1.2. Agronegócio do milho no Brasil

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A Cultura do Milho Irrigado
por hectare (Resende et al., 1990) e que é possível a obtenção de
produtividades em torno de oito a nove toneladas de grãos por
hectare, essa cultura deixa de ser vista apenas como cultivo para
rotação e passa, então, a ser economicamente viável.
Entretanto, as tecnologias hoje recomendadas para a cultura do milho
são quase todas destinadas a condições de sequeiro, em que a
expectativa de produção está em torno de quatro a seis toneladas por
hectare. O grande risco de ocorrência de veranicos leva o agricultor a
investir menos em tecnologia, uma vez que não há garantia de
produção estável. Com a aquisição dos equipamentos de irrigação,
adicionam-se aos custos de produção os custos relativos ao consumo
de energia, investimento, manutenção e operação do sistema de
irrigação. Porém, a disponibilidade de água deixa de ser um fator
limitante, permitindo ao produtor o uso de tecnologia mais avançada,
visando a obtenção de altas produtividades de forma sustentável,
sistema aqui denominado de agricultura irrigada. Portanto, essa
concepção é diferente de agricultura de sequeiro mais água,
normalmente praticada na grande maioria dos sistemas irrigados.
A irrigação permite a suplementação de água nos períodos de
estiagem e a utilização contínua da área, possibilitando de duas a três
safras por ano, dependendo da espécie cultivada. Portanto, o milho
cultivado num sistema de sucessão e rotação oferece algumas
vantagens em comparação com outras gramíneas; por ser uma cultura
já tradicionalmente cultivada no período de verão, produz boa
quantidade de restos culturais, que podem ser incorporados ou
deixados na superfície, em plantio direto. Entretanto, a rentabilidade
da cultura do milho irrigado é baixa, quando comparada com culturas
como hortaliças, frutas, café e outras de maior valor comercial.
1.2. Agronegócio do milho no Brasil
A produção mundial de milho na safra 1998/99 atingiu 604,8 milhões
de toneladas. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, superado
pelos Estados Unidos e pela China, os quais são responsáveis por 70%
da produção mundial. O consumo mundial é estimado em cerca de
583 milhões de toneladas, dos quais 183 milhões são consumidas nos
Estados Unidos, que também são os maiores exportadores desse
cereal. Os estoques mundiais vinham aumentado nos últimos anos,
repercutindo negativamente sobre os preços e as cotações do milho
na Bolsa de Chicago, que são afetados principalmente pelas variações
nesse estoque. Entretanto, recentemente, esse estoque reduziu-se
consideravelmente, provocando aumento dos preços.
14
A Cultura do Milho Irrigado
Nordeste, onde condições desfavoráveis de clima determinam baixos
rendimentos, no resto do país, a utilização de insumos modernos ainda
é relativamente baixa. Estima-se que, da área total cultivada, somente
em cerca de 70% são utilizadas sementes melhoradas; em 25 a 30%
é utilizado o controle de plantas daninhas; em cerca de 30% é
utilizado o tratamento de sementes contra pragas do solo, em 30% é
utilizada alguma forma de controle de pragas na lavoura. O uso de
fertilizantes nas lavouras de milho ainda é baixo, cerca de 217 kg ha-1,
contra 294 kg ha-1 aplicados na soja.
O grande desafio para a elevação do rendimento agrícola e o aumento
da competitividade do milho produzido no Brasil é o ajuste de sistemas
de produção, de forma a atender diferentes condições produtivas e de
seu uso. Dentre esses aspectos, podem ser citados: produção de
forragem para alimentação de bovinos; plantio direto; safrinha;
produção de grãos em condições de estresse mineral e de clima e com
maior resistência a pragas e doenças. Além disso, é necessário um
grande esforço na transferência e ajuste dos conhecimentos
existentes para sua utilização pela grande maioria dos agricultores,
que ainda não os incorporaram aos seus sistemas de produção,
principalmente o irrigado.
Em algumas regiões do Sul, do Triângulo Mineiro, de São Paulo e, de
maneira geral, no Centro-Oeste, são observados os maiores
rendimentos da cultura do milho, no Brasil. Esses rendimentos estão
geralmente associados a maiores lavouras, de orientação comercial,
onde normalmente é conduzido um sistema de rotação milho-soja e é
mais freqüente o uso do plantio direto.
A agricultura de subsistência, por não ter sido capaz de incorporar
essas modificações e por ser cada vez mais onerada pela escassez de
mão-de-obra, tem sua competitividade diminuída e reduzida sua
importância no abastecimento do mercado brasileiro. Existem
exceções a essa regra, como a região Oeste de Santa Catarina, onde,
com o estímulo comercial da criação de suínos e aves, os pequenos
produtores têm conseguido incorporar novas tecnologias e obtido
ganhos de produtividade.
1.3. Produção potencial da cultura do milho
A produção de uma cultura é função principalmente de dois conjuntos
de fatores: os ambientais e os genéticos. Dentre os fatores
ambientais, pode-se destacar principalmente o clima (radiação solar,
temperatura etc.), nutrientes, água e outros. Alguns fatores
ambientais podem ser controlados através do manejo. A genética é
16
A Cultura do Milho Irrigado
devido aos altos investimentos no sistema de irrigação e ao elevado
custo operacional da irrigação (30 a 35 % do custo de produção de
grãos), devem-se também utilizar cultivares de milho com altos
potenciais de produção, geralmente híbridos simples ou triplos. De
modo geral, para a cultura do milho, o custo de produção de uma
lavoura irrigada é bem mais elevado que em condições de sequeiro. Os
investimentos e a energia representam um forte componente nos
custos.
Na natureza, a energia solar é fixada como biomassa, via processo de
fotossíntese, o qual pode ser sumarizado pela seguinte equação:
H2O + CO2 ——— luz ——-à
à CH2O + O2
Diariamente, uma certa quantidade do CH2O é utilizada para a
respiração de manutenção da cultura que, para os cereais,
corresponde a aproximadamente 1,5% do peso da matéria seca.
Conseqüentemente, a porção remanescente dos carboidratos,
(CH2O)rem, pode se representada pela seguinte equação:
Em que:
(CH O)rem – carboidrato remanescente
2
A = assimilação
W = peso da matéria seca
Para cereais, 30 % dessa porção remanescente são perdidos para a
síntese das estruturas da planta. Portanto, a produção da cultura
pode ser sintetizada pela equação:
produção da cultura = assimilação – respiração
A produção potencial da cultura do milho, em condições totalmente
controladas, em que todos os fatores de produção estão
disponibilizados em seus níveis ótimos, pode alcançar quase 30
toneladas de grãos por hectare. Atualmente, essas condições somente
podem ser alcançadas em condições de pesquisa.
Entretanto, em concursos de produtividade da cultura de milho, no
Estado de Minas Gerais, coordenados pela Emater–MG, nos últimos
dez anos, pequenos e médios produtores têm alcançado
produtividades de até 16 toneladas de grãos por hectare, enquanto a
produtividade média está pouco acima de 6 toneladas (Figuras 1.1 e
1.2 e Tabela 1.1). Contudo, as produtividades médias de lavouras no
estado e no país, apesar de virem crescendo ao longo dos anos, estão
muito aquém desses valores (Figura 1.2). Essa variação nas
18
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 1.2. Evolução da produtividade da cultura do milho no Estado de Minas
Gerais, da safra total (1ª e 2ª safras), de 1990/91 a 2000/01 (Conab, citada
por RC.W Consultores Ltda., 2003).
Tabela 1.1. Concurso de produtividade de milho em Minas Gerais (Emater–MG,
1993, 1995, 1996 e 1998).
1.4 . Fatores limitantes
Lei do Mínimo – Justus von Liebig (1803–1873), ao analisar amostras
de plantas, desenvolveu a base para conceitos modernos em nutrição
de plantas. Liebig propôs a lei do mínimo, afirmando que o
crescimento da planta é proporcional à quantidade disponível do
nutriente mais limitante. A expansão desse conceito levou à inclusão
de água, temperatura e condições do solo como possíveis fatores
limitantes, juntamente com os nutrientes para as plantas. Essa teoria
sugere que os aumentos do crescimento das plantas são obtidos pelo
20
A Cultura do Milho Irrigado
adequada, para se alcançarem bons resultados. Num sistema de
produção irrigado, ocorrem muitas interações entre os diferentes
fatores de produção, como, por exemplo, a dinâmica de água e
nutrientes, e a interação entre eles são muito afetadas pelo conteúdo
de umidade no solo. Portanto, recomenda-se seguir as recomendações
obtidas através da pesquisa para cada ecossistema ou condição.
Ainda com relação à agricultura irrigada é necessário ressaltar dois
pontos: o primeiro é o desenvolvimento de um sistema de produção
para cada cultura, sob irrigação; o segundo é um sistema de
exploração agrícola para uma determinada gleba, que leve em conta a
rotação e a sucessão de culturas, o manejo da palhada, o manejo
integrado de pragas, doenças e o controle de plantas daninhas.
1.6. Produtividade e rentabilidade de outras culturas
O custo de um sistema de irrigação, incluindo captação de água,
distribuição e equipamento de irrigação, é relativamente alto e, para
que o empreendimento seja rentável, é importante que seja utilizado
com culturas mais rentáveis, chamadas “cash crops”. Essas culturas
geralmente são frutas, hortaliças, flores ou mesmo o café.
Os grãos, em geral, oferecem menor rentabilidade; no entanto, os
programas de irrigação na década de setenta e oitenta favoreceram o
crescimento da cultura do feijão irrigado, no Brasil. Naquela ocasião, a
produção de feijão era muito instável, sujeita a flutuações climáticas
e, a partir de então, a cultura de feijão tornou-se um empreendimento
com alto retorno econômico. Entretanto, com o crescimento da área
irrigada, houve uma estabilidade da produção e, conseqüentemente,
dos preços desse produto. O milho irrigado, para a produção de grãos,
apesar da menor rentabilidade, oferece maior vantagem comparativa
que o feijão, hortaliças e outras, no plantio de verão, devido à
possibilidade de ocorrência de vários dias consecutivos com chuva.
Portanto, no período chuvoso, a cultura do milho é mais adequada que
as demais, principalmente pela menor incidência de doenças e por ser
naturalmente uma cultura de verão. A cultura do milho deixa também
um grande volume de palhada no solo, contribuindo para o aumento da
matéria orgânica nesses sistemas intensivos de produção. Além disso,
nesse período, a irrigação é apenas suplementar, reduzindo
consideravelmente os custos operacionais. Portanto, a cultura do
milho se torna uma boa alternativa em um sistema de produção
irrigado, em sucessão e rotação com o feijão e hortaliças.
A Tabela 1.2 apresenta um estudo comparativo da produtividade
física de diversas culturas, incluindo grãos, frutas, hortaliças, flores e
22
A Cultura do Milho Irrigado
1.7. Literatura citada
BRASIL.Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária. Secretaria de
Desenvolvimento Rural. Programa de apoio à produção e exportação
de frutas, hortaliças e flores ornamentais – FRUPEX - Programa de
trabalho. Brasília, 1993. 30p.
EMATER-MG. Resultados do concurso estadual de produtividade e
panorama do milho no Estado de Minas Gerais 92/93. Belo Horizonte,
1993. 45p.
EMATER-MG. Resultados do concurso estadual de produtividade e
panorama do milho 94/95. Belo Horizonte, 1995. 32p.
EMATER-MG. Resultados do concurso estadual de produtividade e
panorama do milho 95/96. Belo Horizonte, 1996. 27p.
RESENDE, M.; FRANÇA,G.E.; COUTO, L.. Cultura do milho irrigado.
Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 2000. 39p. (EMBRAPA-CNPMS.
Circular Técnica, 6).
PINAZZA, L.A. Resgatando o sonho. Agroanalysis, Rio de Janeiro,
v.19, n.1, p.12-17, 1999.
RC. W CONSULTORES LTDA. RCW radar: banco de dados do milho Minas Gerais: histórico da safra total de milho 1990 a 2001.
Disponível em : http://www.rawconsultores.com.br/radamilho /
ban_1B09.htm Acesso em: 10 de mar. 2003.
RESENDE, M.; FRANÇA,G.E.; ALVES,V.M.C. Considerações técnicas
sobre a cultura do milho irrigado. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS,
1990. 24p. (EMBRAPA-CNPMS.Documentos,7).
24
A Cultura do Milho Irrigado
A agricultura começou ao longo do Nilo, 6.000 anos A. C., e na
Mesopotâmia. As técnicas de conservação e limpeza de canais já
eram praticadas no ano 4.000 A. C. A irrigação por inundação já era
praticada ao longo do rio Indus, 2.500 anos A. C. Na China, há
informações relativas à prática de agricultura irrigada desde o ano
2.627 A.C. e, no Peru, desde 1.000 anos A. C. Os chineses, egípcios,
maias, astecas e incas foram civilizações que alcançaram elevado
desenvolvimento cultural e que declinaram até a quase total extinção
quando fracassaram as colheitas agrícolas, a água escasseou e o solo,
empobrecido, se desertificou (Gulhati & Smith,1967).
Desde essa remota origem, a agricultura tem sofrido uma evolução
contínua, procurando sempre favorecer a espécie de seu interesse. A
agricultura dita moderna surgiu nos séculos XVIII e XIX, a partir da
intensificação dos sistemas rotacionais com plantas forrageiras, e da
fusão das atividades agrícola e pecuária. Nessa fase, conhecida como
Primeira Revolução Agrícola, a introdução de plantas forrageiras nos
sistemas produtivos, além de servir como fonte alimentar para os
animais, possibilitou melhorias na fertilidade dos solos, principalmente
quando se empregaram plantas leguminosas, capazes de fixar o
nitrogênio atmosférico (Veiga, 1991).
Em meados do século XIX, o químico alemão Justus von Liebig (18031873), com base em experimentos laboratoriais, afirmava que todas
as exigências nutricionais das plantas poderiam ser supridas por um
conjunto balanceado de substâncias químicas. Suas descobertas
introduziram a prática da adubação química na agricultura e abriram
um amplo mercado para o setor industrial. Para os agricultores, esses
produtos possibilitaram a substituição da fertilização promovida pela
rotação de culturas e pelo esterco animal, trazendo as seguintes
vantagens: simplificação do processo produtivo e aumento da
produtividade das lavouras (Romeiro, 1992).
Nas primeiras décadas do século XX, além da fertilização dos solos,
outras etapas do processo produtivo passaram a ser assumidas ou
apropriadas pelo setor industrial emergente. Nessa fase, os sistemas
de cultivos rotacionais, integrados com a produção animal, foram
substituídos, em larga escala, por sistemas especializados, baseados
no emprego crescente de energia fóssil e de insumos industriais, como
os adubos químicos, os agroquímicos, os motores de combustão
interna e as variedades vegetais de alto potencial produtivo. Esse
conjunto de inovações, que mais tarde caracterizou o padrão
produtivo da Segunda Revolução Agrícola, elevou de forma
exponencial tanto os rendimentos físicos das lavouras quanto a
produtividade do trabalho (Romeiro, 1992).
26
A Cultura do Milho Irrigado
Santos (1998), a área irrigada brasileira, embora represente apenas
cerca de 5% da área total cultivada, contribui com 16% da produção
agrícola e representa 35% do valor total da produção. Pode-se,
portanto, concluir que cada hectare irrigado equivale a 3 ha de
sequeiro, em produtividade física, e a 7 ha de sequeiro, em
produtividade econômica.
A área total irrigada no mundo, em 1984, era estimada em 221 Mha,
equivalente a 464 m2/habitante, e, em 1995, a área total foi estimada
em 255 Mha, equivalendo a 449 m2/habitante. Enquanto a área total
irrigada cresceu 15,6%, a área “per capita” decresceu 3,2% no
mesmo período (Christofidis, 1998). Ainda segundo a mesma fonte, na
Conferência Mundial sobre Alimentação, promovida pela FAO, em
1974, havia uma previsão de que a fome seria erradicada no mundo
em dez anos. Na conferência seguinte realizada pela FAO, sobre o
mesmo tema, em 1996 (22 anos mais tarde), constatou-se a
existência de 840 milhões de pessoas famintas no globo, equivalente a
14,5% da população mundial, de 5,8 bilhões naquele ano. Estudo
conduzido pela PAI (“Population Action International”), citado pelo
autor, estima que haverá um contingente de famintos no mundo da
ordem de 2,5 bilhões, em 2025.
Em relatório apresentado pela ICID (Comissão Internacional de
Irrigação e Drenagem), na reunião de Cape Town, em outubro de
2000, para se prevenir contra o cenário de fome previsto para 2025,
será necessário aumentar a produção de alimentos no mundo em
100% nos próximos 25 anos, o que significará um incremento da
ordem de 15 a 20% no suprimento de água para a agricultura.
Considerando a baixa produtividade comparativa da agricultura de
sequeiro e o fato de que os excedentes comercializáveis de alimentos,
em âmbito mundial, representam apenas 10% da produção global, a
grande maioria desse incremento de produção deverá ter sua origem
na agricultura irrigada.
2.3. Sustentabilidade agrícola
Do ponto de vista ambiental, a substituição dos sistemas de rotação
com alta diversidade cultural por sistemas simplificados, baseados no
emprego de insumos industriais químicos, motomecânicos e de
variedades vegetais geneticamente melhoradas e padronizadas, afetou
drasticamente a estabilidade ecológica da produção agrícola (Romeiro,
1992). A destruição das florestas e da biodiversidade genética, a
erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos
alimentos tornaram-se quase inerentes à produção agrícola. Essa
28
A Cultura do Milho Irrigado
um manejo sustentável”, a FAO constituiu um grupo internacional de
trabalho para estabelecer a base do entendimento e do conceito de
“manejo sustentável”. Para esse grupo (Smyth et al., 1993), “manejo
sustentável combina tecnologias, políticas e atividades, integrando
princípios sócio-econômicos com preocupações ambientais, de modo
que se possa, simultaneamente:
• manter ou melhorar a produção e os serviços (produtividade);
• reduzir o nível de risco da produção (segurança);
• proteger o potencial dos recursos naturais e prevenir a degradação
da qualidade do solo e da água (proteção);
• ser economicamente viável (viabilidade);
• ser socialmente aceitável (aceitabilidade).
Estes cinco objetivos, ou seja, produtividade, segurança, proteção,
viabilidade e aceitabilidade, são os “pilares” (fundação) sobre os quais
o paradigma do manejo sustentável é construído. Para se atingir a
sustentabilidade completa, é necessário alcançar todos os cinco
objetivos.
2.4. Agricultura irrigada e sustentabilidade
O conceito de agricultura sustentável pode ser resumido em três
objetivos principais: 1) melhorar o ambiente e proteger os recursos
naturais; 2) aumentar a renda do produtor; 3) melhorar a eqüidade
social e econômica da sociedade rural. Consiste em utilizar
conhecimentos derivados de vários ramos científicos, porém,
sobretudo da ecologia, da fisiologia vegetal e da ciência do solo, para
criar campos cultivados que funcionem o mais próximo possível de um
campo natural.
No que se refere à agricultura irrigada, observa-se que, na maioria das
vezes, quando se introduz um sistema irrigado em uma área, isso traz
um impacto positivo tão grande no aspecto econômico, para o
agricultor, que ele é levado a prestar pouca atenção aos outros
aspectos. Assim, seleção de espécies e cultivares mais adaptadas,
práticas adequadas de manejo do solo e da água, monitoramento da
qualidade do solo e da água e uma preocupação constante com a
preservação ambiental normalmente são relegados a um segundo
plano.
Contudo, para praticar uma agricultura sustentável, se requer uma
visão de sistema, interpretando sistema em seu sentido mais amplo.
30
A Cultura do Milho Irrigado
Deve-se enfatizar que a agricultura sustentável é um processo, uma
maneira de pensar, e não uma técnica. Muitas tecnologias contribuem
para criar uma agricultura mais sustentável e as técnicas empregadas
podem variar com as condições ambientais e sócio-econômicas, com o
tipo de exploração e também com o tempo. A situação pessoal do
produtor, as condições de sua exploração, a região em que produz e
os sinais do mercado vão determinar, em cada caso, quais são os
passos necessários para fazer a transição até uma agricultura mais
sustentável, e com que velocidade isso deve ocorrer.
Trata-se de dar muitos passos, pequenos e médios, que ajudem a
preservar os recursos e a aumentar o bem-estar do produtor. Porém,
o produtor deve tomar consciência de que cada passo, cada melhoria,
por menor que seja, é uma contribuição em direção a um mundo mais
sustentável.
Para cada situação, para cada tempo e para cada lugar, o produtor
terá que decidir quais são as combinações de tecnologias que
maximizem os três objetivos de toda prática agrícola sustentável:
aumentar a renda do produtor, conservar os recursos naturais e
aumentar a eqüidade social e econômica da sociedade (Doran et al.,
1998). Adotar a irrigação, dentro de um enfoque de praticar uma
agricultura sustentável, implica mais informação, mais gerenciamento
e mais atenção ao detalhe. É por isso que se afirma que a agricultura
sustentável não é uma tecnologia, porém uma maneira de ver as
coisas, um enfoque ético de se fazer agricultura.
Vale ressaltar, também, que não é só o produtor que tem que
contribuir para criar uma agricultura sustentável. Todo os agentes do
sistema, desde o produtor até o consumidor, deverão tomar medidas
para fazer com que esse próprio sistema se torne mais sustentável. O
esforço deve ser de todos e, dessa maneira, os benefícios também
serão para todos.
2.5. Literatura citada
ACTON, D., GREGORICH,L.J. The Health of our Soils: Toward
Sustainable Agriculture in Canada. Agric. Agri-food
Can.Otawa.1995.138p.
CHRISTOFIDIS, D. Water, irrigation and the food crisis.Water Resources
Development, Vol 14, No. 3: 405-415, 1998.
34
A Cultura do Milho Irrigado
diminuem o rendimento em mais de 20%, quatro a oito dias diminuem
em mais de 50%. O efeito da falta de água, associado à produção de
grãos, é particularmente importante em três estádios de
desenvolvimento da planta: a) iniciação floral e desenvolvimento da
inflorescência, quando o número potencial de grãos é determinado; b)
período de fertilização, quando o potencial de produção é fixado;
nessa fase, a presença da água também é importante para evitar a
desidratação do grão de pólen e garantir o desenvolvimento e a
penetração do tubo polínico; c) enchimento de grãos, quando ocorre o
aumento na deposição de matéria seca, o qual está intimamente
relacionado à fotossíntese, desde que o estresse vai resultar na menor
produção de carboidratos, o que implicaria menor volume de matéria
seca nos grãos (Magalhães et al., 1995). Portanto, a importância da
água está relacionada também com a fotossíntese, uma vez que o
efeito do déficit hídrico sobre o crescimento das plantas implica menor
disponibilidade de CO2 para fotossíntese e limitação dos processos de
elongação celular (Devlin, 1975; Salisbury & Ross, 1982;
Transpiração, 1984).
A falta de água é sempre acompanhada por interferência nos
processos de síntese de RNA e proteína, caracterizada por um
aumento aparente na quantidade de aminoácidos livres, como a
prolina. A manutenção da pressão de turgescência celular, através do
acúmulo de solutos (ajustamento osmótico), é um mecanismo de
adaptação das plantas para seu crescimento ou sobrevivência em
períodos de estresse de água. Apesar do alto requerimento de água
pela planta de milho, ela é eficiente no seu uso para conversão de
matéria seca (Klar, 1984 ; Salisbury & Ross, 1982; Aldrich et al.,
1982).
Para um eficiente manejo de irrigação, de nutrientes e de outras
práticas culturais, é de fundamental importância o conhecimento das
diferentes fases de crescimento do milho com suas diferentes
demandas. Portanto, este capítulo enfatiza os diversos estádios de
crescimento da planta de milho, desde a sua emergência até a
maturidade fisiológica, em plantio de verão.
As considerações feitas neste tópico, com o genótipo de milho,
referem-se a um material de ciclo normal, cuja floração acontece aos
65 dias após a emergência .
Todas as plantas de milho seguem um mesmo padrão de
desenvolvimento, porém, o intervalo de tempo específico entre os
estádios e o número total de folhas desenvolvidas pode variar entre
híbridos diferentes, ano agrícola, data de plantio e local.
36
A Cultura do Milho Irrigado
profundidade onde elas se encontram depende da profundidade do
plantio. O crescimento dessas raízes, também conhecido como
sistema radicular temporário, diminui após o estádio VE e
praticamente inexiste no estádio V3.
O ponto de crescimento da planta de milho, nesse estádio, está
localizado cerca de 2,5 a 4,0 cm abaixo da superfície do solo e se
encontra logo acima do mesocótilo. Essa profundidade onde se acha o
ponto de crescimento é também a profundidade onde vai-se originar o
sistema radicular definitivo do milho, conhecido como raízes nodais ou
fasciculadas. A profundidade do sistema radicular definitivo
independe da profundidade de plantio, uma vez que a emergência da
planta vai depender do potencial máximo de alongamento de
mesocótilo, conforme pode ser visto na Figura 3.1 (Ritchie & Hanway,
1989).
Figura 3.1. Duas profundidades de plantio, mostrando detalhe do alongamento
do mesocótilo. (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989).
O sistema radicular nodal se inicia, portanto, no estádio VE e o
alongamento das primeiras raízes se inicia no estádio V1, indo até o
R3, após o qual muito pouco crescimento ocorre (Magalhães et al.,
1994).
38
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 3.2. Estádio de três folhas completamente desenvolvidas.
(Foto: Paulo César Magalhães)
Figura 3.3. Planta no estádio V3, mostrando o ponto de crescimento abaixo da
superfície do solo. (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989).
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A Cultura do Milho Irrigado
Figura 3.4. Estádio de seis folhas completamente desenvolvidas. (Adaptado de
Ritchie & Hanway, 1989).
Figura 3.5. Planta no estádio V6, mostrando o ponto de crescimento acima da
superfície do solo. (Foto: Paulo César Magalhães)
42
A Cultura do Milho Irrigado
Próximo ao estádio V10, a planta de milho inicia um rápido e contínuo
crescimento, com acumulação de nutrientes e peso seco, os quais
continuarão até os estádios reprodutivos. Há uma grande demanda no
suprimento de água e nutrientes para satisfazer as necessidades da
planta (Magalhães & Jones,1990a).
Figura 3.6. Estádio V9, mostrando detalhes de várias espigas potenciais.
(Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989).
3.2.6. Estádio V12 (doze folhas desenvolvidas)
O número de óvulos (grãos em potencial) em cada espiga, assim como
o tamanho da espiga, são definidos em V12, quando ocorre perda de
duas a quatro folhas basais. Pode-se considerar que, nessa fase, iniciase o período mais crítico para a produção, o qual estende-se até a
polinização.
O número de fileiras de grãos na espiga já foi estabelecido; no
entanto, o número de grãos/fileira só será definido cerca de uma
semana antes do florescimento, em torno do estádio V17 (Magalhães
et al., 1994).
Em V12, a planta atinge cerca de 85% a 90% da área foliar, e
observa-se o início do desenvolvimento das raízes adventícias
(“esporões”).
Devido ao número de óvulos e tamanho da espiga serem definidos
nessa fase, a deficiência de umidade ou nutrientes pode reduzir
seriamente o número potencial de sementes, bem como o tamanho
44
A Cultura do Milho Irrigado
desenvolvimento da espiga, pode haver problemas na sincronia entre
emissão de pólen e recepção pela espiga. Caso o estresse seja severo,
ele pode atrasar a emissão do “cabelo” até a liberação do pólen
terminar, ou seja, os óvulos que porventura emitirem o “cabelo” após
a emissão do pólen não serão fertilizados e, por conseguinte, não
contribuirão para o rendimento (Magalhães et al., 1994; Magalhães
et al., 1995; Magalhães et al., 1999).
Híbridos não prolíficos (produzem apenas uma espiga) produzirão cada
vez menos grãos com o aumento da exposição ao estresse, porém,
tendem a render mais que os prolíficos em condições não
estressantes. Os prolíficos (produzem duas ou três espigas), por sua
vez, tendem a apresentar rendimentos mais estáveis em condições
variáveis de estresse, uma vez que o desenvolvimento da espiga é
menos inibido pelo estresse (Aldrich et al., 1982; Ritchie & Hanway,
1989).
3.2.9. Pendoamento, VT
Esse estádio inicia-se quando o último ramo do pendão está
completamente visível e os “cabelos” não tenham ainda emergido. A
emissão da inflorescência masculina antecede de dois a quatro dias a
exposição dos estilo-estigmas; no entanto, 75% das espigas devem
apresentar seus estilos-estigmas expostos, após o período de 10 a 12
dias posterior ao aparecimento do pendão. O tempo decorrente entre
VT e R1 pode variar consideravelmente, dependendo do híbrido e das
condições ambientais. A perda de sincronismo entre a emissão dos
grãos de pólen e a receptividade dos estilos-estigmas da espiga
concorre para o aumento da porcentagem de espigas sem grãos nas
extremidades. Em condições de campo, a liberação do pólen
geralmente ocorre nos finais das manhãs e no início das noites. Nesse
estádio, a planta atinge o máximo desenvolvimento e crescimento.
Estresse hídrico e temperaturas elevadas (acima de 35o C) podem
reduzir drasticamente a produção. Um pendão de tamanho médio
chega a ter 2,5 milhões de grãos de pólen, o que equivale dizer que a
espiga em condições normais dificilmente deixará de ser polinizada
pela falta de pólen, uma vez que o número de óvulos está em torno de
750 a 1000 (Magalhães et al., 1994; Magalhães et al., 1999;
Fancelli, 2000).
A planta apresenta alta sensibilidade ao encharcamento nessa fase, o
excesso de água pode contribuir inclusive com a inviabilidade dos
grãos de pólen.
46
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 3.8. Estádio R1, estilos-estigmas captando grãos de pólen.
(Foto: Paulo César Magalhães)
O grão de pólen, uma vez em contato com o “cabelo”, demora cerca
de 24 horas para percorrer o tubo polínico e fertilizar o óvulo;
geralmente, o período requerido para todos os estilos-estigmas em
uma espiga serem polinizados é de dois a três dias. Os “cabelos” da
espiga crescem cerca de 2,5 a 4,0 cm por dia e continuam a se
alongar até serem fertilizados (Ritchie & Hanway, 1989; Magalhães et
al., 1994).
O número de óvulos que será fertilizado é determinado nesse estádio.
Óvulos não fertilizados evidentemente não produzirão grãos.
Estresse ambiental nessa fase, especialmente o estresse hídrico,
causa baixa polinização e baixa granação da espiga, uma vez que, sob
seca, tanto os “cabelos” como os grãos de pólen tendem à
dissecação. Não se deve descuidar de controlar insetos, como a
lagarta-da-espiga, que se alimentam dos “cabelos”. Deve-se combater
essas pragas, caso haja necessidade. A absorção de potássio nessa
fase está completa, enquanto nitrogênio e fósforo continuam sendo
absorvidos.
A liberação do grão de pólen pode se iniciar ao amanhecer,
estendendo-se até o meio-dia; no entanto, esse processo raramente
exige mais de quatro horas para sua complementação. Ainda sob
condições favoráveis, o grão de pólen pode permanecer viável por até
24 horas. Sua longevidade, entretanto, pode ser reduzida quando
submetido a baixa umidade e altas temperaturas (Magalhães et al.,
1994).
48
A Cultura do Milho Irrigado
estádio. A umidade de 85% nos grãos, nessa fase, começa a
diminuir gradualmente até a colheita (Magalhães & Jones, 1990 a,b;
Magalhães et al., 1994).
Figura 3.9. Grãos no estádio R2, conhecidos como bolha d’água. (Adaptado de
Ritchie & Hanway, 1989).
3.3.3. Estádio R3 (grão leitoso)
Esta fase é iniciada normalmente 12 a 15 dias após a polinização. O
grão se apresenta com uma aparência amarela e, no seu interior, um
fluido de cor leitosa, o qual representa o início da transformação dos
açúcares em amido, contribuindo, assim, para o incremento de
matéria seca. Tal incremento ocorre devido à translocação dos
fotoassimilados presentes nas folhas e no colmo para a espiga e grãos
em formação. A eficiência dessa translocação, além de ser
importante para a produção, é extremamente dependente de água
(Magalhães & Jones, 1990b; Magalhães et al., 1998). Embora, nesse
estádio, o crescimento do embrião ainda seja considerado lento, ele já
pode ser visto, caso haja uma dissecação. Esse estádio é conhecido
como aquele em que ocorre a definição da densidade dos grãos
(Magalhães et al., 1994; Fancelli, 2000).
Os grãos, nessa fase, apresentam rápida acumulação de matéria seca
e cerca de 80% de umidade (Figura 3.10), sendo que as divisões
celulares dentro do endosperma apresentam-se essencialmente
completas. O crescimento, a partir daí, é devido à expansão e ao
enchimento das células do endosperma com amido.
O rendimento final depende do número de grãos em desenvolvimento
e do tamanho final que eles alcançarão. Um estresse hídrico nessa
fase, embora menos crítico que na fase anterior, pode afetar a
produção. Com o processo de maturação dos grãos, o potencial de
redução na produção final de grãos, devido ao estresse hídrico, vai
50
A Cultura do Milho Irrigado
3.3.4. Estádio R4 (grão pastoso)
Esse estádio é alcançado cerca de 20 a 25 dias após a emissão dos
estilos-estigmas, os grãos continuam se desenvolvendo rapidamente,
acumulando amido. O fluido interno dos grãos passa de um estado
leitoso para uma consistência pastosa (Figura 3.11), e as estruturas
embriônicas de dentro dos grãos encontram-se já totalmente
diferenciadas. A deposição de amido é bastante acentuada,
caracterizando, dessa feita, um período exclusivamente destinado ao
ganho de peso por parte do grão. Em condições de campo, tal etapa
do desenvolvimento é prontamente reconhecida, pois, quando os grãos
presentes são submetidos à pressão imposta pelos dedos, mostram-se
relativamente consistentes, embora ainda possam apresentar pequena
quantidade de sólidos solúveis, cuja presença em abundância
caracteriza o estádio R3 (grão leitoso) (Magalhães et al., 1994).
Os grãos se encontram com cerca de 70% de umidade em R4 e com
cerca da metade do peso que eles atingirão na maturidade. A
ocorrência de adversidades climáticas, sobretudo falta de água,
resultará numa maior porcentagem de grãos leves e pequenos, o que
comprometeria definitivamente a produção.
Figura 3.11. Grãos no estádio R4, pastoso (Adaptado de Ritchie & Hanway,
1989).
3.3.5. Estádio R5 ( formação de dente)
Este período é caracterizado pelo aparecimento de uma concavidade
na parte superior do grão, comumente designada de “dente”, coincide
normalmente com o 36o dia após o princípio da polinização (Figura
3.12).
52
A Cultura do Milho Irrigado
Materiais destinados à silagem devem ser colhidos nesse estádio. O
milho colhido nessa fase apresenta as seguintes vantagens:
significativo aumento na produção de matéria seca por área;
decréscimo nas perdas de armazenamento pela diminuição do efluente
e aumento significativo no consumo voluntário da silagem produzida
(Fancelli, 2000).
3.3.6. Estádio R6 (maturidade fisiológica)
Esse é o estádio em que todos os grãos na espiga alcançam o máximo
de acumulação de peso seco e vigor; ocorre cerca de 50 a 60 dias
após a polinização. A linha do amido já avançou até a espiga e a
camada preta já foi formada. Essa camada preta ocorre
progressivamente da ponta da espiga para a base (Figura 3.14). Nesse
estádio, além da paralisação total do acúmulo de matéria seca nos
grãos, acontece também o início do processo de senescência natural
das folhas das plantas, as quais, gradativamente, começam a perder a
sua coloração verde característica (Ritchie & Hanway, 1989;
Magalhães et al., 1994).
Figura 3.14. Detalhe do desenvolvimento da camada preta (ponto da maturidade
fisiológica) (Adaptado de Ritchie & Hanway, 1989).
O ponto de maturidade fisiológica caracteriza o momento ideal para a
colheita, ou ponto de máxima produção, com 30 a 38% de umidade,
podendo variar entre híbridos. No entanto, o grão não está ainda em
condições de ser colhido e armazenado com segurança, uma vez que
deveria estar com 13 a 15% de umidade, para evitar problemas com
a armazenagem. Com cerca de 18 a 25% de umidade, a colheita já
pode acontecer, desde que o produto colhido seja submetido a uma
secagem artificial antes de ser armazenado.
54
A Cultura do Milho Irrigado
MAGALHÃES, P.C.; RESENDE, M.; OLIVEIRA, A.C. de; DURÃES,
F.O.M.; SANS, L.M. A caracterização morfológica de milho de
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Brasil: resumos. Goiânia: ABMS/EMBRAPA-CNPMS/UFG/EMATERGO, 1994, p.190.
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compromisse. In: CAREY, J.C. (Ed.) Plant physiology. 2 ed. Belmont:
Wadsworth, 1982. p.32-46.
56
A Cultura do Milho Irrigado
preparo de solo, quando este apresenta condições inadequadas de
umidade. É comum observar, em área com agricultura intensiva e sob
irrigação, um estágio avançado de degradação, em que o solo se
apresenta bastante compactado, com um processo de erosão
instalado e com produtividade aquém da esperada. Mesmo sob essas
condições, observa-se, muitas vezes, o desconhecimento e, o que é
mais grave, o desinteresse por parte do agricultor em reverter esse
quadro. Somente com a retomada de consciência sobre a necessidade
em preservar esse recurso, será possível reverter o quadro,
praticando uma agricultura mais racional, maximizando o uso da terra
e os rendimentos e preservando o meio ambiente.
Com o propósito de minimizar o impacto negativo de uma agricultura
intensiva sob condições de irrigação, deve-se sempre ter em mente
que as atividades de manejo do solo devem contemplar, de maneira
harmoniosa, não somente o solo, mas também as suas interações com
a água, com vistas ao planejamento integrado, visando a
sustentabilidade da atividade. Nesse contexto, será dada ênfase a
alguns temas importantes sobre o manejo e a conservação do solo e
da água, os quais revestem-se de maior importância, por se tratar do
uso intensivo de área irrigada, criando uma situação
reconhecidamente mais frágil em relação à degradação dos solos.
4.2. Planejamento de uso do solo
Para toda situação de uso da terra, não somente sob irrigação, o
manejo adequado do solo tem de ser buscado, com vistas a que o
produto das práticas adotadas seja uma agricultura rentável,
tecnicamente correta e sustentável. Para que isso seja alcançado, o
primeiro fator a ser considerado é o reconhecimento das classes de
solos presentes e que essas sejam caracterizadas de modo a se
conhecerem as suas limitações e potenciais quanto ao uso. Com isso,
é possível fazer o planejamento de condicionamento da área à
proposta de agricultura, decidindo-se pelo melhor uso e manejo,
objetivando maximizar o uso da terra, ao mesmo tempo que permita a
sua permanência como bem não degradado.
O planejamento conservacionista passa necessariamente pela locação
dos meios de acesso, que, sendo possível, deverão ser construídos
num nível acima daquele do terreno agricultável. Esse cuidado,
embora possa onerar o projeto num dado momento, vai evitar que as
estradas se transformem num fator concentrador de enxurrada, o que
fará aumentar a erosão e os gastos com a manutenção, além de
dificultar o trânsito. As estradas devem ser locadas preferencialmente
58
A Cultura do Milho Irrigado
hiperférrico (latossolo roxo), indicou que os plantios em dezembrojaneiro apresentam o maior potencial de perdas por erosão, mas que,
para a semeadura a partir de fevereiro, os riscos são bastante
reduzidos (De Maria, 1995). Para as condições de safrinha, isto é,
sem irrigação, em São Paulo, a perda potencial do solo preparado com
grade é o dobro da perda do solo com plantio direto (De Maria e
Duarte, 1997), enquanto que, na cultura de verão, o preparo do solo
com a grade aradora tem um potencial de erosão bem mais elevado.
As perdas de solo e água em um latossolo vermelho típico, submetido
a diferentes métodos de manejo de solo para o cultivo do milho, estão
apresentadas na Tabela 4.1. Essa tabela indica que o sistema de
plantio direto promoveu uma redução de sete vezes nas perdas de solo
e de três vezes nas perdas de água, em relação aos métodos
convencionais de preparo: arado de discos e arado de aiveca. Isso
demonstra a eficiência do método conservacionista, do plantio direto,
para a sustentabilidade do solo, contribuindo, dessa maneira, para a
preservação do meio ambiente e para a economia de água.
Tabela 4.1. Perdas de solo e de água em um latossolo vermelho típico do
município de Sete Lagoas, MG, submetido a diferentes métodos de manejo
(Alvarenga et al., 1998).
A capacidade de a vegetação e os resíduos vegetais interceptarem a
chuva ou absorverem água pode retardar o início do escorrimento.
Outro fator relevante é a ocorrência de chuva após uma irrigação, em
que o maior conteúdo de umidade reduzirá o tempo para que haja
início do escorrimento superficial, aumentando o risco de erosão.
A erosão hídrica é o principal fator de degradação dos solos agrícolas
e está presente, em maior ou menor intensidade, em toda a área
cultivada. Além dos prejuízos que causa às atividades agrícolas, ela
também traz prejuízos a diversas outras atividades econômicas e
especialmente ao meio ambiente, devido à poluição. O impacto da
gota de água de chuva ou de irrigação na superfície do solo quebra os
agregados e desprende partículas que ficam em suspensão. Não
havendo transporte dessas partículas, à medida que a água vai se
infiltrando, elas se depositam na superfície de maneira orientada, de
60
A Cultura do Milho Irrigado
erosão. Em agricultura irrigada, raramente será economicamente
viável utilizar algumas práticas como o pousio ou a adubação verde,
que não apresentam retorno imediato, embora se reconheçam os
seus benefícios ao solo. Entretanto, é possível racionalizar o uso de
várias outras práticas, de tal maneira que se consigam maiores lucros,
ao mesmo tempo que haja a proteção do solo, minimizando a erosão e
mantendo ou melhorando a sua qualidade.
O manejo das plantas pode ser direcionado para que confira maior
resistência contra os agentes de degradação do solo e é conhecido
como as práticas vegetativas de conservação do solo. Por exemplo,
no Brasil, o espaçamento adotado na cultura do milho é muito
variável, de 1,0 m a 0,8 m, mas verifica-se uma tendência de se
utilizarem, cada vez mais, espaçamentos menores, pelas seguintes
razões: aumento no rendimento de grãos, por propiciar uma
distribuição melhor de plantas na área, aumentando a eficiência na
utilização de luz solar, água e nutrientes; melhor controle de plantas
daninhas, em função do mais rápido fechamento da cultura; redução
da erosão, pela cobertura antecipada da superfície do solo (Cruz,
1999). Para isso, já existem colhedoras de milho que permitem a
colheita em espaçamentos de até 0,5 m.
É possível fazer coincidir o período de precipitação mais intensa do
verão com culturas já estabelecidas, o que aumentará a densidade de
vegetação nessa época de maior risco de erosão. Para as condições
do início da primavera, quando os acréscimos em erosividade são
significativos, devido à maior freqüência de chuvas convectivas (de
curta duração e alta intensidade), a irrigação pode viabilizar a
antecipação do plantio, de modo que haja uma vegetação mais densa
nessa época. Marques et al. (1998) observaram que, em janeiro, na
região de Sete Lagoas, MG, apesar de haver alta erosividade das
chuvas, as culturas bem desenvolvidas contribuíram para diminuir a
erosão, em conseqüência da cobertura do solo por elas.
Nas últimas décadas, destaque tem sido dado ao sistema de plantio
direto como prática conservacionista. É definido como o processo de
semeadura em solo não revolvido, no qual a semente é colocada em
sulcos ou covas, com largura e profundidade suficientes para a
adequada cobertura e contato das sementes com a terra. Assim,
promove-se a eliminação/redução das operações de preparo do solo.
Como resultado, há maior manutenção dos atributos físicos do solo,
melhorando a sua estrutura, evitando compactação, com melhoria da
taxa de infiltração da água e manutenção da umidade, melhorando o
62
A Cultura do Milho Irrigado
preparo do solo, cujos resultados obtidos para a infiltração básica
foram os seguintes: preparo com plantio direto, 45 mm/h (100%);
preparo com arado escarificador, 35 mm/h (78%); e somente 26 mm/
h (58%) em preparo convencional.
Infiltração total proveniente de altas precipitações pluviométricas só é
possível com 100% de cobertura do solo. Para tanto, são necessárias
4 a 6 t/ha de cobertura morta (Derpsch et al., 1991). Deve ser
ressaltado que a cultura do feijão, uma das principais culturas
produzidas com irrigação, deixa uma pequena quantidade de palha
após a colheita. Assim, a presença do milho em sucessão a culturas
irrigadas é altamente desejável para que o plantio direto possa atingir
maior eficiência, pois ele normalmente produz entre 8 e 12 t ha-1 de
palha (Figura 4.1). Para uma mesma quantidade de água perdida por
escorrimento, esta transporta muito menos solo em plantio direto do
que no sistema convencional. Entretanto, alguns casos de erosão
significativa têm sido observados em área de plantio direto, devido à
baixa cobertura do solo com resíduos, à retirada do sistema de
terraceamento e ao plantio sem respeitar as curvas de nível (Vieira,
1985).
Figura 4.1. Palhada de milho em cultura de feijão sob plantio direto.
Foto: Ramom Costa Alvarenga
Outro efeito da cobertura morta em plantio direto é a redução das
perdas de água por evaporação, em conseqüência de três aspectos: a)
reduz a quantidade de radiação solar direta que atinge a superfície do
64
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 4.3. Teor de umidade nos 5 cm superficiais de um latossolo vermelho
típico, cultivado com milho, em sistema de plantio direto, em função do
prolongamento do período de veranico.
Vale lembrar que o excesso de palha poderá causar algum problema
operacional durante o plantio e na emergência das plântulas e irá
requerer maior atenção para com a adubação nitrogenada, devido à
imobilização desse nutriente pelos microrganismos, podendo causar
deficiência às plantas.
O escoamento superficial de água é fortemente influenciado pelo
declive, pois a probabilidade de haver erosão aumenta com o aumento
da declividade do terreno, existindo um comprimento crítico do declive
a partir do qual a erosão hídrica atinge níveis inaceitáveis, sendo
necessário interceptar o escoamento, para que o fenômeno da erosão
seja minimizado; a maneira mais eficaz é o secionamento do
comprimento do declive, através da construção de um sistema de
terraceamento. Embora a sua eficiência seja inegável, deve-se ter em
mente que terraço não é sinônimo de conservação do solo; por isso,
deve ser sempre empregado em associação com outras técnicas de
manejo e conservação do solo e da água.
Excepcionalmente, em condições de plantio direto, há uma corrente
de pensamento que defende a retirada dos terraços; entretanto, em
alguns casos, essa prática tem causado o retorno da erosão,
principalmente em áreas com solos de textura média. Pode haver
necessidade de manutenção dessas estruturas mesmo em áreas sob o
sistema de plantio direto, como forma de minimizar os prejuízos
advindos da erosão, pois, a partir de determinado comprimento de
rampa, o volume da enxurrada aumenta e passa a escorrer por baixo
da camada de resíduos, erodindo o solo (Bertol et al., 2000).
66
A Cultura do Milho Irrigado
de 50 mm h-1; declividade de 0,08 m m-1, sistema de culturas de milho
e soja em rotação, além de outras características do terreno, da
equação de chuvas intensas e de construção do terraço (Alvarenga et
al., 1999). Como resultado, o espaçamento obtido entre terraços foi
de 35,4 m, para o sistema de plantio direto, e de 17,7 m, para o
convencional com grade. Por outro lado, usando-se os dados apenas
de tabelas, o espaçamento seria de 18 m para qualquer sistema de
manejo. Isso mostra como o sistema de manejo do solo, a seqüência
de culturas e as características locais de relevo, de solo e de clima
podem interferir no sistema de terraceamento. Em razão disso, o
custo de implantação de um sistema de terraceamento na área
considerada para o sistema de plantio direto foi aproximadamente a
metade daquele da área do sistema convencional com grade pesada.
Teoricamente, os problemas operacionais advindos da presença dos
terraços cairiam à metade quando o sistema de plantio direto fosse
adotado.
4.5. Compactação do solo
A habilidade das plantas em explorar o solo, em busca de água e
nutrientes, depende grandemente da distribuição de raízes no perfil
desse solo que, por sua vez, depende das condições físicas e
químicas, as quais são passíveis de alterações em função do manejo
aplicado. Portanto, o manejo do solo pode afetar em graus variados
tanto as características intrínsecas quanto as extrínsecas do solo, em
que a compactação tem papel de destaque. Ela é reconhecida como
uma das principais conseqüências do manejo inadequado do solo,
aparecendo geralmente abaixo da camada cultivada pela ação dos
implementos de preparo do solo ou na superfície, devido ao tráfego.
No caso dos tratores, a área de contato com o solo são as rodas, e no
caso dos implementos, como o arado e as grades, são os discos. Por
esse motivo, as rodas e esses implementos são considerados agentes
causadores de compactação, pois o peso total do equipamento é
distribuído em uma área muito pequena, ou seja, os gomos dos pneus
ou extremidades dos discos criam uma pressão elevada sobre o solo.
Na camada compactada, as características químicas e principalmente
as características físicas do solo são modificadas. Assim, após uma
pressão no solo, exercida pelas rodas dos tratores e por máquinas
agrícolas, ocorre a quebra de agregados. Com isso, há o aumento da
densidade do solo, ocorrendo simultaneamente redução da porosidade
(especialmente de poros grandes); diminuição de trocas gasosas
(oxigênio e dióxido de carbono); limitação do movimento de nutrientes;
68
A Cultura do Milho Irrigado
teor de umidade de máxima compactação. Outro fato importante a
notar é que, à medida que a energia de compactação aumenta, é
necessária uma quantidade menor de água para se alcançar o máximo
de compactação; isto serve de alerta para o uso de equipamentos
mais pesados.
Uma outra variável a ser considerada no processo de compactação é
a textura do solo. Solos cuja constituição seja de partículas do mesmo
tamanho são menos suscetíveis ao processo de compactação,
comparados àqueles em que há mistura de argila, silte e areia de
diversos tamanhos. Isto se deve ao fato de as partículas de tamanhos
diferentes se arranjarem e preencherem os poros, quando o solo é
submetido a uma pressão, quebrando, assim, os agregados. Alguns
neossolos quartzarênicos servem para ilustrar essa situação, em que a
fração areia fina se ajusta bem nos espaços, provocando alto grau de
compactação, principalmente em solos intensivamente trabalhados em
áreas irrigadas.
A identificação da camada compactada pode ser feita no campo, por
meio de observações práticas, ou utilizando-se equipamentos
apropriados, destacando-se a determinação da densidade do solo, que
é o método de maior precisão e largamente utilizado, uma vez que
busca avaliar a proporção do espaço poroso em relação ao volume de
solo. Apesar de muitas limitações, a resistência à penetração é
freqüentemente usada para indicação comparativa de graus de
compactação, por causa da facilidade e rapidez para realizar um
grande número de medidas. Entretanto, quando forem feitas
comparações dessas determinações, a textura e o teor de umidade
terão que ser semelhantes, pois essas medidas são afetadas por esses
atributos do solo. A presença da compactação pode ser notada
também através de observações dos sintomas visuais que são
provocados em plantas e no solo.
4.5.1. Sintomas visuais da compactação
4.5.1.1. Sintomas visuais no solo:
Encrostamento ou selamento superficial do solo - É observado na
superfície do solo desprovido de cobertura morta, em forma de placas
constituídas geralmente por material mais fino de solo, apresentando
trincas devido à contração e à expansão (Figura 4.2).
70
A Cultura do Milho Irrigado
processo não evolua. Essa prática exige alguma experiência do
examinador, pois deve-se levar em consideração alguma variação de
umidade e/ou textura entre as camadas e mesmo uma diferença
devido à transição entre horizontes do solo.
Figura 4.3. Trincheira no solo para observação de compactação subsuperficial.
Foto: Ramom Costa Alvarenga
Água empoçada - A permanência de água sobre a superfície em solo
que originalmente não apresentava esse problema, formando poças
nas depressões do terreno, é um fator indicativo de selamento. Esse
fenômeno traz como conseqüência redução na infiltração da água no
solo (Figura 4.4).
Erosão hídrica - O excesso de água escorrendo superficialmente,
transportando partículas de solo, indica redução na infiltração.
Dependendo das condições, a erosão se manifesta nas suas diferentes
formas, desde laminar, onde se percebe a remoção mais homogênea,
em toda a superfície, de pequena camada do solo, até as suas formas
mais severas, em sulcos, podendo evoluir para voçorocas (Figura 4.5).
Aumento de requerimento de potência para o preparo do solo - A
camada compactada oferece maior resistência aos implementos de
preparo de solo, de tal maneira que é necessário usar maior potência
para executar uma atividade que anteriormente era feita com menor
requerimento de potência. Quando essa resistência aumenta acima de
um limite, em vez de o equipamento romper o solo, ele passa a operar
72
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 4.5. Erosão hídrica do solo em torno de plantas de milho.
Foto: Ramom Costa Alvarenga
Figura 4.6. Padrão irregular de crescimento das raízes do milho alterado devido
a compactação. Foto: Ramom Costa Alvarenga
74
A Cultura do Milho Irrigado
situações em que ela ainda não é muito intensa, é possível contornar o
problema modificando o sistema de manejo de solo e de rotação de
culturas, incluindo plantas de sistema radicular mais vigoroso, capaz
de penetrar em solos que ofereçam maior resistência. O sistema
radicular dessas plantas irá deixar canalículos por onde penetrarão
água e raízes de outras espécies, em solos mais susceptíveis à
compactação.
O rompimento da camada compactada deve ser feito com implemento
que alcance a profundidade imediatamente abaixo da zona
compactada. Quando as condições dessa camada indicarem a
necessidade de que ela seja eliminada, isto será feito do modo descrito
a seguir: se a camada estiver até 35 cm de profundidade, ela pode ser
rompida com o arado de aivecas ou o arado escarificador. Se estiver
em profundidades maiores, deverá ser empregado um subsolador.
Quando for usado o escarificador ou subsolador para o rompimento da
camada compactada, deve-se levar em consideração que o
espaçamento entre as hastes determina o grau de rompimento da
camada compactada pelo implemento. O espaçamento entre as
hastes deverá ser de 1,2 a 1,3 vezes a profundidade de trabalho
pretendida (Embrapa, 1996). É importante salientar que os
equipamentos de discos são ineficientes nessa operação.
Uma vez rompida essa camada, deve ser traçado um plano de manejo
desse solo que previna o aparecimento futuro de nova camada
compactada. Para isso, deve-se lançar mão das técnicas de manejo e
conservação do solo que sejam factíveis com a realidade na qual se
trabalha. Há de se considerar, entretanto, que essa técnica requer
equipamentos e tratores mais pesados, o que, invariavelmente,
proporciona maior pressão ao solo, podendo compactá-lo ainda mais.
4.6. Preparo do solo
4.6.1. Preparo convencional
O que se pretende com o preparo do solo, ao menos
temporariamente, é obter as condições iniciais favoráveis ao
estabelecimento e crescimento das plantas, de tal maneira que se
assegure uma população de plantas preestabelecida.
Especialmente sob condições irrigadas e de manejo intensivo do solo,
deve-se ter em mente o alto risco à degradação do solo, como
resultado do manejo irracional. Em razão disso, deve-se buscar um
sistema que não mobilize o solo mais do que o necessário, como
76
A Cultura do Milho Irrigado
para solos argilosos, e de 60 a 80% para solos arenosos, ou seja,
quando o solo estiver na faixa de umidade friável. Quando for usado o
escarificador e o subsolador, a faixa ideal de umidade encontra-se
entre 30 e 40% da capacidade de campo, para solos argilosos
(Embrapa, 1996).
Durante alguns anos, o uso de um mesmo implemento no preparo do
solo, operando sistematicamente na mesma profundidade e,
principalmente, em condições de solo úmido, favorece a formação de
camada compactada. Pode também ocorrer a formação de duas
camadas distintas: uma camada superficial pulverizada e outra
subsuperficial compactada. Esses problemas podem resultar em
aumento do custo de produção por unidade de área e na diminuição da
produtividade da cultura.
No sistema de plantio direto, os problemas com compactação são de
menor proporção, restringindo-se à compactação superficial do solo,
resultante do tráfego de veículos, máquinas e equipamentos. A
alternância de implementos de preparo do solo, que trabalhem a
diferentes profundidades e possuam diferentes mecanismos de corte,
além da observância do teor adequado de umidade para a
movimentação do solo, é de relevante importância para minimizar a
sua degradação. Assim, recomenda-se, por ocasião do preparo do
solo, alternar a profundidade de trabalho, a cada safra agrícola e, se
possível, utilizar alternadamente os implementos de discos lisos e os
recortados.
As técnicas de manejo e preparo do solo podem ser agrupadas em
duas classes, conforme o grau de impacto que elas causam. A
primeira delas é a de preparo convencional e a outra, de manejo ou
preparo conservacionista do solo.
O preparo convencional do solo se dá em duas etapas. Na primeira,
preparo primário, faz-se aquela operação inicial de mobilização do
solo, mais profunda e grosseira, que visa, essencialmente, eliminar ou
enterrar as plantas daninhas e os restos culturais e também revolver
o solo com vistas a facilitar o crescimento inicial de raízes e a
infiltração de água. A segunda etapa é constituída por operações
superficiais subseqüentes ao preparo primário, que são feitas
normalmente com grades, ou seja, nivelamento e destorroamento do
terreno, incorporação de herbicidas e, principalmente, eliminação de
invasoras, de forma a permitir um ambiente favorável ao plantio e ao
desenvolvimento inicial das plantas.
78
A Cultura do Milho Irrigado
melhor enterrio de restos vegetais e sementes de invasoras, fazendo
um melhor controle dessas. Suas desvantagens são: dificuldade para
trabalhar em áreas onde existam muitos tocos e raízes, embora a
indústria venha trabalhando para dotá-lo de mecanismo para reduzir
essa limitação, e menor adaptabilidade a diferentes solos. Para solos
pegajosos, o mais recomendado é o aiveca com telha tombadora
recortada. Para os de textura média, o arado com telha inteiriça ou
lisa é mais apropriado, embora deixe muito pouco resíduo vegetal na
superfície. Esse implemento demanda maior potência na tração para
realizar aração profunda, o que, de certa forma, aumenta os riscos de
compactação, devido ao maior peso dos tratores que são empregados.
4.6.2. Métodos conservacionistas
Na última década, aumentou muito o interesse por métodos
conservacionistas de manejo de solos. Neles se buscam ajustar
tecnologias que possibilitem aliar menor mobilização do solo e
preservação da matéria orgânica, que é reconhecidamente de
fundamental importância, não só para a sustentabilidade do
ecossistema, mas também pela influência direta e indireta nos
processos químicos, físicos, físico-químicos e biológicos. Eles revolvem
menos o solo e deixam maior quantidade de resíduos culturais sobre a
sua superfície, conferindo-lhe maior resistência contra os agentes
causadores de degradação, especialmente a erosão hídrica.
Dois métodos merecem destaque, devido ao seu papel
conservacionista, baixo nível de dano e alto nível de proteção ao solo,
de tal modo que é possível aliar produtividade e conservação do solo e
água, binômio este da maior importância quando se busca a
sustentabilidade em sistemas agrícolas.
Arado escarificador - A principal característica desse arado é a de
que, no preparo, ele somente torna o solo mais frouxo, sem revolvê-lo
muito e sem causar compactação, trabalhando até uma profundidade
de 40 cm e, quando dotado de rolo destorroador/nivelador, pode
dispensar a gradagem. É de grande eficiência na descompactação de
solo e, para tanto, deve ser empregado quando o solo se apresenta
mais seco, entretanto, dentro da faixa de friabilidade, para que não
haja formação de grande quantidade de torrões grandes. Apresenta
bom rendimento e proporciona bom desenvolvimento radicular e
facilidade para a infiltração de água. O diferencial entre este
equipamento e aqueles de preparo convencional reside no fato de que
o escarificador possibilita que grande parte dos resíduos vegetais
continue sobre a superfície do solo.
80
A Cultura do Milho Irrigado
de tempo considerável e uma adequada cobertura da superfície do
solo.
Nos últimos anos, com o crescimento acelerado do plantio direto, é
comum produtores pouco experientes não observarem alguns dos
seus princípios básicos, podendo-se comprometer a viabilidade
técnica e econômica do plantio direto, gerando frustrações e, muitas
vezes, implicando o abandono do sistema antes que ele possa
manifestar todo o seu potencial. Assim, é prudente que o produtor
inicie o sistema em pequenas áreas, para melhor dominar a tecnologia.
Por se tratar de um sistema complexo, o plantio direto exige que o
agricultor tenha um conhecimento mais amplo e domínio de todas as
fases do sistema, envolvendo o manejo de mais de uma cultura e,
muitas vezes, uma associação de agricultura e pecuária. O sistema
exige, ainda, um acompanhamento mais rígido da dinâmica de pragas,
doenças e plantas daninhas, do manejo de fertilizantes e das
modificações causadas ao ambiente, à medida que o sistema seja
implantado. Por essas razões, verifica-se a necessidade de maior
treinamento da mão-de-obra; é necessário que os solos sejam aptos
ao sistema, com boa drenagem, pois o plantio direto já promove um
aumento da água no solo, em conseqüência de menor escorrimento
superficial, de maior infiltração e de menor evaporação, o que poderia
agravar o problema de excesso de umidade em solos com drenagem
deficiente, principalmente em solos muito argilosos e onde
temperaturas mais frias possam afetar a germinação e a emergência
de plântulas. Obviamente, no Brasil, baixas temperaturas do solo
dificilmente constituirão um problema.
É fundamental a eliminação de camada compactada subsuperficial
antes da implantação. Como o sistema de plantio direto não elimina
essas camadas a curto e médio prazos, esse trabalho deve ser
realizado antes da implantação do sistema, ocasião também em que
solos com sulcos ou valetas devem ser recuperados, tornando a
superfície do terreno o mais nivelada possível.
Como, no plantio direto, o solo não será revolvido, é muito importante
fazer a correção da acidez do solo tanto na camada superficial como
na subsuperfície, antes de iniciar o sistema. Para isto, ele deverá ser
amostrado de 0-20 cm e de 20-40cm e, se necessário, efetuar a
calagem, incorporando o calcário o mais profundo possível; se for
conveniente, fazer aplicação de gesso para correção da camada
subsuperficial. Embora essa tenha sido uma tendência no Brasil
Central, no sul do País, o uso do calcário na superfície do solo no
82
A Cultura do Milho Irrigado
que, sabe-se, encontram no plantio direto e em áreas irrigadas
condições mais favoráveis para causarem danos.
A cobertura morta oferece também controle parcial sobre as plantas
daninhas, dependendo da sua quantidade e distribuição e, após a sua
decomposição, fornece ainda nutrientes e matéria orgânica ao solo. É
possível reduzir em quatro por cento a infestação com invasoras para
cada tonelada de resíduos de milho que são deixados sobre a
superfície (Oliveira et al., 2001). Esses resultados acenam com a
possibilidade de uma economia significativa de herbicidas, após o
estabelecimento de cobertura do solo com resíduos, em plantio direto,
o que é um fator extremamente importante tanto do ponto de vista
econômico quanto ambiental.
Como, em sucessões de culturas, irrigadas ou não, há necessidade de
se trabalhar o solo mais de uma vez ao ano, é possível o uso de
diferentes tipos de manejo para cada safra. Há indicações de que os
sistemas de semeadura com escarificador, no verão, para o plantio da
soja, e o plantio direto, para safrinha de milho, no Vale do
Paranapanema, ou o uso do plantio direto, tanto no verão quanto na
safrinha, apresentam os maiores rendimentos, considerando-se a
produção em vários anos (De Maria & Duarte, 1997). Resultados
similares foram também obtidos por Possamai et al. (1998).
A Tabela 4.4 mostra o efeito de quatro tipos de preparo de solo e
plantio direto na produtividade do milho e feijão, em dois tipos de solo,
em condições irrigadas. Verifica-se que, no neossolo flúvico, o preparo
do solo com o arado de discos ou arado escarificador promoveu
maiores rendimento de milho do que os demais métodos de manejo;
entretanto, em um latossolo vermelho, os maiores rendimentos foram
obtidos com o sistema plantio direto de milho ou com a grade pesada.
Por outro lado, em ambos os solos, a produção do feijão após o milho
foi maior nas áreas com plantio direto, demonstrando ser possível a
associação do uso do arado escarificador para o plantio do milho, no
verão, e o plantio direto do feijão, no inverno, no neossolo flúvico, e o
uso do plantio direto contínuo, tanto para o milho quanto para o feijão,
no latossolo vermelho.
84
A Cultura do Milho Irrigado
evaporação e maior disponibilidade de água para as plantas, o manejo
da irrigação em sistema plantio direto poderá ser diferente daquele
praticado no sistema convencional de preparo do solo, quanto à lâmina
de irrigação e ao turno de rega. O plantio direto também permitirá ao
agricultor ganhar tempo entre a colheita de uma safra e o plantio da
safra subseqüente, uma vez que elimina as operações de aração e
gradagens.
Um aspecto também importante na agricultura irrigada é a realização
das operações agrícolas, especialmente o preparo do solo, quando
este apresentar teor de umidade adequado, evitando-se, dessa forma,
problemas de compactação e maior gasto de energia e tempo nas
operações.
O agricultor também deverá ter em mente que a erosão hídrica é
muito maior quando o solo encontra-se descoberto por ocasião das
chuvas mais intensas e freqüentes, durante o ano. Dessa forma, a
época de plantio das culturas também é um instrumento de defesa
contra a erosão.
4.8. Literatura citada
ALVARENGA, R.C.; CRUZ, J.C.; PEREIRA FILHO, I.A.; SANS, L.M.A.
Perdas de solo e água em um latossolo vermelho-escuro sob diferentes
sistemas de manejo. In: ENCONTRO NACIONAL DE PLANTIO DIRETO
NA PALHA, 6., 1998, Brasilia. Qualidade ambiental e prosperidade na
agricultura: resumos tecnicos. Brasilia: APDC, 1998. p.70
ALVARENGA, R.C.; CRUZ, J.C.; KONZEN, E.A.; PEREIRA FILHO, I.A.;
SANTANA, D.P.; BAHIA, F.G.T.C.; OLIVEIRA, A.C. Manejo e
conservação do solo em sistema de produção de grãos, Sete Lagoas:
EMBRAPA-CNPMS, 1994. (EMBRAPA.Programa 01 – Recursos
Naturais.Projeto 01.0.94.193). Projeto concluído.
ALVARENGA, R.C.; PEREIRA FILHO, I.A.; FRANÇA, G.E.; FREIRE,
F.M.; CRUZ, J.C.; SANTANA, D.P.; KONZEN, E.A.; MARRIEL. I.E.;
PRUSKI, F.F. Sistemas de produção agrícola sustentáveis e
competitivos, Sete Lagoas, EMBRAPA-CNPMS, 1999.
(EMBRAPA.Programa 04 – Grãos.Projeto 04.1999.284). Projeto em
andamento.
BERTOL, I.; COGO, N.P.; CASSOL, E. A. Distância entre terraços
usando o comprimento crítico de rampa em dois preparos
conservacionistas do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
Viçosa, v.24, p.417-425, 2000.
86
A Cultura do Milho Irrigado
LANDERS, J.N. (Coord). Fascículo de experiências de plantio direto no
cerrado. Goiânia: Associação de Plantio Direto no Cerrado, [s.d.].
261p.
LUCHIARI JR., A.; RESENDE, M. Comparação de técnicas de manejo
de solo e modificações microclimáticas e suas eficiências na redução
das perdas causadas pelo veranico. In: SIMPÓSIO SOBRE O
CERRADO, 6.,1982, Brasília. Savannas: alimentoe energia. Planaltina:
EMBRAPA-CPAC, 1988. p.611-620.
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Horizonte, v.13, n.147, p.55, 1987.
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volume e retenção de água de um Latossolo Vermelho-Amarelo de
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25., 1995, Viçosa. Resumos... Viçosa: SBCS/UFV, 1995. v. 3, p.
1746-1748.
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Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. 31p. (Embrapa Arroz e Feijão.
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OLIVEIRA, M.F.; ALVARENGA, R.C.; OLIVEIRA, A.C.; CRUZ, J.C.
Efeito da palha e da mistura atrazine e metolachlor no controle de
plantas daninhas na cultura do milho, em sistema de plantio direto.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 36, n. 1, p. 37-41, 2001.
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Lexington: University of Kentucky, [s.d.]. p.23-42.
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Cursos... Campinas: IAC, 1999. p.1-4.
POSSAMAI, J. M.; SOUZA, C. M. de; GALVÃO, J. C. C. Sistemas de
preparo de solo e o cultivo do milho “safrinha” na região de Viçosa MG. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 22., 1998,
Recife, PE. Globalização e segurança alimentar – [resumos
Expandidos]. Recife: ABMS, 1998. CD-ROM.
90
A Cultura do Milho Irrigado
Na maioria dos casos, a produtividade esperada serve como um dos
balizamentos para se recomendar a adubação de uma determinada
cultura.
5.2. Acidez do solo e calagem
A acidez do solo é dividida em ativa e potencial. A acidez ativa é
representada pela fração ou parte do hidrogênio que se encontra
dissociado na solução do solo, sendo expresso em unidades de pH,
devido à sua baixa concentração. A fração não dissociada do
hidrogênio é denominada acidez potencial. A acidez ativa é facilmente
determinada através da medida do pH na solução do solo, já a acidez
potencial requer a substituição do hidrogênio por outro cátion. O pH
do solo pode variar de 3 a 10, porém, os valores mais comumente
encontrados estão entre 4 e 8.
Além da acidez ativa, a correção da acidez do solo está relacionada
com o seu poder tampão. Assim, solos mais tamponados, isto é, mais
ricos em colóides orgânicos e inorgânicos, requerem maiores
quantidades de calcário do que solos mais arenosos, com baixos
teores de colóides.
A reação do solo, expressa pelo pH, é da maior importância, pois os
microorganismos e as plantas são sensíveis à sua alteração. O pH é
um indicador geral da disponibilidade de nutrientes, da presença de
carbonato livre (carbonato de cálcio) e do excesso de sódio, alumínio e
hidrogênio.
A grande maioria dos solos brasileiros é ácido, notadamente os solos
sob vegetação de cerrado, com baixos teores de nutrientes (P, Ca,
Mg) e elevada saturação de Al tóxico para as plantas.
Um programa de adubação e calagem deve começar com uma boa
amostragem de solo para análise. Em sistemas irrigados, o uso
intensivo da terra implica extração rápida de nutrientes pelas plantas,
exigindo um acompanhamento mais freqüente da evolução do índice
de fertilidade do solo, através de análise química, para evitar sua
possível acidificação, esgotamento e desbalanço de nutrientes. Para a
agricultura de sequeiro, recomenda-se a análise do solo a cada três a
quatro anos, enquanto que, em sistema irrigado, é recomendável o
acompanhamento anual, analisando-se amostras coletadas nas
camadas de 0-20 e 20-40 cm de profundidade.
A correção da acidez do solo através da calagem é de fundamental
importância para reduzir a toxidez de Al, fornecer cálcio e magnésio
92
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 5.2. Valores de Y de acordo com o fósforo remanescente (P-rem.), que
é o teor de P na solução de equilíbrio, após ser agitada durante 1 h a TFSA com
solução de CaCl2.
5.2.2. Método da saturação com bases
Segundo esse método, a saturação com bases recomendada para a
cultura do milho irrigado é de 60%. A quantidade de calcário é
determinada usando-se a seguinte fórmula:
NC = CTC x (V2-V1)/100 x (1OO/PRNT)
Sendo:
NC = quantidade de calcário (t ha-1);
V1 = saturação com bases do solo (%);
V2 = saturação com bases a ser atingida com a calagem (%);
CTC = capacidade de troca de cátions a pH 7,0 (cmolc dm-3);
PRNT = poder relativo de neutralização total (%);
S = Ca + Mg + K + Na (cmolc dm-3);
CTC = S+ (Al +H) (cmolc dm-3);
V1 = S/CTC x 100 (%).
Cuidado especial deve ser dispensado aos solos arenosos, que, em
geral, apresentam baixos teores de bases trocáveis, matéria orgânica,
capacidade de troca de cátions (CTC) e, como conseqüência, baixa
capacidade tampão. Essas características conferem ao solo fácil
alteração no pH, mesmo com pequenas aplicações de calcário, o que
requer um manejo criterioso da calagem. Excesso de calcário pode
ocasionar uma série de distúrbios, como a perda de cátions por
lixiviação, redução na solubilidade dos micronutrientes, exceto
molibdênio, e desbalanço de nutrientes, entre outros. A calagem
nesses solos, além da correção da acidez, tem como objetivo a
correção dos baixos teores de cálcio e de magnésio.
94
A Cultura do Milho Irrigado
Entretanto, as necessidades nutricionais da planta são determinadas
pela quantidade de nutrientes extraídos durante o seu ciclo. Essa
extração total dependerá do rendimento e da concentração de
nutrientes nos grãos e na palha. A extração de N, P e K aumenta
linearmente com o aumento da produtividade (Tabela 5.4) e a
exigência maior do milho é por N e K. Portanto, a recomendação de N,
P205 e K 2O deve ser acrescida, visando atender essa maior extração e
manter o nível de fertilidade do solo para as culturas subseqüentes,
conforme apresentado na Tabela 5.5 (Alves et al., 1999). As classes
de interpretação dos teores de P e K no solo são apresentadas da
Tabela 5.6 (Alvarez et al., 1999).
Tabela 5.4. Extração de nutrientes (kg/ha) para cultura do milho destinada à
produção de grãos, em diferentes níveis de produtividade.
Tabela 5.5. Recomendações de adubação de plantio para a cultura do milho
irrigado (Alves et al., 1999).
Em solos de textura arenosa, deve-se parcelar o potássio em duas
aplicações, de modo que a metade da dose seja no sulco, por ocasião
do plantio, juntamente com o nitrogênio e o fósforo, e o restante,
junto com a primeira adubação nitrogenada em cobertura. Nesses
solos, é recomendável o uso de formulações de adubo contendo os
micronutrientes Zn, Fe, Mn, Cu, B e Mo. Em solos cultivados com
milho, a ocorrência de deficiência de Zn é bastante freqüente. A
planta de milho é muito sensível à deficiência de Zn; por isso,
recomenda-se a aplicação de 1 a 2 kg de Zn ha-1, para prevenir
96
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 5.7. Extração de nitrogênio pelas culturas de milho, sorgo e trigo, em
função da produtividade.
A quantidade ótima de N é difícil de ser determinada, pois muitos
fatores estão envolvidos. Devem-se considerar todas as informações
disponíveis, para se chegar a uma estimativa aproximada da demanda
real, pois a falta de N pode reduzir os rendimentos e, como
conseqüência, os lucros, enquanto o excesso nem sempre corresponde
ao aumento esperado no rendimento, onerando os custos de produção,
causando a redução dos lucros, além do aumento da possibilidade de
degradação ambiental, devido ao incremento do teor de nitrato
residual.
5.4.1. Quantidade de N
A produção de gramíneas em solos tropicais, em geral, demanda o
aporte externo de N ao sistema, para complementar a quantidade
suprida pelo solo. Como já relatado, a quantidade total de N
necessária para um dado cultivo é baseada no rendimento esperado e
na estimativa da quantidade de N necessária para produzir uma
unidade de produto (Tabela 5.5).
A produtividade esperada (PE) é calculada com base no rendimento
médio de anos anteriores, eliminando-se dos cálculos o(s)
rendimento(s) de ano(s) atípico(s). Para se produzir uma tonelada de
grãos de milho, são necessários 18 kg de N (Tabela 5.5) e deve-se
levar em conta a eficiência de uso de N dos fertilizantes nitrogenados,
que, em sistemas de agricultura irrigada, é estimada como sendo de
60%, em média. A contribuição do N residual do solo (N-NO 3-1+NNH4+1), somada ao N proveniente da mineralização da matéria
98
A Cultura do Milho Irrigado
5.4.2. Manejo da adubação nitrogenada
As diversas formas de N no solo passam por vários processos de
transformação mediados por microorganismos, tendo sempre, como
produto final, N-nitrato, bastante móvel por fluxo de massa, uma vez
que não é retido pelo complexo coloidal, devido a suas cargas
negativas. Essas características peculiares ao N, somadas ao custo
elevado de produção dos fertilizantes nitrogenados em relação ao P e
K e ao potencial de poluição dos recursos hídricos por lixiviação de
nitrato, demandam um manejo que aumente a eficiência de uso e
reduza as perdas.
5.4.3. Modo de aplicação
Os fertilizantes nitrogenados podem ser aplicados ao solo, via água de
irrigação e via foliar, sendo as duas primeiras formas de aplicação as
mais utilizadas.
5.4.3.1. Aplicação no solo
A aplicação deve ser feita ao lado da planta, distante cerca de 15 cm,
quando as plantas tiverem seis a oito folhas complemente
desenvolvidas, pois é nesse período que as plantas de milho começam
a fase linear de acúmulo de massa seca, demandando grandes
quantidades de N disponível no solo (Fig. 5.1). Aproximadamente 65%
do N é absorvido pela planta durante a fase vegetativa, quando,
então, o N no solo deve ser suficiente para suprir a demanda pelas
plantas e estar nas formas de nitrato e/ou amônio prontamente
disponível.
0
25
50
75
100
DIAS APÓS A EMERGÊNCIA
Figura 5.1. Curva de absorção de nitrogênio pela cultura do milho.
100
A Cultura do Milho Irrigado
A eficiência da aplicação de fertilizantes, através da água de irrigação
por aspersão, depende da mobilidade do elemento no solo, da
exigência nutricional da cultura e das características físicas do solo,
do parcelamento e de alguns cuidados com a escolha dos fertilizantes
e do uso de equipamentos.
Características físicas do solo - Entre os principais fatores a serem
considerados para um bom manejo da fertirrigação, destacam-se as
características físicas do solo.
As perdas de nutrientes por lixiviação estão relacionadas com
aplicação de lâminas de água superiores às que o solo tem capacidade
de armazenar na profundidade efetiva do sistema radicular.
A textura influencia o número de parcelamentos das adubações. Em
solos arenosos, com maior potencial de perdas por lixiviação, deve-se
realizar um maior número de aplicações, o que reduzirá a lixiviação de
N para fora do sistema radicular. Os dados da Tabela 5.8 indicam que
não há diferença entre métodos de aplicação de N via água e solo, o
mesmo acontecendo com o número de parcelamentos nos dois tipos
de solos. Para solo argiloso, recomenda-se a aplicação de todo o N
com seis a oito folhas e, para solo arenoso, parcelar em duas
aplicações, sendo 50% com seis folhas e 50% com dez folhas.
Tabela 5.8. Produtividade de grãos (kg ha-1), em função de método de aplicação
e parcelamento de nitrogênio.
Fonte: Adaptação de Alves et al. (1992)
Fertilizantes usados em fertirrigação - Existe um grande número de
fertilizantes, sólidos e fluidos, que pode ser utilizado em fertirrigação.
No mercado, existem vários fertilizantes sólidos que contêm N, P e K,
em elementos isolados ou em combinação, que podem ser dissolvidos
e aplicados via água de irrigação. Na Tabela 5.9, são listados alguns
desses fertilizantes.
No mercado brasileiro, são encontradas algumas formulações de
fertilizantes líquidos (soluções e suspensões) contendo um nutriente ou
uma combinação, principalmente de N, P e K (Tabela 5.10).
102
A Cultura do Milho Irrigado
Cerrados, a aplicação de Zn na cultura de milho é sempre
recomendada, devido à sensibilidade da cultura à deficiência desse
nutriente. Para a cultura de trigo, o cuidado deve ser com a
deficiência de boro. A correção da deficiência de Zn no cultivo de
milho é feita com a aplicação de uma solução de sulfato de zinco a
0,5% de Zn e 0,25% de cal hidratada. A Tabela 5.11 contém as
principais fontes de micronutrientes solúveis em água.
Tabela 5.11. Fontes, concentração e solubilidade de micronutrientes em água.
Considerações sobre a escolha do fertilizante
Na escolha do fertilizante, deve-se levar em conta a solubilidade, a
pureza, o poder corrosivo e a capacidade acidificante.
Os fertilizantes indicados para a aplicação via água devem ser
solúveis. No caso de se utilizar mais de um fertilizante, deve-se levar
em conta a compatibilidade entre eles, para evitar que ocorram
precipitações. Orientação sobre compatibilidade de fertilizantes
utilizados em aplicação via água é encontrada na Tabela 5.12.
Os fertilizantes sólidos devem possuir bom grau de pureza, para evitar
o entupimento dos bocais dos equipamentos. No caso da uréia, o teor
de biureto não deve ultrapassar 0,25%, para evitar toxicidade para as
plantas.
O poder de corrosão dos fertilizantes é variável, podendo danificar os
equipamentos. Devem-se lavar os equipamentos com água após as
aplicações, para reduzir o efeito corrosivo dos fertilizantes.
104
A Cultura do Milho Irrigado
5.5. Mobilidade do nutriente no solo
Embora a maioria dos nutrientes possa ser aplicada via água de
irrigação, os de maior mobilidade no solo são mais indicados para
aplicação por aspersão. A fertirrigação tem sido utilizada como
sinônimo de aplicação de N via água, devido à grande mobilidade e ao
potencial de perdas de nitrato por lixiviação. Estão incluídos nesse
grupo o N, o S e alguns micronutrientes na forma de quelatos. No caso
de solos arenosos, com baixa CTC, o potássio também pode ser
aplicado por esse método.
Não se recomenda a aplicação de fósforo, cálcio e magnésio via água
de irrigação por aspersão, pois, devido à pouca mobilidade, esses
nutrientes se acumulam nos primeiros centímetros do perfil do solo,
reduzindo a eficiência de uso, principalmente em solos argilosos.
5.6. Exigências nutricionais da cultura
Como mencionado anteriormente, a quantidade de N a ser aplicada
depende da cultura, do tipo de solo e da produtividade esperada.
Conhecendo-se a demanda, a capacidade de suprimento de N pelo solo
e as perdas estimadas dos fertilizantes nitrogenados, pode-se
determinar a quantidade a ser aplicada para se atingir uma dada
produtividade. A época de aplicação do N deve ser feita com base na
curva de absorção de N. Apesar da facilidade do parcelamento da
adubação nitrogenada em cobertura, em cultivos irrigados por
aspersão, com pequeno acréscimo nos custos de produção, esse
parcelamento nem sempre representa vantagem em termos de
rendimento. Dados de trabalho conduzido em dois tipos de solo, um
LE, textura argilosa, e um LV, textura média, cultivados com milho
sob irrigação por aspersão (Tabela 5.6), não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas quando se compararam três métodos
de aplicação da adubação nitrogenada em cobertura: 1) no solo; 2) no
solo e via água de irrigação; 3) na água de irrigação, na dose de 120
kg de N ha-1.
106
A Cultura do Milho Irrigado
RESENDE, M. & FRANÇA, G.E. - Relatório dos Trabalhos em
Andamento do consórcio Embrapa/CODEVASF/ EPAMIG. [S.I.: s.n.],
1997. 31 p. Não publicado.
RESENDE, M.; ALVES, V.M.C.; FRANÇA, G.E.; MONTEIRO, J.A.
Manejo de irrigação e fertilizantes na cultura do milho. Inf.
Agrop. Belo Horizonte. 14(164):26-34, 1990.
VIEIRA, R. F. E RAMOS, M. M. Fertirrigação. In: Comissão de
Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais. Recomendações para o
uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais – 5ª aproximação/
Antônio Carlos Ribeiro, Paulo Tácito Gontijo Guimarães, Victor hugo
Alvarez V., editores. Viçosa, MG, 1999.,359p.
108
A Cultura do Milho Irrigado
6.2. Descrição dos danos e manejo das pragas
de milho irrigado
Para se estabelecer um programa de manejo de qualquer espécie-alvo,
devem ser considerados os fatores ecológicos, econômicos e sociais.
Segundo Cruz (1999), a identificação da espécie-alvo a área a ser
manejada, a estratégia de ação a ser seguida, a técnica de
monitoramento e a determinação da densidade populacional da praga
que causará danos econômicos (nível de dano) são princípios básicos
para o estabelecimento de um programa de manejo integrado. Para
várias espécies de insetos-praga do milho, alguns desses princípios
ainda precisam ser pesquisados e melhorados.
Entre esses princípios, é difícil determinar com precisão a densidade
populacional da praga que causará danos econômicos, devido,
principalmente, a várias interações. Segundo os princípios de manejo
integrado, medidas de controle devem ser tomadas somente quando a
densidade do inseto-praga tem potencial para causar um dano igual ou
maior do que o custo econômico e o impacto ambiental do seu
controle. O cálculo do nível de controle (NC) pode ser realizado
utilizando-se a seguinte fórmula:
NC = 100 x CC/(DM x VP)
em que:
NC = porcentagem de plantas atacadas no campo acima da qual se
deve adotar medidas de controle;
CC = custo de controle (inseticida e mão-de-obra para aplicação);
DM = potencial máximo de dano que a praga pode ocasionar (%);
VP = valor da produção, ou seja, rendimentos (kg/ha) x preço do
milho.
De maneira geral, tem-se que uma maior expectativa de rendimento e
do preço de mercado do grão, e menor custo de tratamento, levam a
assumir uma menor perda, ou seja, um menor NC.
Este capítulo irá enfatizar como a irrigação poderá ser utilizada para o
controle e, também, como ela afeta o manejo de insetos que atacam o
milho. Informações adicionais sobre a descrição, biologia e
reconhecimento dos principais insetos-praga dessa cultura são
encontradas em Cruz et al. (1997), Viana (2000a) e Fancelli &
Dourado Neto (2000). Didaticamente, os insetos-praga da lavoura de
milho podem ser divididos em dois grupos principais: os de hábitos
subterrâneos e os da parte aérea das plantas.
110
A Cultura do Milho Irrigado
Os fatores que favorecem o aumento populacional de elasmo estão
associados a altas temperaturas, solos arenosos ou de fácil drenagem
e períodos de seca. Práticas culturais também afetam a maior ou
menor ocorrência da praga.
A alta umidade do solo é o principal fator no manejo de elasmo. Atua
como fator de controle em qualquer estágio do ciclo biológico da
praga. Porém, é mais eficiente no início da fase larval, causando alta
mortalidade. À medida que a lagarta se desenvolve, a mortalidade
decresce (Viana & Costa, 1995). A alta umidade do solo também
afeta negativamente o comportamento dos adultos na seleção do local
para oviposição e na eclosão das lagartas. As mariposas preferem
depositar os ovos em solos mais secos. A umidade do solo mantida em
torno da capacidade de campo, no início da lavoura, pode manter os
danos causados pela praga em níveis abaixo de perda considerada
econômica, desde que a lagarta esteja na fase inicial de
desenvolvimento.
Algumas práticas culturais, como a queima da palhada antes do
plantio ou na colheita, também afetam a população dessa praga. Onde
se pratica a queimada, ocorre maior população e maior dano por
elasmo. Nos adultos, a fumaça causa um estímulo olfativo que os atrai
para áreas queimadas. Essa prática também contribui para a
destruição de inimigos naturais. O método de cultivo também afeta o
manejo dessa praga, podendo a infestação chegar a duas vezes mais
em cultivo convencional, em relação ao plantio direto, uma vez que as
fêmeas preferem depositar os ovos no solo arado e gradeado do que
sobre a cobertura vegetal existente.
Embora os inimigos naturais sejam um importante componente
regulatório de população de insetos, o seu impacto sobre a lagartaelasmo é considerado baixo. Isso se explica devido ao habitat
protegido da lagarta quando se alimenta no interior do colmo ou
quando se encontra em uma câmara de teia e detritos construída pelo
inseto no solo.
Na Embrapa Milho e Sorgo, tem-se procurado desenvolver cultivares
com resistência genética, visando o seu emprego em um programa de
manejo integrado. Entretanto, a resistência encontrada nos genótipos
selecionados tem sido considerada moderada e seu uso, no futuro,
deverá ocorrer juntamente com outros métodos de controle.
Ainda não existe um método seguro para o monitoramento de elasmo
e de tomada de decisão para o seu controle com inseticidas. O
emprego de feromônio sexual é um dos métodos mais promissores,
porém ainda não tem apresentado sucesso (Pires et al., 1992).
112
A Cultura do Milho Irrigado
A larva desse inseto atinge 10 mm de comprimento, é de cor branca,
cabeça marrom e tem uma placa escura no último segmento
abdominal. O adulto mede cerca de 6 mm de comprimento, tem
coloração verde, cabeça marrom, élitros lisos, com seis manchas
amarelas e tíbias pretas. O dano causado nas raízes do milho pela
larva (Figura 6.2) interfere na absorção de nutrientes e água e reduz a
sustentação das plantas, ocasionando acamamento em situações de
ventos fortes e de alta precipitação pluviométrica.
Figura 6.2. Raízes de milho atacadas por larvas de Diabrótica.
Foto: Paulo Afonso Viana
Para o manejo dessa praga, existem poucas informações,
principalmente sobre a sua capacidade de migração, plantas
hospedeiras, biologia, influência do habitat (solo) e do manejo de
culturas sobre a população, ocorrência de inimigos naturais e
estratégia de controle (inseticidas e métodos de aplicação). O
conhecimento desses parâmetros facilitaria a seleção de medidas
eficazes de manejo. O método de amostragem mais comum utilizado
para a larva de Diabrótica consiste em peneirar as amostras de solo
retiradas de local próximo às raízes sobre um plástico preto, onde as
larvas são detectadas visualmente. Resultados preliminares obtidos
por Viana (2000c) indicam que a densidade média de 3,5 a 5 larvas/
planta causa danos consideráveis ao sistema radicular do milho.
A umidade do solo é um dos fatores a serem considerados no manejo
dessa praga, uma vez que, em áreas experimentais, observou-se maior
ocorrência de larvas em solos com maior umidade e menor ocorrência
em solos com baixa umidade (Viana, 2000c). O método de preparo de
114
A Cultura do Milho Irrigado
de plantas atacadas (Edwards et al., 1997). Deve-se ressaltar que,
quando o ataque ocorre no estádio em que a região de crescimento da
planta se encontra abaixo do nível do solo e em condições climáticas
favoráveis, essa planta pode se recuperar. O controle pode ser feito
pela pulverização de carbaryl (1200 g i.a./ha) e trichlorfon (500 g i.a./
ha), dirigindo o jato para o colo da planta. Quando se utiliza controle
preventivo para elasmo, este proporciona também o controle da
lagarta-rosca.
Práticas culturais, como o revolvimento do solo através de aração e
gradagem, expõem as lagartas e pupas aos raios solares, que são
prejudiciais ao inseto, aumentando a mortalidade. Várias plantas
daninhas, principalmente corda-de-viola, guanxuma e unha-de-vaca
são hospedeiros mais preferidos pela praga do que o milho (Busching,
1975). Portanto, para o manejo da praga, é importante manter a área
a ser cultivada livre dessas plantas, visando reduzir a infestação na
lavoura.
O controle biológico da lagarta-rosca não tem sido eficiente,
principalmente pelo fato de essa praga ficar escondida sob torrões,
protegida contra os inimigos naturais (Cruz, 1992).
Percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) - Essa praga ataca várias
culturas, podendo causar danos na soja, algodão, pastagens, feijão e
no milho. Em áreas localizadas, o percevejo ataca o milho,
acarretando sérios prejuízos. A ocorrência desse inseto é esporádica,
o que dificulta o estabelecimento de um programa de manejo para
impedir os seus danos. Os adultos e ninfas preferem o solo úmido para
viver e causam maior danos nessa condição, enquanto que, em solo
seco, o inseto aprofunda-se à procura de umidade. A sua presença
pode ser constatada durante o preparo do solo, através do cheiro
característico dos percevejos.
O inseto apresenta corpo de coloração castanha e as pernas
anteriores do tipo escavatórias. O tamanho varia de 6 a 8 mm de
comprimento. As ninfas e os adultos alimentam-se das raízes e sugam
a seiva; quando o ataque é severo, causa o definhamento e a morte
da planta.
O método cultural pode ser empregado para o manejo desse inseto. A
aração e a gradagem expõem os insetos aos predadores e causam o
esmagamento das ninfas e adultos. A aração com arado de aiveca é a
que apresenta maior eficiência no controle do percevejo castanho
(Amaral et al., 1999a). O fungo Metarhizium anisopliae é um agente
de controle biológico da praga e a sua eficiência está relacionada com
116
A Cultura do Milho Irrigado
O controle químico via tratamento de sementes tem-se mostrado
viável para o controle da larva do “coró” (Salvadori, 1997). Segundo
Ávila et al. (1997), a pulverização de inseticidas no sulco de
semeadura é uma técnica promissora para o controle desse inseto. O
nível de dano para os “corós” ocorre a partir de 5 larvas/m2
(Salvadori, 1997).
Larva-arame (Conoderus spp., Melanotus spp) - Esse grupo de inseto
causa danos esporádicos em várias culturas. Para o milho, os danos
são mais severos em lavouras semeadas em áreas de pastagens,
situação em que o solo não é preparado anualmente, proporcionando
uma condição favorável para o desenvolvimento da larva.
A larva-arame possui o corpo quitinizado, de coloração marrom, e
varia de 20 a 40 mm de comprimento. Os ovos são depositados no
solo, entre as raízes das plantas. A fase seguinte, de larva, danifica o
sistema radicular e a base do colmo das plantas.
O manejo da irrigação pode ser utilizado para evitar o ataque da larva
nas raízes do milho. Em solos úmidos, a larva localiza-se nas camadas
superficiais e causa severo ataque ao sistema radicular do milho. Para
auxiliar no controle, devem-se espaçar as irrigações o máximo
possível, para melhor drenar a camada agricultável do solo, forçando a
larva a aprofundar-se no solo, reduzindo o dano nas raízes. Entretanto,
em surtos da praga, essa prática não é isoladamente eficaz para o
controle da larva, necessitando ser integrada com inseticidas.
Ainda não existem informações sobre o nível de controle para esse
grupo de inseto. A biologia dessas espécies não é bem conhecida e os
hábitos são variados. O controle químico é recomendado
preventivamente na semeadura do milho, em áreas que apresentam
histórico de ataque da larva-arame. Os inseticidas chlorpyrifos (1200
g i.a./ha), pulverizado, e terbufos (3000 g i.a./ha) granulado, aplicados
no sulco de plantio, são eficientes para o controle da praga (Viana &
Marochi, 1994b).
6.2.2. Pragas da parte aérea da planta
Várias pragas atacam a parte aérea da planta de milho e são
geralmente menos afetadas pela condição de maior umidade
geralmente encontrada na cultura irrigada. As espécies mencionadas
a seguir destacam-se pela importância econômica e frequência de
ocorrência.
Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) - Essa praga é
considerada a principal praga da cultura do milho, tanto em sistema de
118
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 6.4. Dano causado pela lagarta-do-cartucho no colmo de milho.
Foto: Paulo Afonso Viana
A lagarta totalmente desenvolvida mede aproximadamente 40 mm,
apresenta coloração variável de pardo-escura, verde até quase preta e
possui um Y invertido na parte frontal da cabeça.
O estádio de desenvolvimento da planta de milho mais sensível ao
ataque da lagarta é o de oito a dez folhas (Cruz & Turpin, 1982,
1983) e o controle mais utilizado é com inseticidas. Recomenda-se
que o controle seja realizado quando 17% das plantas estiverem com
o sintoma de folhas raspadas, indicando que, nesse ponto, as lagartas
presentes ainda não causaram danos econômicos para a lavoura.
Atualmente, existem vários inseticidas recomendados para o controle
da lagarta, tanto aqueles considerados de última geração, como por
exemplo, os fisiológicos (lufenuron, triflumuron), que atuam no
crescimento do inseto e os de origem biológica (spinosad), com baixa
toxicidade para os inimigos naturais benéficos, homem e animais,
quanto os inseticidas tradicionais, principalmente dos grupos de
piretróides, organofosforados e carbamatos, que diferem entre si em
eficiência, seletividade para os inimigos naturais e toxicidade para o
homem e animais. Esses inseticidas são usualmente aplicados com
pulverizador costal ou tratorizado. Porém, com a técnica de aplicação
120
A Cultura do Milho Irrigado
Broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) - Essa praga tem
causado sérios prejuízos à cultura do milho na região central do Brasil.
O estádio da planta em que o dano é mais acentuado é quando ocorre
severa infestação na fase de quatro a cinco folhas, podendo reduzir a
produção em 21% (Maredia & Mihm, 1991).
A lagarta apresenta a cabeça marrom e o corpo esbranquiçado, com
inúmeros pontos escuros e, após completamente desenvolvida, atinge
cerca de 3 cm de comprimento.
O principal hospedeiro da broca é a cultura da cana-de-açúcar.
Tradicionalmente, em ambientes estáveis da cultura canavieira, o
controle desse inseto tem sido realizado com sucesso através de
inimigos naturais. Os principais agentes de controle biológico são o
Metagonistylum minense e o Trichogramma spp., cujo parasitismo da
lagarta chega a atingir 20% (Gallo et al., 1978). Em sistemas de
produção de culturas anuais, essa praga tem prejudicado o
enchimento dos grãos, causando galerias (Figura 6.5) e o quebramento
de colmo. As galerias causadas pela broca são geralmente infectadas
por microorganismos oportunistas, que agravam os danos. Muitos
agricultores têm procurado utilizar o tratamento químico sem
conseguir sucesso no controle. Para obter eficiência, é necessário
observar que a lagarta alimenta-se inicialmente das folhas do milho,
para, posteriormente, penetrar no colmo. A aplicação de inseticidas
para controlar eficientemente essa praga só é viável quando visa
lagartas de primeiro e segundo ínstares, que ainda não penetraram no
interior do colmo. Pode-se obter eficiência na pulverização para o
controle da broca com os inseticidas lufenuron (15 g i.a./ha) e
acephate (750 g i.a./ha), aplicados quando a lagarta ainda se encontra
alimentando-se das folhas (Viana et al., 2000).
Figura 6.5. Ataque da broca da cana-de-açúcar no colmo de milho.
Foto: Paulo Afonso Viana
122
A Cultura do Milho Irrigado
lavoura e, quando ocorre competição por alimento, as lagartas
emigram para o milho. Para evitar danos, é necessário realizar
vistorias freqüentes na fase vegetativa da lavoura, principalmente em
áreas vizinhas às pastagens.
A lagarta se locomove como “mede-palmo”, tem coloração verdeescura, com estrias longitudinais castanho-escuras, limitadas por
estrias amarelas, e atinge cerca de 50 mm de comprimento.
O método químico é o mais utilizado e eficiente para o controle da
lagarta. Porém, nem sempre é necessário aplicar o inseticida em toda
a área da lavoura, uma vez que a infestação inicia-se pelas bordas da
cultura e a pulverização localizada sobre a área infestada é bastante
eficiente. Apesar do tamanho, a lagarta é muito sensível à ação da
maioria dos inseticidas recomendados para o controle da lagarta-docartucho. A aplicação do inseticida pode ser realizada tanto por
pulverização convencional como via água de irrigação por aspersão.
Cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta) - A cigarrinha é uma praga
secundária para a cultura do milho. A população da praga aumenta em
áreas de pastagem vizinha e o inseto emigra para a lavoura do milho,
sendo incapaz de reproduzir-se nesta. As plântulas sofrem com o
ataque da cigarrinha, sendo que quatro cigarrinhas por planta podem
causar sua morte. O adulto suga a planta e injeta uma toxina que
bloqueia e impede a circulação da seiva, cujos sintomas de ataque são
caracterizados por cloroses foliares e, posteriormente, secamento e
morte da planta. Plantas após 17 dias de idade geralmente resistem
bem ao ataque da praga e emitem novas folhas se a infestação for
suspensa. A ocorrência do inseto é mais comum nos períodos com alta
precipitação, ocorrendo dois ou três picos populacionais por ano.
O adulto da cigarrinha mede cerca de 10 mm de comprimento,
apresenta coloração preta, com três faixas amareladas nas asas.
O método cultural para o controle desse inseto é evitar o plantio de
milho em áreas adjacentes às pastagens. O controle químico pode ser
utilizado em áreas com histórico da praga, através da aplicação, no
sulco de plantio, dos inseticidas granulados phorate ou carbofuran
(Santos et al., 1982; Carneiro & Cunha, 1986). Surto de cigarrinha
pode ser controlado com pulverizações de monocrotofós (150 g i.a./
ha), triclorfom (500 g i.a./ha) e triazofós (200 g i.a./ha) (Gomez,
1997).
Pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis) - Esse inseto é uma praga
secundária do milho. Em situações de desequilíbrio por uso incorreto
de inseticidas, pode causar dano econômico à lavoura. A praga vive
124
A Cultura do Milho Irrigado
Um fator importante no manejo dessa praga é o bom empalhamento
de espigas, uma vez que cultivares bem empalhadas são menos
danificadas pela lagarta. Outro método utilizado para o controle da
lagarta é o uso de inseticidas, principalmente na exploração de milho
verde, sendo a época para aplicação do inseticida e o equipamento a
ser utilizado os maiores problemas encontrados no controle da praga.
O período em que a lagarta é mais vulnerável ao controle é logo após
a sua eclosão e se encontra alimentando-se no “cabelo” da espiga. À
medida que a lagarta cresce, penetra na espiga e danifica os grãos.
Nessa fase, o controle é difícil de ser realizado e apresenta baixa
eficiência. Portanto, o inseticida deve ser aplicado no “cabelo” da
espiga, na época adequada, para obter o controle da lagarta. Na
literatura, há referência do controle da lagarta da espiga através de
inseticidas aplicados via água de irrigação; entretanto, os resultados
obtidos experimentalmente por Viana & Costa (1992), empregando
essa técnica, apresentaram eficiência moderada. Os inseticidas
cyflutrin (15 g i.a./ha) e fenitrotion (750 g i.a./ha) foram os mais
eficientes no controle da lagarta. Novos inseticidas, doses e épocas de
aplicação vêm sendo avaliados visando a melhoria na eficiência de
controle. Os inimigos naturais como a “tesourinha” e o Trichogramma
são importantes agentes de controle biológico dessa praga, pois
predam e parasitam os ovos depositados nos estilos-estigmas.
6.2.3. Pragas ocasionais
Essas pragas têm ocorrência localizada em algumas regiões cultivadas
com milho. Dependendo da infestação, podem causar danos e
acarretar perdas na lavoura, as mais freqüentes são descritas a
seguir:
Ácaros (Tetranychus urticae e Catarhinus tricholaenae) - Os ácaros
ocorrem na fase inicial de desenvolvimento da lavoura, atacando as
folhas, causando descoloração, amarelecimento e seca da planta. A
praga pode evoluir rapidamente para um caráter endêmico, devido ao
desequilíbrio biológico causado pelo uso incorreto de inseticidas. A
aparência da praga é de uma minúscula aranha de coloração
esverdeada-translúcida, medindo cerca de 0,5 mm de comprimento,
formando grandes colônias recobertas com teias na parte ventral da
folha.
Tripes - Esse inseto raspa e suga as folhas do milho. Os danos às
plântulas são agravados devido à ausência de raízes secundárias nesse
estádio e em situação de pouca umidade no solo. A manutenção da
umidade ideal para a lavoura de milho em áreas irrigadas favorece a
recuperação das plantas atacadas pelo tripes. O ataque em plantas
126
A Cultura do Milho Irrigado
a bomba dosadora e a de irrigação; utilizar uma válvula de retenção na
linha de injeção; verificar periodicamente o funcionamento da válvula
de retenção da adutora e utilizar um dreno automático de baixa
pressão. Os riscos de contaminação dos lençóis freáticos por
lixiviação podem ser evitados utilizando-se um manejo de irrigação
adequado e inseticidas com baixa solubilidade e alta adsorção às
partículas do solo. Assim, além de evitar a percolação, aumenta-se a
eficiência no controle de pragas com hábito subterrâneo. Em
contrapartida, sob o ponto de vista de segurança, essa técnica
apresenta vantagens em relação aos outros tipos de aplicação de
inseticidas, sendo as principais vantagens: riscos reduzidos para o
operador, que não fica exposto ao inseticida que está sendo aplicado;
possibilidade de redução de freqüência e dose na aplicação e redução
do risco de contaminação do ambiente, onde a deriva é considerada
menor do que a aplicação via avião ou tratorizada (Threadgill, 1991).
A pesquisa e a experiência vêm continuamente adicionando novos
conhecimentos para a prática de aplicação de químicos via água de
irrigação, conduzindo para sistemas mais seguros em relação aos
riscos ambientais e aumentando a eficiência no controle das pragas.
6.4. Literatura citada
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132
A Cultura do Milho Irrigado
que antes não constituíam problemas para a cultura de sequeiro,
principalmente quando a irrigação é por aspersão convencional ou por
pivô central (Pinto, 1980).
O desenvolvimento de doenças em milho depende da interação entre
fatores ambientais em condições irrigadas, da natureza específica do
patógeno e da cultivar utilizada. Os efeitos da irrigação sobre a
micoflora do solo têm reflexo direto no desenvolvimento de patógenos
habitantes naturais do solo (Pythium spp., Acremonium strictum,
Rhizoctonia spp., entre outros), sobre a sobrevivência de estruturas
fúngicas presentes em restos de cultura e sobre outras fontes de
inóculo no solo.
O nível de umidade do solo afeta simultaneamente a suscetibilidade do
milho e a virulência do patógeno. Assim, a manutenção de altos níveis
de umidade é favorável a patógenos dependentes de água para a sua
disseminação, como espécies de Pythium , que causam podridão do
colmo do milho (Figura 7.1), bem como a bacteriose causada por
Erwinia carotovora pv. zeae , que provoca a podridão mole do colmo
(Figura 7.2). Outro aspecto da irrigação que deve ser considerado é o
efeito da umidade do solo sobre a micoflora antagônica aos patógenos
do milho.
Figura 7.1. Podridão do colmo por Pythium sp. Foto: Carlos De León
134
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 7.3. Raízes sadias à
esquerda e apodrecidas
por Rhizoctonia solani à direita.
Foto: Nicésio F.J.A. Pinto
Figura 7.4. Lesões no colmo por
Rhizoctonia solani.
Foto: Nicésio F.J.A. Pinto
Figura 7.5. Podridão do colmo por Macrophomina phaseolina.
Foto: Nicésio F.J.A. Pinto
136
A Cultura do Milho Irrigado
A turgidez da folha do milho favorece a infecção por bactérias, como
as lesões foliares provocadas por Pseudomonas alboprecipitans
(Figura 7.9). O acúmulo de água no cartucho da planta, devido à
irrigação, torna as plantas de milho mais suscetíveis à podridão do
cartucho provocada por Erwinia chrisanthemi (Figura 7.10).
Figura 7.9. Lesões foliares por Pseudomonas alboprecipitans.
Foto: Fernando Tavares Fernandes
Figura 7.10. Podridão do cartucho
por Erwinia chrisanthemi.
Foto: Fernando Tavares Fernandes
Figura 7.11. Lesões foliares por
Phaeosphaeria maydis.
Foto: Fernando Tavares Fernandes
Os fungos que causam lesões foliares têm preferência pelas folhas
baixeiras do milho e seu ataque é particularmente favorecido pela
irrigação, como é o caso de Phaeosphaeria maydis (Figura 7.11). As
138
A Cultura do Milho Irrigado
Com relação à podridão da espiga do milho, provocada por Diplodia
maydis (Sin. Stenocarpela maydis) e/ou D. macrospora (Sin.
Stenocarpela macrospora) (Figura 7.15), as irrigações freqüentes na
época da maturidade fisiológica dos grãos favorecem o seu
aparecimento.
Figura 7.15. Podridão branca da espiga por Diplodia (Stenocarpela) maydis ou
D. macrospora.
Está claramente demonstrado que a persistência de patógenos acima
do solo, em restos de cultura, está inversamente correlacionada com
a freqüência de água aplicada ao solo, de tal modo que a persistência
é mais longa em solos não irrigados. A irrigação, neste caso, pode
exercer um importante papel na diminuição de sobrevivência de
inóculo no solo, de uma safra para a outra.
Os nematóides fitoparasitas são inteiramente dependentes da água
para as suas atividades. Algumas espécies podem sobreviver em
condições de solo seco, mas dependem do restabelecimento da
umidade do solo para se moverem, se alimentarem e porem ovos
(National Academy of Science, 1970). Flutuação na umidade do solo,
devido à água de chuva ou de irrigação, é um dos principais fatores a
influenciar o incremento da população de nematóides. As condições
de solo seco podem deprimir as populações de Meloidogyne spp. Em
campos encharcados, as populações de algumas espécies de
Meloidogyne têm sido reduzidas pela falta de oxigênio e presença de
toxinas produzidas por microrganismos anaeróbicos. É sabido que os
nematóides são mais ativos em solos com conteúdo de umidade entre
40 a 60% da capacidade de campo (Lordello, 1973).
Os nematóides necessitam de um filme de água livre no solo para a
eclosão das larvas e sua movimentação; portanto, a estrutura do solo,
a umidade e a aeração estão fortemente correlacionadas. Quando os
poros do solo estão saturados de água, o nematóide move-se
140
A Cultura do Milho Irrigado
com a ausência do patógeno. Em algumas regiões de ocorrência
dessa doença, a sua severidade tem sido maior nos meses de
dezembro a maio, praticamente não ocorrendo nos meses de julho a
outubro.
Ferrugem comum do milho - Causada por Puccinia sorghi (Figura
7.12). É uma doença favorecida por temperaturas entre 16 e 23 o C e
alta umidade relativa, ocorrendo em altitudes inferiores a 1.500 m.
Por ser um parasita obrigatório e apresentar ciclo completo, as
principais medidas de controle são a utilização de cultivares
resistentes, a eliminação das plantas hospedeiras e a rotação de
culturas.
Ferrugem polissora - Causada por Puccinia polysora. É uma doença
favorecida por temperaturas em torno de 27 o C (Figura 7.13),
umidade relativa alta e altitudes inferiores a 900 m. Altitudes
superiores a 1.200 m são desfavoráveis à doença (Pinto et al., 1997).
Ferrugem branca ou tropical - Causada por Physopella zeae, é de
ocorrência recente no Brasil (Figura 7.14). Nos últimos anos, se
disseminou de forma a tornar-se comum em muitas regiões do país. É
favorecida por ambientes úmidos e por temperaturas moderadas a
altas; portanto, uma amplitude maior de temperatura relativa àquela
mais favorável à ferrugem polissora, apresentando grande capacidade
de adaptação em diferentes ambientes Em geral, apresenta maior
severidade em locais de baixa altitude e, principalmente, em plantios
tardios (Silva et al., 2001).
Por serem parasitas obrigatórios e apresentarem ciclos completos, as
principais medidas de controle para os três tipos de ferrugem citados
são a utilização de cultivares resistentes, a eliminação de plantas
hospedeiras e a rotação de culturas.
Cercosporiose - Causada por Cercospora zeae-maydis e Cercospora
sorghi f. sp. Maydis, é caracterizada por manchas cinzas retangulares
na folha (Figura 7.17), sendo uma doença que pode causar perdas
superiores a 80% na produção de grãos de milho. Tem sido observada
ocorrendo no Sudoeste de Goiás (Montividiu, Rio Verde, Mineiros,
Jataí) e na Alta Mogiana, em São Paulo (Fernandes & Oliveira,
2000b). Recentemente, foi também detectada em Paracatu, no
Noroeste de Minas Gerais.
A severidade da mancha por Cercospora é favorecida pela ocorrência
de vários dias nublados, com alta umidade relativa, presença de
orvalho e cerração por longos períodos. O fungo sobrevive em restos
culturais de milho e a disseminação de seus esporos ocorre pelo vento
142
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 7.18. Podridão do colmo por Diplodia (Stenocarpela) maydis.
Foto: Nicésio F.J.A. Pinto
Podridão do colmo e das raízes - Causada por Fusarium moniliforme
Sheld e Fusarium subglutinans, são fungos habitantes do solo,
apresentam elevado número de hospedeiros, vivem a maior parte de
seu ciclo de vida como saprófitas, podendo, contudo, infectar plantas
vivas e se tornarem parasitas (Figura 7.19). Nesse caso, a eficiência
da rotação de cultura é questionável. Por outro lado, um manejo
adequado da matéria orgânica e um bom preparo do solo permitirão
uma sensível redução no potencial de inóculo. Culturas corretamente
adubadas, de modo a evitar desequilíbrios nutricionais, são mais
resistentes. A medida mais econômica e eficiente é a utilização de
cultivares resistentes (Fernandes, 1975).
Podridão do colmo e das raízes - Causada por Pythium, sendo o
principal causador dessas podridões Pythium aphanidermatum, um
habitante natural do solo, que se diferencia dos demais patógenos de
colmo por atacar plantas jovens e vigorosas, antes do florescimento.
Em condições de alta umidade do solo e alta temperatura, a podridão
ocorre no primeiro entrenó (Figura 7.1) acima do solo (Pinto et al.,
1997), enquanto que, em condições de alta umidade do solo e baixa
temperatura, o apodrecimento fica restrito às sementes (Figura 7.7) e
raízes (Pinto, 1998).
É uma doença favorecida em solos com umidade próxima à
capacidade de campo. Para o seu controle, a principal medida
recomendada é o manejo adequado da água de irrigação. O
144
A Cultura do Milho Irrigado
na época da maturação dos grãos favorecem o aparecimento dessa
doença.
A medida de controle mais econômica e eficiente é a utilização de
cultivares resistentes.
Podridão rosada da espiga – Causada por Fusarium moniliforme ou
Fusarium subglutinans, sendo que a infecção pode se iniciar pelo topo
ou por qualquer outra parte da espiga (Figura 7.20), mas sempre
asssociada a alguma injúria. Quando a infecção ocorre através do
pedúnculo, todos os grãos podem ser infectados, mas a infecção só
se desenvolverá naqueles que apresentarem alguma injúria no
pericarpo.
A medida de controle mais econômica e eficiente é a utilização de
cultivares resistentes.
Figura 7.20. Podridão rosada da espiga por Fusarium moniliforme.
Foto: Nicésio F.J.A. Pinto
7.3.4. Doenças causadas por patógenos transmitidos por insetos
Enfezamento pálido - Causado por espiroplasma, que é transmitido
pela cigarrinha (Dalbulus maidis). Os seus efeitos podem resultar em
drástica limitação da produção, particularmente quando as plantas de
milho são infectadas nas fases iniciais de desenvolvimento (Figura
7.21).
Em geral, as plantas apresentam encurtamento de internódios,
formação de espigas pequenas e o enchimento de grãos pode ser
seriamente prejudicado. As espigas apresentam grãos frouxos,
pequenos, descoloridos ou manchados. Dependendo da cultivar, as
plantas secam e morrem ou tombam antes da maturidade,
provavelmente devido ao enfraquecimento causado pela doença (Pinto
et al., 1997).
146
A Cultura do Milho Irrigado
na produção de sementes de milho híbrido. Contudo, até o presente
momento, a literatura nacional não dispõe de resultados de pesquisa
empregando-se essa técnica.
Figura 7.22. Planta com enfezamento vermelho.
Foto:Elizabeth Oliveira
Diversos fatores que dificultam as aplicações de fungicidas em
pulverizações convencionais ou aéreas não interferem na fungigação,
como a altura das plantas e alta umidade do solo, que, às vezes, até
impedem a pulverização tratorizada. Via pivô central, o fungicida pode
ser aplicado em estádio de desenvolvimento mais adiantado da cultura
do que com equipamentos de pulverização convencional. A fungigação
pode ser realizada durante os períodos de nevoeiro, com neblina e
noturno, ao passo que essas mesmas condições impedem a aplicação
aérea (Pinto, 1994).
A adição de óleos não-emulsionáveis (derivados de petróleo e
vegetais) às formulações comerciais de fungicidas aumenta a sua
retenção e redistribuição nas folhas. A relação do fungicida/óleo mais
usada é de 1:1,8. Mais recentemente, alguns fungicidas têm sido
formulados em óleo (Brenneman & Sumner, 1989).
Para que haja sucesso na fungigação, alguns cuidados devem ser
tomados, como o horário e o tempo de aplicação, a velocidade do
vento, a manutenção da cultura no limpo, o coeficiente de
uniformidade da lâmina de água, a limpeza do sistema de irrigação
após a aplicação dos defensivos agrícolas, etc.
148
A Cultura do Milho Irrigado
7.5. Literatura citada
BRENNEMAN, T.B; SUMNER, D.R. Effect of chemigated and
conventionally sprayed tebuconazole and tractor traffic on peanut
diseases and pod yields. Plant Disease, St. Paul, v.73, p.843-846,
1989.
CASA, R. T.; REIS, E. M.; MEDEIROS, C. A.; MOURA, F. B. Efeito
do tratamento de sementes de milho com fungicidas, na proteção de
fungos do solo, no Rio Grande do Sul. Fitopatologia Brasileira, Brasilia,
v.20, n.4, p.633-637, dez. 1995.
CASELA, C.R.; PINTO, N.F.J.A.; OLIVEIRA, E.; FERREIRA, A.S. Sorgo
(Sorghum bicolor (L.) Moench): Controle de doenças. In: VALE, F.X.
R.; ZAMBOLIM, L. (Ed.). Controle de doenças de plantas: grandes
culturas. Viçosa: UFV, 1997. cap.22, p.1025-1063.
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quanto à suscetibilidade a Fusarium moniliforme e Diplodia maydis
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Fitopatologia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz,
Universidade de São Paulo, Piracicaba.
FERNANDES, F.T.; OLIVEIRA, E. de. Principais doenças na cultursa
do milho. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 2000a. 80p. (EMBRAPACNPMS. Circular Técnica, 26).
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milho. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 2000b. 1p. (EMBRAPACNPMS. Comunicado Técnico, 16).
KRIKUN, J.; FRANK, Z.R Metham sodium applied by sprinkler
irrigation to control pod rot and Verticillium of peanut. Plant Disease,
St. Paul, v.66, p.128-130, 1982.
LORDELLO, L.G.E. Nematóides das plantas cultivadas. 2.ed. rev. e
atual. São Paulo: Nobel, 1973. 197p.
MUNKVOLD, G.; MARTINSON, C. Corn diseases. Ames: Iowa State
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OLIVEIRA, E.; WAQUIL, J.M.; FERNANDES, F.T..; PAIVA, E.;
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do milho no Brasil Central - Safra 94/95. Fitopatologia Brasileira,
Brasilia, v.20, p.283, ago. 1995. Suplemento.
PINTO, N.F.J.A. Doenças do milho. Informativo Agropecuário, Belo
Horizonte, v.6, n.72, p.50-53, 1980.
152
A Cultura do Milho Irrigado
O manejo das plantas daninhas na cultura do milho deve enfatizar a
adequação dos diferentes métodos de controle, levando em
consideração a infra-estrutura e mão-de-obra disponíveis na
propriedade. Os principais métodos de controle de plantas daninhas
são: preventivo, cultural, mecânico, biológico e químico.
8.2. Métodos de controle
8.2.1. Preventivo
O método de controle preventivo visa evitar a disseminação de novas
espécies. A introdução de novas espécies geralmente ocorre através
de sementes contaminadas, máquinas agrícolas e animais. Os fatores
que podem evitar a disseminação de plantas daninhas são: a utilização
de sementes de boa procedência, livres de sementes de plantas
daninhas; limpeza de máquinas e implementos antes de movimentá-los
de um campo para outro; controle do desenvolvimento das invasoras,
impedindo a produção de sementes e/ou estruturas de reprodução em
cercas, estradas, terraços, pátios, fontes de água e canais de
irrigação ou em qualquer lugar da propriedade (Gazziero et al., 1989).
8.2.2. Cultural
O método cultural normalmente é utilizado pelos agricultores, mas não
como uma técnica de manejo de plantas daninhas, e consiste da
utilização de fatores que aumentem a capacidade competitiva da
cultura: menor espaçamento entre linhas, maior densidade de plantio,
época adequada de plantio, uso de variedades adaptadas às regiões,
uso de cobertura morta, adubações adequadas, irrigação bem
manejada e rotação adequada de culturas são técnicas que evitam
que as plantas daninhas se tornem mais competitivas com a cultura.
8.2.3. Mecânico
Capina manual - Embora a capina manual seja pouco utilizada em
áreas irrigadas, esse método é amplamente utilizado em pequenas
propriedades. Estima-se que, dos 350 milhões de produtores no
mundo, estimados nos anos 80, aproximadamente 250 milhões
usavam algum tipo de capina manual (Hill, 1982). Normalmente, duas
a três capinas com enxada são realizadas durante os primeiros 40 a
50 dias da lavoura, a partir daí o crescimento do milho contribuirá
para a redução das condições favoráveis para a germinação e
desenvolvimento das plantas daninhas. A capina manual deve ser
realizada evitando solos úmidos, preferencialmente em dias quentes e
154
A Cultura do Milho Irrigado
químico, se utilizado indiscriminadamente, pode vir a causar
problemas de contaminação ambiental, bem como na lavoura
subseqüente. Cuidados adicionais devem ser tomados com o descarte
de embalagens, armazenamento, manuseio e aplicação dos
herbicidas. Os herbicidas registrados para o controle químico de
plantas daninhas na cultura do milho estão apresentados nas Tabelas
8.1 e 8.2 (Silva & Pires, 1990; Rodrigues & Almeida, 1998; ANDEF,
2002; BRASIL, 2002).
8.3. Classificação dos herbicidas
Há aproximadamente 150 herbicidas técnicos (ingredientes ativos)
que, formulados, representam centenas de herbicidas comerciais
(Radosevich et al., 1997). No Brasil, em 1999, estavam registrados
690 produtos fitossanitários, sendo que destes 225 eram herbicidas,
enquanto, na Argentina, dos 1.765 produtos comercializados, 563
eram herbicidas (Kissmman, 2000). Devido ao grande número de
herbicidas no mercado, há necessidade de uma classificação dos
mesmos. Várias formas de classificação são conhecidas; entretanto,
nenhuma delas pode ser considerada adequada. Geralmente, os
herbicidas são classificados pela época de aplicação, pela atividade,
pela seletividade e pelo modo de ação, além de outros menos
utilizados.
8.3.1. Época de aplicação
Os herbicidas são classificados conforme a época de aplicação, em
relação às plantas daninhas e à cultura. Essa classificação considera
maximizar o controle e a seletividade dos herbicidas, dividindo os
mesmos em três categorias: pré-plantio-incorporado, pré-emergência e
pós-emergência. Os herbicidas de pré-plantio-incorporado são
aplicados antes do plantio e necessitam ser incorporados ao solo para
uma melhor eficiência no controle das plantas daninhas. Os herbicidas
de pré-emergência são aplicados após o plantio da cultura, mas antes
da emergência das plantas daninhas e da cultura. Os herbicidas de
pós-emergência são aplicados depois da emergência das plantas
daninhas, antes ou depois da emergência do milho. A época exata da
aplicação dos herbicidas de pós-emergência pode variar em função da
cultura, do herbicida e das plantas daninhas presentes na área. Os
herbicidas de pós-emergência (Tabela 8.2), considerados
dessecantes, são utilizados no manejo das plantas daninhas, no
sistema de plantio direto, antes do plantio da cultura.
156
A Cultura do Milho Irrigado
solubilidade em água (Sw), pressão de vapor (Ca), coeficiente de
repartição carbono orgânico-água (K oc), meia vida no solo (T1/2).
Tabela 8.1. Herbicidas pré-emergentes para o controle de plantas daninhas na
cultura do milho.
158
Tabela 8.1. Continuação.
A Cultura do Milho Irrigado
160
Tabela 8.2. Continuação.
A Cultura do Milho Irrigado
162
A Cultura do Milho Irrigado
Solubilidade em água (Sw) - A solubilidade em água determina a maior
ou menor facilidade de o herbicida se misturar em água, formando
uma solução. A solubilidade é expressa normalmente em partes por
milhão (ppm), variando de herbicida para herbicida. Valores mais altos
de solubilidade indicam maior disponibilidade do herbicida na solução
do solo, conseqüentemente, livre para que ocorram os processos
físico-químicos de absorção pelas raízes, adsorção nas partículas do
solo, biodegradação, lixiviação e volatilização. A solubilidade de alguns
herbicidas registrados para a cultura do milho pode ser observada na
Tabela 8.4.
Tabela 8.4. Características físico-químicas de alguns herbicidas utilizados para o
controle químico de plantas daninhas na cultura do milho (Rodrigues & Almeida,
1998; Ross & Lembi, 1999).
164
A Cultura do Milho Irrigado
temperatura e baixa umidade do ar, podem volatilizar muito
rapidamente da superfície do solo (com chuva ou irrigação a umidade
na lavoura fica alta). A pressão de vapor de alguns herbicidas
registrados para a cultura do milho pode ser verificada na Tabela 8.4.
Coeficiente de repartição carbono orgânico-água (K oc) - O coeficiente
de repartição carbono orgânico/água é a relação do coeficiente de
adsorção do herbicida ao solo (K d ), dividido pela taxa de carbono
orgânico no solo.
Koc = K d / carbono orgânico no solo
(Equação 8.1)
O coeficiente de adsorção (Kd) é a relação do herbicida adsorvido nas
partículas do solo (mg/kg), dividido pelo herbicida dissolvido na solução
do solo (µm/L). Esse coeficiente representa a tendência do produto em
se fixar na matéria orgânica do solo, embora a adsorção às partículas
de argila seja muito importante.
Kd = herbicida adsorvido / herbicida na solução do solo (Equação 8.2)
O coeficiente de repartição carbono orgânico-água tem sido utilizado
para estimar a adsorção de herbicidas ao solo. Essa absorção pode ser
classificada como muito forte, forte, média ou leve (Tabela 8.4).
Herbicidas adsorvidos aos colóides do solo apresentam maior riscos de
contaminação de águas superficiais, em função do carreamento de
solo por excesso de água de chuva ou de irrigação.
Meia-vida (T1/2) - A meia-vida de um herbicida é medida pelo tempo
em que a metade do composto é degradado. A meia-vida de um
herbicida não implica a eficiência de controle de plantas daninhas. O
herbicida pode estar presente no solo abaixo da zona de absorção
radicular e não ser efetivamente eficiente no controle das plantas
daninhas. A persistência pode ser expressa na forma de meia-vida do
herbicida. Agronomicamente, a persistência determina o resíduo dos
herbicidas no solo. A meia-vida de alguns herbicidas registrados para o
controle de plantas daninhas na cultura do milho pode se vista na
Tabela 8.4. Herbicidas que apresentam maiores valores de meia-vida
são compostos que apresentam maiores riscos de fitotoxicidade às
culturas de sucessão.
8.4.2. Qualidade da água
Como visto anteriormente, a adesão dos herbicidas às partículas do
solo é um fator importante para a disponibilidade do mesmo para ser
absorvido. Nesse caso, a utilização de água com impurezas de
partículas de argila ou matéria orgânica pode indisponibilizar o
166
A Cultura do Milho Irrigado
em condições de estresse hídrico, para que haja uma melhor absorção
e translocação dos herbicidas.
8.4.6. Matéria orgânica
Muitos herbicidas, principalmente aqueles aplicados ao solo,
apresentam recomendações diferenciadas de doses, devido aos teores
de argila e matéria orgânica do solo. Esse fato deve-se principalmente
à capacidade de o herbicida se absorver nessas partículas.
Geralmente, em solos com teores de matéria orgânica superior a 3%
e solos com teores de argila inferiores a 50%, as doses recomendadas
são maiores. Esse fato é válido, para os herbicidas de pós-emergência,
somente quando os mesmos apresentarem alguma ação residual.
8.4.7. Vento
O vento pode ocasionar deriva dos herbicidas na hora da aplicação,
diminuindo a quantidade desejada, carregando o produto para áreas
vizinhas. Ventos fortes aumentam os problemas de fitotoxicidade e
ineficiência observados em função das derivas. Uma maneira de
minimizar o efeito do vento é a utilização de bicos apropriados às
condições mais adversas e a redução da altura de aplicação. Quanto
mais alta estiver a barra de pulverização, maior será a deriva
observada. Cuidados especiais devem ser tomados na aplicação de
qualquer defensivo agrícola via pivô central, devido à altura de
aplicação dos mesmos. A Tabela 8.5 apresenta dados obtidos por
vários autores, sobre o tamanho de gotas e o efeito da velocidade do
vento nas distâncias percorridas pelas mesmas (Ross & Lembi, 1999).
Observa-se que, quanto menor o tamanho da gota e maior a
velocidade do vento, maiores são as distâncias percorridas em função
da deriva.
Tabela 8.5. Tamanho de gotas e efeito da velocidade do vento nas distâncias
percorridas pelas mesmas.
168
A Cultura do Milho Irrigado
plantas daninhas, a aplicação, principalmente via pivô central, pode
ocasionar riscos de contaminação ambiental e aumento do tempo de
aplicação (Silva et al., 1994). Esse método requer maior
conhecimento técnico, além de equipamentos adicionais. Silva &
Costa (1991) verificaram que as misturas formuladas de herbicidas,
quando aplicadas na cultura do milho, através de aspersores setoriais,
apresentaram eficiência semelhante à obtida via aplicação
convencional (tratorizada). Normalmente, os herbicidas de préemergência apresentam resultados mais eficientes, pois a própria
água de irrigação, como veículo (não em excesso), contribui para uma
melhor disponibilidade às plantas.
É muito importante que se considere a uniformidade de aplicação da
irrigação, principalmente quando há aplicação de pequenas lâminas de
água, como é o caso dos pivôs centrais (Dowler, 1982,1984, 1985).
A associação da má distribuição da água com o vento poderá causar
danos à lavoura, por excesso de herbicidas em algumas áreas ou falta
de controle das plantas daninhas, devido à falta de herbicidas em
outras.
8.6. Literatura citada
ASSOCIACAO NACIONAL DE DEFESA SANITARIA. Produtos
fitossanitários comercializados no Brasil. Brasilia, 2002. Disponivel
em: <http://www.andef.com.br/ > Acesso em 20 jun.2002
BLANCO, H. G.; ARAUJO, J. B. M.; OLIVEIRA, D. A. Estudo sobre a
competição das plantas daninhas na cultura do Milho (Zea mays L).;
determinação do período de competição. Arquivos do Instituto
Biológico, São Paulo, v.43, n.3/4, p.105-114, 1976.
BLEASDALE, J. K. A. Studies on plant competition. In: HARPPER, J.
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DOWLER, C. C. New technology in herbigation. In: NATIONAL
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Tifton: University of Georgia/ College Agriculturure, 1982. p. 28-34.
DOWLER, C. C. Applying herbicides postemergence through irrigation.
Proceedings of the Soil and Crop Science Society of Florida, Belle
Glade, v. 43, p. 14-16, 1984.
170
A Cultura do Milho Irrigado
SILVA, J. B.; KARAM, D. Manejo integrado de plantas daninhas na
cultura do milho. O Ruralista, Belo Horizonte, v.32, n.414, p.5-9,
1994.
SILVA, J. B.; KARAM, D.; COSTA, E. F. Herbigação. In: COSTA, E.F;
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CNPMS/Brasília: SPI, 1994. p. 281-307.
SILVA, J. B.; PIRES, N. M. Controle de plantas daninhas para a
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ZIMDAHL, R. L. Fundamentals of weed science. 2th. ed. San Diego:
Academic Press, 1999. 556 p.
172
A Cultura do Milho Irrigado
9.2. Fatores climáticos e culturais que afetam o
crescimento e o desenvolvimento do milho
Com relação a fatores climáticos, o período de crescimento e
desenvolvimento do milho é limitado pela água, temperatura e
radiação solar ou luminosidade. A época de semeadura ideal é
função dos fatores citados, cujos limites extremos são variáveis em
cada região agroclimática (Mundstock, 1995). A cultura do milho
necessita que os índices dos fatores climáticos, especialmente a
temperatura, a precipitação pluviométrica e o fotoperíodo, atinjam
níveis considerados ótimos, para que o seu potencial genético de
produção se expresse ao máximo. Desses fatores, o homem pode
exercer algum controle apenas em relação à água, através da
irrigação. Normalmente, se procura, através de épocas de plantio e da
escolha de cultivares, o local ou região onde a lavoura possa ser
instalada para que a cultura se desenvolva em um ambiente mais
favorável possível.
9.2.1. Temperatura
A temperatura possui uma relação complexa com o desempenho da
cultura, uma vez que a condição ótima varia com os diferentes
estádios de crescimento e desenvolvimento da planta, bem como
períodos diurnos ou noturnos.
Sendo o milho uma planta termossensível, qualquer variação de
temperatura, seja do solo ou do ar, é capaz de influenciá-la (Coelho &
Dale, 1980). Em regiões de altitudes elevadas, assim como nas de
alta latitude, a temperatura restringe a época de plantio e exerce
grande influência nos estádios de desenvolvimento da planta, desde a
semeadura até a fase de enchimento de grãos. A temperatura da
planta é basicamente a mesma do ambiente que a envolve. Devido a
esse sincronismo, flutuações periódicas influenciam nos processos
metabólicos que ocorrem no interior da planta. Nos momentos em
que a temperatura é mais elevada, o processo metabólico é mais
acelerado e, nos períodos mais frios, o metabolismo tende a diminuir.
Essa oscilação metabólica ocorre dentro dos limites extremos
tolerados pela planta de milho, compreendido entre 10ºC e 30ºC.
Abaixo de 10ºC, por períodos longos, o crescimento da planta é quase
nulo e, sob temperaturas acima de 30ºC, também por períodos longos
durante a noite, o rendimento de grãos decresce em razão do
consumo dos produtos metabólicos elaborados durante o dia. Há
indicação de que temperaturas noturnas elevadas por longos períodos
diminuem o rendimento de grãos e provocam senescência precoce
174
A Cultura do Milho Irrigado
que necessita de 1.100 unidades calóricas para o seu
desenvolvimento, se for cultivado em região com somatória térmica
em torno de 900 unidades calóricas, terá o ciclo afetado, tornandose mais tardio. Ao contrário, um híbrido de origem temperada poderá
ter o ciclo adiantado. Trabalhos com diferentes genótipos de milho
resultaram em ciclos variáveis dos híbridos, no período da floração à
maturação, em diferentes temperaturas (Wilson et al., 1973).
9.2.2. Umidade do solo
O milho é uma cultura muito exigente em água, que pode ser
cultivada em regiões onde as precipitações vão desde 250 mm até
5000 mm anuais, sendo que a quantidade de água consumida pela
planta durante seu ciclo está em torno de 600 mm (Magalhães &
Paiva, 1992). O consumo de água pela planta, nos estádios iniciais de
crescimento, raramente excede 2,5 mm/dia. Após 100% de
cobertura do solo pela cultura, o consumo pode se elevar para 5 a 7,5
mm diários, mas se a temperatura estiver muito elevada e a umidade
do ar muito baixa, o consumo poderá chegar até 10 mm/dia (Avelar,
1986; Marinato, 1980; Matzenauer et al., 1981).
As maiores exigências da cultura em água se concentram nas fases
de emergência, florescimento e formação de grãos. A Tabela 9.1
mostra as perdas de rendimento em função do estresse hídrico nas
seguintes fases: anterior ao pendoamento, durante o florescimento e
após a polinização.
Tabela 9.1. Efeito do estresse hídrico sobre o rendimento de grãos, em três
fases de desenvolvimento da cultura do milho (estresse moderado por sete dias).
A ocorrência de déficit hídrico na cultura do milho pode ocasionar
danos na fase de crescimento vegetativo e de floração (Valois,
1982). Na fase do crescimento vegetativo, devido ao menor
elongamento celular e redução da massa vegetativa, há uma
diminuição na taxa fotossintética. Após o déficit hídrico, a produção
de grãos é afetada diretamente, pois a menor massa vegetativa
176
A Cultura do Milho Irrigado
ocorrido no mês de janeiro do ano seguinte, que apresentou um longo
período com alta nebulosidade, ou seja, houve redução na Radiação
Fotossinteticamente Ativa (RFA), necessária para implementar o
processo fotossintético.
Tabela 9.2. Efeito da luz solar na produção de grãos por planta, na cultura do
milho.
Tabela 9.3. Efeito da época de plantio (luminosidade) sobre a produtividade e o
rendimento do beneficiamento de sementes de milho BR 201.
A maior sensibilidade da planta à falta de luz ocorre no florescimento
e parte da fase reprodutiva, que são fases bastante afetadas quanto
ao acúmulo de reservas no colmo, devido à baixa atividade
fotossintética gerada em períodos de baixa intensidade luminosa
(Mundstock, 1995). Esse fato interfere no enchimento de grãos, os
quais importam reservas acumuladas do colmo durante o período de
florescimento e na fase reprodutiva.
178
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 9.4. Variação do ciclo da planta de milho, em função da época de
semeadura. Produção de milho verde com cultivares de ciclos diferentes.
9.2.6. Profundidade de semeadura
A profundidade de semeadura está condicionada aos fatores
temperatura do solo, umidade e tipo de solo. A semente deve ser
colocada na profundidade que possibilite um bom contato com a
umidade do solo. Entretanto, a maior ou menor profundidade de
semeadura vai depender do tipo de solo. Em solos mais pesados, com
drenagem deficiente ou com fatores que dificultam o alongamento do
mesocótilo, as sementes devem ser colocadas entre 3 e 5 cm de
profundidade. Já em solos mais leves ou arenosos, as sementes
podem ser colocadas mais profundas, entre 5 e 7 cm de
profundidade, para se beneficiarem do maior teor de umidade. O fato
de a semente ser colocada em profundidades diferentes não interfere
na profundidade do sistema radicular definitivo, como mostra a Figura
9.1.
Figura 9.1.
Profundidades de
plantio de milho e
sua relação com o
sistema radicular
definitivo da planta
de milho.
(Adaptado de
Ritchie & Hanway,
1989)
180
A Cultura do Milho Irrigado
O rendimento de uma lavoura aumenta com a elevação da densidade
de plantio, até atingir uma densidade ótima, que é determinada para
cada cultivar e por condições externas resultantes de condições
edafoclimáticas do local e do manejo da lavoura. A partir da densidade
ótima, que também é o ponto de rendimento máximo, aumento na
densidade resultará em decréscimo progressivo na produtividade da
lavoura. A densidade ótima é, portanto, variável para cada situação e
basicamente depende de três condições: cultivar, disponibilidade
hídrica e nível de fertilidade do solo. Qualquer alteração nesses
fatores, direta ou indiretamente, afetará a densidade ótima de plantio.
Além do rendimento de grãos, o aumento da densidade de plantio
também afeta outras características da planta. Dentre as
características que merecem destaque estão a redução no número de
espigas por planta (índice de espigas) e o tamanho da espiga. Também
o diâmetro do colmo é reduzido e há maior susceptibilidade ao
acamamento e quebramento (Tabela 9.6). Além disso, é reconhecido
que pode haver um aumento na ocorrência de doenças, especialmente
as podridões de colmo, com o aumento na densidade de plantio. Esses
aspectos podem determinar o aumento de perdas na colheita,
principalmente quando é mecanizada. Por essas razões, às vezes,
deixa-se de recomendar densidades maiores, que, embora em
condições experimentais apresentam maiores rendimentos, não são
aconselhadas em lavouras colhidas mecanicamente.
Tabela 9.6. Efeito da densidade de plantio sobre algumas características
agronômicas na cultura do milho.
A densidade de plantio, dentro das técnicas de manejo cultural, é um
dos parâmetros mais importantes. Geralmente, a causa dos baixos
rendimentos de milho é o baixo número de plantas por área.
Entretanto, para que haja um aumento da produtividade, é
necessário que vários outros fatores, como o nível de fertilidade do
solo, o nível de umidade e as cultivares, estejam em consonância com
o número de plantas por área.
182
A Cultura do Milho Irrigado
Em situações de áreas irrigadas, ou quando não há restrições hídricas
devido a condições edafoclimáticas, a densidade de semeadura
deverá ser função de outras variáveis, como cultivar e fertilidade do
solo. Um fator importante quando se usa alta densidade de plantio é
assegurar que a cultivar usada apresente grande resistência ao
acamamento e ao quebramento.
De forma análoga ao suprimento hídrico, quanto maior for a
disponibilidade de nutrientes para as plantas, maior será a densidade
para se alcançar o máximo rendimento.
Tabela 9.8. Rendimento de grãos de milho em diferentes densidades de plantas
e disponibilidade de água.
O nitrogênio é o elemento que mais interage com a densidade de
semeadura (Ximenes, 1991). As interações mais freqüentes entre o
nível de fertilidade e a densidade de semeadura ocorrem
principalmente com a adubação nitrogenada. A Figura 9.2 mostra
que a densidade ótima está sendo a de 60.000 plantas/ha, nos níveis
médio e mais elevado de nitrogênio.
A deficiência de nitrogênio na planta, tanto em alta como em baixa
densidade de semeadura, acarreta deficiência de aminoácidos
essenciais e proteínas, diminui a resistência às doenças e aumenta o
nível de tombamento ou acamamento, em função da redução na
taxa de carboidratos. Esse fato contribui para o baixo rendimento e
qualidade nutritiva dos grãos (Arnon, 1975).
184
A Cultura do Milho Irrigado
espaçamento resultou também em maior peso de grãos por espiga.
Esse comportamento se deve ao fato de os milhos atuais terem
características de porte mais baixo e melhor arquitetura foliar e
também por possuírem menor massa vegetal, que permite cultivos
mais adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas
características, esses materiais exercem menores índices de
sombreamento e captam melhor a luz solar. Quanto à qualidade da
silagem, Paiva (1992) verificou maior rendimento de proteína bruta
na matéria seca da forragem no espaçamento de 0,50 m, comparado
com espaçamentos maiores.
O efeito benéfico do espaçamento mais estreito somente se expressa
nos maiores rendimentos, conforme mostram os dados da Tabela 9.9.
Tabela 9.9. Rendimento de grãos de milho, em kg ha-1, cultivar precoce, em
função do espaçamento e da disponibilidade de água no solo.
Quando se pensa em diminuir o espaçamento entre linhas e/ou
aumentar a densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve
ser criteriosa. Geralmente, os híbridos ou as variedades de porte alto
e ciclo longo produzem bastante massa e quase sempre não
proporcionam um bom arranjamento das plantas dentro da lavoura;
por essa razão, já no início do crescimento, a captação da luz fica
prejudicada. Ao contrário, os híbridos de menor porte são mais
precoces e desenvolvem pouca massa vegetal, as plantas são menos
autossombreadas, o que proporciona uma maior penetração da luz
solar na lavoura. Essas plantas permitem cultivos em menores
espaçamentos e maiores densidades (Mundstock, 1978).
Uma das dificuldades para o uso de espaçamento mais estreito era a
limitação dos espaçamentos fornecidos pelas colheitadeiras, que
muitas vezes não se adaptavam a essa situação. No entanto, hoje,
com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse problema já
não existe e seguramente há tendência de se reduzir o espaçamento
de 70 para 50cm, principalmente entre os produtores que cultivam
soja e milho em sistema rotativo.
186
A Cultura do Milho Irrigado
embalagem com o número de sementes apropriadas para o plantio de
um hectare, independentemente do peso da embalagem.
9.3. Rotação e culturas que compõem o sistema
de produção de milho em condições irrigadas
O monitoramento contínuo das áreas com rotação de culturas é de
fundamental importância para o sucesso do sistema. O uso da rotação, em propriedades diversificadas, dependerá de um planejamento
ordenado e de uma criteriosa adequação temporal e espacial das
atividades. Assim, as espécies a serem incluídas na rotação deverão
ser criteriosamente selecionadas de acordo com as condições
ambientais, características agronômicas (cobertura do solo, exigências
nutricionais etc.), retorno econômico, bem como considerar o grau de
susceptibilidade às doenças e pragas que possam ser comuns ao milho
e às culturas envolvidas no sistema. Atenção deve ser dada à ocorrência de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de algumas
doenças e pragas que poderão atacar o milho, feijão etc. Dessa
forma, a rotação com diferentes plantas de cobertura ou culturas
econômicas é fundamental no sentido de aumentar a biodiversidade
(tanto a micro quanto a macro “fauna” e “flora”), contribuindo para
um melhor controle biológico e melhor equilíbrio natural do sistema
(Calegari, 2000).
Tabela 9.11. Efeito do tamanho de sementes sobre a produtividade de milho,
para uma densidade de 50.000 plantas por hectare.
Dentre as culturas que compõem o sistema de produção de milho, em
condições irrigadas, será dada ênfase ao feijão (Phaseolus vulgaris
L.), à ervilha (Pisum sativum L.), ao tomate industrial (Lycopersicon
esculentum Mill.) e à cenoura (Daucus carota L.). Todas as quatro
culturas podem participar do sistema de rotação ou sucessão de
culturas com o milho, quando se emprega o plantio convencional.
188
A Cultura do Milho Irrigado
9.3.1.2. Escolha de cultivares
Deve-se escolher a cultivar de feijão recomendada para a região,
levando-se em conta as seguintes características: produtividade,
resistência ou tolerância às principais pragas e doenças que
predominam na região e aceitação comercial do tipo de grão pelo
mercado consumidor. Dentre os tipos de grãos mais comerciais estão
os feijões dos grupos: preto, mulatinho, carioca, jalo, roxo e jalinho
(EMBRAPA, 1997). Nesses grupos de feijões há variações de ciclo
(tardio, médio e precoce) e do porte da planta (tipo I – porte ereto;
tipo II – tipo intermediário e tipo III – prostrado).
9.3.1.3. Densidade de plantio e espaçamento entre linhas
Essas duas variáveis têm muita relação com a produtividade do
feijoeiro, porque dependem de outros fatores, como nível de
fertilidade e umidade do solo, época de plantio, da cultivar, do porte
da mesma e do objetivo da lavoura (produção de sementes ou grãos).
Em trabalhos mais recentes e de 1982 a 1996, nos quais as
densidades variaram de 3 até 40 plantas por metro e os
espaçamentos de 7,5 até 105 cm entre linhas, as respostas para o
efeito dessas variáveis sobre o rendimento foram as seguintes: 21%
dos trabalhos não encontraram efeito das variáveis; 25%
encontraram para densidade e 63% encontraram para espaçamento.
Com relação à sanidade da planta, as respostas foram: maiores
densidades geraram mais doenças e menor sanidade das sementes; a
doença mais intensa nas maiores densidades foi mofo branco
(Sclerotinia sclerotionum); quanto mais cedo as entrelinhas se
fecharam, maior foi a probabilidade de ocorrer doenças e densidades
muito baixas aumentaram a incidência de podridão de vagens (Lollato,
2000).
Em relação à nutrição, as densidades mais elevadas dão maiores
respostas à adubação, mas nem sempre maior adubação requer
maior número de plantas por metro quadrado; maior densidade
proporciona melhores respostas a doses altas de nitrogênio; menor
espaçamento conduz a menor perda de nitrogênio na cobertura a
lanço ou fertirrigação; solos pobres não adubados aumentam a
produtividade com menores espaçamentos.
Com relação à água, alguns resultados de pesquisa comprovaram:
sob condições irrigadas, usar maior densidade, visando explorar mais
o potencial do feijão. Em geral, obtêm-se tanto no plantio direto
quanto no convencional respostas semelhantes para densidades e
espaçamentos. Observou-se também que maiores densidades e
190
A Cultura do Milho Irrigado
O feijoeiro exige boa disponibilidade de água durante todo o ciclo,
especialmente nas fases mais críticas (emergência, floração e
enchimento de vagens). A falta de água prejudica a formação e o
enchimento de grãos e o excesso produz o estiolamento e predispõe a
planta ao ataque de doenças e pragas. Uma cultivar de feijão de ciclo
de 90 dias irá necessitar de 200 a 300 mm de água. Por outro lado,
um período seco da maturação fisiológica até a colheita contribui para
a obtenção de um produto de excelente qualidade.
9.3.1.6. Adubação
Dentre outros fatores, o desenvolvimento do feijoeiro e a produção de
grãos dependem de um adequado suprimento de nutrientes. Os solos,
principalmente os de cerrado, não possuem quantidades suficientes de
nutrientes para suprirem as necessidades das plantas, tornando
necessário o uso de adubação e de corretivos complementares.
Em relação aos elementos, o nitrogênio é o requerido em maior
quantidade pelo feijoeiro. É absorvido nas formas amoniacal e nítrica
e, devido ao intenso processo de nitrificação que ocorre no solo, esta
última forma é utilizada predominantemente. É muito importante o
sistema de plantio que se vai adotar, uma vez que, em plantio direto,
em sistema de cultivo sucessivo, deve ser avaliada a cultura anterior;
caso seja o milho, com grande quantidade de palhada, necessita-se
fazer uma avaliação cuidadosa sobre a quantidade de nitrogênio a ser
usada no plantio e em cobertura, a qual é feita aos 20 a 25 dias após
a emergência das plantas (Stone & Sartorato, 1994). Devido ao
nitrogênio ser um elemento muito móvel no solo, recomenda-se o seu
parcelamento. Usam-se no plantio doses variando de 12 a 20 kg ha-1
e, em cobertura, doses de 20 a 60 kg ha-1, dependendo do nível
tecnológico da lavoura ou do nível de fertilidade do solo (Parra, 2000).
Apesar de ser absorvido em pequena quantidade pelo feijoeiro, o
fósforo é o elemento que mais limita a produtividade, principalmente
nos solos de cerrado, devido à deficiência desse elemento, que é de
vital importância no desenvolvimento radicular, floração, formação de
vagens e grãos. Em solos onde não há resposta ao elemento, devido
ao seu alto teor, deve-se proceder apenas à adubação de restituição,
com aplicação de 20 a 25 kg ha-1, visando apenas a manutenção da
fertilidade (Parra, 2000 ).
Na adubação do feijoeiro, o potássio deve ser empregado juntamente
com os outros elementos, como nitrogênio e fósforo, devendo-se
considerar que, na maioria dos solos, esse elemento é bastante
disponível para as culturas. A sua recomendação se baseia no
192
A Cultura do Milho Irrigado
ser necessária a dessecação do mato, também o feijoeiro fica livre da
competição inicial com o mato, sendo, às vezes, necessária a
utilização de um herbicida pós-emergente. A Tabela 9.14 apresenta
os principais herbicidas utilizados para controlar plantas daninhas na
cultura do feijoeiro.
Tabela 9.14. Principais herbicidas utilizados no controle de plantas daninhas na
cultura do feijoeiro em pré e pós-emergência das ervas daninhas (Rodrigues e
Neto, 2000).
9.3.1.8. Principais pragas do feijoeiro irrigado e seu controle
Pragas do solo: Lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus) - Ataca o
feijoeiro no período da seca. No feijão irrigado não é muito importante.
Lagarta rosca (Agrotis spp.) - Ataca o colmo das plantas logo acima
da superfície do solo, causando-lhes a morte.
Pragas que atacam as folhas: Vaquinhas (Diabrotica speciosa e
Cerotoma sp.) - Dentre as duas espécies, a Diabrotica é a que causa
maior prejuízo à cultura do feijoeiro, com destruição da área foliar, o
que causa problemas no processo fotossintético da planta. O ataque
mais severo sempre ocorre na fase de plântulas, podendo haver a
desfolha, caso não se faça o controle a tempo. Cigarrinha verde
(Empoasca Kraemeri) - É uma praga muito importante para a cultura
do feijoeiro. As plantas atacadas se enrugam e atrofiam, devido ao
194
A Cultura do Milho Irrigado
cultivares resistentes. O combate no início do aparecimento de cada
praga se torna mais eficiente. Os insetos de solo podem ser evitados
via tratamento de sementes com produtos à base de Carbofuran,
Thiodicarb e Carbosulfan. A Tabela 9.15 mostra alguns inseticidas
específicos para cada tipo de inseto-praga.
9.3.1.9. Principais doenças do feijoeiro irrigado e seu controle
Doenças causadas por fungos: Antracnose (Colletotrichum
lindemuthianum) -Transmitida principalmente pelas sementes e restos
de culturas. Ataca folhas, caule, vagens e grãos. A condição ótima
para o desenvolvimento da doença é temperaturas moderadas em
torno de 17°C e umidade relativa do ar elevada.
Mancha angular (Isariopsis griseola) - Transmitida via sementes,
resto de culturas, chuva, vento e partículas infectadas de solo. Ataca
folhas, caules, ramos e vagens e o próprio grão. A condição ótima
para o desenvolvimento da doença se dá com umidade relativa do ar
alta e temperatura em torno de 24°C.
Ferrugem (Uromyces appendiculatus) -Transmitida pelo vento,
implementos, insetos e animais. Ataca folhas, caule e vagens. A
ferrugem se caracteriza pelo aparecimento de pontos de cor marromavermelhada onde ficam os uredosporos, que são disseminados
facilmente até pela roupa da pessoa que transita na lavoura. Condição
ótima para o desenvolvimento da doença se caracteriza por umidade
relativa muito alta (95%) e temperatura que varia entre 17 e 27°C.
Oídio (Erysiphe polygoni) - Doença muito comum nas áreas irrigadas.
A doença é muito comum nos feijões de porte ou hábito determinado,
que geralmente são também os precoces. Caracteriza-se por um pó
branco acinzentado na superfície superior da folha, podendo também
atacar as vagens e causar a queda prematura das mesmas. É
transmitida via vento. A condição ótima para seu aparecimento é
temperatura moderada e baixa umidade do solo.
Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) - É uma doença muito
importante para o feijão de inverno irrigado. Ataca folhas, ramos e
vagens, principalmente os mais próximos do solo, provocando podridão
mole, que é coberta por uma densa massa de micélio, onde são
formados os esclerócios que vivem no solo e dão origem a milhares
de apotécios, onde sairão os esporos a ser disseminados pelo vento,
chuva, insetos, implementos agrícolas, restos culturais e mistura dos
apotécios com as sementes para o plantio da safra seguinte. A
condição para o aparecimento da doença é a alta umidade relativa e
a baixa temperatura.
196
A Cultura do Milho Irrigado
Controle das doenças. O controle para as doenças listadas inclui
práticas culturais, como: a) uso de sementes sadias; b) rotação de
culturas; c) controle de plantas daninhas hospedeiras; d) épocas
recomendadas de plantio; e) evitar trânsito constante na lavoura; f)
diminuição da profundidade de semeadura; g) espaçamentos mais
largos; h) menores densidades; i) manejo de água adequado; j) evitar
restos de culturas infectados; k) tratamentos com produtos químicos
das sementes e também da cultura, via pulverizações e via água de
irrigação; nesse caso, consultar um técnico para utilizar o produto
químico (fungicidas e/ou bactericidas ) mais adequado para cada tipo
de doença.
9.3.2. Cultivo do tomate industrial como componente do sistema
de produção do milho irrigado
O tomate para indústria ou rasteiro teve sua viabilização a partir da
década de 1950, com a expansão das agroindústrias, principalmente
no estado de São Paulo. Atualmente, a cultura tem-se expandido para
a região Centro-Oeste, onde o clima seco durante os meses de março
a setembro favorece o seu cultivo em condições irrigadas. O cultivo
do tomateiro exige alto nível de tecnologia e intensa utilização de
mão–de–obra, mobilizando cerca de 120 homens/dia por hectare
(Silva et al., 1994).
O tomateiro pode ser cultivado numa amplitude de temperatura de 10
a 34°C, porém a temperatura ideal de cultivo é de 21°C.
Temperaturas acima de 28°C prejudicam a formação da coloração
vermelha do fruto. A planta é muito exigente em água, porém o
excesso de chuvas pode trazer como conseqüência queda de
produtividade, por favorecer o aparecimento de doenças. A água
controlada através da irrigação favorece a produção de sólidos
solúveis de grande importância para a agroindústria.
As épocas de plantio mais indicadas para o tomate rasteiro são as que
apresentam baixa umidade relativa do ar e pouca precipitação. Na
Região Sudeste, com concentração maior em São Paulo, o plantio se
dá de fevereiro a maio; já no Nordeste (Alto, Médio e Submédio São
Francisco), de março a maio, por apresentarem temperaturas mais
amenas. Na região Centro-Oeste, os plantios podem ser iniciados na
segunda quinzena de março, podendo se estender até o final de maio.
A semeadura pode ser direta ou por transplante de mudas.
O solo para cultivar tomate deve ser o mais leve e profundo possível,
com boa distribuição da fração argila, areia e silte. O tomateiro é uma
planta que extrai pouco nutrientes, mas a exigência de adubação é
198
A Cultura do Milho Irrigado
frutos estiverem maduros, para acelerar a maturação dos frutos e
aumentar o teor de sólidos solúveis.
Tabela 9.17. Produção de grãos de milho em sucessão à cultura do tomateiro
irrigado, Janaúba, MG, 1990.
Devido ao crescimento muito lento do tomateiro nos primeiros 30 a
45 dias, a lavoura deve ser isenta de plantas daninhas, que, nesse
período, exercem uma forte concorrência por água, luz e nutrientes,
além da liberação de aleloquímicos que afetam a germinação e o
crescimento do tomateiro. O controle normalmente é feito por via
mecânica ou química (usando-se herbicidas específicos para a cultura).
O tomateiro é uma planta muito susceptível a varias doenças que, se
não tratadas, podem causar quedas acentuadas na produtividade e na
qualidade dos frutos. O combate a essas doenças se faz via controle
químico, com fungicidas e/ou bactericidas, e também através do
combate a insetos e plantas daninhas, que são hospedeiros dos
mesmos transmissores de virose. O controle cultural inclui plantar
sementes sadias de cultivares resistentes, não plantar próximo a
lavouras velhas, evitar excesso de nitrogênio e ferimentos no fruto,
fazer o manejo de água adequado e rotação de cultura.
Com relação ao controle das pragas, este não depende só de
pulverizações ou da liberação de agentes de controle biológico na área
de cultivo, mas também de cultivares adequadas a cada região, de um
bom esquema de rotação de culturas, de controle de plantas daninhas,
dentre outros expedientes. O produtor deve ter o hábito de percorrer
sempre a lavoura, como uma forma de vigilância ao primeiro sinal de
ataque dos insetos, o que proporcionará um controle mais eficiente e
econômico.
9.3.3. Outras culturas
Outras culturas opcionais, como ervilha verde e cenoura, podem
200
A Cultura do Milho Irrigado
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206
A Cultura do Milho Irrigado
possibilidade de acontecer, inclusive mais de uma vez. Portanto, uma
forma de garantir e preservar a produtividade é fazer uso de irrigação.
Embora seja uma tecnologia de custo elevado e que requer
conhecimentos técnicos, sua viabilidade não deve ser definida com
base apenas nesses fatores, mas também nos aspectos econômicos.
O milho tem sido uma cultura de retorno econômico relativamente
baixo, mas constitui-se na principal gramínea para rotação com
culturas mais rentáveis que utilizam irrigação e, quando aliada a
tecnologias que proporcionam altas produtividades, pode-se tornar
economicamente viável em condições irrigadas. Conseqüentemente, a
decisão quanto ao uso dessa tecnologia implica conhecer as
características ambientais dominantes no período em que a cultura
estiver sendo conduzida no campo. Vale a pena ressaltar que não
basta apenas conhecer os riscos de estresse hídrico, mas também os
demais fatores responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento do
milho. Com isso, pode-se conhecer a potencialidade da cultura em
diferentes épocas e locais.
É vasta a literatura mostrando que, no Brasil Central, a disponibilidade
hídrica é o fator primordial que define a produção de milho e os
demais elementos climáticos que governam a produtividade do milho
não têm apresentado limitações à produtividade de forma
significativa. Vários autores têm mostrado que a variabilidade anual de
radiação solar não é fator responsável pelas diferentes produtividades
ocorridas no Brasil Central. Séries climatológicas mostram que a
temperatura, nessa região, não ultrapassa os limites dos valores
críticos da cultura, mesmo porque há evidências de que plantios
tardios sejam mais promissores em muitas regiões, por ocorrerem
temperaturas noturnas mais baixas, proporcionando um ganho maior
de matéria seca. Uma confirmação dessa informação pode ser obtida
ao se verificarem os resultados de ensaios de época de plantio
(Quiessi et al., 1999), cujos dados obtidos em áreas irrigadas têm
apresentado produtividades maiores em plantios tardios.
Um outro aspecto a ser observado é a interação genótipo-ambiente. É
o ponto mais crítico num estudo de riscos para a cultura,
principalmente de safrinha. Isso se deve ao fato de que os genótipos
não mantêm um mesmo padrão de comportamento face à
variabilidade espaço-temporal dos ambientes. Daí ser necessário
delimitar as áreas em ambientes mais homogêneos e ter culturas bem
ajustadas a cada um desses ambientes e/ou obter cultivares que
possuam um elevado grau de estabilidade. Atualmente, os métodos
utilizados se baseiam nas características do meio físico, procurando
208
A Cultura do Milho Irrigado
no estabelecimento dos períodos de maior demanda de irrigação, a
precipitação pluvial, a capacidade de armazenamento de água do solo
e o balanço hídrico da cultura. No tocante à precipitação, da mesma
forma que se levam em conta os totais mensais , decendiais e
períodos de cinco dias, deve-se procurar também caracterizá-la
quanto à sua freqüência de ocorrência. As séries históricas devem
ter um tamanho suficientemente grande para que a referência
estatística seja consistente. Em alguns locais onde essas séries não
existem, utilizam-se séries menores, mas nunca inferiores a 15 anos.
Para a análise freqüencial mensal, decendial e por qüinqüídios, pode-se
utilizar o modelo “Chuva” (Assad, 1994). Para o balanço hídrico
relativo a períodos de cinco dias, pode-se aplicar a metodologia
descrita por Meireles et al. (1995). Considerando que esses trabalhos
de zoneamento agrícola têm sido dinâmicos, é importante verificar a
possibilidade de se obterem dados sempre atualizados, bem como
recomendações para locais não constantes nessas tabelas. Esses
resultados são parte de um trabalho de zoneamento coordenado pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2003). Já foram
disponibilizados resultados para os seguintes estados: Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Bahia,
Alagoas, Ceará e Maranhão.
Os coeficientes culturais (Kc), usados nos trabalhos de estudos de
riscos climáticos, foram valores médios dos Kc’s estimados por
Andrade et al. (1988), Sans et al. (1994) e em outros trabalhos de
pesquisa desenvolvidos na Embrapa Milho e Sorgo e outras instituições
de pesquisa. A evapotranspiração potencial foi estimada pelo método
de Penman-Monteith (Smith, 1993). Os dados referentes ao ciclo e
às fases fenológicas foram provenientes de trabalhos desenvolvidos
em diversos locais da região Sudeste, nos ensaios nacionais (Corrêa,
1995) e nos ensaios de épocas desenvolvidos por Sans & Santos
(1992). No que se refere à estimativa da disponibilidade de água no
solo, utilizaram-se resultados de análises físico-hídricas de solos dos
laboratórios da Embrapa Cerrados e Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa
Solos, informações pessoais, resultados de balanços hídricos aplicáveis
à irrigação do milho e de pesquisas desenvolvidas em diferentes tipos
de solos (Andrade et al., 1988; Fernandes et al., 1988). Agruparamse os solos segundo o armazenamento de água na zona radicular, em
classes de 20 mm, 40 mm e 60 mm de água disponível. Os trabalhos
de zoneamento para os estados de São Paulo e os da região Sul do
210
A Cultura do Milho Irrigado
irrigação diferenciada, considera-se que as épocas de semeadura,
em condições de sequeiro, são dependentes do armazenamento de
água no solo, da época e da região dentro de cada estado. De forma
geral, como era de se esperar, observa-se, na Figura 10.1, que,
quanto maior for a capacidade de armazenamento de água no solo,
menor será o risco quando se atrasar o plantio.
À medida que se atrasa o plantio de milho, a partir do primeiro
decêndio de outubro, pode-se observar que a necessidade de irrigar
aumenta consideravelmente, o que se confirma pelo aumento de áreas
com riscos médio e elevado. Esse é um aspecto a ser salientado
quanto à programação de irrigações.
Uma análise isolada do Estado de Minas Gerais permite verificar que,
nos solos de baixa capacidade de armazenamento de água, somente
em uma pequena área é possível o plantio sem irrigação no primeiro
decêndio de outubro. Para solos com capacidade média de
armazenamento, é grande a área onde pode-se fazer semeadura no
primeiro decêndio de outubro sem utilizar irrigação. À medida que se
atrasa o plantio, reduz-se drasticamente a condição de cultivo sem
irrigação, havendo, em dezembro, possibilidades de plantio em apenas
alguns locais isolados. Para plantio após janeiro, a irrigação é uma
prática essencial em todo o estado. Para os solos que possuem
elevada capacidade de armazenamento de água, segue-se a mesma
tendência, podendo-se estender o plantio até meados de janeiro, em
pequenas áreas isoladas sem irrigação.
Por meio dos mapas dos demais estados, onde estão delimitadas áreas
com diferentes níveis de riscos climáticos para diferentes solos e
épocas, observa-se que a oferta pluviométrica é heterogênea, a qual,
associada às diferentes condições de armazenamento de água dos
solos, resulta em grandes variações espaciais do risco climático para
a cultura do milho, permitindo, com isso, estabelecer as áreas e
épocas em que não se deve fazer o plantio do milho sem irrigação.
212
A Cultura do Milho Irrigado
Verifica-se também que, em apenas alguns poucos municípios, é
recomendado o plantio de sequeiro após os primeiros dez dias de
outubro (épocas de plantio 2 e 3). Em solos com capacidade média de
armazenamento de água, é recomendado o plantio em outubro e às
vezes em novembro e dezembro. Para solos do grupo 3, com alta
capacidade de armazenamento de água, em vários municípios são
recomendados plantios de outubro a dezembro. No entanto, para
municípios localizados em regiões mais secas, mesmo nesse tipo de
solo, o plantio às vezes fica restrito somente ao mês de outubro.
Nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, a melhor época de plantio, em cultivo de sequeiro, é o
mês de outubro. Se houver o atraso da semeadura, ocorrerá o
conseqüente aumento da demanda por irrigação, principalmente à
medida que se reduz a capacidade de armazenamento de água do
solo. Essas variabilidades espacial e temporal dos riscos climáticos
possibilitam delimitar áreas onde é necessário utilizar técnicas de
irrigação para minimizar o efeito do estresse hídrico, uma vez que,
no Brasil Central, o fator ambiental que mais limita a produtividade é a
deficiência hídrica.
Em resumo, para o cultivo do milho, cujo plantio seja realizado fora
das épocas recomendadas pelo Zoneamento Agroclimático, como é o
caso apresentado para o Estado de Minas Gerais, recomendam-se
apenas os sistemas irrigados.
Tabela 10.1. Épocas de plantio para a cultura do milho, nos diversos municípios
do Estado de Minas Gerais, para plantios de sequeiro.
1. TIPOS DE SOLOS APTOS PARA O PLANTIO
Solo 1. NEOSSOLO QUARTZARENICO Órtico Típico; NEOSSOLO
QUARTZARÊNICO Hidromórfico Típico; NEOSSOLO FLÚVICO Psamítico Típico;
NEOSSOLO LITÓLICO Psamítico; NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico;
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico Abrupto textura média ;
LATOSSOLO VERMELHO Distrófico Psamítico; ARGISSOLO V ERMELHO
AMARELO Eutrófico Abrúptico
Solo 2. NEOSSOLO QUARTZARENICO Órtico Típico; NEOSSOLO LITÓLICO
Psamítico; NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico ; ARGISSOLO VERMELHOAMARELO Eutrófico Abrupto textura média; LATOSSOLO VERMELHO Distrófico
Psamítico; PLINTOSSOLO HÁPLICO distrófico típico; ARGISSOLO V ERMELHO
AMARELO Eutrófico Abrúptico
Solo 3. LATOSSOLO VERMELHO Distrófico textura argilosa; CHERNOSSOLO
ARGILUVICO Carbonático Típico; ARGISSOLO VERMELHO AMARELO Distrófico
Abrúptico;CHERNOSSOLO RENDZICO Saprolítico; NITOSSOLO VERMELHO
Distrófico Latossolico; CHERNOSSOLO ARGILUVICO Órtico Típico;
PLANOSSOLO NÁTRICO Sálico Típico; PLANOSSOLO HÁPLICO Eutrófico argila
de atividade alta textura argilosa; GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico;
NEOSSOLO FLÚVICO Tb Típico
214
A Cultura do Milho Irrigado
216
A Cultura do Milho Irrigado
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A Cultura do Milho Irrigado
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224
A Cultura do Milho Irrigado
possibilidade de lixiviação de nutrientes e mais possibilidade de
contaminação ambiental. Quando a irrigação é feita com o solo mais
seco do que o recomendado, certamente causará redução na
produção ou na qualidade do produto e na absorção de nutrientes. Ao
contrário, a irrigação realizada antecipadamente, ou com solo muito
úmido, aumenta o consumo de água, devido à maior freqüência, por
isso necessita mais mão-de-obra, mais equipamentos e elevação do
consumo de energia, além de favorecer o surgimento de doenças de
solo. Em 1993, a CEMIG (Centrais Eétricas de Minas Gerais), em
convênio com a Universidade Federal de Viçosa desenvolveu um
projeto de otimização de energia e concluiu que as perdas de água, em
onze pivôs avaliados, chegaram a 17,8% (CEMIG, 1993). Em trabalho
semelhante sobre aspersão convencional, com 257 irrigantes,
concluiu-se que as irrigações eram deficientes em 75% das
propriedades, adequadas em 12,5% e em excesso em 12,5%.
Concluiu-se, ainda, que, em 50% dos casos, as irrigações foram feitas
antes da hora recomendada, em 37,5% foram realizadas no momento
certo e em 12,5% das propriedades as irrigações foram realizadas
tardiamente (CEMIG, 1996).
A sustentabilidade das áreas irrigadas, a incorporação e a
conseqüente expansão de novas áreas devem estar associadas ao
aumento de produtividade e preservação dos recursos naturais.
Aproximadamente 23% da área cultivada no planeta constitui-se de
solos salinos e 37% de solos sódicos (Aragües, 1998), principalmente
devido ao manejo inadequado das irrigações. A baixa eficiência no uso
da água é resultado de vários componentes, principalmente devido à
falta do uso de algum critério de manejo de irrigação pelos produtores
irrigantes. Há indicações de que 63% dos lotes em sistemas de
irrigação, no norte do estado de Minas Gerais, estavam aplicando
excesso de água e que as dotações de irrigação eram constantes e
iguais às determinadas no projeto para o ano todo e às vezes
superiores às requeridas nos meses de maior demanda evaporativa
(Almeida, 1997). Vários trabalhos apontam baixos valores de
eficiência, indicando, com isso, a necessidade de utilização de
estratégias de manejo para estimativa do momento e da quantidade
de água a ser aplicada, visando proporcionar melhoria nos níveis de
eficiência. Estima-se que, em média, a eficiência de irrigação, no
mundo, é de 45% e as maiores perdas são devido ao inadequado
manejo de irrigação (Christofidis, 1999). Portanto, é de fundamental
importância estimar o quanto irrigar e quando irrigar.
226
A Cultura do Milho Irrigado
A água prontamente disponível (APD) é o volume de água retido na
zona das raízes, entre a CC e um nível de umidade abaixo do qual a
produtividade ou a qualidade do produto é afetada. Esse ponto é
denominado de nível de esgotamento permissível (Ne), constituindo
uma percentagem da AD. Esse ponto também pode ser caracterizado
como sendo a tensão de água no solo a que se deve realizar as
irrigações, conforme mostrado na Tabela 11.2.
A Figura 11.1 mostra esquematicamente essas relações da água no
solo (Watts et al., 1998).
Tabela 11.2. Indicações de tensões de água no solo para início das irrigações de
algumas culturas anuais.
228
A Cultura do Milho Irrigado
superfície da raiz, permitindo a escolha de maior Ne, ou seja, irrigar
com solo mais seco. A densidade radicular é variável com a espécie,
variedade e outros fatores que possam impedir um desenvolvimento
normal das raízes, aumentado sua concentração na camada superior
do solo. Além da densidade radicular, outros fatores também afetam a
escolha do Ne, como culturas mais ou menos resistentes ao estresse
hídrico ou partes da planta a serem colhidas; por exemplo, para
hortaliças, em geral, deve-se escolher menor Ne.
Tabela 11.3. Profundidade efetiva média (Z) do sistema radicular de algumas
culturas.
11.2.3. Características do sistema de irrigação
Diferentes sistemas ou métodos de irrigação afetam diferentemente a
eficiência de irrigação, que determina a lâmina de água a qual é
acrescida à lâmina que o solo tem capacidade de armazenar na
profundidade das raízes, para compensar as perdas de água. É
importante realçar que apenas parte da água bombeada é utilizada
para atender a necessidade da cultura. Portanto, necessita-se
calcular a eficiência de irrigação para se obter a lâmina total de água
a ser aplicada, denominada lâmina bruta (LB). A lâmina líquida (LL)
corresponde ao volume de água infiltrado no solo e armazenado na
zona radicular e com previsão de ser utilizado pela cultura; portanto,
corresponde a uma parte da LB. É importante salientar que numa
cultura bem suprida de água e com os estômatos totalmente abertos,
a energia que chega à superfície da cultura (cal/cm2/h) é consumida
para evaporar a água que sai das folhas e do solo. Durante uma
irrigação por aspersão, a evaporação das gotículas no ar consome a
230
A Cultura do Milho Irrigado
Figura 11.2. Proporção aproximada de evaporação e transpiração durante o ciclo
da cultura do milho (Watts et al., 1998).
Figura 11.3. Indicativo de evaporação e de transpiração no início da cultura
(Watts et al., 1998).
232
A Cultura do Milho Irrigado
ATD for utilizada, no cultivo de verão, e 80% no de inverno (Resende
et al., 1992a, 1992b).
A evapotranspiração da cultura de referência (ETo) pode ser definida
como sendo a de uma cultura de 0,12 m de altura, tendo uma
resistência na superfície de 70 s m-1 e um albedo de 0,23, o que se
aproxima de uma superfície de grama verde, altura uniforme,
crescendo ativamente e bem umedecida (Allen et al., 1998). A
variação diária da ETo em relação à média, conforme está mostrado
na Figura 11.5, é devido à variação climática, sendo mais acentuada
no verão do que no inverno. Por isso, o manejo da irrigação baseado
em dados climáticos diários é considerado mais preciso do que quando
se usa média de uma série histórica de dados, a menos que se faça
algum tipo de ajuste nesses dados, principalmente os correspondentes
a dias chuvosos, em que as alterações climáticas são maiores
(Resende, 2000; Resende et al., 2002).
Figura 11.5. Variação diária da ETo em relação à média, para as condições de
Sete Lagoas (adaptado de Resende et al., 2002).
234
A Cultura do Milho Irrigado
G = Densidade do fluxo de calor no solo (MJ m-2/dia);
γ = Constante psicrométrica (kPa °C-1);
T = Temperatura média diária do ar a dois metros de altura (°C);
U2 = Velocidade do vento a dois metros de altura;
es = Pressão de vapor em condições de saturação (kPa);
ea = Pressão de vapor atual do ar (kPa);
es – ea = Déficit de pressão de vapor (kPa);
∆ = Declividade da curva de pressão de vapor (kPa).
Os valores diários de ETo podem ser calculados utilizando-se planilha
eletrônica e metodologia descrita em Allen et al. (1998).
Tabela 11.4. Coeficiente Kt para o tanque Casse A, para estimativa da ETo
(Doorenbos & Pruitt, 1976).
Uso de série histórica de dados climáticos - É muito comum o uso de
médias diárias, decendiais ou mensais, de uma série histórica de dados
climáticos, para a elaboração de projetos de irrigação e, às vezes,
para manejo de irrigação. A principal fonte de erro, normalmente
atribuída a esse método, é assumir que a média da ETo, calculada
com base em uma série histórica de dados climáticos, representa os
valores reais de ETo diários do período em que a lavoura estiver sendo
conduzida, o que nem sempre é verdade, principalmente em cultivo de
verão (Resende et al., 2000).
236
A Cultura do Milho Irrigado
valores de ETo ajustados e preditos (Resende et al., 2002). Essa nova
estratégia de se programar irrigações constitui uma alternativa
bastante simples e de alta precisão, estando disponível para os
usuários e técnicos na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, MG.
Uso de outras fórmulas empíricas para estimativa da ETo - Outras
fórmulas também são usadas, principalmente quando há limitação de
dados climáticos. No entanto, é importante saber se determinada
fórmula foi testada e apresentou boa estimativa de ETo para as
condições climáticas da área do cultivo. Dentre essas, destacam-se as
fórmulas de Blaney-Cridle, Blaney-Morin, Hargreaves, Garcia Lopes,
Turk, Jansen-Haise, Prisley-Taylor e de Thornthwaite (Stone &
Silveira, 1995).
Uso de valores de ETo publicados - Os valores da ETo podem ser
encontrados em publicações existentes para diversas regiões (Scardua
et al., 1986; Aguiar et al., 1985; Cochrane & Netto, 1985;
Matzenauer, 1984; Cauduro & Beltrame, 1983; Castro, 1979;
Hargreaves, 1974; Sediyama et al., 1973). É importante salientar
que dados publicados estão com os limites correspondentes à data da
publicação.
11.3.1.2. Estimativa do Kc
No caso do milho, a ETc é menor do que a ETo no início e no final do
ciclo da cultura, enquanto na fase de maturação e na fase
reprodutiva, a ETc é geralmente maior do que a ETo. Portanto, tornase necessário o uso de um coeficiente de cultivo (Kc) para determinar
a ETc a partir da ETo, ao longo do ciclo da cultura.
O valor de Kc é utilizado para transformar a evapotranspiração de
referência (ETo) em evapotranspiração da cultura (ETc), que
corresponde ao requerimento de água da cultura.
O primeiro passo na determinação do Kc é definir a duração das fases
do ciclo da cultura, afetadas principalmente pela cultivar e época do
plantio, a saber:
Fase I (inicial) - Vai do plantio até aproximadamente 10% de
cobertura do solo pelas plantas.
Fase II (desenvolvimento vegetativo) - Vai da fase inicial até 70 a
80% de cobertura do solo pela cultura; o final dessa fase é
considerado completa cobertura do solo pela cultura.
Fase III (reprodutiva) - Desde a completa cobertura vegetativa do solo
ao início da maturação.
Fase IV (maturação) - Do início da maturação até a maturação
completa.
238
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 11.5. Valores de Kc para o milho na fase inicial, em função de ETo e do
intervalo entre as irrigações prescritas para essa fase (valor de “a” na Figura
11.6).
Tabela 11.6. Valores de Kc para as fases reprodutiva e de maturação (valores
de “b” e “c”, respectivamente, da Figura 11.6) de algumas culturas de grãos
(Doorenbos & Pruitt, 1976).
11.4. Estratégias de manejo de irrigação
De modo geral, o agricultor baseia-se em sua própria experiência para
programar as irrigações e, em muitos casos, está limitado pela falta
de dados, de conhecimento ou de orientação técnica. Alguns fatores
têm contribuído para a não adoção de algum sistema de manejo de
irrigação pelos produtores, podendo-se destacar, dentre eles: a) os
dados necessários para um manejo adequado de irrigação são
específicos para cada área e, muitas vezes, de difícil obtenção; b) o
alto custo e a deficiência generalizados de equipamentos de controle
240
A Cultura do Milho Irrigado
condições médias de clima de anos anteriores, dados do solo e da
cultura.
No método do calendário, como em alguns outros, o solo é
considerado como sendo um reservatório de água, cuja capacidade
depende da profundidade do sistema radicular e de suas
características físico-hídricas. Considerando que a principal perda de
água desse reservatório é devido à ETc, não é difícil visualizar que a
data da próxima irrigação e o total a ser aplicado podem ser
estimados conhecendo-se a taxa da ETc, a capacidade de
armazenamento de água do solo e a eficiência do sistema de irrigação.
Cálculo da lâmina líquida em mm de água (LL) - A lâmina líquida
corresponde ao total de água consumido pela cultura desde a última
irrigação e visa suprir água para atender a ETc, elevando o teor de
umidade do solo até o teor de umidade correspondente à capacidade
de campo. A seguinte equação é usada:
LL = (CC - PMP ) x Ne x Z x Da x 10
Sendo:
CC – Teor de umidade do solo na capacidade de campo (g água/g
solo);
PMP – Teor de umidade do solo no ponto de murcha permanente (g
água/g solo);
Ne – Nível de esgotamento permissível (em decimal);
Z – Profundidade do sistema radicular (cm);
Da – Densidade aparente do solo (g solo /cm-3 solo).
Os valores de CC, PMP e Da podem ser determinados em laboratório.
Recomenda-se Ne = 0,6 para condições de ETo maior que 5 mm/dia e
0,8 para situações em que a ETo é menor do que 3 mm/dia (Resende
et al., 1990a). Entre 3 e 5mm/dia, utilizar Ne intermediário.
Cálculo do intervalo entre irrigações ou quando irrigar - Recomenda-se
irrigar novamente quando o teor de umidade no solo atingir o nível de
esgotamento permissível, ou seja, quando a água armazenada no solo
(LL) for consumida pela ETc, ou seja:
Intervalo = LL/ ETc
em que:
ETc = ETo x Kc
ETc – Evapotranspiração da cultura (mm/dia);
ETo - Evapotranspiração de referência (mm/dia);
Kc – Coeficiente da cultura.
242
A Cultura do Milho Irrigado
armazenada no solo, até o momento da próxima irrigação, e a lâmina
de água a ser aplicada. Com o desenvolvimento do uso de
computadores, esse método vem sendo utilizado em muitos países
com grande sucesso, através de informações por agências do governo
para os irrigantes, via meios de comunicação. Pode-se iniciar o
balanço de água com o teor de umidade do solo na capacidade de
campo, através de irrigação ou chuva, ou então determinar a
quantidade de água antes da primeira irrigação. Os valores diários da
ETc são subtraídos da água disponível até que esta alcance o nível de
esgotamento preestabelecido; nesse momento se processa a irrigação,
cuja lâmina visa suprir o total de ETc acumulado desde a última
irrigação, adicionando-se as perdas.
Os cálculos da lâmina líquida, lâmina bruta e intervalo das irrigações
podem ser dados por:
Sendo:
- Teor mínimo de umidade no solo a partir do qual as irrigações
devem ser realizadas (g água/g solo) (Tabela 11.2);
- Outros termos foram definidos anteriormente.
Nesse método, as irrigações são realizadas toda vez que a água
contida no solo chegar ao nível predeterminado, ou quando a LL for
igual ao total evapotranspirado desde a última irrigação, ou seja:
Irrigar quando a equação for aproximadamente satisfeita:
LB = LL/Ef
Esse método de manejo facilita bastante o acompanhamento de várias
propriedades irrigadas sob condições climáticas semelhantes, como
em perímetros irrigados, cooperativas de irrigantes etc. Nesses casos,
o uso da informatização vem se tornando cada dia mais importante.
Para isso, basta armazenar os dados de cada propriedade, relativos ao
solo, à cultura, ao sistema de irrigação e à data do plantio, ficando
dependente apenas da coleta diária dos dados climáticos, comuns a
todas as propriedades, para o cálculo da ETc. Um sistema de
comunicação preestabelecido informa cada produtor que chegou o
momento da irrigação.
Em condições de dificuldade para o cálculo da ETo diária, pode-se
utilizar a ETo ajustada e predita média para o período de cultivo
(Resende et al., 2002), utilizando-se uma série histórica de dados
244
A Cultura do Milho Irrigado
planta; nesse caso, o termômetro a infravermelho tem grande
perspectiva de uso generalizado em futuro próximo. Esse equipamento
baseia-se na diferença entre a temperatura do ar e da folha. Uma das
limitações para o uso desse termômetro é a falta de dados de
pesquisa para estipular os valores de diferença de temperatura em
que uma determinada cultura deve ser irrigada. A falta desse
equipamento no mercado e seu elevado custo também limitam seu
uso.
O tanque Classe A também pode ser usado para determinar o
momento e a lâmina de irrigação.
Os equipamentos mais recomendados para uso serão descritos a
seguir.
11.4.3.1. Tensiômetro
O tensiômetro mede o componente matricial do potencial de água no
solo (Figura 11.7). Esses valores podem ser expressos nas seguintes
unidades: centibar (cbar), atmosfera (atm), quilopascal (kPa), metro ou
centímetro de coluna d’água (cm.H2O). O tensiômetro tem uma
grande limitação, devido à sua estreita faixa de leitura (0 a –100
kPa) comparada com os valores dos limites superior (-10 kPa) e
inferior (-1500 kPa) de tensão de água no solo.
Apesar da estreita faixa do potencial que é coberta pelo tensiômetro,
esse equipamento cobre a faixa de interesse do manejo de irrigação
para a maioria dos solos agrícolas brasileiros (de –10 a –80 kPa).
Constitui um equipamento de fácil operacionalização, podendo ser
utilizado para predizer o momento e a lâmina das irrigações.
Normalmente, utiliza-se o tensiômetro para indicar o momento de
irrigar a uma tensão predeterminada de água no solo e a lâmina de
água a ser aplicada em função das características do solo e do
sistema radicular, ou seja:
Quanto irrigar? – A lâmina total de água a ser aplicada é dada por:
Sendo:
- Umidade do solo correspondente ao potencial (Tabela 11.2) a
que se deseja irrigar (g água/g solo);
- Demais termos definidos anteriormente.
246
A Cultura do Milho Irrigado
água a ser aplicada corresponde à somatória das lâminas de cada
camada, dividida pela eficiência de irrigação.
11.4.3.2. Tensiômetro e Tanque Classe A
O tensiômetro, associado ao tanque Classe A (Figura 11.8), permite
estimar o momento de efetuar as irrigações, bem como a lâmina de
água a se aplicar, através de medições diretas no local da cultura.
Utiliza-se o tensiômetro para indicar o momento de irrigar a uma
tensão predeterminada, ou seja:
Figura 11.8. Tanque Classe A e seus componentes (Allen et al., 1998).
MOMENTO DE IRRIGAR = LEITURA NO TENSIÔMETRO À TENSÃO
PREDETERMINADA (Tabela 11.2)
Quando a tensão de água no solo atingir a tensão preestabelecida
indicada pelo tensiômetro, a lâmina de água a ser aplicada
corresponde à somatória de ETc diária desde a última irrigação.
Observa-se que, nesse método, tanto a lâmina de água a ser aplicada
como o momento de se efetuar a irrigação são medidos, na condição
da lavoura, pelo tanque Classe A e pelo tensiômetro,
respectivamente.
11.5. Irrigação de plantio
Para garantir uma boa germinação, a irrigação de plantio tem que ser
suficiente para umedecer o solo pelo menos até a profundidade das
sementes. O uso de irrigação por pivô central, em que geralmente se
aplicam pequenas lâminas de água, associado à sua eficiência de
248
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 11.8. Efeito do corte das irrigações no final do ciclo fenológico da
cultura do milho sobre a produtividade, redução de produtividade, lâmina total
de água aplicada, redução da lâmina, número total de irrigações e dias de
déficit hídrico no final do ciclo ( Sete Lagoas, inverno/89) (Albuquerque et al.,
1992a).
11.7. Literatura Citada
AGUIAR, D.J.; KRUKER, J.M.; CALHEIROS, R.O.; SILVA, A.S. da.
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A Cultura do Milho Irrigado
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256
A Cultura do Milho Irrigado
considerados, os quais referem-se às horas de máquinas,
equipamentos e mão-de-obra. Nesse cálculo, serão considerados
os custos fixos, variáveis e totais.
12.2. Custo da irrigação
Utilizando, como referência para o cálculo do custo, o método por
aspersão, sistema pivô central, dotado de aspersores tipo “spray”,
dimensionado para irrigar uma área de 100 ha. Ainda considerando
que os critérios utilizados na estimativa dos custos desse sistema são
aplicáveis igualmente aos demais métodos e sistemas de irrigação, as
estimativas de alguns custos são feitas nos itens seguintes.
12.2.1. Custo da Hora do Sistema de Irrigação
Na determinação do custo da hora de irrigação, os
componentes do custo fixo são juros, depreciação e demanda
de potência, enquanto que os custos variáveis são consumo de
energia, reparos, manutenção e mão-de-obra, conforme consta
na Tabela 12.1, que apresenta a vida útil total e anual e,
também, o valor inicial, correspondentes a outros itens
especificados. Esses dados fornecem a base para as estimativas
dos custos (Dossa et al., 1987; Hunt, 1973). O custo da mãode-obra para operar o sistema é considerado à parte e
detalhado na planilha de custo de produção da cultura irrigada.
Juros - Os juros são calculados sobre a média aritmética dos
valores inicial e de sucata do pivô e dos requisitos de infraestrutura, sendo o valor de sucata fixado como um percentual
do valor inicial do bem. No presente caso, considerou-se taxa de
juros de 7% ao ano e valor de sucata correspondente a 5% do
valor inicial. O valor dos juros que compõem o custo por hora do
sistema de irrigação é dado pela seguinte fórmula:
em que:
J = Valor dos juros (R$/hora);
Vi = Valor inicial do pivô;
Va = Vida útil anual em horas.
258
A Cultura do Milho Irrigado
Depreciação - A depreciação é calculada pelo método linear,
através da fórmula:
em que:
D = depreciação (R$/hora);
Vs = valor de sucata;
Vt = vida útil total em horas.
No caso do sistema de irrigação em que o valor de sucata
corresponde a 5% do valor inicial, o valor da depreciação é
dado por:
Demanda de potência - A demanda de potência é função da
potência instalada e é cobrada, mediante contrato, pela
potência que é disponibilizada para a operação do sistema.
Consumo de energia – Em irrigação por aspersão, esse item de
despesa tem um peso relativamente alto tanto no custo da
irrigação quanto no custo total de produção. Por isso, deve
receber um tratamento mais detalhado, levando-se em conta os
parâmetros que determinam o custo da energia consumida
(Bernardo, 1982).
O consumo de energia é calculado em função da potência do
componente motobomba (kW) e do número de horas de
funcionamento (h). Normalmente, existem tarifas diferenciadas,
dependendo do horário em que o sistema é ligado e do tipo de
tarifa que foi negociado contratualmente.
A potência do conjunto motobomba é calculada pela seguinte
equação:
P = 0,736 x Q x H/75 x E
Sendo:
P – Potência (kW);
Q – Vazão (L s-1);
H – Altura manométrica total (m);
E – Eficiência global do conjunto motobomba, dada por:
E = Eb x Em
Sendo:
Eb – Eficiência da bomba;
Em – Eficiência do motor.
Tabela 12.2. Custo de Hora Máquina, Equipamento e Mão-de-obra.
260
A Cultura do Milho Irrigado
262
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 12.3. Custo de correçäo e conservaçäo de solo por ha. Junho de 1999.
12.5. Custo de produção de milho
12.5.1. Sistema de produção de milho irrigado
Em agricultura irrigada, todos os fatores de produção devem ser
alocados em níveis ótimos para maximizar a produção em face dos
investimentos feitos no sistema de irrigação e também devido ao
custo operacional da irrigação (30 a 35 % do custo de produção).
Portanto, devem-se utilizar também cultivares de milho com altos
potenciais de produção, geralmente híbridos simples ou triplos. De
modo geral, para a cultura do milho, o custo de produção de uma
lavoura irrigada é bem mais elevado que em condições de sequeiro. A
energia representa um forte componente nos custos. Segundo estudos
realizados pela CEMIG e a UFV, os custos de energia na irrigação por
aspersão convencional e pivô central podem chegar a 35% do custo
da irrigação.
As Tabelas 12.1, 12.2 e 12.3 foram desenvolvidas para
qualquer cultura irrigada. A Tabela 12.4, contudo, foi
desenvolvida somente para a cultura do milho irrigado, usando
plantio direto, segundo sistema de produção recomendado para
lavoura irrigada nos cerrados da região de Uberlândia, MG.
A planilha referente à Tabela 12.4 reflete o que se convencionou
chamar de custos operacionais de produção, ou seja, não leva em
conta as despesas com juros, impostos, arrendamento e
administração. Além disso, considera que o empresário rural é
proprietário de todas as máquinas e equipamentos necessários para a
condução da lavoura e que os utiliza plenamente. O valor estimado do
264
A Cultura do Milho Irrigado
Tabela 12.4. Custo de produção de 1ha de milho irrigado – Plantio Direto
(valores de junho de 1999)
266
A Cultura do Milho Irrigado
No resultado operacional são considerados: receitas total e
líquida, pontos de equilíbrio sobre os custos variável e total
(Tabelas 12.6 e 12.7).
A receita total é a produtividade multiplicada pelo preço do
milho, enquanto que a receita líquida é a receita total menos o
custo total de produção apurado nas Tabelas 12.4 e 12.5.
Os pontos de equilíbrio são obtidos dividindo-se os custos pelo
preço do milho e representam as produtividades mínimas
necessárias para cobrir esses custos. No exemplo em discussão,
são necessários 4.379,21 kg ha-1 para cobrir o custo variável e
5.733,32 para cobrir o custo total de produção de um hectare
de milho irrigado. Para o milho de sequeiro, são necessários
3.254 kg ha-1 para cobrir os custos variáveis e 3.761 kg ha-1
para cobrir os custos totais.
Tabela 12.6. Resultado operacional, receitas, ponto de equilíbrio e taxas de
retorno em plantio direto irrigado (valores de junho de 1999).
As taxas de retorno são os resultados da divisão da receita
total pelos custos. Mostram quantos reais retornam, para cada
real empregado na produção. A taxa de retorno sobre o custo
variável igual a 1, 31 significa que retornam 31% dos gastos
correspondentes aos custos variáveis. A taxa de retorno sobre
os custos totais de 1,00 implica que retorna exatamente o valor
correspondente ao custo total de produção; portanto, não
apresenta lucro.
Na Tabela 12.6, a produtividade de 5.733,32 kg ha-1
corresponde ao ponto de equilíbrio sobre o custo total do milho
irrigado. Isso significa uma receita líquida igual a zero e taxa de
retorno sobre o custo total igual a um. Produtividades maiores
que essa resultam em lucro e menores, em prejuízo. Para o
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