêmica o SCU constitui um conjunto de partes (compartimentação ecológica, morfológica ou funcional urbana) interdependentes compondo estruturas entrelaçadas horizontalmente e interligadas verticalmente. Deve ser lembrado que o SCU não pode ser definido pela simples superposição ou adição de suas partes, mas por meio da íntima conexão entre elas. (MONTEIRO, 2011) 1249 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG A proposta teórica e metodológica de Monteiro visa o entendimento da organização do clima peculiar a cidade que possui a atmosfera como operador e todo o artefato físico criado pela urbanização, integrado aos elementos geoecológicos que se insere, dinamizados pelos fluxos urbanos, constitui o operando do sistema, cujas estruturas é penetrada e percorrida por fluxos energéticos do operador. (MONTEIRO, 2011). Esta pesquisa trabalha com campo de estudo do subsistema termodinâmico (conforto térmico) a partir das análises das variáveis de temperatura e umidade, importantes para caracterizar o microclima e o conforto térmico. Neste subsistema, o estudo pauta nas variáveis climáticas mais perceptível a população, afim de aferir a sensibilidade da população ás condições climáticas e conforto da área de estudo. No desenvolvimento da pesquisa foi feita o levantamento bibliográfico, buscando as principais contribuições teóricas sobre clima urbano e influência da vegetação no clima. Para análise da influência da vegetação no clima local e no conforto térmico foram coletados dados de temperatura e umidade em três pontos, de acordo o perfil transecto fixo (Figura 1). Figura 1. Perfil transecto fixo (APA do Itapiracó – Ilha do Maranhão Fonte: Google Earth Em cada ponto foram coletados valores de umidade e temperatura com o auxílio do instrumento de termo-higro anemômetro digital, da marca kestrel. Os pontos 1 (Avenida Contorno Norte) e 2 (Praça Verão) foram coletados em campo, o ponto 3 (APA do Itapiracó) foi coletado no banco de dados do INMET. As medições foram realizadas na estação seca, nos meses de julho e setembro de 2015, com três dias em cada mês em oito horários diferentes. Os dados obtidos, tanto do banco de dados do INMET quanto da pesquisa de campo foram tabulados em planilhas no Excel, posteriormente traduzidos em formas de gráficos. A comparação entre os dados coletados permitiu analisar o tipo de influência que a Área de Proteção do Itapiracó exerce no clima local e conforto térmico. 1250 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Na análise de conforto térmico, foi utilizado o Índice de Temperatura Efetiva de Thom e Bosen (1959). Conforme Ayoade (1996) esse índice é encontrado pela equação da temperatura do bulbo seco e de bulbo úmido. Algumas vezes denominada de índice de desconforto ou índice de temperatura-umidade. O Índice de Temperatura Efetiva (TE) é fornecido pela Equação: TE = 0,4 (TS + TU) + 4,8 (6) onde: TS e TU são as temperaturas de bulbo seco e de bulbo úmido, ambas medidas em ºC. 4 - Área de estudo A área de estudo, a Ilha do Maranhão, está localizada na porção norte do estado entre as seguintes coordenadas geográficas: 2º 24` 10” e 2º 46` 37” de latitude Sul e 44º 22` 39” e 44º 22` 39” de longitude Oeste. É delimitada ao norte pelo oceano atlântico, ao sul pelo estreito de mosquito, ao oeste pela baia de Ribamar e leste pela baia de Santana. Possui uma área, conforme IBGE (2000), de 1.453,1 km² correspondendo a 0,44% da área do estado e uma população de 1.309.330, conforme IBGE, 2010. Político- administrativamente é composta por 4 municípios: São Luís, São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar. (Figura 2). A área de proteção ambiental do Itapiracó, obeto desta pesquisa, situa-se entre os municípios de São Luís e São José de Ribamar, abrangendo uma área de 322 hectares tendo com coordenadas geográficas limítrofes as seguintes: 2° 31’ 00”S; 2º 31’ 58” S; 44° 11’ 19” W; 44º 13’ 69” W. Limita-se ao norte com o conjunto Parque Vitória, Canudos e Terra livre; ao sul com Cohatrac e Cohabiano; ao oeste com o conjunto Ipem Turú, Matões, Solar dos Lusíadas e Itapiracó; e ao leste com Loteamento Soterra. (Figura 3) Figura 2. Localização da Ilha do Maranhão Fonte: SILVA, 2012. Figura 3. APA do Itapiracó Fonte: Autor (2016) 1251 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG 5 - Resultados e discussões Nas análises estatísticas dos dados verificou que os locais com vegetação apresentam condições climáticas diferentes dos locais sem vegetação, o que comprova que a vegetação possui papel importante nas variáveis meteorológicas da cidade. Na Tabela 1, de maneira geral, a média dos valores dos pontos pesquisados revelou que a temperatura instantânea é mais alta nas áreas sem vegetação e menor nas áreas com vegetação, já a umidade apresentou variação de valores, nos pontos coletados pelo termo-higro anemômetro (Figura 6) registrou valores mais baixos na área sem vegetação e maiores na área com vegetação. Podemos concluir que a vegetação da APA do Itapiracó influencia de forma significativa nessas variáveis climáticas. Tabela 1. Média dos valores de temperatura instantânea e umidade relativa do ar MÊS Pontos Características Área não vegetada Área vegetada Área vegetada JULHO SETEMBRO Temp. Inst. Umidade Temp. Inst. Umidade (°C) (%) (°C) (%) 32,4 65,3 31,4 67,8 30,9 72,1 30,7 73,9 29,7 66,1 29,5 66,1 Av. Contorno Norte Praça Verão APA Itapiracó Fonte: O autor (2016) A diferença dos valores mensais de temperatura instantânea da Av. Contorno Norte e da APA do Itapiracó é de 2,7°C no mês de julho e 1,9°C em setembro, mostrando o efeito que a vegetação tem na temperatura. Na análise estatística da umidade relativa do ar observou-se que houve uma distorção entre os valores dos dados obtidos na pesquisa de campo e os dados obtidos no banco de dado do INMET. Portanto, a análise comparativa da influência da vegetação da APA do Itapiracó na umidade local ficou comprometida. Para efeito da pesquisa buscou-se comparar os dados dos pontos coletados em campo, área sem vegetação (Av. Contorno Norte) e área com vegetação (Praça Verão). As diferenças de umidade entre a Av. Contorno Norte e Praça Verão foi de 6,8% em julho e 6,1% em setembro. Entre a Praça Verão e APA do Itapiracó foi de 6,0% em julho e 7,8% em setembro. 1252 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Nota-se que os maiores valores de temperatura instantânea estão no ponto sem vegetação (Av. Contorno Norte) e os menores no ponto com vegetação, (Praça Verão e APA do Itapiracó), o que confirma a teoria que a vegetação atenua a temperatura do ar. Porém, deve-se lembrar que diminuição da temperatura do ar de um determinado local não está relacionada a apenas um fator climático. As médias diárias de temperatura instantânea também evidenciam a influencia da vegetação no clima. Na figura 4, as médias diárias nos meses de julho e setembro foram maiores na Avenida Contorno Norte e menor na APA Itapiracó, a Praça Verão apresentou valores intermediários, demonstrando que onde existe maior arborização a temperatura é menor. Assim, fica evidenciado que a arborização da APA do Itapiracó tem papel importante na atenuação da temperatura. A APA do Itapiracó (área com vegetação) registrou 2,3ºC a menos do que a Avenida Contorno Norte (área sem vegetação) e 1,2 °C a menos que a Praça Verão (praça arborizada). A Praça Verão registrou 1,1ºC a menos que a Av. Contorno Norte. Figura 4. Médias diárias de temperatura instantânea (julho e setembro de 2015) Fonte: O autor (2016) Na comparação entre a Av. Contorno Norte e a Praça Verão, área sem vegetação e com vegetação, respectivamente, observamos que os valores de umidade são sempre maiores na Praça Verão. As médias diárias do mês de julho e setembro revelam a influencia que a vegetação tem na umidade relativa. Nos gráficos da Figura 5, a área com vegetação, (Praça verão) obteve média diária sempre maior que a área sem vegetação (Av. Contorno Norte). Durante o mês de julho as diferenças dos valores da média diária entre Av. Contorno Norte e a Praça Verão foram as seguintes: no dia 10/07 foi de 8,3%; no dia 11/07 foi de 1253 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG 6,5%; e no dia 12 foi de 5,4%. No mês de setembro tivemos as seguintes diferenças: no dia 11/09 foi de 5,6%; no dia 12/09 foi 8,1%; e no dia 13/09 foi de 9,6%. Encontramos nos dados um padrão de condição climática influenciada pela presença e ausência de vegetação, principalmente a variável umidade relativa do ar. Figura 5. Médias diárias de umidade relativa (julho e setembro de 2015) – Período Seco Fonte: O autor (2016) Dessa forma, os dados acima, indicam que a vegetação tem um papel regulador da temperatura do ar e umidade relativa do ar. As plantas e áreas gramadas reduzem temperaturas pela dispersão da luz e da radiação, pela absorção da radiação solar e pelo processo da evapotranspiração, Robinette, (1972 apud CARVALHO, 2001). Segundo Silva Filho et al. (2005 apud MARTINI, 2013), as árvores funcionam como bombas de água autorreguláveis, pois abrem os estômatos quando existe disponibilidade de água e calor, refrescando o ambiente através da evapotranspiração e os fecham quando situações adversas ocorrem, preservando condições agradáveis e condicionando o clima urbano. O sombreamento das plantas também é um mecanismo importante de atenuação da temperatura. Mascaró e Mascaró (2009) afirmaram que a temperatura sob agrupamentos arbóreos era de 3 a 4 °C menor que nas áreas expostas à radiação solar, e a umidade relativa do ar sob a vegetação era maior, entre 3 e 10%. Na análise do comportamento das variáveis verificou que as máximas e mínimas de temperaturas e umidade são influenciadas pela presença de vegetação (Tabela 2 e 3). Nos dois meses pesquisados, em todos os dias de coletas a temperatura máxima foi superior na área sem vegetação, (Av. Contorno Norte) e inferior na área com vegetação (APA do Itapiracó). A praça verão teve valores intermediários. Os valores de temperatura mínima 1254 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG também foram superiores na Av. Contorno Norte e inferiores na APA do Itapiracó, assim como a Praça Verão apresentou valores intermediários. (Tabela 4 e 5). A umidade relativa máxima foi maior no ponto com vegetação, (Praça verão) que no ponto sem vegetação, (Avenida Contorno Norte). Da mesma forma, a umidade relativa mínima da Praça Verão foi superior ao da Av. Contorno Norte. Tabela 2. Valores extremos de temperatura instantânea (Julho 2015) Av. contorno Norte Praça Verão APA Itapiracó Data Tmax (°C) Tmin (°C) Tmin Tmax (°C) Tmax (°C) (°C) Tmin (°C) 10/07 34,8 28,7 33,8 27,7 31,6 27,2 11/07 35,3 29 33,6 27,8 31,5 27 12/07 35,7 28,9 32,3 27,1 31,5 26,9 Fonte: O autor (2016) Tabela 3. Valores extremos de temperatura instantânea (Setembro 2015) Av. contorno Norte Praça Verão APA Itapiracó Data Tmax Tmin Tmax Tmin Tmax Tmin 11/set 33,4 28,1 33,1 27,5 31,5 26,8 12/set 33,6 28,6 32,6 27,7 32,2 26,6 13/set 33,6 28,3 32,4 27,6 30,8 26,8 Fonte: O autor (2016) Tabela 4. Valores extremos de umidade relativa do ar (julho 2015) Av. contorno Norte Praça Verão APA Itapiracó Data Tmax Tmin Tmax Tmin Tmax Tmin 10/jul 76,2 56,9 80,9 68,6 78 61 11/jul 77,6 55,9 82,5 62,7 81 56 12/jul 75,7 57,4 82,8 62,6 82 56 Fonte: O autor (2016) Tabela 5. Valores extremos de umidade relativa (mês de setembro) Av. contorno Norte Praça Verão APA Itapiracó Data URmax URmin URmax URmin URmax Tmin 11/set 77,4 62,5 82,9 63,9 78 55 12/set 76 61,8 81,4 70,3 79 58 13/set 75,4 62 83 72,4 78 60 Fonte: O autor (2016) 1255 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG O conforto térmico é um elemento importante na qualidade de vida das pessoas nos centros urbanos, uma vez que esta está relacionada com a qualidade ambiental das cidades. As condições de umidade, vento e, principalmente, de temperatura são sentidas e percebidas pela população no seu dia-a-dia. Para análise de conforto/desconforto térmico foi utilizado o índice de temperatura efetive (TE) de Thom e Bosen (1959). A temperatura efetiva é calculada através da equação: TE = 0,4 (Ts + Tu) + 4,8 Onde TE = Temperatura Efetiva; Ts = temperatura do bulbo seco; e Tu = temperatura do bulbo úmido. Em todos os episódios coletados nos 3 pontos, a classe 5 (forte desconforto) foi superior, ocorrendo em 52,5% dos episódios, 75 dos 144 registrados. A classe 4 teve 31,4 %, a classe 3 teve 11,9% e a classe 6 apenas 4,2% das ocorrências. De maneira geral, observou-se que as temperaturas efetivas mais elevadas ocorreram na Avenida Contorno Norte onde há ausência de vegetação, e as menores temperaturas efetivas ocorreram dentro da APA do Itapiracó, área com vegetação. Os horários de maiores desconfortos foram entre as 12 e 14h, e de menor desconforto ocorreu as 8h e 18h. Conclui-se que as áreas de maior desconforto térmico são as áreas sem vegetação, a Avenida Contorno Norte, e a área de menor desconforto é a APA do Itapiracó. Com base nos dados coletados no mês de julho foram analisadas algumas situações de conforto e desconforto térmico entre os três pontos estudados. Em todos os dias pesquisados a área sem vegetação, a Avenida Contorno Norte apresentou os maiores valores de temperatura efetiva, com valores acima dos 27°C. Dos 24 episódios de coleta de dados no mês de julho, 14 tinham índice na classe 5, 5 classe 4 e 5 classe 6, ou seja, ocorre a predominância da classe 5 e ocorrência relevante da classe 6 onde possuem fortes desconfortos térmicos. Na Av. Contorno Norte a média mensal de temperatura efetiva foi de 30,6°C. A média mensal de temperatura, efetiva, na Praça Verão, foi de 29,6° C e na APA do Itapiracó a média mensal de 28,2° C. Os índices maiores foram registrados nos horários entre às 12 e 14h, e menores no horário das 8 e 18h. (Tabela 6). Na análise das características do índice de temperatura efetiva no mês de setembro observou-se pouca diferença para o mês de julho. De maneira, geral a Av. Contorno Norte apresentou maiores índices de temperatura efetiva, com predominância na classe 5 e a APA do Itapiracó apresentou menores índices de temperatura efetiva, com prevalência da classe 4. Ressalta-se que não houve ocorrência, durante o mês de setembro, da classe 6, geradora de desconforto muito forte. Na Av. Contorno Norte, a média mensal da temperatura efetiva foi de 29,8°C. Os valores indicaram prevalência da classe 5, com 17 ocorrência e a classe 4 com teve 7, ou 1256 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG seja, existe desconforto térmico, principalmente, nos horários mais quentes. Na Praça Verão, com média mensal de 29,5°C de temperatura efetiva, teve prevalência da classe 5 com 16 ocorrência, a classe 5 teve 4 e a classe 3 teve 3. A APA do Itapiracó, teve média de 28°C no mês de setembro. Apresentou temperatura efetiva menor que a Av. Contorno Norte e Praça Verão, com prevalência da classe 4 com 14 episódios. A classe 3 teve 6 ocorrências e a classe 5 teve 5. (Tabela 7) Tabela 8. Temperatura Efetiva e classes de conforto térmico no mês de julho de 2015 Fonte: O autor (2016) Tabela 9. Temperatura Efetiva e classes de conforto térmico no mês de setembro de 2015 1257 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG Fonte: O autor (2016) 6 - Conclusão Esta pesquisa buscou entender a relação entre a vegetação e o clima urbano a fim de compreender a sua interferência no microclima e conforto térmico. Pode-se a partir da pesquisa, entender a relação da APA do Itapiracó com clima do seu entorno e da cidade, confirmando o papel relevante da vegetação no clima urbano. Conclui-se que a vegetação da APA do Itapiracó influenciou de forma relevante nas condições climáticas e de conforto térmico na área de estudo. Pode-se perceber que as áreas sem vegetação, como a Avenida Contorno Norte, apresentaram temperaturas instantâneas maiores que a área com vegetação, como a Praça Verão e a APA Itapiracó. A umidade foi menor na Avenida Contorno Norte e maior na Praça Verão. Os índices de conforto térmicos mostraram melhores condições de conforto na APA do Itapiracó e piores na avenida Contorno Norte. Nesse sentido, conclui-se também, que a APA do Itapiracó, assim como a arborização da Praça Verão, é importante para a população do seu entorno em vários aspectos: climático, conforto térmico, lazer, qualidade de vida, etc. Diante disso, recomenda-se a arborização de praças, ruas, espaços abertos e preservação dos parques e áreas de preservação ambiental, tais como APA Maracanã, Parque do Bacanga, Estação Ecológica do Rangedor, etc., uma vez que estas atuam na melhoria da qualidade de vida, qualidade climática e qualidade do ar. Além, de espaços de utilização para lazer e recreação. 1258 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG 7 – Referências AYOADE, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. BARROS, Juliana Ramalho. ZAVATTINI, João Afonso. Bases conceituais em climatologia geográfica. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 08, número 16, 2009. BRASIL. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTÁTISTICAS. XII Censo Demográfico. Disponível em : http://www.ibge.gov.br/home/ Acesso: 09/08/10. BRITO, Fausto Alves de e PINHO, Breno Aloísio T. Duarte de. A dinâmica do processo de urbanização no Brasil, 1940-2010 / - Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 2012. 19 p.: il. (Texto para discussão, 464) CARVALHO, Marcia Monteiro de. Clima urbano e vegetação: estudo analítico e prospectivo do Parque das Dunas em Natal/Marcia Monteiro de Carvalho.__ Natal: s.n., 2001. 288p. : il. 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