1. Introdução Com o intuito de se estudar diferentes aplicações dos sistemas de controle de rotação de máquinas elétricas e a eletrônica envolvida nesses processos, foi desenvolvido um projeto no qual se montou um circuito em uma protoboard que compreendia uma Ponte H e um controle PWM. O projeto envolveu desde a esquematização dos circuitos, passando pela seleção apropriada dos componentes e programação do sistema de controle, até a realização de testes que pudessem comprovar o seu correto funcionamento. Além de agregar conhecimentos práticos ao que foi desenvolvido em sala de aula, o seguinte projeto visa prover aos integrantes do grupo, de forma didática, maior contato com uma importante aplicação da engenharia. 2. Descrição dos Circuitos 2.1 Descrição do Circuito PWM Os controles de potência, inversores de freqüência, conversores para servomotor, fontes chaveadas e muitos outros circuitos utilizam a tecnologia do PWM (Pulse Width Modulation) ou Modulação de Largura de Pulso como base de seu funcionamento. Na eletrônica moderna, o rendimento com pequenas perdas e a ausência de grandes dissipadores que ocupem espaço é fundamental, principalmente quando circuitos de alta potência estão sendo controlados. Desta forma, controles de potência lineares não são convenientes, sendo necessárias outras configurações de maior rendimento como as que fazem uso do PWM. Ao controlar circuitos analógicos digitalmente, custos e consumo de energia podem ser drasticamente reduzidos. Resumidamente, PWM é uma forma de codificar digitalmente os níveis de sinal analógico. Através do uso de contadores de alta resolução, o ciclo de trabalho (duty cicle) de uma onda quadrada é modulada para codificar um nível de sinal analógico específico. O sinal do PWM ainda é digital, pois em qualquer instante de tempo, a fonte DC ou está totalmente ligada ou totalmente desligada. A fonte de tensão ou corrente alimenta a carga analógica por meio da repetição de uma série de pulsos, nos quais a fonte se encontra ora ligada ora desligada. O período em que a fonte DC permanece ligada é chamado de ontime e o período em que a fonte permanece desligada é chamado de off-time. Dada uma largura de banda suficiente, qualquer valor analógico pode ser codificado com o PWM. A figura 1 ilustra três diferentes sinais de PWM. A 1ª figura mostra a saída do PWM com 10% de duty cicle. Isto é, o sinal está em nível alto (ligado) em 10% do período e o restante em nível baixo (desligado). As figuras 1b e 1c mostram as saídas do PWM com 50% e 90% de duty cicle, respectivamente. Essas três saídas do PWM codificam três diferentes valores de sinais analógicos, com 10%, 50% e 90% do valor máximo. Se, por exemplo, a fonte for de 9V com duty cicle de 10%, o sinal resultante será de 0.9V. Figura 1: Sinais de PWM resultantes da variação do duty cicle Para implementação de controles PWM existem muitos circuitos integrados especiais, alguns deles incluindo as etapas de potência e até mesmo circuitos de pontes H para reversão de sentido. 2.2 Descrição do Circuito Ponte H O circuito em Ponte H é um dos mais importantes e utilizados circuitos quando se necessita fazer o controle de velocidade em motores de corrente contínua (motores DC). A função do circuito em Ponte H é controlar o sentido de rotação de um motor DC segundo um sinal de um microcontrolador, por exemplo. Isso pode ser feito utilizando-se quatro chaves simples, como chaves mecânicas, transistores ou relés, dispostas em forma da letra “H”, localizadas em cada um dos extremos do circuito com o motor posicionado em seu centro. Além de conectadas ao motor, duas das chaves estão ligadas em 5V, na parte superior do circuito, e outras duas em ground, na parte inferior do circuito. Figura 2 – Ponte H Simplificada Seguindo a estrutura descrita, para correto funcionamento de um motor DC associado a uma ponte H é necessário que o chaveamento se dê em pontos diametralmente opostos, sendo que uma das chaves permite a passagem de corrente e outra se conecta ao ground, enquanto as duas chaves restantes permanecem abertas. Para que um motor DC inverta seu sentido de rotação é necessário alterar a ligação de seus terminais, invertendo-se seus pólos, negativo e positivo. Utilizando o circuito em Ponte H essa operação equivale a mudar as chaves diagonais que fecham o circuito e que permitem a passagem de corrente em sentido oposto à configuração anterior e consequentemente a rotação do motor irá inverter seu sentido. Caso todas as chaves sejam fechadas, o motor, se em movimento, pára suavemente. Caso duas chaves, superiores ou inferiores, sejam fechadas, o circuito funcionará como freio para o motor. Deve-se cuidar, no entanto, para que duas chaves verticalmente opostas não sejam fechadas simultaneamente, pois tal fato produzirá um fluxo de corrente que causará um curto circuito na fonte de alimentação. Dentre as chaves disponíveis para o desenvolvimento da Ponte H foi escolhido o transistor, devido a sua funcionalidade e fácil aplicação. Quando a base do transistor é devidamente polarizada ele é capaz de produzir corrente entre seus terminais Coletor e Emissor. Para transistor do tipo NPN essa corrente se dá no sentido do Coletor para o Emissor, enquanto que nos transistores PNP a corrente será conduzida do Emissor para o Coletor. Os transistores NPN conduzem corrente em sua base quando em nível alto e os transistores PNP o mesmo ocorre em nível baixo. Além dos transistores é necessário adicionar à Ponte H resistores que limitem a corrente que passa pelos transistores e que chega ao motor, levando-se em consideração o ganho do transistor. Para realizar o controle do funcionamento da Ponte H faz-se uso de um microcontrolador (PIC) que envia para o circuito dois sinais de controle. A disposição dos transistores NPN e PNP é tal que em uma linha vertical existe um transistor de cada tipo. Um mesmo sinal de controle é utilizado para sensibilizar um par de transistores NPN e PNP. Nessa configuração, quando o sinal é de nível alto, apenas o transistor NPN conduzirá corrente e, quando em nível baixo, apenas o transistor PNP conduzirá corrente. Assim, a seguinte lógica pode ser seguida: Tabela 1: Lógia de Funcionamento da Ponte H Controle S1 0 0 1 1 Controle S2 0 1 0 1 NPN1 Cortado Cortado Conduz Conduz PNP1 Conduz Conduz Cortado Cortado NPN2 Cortado Conduz Cortado Conduz PNP2 Conduz Cortado Conduz Cortado Motor Parado Horário Anti horário Parado Nessa configuração não existe a possibilidade de ocorrer um curto circuito, pois em uma mesma linha vertical (entre ground e 5V) não existem dois transistores cortados ou conduzindo. 2.3 Dimensionamento de componentes Para o dimensionamento dos resistores de base dos transistores na Ponte H utilizou-se um datasheet dos transistores, além do datasheet do motor DC a ser utilizado, com suas características nominais. O raciocínio para dimensionamento dos componentes é feito como se segue: primeiramente obtêm-se os valores de tensão e corrente nominais do motor. A seguir, de acordo com os valores obtidos para o motor, procura-se no gráfico de saturação do coletor do datasheet dos transistores, a linha de corrente de coletor próxima à corrente do motor e escolhemos um valor para corrente de base que esteja após o “joelho” da linha, ou seja, um valor que seja suficiente para fazer o transistor operar como chave. Por último, cruza-se a linha com o eixo das coordenadas a fim de obter-se o correspondente valor de queda de tensão entre o coletor e o emissor e, a seguir, o valor de ganho do transistor pela razão entre a corrente do coletor e a corrente de base. As contas seguem abaixo: -Corrente nominal do motor, sem carga no eixo: 17mA; -Tensão de operação do motor: 5V; -Corrente de coletor: 20mA; -Corrente de base: 0,5mA; -Queda de tensão coletor/emissor: 0,2V -Ganho do transistor: Ic/Ib = 34 𝑅𝐵 = (5 − 0.4)[𝑉] = 9200Ω (0.5)[𝑚𝐴] O valor comercial de resistor encontrado que se aproxima do valor calculado é o de 10KΩ e, por isso, é o que foi utilizado. O valor de 0,4V referese às duas quedas de tensão que ocorrem na malha da Ponte H, quando a corrente percorre dois transistores. 3. Lista de Componentes 1. 1 Regulador de tensão 7805 2. 1 Capacitor 100nF 3. 1 Capacitor 330nF 4. 6 Resistores 10KΩ 5. 2 Resistores 330Ω 6. 2 LED’s vermelhos 7. 2 Botões switch 8. 2 Transistores BC547 9. 2 Transistores BC558 10. 1 PIC 16F683 4. Função dos Componentes O regulador de tensão 7805 tem a função de baixar a tensão de alimentação de 12V da fonte para 5V, tensão esta que será utilizada no sistema de controle; os capacitores de 100nF e 330nF servem para filtrar qualquer ruído proveniente da fonte; 4 dos resistores de 10 KΩ servem para conduzir o sinal proveniente do PIC, sendo um para cada transistor; 2 dos resistores de 10 KΩ restantes são para pull-down dos 2 botões, sendo que 1 botão funciona como mode e o outro como set; os 2 resistores de 330Ω servem um para cada um dos 2 LED’s indicativos de mode, a saber PWM e Ponte H; Os transistores BC547 e BC548 servem para conduzir a corrente no motor quando suas bases forem sensibilizadas conforme o sinal proveniente do PIC e conforme o esquema da Ponte H; o PIC 16F683 serve para realizar o controle dos sinais que vão para a Ponte H, ativar os LED’s que indicam o modo de operação do motor e receber os sinais vindos dos botões. Figura 3 – Esquemático do Sistema Eletrônico 5. Conclusão A utilização da Ponte H e de um sinal PWM para o controle de motores é, conforme viu-se anteriormente, muito conveniente, no que diz respeito à simplificação dos circuitos eletrônicos de controle. O sinal PWM com sua variação de largura de pulso propicia valores equivalentes de uma tensão analógica, mas ainda são sinais digitais, permitindo o controle de velocidade do motor; a Ponte H permite, com um simples raciocínio, construir um circuito para inversão do sentido da velocidade de um motor DC. Uma rápida análise feita a partir de um datasheet dos transistores de chaveamento elucida o dimensionamento dos componentes da Ponte H, com auxílio das características nominais do motor em questão.