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FACULDADE DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ARAÇATUBA
PSICOLOGIA DIURNO – 7º Semestre
Geisa Maria Batista Moterani
Iracema Berchiol da Silva
2015
PSICOLOGIA E ONCOLOGIA
Ainda hoje, o câncer é uma doença cujo significado é ameaçador para a maioria das
pessoas, pois está associado ao risco de morte e possibilidade de interrupção da trajetória
existencial, que exige do indivíduo acometido força e criatividade para suportar mudanças,
muitas vezes drásticas, em seu estilo de vida. (WEREBE,2000).
O paciente oncológico carrega em seu mundo subjetivo, muitas concepções negativas
acerca da doença, o que dificulta no processo de adesão e recuperação. A proposta da
assistência psicológica é uma alternativa da Psicologia da Saúde que tem a finalidade de
prevenir e promovera saúde tanto em nível individual como coletivo através de uma visão
biopsicossocial do processo de adoecimento do sujeito.
Quando se fala em sofrimento é importante salientar que não se refere apenas ao
sofrimento físico, gerado pelo mal estar proveniente das sessões maciças de quimioterapia. Na
verdade, o isolamento ao qual o paciente deve ser submetido, para evitar qualquer tipo de
contaminação no período pós-quimioterapia, muitas vezes é vivido por este como um
profundo sentimento de abandono. (CAMPOS,2007).
A partir da publicação da Portaria nº 3.535 do Ministério da Saúde publicada no Diário
Oficial da União, em 14/10/1998, compete ao psicólogo à presença obrigatória juntamente à
equipe multidisciplinar, com o intuito de dar suporte ao atendimento oncológico junto ao
SUS. Nesse sentido, faz-se necessária a atuação desse profissional no tratamento do câncer,
abrindo espaço a área denominada Psico-oncologia.
A Psico-oncologia pauta-se em uma atuação preventiva primária com o objetivo de
buscar formas de tratamento digna, humanizada e que favoreça a adesão ao processo de
tratamento. Ao passo que considera o indivíduo como um ser integral, social, ajuda o paciente
e seus familiares à ressignificar o processo de adoecimento, objetivando restaurar ou melhorar
a qualidade de vida e possibilitar maiores expectativas de sobrevivência.
A Psico-oncologia representa a área de interface entre a Psicologia e a Oncologia e
utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico proveniente da Psicologia da
Saúde para aplica-lo:
1º) Na assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais da saúde envolvidos
com a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a fase terminal da doença;
2º)Na pesquisa e no estudo de varáveis psicológicas e sociais relevantes para a compreensão
da incidência, da recuperação e do tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer;
3º)Na organização de serviços oncológicos que visem ao atendimento integral do paciente,
enfatizando de modo especial a formação e o aprimoramento dos profissionais da Saúde
envolvidos nas diferentes etapas do tratamento. (CARVALHO, 2000).
O psicólogo que antes, somente participava dos aspectos relacionados à saúde-doença
ou em instituições que promoviam saúde mental, hoje, tem uma atuação mais ampliada em
diversos setores da saúde, bem como em hospitais, em unidades básicas, postos de saúde,
casas de saúde, dentre outras instituições. Isso reflete ao aumento do número de demandas
para esse profissional, inclusive no campo da Oncologia.
Através da Psicologia da Saúde que se propunha a realizar promoção e manutenção da
saúde, prevenção e tratamento de doenças; o psicólogo começa a adquirir seu espaço no
hospital, sendo figura necessária nos serviços de suporte a toda equipe multidisciplinar.
O psicólogo na Oncologia, vai trabalhar com o fenômeno, ou seja, cada pessoa
percebe um determinado acontecimento, como aquilo que foi relatado está refletindo na sua
vida, nas ações, nos sentimentos. Embora a busca seja por uma resolução imediata, isso não
acontece. O profissional tem o papel de ampliar o leque de possibilidades de sues clientes,
ajudando ele próprio a decidir qual caminho seguir. Em alguns momentos, é importante que
se abra espaço para a pessoa chorar, expressar seus sentimentos, sua raiva, considerá-lo e
ajuda-lo a compreender melhor seu processo de vida e adoecimento.
Não é possível perceber quando se faz necessário a intervenção do psicólogo a um
paciente. Este precisa conhecer as pessoas que estão em tratamento e trabalhar muitas vezes,
com sua percepção. Além disso, atende às solicitações da família e equipe. O profissional
deve ter disponibilidade para ouvir, ter um bom relacionamento como a equipe, pois é preciso
saber como foram passados o diagnóstico e o prognóstico e, até mesmo, para observar o que
foi compreendido pelo paciente e como ele está se sentindo no processo de adoecimento e
tratamento.
A relação entre o psicólogo e o paciente deve ser aberta, com confiança e algo que se
pode escolher. É fundamental ter vontade e motivação. O respeito à individualidade e sigilo
são elementos primordiais.
Atualmente é possível afirmar que o acompanhamento psicológico do paciente e de
seus familiares, em todas as etapas do tratamento, constitui elemento indispensável da
assistência prestada. Deve-se observar que, por se tratar de área relativamente recente, são
muitos os fatores psicossociais vinculados a um episódio de câncer que, ainda não são
compreendidos por pesquisadores e profissionais da área.
Temas relacionados à adaptação comportamental e ajuste emocional do paciente ao
tratamento, estratégias de enfrentamento em contextos estressantes, indicadores de qualidade
de vida, efeitos psicossociais do tratamento à longo prazo e modalidades de intervenção
psicológica junto ao paciente e familiares , ainda serão alvo de estudos científicos e assuntos
de muita discussão.
CASO CLÍNICO
Sandra, 50 anos, casada com Jair, engenheiro civil, mora em São Paulo, tem dois filhos,
que na época do ocorrido estavam com três e sete anos. Levava uma vida corrida, não tinha
tempo para si e sua maior preocupação era não deixar os filhos sozinhos. Sempre foi uma
pessoa séria e sensata, vivia à margem da vida e não dentro dela ou de si mesma, definia-se
como uma pessoa que vivia de aparências da imagem, sempre reprimindo seus sentimentos
para parecer que estava tudo bem.
Raramente tinha dito não às pessoas. Dava mais importância à sua vaidade e caprichos, do
que a vida. Vivia uma vida sem muito sentido, sem prazeres reais, tentava reprimir seu vazio
interno com roupas e joias.
Sua mãe, na década de 70, descobriu um câncer de mama. Sandra era adolescente,
acompanhou de perto todo o tratamento da mãe. Introjetou que em algum momento de sua
vida, também iria ter câncer de mama.
Tinha convicção que iria viver o martírio do tratamento pelo qual sua mãe passara.
Apesar da mãe ter sido curada totalmente do câncer, nada lhe tirava da cabeça, que viria a têlo também.
Aos 34 anos, Sandra nota pela primeira vez, um nódulo no seio, entretanto não fez nada.
Era mais fácil pensar que a doença não existia. Falar da doença significava sofrimento e
morte, não se permitia pensar na doença, escondia de todos e de si mesma.
Tomou a decisão de viver intensamente e decidiu entregar-se aos luxos da vida, vivendo,
mas queria, principalmente, estar com os filhos, fazendo com que assim ela pudesse preencher
com o máximo da vida possível os dias que lhe restavam.
Percebia que o nódulo crescia em seu seio, mas preferia o silêncio.
Por conta própria, passou a ler livros que falassem a respeito da doença, descobriu o
poder das ervas medicinais. Passou a comprar e usar todo tipo de ervas, a fim de curar-se e
fingir que era tudo um pesadelo, comportamento que o marido estranhava, mas não
questionava.
Embora tudo parecesse uma brincadeira, Sandra começou a sentir os efeitos no nódulo no
seio, e apesar do esforço para ignorá-lo, percebia que estava cada vez maior.
Nos momentos de intimidade com o marido, conseguia fingir e disfarçar a dor e o
incômodo do nódulo.
As dores começaram a surgir um ano após. Percebeu alterações em seu corpo, mas não
associava ainda ao nódulo.
Após um tombo acidental, começou a sentir dores no joelho e grande dificuldade para
andar.
Jamais poderia imaginar que tal fato estivesse relacionado ao nódulo no seio. Acreditando
não ser nada grave, procurou um especialista para descobrir a causa das dores no joelho e a
dificuldade para andar.
Sandra tinha uma imagem de si mesma como um princesa. Era sempre protegida de tudo e
bastante vaidosa. Adoecer para ela, era algo inconcebível, porque “as princesas não
adoecem.”
A descoberta da doença foi um choque, tanto para ela, para o marido e os familiares, que
viam nela uma pessoa forte e cheia de vida, que era a imagem que tentava passar, enquanto
por dentro, vivia uma série de incertezas, um conflito interior e silenciava seu sofrimento.
SÍNTESE
Sandra apresenta uma personalidade frágil, seu campo íntimo carece de uma configuração
própria, aparecendo grande dificuldade de separação e individuação. No tratamento da doença
da mãe, essa colagem com a figura materna, fez com introjetasse a ideia de que iria ter câncer
igual a mãe. Para poder viver, Sandra precisou construir uma imagem representativa de
princesa. Definia-se como uma pessoa que vivia de aparências. Quando notou o nódulo, não
fez nada, negação total a doença “as princesas não adoecem”. O diagnóstico de câncer no seio
foi descoberto de forma catastrófica, após um tombo acidental, os problemas apareceram,
desmoronando a imagem que tentava passar para si e para seus familiares.
15/02/2015.
Referências Bibliográficas:
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