Leitura e interação com letras de músicas

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Versão On-line
ISBN 978-85-8015-076-6
Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
LEITURA E INTERAÇÃO COM LETRAS DE MÚSICAS
ORTELHADO, Paula (PDE 2014)1
BARREIROS, Ruth Ceccon (UNIOESTE/ Cascavel- PR)2
Resumo: O presente artigo tem como objetivo relatar a experiência realizada por meio da Implementação
e Intervenção Pedagógica na Escola, do projeto intitulado: O Poder das letras nas músicas, como exigência
e objeto de estudo do PDE Programa de Desenvolvimento Educacional – PR, em 2014. O foco principal do
trabalho foi realizar, junto com os educandos, a prática de leitura e interação com a linguagem, a partir de
letras de músicas. Para seu desenvolvimento embasou-se no método da “ Estética da Recepção”, tendo
como suporte teórico os pesquisadores Jauss (1979), Iser (1999), Aguiar e Bordini (1993), Candido
(2000), Zilberman (2004), Loureiro (2010) dentre outros. As atividades foram direcionadas para os alunos
do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Princesa Izabel, na cidade de Três Barras do Paraná – PR,
no primeiro semestre de 2014. A pesquisa investigativa foi o ponto de partida, na sequência foram lidas e
analisadas nove letras de músicas. Esta prática permitiu fomentar a leitura de textos artísticos entre os
alunos e desenvolver o hábito de ler e interpretar os textos, que permeiam a sua vida social e cultural, com
um olhar crítico. Com a elaboração e a aplicação da Implementação da Produção Didático-Pedagógica,
obteve-se excelentes resultados, pois houve participação, interação, mudança de postura e interesse ativo
dos educandos em cada leitura de letra de música explorada. Essas atividades direcionadas
possibilitaram-nos concluir que, o contato com músicas pode despertar um maior interesse pela leitura e
aprimorar o senso crítico dos educandos.
Palavras-chave: Leitura. Interação. Música. Ensino Médio.
Introdução
Este artigo tem por finalidade relatar o resultado da aplicação de uma Produção
Didático-Pedagógica de pesquisa, elaborada na forma de Unidade Didática, tendo como
público alunos do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Princesa Izabel, na
1
Graduação: Letras. Especialização: Didática e Metodologia do Ensino. Atuando na Educação Básica do
Paraná. Professora PDE.
2
Docente da UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Cascavel-PR. Mestre em
Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Materna e Doutora em Letras e Linguística pela UFBA.
Pesquisadora da área de Leitura, Formação de leitores e Literatura.
cidade de Três Barras do Paraná – PR, no primeiro semestre de 2014.
Trata-se de um
dos requisitos do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional 2013, ofertado pela
Secretaria de Estado da Educação do Paraná, vinculado à Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, na área do Ensino de Língua Portuguesa.
Como motivação este estudo teve a angústia, conhecida por muitos professores
ao perceberem a falta de interesse dos alunos quanto à leitura. Como ponto de partida o
estudo apresenta o Projeto de Pesquisa, do qual resultou a Unidade Didática e, agora,
este Artigo Final.
O trabalho aplicado – Unidade Didática – traz uma reflexão sobre como, a partir do
gênero música, pode ser trabalhada a leitura e a interpretação textual em um processo
constante de comunicação, considerando-se que estamos sempre rodeados de
situações comunicativas. O ser e estar no mundo exige de qualquer indivíduo um
posicionamento e, neste contexto, é inegável a importância da leitura e da interação com
os variados gêneros textuais presentes no cotidiano. Com este entendimento, este
trabalho visou à leitura e a compreensão do gênero música, tendo em conta que o
domínio de diferentes linguagens é fundamental para vivermos, interpretarmos,
criticarmos e posicionarmos em sociedade. Consideramos, ainda, o fato de o gênero
música estar mais próximo do dia a dia dos alunos que integraram essa importante
experiência.
Esta pesquisa foi elaborada e embasada sob os fundamentos teóricos de
pesquisadores como Antonio Candido (2000), Wolfgang Iser (1999), Hans Robert Jauss
(1979), Regina Zilbermann (2004), Aguiar e Bordini (1993). Por se tratar de um trabalho
aplicado ao espaço educacional, levamos também em consideração as orientações que
constam nas Diretrizes Curriculares Básica do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008)
A importância da música na aprendizagem
No que tange a educação pela arte Koellereutter acredita que ela se configura em
um instrumento de libertação e colabora para a formação do ambiente humano. A arte,
quando integrada à sociedade, mostra-se como traço essencial de modernidade. Essa
integração pode contribuir para que a sociedade “vença sua alienação social e sobreviva
sua crise” (KOELLEREUTTER, apud LOUREIRO, 2010, p.113).
Com base nessas considerações, entendemos que a música, como uma das
diversas possibilidades das manifestações artísticas, é um recurso pelo qual o educando
pode compreender e interagir, por meio da reflexão, com o meio social. A música, sem
dúvida nenhuma, é essencial para a formação, interação e integração do sujeito na
sociedade.
Partindo deste pressuposto, esta pesquisa buscou trabalhar com letras de
músicas, entendendo-as como um instrumento de extrema importância para despertar a
leitura e a interação em sala de aula. Para mim como professora representou uma
oportunidade de levar para os alunos uma nova maneira de aprender, uma estratégia
diferenciada de ler e interpretar o cotidiano, através de letras de músicas. Assim, nos
estudos da disciplina de Língua Portuguesa, o acesso a outra linguagem, pouco comum
em classe, propiciou aos educandos um jeito diferente de dar sentido as coisas da vida.
Ao tratar de experiência estética, Jauss diz que:
A atitude de prazer, que a arte provoca e possibilita, é a experiência
estética primordial. Ela não pode ser suprimida; pelo contrário, deve voltar
a ser objeto da reflexão teórica, quando se trata hoje de defender a função
social da arte e da ciência que a serve contra os que – letrados ou
iletrados – suspeitam dela (JAUSS, 1979, p.50.
Compreendemos, a partir desta citação que, a leitura ou o ato de ler, deve ser um
momento agradável, de satisfação, de alegria, porque o principal é a experiência que
deve haver entre o leitor, o texto e o autor. Essa experiência, quando profícua, possibilita
reflexões no leitor que acrescentam, não apenas em conhecimento, mas também em
maturidade pessoal e social.
Jauss (1979) defende a ideia de que a leitura só fará efeito no leitor se o que foi lido
tem alguma pertinência para ele e, a partir daí, o sujeito adquire uma nova visão de
realidade. Por isso, a importância da leitura se estabelece muito mais sobre quem lê – do
que sobre quem escreve – o texto.
Segundo as DCE, a leitura é
[...] um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais,
históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de
determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os
seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural,
enfim, as várias vozes que o constituem (PARANÁ, 2008, p.56).
Nesse sentido, é necessário que nós, educadores, principalmente professores de
Língua Portuguesa, ofertemos aos nossos educandos recursos que despertem o gosto e
o hábito de leitura. É necessário que os alunos entendam que ler e compreender um texto
exige uma postura de concordância ou discordância em relação àquilo que o texto
propõe. É necessário ter uma postura ativa diante do lido.
Ainda tratando da prática de leitura, as DCE afirmam que:
Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas
esferas
sociais: jornalísticas,
artísticas,
judiciária,
científica,
didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc. O
leitor para se efetivar como co-produtor, procura pistas formais, formula e
reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias
baseadas no seu conhecimento linguístico e nas suas experiências e na
sua vivência sócio-cultural (PARANÁ, 2008, p. 71).
A análise que podemos fazer da concepção das Diretrizes é que, a leitura, consiste
em uma atividade complexa. Assim, para que o processo de formação leitora se efetive,
de forma satisfatória, a leitura precisa resultar em uma comunicação, uma provocação,
um compartilhamento, uma interação de ideias, entre leitor e texto. Mas para que isso
aconteça é importante levar em consideração o ambiente sócio cultural em que o aluno
vive, por ocasião da escolha do texto a ser sugerido para leitura. Isso porque se o aluno
não tiver constituído o hábito de ler ou não mantiver contato com diferentes esferas
sociais de leitura, ler apresenta-se como um universo desconhecido, portanto não
familiar. Ampliar o conhecimento do aluno, para depois aproximá-lo de determinado
texto, é função do professor que tem por intuito formar leitores proficientes.
Levando em consideração o que as DCE apregoam sobre leitura, neste trabalho
buscamos informações sobre o hábito dos alunos de ouvirem músicas com letras mais
críticas, aplicando um questionário investigativo, este, por sua vez, apresentou
resultados já esperados. Ou seja, os alunos investigados não têm o hábito de escutar
músicas com letras que funcionam como manifestação crítica frente às questões sociais.
Os resultados obtidos, por meio do questionário aplicado, possibilitou-nos
conhecer que a maioria dos nossos alunos do 3º ano do Ensino Médio, não tem o hábito
de escutar esse tipo de músicas, como podemos perceber nas respostas dadas, “Gosto
de música gauchesca, para ir nos baile e dançar”; ”Depende como estou no dia, se
estou bem, gosto de música romântica, se estiver triste gosto mesmo é de música que
acalma meu coração”; “Sim. Gosto de ouvir quase todos os estilos, exceto rock, prefiro as
românticas, pois retrata os sentimentos”; “Sim, ouço qualquer estilo de música, porém
busco músicas com conteúdo. Rap, porque fala do dia a dia das favelas e os grandes
problemas encontrados lá”; “Ouço música caipira, raiz, odeio rap, rock”; “As vezes escuto
música, mas, só sertaneja como Luan Santana e Paula Fernandes”; ”Músicas boas são
vanerão e xote, gosto de músicas alegres”. Fica evidenciado que, as músicas mais
ouvidas pelos alunos não fazem parte daquelas que são classificadas como Música
Popular Brasileira – MPB. Essas respostas levaram-nos a crer que, a escolha feita por
nós, em relação às músicas, proporcionariam, aos educandos, desafios de leitura.
Ao se tratar da interação do texto com o leitor, Iser diz que “a leitura une o
processamento do texto ao efeito sobre o leitor. Esta influência recíproca é descrita como
interação” (ISER, 1979, p. 83). Podemos compreender que o efeito da interação se dá
dependendo de como a leitura se instaura, se realiza ou opera no leitor. A leitura requer
dos leitores um exercício de pensamento, de imaginação e percepção, a qual pode
levá-lo a questionar ou diferenciar as próprias atitudes em relação ao que foi lido. Dito de
outra forma, ao acionar o conhecimento de mundo – socioculturais – já existentes e
associá-los às novas informações que o texto apresenta o leitor participa como co-autor
na produção de um novo texto que se mostra nos sentidos alcançado, no momento da
leitura.
Segundo Antonio Candido, a literatura focaliza aspectos sociais que envolvem a
vida artística e literária nos seus diferentes momentos. O teórico brasileiro questiona:
Qual a influência exercida pelo meio social sobre a obra de arte? Qual a
influência exercida pela obra de arte sobre o meio? Algumas das
tendências mais vivas da estética moderna estão empenhadas em
estudar como a obra de arte plasma no meio, cria o seu público e as suas
vias de penetração, agindo em sentido inverso ao das influências
externas. Nesse sentido há duas respostas:
- A primeira consiste em estudar em que medida a arte é expressão da
sociedade.
- A segunda em que medida é social, isto é, interessada nos problemas
sociais (CANDIDO, 2000, p. 17-19).
Cândido chama a atenção para o fato de que toda a literatura precisa ser lida,
considerando-se o seu aspecto sociocultural de criação. Assim, entendemos que a
análise sociológica ajuda na compreensão da produção literária, permitindo conhecer
melhor o processo de criação, as circunstâncias e as intenções que subjazem, em
conformidade com o período de sua origem. De posse destes conhecimentos, o leitor
poderá estabelecer um contato maior com a produção textual, isto é, na interação entre
texto-leitor pode acontecer um aprofundamento da leitura. No caso da situação
pedagógica, apresentada neste artigo, os sentidos da música devem ser explorados pelo
leitor (alunos), assim como o seu contexto de produção para um entendimento mais
profícuo. Isso significa dizer que a prática de leitura do texto-música exige um esforço
leitor tão intenso quanto ao da leitura do texto literário, visto que, os sentidos deste
gênero da arte, se constroem, também, a partir do aspecto conotativo da linguagem,
aliado ao seu contexto sociocultural.
Para as atividades, em classe, com a leitura de músicas, partimos do princípio de
que, mais do que ouvir música, os alunos devem estar preparados para compreender a
mensagem da letra, isto é, precisam estar aptos para ler a música, entendendo em que
contexto ela foi produzida, se se trata ou não de uma manifestação social por meio da
habilidade artística. Promovendo essas leituras e
análises, em parceria com os
educandos, podemos entender que estamos formando leitores para a leitura de textos
complexos, da esfera artística, promovendo leitura e interação com mundo em que estão
inseridos.
No livro intitulado Estética da Recepção e História da Literatura, Regina
Zilbermann assevera,
Ler assume hoje um significado tanto literal, sendo, nesse caso, um
problema da escola, quanto metafórico, envolvendo a sociedade (ou, ao
menos, seus setores mais esclarecidos) que busca encontrar sua
identidade pesquisando as manifestações da cultura. Sob esse duplo
enfoque, uma teoria que reflete sobre o leitor, a experiência estética, as
possibilidades de interpretação e, paralelamente, suas repercussões no
ensino e no meio talvez tenha o que transmitir ao estudioso, alargando o
alcance de suas investigações. Refletindo sobre a história, a estética da
recepção é igualmente um acontecimento histórico (ZILBERMANN, 2004,
p. 6).
Corroborando com os demais estudiosos citados anteriormente, Zilbermann
ressalta a importância do leitor no processo da leitura. Cabe ao leitor perceber, analisar,
os significados que o texto quer passar, pois a literatura é vista como um meio capaz de
influenciar emocional e cognitivamente quando lhe é ofertada uma visão do que é real,
transformando assim a rota da vida do ser humano.
Nesse sentido, com vistas a auxiliar no processo de abordagem de músicas em
sala de aula, no qual se procurou fomentar a leitura de textos artísticos entre os alunos,
desenvolvendo o hábito de ler e interpretar os textos que permeiam sua vida social e
cultural com um olhar crítico, a Proposta de Produção Didático- Pedagógica/ Unidade
Didática, intitulada “O Poder das letras nas músicas”, elencou as seguintes músicas, as
quais servem também como sugestão para a prática de outros docentes.
1) Alegria, Alegria, de Caetano Veloso;
2) Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré;
3) A Banda, de Chico Buarque de Holanda;
4) Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho;
5) Geração Coca-Cola, de Legião Urbana;
6) Alagados, de Paralamas do Sucesso;
7) Classe Média, de Max Gonzaga;
8) Até Quando, de Gabriel o Pensador;
9) Aos meus heróis, de Julinho Marassi e Gutemberg.
Ao
escolhermos
o
gênero
música
(letras),
para
ser
aplicado
na
Implementação-Pedagógica, levamos em consideração a ludicidade e familiaridade que
a música oferece ao leitor/ouvinte, mesmo tendo conhecimento de que as músicas eleitas
não faziam parte do repertório cotidiano dos alunos participantes deste estudo. Contudo,
este é um fator que torna o desafio da leitura mais interessante. Para a realização dessa
prática tomamos como questão norteadora a seguinte indagação: a música pode
despertar o interesse de leitura e desenvolver o senso crítico do aluno ?
Após a realização da Implementação do Projeto, os resultados mostraram que,
todas as atividades propostas são viáveis e aplicáveis em sala de aula e com resultados
excelentes. Lembrando que, o público e objeto de intervenção foram os alunos do 3º ano
B do Ensino Médio do Colégio Estadual Princesa Izabel- Três Barras do Paraná- PR.
As ações que foram adotadas para a efetivação da implementação dessa Proposta
de Intervenção Pedagógica na Escola, foram divididas em dez momentos. A primeira, de
investigação por meio do questionário e as demais, envolveu, cada uma delas, uma
música diferente para leitura e interpretação em classe. Com as músicas elencadas,
foram propostos debates, com a finalidade de chamar atenção do aluno para o valor
semântico das palavras, nas letras das músicas, observando-as como instrumentos de
manifestação social e recurso de reflexão crítica.
Para tanto, foram feitas a leitura crítica e detalhada de cada um dos textos
artísticos selecionados, com interpretação oral e escrita, exposição individual e em grupo,
análise linguística e produçao textual. Ao final dessas atividades, os alunos, em
pequenos grupos e individualmente, produziram suas músicas. Esta produção teve como
objetivo figurar como manifestação crítica frente às questões sociais. O encerramento
dessa implementação foi o momento mais sifnificativo, no qual os alunos apresentaram
as produções realizadas para a turma.
Com vistas a inteirar nosso leitor das ações empreendidas, passamos a expô-las,
respeitando a ordem em que foram colocadas em prática.
O questionário investigativo
O primeiro encontro, com o público alvo, ocorreu de uma maneira descontraída, no
qual foi aplicado um “Questionário Investigativo” que forneceu pistas sobre o mundo
cultural e social que permeiam a vida dos nossos alunos. Esta abordagem foi relevante e
interessante para dar continuidade às ações subsequentes. Em classe estavam vinte e
sete alunos. Conforme respostas dadas ao questionário, destes 99% só escutam
músicas de bandas regionais e sertanejas. Apenas um aluno tinha ouvido falar de “ MPB
“ mas, também não gostava por não entender nada e não fazer parte do seu cotidiano.
Tomando como base o gosto musical e as letras das canções que estão na preferência
dos nossos alunos, é possível inferir que, por consequência, a leitura crítica pode estar
comprometida neste contexto.
Lendo e interpretando músicas: a formação leitora em pauta
Motivação e curtição com o clip da música Aleluia, (Hallelujah) – Compositor:
Leonard Cohen, disponível em http://letras.mus.br/sam-alves/aleluia/.
A abertura do trabalho, com as letras das músicas, deu-se com os alunos
assistindo ao clip da música Aleluia,, cantada por Sam Alves. Ao ouvir comentários dos
alunos sobre o cantor que estava em evidência no programa “The Voice Brasil”,
decidimos abrir nosso trabalho com essa canção que serviu apenas para uma dinâmica
de interação, de apreciação entre os alunos do 3º B, do Ensino Médio. A letra traz como
mensagem que, precisamos sempre dar o primeiro passo na nossa vida e que a vida é
feita de momentos. Assim, devemos aproveitá-la da melhor maneira possível. Os alunos
solicitaram para assistirem mais de uma vez ao clip. Esta reação dos alunos, logo no
início, dava indícios de que estávamos no caminho certo, à leitura começava a fluir, pois,
a letra da canção e o clip, despertaram o interesse e isso anunciava que resultados
positivos, de leitura, que poderiam surgir.
Terminada a etapa de apresentação dos trabalhos que seriam realizados,
começamos a leitura mais atenta da letra da canção – Alegria, Alegria, de Caetano
Veloso. É importante salientar que, antes de proceder à leitura da letra da música, os
alunos foram questionados, isto é, foram inquiridos sobre o tema da letra, explorando-se
os conhecimentos prévios apresentados por eles. Aplicar esta dinâmica de pré-leitura foi
de grande relevância, uma vez que serviu para dar início à nossa discussão,
possibilitando assim uma melhor interação entre a turma. Ao trabalhar a letra da música
propriamente dita, a reação dos alunos foi interessante, pois ficaram surpresos,
admirados com o clip, ritmo e as palavras diferentes presentes no texto, além de nunca
terem ouvido falar sobre o cantor.
No segundo momento do estudo, eles acompanharam a música com a letra da
canção. Nesta ocasião, solicitamos que acompanhassem cantando, a princípio,
demonstraram um pouco de timidez. Na segunda tentativa, a participação foi maior e na
terceira, todos os alunos cantaram. Até mesmo a funcionária responsável pelo local
aderiu à cantoria. Foi um momento único. Ouvir os alunos cantando alto a música
deu-nos confiança para prosseguir com as atividades.
Antes de retomarmos o texto em estudo, julgamos necessário esclarecer algumas
questões relativas ao gênero em estudo, ou seja, a música. Assim, foi esclarecido para a
turma que uma música é composta por três elementos fundamentais que são: ritmo,
harmonia e melodia. Dentre esses, o ritmo é a base e o fundamento de toda expressão
musical. Por quê? Porque o ritmo é a batida, é a pulsação da música e é por meio do
ritmo que definimos se trata de um rock, uma valsa, marcha, tango, reggae, samba,
salsa, etc. Melodia é a canção, são as notas tocadas em sequência, é através da melodia
que sabemos que música é tocada. E a harmonia? A harmonia são os sons tocados ao
mesmo tempo, Ferreira (2012).
Um novo momento de socialização de opiniões foi propiciado aos alunos. Um
espaço dinâmico para exporem suas ideias, suas dúvidas, seus pensamentos, suas
angústias. Surgiram várias leituras, alguns estabeleciam pontes entre a letra da música, a
sociedade passada e a atual. Nessa perspectiva, percebemos que os nossos educandos
precisavam de estímulos, oportunidades e estratégias diferenciadas para se inserirem,
de maneira mais efetiva, no universo da leitura.
No que tange a análise linguística do texto musical, as dificuldades encontradas
pelos alunos demonstraram ser necessário que, nós professores, exploremos com mais
frequência, no processo de formação leitora, aspectos da língua culta, da interpretação
de textos de todas as esferas sociais, principalmente de letras de músicas, uma vez que
estas exigem do leitor uma leitura (de nível profundo) mais proficiente. Esta necessidade
ficou evidente quando os alunos pediram para consultar os dicionários; solicitaram
explicações sobre os significados metafóricos das palavras e, ainda, realizaram pesquisa
na internet, no intuito de alcançar os sentidos do texto em estudo. É preciso esclarecer
que, em cada texto artístico analisado, discutido e debatido, o contato com o texto era
finalizado com as perguntas de interpretação escrita, as quais os alunos deveriam
realizar individualmente. A busca para descortinar os sentidos do texto contou com
participação e interesse ativo de todos, demonstrando uma atitude responsiva como se
espera dos leitores em formação.
Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, novas expectativas.
Esta letra de música é umas das que mais chamou a atenção dos educandos. Ficaram
surpresos, pois na História recente da Educação do Paraná, que passava por crise, a
música (letra), em questão, estava em evidência. Isso porque a Associação de Pais e
Professores – APP – trazia como grito de guerra o refrão da canção de Vandré, “Quem
sabe faz a hora/ Não espera acontecer...”. A admiração estava no fato de que uma
música escrita há 47 anos, tinha e tem o poder de promover reflexões ainda na
atualidade. Com isso, os alunos perceberam que, a sociedade, a cultura e a história
estavam em sintonia, já que os acontecimentos traziam de volta um momento histórico
brasileiro. Como esta música representava e ainda representa um momento de luta por
direitos, em situações similares, ela é retomada como discurso de mobilização.
O trabalho com as letras de músicas mostrou-se interessante, prazeroso,
produtivo, construtivo e um instrumento adequado para a formação leitora. As atividades
propostas e realizadas, com os alunos, fluíram. Significa dizer que, a estratégia utilizada
em sala de aula é pertinente ao objetivo a que se propôs a Implementação Pedagógica,
uma vez que possibilita uma interação entre professor-texto-aluno. Neste processo,
interagiam,
construíam
pensamentos,
ideias,
argumentações,
indignações,
posicionamentos diante do que estavam lendo e analisando. Esta dinâmica desencadeou
a vontade de ler e entender o texto na sua plenitude.
O clímax dessa interação ocorreu quando alguns alunos pediram a palavra e
disseram estar estarrecidos diante do que estudavam e liam. O espanto ocorria ao
saberem que os estudantes eram quem tomavam a frente diante da indignação do país,
na busca de garantir liberdade e democracia. Muito diferente das posições tomadas pela
maioria dos estudantes nos dias atuais. Com isso, os alunos puderam constatar que o
tema da música era atualíssimo. Era possível perceber que eles estabeleciam relações
dos fatos históricos do passado com o presente e, ainda, conseguiam fazer algumas
previsões para o futuro. O exercício demonstrou que, formar leitores de textos
pertencentes à arte faculta uma relação dialógica, considerando-se que o texto, neste
caso a música, quando em leitura, necessita, para se alcançar os sentidos mais
profundos, compreender também o seu contexto histórico de produção.
Ainda nesse encontro, os participantes assistiram a um vídeo, que se tratava de um
documentário sobre o cantor e compositor Geraldo Vandré. Foi interessante os alunos
conhecerem um pouco mais da obra que eles acabaram de estudar e saberem que o
autor ainda está vivo, porém, vivendo um mundo totalmente diferente dos anos 60 e 70. O
documentário
na
íntegra
encontra-se
disponível
no
seguinte
endereço:
https://www.youtube.com/watch?v=OpUcFX2qVFA.
Após assistirem ao vídeo realizamos um debate sobre a entrevista polêmica de
Geraldo Vandré à Globo News (2010). Os alunos comentaram que ficaram chocados e
surpresos por saber que o cantor e compositor da emblemática música “Pra não dizer
que não falei das flores” está vivo e que sua aparência em nada lembra aquele cantor dos
festivais dos anos 60. Perceberam a diferença entre o homem da indignação da época da
Ditadura Militar e o homem apático da atualidade. Notaram, também, na mesma
entrevista, que Geraldo Vandré está longe de ser aquele que clamava por justiça,
igualdade, porém, continua inteligente. Eles comentaram que ele parecia um morto vivo e
indagaram: O que fizeram com ele? Será que fizeram uma lavagem cerebral?
Nesse sentido, cumpriu-se o que se esperava dos alunos, ou seja, compreender
que, a leitura eficiente e a análise sociológica de textos ajudam-nos a entender a
produção artística. Além de permitir-nos saber como foi criada a obra de arte, no caso a
música, em que momento e em qual circunstância de vida encontrava-se o produtor.
A banda, de Chico Buarque de Holanda, mostra em sua letra a força da poesia
que, aliada a melodia, despertou os alunos para a leitura. Para realizar a atividade com
este texto priorizamos a pré-leitura, com uma dinâmica em que os alunos foram
indagados e comentavam sobre: tinham assistido/ouvido uma banda tocar? O que eles
pensam que é uma banda? O que fariam se uma banda passasse no exato momento em
frente do colégio? Com certeza, já ouviram falar no cantor e compositor Chico Buarque.
Conhecem alguma música dele? Qual? De onde ele é? Que tipo de música ele escreve e
canta? Ao ouvir a palavra banda o que nos sugere? Esse recurso, de questionar os
alunos antes da leitura, foi muito pertinente, pois teve aluno que não sabia de que banda
a letra da música tratava ou o quê simbolizava a palavra banda no texto. Outros
comentaram que nunca tinham ouvido e nem assistido a uma banda. Alguns alunos
diziam que já ouviram falar nesse nome, porém não conheciam.
Na sequência, os alunos só escutaram a música, depois assistiram ao vídeo clip
com a letra da canção, disponibilizada em cópia. Os alunos procederam à leitura. Foi
reservado um momento para que eles refletissem a respeito da letra da canção e
finalizassem com uma interpretação textual escrita. A atividade escrita, previamente
elaborada, era composta por perguntas de interpretação e algumas questões de análise
de partes da música em estudo, por exemplo, analise a seguinte estrofe: “A moça triste
que vivia calada sorriu/ A rosa triste que vivia fechada se abriu / E a meninada toda se
assanhou / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor”. Que característica da
‘banda é destacada nesse trecho? É possível uma flor ser triste? O que o termo banda
simboliza na canção? O texto aponta um caminho para a solução dos problemas? Que
caminho é esse? Segundo a canção o homem vive no ócio. Em que verso isso se
destaca? Na canção está subentendido que ela é capaz de transformar o ser humano.
Você concorda com isso? Argumente. Qual é a temática da música?.
Os questionamentos acerca da letra da música buscaram provocar reflexão, a partir
da leitura e da interpretação textual de uma forma prazerosa e eficiente. Este texto
artístico foi o que ofereceu maior desafio de leitura para os alunos, tendo em conta que
estes não estavam acostumados a trabalhar com textos com muitos recursos estilísticos.
Ao final ficou claro para eles o valor conotativo das palavras, os quais precisavam ser
descobertos para se chegar aos sentidos. Versos como: “A minha gente sofrida/
Despediu-se da dor”. Nesta parte do texto, inicialmente, os alunos pensaram que o texto
fazia referência à família. Após a análise e discussão uma das alunas comentou:
“Professora agora entendi, ele está falando do povo brasileiro, da população! Não é?”.
Outro verso ganhou destaque na leitura dos alunos, “O faroleiro que contava vantagem
parou”. Primeiro, procuraram saber o que era faroleiro. E assim se deu com toda a leitura
da letra da música. Eram muitas as novidades, mas todas elas foram esclarecidas,
compreendidas e apreciadas pelos estudantes.
Com Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho, música escrita em 1975, foi
possível identificar as intencionalidades existentes no texto e fazer um paralelo de um
Brasil do passado com um Brasil do presente. Nesta etapa das atividades procuramos
evidenciar a importância de se levar um texto, em processo de leitura, para o contexto do
aluno. Esta atividade foi de grande relevância, porque proporcionou ao grupo momentos
de alegria, de indignação, de reflexão, de partilha, de conhecimento e aprendizagem.
Ao iniciar a aula, como forma de pré-leitura, a turma foi questionada no sentido de
saber se conheciam o autor da música, Zé Ramalho, se sabiam de onde ele é, se já
tinham ouvido algumas músicas deste compositor. De acordo com o que foi apurado nas
manifestações 99% da turma não conhecia nem o compositor nem suas músicas.
Fizemos, então, uma pequena explanação sobre vida e obra do cantor e compositor, em
seguida, os alunos assistiram ao clip da música. Cumprindo o mesmo roteiro dos estudos
anteriores, os alunos acompanharam cantando, agora com a letra da música em mãos. O
nosso debate ou roda de conversa, como os educandos passaram a chamar, por
ficarmos em círculo. Começamos indagando, o por quê do título “Vida de gado”.
Respostas das mais variadas surgiram, algumas coerentes e outras fugindo totalmente
da proposta interpretativa. Então expliquei aos educandos que, o título da música faz
uma intertextualidade com o título de uma obra literária denominada Admirável Mundo
Novo, de Aldous Huxley. A reação foi de surpresa e perguntaram o que é
intertextualidade. Nesta aula, muitas foram as perguntas.
Após as explicações, da contextualização do texto e origem da letra, os alunos
tiveram um tempo para uma nova leitura e logo após tiveram a oportunidade de expor
suas ideias, debaterem, inferirem sobre o texto, momento este em que alguns
demonstraram uma capacidade muito grande de compreensão, de relacionar passado,
futuro e presente. Muitos comentaram que as músicas escritas há tanto tempo
apresentavam relações com os acontecimentos atuais e com propostas de soluções que
ainda se espera. Essas leituras e discussões cumpriram e superaram todas as
expectativas esperadas para o trabalho. Alunos compreendendo a história da letra e se
reconhecendo como parte integrante do aspecto social revelada por ela. Para encerrar
a dinâmica, pediram alguns minutos para utilizarem o violão para cantarem a música de
Zé Ramalho, além de outras trabalhadas anteriormente. Todo o processo de
desenvolvimento de leitura das músicas lembrou-nos o que assevera Jauss (1979), a
leitura consciente faz efeito no leitor, pois, o que os alunos leram teve importância para
eles, assim como despertou o interesse, de todos, para os temas em pauta. Isso porque,
a partir de cada leitura, cada análise, adquiriam uma nova visão da realidade.
Um pouco de Rock para uma turma que aprecia a música sertaneja. É hora de
conhecer Geração Coca- Cola, de Renato Russo. O preconceito contra os roqueiros deu
lugar a compreensão, o reconhecimento, a ousadia, a inteligência e a aprendizagem.
Esta aula, assim como as demais, foi muito interessante para a transformação,
compreensão e amadurecimento de ideias dos alunos. Ao começar dizendo que iríamos
escutar, assistir, ler e analisar uma música de Rock, percebemos alguns olhares. No
primeiro momento da aula fizemos a pré- leitura: Gostam de Rock brasileiro? Conhecem
alguma música? Já ouviram falar de Renato Russo? Quais são os temas de suas
músicas? Dois dos alunos levantaram a mão e disseram que gostavam e conheciam o
cantor e a música, porém nunca tinham prestado a atenção na letra. A maioria deles
manifestou não gostar de Rock talvez por terem uma ideia de senso comum sobre
roqueiro. Como educadora entendi que esse estilo de música era de extrema importância
e propícia para tentar quebrar tabus, “achismos” e pensamento do senso comum.
Durante a contextualização do texto musical, os meninos demonstraram maior
participação no debate, possivelmente por se tratar de um tema que atraiu mais a eles.
Os participantes perceberam que a linguagem é toda metafórica. Essa percepção foi
também verificada em aulas anteriores. Notaram que a linguagem apresentava-se
carregada de ironias.
O tema em destaque no debate suscitou interdisciplinaridade, tendo em conta que
as manifestações chegaram à dependência química e alcoolismo. Alguns estabeleceram
relações com a sociedade (família), expondo suas angústias sobre alcoólatras,
autoestima baixa, história de vida etc. Para o terceiro momento, que tratava da leitura
compreensiva do texto, novas normas foram contempladas, ou seja, ficou combinado
que, nas aulas de Língua portuguesa, poderia ser usado notebook para consultas sobre o
vocabulário, vídeos e o que mais fosse necessário para pesquisa sobre os temas em
estudo. Essa atividade serviu para os alunos perceberem que, sem uma leitura profunda
do texto, podemos fazer um julgamento equivocado com base em ideias dos outros e não
no nosso próprio conhecimento.
Ao término das pesquisas os alunos compreenderam e conseguiram explicar que
haviam feito um julgamento equivocado sobre este estilo de música, concluindo que, sem
conhecimento, sem leitura, sem análise dos textos artísticos tornamo-nos alienados, com
tendência a generalizar opiniões sem ao menos ponderá-las. Com o sucesso desta
atividade percebemos que a rotina e a postura dos educandos estavam mudando em
relação ao ato de ler. Era possível perceber, assim como prevê as DCE, que havia um
entendimento de que a leitura se estabelece como um ato dialógico. Assim, ficou
evidente, para nós como educadores que, dar novas oportunidades de leitura aos alunos,
com diferentes estilos de textos, é reconhecer que é necessário trabalhar com
mecanismos diferenciados, possibilitando uma mudança de postura, uma visão crítica,
não apenas em relação à leitura, mas a tudo que nos cerca.
O ritmo alegre da música Alagados, de Paralamas do Sucesso, sugere outras
reflexões. É um momento para pensar, analisar o dia a dia da maioria dos brasileiros. É
tempo de propiciar aos educandos uma reflexão sobre política, economia e o social do
nosso país.
Trabalhar com esta música foi de estrema relevância para a familiarização dos
alunos com o gênero musical Rock. Muito embora, o ritmo da música apresente
similaridades com o gênero Reggae ou a Salsa, própria dos ritmos caribenhos. Ao
começar o clip a reação foi imediata, os alunos assobiaram, davam batidinhas nas
carteiras, simulando sons de bateria. Uma resposta positiva por parte deles. No estudo
desta música demonstraram suas experiências anteriores e os conhecimentos prévios
sobre o diferente. Ficou evidenciado que os jovens gostam do que é alegre, divertido,
forte, intenso e diferente, pois, foi solicitado para deixar a música do clip baixinho durante
a leitura da letra. Posteriormente, foi reservado um tempo para que os alunos pensassem
a respeito dos sentidos da letra da canção, a partir das seguintes perguntas de
interpretação textual escrita: O que o título da música sugere? Explique. Analisando a
segunda estrofe, que contraste se evidencia em relação à cidade que tem como cartão
postal os braços abertos? Explique que cidade é essa. Na sua cidade há favelas? As
autoridades do município tem um comprometimento com esse lugar? Explique. Nas
perguntas relacionadas aos aspectos linguísticos e estilísticos do texto os alunos
apresentaram as maiores dificuldades, por exemplo: “O que se pode entender no verso
“Todo dia o sol da manhã vem e lhes desafia”. Que desafio seria esse? Desafia a quem?
E quanto ao verso “Traz do sonho pro mundo que já não o queria”. O que podemos
compreender? Explique. “Considerando a afirmação de que “A esperança não vem do
mar / nem das antenas de TV”, o que se pode entender? Essa música tem uma função
social? Qual? A quem é dirigida a crítica presente na música? Argumente.
Ao abordar a letra da música, as interpretações fluíram com naturalidade. Cada
aluno pôde apresentar a sua opinião, sua visão sobre o tema em questão.
Surpreendentemente, os alunos realizaram uma leitura crítica, pois, perceberam no texto
o contraste que há na cidade do Rio de Janeiro, compreendendo que a música revela um
retrato do cotidiano de todo trabalhador brasileiro e não apenas dessa cidade. Na
sequência, pediram para pesquisar, nos seus notebooks, sobre os nomes próprios
trazidos pelo texto artístico. Essa pesquisa tinha por objetivo realizar a atividade escrita.
Nessa atividade, destacou-se a interação do texto com o leitor, visto que a
participação dos alunos foi mais intensa. Acreditamos que, nesse momento de busca de
sentidos para o texto artístico, o aluno já apresentava uma nova postura frente à leitura
de um texto, ampliando a visão de mundo. Propiciar formação leitora, por meio do texto
musical, já mostrava bons resultados, pois os alunos divertiam-se, liam, interpretavam,
tendo posturas reflexivas.
Com Classe Média, de Max Gonzaga, as ironias surpreendem os educandos do
terceiro ano. Mais uma aula da proposta pedagógica que alcança uma receptividade e
um aproveitamento excelente. Como não poderia faltar neste estudo, chegamos ao ritmo
mais conhecido da música popular brasileira, Classe Média, com um ritmo cadenciado,
próprio do estilo musical MPB, espantosamente agradou a turma.
Quando foram perguntados se já tinham ouvido falar em Max Gonzaga e quem
trouxe o samba para o Brasil, ninguém o conhecia e nem sabiam falar sobre o samba.
Contudo, quando perguntado se conheciam algum sambista, várias alunas disseram que
sim, e o mais citado foi o cantor Tiaguinho. Feitas as indagações preliminares,
assistimos, na sequência, ao clip em formato de desenho, no qual os cantores são
representados
por
bonecos/marionetes.
Eles
se
divertiram,
riram,
cantaram,
comentaram, enfim acharam engraçado e diferente a apresentação da música no clip. O
segundo momento da leitura do texto, debate, partilha de opiniões foi muito produtivo. Os
alunos não tiveram dificuldades para perceber que a letra é cheia de ironias, mesmo a
letra sendo clara e objetiva. Conseguiram abstrair a temática do texto, observaram que a
crítica mais acentuada é sobre o preconceito de classes e o consumismo. Identificaram
as várias pessoas contempladas nos versos, por exemplo, “Sou classe média/ Compro
roupa e gasolina no cartão/Odeio “coletivos”/ E vou de carro que comprei a prestação”. A
partir das discussões orais, os alunos empreenderam interpretações em atividades
escritas. Para complementar e aprofundar os conhecimentos sobre o que é a classe
média, os alunos assistiram um vídeo da Marilena Chauí, Eu Odeio a Classe Média (fala
completa), que se encontra em https://www.youtube.com/watch?v=fdDCBC4DwDg.
Nesta etapa dos estudos já estamos cientes de que o texto – letras de músicas –
é um extraordinário recurso para a formação leitora crítica. Isso porque transmite valores,
apresenta diferentes culturas, retoma contextos e vivências sociais, possibilitando aos
alunos identificarem-se, em certa medida com o dito, proporcionando resultados de
leitura satisfatórios.
Um pouco de rap! A música Até quando? de Gabriel o Pensador, serviu como um
puxão de orelha e os alunos sentiram. Para encerrar as análises desta Implementação
Pedagógica pensamos numa música que servisse de alerta para nossos alunos. A ideia
deu certo.
Iniciamos as atividades. Os alunos indagaram sobre o que seria estudado neste dia.
Como resposta devolvi-lhes outra pergunta, vocês gostavam de rap? A maioria comentou
que achava legal o ritmo, mas não gostavam das letras porque, segundo eles, eram muito
ruins. Ao assistirem o vídeo os alunos acharam meio sem graça o clip, isso porque o clip
chamava a atenção de todos, sugerindo que saíssem da alienação para que pudessem
se impor como cidadão. Ao término do clip realizaram uma leitura silenciosa do texto. No
debate, alguns alunos observaram que a música do cantor e compositor Gabriel o
Pensador é muito diferente. Atentaram para o fato de que o texto é todo construído em
sentido figurado e comentaram que ler esse tipo de texto é mais difícil. Quando os alunos
foram questionados sobre qual o significado (função) das palavras repetidas na letra
musical, por exemplo, “Até quando vai levar/ porrada, porrada, porrada?”. As respostas
dadas demonstraram que estes faziam uma leitura mais competente que as realizadas
inicialmente. Foi possível perceber esse crescimento leitor em respostas como: “Está
querendo nos acordar para a vida! Ele nos lembra de que já apanhamos o bastante e
ainda não aprendemos! A música quer dizer que é para ir à luta!”. Um outro aluno
lembrou-se de parte dos conteúdos da aula anterior e fez o seguinte comentário: “A
música transmite para mim uma ideia de que se nos não nos informamos de maneira
correta, nunca saberemos se estamos certos ou não, assim como a música Classe
Média, pois pensamos que somos uma coisa e na realidade não nos conhecemos”. Para
finalizar estas atividades, os alunos realizaram, em outra aula, a interpretação textual
escrita. A proposta é que os educandos lessem o texto com mais atenção, para
responder as perguntas, com respostas argumentativas, coerentes e com uma visão
crítica. Algumas das perguntas: qual a intenção do título quando faz esta indagação? Que
leitura podemos fazer, a partir desse questionamento? Explique. Os dois primeiros
versos apresentam uma reflexão. Você concorda com ela? Argumente. Que relação à
música estabelece com o receptor? Em que pessoa está escrita à canção? Comprove
com a transcrição de alguns termos. A música se mostra favorável à situação social e
política? Argumente.
Também estas atividades de leitura e escrita levaram os alunos a refletirem sobre
seus modos de ver a vida, tendo em conta que é preciso sair do comodismo, do marasmo
cotidiano e ir à luta pelo que queremos e sonhamos. Assim, é possível afirmar que o
trabalho com músicas pode despertar o potencial leitor que está adormecido no aluno.
Alunos em ação! Produção escrita. A última atividade previa reflexão, ação,
produção e apresentação de texto em grupo. A música Aos meus heróis, de Julinho
Marassi e Gutembeg, foi só para curtir.
Esta atividade foi divida em três momentos diferentes. No primeiro, formaram-se
quatro grupos de trabalho; no segundo, os alunos foram orientados a produzirem letras
de músicas com liberdade de escolha do tema. Apenas uma exigência, o texto deveria
funcionar como manifestação crítica frente às questões sociais. Em um terceiro
momento, os alunos apresentaram as produções para a escola. Os quatro grupos
empolgaram-se, cada um escolheu um tema, ritmo e gênero (música). Após alguns dias
de preparação e ensaios, os alunos tiveram a oportunidade de socializar a produção
musical. Os textos artísticos produzidos estavam adequados ao que foi proposto, isto é,
linguagem adequada e coerência na sequência temática. Os produtores dos textos
conseguiram expressar e transmitir com clareza as suas manifestações e indignações.
Foi muito gratificante ver a realização dos trabalhos, bem como o empenho dos alunos
para a apresentação das suas músicas. Estas, cantadas e acompanhadas do som de um
violão.
Considerações finais
A construção e a aplicação desta Produção Didático-Pedagógica teve como
questão norteadora a seguinte indagação: A música pode despertar o interesse de leitura
e desenvolver o senso crítico?
Após a realização das atividades é possível fazer algumas considerações. A
primeira delas é de que pudemos constatar que o texto musical é um recurso eficiente
para fomentar a leitura de textos artísticos entre os alunos. Isso porque este tipo de texto
propicia ao público aprendiz a oportunidade de refletir sobre questões sociais, questionar
posicionamentos e defender uma opinião, enriquecendo, de forma ampla, os
conhecimentos, sem perder o caráter lúdico, marcado, neste gênero, pela melodia. A
segunda é que, a temática das músicas selecionadas para o trabalho, propiciaram, aos
alunos envolvidos, condições para um crescimento como leitor, bem como para
apurar-lhes o senso crítico.
Ao criarmos um ambiente musical na sala de aula, notamos que os alunos
demonstraram mais empenho para pesquisar, compartilhar seus conhecimentos prévios
e buscar novas informações. No entanto, ficou claro que, cabe a nós professores
estarmos atentos à pertinência do tema musical, fazendo um planejamento que permita
ao aluno desenvolver análise e interpretação da letra, defendendo-a ou refutando-a, na
direção de encontrar o seus sentidos plenos.
Assim, visamos, com este trabalho, estimular a leitura de textos artísticos entre os
alunos, a partir do trabalho com letras de músicas. Neste intuito, figurou, ainda, o desejo
de desenvolver o hábito de ler e interpretar textos que permeassem a vida social e
cultural brasileira. Dessa forma, esta Produção Didático-Pedagógica proporcionou aos
estudantes atividades de leitura e interação, as quais permitiram desenvolver a
criticidade e a criatividade leitora, o gosto pela leitura, a interação entre texto e leitor, a
integração entre os participantes do projeto, a produtividade escrita de textos, a elevação
da autoestima com texto em que os alunos foram capazes de ler e interpretar, uma maior
participação em sala de aula, além de torná-los cidadãos mais conscientes do meio em
que vivem.
Ao privilegiarmos, em todos os momentos de desenvolvimento das ações, o
deleite com a música, buscamos promover o gosto pela leitura, assim como aproximar
esses leitores dos textos. Para que isso ocorresse foi preciso contemplar algumas etapas
como: a pré-leitura, assistir a um clip, escutar a música (ritmo), dando espaço para que os
alunos expusessem suas opiniões sobre as letras das músicas, antes de fazerem a
análise criteriosa do texto-letra musical. Acreditamos que, antes de trilhar o caminho do
exercício leitor, faz-se necessário que os alunos sejam motivados a perceberem as
emoções, as sensações que os textos podem oferecer no momento da leitura, assim é
necessário haver motivação para a leitura.
Os procedimentos adotados, para os encaminhamentos das leituras, respondem
ao proposto por Jauss (1979), Iser (1999), Aguiar e Bordini (1993) quando apresentam os
conceitos básicos que orientam o ensino da leitura da literatura, que como a música é
também arte e pode ser utilizado também neste contexto de ensino-aprendizagem. Na
perspectiva do Método Recepcional, decorrente da Estética da Recepção, de acordo com
Aguar e Bordini (1993), deve-se cumprir algumas etapas que são: 1) Determinação do
horizonte de expectativas do aluno/leitor, ou seja, conhecer a realidade sociocultural dos
educandos; analisando os interesses e o nível de leitura, a partir de discussões de textos
etc. Esta etapa, no presente trabalho, ocorreu por ocasião da aplicação do questionário
anteriormente mencionado; 2) Atendimento ao horizonte de expectativas. O professor
apresenta textos que sejam próximos ao conhecimento de mundo e às experiências de
leitura dos alunos. Para cumprir esta fase, foram apresentados, antes do texto musical,
os clipes que tinham por objetivo aproximar os alunos dos textos, tendo em conta que as
músicas escolhidas para o trabalho não era do conhecimento da maioria. 3) Ruptura do
horizonte de expectativas. É o momento de mostrar ao aluno/leitor que nem sempre
determinada leitura é o que ele espera, suas certezas podem ser abaladas. Para que haja
rompimento, é importante o professor trabalhar com obras que, partindo das experiências
de leitura dos alunos, aprofundem conhecimentos, fazendo com que eles se distanciem
do senso comum, ampliando o seu horizonte de expectativas. Esta terceira etapa foi
vencida, após as discussões sobre as letras das músicas em que se podia perceber a
ampliação
dos
conhecimentos
sobre
as
questões
históricas
nacionais.
4)
Questionamento do horizonte de expectativas. O professor orienta o aluno/leitor a um
questionamento e uma auto avaliação, a partir dos textos oferecidos. 5) Ampliação do
horizonte de expectativas. As leituras oferecidas aos alunos e o trabalho efetuado, a
partir das letras das músicas, possibilitaram reflexões e uma tomada de consciência das
mudanças e das aquisições, levando os alunos a uma ampliação de seus
conhecimentos. Estas duas últimas fases verificaram-se com as respostas dadas pelos
alunos já ao final do processo como podemos perceber nas menções feitas no trabalho
com as músicas.
As estratégias adotadas e desenvolvidas oportunizaram e permitiram, aos alunos,
fazerem inferências e verificações até alcançarem os sentidos possíveis dos textos.
Estas estratégias aproximaram estes educandos das suas próprias histórias, enquanto
coletividade, abrindo-lhes novos horizontes para compreenderam e entenderam seus
sentimentos diante do contexto social.
Das dificuldades encontradas para a aplicação da Unidade-Pedagógica,
estiveram: em algumas aulas, a TV pendrive não funcionava; o laboratório de informática
estava ocupado por outras turmas; o data-show não estava disponível no colégio. No
entanto, isso não tirou a alegria e o entusiasmo dos alunos, diante da proposta de um
novo jeito de aprender a ler. Algumas aulas foram ministradas no pátio da escola e os
alunos simplesmente estavam adorando sair da rotina (das aulas apenas com quadro de
giz). Porém, o bom mesmo, ou seja, o ideal seria que a escola tivesse pelo menos uns
seis aparelhos de data-show e computadores funcionando, adequadamente, para
quando os alunos precisassem fazer uma pesquisa.
Diante dos excelentes resultados obtidos, por meio desta implementação,
podemos assegurar que a Unidade Didático-Pedagógica “O Poder das letras nas
músicas” apresenta uma metodologia e estratégias diferenciadas e interessantes para
leitura e interação de textos artísticos. Sendo assim, as músicas – MPB – podem ser
utilizadas em sala de aula, como recurso para promover o desenvolvimento da leitura em
um nível mais profundo, provocando a curiosidade e o apreço, dos alunos do Ensino
Médio, considerando-se que, em geral, essas músicas não fazem parte dos seus
repertórios.
Nessa perspectiva, pode-se dizer que os objetivos foram alcançados, visto que os
alunos mostraram-se participativos, percebendo o quanto as músicas escolhidas têm a
ver com o contexto histórico brasileiro e, como é importante desenvolvermos uma visão
crítica sobre o que acontece ao nosso redor.
Vale ressaltar, ainda, que, a música em sala de aula, mostrou-se como um recurso
pertinente ao aprendizado leitor prazeroso e isso foi fundamental para que chegássemos
aos bons resultados alcançados. Nessa experiência, os educandos passaram a ver a
leitura como um exercício interessante, prazeroso e construtivo. Perceberam que uma
leitura crítica é capaz de transformar a visão de mundo. Significa dizer que houve a
formação de leitores mais críticos, capazes de se sentirem inseridos no mundo em que
vivem, reconhecendo a importância do seu papel na sociedade.
Referências
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metodológicas. Porto Alegre: Marcado Aberto, 1993.
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JAUSS, H. R. et al. A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Coordenação e
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L
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out_2009/lingua_portugues.pdf?PHPSESSID=be96fc66e3db0614d7dc7ecf5b8>.
Acesso: 15 out. 2013.
ZILBERMANN, R. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática,
2004.
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