UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS Gabriel Maximo Paganine von Söhsten Gomes Ferraz TEXTO E MUSICALIDADE NA ENCENAÇÃO DO TEATRO OFICINA: Estudos de caso ORIENTADOR: Prof. Dr. Marcos Aurélio Bulhões Martins SÃO PAULO 2013 I. Introdução: Criado em 1958, em São Paulo, o Teatro Oficina se tornou, ao longo de mais de 54 anos de existência, um dos principais grupos teatrais brasileiros. Desde o princípio, as obras do grupo se relacionaram com revoluções ocorridas no teatro do século XX, dialogando com mestres encenadores como Stanislavski, Brecht, Artaud e Grotowski, assim como grupos de vanguarda, a exemplo do americano Living Theatre e o argentino Los Lobos. Porém, os espetáculos do grupo nunca se limitaram à mera reprodução de métodos ou formas. Muito pelo contrário: baseando-se no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, que acompanhará o grupo, desde então, como princípio estrutural -, o Teatro Oficina deglute os referenciais estrangeiros de teatro e cria novas formas de linguagem cênica que mesclam tradições teatrais estrangeiras e brasileiras e as transformam em um resultado cênico novo. Desta maneira, com a histórica montagem de O rei da vela, o Teatro Oficina se torna expoente da revolução cultural que se denominou tropicalismo. O Teatro Oficina, dirigido desde sua criação pelo encenador José Celso Martinez Corrêa, desenvolveu uma linguagem cênica singular. Dela pode-se destacar o caráter musical, inspirado tanto em formas teatrais brasileiras, como o teatro de revista, quanto por décadas de experimentação antropofágica de métodos estrangeiros como o de Brecht, em Galileu Galilei; de Grotowski, em Na selva das cidades; e de Artaud em Gracias, señor; gerando assim, como fruto de uma longa e diferenciada trajetória, uma linguagem própria de teatro musical praticada pelo grupo. Este projeto se vincula ao projeto de pesquisa “Performance a Aprendizagem da Encenação” do professor doutor Marcos Bulhões, que teve como objetivo investigar princípios de uma abordagem de criação e ensino da cena performativa, contribuindo para a discussão metodológica nos cursos de bacharelado e licenciatura em artes cênicas e teatro. O projeto, através da análise das relações existentes entre a cena musical e o material textual, pretende ampliar o referencial disponível sobre a prática de teatro musical do grupo. E, logo, permitir a grupos de teatro, encenadores, atores, professores, alunos de artes cênicas, e aos demais interessados, a compreensão de alguns aspectos do teatro musical realizado pelo Teatro Oficina. II. Objetivo: O presente projeto tem por objetivo selecionar cenas de espetáculos do Teatro Oficina e analisar as relações existentes entre texto e musicalidade, tendo em vista a elaboração de um artigo hipertextual didático on-line. III. Metodologia: Em uma primeira etapa, para atingir os objetivos, serão realizados estudos teóricos, análises de artigos científicos, críticas teatrais, documentários, e espetáculos gravados em DVD. Para estudos de caso de materiais audiovisuais serão selecionadas uma cena de cada um destes espetáculos gravados: Os Sertões, Macumba Antropófaga, Acordes e Cacilda!!!. Já vem sendo realizado pelo pesquisador uma pré-pesquisa que envolve o acompanhamento dos ensaios da atual montagem do grupo, o espetáculo Cacilda!!!. Destes ensaios será destacada uma cena, que será observada com enfoque no procedimento de criação desenvolvido pela direção para levar do texto à cena musical. Na etapa seguinte, serão articulados os estudos com as informações observadas, de forma a aprofundar os conceitos que relacionam texto e musicalidade. Assim, lidando com o material produzido ao longo de todo o processo de pesquisa, será realizado um artigo hipertextual didático a ser veiculado on-line. Com o recurso da disponibilização na internete, torna-se possível ampliar a abrangência da publicação. Será um artigo enriquecido com links que levam a determinadas obras selecionadas do repertório do Teatro Oficina e documentos citados, pertencentes a diversas linguagens: audiovisual, fotográfica, literária, jornalística, musical, etc. IV. Referências bibliográficas iniciais: CORREA, José Celso Martinez. Primeiro Ato: Cadernos, depoimentos, entrevistas (1958 – 19740). São Paulo, Editora 34, 1998. COHN, Sergio. & LOPES, Karina (org.). Encontros: Zé Celso Martinez Correa. São Paulo, Azougue editorial, 2008. SILVA, Armando Sergio da. Oficina: Do Teatro ao Te-ato. São Paulo, Perspectiva, 1981. PIRES, Ericson. Zé Celso e a Oficina-Uzyna de corpos. São Paulo, Annablume, 2005. ALMEIDA, Miguel de. & CORREA, José Celso Martinez. Do pré-tropicalismo aos Sertões: Conversas com Zé Celso. São Paulo, Imesp, 2012. FERNANDES, Silvia. Teatralidades contemporâneas. São Paulo, Perspectiva, 2010. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo, Companhia das letras, 1999. CAMARGO, Roberto Gill. Som e cena. Sorocaba, TCM Comunicação, 2000. CINTRA, Fabio Cardozo de Mello. A musicalidade como arcabouço da cena: caminhos para uma educação musical do teatro. 2006. Tese (Doutorado em Artes Cênicas) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27139/tde-04082009-222601/>. Acesso em: 2013-04-30. TRAGTENBERG, Livio. Música de cena. São Paulo, Perspectiva, 2008. SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. São Paulo, Editora UNESP, 2012.