II 1ª edição do Programa Doutoral em Marketing e Estratégia Projeto conjunto da Universidade do Minho, da Universidade de Aveiro e da Universidade da Beira Interior III É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA TESE APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE. Universidade do Minho, ___/___/______ Assinatura: ________________________________________________ IV Agradecimentos No momento de finalizar e abrir este trabalho a uma comunidade mais alargada, que irá proceder à sua apreciação, permito-me escrever algumas palavras especialmente dirigidas aos que acompanharam a forma como a sua construção foi evoluindo ao longo do tempo. Um trabalho como este representa, no meu entender, uma caminhada cheia de pequenas contrariedades e alguns êxitos. Este espaço é, pois, consagrado àqueles que deram o seu valioso e abnegado contributo para que este resultado pudesse ser alcançado. Sem eles, sem a colaboração desinteressada e generosa de um leque grande de pessoas, que me estão próximas e que fazem parte integrante do meu dia a dia, família, professores, colegas, amigos, esta missão não teria sido possível. Sem a partilha de conhecimentos, competências e recursos com que fizeram o favor de me obsequiar, nada disto teria sido conseguido. Contudo, para ter a certeza que, involuntariamente, não caio no deslize de omitir algum daqueles muitos que me acompanharam, não farei qualquer nomeação, mas sei que eles se sentem aqui considerados e que a todos agradeço de igual modo. A todos, pois, aqui deixo o meu reconhecimento sincero e profundo apreço. V Resumo O objetivo deste estudo é o de perceber, através de uma investigação empírica, as relações entre marketing interno, orientação para o mercado interno, orientação para o mercado e desempenho no seio das organizações, em particular nas do setor transformador. Adicionalmente, este trabalho pretende alargar o seu âmbito ao considerar, também, as relações entre as referidas variáveis e a conceptualização individualizada de felicidade no local de trabalho, enquanto medida de um potencial resultado do marketing interno. O propósito deste trabalho de investigação, passa, portanto, pelo desenvolvimento de um quadro conceptual que analise não apenas o potencial de impacto das diferentes variáveis no desempenho organizacional, mas, muito em particular, qual o seu papel na indústria transformadora, tendo sido escolhido para o efeito o setor nacional da transformação de cortiça, na medida em que a revisão da literatura mostra que são escassos os estudos sobre a temática conjunta em análise e em particular sobre o setor em causa. Assim, foi adotada uma abordagem metodológica qualitativa, através da realização de um conjunto de entrevistas semiestruturadas a dois tipos de informantes chave, colaboradores das empresas constituintes da amostra selecionada no setor nacional transformador de cortiça, tendo tido cada uma das entrevistas uma duração aproximada que variou entre os 60 e os 120 min. O entrevistador teve, ainda, o cuidado de, sempre que entendido adequado, incluir questões adicionais que funcionavam como argumentos ou objeções às reações e comentários dos diferentes participantes. O protocolo gizado pelo guião das entrevistas foi sempre cumprido no sentido do tratamento das questões que davam cobertura aos tópicos definidos como os essenciais para o estudo em causa. Os resultados obtidos permitem deduzir que (i) todas as empresas analisadas estão nitidamente orientadas para o mercado, (ii) existe um conjunto de estratégias organizacionais, mais notórias numas empresas do que noutras, que influenciam positivamente a prática do marketing interno e consequente orientação para o mercado interno, (iii) os recursos organizacionais estão vocacionados, nos distintos patamares onde operam, para a obtenção de resultados ao nível do desempenho geral e (iv) é sumariamente identificável a noção conceptual de felicidade no local de trabalho, tendo desta forma sido alcançada uma resposta condicente com a questão de investigação proposta. Ainda foi possível perceber, ao longo de todo o processo de abordagem empírica, que o fator mais impactante na atuação empresarial para com os seus colaboradores é a VI política de orientação para o mercado externo, a qual formata, projetando e edificando, o ambiente organizacional. No debate que tem vindo a ser realizado à volta destas questões de índole organizacional, os autores revistos consideram que ainda é possível acrescentar conhecimento científico potenciador de melhores condições de interpretação das diferentes realidades com que se têm vindo a deparar, donde a fundamentação da escolha efetuada, encontrando-se no decurso da investigação já realizada uma relação positiva entre estas distintas variáveis. Nesta perspetiva, os vários conceitos em análise representam, pois, a base de todo o edifício do estudo. VII Abstract The aim of this study is to understand, through an empirical research, the relationship between internal marketing, internal market orientation, market orientation and performance within organizations, particularly those in the manufacturing sector. Additionally, this work also aims to extend its scope considering the relationships between these variables and individualized conceptualization of happiness in the workplace as a potential outcome measure of the internal marketing. The purpose of this research, is therefore the development of a conceptual framework to analyze not only the potential impact of this different variables on organizational performance but, most particularly, what is their role in manufacturing, having been chosen to the effect the domestic industry of cork transformation, considering that the literature shows that there are few studies on joint thematic analysis and in particular on the concerned sector. Thus, we adopted a qualitative methodological approach, by performing a set of semistructured interviews with two types of key informants, collaborators of the constituent companies of the sample selected in the manufacturing sector national cork, having had each of the interviews last approximately ranging between 60 and 120 min. The interviewer also took care of, always understood that appropriate, include additional questions that functioned as arguments or objections to the reactions and comments of the various participants. The protocol chalked by scripted interviews were always fulfilled in the sense of treating issues which cover the topics defined as essential for the study in question. The results obtained allow us to deduce that (i) all analyzed companies are clearly market-oriented, (ii) there is a set of organizational strategies, most notorious in ones than other companies, which positively influence the practice of internal marketing orientation and consequent to the internal market, (iii) organizational resources are geared, in the various levels in which they operate, to obtain results in performance level and (iv) is summarily identifiable conceptual notion of happiness in the workplace, thus having been achieved a response to the issue of the proposed research. It still was revealed, throughout the process of the empirical approach, that the most striking factor in human resources organizational policy towards their employees is the market orientation, which formats, designing and building, the organizational environment. VIII In the discussion that has been done around these organizational issues, the revised authors consider that it is still possible to add leverage scientific knowledge of a better understanding of different realities that have been faced, where the reasons for the choice made, lying in the course of research already done a positive relationship between these distinct variables. In this perspective, the various concepts in analysis are therefore the basis of the whole building of the study. IX Índice Índice de Figuras ...................................................................................... XV Índice de Quadros .................................................................................... XV Índice de Tabelas...................................................................................... XV Lista de Siglas ………………………………………………………………….……….……….…XVII I – Introdução ...................................................... 2 Primeira Parte: Fundamentos Teóricos .................... 5 II – Objetivos da Investigação .................................................................. 6 III – Enquadramento Teórico ................................................................. 12 3.1 Marketing Interno e Orientação para o Mercado Interno .................. 12 3.1.1 Conceptualização do Marketing Interno ................................................................15 3.1.2 Conceptualização da Orientação para o Mercado Interno ....................................24 3.2 Orientação para o Mercado ............................................................... 41 3.2.1 Conceptualização da Orientação para o Mercado ................................................42 3.2.2 Uma Primeira Abordagem à Abrangência Relacional do Desempenho .................51 3.3 Marketing Interno, Orientação para o Mercado e Desempenho ........ 53 3.3.1 Fatores Promotores do Desempenho ....................................................................54 3.3.2 Desempenho...........................................................................................................57 3.3.3 Implicações do Marketing Interno no Desempenho ..............................................59 3.3.4 Implicações da Orientação para o Mercado no Desempenho ...............................60 Segunda Parte: Investigação Empírica.................... 76 IV – Questões de Investigação e Modelo de Análise .............................. 77 4.1 Modelo de Análise .............................................................................. 81 X V – Investigação Empírica ...................................................................... 84 5.1 Metodologia ....................................................................................... 84 5.1.1 Opções Metodológicas Estruturantes ....................................................................84 5.1.2 Determinantes ........................................................................................................85 5.2 Estratégia de Pesquisa ........................................................................ 87 5.2.1 Unidade de Análise ................................................................................................87 5.2.2 Seleção dos Casos ...................................................................................................87 5.2.3 Recolha da Informação ...........................................................................................91 5.2.4 Análise da Informação ............................................................................................95 5.3 Análise dos Casos ............................................................................... 96 5.3.1 Amorim & Irmãos, S.A. ...........................................................................................97 5.3.1.1 Entrevista AI 1 ......................................................................................................97 5.3.1.2 Entrevista AI 2 ....................................................................................................100 5.3.1.3 Entrevista AI 3 ....................................................................................................102 5.3.1.4 Entrevista AI 4 ....................................................................................................103 5.3.1.5 Análise dos Indicadores de Desempenho .........................................................105 5.3.1.5.1 Indicadores Económico-financeiros da Empresa Amorim &Irmãos, S. A. .....105 5.3.1.6 Conclusão ..........................................................................................................107 5.3.2 Amorim Revestimentos, S.A. ................................................................................115 5.3.2.1 Entrevista AR 1 ..................................................................................................115 5.3.2.2 Entrevista AR 2 ..................................................................................................118 5.3.2.3 Entrevista AR 3 ..................................................................................................120 5.3.2.4 Entrevista AR 4 ..................................................................................................122 5.3.2.5 Análise dos Indicadores de Desempenho .........................................................124 5.3.2.5.1 Indicadores Económico-financeiros da Empresa Amorim Revestimentos, S. A. ...............................................................................................................................124 XI 5.3.2.6 Conclusão ..........................................................................................................124 5.3.3 Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ld.ª ..............................130 5.3.3.1 Entrevista SC 1 ...................................................................................................130 5.3.3.2 Entrevista SC 2 ...................................................................................................133 5.3.3.3 Entrevista SC 3 ...................................................................................................135 5.3.3.4 Entrevista SC 4 ...................................................................................................137 5.3.3.5 Análise dos Indicadores de Desempenho .........................................................138 5.3.3.6 Conclusão ..........................................................................................................141 5.3.4 Henri & Filhos, S.A. ...............................................................................................145 5.3.4.1 Entrevista HF 1 ...................................................................................................145 5.3.4.2 Entrevista HF 2 ...................................................................................................147 5.3.4.3 Entrevista HF 3 ...................................................................................................149 5.3.4.4 Entrevista HF 4 ...................................................................................................151 5.3.4.5 Análise dos Indicadores de Desempenho .........................................................152 5.3.4.6 Conclusão ..........................................................................................................156 5.3.5 Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª........................................................................160 5.3.5.1 Entrevista CS 1 ...................................................................................................160 5.3.5.2 Entrevista CS 2 ...................................................................................................162 5.3.5.3 Entrevista CS 3 ...................................................................................................164 5.3.5.4 Entrevista CS 4 ...................................................................................................165 5.3.5.5 Análise dos Indicadores de Desempenho .........................................................166 5.3.5.6 Conclusão ..........................................................................................................169 5.3.6 Granaz, Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª .................................................173 5.3.6.1 Entrevista GA 1 ..................................................................................................173 5.3.6.2 Entrevista GA 2 ..................................................................................................175 5.3.6.3 Entrevista GA 3 ..................................................................................................176 XII 5.3.6.4 Entrevista GA 4 ..................................................................................................177 5.3.6.5 Análise dos Indicadores de Desempenho .........................................................178 5.3.6.6 Conclusão ..........................................................................................................181 VI – Análise dos Resultados ................................................................. 184 6.1 Perfil dos Entrevistados ...........................................................................................185 6.2 Constatações Identificadas no Conjunto das Entrevistas Realizadas......................187 6.2.1 A Perspetiva dos Quadros Superiores ..................................................................188 6.2.1.1 Marketing Interno .............................................................................................188 6.2.1.2 Orientação para o Mercado Interno .................................................................190 6.2.1.3 Orientação para o Mercado ..............................................................................192 6.2.2 A Perspetiva dos Restantes Colaboradores..........................................................194 6.2.2.1 Marketing Interno .............................................................................................195 6.2.2.2 Orientação para o Mercado Interno .................................................................197 6.2.2.3 Orientação para o Mercado ..............................................................................200 6.3 Desempenho............................................................................................................202 6.4 Conclusão.................................................................................................................205 Terceira Parte: Considerações Finais .................... 207 VII – Considerações Finais ................................................................... 208 7.1 Introdução ...............................................................................................................208 7.2 Síntese das Considerações Finais ............................................................................209 7.2.1 A Influência do Marketing Interno na Orientação para o Mercado Interno ........209 7.2.2 A Influência da Orientação para o Mercado Interno na Orientação para o Mercado.........................................................................................................................211 7.2.3 A Influência da Orientação para o Mercado no Desempenho Organizacional ....213 7.2.4 Conclusões Gerais .................................................................................................215 7.3 Principais Contributos .............................................................................................217 XIII 7.3.1 Contributos Teóricos ............................................................................................218 7.3.1.1 Marketing Interno e Orientação para o Mercado Interno ............................... 218 7.3.1.2 Orientação para o Mercado ..............................................................................219 7.3.2 Contributos para a Gestão....................................................................................220 7.4 Limitações e Sugestões de Futura Investigação ....................................................221 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 223 REFERÊNCIAS WEB .............................................................................. 245 APÊNDICES .......................................................................................... 246 ANEXOS ............................................................................................... 256 XIV Índice de Figuras Figura 1 – Relação entre qualidade, produtividade e satisfação do cliente ...................24 Figura 2 – Desenvolvimento de uma orientação simétrica para o mercado ..................38 Figura 3 – Proposta de conceptualização da orientação para o mercado interno .........39 Figura 4 – Do marketing externo/interno à estratégia global.........................................65 Figura 5 – Mudança da mentalidade organizacional para poder obter melhores resultados externos .........................................................................................................68 Figura 6 – Modelo de Análise ..........................................................................................82 Figura 7 – Síntese das Conclusões Quanto à Influência do Marketing Interno na Orientação para o Mercado Interno .............................................................................211 Figura 8 – Síntese das Conclusões Quanto à Influência da Orientação para o Mercado Interno na Orientação para o Mercado ........................................................................213 Figura 9 – Síntese das Conclusões Quanto à Influência da Orientação para o Mercado no Desempenho ............................................................................................................215 Figura 10 – Esquematização do processo funcional, respeitante aos relacionamentos organizacionais, encontrado nas empresas estudadas .................................................217 Índice de Quadros Quadro 1 – Indicadores económico-financeiros da empresa Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ld.ª ........................................................................139 Quadro 2 – Indicadores económico-financeiros da empresa Henri & Filhos, S. A. ......153 Quadro 3 – Indicadores económico-financeiros da empresa Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª ...........................................................................................................................167 Quadro 4 – Indicadores económico-financeiros da empresa Granaz – Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª .................................................................................................179 Índice de Tabelas Tabela 1 – Caracterização das empresas onde irão ser realizadas as entrevistas ..........89 Tabela 2 – Caracterização dos entrevistados na empresa Amorim & Irmãos, S. A. ......97 XV Tabela 3 – Caracterização dos entrevistados na empresa Amorim Revestimentos, S. A. .............................................................................................................................. 115 Tabela 4 – Caracterização dos entrevistados na empresa Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ld.ª ........................................................................130 Tabela 5 – Caracterização dos entrevistados na empresa Henri & Filhos, S. A. ..........145 Tabela 6 – Caracterização dos entrevistados na empresa Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª .................................................................................................................................160 Tabela 7 – Caracterização dos entrevistados na empresa Granaz – Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª .................................................................................................173 Tabela 8 – Caracterização por função desempenhada .................................................185 Tabela 9 – Caracterização por género ...........................................................................186 Tabela 10 – Caracterização por escalão etário..............................................................186 Tabela 11 – Caracterização em função da escolaridade ...............................................186 Tabela 12 – Caracterização considerando o número de anos a desempenhar funções no setor de atividade ....................................................................................................187 Tabela 13 – Caracterização considerando o número de anos a exercer atividade na empresa em estudo .....................................................................................................187 Tabela 14 – Síntese do MI (quadros superiores) ...........................................................190 Tabela 15 – Síntese da OMI (quadros superiores) ........................................................192 Tabela 16 – Síntese da OM (quadros superiores) .........................................................194 Tabela 17 – Síntese do MI (restantes colaboradores) ...................................................197 Tabela 18 – Síntese da OMI (restantes colaboradores) ................................................199 Tabela 19 – Síntese da OM (restantes colaboradores) .................................................202 Tabela 20 – Síntese do Desempenho ............................................................................204 XVI Lista de Siglas AI – Amorim & Irmãos, S. A. APCOR – Associação Portuguesa de Cortiça AR – Amorim Revestimentos, S. A. CS – Celeste S. B. Sá, Ld.ª EBIT – Earnings Before Interest and Taxes EBITDA – Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization GA – Granaz, Ld.ª HF – Henri & Filhos, S. A. HWP – Happiness in the Working Place I&DI – Investigação, Desenvolvimento e Inovação IES – Informação Empresarial Simplificada IRB – In-Role Behaviour MI – Marketing Interno OCI – Orientação para o Cliente Interno OM – Orientação para o Mercado OME – Orientação para ao Mercado Externo OMI – Orientação para o Mercado Interno PIB – Produto Interno Bruto ROA – Return on Assets ROI – Return on Investment SC – Sedacor, Ld.ª TQM – Total Quality Management UM – Universidade do Minho XVII 1 I Introdução As empresas, enquanto organizações devidamente estruturadas, são constituídas por um conjunto de recursos que exercem a sua atividade com o objetivo de colocar no mercado bens e/ou serviços de forma a colmatar um conjunto de necessidades humanas. Esta perceção não estabelece, com a propriedade necessária, a dinâmica fulcral que é exercida pela alocação de recursos para alcançar os objetivos da própria organização, particularmente, numa visão moderna das empresas privadas, onde o lucro é considerado o resultado último do desempenho operacional. Os comportamentos organizacionais, conducentes a estes objetivos, representam o resultado de distintas disciplinas oriundas de diferentes áreas científicas, balizadas, no entanto, por padrões de orientação comuns. Da panóplia de todas estas disciplinas, destaca-se, no âmbito particular deste trabalho, o marketing com a sua capacidade para integrar conhecimento científico de outros campos de interesse, o qual faz a abordagem de atitudes comportamentais macro organizacionais com especial incidência na economia, na sociologia e, porque não, na ciência política (Cunha et al., 2007), de modo a poder estabelecer a sua relação com a envolvente socioeconómica. A importância do marketing tem tido um crescimento exponencial, considerando que, tendencialmente, a sua aplicação é universal, não só aos mercados, em sentido restrito, como também no que respeita à sua apropriação por determinadas peculiaridades em distintas áreas de atividade (Kotler & Levy, 1969). Em virtude da relativa facilidade com que se conquista uma nova área de interesses, é necessário continuar a considerar o marketing, nas suas diversas vertentes de conhecimento, como alvo privilegiado da continuidade investigacional, quer em termos teóricos, metodológicos, operacionais e pedagógicos. Assim, às questões mais tradicionais neste campo, é natural que novos temas venham a ser considerados pelos investigadores, corroborando a sua dimensão geral, cingida por distintas contribuições multidisciplinares e, sempre, focalizada nos problemas da sociedade, das organizações e da sua gestão. Numa perspetiva organizacional, a aplicabilidade conceptual do marketing assume diferentes aspetos conforme se faz uma abordagem do mercado interno ou se está a atuar com uma orientação voltada para o exterior. Contudo, esta distinção, conforme será referido adiante, no corpo deste trabalho, não vai implicar dissonância de conceitos, pelo que deve ser entendida como algo que contribui concomitantemente para o resultado final da missão empresarial. 2 Defendemos, pois, que é assim que aparece o conceito de marketing interno, pretendendo promover um programa de interação voltado para o interior da organização, que se estriba e combina com a estratégia voltada para o mercado externo e tendo o mesmo objetivo final: potenciar os resultados e contribuir para o desenvolvimento empresarial (Rafiq & Ahmed, 1998). Já a orientação para o mercado, enquanto ferramenta relacional de abordagem externa, é um conceito de tal valia que tendo aparecido como um elemento significativo de previsão de desempenho, mantem-se, presumivelmente, como um contributo de longo prazo para o sucesso organizacional (Deshpandé & Farley, 1998). Apesar do elevado número de conceptualizações da orientação para o mercado que foram aparecendo na literatura científica, ao longo das últimas décadas, as duas perspetivas que merecem maior destaque são as propostas por Narver & Slater, em 1990, e por Kholi & Jaworski, também no mesmo ano. O primeiro enquadramento advogava que as organizações deviam ter culturas orientadas para o mercado, enquanto o segundo defendia que essas abordagens deveriam ser comportamentalmente orientadas, numa perspetiva de implementação do conceito de marketing, colocando o foco da organização na satisfação das necessidades e desejos dos clientes (Cano et al., 2004). Realmente, Narver & Slater (1990) consideram a orientação para o mercado como uma cultura empresarial que desenvolve os comportamentos necessários à criação de valor de nível superior para com o cliente, o que, por sua vez, proporciona vantagens competitivas para as empresas por comparação com os concorrentes, recorrendo a três vertentes de atuação: orientação para o cliente, orientação para a concorrência e coordenação interfuncional. Já Kohli & Jaworski (1990) entendem que a implementação do conceito de marketing, com o objetivo de fazer o planeamento das ações da empresa a partir do consumidor, passa pela necessidade de se ter uma perspetiva de orientação para o mercado, enquanto filosofia empresarial, que pretende promover uma focalização de esforços organizacionais, quer sejam individuais quer sejam departamentais, que considerem, portanto, o todo estrutural, e que permitam alcançar, por comparação com a concorrência, de maneira mais eficiente e eficaz a satisfação de necessidades e desejos dos clientes. Para estes autores, este desiderato era alcançável considerando uma focalização no cliente, uma coordenação de marketing e uma visão conducente aos resultados. É, pois, na continuidade destes trabalhos e dos estudos que se lhe seguiram, que Deshpandé & Farley (1998) vêm considerar que a orientação para o mercado é, então, como já referido, uma métrica que assume uma grande importância enquanto 3 elemento para prever o desempenho organizacional numa perspetiva de sucesso a longo prazo. Assim, esta investigação tem como propósito explicar como é que a atuação estratégica das empresas se pode refletir na dinâmica geral dos seus quadros e de como é que essa dinâmica afeta o desempenho organizacional, considerando para tal os conceitos de marketing interno, de orientação para o mercado interno e de orientação para o mercado, através de um modelo que considera que o foco final da atuação empresarial é sempre o desempenho, mas que se perspetiva poder ser alcançado por diferentes vias. Contudo, considerando o domínio científico já vastamente realizado sobre esta temática e com o intuito de analisar uma perspetiva menos estudada, o objeto desta investigação será o setor transformador e em particular o da cortiça em Portugal, para o que se pretende levar a cabo uma abordagem qualitativa, enquanto método investigacional mais adaptado às situações em que se procura perceber, explorar e descrever contextos que integram, em simultâneo, diversas possíveis causas geradoras do mesmo tipo de efeitos. 4 PRIMEIRA PARTE Fundamentos Teóricos 5 II Objetivos da Investigação O tema sobre o qual se pretende desenvolver a investigação é o do marketing interno, enquanto antecedente da orientação para o mercado interno, da respetiva e consequente orientação para o mercado por parte das empresas e posterior associação ao desempenho verificado, particularmente na indústria transformadora. A orientação para o mercado está relacionada com a necessidade última que as empresas têm de poder dar satisfação à constante evolução da procura por parte dos consumidores finais, os quais, por sua vez, são eles também condicionados pelas próprias ações desenvolvidas pelas empresas que lhes estão a montante (Anderson te al., 1984). Os elevados níveis de evolução tecnológica, permitindo aceder a novos conhecimentos e novas ferramentas de gestão, a permanente luta concorrencial resultante da abertura e desenvolvimento de novos mercados, tal como a cada vez maior volubilidade dos ciclos dos produtos, fazem com que as empresas tenham absoluta urgência em lidar com o facto de que é fundamental encarar proactivamente a sua necessidade de resposta, logo a montante, a todo o conjunto de estímulos, altamente mutáveis, com que se deparam no mercado lato, de maneira a poderem dar continuidade aos seus projetos de estabilidade organizacional que deverão implicar sucesso e capacidade de sobrevivência relativamente aos desafios da sua envolvente externa. O contexto empresarial está, pois, em permanente mudança. Os concorrentes aumentam em número e tornam-se mais versados. O mesmo se aplica aos clientes, que cada vez são mais conscientes desta realidade. Se as organizações forem insensíveis a esta evidência e não conseguirem antecipar estas mudanças tornar-se-ão obsoletas e acabarão por morrer. Para Kholi & Jaworski (1990) as condições que as empresas conseguem disponibilizar para gerar informação sobre os seus mercados e para conseguirem estruturar e utilizar essa mesma informação com o objetivo de replicar às constantes mudanças ambientais representam um fator essencial do seu sucesso e consequente estabilidade. Esta disponibilização de recursos, devidamente focalizados, traduzida em capacidades atuantes, é designada por orientação para o mercado. De modo a que haja um pleno acordo entre a promessa feita pela orientação empresarial para o mercado e a entrega final do que é espectável por este, é fulcral o papel da orientação para o mercado interno, através de dinâmicas organizacionais e ações de gestão centradas nos recursos humanos (Conduit & Mavondo, 2001). Estes mesmos autores referem que a literatura enfatiza a importância no desenvolvimento de uma orientação para o mercado dentro da organização, para o que os empregados 6 devem ser encorajados a focalizarem-se não apenas nas necessidades dos consumidores mas, também, no reconhecimento dos colegas como clientes internos. Assim, o conceito de orientação para o mercado interno focaliza-se nos mecanismos de gestão interna, através dos quais, os empregados dos diferentes departamentos e das diferentes funções empresariais devem ver os colegas como clientes dos seus procedimentos laborais (Gray et al., 2002; Ahmed & Rafiq, 2003). Esta ideia continua a ser pertinente e defendida, pois as organizações estão, cada vez mais, a incrementar a adoção da filosofia do marketing interno e o desenvolvimento de uma orientação para o mercado interno para alcançar uma maior orientação para o mercado externo, considerando-se que a ausência de uma estratégia de marketing interno pode mesmo resultar na resistência dos empregados em enfrentar as cada vez mais prementes condições de mudança e a ela se adaptarem em pleno (Sargeant & Asif, 1998; Lings & Greenley, 2010). Rodrigues (2004) considera que, tal como Drucker (1954) e Webster (1988), o marketing em si não pode ser delegado num conjunto restrito de gestores, devendo, sim, ser tarefa da totalidade da organização e tendo como principal objetivo o de proporcionar níveis de valor superior quer em produtos quer em serviços. Será, pois, do comportamento desta conjugação que se espera que as empresas irão ter maior ou menor desempenho, na medida em que a qualidade do “serviço” prestado pelos colaboradores, dependerá do nível de adoção de políticas de orientação para o mercado interno (Tortosa et al., 2009), devendo, hoje, ser perfeitamente percebido que qualquer atividade é um negócio de serviços, havendo a necessidade absoluta de que se possua um espírito de querer servir o cliente, que, por sua vez, reagirá através das memórias experienciais vividas. De modo a focalizar o campo de análise deste trabalho, foi escolhida, como alvo, a indústria transformadora da cortiça, tendo em consideração o seu histórico em Portugal, o peso económico representado pelas exportações deste setor, cerca de 0,7% do PIB português a preços de mercado (APCOR, 2010a), assim como o valor atribuído ao processo evolutivo por que tem passado, quer ao nível das tecnologias aplicadas, quer ao nível dos procedimentos e dos próprios produtos, o que a torna num setor bastante relevante no panorama industrial nacional. A este propósito, e numa perspetiva económica, é de salientar que Portugal é o maior produtor e exportador mundial de cortiça, exportando atualmente mais de 800 milhões de euros por ano em produtos manufaturados. Daí que a indústria corticeira seja um elemento-chave do setor produtivo português. Basta referir que 90% da cortiça transformada se destina ao mercado externo e apenas 10% ao mercado interno, sendo que 40% das empresas portuguesas são exportadoras. Em termos 7 globais 60% das transações de cortiça a nível mundial têm origem em Portugal, valor que sobe para cerca de 80% quando nos referimos a transações de produtos já transformados (APCOR, 2010a). Fundamenta-se, assim, a razão para privilegiar esta atividade para suporte do trabalho a desenvolver ao longo desta investigação, considerando ainda que esta indústria consubstancia, também, um momento de elevada valorização estrutural liderada pelo Grupo Amorim 1 , o maior grupo empresarial do setor a nível mundial, e que, obviamente, irá fazer parte integrante da análise a realizar durante este estudo. Também foi levado em consideração que o facto de que, essencialmente, as questões relacionadas com o marketing interno e com a orientação para o mercado interno terem sido tradicionalmente estudadas no setor dos serviços, poderia permitir, circunstancialmente, o surgimento de uma oportunidade, enquanto gap identificado na produção científica, entendida como relevante, de poder realizar um estudo semelhante, agora no contexto da indústria transformadora e especialmente numa de cabal importância regional, nacional e mundial, como é o setor transformador de cortiça. No que diz respeito à área da orientação para o mercado e desempenho, Rodrigues (2004) já considera que há muita literatura a suportar esta relação pelo que a pertinência de parte da escolha poderá estar, nesta perspetiva, facilitada. Aliás, mais recentemente, Rodrigues & Pinho (2010) sugerem um cada vez mais renovado interesse nesta matéria. Já quanto à relação entre orientação para o mercado interno e orientação para o mercado, existem, também, vários autores que a trataram. Conduit & Mavondo (2001), empiricamente, concluem que, se bem que somente tendo como referência três empresas, todos os procedimentos de marketing interno se correlacionam com o envolvimento em comunicação externa enquanto estratégia integrada. Ruekert (1992), Jaworski & Kohli (1993), Piercy et al. (2002) e Lings & Greenley (2010), também assim o consideram ao estabelecerem a importância da orientação para o mercado através das atitudes e comportamentos dos empregados, cujo envolvimento é o resultado de um trabalho colaborativo em que os próprios percebem, por evidência, que podem ter um efeito nos resultados operacionais da organização. 1 O Grupo Amorim, a maior organização mundial no setor da cortiça, com uma quota de 25% na transação de rolhas, de 65% na dos revestimentos, de 55% na dos aglomerados compósitos e de 80% na transação de isolamentos, cujas vendas, em 2009, atingiram os 415 milhões de euros e com um EBITDA (earnings before interest, taxes, depreciation and amortization) do 4º trimestre a aumentar 105% face a igual período de 2008, tem vindo a investir não apenas em processos tecnológicos como também em procedimentos relacionais com o mercado, in http://www.amorim.com/cor_ied_apresentacao.php (acedido em julho 2010) e http://www.amorim.com/cor_glob_atividade.php (acedido em maio de 2011) 8 Porém, ao procurar identificar, junto dos académicos e dos profissionais do setor, o tratamento conjunto da temática aqui estabelecida (Orientação para o Mercado Interno, Orientação para o Mercado e Desempenho), particularmente, no domínio da indústria transformadora nacional, não encontrámos estudos que a tenham escolhido como objeto de análise. Assim, desde já se considera poder justificar a pertinência da realização deste estudo, na medida em que se os autores corroboram as implicações positivas entre marketing interno e orientação para o mercado interno, entre orientação para o mercado interno e orientação para o mercado e entre orientação para o mercado e desempenho, poderá ser, assim, relevante verificar as possíveis relações factuais entre as diferentes componentes desta cadeia iniciada no marketing interno e a terminar no desempenho. O facto de o estudo decorrer num setor de atividade de elevada importância para a economia nacional, poderá permitir que os resultados obtidos sejam entendidos como possuidores de um peso acrescido que admita a possibilidade de os transferir para outros setores industriais. O objetivo deste trabalho, como já referido, é o de estudar a relação estruturalmente transversal entre a orientação para o mercado interno (OMI), enquanto consequência do marketing interno, a orientação para o mercado (OM) e o desempenho empresarial, de modo a compreender melhor os significados formais e as implicações de tais atuações, considerando ainda que também não existe muita evidência empírica quanto a uma relação positiva entre cultura e marketing internos, felicidade no trabalho e desempenho organizacional. Esta questão também é referida por Theodoridis & Panigyrakis (2010) ao considerarem que as lacunas existentes se compaginam na análise das implicações do marketing interno na orientação para o mercado assim como no desempenho das organizações junto dos seus mercados. De modo a fazer a ponte relativamente a estes gaps, em termos específicos, pretendese avaliar as condições relacionais entre o marketing interno (MI) adotado pelas organizações e os outcomes associados à orientação para o mercado interno (OMI) consequentemente praticada. De seguida, a questão a ser tratada será a da relação entre a própria orientação para o mercado interno e a orientação para o mercado (OM) e, finalmente, tentar-se-á perceber qual a relação entre as anteriores e o desempenho no âmbito da operacionalização organizacional como um todo, a qual se relaciona com os seus clientes externos e reflete as decisões tomadas internamente. Para alcançar tal desiderato, recorre-se a uma abordagem qualitativa a qual é indicada para o estudo de situações complexas que possam dificultar a perceção de quais são, efetivamente, as condicionantes (variáveis) que influenciam as relações entre os 9 distintos fatores significativamente específicos de uma determinada entidade em análise, no sentido de se poder, assim, proceder à descrição do fenómeno em causa com o intuito de capturar a dinâmica dos processos em estudo e cujo principal cuidado é a interação entre fatores instigadores e respetivas ocorrências. A análise qualitativa de dados sendo um fenómeno caracterizado por um processo indutivo que tem como foco a fidelidade ao universo da vida quotidiana dos sujeitos, visando apreender o caráter multidimensional dos processos na sua manifestação natural, bem como captar os diferentes significados de uma experiência vivida, auxiliando a compreensão do indivíduo no seu contexto próprio, implica, pois, a necessidade de requisitos básicos para levar a sua realização, considerando-se que a experiência do investigador seja uma condição "sine qua non" para que se verifique um estudo adequado, na medida em que ele é, na realidade, o seu próprio instrumento de trabalho. Nesta perspetiva, no âmbito deste trabalho, e modelando as complexidades que lhe estão inerentes, pretender-se-á responder à questão: “Qual a relação que se pode encontrar entre a Orientação para o Mercado Interno, a Orientação para o Mercado e o Desempenho?” Considerando, então, a abrangência dos conceitos diretores em causa, entendeu-se como importante enquadrar cada um deles de modo a que o decorrer das diferentes etapas do estudo se processem com plena perceção, daí podendo originar resultados que revistam importância prática, tanto para as empresas como para os seus colaboradores. Para as empresas, espera-se que o conhecimento adquirido durante a investigação possa contribuir para a melhoria das condições de estruturação interna no respeitante aos requisitos relacionais com os seus diferentes níveis operacionais de recursos humanos, reconfigurando ou adquirindo novas competências. Para os colaboradores, espera-se que esta investigação possa potenciar diferentes condições de entendimento e de valorização da sua contratualização laborar, assim permitindo que se alcancem níveis superiores de bem-estar individual. Finalmente, para ambas as partes, que seja possível perceber qual a ligação entre o bem estar de uns e o sucesso dos outros. É, assim, que aparece uma estrutura de trabalho integrando, inicialmente, uma introdução ao tema a investigar e a subsequente revisão bibliográfica realizada com o fim de suportar a base da investigação (primeira parte). Posteriormente, e com base nos fundamentos teóricos, é elaborado o modelo de análise que condiciona toda a investigação empírica e consequente tratamento de resultados (segunda parte). Para 10 terminar, serão apresentadas as considerações finais referentes aos casos estudados (terceira parte). 11 III Enquadramento Teórico 3.1 Marketing Interno e Orientação para o Mercado Interno Podemos começar por considerar o marketing interno como um procedimento que decorre no seio organizacional com o objetivo de perfilar os processos operacionais com os níveis de motivação individual de modo a oferecer aos clientes externos níveis superiores de satisfação. Segundo Lings & Brooks (1998) o dramático incremento da atividade terciária na economia dos países desenvolvidos fez com que as empresas e a academia dedicassem recursos consideráveis para promover os níveis de qualidade na prestação de serviços, tendo o conceito de marketing interno nascido desse esforço. O marketing interno não deve representar uma abordagem funcional específica, mas sim uma forma convergente de um conjunto mais amplo de competências de gestão, devidamente integradas, e constituído por procedimentos recolhidos de áreas como os recursos humanos, as inter-relações promovidas entre os colaboradores, as políticas de desenvolvimento organizacional, a gestão estratégica, a gestão da qualidade, perspetivando um outro conceito mais alargado de macromarketing, entendido na perspetiva de que o marketing interno não é apenas do domínio dos marketers, que aplicam um conceito de micromarketing utilizando as ferramentas tradicionais do marketing, o qual se torna, assim, excessivamente acanhado ao não considerar, verdadeiramente, as necessidades da totalidade dos stakeholders internos (Varey, 1995a). Assim, o marketing interno deve funcionar como um processo de aperfeiçoamento contínuo, alinhando os objetivos organizacionais com os comportamentos dos empregados que são estimulados para um melhor desempenho, assumindo maiores níveis de responsabilidade. Esta perspetiva permite, por sua vez, integrar a cultura empresarial naquilo que são as necessidades profissionais e pessoais dos seus colaboradores. O marketing interno deve, pois, ser percebido como um processo comunicacional estabelecido com o objetivo de desenvolver uma cultura organizacional sustentada por uma consciencialização de serviço ao cliente, em que os empregados são chamados a se envolverem em todos os processos e esforços de entrega de bens e serviços ao consumidor final, sendo que esse envolvimento requer um suporte dos gestores que fomente o empowerment dos empregados, demonstrando capacidade de autonomia e de iniciativa na resolução das questões da empresa (Quester & Kelly, 1999). Este entendimento deve ser consubstanciado através de uma conceptualização mais alargada do marketing interno, ao nela incluir questões de gestão estratégica corrente como (i) a retenção na organização das pessoas devidamente qualificadas, (ii) a promoção do relacionamento com a equipa de gestores de modo a que haja partilha 12 de objetivos, experiência e competências, o que constrói, liberta e mobiliza elevados índices de motivação individual, (iii) a adequada compreensão das necessidades de qualidade nas trocas económicas, (iv) a construção de uma marca corporativa que influencie quer os clientes quer os membros da organização, (v) a promoção do desenvolvimento das competências e responsabilidades individuais e (vi) a promoção do empenhamento pessoal na condução dos processos que impliquem ganhos de produtividade (Varey & Lewis, 1999). É também isto que entende Ballantyne (2004) quando, corroborando Berry (1981), afirma que o conceito de marketing interno se fundamentou numa perspetiva de considerar o trabalho e/ou emprego como um “produto interno” oferecido aos trabalhadores, seguindo uma lógica em que os clientes internos têm necessidades que precisam ser satisfeitas. A satisfação deste tipo de necessidades iria implicar, então, um impacto direto no alcançar da satisfação dos clientes externos. Assim, o marketing interno deve, segundo o autor, melhorar os “job products” utilizando as estratégias do marketing. Quando as empresas conseguem, pois, satisfazer as necessidades dos seus clientes internos, estão a promover a sua capacidade para satisfazer as necessidades dos clientes externos e, assim, conseguir a sua fidelização, reconhecendo a aplicabilidade do conceito de marketing através da identificação, no seio organizacional, de trocas de valor entre empregadores e empregados e entre a organização e os seus clientes externos (Greene et al.,1994; Varey, 1995a). O marketing interno proporciona, assim, um ambiente empresarial no qual as motivações dos empregados são devidamente valorizadas, pois para eles, o marketing interno, numa perceção instrumental, oferece incentivos mais do que benefícios (Varey & Lewis, 1999). Esta problemática já era defendida por Gronroos (1995) quando considerava que as empresas, ao invés de se focalizarem no contacto empreendedor, realizado pelos seus colaboradores imbuídos de elevados índices de motivação, com os já clientes, preferiam realizar campanhas promocionais, e outras atividades de curto prazo, com o objetivo de cativar novos clientes em vez de se preocuparem em manter aqueles que já possuíam. Nesta perspetiva, é importante considerar que a congruência de metas ocorrerá quando empregadores e empregados estejam centrados nos mesmos objetivos, percebendo, simultaneamente, que essa focalização é benéfica para ambas as partes desde que a cooperação consiga prevalecer, o que só será eficaz se os envolvidos na operacionalização das tarefas tiverem conhecimento de que irão ser avaliados em função da qualidade do seu desempenho e que valerá a pena corresponder adequadamente, isto é, valerá a pena trabalhar com qualidade (Vasconcelos, 2008), 13 desde logo respeitando que, de acordo com o enquadramento do que se deve entender por uma escolha racional, os seres humanos têm orientações bem ordenadas, as quais são muito impermeáveis à variação das formas alternativas com que se apresentam (Schwartz et al., 2002). Dando continuidade a esta conceptualização, é possível introduzir um outro conceito que é o da felicidade no local de trabalho (happiness in the workplace – HWP) que deve ser entendido como um complemento lógico e sequencial da felicidade normalmente perseguida por toda a gente e que deveria ser trabalhada, enquanto estratégia de motivação e de retenção, pelas organizações, na medida em que a felicidade na vida só será alcançável se existir este outro conceito aplicado ao ambiente laboral (Vasconcelos, 2008), tendo necessidade de considerar aqueles que apresentam mais ou menos tendência para a satisfação, para a felicidade pessoal, assim como as suas capacidades de socialização, de autonomia, de gratidão e de entendimento do que é um determinado sentido de vida (Chancellor & Lyubomirsky, 2011). As empresas, com o intuito de concretizar esta concetualização de HWP, na qualidade de potencial resultado do marketing interno, devem promover atitudes de marketing interno com uma maior focalização nos desejos dos colaborados de modo a que seja possível obter níveis de satisfação laboral mais elevados (Henderson, 2000; Rego & Cunha, 2008), entendendo-se, portanto, que os colaboradores são, de facto, o ativo mais importante das organizações. Por esta razão, é fundamental que as empresas sejam capazes de providenciar um ambiente de trabalho que consiga fidelizar e satisfazer aqueles que sejam os mais qualificados (Alberto, 2000), de maneira a criar um clima organizacional onde os empregados se sintam felizes (Lings, 1999; Vasconcelos, 2008), já que é possível alcançar este desiderato da felicidade através de simples alterações relacionais positivas (Chancellor & Lyubomirsky, 2011), o que, por sua vez, faz aumentar as expetativas individuais e consequentes desejos de progressão pessoal e profissional. Objetivos como a realização pessoal, a satisfação, o prazer e a alegria são as metas a alcançar na busca da felicidade, constituindo esta busca a motivação humana igualmente verificável no respeitante ao trabalho (Alberto, 2000). Assim, a importância da felicidade no trabalho, como fator-chave para o fornecimento de um serviço superior, deve implicar o empenho das organizações no encontrar de maneiras para ajudar os seus colaboradores a alcançar tais objetivos (Vasconcelos, 2004), assim como enunciar a observação de princípios de altruísmo, considerando que o altruísmo conduz a níveis mais elevados de felicidade (Phelps, 2001). Para Vasconcelos (2008) qualquer empresa, independentemente da sua dimensão e da sua estrutura interna, deverá ser capaz de assegurar condições de felicidade no local de trabalho, pois as pessoas fazem comparações relativamente a simples escalas de valor o que lhes permite avaliar as suas condições pessoais (Schwartz et al., 2002), daí retirando as suas ilações muito pessoalizadas. 14 Entendendo-se que um local trabalho satisfatório é aquele que oferece a oportunidade de alcançar as principais metas desejadas, quando elas são atingidas os trabalhadores são tomados por uma sensação de bem-estar, de alegria e de plenitude. É, pois, uma perceção de autorrealização (Vasconcelos, 2004) que implica a perceção do conceito de felicidade (Henderson, 2000). Vasconcelos (2004; 9) considera que “… autorrealização, satisfação e felicidade no trabalho são pérolas do mesmo colar …” que conduzem à felicidade humana, estando, assim, intrinsecamente ligadas. Os benefícios da satisfação no trabalho devem conduzir à criação de uma sociedade melhor através das atitudes positivas dos indivíduos em relação ao seu trabalho e a tudo o que o rodeia, na medida em que esta qualidade de vida conduz a resultados superiores na vida pessoal, social e familiar (Rego & Cunha, 2008), apesar das diferenças individuais nas aspirações das pessoas aquando de uma tomada de decisão em distintos domínios das suas vidas (Schwartz et al., 2002). A orientação para o mercado interno, por sua vez, deve ser considerada como um prérequisito para satisfazer os desejos e as necessidades dos clientes, que passa, obviamente, pela identificação e satisfação dos desejos e das necessidades dos empregados, sintetizando, desta forma, a perspetiva de que comportamentos internos de marketing promovem a construção de relacionamentos efetivos entre gestores e empregados no interior da organização, enquanto um todo (Panigyrakis et al.,2009). Na literatura relativa à análise da prestação de serviços, a importância dos empregados, particularmente a referente aos designados por pessoal de contacto, tem sido sobejamente reconhecida apesar de só tardiamente ter sido entendida como uma questão importante do marketing, pois é a compreensão do papel crítico desempenhado pelos empregados que conduz até à função do marketing interno (Wasmer & Bruner II, 1991). 3.1.1 Conceptualização do Marketing Interno O marketing interno tem sido estudado e discutido desde há cerca de três décadas, no entanto, a orientação para o mercado interno (OMI) é considerada um conceito relativamente novo que representa a adaptação da orientação para o mercado ao contexto das trocas entre o empregador e o empregado (Lings & Greenley, 2005). Desde os anos 70 que o marketing interno parecia ser a solução do problema que era a prestação de serviços de elevada qualidade (Panigyrakis & Theodoridis, 2009), o que já Varey (1995b, 42) também defendia ao afirmar que: “A qualidade do serviço interno é necessária para uma qualidade superior de serviço externo.”, completando, assim, as estratégias do marketing externo através das interações entre empregados e clientes. É assim que o marketing interno atua como parte da estratégia global de marketing, considerando os empregados como clientes internos e sendo utilizado como uma filosofia de gestão dos recursos humanos baseada numa perspetiva de marketing de 15 forma a construir competências para o sucesso na relação com o mercado externo (Che Ha et al., 2007). O marketing interno representa, então, a atração, o desenvolvimento, a motivação e a retenção de empregados qualificados através de condições laborais (job products) que satisfaçam as suas necessidades, pois os empregados com condições e competências e que desejem fornecer serviços de excelência devem ser atraídos, aperfeiçoados, motivados e retidos no seio organizacional através de um tratamento incremental adequado, fazendo com que possam nutrir um sentimento de reconhecimento pessoal para um aporte contributivo do desenvolvimento da organização (Berry & Parasuraman, 1991; Varey, 1995b; Barnes & Morris, 2000; Samad, 2005). A este propósito, a retenção dos empregados, deverá ocorrer através da satisfação das suas necessidades, considerando a correspondência plena das suas competências com as suas tarefas (Collins & Payne, 1991; Barnes & Morris, 2000), pois o nível de satisfação obtido pelo trabalho está fortemente correlacionado com a satisfação dos clientes (Gonzaléz & Garcia, 2006; Pantouvakis, 2012). Nesta lógica relacional, o conceito de marketing interno começa por ser proposto como um complemento da gestão da prestação de serviços, associando o marketingmix à gestão das pessoas dentro da organização, tratando os empregados como clientes, de maneira a que a eficácia da organização aumentasse pela via do aumento desta forma de relacionamento interno – o marketing interno (Berry, 1981; Varey, 1995a). Este entendimento permitiria que os marketers pudessem ter distintos papéis em diferentes áreas da organização, a qual deve ser market driven, isto é, deve estar em condições de saber responder ao mercado, não devendo ser marketing driven, ou seja, controlada pelos marketers que utilizariam para tal as ferramentas do marketing (Varey, 1995a). O termo orientada para o mercado tem uma aplicação mais ampla do que o termo orientada pelo marketing, na medida em que o mercado, em si, não é apenas constituído por clientes mas também por outros atores / intervenientes que têm capacidade para influenciar não só os consumidores, como também o próprio desempenho da empresa (Rodrigues, 2004). A interpretação generalizada do conceito de atividades e/ou negócios market driven representa a capacidade de ouvir a voz do consumidor e promover a adaptação da oferta, condicionando o cliente, a qual deve, no entanto, ser alargada para uma interpretação que associe capacidade de aprendizagem, de perceção e de resposta aos comportamentos dos distintos players envolvidos (stakeholders) dentro de uma determinada estrutura de mercado. Por contraste com esta conceptualização, a 16 interpretação para o conceito de driving markets implica a mudança da composição dos próprios participantes assim como o seu comportamento no mercado (Jaworski, Kohli & Sahay, 2000). Porém, numa interpretação mais alargada e considerando uma lógica mais economicista, para ir de encontro às necessidades dos clientes externos é fundamental que a organização tenha capacidade para fornecer serviços de qualidade aos clientes internos, pois a qualidade não só vende melhor como também custa menos (Webster, 1992; Javadein et al., 2011). Deve-se ter em linha de conta, no entanto, que apesar deste renovado interesse, o conceito de marketing interno foi inicialmente introduzido na literatura académica no início dos anos 80 do séc. XX por Berry e por Gronroos (Hogg, Carter & Dunne, 1998). Porém, considerando toda a atenção de que tem sido alvo há, todavia ainda, uma falta de exato reconhecimento quanto à definição do que é o marketing interno, o que tem criado as condições que desafiam os académicos a enveredar por esta linha de investigação (Rafiq & Ahmed, 1993; Ahmed & Rafiq, 1995; Varey, 1995a; Rafiq & Ahmed, 2000; Lings & Greenley, 2005; Panigyrakis & Theodoridis, 2009). Curiosamente, Varey (1995a) entende que se fosse considerado o recurso a um conceito de marketing plenamente alargado, que ele designa por macromarketing, esta ambiguidade seria mais facilmente esbatida e a perceção dos conceitos do marketing seria mais facilitada em termos internos, ao integrar procedimentos sociais para os quais o autor considera que deve haver adoção de conceitos e não adaptação de processos. O marketing interno deverá ser considerado como o conjunto das atividades que promovem a comunicação no interior da organização e a consciencialização de mercado entre os empregados, sendo, pois, considerado como um elo de ligação entre essas mesmas atividades e o desempenho da organização nos seus mercados externos. Esta abordagem do marketing interno, baseada nas relações humanas, é a mais adequada na medida em que enfatiza um conjunto de pré-requisitos da própria cultura do marketing interno, como (i) a confiança mútua, (ii) os relacionamentos holisticamente suportados, (iii) a criação e manutenção de redes internas e (iv) a promoção de autonomia própria, o que, em conjunto, conduz ao incremento do empenhamento, da lealdade e da motivação (Varey & Lewis, 1999). Nesta perspetiva, as empresas têm de considerar dois tipos de mercados e de clientes, os internos e os externos, sendo o principal objetivo do marketing interno a promoção de conhecimento acerca dos clientes internos e dos clientes externos, devidamente associada à maneira de eliminar os obstáculos operacionais que, por qualquer razão, possam obstar a que a entrega dos produtos/serviços, numa perspetiva abrangente de 17 servitization, possa ser realizada sem recorrer aos valores da organização (Piercy, 1992; Piercy, 1995; Vandermerwe & Rada, 1988; Javadein et al., 2011). Este mesmo entendimento é defendido por Rafiq & Ahmed (2000) quando consideram que os gestores necessitam de prestar mais atenção à comunicação das estratégias de marketing, mas não só de marketing, assim como dos objetivos, de modo a que os empregados possam perceber o seu real papel, e respetiva importância, na implementação dessas mesmas estratégias e na forma como elas conduzem ao alcançar dos objetivos da organização (Bitner et al., 1994). A análise à literatura concebida desde os anos 80 deverá indiciar a existência de três vertentes de desenvolvimento teórico do marketing interno que decorreram segundo três fases sequenciais e que são a fase da satisfação do empregado, a fase da orientação para o cliente e a fase de gestão da implementação estratégica (Rafiq & Ahmed, 2000). O marketing interno representa, pois, o entendimento da orientação para o mercado interno e através da sua aplicação as estratégias de marketing tornam-se mais efetivas (Gounaris, 2006). Esta conceptualização do marketing, com focalização no ambiente interno, permite retirar o máximo partido da orientação para o mercado (Lings, 2004; Panigyrakis & Theodoridis, 2009). Esta mesma perspetiva é defendida por Rodrigues & Pinho (2010) ao afirmarem que existe bastante literatura científica que suporta o facto de que as atividades de marketing interno são vitais para as estratégias de marketing externo e respetivo sucesso operacional. O marketing interno deve, assim, ser percebido como uma técnica de gestão que propicia a resolução das questões associadas à produtividade dos serviços internos, conduzindo à orientação para o mercado e à orientação para o cliente (Javadein et al., 2011). A prática do marketing interno, no interior das organizações, implicará recorrer a um conjunto de pressupostos de gestão identificados como: (i) competir voluntariosamente por uma quota de mercado de talentos, (ii) oferecer uma visão institucional que aporte interesse e significado ao local de trabalho, (iii) facultar às pessoas os conhecimentos e as skills que lhes permitam desempenhar as suas tarefas com excelência, (iv) desenvolver o trabalho em equipa, de modo que daí se obtenham benefícios mútuos, (v) alavancar um determinado grau de liberdade no cumprimento de tarefas, (vi) fomentar o desempenho através da sua medição e recompensa e (vii) basear o desenho das decisões sobre o trabalho em pesquisa e/ou investigação (Berry & Parasuraman, 1992). 18 O marketing interno deve, então, compreender dois níveis de implementação, o estratégico e o tático, sendo que o primeiro corresponde à criação de um ambiente que sustente uma conceção de orientação para o cliente interno e o segundo à focalização na transmissão de serviços e esforços de marketing junto dos empregados, no sentido de estes perceberem e aceitarem, responsavelmente, o que se espera deles e porquê (Richardson & Robinson, 1986). A conceptualização aplicada do marketing interno é a chave para alcançar níveis de serviço superiores e, consequentemente, uma relação de sucesso com o mercado externo, pois uma maneira para alcançar vantagens competitivas é através de um bom serviço ao cliente, assim implicando a sua fidelização, o que é obtido com a qualidade operacional dos recursos humanos que, por sua vez, depende dos job products que possam estar em causa e que devem ser entendidos para além da própria empregabilidade, pois as empresas devem facultar empregos que possam incorporar vários outros aspetos que permitam cativar e reter a força de trabalho, tal como é feito para com os clientes externos, de modo a que os empregados, como qualquer comprador, possam avaliar o trabalho realizado da mesma forma que iriam avaliar a compra de um produto (Greene et al., 1994; Vasconcelos, 2008). É, pois, assim considerado que o sucesso organizacional depende substancialmente deste ativo intangível representado pelo capital humano, enquanto mais destacado protagonista do novo paradigma de gestão organizacional, cujo papel é crucial para que tal desempenho se venha a verificar (Hernández, 2008; Javadein et al., 2011). O marketing interno, enquanto ferramenta de gestão que garanta que a organização está em condições de atrair, escolher e reter os melhores empregados e, sobretudo, que estes tenham a consciência de que o seu papel é valorizado na entrega e/ou distribuição de “serviços” de alta qualidade aos clientes externos, é a chave para alcançar níveis superiores de serviço e consequentemente uma relação de sucesso com o mercado externo, considerando a moderna gestão de marketing que a satisfação dos clientes deverá estar alicerçada no interior de todos os empreendimentos da organização, através de uma relação simbiótica entre esta e o cliente interno desenhada com a intenção de poder criar valor acrescentado (Foreman & Money, 1995; Piercy, 1995; Seiders et al., 2005; Che Ha et al., 2007). Assim, uma “marketing orientation”, recorrendo ao conceito de marketing interno, desenvolve um efeito positivo no desempenho da atividade empresarial, tal com também impacta positivamente o empenhamento dos empregados e o seu espírito corporativo (Jaworski & Kohli, 1993; Hogg, Carter & Dunne, 1998). Esta centralidade na orientação para o cliente interno (OCI) reflete a sua importância, no sentido de alcançar a sua satisfação, e, consequentemente, os objetivos organizacionais, na medida em que ele representa uma função interna de progressivo 19 desenvolvimento na cadeia de geração de valor organizacional (Rafiq & Ahmed, 2000; Chang & Chang, 2007; Panigyrakis & Theodoridis, 2009). Esta mesma perspetiva é defendida por Che Ha et al. (2007) e Rodrigues & Pinho (2010) ao estabelecerem que a orientação da generalidade dos estudos anteriormente realizados vai no sentido de reconhecer que o marketing interno tem um papel importante na motivação e no desenvolvimento pessoal dos colaboradores de modo a pensarem e agirem em conformidade com uma orientação para o consumidor. Já anteriormente, Joseph (1996) fazia referência a que a noção de qualidade, generalizadamente, mais percebida entre os utilizadores e/ou clientes de serviços, e portanto a que mais concorria para o desempenho do momento de contacto, era estabelecida ao nível das aptidões dos empregados do face-to-face, tal como a atitude comportamental, assumindo particular destaque a cortesia e a disponibilidade. Assim, os gestores devem ter a capacidade de influenciar os comportamentos dos seus empregados, tornando-os mais satisfeitos com o seu trabalho, mais motivados para se relacionarem com os clientes e mais interessados em permanecer na empresa (Lings, 2004), considerando que esta satisfação pode ser incrementada conjuntamente com o desempenho organizacional (Shiu & Yu, 2010). O esforço de definição de marketing interno de Gronroos (1990), considerando-o como uma filosofia de gestão que concorre para um enquadramento sistemático das ações dos empregados relativamente à orientação para o mercado, permite entender que os procedimentos do marketing interno são, simultaneamente, os antecedentes da orientação para o mercado interno e da orientação para o mercado, o que implica que qualquer função que tenha um impacto, positivo ou negativo, na orientação para o mercado possa ser considerada como uma atividade de orientação para o mercado interno, o que de alguma forma também foi defendido por Greene et al. (1994) e Conduit & Mavondo (2001) ao afirmarem que a qualidade do serviço prestado, designado por high-contact (Chase, 1987), é inseparável da qualidade do prestador desse mesmo serviço. É nesta perspetiva que se entende que a qualidade do serviço vai depender de duas variáveis, da expectativa do cliente e, claro, da sua posterior perceção sobre a forma como ele foi prestado pelo pessoal de contacto (Gronroos, 1982; Richardson & Robinson, 1986). Este envolvimento de proximidade dos empregados com os clientes deve assentar, enquanto matéria do marketing interno, na promoção de atitudes partilhadas no respeitante à qualidade do serviço, tal como numa certa dose de contributo pessoal dos empregados no momento da prestação desse mesmo serviço, partindo, assim da ideia de dar às pessoas o poder, a liberdade e a informação que lhes permitem tomar 20 decisões e participar ativamente nos procedimentos da organização (Wasmer & Bruner II, 1991). Esta relação entre o prestador do serviço e o cliente, traduzida em termos qualitativos, está consubstanciada em vários estudos que demonstram a influência direta, sustentada pelos gestores, entre o desempenho final da oferta e o pessoal de contacto (Bouckaert & Peters, 2002; Tortosa et al., 2009). No seguimento desta linha de pensamento, o marketing interno representa o esforço promocional realizado pela empresa para se divulgar, a si e aos seus produtos, junto dos seus empregados, de modo a que possam ser alcançados os objetivos estabelecidos, através da compreensão de cada um sobre o seu papel na organização (Greene et al., 1994; Crick, 2003). O departamento de marketing deve, assim, ser consignado com a capacidade suficiente para poder impor aos restantes departamentos da organização uma orientação para o cliente (Flipo, 1993), em que o entendimento atribuído ao termo impor deve ser o associado a um conceito de venda persuasiva, conceito muito próximo do de Gronroos (1981), pois o marketing tem de considerar, simultaneamente, mercados internos e externos e quanto maior for a focalização nos primeiros maior será o sucesso alcançado nos segundos. Apesar do grande crescimento verificado na literatura sobre marketing interno, ainda existe, contudo, pouco conhecimento sobre a forma como ele decorre na prática (Ahmed, Rafiq & Saad, 2003). O conceito de marketing interno evoluiu, pois, da satisfação, e consequente motivação, dos empregados ao serem considerados como clientes (internos), e os seus postos de trabalho como produtos, com o objetivo de promover a qualidade de serviço, passando, depois, para o conceito de orientação para o cliente e/ou orientação para o mercado interno e uso das abordagens do marketing para motivar internamente os colaboradores da empresa. Assim, para que possa ser desenvolvida uma orientação para o mercado, os empregados não se devem apenas focalizar nas necessidades dos clientes finais, mas devem também reconhecer os outros empregados (colegas) como clientes internos (Conduit & Mavondo, 2001). Nesta perspetiva, o marketing interno pode ser entendido como um conjunto de comportamentos de gestão amigos do empregado, cuja operacionalização é realizada pela orientação para o mercado interno, considerada como uma maneira de incutir uma orientação para as pessoas no interior das organizações por forma a aumentar e robustecer a qualidade da relação exterior (Rodrigues & Pinho, 2010). 21 A este propósito, Lings (2004) estabelece a existência de duas vertentes no que concerne à aplicabilidade do marketing interno: uma que diz respeito à forma como o produto é facultado ao consumidor, com níveis de elevada qualidade na gestão do processo de entrega, perspetiva que entrosa nos conceitos de que todos os empregados e todos os departamentos de uma empresa são fornecedores e clientes internos uns dos outros (Lukas & Maignan, 1996), e outra que se concentra na perspetiva da gestão dos recursos humanos, os quais devem estar altamente motivados, orientados para o cliente e sales minded, o que decorre das práticas de recrutamento , desenvolvidas a montante, para atrair e selecionar pessoas com as aptidões e atitudes devidamente adequadas (Rafiq & Ahmed, 2000). É também o que entendem Guerrero, Mena, Robles & Jimenèz (1998) quando afirmam que para obter elevados níveis de qualidade na relação com o mercado externo é fundamental o recurso amplo ao marketing em detrimento das estritas técnicas de gestão. Para tal é necessário fazer com que os recursos humanos estejam, voluntária e espontaneamente, orientados para o reconhecimento desses conceitos, o que é alcançável através da gestão dos empregados numa perspetiva de mercado interno, implicando isto a sua satisfação pelo recurso às técnicas do marketing, devidamente adaptado e assim designado por marketing interno (Chang & Chang, 2007). Um dos objetivos do marketing interno será, pois, o de identificar e satisfazer as necessidades dos empregados, quer na sua qualidade individual quer na de prestadores de serviços, de maneira a que eles se tornem efetivamente conscientes do desempenho inerente à forma como esses mesmos serviços são prestados (Varey, 1995b). Contudo, apesar da temática já ter sido objeto de variadíssimos estudos anteriores, nos quais foram sendo estabelecidas diferentes definições, desde a de Gronroos (1981) que considerava que o marketing interno era a “venda” da empresa aos colaboradores, a generalidade da sua conceptualização indiciava, porém, que se encontrariam sempre fatores agregados, como, por exemplo, práticas de alto envolvimento, elevados sistemas de empenhamento e sistemas de trabalho de elevado desempenho (Bansal et al., 2001). O marketing interno deve, então, ser entendido como uma orientação para o cliente, a desenvolver entre os empregados, treinando e motivando (i) quer o front-office, devendo, segundo Rafiq & Ahmed (2000), os gestores permitir alguma liberdade de critério, tanto ao nível do julgamento como da atuação, a estes empregados de frontline para que eles possam ir ao encontro das expectativas dos clientes e assim adquirirem vantagens, em função das oportunidades que se lhes deparam, na prática desta interatividade, considerada como uma ferramenta de marketing, (ii) quer, 22 também, o back-office, de modo a que possam trabalhar como um todo, em equipa, e, assim, a orientação para o mercado seria concebida com o intuito de afetar as atitudes dos empregados, em termos da sua satisfação com o trabalho e respetiva motivação, de modo a poderem fornecer aos clientes externos, serviços de elevada qualidade, assim desenvolvendo as suas satisfação e lealdade (Varey, 1995a; Joseph, 1996; Lings & Greenley, 2005). É assim que o marketing interno deve ser entendido, isto é, como uma abordagem de gestão que permite que todos os membros de uma organização, quer estejam integrados no back-office ou na front-line, façam uma avaliação do seu papel em termos operacionais e adotem uma orientação geral de serviço vocacionada para o cliente, de modo a poder dar satisfação às necessidades do cliente externo (Varey, 1995b). No entanto, Rafiq & Ahmed (1993) já tinham constatado, quando começaram a investigar sobre esta questão, que as primeiras formulações do conceito de cliente interno enfermavam de falhas sérias porque não havia focalização naquilo que deveria ser considerado como iminentemente crítico, ou seja, nas ligações entre fornecedor interno e cliente interno na perspetiva da criação de valor para o mercado externo. Para obstar a tal, sugeriram a adoção do modelo da gestão da qualidade total. Esta nova abordagem implicava que os fornecedores internos e os clientes internos estivessem devidamente integrados na ligação dos seus trabalhos de modo a que os pudessem melhorar, sinergicamente, quer em termos de fiabilidade quer em termos de capacidade de resposta dos processos (Ballantyne, 2003; Ballantyne, 2004). Tal entendimento está conforme o também preconizado por Lings & Brooks (1998), que afirmaram que o modelo do marketing interno, tendo por base o cliente interno, se fundamentava na literatura da TQM (Gestão da Qualidade Total) que estabelecia que, numa cadeia de valor, a próxima operação é cliente da que a precede. Esta relação, geradora de conhecimento interno que circula no seio organizacional, pode ser uma fonte de ganho de vantagens competitivas à medida que a organização vai aprendendo com a sua experiência coletiva, a qual é o resultado da capacidade individual de aprendizagem e de retenção experiencial, assim se estabelecendo condições de melhoria da interação com os seus diferentes públicos (Varey, 1995a). O marketing interno representa então, também, a gestão relacional do conhecimento que se requer para as organizações inovadoras, de modo a que este mesmo conhecimento possa ser gerado e, claro, circular internamente de maneira dirigida para o mercado externo, o que implica tratar os empregados como clientes internos, fazendo com que participem ativamente na criação, circulação e difusão deste novo conhecimento (Varey & Lewis, 1999; Ballantyne, 2004). 23 Esta mesma abordagem é, também, considerada por Richardson & Robinson (1986) e por Barnes & Morris (2000) quando se referem aos conceitos de qualidade técnica e de qualidade funcional, anteriormente estabelecidos por Gronroos (1982) e por Gummesson (1993), na medida em que a efetiva integração dos empregados é um fator fulcral para promover a plena integração e/ou fidelização dos clientes externos, naquilo que se considera como os momentos da verdade, pois a relação e/ou encontro na prestação do serviço, tem um grande impacto nos comportamentos futuros dos compradores. Nesta perspetiva, Gounaris (2008a) estabelece que, após 20 anos de estudos sobre o marketing interno realizados por distintos investigadores, é possível considerar, entre outras conclusões, que o marketing interno tem como âmbito fomentar o aumento da capacidade organizacional na sua relação com os clientes, particularmente no que diz respeito à sua satisfação. 3.1.2 Conceptualização da Orientação para o Mercado Interno De modo a alcançar os desideratos estabelecidos em termos de marketing interno, é também necessário que se considere a gestão dos part-time marketers, conforme Gummesson (1990) e Gronroos (1990), para que haja, da sua parte, aprendizagem no sentido da realização das suas tarefas correntes num ambiente de vocação para o mercado, com um empowerment de responsabilização vocacional, e implicando que a gestão empresarial entenda a organização como um mercado com clientes e fornecedores internos (Barnes & Morris, 2000), daí decorrendo um conjunto agregado de mais-valias, conducentes, no final, a um incremento do resultado organizacional, conforme plasmado na figura nº 1. Figura 1 – Relação entre qualidade, produtividade e satisfação do cliente Fonte: Barnes & Morris (2000, p. 476) 24 Esta abordagem alargada do marketing interno, conducente ao conceito de orientação para o mercado interno, deve ser entendida como um processo social devidamente orientado para objetivos, assim como também um sistema conceptual que permita uma criação continuada de estratégias organizacionais de mudança que, rapidamente, possam responder aos estímulos do macro ambiente – a sociedade – e do micro ambiente – a comunidade constitutiva da organização (Varey & Lewis, 1999). Em ambientes de constantes mudanças, as empresas perceberam que não é suficiente praticar um marketing externo imbuído de mais ou menos agressividade, é também fulcral que se lhe dê uma sustentação, o que só é conseguido recorrendo ao uso dos conceitos do marketing aplicados internamente, junto dos colaboradores, no sentido de os motivar, permitindo, assim, dar resposta às suas necessidades tal como é o objetivo relacional que a organização tem com o mercado externo (Franco et al., 2001), pois os empregados são centrais, no que diz respeito ao seu potencial, para gerar recursos capazes de promover vantagens competitivas (Hernández, 2008). A este respeito, Gounaris (2006) considera que a experiência dos clientes com o pessoal em contacto durante a prestação de um qualquer tipo de “serviço” tem uma forte influência na sua satisfação, promovendo, ou não, a sua vontade em repetir o usufruto de tal “serviço”. É assim que a perceção das expectativas dos clientes é um pré-requisito para promover “serviços” de nível superior, na medida em que os consumidores comparam as suas expectativas com os resultados que obtém quando julgam o produto que lhes é proporcionado pelas empresas (Parasuraman et al., 1991; Greene et al., 1994). A literatura produzida sobre a orientação para o mercado tem seguido e corroborado o conceito de que, para poder haver eficiência organizacional, deve haver, anteriormente, uma orientação de mercado dentro da própria organização (Conduit & Mavondo, 2001). Assim, para que haja capacidade de fornecer valor de cariz superior aos clientes, é necessário que haja valor de cariz superior em cada momento da própria cadeia de valor [o que é a linha de pensamento estabelecida pela generalidade dos autores, plasmada, por exemplo, por Barnes & Morris (2000, 477) quando afirmam que “Não é possível fazer clientes felizes com empregados infelizes …”], logo, implicando a integração dos empregados nos distintos procedimentos. Na focalização para o cliente, é fundamental que, em todos os aspetos, a empresa consiga proceder à entrega de valor, o que envolve uma aprendizagem interna consubstanciada nos princípios do marketing interno, pois quanto maior o grau de satisfação dos clientes internos, maior será a probabilidade de satisfação dos clientes externos e da sua retenção, na medida em que uma prática bem-sucedida de serviços 25 de marketing, numa perspetiva do mercado externo, implica uma prática bemsucedida do marketing interno, logo de orientação para o mercado interno (Berry & Parasuraman, 1992; Webster, 1992). É, pois, a relação entre os clientes internos e os seus fornecedores internos que representa o esforço e a focalização do marketing interno (Lings & Brooks, 1998). Para Vasconcelos (2008), a missão do marketing interno é a de criar um local de trabalho no qual esta focalização no cliente seja possível ser encontrada entre todos os empregados. Esta questão da relação da orientação para o mercado interno que integra aspetos relacionados com a comunicação interna, com a socialização e com a satisfação no posto de trabalho, impactada pelo nível praticado do marketing interno, está diretamente associada à perceção que os gestores têm da orientação para o mercado (Naudé et al., 2003; Panigyrakis & Theodoridis, 2009). Esta satisfação com o trabalho é fulcral na medida em que o marketing interno também serve, enquanto ferramenta à disposição dos gestores, para que a organização possa atrair, reter e motivar os seus empregados (Che Ha et al., 2007). A perspetiva aqui defendida é importante sob o ponto de vista relacional da empresa com os seus clientes, pois, qualquer troca comercial não pode ser realizada sem comunicação o que, obrigatoriamente, implica o recurso a competências e capacidades humanas (Varey & Lewis, 1999). Durante o processo de entrega do “serviço”, os clientes interagem ativamente com os empregados que realizam tal contacto e o resultado desta interação vai representar um elemento relevante na avaliação final do “produto” assim recebido pelo cliente (Malhotra & Mukherjee, 2004; Gounaris, 2006; Várnai & Fojtik, 2008). Nesta perspetiva, os colaboradores envolvidos neste tipo de relação com os cliente devem, obrigatoriamente, passar a ter a capacidade para dominar uma orientação para o cliente, assim como estarem imbuídos de um espírito de venda, conforme já conceptualizado por Gronroos, em 1995. Este entendimento faz com que as organizações considerem que há necessidade de promover um marketing para clientes internos, assim dando origem ao conceito de marketing interno, entendido como um processo holístico de gestão para integrar as múltiplas funções de uma organização (Varey, 1995a; Gounaris, 2006). A preocupação com a gestão da relação interna entre empregados, na ótica fornecedor-cliente, que integram uma determinada cadeia de valor e a sua qualidade deve, também, ser objeto de avaliação, tal como é feito na relação com os clientes 26 externos, assim determinando a qualidade da orientação para o mercado interno (Lings & Brooks, 1998). Contudo, Gounaris (2008a) adverte para o facto de que é necessário ter em consideração que nem todos os colaboradores ficam igualmente entusiasmados com a ideia de terem que realizar um esforço extra, normalmente requerido para alcançar as expectativas dos clientes, pois a sua falta de preparação pode conduzi-los à exaustão emocional e consequente insatisfação perante o trabalho, o que poderia colocar em risco todo o esforço de marketing já realizado, ou a realizar, na perspetiva do mercado externo. Ora estes esforços de marketing, para serem bem-sucedidos, necessitam de se apoiar nas capacidades dos empregados, especialmente no que diz respeito a uma rápida adaptação à mudança, através de uma dinâmica operacional que possa proporcionar as vantagens competitivas esperadas nos ambientes externos, hoje, com alto cariz de imprevisibilidade. Esta mudança de paradigma relacional, ao considerar que se verificou uma deslocalização conceptual na abordagem dos mercados, passando-se da focalização na empresa, enquanto unidade económica de produção, para a o seu exterior, na ótica da satisfação do cliente, abre, assim, caminho para as questões da satisfação do cliente interno, fazendo com que haja, a necessidade de integração de um conjunto de disciplinas que se encontram para além do próprio marketing, como por exemplo o estudo comportamental e a consequente gestão de recursos humanos (Bansal et al., 2001; Rodrigues, 2004). A principal conceção da orientação para o mercado interno é modelada no foro comportamental, ao capturar as estratégias e programas que as organizações estabelecem internamente de modo a alcançar os seus objetivos no mercado externo, sendo, assim, um conceito que tanto interessa os académicos da área do marketing como os da área da gestão recursos humanos (Gounaris, 2006; Jou et al., 2008). Nesta perspetiva, pode ser estabelecido o conceito de investers in people (IIP), que deve considerar, mais do que regras, um estilo comportamental e de gestão dos recursos humanos conducente a uma maior participação e responsabilidade voluntária das pessoas na gestão da organização, o que, por sua vez, traz mais satisfação interna, mais produtividade e melhor desempenho por parte dos envolvidos, contribuindo assim para o desenvolvimento de uma forte cultura na organização, devendo, pois, ser entendido como uma ferramenta, um mecanismo, do marketing interno, que produz um efeito positivo na cultura corporativa, o que por sua vez potencia a relação organizacional com o mercado externo (Hogg, Carter & Dunne, 1998). 27 A importância dos empregados no relacionamento organizacional com os clientes externos é advogada como fulcral, reconhecendo-se que a sua satisfação é essencial para a satisfação desses mesmos clientes externos (Berry, 1981; Conduit & Mavondo, 2001; Jou et al., 2008), pelo que a contratação dos melhores colaboradores para a prestação dos serviços, se revela como um elemento chave para a prática geral do marketing e que melhores serviços facultados aos clientes internos devem dar origem a melhores serviços para os clientes externos, que os vão avaliar em função de um conjunto de procedimentos experienciais (Berry & Parasuraman, 1992; Lings & Brooks, 1998). A orientação para o mercado interno deve ser parte integrante da cultura organizacional e guiar as atitudes e os comportamentos dos seus distintos membros, com plena sustentação através da aplicação dos conceitos de marketing, os quais devem ser centrados em todos os empregados segundo um paradigma perfeitamente alargado (Lukas & Maignan, 1996; Gronroos, 1997; Conduit & Mavondo, 2001; Gounaris, 2006). Assim, um conceito abrangente de marketing, enquanto ferramenta relacional, deve representar uma atitude que privilegie a focalização de qualquer atividade empresarial nos seus clientes, fomentando a fidelização como o seu elemento fundamental (Antunes & Rita, 2008; Zhou, Chao & Huang, 2009). As empresas que advogam esta conceptualização podem usufruir de vantagens competitivas sustentadas, na medida em que lhes vai permitir mais flexibilidade, mais capacidade de adaptação à mudança e uma maior velocidade de resposta à inovação, entendida de uma forma lata, ou seja, um paradigma relacional entre empregados e empregadores, concebido segundo uma plataforma de desenvolvimento de competências e capacidades transversais às estruturas e procedimentos internos, que passa a ter a aptidão para influenciar os membros da organização a agirem no sentido de garantir que as vantagens competitivas são criadas, aperfeiçoadas e mantidas enquanto ponto forte da organização, de modo a que as pessoas percebam e reconheçam não só os valores organizacionais, a cultura da empresa, mas também o seu próprio papel dentro dela (Varey, 1995b). A este propósito, todas as organizações são fortemente influenciadas pela sua envolvente externa, mas as pequenas e médias empresas ainda o são acrescidamente, e em maior grau, considerando a sua própria cultura interna, pelo que nestas assume maior importância a questão das práticas do marketing interno devidamente consubstanciado na orientação para o mercado interno (Becherer, Halstead & Haynes, 2001). Com o marketing interno pretende-se assegurar que todos os empregados compreendam a atividade empresarial e a processem num ambiente que promova a 28 orientação para os clientes, fornecendo um elo entre as capacidades organizacionais e as necessidades e desejos do mercado (Varey, 1995a), o que implicará ganhos de vantagens competitivas sustentáveis através da orientação para os clientes (Varey & Lewis, 1999), entendendo-se que a identificação dos procedimentos dos clientes externos e respetivas condições de medida da qualidade dos serviços recebidos, faz com que a relação entre as atividades individuais dos empregados de uma organização e o nível percebido da qualidade do serviço se torne mais transparente, fazendo com que todos possam entender melhor como é que a sua atuação afeta a perceção do cliente externo (Lings & Brooks, 1998). Também Ahmed, Rafiq & Saad (2003) assim o consideram quando afirmam que o mix do marketing interno vai influenciar o desempenho da atividade através da conjugação das práticas desse mesmo marketing que, por sua vez, gerariam competências organizacionais: comportamento orientado para o mercado, satisfação dos empregados e competências específicas e individuais. A orientação para o mercado interno, devidamente consubstanciada pelo marketing interno, é, então, uma forma de promover a empresa e os seus produtos junto dos seus empregados, na medida em que vai gerar envolvimento e empenho relativamente aos programas estratégicos da organização, enquanto pré-requisitos para a tão necessária focalização que possa conduzir a resultados de sucesso para as empresas (Greene et al., 1994; Crick, 2003; Ahmed & Rafiq, 2003), considerando-se que o capital financeiro, ao já não ser percebido como o fator chave para o sucesso, foi substituído pelo capital humano para alcançar tal desiderato (Shiu & Yu, 2010). Um dos principais objetivos do marketing interno, enquanto antecedente da orientação para o mercado interno, será, pois, o de avaliar e ajudar a implementar os procedimentos que promovam o desenvolvimento organizacional em conformidade com os seus propósitos, para o que, nesta perspetiva, deve começar por considerar todas as funções internas da organização que possam ser usadas para criar, desenvolver e manter as ligações adequadas e cujo resultado se espera que seja a entrega ao cliente final, da qualidade esperada e antes prometida (Ahmed & Rafiq, 2003). Ou seja, o mix do marketing interno deve ser capaz de fazer a ligação entre as competências organizacionais e o desempenho da atividade de negócio, plasmando a aptidão organizacional para tratar o emprego e a sua capacidade empregadora como produtos que necessitam ser vendidos aos empregados no sentido de aumentar a satisfação com o trabalho e assim, finalmente, aumentar a satisfação dos clientes externos (Ahmed, Rafiq & Saad, 2003; Jou, Chou & Fu, 2008). Este é, também, o entendimento de Naudé et al. (2003) quando afirmam que o marketing interno representa uma parte integrante do marketing (marketing 29 orientation) em geral, envolvendo o uso das suas técnicas, no interior da organização, para criar e transferir valores corporativos, de cariz positivo, para o exterior. Assim, a orientação para o mercado interno deve ser considerada como uma componente fulcral (core) do conceito da orientação para o mercado (OM), entendendo-se que os programas de marketing interno, para produzirem resultados efetivos, requerem que as empresas estejam disponíveis para investir na adoção da dita orientação para o mercado interno junto dos colaboradores, agora designados por part-time marketers (Gummesson, 1991; Gronroos, 1995; Harris, 1996; Naudé et al., 2003; Gounaris, 2008a). Rodrigues & Pinho (2010) entendem a este respeito, tal como Kohli & Jaworski (1990) estabeleceram, que a orientação para o mercado interno e a orientação para o mercado, orientação para o mercado externo (OME) na sua versão, constituem um conjunto de atividades que traduzem a passagem de uma determinada filosofia de negócio para a respetiva prática, através da geração, da disseminação e da resposta dada às informações oriundas dos mercados, considerando-se, contudo, que, tal como na OM, quando se trata da OMI também é necessário, para que os resultados sejam os mais apropriados, que se proceda a uma segmentação do respetivo mercado interno (Proctor, 2010; Pantouvakis, 2012). Entretanto, já anteriormente, tinham sido identificadas três orientações distintas respeitantes ao marketing interno e consequente conceptualização da orientação para o mercado interno, em conformidade com os objetivos a serem alcançados e que foram: (i) marketing interno como uma forma de alcançar a satisfação dos empregados, (ii) marketing interno como um meio para obter uma orientação para os clientes, por parte dos empregados e (iii) marketing interno como um método de gestão estratégica (Rafiq & Ahmed, 2000). Considerando estas três linhas orientadoras, Lings & Greenley (2005), afirmam já se ter demonstrado que a orientação para o mercado interno tem um impacto positivo: (i) na satisfação dos clientes, (ii) no posicionamento competitivo, (iii) num comportamento condescendente, (iv) na retenção dos empregados e (v) nas atitudes dos empregados. Porém, nem todas as organizações aderem sistemicamente a esta conceptualização sendo que uma das principais questões a contribuir para tal é a falta de um entendimento plenamente aceite quanto ao que é na realidade o marketing interno, donde a necessidade de clarificar quais as variáveis e/ou atividades que podem e as que não podem integrar este conceito. Rafiq & Ahmed (2000, 449), também o confirmaram quando afirmaram que “… muito poucas organizações aplicam, atualmente, em termos práticos, o conceito …”. 30 Contudo, o mix do marketing interno ou os elementos controláveis pela organização que podem ser usados para influenciar os empregados, daí decorrendo as condições de operacionalização da orientação para o mercado interno, já tinham sido identificados por um grupo alargado de investigadores, como sendo a comunicação, a formação, a educação, a informação, a motivação, a atração e retenção, ou seja, funções tradicionalmente realizadas pela gestão de recursos humanos (Gummesson, 1991; Cahill, 1995; Foreman & Money, 1995; Varey, 1995a), pelo que as empresas devem comunicar aos seus empregados quais são, objetivamente, as necessidades dos seu clientes, de modo a que se possa promover a satisfação de todas as partes relacionalmente envolvidas (Pantouvakis, 2012). Há, pois, autores que alargam o conceito de marketing interno, considerando que ele também serve para estabelecer estratégias que conduzam, por exemplo, a um menor grau de resistência dos trabalhadores relativamente às necessidades de mudança da organização, assim como a um alinhamento das suas capacidades e/ou competências com os objetivos organizacionais, o que compagina um conceito de marketing interno mais abrangente, integrando, assim os conceitos aplicados na gestão de recursos humanos (Rafiq & Ahmed, 1995; Jou et al., 2008). Todos estes elementos têm sido, basicamente, agrupados em três categorias operacionais: fornecimento e/ou transmissão de uma visão organizacional, desenvolvimento e/ou crescimento pessoal e recompensas – associadas à motivação (Ahmed, Rafiq & Saad, 2003). O marketing interno postula, pois, a ideia de que um dos seus principais objetivos é o de planear e construir relacionamentos próximos e simultaneamente flexíveis entre todos os elementos internos da organização de modo a que os seus procedimentos sejam constantemente melhorados, ou seja, é necessário que as organizações desenvolvam uma forte orientação para o mercado interno antes que possam adotar uma orientação para o mercado (externo) de pleno sucesso, pelo que o marketing interno deve servir para melhorar o entusiasmo dos empregados no que diz respeito ao aumento das vendas, o que só será plenamente conseguido com a adesão dos clientes e, portanto, com a sua satisfação (Ahmed & Rafiq, 2003; Gounaris, 2006; Jou et al., 2008). Segundo Tortosa-Edo et al. (2010) uma das primeiras contribuições no sentido de considerar os aspetos internos das empresas como uma parte integrante do marketing foi dada por Kotler (1972) e por Booms & Bitner (1981). Para alcançar os seus objetivos, as organizações devem adotar uma orientação para os empregados, ou orientação para o mercado interno, ao mesmo nível do que praticam externamente, na medida em que não basta apenas considerar, no atual ambiente competitivo, os clientes e a concorrência como os únicos elementos chave da 31 organização, pois tal como os clientes externos, os internos também pretendem ver as suas necessidades devidamente satisfeitas (Ahmed & Rafiq, 2003; Tortosa-Edo et al., 2010). O marketing interno e consequente orientação para o mercado interno baseiam-se no entendimento de que nenhuma ação isolada de gestão se pode tornar efetiva só por si, pois múltiplas ações e pessoas com diferentes competências devem estar envolvidas na criação e entrega de bens e serviços. Estas atividades que implicam o cruzamento de distintas funções, assim como das pessoas que as realizam, são da maior importância nos resultados finais das organizações, defendendo-se, assim, que o marketing interno deve ser um processo de interação entre a organização e os seus colaboradores de modo a que se consiga alcançar o meio adequado para que os colaboradores possam ser encorajados a criar, coordenar e melhorar a generalidade do todo que representa o negócio da organização, o que deve ter como significado que o marketing interno se plasma em ações e interações que promovam a satisfação dos clientes finais (Ahmed & Rafiq, 2003). Aliás, já Foreman & Money (1995) afirmavam que o marketing interno se tornara perfeitamente aceite e frequentemente considerado como um aspeto do marketing, quer em termos da sua prática, quer em termos da investigação académica de que era objeto, enfatizando que o marketing interno deveria preceder o marketing externo, pois não faz sentido que as empresas prometam excelentes perspetivas ao mercado sem que antes os empregados estejam em condições de as poder concretizar, atestando, desta forma a operacionalização da orientação para o mercado interno. Até meados da década de 90, a maioria dos defensores do marketing interno seguia o ponto de vista inicial de Berry (1980) que valorizava, particularmente, a sua relevância para as empresas de serviços, considerando o importante papel dos empregados na capacidade de proporcionar satisfação aos clientes externos. No entanto, a partir dessa altura começou-se a entender que o marketing interno, para ter plena aceitabilidade enquanto ferramenta de marketing, deveria, também, ter aplicabilidade para além do contexto das empresas exclusivamente de serviços, ou seja, deveria ter condições de ser, igualmente, útil nas empresas industriais, assim como nas entidades sem fins lucrativos e nos serviços estatais, pois tem pleno cabimento em todas as organizações (Foreman & Money, 1995; Quester & Kelly, 1999). Esta mesma perspetiva já tinha sido apresentada por Varey (1995b) quando afirmou que alguns trabalhos de investigação já reconheciam que todos os fornecedores do mercado são fornecedores de serviços e que esta “servitization”, conforme a expressão de Vandermerwe & Rada (1988), implica que um maior número de empregados se torne fornecedor de serviços entre si e perante os clientes. 32 Este entendimento vem, de alguma forma, dar relevância ao objetivo deste trabalho, focalizado num ambiente industrial, pretendendo estudar o processo relacional que se inicia com o marketing interno e que, atravessando os conceitos de orientação para o mercado interno e de orientação para o mercado, se finaliza no desempenho, conceptualização aplicável a todas as organizações e que segundo Arnett, Laverie & McLane (2002), apresenta os seguintes benefícios: (i) baixas taxas de rotação de empregados, (ii) aumento da qualidade de serviço, (iii) altos níveis de satisfação dos empregados, (iv) aumento da capacidade para implementar mudanças organizacionais. Será, pois, de igual importância a focalização dos gestores quer nos seus clientes externos, quer nos seus empregados, através da adoção de procedimentos, vocacionados para os clientes internos, que consigam complementar os programas de marketing externo e formalmente compaginados na conceptualização do marketing interno. Nesta perspetiva, as estratégias de sucesso do marketing interno podem promover, simultaneamente, a satisfação relativa ao trabalho realizado e o orgulho de pertença à organização, daí resultando um incremento comportamental do empregado (Arnett, Laverie & McLane, 2002). A tónica deve, pois, ser colocada nos recursos humanos através da sua satisfação e motivação e os comportamentos associados ao desenvolvimento de empregados satisfeitos e motivados deverão ser designados por orientação para o mercado interno (Lings, 2004). Isto configura o facto de a cultura organizacional, baseada no empregado e orientada para ele, conduzir à sua lealdade para com a organização o que, por sua vez, se transfere, também, para a lealdade do cliente para com a própria organização (Arnett, Laverie & McLane, 2002), tendo, no entanto, que considerar que a adaptação dos comportamentos dos empregados em conformidade com o que eles entendem que é o esperado pela organização, depende da sua própria personalidade (Gounaris, 2008a). Assim, a orientação para o mercado interno cruza as fronteiras funcionais do marketing e dos recursos humanos, pois quanto mais disseminada junto dos empregados melhores serão as condições de implementação das estratégias de marketing, na medida em que a orientação para o mercado interno ao originar níveis superiores de satisfação dos empregados, promove, internamente, a efetividade das práticas de marketing considerando-se que empregados satisfeitos “criam” clientes mais satisfeitos (Várnai & Fojtik, 2008; Gray, 2008; Gounaris, 2008a; Kaur, Sharma & Seli, 2010). 33 O marketing interno e a consequente orientação para o mercado interno encorajam o ponto de vista de que o marketing é um processo que envolve a totalidade da empresa e dos seus recursos, através dos quais se pretende alcançar um equilíbrio entre o desejado pelos clientes externos e o potencial de oferta da organização (Varney, 1995a). A orientação para o mercado interno promove, assim, uma necessidade de planear e construir uma efetiva relação entre os empregados da empresa e a sua gestão de topo, configurando o sentido do todo organizacional (Gounaris, 2006). O sucesso dos programas de marketing externo (orientação para o mercado) está dependente da orientação para o mercado interno, pelo que os gestores de marketing necessitam de estar bem familiarizados com ambos os tipos destas práticas do marketing (Lings, 2004). Seguindo esta visão, Tortosa-Edo et al. (2010) consideram como notável o contributo de Gronroos (1984) e do seu marketing interativo, no qual a focalização no cliente, ou marketing externo, está relacionada com o marketing interno, ou orientada para os recursos humanos, combinando todas as atividades da empresa de modo a permitir que os seus empregados possam proporcionar uma resposta adequada ao mercado, de modo a criar um potencial de diferenciação e uma vantagem competitiva (Theodoridis & Panigyrakis, 2010). É, então, possível considerar que o sucesso dos esforços de marketing depende da capacidade dos empregados para se adaptarem, rapidamente, às alterações da envolvente conjuntural em que decorre a atividade da empresa (Lagoon et al., 2007; Várnai & Fojtik, 2008). O capital mais importante das empresas, em geral, é a sua força de trabalho, pelo que os gestores, num contexto abrangente, devem entender os postos de trabalho como o principal produto da empresa e os empregados como o seu principal cliente quando se focalizam nos conceitos de satisfação e de motivação internas (Sasser & Arbeit, 1976; Lings, 2004). Assim, a orientação para o mercado interno, decorrente do marketing interno, levaria os gestores a perceber melhor aquilo que os empregados valorizam nos seus trabalhos, representando um conceito plenamente integrado no marketing e que complementa o conceito de orientação para o mercado (Lings, 2004; Gounaris, 2008a). A implementação, a nível interno, de uma orientação de marketing conduzirá, então, à atração, desenvolvimento, motivação e retenção dos empregados mais qualificados, considerando-os, assim, como clientes internos (Berry & Parasuraman, 1992; TortosaEdo et al., 2010). 34 O marketing interno representa, assim, uma atuação estruturada para a implantação de estratégias, para o recrutamento e retenção de pessoal, focalizadas no conceito de serviço interno, ou seja de orientação para o mercado interno, de modo a, globalmente, criar ou incrementar uma cultura de serviço em termos da produtividade geral, considerando sempre que, isto implica ter sensibilidade para as aspirações atitudes e preocupações dos colaboradores (Berry & Parasuraman, 1992; Varey & Lewis, 1999). Estabelece-se, pois, em termos empresariais, uma nova interpretação do marketing, formalizada num enquadramento mais abrangente no qual a organização vai para além da sua tradicional orientação para o exterior, ponderando relações internas do tipo clientes-fornecedores (Franco et al., 2001). Assim, desta forma, é possível granjear elevados níveis de qualidade, quer interna quer externamente, na medida em que os empregados estão disponíveis para acolher voluntariosamente procedimentos conducentes a padrões superiores de envolvimento e responsabilização, fazendo com que as empresas que desenvolvem as práticas da orientação para o mercado interno estejam, inevitavelmente, mais inclinadas para a implantação do marketing interno de uma forma mais efetiva e adequada às condições da sua realidade funcional (Gounaris, 2008a). É, então, natural que seja possível relacionar os recursos humanos e o marketing no sentido de perceber qual o impacto da sua atuação junto dos clientes externos, sendo comummente aceite que marketing interno e gestão de recursos humanos sejam matérias com relativa proximidade, pois o marketing interno é um conceito que tanto interessa aos investigadores de marketing como aos de recursos humanos, integrando ambas as disciplinas numa estratégia geral de marketing orientado para o mercado (Pitt & Foreman, 1999; Piercy, Harris & Lane, 2002; Lings & Greenley, 2005; Jou et al., 2008). Assim, pode-se considerar que o marketing interno utiliza uma visão de marketing para a gestão dos empregados de uma organização, pois o desenvolvimento do marketing interno pretende criar um ambiente interno (orientação para o mercado interno) que seja flexível em respostas para com o mercado, de modo a refletir objetivos e sinergias empresariais face a esse mesmo mercado, ou seja, um processo que garanta que os empregados estejam empenhados no melhor tratamento possível dos clientes (Varey, 1995b e 1995a). Várnai & Fojtik (2008) acrescentam, a esta perspetiva, que os empregados têm que “desejar” poder prestar um esforço individual que contribua para o conjunto coletivo da adaptação às condições da envolvente externa. 35 Desta forma, foi criada uma perspetiva de adaptação dos 4 PP, ao considerar que o marketing interno foi originalmente proposto como uma aplicação do marketing tradicional, associada ao uso do marketing-mix no interior da organização, entre os empregados, de maneira a melhorar a eficácia organizacional, entendendo-se que os gestores de marketing devem formalizar os programas de marketing interno em termos de produto, preço, comunicação e distribuição, recorrendo ao mesmo princípio de enquadramento usado para estabelecer objetivos para o mercado externo (Piercy & Morgan, 1990; Varey, 1995a; Varey & Lewis; 1999; Lings & Greenley, 2005). O processo de orientação para o mercado pode, então, ser adaptado ao contexto do marketing interno, com consequências positivas para as empresas e para os seus empregados, tal como o marketing externo (orientação para o mercado) as tem para as empresas e para os seus clientes externos, estribando-se para tal no conceito de orientação para o mercado interno e entendendo-se que um impacta o outro (Lings & Greenley, 2005; Rodrigues & Pinho, 2010). Este mesmo entendimento já tinha sido anteriormente apresentado por Gray, Matear & Matheson (2000) quando afirmaram que a orientação para o mercado, ou segundo eles uma atitude comportamental orientada para o mercado, pode ser entendida como a implementação de uma filosofia interna específica, a conceptualização do marketing, também algumas vezes designada por orientação de marketing2. Esta conceptualização foca-se no cliente, disseminando atitudes de marketing por toda a organização e possibilitando benefícios mútuos, tanto para o cliente como para a empresa. A orientação para o mercado interno contribui, quer direta quer indiretamente, para a orientação para o mercado, através do aumento da qualidade relacional, do aumento da satisfação dos empregados e dos clientes, da diminuição do turnover e dos custos de formação, assim como através da consciencialização dos empregados para uma filosofia de fornecedor-cliente interno, sendo assim uma dimensão fulcral do marketing interno, para um maior empenhamento para com os objetivos da empresa e para uma maior atitude motivacional (Lings, 2000; Panigyrakis & Theodoridis, 2009; Kaur, Sharma & Seli, 2010; Theodoridis & Panigyrakis, 2010). A orientação para o mercado interno cruza, então, a fronteira entre o marketing e a operacionalização da gestão de recursos humanos, como já anteriormente mencionado, com o objetivo de balancear a perceção dos empregados entre aquilo que investem no trabalho e aquilo que dele retiram. Neste contexto, deve-se entender que a orientação para o mercado interno é o equivalente interno da orientação para o mercado, pelo que a satisfação dos empregados se transforma num antecedente 2 “Marketing orientation”, segundo os autores. 36 fundamental para a satisfação dos consumidores e, portanto, uma ferramenta indissociável das práticas do marketing (Lings & Greenley, 2005; Várnai & Fojtik, 2008; Gounaris, 2008a). O comportamento dos gestores para com os seus subordinados, vai ter influência nas atitudes e comportamentos destes, o que faz realçar o valor da orientação para o mercado interno, de modo a que o resultado da interação entre os empregados seja visto como um fator estratégico para o produto final facultado aos clientes externos (Ahmed & Rafiq, 2003; Lings & Greenley, 2005; Várnai & Fojtik, 2008). Assim, os elevados níveis de satisfação interna dos empregados são traduzidos na satisfação e na lealdade dos clientes externos, pois quer a satisfação com o trabalho quer o orgulho de pertença à organização são fatores importantes que influenciam o comportamento dos empregados, com os devidos reflexos externos (Arnett, Laverie & McLean, 2002; Lings & Greenley, 2005). Considerando o já anteriormente estabelecido, o conceito de marketing interno foi introduzido na literatura científica durante a década de 70 do século passado por Berry et al. (1976), tendo alcançado a sua maior proeminência a partir da de 90 com a conceptualização da orientação para o mercado interno (Varey & Lewis, 1999; Rafiq & Ahmed, 2000; Gounaris, 2006). No entanto, Gounaris (2006) considera, contudo, que as limitações em validar empiricamente a orientação para o mercado interno constituem um fator que ainda condiciona a plena aplicação do marketing interno, apesar de mais tarde (2008) ter estabelecido que a satisfação dos colaboradores é uma função ao mesmo tempo das ações específicas do marketing interno, como o empowerment, a decisão participativa e a informalidade comunicacional, e da plena adoção do conceito de orientação para o mercado interno. Gounaris (2006) identifica um conjunto de 22 artigos científicos a que ele denomina “Trabalho preliminar sobre marketing interno e questões chave” e que vão desde 1976 (Berry et al.) até 2005 (Lings & Greenley). Nestes artigos, os diferentes autores analisam o marketing interno, focalizando-se maioritariamente nos mesmos conceitoschave de: (i) satisfação dos empregados no trabalho, (ii) comportamentos internos, (iii) qualidade dos recursos humanos, (iv) aumento da produtividade, (v) estratégia de marketing e (vi) consciencialização do consumidor, sendo que todos estes conceitos pretendem conduzir à venda interna dos objetivos da empresa. Esta interpretação também já era defendida por Rafiq & Ahmed (2000) quando afirmavam que para se ter clientes satisfeitos é necessário que haja empregados satisfeitos e para quem a ferramenta fundamental para alcançar a satisfação dos empregados é o seu tratamento como clientes internos. 37 Gounaris (2006) considera ter sido Gummesson (1987) quem, primeiramente, introduziu na literatura científica a terminologia de “cliente interno”, mas é ele que, por sua vez, afirma que as estratégias do marketing interno têm impacto direto quer nas condições do trabalho quer nos procedimentos que, por seu lado, vão melhorar a eficácia empresarial através da inter-relação com os clientes externos, na sua perspetiva, de uma forma sempre tendencialmente comportamental. O novo paradigma relacional empregado / empregador, na conceção de uma cultura empresarial, deliberadamente desenvolve competências organizacionais através da instituição de estruturas e processos internos que influenciam positivamente os membros da organização a agirem no sentido de garantirem a criação e manutenção de vantagens competitivas, que passam pela oferta de serviços adequados aos clientes, e cujo resultado será a obtenção e uma forte lealdade da sua parte (Varey, 1995b; Javadein et al., 2011). O conceito de orientação para o mercado interno, numa perspetiva da sua mensuração, começa por estabelecer uma orientação simétrica entre as estratégias de marketing, a orientação para o mercado interno e a orientação para o mercado, designada por orientação para o mercado externo (OME) (Gounaris, 2006), conforme o esquema da figura nº 2, e de onde se pode concluir que haverá uma necessidade premente em que se verifique um empenhamento da empresa na produção de valor para os seus públicos internos, através do entendimento das suas necessidades, tal como produzirá valor para os públicos externos, o que a tornará estrategicamente mais competitiva, por comparação com as empresas que não usam tal prática. Figura 2 – Desenvolvimento de uma orientação simétrica para o mercado Fonte: Gounaris (2006, p. 436) Gounaris (2008a) considera que foi Piercy (1995) quem primeiro levantou a questão de que as empresas deveriam desenvolver esta simetria entre a sua orientação externa e a sua orientação interna. 38 Porém, esta conceptualização temática já tinha sido alvo de anteriores estudos, considerando-se que, inicialmente, se entendia o mercado como um mero local de trocas económicas e que, posteriormente, ele passa a incluir toda a espécie de trocas de índole coletiva, assumindo particular importância as verificadas no seio das organizações que devem privilegiar tal atitude de marketing interno de modo a fomentar o seu sucesso externo (Flipo, 1986). Tomando por base o princípio operacional desta relação simétrica, e fazendo uma adaptação de Lings (2004), Gounaris (2006) propõe, também, uma conceptualização da orientação para o mercado interno, conforme a figura nº 3, a qual tem como génese a proposição original de Kohli & Jaworski (1990), sobre orientação para o mercado externo. Figura 3 – Proposta de conceptualização da orientação para o mercado interno Fonte: Gounaris (2006, p. 436) Estes dois modelos, apresentados meramente a título de exemplo mas com a certeza da plena propriedade de relação com o objeto investigacional, fundamentam-se sempre, como já atrás referido, no relacionamento entre os objetivos da empresa e as necessidades dos seus empregados, de modo a que estes possam cumprir com o desenvolvimento das suas capacidades para corresponderem às necessidades reais e/ou percebidas do mercado externo. As três componentes da orientação para o mercado interno consideradas segundo o modelo inicialmente proposto por Kohli & Jaworski (1990) para a relação com os clientes externos – Geração de Informação no Mercado Interno, Disseminação Interna 39 da Informação e Resposta à Informação Interna – têm um papel significativo na determinação da satisfação global dos clientes internos (Kaur, Sharma & Seli, 2010). A relação entre as formas de orientação para o mercado interno e a satisfação dos empregados sugere que as empresas que não fazem uma aplicação destes conceitos são menos propensas para encontrar a forma mais adequada que proporcione um clima interno favorável à desejada satisfação dos empregados e que, ao mesmo tempo, suporte efetivamente a adoção dos princípios da orientação para o mercado externo (Gounaris, 2008a). Após uma extensa preocupação com o tema do marketing interno, em termos académicos, finalmente os gestores das empresas estão a começar a dedicar a sua atenção a esta problemática (Chang & Chang, 2005). As empresas com o intuito de poder desenvolver uma mais adequada orientação para o mercado recorrem, então, a uma filosofia operacional de marketing interno, desenvolvendo para tal uma orientação para o mercado interno apropriada (Lings & Greenley, 2010). A adoção, por parte dos empregados, de diretivas estratégicas, incorporando-as no seu dia a dia de trabalho, representa uma plena adesão àquilo que são os deveres da função laboral. Este procedimento é designado por in-role behaviour (IRB) e tem origem no impacto promovido pela orientação para o mercado interno. No entanto, ainda existe falta de evidência empírica que confirme o real impacto da orientação para o mercado interno no in-role behavior (IRB) e, portanto, as consequências da orientação para o mercado interno para as empresas continuam a ser uma interessante área de estudo, tentando encontrar a ligação entre o marketing interno e o marketing externo (Lings & Greenley, 2010). O marketing interno representa, pois, uma filosofia de valorização e de tratamento dos empregados como um conjunto de intermediários internos (clientes internos) que podem fazer aumentar o valor fornecido pelas empresas aos clientes externos, através da assunção dos objetivos de marketing, assim promovendo a competitividade empresarial no exterior (Sasser & Arbeit, 1976; Greene et al., 1994; Ahmed et al., 2003; Lings & Greenley, 2010). O conceito de marketing interno tem vindo a permitir que as organizações obtenham benefícios ao nível da promoção do valor do empregado, ao nível da racionalização geral dos fluxos internos e da capacidade de decisão recorrendo ao empowerment dos colaboradores, através da melhoria dos processos de intercâmbio internos, salientando as interações entre diferentes áreas funcionais e promovendo uma melhor disseminação da satisfação dos clientes externos assente em compromissos de empenhamento interno (Vasconcelos, 2008). 40 Consequentemente, o desenvolvimento do conceito de orientação para o mercado interno aparece como algo de lógico e, portanto, associado a comportamentos de gestão específicos com o objetivo de potenciar os recursos internos e/ou humanos das organizações. Assim, a orientação para o mercado interno encoraja as organizações a construir relacionamentos adequados com os seus empregados tendo por base um envolvimento e/ou empenhamento que lhes possa proporcionar níveis superiores de valorização, percebendo e indo de encontro às suas necessidades devidamente expressas e também latentes, tal como existe empenhamento para produzir valor para os clientes externos da empresa (Lings & Greenley, 2010). 3.2 Orientação para o Mercado Uma empresa apenas tem o valor das suas pessoas e se estas não se conseguirem impor no mercado, a empresa em si também o não conseguirá (Berry & Parasuraman, 1992). Nesta perspetiva, a orientação para o mercado interno é essencial para o sucesso empresarial, pois irá permitir atrair, desenvolver, motivar e reter os empregados qualificados e de maior desempenho, através da satisfação das suas necessidades pela via do trabalho, enquanto produto, entrosando-se no marketing interno, enquanto filosofia funcional, que deve fornecer um enquadramento sistemático que suporte a necessidade e a importância de se estabelecer uma orientação para o mercado, com os produtos mais adequados, enfatizando a necessidade de criação de uma cadeia de valor na qual assente uma orientação para o sucesso (Panigyrakis & Theodoridis, 2009; Malik et al., 2010). As atitudes agregadas dos empregados estão diretamente relacionadas com o desempenho organizacional, o qual deve ser entendido como um conceito multidimensional que integra distintas dimensões como metas e sistemas operativos, acrescidos, ainda, de outros fatores como o tipo de sociedade, o ambiente organizacional e as dimensões funcionais, quer laborais quer comunitárias, nomeadamente ao nível financeiro e das suas relações com o mercado (Bouckaert & Peters, 2002; Schneider et al., 2003). De salientar, contudo, o postulado por Kwon & Hu (2000) quando referem que a orientação para o mercado tendo um papel de relevo na generalidade dos programas estratégicos das empresas, assume, porém, maior predominância crítica para aquelas que são exportadoras. Na opinião destes autores, devido à diversidade dos mercados externos, a orientação para o mercado torna-se mais difícil de implementar nestes, pelo que o seu impacto no sucesso da atividade se estabelece com menor acuidade. Contudo, inicialmente, à medida que iam sendo realizados trabalhos sobre estas matérias, existia alguma incapacidade em distinguir a terminologia utilizada, a qual era 41 usada indiferentemente com o mesmo significado (Rodrigues, 2004). Os termos “orientado para o mercado”, “orientado para o marketing”, “orientado para o cliente” e “dirigido pelo mercado” significavam, basicamente, o mesmo (Harris, 1996) e à luz da muita literatura existente sobre a orientação para o mercado, para este constructo ainda coexiste uma multitude de definições (Sorensen, 2005). Jaworski, Kohli & Sahay (2000) para além de também terem dissertado sobre os conceitos de market driven e de driving markets, referem, porém, que este último conceito deve implicar, ainda, uma função multiplicativa de duas dimensões chave: (i) o número de alterações realizadas no mercado e (ii) a magnitude dessas alterações. No entanto, as organizações que se envolviam na aplicação dos conceitos de marketing, apenas como uma estratégia operacional, podiam ser considerados como marketing-oriented (Ngai & Ellis, 1998). Porém, se se verifica uma certa congruência entre o nível operacional e a cultura subjacente da organização, quando os clientes são a principal prioridade da gestão de topo e quando o marketing estratégico é uma extensão direta da estratégia organizacional, então, estamos em presença de organizações com orientação para o mercado, devendo ser considerado como axiomática a relação entre o marketing e a estratégia, justificando, assim, a vocação para os clientes e por consequência a orientação para o mercado e a sua contribuição para a eficácia organizacional (Morgan & Strong, 1998). 3.2.1 Conceptualização da Orientação para o Mercado Passada esta fase inicial, passou a ser considerado que as empresas para terem sucesso nas suas práticas de marketing externo, terão que investir, com sucesso, no marketing interno, considerando-se que os empregados devem, também, ter um enquadramento, ou ser, “sales minded” (Rafiq & Ahmed, 2000). Assim, a orientação para o mercado, ao criar vantagens competitivas, segundo a perceção dos consumidores, contribui para um desempenho superior das organizações (Matsuno, 2002; Vázquez et al., 2002; Ahmed, Rafiq & Saad, 2003). Será, então, possível considerar que todas as empresas que tenham algo relacionado com o sucesso da sua atividade, como por exemplo orientação de marketing, orientação para o mercado, controlo de custos, sistemas de gestão da informação ou uma boa gestão de recursos humanos, terão sempre uma melhor performance do que a média das empresa que não possuem tais ferramentas à sua disposição (Henderson, 1998). Particularmente num contexto de servitization (Vandermerwe & Rada, 1988), a mais importante vantagem competitiva é a qualidade geral dos “serviços” que são 42 prestados, devendo as vantagens competitivas ser entendidas como o resultado do uso de recursos e capacidades e/ou competências que possam gerar satisfação diferenciada em mercados lucrativos. Tais vantagens devem ser obtidas através de comportamentos de orientação para o mercado que requeiram conhecimentos organizacionais complexos e, consequentemente, difíceis de replicar pelos concorrentes (Lado et al., 1998; Ngai & Ellis; 1998; Javadein et al., 2011). O constructo da orientação para o mercado é, de alguma forma, considerado complexo, sendo influenciado por um conjunto de variáveis antecedentes, como o envolvimento da gestão de topo e os conflitos interdepartamentais, e moderado por variáveis ambientais, como a turbulência dos mercados, manifestando-se através de uma série de resultados como o esprit-de-corps e o desempenho organizacional (Kohli & Jaworski, 1990; Ngai & Ellis, 1998). As empresas com uma forte orientação para o mercado, no entanto, são capazes de dar prioridade à captação de conhecimento sobre as variáveis fundamentais da sua relação com o mercado. Estas empresas focalizam-se essencialmente: (i) nos clientes, nos seus gostos, nas suas necessidades, na sua satisfação, nas suas perceções, …, (ii) nos fatores que influenciam os clientes, a concorrência, o estado da economia, as tendências socioculturais, …, (iii) nos fatores que afetam a capacidade da empresa para condicionar e satisfazer os clientes, na tecnologia, quer dos produtos, quer da produção, na normalização, …, e fazem-no porque acreditam no primado da satisfação do cliente enquanto um dos principais objetivos organizacionais (Baker & Sinkula, 2009). No entanto, Henderson (1998; 599) apresenta alguma discordância com a valorização que é dada, especialmente pelos académicos, ao conceito de orientação para o mercado e entende que “Esta coincidência de benefício entre a organização e o cliente é a característica mais atraente do marketing (e talvez do capitalismo).” Porém, a orientação para o mercado deve incluir três componentes distintas, mas obrigatoriamente complementares, a orientação para o cliente, a orientação para a concorrência e, por último, a capacidade de coordenação interfuncional – refletindo esta o nível de interação e de comunicação existente no interior da organização (Narver & Slater, 1990; Grinstein, 2008a; Baker & Sinkula, 2009), o que no seu conjunto permite enquadrar o referido primado da satisfação do cliente. Especificamente, para Narver & Slater (1990), que conceptualizaram este entendimento, a orientação para o mercado consistia na conjugação de três componentes comportamentais (orientação para o cliente, orientação para a concorrência e coordenação interfuncional) e dois critérios de decisão (enfoque de longo prazo e lucratividade). 43 A orientação para o cliente e a orientação para a concorrência incluíam todas as atividades realizadas para captar informação acerca dos compradores e dos concorrentes, que constituem a estrutura do mercado alvo, fazendo, depois a sua disseminação no seio organizacional. A coordenação interfuncional, baseada na informação sobre os clientes e os concorrentes, compreende os esforços organizacionais, através da alocação dos seus recursos, para criar valor superior para os compradores, ou seja, mais abrangentemente, a coordenação interfuncional deve ser entendida como a utilização dos recursos da organização de modo a poder criar mais-valias para os seus clientes, para o que as empresas devem considerar que em cada ponto da cadeia de relação com o cliente é possível acrescentar valor. Assim, nesta perspetiva, todo e qualquer colaborador da empresa deve ser um elemento de contribuição líquida para essa mesma criação de valor (Narver & Slater, 1990). Esta perspetiva da interação e da comunicação existentes no interior da organização assume como crucial a identificação duma sustentação (i) da orientação para o mercado através da orientação para o cliente (a perceção necessária e suficiente dos compradores alvo de modo a poder criar, continuadamente, valor que eles reconheçam), (ii) da orientação para a concorrência (a compreensão dos pontos fortes e fracos de curto prazo e das capacidade de longo prazo dos atuais e potenciais concorrentes) e (iii) da coordenação interfuncional (o uso coordenado dos recursos empresariais de modo a alcançar níveis de valor superior junto dos clientes alvo), devendo, então, a orientação para o mercado, enquanto constructo multidimensional, incluir uma dupla orientação para os clientes e concorrentes, assim como uma necessidade de partilha de informação (Narver & Slater, 1990; Ngai & Ellis, 1998; Dawes, 2000; Grinstein, 2008a). Esta conceptualização de orientação estratégica para o mercado deverá, assim, incluir um conjunto de dimensões integrando uma focalização no cliente e uma focalização na concorrência, contudo, segundo Zhou & Li (2007), para além da estrita orientação para o mercado, em termos latos, ainda devem ser consideradas na orientação estratégica, a orientação tecnológica, a orientação empreendedora, a orientação da produção e a orientação de vendas. A orientação para o mercado deve, então, ser entendida como um conjunto de comportamentos e procedimentos relativos ao ambiente externo, permitindo que as organizações orientadas para o mercado se consigam posicionar adequadamente para poder responder, também, às necessidades emergentes dos seus clientes (Matsuno et al., 2002). Podendo-se, então, considerar que estes pressupostos de gestão interna conduzam ao uso de ferramentas de gestão externa mais condicentes com o conceito de orientação para o mercado, pois, os clientes são o principal foco dessa mesma estratégia, consignada através de um conjunto de valores e de crenças, devidamente partilhados 44 no seio organizacional e agindo como elemento de coesão quanto ao alcance do desempenho organizacional (Deshpandé & Webster, 1989; Heiens, 2000; Vázquez et al., 2002). No decorrer de muitas décadas, sempre houve o entendimento de que um negócio que incrementasse a sua orientação para o mercado iria incrementar o seu desempenho (Bouckaert & Peters, 2002) e que aquela deve ser considerada como o núcleo das ações de gestão de marketing e de estratégia (Narver & Slater, 1990). O conceito de orientação para o mercado tem o seu fundamento original na conceptualização de marketing que se pretende afirmar através de um pensamento institucional, ou de um princípio de gestão, que se baseia na integração e coordenação das atividades de marketing cujo primeiro objetivo é a satisfação dos clientes de modo a que se consiga alcançar a maximização dos resultados a longo prazo (Kirca, 2011). Ora, para poder alcançar uma sobrevivência de longo prazo, num contexto competitivo, as empresas não podem deixar de considerar uma perspetiva de gestão coerente com esse mesmo longo prazo (Narver & Slater, 1990). De um modo geral, as empresas só poderão ser consideradas como tendo uma orientação para o mercado se forem capazes de perceber as energias que nele atuam e, especialmente, se todos os seus diferentes papéis institucionais forem decorrendo conjuntamente, com a capacidade organizacional de tomar decisões em conjunto e de as realizar com comprometimento (Sampaio et al., 2006). De alguma forma, Gronoos (1995) já defendia este referencial de valores dirigidos para os clientes, quando afirmava que o objetivo do marketing, particularmente do relacional, era conquistar e reter clientes. Então, para serem orientadas para o mercado, considerando que as organizações orientadas para o mercado são as que são capazes de realizar ações consistentes através do recurso às bases do conceito de marketing, enquanto filosofia de negócio e política organizacional, as organizações, nestas condições, devem promover a auscultação das necessidades e preferências dos consumidores e, sobretudo, disseminar a informação assim obtida pelo todo organizacional (Kohli & Jaworski, 1990). É, assim, necessário conhecer o mercado (atual e potencial), partilhar a informação obtida e agir em consonância com esse mesmo conhecimento. Porém, circunstancialmente, é necessário fazer a distinção entre orientação para o cliente e orientação para o mercado, considerando que a primeira perspetiva se focalizava na satisfação das necessidades objetivamente expressas pelos clientes e que a segunda vai mais além, ao desenvolver todo um pensamento de longo termo, 45 associado à intenção de satisfazer, também, as necessidades latentes dos referidos clientes, para o que se deve recorrer ao conhecimento do mercado através da recolha de informação, depois à sua partilha interna e, finalmente, à ação que daí deve resultar (Hult & Ketchen Jr., 2001; Matsuno et al., 2002). Esta conceptualização também foi estabelecida por Narver & Slater (1990) ao afirmarem que uma orientação para o cliente, numa perspetiva de mercado, implicava que o vendedor percebesse a totalidade da cadeia de valor do comprador, não apenas tendo como referência a atualidade, mas também a forma como decorrerá a sua evolução, através do tempo, sujeita às dinâmicas internas do mercado. A perspetiva de gerar e disseminar informações de mercado, de modo a haver condições para ir ao encontro das reais necessidades dos clientes e assim consubstanciar o desempenho nos diferentes mercados abordados, é transversalmente validada pela generalidade dos estudos académicos (Hult & Ketchen Jr., 2001; Kirca, 2011). Tradicionalmente, os clientes sempre foram considerados como o alvo da focalização de uma orientação para o mercado que, em conformidade com a conceptualização de marketing, não ignora as necessidades expressas por esses mesmos clientes, mas esforça-se, também, para alcançar, em termos da sua satisfação, aquelas que ainda são latentes, representando, assim, uma orientação para a aprendizagem, que pode ser segmentada (i) numa orientação reativa (market-driven) em que se procura descobrir, perceber e satisfazer as necessidades objetivamente expressas pelos clientes e (ii) numa orientação pró-ativa (market-driving) em que se manifesta a efetiva preocupação com as referidas necessidades latentes desses mesmos clientes (Slater & Narver, 1995; Heiens, 2000; Hult & Ketchen Jr., 2001; Jaakkola et al., 2010). Segundo Hughes et al. (2008), a investigação recente tem-se vindo a debruçar sobre a questão de como é que a aprendizagem organizacional pode fomentar benefícios, quer do ponto de vista da abordagem pró-ativa quer da reativa, da orientação para o mercado, através de uma focalização nas competências core da organização. Considerando que existe uma multitude de definições do conceito de orientação para o mercado, no conjunto da literatura, ele é, no entanto, representado por uma cultura organizacional dedicada a entregar valor de nível superior aos clientes, a qual se manifesta através das atividades e procedimentos organizacionais representando uma geração e disseminação, pelo todo organizacional, de ações tendo por base critérios de informação estruturada (Sorensen, 2005). Esta mesma perspetiva também é defendida por Jaworski, Kohli & Sahay (2000) que consideram que, apesar de existir alguma discordância na exata definição do conceito, a filosofia geralmente adotada estabelece que a orientação para o mercado representa 46 uma aprendizagem sobre o desenvolvimento do mercado, partilhando esta informação com os colaboradores da organização de modo a que se processem as adaptações necessárias na oferta, as quais permitirão ir ao encontro da evolução do referido mercado. Rodrigues (2004) considera que a orientação para o mercado se distingue do mero conceito de aplicabilidade do marketing, na medida em que o suplementa através de uma dupla abordagem que integra uma perspetiva cultural e uma outra de gestão, agregadoras de quatro dimensões, postuladas na ênfase no cliente, na importância da informação, na coordenação interfuncional e na resposta estruturada da organização. A orientação para o mercado está, pois, fortemente relacionada com uma orientação para a aprendizagem, tendo nela um forte impacto, assim permitindo uma maior focalização organizacional nos mercados abordados, posicionamento operacional que incrementa significativamente as condições do desempenho (Kirca, 2011; Vieira, 2010). Porém, e apesar da multitude de definições, já anteriormente referida, e da muita literatura que foi aparecendo nos últimos vinte anos sobre a orientação para o mercado, esta questão parece ter um desfecho generalizadamente aceite quando se interpretam os dois enquadramentos que dominam a comunidade científica, o proposto por Narver & Slater (1990) que “… defende a abordagem (organizacional) culturalmente orientada …” e o de Kohli & Jaworski (1990) que propõe uma “… abordagem comportamentalmente orientada …”, estabelecendo este último que a orientação para o mercado é a implementação do conceito de marketing que postula que as organizações devem focalizar-se em ir ao encontro dos desejos e necessidades dos seus clientes (Davis, Babakus, Englis & Pett, 2010;477). Este enquadramento considera que uma conceptualização olha para a orientação para o mercado como uma forma de cultura organizacional e que a outra relaciona o mesmo conceito com um fluxo intraorganizacional de informação cujos componentes estão perfeitamente identificados (Harris & Watkins, 1998). Assim, a perspetiva comportamental da orientação para o mercado examina as atividades organizacionais que se relacionam com a geração de informação, com a sua disseminação e com a capacidade de resposta a essa mesma informação, segundo o paradigma postulado por Kohli & Jaworski (1990), e a perspetiva cultural focaliza-se nos normativos e nos valores da organização que encorajam comportamentos que sejam consistentes com a orientação para o mercado, agora segundo o paradigma de Narver & Slater estabelecido em 1990 (Hughes et al., 2008). Estas duas abordagens distintas, a comportamental e a cultural, partilham a noção intrínseca de que o consumidor tem um papel de centralidade na manifestação dos 47 princípios da orientação para o mercado e de que os diferentes stakeholders conseguem moldar as necessidades e expectativas dos clientes (Cano et al., 2004). Marketing orientation será, então, uma cultura empresarial conducente à criação de valor superior para os seus clientes, e também para si, através de uma focalização nas necessidades desses mesmos clientes e na rentabilidade de longo prazo, colocando o cliente no centro do pensamento estratégico e da operacionalidade da empresa (Heiens, 2000; Becherer et al., 2001). A orientação para o mercado tem, pois, efetivamente, um papel importante no sucesso organizacional, sendo, contudo, relevante também considerar uma focalização organizacional de longo prazo e vocacionada para a rentabilidade, assim, promovendo uma melhor sustentação do desempenho da organização (Hult & Ketchen Jr., 2001; Jaakkola et al., 2010). Assim, a conceptualização do marketing, enquanto um marco do moderno ensino da disciplina, considera que para alcançar um nível de sucesso devidamente sustentado, as empresas devem identificar e satisfazer as necessidades dos seus clientes de maneira mais eficaz do que os seus concorrentes, pelo que qualquer empresa que o faça de forma superior, será a que dominará o mercado (Kirca et al., 2005; Zhou, Chao & Huang, 2009). Esta abordagem do mercado, pela via da satisfação dos clientes, é ainda mais eficaz quando a incerteza das condições da procura aumenta, ou seja, em ambientes mais competitivos é fulcral que as organizações tenham a capacidade para responder prontamente às necessidades dos seus clientes, porque se o não fizerem, os concorrentes lançarão no mercado produtos mais afinados para com essas necessidades e cativarão, para si, esses mesmos clientes (Dawes, 2000; Zhou, Brown et al., 2007). Este princípio genérico, cujo objetivo é o de garantir sucesso a longo prazo, tem sido universalmente admitido pelos investigadores e pelos profissionais há já várias décadas, sendo normalmente designado por orientação para o mercado, conforme anteriormente definido por Narver & Slater (1990). Narver & Slater (1990; 21) estabeleceram, então, a definição de orientação para o mercado como “A cultura organizacional que mais eficaz e eficientemente desenvolve os comportamentos necessários para a criação de valor superior para o comprador e, assim, constante e continuado superior desempenho para a atividade de negócio.” A orientação para o mercado pode, contudo, ser afetada por diferentes características contextuais quer da organização, como a sua dimensão e o tipo de produtos que comercializa, quer do ambiente onde opera, como a intensidade competitiva e a turbulência tecnológica, quer, finalmente, da dimensão cultural nacional (Grinstein, 48 2008a), característica esta em que este autor, na sua abordagem, segue integralmente a conceptualização de Geert Hofstede, ou seja, considerando as dimensões de “individualismo versus coletivismo, distanciamento de género, estratificação hierárquica, redução da incerteza e orientação de longo prazo”3. Assim, a orientação para o cliente deve ser encorajada entre todos os empregados, não se limitando àqueles que interagem diretamente com clientes externos, na medida em que todos os trabalhadores que têm intervenção na produção e comercialização dos produtos vão afetar os resultados da organização, razão pela qual as organizações para poderem desenvolver uma orientação para o mercado devidamente sustentada devem aumentar a adoção dos conceitos do marketing interno e da orientação para o mercado interno (Gummesson, 1987; Lings & Greenley, 2010; Tortosa-Edo et al., 2010). Para tal, o papel da gestão de topo, acrescido, obviamente, pelo dos empregados em termos individuais, tem sido identificado como um fator de grande importância para a disseminação da orientação para o mercado (Zhou, Chao & Huang, 2009), a qual representa a resposta do todo organizacional à procura corrente exercida pelo mercado (Li et al., 2008). A gestão de topo, obviamente, associada a outros fatores, como a interdepartamentalização e os sistemas organizacionais, deve representar a fundamentação procedimental da orientação para o mercado (Kirca et al., 2005). Para as empresas ocidentais, por comparação com as de outras regiões, na medida em que os valores de individualismo e de pouca estratificação hierárquica identificados no seio organizacional permitem uma mais apropriada geração, e uma melhor disseminação, de informação sobre o mercado, é mais fácil desfrutar de relações mais estreitas entre a orientação para o mercado e o desempenho (Ellis, 2006). A origem dos estudos sobre a orientação para o mercado, e respetivo impacto no desempenho dos resultados, é identificada nos Estados Unidos da América e particularmente focada nas organizações empresariais, contudo, com o decorrer dos anos, este princípio tem-se espalhado de forma global, tal como a eficácia do seu impacto no desempenho organizacional (Cano et al., 2004; Sampaio et al., 2008; Zhou, Chao & Huang, 2009). Zhou, Chao & Huang (2009) identificam três variáveis para poderem proceder à criação de um modelo de mensuração dos antecedentes organizacionais que permitam conduzir a este princípio de gestão e ao seu posterior impacto. As variáveis 3 http://www.geert-hofstede.com/ (acedido em fevereiro 2011) 49 identificadas como pertinentes foram (i) empenhamento profissional – considerada como um fator de orientação da carreira profissional do indivíduo, (ii) educação e/ou aprendizagem profissional – associada à dedicação colocada na continuidade do desenvolvimento de skills profissionais e (iii) conhecimentos de gestão – considerada como uma continuidade dirigida da formação específica em gestão. Estas variáveis devem ser entendidas, ao nível do indivíduo, como determinantes para percorrer o processo conducente à orientação para o mercado do todo organizacional, quer nele sejam realizadas atividades terciárias como atividades do setor secundário O conceito de orientação para o mercado, apesar da relevância que tem na produção científica sobre marketing, continua, ainda, a ser uma prioridade investigacional (Cano et al., 2004; Lings & Greenley, 2010; Rodrigues & Pinho, 2010), justificando a ocorrência de novos trabalhos, considerando diferentes formas de abordagem. Assim, conforme Kohli & Jaworski (1990), a orientação para o mercado, entendida como a base do conceito de marketing, integra um conjunto de atividades fulcrais replicando uma filosofia de negócio numa determinada realidade através de três vetores fundamentais: (i) geração de informação, (ii) disseminação de informação e (iii) capacidade de resposta à informação gerada e consequente distribuição no “mercado” (Lings, 2004; Gounaris, 2006; Rodrigues & Pinho, 2010). A utilização destes vetores implica o recurso a políticas e competências necessárias para a obtenção de informação estratégica chave, assim como a construção de redes de comunicação interna para partilha da informação e a criação de uma estratégia de resposta (Schlosser & McNaughton, 2009). Considerando que são críticos os componentes anteriormente identificados para recolher, disseminar e responder à informação do mercado, eles contribuem de forma equitativa para o constructo da orientação para o mercado (Zhou, Brown et al., 2007). Então, a orientação para o mercado, segundo o modelo de Kohli & Jaworski (1990), abrange não só comportamentos mas, também, toda uma outra série de atividades organizacionais vocacionadas para o entendimento e condicionamento do mercado, associadas a um enquadramento cultural que permita desenvolver uma mais adequada, logo mais adaptada, orientação para a autoaprendizagem organizacional (Kwon & Hu, 2000; Farrell, 2000). Parece ser este o mesmo entendimento de Raposo et al. (2010) ao considerarem que, após o tratamento inerente à geração e disseminação da informação, é essencial, com base no prévio conhecimento do mercado, que haja capacidade de transformação do conhecimento adquirido em ações efetivas que se reflitam nas necessidades e desejos correntes dos atuais e potenciais clientes. 50 Nesta ótica, é importante que as empresas procurem identificar as necessidades latentes que se perspetivam no mercado, de modo a que possam evoluir através da inovação e do desenvolvimento de novas janelas de oportunidade, podendo, assim, encontrar novos meios para proporcionar valor aos clientes, num enquadramento das suas estratégias de orientação para o mercado, integrando uma cultura de negócio que, mais eficaz e eficientemente, alcance os desejados níveis de valor superior para os clientes (Narver & Slater, 1990; Farrell, 2000; Hughes et al., 2008). A orientação para ao mercado, através da geração de informação pode ser considerada como uma fonte de ideias para novos produtos, o que impacta positivamente o grau de inovação das organizações. No entanto, algumas vezes o excesso de focalização no mercado, na produção, nas condições económicas e nos concorrentes pode ser um fator de dispersão das empresas quanto à capacidade de estruturar o seu desempenho (Vieira, 2010). 3.2.2 Uma Primeira Abordagem à Abrangência Relacional do Desempenho A implantação das práticas de orientação para o mercado interno e de orientação para o mercado, nas organizações, requer o pleno alinhamento das pessoas, dos processos e das políticas e/ou estratégias de modo criar níveis superiores de valor quer para os públicos internos, quer para os externos. Neste alinhamento, muito do trabalho anteriormente realizado na área da orientação para o mercado tem-se focado no relacionamento entre comportamentos orientados para o mercado e desempenho, havendo já um vasto número de estudos que suporta a ideia de que a orientação para o mercado valoriza, consistentemente, o desempenho organizacional (Rodrigues & Pinho, 2010). A orientação para o mercado, ao permitir às organizações despistarem e responderem às mudanças de paradigmas do consumo, está diretamente associada ao desempenho da organização (Crandal, 2002; Vieira, 2010). As empresas verdadeiramente orientadas para o mercado mantêm uma constante atenção às suas vantagens competitivas, através de continuados esforços de orientação para o mercado realizados com plena adequação temporal e que conduzem à constante melhoria do desempenho operacional da organização, pelo que a orientação para o mercado permite estabelecer as normas e as crenças que moldam o esforço organizacional integrado para responder eficaz e eficientemente a clientes e a concorrentes, entendendo-se, assim, que a orientação para o mercado tem um efeito positivo no desempenho das empresas (Chang et al., 1999; Zhou, Brown et al., 2007). Posição idêntica é, também, defendida por Morgan et al. (2009) ao afirmarem que quer os investigadores dedicados à estratégia, em termos de gestão pura, quer os 51 investigadores dedicados ao marketing, reconhecem que a orientação para o mercado proporciona às empresas uma fonte de vantagens competitivas. Assim, as empresas consideradas de alto desempenho, em termos de orientação para o mercado, dependem de uma propensão continuada para a construção de estratégias consentâneas de decisão e de ação, o que é essencial para evitar que se tornem apenas excessivamente reativas às necessidades dos clientes (Hughes et al., 2008). Numa perspetiva de focalização no cliente, a orientação para o mercado deve ser entendida como a capacidade que as empresas demonstram para obter e usar informação, desenvolver um plano estratégico baseado na informação obtida e implementar procedimentos para responder às necessidades dos clientes. Desta forma a orientação para o mercado pode ser vista como um antecedente importante dos comportamentos que venham a originar inovação de produtos, de atitudes, de atividades e de desempenho (Li et al., 2008). Ora, apesar da principal corrente de investigação sobre orientação para o mercado se focalizar nas trocas entre a organização e os mercados exteriores, esta abordagem tem sido, ultimamente, alterada ao ser considerado de igual importância a focalização nos públicos internos (Lings, 2004; Rodrigues & Pinho, 2010), assim, conferindo novas possibilidades de enquadramento investigacional. Existem, no entanto, estudos que consideram que a prossecução no sentido do desenvolvimento de elevados níveis de orientação para o mercado pode implicar um conjunto alargado de dificuldades, com triggers como o desconhecimento do conceito de orientação para o mercado, os recursos limitados, a perceção inapropriada da realidade, a satisfação com a atual situação, a visão de curto prazo, a perceção desfocada do cliente e a falta de diferenciação competitiva, que vão militar contra uma focalização adequada nas tendências e necessidades do mercado (Harris & Watkins, 1998). Contudo, sendo a orientação para o mercado decorrente de uma orientação para as pessoas dentro das organizações, através de um conjunto de atitudes de gestão, amigáveis para com os empregados, e operacionalizado pela orientação para o mercado interno, é natural que, com os gestores ao interagirem com os empregados, mantendo um fluxo contínuo de informação, de modo a alcançar a sua satisfação e assim melhorar a sua atitude em geral e os seus comportamentos específicos diários para com os clientes externos em particular, se possa considerar maioritariamente colmatas as falhas conducentes a níveis menos bons de desempenho (Rodrigues & Pinho, 2010; Tortosa-Edo et al., 2010). Assim, a relação verificada entre as diferentes dimensões da orientação para o mercado interno e inseridas no processo de comunicação, devem seguir uma 52 determinada ordenação sequencial (geração de informação interna, disseminação dessa informação e capacidade de resposta na sua distribuição), sendo que este procedimento relacional é já considerado como um fator da orientação para o mercado (Tortosa-Edo et al., 2010; Rodrigues & Pinho, 2010; Raposo et al., 2010). Então, aquando da iniciação do processo de orientação para o mercado através das ações dos empregados, estes estão a internalizar os valores assumidos para a orientação para o mercado, enquanto procedimento do todo organizacional, eventualmente traduzido em ações de relacionamento interno e externo, à medida que se vão criando atitudes comportamentais que reflitam a aquisição, a partilha e a capacidade de resposta ao pulsar dos mercados (Schlosser & McNaughton, 2007). Assim, as capacidades organizacionais devem ser consideradas dinâmicas quando permitem que as empresas implementem novas estratégias que reflitam a mudança das condições do mercado, combinando e transformando recursos disponíveis em novas e diferentes trajetórias conducentes a melhores níveis de desempenho (Morgan et al., 2009). O grau de orientação para o mercado, e consequente capacidade para obter níveis mais elevados de desempenho, praticado por uma empresa, depende largamente da escolha e da quantidade de recursos que se aloca a tal objetivo estrutural, estando as empresas à procura de resultados específicos normalmente respeitantes a níveis superiores de desempenho operacional, financeiro e competitivo (Anderson et al., 1984; Li et al., 2008; Gray, 2008). As consequências da adoção de uma orientação para o mercado têm sido objeto de vários estudos de marketing sendo que a maioria deles se focaliza no seu impacto no desempenho da atividade empresarial, emergindo, então, a orientação para o mercado, como um indicador significativo do presumível grau de sucesso organizacional de longo prazo (Deshpandé & Farley, 1998; Cano et al., 2004; Kirca et al., 2005; Castro et al., 2005; Rodrigues & Pinho, 2010). 3.3 Marketing Interno, Orientação para o Mercado e Desempenho A maioria dos estudos realizados sobre a relação de atitude dos empregados com as empresas, no respeitante a fatores como satisfação, empenhamento e envolvimento, concentrou-se, exatamente, no binómio atitude / desempenho e esses estudos fornecem evidência de que as atitudes dos empregados estão relacionadas com o desempenho organizacional, havendo demonstração de que a orientação para o mercado está relacionada com atitudes e comportamentos dos empregados (Schneider et al., 2003; Lings & Greenley, 2010). 53 Ultimamente, o fluxo investigacional tem-se dedicado a perceber a relação entre os mecanismos internos que impactam no sucesso do marketing, enquanto ferramenta relacional, nomeadamente a orientação para o mercado interno (Gray, 2008). A orientação para o mercado tem um impacto positivo na satisfação dos clientes, na capacidade competitiva da empresa, na compatibilidade comportamental, na retenção dos colaboradores e nas suas próprias atitudes (Lings & Greenley, 2005; Gray, 2008), tal como “… tem um forte impacto no lucro.” (Vieira, 2010; 53). Esta relação biunívoca não é fácil de objetivar através de indicadores financeiros e de mercado, no entanto, apesar de tudo, foi encontrada uma correlação muito positiva entre um conjunto de variáveis, tais como satisfação com a segurança do emprego, satisfação salarial e satisfação geral com o trabalho, e indicadores de performance financeira (com por exemplo o retorno de capitais) e indicadores de performance de mercado (como por exemplo os ganhos por ação) (Schneider et al., 2003), indo, assim, suportar a análise crítica deste trabalho. 3.3.1 Fatores Promotores do Desempenho O entendimento de orientação para o mercado centra-se na capacidade das empresas recolherem, distribuírem e reagirem acerca da informação respeitante ao mercado onde operam ou pretendem operar, permitindo estabelecer uma centralização convergente para as distintas intervenções, quer individuais quer departamentais, da organização, assim sendo possível alcançar níveis de desempenho superiores (Kohli & Jaworski, 1993; Harris & Piercy, 1997; Rodrigues, 2004). A orientação para o mercado fomenta uma focalização agregada para o esforço e os projetos, quer individuais quer da organização, no sentido da prossecução de níveis superiores de desempenho, pelo que a plena implementação do conceito conduz os empregados a sentimentos de orgulho e regozijo por pertença a uma organização em que existe uma orientação departamental para o cliente, assim contribuindo para um pulsar de satisfação e de comprometimento com as metas e objetivos do coletivo institucional (Backhaus & Bauer, 2000; Sampaio, 2008). Acresce, ainda, que a orientação para o mercado conduz a melhores soluções de entrega relativamente às necessidades e preferências dos clientes, o que, por sua vez, se reflete num maior grau de satisfação e de mais envolvimento com a organização e, portanto, melhores condições de desempenho, proporcionando às empresas um sentido de mercado e uma especial ligação com os clientes, indo ao encontro das suas necessidades e da criação de valor para o consumidor (Rodrigues, 2004; Raposo et al., 2010; Kirca, 2011). 54 De salientar, todavia, o facto de que as empresas que iniciam a implementação do conceito de orientação para o mercado nas suas práticas, poderem não vir a obter plenos resultados senão anos após esse início (Cano et al., 2004). Esta mesma perceção também é tida por Gray (2008) quando considera que as estimativas sugerem que aproximadamente 70% das iniciativas estratégicas das empresas falham no estádio da implementação, particularmente, no respeitante à execução dos programas de marketing. No respeitante à criação de valor para o consumidor, a orientação para o mercado enfatiza a competitividade baseada na identificação dos desejos dos consumidores e na oferta de produtos que sejam diferentes ou melhores do que os da concorrência (Liu, 1995; Raposo et al., 2010). Assim, existirá um efeito positivo da orientação para o mercado, enquanto conceito de marketing, na rentabilidade das organizações e, considerando o potencial deste efeito sobre o desempenho, a orientação para o mercado tem um papel contributivo determinante para o estabelecimento das estratégias de negócio das organizações (Chang et al., 1999). Nesta perspetiva, a investigação realizada aponta para que a orientação para o mercado seja um fator propiciador de sensibilidade para o mercado e de relacionamento com os clientes, conduzindo as empresas a um desempenho organizacional superior, através do aumento da satisfação dos clientes e da sua lealdade (Backhaus & Bauer, 2000; Dawes, 2000; Hughes et al., 2008; Li et al., 2008; Kirca, 2011). Há, no entanto, autores que consideram que a existência de uma orientação para o mercado tout court, pode não ser um fator que fomente a plena vontade de, por parte da organização, arcar com o nível de risco necessário que lhe permita usufruir completamente das oportunidades disponibilizadas pelo mercado e que uma orientação para o mercado de cariz meramente reativo pode conduzir a problemas de eficácia e a níveis de desempenho negativos se não for devidamente complementada por influências de cariz pró-ativo, considerando que a qualidade dos comportamentos adotados na orientação para o mercado deve ser tão determinante quanto a própria orientação para o mercado (Henderson, 1998; Matsuno et al., 2002; Hughes et al., 2008). Contudo, é possível considerar que existe real e efetivamente um efeito positivo da orientação para o mercado na eficácia organizacional e que vai para além dos resultados financeiros, refletindo-se noutros fatores que beneficiam os clientes, a empresa e os seus colaboradores, assim como a sociedade em geral. 55 Nesta perspetiva, os aspetos que, de forma geral, mais são considerados como beneficiadores dos clientes são os maiores níveis de satisfação e mais acesso a melhores produtos. Já para a empresa, os benefícios verificam-se ao nível da capacidade de inovação, de uma maior propensão para o empreendedorismo, de uma mais forte integração interdepartamental e de um maior empenhamento dos seus colaboradores. Para estes, os benefícios encontram-se, particularmente, ao nível da melhor integração no ambiente profissional e, finalmente, para a sociedade em geral estes benefícios verificam-se, essencialmente, na promoção de uma mais adequada orientação ecológica assim como na obtenção de melhores serviços públicos (Cano et al., 2004). Assim, entendendo-se que a orientação para o mercado tem fatores influenciadores a montante, na operacionalização do marketing interno é importante que se verifique uma afinação da prática do marketing externo ao contexto da relação empregadorempregado, num ambiente de mercado interno, desenvolvendo uma conceptualização de orientação para o mercado interno, implicando a verificação de consequências positivas quer para a empresa quer para os seus empregados, exatamente da mesma forma que a orientação para o mercado tem consequências positivas para a empresa e para os seus clientes externos (Lings & Greenley, 2005). O marketing interno requer, pois, a formulação de uma atitude comportamental permanente de resposta aos colaboradores das organizações, estabelecida em termos de recompensas e outras formas de motivação, em termos de formação, recrutamento, comunicação interna, apoio dos gestores e outras atividades de índole estratégico para poder dar continuidade e apoiar a orientação para o mercado promovida pela empresa (Panigyrakis & Theodoridis, 2009). Se as organizações não conseguem, junto dos seus empregados, promover sensibilização, competência, destreza operacional e motivação para agirem de forma orientada para o mercado, podem ter que enfrentar a resistência desses mesmos empregados e, eventualmente, não conseguir atingir resultados positivos nas iniciativas de orientação para o mercado (Schlosser & McNaughton, 2009). Estudos já realizados sobre as principais preocupações dos gestores quanto à relação empregador / empregado, estabelecem que no recurso assertivo aos canais de comunicação, numa perspetiva iminentemente relacional, o envolvimento e o desenvolvimento dos empregados representam o redesenhar de uma nova forma de encarar as relações comerciais conducente à perceção predominante da relação final entre os empregados e a satisfação dos clientes (Varey & Lewis, 1999). 56 3.3.2 Desempenho Os mecanismos de relação com os clientes, conducentes à sua satisfação e fidelização, facilitam a conversão das atividades sustentadas pela orientação para o mercado em fatores de incremento do desempenho, em geral, e da sua componente financeira, em particular (Kirca, 2011). Nesta mesma perspetiva, é importante poder considerar os conceitos de segmentação e de posicionamento, enquanto variáveis estratégicas de marketing, pois negligenciálos pode conduzir a níveis inferiores de desempenho independentemente das outras estratégias que as empresas se proponham configurar, incluindo os níveis de prossecução de marketing interno e de orientação para o mercado, devendo-se perceber a comunicação como a chave para a disseminação da informação, podendo aquela ser melhorada e realçada através do aumento nos níveis de coesão entre e dentro dos diferentes departamentos que constituem a organização (Kwon & Hu, 2000; Zolfagharian & Cortes, 2010). É assim que se entende que um dos elementos fundamentais para alcançar qualidade no relacionamento empresarial externo é a satisfação global dos empregados e que isto é alcançável através do marketing interno, designado por orientação para o empregado, e devidamente consubstanciado na orientação para o mercado interno, necessitando as empresas de primeiramente garantir a satisfação dos seus empregados antes de conseguirem alcançar a satisfação dos consumidores (Gounaris, 2008a; Tortosa et al., 2009). Então, a identificação e sustentação de um serviço de qualidade prestado pelos colaboradores e vocacionado para o cliente é uma dimensão estratégica crítica para as organizações (Dowes & Rowley, 1999), estando relacionada com a interação entre comprador e vendedor e com os resultados daí obtidos para ambos, logo consignada através de comportamentos orientados para o mercado que são praticados pelos empregados das organizações (Schlosser & McNaughton, 2009). Logo, algumas atividades de gestão realizadas no interior e para o interior da organização, tal como os sistemas de recompensa, impactam diretamente os comportamentos de marketing dos empregados, permitindo concluir que estas atividades, expressamente focalizadas, ou seja, conceptualmente impregnadas de uma orientação para o mercado interno, são um avultado determinante para o sucesso da orientação para o mercado (Harris, 2002; Lings & Greenley, 2010). Este mesmo entendimento é também defendido por Morgan et al. (2009) e por Shiu & Yu (2010) quando consideram que muitos académicos encontraram evidências sustentando o ponto de vista de que uma organização com uma cultura orientada para o mercado interno tem mais hipóteses de ter sucesso ao operar no mercado externo. 57 Porém, a conexão que se pode encontrar entre a orientação para o mercado e os outcomes daí decorrentes é influenciada por determinadas circunstâncias que podem alterar esta linearidade, ou seja, nem sempre o mesmo modelo de orientação para o mercado corresponde ao mesmo nível de desempenho (Rodrigues, 2004), pois, apesar da relação positiva entre as atitudes agregadas dos colaboradores e o desempenho, ela é, contudo, complexa, sendo mais evidente numas organizações do que noutras e, para além disso, o desempenho atua direta e positivamente nas próprias atitudes dos empregados, construindo-se, assim, um ciclo de interdependência mútua (Schneider et al., 2003). Apesar disto, Rodrigues (2004) refere que existe sempre, no entanto, uma relação positiva entre a orientação para o mercado e o desempenho, independentemente do ambiente em que ela decorre, ou seja o seu contexto de negócios, sendo esta mesma perspetiva defendida, também, por Brik et al. (2011). Tortosa-Edo et al. (2010; 1281) afirmam, relativamente às atitudes dos colaboradores, que, “… é argumentado […] que a adequada gestão do pessoal em contacto conduz a um incremento da interação empregado-cliente e desta maneira promove o sucesso no mercado externo.”. Este mesmo entendimento também é defendido por Rodrigues & Pinho (2010) quando consideram que as condições praticadas pelas organizações ao recrutarem e selecionarem adequadamente, ao capacitarem os colaboradores com autonomia e ao incutir-lhes um espírito vocacionado para o seu papel relacional com os clientes, assim promovendo a sua satisfação, de alguma forma estão a fazer a ponte com os objetivos do marketing interno e sustentando o impacto positivo entre a orientação para o mercado interno e orientação para o mercado. Percebe-se, então, que o marketing interno produz influência no entendimento dos consumidores, no que diz respeito à qualidade fornecida e consequente satisfação (Malhotra & Mukherjee, 2004; Javadein et al., 2011). O domínio deste entendimento, a todos os níveis, é cada vez mais visto como a chave para o sucesso de uma qualquer organização, particularmente para as empresas (Shiu & Yu, 2010). Assim, uma orientação para o mercado interno é importante para o desenvolvimento e sustentação de uma orientação para o mercado, a qual requer um alinhamento de pessoas, processos e políticas e/ou estratégias com o objetivo último de criar valor superior para a relação organizacional com o cliente, considerando que o reforço dos comportamentos orientados para o cliente é a chave do marketing interno, traduzindo-se, por sua vez, no aumento da satisfação dos clientes e no desempenho do negócio (Conduit & Mavondo, 2001; Rodrigues & Pinho, 2010; Shiu & Yu, 2010). 58 3.3.3 Implicações do Marketing Interno no Desempenho Esta nova relação com os empregados, ou orientação de marketing, vai fazer com que os gestores tenham necessidade de repensar os seus papéis, reconhecendo, essencialmente, os processos necessários para que o valor acrescentado final seja obtido tanto para os clientes externos como para os internos (Varey & Lewis, 1999). O marketing interno que parece ser algo simples e do senso comum, pois é evidente o reconhecimento de que quando os empregado são bem tratados irão tratar os clientes da mesma forma, suscita, porém, e apesar disso, ainda alguma dúvida sobre como é que ele deve ser incluído na organização e quem é que o deve operacionalizar, se estritamente a gestão de marketing ou se a gestão dos recursos humanos. É, pois, natural que uma orientação para o mercado bem consistente com estratégias de marketing focado nos clientes seja fundamentada num marketing interno de sucesso focado nos empregados (Joseph, 1996), assim contribuindo para um desempenho da organização de nível superior. Estes pressupostos, mesmo não sendo plenamente generalizáveis, segundo Schneider et al. (2003), indiciam um caminho passível de ser trilhado em conformidade com os objetivos gerais deste trabalho, mesmo considerando a existência de vários fatores mais ou menos facilitadores que extravasam o pleno controlo de uma instituição de per si, num período temporal de curto ou mesmo médio prazo (Dawes & Rowley, 1999). No séc. XXI, é impensável que as empresas possam considerar manter barreiras entre funções e departamentos, pois, o sucesso final só é alcançado com a integração interna da organização, sendo que o marketing interno, ao ser um guideline entre pessoas, funções e departamentos, apreciando sistematicamente as necessidades, aspirações e custos de cada um, é a ferramenta primordial em todo o processo de networking conducente a um bom desempenho (Ahmed & Rafiq, 2003). As atitudes e comportamentos demonstrados pela força de trabalho determinam a qualidade relacional percebida pelo cliente externo (Rifai, 2005) e, consequentemente, o seu grau de satisfação, pelo que é essencial cativar os empregados para a adoção de uma perspetiva de marketing, designada por marketing interno, no sentido de favorecer as suas atitudes e, assim, possibilitar o alcançar do sucesso organizacional junto do mercado externo (Tortosa et al., 2009). Pode-se, então, considerar que os empregados são os maiores marketers das organizações, vendendo uma servitization de excelência, criando satisfação junto dos clientes e melhorando o desempenho (Shiu & Yu, 2010), tendo o empenhamento profissional sido identificado na investigação já realizada como uma dimensão de muita importância para o sucesso organizacional (Zhou et al., 2009), havendo estudos 59 que evidenciam que as mudanças positivas no comprometimento organizacional têm efeito sobre a satisfação dos empregados (Samad & Yusuf, 2012). Uma empresa orientada para o mercado está, pois, constantemente a desenvolver novas formas de melhorar a qualidade da sua oferta, reforçando a sua valorização junto dos compradores, já que um contacto desagradável, devido à prestação de um serviço de pouca qualidade, pode conduzir a uma forte reação negativa por parte dos clientes (Chang et al., 1999), pelo que, então, a entrega e/ou prestação de serviços de forma apropriada deve ser uma preocupação dominante de todas as organizações. 3.3.4 Implicações da Orientação para o Mercado no Desempenho A adoção de uma orientação para o mercado pode ajudar uma qualquer organização, prestadora de serviços ou não, a desenhar e oferecer um mix de serviço que seja perfeitamente entendido pelos clientes como sendo de qualidade superior, estando assim, simultaneamente, a contribuir para o estabelecimento de vantagens competitivas da empresa e para a sua lucratividade, enquanto fatores conducentes a um desempenho operacional desejável. A orientação para o mercado é um importante determinante da lucratividade e consequentemente do desempenho, pois a atividade a que esteja associado o maior índice de orientação para o mercado será aquela que maior lucratividade terá (Narver & Slater, 1990). Nesta perspetiva, as organizações que desenvolvam as competências adequadas, constituídas por um conjunto complexo de skills profundamente integrado na rotina organizacional (Day, 1994), conseguem distinguir-se na exploração das janelas de oportunidade conducentes às desejadas vantagens de posicionamento, normalmente estabelecidas através da oferta inovadora e do serviço melhorado, pelo que virão a beneficiar de um desempenho superior, por comparação com a sua concorrência (Hult & Ketchen Jr., 2001). A adoção de uma orientação para o mercado é, assim, considerada como uma ferramenta importante para alcançar vantagens competitivas e melhorar o desempenho organizacional (Macedo & Pinho, 2006), devendo a organização promover a obtenção dessas vantagens competitivas sustentáveis através da criação de níveis superiores de valor, percebidos pelos seus clientes de forma continuamente sustentada (Narver & Slater, 1990). A orientação para o mercado, deve obedecer a uma rotina operacional, enquanto peça fundamental no desenvolvimento de competências chave na relação do vendedor com o comprador, pois ao serem promovidas condições de fiabilidade para o cliente, estáse a possibilitar que a perceção das condições intangíveis associadas à eficácia 60 relacional da entrega seja um fator de desenvolvimento organizacional (Schlosser & McNaughton, 2009). Qualquer empresa que tenha uma cultura de orientação para o mercado deve conseguir (i) desenvolver capacidades de apreciação para perceber as necessidades atuais e potenciais dos clientes de modo a entregar-lhes mais valor acrescentado (recolha de informação), (ii) promover um sistema próprio de recolha e de partilha de informação respeitante aos atuais e futuros clientes (disseminação da informação) e (iii) instalar uma cultura transversal que lhe permita responder, atempadamente, às mudanças das necessidades dos clientes de modo a conseguir tirar proveito das oportunidades e das ameaças do mercado (resposta à informação) (Kohli & Jaworski, 1990; Morgan & Strong, 1998; Macedo & Pinho, 2006). Este paradigma relacional, que se pretende de longo prazo, implica que a gestão dos recursos humanos deve ser considerada uma peça fundamental na operacionalização do marketing interno cujo maior objetivo é o de motivar os empregados (enquanto stakeholders) para a orientação para o cliente, de modo a que as promessas das campanhas de marketing externo sejam adequadamente cumpridas (Ahmed & Rafiq, 2002). Assim, a prática do conceito de orientação para o mercado interno é uma base de elevado potencial para o desenvolvimento de vantagens competitivas perfeitamente sustentadas e fortalecidas através de relacionamentos fortes com os empregados, promovendo a sua retenção e o seu desempenho individual e coletivo, considerandose que a construção, pela via relacional, de fortes ativos com o mercado é o resultado do investimento em capital intelectual e relacional, enquanto procedimento de gestão de recursos humanos no seio organizacional (Schlosser & McNaughton, 2007; Gounaris, 2008a). Para se alcançar um paradigma relacional de longo prazo entre os distintos atores envolvidos, o que deverá requerer dos gestores o desenvolvimento de uma orientação para o empregado, numa típica perspetiva de marketing, isto é, marketing interno, enquanto aspeto cultural que permita gerar valor para o cliente da organização, constata-se a necessidade de alcançar um equilíbrio satisfatório entre os diferentes agentes (stakeholders) que contribuem (assumindo, também, riscos) para o desenvolvimento das atividades empresariais, entre os quais se encontram, obviamente, os empregados (Donaldson & Preston, 1995; Tortosa et al., 2009). Esta abordagem da stakeholder orientation permaneceu funcional até ao desenvolvimento da new stakeholder vision, que se enquadra num novo paradigma relacional, mais próximo das atividades de marketing, e que defende a necessidade de estabelecer uma estrutura de networking, com relações interativas, na qual os 61 diferentes intervenientes interagem uns com os outros, tornando-se a empresa o núcleo central desse network (Tortosa-Edo et al., 2010). A importância de promover a satisfação dos clientes é algo de plena centralidade no âmbito das estratégias de marketing, pois lucro e crescimento apenas são estimulados através da lealdade dos clientes, a qual depende diretamente da sua satisfação. Assim, todas as questões relacionadas com a prática de uma orientação para o mercado devem estar subordinadas à satisfação dos clientes (Quester & Kelly, 1999), o que implica a recolha continuada de informação, acumulando um capital de aprendizagem e de conhecimento, que permite criar vantagens competitivas e valor de nível superior para o mercado (Chang et al., (1999). A orientação para o mercado e a aprendizagem organizacional contribuem ambas para a capacidade da organização perceber o real pulsar do mercado, sendo que, particularmente, a aprendizagem intraorganizacional deve ser entendida como um recurso fundamental para a obtenção de vantagens competitivas e para a indução de elevados níveis de desempenho (Hughes et al., 2008). Para que uma organização crie e mantenha vantagens competitivas, de forma continuada, ela deve fomentar a sua orientação para o mercado com cabal próatividade, ou seja, necessita de promover constantemente a melhoria das suas capacidades de aprendizagem, para melhor conhecer as particularidades e soluções para o seu mercado alvo, contemplando, obrigatoriamente, as necessidades já expressas e as ainda latentes (Sampaio, 2008). Já Farrell (2000) fazia referência a esta interpretação ao considerar que uma atitude empresarial estritamente de pura orientação para o mercado pode não ser suficiente para a obtenção dos resultados desejados, pelo que a capacidade organizacional para a aprendizagem a um ritmo superior ao dos concorrentes pode ser a única fonte sustentável de vantagens competitivas, especialmente quando se trata de operar em ambientes em constante mudança e onde o fator risco está sempre presente. A orientação para o mercado, enquanto uma configuração determinante da cultura corporativa, apela como primeira prioridade, para a obrigação de criar e manter um valor superior de rentabilidade junto dos clientes, facultando, simultaneamente, uma normalização, generalizada no seio da empresa, que construa percursos que guiem os comportamentos organizacionais, pelo que não se conseguirá desenvolver uma estratégia de orientação para o mercado sem o envolvimento pleno dos empregados (Zhou, Brown et al., 2007; Schlosser & McNaughton, 2007). Assim, é possível considerar que as empresas com maior capacidade de aprendizagem do que a sua concorrência possuem mais bases que lhes permitem suportar um nível de progressão mais acelerado, traduzido por maior sucesso no desenvolvimento de 62 novos produtos, maior lucratividade, mais quota de mercado e maior domínio em termos de oportunidades de mercado. Quer isto dizer que as empresas que difundam maior valor junto dos seus clientes se conseguem posicionar em melhores condições de competitividade estratégica e que quando essas empresas com orientação para o mercado produzem valor para os clientes, isso torna-se, pelo menos temporariamente, raro e difícil de imitar, representando, assim, uma fonte sustentada de vantagens competitivas, as quais permitem que essas empresas tenham melhores desempenhos do que as suas concorrentes com menor grau de orientação para o mercado (Baker & Sinkula, 2009; Liao et al., 2011; Jaakkola et al., 2010). O mesmo entendimento sobre a necessidade de a orientação para o mercado promover rentabilidade organizacional é, de alguma forma, também defendido por Vieira (2010) quando considera que ajudando a orientação para o mercado a que as empresas consigam detetar e responder à mudança nas preferências dos clientes, ela deve estar, obrigatoriamente, associada ao desempenho da atividade desenvolvida. Esta capacidade apresentada pelas empresas é representada por conjuntos complexos de skills e de recursos, embebidos por uma aptidão de aprendizagem coletiva, que, no seu todo, sendo transversais à organização na execução dos seus procedimentos garantem uma superior coordenação das atividades funcionais (Kwon & Hu, 2000). O marketing interno está, pois, relacionado com o desempenho geral das organizações, ou seja, o aumento da satisfação com o trabalho por parte dos empregados vai permitir aumentar o desempenho organizacional ao nível do aumento da rentabilidade, da expansão da quota de mercado e da redução do turnover (Shiu & Yu, 2010). Esta mesma perspetiva de que o marketing interno está relacionado positivamente com o desempenho é particularmente defendida por Tortosa-Edo et al. (2010) ao considerarem que uma adequada gestão do pessoal conduz a uma melhoria da interação do empregado com o cliente e, consequentemente, a um maior sucesso da organização no mercado externo. Porém, Davis, Babakus, Englis & Pett (2010), estabelecem que, singularmente, é argumentável que o género, enquanto variável de plena atualidade, pode ser considerado crítico na condução da ênfase colocada na orientação para o mercado, tal como na moderação da relação desta com o desempenho. Estes autores asseveram que as diferenças que possam ser encontradas em termos de desempenho não emergem do género em si, mas sim da tendência relativa que cada género possa colocar na orientação para o mercado, o que consequentemente irá ter impacto no desempenho. 63 Contudo, numa perspetiva relacional alargada, Tortosa et al. (2009) e Tortosa-Edo et al. (2010), tal como anteriormente considerado por Rousseau (1990), estabelecem que as obrigações são o aspeto chave em qualquer relação de troca social, pelo que lhes está associado o designado contrato psicológico4, entendido como o conjunto de crenças, sustentadas pelos empregados, dizendo respeito às obrigações recíprocas entre eles e os seus empregadores. Este tipo de contrato, fundamentado na Teoria da Equidade, geralmente atribuída a J. Stacy Adams5, assim como a sua interpretação em termos de inputs e outputs, pode-se, então, tornar um elemento relevante para a relação marketing interno / orientação para o mercado interno. O contrato psicológico representa, pois, o valor das promessas trocadas entre o empregado e o empregador, na medida em que quando os empregadores prometem emprego, promoções e oportunidades de desenvolvimento e crescimento, os empregados respondem prometendo desenvolver ações que preencham os valores fundamentais da organização, incluindo as ações conducentes a uma orientação para o mercado de nível superior (Schlosser & McNaughton, 2007). Considerando, então, que as obrigações são o aspeto chave em qualquer relação de troca social, o preenchimento das obrigações do contrato psicológico justifica o estudo da influência que a adoção da orientação para o mercado interno possa ter no desempenho e na atitude dos empregados, medida por níveis de qualidade da prestação dos “serviços”, conforme a perceção dos clientes externos, pois a marketing orientation, considerada em termos globais, tem uma forte relação com o desempenho, através da focalização no cliente (Heiens, 2000; Pelham, 2000; Bechere et al., 2001; Tortosa et al., 2009). As empresas com elevado grau de orientação para o mercado estão, constantemente, a analisar fontes alternativas de vantagens competitivas sustentáveis, de forma a poderem determinar qual a melhor maneira de conseguirem criar, eficazmente, valor superior para o seus cliente alvo, quer os atuais, quer os futuros, conseguindo desenvolver produtos que dão aos consumidores níveis de satisfação acima da média, reduzindo, assim, a sua sensibilidade ao preço e fazendo aumentar o desempenho geral da organização (Li et al., 2008; Zait, Timiras & Nichifor, 2010). São os mercados mais desenvolvidos, caracterizados por boas condições da atividade de negócios, por grande disponibilidade de recursos e por clientes exigentes, que são mais propensos para que a orientação para o mercado funcione mais adequadamente 4 O contrato psicológico é, para Rosseau (1990), representado por um conjunto de crenças individuais dizendo respeito a obrigações recíprocas, praticadas, contratualmente, assumindo a forma escrita ou não, entre empregado e empregador. Para melhor poder interpretar este conceito, a autora considera dois tipos essenciais de contratos, os transacionais e os relacionais que diferem pela dinâmica de evolução e pela subjetividade da explicitação de expectativas. 5 Lagoon et al. (2007) 64 e com maiores níveis de sucesso, facilitando a capacidade das empresas para antecipar, reagir e capitalizar ativos nos momentos das mudanças de paradigma económico, e assim conduzindo a maiores níveis de desempenho (Kirca, 2011; Vieira, 2010). A componente inter-relacional associada às vantagens competitivas, ou seja, a maneira como o cliente é tratado, depende da indução de atitude e de personalidade dos empregados com quem o cliente se relaciona, assim influenciando a qualidade do “serviço” prestado e, consequentemente, a apetência do cliente para voltar a recorrer à empresa (Quester & Kelly, 1999). Esta abordagem relacional entre o marketing e as pessoas foi objeto de concetualização por Franco et al. (2001), através da esquematização agora apresentada na figura nº 4, considerando os pontos de contacto entre marketing externo e marketing interno, numa perspetiva de elaboração estratégica empresarial. Figura 4 – Do marketing externo/interno à estratégia global Fonte: Franco et al. (2001, p. 4) É, assim, importante que se possa estabelecer um conceito de gestão participativa como forma de conseguir o envolvimento de todos os intervenientes da empresa, na medida em que o marketing interno, que tem como objetivo a renovação do conhecimento e que se pode definir como uma estratégia de desenvolvimento relacional, apenas alcançada com a plena participação dos recursos humanos das organizações e preferencialmente de um modo proactivamente participado, só gerará atitudes comportamentais que são vitais para o sucesso da organização se os 65 colaboradores estiverem satisfeitos e empenhados para nele se envolverem (Franco et al., 2001; Ballantyne, 2003; Rodrigues & Pinho, 2010). A conceptualização do marketing interno focaliza-se na convicção de que os empregados podem ser motivados para se esforçarem para desenvolverem uma orientação para o mercado, para estarem conscientes das necessidades e desejos dos clientes externos e para adquirirem uma mentalidade de venda através da aplicação dos princípios orientadores da atuação do marketing externo, ou seja, estarem capacitados para a necessidade de aprenderem continuadamente, pois uma orientação para o mercado deve facilitar e promover uma orientação para a aprendizagem, sendo um elemento fundamental da prática do dia a dia no que respeita à dinâmica de gestão empresarial (Farrell, 2000; Macedo & Pinho, 2006; Tortosa-Edo et al., 2010). Esta relação direta existente entre marketing interno, orientação para o mercado e desempenho organizacional, não é posta em causa pela generalidade dos autores revistos, pois como afirmam Gray, Matear & Matheson (2000;149) “Desde a pesquisa empírica inicial […] que um cada vez maior número de estudos suporta as ligações entre comportamentos de orientação para o mercado e o desempenho organizacional, […].”, corroborando a conceptualização originalmente formalizada pelos artigos de Kohli & Jaworski (1990) e de Narver & Slater (1990) que confirmam o elo entre a orientação para o mercado e o desempenho organizacional (Ellis, 2006). Porém, num contexto de rápidas mudanças competitivas, o fator chave do sucesso não está associado ao capital, mas sim ao capital humano aliado a outros ativos intangíveis que devem ser percebidos como a última fonte de valor sustentável para a relação da organização com os seus mercados e para permitir uma melhor adequação da organização contra as resistências à mudança (Cahill, 1995; Shiu & Yu, 2010; Javadein et al., 2011). Esta abordagem da capacidade organizacional para lidar com os fatores de mudança com que se depara cada vez mais, é identificada por Cahill (1995), Varey & Lewis (1999), Ballantyne (2003) e por Tortosa et al. (2010) que a consideram como uma nova característica de gestão associada à procura do conhecimento e, essencialmente, apanágio das learning organizations, as quais procuram a aprendizagem e a renovação constante do conhecimento como uma forma, senão a principal, de aquisição de vantagens competitivas. A mesma perspetiva foi, também, defendida por Farrell (2000) ao afirmar que as organizações têm que, obrigatoriamente, adotar uma aproximação cada vez mais iminente para com as mudanças organizacionais se se querem tornar cada vez mais orientadas para o mercado e, consequentemente, mais capazes de alcançar níveis de desempenho elevados, pois há uma relação forte entre ambos os conceitos. 66 Para Hughes et al. (2008), as atividades que fomentam o processamento de informação são fortemente indutoras de ganhos em orientação para o mercado. De salientar a perspetiva operacional que associa, ao conceito de competitividade proporcionada pela orientação para o mercado, a necessidade de uma maior atenção para esta questão que devem particularmente ter as empresas do business-tobusiness, atividade onde se verifica um tipo de relacionamento com o mercado no qual o fornecedor contacta maioritariamente com menos clientes, mas de maior potencial, sendo, pois, necessário ter mais cuidado com a sua fidelização, na medida em que a sua substituição é mais dispendiosa e muito dificultada (Liao et al., 2011). O marketing interno para ser consequente em termos de desempenho, requer que se usem, de uma forma colaborativa, procedimentos de aprendizagem coletiva no interior organizacional, que promovam, por exemplo, o aumento do bem-estar dos colaboradores, a sua satisfação com as condições laborais e o seu empenhamento para com a organização, de modo a que assim todos os departamentos estejam a trabalhar para o fim comum da satisfação dos clientes, logo a trabalhar com uma orientação para o mercado, tendo como questão central a necessidade de alocar recursos e esforços de sistemas e procedimentos que não impactam no desempenho para sistemas e procedimentos que consigam alcançar melhor posicionamento de mercado (Harris & Piercy, 1997; Ballantyne, 2003; Rodrigues & Pinho, 2010). O marketing interno enfatiza, pois, a importância atribuída ao cuidado que é preciso ter com os clientes internos, tal e qual como se tem com os clientes externos, por forma a poder obter resultados positivos na relação com o mercado (Vasconcelos, 2008). Este autor plasma esta sua perspetiva através de um esquema conceptual, conforme a figura nº 5, que assenta na necessidade de a organização promover a mudança da sua mentalidade, com o objetivo interno de alcançar a felicidade no local de trabalho (HWP), a qual é considerada, por Ben-Shahar (2009), como uma competência que pode ser aprendida. 67 Figura 5 – Mudança da mentalidade organizacional para poder obter melhores resultados externos Fonte: Vasconcelos (2008, p. 1252) Os níveis de satisfação dos clientes aumentam quando melhora a atitude dos empregados para com a empresa e as suas chefias, tal como também é expectável a existência de melhor desempenho financeiro empresarial quando se verifica uma maior satisfação por parte dos colaboradores da organização, pois o papel ativo que a força de trabalho de uma empresa tem na obtenção de relações positivas com os clientes externos, e com os restantes stakeholders, tem capacidade para poder influenciar as distintas atividades empresariais (Rifai, 2005; Gonzaléz & Garcia, 2006; Gounaris, 2008a; Tortosa-Edo et al., 2010). A este propósito, é possível considerar que a orientação para o mercado, enquanto fator cultural da empresa, contribui para a criação e manutenção de um conjunto de atitudes comportamentais que guiam as interações da empresa com os seus stakeholders (Zolfagharian & Cortes, 2010). Uma importante implicação de gestão é a de que a aculturação organizacional para o cliente e o marketing interno estão interrelacionadas, enquanto antecedentes de vantagens competitivas para as empresas, tendo a focalização interna do conceito de orientação para o mercado interno uma aplicabilidade externa, alinhando as estratégias de marketing das organizações com as capacidades dos seus empregados (Lagoon et al., 2007; Gounaris, 2008a). Assim, o constructo da orientação para o mercado interno pode ter um papel de ferramenta prática para as organizações planearem e simultaneamente controlarem a implementação do marketing interno, enquanto abordagem de gestão, numa perspetiva relacional, para atingir a satisfação do pessoal que diretamente presta os 68 “serviços” e, assim, com as suas atitudes comportamentais garantir o sucesso organizacional no mercado externo. O marketing interno será, então, considerado um procedimento para garantir uma resposta eficaz às mudanças ambientais, flexibilizar a adoção de novos arranjos de gestão, assim como para, continuadamente, promover o aumento de desempenho, levando as organizações a perceber que os empregados são elementos cruciais para a equação que conduz a empresa ao sucesso (Varey, 1995a; Vasconcelos, 2008; Tortosa et al., 2009). Esta questão relacional deve ser entendida numa perspetiva do discretionary effort, enquanto elemento de empenhamento (commitment) por parte dos colaboradores das empresas, existindo uma ligação direta entre este fator de esforço e o marketing interno e a orientação para o mercado (Lagoon et al., 2007), o que é uma conclusão com interesse para o objeto proposto para este trabalho, apesar de, contudo, Lings & Greenley (2010; 323) entenderem que, como já atrás mencionado, a “… escassez de pesquisa sistemática sobre o papel do marketing interno e do seu impacto no sucesso do marketing externo […] sugere a necessidade de informação relacionada com a ligação entre o marketing interno e o marketing externo.”. A relação entre o marketing interno e a cultura orientada para o mercado fornece uma consubstanciação preliminar da relação entre orientação para o mercado interno e orientação para o mercado, enquanto filosofia de marketing, pois o próprio marketing interno deve ser percebido como uma abordagem realizada pela gestão da empresa junto dos seus empregados, a qual permitirá alcançar a satisfação do cliente por meio de um processo que tornará possível que os funcionários estejam satisfeitos e motivados nas suas tarefas diárias, devendo a orientação para o mercado dentro de uma organização estar substancialmente associada à estrutura, sistemas e processos criados para a sua sustentabilidade (Harris, 1996; Gounaris, 2008a; Tortosa-Edo et al., 2010). Para que se possa obter pleno partido das vantagens alcançadas através da orientação para o mercado é essencial que a liderança organizacional tenha a capacidade para promover as mudanças conducentes ao desenvolvimento e manutenção das estratégias gerais orientadas para o mercado (Cano et al., 2004), sem as quais não é possível obter resultados consequentes. A orientação para o mercado pressupõe, pois, a tentativa consciente por parte da gestão para perceber os fatores sociais e psicológicos que subjazem nos comportamentos dos clientes, quer internos quer externos, e para coordenar a totalidade das atividades organizacionais de forma a poderem ser satisfeitas as necessidades desses diferentes tipos de clientes da organização. 69 Considera-se, então, que as empresas que mais bem e de forma mais adequada promovem a orientação para o mercado têm tendência para prestar mais atenção à compreensão e envolvimento na satisfação das necessidades dos clientes, para perceberem melhor o ambiente económico em que operam e para responder mais assertivamente à evolução do mercado tal como às mudanças da concorrência (Bennett, 1998; Backhaus & Bauer, 2000; Li et al., 2008). Sob o ponto de vista cultural a orientação para o mercado guia e influencia o processo de seleção estratégico quanto às formas de abordagem dos mercados, ou seja determina parcialmente qual a combinação de estratégias que a empresa prosseguirá para alcançar os níveis de desempenho desejados, pois a orientação para o mercado representa a cultura organizacional que mais eficaz e eficientemente cria os comportamentos necessários para a entrega aos compradores de níveis de valor superiores e, assim, permitir a consecução de níveis superiores de desempenho para o todo da organização (Narver & Slater, 1990; Zolfagharian & Cortes, 2010). A recolha organizada e sistemática das informações inerentes ao marketing seguida da sua disseminação interdepartamental, do seu entendimento e do seu processamento efetivo, e a utilização desta mesma informação pelos membros da organização de modo a que possa ser possível responder aos constantes fatores de mudança, são, assim, as variáveis chave da orientação para o mercado (Harris & Piercy, 1997; Bennett, 1998), contudo, apesar da muita importância que se possa atribuir à conectividade interdepartamental, ela deve, obrigatoriamente, ser complementada por uma atmosfera organizacional apropriada que permita integrar condições de aprendizagem estrutural (Vieira, 2010). A existência de uma orientação para o mercado no seio organizacional cria um conjunto de atitudes e de procedimentos que tendem a unificar as estratégias, os sistemas operativos, o esforço e as atitudes dos indivíduos e dos departamentos conduzindo, assim, a um desempenho de nível superior de longo prazo (Bennett, 1998). Existe, efetivamente, uma ligação significativa entre a intensidade da orientação para o mercado e o desempenho económico (Zait, Timiras & Nichifor, 2010), apesar de Cano et al. (2004), terem concluído que há uma diferença significativa entre o setor dos serviços e o setor industrial no respeitante à relação entre a orientação para o mercado e o desempenho organizacional, a qual é mais forte no primeiro caso do que no segundo. É a este propósito que Zhou & Li (2007) consideram como fundamental o facto de que todas as empresas necessitam de desenvolver estratégias centradas nos mercados, que eles designam por orientação estratégica, para guiar os seus comportamentos e atividades, decorrendo esta conceptualização da investigação realizada sobre as 70 estratégias de gestão e as estratégias de marketing, emergindo este último movimento investigacional diretamente da literatura sobre orientação para o mercado iniciada por Kohli & Jaworski (1990) e por Narver & Slater (1990). Esta orientação estratégica deve ser percebida como um percurso, devidamente direcionado, a rastrear pela empresa para criar os comportamentos adequados para interagir com o mercado, conquistando, assim, os meios críticos para sobreviver e prosperar nos atuais ambientes funcionais, os quais são cada vez mais competitivos (Zhou & Li, 2007). É, pois, possível considerar que, efetivamente, existe uma relação direta entre aquilo que é praticado no seio organizacional e o desempenho externo e que, de uma forma geral, a orientação para o mercado interno influencia positivamente os comportamentos de orientação para o mercado, impactando esta, por sua vez, a satisfação dos empregados e o envolvimento organizacional, podendo as empresas promover o seu incremento ao fomentar uma cultura que responda à evolução das necessidades dos consumidores e, sobretudo, que apresente soluções que sejam de nível superior ao das dos seus concorrentes (Ellis, 2006; Rodrigues & Pinho, 2010). Esta perspetiva, focalizada na comparabilidade com a concorrência, já tinha sido anteriormente analisada, estabelecendo-se que os objetivos do marketing organizacional são mais facilmente alcançáveis quando há uma maior incidência, de forma mais eficaz e mais eficiente, na satisfação das necessidades dos clientes por comparação com a atuação de outras empresas concorrentes (Cano et al., 2004). Esta questão assume ainda maior importância quando se considera o caso particular das pequenas empresas onde é fundamental que também se atente para a introdução do conceito de empreendedorismo, devidamente equilibrado com a orientação para o mercado, de modo a que este tipo de empresas esteja mais bem habilitado a dar prioridade a uma abordagem de mercado focalizada nas oportunidades de maior potencial Estas empresas, portanto, não podem apenas considerar a existência da necessidade exclusiva em promover a satisfação dos clientes, mas também devem considerar a necessidade da prossecução sistemática no explorar de novas oportunidades de mercado e evitar os obstáculos que inibam a operacionalização da orientação para o mercado, como sendo, por exemplo, o caso dos constrangimentos financeiros, da departamentalização em excesso, dos objetivos de marketing definidos de forma não clara e da falta de skills apropriadas para a prática do pensamento de marketing (Harris, 1996; Baker & Sinkula, 1999; Jaakkola et al., 2010). De uma forma generalizada, as empresas devem agir de maneira proactiva para que se possam antecipar aos demais concorrentes através do recurso à inovação e à ação 71 pioneira, o que não sendo isento de riscos, permite, no entanto, a sua relativização através de atitudes organizacionalmente empreendedoras (Rodrigues, 2004). Assim, a nova envolvente de marketing que se tem vindo a estabelecer nos mercados, em função da sua crescente complexidade e da emergência de novos valores, tem conduzido a que se identifique uma necessidade de estabelecer uma nova conceptualização da função do marketing, mais adequada aos princípios da plena orientação para o mercado. Considerando esta conceptualização, é possível que as variáveis inerentes ao ambiente em que decorre a atividade empresarial possam, porém, moderar a eficácia das estratégias de gestão, mas, no entanto, um forte enfoque na orientação para o mercado permite alcançar níveis de sucesso superiores nos atuais ambientes económicos em que as organizações estão a operar (Tse et al., 2005; Zait, Timiras & Nichifor, 2010). Nesta perspetiva, o processo mais corrente para perceber qual é a dimensão do sucesso alcançado tem sido o recurso à medição do desempenho, sendo que os indicadores normalmente utilizados são os de cariz financeiro. No entanto, também tem sido considerado que apenas indicadores financeiros não incorporam outras dimensões igualmente importantes para um conceito mais abrangente de desempenho, que deve assumir uma perspetiva de índole mais relacional (Jones, 2006; Panigyrakis & Theodoridis, 2009). O uso de outros indicadores não-financeiros tem, então, sido entendido como fundamental, desde logo se sugerindo o recurso à análise da qualidade do produto, da quota de mercado, da lealdade do cliente e da sua satisfação. Assim, o recurso, em simultâneo, a indicadores financeiros e não-financeiros vai permitir uma mais adequada oportunidade para avaliar a capacidade individual dos gestores e desta forma refletir com precisão o desempenho das respetivas unidades de negócio (Panigyrakis & Theodoridis, 2009; Shiu & Yu, 2010). É evidente que a mensuração do desempenho se focaliza na atuação da gestão, em particular na condução dos processos de melhoria e nos procedimentos que facilitem a aprendizagem organizacional, a qual é de importância central para as práticas próativas de orientação para o mercado, devendo refletir aspetos como a aquisição de conhecimento, a interpretação da informação, a distribuição de informação, e, muito significativamente, a capacidade de memorização e retenção organizacional (Johnston et al., 2002; Hughes et al., 2008). Este mesmo entendimento é tido por Brignall et al. (1991) quando identificam um conjunto de dimensões para proceder à medição do desempenho, sendo umas na 72 perspetiva de serem consideradas determinantes (inovação, utilização dos recursos, flexibilidade e qualidade do serviço) e outras na perspetiva dos resultados que são o desempenho financeiro e a competitividade, esta última, diretamente associada à quota de mercado, ao crescimento das vendas e a outros aspetos relacionados com a perspetiva dimensional dos clientes. Ao longo das últimas décadas tem-se, pois, processado uma revolução neste procedimento avaliativo envolvendo um interesse crescente na utilização de novas variáveis de desempenho, novas metodologias de medida e novas abordagens do constructo (Johnston et al., 2002; Jones, 2006). De salientar, no entanto, o alerta deixado por Johnston et al. (2002) ao considerarem que os sistemas de medida do desempenho, geralmente usados, por recorrerem a uma grande panóplia de variáveis, requerem excesso de tempo e de esforço, por parte dos gestores, apresentando a possibilidade de um retorno relativamente reduzido em termos dos benefícios que se possam obter, respeitantes ao controlo e às melhorias organizacionais. Os autores afirmam mesmo que poucas são as empresas que calculam o quanto lhes custa, em termos de tempo e de outros recursos gastos, o esforço para avaliar a mensuração do seu desempenho. Também Sampaio et al. (2008) abordam este assunto, considerando que as medidas agregadas do desempenho final são dependentes de outras variáveis, com efeitos mediadores, como por exemplo o sucesso de novos produtos, e que afetam a perceção entre a orientação para o mercado e o desempenho. Este mesmo entendimento têm Shiu & Yu (2010), pois, considerando que o desempenho organizacional se reporta à mensuração e avaliação dos níveis dos objetivos alcançados (Seiders et al., 2005), entendem dever ser pertinente valorizar a introdução de outros indicadores que não apenas os financeiros (rentabilidade, retorno do investimento, taxa de crescimento da receita, ganhos por ação), como a produtividade, a quota de mercado, a taxa de alcance de objetivos, a imagem corporativa, a satisfação do cliente, a moral dos empregados e a taxa de rotação de empregados (turnover) tentando, nesta perspetiva, relacionar diretamente o marketing interno com o desempenho. Contudo, uma aproximação iminentemente financeira também tem sido defendida considerando que as organizações orientadas para o mercado estão mais capacitadas para utilizar os seus recursos de forma mais eficiente, consubstanciando, assim, que a eficiência operacional afeta positivamente várias medidas de desempenho tais como o volume de vendas, a quota de mercado relativa, o retorno sobre os ativos, etc., ou seja, generalizadamente, o desempenho global (Chang et al., 1999). 73 Agora, na perspetiva do objetivo deste trabalho, assim como na mais avalizada de Shiu & Yu (2010; 794) que afirmam que “Existe (…) pouca evidência empírica sobre uma correlação positiva entre a cultura organizacional e o marketing interno, assim como sobre a satisfação do trabalho e o desempenho organizacional. Existindo ainda menos investigação que analise os mecanismos conducentes a esta ligação.”, não está, pois, estabelecido como, e em que medida, é que os diferentes conceitos contribuem, no final, para a alavancagem uns dos outros. Segundo os autores revistos, o marketing interno relaciona-se diretamente com a orientação para o mercado interno e esta com a orientação para o mercado. Também se estabeleceu que o desempenho tem relação direta com a orientação para o mercado, mas falta todavia perceber como é que decorre a relação intermédia destes conceitos, particularmente num contexto empresarial específico como é o caso da indústria transformadora. De salientar, também, que Cano et al. (2004) consideram que existe ainda uma diferença significativa no que diz respeito à relação entre a orientação para o mercado e o desempenho no seio das empresas de serviços e no das industriais. Os distintos estudos realizados, segundo diferentes correntes teóricas, sobre a relação entre a orientação para o mercado e o desempenho ainda consideram que existem possibilidades para continuar a promover investigação sobre o tema (Sampaio et al., 2008), o que abona a favor do objetivo deste trabalho, que se vai focalizar num setor particular, o da transformação de cortiça em território nacional. Também para Jaakkola et al. (2010) é urgente que se consiga fazer a demonstração das correlações entre os inputs do marketing, os processos e os respetivos resultados, corroborando, assim, a perspetiva de Hughes et al. (2008; 1373) que também consideram que a “Orientação para o mercado continua a ser o foco de alargada pesquisa, refletindo um consenso para a sua centralidade e importância para o ensino e prática do marketing.” Generalizando, a orientação para o mercado será talvez o elemento de maior centralidade na gestão de marketing, considerando uma perspetiva comportamental de relação com o mercado lato e em particular com os consumidores, demonstrando maiores níveis de operacionalização na perceção, atração e retenção desses mesmos consumidores. O interesse dos académicos por esta prática da orientação para o mercado traduziu-se, de uma forma acentuada, na sua operacionalização junto das empresas, assumindo um pressuposto relevante na prática do marketing. Da conceptualização realizada ao longo de todo o século passado merecem destaque, pela sua relevância plenamente reconhecida, as abordagens de Narver & Slater e de 74 Kohli & Jaworski. Os primeiros autores concluem que a orientação para o mercado decorre de três fatores comportamentais (orientação para o cliente, orientação para a concorrência e coordenação interfuncional) e de dois critérios decisórios (focalização de longo prazo e rentabilidade). Para os segundos, o conceito assenta no princípio de gestão de marketing em que a focalização no cliente, a coordenação operacional e o lucro são essenciais, tendo os autores considerado que o constructo de orientação para o mercado se fundamenta em três variáveis (geração de informação, disseminação de informação e capacidade de ação e/ou resposta ao mercado) essenciais para um enfoque em atividades específicas e não tanto de cariz filosófico. Foram os trabalhos destes autores que, no princípio dos anos 90, lançaram os fundamentos para a evolução que se veio a verificar sobre este conceito de orientação para o mercado e deles surgiram variadíssimos outros trabalhos, tendo por base uma ou a outra perspetiva ou mesmo a integração de ambas. A este propósito, Cano et al. (2004) consideram que quer a abordagem cultural quer a comportamental partilham ambas a noção de que o consumidor tem um papel de centralidade na manifestação da orientação para o mercado, acrescentando, também, que, por sua vez, os distintos stakeholders ainda conseguem modular as necessidades e expectativas desse mesmo consumidor. Rodrigues (2004) também considera que, apesar da enorme relevância que tem sido dada pela comunidade académica internacional, e, de alguma forma, também nacional, a esta problemática, não são conhecidos estudos sobre a relação entre a orientação para o mercado, e todas as componentes influenciadoras que para ela contribuem, e o desempenho das organizações na realidade empresarial portuguesa. É, pois, nesta perspetiva que se deve enquadrar o atual trabalho, vocacionado para um setor de atividade com características iminentemente nacionais e onde ainda se encontram plenas oportunidades de estudo. Este representa, para já, o desafio para que me proponho tentar encontrar respostas através das observações a realizar junto da indústria transformadora de cortiça portuguesa. 75 SEGUNDA PARTE Investigação Empírica 76 IV Questões de Investigação e Modelo de Análise O primordial objetivo deste trabalho é o de explicar como é que as variáveis em análise, marketing interno, orientação para o mercado interno, orientação para o mercado, impactam no desempenho das organizações transformadoras do setor da cortiça, em Portugal. Neste contexto, pretende-se fazer a ligação dos conceitos resultantes da revisão da literatura com uma abordagem de investigação qualitativa, de modo a poder descrever e explicar aquilo que é, de uma forma geral, o objetivo da maioria da investigação em marketing: um fenómeno social complexo (Healy & Perry, 2000). Entendeu-se, para que o objetivo pudesse ser exequível, recorrer à abordagem metodológica de investigação de estudo de casos, especialmente adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, permitindo, assim, realizar uma investigação compreendendo e preservando as características holísticas e significantes dos acontecimentos da vida real (Yin, 2003b). Para tal recorrer-se-á a três dimensões fulcrais para este tipo de procedimento: (i) ontologia, representando a realidade a observar, (ii) epistemologia, representando a relação entre a realidade a investigar e o investigador e (iii) metodologia, representando a técnica utilizada para investigar a realidade em causa. Neste caso específico será usado o paradigma científico do realismo, no qual (i) a ontologia considera uma realidade que é, tão só, imperfeita e probabilisticamente apreensível, (ii) a epistemologia permite encontrar dados que provavelmente serão verdade e (iii) a metodologia é constituída por estudo de casos, recorrendo-se às técnicas de entrevista e interpretação qualitativa das questões investigadas (Healy & Perry, 2000). Neste trabalho, pretende-se, então, através de uma investigação realista, obter conhecimento implícito ao mundo real, na medida em que os fenómenos a estudar são contemporâneos e inseridos num contexto da vida do dia a dia (Healy & Perry, 2000; Yin, 2003b). Para tal serão utilizados os princípios das técnicas qualitativas diretas, nas quais não se oculta o objetivo do estudo aos entrevistados (Sánchez, 1999), com recurso, essencialmente, a entrevistas que poderão ser plenamente livres ou semiestruturadas, conforme o alvo a inquirir, mas sempre parametrizadas por um conjunto de questões previamente identificadas como as mais relevantes para as conclusões finais do estudo a realizar. 77 Como fio condutor da abordagem direta a ser feita neste estudo, optou-se pelo paradigma concetual de Kohli & Jaworski (1990), conforme as adaptações já realizadas por Lings (2004) e Gounaris (2006), em detrimento do de Narver & Slater (1990), pois entendeu-se que a perspetiva comportamental da orientação para o mercado, ao examinar as atividades organizacionais que integram a geração de informação, a sua disseminação e a capacidade de resposta a essa mesma informação, seria a mais adequada ao objetivo estabelecido, na medida em que permite, conceptualmente, entender de uma forma mais ampla as ações que decorrem no ambiente interno, excluindo as componentes externas de relação com os mercados, as quais incluem, como explícito no modelo cultural, a concorrência, a focalização a longo prazo e o lucro. A opção por esta prática decorre do já realizado, anteriormente, por Bunic (2007), Schlosser & McNaugto (2009) e Vieira (2010), considerando, assim, que no caso em análise, um setor transformador, a inclusão das componentes externas iria dificultar o estudo, pois para se ser mais preciso dever-se-ia integrar, também, variáveis de análise que avaliassem a sensibilidade das organizações às expectativas da sociedade em geral (Brik et al., 2011). Assim, a perspetiva comportamental adotada é única, no sentido em que cada elemento, enquanto dimensão da pesquisa, é considerado igualmente importante e não estruturado de forma linearmente sequencial (Lafferty & Hult, 2001). Considera-se, pois, que o objetivo central deste trabalho é a explicação de como a atuação estratégica das empresas, ao nível da aplicação dos conceitos de marketing em análise, se reflete na dinâmica organizacional conducente a melhores níveis de desempenho. Tendo em consideração as abordagens teóricas realizadas, a explicação procurada focaliza-se nas relações empresariais, as quais são o catalisador dos resultados obtidos, nomeadamente quando se fala de desempenho final. Nesta perspetiva, os objetivos principais deste trabalho podem ser traduzidos através das três principais questões que se apresentam: 1ª – como é que a aplicação estratégica dos princípios do marketing interno influencia a orientação para o mercado interno ? 2ª – como é que o tipo de orientação para o mercado interno influencia a orientação para o mercado ? 3ª – como é que a orientação para o mercado vai ter influência no desempenho organizacional? 78 Para além dos objetivos de investigação atrás identificados, existe, concomitantemente, uma preocupação centrada na relação entre a orientação para o mercado interno e a orientação para o mercado em termos do alinhamento continuado entre ambas. Isto é, será, de forma paralela, objeto deste estudo a verificação do comportamento entre estas duas variáveis, considerando o pressuposto de que uma alta focalização na primeira origina um elevado out come na segunda ou se, pelo contrário, este resultado também pode ser obtido com uma baixa focalização na primeira. Consideramos, então, para entendimento de marketing interno, a conceptualização de que este se focaliza nas necessidades e expectativas dos empregados das empresas, as quais devem, por sua vez, procurar dar-lhes satisfação através de programas de marketing, recorrendo a três distintas dimensões operacionais: (i) o esforço de recolha de informação interna, (si) a comunicação interna entre gestores e subordinados e (iii) a capacidade das empresas darem resposta à informação anteriormente recolhida com o objetivo de promover a satisfação dos empregados e consequente motivação para níveis de desempenho superiores. Para tal, entende-se que este conceito evoluiu da perspetiva inicial da mera satisfação dos empregados para um modelo que considera o seu tratamento como clientes e os seus trabalhos como produtos, de modo a ser possível melhorar a qualidade do serviço fornecido, assim alcançando uma perspetiva de orientação para o cliente / orientação para o mercado que utiliza abordagens tipo marketing e ferramentas tipo marketing para promover a motivação dos empregados e desta forma conseguindo que o marketing interno seja usado como uma extensão organizacional para a operacionalização de uma qualquer estratégia relacional externa (Ahmed, Rafiq & Saad, 2003). O uso efetivo do marketing interno deve, pois, responder às necessidades dos empregados e promover a missão e objetivos das organizações (Bansal, Mendelson & Sharma, 2001). A orientação para o mercado interno nasce do ponto de vista de que o pessoal de contacto com os clientes é de importância capital para os prestadores de serviços, no sentido em que empregados satisfeitos, empenhados e motivados são essenciais se o cliente conseguir perceber que está em presença de um prestador / fornecedor que lhe entrega um serviço / produto de qualidade adequada. Este mesmo enquadramento, inicialmente estabelecido para o estrito setor dos serviços, deverá ser aplicável às empresas exclusivamente industriais se se considerar um modelo de orientação departamental para o cliente (Kotler, 2000). 79 Desta forma, o princípio pelo qual se rege a orientação para o mercado interno é o de que é necessário identificar e satisfazer as necessidades dos empregados como prérequisito para a satisfação dos desejos e necessidades dos clientes (Lings, 2004). Para perceber o nível de aplicação dos conceitos de marketing interno nas empresas analisadas, serão contemplados, em guia de entrevista, elementos integradores das distintas conceptualizações em causa. No tocante à orientação para o mercado interno, o conceito desenvolvido é o do marketing de serviços, no sentido em que os empregados são tratados como clientes, criando, assim, um ambiente de trabalho no qual estes mesmos empregados são treinados na orientação para o cliente, na consciencialização de uma prestação de serviços e nas competências para essa mesma prestação de serviços, de modo a ir ao encontro das necessidades dos clientes e, assim, melhor se adequarem aos objetivos gerais das organizações. É nesta perspetiva que a importância dos empregados tem sido sobejamente reconhecida pois é a compreensão do papel crítico por eles desempenhado que conduz até à função do marketing interno (Wasmer & Bruner II, 1991) e consequente alinhamento com o conceito de orientação para o mercado interno. Já a orientação para o mercado é entendida como um sinónimo de como implementar a conceptualização do marketing, o qual é percebido enquanto filosofia de realização de atividades empresariais que são consideradas como o principal ingrediente de uma cultura organizacional de sucesso, e que atravessa toda a organização afetando diretamente o seu desempenho (Jones, 2006). Nesta perspetiva e para efeitos das entrevistas a realizar, o marketing interno deve integrar as ações realizadas para melhorar a relação da empresa com os empregados, no sentido de promover a sua adesão à visão e à missão organizacionais, a orientação para o mercado interno deve considerar políticas que promovam a satisfação dos empregados, considerando-os como clientes internos da organização e a orientação para o mercado deve facultar as condições de envolvimento dos colaboradores nas abordagens dos clientes externos que proporcionem elevados níveis de desempenho organizacional (Berry & Parasuraman, 1997). As questões a serem abordadas, iminentemente relevantes, devem, então, possuir substância e forma inseridas numa lógica de planeamento inerente ao próprio estudo (Yin, 2003b), desenvolvendo-se através de um modelo de observações múltiplas incorporadas, incluindo, pois, vários casos de análise, de distinta dimensão, procurando, assim, padrões consistentes de evidência entre os diferentes casos, mas sempre respeitando o gabarito da unidade em causa (Yin, 2003a). 80 Desta forma, as entrevistas irão decorrer obedecendo ao objetivo previamente estabelecido e norteador de toda a investigação que é o de perceber a relação entre o marketing interno, a orientação para o mercado interno e a orientação para o mercado e de que forma as estratégias que lhes possam estar associadas irão condicionar o desempenho organizacional. Para alcançar este desiderato e de modo a enquadrar nos casos a estudar, quer o estabelecido na revisão de literatura realizada, quer aquilo que são as especificidades das empresas escolhidas, serão identificados padrões orientadores que se focalizarão, nas variáveis que mais eram trabalhadas nas teses constantes da já referida revisão de literatura realizada. Os constructos em causa assentam no constatado através da leitura de distintos autores sobre práticas de gestão de recursos humanos, desenvolvimento organizacional, desempenho organizacional, estratégias de marketing interno e de orientação para o mercado, considerando sempre que as vantagens competitivas percebidas pelos clientes decorrem do grau de satisfação e motivação dos empregados e da sua consciencialização orientada para o mercado, o que levará a qualidade dos serviços prestados e, consequentemente, o desempenho organizacional a serem incrementados (Ahmed, Rafiq & Saad, 2003). 4.1 Modelo de Análise Da revisão da literatura anteriormente realizada, e depois de identificadas as lacunas existentes na relação estruturalmente transversal entre a orientação para o mercado interno (OMI), a orientação para o mercado (OM) e o desempenho empresarial, compaginadas na análise das implicações do marketing interno na orientação para o mercado assim como no desempenho das organizações junto dos seus mercados (Theodoridis & Panigyrakis, 2010), resulta o modelo apresentado na figura nº. 6, tendo como objetivo perceber as implicações de tal relação, e pretendendo, concomitantemente, desenvolver uma análise que dê resposta às questões de investigação apresentadas no ponto 1, e sistematizadas na pág. 10, através da interrogação investigacional colocada. 81 Figura 6 – Modelo de Análise Fonte: elaboração própria O modelo conceptual que se apresenta, divide-se, assim, em dois pressupostos, cada um dos quais planeado para responder a cada uma das questões de investigação e à sua relação funcional. Desta forma, o primeiro pressuposto deste modelo determina que se investigue o tipo de implicação que os inputs do MI têm na OMI e, em consequência, desta sobre o desempenho, enquanto o segundo, propõe que se considere os efeitos que os inputs do MI têm na OMI, desta sobre a OM e, finalmente, desta sobre o desempenho. É assim, que desta análise deverá, também, resultar a compreensão da interação mediadora do MI sobre o impacto da OMI no desempenho, considerando que o nível de qualidade percebido pelo cliente interno resultará da relação entre as suas expectativas e aquilo que realmente obtém (Berry e Parasuraman, 1991). Pretende-se, pois, identificar, no ambiente em estudo, o impacto final da orientação para o mercado interno no desempenho organizacional, considerando o contributo 82 dos possíveis efeitos dos comportamentos dos colaboradores para a capacidade relacional da empresa com o mercado externo, os quais, segundo Chang e Chang (2007), estão positivamente correlacionados com os comportamentos orientados para o cliente, desta forma facilitando as trocas externas. Relembrando a revisão de literatura sobre o MI, as ferramentas e as estratégias nele consideradas têm como objetivo alcançar uma maior qualidade na venda de bens ou de serviços (Berry e Parasuraman, 1991). Desta forma, é expectável que a OMI, daí decorrente, tenha um impacto positivo nas condições do desempenho, pois a satisfação dos colaboradores (González & Garazo, 2006; Jones, 2006) implica que haja um contributo positivo para o resultado organizacional (Malhotra & Mukherjee, 2004; Chang & Chang, 2007; Malik, Nawab & Naeem, 2010). Esta correlação positiva no desempenho foi observada por Samad (2005), conduzindo a uma maior prestação, quer individual quer do todo organizacional. A este propósito e considerando que todas as organizações são fortemente influenciadas pela sua envolvente externa e manifestando, consequentemente, uma forte interligação com ela, esta questão das práticas do marketing interno devidamente consubstanciado na orientação para o mercado interno assume uma cada vez maior importância (Becherer, Halstead & Haynes, 2001), apesar de não estar definido, no setor industrial aqui em análise, qual a proporção doseadora da OMI na OM. Nesta perspetiva, para tentar compreender o valor das variáveis em estudo e a sua inter-relação que se reflete não só nos potenciais benefícios internos, como na qualidade da relação com o mercado externo, deverão, pois, ser consideradas as características próprias de cada organização e as do ambiente externo em que cada uma opera. O modelo escolhido reflete o formato de Kohli & Jaworski (1990), pretendendo propor uma abordagem comportamentalmente orientada e ponderando que a orientação para o mercado representa a implementação do conceito de marketing que postula que as organizações devem focalizar-se em ir ao encontro dos desejos e necessidades dos seus clientes (Davis, Babakus, Englis & Pett, 2010). 83 V Investigação Empírica 5.1 Metodologia 5.1.1 Opções Metodológicas Estruturantes Recorrendo aos pressupostos já anteriormente referidos, considera-se que, normalmente, em estudos qualitativos diretos, na medida em que o objetivo em causa é o de fazer uma análise em profundidade e não em extensão, não é necessário utilizar amostras muito amplas, nem aplicar métodos estatísticos para determinar a sua dimensão (Sánchez, 1999). Assim, são consideradas seis empresas para a realização de quatro entrevistas em cada uma delas, entrevistas, estas, que deverão atravessar diagonalmente os diferentes patamares hierárquicos da organização e centros operacionais distintos. O objetivo teórico da investigação procura perceber, no contexto da amostra, como é que a atuação estratégica das empresas se plasma na dinâmica relacional com os diferentes tipos de mercados e de como ela se reflete, posteriormente, nos resultados empresariais. Daqui resulta, naturalmente, a escolha de uma metodologia qualitativa, a qual possibilita a obtenção de um conjunto alargado de informação decorrente do contexto de investigação que uma metodologia quantitativa não iria permitir alcançar. Esta metodologia viabiliza também um maior afastamento de uma noção mais rígida da realidade, pois mais do que quantificar variáveis, é assim possível percecionar o valor intrínseco e a respetiva sofisticação de processos, já que o objetivo dos estudos qualitativos passa por adquirir um vasto conhecimento de um determinado fenómeno inseparável da realidade (Carson et al., 2001). Também, os estudos qualitativos, sendo mais amplos e holísticos, permitem, mais frequentemente, a ocorrência de descobertas fruto da aleatoriedade, recomendandose ainda para análises de dinâmicas em que as mudanças possam ser mais presentes, como é o caso do entrosamento com as realidades em que as organizações se movimentam (Carson et al., 2001). Assim, considerando uma abordagem de estudo de caso, pode-se estabelecer abordagens indutivas, que constroem novas teorias, e abordagens dedutivas, que confirmam teorias já devidamente alinhadas (Yin, 2003a). Para este autor, os estudos devem ser realizados de forma direcionada, com questões perfeitamente delineadas, manifestando uma posição próxima da abordagem dedutiva. Esta investigação ao adotar a posição de Yin, recorrendo, em função do enquadramento teórico em que decorre, como já referido, a um modelo dedutivo, não 84 descarta a hipótese de, eventualmente, fazer uma aproximação a uma teorização distinta e necessitando de usar, pontualmente, um modelo do tipo arranjo sistémico (Yin, 2003a), o qual reconhecendo o importante papel da teoria, que, indubitavelmente, deve conduzir todo o estudo, permite uma continuada interação entre o mundo real e o teórico. Nas ciências sociais, em geral, os fenómenos, como aqueles que aqui vão ser objeto de estudo, são iminentemente complexos, não sendo fácil separar causas e motivações de forma isolada e exclusiva, fazendo com que a neutralidade e a objetividade sejam relativas e a diversidade de métodos de investigação seja marcante. Este entendimento privilegia, assim, a análise de microprocessos através do estudo das ações sociais individuais e grupais, recorrendo a um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude como em profundidade, tratando os métodos qualitativos as unidades sociais a investigar como um todo, o qual deve ser percebido da forma mais completa possível de modo a que não se feche à realidade social em que se insere (Morse, 1991). Uma característica constitutiva dos métodos qualitativos é a flexibilidade, permitindo incorporar na recolha de dados as condições de observação mais adequadas à análise que está a decorrer num determinado momento, na medida em que enquanto técnica interpretativa que visa descrever e descodificar os componentes do sistema de significados, normalmente complexo, deve contemplar as particularidades do próprio objeto em análise. O objetivo do estudo de caso é, pois, uma análise profunda de uma unidade de estudo visando estudar com detalhe um ambiente, um sujeito ou uma situação particular (Godoy, 1995), permitindo identificar como e porque é que certos fenómenos acontecem, em particular os que decorrem da atualidade e só fazendo sentido dentro de um contexto específico. 5.1.2 Determinantes Para se estabelecer a metodologia escolhida, considerou-se a contribuição de um conjunto de fatores de duas ordens: os internos e os externos. Os primeiros (internos) dizem respeito ao enquadramento teórico previamente estabelecido e às questões de investigação preconizadas. Assim, os objetivos e as questões a estudar matizam decisivamente a adoção de uma metodologia investigacional, com especial realce para a escolha da amostra e do processo de recolha de dados. Considerando o objetivo geral deste trabalho como sendo o de compreender qual a relação entre a atuação estratégica das empresas, do segmento económico escolhido, 85 com o seu desempenho através da facilitação promovida pela orientação quer para o mercado interno, quer para o externo, a questão prevalecente decompõe-se em questões particulares de relação entre as distintas variáveis em análise, as quais irão contribuir individualmente para a referida compreensão do fenómeno global em cada um dos diferentes momentos da análise. Sendo, então, as variáveis em causa o marketing interno, a orientação para o mercado interno, a orientação para o mercado e o desempenho, pretende-se identificar “como” e, circunstancialmente, “porquê”, são aplicadas as políticas de gestão aqui em estudo, de modo a (i) promover a adesão dos colaboradores à visão e à missão da empresa (MI), configurando, particularmente, a adaptação realizada por Naudé et al. (2002) da escala de Foreman & Money (1995), aqui considerada como bastante relevante enquanto modelo orientador, mas, obviamente, não sendo a única, (ii) fomentar que os colaboradores sejam considerados como clientes internos e, consequentemente, tratados de forma a permitir o seu envolvimento na definição e aplicação de procedimentos de gestão tático-operacional com a devida partilha de informação (OMI), conforme, em especial, Lings & Greenley (2005), (iii) desenvolver as competências para que os colaboradores possam entender e participar nas políticas empresariais de abordagem dos mercados (OM), adaptado de Kirca (2011) e de Baker & Sinkula (2009), entendidos como especialmente importantes, mas, também, não sendo os únicos onde se bebeu informação, como mais adiante será referido, e (iv) obter resultados de desempenho (D) expressos através de indicadores económicofinanceiros, apesar de como mencionado anteriormente (Jones, 2006; Panigyrakis & Theodoridis, 2009; Shiu & Yu, 2010) o seu uso exclusivo poder alienar outras variáveis, de mensuração mais subjetiva, mas eventualmente relevantes. Para a avaliação do desempenho recorre-se, essencialmente, ao postulado por Davis et al. (2010) e Silva (2011), e cuja fonte será a Informação Empresarial Simplificada (IES) que é uma declaração anual obrigatória para as empresas, que procedem à entrega, através de formulários eletrónicos, das declarações de contas anuais para fins, simultaneamente, contabilísticos, fiscais e estatísticos. Nesta perspetiva, para Yin (2003b) a metodologia mais adequada à situação em causa é a do estudo de caso, particularmente o modelo explanatório. Os segundos fatores (externos) dizem respeito à proximidade com a realidade em análise, tal como ao elemento temporal que teve, obrigatoriamente, que ser considerado. Nestas circunstâncias, a necessária aquisição de conhecimento sobre o tema a investigar, obrigou que fosse realizado um processo de revisão de literatura extenso e, sobretudo, moroso. No entanto, este procedimento permitiu, obviamente, tornar 86 possível um enquadramento desse conhecimento a um nível mais avançado e assim conseguir colher plena utilidade para o objetivo da investigação. Foi, pois, este processo de revisão de literatura que estabeleceu perspetivas, selecionou abordagens e modificou a visão inicial sobre o tema, permitindo colmatar condicionantes inicialmente colocadas. Já no que respeita ao horizonte temporal disponível, este condicionou objetivamente a escolha das formas de pesquisa, relativizando o número de casos a analisar, não descurando, contudo, os requisitos essenciais para a elaboração de uma sólida plataforma investigacional, tendo-se optado, todavia, pela distinção dos entrevistado em duas categorias, os quadros superiores que possuem as competências e aptidões para promover a prática de determinados comportamentos organizacionais e os restantes colaboradores que foram considerados como o objeto das orientações estratégicas conducentes aos comportamentos desejados. Tal escolha pretende não só segmentar os entrevistados, em dois tipos de informantes chave, como também aferir distintas realidades, isto é, a de quem possui mais capacidade para orientar e a de quem é mais orientado, de modo a que os resultados obtidos se apoiem nas perceções de distintos tipos de informantes, desta forma relevando a importância dos segundos, a qual não tem sido substancialmente considerada na literatura existente que se baseia, maioritariamente, na opinião dos quadros superiores das organizações. 5.2 Estratégia de Pesquisa 5.2.1 Unidade de Análise Considerando o objetivo global deste trabalho, a realidade a analisar deve ser selecionada tendo como substrato um conjunto de atores focais que, de per si, sejam representativos daquilo que é o setor empresarial a estudar. Assim, as questões de investigação que traduzem os objetivos da análise estão na base da delimitação dos casos a incluir no processo investigacional (Yin, 2003b), pelo que a natureza algo subjetiva da escolha da unidade de análise, a empresa transformadora inserida no setor da cortiça, justifica-se pela reconhecida importância que assume no contexto estratégico da atividade transformadora nacional, enquanto empresa produtora, inserida num determinado contexto empresarial e vocacionada para objetivos específicos condicionados pela sua própria natureza identitária. 5.2.2 Seleção dos Casos Na generalidade da literatura, sobre metodologia de estudos de casos, considera-se que um caso pode ser suficiente para uma análise, contudo, a realização de múltiplos 87 casos é apontada como sendo preferível na medida em que isso contribui para a robustez e amplitude da análise (Carson et al, 2001; Yin 2003a; Yin 2003b). Nesta conformidade, a opção de enveredar por múltiplos casos ponderada para esta investigação não aparece apenas no sentido de lhe atribuir maior robustez, mas também como algo que decorre naturalmente da literatura revista e dos objetivos gerais do estudo. É, pois, assim que são consideradas empresas com tipologias e enquadramentos distintos, operando em diferentes segmentos de atividade do setor empresarial escolhido. Não se estuda um caso para compreender outros casos, mas para compreender o “caso”, pelo que nesta conformidade é necessário fazer escolhas e opções. Para Bravo & Eisman (1998), no que se refere à opção pela utilização de múltiplos casos de estudo, deverá ser escolhido um número entre quatro e dez casos porque com menos de quatro dificilmente se consegue gerar teoria e com mais de dez tornase difícil tratar quer o volume de dados, quer a respetiva complexidade. Para acautelar constrangimentos desta ordem, considerando que numa investigação qualitativa o processo de recolha de dados é extremamente demorado (Johnson et al., 2006), sendo, posteriormente, o investigador confrontado com a necessidade de transcrever integralmente as gravações áudio das entrevistas realizadas aos participantes ou, em alternativa, a necessidade de os textos resultantes das transcrições serem transformados em formato eletrónico tendo em vista a sua exploração, recorre-se, neste trabalho, ao apoio de um software adequado para que os resultados a obter neste estudo sejam alvo do apropriado tratamento. Nestas circunstâncias, o software a utilizar será o webQDA (Souza et al., 2011), que é um software de análise de dados qualitativos num ambiente colaborativo distribuído (webqda.com) e que segue a tendência internacional de software acessível na Web. Assim, tal como já anteriormente referido, foram selecionados seis casos, retirados das 597 empresas arroladas a nível nacional, segundo os dados da APCOR6 para 2009. Estes casos são considerados relevantes na medida em que contemplam distintas realidades empresariais, desta forma garantindo a heterogeneidade necessária, e tendo sido selecionados segundo os critérios da dimensão – duas grandes empresas, duas médias e duas pequenas, do número de trabalhadores – que não deveria ser inferior a 10 e da localização geográfica, considerando que, segundo o mesmo trabalho da APCOR, 82,75% da indústria se localiza na região Norte, encontrando-se os 6 http://apcor.pt/artigo/290.htm (acedido em fevereiro de 2010) 88 restantes 17,25% distribuídos pelas regiões Centro, de Lisboa, do Alentejo e do Algarve. Surgem, então, como escolhidas, as empresas abaixo indicadas, com todas as suas peculiaridades estruturais, geográficas e sociais, e aqui ordenadas segundo o critério do número de trabalhadores: Amorim & Irmãos, S.A. Amorim Revestimentos, S.A. Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ldª. Henri & Filhos, S.A. Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª Granaz, Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª A Tabela 1 identifica cada uma das empresas escolhidas de acordo com o produto manufaturado, o percentual exportador, que é um fator relevante na maioria da indústria na medida em que se verifica uma grande preponderância para as vendas ao exterior, e com o número de trabalhadores ao serviço. Tabela 1 – Caracterização das empresas onde irão ser realizadas as entrevistas EMPRESA Amorim & Irmãos, S.A. Amorim Revestimentos, S. A. Sedacor, Ld.ª Henri & Filhos, S. A. Celeste S. B. Sá, Ld.ª Granaz, Ld.ª Principal produto % exportação Nº trabalhadores Rolhas naturais 84 1.270 Revestimentos 88 451 Rolhas técnicas 50 57 Discos naturais n. d. 56 Rolhas naturais 80 17 Granulados 28 10 n.d. – não discriminado (esta empresa trabalha, essencialmente, para o mercado interno) Fonte: elaboração própria, segundo dados da APCOR (2010a) As empresas Amorim & Irmãos, S. A. e Amorim Revestimentos, S. A. fazem parte do universo Amorim, cuja génese remonta a 1870, com a fundação de uma pequena unidade produtora de rolhas de cortiça para a indústria vinícola, de cariz marcadamente familiar. O Grupo Amorim é hoje uma das maiores, mais empreendedoras e dinâmicas multinacionais de origem portuguesa. Líder mundial da indústria da cortiça, o Grupo tem investido em áreas como a imobiliária, a energia, o turismo, o setor financeiro e o desenvolvimento de produtos naturais de excelência, mantendo-se atento e interessado em oportunidades de investimento. 89 No que concerne à transformação de cortiça, o Grupo Amorim é a maior organização mundial e uma das mais internacionais de todas as empresas portuguesas, com operações em dezenas de países, de todos os continentes, estando presente neste setor de há mais de um século e tendo contribuído decisivamente para a divulgação mundial da cortiça. Atualmente, as aplicações de cortiça incluem não apenas produtos tradicionais de alto valor acrescentado, como é o caso da rolha, mas também produtos que incorporam avançada tecnologia de fabrico e elevados padrões de I&D. Desta forma, o Grupo Amorim disponibiliza um vasto portfólio de produtos para incorporação em indústrias tão diversificadas e exigentes como são a indústria aeronáutica, de construção, ou a indústria vinícola. Ao longo dos anos o Grupo Amorim tem reorganizado o seu portfólio de negócios e de ativos, dando seguimento ao espírito empreendedor por que sempre se pautou, capitalizando a experiência, visão e network global do Grupo em prol do desenvolvimento de novas oportunidades de negócio. A Sedacor, Ld.ª, criada em 1975, integra o JPS Cork Group, que tem origem numa pequena unidade fabril fundada em 1924 para a produção de rolhas de cortiça natural. A Sedacor, Ld.ª, tinha como principal objetivo produzir e comercializar produtos de cortiça não destinados à indústria vinícola, tendo, posteriormente, evoluído para a produção de rolhas técnicas. Mais recentemente, interessou-se pelo tratamento de cortiça da linha Dynamic Cork, vocacionada para a indústria têxtil e de decoração, produto com enorme potencial pois pode funcionar como papel, tela para quadros e revestimento, além de se revelar uma pele vegetal que apresenta as mesmas características do couro verdadeiro, com a vantagem de ser mais saudável, pois não está sujeita aos tratamentos químicos que o processo de curtimento implica, através do uso de tanantes minerais como o cromo, o alumínio, o titânio ou o zircónio. Esta linha deverá vir a representar entre 5% a 10% da faturação da empresa. A empresa Henri & Filhos, S. A., iniciou a sua atividade em 1970, dedicando-se à fabricação de rolhas de cortiça, laborando com cerca de 30 trabalhadores e com 2 máquinas de rabanear, 2 máquinas de topejar, 12 máquinas de brocar, 2 tanques de lavação e 4 tapetes de escolha. Atualmente, com 56 trabalhadores dedica-se à fabricação de discos de cortiça natural para a rolha de champanhe, estando acreditada pelo Código Internacional das Práticas Rolheiras (CIPR) e certificada pelo referencial normativo NP EN ISO 22000:2005. 90 A empresa Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª, iniciou a sua atividade no ano de 2000, em dezembro, tendo origem numa “split off” ocorrida por divergências entre o atual gerente e a empresa onde trabalhava na altura. É uma empresa do setor transformador de cortiça, dedicando-se à produção de rolhas naturais que vende, essencialmente, para os mercados externos. Os principais clientes estão em França e em Itália, sendo maioritariamente aquilo a que se designa por engarrafadores. Contudo, os níveis de qualidade exigidos são muito altos pelo que desde a fundação que aderiu ao Código Internacional das Práticas Rolheiras da Confédération Europeéne du Liège, na medida em que a mudança de comportamento do mercado vinícola mostrou à indústria rolheira que os ganhos reais de imagem com esta adoção são bastantes significativos. Com 17 trabalhadores, neste momento, considera realizar novas contratações se os índices de crescimento económico se vierem a estabilizar. A Granaz – Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª, deu início à sua atividade em 1998 e está localizada no distrito de Évora, na localidade que lhe dá nome, entre Évoramonte e Évora. Fabrica, maioritariamente, granulados de cortiça cozida, destinados principalmente à produção de rolhas técnicas, também se dedicando, complementarmente, à produção de outros granulados, de diversas dimensões, para rolos e parquet. É uma pequena empresa. Todas estas unidades produtivas, que se distribuem pela qualificação de grandes, médias e pequenas empresas, conforme o critério do número de trabalhadores, integram as condições adequadas, quer enquanto organização quer enquanto detentoras de estrutura hierárquica, possibilitando a obtenção de dados relevantes para o estudo que se pretende levar a cabo, de modo a que se possa alcançar um nível de perceção elevado entre a realidade e os constructos teóricos. 5.2.3 Recolha da Informação O simples facto de identificar casos passíveis de garantir uma determinada riqueza conceptual não é suficiente, pois, para além disso, é necessário garantir o acesso à informação pretendida. Assim, é necessário que se obtenha a disponibilidade participativa quer das empresas quer dos respetivos colaboradores que funcionam como entrevistados e, consequentemente, facilitadores de informação, o que foi conseguido através de um conjunto de contactos personalizados junto das direções de cada uma das empresas selecionadas, que prontamente acederam em facultar os meios necessários para que este estudo pudesse decorrer dentro da maior normalidade possível. 91 Uma das vantagens que, logo à partida, se pode estabelecer quanto à utilização de casos de estudo é a possibilidade de usar distintas fontes de informação, as quais permitindo a triangulação de dados, fazem, assim, com que as conclusões resultantes da investigação sejam consideradas mais robustas, na medida em que qualquer conclusão é mais convincente e rigorosa quando baseada em várias fontes de informação (Yin, 2003b), o que aconteceu pelo recuros a dois tipos de informantes chave. Para este estudo, o processo de recolha de informação será sustentado, de uma forma generalizada, na realização de entrevistas, as quais são o meio mais adequado para estabelecer as interações e os procedimentos que suportam os movimentos relacionais que enquadram o modelo de análise, permitindo ao investigador ter acesso a uma enorme variedade de dados que de outra forma lhe estariam menos acessíveis (Cassel & Simon, 2005). Assim, nesta perspetiva, procura-se identificar em cada empresa a estudar, um conjunto de quatro entrevistados que permita analisar o fenómeno em causa sobre diferentes óticas, considerando que um dos entrevistados exerce funções de gestão e, portanto, com alguma capacidade condicionadora sobre os restantes que serão perspetivados como o alvo sobre o qual incidem as diferentes condicionantes de gestão. As entrevistas deverão decorrer nos respetivos locais de trabalho, seguindo um modelo mais próximo de uma conversação guiada, devendo durar entre uma a duas horas, sendo gravadas e, posteriormente, transcritas para envio e validação dos entrevistados. Pretende-se que os entrevistados assumam uma atitude mais condicente com a sua capacidade de informar / esclarecer do que com um papel de mero respondente (Yin, 2003b). Para tal, existem dois guiões de entrevista (ver apêndices), do tipo semiestruturado, mas utilizados de maneira a permitir sempre a plena liberdade de expressão do interlocutor, para que seja possível obter elementos que determinem os fundamentos da atuação estratégica empresarial. Estes dois guiões decorrem de um guia comum, que comporta questões base, posteriormente desdobrado em conformidade com os distintos construtos em análise. Nascem, assim, os modelos que suportam as entrevistas, sendo um nitidamente vocacionado para os quadros superiores, em que as questões a analisar são mais estratégicas, e um outro dirigido aos restantes colaboradores, com uma conceção mais operacional. 92 Finalmente, foi também elaborado um guião que permitisse elencar indicadores económicos e financeiros conducentes à perceção das condições de desempenho organizacional, tal estabelecido pela revisão bibliográfica. A informação a recolher em conformidade com os guiões mencionados, um para os quadros superiores e outro para os outros colaboradores, consignando, assim, dois tipos de informantes chave, que servem de base à realização das entrevistas foram adaptados, tendo como referências os paradigmas e os aspetos já trabalhados por Berry & Parasuraman (1992), Foreman & Money (1995), Barnes & Morris (2000), Naudé et al. (2002), Ahmed, Rafiq & Saad (2003), Gounaris (2006), Vasconcelos (2008), Jou, Chou & Fu (2008) e Gounaris (2008) para avaliar as condições de implementação do marketing interno. Quanto à orientação para o mercado interno, foram considerados, e adaptados, os arquétipos apresentados nos trabalhos de Naudé, Desai & Murphy (2003), de Lings (2004), de Lings & Greenley (2005) e de Tortosa-Edo, Sánchez-Garcia & Moliner- Tena (2010) para a avaliação das condições inerentes à sua utilização junto das empresas da amostra em estudo. Considerando a necessidade de identificar os procedimentos que as empresas utilizam para a conceção das suas estratégias de orientação para o mercado, foram usados e ajustados, para a construção dos guiões das entrevistas, os padrões e os aspetos também usados por Morgan & Strong (1998), Lado, Maydeu-Olivares & Rivera (1998), Vázquez, Álvarez & Santos (2002), Matsuno, Mentzer & Ozsomer (2002), Kirca, Jayachandran & Bearden (2005), Macedo & Pinho (2006), Baker & Sinkula (2009), Zhou, Chao & Huang (2009), Schlosser & McNaughton (2009), Kirca (2011), Rodrigues & Pinho (2010) e Davis, Babakus, Englis & Pett (2010) para a realização dos seus trabalhos. No respeitante à análise referente ao desempenho, foram usados os trabalhos de Gray, Matear & Matheson (2000), de Schneider, Hanges, Smith & Salvaggio (2003), de Jaakkola, Moller, Parvinen, Evanschitzky & Muhlbacher (2010) de Davis et al. (2010) e de Silva (2011) para a identificação de um conjunto de indicadores económicofinanceiros, a saber: • vendas e serviços prestados, representando a faturação realizada; • resultado líquido, representando o lucro que a empresa apresenta, ou seja, aquilo que resta da sua receita, depois de considerados todos os custos dos exercício que têm que ser deduzidos a esta; • EBIT, (Earnings Before Interest and Taxes), que é o lucro antes de encargos financeiros (pagamento de juros) e impostos; este indicador reflete os resultados da empresa antes das deduções financeiras e fiscais; 93 • ativo não corrente, que incluem ativos fixos tangíveis, ativos intangíveis e ativos operacionais e financeiros de longo prazo, normalmente acima de 12 meses; • ativo corrente, que inclui os ativos que são vendidos, ou realizados como parte do ciclo normal de operações, considerado abaixo dos 12 meses; • total do ativo, representando a totalidade dos capitais próprios e alheios investidos na empresa; • capital próprio, que é o valor líquido do património da empresa, ou seja, é a diferença entre os ativos e passivos, espelhando a diferença entre tudo aquilo que a empresa possui e deve a terceiros e representando o valor contabilístico da empresa; • passivo não corrente, correspondendo ao saldo das obrigações devidas não correntes, ou seja, cujo prazo é superior a 12 meses; • passivo corrente, que representa os passivos que se espera que sejam liquidados antes de 12 meses; • total do passivo, que compreende basicamente as obrigações a pagar, isto é, as quantias que a empresa deve a terceiros e património líquido; • total do capital próprio e do passivo, representando, grosso modo, a soma dos capitais próprios – capital social, reservas e resultados – com os capitais alheios – passivo; • rendibilidade líquida das vendas, que representa a percentagem das vendas e prestações de serviços que ficam à disposição da empresa para remunerar os capitais próprios; • rendibilidade operacional das vendas, que mede a percentagem das vendas que resta depois de cobertos todos os custos de exploração, incluindo provisões e amortizações; • net ROA, que é um indicador de como a empresa é rentável relativamente aos seus ativos totais, dando uma ideia da eficiência da gestão desses mesmos ativos e da sua capacidade para gerar rendimentos que se consubstanciam nos resultados líquidos; • gross ROA, que difere do anterior por recorrer para o seu cálculo do EBIT e não do resultado líquido; • autonomia financeira, que mede a solvabilidade da empresa através da determinação da proporção dos ativos que são financiados com capital próprio; quanto mais elevado for este rácio, maior é a estabilidade financeira da empresa, quanto mais baixo, maior é a sua vulnerabilidade; 94 • rotação do ativo, que é um rácio que indica a eficiência no uso dos ativos da empresa, devendo ser comparado entre empresas da mesma indústria e podendo variar substancialmente entre indústrias de diferentes setores de atividade; • endividamento, que é um rácio financeiro que indica a proporção relativa dos ativos da empresa financiados por capitais alheios versus os financiados por capitais próprios; quanto mais elevado, maior a vulnerabilidade da empresa. 5.2.4 Análise da Informação Quando se analisam resultados emanados de estudos de casos eles não podem ser condensados em tabelas, ou frequências estatísticas, tal como acontece nos estudos quantitativos (Sánchez, 1999), na medida em que integram um elevado grau de riqueza de detalhe e de profundidade, merecendo, pois, obediência a lógicas e procedimentos de elevado rigor de análise, os quais irão permitir a construção e validação de uma determinada teorização. Neste enquadramento, Yin (2003b) apresenta três modelos que podem ser adotados pelos investigadores para a concretização deste desiderato: 1º - basear a análise nas preposições teóricas que fundamentam e estruturam o estudo; 2º - pensar em explicações contrárias que podem ter gerado influência para além das consideradas; 3º - desenvolver uma descrição do caso – situação que o autor menos aconselha, devendo apenas ser considerada quando as outras duas não sejam exequíveis. Dos modelos apresentados será escolhido o primeiro, pois, segundo o autor (Yin, 2003b) é aquele que mais se adapta às questões investigacionais do tipo “como?” e “porquê?”, as quais são a base desta investigação, orientando, desta forma, a análise a realizar em conformidade com as proposições teóricas que sustentam os objetivos desta pesquisa e que resultam da revisão da literatura realizada. Será, consequentemente, utilizada de seguida uma técnica de comparação de padrões a obter empiricamente com aqueles considerados expectáveis em função dos constructos teóricos, assim se fazendo a conexão da evidência empírica com a teoria anteriormente plasmada. É nesta perspetiva que Yin (2003b) considera que as explicações dos casos em análise passam pela descoberta dos elementos causais que os originam, os quais, maioritariamente, são fenómenos complexos e difíceis de determinar (Healy & Perry, 2000), assim fazendo com que as explicações surjam, com elevada frequência, de diversas interações e influências entre os dados a recolher e a teoria. 95 Consubstanciando o anteriormente explanado, pretende-se conseguir descrever e justificar a metodologia adotada para a realização deste estudo, considerando que a escolha de um procedimento qualitativo, com recurso a múltiplos casos, resulta do enquadramento teórico, das questões a investigar e do próprio contexto investigacional, pelo que o quadro teórico é uma constante durante todo o processo investigacional, na medida em que as empresas escolhidas apresentam uma importância sectorial relevante, adequando-se à relevância teórica pretendida, sendo a recolha de dados realizada através de entrevistas que apresentarão capacidade para acompanhar as interações e os processos evolutivos que se entende estarem alicerçados no quadro teórico da investigação. 5.3 Análise dos Casos Neste contexto, apresentam-se e analisam-se os casos empíricos em analogia com o modelo de investigação anteriormente formulado. Esta análise decorre considerando a realização das entrevistas em conformidade com as variáveis a observar para as questões relacionadas com o marketing interno, com a orientação para o mercado interno e com a orientação para o mercado. Dando corpo à tarefa da realização das entrevistas necessárias, conforme os parâmetros anteriormente identificados na metodologia como seus orientadores, caberá, conquanto, aqui mencionar que a sua efetivação, para recolha dos elementos considerados, decorreu durante os meses de março a julho de 2012, devendo ser realçado que foi relativamente fácil aceder aos respondentes identificados como «quadros superiores», acesso facilitado através de agendamento prévio, mas bastante difícil aceder aos outros respondentes, sempre sujeitos a vários condicionamentos para enquadrar a sua disponibilidade, particularmente em termos do tempo que seria necessário afetar às circunstâncias das entrevistas. Para além das questões associadas à indisponibilidade de tempo, que obrigava a repetidos contactos para tentar realizar a respetiva entrevista, também deve ser aqui mencionada a dificuldade, inerente a alguns destes últimos respondentes, muitas vezes demonstrada, para a manutenção de um diálogo fluente com o entrevistador, o que nem sempre foi um facilitador amplo da recolha de dados, condicionamento com o qual foi necessário conviver ao longo do decurso destas entrevistas. 96 5.3.1 Amorim & Irmãos, S.A. A estratégia desta empresa enquadra-se na estratégia geral do Grupo Amorim, pretendendo o reforço da posição de liderança na indústria da cortiça, através (i) da contínua internacionalização, (ii) do forte empenho na área de Investigação & Desenvolvimento e Inovação, (iii) da formação e motivação dos seus colaboradores e (iv) da certificação de qualidade dos produtos e sistemas.7 Da leitura destes objetivos estratégicos podemos considerar que existe, à partida, devidamente explicitado, por parte da empresa, uma preocupação com a qualidade e o bem-estar dos seus colaboradores, denotando um sentido de orientação para os conceitos que são o objeto de estudo deste trabalho. Nesta empresa, foram feitas quatro entrevistas que atravessaram transversalmente diferentes tipologias profissionais e com a seguinte caracterização dos entrevistados: Tabela 2 – Caracterização dos entrevistados na empresa Amorim & Irmãos, S. A. Entrevistado Função Idade AI 1 Gestor RH 31-40 AI 2 Broquista 31-40 AI 3 Rabaneador 41-50 AI 4 Topejador 31-40 Fonte: elaboração própria Escolarização Licenciatura 9º ano 6º ano 9º ano Nº anos atividade 13 16 21 14 Nº anos empresa 4 6 14 14 5.3.1.1 Entrevista AI 1 No tocante à aplicação dos conceitos em análise, em particular o do marketing interno, decorre da entrevista a AI 1 que existe uma preocupação intrínseca e constante no sentido de promover a plena adesão de todos os colaboradores à visão e à missão da empresa, na medida em que, assídua e sistematicamente, a organização tem o cuidado de recorrer a um conjunto de meios de comunicação que cumprem um papel de informação com o propósito de reconfigurar, na mente dos colaboradores, uma visão empresarial credível e plenamente entendível pelos diferentes níveis hierárquicos. Diz o entrevistado que: “…esta empresa, para além de querer manter a liderança sectorial interna e nos mercados internacionais, de querer ser reconhecida pela excelência dos nossos produtos e serviços e pela qualidade de intervenção, também quer que a liderança seja sustentada por uma equipa competente, motivada e orientada para o mercado, associada a uma rede de parceiros credíveis.”. 7 http://www.amorim.com/gru_apresentacao.php - acedido em julho de 2012 97 Acresce que, também na perspetiva do marketing interno, o desenvolvimento de competências dos colaboradores não é encarado como um custo, mas sim como um investimento a realizar regularmente, o que configura uma preocupação de melhoria relacional, existindo também o cuidado acrescido de passar informação sobre o “porquê de fazer” e não apenas sobre o “fazer”, entendendo-se em consequência que os feedbacks que são obtidos junto dos colaboradores são alvo de tratamento com o objetivo de promover a melhoria das condições de trabalho e a estratégia organizacional, enquanto meio integrador dos propósitos da empresa com os dos seus colaboradores e, portanto, como um procedimento de desenvolvimento geral. Para o entrevistado: “…se considerarmos que a competência está relacionada com o fazer algo bem feito, estamos a associar esse conceito ao resultado final. Se seguirmos este raciocínio, a competência está relacionada com o desempenho, com o comportamento das pessoas e com a qualidade desse desempenho.”. A organização compagina, ainda, políticas comunicacionais no sentido de fazer sentir aos colaboradores qual é a importância do papel de cada um no conjunto, assim fomentando o desempenho individual e coletivo, e conseguindo adquirir, desta forma, a flexibilidade suficiente para considerar as diferentes necessidades dos empregados, em especial as que se relacionam com as competências necessárias para a realização das tarefas inerentes ao trabalho a ser executado, não descurando necessidades de realização pessoal. Nesta perspetiva, o entrevistado recorre ao conceito das learnig organizations para afirmar que: “O acelerado ritmo de mudança a que estamos a assistir, está a fazer nascer um novo modelo de gestão, fazendo com que as organizações tenham como principais atributos a rapidez de reação, a flexibilidade, a capacidade de focalização e a horizontalidade da estrutura. É neste contexto que o conhecimento se afirma como um recurso fulcral do processo produtivo.”. E acrescenta: “Durante muito tempo as pessoas foram tratadas como “mão de obra”, ora, agora as pessoas passaram a ser um dos principais ativos das organizações.”. De realçar, porém, a inexistência de políticas que façam sobressair os colaboradores que mais se esforçam na perspetiva da contribuição para a visão organizacional, pois não existem, ainda, as métricas apropriadas para avaliar, e posteriormente recompensar, esse tipo de desempenho de excelência, não estando, portanto, 98 considerado o adequado reconhecimento de cada um quando isso se verifica, logo não havendo encorajamento, pela via de sistemas específicos de incentivo, a que se verifiquem comportamentos excecionais de autopromoção, nomeadamente no que diz respeito ao team building, o que na perspetiva do entrevistado: “…é uma preocupação do momento.”. Já no respeitante à conceptualização da orientação para o mercado interno, existe a preocupação de fomentar que os colaboradores sejam considerados como clientes internos e, consequentemente, tratados de forma a permitir o seu envolvimento na definição e aplicação de procedimentos de gestão tático-operacional, promovendo-se a valorização pessoal e havendo o cuidado de tentar acomodar as diferentes necessidades individuais, de modo a que se consume o bem-estar de todos os colaboradores, enquanto sistema de atração e, consequentemente, de promoção relacional entre a empresa e os seus trabalhadores. Considerando as questões diretamente relacionadas com a orientação para o mercado, existe, logo à partida, o compromisso de desenvolver competências para que os colaboradores possam entender assim como participar, no seu nível operacional, nas políticas de abordagem dos mercados da empresa, com o objetivo de alargar o envolvimento individual e, consequentemente, os níveis de participação coletiva, numa perspetiva de ferramenta conducente a um maior envolvimento e responsabilização pessoal. Assim, para além dos métodos recorrentes de estudo dos mercados (informação sobre tendências, identificação de mudanças e preferências e análise da concorrência) que são realizados com regularidade e cujos resultados, quando não encerrem níveis de confidencialidade estratégica, são normalmente divulgados no sentido de enaltecer e estimular a relação dos colaboradores com a empresa, esta envolve, ainda, regularmente os seus colaboradores num conjunto de ações conducentes a melhorias percebidas ao nível do marketing, disseminadas interdepartamentalmente e objeto de reflexão coletiva, para que se consiga obter uma rápida resposta às potenciais alterações que ocorram no ambiente de negócios. É neste sentido que existe a preocupação de, periodicamente, rever o desenvolvimento de novos produtos implicando esforços conjuntos dos departamentos nisso envolvidos, pois: “Independentemente do tipo de produtos que são desenvolvidos e introduzidos no mercado, todos eles têm um ciclo de vida que varia consoante o tipo de produto e as expectativas do mercado para esse produto. Isto vai implicar uma constante preocupação nesta matéria, se entendermos que o desenvolvimento de novos produtos permite que as empresas tenham a possibilidade de manter 99 um crescimento forte e de continuarem a ter os lucros necessários para a manutenção da sua atividade.”. Salienta-se, no entanto, o facto de a empresa não divulgar internamente dados específicos referentes a clientes, o mesmo se verificando quando, por exemplo, algo de importante acontece num grande cliente, ou num determinado mercado, e que seja um fator de condicionamento para a corrente atuação organizacional, facto que faz com que a generalidade da organização não seja informada de modo a garantir que se possa continuar a atender às diferentes necessidades e expectativas dos compradores, assim como a ter uma atuação no mercado de cariz particularmente focalizada e impulsionadora de estratégias que consubstanciem os resultados operacionais da organização. 5.3.1.2 Entrevista AI 2 Da entrevista realizada a AI 2 decorre que, no respeitante às condições de trabalho, a relação do colaborador com o tipo de tarefas que realiza é satisfatória, sentindo-se até realizado e de alguma maneira motivado para o pleno uso das suas potencialidades, o que considera um fator de alinhamentos entre os seus objetivos e os da empresa. Porém, num contexto de ordem financeira, as condições de satisfação são relativamente reduzidas na medida em que se considera mal remunerado e tendo poucos benefícios extra, sobretudo por comparação com outras organizações do mesmo ramo de atividade, considerando não entender particularmente bem a razão de tal situação. De uma forma geral, no respeitante à relação com as chefias e com a equipa de trabalho, os níveis de satisfação são positivos, pois a cooperação é fomentada e o desempenho individual também é valorizado, sobretudo ao nível da iniciativa, quer em termos da flexibilidade quer do julgamento na resolução das questões operacionais. Para o entrevistado: “…devemos trabalhar todos para o mesmo fim, pois só desta maneira é que é possível produzir com qualidade. ”. Existe ainda a perceção de que há um forte apoio no sentido de proporcionar condições para um bom desempenho, através dos esforços que são desenvolvidos para se perceber quais os problemas que possam existir aquando da execução das diferentes tarefas. Verifica-se, também, a existência de alguma relação de maior proximidade entre as diferentes chefias e os seus subordinados, na medida em que há o cuidado de auscultar sobre aspetos mais pessoais como a vida familiar, o que no entender deste entrevistado é francamente positivo, e é: 100 “…coisa que não acontece em todas as fábricas.”. Contudo, destaca como menos positivo, o facto de os superiores hierárquicos darem pouca atenção às perspetivas de carreira, tal como também não tentam perceber, adequadamente, aquilo que os subordinados acham da forma como a liderança estrita é, normalmente, exercida. Já quanto à relação institucional com a empresa, é considerado que existe uma preocupação em divulgar o esforço de relação com o mercado comprador, fornecendo, por exemplo, informação sobre a evolução das vendas, o que, segundo este entrevistado, representa um fator de motivação, pois valoriza o envolvimento de cada um, atribuindo-lhe responsabilidade pessoal e, sobretudo, um sentido de pertença ao grupo, o que é bastante valorizado enquanto sentimento que reconhece um determinado tipo de importância individual. Também é considerado positivo o esforço feito pela empresa no sentido de proporcionar formação relevante para a realização das diferentes tarefas e para a aquisição de novas competências, afirmando o entrevistado: “…mesmo sendo obrigatório, a formação que aqui é dada é sempre importante. Faz com que se conheçam novas ferramentas e técnicas para trabalhar melhor os «traços» e tirar melhores rolhas. A experiência vale muito, mas a formação é importante.”.8 E acrescenta: “É aqui, com este nosso trabalho, que a empresa começa a ganhar ou perder dinheiro.” A preocupação da empresa em disponibilizar boas condições físicas para a execução do trabalho, quer individual, quer coletivo, o que se reflete nos fatores inerentes à produtividade, é também algo que é valorizado pelo entrevistado, na medida em que assim proporciona bem-estar pessoal na execução das tarefas laborais, sendo, portanto, um agente de valorização relacional com a empresa. Quanto aos níveis de satisfação geral, e considerando que as condições globais são muito idênticas às praticadas por outras empresas da mesma importância, a satisfação 8 Traços ou rabanadas: peça obtida da cortiça preparada, conseguida através de corte no eixo radial e sobre toda a espessura da prancha de cortiça e que apresenta a forma de um paralelepípedo retangular calibrado e isento de calços, refugos e/ou de bocado, do qual se obtém as rolhas através da brocagem. (www.apcor.pt/userfiles/File/Rolha%20de%20Cortica_PT.pdf – acedido em setembro de 2012) 101 que pode ser alcançável nesta organização não é suficientemente trabalhada pelos “responsáveis”, se se atender à imagem que a empresa passa para o exterior e que é reconhecível por terceiros. 5.3.1.3 Entrevista AI 3 Esta entrevista reflete taxas de satisfação elevadas no respeitante ao tipo e condições do trabalho realizado, tal como com a concretização que essa execução possibilita no sentido do desenvolvimento e uso de capacidades pessoais, enquanto fator de promoção pessoal e, portanto, fator motivacional. No entanto, como na entrevista anterior, quando tratada a questão financeira, o grau de satisfação decresce, pois até é afirmado que as condições salariais e os benefícios complementares praticados são inferiores aos identificados noutras organizações da mesma atividade: “…tenho colegas que ganham mais do que eu. Não podem é dizer que trabalham para os Amorins … o que é bom. As firmas são seguras, pagam sempre no dia certo.”. Este entrevistado considera, entretanto, que a empresa promove algumas condições que facilitam a forma habitual de como o trabalho deve decorrer, nomeadamente a limpeza e a luminosidade, o que é um aspeto muito positivo e que contribui para que as tarefas possam ser realizadas com alguma facilidade. Essas condições estão também associadas à realização de formações, que são especializadas e regularmente ministradas, e à preocupação existente no sentido de informar atempadamente sobre novos formatos de operacionalização de tarefas. Há, contudo, na sua perspetiva, algumas falhas no respeitante às condições ergonómicas dos postos de trabalho, o que, no seu entender, não facilita uma plena produtividade, pois se se considerar que a sua função integra uma componente de análise relativamente aleatória e de muita responsabilidade, dela dependendo toda a qualidade do processo produtivo que se lhe segue e, consequentemente, do produto final, esta questão deveria ser objeto de mais atenção por parte da organização. Considera, no entanto, que tem pleno apoio das chefias diretas, praticamente em todos os contextos, permitindo-lhe assumir iniciativas próprias quando é necessário tomar decisões operacionais, apesar da muita responsabilidade das suas tarefas. Sente que as chefias: “…dão muito apoio…”, 102 preocupando-se bastante com a necessidade de perceber quais os tipos de problemas que possam ocorrer na execução das diferentes tarefas da sua função, tal como se envolvem, ativamente, nas condições do seu desempenho, através de um acompanhamento constante e pessoal, o que é um fator agregador no contexto laboral e, assim, promovendo laços relacionais de plena confiança. Em termos gerais, e tratando o desenvolvimento do conceito da felicidade no local de trabalho (HWP), considera que na empresa existem algumas iniciativas que motivam positivamente e recompensam os empregados proporcionando-lhes condições de felicidade geral, quer em termos pessoais, quer em termos profissionais, o que se vem a traduzir numa maior adesão dos colaboradores para com as solicitações da empresa. 5.3.1.4 Entrevista AI 4 Este entrevistado começa por manifestar o seu contentamento geral quanto ao tipo de trabalho que realiza, considerando que a empresa lhe proporciona as condições necessárias para utilizar, com proactividade, os conhecimentos adquiridos ao longo do percurso profissional, o qual sempre decorreu nesta organização. Esta possibilidade de intervir, tomando decisões à medida que as questões vão aparecendo, o que é muito fomentado pela empresa, é um fator motivador, permitindo não incorrer em situações de excesso de “mecanização” laboral, apesar de que os resultados a obter, quer em qualidade como em quantidade, têm que ser os necessários para os objetivos de produção. Diz o entrevistado: “…há muita mecanização, mas a cortiça é toda diferente. Tem de ser o operador a controlar onde e como funcionar. Estamos sempre a ter que, muito rapidamente, fazer de uma maneira ou de outra. No fim, a rolha é que tem que estar boa.”. Quando abordadas as questões de índole financeira, os resultados são idênticos aos anteriormente observados em AI 2 e AI 3 pois considera-se mal remunerado, por comparação com outras empresas da mesma atividade e de dimensão idêntica, tal como entende que os restantes benefícios que a empresa oferece poderiam ser mais adequados ao esforço que se exige a um operador fabril, fazendo, de certa forma, alguma comparação com outros tipos de funções não fabris que considera mais bem remuneradas, com melhores benefícios extra e outras “regalias”. Entende, no entanto, que existe um grande espírito de equipa e de apoio entre colegas da área fabril o que origina elevados índices de cooperação e de colaboração fomentando a alta qualidade do trabalho realizado, o que de alguma forma é aquilo 103 que todos desejam para a estabilidade dos respetivos postos de trabalho, o que só é alcançável com: “…boas produções.”. Considera que é agradável trabalhar numa organização com o tipo de reconhecimento externo que esta tem, havendo preocupação da empresa em divulgar, junto de todos os colaboradores, as suas realizações quer em termos de sucesso junto dos clientes quer em termos de tecnologias operativas que utiliza para se distinguir de outras empresas e, assim, alcançar esse sucesso. Nesta perspetiva da perceção do sucesso, entende que há preocupação por parte da organização em proporcionar condições laborais para que seja possível “trabalhar bem e depressa”. Reconhece o envolvimento das chefias diretas no sentido de permitir autonomia operativa e tomada de decisões críticas, apesar de entender que há pouca consideração pelo colaborador quando se trata de perspetivar um futuro dentro da empresa. Há pouca informação sobre alternativas de carreira. Relativamente a esta questão, afirma: “…se não nos interessarmos, ficamos toda a vida a fazer o mesmo. Não nos dizem […] até onde é que podemos chegar.”. Também não avalia positivamente o comportamento dessas mesmas chefias no tocante a um envolvimento mais pessoalizado com os colaboradores, considerando que a liderança nem sempre é exercida de forma apropriada. Entende, nesta perspetiva, que existem alguns excessos e autoritarismo e pouco envolvimento no sentido de perceber o esforço extra que, pontualmente, é necessário fazer para que as tarefas sejam realizadas com a celeridade e a qualidade desejadas. Apesar de tudo, o grau de satisfação é positivo e as condições gerais de trabalho são boas, o que expressa dizendo: “Sinto-me razoavelmente satisfeito, em especial pelo trabalho que posso fazer.”. Acrescenta, contudo, para concluir: “O reconhecimento não é o mais adequado. A mesma coisa para a gestão da carreira que está muito confusa. Sinto-me razoavelmente realizado com o trabalho que faço e pela flexibilidade que me é dada.” 104 5.3.1.5 Análise dos Indicadores de Desempenho 5.3.1.5.1 Indicadores Económico-financeiros da Empresa Amorim &Irmãos, S. A. Esta empresa apresenta contas consolidadas na S.G.P.S. Corticeira Amorim, S. A., no ponto 2.2 Rolhas, referente ao ano de 2009, e no ponto 3.2 Rolhas, referente aos anos de 2010 e de 2011, dos respetivos Relatórios de Contas, pelo que a análise do desempenho será realizada considerando as observações desses mesmos Relatórios (ver anexo 2). De uma forma geral o ano de 2009 foi marcado por dois períodos distintos: até meados de março, o sentimento económico registou degradação generalizada e os mercados financeiros assistiram a fenómenos de capitulação. A evolução macroeconómica traduziu isso mesmo, com contrações acentuadas do PIB no primeiro trimestre a nível dos países desenvolvidos e na generalidade dos emergentes. Após março, registou-se uma recuperação do sentimento económico, com os mercados financeiros a estabilizarem e, gradualmente, a assumirem uma tendência de valorização que persistiu até ao final do ano. A nível do crescimento económico observou-se uma tendência de recuperação moderada, liderada pelos países emergentes. A procura externa proveniente de países como a China e a Índia, e dirigida às economias desenvolvidas, foi visível no contributo positivo das exportações líquidas para a recuperação. Ainda assim, a redução da atividade económica observada nos primeiros meses do ano foi de tal magnitude que determinou uma contração mundial em 2009, que se estima tenha atingido -1,1%.9 Já o ano 2010 terá registado um crescimento global de 5,0%, com o segundo semestre a mostrar níveis de atividade acima do esperado, em nítido contraste com a contração global observada no ano anterior e um registo acima da média histórica de crescimento mundial. A recuperação foi marcada pelo acentuar da evolução económica a duas velocidades: nas economias desenvolvidas, o crescimento, ainda que superior ao estimado, manteve-se moderado; na maior parte das economias em desenvolvimento, pelo contrário, a atividade mostrou- se robusta, assente na procura privada, com políticas monetárias ainda expansionistas e entrada significativa de fundos externos. 9 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 105 (Auditadas), Ano 2009 A segunda metade do ano terá registado um desempenho acima do esperado pela melhor performance do consumo privado nos EUA e no Japão. Estima-se que a Zona Euro tenha registado um crescimento de 1,8% em 2010. Os EUA deverão ter registado um incremento de atividade a rondar os 2,8%, enquanto o Japão – que cedeu o lugar de segunda maior economia mundial à China, após 40 anos nessa posição – terá crescido 4,3%. Estas três economias tinham apresentado contração económica em 2009. A China terá registado uma expansão de 10,3% no produto interno bruto (PIB). A Índia, por sua vez, terá observado um crescimento de 9,7%, acelerando decisivamente face ao nível de crescimento económico de 2009 (5,7%). O Brasil e a Rússia terão conseguido um crescimento de7,5% e 3,7% respetivamente. África terá registado uma variação positiva de 5,0%. Os mercados financeiros recuperaram genericamente durante 2010.10 O ano de 2011 terá registado um crescimento global de 3,8%, substancialmente abaixo do previsto há um ano atrás. Foi um retrocesso face à evolução 2009/10. O abrandamento, notório nas economias desenvolvidas, atingiu todas as regiões. Catástrofes naturais, como o terramoto seguido de tsunami no Japão, em março, ou mais tarde, as cheias na Tailândia tiveram um impacto negativo acentuado na supplychain mundial. A crise da dívida soberana na Zona Euro, com todos os avanços e recuos, ditou a penalização da confiança dos investidores, condicionando gradualmente empresas e famílias – investimento e consumo terão caído acentuadamente. Os países emergentes terão evidenciado os efeitos da contração das importações europeias, tendo-se registado um volte-face relativamente aos receios de sobreaquecimento que se ponderavam no final do primeiro semestre. O comércio internacional terá crescido à taxa de 6,9%, praticamente metade do apurado em 2010. Os fluxos de capital para as economias emergentes terão diminuído durante 2011, de forma mais acentuada nos últimos meses do ano. A Zona Euro terá registado em 2011 um crescimento em torno de 1,6%, abaixo do referencial do ano anterior. Os Estados Unidos da América terão crescido ao ritmo de 1,8% enquanto o Japão, evidenciando o forte impacto dos fenómenos naturais que atingiram o país, terá registado contração económica de 0,9% – uma alteração substancial face aos 4,4% de crescimento observados em 2010. A China, por sua vez, terá registado um abrandamento no crescimento, registando uma taxa de 9,2%. A Índia terá registado uma expansão em 10 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 106 (Auditadas), Ano 2010 torno de 7,4%, um ritmo menor do que o verificado no ano precedente. O mesmo terá acontecido com o Brasil, se bem que em magnitude superior, pois a taxa de crescimento terá diminuído de 7,5% para 2,9%. A Rússia terá sido a verdadeira exceção à evolução desfavorável face a 2010 uma vez que terá registado um incremento marginal de 0,1 pontos percentuais na taxa de crescimento face aos 4,0% de 2010.11 5.3.1.6 Conclusão Das entrevistas realizadas nesta empresa é possível inferir que há uma forte preocupação dos quadros superiores em promover, junto de toda a organização, princípios facilitadores da relação entre os distintos departamentos e todos aqueles que os compõem. Parece evidente a colagem aos conceitos do marketing interno, considerando que o marketing em si não é de uso exclusivo dos técnicos que se vocacionam para o mercado externo, pois na organização há um alargar generalizado deste conceito à totalidade dos stakeholders. Há uma preocupação no sentido de fazer a ponte entre esta conceptualização e a perspetiva do tratamento dos colaboradores enquanto clientes internos, integrando o prisma da orientação para o mercado interno, através de estratégias de marketing que funcionam como procedimentos de aperfeiçoamento contínuo, alinhando os comportamentos dos empregados, que são estimulados para um melhor desempenho, assumindo maiores níveis de responsabilidade, com os objetivos organizacionais. Esta perspetiva permite, por sua vez, integrar a cultura empresarial naquilo que são as necessidades profissionais e pessoais dos seus colaboradores, conforme defendido por Varey (1995a). O marketing interno é, pois, entendido como uma estratégia comunicacional que deve desenvolver uma cultura organizacional generalizadamente sustentada na consciencialização de serviço ao cliente, sendo os empregados estimulados para um envolvimento de “cultura familiar” (AI 1) que se espelha no esforço do serviço ao cliente externo, devidamente sustentado pelos respetivos gestores ao fomentarem o empowerment individual enquanto fator facilitador mais-valias por partes dos colaboradores. Com este entendimento desenvolvido no seio da empresa, é possível considerar que o marketing interno tem como âmbito fomentar o aumento da capacidade organizacional na sua relação com os clientes, particularmente no que diz respeito à sua satisfação, em total consonância com Gounaris (2008a). 11 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 107 (Auditadas), Ano 2011 O conceito de marketing interno que tem vindo a evoluir, pois, da satisfação, e consequente motivação, dos empregados ao serem considerados como clientes e os seus postos de trabalho como produtos, com o objetivo de promover a qualidade de serviço, passando para o conceito de orientação para o cliente e/ou orientação para o mercado interno com um uso substancialmente alargado das abordagens do marketing para poder reforçar as formas motivacionais internamente aplicáveis junto dos colaboradores da empresa, é algo que a empresa tem vindo a acompanhar, sempre com cada vez mais intensidade e sentido de futuro. Há, pois, um forte investimento na lealdade baseada no relacionamento humano, assim conduzindo ao incremento do empenhamento e da motivação (Varey & Lewis, 1999), na medida em que todos os níveis hierárquicos são chamados a contribuir com o seu desempenho para alcançar patamares de excelência qualitativa no serviço ao cliente externo (AI 1). Nesta perspetiva, as estratégias de sucesso do marketing interno promovem, simultaneamente, a satisfação em relação ao trabalho realizado e o orgulho de pertença à organização, daí resultando um incremento comportamental do empregado (Arnett, Laverie & McLane, 2002), quer no empenho colocado nas tarefas a realizar como no juízo pessoal de inclusão organizacional (AI 3). Porém, verifica-se a existência de uma consciencialização interna de que há uma distinção entre colaboradores fabris e não fabris, pelo que se começa, e apenas se começa, a enveredar por condições de segmentação destes públicos-alvo para que as mensagens emitidas e outros meios de envolvimento tenham os efeitos desejados. Segundo AI 1, há, realmente, uma aplicação transversal de um determinado conjunto de benefícios, mas à medida que se vai evoluindo na escala hierárquica, existem outros tipos de benefícios, aplicados a todos os escalões do mesmo nível, que efetivamente fazem alguma distinção entre colaboradores. A génese deste regime teve como objetivo encontrar soluções de gestão estratégica que permitissem promover a melhoria da comunicação interprocessos, que em conformidade com este entrevistado: “…iria permitir equilibrar os centros de decisão, racionalizando os fluxos de informação e otimizando as distintas atividades de modo a alcançar a melhor relação custo x benefício.”. Há, pois, benefícios gerais a toda a organização e benefícios específicos por categorias profissionais, que são diferenciadores à medida que se sobe na escala hierárquica, mas que, contudo, pretendem transmitir a todos os patamares internos uma perceção de segurança, boas condições laborais, quer por comparação com empresas do mesmo ramo quer com outras da mesma região não ligadas à cortiça. 108 Esta circunstância é compreendida de uma maneira generalizada no seio organizacional, estando contudo mais focalizada na comparação externa do que no âmbito interno, percebendo-se em particular quando AI 2 refere que há poucos benefícios extra para os colaboradores da produção, sobretudo por comparação com outras organizações do mesmo ramo de atividade, comentando também AI 3 que os benefícios complementares praticados são inferiores aos identificados noutras organizações da mesma atividade. No entanto, o conceito de marketing interno devidamente aplicado tem vindo a permitir que a organização obtenha benefícios ao nível da promoção do valor do empregado, ao nível da racionalização geral dos fluxos internos e da capacidade de decisão, apesar de haver o reconhecimento de que existem ainda e sempre condições e situações a melhorar em todos os sentidos, o que decorre também dos momentos temporais em que se procede à análise e avaliação destes conceitos. Este mesmo entendimento de melhoria continuada é defendido por Rafiq & Ahmed (2000) quando consideram que os gestores necessitam de prestar uma maior atenção à comunicação das estratégias de marketing. Mas não só de marketing, também dos objetivos que se pretendem alcançar, de modo a que a consciencialização de mercado entre os empregados possa ser enquadrada, sendo, pois considerada como um elo de ligação entre as diferentes atividades e o desempenho da organização nos seus mercados externos. Há, assim, na organização, um foco grande na perspetiva da orientação para o mercado interno, através de políticas organizacionais que vão privilegiar o entendimento do cliente interno e das suas necessidades, sendo que é através da gestão comportamental desta conjugação que se espera que a empresa irá ter maior desempenho, na medida em que a qualidade do “serviço” prestado pelos colaboradores, dependerá, assumidamente, do nível de adoção dessa estratégia de orientação para o mercado interno (Tortosa et al., 2009). Esta atuação traduz-se nalgum “retorno simpático” (AI 1) para a organização, como por exemplo na possibilidade de ainda desenvolver a sua atividade considerando uma cultura de índole familiar, que inclui a promoção de um envolvimento social regional e, sobretudo, uma valorização acompanhada da prestação dos colaboradores o que, por sua vez, se traduz numa perceção qualificada das condições gerais de trabalho e dos seus outcomes. Nesta perspetiva, a maioria dos estudos realizados sobre a relação de atitude dos empregados com as empresas, no respeitante a fatores como satisfação, empenhamento e envolvimento, concentrou-se, exatamente, no binómio atitude / desempenho e esses estudos fornecem evidência de que as atitudes dos empregados estão relacionadas com o desempenho organizacional, havendo demonstração de que 109 a orientação para o mercado está relacionada com atitudes e comportamentos dos empregados (Schneider et al., 2003; Lings & Greenley, 2010). O cliente externo, enquanto pleno alvo da estratégia de orientação para o mercado da empresa, é fortemente influenciado pelo cliente interno, numa simbiose relacional entre a orientação para o mercado interno e o externo, havendo, generalizadamente, no seio organizacional, uma noção de um serviço ao cliente, quer interno quer externo. Havendo, assim, um sentido de responsabilidade devidamente assumido neste âmbito, há, também, uma certa preocupação em manter um low-profile na comunicação externa, apesar de se considerar que os clientes são “difíceis” (AI 1), assegurando, portanto, ações facilitadoras de impactos comunicacionais externos positivos através de mensagens muito bem elaboradas e funcionalmente transmitidas. É pois possível perceber que estando o marketing interno relacionado positivamente com o desempenho, como é defendido por Tortosa-Edo et al. (2010) ao considerarem que uma adequada gestão do pessoal conduz a uma melhoria da interação do empregado com o cliente e, consequentemente, a um maior sucesso da organização no mercado externo, a empresa desenvolve e recorre a um conjunto de ações que lhe permitem obter posicionamentos junto dos seus clientes só alcançáveis devido ao empenho generalizadamente colocado na gestão do relacionamento interpessoal. Nesta perspetiva, a investigação realizada aponta para que a orientação para o mercado interno seja um fator propiciador de sensibilidade para o mercado externo e de relacionamento com os clientes, conduzindo as empresas a um superior desempenho organizacional, através do aumento da satisfação dos clientes e da sua lealdade (Dawes, 2000; Hughes et al., 2008; Li et al., 2008; Kirca, 2011). É assim que se entende que um dos elementos fundamentais para alcançar qualidade no relacionamento empresarial externo é a satisfação global dos empregados e que isto é alcançável através do marketing interno, designado por orientação para o empregado, e devidamente consubstanciado na orientação para o mercado interno, necessitando as empresas de primeiramente garantir a satisfação dos seus empregados antes de conseguirem alcançar a satisfação dos consumidores (Gounaris, 2008a; Tortosa et al., 2009), prática assumida nesta organização. Finalmente, na perspetiva global dos colaboradores, é possível afirmar, considerando o teor das entrevistas efetuadas, que no tocante à satisfação percebida, a empresa proporciona as condições suficientes para que esta variável seja uma constante positiva na relação mantida com os seus empregados. O nível de descontentamento observado é pontual, referindo-se a questões relativamente específicas, não afetando 110 o panorama geral concernente ao estado de agrado advindo do sentido de pertença a esta organização. Já considerando o conceito de felicidade no local de trabalho (HWP), não são plenamente visíveis outputs que reiterem inteiramente esta de ideia de estar realizado do ponto de vista pessoal e profissional. Se a felicidade, segundo Batista (2012) é um estado que está alojado no código genético das pessoas, então, nesta empresa esse gene não parece ter sido desenvolvido pelos seus colaboradores, apesar da evidência dos esforços organizacionais para que predominem as interações positivas conducentes a níveis mais elevados de rendimento e ao bem-estar dos colaboradores. Considerando a análise do desempenho desta empresa, é importante começar por referir que 2009 registou, pelo terceiro ano consecutivo, uma redução do consumo mundial de vinho. Esta unidade de produção de rolhas registou uma redução de vendas de 8,6% em valor e de 3,8% em quantidade, o que evidencia a alteração do mix das rolhas comercializadas, em consequência das medidas de racionalização de custos operacionais implementadas pela indústria vinícola. Em termos de mercados, a empresa registou uma redução generalizada de vendas, com especial incidência no velho mundo. Nota positiva para a evolução registada nas vendas para a Rússia, China, Canadá e Bélgica. As vendas do mais importante produto da empresa - rolhas naturais – tiveram uma redução generalizada em todos os mercados de referência, verificando-se um fenómeno de substituição destas rolhas premium por outras rolhas de cortiça de menor custo mas de elevada performance físico-mecânica, como é o caso das rolhas aglomeradas e das rolhas neutrocork, tendose, também, verificado uma evolução favorável nas vendas de rolhas de champanhe. As medidas de eficiência operacional e de qualidade de serviço foram cruciais para a sustentação da evolução da rentabilidade da empresa, sendo de realçar, pelos continuados efeitos positivos esperados: (i) a conquista da preferência das empresas vinícolas multinacionais, a large domestic market, graças à qualidade do produto, ao seu preço e à excelência do serviço, (ii) a dinamização da presença nos mercados de referência como os Estados Unidos, Chile, Austrália, Franca, Itália e Espanha, (iii) o desenvolvimento técnico do produto, transportando as inovações para as soluções disponibilizadas ao mercado, alargando o portfolio e respondendo à crescente exigência dos clientes e (iv) a maior eficiência na gestão da cadeia de abastecimento, melhorando os níveis de serviço, com impacto favorável ao nível do capital investido. A margem bruta registou uma diminuição de 1,46% face a período homólogo, totalmente justificada pela quebra referida redução das vendas, apesar de em termos 111 percentuais se ter registado mesmo uma melhoria de 2,9 pontos, fruto de medidas de racionalização industrial e alteração do mix de vendas. Os custos operacionais diminuíram 7,1%, em resultado da racionalização industrial e da rede de distribuição e da maior eficiência das áreas de suporte. Assim, apesar da redução das vendas, o EBITDA, expurgado dos efeitos da reestruturação, aumentou 24,1% face a 2008, o rácio EBITDA/Vendas atingiu os 12,3% (9% em 2008), claramente destacando a eficiência operacional alcançada. De destacar também o sucesso das medidas de controlo e diminuição do capital investido que possibilitaram uma redução de 9,1% deste agregado, face aos valores registados no final de 2008.12 Para esta empresa, enquanto unidade de negócios de rolhas, o ano 2010 foi marcado por um aumento de vendas em todos os mercados de referência, com especial incidência no “velho mundo”: França, Itália e Espanha. No total as vendas cresceram 13,1% em valor e 13,3% em quantidade. Destaque também para o bom desempenho das vendas para a Israel, Moldávia, Reino Unido e Ucrânia, com crescimento de 37% face a período homólogo. As vendas para a Austrália, mercado sob forte pressão dos vedantes alternativos, registaram um aumento, face a 2009, de 17,4%. Esta performance assinalável resultou fundamentalmente de três fatores: (i) do ligeiro aumento do consumo mundial de vinho – cerca de 1,3% (o que contrasta com o decréscimo de 3,7% verificado em2009), (ii) da reposição de stocks por parte do mercado e (iii) do aumento da quota da empresa. As vendas do mais importante produto – rolhas naturais – tiveram um aumento generalizado em todos os mercados de referência, cifrando-se o crescimento total em 13,1% face a período homólogo, tendo-se verificado também um aumento da quota de mercado nomeadamente em França, EUA, Itália, Chile, Argentina e Austrália. Nota positiva para as rolhas para champanhe e Neutrocork® e Twin Top® que melhoram a sua contribuição, face ao ano de 2009, e incrementos nas vendas de todos os outros produtos. As vendas de rolhas para champanhe registaram um aumento de 23%, em contraste com a quebra registada em 2009. Atualmente, champanhe e vinhos espumosos são produtos globais com tendência a um aumento importante do consumo. 12 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 112 (Auditadas), Ano 2009 A procura crescente do mercado por produtos de baixo preço e de boa perfomance alavancou as vendas de rolhas Neutrocork®, que tiveram um crescimento de 26%. A margem bruta registou um aumento de 18,7% face a período homólogo, justificada pelo aumento das vendas, pela evolução cambial favorável, pelos resultados das medidas de racionalização industrial e alteração do mix de vendas, privilegiando segmentos de maior valor acrescentado. O EBIT teve um crescimento de 23% resultado do efeito das vendas e diminuição do peso relativo dos custos operacionais nas vendas, graças à contínua procura de sinergias e racionalização de gastos, concretizando claramente o objetivo de maximizar a eficiência operacional. Num clima de forte contração da economia mundial, com aumentos acentuados do custo de capital e com níveis de liquidez muito controlados pelas entidades financeiras, era imperativo levar a cabo medidas importantes de controlo e diminuição do capital investido. Sendo assim, o capital investido no final de 2010 evidencia uma diminuição de 7,8% face a igual período de 2009 e uma melhoria da rotação do fundo de maneio em 28,7%.13 Da análise da atividade realizada para o ano de 2011 constata-se que nos últimos anos se tem assistido a um relevante desenvolvimento do mercado vinícola mundial: a globalização do consumo e a emergência de novos países produtores de vinhos, mais sofisticados tecnologicamente, têm colocado em evidência um setor onde tradição e cultura coabitam com inovação e experimentação. Na empresa, o ano de 2011 foi marcado por um aumento de vendas de 9,1%, face a 2010, tendo-se registado uma evolução favorável em todos os mercados de referência, com especial incidência nos EUA, França, Itália, Argentina e Espanha, que, no seu conjunto contribuíram 78% do aumento total. As vendas do mais importante produto – rolhas naturais – tiveram um aumento generalizado em todos os mercados de referência, com exceção do Chile. O aumento situou-se em 8,6% face a período homólogo. As rolhas Neutrocork® aumentaram 7,6% face a 2010, sendo que os EUA, França e Itália representam 80% do crescimento. As rolhas Twin Top®, um excelente produto com um bom posicionamento de preço, registou um aumento de 1,4% face ao período homólogo. 13 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 113 (Auditadas), Ano 2010 No que concerne às rolhas de champanhe, vem-se registando desde 2009 um progressivo aumento na procura deste produto, em particular nos chamados novos mercados, como a China, o Chile e os Estados Unidos da América. A margem bruta registou um aumento de 7,2% face a período homólogo, favoravelmente influenciada pelo efeito do aumento das vendas, pelas melhorias introduzidas no processo produtivo e pela alteração do mix de vendas. Os custos operacionais tiveram um aumento de 8,4%, grandemente indexados ao aumento de atividade, com exceção da fatura energética em que se registaram incrementos de preços na ordem dos 24%. O EBIT corrente teve um crescimento de 11,5% resultado do aumento de atividade, da manutenção do peso relativo dos custos operacionais nas vendas e do programa de melhoria da eficiência operacional implementado. O capital investido no final de 2011 evidenciava um crescimento de 7,8% face a igual período de 2010 totalmente justificado pelo aumento de atividade, com impacto nas rubricas de clientes e stocks, e pelo volume de investimentos de expansão e modernização da capacidade produtiva instalada.14 14 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 114 (Auditadas), Ano 2011 5.3.2 Amorim Revestimentos, S.A. Tal como referido para a empresa anterior, a estratégia da empresa agora em causa integra-se, também, nos pressupostos gerais do Grupo Amorim, que têm como objetivo garantir o crescimento sustentado do grupo por meio de investimentos em setores e áreas geográficas com potencial elevado de rentabilidade (i) identificando empresas de qualidade comprovada que necessitem de recursos financeiros e expertise, (ii) realizando investimentos segundo uma rigorosa disciplina nas avaliações das oportunidades e (iii) fomentando a mudança, com disciplina e espírito empresarial, para permitir que as empresas alcancem todo o seu potencial, criando assim valor para os acionistas.15 Tal como anteriormente, também nesta empresa, foram feitas quatro entrevistas que neste caso particular incidiram essencialmente em tipologias profissionais mais ligadas a áreas administrativas e de gestão intermédia com a seguinte caracterização dos entrevistados: Tabela 3 – Caracterização dos entrevistados na empresa Amorim Revestimentos, S. A. Entrevistado Função AR 1 Diretor RH AR 2 Administrativo AR 3 Téc. Comunicação e RP AR 4 Adj.tº Respons. Dep.tº Fonte: elaboração própria Idade 41-50 31-40 31-40 31-40 Escolarização Licenciatura 12º ano Licenciatura 12º ano Nº anos atividade 20 22 17 24 Nº anos empresa 1 22 15 21 5.3.2.1 Entrevista AR 1 Deve começar por ser salientado que este entrevistado, apesar de apenas estar a desenvolver a sua atividade há um ano nesta empresa, já integra o Grupo Amorim, em funções idênticas, há 16 anos. Assim, decorre desta entrevista, no âmbito do marketing interno, que a empresa tem como grande preocupação a capacidade comunicacional transversal no sentido de que os princípios orientadores da atuação organizacional, nomeadamente a visão e a missão, sejam devidamente identificados por todos os colaboradores, propagando, desta forma, um espírito coletivo comum, que faça com que todos se revejam no todo organizacional. Existe um cuidado acrescido com a preparação dos colaboradores para a compreensão das estratégias da empresa, assim como no que diz respeito à sua habilitação para que os objetivos delineados possam ser alcançados. Neste campo, há 15 http://www.amorim.com/gru_apresentacao.php - acedido em julho de 2012 115 um constante empenho no desenvolvimento das competências individuais, considerando-se que já se alcançaram patamares elevados, mas: “…existem, ainda, oportunidades de melhoria.”. Verifica-se, também, a necessidade de fazer com que as pessoas: “…sempre que necessário e aplicável.”, sejam impulsionadas para o trabalho conjunto, promovendo o espírito de equipa dentro dos distintos setores operacionais, de modo a que se consiga obter uma estruturação organizacional mais capaz de responder aos estímulos externos, o que é considerado como um fator fulcral de desempenho da empresa. Porém, acontece que a transmissão de valores de índole mais diretamente relacionada com a posição individual de cada colaborador nem sempre é passada de forma idêntica em todos os níveis da organização, em particular no respeitante às questões associadas à identificação das razões pelas quais determinada tarefa deve ser realizada e não somente que deve ser realizada, o que se justifica tendo em consideração a estratificação hierárquica existente, devidamente associada aos diferentes graus de qualificação e de implicação estrutural, apesar de ser uma preocupação atual a inversão deste modus operandi. Contudo, de uma forma alinhada, a organização desenvolve ações que medem a atuação dos empregados, com o objetivo de implementar modelos gerais de melhoria e de recompensa daqueles que mais contribuem para o desempenho final em termos sectoriais e de conjunto, tendo em atenção os diferentes níveis hierárquicos, assim encorajando a que: “…se faça sempre melhor. O que está em causa é o resultado final, que interessa a todos os que integram os diferentes setores da empresa.”. Ainda no contexto dos conceitos do marketing interno, não é evidente que a empresa seja suficientemente elástica para considerar as diferentes necessidades dos empregados, apesar do esforço que tem vindo a ser realizado com o objetivo de que haja uma maior aproximação relacional da empresa com os colaboradores, através de ações de maior proximidade comunicacional, espelhando um sentido de mudança institucional mais conforme com a generalidade de atuação do Grupo, que preza substancialmente este género de ações conducentes a um melhor relacionamento com os distintos níveis hierárquicos. Quanto às atuações identificáveis com a orientação para o mercado interno, há uma preocupação acrescida para implementar, constantemente, o preceito de fazer perceber que vigora o princípio do cliente interno, no qual os colaboradores adquirem capacidade para se envolver em comportamentos de gestão corrente (operacional), 116 assim sendo valorizada a importância de cada um para a tarefa que realiza e, concomitantemente, promovendo a auto estima e a motivação pessoal. Contudo, segundo o entrevistado, nem sempre tem sido plenamente alcançado este modelo de gestão, pois: “…nem sempre haverá essa perceção.”, particularmente nas áreas mais diretamente relacionadas com a produção, portanto em níveis hierárquicos mais baixos, onde o sentido de que existe uma real promoção do quanto os colaboradores são valorizados, não está tão afinado. Porém, para o entrevistado, a questão da orientação para o mercado interno tem de ser entendida como: “…uma competência chave.”, havendo, no Grupo, unidades de negócio que se relacionam entre si, há muito tempo, seguindo este modelo de gestão. O que falta é: “…enquadrar o modelo em todos os limiares operacionais.”, apesar de, em termos de gestão interna, haver a preocupação assumida de considerar todos os colaboradores como fazendo parte integrante do conjunto dos stakeholders com quem a empresa se relaciona. No respeitante à forma como a orientação para o mercado é entendida pelos diferentes níveis de colaboradores, o entrevistado considera que há uma perceção bem disseminada da qualidade de atuação da empresa, pois, maioritariamente, a generalidade das pessoas tem a noção dos esforços desenvolvidos para que haja uma aproximação às reais necessidades dos clientes e, sobretudo, das ações concretizadas para que se alcance tal desiderato. Dá como exemplo o caso de que: “…todos sabem que o grupo quando exporta para a Austrália não pode acondicionar a mercadoria em paletes de madeira. Tem de usar paletes de cartão. […]. Isto é algo que é do conhecimento geral e que é entendido como um esforço global de adequação às necessidades dos mercados.”. Nesta perspetiva, segundo o entrevistado, a generalidade dos colaboradores consegue identificar que a empresa procede regularmente a modificações ao nível dos produtos para poder acompanhar as mudanças e as tendências dos diferentes mercados onde opera, muitas vezes até se antecipando a essas alterações através dos esforços que realiza em I&DI. É percetível pela maioria dos colaboradores que existem ações de relação com os mercados, ações de marketing, que fazem com que a imagem da 117 empresa e dos seus produtos seja de nível elevado, assim espelhando uma contribuição individual e coletiva que reflete o espírito de afinidade entre os interesses comuns à empresa e aos colaboradores. Nesta perspetiva da relação da empresa com o exterior e da forma como ela é percebida internamente pelos colaboradores, o entrevistado refere: “O filme promocional que fizemos com o Rob Schneider, o Save Miguel, foi um êxito de identificação interna.” Já numa perspetiva de relação direta com o mercado, é de destacar, no entanto, alguma falta de avaliação realizada junto dos utilizadores finais com o objetivo de perceber a qualidade de uso dos produtos que a empresa fabrica. Esta avaliação é, essencialmente, feita através de terceiros, os compradores (distribuidores) e/ou aplicadores. Sendo, no entanto, o seu resultado muito valorizado pela empresa, ele não faz, contudo, parte da estratégia de comunicação interna pois considera-se que a disseminação dos méritos alcançados pelo todo organizacional deve ser sobretudo estrutural e, portanto, assentar na relação com os clientes diretos. Há, contudo, o conhecimento transversal de que os diferentes departamentos agem em conjunto no sentido de enfrentar as condicionantes impostas pelos diferentes mercados e que essa forma de proceder é benéfica para o todo organizacional. O entrevistado considera, contudo, que existem oportunidades de melhoria e, portanto: “…muito a fazer neste âmbito.”, sobretudo quando se trata de divulgar, de modo que abranja a generalidade organizacional, informação sobre aquilo que de relevante se passa nos clientes e nos mercados em geral, tal como também não são divulgados dados específicos sobre os clientes, o que pode ser entendido como uma falha comunicacional para com os colaboradores, enquanto parte completamente interessada nos resultados da empresa. 5.3.2.2 Entrevista AR 2 Este entrevistado entende que aquilo que lhe é requerido fazer lhe permite considerar que, de uma maneira geral, consegue alcançar níveis de realização pessoal interessantes, o que atribui, maioritariamente, à envolvente em que o trabalho decorre, pois as condições corpóreas são boas, pensadas para que haja um bom ambiente para a execução das diferentes tarefas, e as condições relacionais com os colegas e as chefias também são excelentes o que lhe possibilita usar em plenitude os seus conhecimentos e as suas competências. 118 Na perspetiva relacional com os colegas, entende que apesar da existência das melhores condições de colaboração e de preocupação no sentido do contributo individual para o coletivo departamental, ainda haverá questões que devem ser objeto de aperfeiçoamento, pois o resultado geral é, na sua opinião, “apenas de nível médio”, podendo ser guindado a níveis de qualidade superior, compaginando, então, melhor contribuição para o resultado final da organização. Já no tocante à relação com as chefias, considera que há uma grande preocupação no sentido de promover níveis de autonomia individual elevados, de modo a que o normal executar das diferentes tarefas seja algo que é realizado sem obstáculos e sem excesso de dependência de terceiros, o que é traduzido através do estimular das capacidades para tomar iniciativas, das condições de flexibilidade dessas mesmas iniciativas e, sobretudo, da confiança no ajuizar das soluções para as eventuais dificuldades a ultrapassar. A acrescer, ainda considera que há uma forte atenção da chefia no que diz respeito à progressão dos colaboradores, pois envolve-se ativamente na resolução de possíveis problemas da operacionalização das tarefas, assim como manifesta apreensão quanto às condições de desempenho individual e coletivo do departamento, na medida em que sendo o planeamento baseado em objetivos a alcançar, devidamente associados, também, ao espírito de função social da empresa, a identificação dos fatores facilitadores e daqueles que dificultam essa aspiração são fundamentais para todos: “…em especial para as chefias.” Há também a demonstração de interesse sobre a forma como a carreira profissional tem decorrido e pode continuar a evoluir, avaliando e aconselhando sobre determinados procedimentos e oportunidades, tal como há a manifestação do interesse da relação entre os aspetos de índole profissional e as condições familiares dos subordinados, enquanto elemento de envolvimento social e cooperativo que alia benefícios para todas as partes envolvidas. Para além disto, a chefia ainda se preocupa com a perceção dos subordinados quanto às condições como exerce a sua liderança, o que: “…fomenta o espírito positivo que se encontra em toda a equipa dos recursos humanos. Todos gostamos de trabalhar com este diretor.”. No que diz respeito às condições gerais proporcionadas pela empresa para a realização individual, entende que: “…há muita preocupação com a avaliação de necessidades e com o tipo de formações que são disponibilizadas.”, 119 sendo normalmente as mais adequadas às carências de cada um e do próprio departamento, havendo sempre a preocupação em tornar acessíveis todas as informações e demais requisitos para a execução apropriada de todas as tarefas, promovendo assim a maior produtividade coletiva. Também, no referente às condições salariais e de outos fring benefits que aufere, este entrevistado entende não haver grandes diferenças entre esta empresa e outras do mesmo nível, pois as condições que lhe são dadas são em todo similares ou, eventualmente, ligeiramente superiores, às praticadas por outras empresas, não sendo, portanto, em exclusivo por esta componente de relação empresa / empregado que assentam, essencialmente, os níveis de satisfação demonstrados. Em termos gerais, o entrevistado conclui que está satisfeito com o facto de trabalhar nesta empresa pois: “Sinto que a minha função é importante, havendo reconhecimento no serviço que presto. Identifico-me com a cultura da mesma e com os colegas que nela trabalham.”. Nesta mesma perspetiva de satisfação, também considera que, de uma maneira ampliada, pois é algo que extravasa para a envolvente externa, a empresa oferece melhores condições de trabalho do que muitas outras empresas do mesmo ramo, observando: “Sinto que, dentro do possível, a empresa se interessa socialmente com os seus colaboradores. Procura, internamente, colocar uma série de serviços que facilitem o seu bem-estar e, externamente, estabelecer protocolos com entidades, onde possibilitem condições mais favoráveis…”, o que é um contributo positivo dado à vida profissional e familiar dos colaboradores, franqueando assim as condições para níveis de felicidade no local de trabalho (HWP) razoáveis. 5.3.2.3 Entrevista AR 3 A entrevista realizada a AR 3 decorre um pouco em contraciclo, por comparação com as restantes efetuadas nesta empresa. Refere este entrevistado que, apesar de gostar “definitivamente” do tipo de trabalho que faz, as condições em que, especificamente, o executa não lhe permitem mostrar as suas aptidões e competências, o que implica uma acentuada falta de realização profissional. No entanto, reconhece que as condições concedidas pela empresa são interessantes, pois há uma forte preocupação geral com as ações de formação a facultar a cada 120 colaborador, com as próprias condições físicas oferecidas no local de trabalho que são de nível superior, pelo tipo de informação sempre disponibilizada para a execução das diferentes tarefas, pelos meios afetos a essa mesma execução, o que desta forma promove um bom contexto para alcançar os melhores índices possíveis de produtividade. Tem exatamente o mesmo entendimento quanto ao tipo de relação com os colegas, que decorre num sentido de total colaboração e empenho coletivo, o que em conjunto com as outras condições proporcionadas pela empresa se traduz numa qualidade geral do trabalho efetuado de alto valor. As próprias condições remuneratórias são consideradas idênticas às praticadas noutras empresas de igual dimensão, e sobretudo de igual aparência externa, e no respeitante a outros tipos de benefícios oferecidos pela empresa acha mesmo que são mais extensos e que deveriam ser mais valorizados pela generalidade dos colaboradores, entendendo que talvez possa existir alguma falha comunicacional que não consiga enfatizar devidamente esta prorrogativa oferecida pela empresa e pelo Grupo em geral. Surge, então, a questão, que conduz a algum desagrado no que respeita à situação profissional, a qual se prende com a relação com a chefia direta que é de cariz totalmente negativo em todos os aspetos considerados nesta investigação. Começa logo por ser crítico quanto ao envolvimento da chefia no desempenho pessoal, pois considera que esse envolvimento implica uma atitude de mero controlo e não uma atitude de avaliação com o objetivo de proceder a melhorias na efetivação das tarefas a executar. Assim, considera que: “Ainda que as atitudes humanas, em ambiente de trabalho, sejam sistematizadas, é preciso ter em atenção que as pessoas são diferentes e a interpretação dos comportamentos que é feita deve atender às diferentes contingências de cada um.” Quanto a todos os outros itens auscultados, não se verificam condições de entendimento relacional pois considera que não há confiança quanto à apreciação das iniciativas tomadas, nem sequer encorajamento e contextos de transferência de capacidade para tomar essas mesmas iniciativas. Também há uma conceção negativa quanto à preocupação da chefia no que diz respeito à evolução de carreira deste entrevistado, assim como quanto ao esforço de entendimento das dificuldades para a realização das tarefas inerentes à função 121 desempenhada e tal como quanto ao respeitante ao que a chefia possa julgar sobre o que os subordinados pensam acerca da sua liderança. De uma maneira geral, este entrevistado, apesar de considerar que a empresa: “…fornece melhores condições laborais do que a maioria das outras empresas do setor e até do que outras empresas de outros setores de atividade…”, não se sente suficientemente motivado para o desempenho das suas funções e, consequentemente, não considera que a empresa esteja a aplicar, pelo menos no seu caso pessoal, qualquer estratégia conducente a uma adequada motivação e/ou forma compensatória proporcionadora de melhores condições que subentendam a conceptualização de felicidade no local de trabalho (HWP). 5.3.2.4 Entrevista AR 4 Este entrevistado reflete uma posição oposta à demonstrada pelo anterior entrevistado. Assim, considera que as condições de trabalho são plenamente satisfatórias, sentindo-se confortavelmente realizado com elas e com o próprio tipo de trabalho que efetua, no qual lhe é permitido fazer um uso liberal das suas capacidades e conhecimentos. Desta forma, a qualidade geral do trabalho efetuado é bastante aceitável, apesar de alguma falta de cooperação e de colaboração entre a totalidade dos colegas de equipa, sustentando o entrevistado que: “…o conceito de espírito de equipa ainda não está completamente conseguido. Caminha no sentido certo, mas ainda falta lá chegar.”. Na sua perspetiva, a empresa faculta todas as condições necessárias para o correto desenvolvimento das tarefas individuais, fornecendo a formação em conformidade com as carências quer de cada um quer do conjunto, disseminando a informação própria para a execução das diferentes tarefas, tal como também proporciona condições laborais a nível dos espaços e dos equipamentos que os constituem para que o designado ambiente de trabalho seja “quase perfeito”. Com estas condições, é natural que se consigam obter níveis superiores de produtividade. No referente às condições salariais mostra, também, pleno contentamento, pois considera que, por comparação com empresas do mesmo nível e para trabalho idêntico, os salários praticados nesta organização são superiores, o mesmo entendendo quanto ao conjunto dos benefícios disponibilizados tanto à generalidade dos colaboradores, tal como aqueles que são praticados com alguma diferenciação hierárquica. Esta distinção, na perspetiva do entrevistado é entendível pois espelha níveis diferentes de responsabilidade e consequentes premiações. Segundo o seu entendimento: 122 “…uns trabalham de maneira mais mecanizada, mais rotineiramente, outros são obrigados a pensar mais, pois há mais alternativas para fazer as coisas. A exigência é sempre muita, o resultado final tem que ser o melhor para toda a gente, mas uns têm que tomar mais decisões que outros…”. Naquilo que diz respeito às chefias, entende que sempre existiu um propósito de responsabilização sustentada dos colaboradores, incentivando-os a tomarem iniciativas, agilizando de alguma forma os procedimentos, e permitindo a criação de elos de confiança que conduzem aos desfechos mais corretos para a resolução das questões que todos os dias são colocadas no ambiente de trabalho. Entende que as chefias são: “…objetivas e sensíveis a argumentos racionais.”, o que facilita o crescimento e o progresso profissionais. Faz, contudo, algumas observações menos positivas, quanto à atuação das chefias, ao considerar que nem sempre estas dedicam a atenção suficiente a questões que afetam diretamente o bem-estar profissional dos subordinados. Aponta o caso do pouco envolvimento quanto à estruturação dos melhores requisitos para que os níveis de desempenho sejam individualmente melhorados, assim como, também, alguma despreocupação no que respeita ao desenvolvimento das carreiras pessoais dos colaboradores, o que para o entrevistado não é: “…um fator que alavanque competências.” Ainda entende que a chefia direta dedica pouca atenção ao facto de nem sempre tentar perceber em que condições é que a liderança é exercida no departamento, o que, na sua opinião, inibe alguns comportamentos que poderiam ser mais proactivos. No entanto, refere que perdura, há muito, um clima laboral de relativa excelência, se se considerar que trabalhar todos os dias com outras pessoas não é fácil, implicando passar muitas horas em convivência, o que poderia ser um problema. Porém, a coesão e a satisfação geral do grupo fazem com que, pessoalmente, se sinta completamente motivado e realizado. Fazendo a sua interpretação conceptual de que a felicidade na vida é um objetivo que todos tentam alcançar e que a felicidade no trabalho é uma componente da felicidade geral, entende que em realidade a empresa poderia investir um pouco mais na motivação e nos mecanismos compensatórios dos seus melhores empregados, tornando-os, assim mais felizes. 123 5.3.2.5 Análise dos Indicadores de Desempenho 5.3.2.5.1 Indicadores Económico-financeiros da Empresa Amorim Revestimentos, S. A. Esta empresa, tal como a Amorim & Irmãos, S. A., apresenta contas consolidadas na S.G.P.S. Corticeira Amorim, S. A., agora, no ponto 2.3 Revestimentos, referente ao ano de 2009, e no ponto 3.3 Revestimentos, referente aos anos de 2010 e de 2011, dos respetivos Relatórios de Contas, pelo que a análise do desempenho será realizada tendo em atenção as observações desses mesmos Relatórios. Considerando, portanto, esta particularidade, não se entendeu necessário repetir a análise geral feita à evolução das condições económico-financeiras referentes aos três anos em estudo. Assim, ao escusar o leitor dessa repetição, desde já se solicita a sua disponibilidade para consultar, se assim o entender, essa análise plasmada nas páginas 105 a 107. 5.3.2.6 Conclusão Do conjunto de entrevistas e contactos realizados junto dos colaboradores desta empresa pode-se estabelecer que existe a preocupação, por parte da gestão, em que os colaboradores sejam consciencializados para perceberem que são estabelecidas estratégias conducentes à melhoria constante do ambiente em que desenvolvem as suas atividades. Esta interpretação integra, essencialmente, aspetos relacionados com a comunicação interna, com a socialização e com a satisfação no posto de trabalho, o que vai impactar positivamente a perceção do nível praticado do marketing interno, estando, por sua vez, diretamente associada ao real entendimento que os gestores têm da orientação para o mercado (Naudé et al., 2003; Panigyrakis & Theodoridis, 2009). Há um sentido de responsabilidade acrescido quando se fala de comunicação e de satisfação de necessidades dos colaboradores, verificando-se que a tendência é para que se implementem novas medidas que venham a espelhar de maneira mais estruturada a valorização que se atribui aos colaboradores quer coletiva quer individualmente, promovendo constantes ações de sensibilização através de diferentes meios comunicacionais. Há muita focalização na comunicação como forma de promover comportamentos assertivos, até porque existe a exata noção de que quando se começa a descer na escala hierárquica, a partir de um nível intermédio, não se verifica um pleno entendimento do que tem sido a totalidade do esforço comunicacional desenvolvido até ao momento (AR 1). 124 Considerando que o conceito de marketing interno se fundamentou numa perspetiva de entender o trabalho e/ou o emprego como um “produto interno” oferecido aos trabalhadores, seguindo uma lógica em que os clientes internos têm necessidades que precisam ser satisfeitas (Ballantyne, 2004), a empresa tem este entendimento e procura através do assessment das condições de trabalho encontrar soluções que possam permitir ultrapassar, a contento de todos os envolvidos, esta lacuna funcional, agora ainda verificada. Impera, pois, algum desconforto quando se deteta que os esforços comunicacionais não atingem devidamente a totalidade dos alvos, ou seja, não existe uma plena compreensão, por parte de alguns extratos profissionais, especialmente na área fabril, dos objetivos estabelecidos. Esta perceção desencadeou um conjunto de ações no sentido de, primeiramente, proceder à segmentação adequada dos colaboradores e posterior utilização de diferentes tipos de mensagens, construídas à medida, para os distintos segmentos. Apesar de Rafiq & Ahmed (2000) terem considerado que poucas organizações aplicavam, no seu seio, o conceito de marketing interno, é possível constatar, que, passados doze anos, mesmo existindo alguma falta de entendimento quanto ao que é na realidade o marketing interno, esta empresa faz um esforço no sentido de construir uma plataforma capaz de integrar a sua conceptualização, apesar de sentir a inevitabilidade de clarificar quais as variáveis e/ou atividades que podem e as que não podem agregar este conceito. Quanto à OMI, enquanto variável em estudo e representando a adaptação da orientação para o mercado ao contexto das trocas entre o empregador e o empregado (Lings & Greenley, 2005), há, na empresa, a preocupação de tratar os empregados como stakeholders e, portanto, promovendo o seu envolvimento na estruturação organizacional. Este processo de envolvimento passa, segundo AR 1, por um conjunto de etapas que: “…incluindo a recolha sistematizada de informação e, obviamente, a sua análise, […] daquilo que são os interesses, objetivos, preferências […] dos interessados, permita organizar um modelo de procedimentos efetivos e não contestáveis que possam ser incorporados nos sistemas de gestão de recursos humanos.”. Mesmo considerando que poderão existir situações pontuais de menos envolvimento pessoal, a empresa está a investir no sentido de clarificar os presentes conceitos de atuação, na medida em que (AR 1): 125 “…se assiste, hoje, ao desenvolvimento de uma conceção nova nestas matérias. Hoje, os recursos humanos são um recurso, um verdadeiro ativo das empresas, que é essencial que seja maximizado. Para tal é preciso também entender os movimentos que se operam entre os aspetos económicos e os sociais. O Grupo Amorim tem, incontestavelmente, a pretensão de atuar proactivamente nestas áreas.”. As empresas que advogam esta conceptualização (Varey, 1995b) podem usufruir de vantagens operacionais, pois ela vai permitir mais flexibilidade, mais capacidade de adaptação à mudança e uma maior velocidade de resposta à inovação, ou seja, este paradigma relacional entre empregados e empregadores, concebido segundo uma plataforma de desenvolvimento de competências e capacidades transversais às estruturas e procedimentos internos, vai passar a ter a capacidade para influenciar todos os membros da organização de modo a agirem no sentido de garantir que as vantagens competitivas são criadas, aperfeiçoadas e mantidas enquanto ponto forte da organização, fazendo com que as pessoas percebam e reconheçam não só os valores organizacionais, a cultura da empresa, mas também o seu próprio papel dentro dela. Ora este modelo de gestão, mesmo considerando as suas possíveis fragilidades atuais é aquele pelo qual a empresa pretende pautar a sua atuação interna, não se escusando em se focalizar nas necessidades e expectativas do seus empregados e recorrendo a programas de recolha da informação para tal necessária, promovendo a comunicação interna adequada e disseminando o seu empenhamento para poder fazer com que haja níveis de satisfação elevados. Tendo consciência de que ao seguir este modelo, a organização irá ser capaz de superar com mais facilidade as dificuldades encontradas na abordagem dos diferentes mercados, conseguindo, assim, uma relação biunívoca, de cariz mais integrador, entre a empresa e os empregados, pois vai considerar os interesse mútuos, perspetiva que também é defendida por Rodrigues & Pinho (2010) quando afirmam que as atividades de marketing interno são vitais para as estratégias de marketing externo e respetivo sucesso operacional, a empresa assegura o seu posicionamento estratégico fundamentado neste conceito de relação entre o marketing interno, a orientação para o mercado interno e a orientação para o mercado externo o que compagina uma estratégia global de marketing, na qual os empregados são envolvidos enquanto clientes internos, permitindo a desejada aquisição de competências para o sucesso externo (Che Ha et al., 2007). No que se refere aos níveis de satisfação identificados juntos dos colaboradores, considerando as entrevistas realizadas, pode-se afirmar globalmente que há satisfação bem percebida em função do que é que são as condições proporcionadas pela empresa. 126 A exceção encontrada, parece não enquadrar absolutamente o que é o ambiente geral que se vive no seio organizacional. Existirão, seguramente, motivações pessoais que configuram este estado de descontentamento. Quanto ao conceito de felicidade no local de trabalho (HWP), não existe um entendimento assertivo do que são os contributos empresariais para que tal estado possa ser plenamente identificado. Considerando que os portugueses, em geral, são dos povos mais insatisfeitos com a sua vida (Batista, 2012) não se pode, pois, entender que a realidade vivida na empresa seja excessivamente preocupante. Apenas não existe uma definição completamente compreendida deste estado emocional. O que poderemos considerar como um desperdício de recursos, pois sendo os portugueses entendidos como pessoas cinzentas a viver num país cheio de luz, poderse-ia tirar mais proveito pessoal e organizacional desta dádiva natural. No que diz respeito à análise do desempenho desta empresa, no ano de 2009, é necessário observar que em função das circunstâncias adversas da conjuntura mundial, as vendas totais baixaram 15,9% face ao período homólogo de 2008. A descida das vendas de produtos fabricados atingiu os 9% e no caso dos produtos comercializados a queda foi mais agressiva e atingiu os 24%. Os principais motivos para este decréscimo generalizado de vendas relacionam-se com a contração do mercado imobiliário de construção nova e de substituição, bem como com o clima de incerteza que adiou as decisões de consumo, com impacto direto nos segmentos do-it-yourself e retalho tradicional, onde a empresa tem uma presença considerável. A necessidade de reconversão de existências adiou as compras dos distribuidores, com particular incidência nos países da Europa de Leste. A pressão sobre os preços desviou o consumo para produtos mais económicos. Apesar do lançamento, durante este ano, de novas coleções, as vendas dos novos produtos tiveram efeito apenas no segundo semestre do ano. Ao nível operacional, em 2009 iniciou-se o programa Lean Production16, com a revisão de processos e métodos de trabalho, preparando a organização para uma capacidade de resposta mais flexível. Foi, também, feito um esforço de adaptação da estrutura funcional da empresa a uma situação de mercado adversa, de que resultou o ajustamento dos recursos afetos, incluindo os recursos humanos com consequente 16 Também chamado de Sistema Toyota de Produção, é uma filosofia de gestão essencialmente focada na redução dos desperdícios. 127 custo nas indemnizações e compensações pagas, fator que, no ano em apreço, teve um impacto negativo na rentabilidade da empresa.17 Já em 2010, esta unidade de negócios de revestimentos registou uma recuperação significativa face à realidade de 2009, ano considerado de conjuntura atípica. Em 2010 foi registado um crescimento nas vendas de produtos fabricados acima dos 7,6%, resultado das novas coleções lançadas em 2009, que compensaram, com vantagem em termos de valor acrescentado, a quebra das vendas dos produtos comercializados na ordem dos 15% que, à imagem do ano anterior, se ficou a dever à retração da atividade da construção de uma forma geral e ao adiamento de muitos projetos, fruto do clima global de incerteza registado. Foram concretizados diversos programas de otimização industrial que contribuíram para uma melhoria significativa das condições de exploração da empresa e prosseguiram as ações de adaptação da estrutura funcional à realidade dos negócios, com forte impacto em termos de custos com indemnizações.18 No exercício de 2011, as vendas da empresa registaram um aumento de 6,3%, face a 2010. As vendas de produtos fabricados registaram um crescimento de 10%, resultado da afirmação definitiva das novas coleções lançadas em 2009. As vendas de produtos comercializados, que representam cerca de 25% do volume total de negócios da empresa, mantiveram-se ao nível do registo do ano transato. Neste negócio, em termos de oferta, verificou-se uma alteração de tendência que se consubstancia na oferta de gamas de produtos com maior valor acrescentado, dirigidas a segmentos de mercado mais altos, com o objetivo de aumentar a margem do negócio, efeito que se fez sentir já no segundo semestre de 2011. Ao nível industrial foram concretizadas alterações de componentes usadas no processo de fabrico, bem como a maximização do uso da capacidade instalada, que contribuíram para uma melhoria significativa na margem bruta da empresa, conseguindo-se, deste modo, minimizar os impactos negativos da pressão sobre os preços de compra. 17 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 18 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 128 (Auditadas), Ano 2009 (Auditadas), Ano 2010 Ao nível da rede de distribuição, salienta-se a constituição de uma joint-venture com a empresa Timberman Denmark A/S, com o objetivo de reforçar a posição da empresa e assegurar o crescimento das vendas de produtos de cortiça no mercado dinamarquês. No final de 2011, foi lançada uma nova coleção de revestimentos que permitirá maximizar o potencial dos substratos e constituintes dos visuais, como fator diferenciador relativamente aos produtos concorrentes no mercado, combinando a matéria-prima cortiça com outros materiais naturais.19 19 CORTICEIRA AMORIM, S.G.P.S., S.A., CONTAS CONSOLIDADAS, (http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ - acedido em setembro de 2012) 129 (Auditadas), Ano 2011 5.3.3 Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ld.ª Esta unidade fabril está integrada num grupo empresarial cuja produção diária é, basicamente, de três milhões de rolhas, apesar de também serem fabricados outros produtos. A sua estratégia de abordagem dos mercados assenta, essencialmente, na experiência adquirida ao longo de cerca de 88 anos de trabalho, continuando assim a crescer em capacidade produtiva e em qualidade, na integração vertical de distintas atividades, na diversificação de produtos e na inovação enquanto constante preocupação como vantagem competitiva.20 Seguindo o modelo pré-estabelecido, foram conduzidas, nesta empresa, quatro entrevistas, as quais atravessam diferentes setores de atividade, proporcionando uma visão equilibrada do contexto geral da organização. Tabela 4 – Caracterização dos entrevistados na empresa Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ld.ª Entrevistado Função SC 1 Diretor Financeiro SC 2 Escolhedora SC 3 Administrativa SC 4 Comercial Fonte: elaboração própria Idade 41-50 20-30 31-40 31-40 Escolarização Licenciatura 9º ano 12º ano 12º ano Nº anos atividade 19 11 16 15 Nº anos empresa 17 7 8 8 5.3.3.1 Entrevista SC 1 O primeiro entrevistado patenteia uma forte tendência para a plena adesão aos conceitos de valorização da comunicação que seja estabelecida no sentido de fazer passar mensagens que privilegiem a perceção de uma visão e de uma missão empresariais que possam ser consideradas completamente credíveis e consequentemente de fácil aceitação por parte da generalidade dos colaboradores da empresa. Para o entrevistado: “A missão deve estar claramente definida para que todos a compreendam. Isto inclui o conhecimento do objetivo do grande projeto que é a empresa, da estratégia para o concretizar com sucesso, dos benefícios a receber se o trabalho for realmente concluído com êxito e das fórmulas a utilizar em caso de conflito entre os elementos do grupo.”. 20 http://www.jpscorkgroup.com/ - acedido em julho de2012 130 Nesta perspetiva do marketing interno, os colaboradores são inteiramente preparados para poderem alcançar escalas de desempenho que possam ser consideradas de nível superior, entendendo a organização que tudo o que se possa realizar no sentido de promover o desenvolvimento das competências e das capacidades dos empregados é considerado um investimento com retorno a prazo quase que imediato e nunca como um gasto desajustado. Na opinião do entrevistado é, contudo: “…pena que estas ações não ocorram com mais regularidade. Sempre que possível são executados planos de desenvolvimento de aptidões particularmente vocacionados para as áreas mais técnicas da produção.”. Ainda neste campo, a organização tem uma atenção muito grande quanto ao propósito de fazer com que todos os colaboradores consigam perceber quais são as razões pelas quais devem cumprir determinados procedimentos e não apenas que os devem cumprir, o que segundo o entrevistado: “…é um valor acrescentado ao trabalho realizado por todos.”, e um fator dinamizador da relação biunívoca da organização com aqueles que a constituem e que são o seu principal ativo. Todos os colaboradores da empresa, para além de serem instruídos quanto às tarefas que têm que executar recebem, também, indicações de qual a relação existente entre a sua tarefa específica e o resultado final que se pretende alcançar, querendo-se, desta forma, motivar o trabalho em equipa, pois: “…a mudança da natureza do próprio trabalho, que passou a estar mais dependente de redes de conhecimento, incluindo as competências transversais de caráter geral, e menos ligado a tarefas simples de caráter automático, faz com que o trabalho de muitas PME do tecido empresarial esteja dependente do conhecimento e, como tal, não avança de forma sistematizada. Cresce e sobressai à medida das colaborações e dos contributos de cada «especialista».”. No entendimento deste entrevistado: “…até há pouco tempo, os projetos que as empresas abraçavam permitiam a divisão de tarefas a tal ponto que as pessoas não precisavam de trabalhar juntas para que todas as peças se unissem no final. Agora as coisas dificilmente se passam desta maneira.”. É, assim, que a organização tenta introduzir mecanismos de medição e de recompensa do desempenho dos empregados que mais contribuem para a visão organizacional, enquanto fator motivacional, o que, contudo: “…ainda se encontra num patamar muito incipiente.”. 131 Porém, toda a informação recolhida junto dos colaboradores é utilizada para tentar melhorar as condições de trabalho e as próprias estratégias relacionais, existindo uma elevada preocupação com a instrumentalização dos canais de comunicação interna no sentido de englobar as diferentes práticas comunicacionais com a totalidade do seu público interno de modo a que se possam obter condições de trabalho mais agradáveis para todos os que estão integrados na organização. O principal objetivo é: “… que se evite o aparecimento de suposições e comentários inadequados e menos corretos, deixando os funcionários inseguros. Pretende-se que eles estejam motivados, para se poder criar uma imagem harmónica e clara que transmita confiança e credibilidade.”. Assim, há uma preocupação em identificar os canais de comunicação interna adequados, o que: “…é uma tarefa cuidadosa e exigindo um bom conhecimento da empresa, da sua cultura, dos seus costumes e do perfil dos empregados.”. Há, pois, o entendimento de que conhecer o público-alvo e saber como chegar a cada um é uma garantia de sucesso de um programa de comunicação interna. Já numa perspetiva de orientação para o mercado interno, os colaboradores são todos considerados como clientes internos, sendo tratados como elementos ativos dos processos em que estão inseridos e chamados a que se envolvam na definição e na aplicação operativa dos procedimentos necessários para a prossecução das suas tarefas, o que é devidamente acompanhado pela informação necessária para que tal possa ser realizável, desta forma se caminhando para níveis de execução geral que correspondam o mais fielmente possível aos objetivos negociados. Assim, a organização preocupa-se com o efetivo bem-estar dos seus colaboradores e com o reconhecimento do seu valor, existindo, no entanto, ainda, algumas debilidades quanto à capacidade para acomodar logisticamente as diferentes necessidades individuais, o que, na perspetiva do entrevistado: “…não se traduz em menos preocupação com as pessoas, mas apenas incapacidade de meios para conseguir atender a todos…”. No respeitante às condições de entendimento das práticas de orientação para o mercado, a empresa começa por estar muito atenta ao que se passa quanto a tendências gerais que possam vir a afetar a sua atividade, recorrendo a frequentes ações de observação e controlo dos mercados onde está inserida, numa perspetiva essencialmente de antecipação e de pronta deteção de mudanças no contexto das suas funcionalidades. Existe uma prática constante de aproximação aos clientes com o objetivo de identificar a suas reais necessidades, quer as: 132 “…do momento, como, em especial as que estejam latentes e que possam representar mais oportunidades de negócio…”. Esta forma de atuação é, contudo, exclusiva dos quadros superiores, não havendo grande preocupação para promover o envolvimento dos restantes colaboradores, até mesmo em questões mais genéricas como quanto à divulgação de factos relevantes para a organização como aquilo que de importante se passa em grandes clientes ou em mercados de muito valor, pois, até ao momento, ainda não foi considerado como estrategicamente pertinente. No entanto, querendo dar uma resposta rápida às transformações detetáveis nos mercados, há, pois, uma forte preocupação com a agilidade de atitude para com as alterações do comportamento dos clientes, e mais a jusante dos consumidores finais, com as implicações daí advindas, diligenciando-se para que se verifiquem ligações muito próximas entre os diferentes departamentos da organização com o objetivo de planear as respostas a todas as solicitações encontradas. O entrevistado considera que este aspeto relacional com mercados e clientes é muito bem tratado na empresa pois sempre houve muita preocupação com a aquisição de saberes nesta área, rematando: “A crescente globalização do mundo moderno faz com que cada vez mais as trocas internacionais assumam uma elevada importância, pelo que devem ser realizadas com padrões de atuação que devem estar inteiramente comprometidos com um nível de excelência total. A adaptação cultural é cada vez mais prioritária para os nossos empresários quando pretendem entrar em novos mercados. Esta conciliação é fulcral. Para se poder falar em crescimento, nos dias de hoje, não se pode não considerar as exportações e isso requer que se produzam bens devidamente adequados, considerando as distintas características de cada país.”. 5.3.3.2 Entrevista SC 2 O conteúdo desta entrevista espelha, generalizadamente, uma concordância absoluta, portanto com efeitos positivos, com os conceitos abordados relativamente à análise dos níveis de satisfação que possam ser obtidos em ambiente de trabalho. A entrevistada começa por referir que as condições laborais são boas e que: “…gosto do trabalho que faço. Não é pesado.”, sentindo-se, assim, realizada, não só pelo trabalho em si mas também pela maneira como ele decorre pois considera que existe um grande espírito de entreajuda entre as colegas, o que permite que a qualidade geral assim obtida possa ser bastante elevada e, portanto, um fator que condiciona vantajosamente o desempenho da organização. 133 Já considerando a forma relacional da empresa com os seus colaboradores, a entrevistada tem uma opinião muito positiva na medida em que acha que há, sempre que possível, muita preocupação em conseguir conciliar os interesses da empresa com os dos empregados de maneira a que se verifiquem as melhores condições de adesão às necessidades de ambas as partes. A empresa tem preocupações com as formações que faculta, que são relevantes para a melhoria dos processos e também para a valorização pessoal dos colaboradores, também havendo o cuidado de que as tarefas sejam realizadas em boas circunstâncias facilitando o bem-estar das pessoas e a “produção” de cada um. De uma forma geral, a empresa disponibiliza a informação e os conhecimentos necessários para que as tarefas sejam executadas sem esforço excessivo: “…até nos ensinam como devemos estar sentadas.”. Na perspetiva salarial: “…a tabela praticada é igual à das outras fábricas.”, pelo que não há motivos particulares para insatisfação, acrescendo que também existe um pequeno conjunto de benefícios, que não especificou, que ajudam: “…a compor o ordenado.”. Quanto à relação com as chefias diretas, a entrevistada entende que lhe é conferida a possibilidade de aplicar constantemente a sua capacidade de julgamento e de tomada de decisão na operacionalização das suas tarefas, havendo total confiança das chefias nessas suas decisões, as quais são muito importantes para que o resultado do seu trabalho seja de elevada qualidade. Por outro lado, ainda referente ao relacionamento com as chefias, considera que há cuidado com a evolução do percurso profissional, havendo precaução com as propostas de promoção, de modo a não gerar sentimentos de injustiça entre os colegas. As chefias fazem um esforço acrescido para se inteirarem dos problemas que cada um possa ter na realização das suas tarefas, tal como se envolvem pessoalmente no desempenho de cada colaborador. Por sua vez também têm o cuidado de tentar perceber o que é que os empregados acham da maneira como exercem a sua liderança, no sentido de que: “…o ambiente dentro da fábrica seja o melhor possível.”. Finalmente, no referente ao estado geral das condições que possam propiciar satisfação no ambiente laboral, a entrevistada afirma, por comparação com outras, 134 que esta empresa oferece condições idênticas o que faz com que ela se sinta satisfeita, afirmando: “Sim, estou satisfeita. Não pretendo mudar.”. Desta entrevista é ainda possível inferir que a entrevistada percebe o conceito de felicidade no local de trabalho (HWP), reconhecendo que a empresa tem estratégias motivacionais e “prémios” para valorizar os melhores empregados, conseguindo atingir uma conceptualização bem estruturada desta variável, pois reconhece que a remuneração e os outros benefícios devem ser encarados como um investimento da organização, tendo como consequência um maior envolvimento dos empregados, que por sua vez irão ser afetados económica e socialmente por esta relação com a empresa, o que traduz um efeito procedimental de mútuo benefício. 5.3.3.3 Entrevista SC 3 Da entrevista realizada a SC 3 percebe-se que a entrevistada tem níveis de satisfação elevados quanto às condições gerais do trabalho que realiza, gostando do que faz, tendo a possibilidade de utilizar as suas reais capacidades e os seus conhecimentos sem constrangimentos e sentindo-se consequentemente na via da realização pessoal. No respeitante às condições proporcionadas pela empresa para a execução das tarefas que tem que fazer, considera que existem preocupações visíveis quanto aos locais de trabalho que são amplos e confortáveis, quanto à disponibilização dos meios e das informações necessários para se poder trabalhar com qualidade, apenas demonstrando alguma preocupação no que diz respeito ao tipo e à frequência das formações realizadas, as quais, na sua opinião, deveriam ser mais ajustadas a cada colaborador, pois assim poderiam ser consideradas como um meio de maior promoção pessoal. Entende que as condições remuneratórias são adequadas e contextualizadas com o praticado no setor, não havendo grandes diferenças entre os salários da empresa e de outras organizações da mesma atividade, tendo o mesmo entendimento no que se refere aos benefícios extra que são disponibilizados à generalidade dos colaboradores. Já no respeitante ao relacionamento com colegas e chefias, entende que a própria empresa estimula o trabalho integrado, em equipa, fomentando elevados níveis de cooperação e de colaboração entre os colegas não só dos diferentes departamentos, mas também entre os próprios departamentos em si, configurando um modelo alargado do conceito de cliente interno, o que se traduz na obtenção de outputs de elevada qualidade. Nesta perspetiva, as chefias encorajam formas expeditas para a realização das diferentes tarefas, mostrando abertura para que haja flexibilidade de julgamento na 135 apresentação de diferentes soluções e, sobretudo, confiança na capacidade individual, o que é seguramente um forte agente de motivação e que condiciona de forma positiva a atuação de cada um. Assim, considera também que há preocupação, por parte das chefias, em promover condições de desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores, contribuindo para a sua evolução em termos de carreira, tal como também considera haver um contributo ativo das chefias nos comportamentos que se possam traduzir em melhor desempenho, tanto pessoal como da própria organização, manifestado no cuidado em perceber que tipo de dificuldades possam existir na prossecução das diferentes tarefas. A este propósito, refere: “Ao longo dos últimos anos verificaram-se muitas transformações ao nível das tecnologias, das maneiras como as empresas encaram os seus trabalhadores, das condições sociais e económicas, o que exige muitas mudanças de mentalidade. As empresas precisam de criar e desenvolver maneiras de atuação que envolvam os trabalhadores naquilo que deve ser o objetivo comum para todos: o melhor desempenho empresarial.”. Finalmente, no respeitante à conceptualização do modelo de felicidade no local de trabalho (HWP), entende que de maneira geral os níveis de satisfação são elevados, referindo, quanto ao facto de trabalhar na empresa em questão: “Sinto-me motivada e bastante satisfeita em fazer parte da equipa de trabalho.”. Considera, assim, que, se se comparar com outros colaboradores de outras empresas do mesmo setor, tem melhores condições de trabalho, o que abrangentemente faz com que se possa considerar: “…uma pessoa feliz.”. Desta entrevista é possível perceber que, apesar de não completamente explícito, o conceito de felicidade no local de trabalho (HWP) está implicitamente presente no espírito da entrevistada, pois entende que, de uma forma geral: “…funcionários felizes produzem melhor.”, assim remetendo para o princípio de que não é possível ter um emprego com menos boas condições e ser realmente feliz, ou ter uma vida cheia de problemas e fazer um bom trabalho. É, pois, importante para o indivíduo, em termos da sua autoestima, da 136 sua sanidade e até da sua carreira, como para a empresa, que se verifiquem condições de bem-estar no local de trabalho. 5.3.3.4 Entrevista SC 4 Este entrevistado refere que quanto às condições gerais em que decorre o seu trabalho elas lhe permitem fazer uso daquilo que são as suas competências, quer transversais (domínio das técnicas de vendas) quer específicas (conhecimento dos produtos), proporcionando-lhe a possibilidade de realizar as suas tarefas com gosto. No entanto, considera, logo à partida, que: “…nesta empresa, o meu trabalho não me realiza completamente.”. Remete este seu “desencanto” em particular para os modelos de retribuição salarial, pois considera que o seu provento anual não está conforme o seu próprio desempenho e aquilo que é praticado no mercado em geral. Porém, já no que diz respeito à estrutura organizacional, considera que a empresa tem uma forte preocupação em perceber a evolução dos mercados compradores, de maneira a proporcionar melhores processos de abordagem junto dos clientes, o que é conseguido, também, através de um trabalho de equipa relevante e conducente a resultados de alta qualidade, tanto no respeitante aos produtos comercializados como ao valor transacionado. Ainda neste campo, a empresa faculta os suportes suficientes para atingir os objetivos negociados, com especial incidência no tipo de informação que é disponibilizada, a qual é totalmente pertinente quer em termos de quantidade como de qualidade, facilitando desta forma a produtividade que se pretende alcançar no conjunto empresarial. Refere, porém, o entrevistado, num sentido oposto, que entende que existe alguma deficiência na maneira como a aquisição de conhecimentos, comportamentos e atitudes essenciais para a boa execução das funções profissionais, é disponibilizada, nomeadamente no que é inerente à atividade comercial, pois a formação proporcionada não é a mais adequada: “…nem sempre é a mais especializada e voltada para a obtenção de competências profissionais que estejam ao nível dos métodos mais avançados para promover os contactos com os clientes. Refiro, por exemplo, o caso das novas tecnologias, das TICs…”. Já no que respeita à sua relação com as chefias, este entrevistado entende que há um certo envolvimento numa perspetiva organizacional ou seja no sentido de promover autonomia nas iniciativas que são necessárias ao normal desenvolvimento da atividade 137 profissional, permitindo-se que haja ponderação individual. Contudo, depois, refere que não há plena confiança nas soluções adotadas, esclarecendo: “…até percebo que do meu trabalho depende uma parte muito significativa do resultado da empresa, mas … não era preciso tanto controlo.”. Acrescenta, ainda, numa perspetiva positiva que as chefias se esforçam para perceber quais são os problemas que afetam as tarefas a desenvolver, tal como tentam intervir nos níveis de desempenho individual, demonstrando também algum cuidado em que a vida familiar dos colaboradores seja preservada de modo a conciliá-la com a vida profissional. Considera, no entanto, que há pouco interesse das chefias em discutir com os colaboradores as formas mais adequadas para encontrar soluções interessantes de gestão de carreiras, referindo que: “…a gestão da carreira é uma preocupação, pois vai permitir melhorar as relações de trabalho, assegurando a satisfação das necessidades dos empregados que também se vão alterando ao longo da sua vida, pessoal e profissional. Mesmo tendo em atenção que hoje há novos tipos de organizações, como a nossa, onde o achatamento hierárquico não facilita a progressão, continua a ser pertinente … e preocupante para o futuro, quando não seja facilitada.”. É ainda observado que também há pouca preocupação das chefias para tentar perceber o que é que os subordinados pensam acerca da forma como a liderança é exercida, o que nem sempre: “…é um fator de ajustamento na estrutura do departamento.”. No que se relaciona com as condições gerais de satisfação com o local de trabalho, excluindo uma ou outra questão mais específica, entende que: “Apesar de tudo, mesmo assim, em termos gerais, a classificação é excelente.”, o que o leva a afirmar que, realmente, existem estratégias na organização que promovem a motivação e a recompensa dos seus melhores empregados. 5.3.3.5 Análise dos Indicadores de Desempenho Esta análise tem por base os elementos obtidos nas peças contabilístico-fiscais, designadas por IES, da empresa, referentes aos três anos em estudo, e com os quais se construiu o quadro que abaixo se apresenta. 138 Quadro 1 – Indicadores económico-financeiros da empresa Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ld.ª Vendas e serviços prestados Resultado líquido EBIT Activo não corrente Activo corrente Total do activo Capital próprio Passivo não corrente Passivo corrente Total do passivo Total do capital próprio e do passivo Rendibilidade líquida das vendas Rendibilidade operacional das vendas Net ROA Gross ROA Rotação do activo Endividamento Autonomia financeira 2009 12.292.025,50 -2.198,57 372.699,12 8.119.575,68 9.194.598,65 17.314.174,33 7.591.270,39 6.209.939,85 3.512.964,09 9.722.903,94 17.314.174,33 -0,02% 3,03% -0,01% 2,15% 70,99% 56,16% 43,84% 2010 15.254.381,77 158.563,89 270.636,65 8.765.303,16 9.708.053,37 18.473.356,53 7.639.926,15 5.896.748,94 4.936.681,44 10.833.430,38 18.473.356,53 1,04% 1,77% 0,86% 1,47% 82,58% 58,64% 41,36% 2011 17.875.108,37 501.211,03 243.400,55 9.761.656,78 10.351.347,86 20.113.004,64 8.308.770,16 5.461.785,99 6.342.448,49 11.804.234,48 20.113.004,64 2,80% 1,36% 2,49% 1,21% 88,87% 58,69% 41,31% Fonte: elaboração própria, segundo as IES da empresa Fazendo a interpretação dos valores considerados é possível retirar um conjunto de dados que fornecem algumas indicações sobre a forma como a empresa é gerida, em termos económico-financeiros, e sobre o respetivo desempenho. Assim, logo à partida se observa uma evolução muito interessante do volume de vendas, que cresce de 2009 para 2011 cerca de 45,4%, o que se pode considerar um incremento bastante significativo, tendo em atenção o cenário económico que se vive de momento. Os resultados líquidos também melhoram em função da evolução das vendas, passando de um valor negativo em 2009 para um crescimento de aproximadamente 216% entre 2010 e 2011. Já o EBIT que é o “lucro” antes de encargos financeiros (pagamento de juros) e impostos, refletindo os resultados da empresa antes das deduções financeiras e fiscais, tem uma evolução ao longo do período em análise que espelha um decréscimo nomeadamente por força do aumento dos gastos e perdas financeiras como consequência do aumento do endividamento. Os ativos correntes, dos quais se espera que sejam realizados no decurso normal do ciclo operacional da empresa que se considera, habitualmente, num período de até 12 meses, acompanham o sentido de crescimento das vendas, pois é razoável entender que ao vender mais a empresa terá mais créditos sobre clientes, implicando assim esta subida do valor dos seus ativos correntes. 139 Por sua vez os ativos não correntes, que incluem ativos fixos tangíveis, ativos intangíveis e ativos operacionais e financeiros de longo prazo, refletem, no caso em análise, a evolução do valor do património considerando o investimento realizado. Por sua vez, o capital próprio que é o valor líquido do património de uma empresa, ou seja a diferença entre os ativos e passivos, ou ainda, a diferença entre tudo aquilo que a empresa possui e deve a terceiros e que reflete, portanto, o valor dos patrimónios empresariais cresce nos anos analisados a uma taxa de 9,4%. Quanto aos passivos, não corrente e corrente, e que refletem o tipo de capitais alheios que são utilizados, é necessário considerar que neste caso o passivo não corrente, aquele que se vai pagar a médio/longo prazo, baixa, enquanto o corrente aumenta, espelhando assim um maior nível de risco que, contudo, é atenuado pelo aumento das vendas e dos cash-flows que vão compensar este diferencial em termos de capitais de médio e longo prazos. O capital próprio e o passivo têm uma subida entre 2009 e 2011 de 16,2% o que é um valor circunstancialmente considerável, como consequência dos resultados positivos gerados pela atividade da empresa. Quando se analisa o indicador da autonomia financeira, verifica-se que ela vai diminuindo de 2009 para 2011, o que obviamente não é muito bom. No entanto, a sua taxa situa-se ainda acima dos 40% o que, por si só, pode e deve ser considerado como um indicador de uma razoável saúde financeira da empresa. Contudo, na perspetiva dos acionistas, este rácio, com estes valores, é um pouco penalizador, pois implica que existe muito capital próprio na empresa, que deixa, portanto, de ter encargos acrescidos com financiamento alheio, pelo que em termos de segurança organizacional os valores em causa devem ser considerados bons, mas em contrapartida irá ser penalizada pela via tributária. Olhando para os outros rácios, verifica-se que a rendibilidade líquida das vendas, que é obtida a partir da margem líquida conseguida pela empresa após a dedução de todos os encargos, aumenta, enquanto a rendibilidade operacional, que depende muito do setor de atividade em causa e do grau de integração vertical do ciclo de produção, diminui, havendo, pois, a necessidade de considerar a existência de encargos financeiros de valor relativamente elevado a serem suportados pela empresa. No entanto, mesmo assim, é entendível que a empresa tem um bom desempenho, com bons indicadores, com uma evolução interessante, sobretudo se considerarmos o atual momento conjuntural vivido pela generalidade das empresas nacionais. É ainda possível verificar, através dos dados das IES, que a empresa investiu quase 2 milhões de euros, o que justifica a quebra da autonomia financeira de 43,84% para 140 41,31% que, por sua vez, implica uma inversão na forma de financiamento, mas que não é penalizante para a empresa porque o aumento dos cash-flows vai permitir cobrir este diferencial em termos de fundo de maneio, continuando o ativo a ter uma rotação muito elevada (88,87%), o que é bastante bom para o desempenho organizacional, considerando-se que o aumento do endividamento aparece em função do investimento realizado. De uma forma geral, o indicador mais dissonante no bom desempenho da empresa é o que espelha uma inversão no sentido da rendibilidade operacional o que pode, porém, ser explicado pelo facto de a empresa, para além da normal atividade de produção, ter começado uma outra atividade de comercialização de novos produtos. 5.3.3.6 Conclusão Da análise às entrevistas realizadas nesta empresa pode-se perceber que existe na organização um sentido bem desenvolvido, apesar de não totalmente explicitado, na perspetiva de promover atitudes conducentes às práticas do marketing interno enquanto fator de atração, de desenvolvimento, de motivação e de retenção de empregados qualificados através de condições laborais (job products) que satisfaçam as suas necessidades (Samad, 2005). É, pois, considerado que os empregados com condições e competências e que se pretendam envolver no espírito da organização, fornecendo “serviços” de excelência, devem ser atraídos, aperfeiçoados, motivados e retidos através de um tratamento valorizador adequado, fazendo com que possam nutrir um sentimento de reconhecimento pessoal que os oriente para um incremento contributivo do desenvolvimento da organização (Berry & Parasuraman, 1991; Varey, 1995b; Barnes & Morris, 2000). Logo à partida, é possível identificar um elevado nível de preocupação com a forma como a comunicação interna é realizada, e com os resultados que daí possam advir, valorizando-se, especialmente, que a informação chegue sem enviesamentos aos alvos certos, compaginando já desta forma uma perspetiva de orientação para o mercado interno, através do recurso a fatores inseridos no processo de comunicação que sejam geradores de informação e da sua disseminação pelos diferentes níveis de colaboradores. É observável o mesmo posicionamento organizacional quanto à relação empregador / empregado, com a qual se pretende desenvolver procedimentos conducentes a novas competências internas, assim influenciando construtivamente os colaboradores para poderem atuar de maneira a garantirem a criação e manutenção de vantagens competitivas, em relação aos seus clientes externos, para o todo organizacional (Varey, 1995b; Javadein et al., 2011). 141 Estas estratégias de gestão refletem, apesar de ainda “incipientemente”, o objetivo de poder alcançar a curto prazo um modelo que enquadre um sistema integrado de recompensa para o desempenho dos colaboradores, o que vem compaginar alguns dos pressupostos do marketing interno apresentados por Berry & Parasuraman (1992), quando referem que é necessário recorrer à disponibilização de uma visão institucional que aporte interesse e significado ao local de trabalho, facultando às pessoas os conhecimentos e as skills que lhes permitam desempenhar as suas tarefas com excelência, desenvolva o trabalho em equipa de modo que daí se obtenham benefícios mútuos, alavancando um determinado grau de liberdade no cumprimento de tarefas e promovendo o fomento do desempenho através da sua medição e recompensa. Todos estes pressupostos são identificáveis enquanto desígnio organizacional, mesmo considerando que existem fragilidades na sua real implementação, sendo, porém, importante considerar que a congruência de metas só ocorrerá quando empregadores e empregados estiverem centrados nos mesmos objetivos, percebendo, simultaneamente, que essa focalização é benéfica para ambas as partes e desde que a cooperação estrutural consiga prevalecer. Ora isto apenas irá ser conseguido quando os envolvidos diretamente na operacionalização das tarefas tiverem conhecimento de que irão ser avaliados em função da qualidade do seu desempenho e que valerá a pena corresponder adequadamente, isto é, valerá a pena trabalhar com qualidade (Vasconcelos, 2008). É esta perspetiva, também ela economicista, que pauta a inspiração estratégica dos gestores desta empresa, pois consideram que para ir ao encontro das necessidades dos clientes externos é fundamental que a organização tenha capacidade para fornecer serviços de qualidade aos clientes internos, na mediada em que essa qualidade percebida, que não só vende melhor como também custa menos, é a que também é advogada por Webster (1992) e Javadein et al. (2011). Verifica-se, então, a existência de uma preocupação com a gestão da relação interna entre empregados que integram uma determinada cadeia de valor, numa ótica fornecedor-cliente, considerando-se que a qualidade do seu desempenho deverá, também, ser objeto de avaliação, tal como é feito na relação com os clientes externos, assim se podendo determinar a importância da orientação da empresa para o conceito de mercado interno (Lings & Brooks, 1998), considerando, pois, que a identificação da conduta dos clientes externos, e respetivas condições de medida da qualidade dos “serviços” recebidos, faz com que a relação entre as atividades individuais dos empregados e o nível percebido da qualidade do serviço se torne mais transparente, fomentando que todos possam entender melhor como é que a sua atuação individual afeta a perceção do cliente externo. 142 Para esta empresa, a orientação para o mercado interno representa, então, uma gestão relacional de um determinado conjunto de informações e de conhecimentos, de modo a que ao circularem internamente estejam, contudo, sempre dirigidos para o mercado externo, o que implica tratar os empregados como clientes internos, fazendo com que participem ativamente na criação, circulação e difusão destes ativos. É nesta perspetiva que a empresa pretende promover, junto dos seus empregados condições motivacionais de sensibilização, competência e destreza operacional para que eles ajam de forma orientada para o mercado, fazendo com que a empresa não tenha que enfrentar a sua resistência e, eventualmente, não conseguir atingir resultados positivos nas suas iniciativas de orientação para o mercado externo (Schlosser & McNaughton, 2009). Este mesmo entendimento é também defendido por Morgan et al. (2009) e por Shiu & Yu (2010) quando referem que foram encontradas evidências sustentando o ponto de vista de que uma organização com uma cultura orientada para o mercado interno tem mais hipóteses de ter sucesso ao operar no mercado externo, o que é o caso desta organização. No referente às condições gerais de satisfação que foi possível identificar, nesta empresa, tendo em atenção as entrevistas realizadas, e, seguramente, levando em linha de conta a sua dimensão, pode-se estabelecer que existe um elevado grau de satisfação com o facto de se trabalhar e pertencer a esta organização. De uma forma geral, todas os entrevistados são unânimes quanto a este considerando. A empresa faculta os meios necessários para proporcionar níveis de contentamento que são transversais à organização e que compaginam fatores de envolvimento e de motivação acrescidos. Já quanto à outra variável em estudo, a felicidade no local de trabalho (HWP), as entrevistas confirmam que ela está presente na generalidade dos colaboradores, pois a empresa tem o cuidado de explicitar o seu compromisso, contribuindo, assim, para uma maior prosperidade dos seus empregados, da própria empresa, o que é considerado como um fator de segurança, sobretudo, em relação ao emprego, mas também numa perspetiva mais alargada de desenvolvimento regional através do envolvimento com os meios locais, o que também beneficia, de forma indireta mas percebida, os colaboradores e, portanto, contribui para a sua satisfação. São, pois, todos eles, fatores que congregam uma palavra-chave em todo o processo de gestão e que é a confiança assim gerada. No respeitante ao desempenho organizacional, tendo em consideração a análise realizada aos seus indicadores económico-financeiros, é possível afirmar que estamos 143 em presença de uma empresa que cumpre com modelos de gestão com um elevado nível e conducentes à obtenção de bons resultados operacionais. O crescimento das vendas, a evolução do resultado líquido, o índice de rotação do ativo e a taxa de autonomia financeira são todos indicadores que apresentam valores favoráveis à gestão da empresa e que traduzem um desempenho final de elevado valor, apesar do ambiente geral menos propício em que a maioria das empresas está a operar o que ainda vem reforçar a boa qualidade da organização e da sua gestão. 144 5.3.4 Henri & Filhos, S.A. Esta empresa produz, exclusivamente, discos de cortiça para rolhas de champanhe, que são peças cilíndricas em cortiça natural, de espessura ±6,2 mm e diâmetro 34,5 mm, obtidas por corte no sentido perpendicular às camadas de crescimento da prancha de cortiça. Este produto será posteriormente processado, juntamente com o corpo da rolha (aglomerado de cortiça), através de colagem, para a produção de rolhas de champanhe, em que a parte superior da rolha, em aglomerado, é colada com dois discos de cortiça natural, estando um dos discos em contacto com o vinho e sendo designado por disco "espelho".21 Tabela 5 – Caracterização dos entrevistados na empresa Henri & Filhos, S. A. Entrevistado Função HF 1 Diretora Qualidade HF 2 Chefe Setor HF 3 Chefe Setor HF 4 Afinador Fonte: elaboração própria Idade 31-40 31-40 31-40 41-50 Escolarização Licenciatura 6º ano 6º ano 6º ano Nº anos atividade 15 19 24 16 Nº anos empresa 13 19 24 11 5.3.4.1 Entrevista HF 1 Resulta da análise desta entrevista que, no cômputo geral, a empresa aspira a ter um sentido muito afinado quanto à utilização de medidas que se integram nos princípios do marketing interno, apesar de não haver uma total clarificação da ligação com os preceitos metodológicos estabelecidos pela teorização científica. Existe um grande empenho comunicacional na divulgação dos objetivos associados aos conceitos de visão e de missão, fazendo-se um esforço no sentido de fazer perceber a fiabilidade organizacional que lhes está implícita, de modo a que esta perceção possa contribuir para um melhor envolvimento individual dos colaboradores e assim se consigam alcançar os patamares estabelecidos, especialmente no que toca às questões da qualidade do produto. Acresce que a empresa dedica bastantes recursos à preparação dos colaboradores para a realização das suas funções, promovendo um bom desempenho individual, posteriormente refletido no desempenho da organização, o que implica, pois, um cuidado acentuado no investimento que é feito no desenvolvimento das diversas aptidões necessárias à prossecução das distintas tarefas. Considera a entrevistada: 21 http://www.henrifilhos.com/index.php?id=2 – acedido em julho de 2012 145 “A empresa para poder estar alinhada com os seus clientes precisa que os seus colaboradores estejam orientados para esses mesmos clientes. Isto só é possível se existir a preocupação em alocar recursos para o desenvolvimento de políticas de recursos humanos que sejam eficientes e equilibradas […] que conduzam aos comportamentos desejados.”. Assim, existe um imperativo interno cuja tónica está colocada no entendimento dos processos e não apenas no dever de atuação, cuja filosofia se baseia no facto de que: “O saber não ocupa lugar... mas é fundamental que haja um composto de ações devidamente estruturadas e que visem promover as capacidades dos colaboradores, independentemente da sua posição hierárquica, de modo a facilitar o seu bem estar profissional e pessoal.”. É nesta perspetiva que, por sua vez, se fazem medições esporádicas do desempenho operacional numa tentativa, ainda não muito bem conseguida, de recompensar os colaboradores mais dedicados, tal como para poder obter informação válida para melhorar as condições de trabalho e as próprias estratégias organizacionais. Concomitantemente, ainda se promove o espírito do coletivo, encorajando as pessoas a trabalharem em conjunto, apesar de se considerar que cada um tem as suas especificidades próprias e, portanto, as suas necessidades individuais o que, no mínimo, é traduzido na comunicação individual de qual é a importância do papel de cada um no todo organizacional. Já no que se refere à conceptualização da orientação para o mercado interno a empresa faz um esforço no sentido de facilitar a interpretação de que cada um é fornecedor do colega que ocupa uma posição a jusante, que assim se torna cliente do colega que lhe está a montante, o que implica pois uma perspetiva de melhoria da qualidade das transmissões operacionais, conceito: “…há muito desenvolvido como uma maneira eficaz para incrementar o desempenho nas organizações […]. A qualidade superior do nosso produto é garantida através dos princípios de melhoria contínua, que se fundamentam em atitudes de proactividade e cujos resultados são uma redução dos custos de laboração.”. Este entendimento visa não só uma melhoria contínua dos processos, como também está associado a uma genuína preocupação com o bem-estar geral de todos os colaboradores, havendo o cuidado de tentar, na medida do possível, acomodar as diferentes necessidades individuais, assim mostrando o quanto as pessoas são valorizadas e contribuem para o desempenho final da organização, preocupação que trespassa transversalmente, e como regra geral, o modelo de gestão da organização. 146 Para a entrevistada, quadro superior da empresa, circunstancialmente, ainda se identifica algum, apesar de ligeiro e cada vez menos identificável, princípio discricionário no tratamento diferenciado entre homens e mulheres, com menos valorização do trabalho destas. Também, numa perspetiva de orientação para o mercado, a empresa esforça-se por desenvolver condições para que os colaboradores possam perceber a forma como os mercados são abordados. Contudo, a este nível: “…ainda há muita coisa a melhorar.”. Apesar de haver uma preocupação regular na recolha de informação sobre as tendências e mudanças que possam estar ligadas aos diferentes mercados, apesar de haver o cuidado de reunir sistematicamente com os diferentes clientes e de, internamente, se fazer circular informação sobre esse relacionamento, existem alguns procedimentos que poderiam ser tratados de outra forma no sentido de melhorar todo o sistema organizacional e, consequentemente, a relação final com os mercados. Assim, considera a entrevistada, que não se fazem esforços sistematizados no sentido de consultar com regularidade o consumidor final, o que permitiria uma melhor mensuração dos níveis de qualidade percebida e que, até como consequência desta “omissão”, não são feitas, com a assiduidade desejada, abordagens conjuntas, interdepartamentais, para discutir as tendências de cada mercado. Ora, isto implica que nem sempre se consiga a melhor resposta, pelo menos em termos de rapidez, quanto às alterações observadas nos diferentes mercados. Entende que, mesmo a empresa produzindo: “…um único produto, apenas um produto intermédio, discos de cortiça natural, que irá ser incorporado na rolha de cortiça para o champanhe, é um produto, que não sofrendo alterações acentuadas, tem evoluído ao longo do tempo…”, e as pessoas do marketing deveriam discutir com os outros departamentos, com regularidade, as necessidades dos clientes de modo a que com mais facilidade se possam planear as respostas às alterações que venham a ocorrer no ambiente de negócios. 5.3.4.2 Entrevista HF 2 Esta entrevista, realizada a um colaborador da empresa que apenas teve um só empregador, releva, ao nível das condições gerais de trabalho, que este profissional está satisfeito com o tipo de função que executa neste momento da sua evolução profissional, a qual lhe permite usar um conjunto de conhecimentos e de experiências adquiridas ao longo dos anos que fazem com que se sinta bastante realizado. 147 No concernente às condições salariais, refere que os valores base que são praticados na empresa são idênticos à generalidade do setor, contudo, faz questão de salientar que: “…para o mesmo trabalho, comparando com outras empresas, tenho mais benefícios, o que é uma grande vantagem.”. Também entende que há uma grande preocupação, transversal a toda a empresa, para que sejam criadas as condições de melhoria da capacidade de produção, em particular no aspeto qualitativo, o que é conseguido através das formações específicas e sobretudo relevantes que são ministradas, possibilitando assim que o trabalho desenvolvido seja, no mínimo, de nível médio-superior, o que entende como sendo um fator de evolução e de progresso no contexto organizacional. Afirma ainda que a empresa se preocupa com o bom entendimento entre todos os colegas, facilitando o trabalho em equipa e a colaboração entre os diferentes intervenientes em distintas tarefas, assim se conseguindo maiores índices de produtividade: “…que é fundamental nos dias de hoje, com tantas dificuldades e com a concorrência de outros produtos que não são de cortiça. Sobretudo dos plásticos, mais fáceis de produzir e mais baratos.”. Por seu lado, as chefias diretas, no seu caso particular, permitem-lhe tomar uma série de decisões respeitantes às exigências da produção, confiando plenamente nas suas capacidades e experiência, o que junto dos seus subordinados lhe permite ter todas as condições para ser valorizado, pois: “…quando os nossos superiores confiam em nós, que somos responsáveis pelo trabalho, …e porque o fazemos bem, isso faz com que os nossos subordinados nos respeitem quando temos que tomar atitudes que saem fora do normal…”. Considera, no entanto, que, apesar do empenho das chefias diretas junto dos colaboradores manifestando o seu ativo envolvimento nos problemas do desempenho individual, devia haver mais cuidado com as questões diretamente relacionadas com as “promoções” que nem sempre são bem entendidas e ainda menos discutidas, pois: “…muitas vezes as pessoas acham que estão num beco sem saída, não vendo futuro. Há muitas ideias feitas e, às vezes, também injustiças difíceis de controlar, pelo menos durante algum tempo. Estou a falar dos aumentos ...”. Já quanto aos requisitos gerais para se sentir satisfeito com a empresa e aquilo que ela lhe proporciona, afirma: 148 “No geral estou satisfeito com a empresa, pois gosto daquilo que faço e o salário é razoável.”. 5.3.4.3 Entrevista HF 3 Esta entrevista também foi realizada a um colaborador da empresa que se encontra nas mesmas circunstâncias do anterior, isto é, apenas conhece um único empregador em toda a sua, já relativamente longa, vida profissional. Quanto à forma e ambiente em que, de uma maneira geral, decorrem as tarefas a realizar, considera que são bons, pois gosta do que faz, a empresa oferece condições ao nível dos equipamentos e dos espaços que são totalmente adequadas, para não dizer que são de nível superior, e isso faz com que: “…as produções sejam elevadas.”. A relação que a empresa tem com os colaboradores manifesta-se no proporcionar de um conjunto de valores próprios, facilitando o entendimento mútuo e o contentamento generalizado. Assim, maioritariamente, todos os empregados têm acesso a toda a informação de que necessitam para poderem executar as sua tarefas, todos têm condições relativas ao posto de trabalho que têm vindo a ser melhoradas ao longo dos anos com o objetivo de se adequarem aos modelos mais recentes de ergonomia industrial e, sobretudo, há uma forte preocupação em disponibilizar as ferramentas certas para que se encontrarem condições de constante melhoria, o que também é alcançado através de um conjunto de formações regularmente ministradas. Tudo isto representa um conjunto de mais-valias que conduzem a: “…um ambiente geral de satisfação. Durante o trabalho, trabalha-se a sério, mas depois ficamos contentes por ter cumprido…”. A empresa fomenta o conceito do trabalho em equipa no sentido de promover o conjunto organizacional e, segundo a afirmação do entrevistado, há um cuidado acrescido com as condições salariais, pois: “Comparativamente com outras empresas ganha-se mais e há mais benefícios, o que leva o pessoal a aderir…”, o que é, obviamente, entendido como um fator motivacional e de satisfação geral. Este entrevistado, a este propósito, quando confrontado sobre eventuais formas discricionárias no tratamento entre géneros, não lhe atribui importância, referindo: “Não acho que as mulheres se queixem. Ganham acima da tabela e têm as mesmas regalias que os homens.”. 149 Já no respeitante à sua relação com as chefias diretas, considera que há uma grande preocupação para que os níveis de produtividade sejam os melhores possível, havendo muito empenhamento para que tal suceda, sobretudo ao nível da intervenção no respeitante à perceção dos problemas que possam estar a afetar o normal decorrer das diferentes tarefas, nomeadamente se: “…o empregado está com problemas familiares.”. Por sua vez, as sua chefias, considerando a responsabilidade da sua função, fazem total confiança nas decisões que tem que tomar, quer quanto às questões exclusivamente operacionais quer quanto às questões mais ligadas com o relacionamento dos seus colaboradores entre si, assunto este que: “…nem sempre é fácil.”. Porém, para o entrevistado, a confiança demonstrada pelas chefias é muito valorizada e considerada como um fator motivacional e de “respeito” pelo esforço que tem vindo a desenvolver. Aponta, todavia, como algo menos bem trabalhado pela organização, o facto de não existir uma política de promoções que seja plenamente motivadora para os empregados: “…tem acontecido que nem sempre é aumentado o que tem mais feição para o trabalho. Às vezes, cometem-se erros que depois dão problemas. Quem tem esta responsabilidade tinha que se abeirar mais de quem tem mais experiência.”. Apesar de, pessoalmente, identificar uma preocupação acrescida com a questão da gestão das promoções, que quando não correm bem implicam dificuldades para os chefes de setor cuja opinião nem sempre é a que é mais tida em conta, considera que há, por parte dos superiores, um certo cuidado em tentarem saber qual é a exata reação ao seu atual estilo de liderança. Quanto à identificação de requisitos referentes ao conceito de felicidade no local de trabalho (HWP) considera que: “Em termos gerais sinto-me satisfeito.”, espelhando, portanto, um entendimento assertivo do conceito com o qual concorda plenamente pois se “um homem” tem que estar mais de oito horas diárias no local de trabalho, então: “…que se seja feliz.”. 150 5.3.4.4 Entrevista HF 4 Esta entrevista espelha, também ela, uma concordância generalizada com a maioria dos aspetos anteriormente mencionados, quer os positivos quer aqueles não tão bem trabalhados pela organização, não se afastando assim daquilo que é a adesão aos modelos de gestão das condições de trabalho implementados. O entrevistado considera estar contente com o trabalho que efetua que, apesar de ser de muita responsabilidade, se realiza com relativa facilidade pois é sustentado em muitos anos de experiência. Contudo, para que o resultado final seja o melhor, é necessário que sejam também utilizados novos conhecimentos que, de uma forma geral, a empresa se preocupa em facultar através de constantes formações de cariz muito técnico, o que entende como um fator de grande valorização profissional e também pessoal. Na sua área de atuação, é fundamental que haja uma total colaboração entre os diferentes colegas que integram as várias especialidades da equipa técnica, o que é bastante fomentado pelas chefias, pois só assim se conseguem níveis de qualidade de alto valor nas intervenções realizadas, normalmente identificáveis em rapidez de execução e fiabilidade. Para alcançar tais objetivos, a empresa tem o cuidado de lhes disponibilizar as “ferramentas” necessárias, pois delas depende a boa laboração geral e portanto a boa relação com os mercados compradores. Ora, esta perceção, tida pelo entrevistado, é entendida como um fator de que: “O meu trabalho é fundamental para que a empresa produza. Isso faz com que me sinta orgulhoso e tenha vontade de continuar a cumprir…”. Considera ainda que as chefias diretas: “…apoiam o mais possível…”, permitindo que sejam tomadas as decisões necessárias no momento indicado para se poderem solucionar os problemas que apareçam, havendo uma plena confiança na capacidade de intervenção e de iniciativa, acrescentando: “Quando a fábrica trabalha durante a noite e somos chamados para resolver uma avaria, somos nós que temos que decidir como lhe vamos dar resposta. Não temos a quem perguntar…”, o que é considerado como uma condição de confiança e de responsabilização, logo um fator de motivação e de adesão ao contexto organizacional. 151 As chefias, para o entrevistado, preocupam-se em identificar quais são os possíveis problemas que possam afetar as condições de trabalho, nomeadamente, questões de índole familiar que de alguma maneira possam ser transferidas para o ambiente laboral, havendo, pois, muita preocupação com o desempenho individual de cada colaborador. Menos positivas, para este entrevistado, são as condições remuneratórias, pois tem a opinião de que, considerando a sua vasta experiência, ganha menos do que poderia ganhar noutras empresas de maior dimensão, particularmente se considerar o tipo de benefícios que a empresa disponibiliza, os quais: “…não se comparam com os dos Amorins…”. Refere, também, que não tem perspetivas de evolução em termos de carreia, pois: “…acima só o encarregado, […] é muito novo… e eu já sou muito velho.”, apenas esperando poder ser compensado através das condições salariais que reflitam o seu empenho e dedicação para com a empresa. Considera, ainda, que a empresa deveria ter um pouco mais de preocupação com algumas condições gerais de trabalho, devendo: “…fazer melhoramentos com o pó e o ruído.”, achando, assim, que há pequenas coisas passíveis de ser conseguidas e que se tornariam condição de maior adesão dos colaboradores à empresa, implicando um melhor relacionamento global na perspetiva da valorização do trabalho (Samad, 2005), enquanto um “job product”, ou seja, algo que, no seu entendimento, tem valor para todos os envolvidos no projeto empresarial. Porém, de uma maneira global, sente-se satisfeito com o que faz e com o facto de estar nesta empresa, afirmando: “Eu sinto-me, em termos gerais, com satisfação, …há os que estão muito piores.”. 5.3.4.5 Análise dos Indicadores de Desempenho A análise que se passa a apresentar é, obviamente, fundamentada nos elementos obtidos nas IES da empresa, referentes aos três anos em causa, e com os quais se construiu o quadro que abaixo se apresenta, constituído por um pequeno conjunto de indicadores e de rácios económico-financeiros que, no entanto, permitem retirar algumas ilações que são suficientes para o objetivo que se pretende abarcar. 152 Quadro 2 – Indicadores económico-financeiros da empresa Henri & Filhos, S. A. Vendas e serviços prestados Resultado líquido EBIT Activo não corrente Activo corrente Total do activo Capital próprio Passivo não corrente Passivo corrente Total do passivo Total do capital próprio e do passivo Rendibilidade líquida das vendas Rendibilidade operacional das vendas Net ROA Gross ROA Rotação do activo Endividamento Autonomia financeira 2009 3.179.513,60 -259.811,85 -387.751,91 881.854,53 1.937.442,38 2.819.296,91 2.132.999,22 638,44 685.659,25 686.297,69 2.819.296,91 -8,17% -12,20% -9,22% -13,75% 112,78% 24,34% 75,66% 2010 5.015.302,68 241.131,09 351.155,09 746.804,24 2.964.909,66 3.711.713,90 2.233.330,79 510,75 1.477.872,36 1.478.383,11 3.711.713,90 4,81% 7,00% 6,50% 9,46% 135,12% 39,83% 60,17% 2011 8.261.161,70 394.137,85 473.461,65 830.551,74 4.904.066,02 5.734.617,76 2.396.619,39 383,06 3.337.615,31 3.337.998,37 5.734.617,76 4,77% 5,73% 6,87% 8,26% 144,06% 58,21% 41,79% Fonte: elaboração própria, segundo as IES da empresa Começando pela análise da evolução das vendas, verificamos que existe um crescimento muito substancial de ano para ano, 57,7% de 2009 para 2010 e 64,7% de 2010 para 2011. No entanto, se considerarmos o período de 2009 a 2011, este crescimento que é de cerca de 160% representa um valor muito significativo sobretudo entendendo o contexto económico vivido nos anos em causa. O resultado líquido, entendido como a diferença entre todos os rendimentos e os gastos que a empresa apresenta num dado período, ou seja, aquilo que resulta da sua “receita” depois de considerados todos os gastos e perdas do exercício que têm que ser deduzidos a esta, por outras palavras, será o lucro líquido da empresa depois de considerados os custos das vendas, os custos operacionais, os gastos de financiamento e os impostos sobre o rendimento, também evolui positivamente, passando de um valor negativo em 2009 para valores positivos nos anos subsequentes, com uma taxa de crescimento de 63,5% entre 2010 e 2011. Os ativos não correntes, enquanto ativos de longo prazo, que se mantêm de forma regular no período analisado, implicando que, e na medida em que conceptualmente são recursos que resultam de eventos passados e dos quais se espera benefícios económicos futuros, a evolução apresentada não mostra uma dinâmica de gestão, neste particular, que seja muito exposta a que se promovam, na atual conjuntura, riscos em demasia. Já quanto aos ativos correntes, de curto prazo, infere-se que são os créditos sobre clientes que estão a sustentar este tipo de evolução, pois os valores passaram de 153 1.937.442,38 para 4.904.066,02 o que representa um crescimento de cerca de 153% o qual, na realidade, acompanha o evoluir das vendas pois o seu peso no valor destas vendas e serviços prestados - é de 60,9% em 2099, de 59,1% em 2010 e de 59,3% em 2011. Esta evolução traduz-se, por sua vez, no aumento do passivo corrente, na medida em que a empresa teve necessidade de subcontratar fortemente junto dos parceiros locais, assim sustentando o elevado crescimento das vendas. Verifica-se ainda que o capital próprio não tem tido alterações significativas, tal como o passivo não corrente que tem vindo a diminuir e não tendo grande expressão. Considerando o passivo corrente, normalmente respeitante, em termos contabilísticos, a fornecedores ou a empréstimos a menos de seis meses, ele acompanha o aumento do ativo corrente e, naturalmente, está relacionado com as vendas. A empresa tendo que comprar para poder produzir e estando a receber mais tarde dos seus clientes, forçosamente também vai pagar mais tarde aos seus fornecedores e desta forma o passivo corrente vai crescendo, verificando-se que mais do que duplica de ano para ano. Quanto à autonomia financeira ela evolui negativamente, encontrando-se em 2011 num valor de 41,79% contra um valor de 75,66% em 2009, vindo assim, por contrapartida, a aumentar o seu nível de endividamento. Esta empresa apesar de ter um crescimento na faturação bastante interessante, apresenta uma rendibilidade líquida das vendas relativamente baixa, mesmo tendo melhorado de 2009 para 2011. As suas condições de financiamento também pioraram, verificando-se que o ano em que teve piores resultados foi o que apresentou maior taxa de autonomia financeira, percebendo-se que esta evolução depende da forma acentuada como o seu passivo evolui, multiplicando-se quase 5 vezes mais do primeiro ano em análise para o último. O seu ativo não corrente não indicia, nos anos analisados, a existência de grandes investimentos na atividade e, por outro lado, deverão existir algumas dificuldades nas cobranças junto dos seus clientes, maioritariamente do mercado nacional, o que quer dizer qua a empresa tem muito dinheiro em clientes o que, por sua vez, vai ter influência nas dívidas a fornecedores ou a outros credores, podendo até haver passivo bancário, o que não está discriminado e não é observável através do quadro apresentado. Apenas devemos, pois, considerar como relevante o passivo corrente na medida em que o não corrente não tem expressão significativa. 154 Assim, a empresa tem mais créditos sobre clientes, porque está a vender muito mais e porque está a receber pior ou porque concedeu prazos de pagamento mais alargados, aumentando por isso o risco de cobrança. Tal política comercial que assenta na concessão de crédito na tentativa de aumentar os níveis de produção, consubstanciada no forte recurso à subcontratação, contribuindo para o aumento do passivo, principalmente junto de fornecedores, e também junto da banca, reflete-se no rácio do endividamento e consequente queda drástica da autonomia financeira. A empresa, nos anos em análise, tem pouco investimento, quase nenhum, possivelmente fruto dos ativos recentes que adquiriu anteriormente ao período contabilístico em estudo, como parte de uma estratégia de modernização para poder acompanhar a atualização tecnológica em termos de recursos materiais, particularmente equipamentos, e assim poder sustentar o pretendido crescimentos das vendas. Fazendo outras considerações qualitativas e elegendo ainda a evolução da autonomia financeira, que passou de 75,66% para 41,79%, mas que no entanto ainda pode ser entendida como uma taxa até agora muito boa por estar acima de um patamar de 40%, se integrarmos este indicador com o facto de as dívidas de clientes e a fornecedores estarem a crescer, mantendo-se a tendência da primeira para baixar e das segundas para aumentarem, a empresa poderá estar a incorrer numa situação de continuada deterioração da sua capacidade financeira compaginando uma saúde financeira menos boa e por isso mais arriscada com reflexos nos resultados. Assim, mantendo-se este quadro, previsivelmente, a empresa poderá ver a sua situação global degradar-se, até porque a rendibilidade líquida das vendas é relativamente reduzida. No entanto, é possível pressupor que esta evolução possa ser uma estratégia de gestão, sustentada numa garantia de terceiros, o que já iria minorar os efeitos de tal tendência de descida. Relativamente a outros rácios, podemos considerar que são genericamente bastante aceitáveis, revelando a capacidade organizacional para alavancar a rendibilidade da empresa. Quer a rendibilidade operacional das vendas, que é independente da política financeira adotada pela empresa, quer o net ROA, que relaciona o lucro líquido com o total dos ativos, quer o gross ROA, que, usualmente, fornece uma perspetiva de como os ativos da empresa estão a ser utilizados produtivamente e facultando uma previsão sobre os futuros resultados da empresa, são todos indicadores que estão 155 financeiramente aceitáveis e que conheceram uma evolução de forma adequada em temos de gestão organizacional. De relevar, ainda, que a rotação do ativo, com a taxa de 144,06%, é muitíssimo boa, podendo-se presumir que o grau de incorporação de matéria-prima é muito elevado, mas, apesar disso, olhando-se para o conjunto, percebe-se, contudo, que o valor acrescentado não é, em si, muito alto. 5.3.4.6 Conclusão Da análise às entrevistas efetuadas nesta empresa é permitido inferir que, generalizadamente, existe uma aposta conducente à valorização dos empregados, que decorre, sobretudo, do facto de a empresa ter compromissos externos para cumprir, pois é acreditada pelo Código Internacional das Práticas Rolheiras (CIPR) e certificada pelo referencial normativo NP EN ISO 22000:2005. É nesta perspetiva que HF 1 afirma: “Houve uma época em que não havia muita preocupação com os níveis mais baixos dos nossos empregados. Mas, a partir de 1997, isso foi sendo invertido em função da primeira certificação obtida.” Atualmente, a empresa promove muitas “campanhas” de sensibilização junto dos colaboradores no sentido de os despertar para a necessidade de incrementar diariamente os níveis qualitativos daquilo que é produzido e, sobretudo, como é produzido. Há uma preocupação constante em melhorar as condições de trabalho e as condições gerais da relação empresa / empregado, com o objetivo de fomentar a capacidade de fornecer valor de cariz superior aos clientes, o que, obviamente, implica que haja valor de cariz superior em cada momento da própria cadeia de valor, logo, isso acarreta que a integração dos empregados nos distintos procedimentos seja conseguida, na medida em que não é possível satisfazer os clientes com empregados insatisfeitos (Barnes & Morris, 2000). Verifica-se, assim, em todos os processos organizacionais, a existência de níveis muito elevados de apreensão quanto às questões que decorrem das metodologias de gestão da qualidade, nomeadamente no respeitante à perceção e entendimento daquilo que são as necessidades da empresa: “…pois há uma grande preocupação no sentido de estabelecer objetivos que são, semestralmente, transmitidos a todas as pessoas.”, conforme HF 1, que, complementa: 156 “Houve muita formação, essencialmente na área da qualidade.”. No entanto, para que se consigam alcançar estes desideratos de índole geral, relacionados com a missão empresarial, é possível identificar a existência de políticas de satisfação dos colaboradores, devidamente consolidadas ao nível da comunicação interna multinível, no sentido de perceber as necessidades de cada um e de tentar a sua satisfação. Uma das grandes preocupações, identificadas com o objetivo da satisfação dos colaboradores, está diretamente relacionada com o cuidado tido com os níveis salariais e com a acuidade dos momentos em que são realizados os pagamentos dos salários na empresa. Para HF 1: “…há muita preocupação com o estado dos trabalhadores, particularmente com o pagamento, como forma de reconhecimento do trabalho realizado.”. Ora, este tipo de envolvimento empresarial coaduna-se com os princípios básicos do marketing interno, considerando que a organização, mais induzida pelos princípios de gestão da qualidade que são altamente valorizados pelos seus clientes, nomeadamente no aspeto ambiental, fomenta o bem-estar dos colaborados indo ao encontro das suas necessidades. A este propósito, são realizados inquéritos anuais anónimos com a intenção de avaliar a relação existente entre as realizações da organização e a forma como elas são percebidas pelos colaboradores. Como resposta a este tipo de ações, e consequentes soluções adotadas, o nível motivacional geral tem vindo a aumentar implicando outro tipo de envolvimento dos colaboradores, corroborando-se a perspetiva de que a produtividade aumenta mesmo com pequenas concessões feitas pela organização. Já numa perspetiva de adoção do conceito da orientação para o mercado interno, a empresa fomenta a noção de cliente interno integrado numa equipa com necessidades e expectativas que devem ser, na medida do possível, colmatadas no sentido de que só com satisfação é que a produtividade dos serviços internos conduz à adequada orientação para o mercado e à respetiva orientação para o cliente (Javadein et al., 2011). Nesta organização, consegue-se, pois, identificar um alinhamento das capacidades e/ou competências dos seus colaboradores com os objetivos organizacionais, o que compagina um conceito de marketing abrangente, integrando, assim os conceitos aplicados na gestão de recursos humanos (Rafiq & Ahmed, 1995; Jou, Chou & Fu, 2008), devidamente agrupados em três categorias operacionais: recompensas 157 (associadas à motivação), desenvolvimento pessoal e transmissão de uma visão organizacional (Ahmed, Rafiq & Saad, 2003). Em função da especificidade do produto fabricado pela empresa, o seu entendimento do conceito de orientação para o mercado pode não ser o mais tradicional, apesar da preocupação colocada na necessidade de avaliar e acompanhar frequentemente as possíveis alterações que se possam vir a verificar junto dos compradores e que possam influenciar a atividade de produção. Contudo, para poder obter pleno partido das vantagens já alcançadas através da orientação para o mercado, é essencial que a liderança organizacional promova as mudanças conducentes ao desenvolvimento e manutenção das estratégias gerais diretamente vocacionadas para o mercado (Cano et al., 2004), o que é aquilo que a empresa tem pretendido consolidar. No respeitante à satisfação detetada junto dos colaboradores com as condições gerais de trabalho facultadas pela organização, pode-se afirmar que existem índices de satisfação consideráveis, apenas maculados pelo descontentamento, pontualmente identificado, quanto à forma como, no passado, alguns processos de avaliação conducentes a promoções internas, respeitantes a incrementos salariais e não a uma ascensão na escala hierárquica, foram conduzidos, sendo possível constatar que ainda existem resquícios de mal-estar por essa razão. Já quando se analisa o conceito de felicidade no local de trabalho (HWP), ele parece estar bem presente no espírito dos entrevistados que, de uma maneira geral, afirmaram considerar-se felizes pelo facto de a empresa ter um envolvimento com os trabalhadores que proporciona níveis de colaboração recíproca conducentes a um bem-estar social e profissional, através de um estilo comportamental e de gestão dos recursos humanos orientada para uma maior participação e responsabilidade voluntária das pessoas na gestão da organização, o que, por sua vez, traz mais satisfação pessoal e coletiva. É assim que é possível entender, na organização, que a confiança atribuída às pessoas se traduz numa contrapartida de maior produtividade, pois para HF 3: “As pessoas trabalham melhor e são mais felizes.”. No que diz respeito ao desempenho organizacional, tendo em linha de conta a análise realizada aos seus indicadores económico-financeiros, é possível afirmar que estamos em presença de uma empresa que conheceu um forte crescimento do seu nível de negócios, sustentado mais na subcontratação do que no aumento da sua capacidade produtiva, resultando daí mais dependência de mais fornecedores, mas, contudo, cumprindo, de maneira considerável, com um conjunto de ações de gestão conducentes a um desempenho de bom nível e, sobretudo, que tem vindo a evoluir 158 positivamente nos anos analisados, o que é de realçar por duas ordens de razões. A primeira, estrutural, que se prende com o facto de a empresa produzir um tipo de bem de baixo valor unitário e a segunda, conjuntural, que está diretamente associada às dificuldades encontradas nos mercados finais dos produtos fabricados. Pese embora a reduzida rendibilidade líquida das vendas assim como o aumento considerável do passivo corrente, a empresa continua a gerar resultados positivos, notando-se, no entanto, uma quebra acentuada da sua autonomia financeira por força de um aumento do recurso a capitais alheios – fornecedores, banca e Estado. Daqui se perspetiva que a empresa venha a ter necessidade de ver encurtados os prazos de recebimento, com vista à obtenção de maior liquidez, de forma a mais facilmente poder cumprir com as suas obrigações financeiras, evitando assim o recurso ao crédito bancário e consequente aumento do seu risco global. Contudo, a empresa ainda, e mesmo assim, apresenta indicadores económico-financeiros que podem ser considerados razoáveis e equilibrados. O crescimento acentuado das vendas, a evolução positiva do resultado líquido, o índice muito interessante de rotação do ativo e a taxa de autonomia financeira, ainda acima de um patamar considerado como bom, o dos 40%, são indicadores que em conjunto apresentam valores favoráveis à gestão da empresa e que refletem um desempenho final perfeitamente adequado às circunstâncias em que a maioria das empresas está a operar o que ainda vem salientar mais o mérito do desempenho geral desta organização. 159 5.3.5 Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª A empresa, que fabrica rolhas naturais maioritariamente para vender a clientes intracomunitários, pauta a sua atuação pela procura dos mais altos padrões de qualidade nas diferentes fases e vertentes produtivas, fazendo um esforço acrescido no sentido de eliminar possíveis falhas e no sentido de uma moderadamente aceitável modernização, quer em equipamentos, quer em tecnologias, alocados às diferentes fases e processos produtivos. Para esta empresa, a produção de rolhas de cortiça é um processo complexo que exige controlo de qualidade em todas as suas fases. Esta garantia de qualidade pretende que a rolha tenha uma funcionalidade adequada, enquanto vedante, e que seja inócua ao contacto com o líquido a “rolhar”. A qualidade das rolhas de cortiça natural é determinada de acordo com uma escala de oito classes (ver anexo n.º 1), dependendo da matéria-prima utilizada e dos processos produtivos adotados pelo fabricante, pelo que o papel e a experiência dos escolhedores, praticamente mulheres, são fundamentais. Tabela 6 – Caracterização dos entrevistados na empresa Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª Entrevistado Função Idade CS 1 Gerente > 50 CS 2 Escolhedora 31-40 CS 3 Escolhedora > 50 CS 4 Escolhedora > 50 Fonte: elaboração própria Escolarização 4ª classe 8º ano 4ª classe 6º ano Nº anos atividade 46 20 30 40 Nº anos empresa 12 8 10 12 5.3.5.1 Entrevista CS 1 Segundo o entrevistado, tem havido por parte da empresa uma preocupação em fazer passar uma imagem de boas práticas de gestão para com os seus empregados. Tanto é assim, que: “…nos últimos anos, a gestão é, praticamente, feita por um advogado. Eu só me preocupo com a produção, mesmo só com o produzir. Como e quanto é que produzimos. Damos muito valor à qualidade…”, pelo que existe o espírito de preparar os colaboradores para as tarefas que vão desempenhar, fornecendo-lhes as condições materiais para o poderem fazer adequadamente. Há, então, uma divulgação transversal, que inclui obrigatoriamente todos os colaboradores, de um conjunto de “preceitos”, os quais devem ser percebidos e cumpridos para que haja coesão plena no todo organizacional, não estando contudo 160 devidamente explicitada uma conceptualização do que é a visão e a missão desta empresa. Nesta perspetiva, no entanto, os: “…empregados sabem o que devem fazer e porque é que o fazem. Sempre tivemos essa preocupação de informar.”. Há, pois, um forte espírito de equipa que é, de alguma forma, sustentado pelo facto de: “…sermos poucos e eu estar sempre presente, para o bom e para o mau. Quando é preciso, apesar da idade, ainda me agarro a uma máquina qualquer. Trabalho ao lado deles…”, e pelo facto de haver um sistema de incentivos e recompensas baseado não apenas no desempenho individual, mas também no coletivo, e endossado ao lucro anual. “No fim do ano, depois de apuradas as contas, o lucro é dividido em três. Uma parte é guardada para investirmos, outra é entregue aos gerentes e a outra é para dividir pelos empregados. Acho que não há muitas empresas a trabalhar desta maneira…”. Assim, numa perspetiva de marketing interno, a empresa privilegia as condições de comunicação aberta com os colaboradores, tendo em consideração necessidades específicas e analisando, criteriosamente, os resultados obtidos, para que possa encontrar meios que melhor se ajustem aos seus objetivos. É pois considerada como uma preocupação geral o bem-estar dos empregados, reconhecendo-lhes o seu intrínseco valor e estimulando-os a perseguir níveis de qualidade elevados, através da implementação do conceito de cliente interno, com benefícios para todos os envolvidos, permitindo uma melhoria nas relações de trabalho internas, mas sobretudo daí resultando uma substancial melhoria no serviço prestado ao cliente externo. Esta forma de gestão que enquadra o reconhecimento das capacidades e competências dos empregados, integra-se numa constante preocupação com os mercados compradores e na passagem de informação para o interior da organização daquilo que se passa externamente, numa perspetiva de valorização e de motivação individual, pois este tipo de estratégia é considerado, pelo entrevistado, como um fator de aglutinação entre a entidade que é a empresa e os seus colaboradores. É assim que, regularmente, se recolhem informações sobre a evolução das necessidades dos clientes quer através da análise geral do mercado, quer através do contacto direto com os compradores, e: 161 “…é costume dar a conhecer aos empregados o que se passa com os clientes…bem, há coisas que não dizemos. Apesar da confiança, há sempre coisas que não é preciso saberem, faz parte dos negócios.”. No entanto, a comunicação é uma ferramenta de gestão plenamente utilizada no intuito de poder contar com o envolvimento e com a total colaboração dos empregados para que seja possível responder com rapidez a qualquer alteração que seja necessário implementar em qualquer estádio de qualquer processo, quer seja no respeitante à produção quer seja no respeitante à relação comercial com os mercados. Apesar de não haver um contacto direto com o consumidor final, há uma forte preocupação em que os fatores que dizem respeito à relação dos clientes da empresa como seus próprios clientes sejam conhecidos para poderem ser internamente divulgados e atuarem como elemento afinador de estratégias organizacionais, as quais consideram a participação geral dos colaboradores, denotando uma preocupação quanto à sua implicação nas políticas de abordagem dos mercados estabelecidas pela empresa, pois é da compreensão agregada da natureza de eventuais mudanças que depende o desempenho geral da empresa. 5.3.5.2 Entrevista CS 2 A entrevista a CS 2 revela um grau de satisfação acentuado, pois o trabalho que efetua é do seu agrado, refletindo envolvimento pessoal e condições de contentamento e de realização profissional. Diz a entrevistada: “O meu trabalho e o das minhas colegas é de muita responsabilidade. É a nossa experiência que faz com que as rolhas sejam bem «casadas» nas diferentes classes e isso é importante para se ganhar ou perder. Uma primeira tem um valor e uma superior tem outro. Não nos podemos enganar, e também não queremos, e isso é importante para nos sentirmos realizadas.”. Considera, pois, que existe um elevado grau de cooperação entre todos os colaboradores da empresa, incluindo neste relacionamento colaborativo os próprios “patrões”, o que faz com que a qualidade dos produtos finais seja alta e muito apreciada pelos clientes: “…os clientes vêm muitas vezes à fábrica e elogiam-nos muito…”. No que diz respeito às condições salariais e fringe benefits o nível de satisfação mantem-se pois considera que, globalmente, ganha mais do que se ganha noutras empresas similares a fazer as mesmas tarefas. 162 Já no referente ao relacionamento com a organização enquanto entidade, entende que lhe são facultados os meios necessários para poder fazer o seu trabalho em boas condições, apenas referindo que poderiam ser realizadas mais ações de formação aplicada, pois: “…aprende-se sempre muito, sobretudo quando são os técnicos do CINCORK22…”. A sua relação com as chefias é pautada por um entendimento pleno, na medida em que se verifica uma constante preocupação em promover a capacidade individual de atuação, através do incentivar do julgamento próprio para a tomada de decisões, o que nas tarefas que desenvolve é muito importante, pois é desta flexibilidade de julgamento e de atuação que depende o bom desempenho organizacional. Também afirma haver um empenhamento total, por parte das chefias, no respeitante à identificação e “…solução dos problemas que possam surgir…” no decurso da realização das diferentes tarefas inerentes à função desempenhada, o que no seu entender é mais um contributo para o bom ambiente de trabalho e para o resultado final da empresa. Para além destes aspetos, mais diretamente associados às questões laborais em si, também considera que há uma preocupação por parte das chefias em perceber quais são as reais necessidades de cada um, mesmo as que extravasam o âmbito do trabalho, com o objetivo de serem bons líderes e bons “amigos”, havendo uma ligação de proximidade entre o ambiente laboral e a vida familiar dos colaboradores: “…somos como uma família. Preocupam-se com os nossos problemas, especialmente com os filhos…e, também, com os netos.”. De uma maneira geral, a entrevistada considera que: “Gosto do trabalho que desenvolvo.”, e quanto ao conceito de felicidade no local de trabalho (HWP), que parece suficientemente percebido relacionando o ambiente familiar com o fabril, refere: “Sou feliz a trabalhar aqui.”. 22 Centro de Formação Profissional da Indústria de Cortiça 163 5.3.5.3 Entrevista CS 3 Esta entrevistada vem corroborar de maneira generalizada o que foi exposto na entrevista anterior e, circunstancialmente, aquilo que também decorre da entrevista de CS 1. Começa por referir o seu grau de satisfação geral quanto às condições de trabalho que a empresa lhe proporciona, assim contribuindo para o seu empenho nas tarefas que executa, o que a deixa muito: “…contente. Faço uma coisa que gosto e que acho que tem muita responsabilidade. É da nossa secção que sai o lucro da empresa.”. Nesta perspetiva, a empresa corresponde de forma positiva ao empenho dos seus colaboradores, dando-lhes os meios e os recursos adequados para a execução das suas tarefas, tal como boas condições salariais, pois a entrevistada afirma ganhar mais do que: “…muitas colegas que trabalham noutras firmas.”, o que compagina uma relação biunívoca de entrega e retorno entre a empresa e os seus colaboradores. A empresa faculta, pois, os requisitos suficientes para um bom desempenho geral, fomentando o espírito de trabalho em equipa e tendo em atenção as especificidades de cada posto de trabalho e de cada trabalhador individualmente, não se escusando, nunca, em proporcionar a informação necessária para que o produto em fabrico seja produzido da melhor maneira possível. “Todos nós temos muito cuidado com a qualidade daquilo que produzimos. O patrão é o que mais se preocupa e anda sempre a chamar a nossa atenção para termos muito cuidado.”. Este envolvimento é, na opinião da entrevistada, um fator de bom entendimento com as chefias, as quais se preocupam com o bem-estar dos colaboradores, tanto a nível profissional como a nível pessoal. Para tal, envolvem-se no desenvolvimento das diferentes tarefas de modo a que os níveis de desempenho pessoal sejam elevados, tentando sempre perceber o que é que pode ser melhorado e até querendo: “…saber o que é que nós podemos pensar sobre a maneira como somos tratados.”, o que é entendido como uma condição motivacional, que tem reflexos posteriores na adesão dos colaboradores às necessidades da organização. 164 Assim, a entrevistada, quanto ao grau de satisfação decorrente do facto de trabalhar na empresa, afirma: “Gosto muito, sinto-me realizada.”. Considerando a sua interpretação do conceito de felicidade no local de trabalho (HWP) é possível inferir, numa perspetiva de que a organização se esforça no sentido de conceber estratégias que motivem e recompensem os colaboradores, que pode haver felicidade no local de trabalho, quando expressa: “Gosto de trabalhar aqui e sinto-me feliz.”. 5.3.5.4 Entrevista CS 4 Esta entrevista vem, também ela, confirmar o espírito de integração positiva que se vive na organização e que já foi anteriormente expresso pelos restantes entrevistados. Em primeiro lugar, a entrevistada refere que as condições de trabalho que lhe são proporcionadas são boas, apesar de comentar: “…é claro que podiam ser melhores, mas não estamos mal. Garanto-lhe que há muito pior. Já passei por outras firmas, noutros tempos, e sei do que falo.”. Já no respeitante às condições remuneratórias considera-as mais elevadas do que as praticadas em empresas idênticas, tendo a mesma perceção quanto a outros benefícios complementares que a empresa concede a todos os colaboradores, atestando: “…e não conheço muitas firmas que chegam a dezembro e dividem os ganhos com os trabalhadores. Eu não conheço…”. Nesta perspetiva, persiste na confirmação de que a empresa trata bem os seus colaboradores, o que faz com que estes andem motivados e empenhados na forma como desempenham as suas funções, contribuindo desta forma para o bom entendimento geral e para o sucesso que a empresa tem tido ao longo dos anos em que está a laborar, pois: “…só com o bom entendimento entre os empregados e os patrões é que a firma está como está. Paga bem e somos bem tratadas […] também trabalhamos muito, nunca dizemos que não podemos quando nos pedem para fazer horas.”. Assim, entende que a colaboração é fomentada internamente como fator de desempenho organizacional, conduzindo, depois a níveis de reconhecimento que são interessantes para os colaboradores. O reconhecimento mencionado não se esgota nas condições remuneratórias, havendo a preocupação de facultar os meios suficientes para se poder realizar as diferentes tarefas de forma satisfatória para 165 todos, o que contribui para que se atinjam patamares de produtividade reconhecidos externamente. Refere a entrevistada: “…há muitos clientes que nos visitam e dizem sempre que as nossa rolhas são de boa qualidade e o patrão também diz que os clientes estão satisfeitos com o nosso trabalho. Ficamos contentes…”. A relação com as chefias é considerada boa, na medida em que têm o cuidado de encorajar cada um a ser capaz de ter iniciativas que conduzam à melhoria da maneira como as diferentes tarefas são realizadas, o que se reflete no desempenho individual. Porém, acrescenta, ainda, que as chefias também se preocupam com a forma global como o trabalho decorre tendo em atenção os seus possíveis contributos para que isso possa ser sempre melhorado. Para esta entrevistada, em termos de índices gerais de satisfação, o facto de trabalhar nesta empresa é relevante pois: “…já trabalho há muitos anos. Sempre trabalhei nas rolhas. E há 12 que estou neste ambiente familiar e, comparando, esta firma dá melhores condições.”. Também para a entrevistada CS 4 a organização promove “com certeza” estratégias que recompensam os trabalhadores, o que faz com que pessoalmente entenda poder afirmar: “Sinto-me realizada.”. 5.3.5.5 Análise dos Indicadores de Desempenho Voltamos a recorrer aos elementos facultados pelas IES da empresa para poder realizar a análise que se passa a apresentar e que incide sobre os três anos mais recentes que se encontram disponíveis para subscrição no Portal da Empresa, Empresa on-line, Serviços IES. 166 Quadro 3 – Indicadores económico-financeiros da empresa Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª Vendas e serviços prestados Resultado líquido EBIT Activo não corrente Activo corrente Total do activo Capital próprio Passivo não corrente Passivo corrente Total do passivo Total do capital próprio e do passivo Rendibilidade líquida das vendas Rendibilidade operacional das vendas Net ROA Gross ROA Rotação do activo Endividamento Autonomia financeira 2009 1.087.819,38 17.954,30 94.431,01 97.766,73 460.389,67 558.156,40 172.094,92 108.767,61 277.293,87 386.061,48 558.156,40 1,65% 8,68% 3,22% 16,92% 194,90% 69,17% 30,83% 2010 1.142.055,41 5.651,88 -105.876,76 90.911,97 1.107.414,13 1.198.326,10 177.746,80 139.967,77 880.611,53 1.020.579,30 1.198.326,10 0,49% -9,27% 0,47% -8,84% 95,30% 85,17% 14,83% 2011 904.383,77 14.640,32 85.852,43 53.394,58 1.241.977,94 1.295.372,52 192.387,12 380.226,81 722.758,59 1.102.985,40 1.295.372,52 1,62% 9,49% 1,13% 6,63% 69,82% 85,15% 14,85% Fonte: elaboração própria, segundo as IES da empresa Os valores desta empresa refletem logo à partida a sua realmente menor dimensão por comparação com as empresas anteriormente analisadas. A dimensão das vendas é relativamente reduzida, tendo tido um crescimento positivo de 2009 para 2010 e um crescimento negativo de 2010 para 2011. Se considerarmos a totalidade do período em análise há uma regressão de cerca de 17%. Contudo, a menor dimensão da empresa é ainda passível de ser observada através do seu ativo, corrente e não corrente, cujo somatório é em 2011 de 1.295.372,94 euros, enquanto nas empresas anteriormente tratadas este valor oscilava entre os 6 e os 20 milhões de euros, valores substancialmente mais confortáveis para uma gestão organizacional tendencialmente mais equilibrada. O valor do capital próprio, que não evolui de forma significativa, apresenta, em 2011, o montante de 192.387,12 o que é considerado um valor muito reduzido para poder fazer face ao passivo e ao movimento corrente da empresa. Por isso a autonomia financeira também deve ser considerada muito baixa, particularmente em 2010, 14,83%, e 2011, 14,85%, o que indicia algumas dificuldades nos anos aqui observados, pois o indicador decaiu para cerca de metade do que era o seu valor em 2009, 30,83%. A estes baixos valores da autonomia corresponde, obviamente, um valor muito elevado do endividamento que é de 85,15% em 2011. 167 Decompondo, para 2011, o valor do ativo, de 1.295.372,94 euros, em corrente e não corrente, e verificando-se que ele é essencialmente corrente, parece indiciar que a produção é feita com um equipamento que já está maioritariamente amortizado, ou quase, pois a empresa tem apenas um valor de 53.394,98 de ativo não corrente, portanto de médio/longo prazo, o que deve ser considerado relativamente baixo e portanto indiciador de ausência de investimento muito recente em tecnologia conducente a melhores condições de produção e de criação de valor acrescentado. É também possível perceber, através dos valores apresentados, que a empresa deve ter tido prejuízos no passado, porque se se considerar o capital próprio de apenas 192.387,12 a que se deve associar o facto de o imobilizado estar quase todo “gasto”, ou seja, os ativos tangíveis estão quase totalmente depreciados e ao mesmo tempo só tendo de capital o valor acima referido, isto quererá dizer que a empresa ou tem realizado uma forte distribuição de resultados, em montantes bastante apreciáveis, ou então tem gerado resultados muito incipientes. Realmente, o resultado líquido – depois de impostos – face à dimensão da empresa, mesmo sendo positivo, é de facto reduzido, não contribuindo por isso para um reforço dos capitais próprios e consequente aumento da capacidade de financiamento a custos mais reduzidos. Nesta perspetiva, a imagem da empresa junto dos seus parceiros de negócios, nomeadamente, banca e fornecedores, aparece fragilizada, razão pela qual dificulta uma melhor gestão. Todavia será de relevar o facto de os resultados líquidos apresentados terem sido de certa forma afetados negativamente pela política de gratificações adotada pela empresa revelando por isso preocupações de natureza social e de bem-estar junto dos seus colaboradores. Neste caso, a política efetiva de gratificações atribuídas aos empregados está claramente refletida nos resultados, o que ajuda a justificar os valores do passivo não corrente. De notar ainda que, e tomando por referência mais uma vez os indicadores recolhidos, a empresa apresenta rácios não muito otimistas nomeadamente a sua rendibilidade líquida das vendas, a rondar durante o período em análise o 1%, assim como o próprio net ROA igualmente muito reduzido. Esta é pois uma empresa de pequena dimensão, o que é mostrado pelas vendas realizadas e pelos ativos, tendo algumas dificuldades a nível financeiro, apresentando uma autonomia financeira muito reduzida e com um nível de endividamento corrente bastante elevado. 168 A rotação do ativo, que apresenta o valor de 69,82% em 2011, está a decrescer para níveis menos aceitáveis, tendo pois passado de 194,90% em 2009 para o atual valor, o que pode fazer sugerir que em 2012 irá atingir um valor muito baixo, devendo desta forma ser percebido que se devem implementar medidas que revertam esta desaceleração do indicador. A rendibilidade operacional é bastante boa, por oposição à rendibilidade líquida, querendo isto dizer que a empresa suporta bastantes encargos financeiros, razão que faz com que se verifique esta divergência, pois em condições normais o resultado antes de impostos ou operacional – a diferença entre os lucros e os prejuízos relativos à atividade principal da empresa – deveria estar ao nível do resultado líquido. 5.3.5.6 Conclusão Curiosamente, e considerando a pequena dimensão desta empresa, é possível identificar no seu interior níveis de atividade colaborativa muito elevados, consignando uma conceptualização de marketing conducente ao bem-estar dos colaboradores, à sua satisfação com as condições laborais e ao seu empenhamento para com a organização, de modo a que todos estejam a trabalhar para o fim comum da satisfação dos clientes, logo a trabalhar com uma orientação para o mercado, tendo como questão central a necessidade de alocar recursos e esforços que consigam alcançar melhor posicionamento de mercado (Harris & Piercy, 1997; Ballantyne, 2003; Rodrigues & Pinho, 2010). Assim, a empresa de maneira natural, não se constatando uma objetividade intencional, aplica em grande maioria a conceptualização geral do marketing interno enquanto uma ferramenta de gestão que pretende garantir que a organização está em condições de atrair, escolher e reter os melhores empregados e, sobretudo, que estes tenham a consciência de que o seu papel é valorizado na entrega de “serviços” de alta qualidade aos clientes externos. Esta perspetiva relacional praticada pela empresa é a chave para alcançar níveis superiores de serviço e consequentemente uma ligação de sucesso com o mercado externo, sendo considerado pela moderna gestão de marketing que a satisfação dos clientes deverá estar alicerçada no interior de todos os empreendimentos da organização, através de uma relação simbiótica, entre esta e o cliente interno, desenhada com a intenção de poder criar valor acrescentado (Foreman & Money, 1995; Piercy, 1995; Che Ha et al., 2007). A análise às entrevistas realizadas, nesta perspetiva, permite perceber que o marketing interno que é observável nesta organização se enquadra no entendimento de que se deve pautar por um conjunto de comportamentos de gestão, amigos do empregado, cuja operacionalização é realizada pela orientação para o mercado interno, 169 considerada como uma maneira de incutir uma orientação para as pessoas, no interior das organizações, por forma a aumentar e robustecer a qualidade da relação exterior (Rodrigues & Pinho, 2010). Assim, são privilegiados os canais de comunicação, embora informais e de grande proximidade, que explicitem com objetividade o que são os interesses comuns da empresa e dos seus colaboradores. Esta disseminação de informação faz com que haja uma perceção ajustada do que são as necessidades de todos os envolvidos na atividade geral do conjunto empresarial. A empresa tem o cuidado de preparar os colaboradores para o desempenho das suas tarefas e depois recompensa-os em conformidade com os níveis de desempenho alcançados, compaginando a perspetiva de que o marketing interno é a chave para alcançar níveis de serviço superiores e, consequentemente, uma relação de sucesso com o mercado externo. Uma maneira para alcançar vantagens competitivas é através de um bom serviço ao cliente, implicando a sua fidelização, e isto é obtido com a qualidade operacional dos recursos humanos que, por sua vez, depende dos job products que possam estar em causa e que devem ser entendidos para além da própria empregabilidade, na medida em que as empresas devem facultar empregos que possam incorporar vários outros aspetos que permitam cativar e reter a força de trabalho, tal como é feito com os clientes externos, de modo a que os empregados, como qualquer comprador, possam avaliar o trabalho realizado da mesma forma que iriam avaliar a compra de um produto (Greene et al., 1994; Samad, 2005; Vasconcelos, 2008), perspetiva conceptual que é prática nesta organização. Esta relação é identificável quando na entrevista de CS 2 se percebe que os clientes que visitam a empresa estão satisfeitos, elogiando o trabalho realizado, e na de CS 4 que expressa o mesmo, pois os clientes que os visitam afirmam sempre que as rolhas são de boa qualidade. Em todas as entrevistas, em geral, se sustenta esta dualidade de entendimento entre a qualidade do produto obtido e um elevado grau de contentamento com as recompensas que são proporcionadas em função do empenho dos colaboradores. Há, pois, uma perspetiva inata de aplicação dos conceitos de orientação para o mercado interno, ao fazer com que os recursos humanos estejam, voluntária e espontaneamente, orientados para o desempenho, implicando a sua satisfação pelo recurso às técnicas do marketing, devidamente adaptado e assim designado por marketing interno, o que pode ser explicável se se considerar o passado recente do fundador da empresa. 170 Um dos objetivos da orientação para o mercado interno com recurso ao marketing interno será, pois, o de identificar e satisfazer as necessidades dos empregados, quer na sua qualidade individual quer na de prestadores de serviços, de maneira a que eles se tornem efetivamente conscientes do desempenho inerente à forma como esses mesmos serviços são prestados (Varey, 1995b). Identifica-se, pois, uma relação muito próxima entre o investimento realizado pela organização nos seus recursos e o retorno que daí advém. Há um real cuidado com o bem-estar dos colaboradores e estes respondem com níveis de colaboração elevados, permitindo que a empresa fomente a fidelização dos clientes externos, na medida em que a efetiva integração dos empregados é um fator fulcral para promover a plena integração dos clientes. No respeitante à forma como a empresa trata as questões relacionadas com a abordagem dos mercados externos, é possível perceber o cuidado colocado neste tipo de atuação, pois verifica-se uma relação de muita proximidade com os compradores que visitam regularmente as instalações fabris, compaginando a forte orientação para o mercado interno que a empresa pratica e assim conseguindo adotar com sucesso uma orientação para o mercado externo, através do envolvimento e do entusiasmo dos seus colaboradores com a noção da relação da qualidade produzida com as vendas, o que só é plenamente conseguido com a adesão dos clientes e, portanto, com a sua satisfação (Ahmed & Rafiq, 2003; Gounaris, 2006; Jou, Chou & Fu, 2008). Nesta perspetiva, os índices gerais de satisfação são bastante elevados, sendo afirmado por todas as entrevistadas que as regalias proporcionadas pela empresa são boas, que existe um relacionamento de cariz muito familiar no seio organizacional, que há muitos fatores conducentes a uma realização pessoal enquanto colaborador desta empresa e que os níveis de aceitação dos produtos fabricados são deveras bons, o que agregadamente, transmite uma noção de bem-estar e de segurança que faz com que as pessoas se sintam satisfeitas. Já, na vertente do conceito de felicidade no local de trabalho (HWP) é percetível uma total adesão a um movimento de transformação da organização num melhor espaço de trabalho, permitindo que os seus colaboradores expressem plenamente o seu potencial, logo que o conceito aqui em causa seja verificado, tendo mesmo sido afirmado por CS 3: “Se uma pessoa feliz e motivada produz mais e melhor, muitas pessoas felizes e motivadas vão produzir ainda mais e melhor.”. Já no que diz respeito ao desempenho da empresa, considerando os seus indicadores económico-financeiros, é possível afirmar que estamos em presença de uma organização que sendo de pequena dimensão apresenta índices de cumprimento 171 compatíveis com essa mesma dimensão e com a prática comum do extrato operacional em que se insere. A análise realizada não permite indiciar resultados muito bons, apesar do esforço organizacional para contrariar tal tendência. Poderão ser consideradas algumas atenuantes se se entender que as condições conjunturais em que o setor da transformação de cortiça labora não são, no momento, as mais adequadas à obtenção de níveis elevados de desempenho, em especial quando se trata de pequenos transformadores com reduzido poder negocial, independentemente da capacidade para apresentar produtos de boa qualidade de produção. É imprescindível, neste caso particular, realçar, contudo, que os indicadores económico-financeiros refletem, com rigor, a política de premiação dos colaboradores que a empresa, com maior ou menor dificuldade, leva a cabo enquanto fator motivador, compaginando uma tendência de elevado envolvimento com os recursos humanos em detrimento de investimentos materiais. 172 5.3.6 Granaz, Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª Esta empresa dedica-se, principalmente, ao fabrico de vários tipos de granulados de cortiça natural e derivados. É uma empresa familiar que apostou, desde o início da sua atividade, em princípios de gestão que privilegiam a qualidade, o serviço prestado e a profissionalização. Hoje, está num mercado em que pode afirmar que as exigências requeridas pelos clientes encontram uma resposta eficaz através dos esforços de modernização de instalações, equipamentos e processos e de constante valorização da equipa de profissionais altamente especializados e qualificados. Tabela 7 – Caracterização dos entrevistados na empresa Granaz – Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª Entrevistado Função Idade GA 1 Téc. Ofic. Contas 41-50 GA 2 Administrativo 41-50 GA 3 Operadora Máq. 20-30 GA 4 Operadora Máq. 41-50 Fonte: elaboração própria Escolarização Licenciatura 12º ano 9º ano 6º ano Nº anos atividade 20 18 8 20 Nº anos empresa 2 14 1 9 5.3.6.1 Entrevista GA 1 Da entrevista realizada a GA 1 é possível perceber a preocupação da empresa no sentido de facultar aos seus colaboradores as condições necessárias para um bom desempenho organizacional, na medida em que em relação aos conceitos em análise neste estudo, concretamente os que dizem respeito ao marketing interno, a empresa começa por transmitir transversalmente uma visão organizacional que seja entendida e na qual seja possível “fazer fé”. Os colaboradores são objeto de processos cíclicos de desenvolvimento de competências considerando sempre que: “…é fundamental acompanhar a evolução tecnológica. Não nos podemos deixar ultrapassar. O nosso mercado é muito competitivo e as margens com que trabalhamos são baixas.”. Assim, os colaboradores estão conscientes de quais são as suas funções e, sobretudo, do facto de porque é que as estão a desempenhar, o que é considerado como um fator importante na relação do empregado com a tarefa que executa, o que, por sua vez, permite uma maior adesão aos princípios que orientam a gestão da organização. Há um cuidado organizacional que privilegia, dentro de cada setor, a polivalência dos empregados e em particular o trabalho em equipa, considerando que: 173 “Se somos poucos, não há razão para não nos entendermos e não colaborarmos uns com os outros.”. Nesta perspetiva, a empresa implementou, há pouco tempo, um sistema coletivo de incentivos não salariais com o objetivo de recompensar esse mesmo esforço de conjunto, pois: “…sabemos que o controlo é feito por todos, não havendo lugar a falhas individuais […] sem uma razão que o justifique. Até agora e desde que foi criado não tem havido problemas e estamos satisfeitos com este modelo.”. Por sua vez, existe uma preocupação acrescida com as formas comunicacionais para fazer passar as mensagens que devem chegar a todos e de maneira totalmente percetível, implicando também o cuidado de que o retorno dessa comunicação possa ser utilizado para promover as condições de trabalho, o que é considerado como um elemento que fomenta um bom ambiente geral que induz mais empenho individual na relação dos colaboradores com a empresa. Considerando que o reduzido número de colaboradores facilita a gestão da relação organizacional, investe-se adequadamente na capacidade individual para a realização das diferentes tarefas com o objetivo de proporcionar condições laborais suficientemente boas para que: “…as pessoas estejam motivadas.”. Assim, há uma preocupação visível com o bem-estar pessoal, considerando que dentro de certos parâmetros é possível conciliar os interesses da empresa com as necessidades dos colaboradores. Já numa vertente de relação com os mercados externos, a empresa tenta ser o mais diligente possível, pois há muito cuidado em: “…andar sempre a par do que se passa nos mercados.”, sendo uma preocupação da gerência o constante contacto com os clientes para que se possa identificar, em tempo útil, qualquer alteração que venha a ocorrer e da qual possa resultar a obrigação de proceder a adaptações internas. Para o entrevistado, é importante que se consiga: “…manter um relacionamento comercial, forte e duradouro, apesar dos desafios e da concorrência desenfreada dos dias de hoje.”, acrescentando: 174 “Nem sempre é a identidade de interesses que faz com que os relacionamentos comerciais se mantenham. Aquilo que os mantem são fatores nos quais apostamos muito. Por exemplo, a diferenciação, o comprometimento, que deve ser mútuo, e o tratamento de eventuais reclamações … que felizmente não temos tido nos últimos tempos.”. Porém, apesar de este tipo de informação circular de forma mais ou menos aberta dentro da empresa, e portanto ser do conhecimento generalizado, não há o costume de os responsáveis pela relação com os mercados discutirem estratégias com outros colaboradores que não os diretamente envolvidos. Em termos gerais, a empresa consegue ter atitudes de gestão operacional que lhe permitem, em curtos prazos de tempo, solucionar qualquer questão relacionada com a evolução quer dos produtos quer de novas necessidades apresentadas pelos clientes. Este tipo de atuação vai refletir-se na relação como os colaboradores no sentido de promover a sua autonomia e o seu desempenho, assim contribuindo para o sucesso organizacional e para uma “…imagem externa prestigiante…”, nomeadamente em termos locais, condição esta que é muito valorizada pela empresa. 5.3.6.2 Entrevista GA 2 Desta entrevista, decorre que o entrevistado está bastante satisfeito com o trabalho que efetua, entendendo que as suas capacidades são plenamente aplicadas e percebidas, pelo que acha que se pode considerar realizado em termos profissionais. Entende, ainda, que, ordinariamente, existe um espírito de equipa elevado nesta empresa, o que se espelha no nível geral da qualidade do produto fabricado o que, por sua vez, é também um fator de: “…motivação e segurança. Enquanto a empresa produzir boa qualidade, os clientes não irão faltar.”. Nesta perspetiva, a empresa tem o cuidado de facultar a formação necessária para que todos possam realizar a suas tarefas em boas condições, tal como disponibiliza instalações e meios para que o trabalho seja feito sem excesso de esforço para todos os que nela trabalham, o que é considerado um agente motivacional importante e que consegue cativar os colaboradores para níveis de adesão às necessidades da empresa que podem ser percebidos como sendo elevados. Da análise que faz relativamente à atuação das chefias para com a sua pessoa, entende que lhe é proporcionada a capacidade de iniciativa suficiente para poder gerir autonomamente o desenvolvimento das suas atividades, havendo também alguma preocupação com o que possam ser as condições futuras da sua permanência na empresa. 175 Aponta, contudo, como menos positivo, o aspeto de que as chefias são pouco sensíveis ao que os subordinados acham dos seus modelos de liderança, reforçando, no entanto: “Apesar disso, fazem um esforço para saber o que é que está a correr mal e como é que podem apoiar. Nesse aspeto não são displicentes…”. Quando abordadas as questões de índole salarial, considera que a sua remuneração está ao nível do que é localmente praticado, mas acrescenta que os benefícios extra dados pela empresa, nomeadamente ao nível da flexibilidade, são melhores do que os da maioria das empresas da região, afirmando: “…aqui não há muitos empregos e as empresas aproveitam-se, mas não é o caso desta. A nossa entidade patronal tem uma visão mais alargada. Também trabalhamos com clientes estrangeiros, o que ajuda.”. Quanto à questão da satisfação que possa ser conjuntamente alcançada nos âmbitos profissional e familiar, conducente ao conceito de felicidade no local de trabalho (HWP), esclarece: “…entendido assim, sinto-me muito bem.”. 5.3.6.3 Entrevista GA 3 Esta entrevistada, apesar do ainda pouco tempo de permanência na empresa, entende que as tarefas que realiza são do seu agrado e que, de momento, se considera muito realizada profissionalmente. Na sua perspetiva, a empresa promove um verdadeiro espírito de equipa, o que tem implicações na qualidade do trabalho e do produto final. Ao abordar o seu grau de satisfação no respeitante às condições que aufere na empresa, considera-as boas, apesar de não saber se são melhores ou piores do que as praticadas noutras empresas fabris, porque: “É a primeira vez que trabalho numa fábrica. Antes trabalhei num restaurante. Lá ganhava menos e cansava-me mais. Agora estou mais satisfeita.”. Entende ainda que a sua satisfação também é fruto do facto de a empresa proporcionar boas condições no ambiente laboral, facilitando o normal desenrolar das diferentes tarefas, tal como faculta as informações necessárias para que tal possa acontecer. Refere, contudo, que ainda não foi objeto de nenhum tipo de formação, para melhorar as suas competências, para além da formação que lhe foi dada aquando da sua integração na empresa. 176 No respeitante às chefias diretas, considera que lhe oferecem todas as condições para ser uma boa “funcionária”, pois pode decidir sobre vários aspetos do processo operativo para que se venha a obter o melhor resultado e havendo sempre o apoio dos superiores. Acrescenta ainda que há um forte envolvimento das chefias no sentido de promover o normal decurso da “jornada” laboral, facilitando o entendimento entre toda a equipa, afirmando: “…nunca temos confusões e todos nós sabemos o que temos que fazer.”. Nesta perspetiva, é possível perceber que existe um grau de satisfação elevado na relação da colaboradora com a empresa, pois, para além de afirmar: “Sinto-me motivada e integrada na empresa.”, ainda considera que as condições de trabalho que lhe são proporcionadas são: “…as ideais.”, o que compagina uma perceção relativamente positiva da conceptualização de felicidade no local de trabalho (HWP), enquanto fator de motivação para o seu bem estar socioprofissional. 5.3.6.4 Entrevista GA 4 Esta entrevistada, quando confrontada com as questões inerentes à sua satisfação, relativamente às condições em que decorre o seu trabalho, considera que elas são boas, pois: “…gosto do que faço.”, entendendo, ainda, que lhe é permitido utilizar, durante a execução das suas tarefas, um conjunto de conhecimentos “importantes” que tem vindo a adquirir ao longo dos anos e que se sente “contente” e realizada, pelo que a este nível: “…não posso estar melhor.”. Quando abordadas as questões referentes às condições salariais e outras regalias dadas pela empresa, no intuito de perceber se são melhores ou piores do que noutros sítios, considera que não tem termo de comparação pelo que: “Quanto a isso não sei dizer. Há muitos anos que já trabalho aqui e, agora com todas as dificuldades, acho que estou bem.”. 177 Por sua vez, na sua perspetiva, a empresa tem o cuidado de facultar toda a informação necessária ao cumprimento das tarefas exigidas, preocupando-se com a maneira como elas são realizadas e tendo atenção a: “…uma ou outra queixa que a gente tem.”. Entende, pois, que o ambiente é bom, a relação com a entidade patronal é satisfatória e que as chefias agem de forma a facilitar o normal decorrer do trabalho, havendo condições de diálogo que facilitam a capacidade decisória, a responsabilização e a confiança mútua, o que é, na sua perspetiva algo que permite que se sinta motivada para a realização das tarefas que lhe são atribuídas diariamente. Ainda no que diz respeito à relação com as chefias, a entrevistada acha que os seus superiores se envolvem na maneira como o trabalho é realizado para que seja possível alcançar melhores níveis de produtividade, tendo o cuidado de querer perceber que dificuldades existem e como é que podem ser ultrapassadas. Em termos gerais, quanto aos níveis de satisfação, afirma: “Sinto motivação para fazer as minhas funções e … estou satisfeita.”. Depreende-se, da abordagem realizada, que a questão da conceptualização da felicidade no local de trabalho (HWP) não está muito bem cimentada, mas que na realidade, em termos abrangentes, o grau de satisfação geral é elevado. 5.3.6.5 Análise dos Indicadores de Desempenho Mais uma vez se recorre aos elementos facultados pelas IES da empresa para que se possa realizar a análise que se passa a apresentar e que recai sobre os três anos mais recentes, disponibilizados pelo Instituto dos Registos e do Notariado, através do Portal da Empresa. Com a informação assim recolhida construiu-se o quadro que se segue, sendo possível consultar, em anexos, a totalidade dos elementos que foram analisados para se chegar a tal desiderato. 178 Quadro 4 – Indicadores económico-financeiros da empresa Granaz – Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª Vendas e serviços prestados Resultado líquido EBIT Activo não corrente Activo corrente Total do activo Capital próprio Passivo não corrente Passivo corrente Total do passivo Total do capital próprio e do passivo Rendibilidade líquida das vendas Rendibilidade operacional das vendas Net ROA Gross ROA Rotação do activo Endividamento Autonomia financeira 2009 1.331.743,07 -221.448,96 -101.319,77 1.753.872,61 1.407.431,13 3.161.303,74 724.481,66 0,00 2.436.822,08 2.436.822,08 3.161.303,74 -16,63% -7,61% -7,00% -3,20% 42,13% 77,08% 22,92% 2010 2.099.143,51 5.303,47 212.846,36 1.689.393,40 955.960,49 2.645.353,89 729.785,13 0,00 1.915.568,76 1.915.568,76 2.645.353,89 0,25% 10,14% 0,20% 8,05% 79,35% 72,41% 27,59% 2011 2.188.062,60 -75.760,77 -319.936,65 1.527.924,79 974.372,03 2.502.296,82 654.024,36 250.000,00 1.598.272,46 1.848.272,46 2.502.296,82 -3,46% -14,62% -3,03% -12,79% 87,44% 73,86% 26,14% Fonte: elaboração própria, segundo as IES da empresa Esta também é uma empresa de pequena dimensão, tendo em conta nomeadamente o número de trabalhadores, aparentando ser mais bem estruturada do que a anterior, mesmo tendo em consideração os resultados negativos em 2009 e em 2011. Apesar disso, globalmente, parece ser melhor do que a anteriormente analisada. Tem tido, objetivamente, resultados negativos elevados nos anos em análise, com exceção do ano de 2010. Não nos é possível perceber o que ocorreu no passado desde a sua criação em 1998, tendo, portanto, já 14 anos de atividade regular. A empresa apresenta um ativo não corrente muito elevado, com o valor de 1.527.924,79 em 2011, refletindo uma atualização de equipamentos, tecnologicamente mais up-to-date, pois a sua atividade requer, para poder fabricar com a qualidade exigida pelos mercados, um tipo de equipamentos mais automatizado e tecnicamente mais complexo, os quais, claro, são mais caros. Ainda relativamente ao forte investimento realizado pela empresa, é preciso ter em consideração como aspeto negativo, evidenciado nos elementos contabilísticos, o facto desse mesmo investimento estar a ser financiado com capitais de curto prazo, concomitantemente associado ao facto de o passivo não corrente apresentar valores relativamente mais elevados, o que denota a necessidade que a empresa teve de recorrer a um financiamento externo. 179 Em termos de rentabilidade, apresenta um prejuízo de 75.760,77 no último ano, apesar de as vendas terem aumentado de 2010 para 2011, o que se explica pelo forte investimento realizado pela empresa. É evidente que estes resultados menos bons se refletem em termos financeiros, com as necessárias consequências no que diz respeito às condições de gestão corrente. Por outro lado a empresa vê o seu passivo corrente reduzir-se ao longo do período em análise pese embora a rendibilidade, líquida e operacional, das vendas ser negativa. O passivo corrente em 2011 e o ativo corrente, no mesmo ano, indicam que a empresa tem apenas o valor de 974.372,03 para receber, contra o valor de 1.598.272,46 para pagar, o que indicia a existência de algumas dificuldades financeiras que se vão refletir no rácio da autonomia financeira de apenas 26,14%, bastante abaixo de um plafond de cerca de 40% normalmente aceite como limiar de uma boa gestão. Verifica-se, também, que a autonomia financeira, em termos médios nos três anos considerados, ronda os 25,5% o que não sendo muito favorável também não pode ser considerado de todo muito negativo, pese embora o referido desajustamento entre o investimento realizado e sua forma de financiamento. Este indicador anda um pouco ao sabor dos resultados, não estando, portanto, devidamente consolidado o que não permite que a empresa tenha um grau de segurança e estabilidade adequado para uma gestão assente numa eficaz estratégia de crescimento sustentado. É possível, também, constatar, através da análise das IES, que a empresa recorre a suprimentos dos sócios, pois como deve muito a fornecedores e pouco à banca, isto implica um envolvimento acrescido dos gestores na capacidade organizacional para gerar resultados. Alguns dos indicadores observáveis no quadro não podem ser considerados como bons, tal como também não o pode ser a irregularidade dos resultados, umas vezes positivos, outras vezes negativos, o que em conjunto não são elementos que abonem financeiramente a favor da empresa, implicando, pois, que se possa ter que obrigar a que haja esforços supletivos – aumento de capital – na gestão corrente da empresa para alcançar a rentabilização desejada. Contudo, esta é uma empresa que através de ações concretas de operacionalização estratégica, tenta ultrapassar as suas dificuldades, tendo já algum historial que lhe permite retirar mais-valias dessa experiência acumulada, o que se reflete no esforço realizado para encontrar um equilíbrio adequado entre o passivo corrente e o ativo corrente. 180 Ou seja, a empresa tem, seguramente, neste momento, dificuldades de tesouraria, se consideramos que o passivo corrente é muito superior ao ativo corrente, e faltando, pois, fundo de maneio, o que vai prejudicar as condições de gestão, assim como alguns do rácios apresentados no quadro de análise, nomeadamente o net ROA, ao relacionar o lucro líquido com o total dos ativos, e o gross ROA, dando uma ideia de como os ativos estão a ser usados no sentido de perspetivar futuros resultados, tal como a consequente autonomia financeira. A rotação do ativo, apesar de ter vindo a aumentar, e o endividamento espelham, efetivamente, a irregularidade dos resultados da empresa de que decorre, também, por sua vez, algum contributo para o grau de dificuldade financeira. Deve-se, contudo, realçar que mesmo tendo em conta os valores identificados contabilisticamente, a empresa tem um aspeto físico muito interessante, com equipamentos bem cuidados, recentes, e com condições de operacionalidade laboral muito boas. 5.3.6.6 Conclusão Considerando as entrevistas realizadas nesta empresa é possível concluir que existe um bom clima organizacional, proporcionando um grau generalizado de contentamento com as condições em que as tarefas profissionais são executadas, reconhecendo-se o papel crítico desempenhado pelos empregados, conduzindo, assim, até à função do marketing interno, entendida como um conjunto de procedimentos que ocorrem no interior da organização com o objetivo de perfilar os processos operacionais com os níveis de motivação individual de modo a oferecer aos clientes externos níveis superiores de satisfação. Esta perspetiva é verificável através do grau de focalização colocado, de forma não cientificamente entendida, mas de alguma maneira implícita, no mix do marketing interno, com o intuito de influenciar o desempenho da atividade através da conjugação de práticas que, por sua vez, vão gerar competências organizacionais: competências individuais e específicas, satisfação dos empregados e comportamentos orientados para os mercados, conforme estabelecido por Ahmed, Rafiq & Saad (2003). Este modelo relacional empregador / empregado desenvolve deliberadamente competências organizacionais desejáveis através da instituição de estruturas e processos internos que influenciam positivamente os membros da organização a agirem no sentido de garantirem a criação e manutenção de procedimentos competitivos, que passam pela oferta de propostas adequadas aos clientes, e cujo resultado será o granjear de uma forte lealdade da sua parte (Varey, 1995b; Javadein et al., 2011). 181 Esta empresa pratica implicitamente, na realidade, uma conceptualização do marketing interno focalizada no entendimento de que os empregados podem ser motivados para se esforçarem no sentido de desenvolverem uma orientação para o mercado, para estarem conscientes das necessidades e desejos dos clientes externos e para adquirirem uma mentalidade de venda, percebendo os princípios orientadores do marketing externo, enquanto elemento fundamental da prática do dia a dia no que respeita à dinâmica de gestão empresarial (Farrell, 2000; Macedo e Pinho, 2006; Tortosa-Edo et al., 2010). Nesta perspetiva, foram criados mecanismo de avaliação e de recompensa dos esforços realizados pelos colaboradores, que complementaram os procedimentos comunicacionais internos de consciencialização de mercado, considerados como um elo de ligação entre atividades operacionais correntes e o desempenho da organização nos seus mercados externos. No seguimento desta linha de atuação, a empresa promove esforços comunicacionais para se divulgar, a si e aos seus produtos, junto dos seus empregados, de modo a que possam ser alcançados os objetivos estabelecidos, através da compreensão de cada um sobre o seu papel na organização (Greene et al., 1994; Crick, 2003), o que é observável quando GA 1 afirma: “…há muito cuidado em fazer perceber quais são os objetivos que a empresa pretender alcançar e sobretudo o que é que é preciso fazer para lá chegar. Não basta ter bons produtos, é preciso que sejamos globalmente competitivos nos mercados e que os compradores entendam claramente as vantagens que podem ter se trabalharem connosco.”. Apesar da pequena dimensão desta empresa, este entendimento compagina, de alguma forma, a conceptualização da orientação para o mercado interno, pois há uma preocupação com uma focalização no ambiente organizacional, que permite retirar o máximo partido da orientação para o mercado (Lings, 2004; Panigyrakis & Theodoridis, 2009), através do uso das abordagens gerais do marketing para motivar internamente os colaboradores da empresa. No referente ao entendimento que os gestores têm da orientação para o mercado (Naudé et al., 2003; Panigyrakis & Theodoridis, 2009), a questão da relação da orientação para o mercado interno ao integrar aspetos associados à comunicação interna, à socialização e à satisfação no posto de trabalho, vai impactar o nível do marketing praticado junto dos distintos mercados, na medida em que os resultados obtidos são contabilizáveis pelas organizações e, portanto, objetivamente, visualizáveis. 182 Nesta empresa, estes procedimentos em especial têm tido efeitos relativamente positivos, pois a relação com os mercados compradores tem sido relevante e a satisfação dos colaboradores é bem identificável através das entrevistas realizadas. Neste particular da satisfação dos colaboradores é fácil perceber que ela está patente no dia a dia de cada um independentemente das razões que possam ser invocadas para tal, referindo até GA 2 que as condições proporcionadas pela empresa são as “ideais”, assim expressando um nível elevado na análise desta variável. Abrangentemente, o conceito de felicidade no local de trabalho (HWP) também é verificável no contexto do conjunto dos entrevistados pois manifestam a sua satisfação quer pessoal e familiar quer profissional, havendo apontamentos de pleno reconhecimento para com a entidade empregadora pelo que é proporcionado em termos de estabilidade e de segurança, podendo-se, assim, considerar que as emoções positivas facilitam a resolução dos potenciais problemas, estimulam a criatividade, promovem o bem-estar e a felicidade e contribuem para o equilíbrio e sucesso familiar e profissional (Batista, 2012). No respeitante ao desempenho da empresa e tendo em atenção os seus indicadores económico-financeiros, podemos perceber que, apesar de estarmos a analisar uma pequena empresa, apenas com 10 trabalhadores, se verifica por parte da gestão a realização de um conjunto de esforços que têm como objetivo promover a continuidade estabilizada da organização. Ora, tal envolvimento pode ser entendido como um indicador de sucesso empresarial, sobretudo se considerarmos a longevidade que a organização apresenta, pois já ultrapassou a infância e está-se a aproximar do limiar médio do ciclo de vida, que foi estabelecido, para empresas de qualquer tamanho, como sendo inferior a 20 anos (Geus, 2005). Podemos ainda carrear para esta análise o facto de a empresa ter umas instalações, onde decorre a sua atividade normal, de boa qualidade e que permitem proporcionar aos seus colaboradores um ambiente laboral adequado pois existe a consciência de que as pessoas passam a maior parte do seu tempo no local de trabalho e que lhes devem ser facultadas condições eficientes para alcançarem os seus objetivos. 183 VI Análise dos Resultados Após a recolha de dados, segue-se a fase de análise e interpretação desses mesmos dados. Estes processos estão estreitamente associados entre si e complementam-se. A análise organiza e sintetiza os dados de forma a possibilitar que as respostas à questão de investigação se manifestem. A interpretação, por sua vez, identifica o sentido das respostas, de modo a que se determine a ligação a outros conhecimentos anteriores. Para poder analisar o discurso dos entrevistados, aspeto capital desta nossa investigação, procurámos as relações que se cruzam entre a teoria e a prática e que traduzem a realidade, podendo, assim, conduzir à edificação do que se investiga. Isto implica, pois, que se perceba não apenas a linguagem, mas também o que lhe está subjacente, muitas vezes através do que não é explicitamente dito, de incoerências, de contradições e de omissões, e cuja importância assume um sentido significativo na forma como interpretamos e fazemos a nossa análise dos conteúdos facultados pelas fontes que se disponibilizaram para prestar o seu contributo. Trata-se de apreciar não, exclusivamente, a linguagem mas, também, o que lhe está agregado, considerando que os fenómenos em análise são complexos (Healy & Perry, 2000), pelo que a interpretação de conteúdos tem que ser constantemente arquitetada, ponderando as questões investigadas e os objetivos do estudo, o qual decorre num contexto de relações humanas, de modo a que não se coloque em risco toda a pesquisa. Pretende-se, então e agora, apresentar e analisar os resultados obtidos através da realização do estudo empírico sobre as dimensões do modelo de análise. Nesta perspetiva, esta exposição foi estruturada de acordo com o modelo conceptual apresentado no ponto 4.1, da segunda parte. Procurar-se-á, então, responder a cada uma das questões de investigação: como é que a aplicação estratégica dos princípios do marketing interno influencia a orientação para o mercado interno ? como é que o tipo de orientação para o mercado interno influencia a orientação para o mercado ? como é que a orientação para o mercado vai ter influência no desempenho organizacional ? Para tal começa-se por caracterizar a amostra dos entrevistados. 184 6.1 Perfil dos Entrevistados Os entrevistados, em número de 24, fazem parte da estrutura organizacional das 6 empresas selecionadas para a realização do estudo, estando organizados em conformidade com as tabelas a seguir apresentadas. A escolha destes entrevistados foi, na perspetiva deste estudo, totalmente alheia ao exercício do investigador, na medida em que não foi possível interferir na sua identificação, não conferindo, assim, qualquer capacidade de inferência estatística. Como se pode observar na tabela 8, os entrevistados estão distribuídos em termos profissionais, integrando distintas funções que percorrem transversalmente diferentes departamentos organizacionais, sendo que 12, metade, são mão de obra direta.23 Tabela 8 – Caracterização por função desempenhada Função Afinador Adjunto do Responsável de Departamento Administrativo(a) Broquista Chefe Setor Comercial Diretor Financeiro Diretor/Gestor RH Diretora Qualidade Escolhedora Gerente Operadora de Máquina Rabaneador Técnico de Comunicação e RP Técnico Oficial de Contas Topejador TOTAL Frequência Percentagem 1 1 3 1 2 1 1 2 1 4 1 2 1 1 1 1 24 4,17 4,17 12,50 4,17 8,33 4,17 4,17 8,33 4,17 16,67 4,17 8,33 4,17 4,17 4,17 4,17 100,03 Fonte: elaboração própria Já no respeitante à distribuição por género, verifica-se (tabela 9) que os entrevistados masculinos são o dobro dos femininos, não tendo havido, tal como já atrás referido, possibilidade de intervenção nesta escolha, maioritariamente da responsabilidade das empresas auscultadas. 23 Destes 12, 6 são do género feminino. 185 Tabela 9 – Caracterização por género Género Masculino Feminino TOTAL Frequência Percentagem 16 8 24 66,67 33,34 100,01 Fonte: elaboração própria O escalão etário mais preponderante nesta amostra (tabela 10) é o dos 31 a 40 anos, representado 50,00% dos entrevistados, o que, mais uma vez se releva, não representa a realidade específica das empresas em causa. Tabela 10 – Caracterização por escalão etário Idade <20 20-30 31-40 41-50 >50 TOTAL Frequência Percentagem 0 2 12 7 3 24 0 8,33 50,00 29,17 12,50 100,00 Fonte: elaboração própria Considerando as habilitações escolares (tabela 11), foram selecionados 6 licenciados, ¼ dos entrevistados, mas dos quais 5 correspondem a quadros superiores, com um guião de entrevista específico com o qual se pretendia perceber a posição da empresa relativamente às variáveis aqui em estudo. Tabela 11 – Caracterização em função da escolaridade Escolarização 4ª classe 6º ano 8º ano 9º ano 12º ano Licenciatura TOTAL Frequência Percentagem 2 6 1 4 5 6 24 Fonte: elaboração própria 186 8,33 25,00 4,17 16,67 20,83 25,00 100,00 A maioria dos entrevistados, 2/3, tem uma experiência profissional no setor da cortiça que oscila entre os 10 e os 20 anos (tabela 12). Tabela 12 – Caracterização considerando o número de anos a desempenhar funções no setor de atividade Nº anos atividade <10 10-20 21-40 >40 TOTAL Frequência Percentagem 1 16 6 1 24 4,17 66,67 25,00 4,17 100,01 Fonte: elaboração própria Já no que diz respeito ao tempo em que exercem a sua atividade na mesma organização (tabela 13), 21 dos entrevistados (87,50%) fazem-no há menos de 21 anos. Tabela 13 – Caracterização considerando o número de anos a exercer atividade na empresa em estudo Nº anos empresa <10 10-20 21-40 >40 TOTAL Frequência Percentagem 10 11 3 0 24 41,67 45,83 12,50 0 100,00 Fonte: elaboração própria 6.2 Constatações Identificadas no Conjunto das Entrevistas Realizadas24 Considerando o exposto e analisado nos capítulos I e II, a perceção das condições em que as distintas empresas atuam, em termos das estratégias respeitantes às variáveis em estudo neste trabalho, será, agora, objeto de enquadramento com a intenção estruturante de reconhecer identidades individuais que possam, contudo, carrear o seu contributo para o todo em análise. 24 As tabelas síntese apresentadas neste ponto 6.2, devem ser lidas tendo em consideração que o S significa que existe uma maioria de observações positivas em relação ao conceito em causa e que o N corresponde a uma maioria de observações negativas. 187 Para tal, sendo o foco deste estudo um conjunto de princípios de atuação que têm como suporte uma série de possíveis ações junto dos colaboradores das organizações – os quais são considerados recursos valiosos e tendencialmente insubstituíveis, recorrendo-se à literatura revista, pretende-se evidenciar que existe consenso sobre o valor destes recursos críticos que permitem, por sua vez, potenciar o desempenho competitivo das empresas, quando usados de forma adequada, compaginando, assim, uma competência dinâmica. Portanto, as organizações devem promover, junto dos seus empregados, comportamentos de destreza operacional devidamente enquadrados por modelos motivacionais que conduzam a procedimentos orientados para os desideratos comuns (Schlosser & McNaughton, 2009). Optou-se, assim, conforme já indicado anteriormente, pela distinção dos entrevistados em duas categorias, os quadros superiores possuidores das competências e aptidões para promover a prática de determinados comportamentos organizacionais e os restantes colaboradores, que são o objeto das orientações estratégicas conducentes aos comportamentos desejados. 6.2.1 A Perspetiva dos Quadros Superiores Prosseguindo o anteriormente estabelecido quanto à forma de abordagem aos diferentes tipos de entrevistados, tendo em linha de conta as tarefas que desempenham, nas empresas em análise, e respetivos níveis de responsabilidade hierárquica, o modelo de entrevista foi, pois, diferenciado de modo a que, numa primeira abordagem, fosse possível perceber qual seria a perspetiva geral da organização, representada pelos seus quadros decisores, e não tanto a perspetiva individual do entrevistado, a que designámos por quadro superior. Assim, o à frente exposto refere, essencialmente, uma interpretação de gestão global, com objetivos estratégicos, e não tanto o exclusivo entendimento do gestor enquanto indivíduo, obviamente integrado num coletivo, apesar do entendimento pessoal sempre carreado para estas situações. 6.2.1.1 Marketing Interno Esta variável, devidamente integrada no guia das entrevistas, é identificada como uma prática comum na generalidade das empresas em análise, pois a preocupação organizacional com a divulgação global da visão e da missão empresariais é identificada transversalmente em todos os quadros superiores entrevistados, referindo AR1 que “…este tipo de procedimento faz com que todos se revejam no todo empresarial.”, considerando SC 1 que tal atitude de divulgação as torna mais credíveis e de mais fácil aceitação, pois “…quando se investe na comunicação interna, as pessoas 188 conseguem aderir, com maior facilidade…”, tendo GA 1 a mesma perceção quanto à necessidade de assim proceder. Também a necessidade de fomentar, regular e assiduamente, o desenvolvimento de conhecimentos e competências junto de todos os colaboradores é uma prática correntemente reconhecida, destacando-se da entrevista realizada a AI 1 a noção de que o desenvolvimento das competências dos colaboradores é considerado como um investimento gerador de retorno não só no imediato mas também a prazo, portanto, contabilisticamente falando, “…um ativo, na real aceção da palavra, com todas as suas consequências, e nunca sendo visto como um custo obrigatório do exercício.”, entendendo, por sua vez, SC 1 que se prevalecesse este último entendimento tal investimento seria um gasto desajustado, na medida em que “O ganho de skills de todo o género tem de ser percebido como um investimento a prazo e não como algo em que temos de gastar dinheiro.”. Também, HF 1 considera que esta prática, adequadamente realizada, é entendida como um facilitador do bem-estar profissional e pessoal, verificando-se que “…começa a haver concessões em função das sugestões do pessoal…”. Sendo os trabalhadores objeto de constante geração de competências acrescidas, consideradas, também, num contexto individual, conforme AR 1 que realça que “É feita muita formação, mesmo em necessidades pessoais,…”, é, então, correntemente reconhecido que a sua relação com as condições operacionais das empresas seja aproveitada para conseguir melhorar não só o ambiente laboral mas também a forma estratégica como a empesa se posiciona. Para AI 1, as competências adquiridas estão “…claramente relacionadas com o desempenho individual e coletivo.”, particularmente, segundo HF 1, no que concerne as questões relacionadas com a qualidade final dos produtos disponibilizados, os quais “…têm vindo gradualmente a melhorar, não se detetando não conformidades assinaláveis.”. Este é, também, o entendimento de SC1 e de CS 1, quando referem, respetivamente, que “…podemos dizer, […], que quando há formações, as melhorias são quase imediatas…” e “Gastamos algum dinheiro em formação, mas não nos temos arrependido.”. Outro aspeto sempre mencionado é o de as empresas terem uma forte preocupação com as formas comunicacionais internas, assumindo diversos modelos e estratégias, de modo a daí poderem retirar o maior proveito organizacional possível, indo, simultaneamente, ao encontro da satisfação das necessidades dos colaboradores, valorizando-os e fazendo-os entender a pertinência dos seus papéis pessoais enquanto fator relevante de motivação. Para SC 1, um “…procedimento comunicacional de qualidade garante o sucesso deste tipo de estratégia organizacional,…”, potenciando a generalidade dos seus recursos e, também, segundo o mesmo SC 1, é “…um fator aglutinador entre a empresa e os colaboradores.”, cuja utilização implica, por sua vez, o recurso a ferramentas para a 189 obtenção de informação estratégica chave de modo a permitir o consequente corolário de resposta (Schlosser & McNaughton, 2009). O marketing interno deverá, pois, ser considerado como o conjunto das atividades que promovem a comunicação no interior da organização e a consciencialização de mercado entre os empregados, sendo avaliado como um elo de ligação entre essas mesmas atividades e o desempenho geral da organização (Varey & Lewis, 1999). Deste entendimento, surge, também, a identificação mais ou menos generalizada da necessidade de medir e recompensar a atuação dos colaboradores, encorajando um perfil aptitudinal mais adequado e um maior ganho sinérgico singular, fomentadores, por sua vez, de melhores níveis de competitividade. De salientar, contudo, que das empresas do universo Amorim analisadas, uma tem uma política de recompensas estabelecida e a outra não. Uma síntese das verificações mais relevantemente observadas quanto à análise deste constructo consta da tabela 14, de seguida apresentada. Tabela 14 – Síntese do MI (quadros superiores) Marketing interno Visão e missão convenientemente divulgadas Comunicação interna adequada Regular desenvolvimento de conhecimentos e competências Promoção da melhoria das condições laborais e das estratégias organizacionais Sistemas de medição de desempenho e recompensa Identificação de necessidades individuais Amorim & Irmãos, S. A. S S S S N S Amorim Revestimentos, S. A. S S S S S S Sedacor, Ld.ª S S S S N S Henri & Filhos, S. A. S N S S S S Celeste S. B. Sá, Ld.ª S S S S S S Granaz, Ld.ª S S S S S S Fonte: elaboração própria 6.2.1.2 Orientação para o Mercado Interno Partimos do princípio que a identificação de procedimentos comportamentais nesta área organizacional é o resultado da maneira como o marketing interno é percebido e 190 valorizado pelos diferentes intervenientes em cada um dos momentos operacionais, tendo, assim, um papel importante na motivação e no desenvolvimento pessoal dos colaboradores (Che Ha et al.,2007; Rodrigues & Pinho, 2010). É, pois, nesta perspetiva, que se verifica uma preocupação generalizada para que os colaboradores sejam entendidos como clientes internos, referindo AR 1 que na sua organização e enquanto “…competência chave!” existe um «princípio do cliente interno», conforme o conceito alargado de que todos os empregados, e todos os departamentos de uma empresa, são fornecedores e clientes internos uns dos outros (Lukas & Maignan, 1996). Tal entendimento é reconhecido através do cuidado constante com o bem-estar individual, através da tentativa, maioritariamente encontrada, de acomodar diferentes necessidades dos colaboradores de modo a que eles consigam identificar a importância das tarefas que realizam numa perspetiva de job product e através da respetiva satisfação pessoal, o que conduz a níveis de autonomia operacional adequados, considerando, particularmente, HF 1 que assim se consegue alcançar resultados que implicam uma redução dos custos de laboração, pois “Quanto mais valorizados e conscientes do seu papel estiverem, melhor é o resultado final, mais facilmente se produz e com menos custos.”. Esta interpretação é fundamentada por Greene et al. (1994) e Vasconcelos (2008) quando consideram que o conceito de job product vai para além da empregabilidade, devendo as empresas facultar empregos que possam incorporar vários outros aspetos que permitam cativar e reter a força de trabalho, tal como é feito para com os clientes externos, de modo a que os empregados, como qualquer comprador, possam avaliar o trabalho realizado da mesma forma que iriam avaliar a compra de um produto. Para AI 1, esta perspetiva deve permitir que o colaborador tenha um sentimento de envolvimento operacional que contribua para promover o seu relacionamento com a empresa, na medida em que “… a Amorim considera os empregados como stakholders…”, o que segundo SC 1 deve promover a pró-atividade individual nos processos organizacionais, “…não conseguindo, só por si, resolver todos os problemas mas é, sem dúvidas, uma solução que permite alavancar a iniciativa individual, que deve mudar as mentalidades e permitir melhores resultados gerais.”. Os aspetos concernentes à orientação para o mercado interno mais significativamente detetados são sintetizados na tabela 15. 191 Tabela 15 – Síntese da OMI (quadros superiores) Preocupação com o bemestar dos empregados Necessidades individuais identificadas e acomodadas Reconhecimento da importância e valor gerais dos empregados Tratamento individual indiciador do grau de valorização organizacional Envolvimento na definição e aplicação de processos de gestão táticooperacional Amorim & Irmãos, S. A. S S S N S Amorim Revestimentos, S. A. S N S S S Sedacor, Ld.ª S N S S S Henri & Filhos, S. A. S S S S S Celeste S. B. Sá, Ld.ª S S S S S Granaz, Ld.ª S S S S S Orientação para o mercado interno Fonte: elaboração própria 6.2.1.3 Orientação para o Mercado Na perspetiva deste conceito, as empresas analisadas apresentam como grande objetivo geral o de serem capazes de conseguir promover o desenvolvimento, junto dos seus colaboradores, de competências que lhes permitam percecionar e contribuir para as políticas de relacionamento com os mercados externos, considerando, assim que a orientação para o mercado é uma ferramenta relacional de abordagem externa e, em consequência, um conceito de tal valia que se posiciona como um contributo de longo prazo para o sucesso organizacional (Deshpandé & Farley, 1998). É assim que são, maioritariamente, implementadas e aperfeiçoadas as condições de recolha de informação, quer no exterior quer internamente, entendendo-se que a orientação para o mercado interno fomenta estratégias de marketing mais efetivas (Gounaris, 2006), permitindo retirar o máximo partido da orientação para o mercado (Lings, 2004; Panigyrakis & Theodoridis, 2009), o que é concomitante com a disseminação pela organização de tal informação com o propósito de poder obter ganhos ao nível da capacidade de resposta aos diferentes estímulos oportunamente reconhecidos. Segundo AR 1, “Através do envio pessoalizado da nossa news-letter…” a generalidade dos colaboradores é capaz de identificar muitos procedimentos realizados para se conseguir acompanhar as tendências dos diferentes mercados e assim melhorar a imagem da empresa, considerando, também, HF 1 que o facto de se fazer circular, internamente e de forma continuada, esse tipo de informação é importante para uma melhor apreensão deste conceito de orientação para o mercado, pois “…as pessoas 192 questionam e envolvem-se mais, quanto mais não seja numa de defender o seu posto de trabalho.”. Para AI 1, esta “…disseminação de informação promove a reflexão coletiva que pode…”, assim, rapidamente conduzir à desejada “…resposta às alterações detetadas no ambiente externo.”. Esta necessidade de partilhar a informação é bem percebida pelas empresas, numa perspetiva multidimensional que envolve a dupla orientação para os clientes e para outros constructos do mercado (Narver & Slater, 1990; Ngai & Ellis, 1998; Dawes, 2000; Grinstein, 2008a). Verifica-se, pois, uma forte preocupação com a identificação de potenciais mudanças no contexto da atividade desenvolvida, assim como com o regular acompanhamento das necessidades dos clientes, quer as atuais quer as latentes, o que, segundo SC 1, deve ser contextualizado num propósito antecipador de proporcionar satisfação globalmente percebida, para o que a relação interdepartamental é considerada fulcral, com predominância para as ações de marketing, estando, assim, a orientação para o mercado relacionada com a necessidade última que as empresas têm de poder dar satisfação à constante evolução da procura por parte dos seus clientes (Anderson et al., 1984). A orientação para o mercado permite, pois, que as organizações despistem e respondam, adequadamente, às mudanças dos paradigmas do consumo, estando, desta forma, diretamente associada ao desempenho da organização (Crandal, 2002; Vieira, 2010). Por sua vez, existe, também, por parte da maior parte das empresas em análise, uma apreensão objetiva quanto à atividade realizada pela concorrência e quanto a outros fatores de índole conjuntural, de modo a permitir que se desenvolva uma focalização sustentada na satisfação das necessidades dos seus clientes (Davis, Babakus, Englis & Pett, 2010), muitas vezes assegurada por movimentos de inovação e desenvolvimento de novos produtos devidamente alinhados com o mercado. Devemos evidenciar que este procedimento é uma realidade constante da empresa GA, a qual é, na realidade, uma empresa de muito pequena dimensão, mas que, segundo GA 1, assume permanentemente este “…desafio de acompanhar tecnologicamente as necessidades do mercado…” onde opera, desenvolvendo um sentido ampliado de plena sintonia relacional. A literatura produzida sobre a orientação para o mercado tem corroborado o conceito de que, para poder haver eficiência organizacional, deve haver, anteriormente, uma orientação de mercado dentro da própria organização (Conduit & Mavondo, 2001), o 193 que se verifica ser uma manifestação generalizadas no contexto de gestão das empresas constituintes da amostra deste estudo. Nesta perspetiva, é de realçar o caso particular da empresa CS, também ela uma pequena empresa, na qual, apesar de CS 1 não referir explicitamente esta conceptualização, é identificável uma prática objetiva do conceito de orientação para o mercado interno, empiricamente realizada, associada a uma enorme preocupação com as condições de mercado (OM), quer no referente aos clientes quer no referente ao utilizador final do produto fabricado, enquanto forma reguladora e sustentadora das estratégias empresariais, na medida em que “…a toda a hora informamos o nosso pessoal das opiniões dos nossos clientes. Felizmente, até agora tudo corre relativamente bem.”. A tabela 16 apresenta, assim, a síntese do que se acaba de discutir respeitante à orientação para o mercado. Tabela 16 – Síntese da OM (quadros superiores) Recolha de informação frequente e rápida capacidade de resposta Acompanhamento constante junto dos clientes Análise concorrencial Regular contacto interdepartamental Desenvolvimento e inovação alinhados com o mercado Amorim & Irmãos, S. A. S S S S S Amorim Revestimentos, S. A. S S S S S Sedacor, Ld.ª N S S S S Henri & Filhos, S. A. S S N S N Celeste S. B. Sá, Ld.ª S S N N S Granaz, Ld.ª S S S N S Orientação para o mercado Fonte: elaboração própria 6.2.2 A Perspetiva dos Restantes Colaboradores Na linha orientadora do anteriormente referido quanto à forma de abordagem aos diferentes tipos de entrevistados, que considera os respetivos níveis hierárquicos, o modelo de entrevista foi afinado com o objetivo de perceber, no respeitante aos entrevistados agora em causa, qual seria a perspetiva pessoal quanto ao envolvimento mútuo com a organização. 194 Assim, o que a seguir se expõe refere-se, essencialmente, a uma perspetiva individual, apesar de integrada no conjunto da esfera empresarial, muito em particular dirigida para a perceção existente quanto aos diferentes inputs do marketing interno que são operacionalizados pela organização, à maneira como eles vão influenciar as distintas atitudes relacionais (OMI), muito em especial quanto à forma como é percebido o conceito de felicidade no local de trabalho e, finalmente, como é que a generalidade dos colaboradores reconhece os esforços de OM realizados pelas empresas. Quando analisadas as posições dos diferentes entrevistados das empresas em estudo e depois de devidamente enquadradas segundo o procedimento inerente ao modelo de análise qualitativa estruturante de conteúdo (Mayring, 2000; Kohlbacher, 2006), em complemento ao uso do software webQDA, é possível considerar que existe um cuidado generalizado para que os inputs das variáveis em análise, praticados pelas empresas, sejam percebidos pelos colaboradores em todos os níveis da sua operacionalização. O objetivo será, pois, o de, especificamente, identificar padrões que permitam observar a prática dos conceitos de marketing interno e de orientação para o mercado interno, enquanto ferramentas conducentes a melhores condições de relacionamento externo (OM) e consequentemente a maiores níveis de desempenho. 6.2.2.1 Marketing Interno Para Kohli & Jaworski (1990), o objetivo de fazer o planeamento das ações da empresa a partir do consumidor, passa pela necessidade de se ter uma perspetiva de orientação para o mercado, focada em esforços individuais e coletivos que promovam a satisfação de necessidades e desejos dos clientes, tanto dos internos como, obviamente, dos externos. O marketing interno deve, pois, ser percebido como um processo comunicacional que desenvolva o envolvimento dos empregados nos processos internos da empresa, dando-lhes condições de autonomia e de iniciativa na realização das tarefas organizacionais (Quester & Kelly, 1999), proporcionando um ambiente empresarial no qual as motivações dos empregados são devidamente valorizadas num entendimento instrumental que oferece incentivos, até mais do que propriamente benefícios (Varey & Lewis, 1999), enquanto um job product. Assim, identifica-se uma nítida tendência de que para consubstanciar este constructo se recorre, sistematicamente, às variáveis associadas às condições de trabalho, e respetivos níveis de satisfação, entendidas de uma forma alargada – tipo de trabalho, aquisição de competências, ergonomia potenciada e liderança, aos níveis salariais e outros benefícios afins – instalações, equipamentos e ambiente organizacional, à 195 disseminação de competências profissionais, à relação formal com as chefias – tanto em termos laborais como pessoais. A este propósito, AR 2 considera que existe uma preocupação organizacional acrescida no sentido de que se consigam alcançar níveis de autonomia operacional elevados, através do estímulo das capacidades individuais e consequente espírito de iniciativa, consubstanciados através de “…um elevado grau de confiança e de delegação de responsabilidades…” de forma a concretizar uma “…política de envolvimento dos empregados nos processos.” internos da empresa. Também AI 2, SC 3 e GA 2 referem, quando questionados durante as respetivas entrevistas, que as condições de trabalho em que estão inseridos são bastante apropriadas, promovendo níveis de motivação adequados e proporcionando a satisfação suficiente para conduzir a um bom desempenho individual e, portanto, a um bem-estar na execução das tarefas laborais. Este entendimento é corroborado por AI 3, HF 3, CS 2 e GA 2 que consideram a existência de taxas de satisfação geral elevadas, compatibilizadas com o conceito de HWP, manifestando, assim, uma maior adesão para com as solicitações da empresa, o que reflete, para SC 2, um envolvimento pessoal acrescido e melhores condições de realização pessoal, quando afirma que “…são-me dadas condições para trabalhar bem sem prejudicar os patrões, para me sentir satisfeita e não querer mudar.” de empresa. O marketing interno, nestes casos, é percebido e atua, pois, como parte da estratégia global de marketing, ao considerar os empregados como clientes internos e sendo utilizado como uma estratégia de gestão dos recursos humanos baseada numa perspetiva geral de marketing por forma a construir competências para o sucesso na relação com o mercado externo (Che Ha et al., 2007). Esta abordagem do marketing interno percebida nas empresas em estudo, defendida por Varey & Lewis (1999) e baseada nas relações humanas, é a mais apropriada ao ser sustentada por critérios relacionais de confiança mútua conducentes ao incremento do empenhamento, da lealdade e da motivação, o que é referido por HF 2, por AI 4 e por GA 2 ao considerarem a existência de um elevado espírito de equipa entre colegas e chefias, para que seja possível uma cooperação conducente a uma elevada qualidade do trabalho realizado, e por SC 2, HF 4 e GA 3 ao considerarem que o trabalho decorre, normalmente, alinhado com um grande espírito de entreajuda. O marketing interno deve, então, ser entendido como uma ferramenta acessível aos procedimentos de gestão e que facilita a resolução das questões associadas à melhoria dos serviços internos (Javadein et al., 2011), assentando em preceitos de plena confiança, como considera HF 3 que refere que quando “…há confiança, há respeito…” o que deve ser entendível como um fator motivacional para a relação integrada da organização, e que também é corroborado por CS 4 e GA 4 quando relacionam o 196 esforço organizacional para motivar os colaboradores, passando pela confiança mútua, e contribuindo para o sucesso da empresa, quando afirmam, respetivamente, que há “…boas condições de trabalho.”, “…ordenados e prémios mais altos que noutras empresas…” e “…pessoal bem tratado, com respeito, e motivado.” e que “…o ambiente de trabalho é bom e os patrões preocupam-se…” e “Os chefes confiam, […] há diálogo e confiança mútua.”. Na tabela 17, pode-se observar uma sintetização do atrás enunciado, onde se considerou, segundo os autores que serviram como referência para a construção dos modelos/guiões das entrevistas, as dimensões mais relevantes que normalmente são utilizadas para medir o marketing interno. Tabela 17 – Síntese do MI (restantes colaboradores) Bons salários e outros benefícios Boas condições gerais de trabalho Ações de formação relevantes Bom relacionamento profissional e pessoal com as chefias Gosto pelo trabalho realizado Amorim & Irmãos, S. A. N S S N S Amorim Revestimentos, S. A. S S S S S Sedacor, Ld.ª S S N S S Henri & Filhos, S. A. S N S S S Celeste S. B. Sá, Ld.ª S S S S S Granaz, Ld.ª S S S S S Marketing interno Fonte: elaboração própria 6.2.2.2 Orientação para o Mercado Interno A orientação para o mercado interno é um pré-requisito para satisfazer os desejos e as necessidades dos clientes, que passa, obviamente, pela identificação e satisfação dos desejos e das necessidades dos empregados (Panigyrakis et al.,2009). A definição de marketing interno que o considera como um processo concorrente para o enquadramento dos comportamentos dos empregados em relação à orientação para o mercado (Gronroos, 1990), dá azo a que se entenda que os procedimentos do marketing interno sejam, em simultâneo, os antecedentes da orientação para o mercado interno assim como, também, da orientação para o mercado (Greene et al., 1994; Conduit & Mavondo, 2001). 197 A determinação dos conceitos de orientação para o mercado interno é, então, representada pela aplicação das estratégias de marketing interno (Gounaris, 2006) e este tratamento do ambiente interno vai permitir que sejam geradas mais-valias ao nível da orientação para o mercado (Lings, 2004; Panigyrakis & Theodoridis, 2009). Para o âmbito deste trabalho e tendo como referência o conceito aqui em análise, foram consideradas variáveis respeitantes à perceção de aspetos relacionados com a realização individual conseguida com as tarefas desempenhadas, com a satisfação percebida com as condições envolventes do próprio trabalho, com a qualidade geral do trabalho efetuado, com as condições relacionais com as chefias, com as condições de progressão oferecidas pelas organizações e, finalmente, com o conceito geral de felicidade no local de trabalho, conforme estabelecido por Vasconcelos (2008). A este respeito, AI 2 e HF 2 entendem que nas suas organizações há o cuidado de proporcionar, constantemente, o apoio necessário para que seja possível alcançar um bom desempenho na execução das tarefas de cada um, assim, conduzindo a um elevado sentido de pertença à organização, sendo este mesmo esforço também percebido por AR 2 e por AR 4 nos seus ambientes de trabalho, ao considerarem, respetivamente, que “…a empresa oferece boas e modernas instalações para se trabalhar, …”, que se verifica “…muita preocupação da chefia para que haja plena autonomia de cada um.”, que “Há uma boa relação entre os colegas e a chefias, o que faz um bom espírito de equipa e de organização.” e que, diz o segundo, as “…condições de trabalho são completamente adequadas.”, que tem “…muita autonomia para tomar decisões. Têm é que ser as acertadas!!”, que o “…ambiente de trabalho é quase perfeito, facilitando a produtividade e a satisfação com o trabalho.”. Para AR 2, assim como para AI 3 e GA 3, as taxas de satisfação pessoal identificadas nas respetivas empresas são fatores facilitadores de promoção individual, com níveis de realização pessoal interessantes, e consequentemente de motivação; acrescenta, por sua vez, AI 4 que tal também é alcançado através da “…capacidade individual de intervenção nas decisões…” operacionais “…ser fomentada…”, eliminando, assim, os excessos da mecanização laboral e, conforme também AR 4, contribuindo para um clima laboral de relativa excelência, pois considera que “…o grupo de trabalho é muito coeso. Há um ambiente quase familiar e, de maneira geral, a satisfação é generalizada. Conseguimos conviver na empresa e, numa perspetiva de proximidade, também fora dela.”. Um entendimento muito positivo quanto à forma como decorre a relação da empresa com os seus colaboradores, é o que SC 2 tem, pois considera haver sempre muita preocupação em conseguir conciliar os interesses de ambas as partes para que haja um maior entendimento das necessidades de cada um dos players, focalizando a sua perceção na circunstância de a empresa promover “…muita formação…”, ter “…muita atenção com o ânimo no trabalho…”, assim como com o “…cuidado com as promoções 198 nas categorias…” profissionais, acrescentando SC 3 que há um estímulo organizacional para o trabalho integrado, daí resultando, para todos, uma capacidade acentuada para ter a perceção do conceito de HWP e consequente adesão ao que ele representa, pois “…funcionários felizes produzem melhor”. Da análise realizada verificámos que algumas variáveis consideradas como relevantes no conceito de marketing interno, são, por vezes, elas mesmas inputs para o conceito de orientação para o mercado interno. Esta constatação não é despiciente pois a literatura sobre o conceito refere que a orientação para o mercado interno encoraja as organizações a construir relacionamentos adequados com os seus empregados tendo por base um envolvimento que lhes possa proporcionar níveis superiores de valorização, percebendo e indo de encontro às suas necessidades da mesma forma que há empenhamento organizacional para produzir valor para os clientes externos da empresa (Lings & Greenley, 2010), manifestando, assim, o exercício integrador do marketing com os recursos humanos, enquanto ativo da própria funcionalidade de marketing (Ahmed &Rafiq, 2011). É apresentada na tabela 18, uma síntese do que anteriormente se refere relativamente às condições de perceção da aplicabilidade conceptual da orientação para o mercado interno, no contexto em análise, que considera como alicerce de fundamentação o modelo de Kohli & Jaworsky, onde impera uma perspetiva de recolha, geração e disseminação da informação no seio organizacional. Tabela 18 – Síntese da OMI (restantes colaboradores) Satisfação com as condições do ambiente de trabalho Condições relacionais com as chefias Oportunidades de progressão Perceção da qualidade final do trabalho realizado Realização pessoal alcançada Felicidade no local de trabalho Amorim & Irmãos, S. A. S S N S S N Amorim Revestimentos, S. A. S S N S S N Sedacor, Ld.ª S S S S S S Henri & Filhos, S. A. S S N S S S Celeste S. B. Sá, Ld.ª S S S S S S Granaz, Ld.ª S S S S S S Orientação para o mercado interno Fonte: elaboração própria 199 6.2.2.3 Orientação para o Mercado A orientação para o mercado, que segundo Kohli & Jaworski (1990) representa a implementação do conceito do marketing e é uma das mais proeminentes conceptualizações já realizadas, consiste, pois, essencialmente, num princípio de gestão empresarial que pretende conduzir ao sucesso na luta pelos mercados, uma vez que a identificação dos desejos e necessidades dos clientes, assim como da alteração das tendências do ambiente externo, representa um fator que irá contribuir para criar uma diferenciação competitiva. Esta conceptualização do marketing, pretendendo retirar o máximo partido da orientação para o mercado (Lings, 2004; Panigyrakis & Theodoridis, 2009), é, contudo, mais bem conseguida se sustentada nos outros conceitos aqui em análise, em particular a focalização no ambiente interno, assim conduzindo à orientação para o cliente e à orientação para o mercado (Javadein et al., 2011). A função de marketing numa qualquer organização não deve ser uma preocupação exclusiva da área do marketing da empresa, pois todos os outros departamentos devem poder participar da geração de informação de mercado, da sua disseminação interna e da execução de ações de resposta a essa mesma obtenção e respetivo processamento de informação. Deshpandé & Farley (1999) consideram que uma organização orientada para o mercado pratica uma conceptualização integral de marketing, assim adquirindo um conjunto de vantagens competitivas que lhe permite responder mais rapidamente e de forma mais eficiente às oportunidades e pressões da envolvente externa onde opera. A literatura produzida sobre a orientação para o mercado tem, pois, seguido e corroborado o conceito de que, para poder haver eficiência organizacional, deve haver, anteriormente, uma orientação de mercado dentro da própria organização (Conduit & Mavondo, 2001). Na análise aqui realizada, esta orientação para o mercado, e respetivas ações de operacionalidade, é percetível pela maioria dos entrevistados, constatando-se, contudo, que tal perceção individualizada aumenta à medida que diminui o tamanho da empresa, ou seja, é inversamente proporcional à dimensão empresarial e respetivo número de colaboradores. Aparentemente, tal constatação é explicável se se considerar a capacidade de envolvimento mais abrangente de cada colaborador nas empresas de menor dimensão, o que faz assim aumentar a proximidade de cada um com as ações de gestão. Contudo, AI 4 refere o quão é agradável trabalhar numa organização com o reconhecimento externo que a sua tem e que há um esforço conduzido internamente para que o sucesso organizacional seja divulgado junto de todos os colaboradores, 200 pois, “...toda a gente sabe o que vale os Amorins. Sabemos nós e sabem os outros, lá fora.”. Para AR 2, este entendimento que extravasa para o exterior da organização é também um contributo positivo para cada um e portanto para a conceptualização de HWP, apesar de que “...nem sempre dizemos, mas é uma vaidade trabalhar aqui.”. Das variáveis conducentes a uma real perceção, por parte dos entrevistados nesta categoria, e consideradas relevantemente observáveis quanto à atitude empresarial para com o conceito de orientação para o mercado, destacamos a monitorização regularmente feita a clientes, a comunicação interna sobre o estado relacional com os clientes, a efetiva disseminação de informação referente às reais necessidades dos clientes, a preocupação com os níveis de satisfação dos clientes e respetivas formas da sua avaliação. Segundo SC 4, a este propósito do conceito de orientação para o mercado, na sua organização existe uma forte preocupação em perceber a evolução dos mercados compradores, através da disseminação de “…muita informação comercial…”, para que se consigam alcançar resultados de alta qualidade, quer em termos dos produtos disponibilizados quer no que “…respeita, também, ao valor transacionado.”. Também a opinião de CS 2 e de CS 4 expressa este entendimento ao valorizar a relação direta com os clientes compradores que apreciam e elogiam os resultados obtidos, quando, afirma a primeira, “…visitam a fábrica, dizem, …a gente nem sempre os percebe, mas percebemos que dizem que as nossa rolhas são boas.”, assim contribuindo para uma consciência avaliativa do pulsar do mercado, no que são assistidas por CS 3 que expressa a preocupação da empresa em facultar todas as condições para que o nível de qualidade do que é produzido esteja de acordo com as necessidades identificadas junto do mercado, na medida em que “Os patrões são muito cuidadosos com a cortiça que compram.”. As questões acima apresentadas, e tratadas ao longo das entrevistas, tiveram, também, para além dos inputs dos trabalhos dos autores identificados anteriormente na página 92, o referencial da escala MORTN, conforme Deshpandé & Farley (1998), desta forma pretendendo que fosse mais um acrescentar de valor ao guia orientador do que é a perceção objetiva dos colaboradores das empresas quanto à prática de uma orientação para o mercado, enquanto cultura organizacional que atribui ao cliente um destaque estratégico no conjunto de crenças e valores da organização (Deshpandé & Webster, 1989). Estas conclusões referentes à perceção da orientação para o mercado são objeto de síntese na tabela 19 de seguida apresentada. 201 Tabela 19 – Síntese da OM (restantes colaboradores) Monitorização regularmente feita a clientes Comunicação interna sobre o estado relacional com os clientes Disseminação de informação sobre as reais necessidades dos clientes Preocupação com os níveis de satisfação dos clientes Formas de avaliação da satisfação dos clientes e respetiva frequência Amorim & Irmãos, S. A. S N S S N Amorim Revestimentos, S. A. S S S S N Sedacor, Ld.ª S N S S N Henri & Filhos, S. A. S N S S S Celeste S. B. Sá, Ld.ª S S S S S Granaz, Ld.ª S S S S S Orientação para o mercado Fonte: elaboração própria 6.3 Desempenho É possível considerar que o sucesso organizacional depende alargadamente de um ativo intangível representado pelo capital humano, cujo papel é crucial para que se consigam identificar níveis elevados de desempenho económico-financeiro (Hernández, 2008; Javadein et al., 2011). Este fator compósito interno de orientação de marketing, MI e OMI, desenvolve um efeito positivo no desempenho da atividade empresarial, tal com também impacta positivamente o empenhamento dos empregados e o seu espírito corporativo (Jaworski & Kohli, 1993; Hogg, Carter & Dunne, 1998). As atitudes agregadas dos empregados estão, pois, diretamente relacionadas com o desempenho organizacional, o qual deve ser entendido como um conceito multidimensional que integra distintos domínios, em particular no que diz respeito ao potencial de relação com o mercado e o consequente retorno financeiro (Bouckaert & Peters, 2002; Schneider et al., 2003). Da análise realizada aos elementos contabilísticos, das diferentes empresas em estudo, é possível encontrar elementos que corroboram o exposto no processo de revisão bibliográfica, tendo que, obviamente, ser considerado sempre um grau circunstancial de sujeição próprio da amostra em causa. De uma maneira geral os dados referentes aos 3 anos analisados indicam um desempenho financeiramente aceitável, e compaginável com a realidade nacional, em 202 todas as empresas estudadas, apesar das condições adversas encontradas, nesse período temporal, nos diferentes mercados onde operam. Na empresa AI verificou-se um decréscimo das vendas e da respetiva margem bruta de 2008 para 2009, mas em 2010 e 2011 as vendas aumentam cerca de 13% e de 9% respetivamente. Já o EBIT aumentou, respetivamente, 23% e 11,5% o que evidencia uma eficiência operacional de nível elevado. Por sua vez, a empresa AR, fazendo parte do mesmo universo empresarial da anterior, também registou um decréscimo das vendas no ano de 2009 de cerca de 15,9% tendo recuperado significativamente em 2010, mesmo considerando a conjuntura atípica vivida nesse período. No respeitante a 2011 as vendas tiveram um incremento de 6,3%. A empresa SC apresenta um crescimento das vendas de 45,4%, de 2009 para 2011, associado a uma melhoria dos resultados líquidos que passam de negativos em 2009 para um incremento de 216% de 2010 para 2011. O seu EBIT evolui, no entanto, negativamente, no triénio em análise, pois reflete mais gastos e perdas financeiras devido ao aumento do endividamento inerente aos investimentos realizados com o intuito de diversificar a atividade de empresa e, assim, melhorar a sua relação comercial com o mercado. Já a empresa HF apresenta uma evolução das vendas muito significativa, 57,7% e 64,7%, respetivamente, de 2009 para 2010 e de 2010 para 2011. O seu resultado líquido passa de negativo em 2009 para um crescimento de 63,5% de 2010 para 2011. Apesar disto, a rendibilidade líquida das vendas é relativamente baixa, mesmo considerando que evoluiu positivamente de 2009 para 2011, contexto a que não é alheio o baixo valor unitário do produto que fabrica. A empresa CS na qual se identifica uma grande preocupação com o bem-estar dos colaboradores, compaginado num conjunto de medidas bem percebidas por estes, é a que apresenta indicadores de desempenho menos favoráveis. As suas vendas, relativamente reduzidas, crescem e decrescem alternadamente, apresentando um decréscimo acentuado no triénio em análise (17%). O seu resultado líquido, mesmo positivo, é, contudo, reduzido, o que é, nitidamente, um reflexo da prossecução continuada da estratégia de investimento no conforto dos colaboradores, fazendo com que os seus valores contabilísticos sejam negativamente afetados por esta política de gratificações adotada, o que, contudo, não tem alterado a intenção estratégica de prosseguir esta política remuneratória. Finalmente, a empresa GA também apresenta resultados negativos em 2009 e 2011, alinhados com o valor muito elevado do ativo não corrente, o que é reflexo de uma atualização de equipamentos, financiada, no exterior, através de capitais de curto 203 prazo. O prejuízo apresentado em 2011, apesar do aumento das vendas, é explicado pelo elevado investimento realizado. Apesar de tudo, a empresa apresenta um valor de autonomia financeira (25,5%) que, nas circunstâncias em causa, pode ser considerado relativamente interessante mesmo considerando algumas dificuldades neste capítulo da sua gestão. É possível, pois, dizer que as empresas com maior dimensão, as quatro primeiras que são objeto de análise ao longo do estudo, apresentam indicadores de desempenho de nível superior. Por sua vez as restantes duas, de muito menor dimensão, já evidenciam, contabilisticamente, alguma instabilidade no seu desempenho operacional, o que é compaginável com a observação continuada da Informação Empresarial Simplificada para cada uma delas. Uma vez mais, é possível observar na tabela 20, a síntese do que atrás se referiu no que diz respeito à análise do desempenho. Tabela 20 – Síntese do Desempenho Evolução das vendas Amorim & Irmãos, S. A. Amorim Revestimentos, S. A. Sedacor, Ld.ª Henri & Filhos, S. A. Celeste S. B. Sá, Ld.ª Granaz, Ld.ª Evolução do resultado líquido Amorim & Irmãos, S. A. Amorim Revestimentos, S. A. Sedacor, Ld.ª Henri & Filhos, S. A. Celeste S. B. Sá, Ld.ª Granaz, Ld.ª 2008/2009 2009/2010 2010/2011 - 8,6% + 13,1% + 9,1% - 15,9% ni + 6,3% ni + 24,1% + 17,1% ni + 57,8% + 64,7% ni + 5,1% - 20,8% ni + 57,7% + 4,2% 2008/2009 2009/2010 2010/2011 ni ni ni ni ni ni ni + 7.313,9% + 216,1% ni + 193,1% + 63,5% ni - 70,6% + 180,0% ni + 102,3% - 1.600,0% 2008/2009 2009/2010 2010/2011 204 Evolução do EBIT Amorim & Irmãos, S. A. Amorim Revestimentos, S. A. Sedacor, Ld.ª Henri & Filhos, S. A. Celeste S. B. Sá, Ld.ª Granaz, Ld.ª Rendibilidade líquida das vendas Amorim & Irmãos, S. A. Amorim Revestimentos, S. A. Sedacor, Ld.ª Henri & Filhos, S. A. Celeste S. B. Sá, Ld.ª Granaz, Ld.ª ni + 23% + 11,5% ni ni ni ni - 27,4% - 10,1% ni + 190,7% + 34,8% ni - 211,7% + 180,9% ni +309,9% - 250,5% 2009 2010 2011 ni ni ni ni ni ni 0,0% + 1,0% + 2,8% - 8,2% + 4,8% + 4,8% + 1,7% + 0,5% + 1,6% - 16,6% + 0,3% - 3,5% ni – dados não identificados Fonte: elaboração própria 6.4 Conclusão Após a narração exploratória de cada um dos casos de estudo, que constituem a base do trabalho empírico, procedeu-se à análise comparativa dos dados recolhidos, de modo a que se possa, posteriormente, responder às questões de investigação formuladas. Através deste procedimento foi possível, numa primeira interpretação, perceber a importância dos elementos subjetivos que influenciam as atitudes estratégicas de cada empresa no seu contexto operacional, considerando os aspetos estruturais e, obviamente, também, os conjunturais. As empresas, em função das suas características próprias têm atuações diferenciadas que orientam os seus comportamentos endógenos e exógenos, assim, determinando os seus distintos relacionamentos. A identificação, nas empresas, de comportamentos relacionais afinados e, consequentemente, estimulados, depende de um conjunto de condicionantes que 205 geram contributos para a conceptualização dos princípios em estudo neste trabalho, podendo haver uma orientação mais bem percebida para uma determinada variável, numa determinada empresa, não se podendo, porém, considerar que os conceitos em análise sejam simplesmente descurados em qualquer uma das organizações observadas. O que pode acontecer é que, nalguns casos, não estejam plenamente claros no entendimento procedimental da organização. 206 TERCEIRA PARTE Considerações Finais 207 VII Considerações Finais 7.1 Introdução O objetivo a que esta investigação se propôs foi o de perceber como é que as distintas estratégias de marketing, aplicadas endogenamente pelas organizações inseridas no setor transformador da cortiça, se refletem na dinâmica da sua relação externa com os mercados onde atuam. Procurou-se responder a este objetivo através da análise de seis empresas enquadradas numa amostra que varre diversos standards que constituem o respetivo tecido empresarial, recorrendo-se à realização de quatro entrevistas semiestruturadas em cada uma das empresas analisadas. Cada uma destas entrevistas, como já anteriormente mencionado, teve uma duração aproximada que variou entre os 60 e os 120 min, tendo o entrevistador o cuidado de, sempre que entendido adequado, incluir questões adicionais que funcionavam como argumentos ou objeções às reações e comentários dos diferentes participantes. O protocolo gizado pelo guião das entrevistas foi sempre cumprido no sentido do tratamento das questões que davam cobertura aos tópicos anteriormente definidos como os essenciais para o estudo em causa. A par da compreensão dessas diferentes linhas estruturantes, ao longo deste trabalho, o autor teve necessidade de, também, considerar outras condicionantes que influenciam o historial organizacional de cada uma das empresas em análise, na medida em que se esteve a laborar no domínio do racional e da pesquisa científica assente no paradigma do realismo, pretendendo-se obter conclusões através de um método devidamente sustentado nas fontes acedidas. É, assim, que este trabalho não se limita simplesmente a inquirir as fontes, conduzindo à mera identificação de factos e à sua relação com os fios condutores da investigação já produzida. Considerando, pois, que, na realidade, estamos a lidar com pessoas, é inevitável que se atente que há sempre algo de emocional nas suas observações, na medida em que não é possível o seu encerramento numa atmosfera de mera lógica e de ações ditadas apenas pela razão, tendo, então, o investigador que se obrigar a sair de algum conforto metodológico para se aproximar do espírito de cada entrevistado, descobrindo-lhe as preferências e a racionalidade das diferentes atitudes. Porém, tudo o que foi realizado, no respeitante ao problema central da investigação e ao modelo de análise que a conformou, tem por base orientadora a revisão de literatura efetuada. 208 7.2 Síntese das Considerações Finais As considerações finais, que se apresentam de seguida, foram estruturadas tendo como referencial as questões de investigação anteriormente formuladas. A primeira dessas questões refere-se à influência que a aplicação estratégica dos princípios do marketing interno tem na orientação para o mercado interno; a segunda, focaliza-se na influência que a orientação para o mercado interno tem na orientação para o mercado; a terceira questão de investigação centra-se na influência que a orientação para o mercado vai ter no desempenho organizacional. Para além destas três principais questões investigacionais, também se pretendeu, acrescentadamente, perceber se uma alta focalização na orientação para o mercado interno origina um elevado outcome na orientação para o mercado, ou se, pelo contrário, este resultado também pode ser obtido com uma baixa focalização na primeira variável. 7.2.1 A Influência do Marketing Interno na Orientação para o Mercado Interno As empresas constituintes da amostra apresentam características muito diferenciadas, pelo que as suas atuações relacionais são formatadas pelos condicionamentos inerentes à sua diversidade. Em todas as empresas analisadas é possível identificar a vontade organizacional, obviamente mais explícita e mais convenientemente estruturada nuns casos do que noutros, o que é entendível se considerados os backgrounds de cada uma delas, de transmitir um enquadramento estratégico que assenta na disseminação generalizada das visão e missão da empresa, num modelo comunicacional interno que vá ao encontro das necessidades dos diferentes níveis de colaboradores, nos casos das de maior dimensão, e dos colaboradores mais individualmente, nos casos das de mais pequena dimensão, na necessidade de um constante aperfeiçoamento de conhecimentos como forma de alcançar um melhor desempenho individual e através dele garantir uma maior adesão ao projeto empresarial, assim como algum entendimento de que é necessário promover a medição e a recompensa desse mesmo desempenho individual. Estas constatações, observadas in loco, são entendidas pelos colaboradores na medida em que (i) se sentem envolvidos nos processos internos das empresas, daí advindo condições de autonomia e de iniciativa que funcionam como incentivos motivacionais, (ii) consideram que os níveis salariais são adequadamente compensatórios, (iii) entendem que o ambiente de trabalho é apropriado, implicando bons níveis de bemestar na realização das diferentes tarefas laborais, o que, finalmente, tem como consequência um gosto generalizado pela realização das tarefas que lhes estão confiadas. 209 É, pois, passível de constatação empírica a prossecução de metodologias organizacionais, umas mais elaboradas do que outras, umas mais estruturadas do que outras, conducentes às práticas do marketing interno consubstanciadas na revisão bibliográfica, considerando-o como uma prática estratégica que pretende atrair, desenvolver, motivar e reter os empregados, através de condições laborais que satisfaçam as suas necessidades, com um retorno de reconhecimento pessoal que contribua para o desenvolvimento da organização (Berry & Parasuraman, 1991; Varey, 1995b; Barnes & Morris, 2000; Samad, 2005). Ora, é esta perceção da operacionalização do marketing interno que promove a valorização dos distintos intervenientes, fomentando, assim, o seu desenvolvimento pessoal e a sua motivação, numa perspetiva alargada em que seja possível acomodar diferentes necessidades dos trabalhadores, num enquadramento de job-product que envolve uma definição e aplicação de procedimentos de gestão operacional conduzindo à conceptualização, generalizada nas empresas analisadas, de que os trabalhadores devem ser entendidos como clientes internos e, portanto, objeto de uma filosofia de gestão que construa competências para o sucesso na relação com o mercado externo (Che Ha et al., 2007). Considerando a conceptualização geradora da análise aqui realizada, é possível afirmar que existe uma aproximação relacional entre a aplicação estratégica dos princípios do marketing interno – através de ações que combinam recursos, criam competências e valorizam os colaboradores – e a correspondência positiva com um modelo de orientação para o mercado interno – entendida como um pré-requisito para satisfazer os desejos e as necessidades dos clientes, que passa, obviamente, pela identificação e satisfação dos desejos e das necessidades dos empregados, fomentando a sua atração, motivação e retenção, pois estes estão a ser considerados como clientes internos – próprio de cada organização, na medida em que cada empresa é seletiva nos seus arquétipos organizacionais, os quais dependem das características próprias dos diversos modelos de gestão encontrados. Deve também ser considerada, como relevante, a posição de «liderança» exercida por algumas empresas constantes da amostra, criando condições de reprodução, através de ações de benchmarking, por outras, o que deve ser entendido como um fator de desenvolvimento conducente a melhores práticas de gestão, nelas incluindo as variáveis em análise neste estudo, nomeadamente as que dizem respeito à gestão dos recursos humanos. Verifica-se que muitas empresas deste setor de atividade trabalham “em rede” umas com as outras, normalmente através da subcontratação, sendo normalmente as de maior notoriedade e dimensão que recorrem à capacidade instalada e serviços das de menor dimensão, as quais, por sua vez, delas vão recolher, por iniciativa própria ou até por imposição, modelos organizacionais que vão ter influência nas práticas de gestão 210 de recursos humanos adotadas e, consequentemente, na satisfação dos trabalhadores com essas mesmas práticas. Na figura que se apresenta de seguida (figura 7) expõe-se, de forma sintetizada, as conclusões observadas no que diz respeito ao impacto do marketing interno na orientação para o mercado interno, no conjunto das empresas estudadas. Figura 7 – Síntese das Conclusões Quanto à Influência do Marketing Interno na Orientação para o Mercado Interno Fonte: elaboração própria 7.2.2 A Influência da Orientação para o Mercado Interno na Orientação para o Mercado Em função da sua atuação estratégica, as organizações desenvolvem, ao longo do tempo, um conjunto de relacionamentos com uma configuração que espelha os diferentes momentos vivenciados pelo conjunto dos intervenientes que constituíram e constituem cada uma delas. 211 Nesta perspetiva, as políticas diretoras para o recurso a um ou outro conceito de gestão são mais bem percebidas em organizações mais antigas, com mais disponibilidade de meios ou, então, com mais capacidade de aprendizagem (Senge, 1994). Assim, é identificável nas empresas em estudo que existe uma preocupação na implementação de condições que se possam associar à conceptualização da orientação para o mercado interno, pois estão presentes ações que pretendem conduzir ao bemestar individual dos colaboradores, à satisfação de diferentes das suas necessidades e à sua cativação e retenção num entendimento do que é um job-product, de modo a que os trabalhadores sejam considerados como clientes internos e, consequentemente, enquadrados em termos comportamentais que permitam alcançar a orientação para o mercado desejada. Por sua vez, em relação a estes conceitos, os trabalhadores referem, maioritariamente, que lhes são proporcionadas condições de realização pessoal de bom nível, que existe um termo de satisfação elevado, que o relacionamento com as chefias é satisfatório, apesar de haver alguma dificuldade de pleno entendimento quanto às condições espectáveis no respeitante à progressão da carreira profissional, mas que, no cômputo geral, lhes são facultadas condições conducentes, até, à concretização do que é a felicidade no local de trabalho. A compreensão destas condições oferecidas e promovidas pelas organizações facilita que a qualidade geral dos produtos manufaturados seja de elevado nível e alcançável a custos controlados, assim contribuindo para que se possa, facilmente, chegar a uma total cooperação para atingir a pretendida orientação para o mercado, logo compaginando a operacionalização de um conjunto de comportamentos de gestão amigos do trabalhador, incutindo uma orientação para as pessoas no interior das organizações, por forma a aumentar e robustecer a qualidade da relação exterior (Rodrigues & Pinho, 2010). Esta conceptualização de orientação estratégica para o mercado necessita, assim, de poder considerar as competências específicas de distintas áreas integradoras de recursos diferenciados, como a orientação tecnológica, a orientação empreendedora, a orientação da produção e a orientação de vendas (Zhou & Li, 2007), todas elas subordinadas à intervenção do leque de players disponibilizado pelo contexto organizacional. Assim, a orientação para o mercado precisa de um suporte de comportamentos e procedimentos relativos ao ambiente externo, sustentados pela orientação para o mercado interno, que permita que a organização se posicione adequadamente para responder às várias necessidades dos seus clientes (Matsuno et al., 2002), compaginando desta forma a sua capacidade para recolher e disseminar informação, 212 para dar respostas aos estímulos provenientes do exterior, nomeadamente, no concernente aos aspetos de desenvolvimento tecnológico e de inovação que sejam coerentes com os mercados da sua atuação. Abaixo, na figura 8, são apresentas as conclusões sintetizadas quanto à influência da orientação para o mercado interno na orientação para o mercado, conforme o observado no conjunto das empresas analisadas. Figura 8 – Síntese das Conclusões Quanto à Influência da Orientação para o Mercado Interno na Orientação para o Mercado Fonte: elaboração própria 7.2.3 A Influência da Orientação para o Mercado no Desempenho Organizacional A generalidade das empresas estudadas apresenta uma forte focalização nos clientes externos, recorrendo às estratégias da orientação para o mercado para consubstanciar essa focalização, com impacto positivo nas atitudes dos empregados, na sua retenção, 213 num posicionamento competitivo e, consequentemente, na satisfação dos clientes (Jaworski & Kohli, 1993; Lings & Greenley, 2005). Assim, o constructo da orientação para o mercado que é, de alguma forma, considerado complexo, é, pois, influenciado por um conjunto de variáveis antecedentes e moderado por variáveis ambientais, manifestando-se, por sua vez, através de uma série de resultados dos quais prima o desempenho organizacional (Kohli & Jaworski, 1990; Ngai & Ellis, 1998). Nesta perspetiva, das observações realizadas nas empresas em estudo é fácil poder inferir que todas elas têm este conceito da orientação para o mercado devidamente enquadrado como sendo fulcral para a sua atividade. Para a generalidade das empresas analisadas, a maioria dos seus trabalhadores deve ser capaz de identificar muitos dos procedimentos concretizados para se conseguir acompanhar as tendências dos diferentes mercados, assim como de perceber que a disseminação de informação inerente a esses mesmos mercados promove uma reflexão coletiva que pode, rapidamente, conduzir à resposta desejada às alterações detetadas no ambiente externo e desta forma estarem mais capacitados para uma melhor apreensão do conceito de orientação para o mercado. Desta forma é possível estabelecer, nas empresas analisadas, a importância da orientação para o mercado através das atitudes e comportamentos dos empregados, cujo envolvimento é o resultado de um trabalho colaborativo em que os próprios percebem, por evidência, que podem ter um efeito nos resultados operacionais da organização, conforme postulado por Ruekert (1992), Jaworski & Kohli (1993), Piercy et al. (2002) e Lings & Greenley (2010). Estas empresas têm um cuidado permanente com a frequente recolha de informação sobre os diferentes mercados e com o constante acompanhamentos dos seus clientes, de modo a que lhes possam proporcionar níveis de satisfação elevados e assim conseguir um continuado fluxo relacional. Os seus colaboradores estão conscientes dos esforços que são realizados a este nível, em particular no que respeitas àquelas ações que regularmente monitorizam os distintos clientes e a respetiva disseminação interna dos seus resultados, assim como aqueles que identificam necessidades reais de clientes e respetivos níveis de satisfação. Apesar da evidente preocupação com a aplicabilidade do conceito de orientação para o mercado, os resultados daí advindos e observados para o desempenho organizacional, através de indicadores económico-financeiros, nem sempre são os melhores. Contudo, é importante que nesta análise se tenha em consideração o ambiente externo menos favorável que pautou as condições operacionais dos anos 214 analisados (2009, 2010 e 2011), nomeadamente, os impactos da crise do sub-prime na economia mundial, que só têm paralelo com o ocorrido na grande recessão de 1929. Na figura 9 é apresentada a síntese das conclusões observadas nas empresas examinadas quanto aos efeitos da prática da orientação para o mercado sobre o desempenho organizacional. Figura 9 – Síntese das Conclusões Quanto à Influência da Orientação para o Mercado no Desempenho Fonte: elaboração própria 7.2.4 Conclusões Gerais Ao longo da análise feita aos elementos recolhidos junto dos entrevistados e tendo sempre em consideração as contribuições da revisão bibliográfica, é possível concluir, de forma generalizada, que há um forte investimento organizacional, por parte das 215 empresas estudadas, na qualificação dos seus colaboradores e na satisfação das suas necessidades. Esta perspetiva impacta positivamente a interpretação feita pelos entrevistados em relação ao conceito de felicidade no local de trabalho, o que é considerado um indicador do grau de orientação para o mercado interno existente nas empresas e um facilitador da prossecução das suas políticas de orientação para o mercado, focalizadas nos clientes, conforme estabelecido enquanto objetivo secundário deste estudo. Contudo, foi observado que, em termos relacionais, o primado das empresas em estudo assenta na ligação com os clientes compradores, os quais são objeto de todo um conjunto de ações, cuja realização tem como objetivo criar vantagens competitivas, segundo a perceção dos consumidores, e, assim, contribuir para um desempenho superior da organização (Matsuno, 2002; Vázquez et al., 2002; Ahmed, Rafiq & Saad, 2003). Acontece que a literatura produzida sobre a orientação para o mercado tem corroborado o conceito de que, para poder haver eficiência organizacional, deve haver, anteriormente, uma orientação de mercado dentro da própria organização (Conduit & Mavondo, 2001), o que efetivamente se identifica nas organizações estudadas, mas numa perspetiva de secundarização, pois as ações internas são, maioritariamente, realizadas como consequência dos interesses relacionais com o exterior e não como antecedente do conceito de orientação para o mercado. É assim que é viável ponderar que o modelo metodológico, proposto na figura 6 (pág. 82), e tido como referência ao longo de todo o trabalho de investigação, possa dar origem a uma interpretação do processo relacional nas organizações estudadas, considerando a sua realidade funcional, que assenta numa visualização que reflete, realmente, o facto de existir uma focalização preponderante na execução estratégica dos relacionamentos externos. Esta observação integra-se no conceito de que estudos qualitativos, sendo mais amplos e holísticos, permitem, mais frequentemente, a ocorrência de descobertas fruto da aleatoriedade, entrosando as realidades em que as organizações se movimentam (Carson et al., 2001). É, portanto, esse foco externo que, para poder ser sustentado, condiciona, posteriormente, a atuação organizacional, fazendo com que se verifique, então e como seu efeito, um investimento nos relacionamentos internos. É pois a OM que vai impactar o MI e por consequência a OMI, conforme se esquematiza na figura 10, onde se plasma a preponderância da orientação para o mercado, enquanto trigger, na atuação empresarial. 216 Estas observações verificadas em todas as empresas estudadas constituem, assim, um contributo significativo para uma orientação que possibilite replicar noutras empresas as práticas agora identificadas como sendo o fator impulsionador dos procedimentos de marketing vocacionados para o âmago organizacional. Figura 10 – Esquematização do processo funcional, respeitante aos relacionamentos organizacionais, encontrado nas empresas estudadas Fonte: elaboração própria O que foi observado ao longo deste estudo indicia que, sendo o constructo da orientação para o mercado o mais relevante na perspetiva das empresas, existe uma forte predominância das atividades que o integram para impactar o desempenho. Contudo, não é possível desagregar uma perceção orientadora da sua influência a posteriori sobre os outros constructos em análise, daí advindo, como era expetável, que o recurso a procedimentos de marketing interno desenvolvessem os procedimentos de orientação para o mercado interno que, no conjunto, vão, também, assumir responsabilidade contributiva para o desempenho organizacional. Só foi possível obter estas conclusões pelo facto de se ter recorrido a uma metodologia em que a recolha de dados foi feita de forma semi estruturada o que permitiu obter informação que não era inicialmente esperada. 7.3 Principais Contributos Os contributos deste trabalho resultam de cada uma das variáveis do modelo conceptual que serviu de base para a investigação consumada. 217 7.3.1 Contributos Teóricos A análise dos casos permitiu identificar uma clara preocupação das empresas na concretização de políticas vocacionadas para a gestão dos seus recursos humanos que compaginam, em pleno, a ótica do estabelecido pela literatura revista, apesar da necessidade de considerar que a especificidade de cada empresa dá origem a princípios de atuação e modos de relacionamento particulares. Os contributos teóricos daí decorrentes permitem compreender as relações entre a realidade empresarial em análise e a produção académica realizada, essencialmente, ao longo das últimas quatro décadas, quando estas questões começaram a ser objeto de preocupação científica. Os distintos constructos, objeto de análise, são sempre identificáveis independentemente do contexto da organização estudada. Porém, o que distingue a produção académica revista do contributo mais digno de nota agora obtido prende-se com a observação de que a orientação para o mercado é a variável que mais vai impactar as restantes outras e não o contrário, como seria expectável considerando a evolução dos diferentes conceitos ao longo do tempo em que foram alvo de estudo académico. 7.3.1.1 Marketing Interno e Orientação para o Mercado Interno Todas as empresas analisadas apresentam, pois, com maior ou menor clareza, dependendo da sua dimensão e da sua estruturação endógena, comportamentos que espelham esta forma relacional fundada nos princípios do marketing interno e de uma efetiva orientação para o mercado interno. A primeira conclusão deste trabalho está, precisamente, associada ao tipo de relacionamentos que se desenvolvem durante as interações entre os distintos atores das organizações. Os resultados mostram que, na maior parte dos casos, nos contactos repetidos entre a gestão estratégica e os níveis operacionais, se identifica uma intenção relacional explícita de promover a valorização dos colaboradores de modo a facultar-lhes condições de identificação com os projetos empresariais e consequentes modelos de atuação que conduzam a melhores níveis de desempenho pessoal. Desta forma, reforçam-se as conclusões dos trabalhos recentes de Roberts-Lombard (2010) e de Kaur et al. (2010-2011), pois constatou-se que as empresas investem expressamente na seletividade dos seus relacionamentos internos. Contudo, estas ocorrências tendem a ser mais bem percebidas nas organizações de maior dimensão e, portanto, com estruturas organizacionais mais complexas, conforme também estabelecido por Shiu & Yu (2010). 218 Uma segunda conclusão diz respeito ao tipo dos modelos comportamentais identificados nas relações estruturantes, desencadeadas pelos procedimentos de gestão interna, e que visam efeitos sobre atores externos. Nesta perspetiva, nem sempre os colaboradores, foco desses procedimentos internos, têm uma perceção nítida de quais são os fundamentos que sustentam tais ações e de como elas impactam o exterior, apesar de as perceberem na sua atuação corrente. Esta constatação fere, de alguma forma, o estabelecido por Tortosa-Edo et al. (2010) e por Pantouvakis (2012), mas percebe-se se analisada no contexto em que decorreu o estudo, um ambiente de produção industrial, e não de serviços, que, apesar de cumprir um papel fundamental para a economia nacional, ainda faz um uso relativamente intensivo de mão de obra, necessitando também, ainda, de se consciencializar das reais condições de atuação num mercado global, que é o seu, sem condicionantes de distância nem de origem, onde primam a qualidade das tecnologias de produção, o acesso à informação, a acumulação de conhecimento e também o uso de sistemas logísticos cada vez mais complexos, dependendo, portanto, cada vez mais da qualidade dos recursos utilizados. 7.3.1.2 Orientação para o Mercado Também foi possível identificar, plenamente, uma focalização estratégica nos clientes externos, compaginando os procedimentos intrínsecos às práticas da orientação para o mercado estudadas durante a revisão bibliográfica. É importante poder considerar a constatação de que a influência da atuação estratégica das empresas na estrutura e na dinâmica dos mercados onde operam depende da capacidade conciliadora dos seus princípios de atuação interna e da criação de laços competitivos com os diversos intervenientes desses mercados, o que é uma resultante não apenas dos recursos investidos mas também dos movimentos de conhecimento de que é possível retirar proveito por interação com os já referidos players, podendo, assim, considerar-se a existência de uma espiral de mais-valia experiencial que vai sendo acrescentada à organização em função dos diferentes momentos de atuação porque vai passando. Estas constatações, que podem ser entendidas como conclusões, retiradas da realização do estudo são corroboradas por Baker & Sinkula (2009), por Morgan et al. (2009) e por Theodoridis & Panigyrakis (2010), daí decorrendo que os efeitos das estratégias de orientação para o mercado interno impactam positivamente não só a orientação para o mercado, como o próprio desempenho organizacional (Amirkhani & Fard, 2009). Evidencia-se, assim, a integral interação entre aquilo que são as especificidades estratégicas, nomeadamente na alocação de recursos, das empresas e as 219 condicionantes dos mercados, daí resultando uma configuração de processos relacionais diferenciada, confirmando o comportamento assumido pelos distintos atores empresariais no que respeita aos conceitos aqui analisados. Foi, ainda, possível observar que, em função de diferentes estruturas, os comportamentos são diferentes, apesar de as motivações serem, primariamente, as mesmas, estando bem enquadradas na conceptualização das práticas de orientação para o mercado, conforme resulta, também, dos estudos de Baker & Sinkula (2009) e de Kirca (2011), devendo, então poder ser considerado que a orientação para o mercado, dentro de uma organização, está substancialmente associada à estrutura, sistemas e processos criados para a sua sustentabilidade, tal como defendido por Harris (1996), Gounaris (2008a) e Tortosa-Edo et al. (2010). 7.3.2 Contributos para a Gestão As constatações identificadas, neste trabalho, são maioritariamente alinhadas com a produção científica já realizada, inserindo-se no âmbito das relações endógenas e exógenas das organizações e dos respetivos outcomes. Porém, identificou-se um modelo comportamental que não está plasmado na relativamente extensa revisão bibliográfica realizada. Neste modus operandi que é observado, em maior ou menor grau, em todas as empresas estudadas, verifica-se a existência de um acentuado primado da orientação para o mercado sobre todas as restantes práticas de marketing, enquanto conformadora das distintas atitudes comportamentais no seio organizacional. O facto de as organizações em causa terem como primeira preocupação, totalmente assumida, a relação com os mercados onde operam, numa perspetiva de orientação para o mercado, não decorre de uma interpretação conceptual vigente de que é necessário criar condições internas para que tal possa ser sustentadamente consubstanciado. O que, na realidade, se identifica é que as estratégias internas são construídas e desenvolvidas numa vertente compulsiva, perspetivando-se que, se não o forem, os resultados externos podem piorar. Assim, estes comportamentos relacionais são, pois, entendidos como uma consequência da OM e não como um seu antecedente. Estas funcionalidades dos comportamentos estruturais são executadas porque se o não forem, os relacionamentos externos podem vir a ser prejudicados, deteriorando-se a relação com o mercado e desbaratando-se os investimentos anteriormente realizados. Parece que esta indústria está, neste particular, até agora, em presença de uma fase de scurrying about, ainda não se tendo alcançado a fase de walking erect, se se considerar uma analogia com a teorização conceptual do marketing de serviços (Fisk et al., 1993). 220 Ora, este entendimento merece ser reanalisado e, eventualmente, retrabalhado junto das organizações estudadas e, provavelmente, junto da generalidade do setor de atividade, que pode ter a tentação de supor que, devido ao facto de Portugal ser o maior produtor, transformador e exportador de cortiça, não lhe podem ser assacadas obrigações comportamentais para com os seus clientes internos. De notar ainda que, devido ao facto de coexistirem nesta indústria um segmento artesanal, tecnicamente pouco desenvolvido e um segmento moderno, tecnologicamente muito evoluído, com sofisticados meios de controlo de qualidade, bem gerido e comercialmente agressivo, torna ainda maior a probabilidade de se identificarem assimetrias comportamentais muito evidentes, até porque o setor da cortiça, não pertençe à chamada “nova economia”. 7.4 Limitações e Sugestões de Futura Investigação Como qualquer projeto de investigação, este trabalho apresenta limitações. Da mesma maneira, os resultados percebidos não são estáticos, na medida em que, simultaneamente, ao permitem ter uma conceção mais alargada sobre o processo de interação das empresas do setor transformador analisado, eles mesmo constituem um ponto de nova partida para outros projetos que possam vir a dinamizar as constatações agora identificadas. Uma das limitações, que aqui pode assumir maior relevância, prende-se com o número de entrevistas realizadas em cada empresa da amostra selecionada, o que de alguma forma se compaginou com o horizonte temporal estabelecido para este projeto. Contudo, o número de entrevistas por cada caso estudado, cumpriu o conceptualmente estabelecido para estas situações. Por sua vez, como já anteriormente referido, o investigador não teve qualquer capacidade de escolha, no concernente à identificação dos entrevistados, para além daqueles que intervieram enquanto considerados como representantes da gestão da organização analisada. Também o número de casos estudados, seis, não é considerado compatível com uma generalização estatística das conclusões observadas, o que aliás nunca foi uma pretensão do investigador. A dimensão de casos analisados está relacionada, sim, com a aquisição de meios que possibilitem a coerência de relação entre a realidade observada e os constructos teóricos, objetivando, assim, uma reflexão lógica do observado e assegurando, desta forma, a representatividade qualitativa da investigação. Contudo, este trabalho franqueia, plenamente, a hipótese de uma análise quantitativa, a estes e a outros casos, devidamente focalizada em questões específicas dos 221 procedimentos relacionais das variáveis carreadas para o estudo, possibilitando, assim, o enriquecimento e a sustentação do trabalho agora realizado. O decurso desta investigação também promoveu a hipótese de considerar a alternativa de que se poderiam fazer estudos futuros sobre as condições em que a OM condiciona a OMI e não o inverso, tal como se refere anteriormente, nas considerações finais. Considerando o trabalho aqui desenvolvido, seria interessante que se atentasse na possibilidade de também estender uma análise similar a outros setores de atividade transformadora. Estas linhas de investigação já estão a ser pensadas para a realização de futuros trabalhos, de modo a que se possa encontrar uma sistematização mais aprofundada das questões agora investigadas. Esta perspetiva poderia ser generalizada ao setor industrial português, o qual carece de enquadramentos que lhe permitam antecipar os caminhos a seguir no médio e longo prazos, beneficiando de todos os apoios possíveis que sejam facilitadores de um desenvolvimento sustentado baseado em estratégias e políticas de fomento industrial. 222 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGARWAL, Sanjeev, ERRAMILLI, M. 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Assim, a investigação a desenvolver procura dar resposta às questões que constituem os objetivos deste trabalho de campo e que se podem compaginar nas seguintes: 1ª – como é que a aplicação estratégica dos princípios do marketing interno influencia a orientação para o mercado interno ? 2ª – como é que o tipo de orientação para o mercado interno influencia a orientação para o mercado ? 3ª – como é que a orientação para o mercado vai ter influência no desempenho organizacional? É nesta perspetiva que vai ser utilizado um guia de entrevista integrando os conceitos em análise. Consideramos, para entendimento de marketing interno, a conceptualização de que este se focaliza nas necessidades e expectativas dos empregados das empresas que devem, por sua vez, procurar dar-lhes satisfação através de programas de marketing, recorrendo a três distintas dimensões operacionais: (i) o esforço de recolha de informação interna, (ii) a comunicação interna entre gestores e subordinados e (iii) a capacidade das empresas darem resposta à informação anteriormente recolhida com o objetivo de promover a satisfação dos empregados e consequente motivação para níveis de desempenho superiores. No tocante à orientação para o mercado interno, o conceito desenvolvido é o do marketing de serviços, no sentido em que os empregados são tratados como clientes, criando, assim, um ambiente de trabalho no qual estes mesmos empregados são treinados na orientação para o cliente, na consciencialização de prestação de serviço e nas competências para essa mesma prestação de serviço, de modo a ir ao encontro das necessidades dos clientes e, assim, melhor se adequarem aos objetivos gerais das organizações. Já a orientação para o mercado é entendida como um sinónimo de como implementar a conceptualização do marketing externo, o qual é percebido enquanto filosofia de realização de atividades empresariais que são consideradas como o principal ingrediente de uma cultura organizacional de sucesso, e que atravessa toda a organização afetando diretamente o seu desempenho. Assim, e para efeitos das entrevistas a realizar, o marketing interno deve integrar as ações realizadas para melhorar a relação da empresa com os empregados, no sentido 247 de promover a sua adesão à visão e à missão organizacionais, a orientação para o mercado interno deve considerar políticas que promovam a satisfação dos empregados, considerando-os como clientes internos da organização e a orientação para o mercado deve facultar as condições de envolvimento dos colaboradores nas abordagens dos clientes externos que proporcionem elevados níveis de desempenho organizacional. É, pois, preocupação da construção dos guiões das entrevistas que seja possível identificar os seguintes quesitos: 1. será que a empresa adota os conceitos aqui em estudo ? 2. até que ponto é que esses conceitos são levados a cabo – qual o grau de profundidade com que são trabalhados ? 3. quais são as formas de concretização desses conceitos ? 4. quais deles são predominantes ? 5. que suportes são utilizados para os consubstanciar ? 6. existem práticas de responsabilidade social implantadas no uso dos conceitos em análise ? 7. até que ponto o impacto do uso destes conceitos é significativo no desempenho empresarial e concomitante satisfação dos empregados ? 248 GUIÃO DAS ENTREVISTAS 1. Caracterização do entrevistado Empresa Função Idade < 20 20 – 30 31 – 40 41 – 50 > 50 Escolarização Experiência profissional Número total de anos de atividade Números de anos de atividade nesta empresa 2. Entrevista a quadros superiores Identificar “como” e, circunstancialmente, “porquê” são aplicadas as políticas de gestão aqui em estudo, de modo a: a. promover a adesão dos colaboradores à visão e à missão da empresa (MI)25 como é que a transmissão, por parte da organização, de uma visão na qual se pode acreditar é realizada porque é que se pode considerar que a visão da organização é devidamente comunicada aos empregados como é que a organização prepara os empregados para bons desempenhos porque é que a organização encara o desenvolvimento dos conhecimentos e competências dos empregados como um investimento e não como um custo porque é que o desenvolvimento de competências e conhecimentos dos empregados é algo que ocorre regularmente como é que os empregados são instruídos sobre a razão pela qual devem atuar e não apenas sobre como devem atuar 25 Cf. escala de marketing interno de Foreman & Money, in. NAUDÉ, Pete, DESAI, Janine & MURPHY, John (2002), Identifying the determinants of internal marketing orientation, European Journal of Marketing, Vol. 37, No. 9, pp. 1205-1220 249 porque é que os empregados são instruídos a trabalhar em conjunto como é que a organização mede e recompensa o desempenho dos empregados que mais contribuem para a visão organizacional porque é que os dados recolhidos juntos dos empregados são usados para melhorar as condições de trabalho e a estratégia organizacional como é que, na organização, os empregados de excelência são recompensados pelo seu esforço porque é que, na organização, os empregados são treinados a desempenhar as suas funções como é que na organização é dada bastante ênfase à comunicação com os empregados como é que a organização é suficientemente flexível para considerar as diferentes necessidades dos empregados porque é que a forma como é medido o desempenho e os sistemas de recompensa permite encorajar os empregados a trabalhar em conjunto porque é que a organização comunica aos empregados qual é a importância do papel de cada um b. fomentar que os colaboradores sejam considerados como clientes internos e, consequentemente, tratados de forma a permitir o seu envolvimento na definição e aplicação de procedimentos de gestão tático-operacional com a devida partilha de informação (OMI)26 porque é que a organização está genuinamente preocupada com o bem estar de todos os eus empregados como é que a organização tenta acomodar as diferentes necessidades pessoais de todos os seus funcionários porque é que a organização reconhece a importância/valor dos seus empregados como é que os empregados são tratados de uma forma que mostre o quanto são valorizados 26 Cf. LINGS, Ian N. & GREENLEY, Gordon E. (2005), Measuring Internal Market Orientation, Journal of Service Research, Vol. 7, No. 3, pp. 290-305 250 c. desenvolver as competências para que os colaboradores possam entender e participar nas políticas empresariais de abordagem dos mercados (OM)27 porque é que é, frequentemente, recolhida informação sobre tendências gerais que possam afetar a atividade da organização como é que a organização é rápida a detetar mudanças no contexto da sua atividade porque é que a organização reúne regularmente com os clientes para perceber que produtos eles vão precisar como é que a organização identifica, rapidamente, mudanças nas preferências dos seus clientes porque é que a organização faz consultas regulares aos consumidores finais para avaliar a qualidade dos seus produtos porque é que são, regularmente, promovidas reuniões interdepartamentais para discutir as tendências evolutivas do mercado porque é que as pessoas do marketing costumam discutir, regularmente, as necessidades dos cliente com outros departamentos porque é que quando algo de importante acontece num grande cliente ou num mercado, a generalidade da organização é informada sobre isso porque é que os dados referentes a clientes são objeto de divulgação interna como é que a organização é rápida em responder às alterações do mercado como é que, se um concorrente de grande dimensão lança uma campanha nova, a organização é capaz de responder rapidamente porque é que os distintos departamentos atuam conjuntamente para planear as respostas às alterações que ocorram no ambiente de negócios porque é que são feitas, periodicamente, revisões ao desenvolvimento de novos produtos, de modo a garantir que os esforços da organização estão alinhados com as necessidades dos clientes 27 KIRCA, Ahmet H. (2011), The effects of market orientation on subsidiary performance: Empirical evidence from MNCs in Turkey, Journal of World Business, Vol. 46, No. 4, pp. 447-454, conforme a escala MARKOR de Kohli & Jaworski (1990) e BAKER, William E. & SINKULA, James M. (2009), The Complementary Effects of Market Orientation and Entrepreneurial Orientation on Profitability in Small Businesses, Journal of Small Business Management, Vol. 47, No. 4, pp. 443-464 251 porque é que quando se conclui que os clientes pretendem modificar produtos, os departamentos nisso envolvidos promovem esforços conjuntos para que tal seja possível 3. Entrevista a outros colaboradores Perceber que tipo de satisfação existe quanto28: a. às condições do trabalho se há ou não gosto no tipo de trabalho que é realizado; porquê se há ou não realização pessoal com o trabalho efetuado; porquê se o trabalho realizado permite usar as capacidades e conhecimentos inerentes a cada um; como e porquê b. ao salário e outros benefícios se comparativamente com trabalho idêntico noutras empresas, o salário auferido é menor, igual ou maior; porquê se comparativamente com trabalho idêntico noutras empresas, existem mais ou menos benefícios extra (fringe benefits) e quanto é que contribuem para o grau de satisfação alcançado; porquê c. à equipa de trabalho se existe cooperação e colaboração no trabalho a realizar; como e porquê se a qualidade geral do trabalho efetuado é alta, média ou baixa; porquê d. à atuação da empresa a empresa preocupa-se com a forma como aborda o mercado; porquê a empresa promove ações de formação relevantes; porquê 28 Adaptado de SCHNEIDER, B. et al. (2003), Which Comes First: Employee Attitudes or Organizational Financial and Market Performance ?, Journal of Applied Psychology, Vol. 88, No. 5, pp. 836-851, de GOUNARIS, Spiros (2008), Antecedents of internal marketing practice: some preliminary empirical evidence, International Journal of Service Industry Management, Vol. 19, No. 3, pp. 400-434 e de JOU, Jacob Y. H. et al. (2008), Development of an Instrument to Measure Internal Marketing Concept, The Journal of Applied Management and Entrepreneurship, Vol. 13, No. 3, pp. 66-79 252 e. às chefias a empresa faculta as informações necessárias para a realização satisfatória do trabalho; como e porquê a empresa facilita a produtividade individual; como e porquê a empresa disponibiliza condições ergonómicas de trabalho; como e porquê se o superior direto permite usar o julgamento de cada um na solução de problemas; porquê se o superior encoraja a tomada de iniciativas; como e porquê se o superior permite ter flexibilidade de iniciativa própria; porquê se o superior confia nos julgamentos individuais; porquê se o superior discute com cada um o desenvolvimento da carreira na empresa; como e porquê se o superior tenta perceber o que é que os seus subordinados pensam acerca da sua liderança; porquê se o superior se preocupa com a vida familiar dos seus subordinados; porquê se o superior se envolve ativamente no desempenho de cada um; como e porquê se o superior se esforça para perceber que tipo de problemas cada um pode ter na realização das suas tarefas; porquê f. à satisfação geral como é que cada um se sente, em termos, gerais, no que diz respeito à satisfação em trabalhar nesta empresa; porquê por comparação com outras empresas, esta oferece melhores, idênticas ou piores condições de trabalho; porquê considerando que a felicidade na vida é um objetivo que todos, de maneira geral, tentam alcançar, e que a felicidade no trabalho é uma componente da felicidade geral, é possível perceber que nesta empresa existem estratégias para motivar e recompensar os seus melhores empregados, tornando-os assim mais felizes; porquê 253 GUIÃO DOS INDICADORES DE DESEMPENHO Obtenção de resultados de desempenho expressos através dos indicadores económicos e financeiros29 abaixo identificados, considerando os anos de 2009, 2010 e 2011, os quais são os mais recentes que se podem consultar através da IES: vendas e serviços prestados resultado líquido ativo não corrente ativo corrente capital próprio passivo não corrente passivo corrente somatório do capital próprio e do passivo e através de rácios de rendibilidade30, construídos recorrendo aos valores dos indicadores acima mencionados e que são utilizados para determinar a eficiência com que a empresa está a usar os seu ativos, revelando aspetos da situação económico-financeira e relacionando resultados com a atividade que os gera, ou resultados com os capitais investidos e que tornaram possível a atividade: rácios de rendibilidade do negócio rendibilidade das vendas: (vendas e serviços prestados / resultado líquido) × 100 rendibilidade operacional das vendas31: (resultado operacional (EBIT) / volume de negócios) x 100 rendibilidade líquida das vendas32: (resultado líquido / volume de negócios) x 100 29 DAVIS, Peter S., BABAKUS, Emin, DANSKIN, Paula & PETT, Tim (2010), The Influence of CEO Gender on Market Orientation and Performance in Service Small and Medium-Sized Businesses, Journal of Small Business Management, Vol. 48, No. 4, pp. 475-496 30 SILVA, Eduardo Sá (2011), Gestão Financeira – Análise de Fluxos Financeiros, 5ª Edição (atualizada com o SNC), Vida Económica – Editorial S.A., Porto 31 Mede a percentagem das vendas que resta depois de cobertos todos os gastos operacionais, incluindo provisões, perdas por imparidade e depreciações, tal como reflete a política de preços, os custos do processo produtivo e a eficiência da utilização dos fatores alocados. 32 Mede a rendibilidade que tem a empresa depois de incorridos ou serem pagos todos os gastos, encargos financeiros e impostos. Este rácio pode misturar a eficiência das vendas para criar valor com os efeitos do financiamento e da política fiscal. 254 rácios de rendibilidade dos capitais investidos rendibilidade do ativo total (ROA – return on assets)33: Net ROA: ( resultado líquido / ativo) x 100 e Gross ROA: ( resultado operacional (EBIT) /ativo) x 100 autonomia financeira: (capital próprio / total do ativo) x 100 rotação do ativo: (vendas e serviços prestados / total do ativo) x 100 33 Representam indicadores de desempenho económico e financeiro dos capitais investidos na empresa, exprimindo a rendibilidade do conjunto de recursos (capitais próprios e alheios) postos à disposição da empresa. 255 ANEXOS 256 Anexo nº. 1 Categorias das rolhas conforme a respetiva qualidade Fonte: APCOR (http://apcor.pt/artigo/241.htm - acedido em setembro de 2012) 257 Anexo nº. 2 IES da empresa Amorim & Irmãos, S. A. Ano de 2009 258 259 Ano de 2010 260 261 262 Ano de 2011 263 264 Fonte: http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ 265 Anexo nº. 3 IES da empresa Amorim Revestimentos, S. A. Ano de 2009 266 267 Ano de 2010 268 269 Ano de 2011 270 Fonte: http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ 271 Anexo nº. 4 IES da empresa Sedacor, Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Ld.ª Anos 2009 (N-1) e 2010 (N) 272 273 Ano 2011 (N) 274 Fonte: http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ 275 Anexo nº. 5 IES da empresa Henri & Filhos, S. A. Anos 2009 (N-1) e 2010 (N) 276 277 Ano 2011 (N) 278 Fonte: http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ 279 Anexo nº. 6 IES da empresa Celeste da Silva Barros de Sá, Ld.ª Anos 2009 (N-1) e 2010 (N) 280 281 Ano 2011 (N) 282 Fonte: http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ 283 Anexo nº. 7 IES da empresa Granaz, Granuladora de Cortiça de Azaruja, Ld.ª Anos 2009 (N-1) e 2010 (N) 284 285 Ano 2011 (N) 286 Fonte: http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/EOL/ 287