UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período : 09/15 a 01/16 (X ) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: PESQUISA DOS GENOTIPOS DE HPV EM MULHERES ATENDIDAS NA REDE DE SAÚDE DE BELÉM Nome do Orientador: Raquel Carvalho Montenegro Titulação do Orientador: PhD Faculdade : Universidade Federal do Pará Unidade: Instituto de Ciências Biológicas (ICB) Laboratório: Citogenética Humana Título do Plano de Trabalho: Determinação epidemiológica e distribuição do HPV 16 em mulheres com câncer cervical Nome do Bolsista: Adrielly Vada Uchôa Pinto Tipo de Bolsa : ( X ) PIBIC/CNPq INTRODUÇÃO O HPV é universalmente aceito como agente causal do câncer de colo uterino. Recentemente, vem se especulando sua relação com o câncer de cavidade oral e orofaringe. A possível relação do HPV na etiologia das lesões cancerizáveis e no câncer oral foi primeiramente estimada em 1983, quando foram descritas alterações citopáticas de HPV(coilócitos) em canceres orais, idênticas àquelas previamente encontradas em lesões pré-cancerosas e carcinomas de cérvice uterina (Goodman, 2007) . No decorrer dos anos, vários estudos tem identificado o papel dos HPVs no carcinoma e em outras lesões orais potencialmente malignas (Bouda, 2000). Outros trabalhos indicam que HPV é um fator de risco para o carcinoma epidermoide oral (Miller, 2001) A incidência por câncer de colo uterino torna-se evidente na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até atingir seu pico geralmente na faixa de 45 a 49 anos. Com aproximadamente 530 mil casos novos por ano no mundo, o câncer do colo do útero é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres, sendo responsável pelo óbito de 265 mil mulheres por ano (WHO, 2012) No Brasil, em 2014, foram diagnosticados 15.590 casos novos, com um risco estimado de 15,3 casos a cada 100 mil mulheres. Em 2012, esta neoplasia representou a terceira causa de morte por câncer em mulheres com óbitos, representando uma taxa de mortalidade ajustada para a população mundial de 4,72 óbitos para cada 100 mil mulheres(INCA 2014). As maiores taxas de incidência encontram-se na America do Sul, Caribe, Africa subSaárica e no Sul e Sudeste da Asia. Nos países desenvolvidos as taxas médias de incidência anuais ajustadas por idade são baixas (menores que 14/100.000)(Parkin 2002). Existem aproximadamente 40 subtipos de HPV capazes de infectar por meio da exposição do trato genital durante o ato sexual. Nesta perspectiva, os vários tipos de HPV já identificados, capazes de infectar o trato genital, foram agrupados em tipos de baixo risco(6, 11, 26, 42, 44, 54, 70, 73), e alto risco( 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 55, 56, 58, 59, 66, 68) para o desenvolvimento de câncer cervical uterino (Kojima 2002). Os de baixo risco causam vários tipos de lesões benignas, como verrugas, papilomas laríngicos e tumores ano-genitais, gerando por vezes comichão e até sensações dolorosas. Os tipos de HPV de alto risco, por sua vez, também podem provocar tumores benignos em mucosas; sendo, porem estes tipos bem mais carcinogênicos que os anteriores, principalmente os associados ao câncer do colo do útero (Rosa 2008). O reconhecimento das papilomaviroses como um importante agente etiológico de cânceres humanos tem aumentado sua importância médica e estimulado pesquisas no desenvolvimento de estratégias para rastreamento, diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças associadas ao HPV (Xavier 2007). JUSTIFICATIVA Apesar dos importantes avanços no entendimento das neoplasias, o câncer representa-se como a segunda principal causa de morte por doenças no mundo, sendo diagnosticados cerca de 10 milhões de novos casos a cada ano (Schiffman 2007). O Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2008) informa que, no Brasil, o câncer de colo de útero constitui um dos mais importantes problemas de saúde pública, apresentando altas taxas de mortalidade em mulheres de várias faixas etárias. O HPV, por sua vez, é considerado o agente viral mais frequentemente transmitido por via sexual e é considerado necessário, mas não suficiente para causar o câncer cervical (Van, 1996) Seu controle é de grande importância para prevenção do câncer de colo uterino, de modo que, segundo estimativas do Centers of disease control and prevention (CDC) de 1996, cerca de 500.000 a 1 milhão de novos casos de infecção por HPV ocorrem anualmente em todo mundo, com 11.100 casos registrados de HPV nos EUA e aproximadamente 3.670 mortes estimadas em 2007, em virtude do câncer cervical associado ao HPV (Trottier 2006). Evidências obtidas usando testes de PCR de uma vasta coleção internacional de tipos de canceres uterinos, mostraram que o DNA do HPV estava presente em 92,9 a 97 por cento dos casos de câncer cervical invasivo. Deste modo, são pertinentes os estudos que demonstrem os tipos e subtipos de HPV para contribuir na busca de um melhor tratamento (Gonzalez, 2006). OBJETIVOS Objetivo Primário Estimar a frequência do HPV 16 presentes em amostras de câncer cervical uterino de mulheres atendidas em unidades selecionadas da rede de saúde pública de Belém, bem como conhecer a prevalências de fatores de risco associados. Objetivo Secundário - Descrever o perfil epidemiológico da população de estudo; - Descrever a frequência de fatores de risco associados (tabagismo, iniciação sexual, idade, número de parceiros e uso de hormônios); - Estimar a freqüência de infecção pelo HPV 16 em mulheres atendidas. MATERIAL E MÉTODOS A população de estudo foi composta por mulheres com câncer de colo uterino atendidas na rede pública de saúde de Belém. Foi coletado material tumoral a partir de biópsias de tumores cervicais. Foram incluídas mulheres com câncer cervical a partir de estádio IB1. Foi aplicado um questionário epidemiológico, após a assinatura do TCLE, contendo perguntas sobre características sócio-demográficas, acesso aos serviços de saúde e fatores de risco associados ao câncer cervical. As amostras de tumor foram obtidas a partir de biópsias realizadas ambulatorialmente. O material foi armazenado em criotubos em 1mL de RNA Later e enviadas ao Laboratório de Citogenética Humana do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA. Critério de Inclusão Foram incluídas pacientes portadoras de câncer de colo de útero nos estádios IB1, IB2, IIA, IIB, IIIA, IIIB, IVA e IVB e que concordaram em participar da pesquisa, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Critério de Exclusão Foram excluídas as pacientes que já tiverem iniciado algum tipo de tratamento radio ou quimioterápico, as pacientes com câncer cervical estadio 1A, e aquelas que não concordarem em participar da pesquisa. Risco Pode ocorrer sangramento local no momento da coleta de material. Nesse caso, é feito um tamponamento vaginal com um tampão de gaze e a solução de Monsel. Isolamento (Extração de DNA) Foi realizado o isolamento do DNA genômico, foi utilizado o kit do fabricante (Qiagen) seguindo o protocolo desse kit sob nº de catálogo 1306 QL amp mini and blood (qiagen). Ao final do processo de isolamento o DNA foi quantificado em espectrofotômetro Nanodrop e feito um gel de agarose para verificar se o DNA genômico extraído está em boas condições de integridade. Amplificação do DNA viral e sequenciamento O DNA viral foi amplificado por PCR utilizando-se o conjunto de primers PGMY9/PGMY11, conforme protocolo descrito a seguir. Será utilizada a Taq platinum da life Technologies. Os componentes da solução da reação são 2,5 uL de tampão 10x; 0,5uL de MgCl2, cujo estoque está a 50mM; 0,2 uL do mix de dNTP, cujo o estoque está a 2 mM; 1uL da mistura dos iniciadores PGMY9 e PGMY11, cada; e 0,2 uL de Taq Platinum DNA polimerase cujo estoque está a 5U/uL e aproximadamente 100ng de DNA genômico. O mix final é de 25 uL para cada amostra. As ciclagens são as seguintes: 94ºC por 5min, seguindo-se de 40 ciclos de 94ºC por 40 segundos, ºC por 40 segundos e 72ºC por 40 segundos; e por fim 72ºC por 5 minutos. As amostras são posteriormente conservadas a -20ºC. Para a confirmação da presença dos produtos de PCR, 4uL de cada reação foram corridos em géis de agarose 1,5% (a 4volts/cm) durante 40 minutos. Os produtos amplificados, de aproximadamente 450 pares de base, foram purificados com o kit Ilustra GFX PCR and DNA Gel Band Purification Kit, de acordo com o protocolo recomendado pelos fabricantes. Uma alíquota de 4uL de produto amplificado e purificado foi posteriormente corrida em gel de agarose (1,5%) para confirmar a presença do produto a 4volts/cm por 40 minutos. Os produtos purificados foram a seguir sequenciados com a plataforma de sequenciamento automático ABI Prism 3130XL (Applied Biosystems), de acordo com o protocolo recomendado pelos fabricantes, nos dois sentidos. Nested PCR Quando a PCR utilizando o conjunto de Primers PGMY9/PGMY11 não amplificou alguns fragmentos, seguimos para uma PCR nested utilizando outro conjunto de primers: GP+/GP6+, que são iniciadores internos do fragmento gerado pela PCR PGMY9/PGMY11, e o protocolo é descrito a seguir. Primeiro foi feita a PCR PGMY9/11 novamente. Essa reação não é corrida em gel de agarose para evitar possível contaminação com a abertura do tubo durante a aplicação da amostra. Essa reação, após a sua conclusão é centrifugada brevemente e diluída 50 vezes com agua molecular grade, e essa diluição é utilizada como molde de amplificação. Para PCR GP5+/6+: Os componentes da solução da reação são: 2,5 uL de tampão 10x; 1,5uL de MgCl2, cujo estoque está a 50mM; 1uL de mix dNTP, cujo estoque está a 2mM; 2,5uL de cada iniciador, cujo estoque está a 10uL; e 0,3uL de Taq platinum DNA polimerase cujo estoque está a 5U/mL e 2uL do produto de PCR PGMY9/11 diluído (1:50). O mix final é de 20uL para cada amostra. As ciclagens são as seguintes: 94°C Por 5 minutos, seguindo-se de 40 ciclos de 94°C por 40 segundos, 40°C por 20 segundos e 72°C por 40 segundos; e por fim 72°C por 3 minutos. As amostras são posteriormente conservadas a -20°C. O produto gerado é de aproximadamente 110pb. Após a reação de Nested-PCR são seguidos os mesmos passos de verificação do produto por gel sendo aplicados simultaneamente em poços separados 4 uL da reação com PGMY e da reação com GP5/6+. A seguir os produtos de PCR são purificados e sequenciados nos dois sentidos com os respectivos primers. Purificação de DNA a partir de tecidos Primeiramente deve-se extrair a amostra do tecido ou remove-la do deposíto. Determinar a quantidade de tecido. Cortar 25mg de tecido em pedaços pequenos. Colocar em microtubo de 1,5 ml e adicionar 180 ul de tampão de ATL. Paosteriormente, Adicionar 20 ul de proteinase K, vortexar por 15s e incubar overnight a 56°C em banho de água com agitação ou em termobloco com agitação até que o tecido seja completamente lisado. Depois de lisado, dar Short spin no microtubo para remover gotas do interior da tampa. Adicionar 200ul de tampão AL, vortexar por 15s e incubar a 70°C por 10 min. Após a incubação, dar short spin no microtubo para remover gotas do interior da tampa. Adicionar 200ul de etanol (96-100%), vortexar por 15s. Short spin no microtubo para remover gotas do interior da tampa. Aplicar a mistura (excluindo o precipitado), cuidadosamente, à coluna de spin em tubo coletor de 2ml limpo. Fechar a tampa e centrifugar a 8000 rpm por 1 minuto. Colocar a coluna em tubo coletor de 2 ml limpo e descartar o tubo coletor contendo o filtrado. Abrir cuidadosamente a coluna e adicionar 500 ul de tampão AW1 sem molhar a borda do tubo. Fechar a tampa e centrifugar a 8000 rpm por 1 minuto. Colocar a coluna em tubo coletor de 2 ml limpo e descartar o tubo coletor contendo o filtrado. Abrir cuidadosamente a coluna e adicionar 500ul de tampão AW2 sem molhar a borda do tubo. Fechar a tampa e centrifugar na velocidade máxima de 14000 rpm por 3 minutos. Colocar a coluna em tubo novo coletor de 2 ml e descartar o tubo coletor com o filtrado. Centrifugar na velocidade máxima 14000 rpm por 1 min. Colocar a coluna em microtubo limpo de 1,5 ml e descartar o tubo coletor contendo o filtrado. Abrir cuidadosamente a coluna de spin e adicionar 100 ul do tampão AE ou água destilada. Incubar à TA por 10 min e, em seguida, centrifugar a 8000 rpm por 1 min. O Dna eluído é estocado em microtubo de 1,5mL. Análise de dados Os dados epidemiológicos foram armazenados no aplicativo Epi-Info. Os resultados para o genótipo do HPV foram planilhados utilizando-se como variável de identificação o número de prontuário das pacientes e esse banco será relacionado ao conjunto de dados epidemiológicos obtidos na entrevista. O conjunto total de dados foi analisado utilizando-se o aplicativo estatístico Stata 9.0 para obtenção do perfil sócio demográfico e a prevalência de fatores de risco na população de estudo, a distribuição dos tipos de HPV encontrados e o tempo médio de acesso ao tratamento a partir do exame citopatológico. Resultados Foram coletadas biópsias de 317 mulheres, sendo todos os dados epidemiológicos tabulados. Com relação à faixa etária, 240 mulheres (75,7%) apresentaram idades acima dos 39 anos. Já em relação à situação conjugal, 182 (57,41%) eram casadas ou possuíam união consensual. Grande parte da população, 257 (81,07%) foi composta por mulheres que se autodeclaram com a cor da pele parda/morena/mulata/mestiça e 241 (76,03%) declararam ter escolaridade fundamental incompleta. A maioria das mulheres (64,66%), um total de 205, relatou ter sido submetida a mais de quatro partos, sendo que a idade destas no nascimento do filho primogênito variou entre 16 a 20 anos em 185 mulheres (59,29%). Em relação ao tabagismo, 168 mulheres (52,99%) relataram ser fumantes ou exfumantes. Quanto ao exame preventivo, 211 mulheres (66,56%) afirmaram ter feito o exame, sendo que 134 delas (63,51%) não apresentavam periodicidade na realização deste exame. Além disso, 173 mulheres (54,57%) afirmaram não conhecer o exame Papanicolau. Em relação aos exames requisitados, 211 mulheres (66,56%) afirmaram que nenhum exame fora solicitado em consultas anteriores ao diagnóstico. Dentre estes, o papanicolau, a colposcopia e a ultrassonografia não foi solicitado para 218 (68,77%), 263 (82,97%), 294 (92,74%) das mulheres, respectivamente. Das mulheres que relataram a solicitação de exames durante a consulta, 43 (82,69%) relataram que o pagamento foi feito pela paciente e não pelo SUS, das quais 61,54 % fizeram o exame fora da cidade que residem. A maior parcela das mulheres, 304 (95,9%) mulheres realizaram biópsia após a consulta. No entanto, apenas 98 (32,24%) foram realizadas pelo SUS. Em relação ao estadiamento clínico, 154 (48,58) das mulheres encontravam-se em estadio 2 da doença. Identificação dos tipos de HPV Das 317 biópsias coletadas, todas tiveram o DNA extraído e já foram identificados o tipo de HPV presente (Gráfico 1). Foram identificadas: 67.08% com HPV 16; 9,09% com HPV 18; 3,19% das mulheres com HPV 31, 33, 35 e 45. O restante somou 11,06% dos tipos de HPV (52, 59, 58, 69, 73, 51, 56, 39, 26, 11, 53,66, 67, 68, 70 e 82). Gráfico 1. Percentual de HPV em tumores de colo uterino. DISCUSSÃO Carvalho et al. (2003) e Del Prete et al. (2008) encontraram a maior prevalência de HPV nas mulheres entre 20 anos e 30 anos (45,7% e 32,6%, respectivamente), enquanto Dunne et al. (2007) e Selors et al. (2000) observaram as mais altas taxas na faixa etária de 20 anos a 24 anos (44,8% e 24%, respectivamente). No entanto, nosso estudo demonstrou um pico de prevalência em mulher na faixa etária acima de 39 anos (cerca de 75,7%). Naucler et al. (2007) consideram que a maior especificidade do teste de DNA- HPV ocorre em mulheres com mais de 35 anos, pois embora a prevalência tenha seu pico nas mulheres em torno de 20 anos de idade, esta infecção é geralmente transitória neste período e o desenvolvimento carcinogênico resulta da infecção HPV persistente com replicação viral sustentada no epitélio escamoso, apresentando um pico de incidência do câncer cervical por volta dos 40 anos de idade. Vários fatores sócio-demográficos e comportamentais são classicamente descritos como fatores de risco para o câncer de colo uterino. Diversos autores apontam risco aumentado para lesões cervicais em mulheres com menor escolaridade (Adam 2000; Khan 2005). Kornya et al. (2002) encontraram maior prevalência da infecção HPV nas mulheres com menor escolaridade. Em nosso estudo obtivemos o mesmo resultado, uma maior prevalência desta infecção em mulheres que declararam ter ensino fundamental incompleto (76,03%). Entretanto, Adam et al. (2000) não encontraram associação entre o nível de educação e a infecção pelo HPV. Sendo assim, o estudo desta doença não pode ser analisado com apenas um dado isolado, uma vez que provavelmente há uma associação com outros fatores de risco. Outro fator sócio-demográfico a ser analisado é a etnia. Em nosso estudo, 81,07% das mulheres se autodeclararam com a cor da pele parda/morena/mulata/mestiça. Shields et al. (2004) observaram aumento do risco da infecção HPV em mulheres negras e hispânicas, atribuindo isso a uma característica socioeconômica e não genética. O risco de desenvolvimento de câncer cervical nessas mulheres, entretanto, é menor do que nas de etnia caucasiana (SHIELDS, 2004). A multiparidade, o risco de infecção pelo HPV e o desenvolvimento o câncer do colo uterino estão intimamente relacionadas (Castellsague, 2002). Adam et al. (2000) demonstraram que mulheres com três ou mais gestações foram consideradas de risco para a infecção HPV. Quanto ao câncer cervical, Castellsagué e Muñoz (2003) observaram um aumento do risco de câncer cervical em mulheres com maior número de gestações completas após ajuste para a idade de início da atividade sexual e o número de parceiros sexuais. A explicação para tal resultado seria o fato de que com múltiplas gestações o epitélio de transição do ectocérvice é mantido por muitos anos, ficando mais exposto ao vírus (Castellsague, 2003; Muñoz, 2006). Sendo assim, em nosso estudo; 64,66% das mulheres, um total de 205; relatou ter tido mais de 4 gestações, sendo que 185 mulheres (59,29%) teriam tido o primogênito entre 16 a 20 anos. Parece também haver uma relação entre o início precoce da atividade sexual e um maior risco de aquisição da infecção HPV, possivelmente pelo aumento do tempo de exposição ao vírus (NAUD et al., 2006). O tabagismo é considerado um dos mais importantes fatores de risco para o câncer cervical (CASTELLSAGUÉ et al., 2002; BASEMAN et al., 2005; MUÑOZ et al., 2006; CAVALCANTI et al., 2000; DEFAUX et al., 2004). De acordo com Geller et al. (2008) isso se deve a vários mecanismos: presença de metabólitos carcinogênicos do tabaco nas secreções cervicais, imunossupressão levando à persistência viral e dano genômico à célula por genotoxinas. Em estudos brasileiros, Cavalcanti et al. (2000) e Naud et al. (2006) também observaram que as mulheres fumantes apresentaram maior risco de desenvolvimento de câncer cervical. Naud et al. observaram que uma carga tabágica de no mínimo 100 cigarros na vida já é um forte preditor de positividade para o HPV. Shields et al. (2004), no entanto, não verificaram relação entre o hábito de fumar e a soropositividade para HPV. Neste trabalho, 168 mulheres (52,99%) relataram ser fumantes ou ex-fumantes, corroborando com os estudos citados acima. Neste estudo foi avaliado, além dos fatores de risco, a frequência do HPV16 em mulheres submetidas a tratamento contra o câncer de colo uterino nas redes públicas de Belém. Das 317 biópsias coletadas, foram identificadas: 67.08% com HPV 16; 9,09% com HPV 18; 3,19% das mulheres com HPV 31, 33, 35 e 45. O restante somou 11,06% dos tipos de HPV (52, 59, 58, 69, 73, 51, 56, 39, 26, 11, 53,66, 67, 68, 70 e 82). De acordo com Zampirolo et al. (2007), a frequência do HPV 16 foi semelhante nos estados do Rio Grande do Sul (68,6%) e em Santa Catarina (67,2%) (Dunne et al., 2007). Esta predominância foi observada entre os diferentes resultados da citologia, dados plenamente concordantes com a literatura mundial e nacional (MEIJER, 2000; ROUSSEAU, 2001; AULT, 2007; NAUCLER, 2007; DEL PRETE, 2008). O HPV 16 é o mais comum nas pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul (KORNYA, 2002), Natal (CARVALHO, 2003), Rio de Janeiro (DEL PRETE, 2008), Caxias do Sul (ROUSSEAU, 2001), Distrito Federal (TROTTIER, 2006) e Ouro Preto (BASEMAN, 2005). Em metanálise com amostras de mulheres apresentando citologias normais, provenientes de cinco continentes, o HPV 16 foi detectado em 22,5% das mulheres HPV positivas. O segundo genótipo mais comum na prevalência mundial foi o HPV 18 (SELLORS, 2000), porém com algumas variações geográficas (FRANCO, 2007). A coinfecção HIV e HPV é um fenômeno completamente previsível, tendo em vista que os fatores de risco para essas duas infecções são bastante similares. Múltiplos parceiros sexuais, idade precoce para a primeira relação sexual, sexo com homens que tiveram múltiplas parceiras, baixo nível socioeconômico e prática sexual sem proteção, são importantes fatores de risco comuns às duas infecções virais. Vários estudos na literatura referenciam a forte associação existente entre a oncogênese e a progressão neoplásica relacionada ao HPV e ao sistema imunológico (NICOL et al., 2005). Porém, em nosso estudo não foi verificado esta similaridade. De 2 a 10 pacientes apresentaram coinfecção, não sendo estatisticamente significativo para ser apresentado como fator de risco. Estudos prospectivos serão importantes para estabelecer os fatores que determinam a incidência, a dinâmica da infecção e a persistência do HPV nas diferentes faixas etárias a fim de que se possam adotar medidas preventivas que contemplem adequadamente todas as fases de vida da mulher. PRINCIPAIS PROBLEMAS E DIFICULDADES PARA A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES Não foram encontradas dificuldades que comprometessem o transcorrer do projeto. PUBLICAÇÕES Até o presente momento, não houve publicações apresentações em eventos científicos com este projeto. PARECER DO ORIENTADOR tampouco A aluna desenvolveu de forma satisfatória as atividades do projeto de pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adam E, Berkova Z, Daxnerova Z, Icenogle J, Reeves WC, Kaufman RH. Papillomavirus detection: demographic and behavioral characteristics influencing the identification of cervical disease. Am J Obstet Gynecol 2000; 182(2): 257-264. Ault KA; Future II Study group. Effect of prophylactic Human papillomavirus L1virus-like-particle vaccine on risk of cervical intraepithelial neoplasia grade 2, grade 3, and adenocarcinoma in situ: a combined analysis of four randomized clinical trials. Lancet 2007; 369: 1861–1868. Baseman JG, Koutsky LA. The epidemiology of Human papillomavirus infections. 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