Fascículo 8 Pilares da Reforma: Fé Justificados mediante a fé! Martim Lutero aponta para o Cristo crucificado, pois é somente Cristo quem salva. Nós não somos salvos por nossos próprios méritos ou esforços, mas somente pela GRAÇA presenteada por Deus; somente pela FÉ como dádiva e promessa de Deus; somente pela ESCRITURA SAGRADA que contém a Sua Palavra libertadora; e somente por CRISTO, como o caminho, a verdade e a vida. Como nos diz o Apóstolo Paulo em Efésios 2.8-9: “Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode orgulhar-se de tê-la”. E também Romanos 1.17: “Visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá fé”. A fé é fundamental para a justificação de todo ser humano, pois sem fé não pode haver justificação. “Somente a fé justifica, mas ela jamais está só, vem sempre acompanhada do amor. Assim a fé é o agente; o amor, a ação. Consequentemente é impossível separar da fé as obras; é tão impossível como separar do fogo a chama e a luz.” Martim Lutero A sua fé é maior que um grão de mostarda? “Jesus respondeu: Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês tivessem fé, mesmo que fosse do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este monte: ‘Saia daqui e vá para lá’, e ele iria. E vocês teriam poder para fazer qualquer coisa”. (Lucas 17.20) É a fé que move montanhas e nos faz sair da escuridão para ver a maravilhosa luz de Deus. É a fé que nos mantém firmes e de pé na caminhada da vida. Contudo, a fé é dom grandioso e gracioso que recebemos do nosso Criador e Mantenedor da vida. Nesse espírito, o reformador Martim Lutero, baseado em Tiago 2, afirma: “fé sem obras é morta, é como a vela sem a chama da luz”. Essas palavras nos fazem perceber que a fé nos tira da condição de meros expectadores para agentes da obra de Deus nesse mundo e, de fato, nós a realizamos, não como donos do mundo, mas sim, na condição de filhos do dono do mundo. Podemos dizer que é através da fé que somos movidos a agir e olhar para além do nosso próprio umbigo, tal qual fez Jesus, pois, foi na cruz, que a fé se fez viva e constante através da graça e do amor de Deus. Citações de Lutero sobre fé e amor: “As obras exteriores são apenas sinais da fé interior. As obras não fazem a pessoa crente, porém revelam que ela é crente e testemunham que a fé dentro dela é certa”. “Fé e amor constituem todo o ser de um cristão. A fé recebe, o amor dá. A fé leva a pessoa a Deus, o amor aproxima do semelhante. Através da fé, a pessoa recebe os benefícios de Deus, através do amor, ela beneficia o próximo". “Deus não tem necessidade de nosso serviço, mas coloca ao nosso lado o próximo para que a estes sirvamos em seu lugar”. Indo um pouco adiante em nossa reflexão, quero novamente me referir a Lutero que, quando ainda estava atribulado, buscou nas Sagradas Escrituras a resposta para suas dúvidas. Foi ali que redescobriu as palavras de Romanos 1.17: “Visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá fé”. Portanto, o justo viverá por fé! Através dela, da fé, toda pessoa é aceita por Deus. Por isso, se a fé é graça divina, que vem a nós pelo Evangelho, somos vitoriosos por meio daquele que nos amou primeiro, Jesus Cristo, e somos chamados ao discipulado, como colaboradores da multiforme graça de Deus, por meio da fé. Pela fé, somos capazes de vencer barreiras e obstáculos que o mundo nos impõe. Podemos dizer que, assim como uma flor floresce, murcha e morre, a fé também tem seus altos e baixos, pois a fé é irmã gêmea da dúvida. Essa dúvida não permanece por muito tempo, pois, através do Evangelho, Deus vem regar a planta e zelar para que tenha um bom crescimento. Conforme lemos em 1Coríntios 3.6: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus”. E Deus faz crescer a fé até mesmo dentro de um coração onde só há pedregulhos; é Deus quem faz surgir a mais bela flor em meio ao solo rochoso e sem vida; é Deus quem faz florescer um jardim em meio aos mais dolorosos espinhos da vida, simplesmente porque a pessoa cristã recebe de Deus a graça de ser justa e a pessoa justa vive pela fé. Certa noite um homem dormia tranquilamente na sua casa quando, de repente, a casa toda se encheu de luz e o Senhor apareceu e disse ao homem que Ele tinha um trabalho e lhe mostrou uma rocha enorme perto da sua casa. O Senhor explicou que o homem deveria empurrar a rocha com toda sua força. No dia seguinte, logo pela manhã, o homem começou a fazer isso. Ele continuou dia após dia. Por meses o homem se esforçou do amanhecer até o por do sol. Com seus ombros empurrava a superfície da rocha enorme e fria. Mas a rocha não saia do seu lugar. Cada noite o homem retornava a sua casa, cansado, músculos doendo e se sentindo derrotado por não ter conseguido mover a grande rocha. Vendo que o homem estava mostrando sinais de desistir, Satanás começou a colocar pensamentos negativos na cabeça dele e o homem pensou: Você está tentando há muitos meses mover essa rocha e nunca conseguiu nada. Para que você está se desgastando? Isso aí não dará resultado nenhum. E logo o homem começou a duvidar: Será que Deus queria que eu continuasse esse tempo todo? Ele só disse para eu empurrar a rocha, ele não disse por quanto tempo. Já faz vários meses que estou empurrando, talvez eu possa desistir Fé do tamanho de um grão de mostarda Certa oportunidade uma senhora humilde, mas com uma devoção firme leu em sua Bíblia (Mt 17.20) que, se a sua fé fosse do tamanho de um grão de mostarda poderia dizer ao monte: Saia daqui e vá para lá e ele iria. Como diante de sua casa havia um alto monte que, todo dia, ela precisava subir e descer a fim de levar a marmita para o marido que trabalhava em uma fábrica do outro lado do morro. Certa noite parou diante da janela, orou a Deus e disse ao monte: Saia daqui e vá para lá! Na manhã seguinte levantou-se eufórica, olhou pela janela e viu que o morro continuava lá. Decepcionada, preparou o almoço e levou-o para o marido. Este, por sua vez, entristecido, sentado no pátio da fábrica, chorando disse a mulher: Perdi o emprego... Ela, com sua humildade e confiança, o consolou e ambos voltaram para casa subindo e descendo o morro. agora. Ao menos eu não preciso mais empurrar o dia todo e com tanta força. Eu posso me dedicar uma parte do dia a este trabalho e passar o resto do dia fazendo outras coisas. Então ele decidiu fazer isso mesmo, mas depois ele chegou a pensar que seria bom orar ao Senhor sobre o caso. Senhor, ele orou, eu trabalhei duro e por muito tempo no serviço que o Senhor me deu. Eu dei toda minha força para conseguir o que o Senhor queria. Mas, depois desse tempo todo, ainda não consegui mover aquela rocha nenhum centímetro. O que está errado? Por que eu estou sendo derrotado? Para a surpresa dele, o Senhor respondeu com compaixão. Meu amigo, quando eu lhe pedi para me servir e você aceitou, eu lhe disse que sua tarefa era de empurrar aquela rocha com toda sua força, o que você fez até agora. Em nenhum momento eu disse que esperava que você movesse a rocha. Sua tarefa era de empurrar. E agora você chega para mim pensando que fracassou. Mas, será que foi assim mesmo? Olhe para você mesmo. Seus braços estão fortes e musculosos. Suas costas agora estão bem desenvolvidas e vigorosas. Suas pernas estão duras e robustas; suas mãos firmes. Enfrentando a resistência você cresceu muito e agora suas habilidades ultrapassam em muito o que você era antes. Mas, você ainda não moveu a rocha. Porém, essa não era a sua tarefa e, sim, ser obediente e empurrar com toda a sua força. Isso você fez, e fez bem. Ao contrário de ser um fracasso você foi bem sucedido e venceu. Eu apenas queria que você exercitasse sua fé e confiasse na minha sabedoria. Isso você fez. Eu, meu filho, agora vou mover a rocha! Muitas vezes, quando ouvimos a Palavra de Deus queremos usar nosso próprio raciocínio para decidir o que Ele quer, quando, o que Deus realmente quer é apenas uma simples obediência e fé nEle. Nossa preocupação não deve ser tanto mover as rochas, mas manter firme como uma rocha a nossa confiança em Deus. Com certeza, devemos ter a fé que pode mover montanhas, mas lembrar ainda que quem, de fato, move as montanhas em nossa vida é Deus. A fé deve comover nossos corações para nossos pés se mover em direção ao próximo. Em certa oportunidade quatro velas estavam queimando calmamente. O ambiente estava tão silencioso que se podia ouvir o diálogo entre elas. A primeira disse: Eu sou a Paz! Apesar da minha luz as pessoas não conseguem manter-me acesa. E foi assim diminuindo sua chama e, devagarzinho, se apagou totalmente. Quando estavam chegando, distante apenas uma quadra da casa, diante de uma fábrica estava uma placa que solicitava um trabalhador nas funções do marido despedido. Imediatamente ele se apresentou e no dia seguinte começou ali o seu trabalho. O morro continuou no mesmo lugar, mas, para esta senhora, ele foi para lá. Não precisou mais transpô-lo a fim de levar o almoço para o seu marido. Lembremo-nos: Fé confiante move montanhas não como nós queremos, mas como Deus o quer! A segunda disse: Eu me chamo Esperança! Infelizmente o trabalho e os problemas tem me sufocado. As pessoas nem se lembram de mim, por isso não faz sentido continuar queimando. Ao terminar sua fala, um vento bateu levemente sobre ela e esta se apagou também. Baixinho e triste a terceira vela se manifestou: Eu sou o Amor! Não tenho mais forças para queimar. As pessoas me deixam de lado, por que só conseguem enxergar elas mesmas, esquecem até daqueles que estão à sua volta. E também se apagou. De repente entrou no ambiente onde estavam as velas uma criança e viu as três velas apagadas e disse: Que é isto? Vocês devem ficar acesas e queimar até o fim. Então a quarta vela falou: Não tenha medo criança, enquanto eu estiver acessa podemos acender as outras velas. Então a criança pegou a vela da Fé e acendeu novamente as que estavam apagadas. Portanto, que a vela da Fé nunca se apague dentro de você! Por fim, lembro que não há outro caminho para chegar a Deus senão por Cristo. Que Ele seja o fundamento e a justificativa de nossa fé, pois, para Martim Lutero, o que estava em primeiro lugar, foi o que Deus fez pelo ser humano em Jesus Cristo. Sendo assim, como bons luteranos devemos, como nos diz Colossenses 3.12-17, ser pessoas misericordiosas, bondosas, humildes, dedicadas e pacientes. Fé e boas obras – Rumo aos 500 anos É importante que luteranos e católicos tenham uma visão comum a respeito de como a coerência da fé e das obras é vista: "na fé justificadora o ser humano confia na promessa misericordiosa de Deus; nessa fé estão compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele. Essa fé atua pelo amor; por isso o cristão não pode e não deve ficar sem obras" (DCDJ, n. 25). Por isso, os luteranos confessam também o poder criativo da graça de Deus que "afeta todas as dimensões da pessoa e conduz a uma vida em esperança e amor" (DCDJ, n. 26). "Justificação somente pela fé" e "renovação" devem ser distintas, mas não separadas. (Fonte: Do conflito à Comunhão – Comemoração Conjunta Católico-Luterana da Reforma em 2017, pág. 53) P. Nestor Schul – Paróquia de Tenente Portela