SAÚDE - Proex / UFPA

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JORNADA DE EXTENSÃO NA UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Anais
área temática
SAÚDE
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
TRABALHO COOPERATIVADO: LIMITES E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO POPULAR
Ana Maria Pires Mendes
Regiane da Silva Brito Barros
Michele Lima de Souza
RESUMO: O presente ensaio ter por objetivo refletir sobre trabalho, cooperativismo e educação popular, a partir de nossa
experiência desenvolvida com trabalhadores de empreendimentos solidários, junto ao Programa Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários – PITCPES, da Universidade Federal do Pará. Privilegiamos a percepção e
intervenção da equipe do social, que é composta pelos profissionais de serviço social e sociólogo, no processo de
formação/educação popular aos cooperativados, na perspectiva de contribuir para emancipação dos mesmos, sob a forma de
transferência de tecnologias sociais para a autogestão.
Palavras-chave: trabalho, cooperativismo, educação popular
1. INTRODUÇÃO
O presente ensaio ter por objetivo refletir sobre trabalho, cooperativismo e educação popular, a partir de
nossa experiência desenvolvida com trabalhadores de empreendimentos solidários, junto ao Programa Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários – PITCPES, da Universidade Federal do Pará.
Esse programa realiza a incubação de empreendimentos solidários na perspectiva da formação técnico-científico de
alunos de graduação e pós-graduação, assim como, de trabalhadores vinculados à economia solidária. A relação entre
ensino, pesquisa e extensão têm como finalidade a consolidação de uma linha de estudos e pesquisas voltada para
área do trabalho e desenvolvimento regional e local, tendo como linha de intervenção a educação popular,
privilegiando a metodologia da pesquisa-ação-intervenção.
As ações desenvolvidas pelo PITCPES são direcionadas aos empreendimentos da área urbana e rural e tem
por princípio os valores da economia solidária, ou seja, ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade,
eqüidade e solidariedade, sendo, portanto, um tipo de economia que permite articular diversos elos da cadeia
produtiva, a partir de tais valores. Nesse sentido, articula o consumo solidário com a produção e a comercialização de
modo orgânico e dinâmico em nível local e global.
A incubação nos empreendimentos, tanto da Região do Baixo Tocantins1 quanto da Região Metropolitana de
Belém – RMB2 contempla o acesso a tecnologias sociais para a autogestão e, conseqüentemente, a garantia da
viabilidade dos mesmos destituídos de meios necessários para sua sobrevivência no mercado.
Neste contexto, o trabalho da equipe inicia-se com o processo de conhecimento e identificação dos grupos,
com a visita de campo, a aplicação de questionários socioeconômicos com o objetivo de elaborar o diagnóstico dos
empreendimentos. A essa fase a equipe do PITCPES denomina de pré-incubação, uma vez que, se trata do momento
de verificar se os empreendimentos têm existência enquanto grupo sócio-produtivo e quais suas necessidades para o
fortalecimento de sua auto-gestão. A partir de então dar-se inicio ao processo de incubação propriamente dito.
Sob a forma de transferência de tecnologias sociais para a autogestão, buscamos contribuir para
emancipação dos empreendimentos solidários, para efeito deste ensaio daremos ênfase ao olhar social, visto não
perdemos essa dimensão da vida grupal, através do processo de formação/educação popular.
2. REFLEXÕES SOBRE TRABALHO, COOPERATIVISMO E EDUCAÇÃO POPULAR
A concepção de trabalho a muito passou a ser preocupação de conhecimento do homem. Com Marx, o
trabalho é visto como um processo entre o homem e a natureza, porque este ao produzir seu meio de subsistência,
ele se transforma e transforma a natureza. Nessa relação homem x natureza, o homem trabalha, buscando satisfazer
suas necessidade materiais, transformando a natureza, produzindo conhecimento e criando-se a si mesmo (MARX,
1986).
Esse mesmo autor procurou demonstra os mecanismos que geravam o processo contraditório de aumento
de produtividade, acompanhada de crescente miséria e de exploração, ao referir-se à transição da manufatura à
1
A Região do Baixo Tocantins é composta pelos municípios Abaetetuba, Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Baião, Limoeiro do Ajuru,
Mocajuba e Oiras do Pará.
2
Região Metropolitana de Belém é constituída dos seguintes municípios: Belém, Ananindeua, Marituba, Benvides e Sta Bárbara.
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grande indústria, através da extração da mais-valia e do aumento da exploração operária, visto que a indústria exigia
máquinas e fontes de energias, e o agrupamento dos trabalhadores em torno da unidade de produção.
Com o processo de reestruturação produtiva, o capital busca constituir um novo patamar de acumulação
capitalista em escala planetária e tende a debilitar o mundo do trabalho, gerando uma série de tendências, tanto no
domínio da organização industrial, no sentido de regimes e contratos de trabalho mais flexíveis, e da redução de
emprego regular em favor do trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado, quanto na vida social e
política do trabalhador, dando início a um regime de acumulação, chamado por Harvey de acumulação flexível do
capital. (HARVEY, 2002).
A partir da primeira metade dos anos 1980, com o forte controle da economia por parte Tatcher e Reagan, o
mercado financeiro tornou-se hegemônico e passou a impor sucessivos apertos fiscais e monetários, o que reduziu o
ritmo de crescimento das economias centrais; o livre comércio e a movimentação irrestrita de capitais permitiram às
multinacionais transferir gradualmente as linhas de produção para países de baixos salários e sem estado de bemestar; e finalmente reformas fiscais diminuíram a carga tributária dos riscos e o montante de gastos sociais,
ocasionando uma redistribuição ao revés da renda, instaurando-se um novo patamar de desemprego estrutural e
proliferação do trabalho precário nos principais países capitalistas..
Para autores como Singer (2003), Zart (2006), é a partir desse contexto que se explica a revivência da
economia solidária, através do cooperativismo solidário, visto ser este uma alternativa para enfrentamento do
capitalismo acumulativo, pois trata-se de
“um processo de retomada de valores presentes nos pioneiros quanto a democracia, a participação, a autogestão, a autonomia, mas avança na compreensão das estruturas sociais contraditórias e propõe ações
históricas e cotidianas para efetivar formações sociais solidárias” (ZART: 2006. p123).
Dessa forma, o cooperativismo entendido aqui, como práticas sociais que desconstroem a ideologia da
competitividade e da concorrência, sendo as relações sociais orientadas pelo espírito da solidariedade e da
cooperação, ou seja, a gestão de cooperativa deverá caracterizar-se por uma ação coletiva, onde todos decidem o que
e como fazer, mas respeitando a hierarquia de comando da organização na execução das tarefas. Assim sendo, essa
relação envolve direitos e deveres, no sentido de promoverem resultados satisfatórios tanto para os cooperados
quanto promover e garantir os interesses e objetivos do próprio sujeito coletivo.
É imprescindível a prática da cooperação como ação coletiva para o sucesso do empreendimento coletivo,
dessa forma, a discussão e a compreensão sobre os interesses que movem o sujeito a participar de uma cooperativa, é
fundamental para a dinâmica econômica e organização sócio-política do mesmo.
Para tanto, a parceria com as universidades, através das Incubadoras se constituem em um importante
instrumento no processo de formação/educação e estruturação dos empreendimentos, visto que as universidades
devem estar a serviço da sociedade em seu conjunto. Entendemos que essa relação deva proporcionar a entrada da
comunidade na universidade não como cobaia de um experimento, mas como agente participante de um processo
criativo e dinâmico com vista a sua própria organização e atuação social e econômica.
Acreditamos que o exercício de cidadania dos cooperados deva ocorre através do processo educativo. onde
essa educação tenha como base o diálogo e a escuta, mas ao mesmo tempo seja problematizadora, libertadora
(FREIRE: 1999).
Embora saibamos que o distanciamento da escola com a realidade não dá conta de atender a nova tendência
que se coloca ao mercado informal, com é o caso do trabalho coletivo que exige metodologia mais voltada a
dinâmicas mais participativas; e uma educação que envolva os saberes populares, sobre essa concepção é importante
destacar o que Zart nos coloca:
“a educação popular é uma concepção teórica-metodológica que engloba uma teoria e uma prática que é,
ao mesmo tempo, dialética e dialógica. Dialética porque incorpora e desenvolve as contradições sociais,
portanto tem uma perspectiva de transformação social superadora das exclusões sociais. Dialógica porque
se assenta numa perspectiva de construção do conhecimento para o desenvolvimento de práticas e
concepções sociais e cognitivas relacionais de sujeitos em que ações conjuntas e autônomas constroem a
leitura de mundo e as ações transformadoras” (ZART, 2006: p126).
Dessa forma, acreditamos que essa educação será viável se o processo educativo for um processo solidário,
que inclua também mentalidades abertas, participativas e que compartilhe das decisões. Ao mesmo tempo, esta deva
ter por princípios a produção de conhecimento que envolve uma prática política articulada com a proposta educativa
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solidária aos sujeitos, no sentido de agir para produzir transformações no mundo. Cabe ao intelectual (ou educador) a
sensibilidade e a competência para fazer ponte entre a inteligência e a experiência vivida (FREIRE, 1999).
2.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA NO PROCESSO EDUCATIVO
No presente ensaio foi dado ênfase ao olhar social, ou seja, privilegiamos a percepção e intervenção da
equipe do social, que é composta pelos profissionais de serviço social e de sociologia, através do processo de
formação/educação popular.
Compreender a realidade de uma cooperativa é saber que a mesma não está isolada do contexto social, mas
que ela possui uma história a ser respeitada no momento em que é realizada a visita a campo.
Assim, realizar a incubação é estar compromissado com as atividades que o processo exige, é, portanto, estar
capacitado para dialogar, ouvir, interagir, participar e desenvolver estratégias de ação conjuntas para a resolução de
problemas que demande o empreendimento.
Saber ouvir a fala do grupo ou do cooperado possibilita entender as palavras, os códigos, as emoções e os
gestos que cada um manifesta durante a participação nos encontros com os mesmos, portanto, é preciso que
saibamos “(...) desenvolver capacidades e habilidades no campo da lingüística e buscar captar os conteúdos
mutivocacionais, ideológicos, bem como emocionais/cognitivos (...)” (GOHN, 1999, pp.106-107).
O saber ouvir contribui na comunicação com a equipe, pois o contato com os cooperados possibilita o
conhecimento de experiências sociais e o significado que atribuíam a elas. Segundo Martinelli, quando não se conhece
o modo de vida das pessoas, suas experiências, dentre outras, vamos “(...) instituindo verdadeiras lacunas no processo
de conhecimento e os dados obtidos acabam não sendo geradores dos avanços da prática.” (MARTINELLI, 1999, pp.2021).
Consideramos que o processo educativo de cooperativas deva ocorrer através da interlocução de saberes do
grupo de cooperados, através do diálogo, visto que o mesmo proporciona uma conversa entre duas ou mais pessoas,
estabelecendo uma troca de conhecimentos entre os sujeitos.
No processo de educativo não se trabalha com a imposição de conhecimento, ao contrário, busca-se a troca
do conhecimento acadêmico com o saber popular, pois a vivência constitui matéria prima ao processo de formação,
tendo em vista, o respeito ao modo de vida dos cooperados com as quais trocamos conhecimentos. Dessa maneira, a
partir da “(...) compreensão somos capazes de entender melhor os aspectos rotineiros, as relevâncias, os conflitos, os
rituais, bem como, a delimitação dos espaços (...)” (NETO, 1994, p.62).
Na relação de convivência com os cooperados, o olhar da equipe do social vai construindo o perfil do grupo,
constatando e desvelando a ausência de uns e a sobrecarga de alguns, centralidade de gestão assumida e/ou
legitimada por outros, relação que muitas das vezes são conflituosas entre os integrantes da cooperativa. Nossa
orientação metodológica nos faz problematizar e refletir sobre as condições que levavam as coisas a ser com são,
contudo, nem sempre são suficientes para superá-las.
A dinâmica do processo educativo vai se produzindo nas reuniões, nas abordagens individuais, nos minicursos e oficinas, a partir de temas geradores como: acolhimento e relações sociais; liderança política, associativismo
e cooperativismo, planejamento e economia solidária.
Dessa forma, buscamos oferecer as possibilidades necessárias para que o trabalhador cooperado se perceba
enquanto sujeito coletivo, com projeto de cooperação gerador de trabalho e renda, com percepção à libertação da
condição de oprimido e excluído, a partir da reflexão da realidade vivenciada por ele, visto que é importante perceber
que a realidade social é transformável (FREIRE, 1976, p.39). Somente consciente de sua condição de excluído do
processo produtivo, o trabalhador poderá lutar contra a opressão e iniciar a busca por mudanças no trabalho. Assim,
superada a alienação, o trabalhador poderá desvelar os conteúdos ideológicos que recobrem a realidade vivida, dessa
forma, espera-se que a interação entre o saber acadêmico com o saber popular, se constitui uma possibilidade de
transformação da prática cotidiana desses empreendimentos solidários na dimensão social, política e econômica.
3. LIMITES E DESAFIOS
O aprendizado com a troca de saberes tem sido fundamental para a formulação de novas hipóteses acerca do
trabalho e da organização social das cooperativas. Esse tipo de aprendizagem exige sua implicação para a inserção
sócio-produtiva dos cooperados, principalmente, quando se tem como meta o trabalho coletivo.
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O diálogo dos cooperados com a equipe tem possibilitado a reavaliação de procedimentos metodológicos
utilizados, gerando novas habilidades e qualificando os estudos realizados no âmbito da extensão, diferentemente da
invasão e apropriação indevida de conhecimentos, sem gerar resultados concretos para os grupos.
No diálogo com os cooperados, evidenciamos várias questões que podem suscitar algumas discussões sobre
o processo de formação/educação popular, mas para efeito desse ensaio, procuramos apontar alguns limites e
desafios no processo da educação popular frente aos empreendimentos sociais.
Nossa preocupação é estimular a prática do debate e do enfrentamento coletivo dos problemas que são
percebidos individualmente, acreditando que tal postura faz parte dos ganhos que o modo cooperativista de trabalho
tem a enfrentar.
Em suma, tem-se o desfio de romper com metodologias tradicionais, visto que as concepções de praticas
educativas em nossa sociedade precisam ser revistas. A escola formal hoje, é objeto de muitas críticas por parte de
seus freqüentadores em virtude do distanciamento da realidade, da fragmentação disciplinar e das relações de poder
instituídas, faz-se necessário buscar as ações e discursos cada vez mais participantes e coerentes com a realidade dos
empreendimentos, pois os recursos cognitivos e tecnológicos da equipe podem facilitar a ação e a cooperação na
busca de objetivos comuns.
Contudo, a transferência de conhecimentos dimensionados pela pesquisa acadêmica, e, sobretudo, o debate
acadêmico sobre o trabalho precário e a informalidade do mercado, e as tendências do trabalho na pós-modernidade
tem por objetivo prestar assistência técnico-científica à gestão de empreendimento comunitário sob o princípio da
autogestão, o que não significa que tenhamos margem segura de êxito, até porque precisamos de instrumentos que
possam mensura os benefícios que os cooperativados têm conseguido com o processo educativo oferecido pelo
Programa.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade: e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976.
_____. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1999.
GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São
Paulo, Cortez, 1999. (coleção questões da nossa época; v. 71)
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo. Loyola. 2002.
MARX, Karl. O Capital, Livro 1, capítulo VI (inédito). SP: Livraria Editora Ciências Humanas, Ltda 1986.
MARTINELLI, Maria Lúcia. Pesquisa qualitativa: um instigante desafio. São Paulo: Veras Editora, 1999.
NETO, Otávio Cruz. O Trabalho de Campo como Descoberta e Criação. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. (Org.).
Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
SINGER, Paul. Economia Solidária. In: CATTANI, Antonio David (org.). A Outra Economia. Porto Alegre: Veraz Editores,
2003.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. 7ª ed.- São Paulo: Cortez, 1996.
TOURAINE, Alain. O Sujeito como Movimento Social. In: Critica da Modernidade. Rio de Janeiro: Ed. Vozes. 1998.
ZART, Laudemir Luiz. Planejamento Participativo na educação: desafios para a construção de uma sociedade solidária
e de cooperação. 2002. (texto digitado).
______ As possibilidades de construir uma sociedade alternativa: a sócio-economia solidária. In: Educação e SócioEconomia Solidária: paradigmas de conhecimento e sociedade. (Org.) ZART, Lauridemir Luiz. Vol. 1. Série Sociedade
Solidária. Ed. UNEMAT. 2004.
ZART, Laudemir Luiz. Dimensões Formativas para a construção de Práticas Sociais Relativas ao Cooperativismo
Solidário. In: Educação e Sócio-Economia Solidária: interação universidade e movimentos sociais. (Org.) ZART,
Lauridemir Luiz, SANTOS, Josivaldo Constantino. Vol 2. Série Sociedade Solidária.. Cáceres- MT: editora UNEMAT.2006.
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CONSTRUÇÃO DE PROTOCOLO DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO
PARA CRIANÇAS SUBMETIDAS À CIRURGIA ELETIVA
Mayara Barbosa Sindeaux Lima (Bolsista)
Suellen Santos Nobre
Darlene Ferreira
Petruska Baptista
Eleonora Arnaud Pereira Ferreira
RESUMO: O presente trabalho teve por objetivo construir um protocolo de atendimento psicológico para pacientes pediátricos
indicados a cirurgias de adenoidectomia, amigdalectomia e adenoamigdalectomia e seus cuidadores, visando a modificação de
comportamentos que aumentem a probabilidade de recuperação pós-cirúrgica. Pretendeu-se também a construção de um manual
de orientações sobre a cirurgia e sua validação como estratégia eficaz para a redução da ansiedade pré-cirúrgica. Participaram
deste estudo 54 pacientes de um hospital universitário e 57 acompanhantes, sendo 22 crianças integrantes do grupo de sondagem
e 32 do grupo de intervenção. Os acompanhantes de cada grupo eram atendidos em três momentos: antes, durante e após a
cirurgia da criança. Os instrumentos utilizados foram: roteiro de entrevista semi-estruturado, escala de avaliação do esclarecimento
do responsável sobre a cirurgia, inventário de ansiedade de Beck (BAI), escala de faces para avaliação da percepção sobre a cirurgia
e manual de cuidados. Observou-se que, em ambos os grupos, quanto menor o grau de escolaridade do acompanhante, maior o
nível de ansiedade apresentado. Entretanto, verificou-se que a maioria dos cuidadores que verbalizaram ter recebido orientações
apresentou sinais de ansiedade, enquanto que daqueles que relataram não ter tido informações sobre a cirurgia, menos da metade
demonstraram ansiedade. No geral, não foram observadas diferenças entre os grupos de sondagem e de intervenção,
supostamente devido à presença e à escuta do profissional de saúde em ambos os grupos. Em relação ao manual, este foi avaliado
e aprovado pelos especialistas do Serviço de Otorrinolaringologia e por juízes cegos, atualmente este se encontra em validação
pelos usuários do serviço.
Palavras-chave: ansiedade; crianças e adolescentes; cirurgia eletiva.
A hospitalização e cirurgia são eventos potencialmente estressantes ao paciente e a família, pois acrescido
aos problemas de saúde, a prescrição e a intervenção cirúrgica podem gerar desconforto físico e psicológico, os quais
podem se manifestar tanto no período anterior quanto posterior à cirurgia.
O paciente cirúrgico pode se sentir ameaçado por riscos reais e imaginários, posto que estará impossibilitado
de realizar todas as suas atividades cotidianas, passará por uma abrupta mudança de hábitos e costumes, estará em
um ambiente desconhecido cujas normas são rígidas, distante de pessoas significativas e exposto a procedimentos
médicos invasivos, comumente dolorosos. Segundo a literatura, o medo do desconhecido é a principal causa da
insegurança e da ansiedade do paciente pré-cirúrgico, sendo a anestesia e a recuperação as principais fontes de
dúvidas (Antônio, Munari & Costa, 2002; Fighera1 & Viero; Souza, Souza & Fenili, 2005).
A ansiedade parece ser a emoção mais comum em situações de hospitalização e cirurgia. Sendo um conjunto
de manifestações comportamentais e fisiológicas normais, pode se tornar disfuncional quando é desproporcional ao
evento desencadeador ou quando não há objeto específico para o qual se direcione. No caso de uma intervenção
cirúrgica, o medo tem uma base real mesmo quando os riscos são mínimos (Junqueira, 2003; Andrade & Gorenstein;
Moro e Módolo, 2004).
Em relação à cirurgia pediátrica, as pesquisas na área da Psicologia Hospitalar indicam que as crianças
vivenciam o período de hospitalização de maneira particular, e podem reagir de diversas formas, tais como
regressões, estados depressivos e transtornos de comportamento em geral. Os temores dos pacientes pediátricos
costumam envolver: o medo de separar-se dos pais, de dor, da anestesia e de outros procedimentos médicos; de
sofrer algum dano à sua integridade física e de morte. Domingos e Witter (2006) nos fornecem um exemplo empírico
disto, já que 54% das crianças estudadas por eles manifestaram alterações de comportamento quando submetidas à
cirurgia.
Autores como Junqueira (2003) e Gorayeb (2001) afirmam que os comportamentos da criança e de seus
cuidadores diante do evento cirúrgico se influenciam mutuamente. Segundo a literatura, o comportamento
ansiogênico dos pais está diretamente relacionado com os comportamentos ansiosos que os filhos apresentam no
período anterior e posterior à cirurgia (Moro & Módolo, 2004).
A literatura tem indicado que a maneira como o indivíduo reage à cirurgia pode determinar em grande parte
sua recuperação, tornando-a mais amena e com menos intercorrências. Em relação à ansiedade os estudos indicam
que sua redução é acompanhada de maior colaboração por parte da criança e uma melhor recuperação, com menor
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uso de medicamento pós-cirurgia. Além disso, pesquisas hospitalares sobre o comportamento do paciente e seus
acompanhantes e/ou cuidadores indicam que apoio psicológico ameniza o estresse e a ansiedade, reduzindo os dias
de internação e uso de analgésicos pós-cirúrgico. (Domingos & Witter, 2006; Gorayeb, 2001).
Desta forma o preparo para cirurgia tem sido alvo de inúmeras investigações na área da Psicologia da Saúde.
Em sua maioria, o foco é em um programa educativo que forneça informações sobre a doença e os procedimentos pré
e pós-operatórios. De acordo com Christóforo (2006) e Medeiros e Peniche (2006), os pacientes são
freqüentemente admitidos nos hospitais sem ter o conhecimento devido do procedimento terapêutico ao qual será
submetido. A orientação objetiva diminuir a ansiedade e promover uma maior participação do paciente em sua
própria assistência.
Sobre a prestação de informações, Baldini e Krebs (1999) afirmam que muitos pais omitem ou distorcem
informações para suas crianças na tentativa de não amedrontá-las e terminam, eles próprios, se esquivando de
recebê-las, pois deixam de solicitar esclarecimentos e de tirarem dúvidas. Segundo estes autores uma afirmação
inconsistente pode ser tão prejudicial quanto uma informação precipitada.
Neste sentido, o uso de livretos ou manuais construídos por profissionais da saúde tem se mostrado uma
estratégia efetiva para orientar a família. Ponsford e cols.Rothwell, Cameron, Ayton, Nelms, Curran e Ng (2007) e
Ferrari, Sousa e Garzon (2005) investigaram a utilização de manuais para preparar educativamente o paciente para a
submissão de exames e situação de hospitalização. Nos resultados de ambas as pesquisas, o grupo experimental, o
qual recebeu educação informativa pela aplicação do manual, apresentou um índice de ansiedade menor em
comparação ao grupo controle, o qual não havia recebido.
Outra pesquisa que ratifica a eficácia do uso de manual é a de Margolis (1998, citado por Fukuchi & cols.,
2005) que desenvolveu um livro interativo sobre a adenoamigdalectomia para crianças e suas famílias.
Posteriormente se realizou um estudo com 143 crianças divididas em dois grupos: experimental - com acesso ao livro
e o controle - que não o recebeu. Os resultados encontrados mostram o impacto do livro sobre os pacientes e seus
familiares, associando-o a mudanças comportamentais observadas na indução anestésica e nas semanas após a
cirurgia. No grupo experimental ocorreu um aumento no nível de ansiedade no dia da cirurgia, entretanto houve uma
redução significativa de alterações comportamentais nas semanas sucessivas, 83% dos pais relataram que o livro os
auxiliou, enquanto 66% dos pais do grupo controle mostraram-se satisfeitos com as informações recebidas no préoperatório. O índice de satisfação no grupo experimental foi de 83%.
A cirurgia de adenoamigdalectomia é uma das operações oferecidas pelo Serviço de Otorrinolaringologia
(ORL) do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), bem como a de adenoidectomia e a amigdalectomia.
Estas são as intervenções cirúrgicas da especialidade otorrinolaringológica com maior incidência na população infantil,
sendo as mais realizadas pelo Serviço de otorrinolaringologia do HUBFS.
O caráter não emergencial dessas operações viabilizou a efetivação do Projeto de Extensão “Implantação do
Serviço de Psicologia no Protocolo de Atendimento e Preparo para Cirurgia em Otorrinolaringologia”, por meio do
qual tem sido desenvolvidas estratégias para a redução da ansiedade das crianças indicadas à adenoidectomia,
amigdalectomia e adenoamigdalectomia, e seus respectivos cuidadores.
Diante do exposto, podemos observar que o evento cirúrgico pode gerar estresse e ansiedade que interferem
no sucesso do próprio procedimento e, conseqüentemente na recuperação do paciente. A implementação de
orientação pré-operatória pode reduzir tais comportamentos, pois favorece uma maior adaptação do paciente e seus
familiares às mudanças ocasionadas pela hospitalização e cirurgia. Isto repercute positivamente tanto para o usuário
da instituição hospitalar e à equipe médica, pois promove o bem-estar do paciente e aumenta sua colaboração ao
tratamento. Quanto ao hospital, há redução dos gastos à medida que se diminuem as intecorrências e o
cancelamento de cirurgias.
OBJETIVOS
(1) Construir um protocolo de atendimento psicológico às crianças indicadas para as cirurgias de
amigdalectomia, adenoidectomia e adenoamigdalectomia e seus cuidadores, visando a redução da ansiedade
referente à situação de hospitalização/cirurgia e a promoção de comportamentos que aumentem a probabilidade de
recuperação pós-operatória.
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(2) Investigar as variáveis relacionadas à ansiedade pré-cirúrgica dos pacientes pediátricos e acompanhantes,
e o desenvolvimento de um manual educativo contendo informações e orientação acerca da cirurgia, a ser validado
como instrumento eficaz para a redução da ansiedade pré-operatória.
MÉTODO
Devido este trabalho contemplar tanto a intervenção psicológica quanto a pesquisa científica, a metodologia
foi desenvolvida em duas etapas interdependentes, divididas aqui para fins didáticos. A primeira etapa ocorreu em
duas fases: A) Grupo de Sondagem- investigação das variáveis relacionadas à ansiedade pré-cirúrgica e Grupo de
Intervenção- atendimento e suporte psicológico. A segunda etapa foi de Construção de um manual de orientação para
pais e criança sobre a cirurgia e os cuidados necessários.
CLIENTELA
Foram atendidos até a elaboração deste artigo 54 pacientes, na idade de até 12 anos, indicados para realizar
cirurgias de adenóide e/ou amígdalas e seus acompanhantes, encaminhados pelo Serviço de Otorrinolaringologia à
Psicologia.
Critérios de inclusão dos participantes: (a) Pacientes encaminhados pelo Serviço de Otorrinolaringologia do
HUBFS, a serem submetidos a cirurgias de adenoidectomia, amigdalectomia ou adenoamigdalectomia; (b) Idade de
até doze anos; (c) Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos responsáveis.
Critérios de exclusão dos participantes: (a) Pacientes encaminhados por outros serviços do HUBFS; (b)
Pacientes a serem submetidos em caráter de urgência a qualquer procedimento cirúrgico; (c) Idade superior a 12
anos; (d) Pacientes cujos responsáveis não concordassem em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;
(e) Pacientes portadores de síndromes, anomalias genéticas ou transtornos psiquiátricos.
AMBIENTE
Os atendimentos foram, e estão sendo, realizados em consultórios do HUBFS e nas enfermarias do HUBFS.
MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
Para a coleta de dados, foram utilizados: prancheta, caneta esferográfica e folhas de papel tamanho A4.
INSTRUMENTOS
•
Roteiro de entrevista inicial: roteiro semi-estruturado, composto por perguntas acerca das expectativas,
dúvidas e temores em relação à cirurgia e ao período de hospitalização.
•
Escala de avaliação do serviço (EAS): instrumento composto de seis itens referentes ao atendimento
oferecido pela equipe de otorrinolaringologia e à compreensão do acompanhante acerca das
orientações fornecidas. Para cada item havia um intervalo de 1 a 5, variando entre concordo totalmente
a discordo totalmente.
•
Inventário de Ansiedade de Beck (BAI): composto por 21 sintomas de ansiedade, avaliado conforme a
intensidade de ocorrência em: absolutamente não, levemente, moderadamente e gravemente.
•
Escala de Faces: composta por cinco expressões faciais: muito triste, triste, neutro, alegre, muito alegre.
•
Manual de orientação sobre a cirurgia: instrumento elaborado durante o estágio que contém
informações acerca da cirurgia e os cuidados necessários no pré e pós-operatório.
PROCEDIMENTO
Inicialmente o projeto foi apresentado à direção do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), à
coordenação do Serviço de ORL e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do Centro de
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Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Pará, o qual emitiu parecer favorável de acordo com a Resolução
196/1996, do Conselho Nacional de Saúde. Os pacientes foram encaminhados pelo Serviço Social da ORL e todos os
respectivos responsáveis concordaram em participar, a eles foi entregue um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido sendo assinados por eles.
ETAPA 1
A- Grupo Sondagem
Esta etapa teve como objetivo investigar as demandas trazidas pelas crianças, e particularmente seus pais,
referentes à submissão à cirurgia. E neste sentido, verificar as dúvidas, os temores, o conhecimento acerca da
hospitalização e os cuidados necessários, bem como avaliação da ansiedade. Além disto, este grupo permitiu que se
comparassem seus resultados com aqueles obtidos no Grupo de Intervenção. Os pacientes deste grupo e seus
respectivos cuidadores foram acompanhados no período pré e pós-operatório (alta), bem como durante a realização
da cirurgia otorrinolaringológica. Participaram desta fase 22 pacientes e 24 acompanhantes, sendo que apenas 17
realizaram cirurgia durante o período da realização deste estudo.
B- Grupo de Intervenção
Os dados obtidos na fase anterior forneceram subsídios para a elaboração de estratégias a fim de reduzir a
ansiedade oriunda da submissão à cirurgia dos pacientes pediátricos e de seus cuidadores. Desta forma, iniciou-se
com este grupo uma assistência sistemática do Serviço de Psicologia a esta clientela, que atualmente se constituiu em
uma rotina do Serviço de ORL.
A intervenção psicológica ocorre por meio de orientações sobre a cirurgia e os procedimentos do hospital,
apoio psicológico, treino de respiração com os acompanhantes, intervenções lúdicas com os pacientes e entrega do
manual de orientação sobre a cirurgia. Este grupo também foi atendido no período anterior à cirurgia, durante a
realização desta e no momento da alta. Participaram desta etapa 32 pacientes e 33 acompanhantes, sendo que
somente 17 passaram pelos três momentos de atendimento.
Além disso, em quatro pacientes, avaliou-se a necessidade de um segundo atendimento, anterior à cirurgia,
cujo objetivo foi dessensibilizar a criança em relação à equipe médica e orientá-la sobre a cirurgia e o período de
hospitalização. Nestes casos, o acompanhante e a criança foram atendidos separadamente. Com os pacientes foi
realizada uma intervenção lúdica que incluía a leitura de uma história (“Operação de Lili”, Alves 1988) e brincadeiras
com um jogo de equipamentos médicos em miniatura. Já com o acompanhante, era-lhe ensinado um treino
respiratório.
Motta e Enumo (2004) afirmam que o brincar como recurso terapêutico serve como estratégia para redução
do estresse induzido pela hospitalização e pode ser utilizado para “ensaio comportamental”. Ao brincar no hospital, a
criança altera o ambiente em que se encontra, aproximando-o de sua realidade cotidiana, o que pode auxiliar na
promoção do bem-estar da criança. Também foi realizada uma intervenção no ambiente da enfermaria, sendo afixado
na parede, à cima de alguns leitos, suportes confeccionados em papel-cartão colorido, em formato de sol e de flor
para se colocar o nome do paciente.
A tabela a seguir apresenta os instrumentos utilizados em cada grupo nos três momentos de atendimento:
Tabela 1. Instrumentos usados em cada período de atendimento, o X representa a utilização e - ausência.
Pré-operatório
Período cirúrgico
Período pós-cirúrgico
Instrumentos
GS
GI
GS
GI
GS
GI
Roteiro de entrevista
X
X
–
–
–
–
EAS
X
X
–
–
–
–
BAI
X
X
X
X
X
X
Escala de Faces
–
–
–
–
X
X
Manual de Orientações
–
X
–
–
–
–
530
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Vale ressaltar que a distribuição dos pacientes nos grupos de Sondagem e Intervenção foi aleatória, seguindo
apenas o critério do tempo estabelecido no cronograma para a realização desta fase.
ETAPA 2- CONSTRUÇÃO, VALIDAÇÃO E AVALIAÇÃO DO MANUAL DE ORIENTAÇÕES
Esta etapa ocorreu simultaneamente à anterior. Os atendimentos ocorridos na fase A permitiram que os pais,
dos pacientes indicados à cirurgia, explicitassem suas demandas (dúvidas, temores), com base nelas e nas informações
obtidas no Serviço de ORL foi construída nesta fase a primeira versão do manual. Esta foi, então, entregue aos
profissionais da ORL do HUBFS, a saber: médicos (coordenador do serviço de ORL, coordenador do centro cirúrgico;
chefe do setor de anestesia); assistente social, enfermeira e psicóloga. As alterações propostas por esses especialistas
foram realizadas e resultaram na segunda versão do Manual, a qual foi entregue e aprovada por esses profissionais.
Durante a fase B iniciou-se o uso do Manual de orientações como a principal estratégia para a redução da
ansiedade dos cuidadores da criança, já que a literatura indica a ansiedade dos pais como uma das variáveis que
influenciam diretamente nos comportamentos ansiogênicos dos filhos.
Após o atendimento destes 54 pacientes, foi construído um roteiro de entrevista e uma escala acerca da
avaliação do manual de orientações, a fim de se obter um feedback dos próprios usuários do serviço de cirurgia da
Otorrinolaringologia, para quem o material foi elaborado. Além disso, foi realizado uma entrevista com 5 juízes cegos,
a fim de verificar se a linguagem utilizada no manual está acessível aos cuidadores. Estes juízes foram usuários do
HUBFS responsáveis por crianças entre 0 a 12 anos que não apresentam indicativo de cirurgia. Nenhum deles fez
quaisquer sugestões de inclusão/exclusão de informações.
Atualmente esta etapa encontra-se em uma nova fase: a validação e avaliação do Manual de orientações
pelos acompanhantes de pacientes pediátricos a serem submetidos às cirurgias de retirada de adenóide e/ou
amígdalas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos cinqüenta e quatro (54) pacientes atendidos durante o estágio de extensão, 20,3% foram indicados à
cirurgia de adenoidectomia, 7,4% de amigdalectomia e 72,2% de adenoamigdalectomia. Apenas 70,3% das crianças
foram submetidas à intervenção cirúrgica neste período e acompanhadas pelo Serviço de Psicologia.
Os demais participantes se enquadram em dois grupos: aqueles para os quais a cirurgia foi adiada devido os
exames pré-operatórios contra-indicarem ou porque se encontravam enfermos; e aqueles cujo atendimento
psicológico foi impossibilitado por conta de mudança súbita da data da cirurgia, e mais frequentemente, a
incompatibilidade de horários entre o atendimento médico e o psicológico. Este último fator explicita a disparidade
entre a demanda trazida pela Otorrinolaringologia do HUBFS ao serviço de Psicologia e o número reduzido de
profissionais (técnicos e estagiários) para atendê-la, a saber: 1 técnica, 1 bolsista de extensão e 2 estudantes de
estágio supervisionado.
Em relação ao sexo, o grupo de Sondagem foi composto por 31,8% de pacientes do sexo masculino e 68,1%
do feminino, divididos entre as faixas etárias de 0 a 4 anos (27,2%), 5 a 8 anos (59%) e 9 a 12 anos (13,6%). No que se
refere ao grupo de Intervenção, metade dos pacientes foram do sexo masculino e metade do feminino, dentre eles,
21,8% pertencem à faixa etária de 0 a 4 anos, 53,1% à segunda faixa etária e 25% possuem entre 9 a 12 anos.
Sobre a escolaridade, foi possível identificar relação entre o nível de ansiedade do acompanhante e seu grau
de escolaridade. Os dados obtidos tanto na fase de sondagem quanto de intervenção apontam que quanto menor a
escolaridade, maior o nível de ansiedade, principalmente nos momentos anterior e concomitante a cirurgia do
paciente.
Possivelmente a baixa escolaridade dificulta tanto o acesso à informação quanto o entendimento das
orientações acerca da cirurgia. Embora no geral os cuidadores tenham verbalizado o recebimento de informações
pelo serviço de ORL, sendo que 50% disseram não ter dúvidas sobre a cirurgia, grande parte destes demonstrou
desconhecimento sobre os procedimentos cirúrgicos e hospitalização quando solicitados a relatarem as orientações
recebidas.
No que diz respeito às dúvidas observou-se que em geral, a maioria (59,2%) dos acompanhantes que
relataram possuir dúvidas em relação à cirurgia manifestou sinais de ansiedade durante o primeiro momento de
atendimento. Enquanto que, em apenas 40,7% dos que afirmaram ausência de dúvidas acerca do procedimento
531
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
cirúrgico foram identificados sinais ansiosos. Soma-se a este dado, o resultado do Inventário de Beck que também
denunciou maior incidência de pessoas com níveis leve, moderado ou grave de ansiedade, dentre aqueles que
verbalizaram alguma dúvida durante o atendimento com o serviço de psicologia. Assim, para este grupo identificou-se
que 37% apresentavam ansiedade, em oposição a 18,5% de acompanhantes ansiosos do grupo que não manifestou
nenhuma dúvida.
Sobre as orientações recebidas pelo Serviço de ORL, 13 acompanhantes dos 22 do Grupo de Sondagem
verbalizaram não ter recebido nenhum tipo de orientação sobre a cirurgia. Neste grupo, foram identificados sinais de
ansiedade em 46,1% dos respondentes. Dentre os que afirmaram não ter recebido orientação, o BAI revelou nível
mínimo em 62,2% e percentuais iguais de ansiedade (15,4%) para os níveis leve e grave. Ainda na fase de sondagem, 9
acompanhantes verbalizaram ter recebido orientações da equipe acerca da cirurgia, sendo identificados em 66,6%
deste grupo sinais de ansiedade. Não obstante, em 77,8% do total de participantes que afirmaram ter recebido
alguma orientação, foi identificado nível mínimo de ansiedade de acordo com o Inventário de Beck. Os níveis leve e
moderado foram encontrados em igual percentual (11,1%) de participantes.
Já no grupo de intervenção, a grande maioria dos participantes (n=22) relatou não ter sido orientado pela
equipe do hospital acerca da cirurgia, enquanto que somente 7 dos 32 participantes afirmaram ter recebido alguma
orientação. Três participantes desta fase não souberam responder, pois não tinham acompanhado o paciente nas
consultas anteriores. Em 45,4% daqueles que não receberam orientação, foi identificado sinal de ansiedade durante o
atendimento. Todavia, em 72,7% deste grupo foi apontado nível mínimo de ansiedade pelo BAI. Dos que relataram ter
recebido orientação, 57,1% apresentaram sinais de ansiedade durante o atendimento, tendo sido observado o mesmo
percentual de participantes com ansiedade em nível mínimo (BAI). Ainda neste grupo, 28,5% demonstrou nível leve de
ansiedade, enquanto que 14,2% manifestaram nível grave de ansiedade.
As categorias de orientação mais relatadas pelos participantes de ambos os grupos foram: tempo de
permanência no hospital (11 vezes), seguido de cuidados pós-cirúrgicos (9) e procedimentos cirúrgicos (7). Entretanto,
no que concerne ao tipo de dúvida sobre a cirurgia relatada pelos acompanhantes dos pacientes dos grupos de
sondagem e intervenção, observa-se que: as dúvidas mais freqüentes do grupo de sondagem estavam relacionadas à
anestesia e ao procedimento cirúrgico, ambos com 25% do total de pessoas que relaram possuir algum tipo de dúvida.
Já no grupo de intervenção, as dúvidas mais freqüentes referiam-se aos cuidados pós-cirúrgicos, procedimento
cirúrgico, possibilidade de reincidência e tempo de recuperação, a primeira categoria com percentual de 26,6% e as
três últimas com 20%.
A relação entre o relato do recebimento de informação acerca da cirurgia e o estado ansiogênico dos
acompanhantes destoou daqueles apresentados na literatura, como os estudos de Claar, Walker e Smith (2002) e do
esperado pela equipe de psicologia, pois a análise dos dados indicou que, no geral, a maioria das pessoas (62,5%) que
verbalizaram ter recebido orientações da equipe do hospital apresentou sinais de ansiedade durante o atendimento
com o serviço de psicologia, enquanto que daqueles que relataram não ter tido informações sobre a cirurgia, apenas
45,7% demonstraram ansiedade. Além disso, o resultado do Inventário de Beck corrobora este dado ao revelar um
percentual de 31,1% de pessoas com ansiedade (em nível leve, moderado ou grave) do grupo que recebeu
informações em contrapartida a 28,5% de acompanhantes ansiosos do grupo que não recebeu orientação sobre a
cirurgia.
Nos cuidadores pertencentes ao grupo de Sondagem, 14 relataram possuir algum receio referente à cirurgia.
Deste total, em 71,4% foram identificados sinais de ansiedade. Todavia, a maioria (57,1%) expressou ansiedade
mínima no Inventário de Beck. Dos 8 participantes que afirmaram não possuir receio ou temor, apenas 25%
demonstrou algum sinal de ansiedade. Contudo, o Inventário de Beck revelou ansiedade mínima em todos os
respondentes.
Já no grupo de intervenção, 17 participantes afirmaram ter receio acerca da cirurgia, tendo sido observados
sinais de ansiedade em pouco mais da metade destes acompanhantes (52,9%). Ressalta-se, porém, que 58,8% dos que
relataram temor, obtiveram ansiedade mínima no resultado do BAI. Dos 32 participantes do grupo de intervenção, 15
verbalizaram ausência de receio concernente à cirurgia. Deste valor, 40% manifestou algum sinal de ansiedade
durante o atendimento. Entretanto, o BAI considerou presença de ansiedade, em nível leve, em apenas 13,3% dos
participantes.
A incongruência mostrada a cima provavelmente decorre de dois fatores. Um deles é a disparidade entre as
informações verbalizadas pelos acompanhantes e as informações mais frequentemente fornecidas, como indicam as
categorias de dúvidas (procedimento cirúrgico e cuidados pós-cirúrgicos e a possibilidade de reincidência) e
orientações (tempo de permanência no hospital e complexidade da cirurgia), ambas apresentadas durante o primeiro
532
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atendimento. O outro diz respeito à forma pela qual a informação é repassada, particularmente no caso de uma
clientela com baixa escolaridade, posto que a minoria dos participantes tinham o ensino superior ou haviam concluído
o ensino médio.
Segundo Kiyohara e cols. (2004) nem toda informação contribui para redução da ansiedade e do medo
relacionados ao procedimento cirúrgico, sendo necessário atentar para o tipo de informação fornecida. Ademais, é
possível que as orientações ministradas pelos profissionais da equipe de otorrinolaringologia não sejam as desejadas
pelos participantes e, neste caso, supõe-se que em nada contribuiriam para a redução da ansiedade. Em um estudo
realizado por Sabatés e Borba (2005) sobre as informações recebidas pelos pais durante a hospitalização do filho. As
autoras verificaram que as informações mais solicitadas pelos pais dos pacientes referiam-se ao tempo de
hospitalização e a evolução da doença do filho, enquanto que as informações fornecidas pela equipe de enfermagem
eram direcionadas às regras e rotinas do hospital e aos motivos dos procedimentos.
A aplicação da escala de avaliação do serviço revelou que os participantes divergem de opinião em relação à
necessidade ou não de maiores esclarecimentos acerca da cirurgia. Contudo os resultados obtidos indicam elevado
grau de satisfação com o atendimento prestado pelo serviço de otorrinolaringologia do hospital, reconhecendo a
disposição da equipe para melhor atendê-los e discriminando os efeitos positivos, tais como maior tranqüilidade e
conforto, após a realização da consulta.
Sobre as percepções dos acompanhantes e dos pacientes quanto ao período de hospitalização e cirurgia, a
maioria das duplas (criança/cuidador) forneceu respostas similares e escolheram as faces que representavam feliz e
muito feliz (59,1%), a face neutra foi selecionada por 11,4% e as faces triste e muito triste obtiveram percentual de
70,5%.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação da Psicologia no atendimento e preparo à cirurgia de amigdalectomia, adenoidectomia e
adenoamigdalectomia mostrou-se importante tanto ao Serviço de Psicologia do HUFFS quanto ao de
Otorrinolaringologia. Contudo, o instrumento escolhido para comparar a ansiedade de pais e crianças submetidas à
cirurgia antes e após a intervenção psicológica foi equivocado. Pois o inventário de ansiedade de Beck (BAI)
freqüentemente indicava nível mínimo de ansiedade mesmo quando o acompanhante demonstrava sinais visíveis de
ansiedade ou os relatava. Desta forma, não foi possível uma comprovação empírica da redução da ansiedade devido
ao atendimento psicológico.
Apesar disto, foram notáveis algumas mudanças comportamentais favoráveis, apresentadas por vários
cuidadores e pacientes, tais como: realizar o treino respiratório ensinado durante atendimento pré-operatório,
discriminar os reforçadores contingentes à submissão para a cirurgia, redução de comportamentos ansiogênicos e/ou
de verbalizações sobre estes, além de falas a respeito da importância de terem participado do preparo à cirurgia e do
suporte psicológico recebido.
Acrescido aos benefícios trazidos aos usuários do serviço de cirurgia da ORL pelo presente Projeto de
Extensão, encontram-se aqueles vinculados à produção científica, pois originou um Trabalho de Conclusão de CursoAnálise da Ansiedade em Acompanhantes de Crianças submetidas a Adenoamigdalectomias, Nobre, S. M (2007) e
duas comunicações orais: “Análise de Comportamentos de Ansiedade em Crianças submetidas a
Adenoamigdalectomias e em seus Acompanhantes” e “Contribuições da Psicologia para Redução da Ansiedade em
Acompanhantes e em Crianças Submetidas a Adenoamigdalectomias”, aprestados no II Congresso do Hospital
Universitário João de Barros Barreto e na I Semana Científica de Psicologia do Hospital Bettina Ferro de Souza,
respectivamente. Sendo o primeiro vencedor do prêmio Elisa Sá como o melhor trabalho na categoria não-médica.
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533
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
PROJETO CINEMED: A EXTENSÃO E O ESTUDO DA ÉTICA
NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Aderli Góes Tavares (Coordenadora) 1
Annie Caroline Arraes Vieira (Bolsista) 2
Hospital Universitário João de Barros Barreto – HUJBB
RESUMO: O estudo problematiza o ensino e aplicação da ética em saúde, tomando como referência à pesquisa realizada pelos
autores Muñoz e Muñoz (2003) que analisam o ensino da ética nas faculdades de medicina. O problema revelou como causa
principal o desconhecimento e/ou a não aplicação dos princípios éticos. A causa identificada remete a questões sobre a
implementação das políticas públicas; a legislação do ensino de residência e as necessidades sentidas por docentes, preceptores e
usuários do serviço de saúde sobre a humanização na relação profissional-usuário. O problema estudado pelos autores e o novo
contexto do ensino-serviço no âmbito das políticas públicas nacionais de educação e de saúde para a graduação e para a pósgraduação (residência médica), remetem a re-olhar o contexto do ensino e da aplicação da ética médica por residentes no
ambiente de um hospital universitário. A identificação do problema e de suas causas promoveu o desenvolvimento do Projeto
CINEMED: o estudo da ética em saúde através da linguagem cinematográfica no Hospital Universitário João de Barros BarretoHUJBB. A metodologia adotada pelo projeto envolve a análise de práticas cotidianas projetadas nos filmes, a sua reflexão e a troca
com o conhecimento científico. Essa troca envolvendo saberes do cotidiano e teoria é evidenciada nos debates, que utilizam
referências bibliográficas sobre os temas abordados e sua relação com ética em saúde. O cotidiano, seus saberes no espaço de
trabalho proporcionam analisar o binômio academia e sociedade. O resultado parcial da ação extensionista é a participação
maciça de estudantes, cuja média por sessão foi de 175 pessoas nos últimos sete meses do ano de 2007. O quantitativo de
estudantes participantes das discussões também cresceu em função de aplicação de técnicas de trabalho em grupo e do processo
de facilitação de ensino pelos docentes e convidados.
Palavras-chave: Cinema; ética em saúde; ensino.
INTRODUÇÃO
O presente estudo problematiza o ensino e aplicação da ética em saúde, tomando como referência à
pesquisa realizada pelos autores Muñoz e Muñoz (2003) sob o olhar do ensino da ética nas faculdades de medicina.
O problema revelou como causa principal o desconhecimento e/ou a não aplicação dos princípios éticos. A
causa identificada remete a questões sobre a implementação das políticas públicas; a legislação do ensino de
residência e as necessidades sentidas por docentes, preceptores e usuários do serviço de saúde sobre a humanização
na relação profissional-usuário.
O problema estudado pelos autores e o novo contexto do ensino-serviço no âmbito das políticas públicas
nacionais de educação e de saúde para a graduação e para a pós-graduação (residência médica), remetem a re-olhar o
contexto do ensino e da aplicação da ética médica por residentes no ambiente de um hospital universitário. A
identificação do problema e de suas causas promoveu o desenvolvimento do Projeto CINEMED: o estudo da ética em
saúde através da linguagem cinematográfica no Hospital Universitário João de Barros Barreto- HUJBB.
A metodologia adotada pelo projeto envolve a análise de práticas cotidianas projetadas nos filmes, a sua
reflexão e a troca com o conhecimento científico. Essa troca envolvendo saberes do cotidiano e teorias é evidenciada
nos debates, que utilizam referências bibliográficas sobre os temas abordados e sua relação com ética em saúde. O
cotidiano, seus saberes no espaço de trabalho proporcionam analisar o binômio academia e sociedade.
O resultado parcial da ação extensionista é a participação maciça de estudantes, cuja média por sessão foi de
175 pessoas nos últimos sete meses do ano de 2007. O quantitativo de estudantes participantes das discussões
também cresceu em função de aplicação de técnicas de trabalho em grupo e do processo de facilitação de ensino
pelos docentes e convidados.
1
Assistente Social, mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Pará (2000), dissertação na área da antropologia da
educação. Atualmente chefia a área de ensino do Hospital Universitário João de Barros Barreto - HUJBB e coordena projetos na
área de saúde e extensão universitária, vinculados ao HUJBB e a Pró-Reitoria de Extensão da UFPA. Vice-Coordenadora do Projeto
CINEMED.
2
Estudante de Serviço Social. Estagiária do Projeto CINEMED: o estudo da ética em saúde através da linguagem cinematográfica.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
1- PROBLEMATIZAÇÃO
Os autores Muñoz e Muñoz (2003) em estudo sobre o ensino da ética nas faculdades de medicina do Brasil
identificaram que:
“(...) o prestígio do médico não aumentou na mesma proporção do alcançado pela ciência que ele pratica.
Ao contrário, as queixas contra médicos nos Conselhos Regionais de Medicina e as freqüentes notícias da
mídia, nas duas últimas décadas, acusando médicos de serem pouco “humanos” e de não terem uma
conduta digna maculam a boa reputação dos profissionais da medicina e diminuem seu prestígio” (Muñoz e
Muñoz:2003, pág 14)
Esta constatação nos remete a questionar sobre os porquês da imagem do médico no contexto das
profissões. Algumas das explicações citadas pelos autores são a de que:
“A carência de postura ética compatível com as elevados ideais da profissão é mencionada como um dos
principais fatores para essa diminuição de prestígio do médico. A deficiência de formação humanística, com
cursos voltados eminentemente para os aspectos técnicos da profissão, é também apontada como uma das
causas preponderantes do problema” (Muñoz e Muñoz:2003, pág 15)
O estudo refere-se à análise dos egressos e dos currículos dos cursos de graduação em medicina e o ensino
da ética. Podemos inferir que o problema apresentado é extensivo aos programas de residência médica, considerando
que a maioria dos estudantes selecionados para a pós-graduação (residência médica) são recém formados do curso de
medicina.
O problema identificado justifica a atuação de um Projeto de Extensão que discute ética em saúde como
disciplina obrigatória para os programas de residência médica no Hospital Universitário João de Barros Barreto –
HUJBB.
2-CONTEXTUALIZAÇÃO: LEGISLAÇÃO QUE SUBSIDIAM A AÇÃO EXTENSIONISTA ENSINO-SAÚDE.
2.1-A constituição federal e o Sistema Único de Saúde – SUS
A Constituição Federal de 1988 institui o Sistema Único de Saúde – SUS como direito dos cidadãos e dever do
Estado, a saúde como política pública universal e igualitária. Ao assegurar o direito à saúde a todos, a constituição
federal, entre outros fatores, estabeleceu relação de profissionais e usuários baseada em direitos e deveres,
rompendo com a prática assistencialista e concretizando um Estado democrático.
Dois artigos constitucionais são destaques para o estudo e a ação extenionista. O Art. 196 que estabelece que
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”. E o Art. 198 que estabelece que: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços
assistenciais;
III - participação da comunidade.”
2.2-A Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Os direitos aos cidadãos sobre preservação e autonomia física e moral, preconceito e informação são
referidos nessa Lei, no seu capítulo II, Art. 7º “As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados
ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde - SUS são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas
no art. 198 da Constituição Federal”, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do
sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;
536
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário”.
2.3-Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e a ética
A Ética constitui um dos temas transversais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/MEC) e
reflete a preocupação para que a escola realize um trabalho que incentive a autonomia na constituição de valores de
cada aluno, ajudando-o a se posicionar nas relações sociais dentro da escola e da comunidade como um todo
(CORDIOLLI, 1999: 10).
2.4-Diretrizes Curriculares Nacionais e a ética médica
O Conselho Nacional de Educação, no ano de 2001, referente à formação dos estudantes de graduação em
medicina, estabeleceu em seu artigo 3º que “O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando
egresso/profissional o médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado
em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção,
prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de
responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano”.
2.5- Resolução CNRM Nº02/2006, de 17 de maio de 2006.
Ao tratar sobre requisitos mínimos dos Programas de Residência Médica, a resolução estabelece os prérequisitos para credenciamento, além dos requisitos técnicos e do estabelecimento da carga horária que representa
de 80% a 90% sob forma de treinamento em serviço, estabelece as atividades teórico-complementares com carga
horária entre 10% a 20%. Entre as atividades teórico-complementares, no inciso segundo, refere: “Das atividades
teórico-complementares devem constar, obrigatoriamente, temas relacionados a Bioética, Ética Médica, Metodologia
Científica, Epidemiologia e Bioestatística”.
3. REFERENCIAL TEÓRICO: PRINCIPAIS CONCEITOS.
3.1 Ética
Em “Método VI: Ética”, Morin (2004), parte da contextualização contemporânea da ética para voltar a ela,
com uma análise antropológica, histórica e filosófica do problema. O dever e a consciência não podem ser deduzidos
de um saber ou da consciência moral de cada um, mas deles necessitam para existir. O autor apresenta três formas de
compreensão da ética: 1) Ética Social - aquela em que estamos imersos por leis e regras, a que nós somos
engendrados desde a família até o meio em que vivemos; 2) Auto-Ética - como nós reagimos as essas influências; e 3)
A “Ética de Religação”, a qual seria o princípio norteador das práticas individuais, a releitura das práticas pessoais e
profissionais, correlacionadas com a reflexão diante das situações vivenciadas por cada indivíduo.
Em Oliveira (2000) a concepção de ética é desenvolvida como tema transversal, está voltada para construção
de mecanismos de interação; de reconhecimento social; e do enriquecimento às práticas profissionais. O seu objetivo
é de criar vínculos e estabelecer compreensões de procedimentos sociais, tais como a interação, a comunicação, o
respeito e a vivência de cada envolvido. O autor Cordolli (1998) refere-se à ética também como tema transversal,
pautado no PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), o qual prevê a interação entre os diversos aspectos que
envolvem a educação ética nos dias atuais.
3.2 Cinema como recurso pedagógico.
O autor Blasco (2005), no Artigo: Cinema para os Estudantes de Medicina: um Recurso Afetivo/ Efetivo na
Educação Humanística desenvolve as idéias de “liberdade” e “igualdade” a partir do ensino voltado para educação dos
sentimentos através de recursos pedagógicos (principalmente, o cinema); pois “é missão da universidade recuperar o
humanismo, sem impedir, de modo algum, a aplicação da ciência aos problemas da doença, mas, pelo contrário,
fortalecendo-a e sua esfera apropriada e sobre bases mais amplas que as atuais” (Blasco, 2005).
3.3 Extensão Universitária
Por fim destacamos o conceito de extensão universitária “A Extensão Universitária é o processo educativo
cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora
537
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
entre universidade e sociedade (...) Este fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizado acadêmico e popular
terá como conseqüência: a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional;
e a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade”
(Nogueira: 2000, pág117)
4- AÇÃO EXTENSIONISTA – O PROJETO CINEMED
4.1-Surgimento e proposta
O Projeto CINEMED: o estudo da ética em saúde através da linguagem cinematográfica, surgiu em 2002, no
Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) a partir da necessidade de contribuir com a formação de
recursos humanos em saúde e de atender a recomendação da resolução CNRM nº 02/2006, de 17 de maio de 2006, a
qual institui na formação dos estudantes de residência médica, como atividades teórico-complementares, alguns
temas, entre eles os relacionados à Bioética e Ética Médica.
A ética como tema transversal, que acompanha a prática dos profissionais de saúde, entendida segundo
Morin (2005) como uma ética complexa e lhe atribui uma ética como “meta-ponto de vista que reflita sobre os
fundamentos e princípios da moral”, ultrapassa uma moral individualista e egocêntrica e nessa medida indica a
necessidade de uma vida cidadã”, uma “vida boa e justa para todos” (princípio da ética Socrática) que hoje nós
precisamos reativar. O espaço de construção da vida cidadã ocorre nas práticas cotidianas individuais e coletivas.
Aos discentes, docentes e técnicos que participam da relação ensino-serviço desenvolvida no hospital, a ética
coletiva cidadã, é também dinâmica, acompanha as constantes mudanças na realidade social, portanto, ética em
processo. Do juramento de Hipócrates ao Código de Ética Médica atual, foram construídos diferentes valores na
sociedade, como é o caso do aborto e da eutanásia, ambos os valores ainda em discussão, sob o olhar dos
profissionais de saúde e os movimentos sociais. O olhar de vários atores envolvidos no processo de vida-morte e
saúde-doença possibilita contextualizar as situações, seus ângulos de análise e construir valores humanos coletivos
para a formação profissional.
A ética médica é uma troca, interpretação, do que está escrito. É chato? É chato sim. Mas devemos nos
esforçar e colocar em prática no nosso cotidiano. Trocando experiência do dia-a-dia (...) Talvez, não
percebam os momentos de analogias, onde permite a reflexão sobre suas vivencias, mostrando as
dificuldades e propondo soluções. E não apenas criticar por criticar. Para que possamos crescer como um
todo. (R.C.M. Sessão CINEMED “OS ESTAGIÁRIOS”. Belém, 16 de junho de 2007)
‘O Projeto CINEMED busca atuar na formação contínua de profissionais em formação e profissionais
formados potencializando os direitos humanos, através da ética. Os participantes do Projeto (discentes, docentes e
técnicos) atuam diretamente no serviço de saúde hospitalar atendendo usuários. A relação com a sociedade se
estabelece a partir do ensino-assistência e a aplicabilidade dos princípios éticos cidadãos no cotidiano permeiam as
relações universidade sociedade e a relação com as ONG’s que acompanham programas de saúde.
Então, a formação do residente, do interno, do estudante de medicina, ele não se resume ao técnico, ao
técnico de cirurgia, ao técnico em cardiologia, ou seja, qual for à especialidade. Mas aqui temos a função de
forma, a missão, de forma o homem, a pessoa, isso inclui o caráter, a ética, a conduta adequada e esse lado
que te que ser ressaltado no relacionamento. Eu ainda chamo mais a atenção: aos pacientes, aos colegas,
aos acompanhantes e com aqueles que estão aprendendo e ensinando também. (P.A- Médico. Sessão
CINEMED “UM GOLPE DO DESTINO”. Belém, 23 de fevereiro de 2006).
A perspectiva interdisciplinar é introduzida no Projeto a partir do envolvimento de docentes e técnicos das
diferentes áreas do conhecimento, reinterpretando situações complexas retratadas pela abordagem cinematográfica.
A ética reinterpretada sob visão cruzadas, por vezes discordantes, mas explorada como resignificante sobre valores da
vida humana.
O projeto CINEMED, através da abordagem da ética em saúde, articula-se ao currículo de graduação e de pósgraduação na área médica. Através da relação ensino-serviço, missão do hospital articula-se com a sociedade,
evidenciando o binômio universidade-sociedade e a indissociabilidade ensino-extensão. A iniciação a pesquisa é
explorada através de levantamentos bibliográficos e instrumentos de sondagem, sendo campo a ser explorado a partir
de atividades com objetivo de investigação da aplicabilidade dos princípios éticos na prática hospitalar. A visão
multidisciplinar e interdisciplinar é praticada pela contribuição do conhecimento das várias área do conhecimento,
representadas pelos departamentos da universidade e do saber popular através dos representantes de ONG’s e
538
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
movimentos sociais. A geração de conhecimento está baseada no registro das contribuições dos participantes (oral),
através de transcrições de fitas e normatização de texto. Os textos-artigos são produtos de análise de situações de
vida, sob o olhar da ética em saúde.
4.2- Objetivos
Os principais objetivos do Projeto são: 1) Possibilitar a discussão sobre cidadania, com destaque aos direitos
humanos sob o olhar da ética para a formação da pós-graduação; 2) Subsidiar os profissionais em formação para a
prática em saúde a partir da visão humanizada; e 3) Estimular a reflexão contínua sobre ética em saúde.
4.3- Metodologia
A relação entre aprendizagem e emoção é um ingrediente que desafia. Através de histórias de vida
interpretadas nas sessões de filmes o processo educativo incorpora dinamicidade. Segundo Aristóteles (in
Blasco:2005), “a história de vida, (...) não é função da arte “contadora de histórias” ou narrativas o simples divertir ou
passatempo; mas sim provocar sentimentos - alegria, entusiasmo, aprovação, rechaço, condenação- que configuram o
“coração das gentes”. As emoções são facilitadoras de diálogo e de significação para o aprendizado centrado no
educando. A relação ensino-apredizagem através de filmes é uma metodologia utilizada que aborda “a função do
cinema como um recurso de educação em atitudes humanas, e tudo o que cada atitude encerra: valores, virtudes,
limitações, formas, enfim, o espectro amplíssimo dos modos de ser humano” (Blasco; 2005:124).
A linguagem cinematográfica que une emoção através de histórias de vida e os fundamentos da ética,
discutidos por profissionais e usuários com seus diversos saberes, são os ingredientes adotados pelo projeto
CINEMED.
Os filmes são projetados a cada última sexta-feira de cada mês, exceto mês de julho, somando 11 sessões
anuais. Os filmes são previamente escolhidos através de uma comissão que avalia as sugestões encaminhadas durante
o ano, elabora o calendário, indicando seus debatedores. Participam como debatedores docentes, técnicos,
residentes, internos, representantes do Conselho Regional de Medicina –PA, ONG’S e instituições parceiras como a
Secretaria Estadual de Educação – SEDUC. São preparadas sinopses dos filmes e divulgadas com objetivo de preparar
os participantes para as sessões.
Como parte da avaliação da disciplina os alunos da pós-graduação elaboram relatório semestral abordando
um dos filmes, com análise sob o ângulo da ética em saúde.
Este ano com o objetivo de ampliar a participação no debate, a metodologia inclui a técnica de discussão em
grupo pelos alunos do internato e da residência médica, após as sessões dos filmes. A discussão em grupo foi
subsidiada pelo código de ética médica e temas abordados nos filmes.
Além da aplicação de técnicas de estudo, há registro das sessões através da gravação do debate que
posteriormente são transcritas para análise e registro. As transcrições são transformadas em possibilidades de
elaborar textos e artigos como memória, geração e disseminação de conhecimento.
O Projeto exibiu filmes abordando temas como relação profissional-paciente; saúde e ambiente; aborto;
eutanásia; reforma sanitária/saúde pública no Brasil; relação educador-educando; indústria farmacêutica; e a religião
e o processo saúde-doença.
5-CONSIDERAÇÕES FINAIS
A extensão universitária como processo educativo de troca de saberes, a partir de experiências cotidianas, é
experimentada neste Projeto por meio de histórias de vida selecionadas por cineastas, envolvendo temas da área da
saúde em contextos sócio-culturais. A ética em saúde como referência para a análise das situações, envolvendo
estudantes de pós-graduação e graduação busca contribuir para a formação de profissionais de saúde.
O problema de desconhecimento dos direitos humanos e conseqüentemente a sua inaplicabilidade pelos
profissionais de saúde, principalmente, os médicos, anuncia um descompasso entre as conquistas democráticas no
nosso país (Constituição Federal de 1988) e a formação de recursos humanos em saúde. O processo de formação
requer tempo e iniciativas inovadoras como mecanismos de ativação de mudanças na concepção dos atores
envolvidos com o binômio ensino-serviço, no caso das unidades de saúde envolvidas com educação e saúde.
539
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
O Projeto CINEMED: o estudo da ética em saúde através da linguagem cinematográfica participa do processo
educacional da pós-graduação no Hospital Universitário João de Barros Barreto – HUJBB, e se auto-identifica como
proposta metodológica diferenciada aplicada aos ensinamentos sobre bioética e ética.
Apresenta como resultado a participação dos estudantes como protagonista do processo de ensino, a medida
que sua vivências no contexto do trabalho são tomadas como referência para o estudo e análise de direitos humanos
na área da saúde.
REFERÊNCIAS
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os Estudantes de Medicina: um Recurso Afetivo/ Efetivo na Educação Humanística. Revista Brasileira de Educação
Médica. Diversos autores. 2005.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 4/2001. Diário Oficial da
União, Brasília, 9 de novembro de 2001.
CORDIOLLI, Marcos. Para entender os PCNs: os temas transversais. Curitiba: Módulo, 1999.
MORIN, Edgar. Os sete saberes para educação do futuro. – Brasília, UNESCO: 2000.
MORIN, Edgar. O Método 6: ética. – Porto Alegre: Sulina, 2005.
MUÑOZ, Daniele; MUÑOZ, Daniel R.. Artigo: “O Ensino da Ética nas Faculdades de Medicina do Brasil” –. Revista
Brasileira de Educação Médica. Diversos autores. 2003.
NOGUEIRA, Maria das Dores Pimentel (org). Extensão Universitária: diretrizes conceituais e políticas. Documentos
básicos do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras 1987-2000.UFMG. Belo
Horizonte, 2000.
OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. Filosofia da Educação; reflexos e debates. Belém: UNAMA, 2001.
Resolução CFM nº 1.246, de 8 de janeiro de 1988. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 26 jan. 1988.
Seção 1, p. 1574-7.
Lei N° 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases para Educação. 20 de dezembro de 1996.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ESTUDO SOBRE EXAME CITOLÓGICO PREVENTIVO DA DESCARGA PAPILAR DA MAMA,
REALIZADO NO LABORATÓRIO DE CITOPATOLOGIA
Aline Holanda Sousa (Bolsista)
Mihoko Yamamoto Tsutsumi (Coordenadora)
RESUMO: O objetivo desse estudo foi contribuir para o diagnóstico citológico preventivo das mamas por meio da utilização de 2 das
formas mais eficazes para a detecção precoce deste tipo de câncer que é o exame clínico e a coleta da descarga papilar da
mama,(DPM) saída de secreção através da papila mamária. Além disso, também houve a pretensão de ensinar a técnica do autoexame, estimular sua realização mensal, bem como sugerir melhor investigação dos casos que apresentaram resultados citológicos
com características atípicas. No período compreendido entre janeiro de 2004 a setembro de 2007, 247 mulheres foram atendidas
no Laboratório de Citopatologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará. Das 247 mulheres atendidas
no Laboratório de Citopatologia, 34% apresentaram descarga papilar da mama. Entre as mulheres que apresentaram um resultado
citológico com algum tipo de alteração, constatamos que a faixa etária que apresentou o maior número de casos (50%) foi a entre
15 e 25 anos. Em relação ao aspecto destas secreções, dentre as que foram informadas, houve um número relativamente maior do
aspecto transparente (29%). A partir dos resultados foi possível concluir que a coleta e a análise da descarga papilar da mama têm
contribuído como método diagnóstico de primeira triagem, para a detecção das alterações citológicas da mama; e que as idades
inferiores a 35 anos também estão sendo acometidas.
Palavras-chave: Câncer da mama; descarga papilar da mama; exame citológico da mama.
INTRODUÇÃO
O câncer de mama é provavelmente o tipo mais temido pelas mulheres devido à sua alta freqüência e
sobretudo e aos seus efeitos psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal,
resultando em baixa qualidade de vida. Ele é relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima desta faixa
etária sua incidência cresce rápida e progressivamente1.
Esse tipo de câncer representa uma das principais causas de morte em mulheres nos países ocidentais e,
segundo as estatísticas, tem havido aumento de sua freqüência tantos nos países desenvolvidos quanto nos países em
desenvolvimento. A Organização Mundial de Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70, registrou um aumento de 10 vezes
nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes1.
No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. Na Estimativa de Incidência de
Câncer no Brasil para 2006 esperava-se que ele fosse o segundo mais incidente, com 48.930 casos, sendo cerca de 540
novos casos detectados no estado do Pará e 350 em Belém. A razão para a alta incidência de mortes é que,
infelizmente, um grande número de caso é detectado em um estágio já bem avançado2. Quando o câncer é detectado
nos seus estágios iniciais, existe chance de cura, com uma sobrevida média de 5 anos em 97% dos casos3.
A mama é constituída por pele, gordura, tecido conjuntivo e glândula. Todas essas estruturas podem ser
acometidas por tumores, sejam eles benignos ou malignos. Os tumores benignos são um problema comum, e podem
aparecer logo que a mama alcance seu total desenvolvimento. O papiloma é o mais freqüente4.
Tendo em vista que o câncer de mama é uma afecção que pode causar alterações físicas, sociais e
emocionais; necessitar de um tratamento invasivo e muitas vezes mutilante, como a mastectomia; e levar ao óbito, se
faz necessário a realização de exames que visem a prevenção e a manutenção da qualidade de vida das mulheres5,6.
Assim, com esse estudo pretende-se contribuir para o diagnóstico citológico preventivo das mamas por meio
da utilização de 2 das formas mais eficazes para a detecção precoce deste tipo de câncer que é o exame clínico e a
coleta da descarga papilar da mama,(DPM) saída de secreção através da papila mamária7,8. Além disso, também há a
pretensão de ensinar a técnica do auto-exame, estimular sua realização mensal, bem como sugerir melhor
investigação dos casos que apresentarem resultados citológicos com características atípicas.
METODOLOGIA
A amostra
A população-alvo deste estudo foi composta por universitárias, funcionárias e mulheres que residiam nas
proximidades da Universidade Federal do Pará ou possuíam parentesco com professores, estudantes e/ou
funcionárias.
541
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
No período compreendido entre janeiro de 2004 a setembro de 2007, 247 mulheres foram atendidas no
Laboratório de Citopatologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará. Todas as pacientes
preencheram um questionário contendo perguntas sobre a idade, escolaridade, amamentação, histórico familiar,
hábitos alimentares, etc, e seguiram para o exame clínico das mamas. Dados clínicos como lateralidade e
características do derrame papilar também foram obtidos.
Apenas 85 mulheres entraram no estudo visto que o critério de seleção era a presença de DPM. Essas
mulheres além de preencherem um questionário, também passaram pelo exame clínico das mamas que foi
complementado com a coleta da DPM.
Coleta do Material
Todas as pacientes foram submetidas ao toque mamário e tiveram seus mamilos pressionados com o intuito
de verificar a existência de secreção papilar. Aquelas que apresentaram secreção tiveram suas amostras espalhadas
em lâminas de vidro para a confecção do esfregaço (Figura 1). Em seguida o material foi fixado em álcool 95% para,
posteriormente, ser corado pelo método de Papanicolaou.
Figura 1. Coleta da descarga papilar e lâmina com o esfregaço.
Classificação 4
Os derrames foram classificados, do ponto de vista macroscópico, em turvos, transparentes e leitosos. Já os
resultados citológicos foram agrupados em graus citológicos para um melhor entendimento, são eles:
Sem alterações para esfregaços compostos de apenas fundo proteináceo e/ ou componentes celulares
normais de descarga papilar como células espumosas, células epiteliais ductais e células escamosas (todos sem
alterações morfológicas e patológicas).
Inflamatório para esfregaços com quantidade aumentada de leucócitos; células espumosas e macrófagos
com alterações morfológicas como bi e multinucleação; e ectasia ductal mamária.
Hiperplasia sem atipia para esfregaços com grupamentos raros ou freqüentes de células epiteliais ductais
hiperplásicas, porém sem alterações morfopatológicas; grupamentos não coesos e presença de protusões
citoplasmáticas, cujos núcleos celulares apresentaram-se hipercromáticos, porém iguais em tamanho e forma.
Hiperplasia com atipia para esfregaços com células epiteliais ductais em grupamento médio, apresentando
núcleos salientes com arranjos levemente distorcidos; número aumentado de células do sistema imune e células
espumosas multinucleadas; hipercromasia dos núcleos e espaços vazios de cromatina e aumento de nucléolos.
Lesão papilar para esfregaços com grupamentos densos e coesos de células glandulares, especialmente
ductais; restos celulares no fundo do esfregaço.
RESULTADOS
Das 247 mulheres atendidas no Laboratório de Citopatologia, 34% (85 mulheres) apresentaram descarga
papilar da mama, requisito indispensável para a inclusão no estudo (Figura 2).
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Percentual de mulheres que apresentaram ou
não descarga papilar da mama
34%
Com descarga
Sem descarga
66%
Figura 2
Quanto ao resultado citológico, das 85 mulheres que apresentaram DPM, 71,8% (61 casos) apresentaram
esfregaços sem alterações; 3,5% (3 casos) esfregaços inflamatórios; 8,3% (7casos) esfregaços hiperplásicos sem
atipias; 3,5% (3 casos) esfregaços hiperplásicos com atipias e 12,9% (11 casos) esfregaços com lesão papilar (Figura 3).
Resultado Citológico (%)
71%
Sem alterações
Inflamatório
Hiperplásico sem atipia
4%
13%
4%
8%
Hiperplásico com atipia
Lesão papilar
Figura 3
Entre as mulheres que apresentaram um resultado citológico com algum tipo de alteração, (29% ou 24
mulheres) constatamos que a faixa etária que apresentou o maior número de casos (50%) foi a entre 15 e 25 anos,
faixa etária que realizou o maior número de exames. E na faixa etária composta por mulheres com 59 anos ou mais
não foi observado nenhum caso (Figura 4).
Faixa etária das mulheres com alteração na DPM
60
50
%
40
30
20
10
0
15-25
26-36
37-47
48-58
Faixa e tária
Figura 4
543
> 59
Não
informou
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Quanto à lateralidade das descargas alteradas, 58,3% das mulheres apresentaram secreção nas mamas
direita e esquerda e, 41,7% apenas em uma, direita ou esquerda (Figura 5).
Lateralidade das DPM fora da normalidade
60
50
40
58,3
% 30
41,7
20
10
0
Unilateral
Bilateral
Lateralidade
Figura 5
Em relação ao aspecto destas secreções, dentre as que foram informadas, houve um número relativamente
maior do aspecto transparente (29%). Nenhuma das mulheres atendidas relatou ter apresentado secreção com
aspecto sanguinolento (Figura 6).
Aspecto das secreções com alterações
25%
29%
Turva
Transparente
Leitosa
Não informou
17%
29%
Figura 6
Dentre as variáveis associadas ao câncer de mama que existem, foram escolhidas apenas duas, a história
familiar, que diz respeito à presença de casos de câncer de mama na família, e a amamentação. Quanto ao histórico
familiar, 12,5% afirmaram já ter ocorrido caso(s) de câncer de mama na familiar e quanto à amamentação, 16,7%
revelaram nunca terem amamentado (Figura 7).
Presença de variáveis associadas ao câncer de
mama
20
15
% 10
12,5
16,7
5
0
Amamentação
Histórico familiar
Variáveis
Figura 7
544
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DISCUSSÃO
A citologia da descarga papilar da mama é um exame de triagem que deve ser realizado quando houver
descarga papilar espontânea, sobretudo na faixa etária em que se observa uma maior incidência que é acima dos 35
anos 6,7. No entanto, como se trata de um exame de primeira triagem deve ser correlacionado com outros métodos
diagnósticos como o histopatológico.
Foram atendidas um total de 247 mulheres das quais 85 (34%) apresentaram descarga papilar da mama.
Destas o maior percentual (71%) correspondeu a resultados sem alterações citológicas. ANDREA et al, 2006, em seu
trabalho sobre citologia do derrame papilar, também encontrou um percentual bastante elevado de casos negativos
para malignidade. Os casos de malignidade (lesão papilar) tiveram um percentual de 13%, valor superior ao
encontrado por ANDREA et al, 2006, que foi de 0,9%.
Neste estudo o maior número de secreções, tanto sem alterações quanto com alterações, deu-se na faixaetária de 15 a 25 anos. No estudo realizado por ANDREA et al, 2006 foi observado que a faixa etária como o maior
número de casos correspondeu a de 30 a 39 anos, como preconiza o Instituto Nacional do Câncer (INCA), que a
incidência aumenta a partir dos 35 anos1. Essa diferença pode ter ocorrido devido a população-alvo, que abrange
muitas estudantes tanto da própria universidade quanto de outras instituições.
Com relação à lateralidade das descargas, foi observado um número um pouco maior de descargas bilaterais.
E quanto ao aspecto das secreções, o maior número (29%) foi com aspecto transparente. SPRENGEL et al,1989 em seu
trabalho observou maior número de descarga serosa (32,86%). Esses achados são importantes porque quando as
descargas são serosas, serossanguíneas, sanguíneas e aquosas, ocorrem em um único lado e são provenientes de um
único ducto há um aumento da incidência de câncer. Nestes casos elas estão associadas à presença de nódulos e
citologia com células malignas9.
Quanto às variáveis amamentação e histórico familiar, elas representaram 16,7% e 12,5% respectivamente.
Com relação ao histórico familiar, acredita-se que sua participação possa estar relacionada a fatores genéticos, como
mutações dos genes BRCA1/2, que são genes produtores de proteínas que têm a função de regular o mecanismo de
multiplicação celular, são genes supressores de tumores. As mutações prejudicam essa regulação e os genes mutantes
podem ser transmitidos hereditariamente6. Já quanto à amamentação, acredita-se que o aleitamento materno possa
ser responsável por 2/3 da redução estimada para o câncer e que quanto mais ele for prolongado, menor o risco
relativo de desenvolver câncer 10.
CONCLUSÃO
Com este estudo foi possível concluir que a coleta e a análise da descarga papilar da mama têm contribuído
como método diagnóstico de primeira triagem, para a detecção das alterações citológicas da mama, visando um
tratamento adequado com o objetivo final de aumentar a qualidade de vida das pacientes.
Também concluímos que as idades inferiores a 35 anos, que é o limite a partir do qual o câncer de mama
torna-se mais incidente segundo o INCA, estão sendo acometidas, uma vez que 50% das mulheres estudadas, entre 15
e 25 anos, apresentaram algum tipo de alteração da mama.
REFERÊNCIAS
Disponível em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=336
Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2006/index.asp?link=tabelaestados.asp&UF=PA
Disponível em: http://andre.sasse.com/mama.htm
LOPES, Ana Sophia da Costa. Perfil do Resultado do Exame Citológico da Descarga Papilar da Mama Realizado no
Laboratório de Citopatologia do CCB da UFPA no Período de Dezembro de 2004 à Janeiro de 2006.
Disponível em: www.inca.gov.br/rbc/n_52/v02/pdf/artigo1.pdf
PINHO, Valéria Fernandes de Souza; COUTINHO, Evandro Silva Freire. Variáveis associadas ao câncer de mama em
usuárias de unidades básicas de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 5, 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2007000500008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:
17 Out 2007
545
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ANDREA, Carlos Eduardo de et al. Cytology of nipple discharge. J. Bras. Patol. Med. Lab., Rio de Janeiro, v. 42, n.
5, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442006000500007
&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 Oct 2007
MONTEIRO, Ana Paula de Sousa et al. Auto-exame das mamas: freqüência do conhecimento, prática e fatores
associados. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, v. 25, n. 3, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032003000300009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 17 Out 2007
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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000700005&lng=en
&nrm=iso>. Acesso em: 18 Oct 2007.
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MULTICAMPISAÚDE BREVES-PA:
A INTERDISCIPLINARIDADE NA ATENÇÃO BÁSICA
Amaury Braga Dantas (Coordenador)1
Helem Rose Jastes Alves2
Adriana Pantoja Quintanilha3
Daniela Maria Raulino da Silveira4
Carla Malvina Bahia5
Liliane da Silva Côrrea6
RESUMO: Introdução. Trabalhar a saúde é trabalhar com gente. O alvo do atendimento em saúde é o bem estar do cidadão e sua
qualidade de vida. Mais importante até que o resultado final é a atenção, a dedicação e o cuidado que os profissionais devem
dedicar ao cidadão. Objetivo. Desenvolver ações de prevenção, promoção, recuperação e reabilitação da Saúde, tanto em nível
individual quanto coletivo. Metodologia. Foi realizado um estudo no município de Breves-PA com os diversos grupos da área de
saúde atuando em conjunto, para promover o bem estar da população. O estudo foi baseado na coleta de dados da atenção básica
em saúde, bem como na resolução de seus problemas, promovendo, assim a interdisciplinaridade. Considerações finais. Em relação
às doenças de notificação compulsória foram notificados 691 casos. Desses, foram descartados, 8 casos de dengue; 2 de cólera; 1
de doenças exantemáticas e 3 de leptospirose. Entre os casos notificados foram confirmados 197 casos de acidente por animais
peçonhentos; 9 notificações de febre tifóide, sendo somente 5 casos confirmados; 51 notificações de hanseníase, com 47
confirmados; 35 notificações de hepatite viral, com 23 confirmados; 6 de leishmaniose tegumentar confirmados; 3 notificações de
meningite, sendo 1 confirmado; 1 caso de tétano acidental confirmado; 33 notificações de tuberculose, sendo 23 confirmados.
Apesar de as epidemias e/ou surtos estarem controladas neste município nos últimos 2 anos, houve um surto de febre tifóide, em
que foram notificados aproximadamente 30 casos confirmados.Em relação a taxa de mortalidade neste município, tivemos 274%,
em que 62% correspondeu a mortalidade perinatal, 14% a taxa de mortalidade infantil, 29% taxa de neonatal precoce, 11% taxa de
neonatal tardia, 4% razão de morte materna, 4% mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores de 5 anos,
12% maiores de 60 anos e 52% a proporção de óbitos sem assistência médica.
Palavras-chave: Atenção básica; interdisciplinaridade; humanização.
INTRODUÇÃO
Do ponto de vista do Planejamento Estratégico da UFPA, que se organiza através, do Plano de
Desenvolvimento UFPA 2001-2010, elegeram-se sete eixos estruturantes: Universidade Multicampi; Integração com a
Sociedade; Reestruturação do Modelo de Ensino; Pesquisa e Desenvolvimento Amazônico; Valorização dos Recursos
Humanos; Ambiente Adequado e Modernização da Gestão. Tais eixos expressam tanto uma visão de universidade e
realidade, como uma filosofia de gestão, com proposta de transversalidade em todas as ações institucionais. Além do
caráter transversal, compreendem também a interdisciplinaridade e a flexibilização entre as diversas áreas do
conhecimento.
Integrar significa, do ponto de vista geográfico, facilitar o acesso para que a resolutividade dos problemas
seja possível. Significa, ainda, criar condições para que buscando a possibilidade de diálogo e, portanto, de
comunicação, se estabeleça a troca de saberes e de conhecimentos. Significa também o entendimento de que cada
profissional é importante, ainda que se respeitem as atribuições específicas para a constituição de equipes inter e
multidisciplinares. A integração de Ensino e Assistência deverá facilitar o acesso da comunidade.
Trabalhar a saúde é trabalhar com gente. Há, pois, que se buscar empatia e criar laços afetivos, subjetivos,
que permitam e facilitem a atuação dos profissionais de saúde. O alvo do atendimento em saúde é o bem estar do
cidadão e sua qualidade de vida. Porém, nunca será demais repetir que a relação entre o profissional de saúde e o
cidadão fundamenta-se em compromissos de meios e não de fins. Mais importante até que o resultado final é a
atenção, a dedicação e o cuidado que os profissionais devem dedicar ao cidadão, à pessoa humana.
A própria legislação provoca o entendimento de que saúde é conseqüência de causas multifatoriais, na
verdade conseqüência da educação, do saneamento, do transporte, do emprego, da moradia, do lazer e da cultura. O
1
Coordenador do Programa Multicampisaúde, com Mestrado na área.
Graduanda do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA).
3
Graduanda do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA).
4
Graduanda do Curso de Medicina UFPA
5
Enfermeira Chefe do Hospital Municipal de Breves – PA e coordenadora do Programa Multicampi Saúde no referido município.
6
Enfermeira responsável pelo Programa Saúde da Família de Breves.
2
547
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
SUS – Sistema Único de Saúde – fundamentado na Constituição Federal e na Lei Orgânica da Saúde, estabelece
princípios de universalidade, integralidade, eqüidade, preconizando diretrizes de descentralização, atendimento
integral e participação do controle social, com redes de atenção hierarquizadas e fluxos de referência e contrareferência.
O SUS tem assumido um papel ativo na reorientação das estratégias e dos modos de cuidar, tratar e
acompanhar a saúde individual e coletiva, e tem sido capaz de provocar importantes repercussões nas estratégias e
modos de ensinar e aprender.
Os processos educativos não podem tomar como referência apenas a busca eficiente de evidências para
diagnóstico, cuidado, tratamento, prognóstico, etiologia e profilaxia das doenças e agravos, mas devem dar atenção
também à busca de condições de atendimento às necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão
setorial e do controle social em saúde. A atualização técnico-científica é apenas um dos aspectos da qualificação das
práticas. A formação, porém, deve englobar também aspectos da produção de subjetividades, produção de reflexão
crítica, de habilidades técnicas e o adequado conhecimento do SUS.
Atenção Básica é um conjunto de ações de saúde que engloba a promoção, prevenção, diagnóstico,
prestação do cuidado (tratamento e reabilitação) desenvolvidos através do exercício de práticas gerenciais,
democráticas e participativas, e sanitárias pautadas numa abordagem transdisciplinar, sob a forma de trabalho em
equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, das quais assumem responsabilidade, utilizando
tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver a maioria dos problemas de saúde.
OBJETIVOS
•
•
•
Promover a melhoria e a modernização da gestão acadêmica e administrativa e da infra-estrutura dos Campi;
Estabelecer novas relações institucionais;
Desenvolver ações de proteção (prevenção, promoção, recuperação e reabilitação) da Saúde tanto em nível
individual quanto coletivo, assegurando que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as
equipes multidisciplinares e procurar soluções, realizando serviços dentro dos mais altos padrões de
qualidade e dos princípios da ética, tendo em conta que a responsabilidade do cuidado não se encerra com o
ato técnico, mas com a resolução do problema, tanto em nível individual como coletivo.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo no município de Breves com os diversos grupos da área de saúde atuando em
conjunto, para promover o bem estar da população, bem como tentar diminuir seus problemas de cunho social. O
grupo era composto por estudantes das áreas de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Farmácia e Nutrição, bem
como por seus respectivos profissionais qualificados.
O estudo foi baseado na coleta de dados da atenção básica em saúde, bem como na resolução de seus
problemas, promovendo, assim a interdisciplinaridade.
LIMITAÇÕES E PROPOSIÇÕES
São desafios para a implantação de educação permanente: promover a articulação entre os vários atores
envolvidos com as ações de educação em saúde; pactuar estratégias para a implementação das ações; identificar
novos parceiros, de forma a facilitar a integração e a troca de experiências entre eles; contribuir para a ampliação das
relações entre os processos educativos dos trabalhadores da saúde; fomentar a gestão setorial, o desenvolvimento
institucional e o controle social da saúde.
548
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
RESULTADOS
TABELA 1 - Notificação de Doenças Sexualmente Transmissíveis no Município de Breves no ano de 2006.
DIAGNÓSTICO
N° DE CASOS
Sífilis em Adultos
316
Condiloma Acuminado
127
Candidíase
1574
Tricomoníase
151
Vaginose Bacteriana
427
Outras Vaginoses
47
FONTE: SISCOLO/DAB/SEMSA
TABELA 2 – Assistência de acordo com o sexo no Município de Breves no ano de 2006.
SEXO
%
Feminino
67
Masculino
33
FONTE: HIPERDIA/DAB/SEMSA
TABELA 3 – Patologias detectadas nas Unidades de Saúde do Município de Breves no ano de 2006.
DIABÉTICO +
HIPERTENSO
TOTAL
13
103
135
11
29
133
173
Unidade de Saúde Castanheira
08
24
120
152
Unidade de Saúde Santa Cruz
09
29
75
113
Unidade de Saúde Aeroporto
-
16
56
72
Unidade de Saúde Bandeirantes
11
15
70
96
TOTAL
58
126
557
741
UNIDADE PRESTADORA DE SERVIÇO
DIABÉTICO
Hospital Municipal
19
Unidade de Saúde Cidade Nova
HIPERTENSO
FONTE: HIPERDIA/DAB/SEMSA
TABELA 04 - Doenças transmitidas por vetores Município de Breves no ano de 2006.
Doenças
2003
2004
2005
Malaria vivax
1139
1471
3958
549
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Malaria falciparum
533
469
636
Leishmaniose tegumentar
53
30
16
Dengue
28
19
28
TABELA 05 - Incidência de TB/MH/meningite/coqueluche/febre tifóide/hepatites virais Município de Breves.
Doença
2003
2004
2005
Tuberculose
40
43
50
Hanseníase
49
37
66
Meningite
07
04
02
Coqueluche
-
-
02
Febre tifóide
-
-
09
Hepatite
-
-
77
TABELA 06- N° de animais peçonhentos e anti-rábicos Município de Breves.
Agravos
2003
2004
2005
Animais peçonhentos
145
153
166
Atendimento anti- rábica
130
474
307
TABELA 07 - Diagnóstico do setor de saúde e análise dos indicadores de 2005 Causa e freqüência de óbito Município de Breves.
Causa de óbitos
TOTAL
Mal definido
99
Sem assistência medica
82
AVC
17
IAM
08
Morte materna
02
Hipoxia intra-uterina
26
Pneumonias
13
septicemia
11
Doenças infectos intestinais
08
Prematuridade
01
550
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
tuberculose
04
Morte fetal não especifica
28
Neoplasia maligna
05
total
318
TABELA 08 - Óbito por faixa etária Município de Breves no ano de 2006.
Menor de 1 ano
39
1-4 anos
16
5- 9 anos
08
10- 14 anos
01
15-19 anos
13
20-49 anos
49
50 ou mais
157
ignorado
00
total
282
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação as incidência e prevalência de doenças de notificação compulsória foram notificados 691 casos.
Entre os casos notificados foram descartados, pois deram negativos os exames realizados: 8 casos de dengue; 2 de
cólera; 1 de doenças exantemáticas e 3 de leptospirose. Entre os casos notificados foram confirmados 197 casos de
acidente por animais peçonhentos; 9 notificações de febre tifóide, sendo que somente 5 casos foram confirmados; 51
notificações de hanseníase, com 47 confirmados; 35 notificações de hepatite viral, em que 23 foram confirmados; 6
de leishmaniose tegumentar confirmados; 3 notificações de meningite, sendo 1 caso confirmado; 1 caso de tétano
acidental confirmado; 33 notificações de tuberculose, sendo 23 confirmados.
Apesar de as epidemias e/ou surtos estarem controladas neste município nos últimos 2 anos, houve um surto
de febre tifóide, em que foram notificados aproximadamente 30 casos confirmados.
Em relação a taxa de mortalidade neste município, tivemos 274%, em que 62% correspondeu a mortalidade
perinatal, 14% a taxa de mortalidade infantil, 29% taxa de neonatal precoce, 11% taxa de neonatal tardia, 4% razão de
morte materna, 4% mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores de 5 anos, 12% maiores de
60 anos e 52% a proporção de óbitos sem assistência médica.
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551
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
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1. ed. Brasília, 2006.
552
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
INVESTIGAÇÃO DE FENILCETONÚRIA EM PACIENTES COM DEFICIÊNCIA MENTAL
NA POPULAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ
Naiara Monteiro Parente Alves
Carla Cristiane Soares da Silva
Carlos Eduardo de Melo Amaral
Roseani da Silva Andrade
Luiz Carlos Santana da Silva
RESUMO: A deficiência mental é um dos transtornos neuropsiquiátricos mais comuns em crianças e adolescentes. As causas da
deficiência mental podem ser genéticas, ambientais, congênitas ou adquiridas. Diversas doenças genéticas estão associadas a
alterações do desenvolvimento normal. Algumas síndromes determinam além de um atraso global no desenvolvimento, um
comprometimento mais acentuado em alguma área específica, como na linguagem ou motor. Vários estudos mostram que 1 a 3%
dos pacientes de instituições para deficientes mentais possuem Fenilcetonúria (PKU). É importante ressaltar que muitos pacientes
com deficiência mental não têm diagnóstico definido sobre sua causa. O diagnóstico de pacientes com Fenilcetonúria nestas
populações possibilitaria a identificação de grupos de risco, contribuindo para a introdução de medidas terapêuticas específicas.
Considerando que a Triagem Neonatal só começou efetivamente a funcionar no Brasil a partir de 2001, que uma parte da
população paraense adulta apresenta algum grau de deficiência mental de causa desconhecida e que a PKU é um dos erros inatos
do metabolismo mais freqüentes e na ausência de tratamento causa transtornos irreversíveis ao sistema nervoso central, este
trabalho teve como principal propósito investigar a PKU em pacientes com deficiência mental de causa desconhecida na APAE-Pa.
Foram realizadas palestras sobre a PKU nesta instituição. Posteriormente, foram coletadas amostras de sangue de 33 indivíduos
para a dosagem dos aminoácidos Fenilalanina (Phe) e Tirosina (Tyr). O diagnóstico da PKU é dado por um aumento do aminoácido
Phe, resultando em um decréscimo de Tyr. Os primeiros resultados nos pacientes matriculados na APAE-Pa apontaram para a
normalidade das concentrações de Phe e Tyr, portanto não indicando a presença de PKU.
Palavras-chave: Deficiência mental; fenilcetonúria; doenças metabólicas.
INTRODUÇÃO
As Doenças Metabólicas Hereditárias (DMH), também conhecidas como Erros Inatos do Metabolismo (EIM),
são distúrbios hereditários transmitidos, na sua quase totalidade, de maneira autossômica recessiva. Individualmente
são doenças raras, mas em seu conjunto (mais de 500 distúrbios) atingem pelo menos 1 para 1000 nascimentos
(Scriver et al., 2001).
Os EIM podem ser divididos em dois grandes grupos, o das moléculas pequenas (aminoacidopatias,
acidemias orgânicas, intolerância a acúcares, etc.) e o das moléculas complexas (doenças lisossômicas de depósito,
peroxissomais, etc.). Nos EIM de moléculas grandes, os sintomas são permanentes, progressivos, independentes da
ocorrência de infecções, jejum, cirurgias ou outras situações com catabolismo acelerado e não estão relacionados com
a ingestão alimentar. Os pacientes afetados por defeitos do metabolismo das moléculas pequenas apresentam
sintomas de intoxicação e/ou de deficiência de energia. A intoxicação se deve ao acúmulo dos metabólitos proximais
ao defeito metabólico e se caracterizam clinicamente por um período assintomático seguidos por sintomas de
intoxicação aguda (vômitos, coma, insuficiência hepática, convulsões, distúrbios respiratórios, etc.) ou de deficiência
energética (atraso no desenvolvimento físico e psicomotor, hipotonia generalizada, cardiomiopatia, acidemia lática,
hipoglicemia, morte súbita na infância, malformações, etc). (Waner, et al., 2001)
Dentro das DMH de Moléculas Pequenas encontra-se o grupo das Aminoacidopatias, as quais são causadas
por defeitos genéticos que repercutem na degradação, síntese ou no transporte de aminoácidos dos indivíduos
afetados, o que pode levar ao acúmulo de compostos intermediários tóxicos a vários tecidos do organismo, como por
exemplo, o tecido nervoso. Essas doenças quando não diagnosticadas e tratadas precocemente causam seqüelas
graves, incluindo nestas, a deficiência mental.
A Aminoacidopatia mais conhecida é a Fenilcetonúria (PKU), doença na qual a quantidade do aminoácido
fenilalanina (Phe) no sangue está aumentada. Esta foi a primeira doença relacionada a distúrbios no metabolismo
relatada como causadora de atraso no desenvolvimento neurológico.
É importante ressaltar que muitos pacientes com deficiência mental, cerca de 80%, não tem diagnóstico
definido sobre sua causa, e o diagnóstico de pacientes com EIM (neste projeto, mais especificamente a PKU) nestas
populações, possibilita a identificação de grupos de familiares em risco, assim como contribui para a introdução de
medidas terapêuticas específicas e que conseqüentemente proporcionem uma melhora da qualidade de vida do
paciente e de seus familiares.
553
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Os principais objetivos deste trabalho foram:
1. Investigar se a PKU pode ser a causa etiológica (doença de base) da deficiência mental de causa
desconhecida entre os alunos matriculados na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do
Estado do Pará (APAE-PA);
2. Encaminhamento dos possíveis pacientes a serviço médicos e nutricionais especializados.
Para a realização do trabalho foram adotadas as seguintes atividades:
1. Realização de Palestras Informativas na APAE-PA;
2. Coletas de sangue;
3. Dosagem dos aminoácidos Fenilalanina (Phe) e Tirosina (Tyr).
2.3 DESENVOLVIMENTO
Atividades realizadas durante o projeto:
1.
Realização de Palestras Informativas na APAE.
Estas palestras visaram principalmente orientar com uma linguagem acessível os pais de alunos da Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) da cidade de Belém sobre os EIM, suas causas e conseqüências e a
importância de seu diagnóstico. Também durante as palestras os pais foram convidados a participar do projeto e
aqueles que demonstraram interesse preencheram uma lista com alguns dados necessários para participar do
presente estudo.
2.
Coletas de sangue.
Após as palestras, foi feito contato com os pais e posteriormente, de acordo com a disponibilidade deles,
foram marcados os dias em que ocorreria a coleta de sangue dos seus filhos. No dia da coleta de sangue os pais
preencheram uma ficha clínica (anexo 1) com dados relevantes para o inicio da investigação de um EIM. Esta ficha
continha dados como: identificação, histórico familiar de possíveis doenças relacionadas a EIM, medicamentos em
uso, entre outros. Além dessa ficha, os pais assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 2) no
qual consta sua aprovação na participação de seu filho neste projeto.
3.
Dosagem de Phe e Tyr.
Estas dosagens podem ser realizadas no soro e no plasma e são procedimentos quantitativos, pois medem a
quantidade destes aminoácidos no sangue. Quantidades acima do padrão de normalidade para o aminoácido Phe (até
4,0mg/dL) são indicativas de PKU.
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As dosagens da quantidade do aminoácido Tyr apresentaram valores menores que 3mg/dL. As dosagens do
aminoácido Phe mostraram valores menores que 4mg/dL. Estes resultados podem ser observados na tabela 01 e
representados no gráfico 01.
Tabela 01. Níveis plasmáticos de Phe e Tyr encontrados em indivíduos com deficiência mental
de causa desconhecida matriculados na APAE-PA.
Dosagem de aminoácidos
Intervalo
Média
Desvio padrão
Fenilalanina
0,5 – 3,6
2,152
0,749
Tirosina
0,5 – 2,4
1,084
0,436
Níveis de Phe e Tyr expressos em mg/dL
554
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Níveis plasm áticos de Fenilalanina e Tirosina
em pacientes com Deficiência Mental
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
Fenilalanina
Tirosina
Gráfico 01: Dosagem plasmática de Phe e Tyr em pacientes com Deficiência Mental.
Dados mostrados como Média ± Desvio Padrão.
Mediante os resultados obtidos, foi possível relatar que nenhum dos indivíduos testados até agora apresenta
PKU como causa etiológica de sua deficiência mental. Como o tamanho da amostra é ainda relativamente pequeno,
estes resultados são os esperados já que a freqüência desta doença é de 1: 20000 nascidos vivos, aproximadamente.
Entretanto, vários estudos mostram que 1 a 3% dos pacientes de instituições para deficientes mentais
possuem PKU. Segundo um estudo feito no Irã a freqüência da PKU ficou em torno de 5,5% em pacientes com
deficiência mental de causa desconhecida.
Também é valido ressaltar que a bolsista selecionada para integrar a equipe do Laboratório de Erros Inatos
do Metabolismo (LEIM) recebeu as informações sobre as técnicas usadas na Triagem e Detecção de EIM. Desta forma,
contribuiu para a formação acadêmica, o treinamento técnico da bolsista e a aplicação dos serviços do LEIM na
Investigação de doenças metabólicas hereditárias (DMH) na população do Estado do Pará.
2.5 BIBLIOGRAFIA
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
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2.6 ANEXOS
2.6.1 Ficha Clínica
1. Identificação
Nome:
Sexo:
Data de Nascimento:
Nome do pai:
Idade:
Profissão:
Escolaridade:
Nome da mãe:
Idade:
Profissão:
556
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Escolaridade:
2. Aspectos Familiares
Pais Consangüíneos: ____Sim ____ Não
Grau de consaguineidade:
Algum caso na família semelhante: ____Sim ____ Não
Como e quem:
3. Características Individuais
Realizou o teste do pezinho? ____Sim ____Não
Qual o resultado?
Qual o motivo (de ter realizado ou não)?
Toma alguma medicação? Qual?
Tem algum acompanhamento especial? Qual?
2.6.2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, _____________________________________________________ manifesto meu consentimento com
envolvimento do meu dependente no projeto de pesquisa intitulado:
INVESTIGAÇÃO DE HIPERFENILALANINEMIAS EM PACIENTES
COM DEFICIÊNCIA MENTAL DE CAUSA DESCONHECIDA
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
A natureza e objetivo do projeto de pesquisa foram explicados a mim. Eu compreendo e concordo
em participar.
Eu compreendo que meu dependente poderá não ter benefício direto por participar do estudo.
Eu entendo que os possíveis riscos e/ou efeitos adversos, desconfortos e inconveniências, foram
explicados a mim.
Eu compreendo que, apesar das informações obtidas no estudo poderem ser publicadas, elas serão
confidenciais e meu dependente não será identificado a partir delas.
Eu compreendo que posso retirar meu dependente do estudo em qualquer etapa e que isto não irá
afetar os cuidados médicos ou quaisquer outros aspectos da relação recebidos pelo meu
dependente.
Eu compreendo que não haverá pagamento para meu dependente por participar deste estudo.
Eu tive a oportunidade de discutir a participação de meu dependente neste projeto de pesquisa com
um membro da família ou amigo e/ou tive a oportunidade de ter um membro da família ou amigo
presente enquanto o pesquisador explicava o projeto de pesquisa.
Estou ciente de que devo guardar uma cópia do Termo de Consentimento, quando completo.
Eu concordo que o material (sangue) coletado de meu filho seja utilizado no projeto acima.
Assinatura:
Relação com Paciente:
Nome Completo do Paciente:
Data:
557
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
PERFIL DA CLIENTELA ATENDIDA PELO SERVIÇO DE TRIAGEM
EM CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA NA UFPA
Liege Aurora da Rocha Calvacante
RESUMO: O Programa investe no momento da triagem, que consiste na entrevista primeira dos pacientes inscritos, quando são
coletados dados relacionados às queixas e aos dados sócio-econômicos destes. Esse levantamento faz-se necessário, uma vez que a
partir da caracterização da clientela, serão realizadas reflexões a cerca da necessidade de modificação dos serviços já existentes, e a
criação de novas modalidades de atendimento, respeitando a demanda atual dos pacientes avaliados. Os resultados revelam que
os serviços oferecidos pela Clínica estão de acordo com a demanda apresentada pela população que busca atendimento na Clinica
Escola de Psicologia da UFPA.
Palavras-chave: triagem; avaliação; encaminhamento.
INTRODUÇÃO
A triagem é uma etapa importante do processo terapêutico, pois ela se configura no momento inicial, quando
o cliente chega na clínica, repleto de angustias, sofrimentos e tristezas, que estão relacionados com o motivo de sua
busca pelo serviço de Psicologia. Portanto o responsável pela triagem é dotado de grande poder e responsabilidade,
sendo extremamente necessário manter uma postura empática, acolhedora e ética, a fim de garantir a satisfação e
bem estar das pessoas que procuram esse tipo de ajuda.
A triagem nada mais é do que a entrevista inicial, sendo caracterizada por ”um conjunto de técnicas, de
investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos,
em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmico
(individuo, casal, família, rede social), em processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos, ou propor
algum tipo de intervenção em beneficio das pessoas entrevistadas” (TAVARES, 2000, p. 45). Apesar de não possuir
finalidade interventiva e terapêutica a entrevista inicial já representa um processo terapêutico intrínseco, pois ela se
constitui no inicio da construção de uma relação de ajuda. Assim é necessário que durante a entrevista o
entrevistador favoreça um espaço de acolhimento para a queixa e para o sofrimento psíquico, uma investigação dos
conflitos e dos sintomas e realização de orientação psicológica, ainda que breve, à pessoa atendida. As entrevistas
psicológicas são de natureza clínica, semi-diretivas, e estão baseadas em um roteiro elaborado para levantar dados de
identificação.
As queixas trazidas pelos clientes são o foco desta etapa. Todas as entrevistas realizadas são supervisionadas,
sendo as informações de cada usuário do Serviço de Triagem mantidas em prontuários que compõem um arquivo de
acesso restrito à equipe de trabalho. É solicitado aos usuários uma autorização para que seus dados possam ser
empregados em pesquisas, e garantido a eles sigilo quanto à sua identidade. Nas supervisões são realizadas as
análises especificas para cada caso, a fim de verificar qual o tipo de tratamento mais adequado, respeitando as
idiosincrasias de cada paciente. O objetivo geral dos atendimentos numa Clínica Escola de Psicologia é Prestar serviços
voltados à prevenção, manutenção e recuperação da saúde psicológica da população.
O presente estudo discute aspectos do processo de triagem de pacientes inscritos na Clínica-Escola da UFPA,
enfocando elementos relacionados à queixa e aos dados sócio-demográficos. Esse levantamento faz-se necessário,
uma vez que a partir da caracterização da clientela, serão realizadas reflexões a cerca da necessidade de modificação
dos serviços já existentes, e a criação de novas modalidades de atendimento, respeitando a demanda atual dos
pacientes avaliados.
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Realização de atendimento psicológico da população que busca ajuda na clínica-escola de psicologia da UFPA,
fazendo os encaminhamentos necessários, de acordo com a demanda de cada paciente.
Objetivos Específicos:
1- Identificar a queixa da cliente e avaliar se a mesma se constitui numa demanda psicológica.
2- Fazer os devidos encaminhamentos de pacientes com demandas de outra ordem para serviços
especializados.
558
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
3- Avaliar o perfil da população atendida na clínica escola da UFPA
4- Realização de reuniões semanais de estudo, planejamento e supervisão dos casos.
5- Reflexões em torno da estruturação do serviço, suas articulações com os serviços de saúde mental e da
rede publica.
6- Realizar um levantamento dos centros de referência de Saúde Mental na cidade de Belém/PA.
JUSTIFICATIVA
A clínica escola de Psicologia da Universidade Federal do Pará, tem por objetivo atender diretamente a
população, em especial de baixa renda, a fim de oferecer diversos tipos de atenção psicológica à mesma. Deste modo,
realiza diversas modalidades de atividades junto à comunidade, e portanto invoca o imenso aporte da Psicologia
Comunitária. Dentre os serviços oferecidos pela Clínica-Escola pode-se destacar a psicoterapia individual e de grupo,
avaliação e atendimento médico e psiquiátrico, avaliação e atendimento do serviço social. Eventualmente, há o
oferecimento de grupos de reflexão, grupo de pais e aplicação de testes psicológicos no contexto do atendimento
clínico. Dada a flexibilidade e variabilidade da população que procura a Clínica-Escola de Psicologia, é relevante a
constante avaliação dos serviços oferecidos, visando um aprimoramento dos mesmos, de modo que eles supram as
necessidades apresentadas pela clientela. Para tanto, os resultados desse tipo de trabalho apontarão o surgimento da
necessidade de serem configurados novos projetos nos quais se construam ferramentas de melhoria a saúde
psicológica das pessoas.
METODOLOGIA
Participantes:
Foram atendidos 31 pacientes na clínica-escola de psicologia, na faixa etária de 5 a 64 anos, no período de
março a junho de 2007, sendo que a triagem de quatro destes pacientes foram arquivados em virtude de não terem
comparecido mais de duas vezes quando contactados para iniciarem a psicoterapia. Portanto, a confecção deste
relatório baseia-se apenas em 27 pacientes atendidos. Destes, oito já estão em atendimento, e o restante estão em
espera. As avaliações apresentadas na sessão de resultados mostram o perfil dos 27 participantes. Vale ressaltar que
nessa amostra não estão incluídos pacientes atendidos por professores e técnicos, da Clínica.
Ambiente:
As entrevistas foram realizadas em salas da clínica-escola de psicologia, em dias e horários previamente
agendados pela secretária. A iluminação era feita com luz fluorescente e a refrigeração gerada pelo ar condicionado
da sala.
Material e instrumento:
Durante as entrevistas foi utilizado um roteiro de entrevista estruturado, contendo informações necessárias
para posteriores avaliações acerca do procedimento mais adequado para cada caso especifico. (Anexo I)
Procedimento:
Inicialmente os pacientes inscrevem-se na clínica, no início de cada semestre e ficam no aguardo de serem
chamados para uma entrevista inicial (triagem). As pessoas inscritas são chamadas de acordo com o número de
inscrição. Caso o paciente não compareça mais de duas vezes quando chamado para a entrevista de triagem dar-se-á
a vez aos próximos na seqüência da lista de espera.
Durante a triagem são coletados dados relacionados à queixa e ao padrão sócio-econômico do paciente,
seguindo a seqüência de um questionário construído para tal fim (ver Anexo I). Em seguida, são realizadas
supervisões, nas quais são discutidas o melhor tipo de encaminhamento para cada caso especifico, a fim de atender os
pacientes de acordo com sua demanda, garantindo dessa forma melhor qualidade no tratamento.
Ao longo desse período, também foi realizado o levantamento de alguns Centros de Referencia de Saúde
Mental. (Ver Anexo II)
559
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
RESULTADOS
A partir do levantamento do perfil da clientela atendida na Clínica Escola de Psicologia da Universidade
Federal do Pará, de acordo com as variáveis: sexo, idade, escolaridade, estado civil, profissional/ocupação, motivo da
consulta (queixa), observa-se as seguintes características.
Figura 1 - Sexo (N = 27)
25
20
20
15
10
7
5
0
Feminino
Masculino
A figura 1 mostra que a maioria das pessoas atendidas eram do sexo feminino (20 mulheres), 7 eram do sexo
masculino.
Figura 2 - Faixa Etária (N = 27)
18
17
16
14
12
10
8
6
6
4
3
2
1
0
5 - 11 anos
12 - 21 anos
22 - 59 anos
a partir de 60
anos
Na figura 2 observa-se que dos 27 pacientes atendidos a maioria eram adultos, na faixa etária de 22 a 59
anos; 6 adolescentes, na faixa de 12 a 21; 3 crianças, na faixa etária de 5 a 11 anos e 1 idoso.
560
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Figura 3 - Escolaridade (N = 27)
12
10
10
9
8
6
6
4
2
2
0
Alfabetização
Ensino Médio
Ensino
Ensino Superior
Fundamental
A figura 3 mostra o nível de escolaridade dos pacientes. Dos 27 pacientes atendidos, 10 estavam cursando ou
tinham concluído o ensino superior; 9 estavam cursando ou tinham concluído o ensino médio; 6 estavam cursando ou
tinham concluído o ensino fundamental e 2 estavam cursando a alfabetização.
Figura 4 - Estado Civil (N = 27)
18
17
16
14
12
10
10
8
6
4
2
0
Sem companheiro
Com companheiro
Na figura 4, nota-se que a maioria dos pacientes não possuíam um companheiro (17 participantes), sendo
que 10 pacientes tinham um companheiro.
561
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Figura 5 - Profissão/ ocupação (N = 27)
16
14
14
12
10
8
6
4
4
2
2
1
1
1
1
1
1
1
o
Au
xi
lia
rA
dm
in
is
t
ra
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e
G
ar
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ro
ni
bu
s
sa
ca
de
on
a
D
Es
tu
da
nt
e
0
Na figura 5 nota-se que a maioria das pessoas atendidas eram estudantes (14 pessoas); 4 pessoas tinham a
função de professor; 2 pessoas eram donas de casa. Entre as pessoas atendidas ainda havia 1 motorista de ônibus, 1
açougueiro, 1 autônomo, 1 aposentado, 1 garçonete, 1 vendedor e 1 auxiliar administrativo.
Figura 5 – Queixas (N = 26)
7
6
6
5
5
4
4
3
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
0
Conflitos de ordem familiar
Dificuldades de relacionamento com o parceiro
Insegurança e medo
Desvio de conduta
Dificuldade de aprendizagem
Dificuldades de relacionamento geral
Depressão e Ansiedade
Comportamento agressivo
Uso de drogas
Disturbios psicopatologicos
Timidez e dificuldade de se expor em público
Observou-se que a maior parte das queixas incluíam os “conflitos de ordem familiar”(6 pessoas), sendo que
destas 1 tem como queixa vinculada “dificuldades com relação a sua orientação sexual” e outro cliente apresentou
juntamente com essa categoria queixas características de quadros depressivos. A queixa “depressão e ansiedade”, foi
apresentada por 5 pessoas, sendo que destas, 3 apresentava queixas somente de ansiedade. “Dificuldades de
relacionamento com o parceiro” foi outra queixa relatada por 4 pessoas. “Dificuldades de relacionamento geral” foi
relatado por 2 pessoas, sendo que 1 delas relata ainda ser usuária excessiva de álcool. A queixa “insegurança e medo”
562
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
foi relatado por 2 pessoas, das quais 1, além desses sentimentos, relatou sentir ansiedade, dificuldades de
relacionamento, timidez e dificuldade de se expor em público. A queixa “comportamento agressivo” foi relatado por 2
pessoas, sendo que 1 apresenta como queixas concomitantes uma “compulsão alimentar”. As queixas “desvio de
conduta”, “uso de drogas”, “dificuldades de aprendizagem” e “distúrbios psicopatógicos” e “timidez e dificuldades de
se expor ao público”, foram relatados 1 vez cada, por 5 pessoas.
Figura 7 – Histórico relacionado à queixa (N = 26)
14
14
13
12
10
8
6
4
2
0
Primeira vez que procurou ajuda para a problemática apresentada
Já havia procurado outros tipos de ajuda anteriormente e/ou já estão sendo
acompanhados por outros profissionais
De acordo com a figura 7, nota-se que 14 das 27 pessoas atendidas procuravam pela primeira vez ajuda para
a problemática apresentada. Em contrapartida, 13 pessoas já haviam procurado outros tipos de ajuda anteriormente
e/ou já estavam sendo acompanhados por outros profissionais.
Figura 8 - Procedência (N = 27)
8
7
7
7
6
6
5
4
4
3
2
2
1
1
0
Serviço indicado por alguém que é ou já foi paciente da clínica
Conhece o serviço por já ter sido paciente da clínica
Serviço indicado por algum estudante ou funcionário da UFPA
Conhece o serviço por ser estudante ou funcionário da UFPA
Serviço indicado por outros serviços, instituições e/ ou profissionais
Serviço indicado por algum conhecido ou familiar
Na
figura 8 nota-se que a maioria das pessoas chegaram até a clínica por indicação de algum docente, discente ou técnico
da UFPA, e por conhecidos ou familiares (14 pessoas). 6 pessoas foram encaminhadas por profissionais e/ou outros
563
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
serviços de saúde. Verificou-se que 4 pacientes chagaram até o serviço por indicação de pacientes ou ex-pacientes da
clínica. 4 pessoas já conheciam o serviço por terem sido pacientes anteriormente e uma pessoa conhece por ser
estudante da UFPA.
Figura 9 - Encaminhamento (N = 27)
25
23
20
15
10
4
5
0
Psicoterapia
Outros serviços especializados
Na figura 9, nota-se que a maioria das pessoas avaliadas (23 pessoas) foram encaminhadas para a
psicoterapia. As demais (4 pessoas), por constituírem uma demanda mais complexa, foram encaminhadas para outros
serviços especializados.
DISCUSSÃO
Na sessão resultados é possível verificar o perfil da clientela da clínica-escola de psicologia da Universidade
Federal do Pará, de acordo com as seguintes variáveis: “sexo”, “idade”, “escolaridade”, “estado civil”,
“profissão/ocupação”, “queixa”, “histórico relacionado à queixa”, “procedência” e “encaminhamento”.
Os dados revelam que ainda há uma predominância do sexo feminino na busca de serviços psicológicos, o
que nos leva a refletir se esse dado é conseqüência de uma realidade, na qual as mulheres são mais acometidas por
sofrimentos psíquicos ou se as mulheres sentem-se mais a vontade a procurar esse tipo de ajuda quando sente
necessidade, enquanto os homens tendem a negar seu sofrimento, alimentados pela cultura machista na qual
vivemos.
A maioria das pessoas atendidas na clínica são estudantes de nível superior, que relataram em sua maioria
ter chegado até o serviço da Clínica por indicação de algum estudante ou funcionário da UFPA ou por algum
conhecido ou familiar. Dentre esses conhecidos e familiares que indicaram o serviço, não foi investigado se algum dele
fazia parte do corpo docente, discente ou técnico da Universidade. Portanto sugere-se que esses dados sejam
verificados nas próximas triagens. Outros serviços, instituições e profissionais foram os segundos que mais indicaram
o serviço de Atendimento da Clínica de Psicologia. De acordo com os dados é possível inferir que há uma disseminação
muito grande de informações acerca dos serviços oferecidos pela Clínica de Psicologia da Ufpa à comunidade, entre
discentes, docentes e técnicos da Universidade, que costumam indicar para aqueles que julgam estar necessitados
desses serviços. Além disso, a importância dada por outros profissionais é verificada pelo número de
encaminhamentos e indicações feitos pelos mesmos. Fica evidente o beneficio proporcionado pelo atendimento e
acompanhamento psicológico, para alguns pacientes que estão ou já fizeram terapia na clínica, visto que eles mesmos
indicaram o serviço para outras pessoas.
As queixas apresentadas foram “conflitos de ordem familiar”, “depressão e ansiedade”, “insegurança e
medo”, “comportamento agressivo”, “dificuldades de relacionamento geral”, “timidez e dificuldade de se expor em
público”, “dificuldade de relacionamento com o parceiro”, “desvio de conduta”, “uso de drogas” e “dificuldade de
aprendizagem”. A categorização das queixas foi baseada nos principais relatos dos pacientes, sendo que a maioria
delas apresentaram outras queixas vinculadas, sendo apenas citadas na sessão de resultados, o que não significa que
564
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
são menos importantes. A investigação mais detalhada é feita quando a terapia é de fato iniciada. Dentre as queixas
relatadas, “conflitos de ordem familiar” foram as mais relatadas (6 pessoas), seguidos de “depressão e ansiedade” (5
pessoas) e dificuldades de relacionamento com o parceiro” (4 pessoas). Os dados nos sugerem que de modo geral, o
sofrimento das pessoas que procuraram o serviço da clínica, estão vinculados com seus relacionamentos interpessoais
e aspectos gerais de suas vidas, como dificuldades de habilidades sociais, por exemplo, sendo assim indicados para
acompanhamento psicoterápico na Clínica-Escola de Psicologia da UFPA. Apenas 4 pessoas foram encaminhadas para
atendimentos especializados, visando um melhor acompanhamento e tratamento dos mesmos. Dentre estes estão
uma criança de 10 anos, com quadro de agressividade e crises convulsivas; uma criança de 7 anos com quadro de
agitação (suspeita de TDAH); um adulto de 34 anos, com queixa de dependência química e uma senhora da terceira
idade com 64 anos, com queixas de delírios e alucinações (suspeita de esquizofrênia). Todas essas quatro pessoas
precisam além do acompanhamento psicológico, da avaliação psiquiátrica, neurológica e realização de exames mais
especializados.
Além da triagem foi realizado um levantamento de alguns centros de referencia de saúde, para os quais
poderemos fazer os devidos encaminhamentos quando necessário.
Vale ressaltar a importância do serviço de triagem numa Clínica-Escola de Psicologia, visto que a partir dela,
são realizadas análises e planejamentos, a fim de configurar serviços mais adequados à realidade da população que
busca esse tipo de serviço. Verificou-se que os serviços oferecidos atualmente, estão compatíveis com a demanda
atendida.
565
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ABUSO SEXUAL: CASOS ATENDIDOS NA
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ NO ANO DE 2006
Maria Cristina Gonçalves Cardoso (Coordenadora)
Gleisiane de Nazaré Vilhena Miranda
Nárryma Eliza Souza da Costa
Yolanda Shirley Cunha de Barros
RESUMO: A violência sexual é marcada por determinações históricas que reportam ao colonialismo onde crianças e adolescentes
não eram considerados cidadãos de direitos. Na região norte essa realidade está presente principalmente, no contexto
familiar,onde é o pai quem violenta os filhos, em 20% dos casos.
Palavras-chave: Incesto; abuso sexual; direito social.
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
O Programa Políticas Públicas e Seguridade Social encontra-se inserido no contexto da política curricular do
ensino de Serviço Social que vem sendo administrada pelo Setor de Prática do Serviço Social SEPRASS. O Serviço de
Prática do curso de Serviço Social tem como objetivo servir de laboratório de prática e órgão acadêmico de controle e
acompanhamento de ações desenvolvidas. As ações ocorrem através do estabelecimento de contato direto com as
instituições e organizações demandadas através da inserção discente no Estágio Curricular. Ao longo dos anos o
SEPRASS ampliou o leque de instituições governamentais e não-governamentais, além de apoiar os campos já
existentes de estágio. Na década de 1990 foram realizados encontros, seminários de avaliação do ensino da prática de
Serviço Social agrupando discente e docente, que discutiram não só a questão do Estágio Curricular, mas questões de
ordem teórico-metodológica e institucional que dificultava o ensino da prática e a prática de ensino no Curso de
Serviço Social, assim como, propor alternativas para superação. (Projeto Pedagógico, 2005).
Como proposta de superação dos problemas enfrentados pelo curso com relação ao Estágio Curricular, foi
sua reformulação com um entendimento de que o Estágio Curricular é:
a)
elemento de aplicação de conhecimentos;
b) instrumento de produção de conhecimentos;
c)
prestação de serviços à comunidade. Neste sentido, verifica-se a importância de se promover a
articulação entre ensino e extensão universitária, através de experiências de Estágio Curricular
envolvendo diferentes organizações e instituições da esfera governamental e não-governamental.
Para operacionalizar a articulação das propostas citadas criam-se os Programas de Extensão,
constituindo-se de uma experiência enriquecedora dos futuros Assistentes Sociais com a realidade
que os cercam.
A extensão universitária é uma atividade acadêmica capaz de imprimir um novo ritmo à Universidade
Brasileira e de contribuir significativamente para a mudança da sociedade. Nos dez anos de existência do Fórum de
Pró- Reitores - com Constituição de 88, uma nova Lei de Diretrizes e Bases e do Plano Nacional de Educação - Seus
conceitos amadureceram, seus instrumentos foram aperfeiçoados e suas principais dificuldades foram afastadas. As
Universidades Públicas Brasileiras são criadas para defender as necessidades do país. Estão distribuídos em todo o
território nacional associando desenvolvimento econômico, social, cultural, político e crítico, constituindo em espaço
privilegiado para a produção e articulação do conhecimento e a formação de cidadãos. (Fórum de Pró-Reitores de
Extensão das Universidades Públicas Brasileiras e SESU/ MEC. Plano Nacional de Extensão Universitária, Brasil. 2000,
2001, p 2-3).
A relação entre sociedade e academia possibilitada pela extensão universitária é uma marca histórica do
curso de Serviço Social no contexto da Universidade Federal do Pará. Entre os programas e projetos de extensão
existente no interior do curso de Serviço Social da UFPA, havia o Programa Políticas Públicas, Meio Ambiente e Ações
Coletivas em Áreas Urbanas criado em 1992 e redimensionado em 2004 para Políticas Públicas e Seguridade Social,
articulando o capítulo da Seguridade Social artigo 193, contido na Constituição Brasileira hoje em vigor - Saúde,
Assistência e Previdência Social (Programa Políticas Públicas e Seguridade Social, 2004).
Situando esse estudo na área da Saúde, o Programa desenvolve suas atividades hoje na cidade de Belém do
Pará, mas já foram desenvolvidas atividades em prefeituras e organizações como: Santa Bárbara, nas Ilhas de Cotijuba,
Combu, Mosqueiro e outros municípios do Estado do Pará.
566
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Atualmente, existe um convênio institucional para realização do Estágio Curricular com os Hospitais Escolas,
Hospitais Universitários, Redes de Atendimento e Proteção aos Usuários que utilizam os Serviços de Saúde na
perspectiva da Saúde Coletiva.
O Programa Políticas Públicas conta com corpo docente de cinco professores, quarenta discentes na área da
saúde engajados em campos de estágio. Os projetos de extensão que compõem o Programa são: o Ensino da Prática
Profissional do Assistente Social no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, situado no campus universitário IV,
Guamá, avenida Augusto Corrêa, UFPA; o Ensino da Prática Profissional no Hospital Ophir Loyola, situado à avenida
Magalhães Barata nº 484, São Brás, o Ensino da Prática Profissional no Hospital Escola da Fundação Santa Casa de
Misericórdia do Pará, localizado à rua Oliveira Belo nº358, Umarizal.
Os alunos são inseridos nos Hospitais universitários e a Universidade tem como princípio filosófico a
formação integral do homem. O que exige uma visão interdisciplinar de construção de conhecimentos coletivos. O
Hospital é uma invenção da modernidade tendo por finalidade ser um espaço terapêutico, sendo uma estrutura
organizacional hierarquizada, onde se conjugam Saber e Poder Institucional, além da atenção aos desassistidos
socialmente. Os Hospitais Escolas são organizações especificas da Política Social, que embora autônoma, compõe a
estrutura do Estado na prestação de serviços. Não sendo, portanto, um simples fenômeno estrutural, mais
organizações transversais a toda sociedade.
Do ponto de vista Weberiano quando ele trata da diferença do poder e autoridade, e sendo um Hospital
Escola uma estrutura política podemos considerar que esta instituição também se utiliza da força para afirmar seu
poder, em um processo altamente burocrático em que o Assistente Social encontra-se subordinado a essa estrutura
hierárquica. A burocracia foi e é um instrumento de poder de primeira ordem para o controle do aparelho
burocrático. (WEBER 1979, p 264). Dessa forma, é um desafio dos Assistentes Sociais enfrentarem teoricamente a
questão da prática profissional que é tão complexa quanto sua própria atuação, cuja atitude investigativa implica em
saberes e poderes.
A partir da década de 1980, afirma-se a maioridade acadêmica dos Assistentes Sociais, impulsionada por
cursos de Pós-Graduação, pelo crescimento do mercado editorial e por uma produção acadêmica que
ultrapassa os muros profissionais, permitindo uma interlocução teórica, no mesmo patamar com as áreas
conexas de maior tradição na pesquisa social (ABEPSS, 2004. p.73).
A interlocução da maioridade do Serviço Social ultrapassa os muros da academia chegando às comunidades,
na área da Saúde, com a abertura de mercado de trabalho em hospitais-escolas e com a legitimidade técnica do
profissional em equipe multi ou interdisciplinar nestes hospitais. Com isso, ganha a Academia que encontra um campo
mais legitimado com identidade profissional clara, possibilitando a visibilidade e a inserção discente. Neste sentido, o
curso de Serviço Social da UFPA engaja os alunos em planos, programas e projetos nos hospitais de acordo com a
escolha do objeto de intervenção e investigação. O discente se insere no espaço institucional, nas atividades e
desenvolve seu projeto de ação-investigativa e em conjunto de pesquisa com as equipes de trabalho, identificando o
seu projeto profissional que será o tema de objeto do Trabalho de Conclusão de Curso. É supervisionado por
Assistentes Sociais e por um docente da disciplina Estágio Profissional e segue uma trajetória de aproximadamente
dois anos de estudos e habilidades necessárias para o exercício da profissão.
O Programa de Políticas, na área da Saúde, também se interliga a Rede de Serviços como: Programa Família
Saudável, Albergues, Casas de Apoio, Centro de Atenção Psicossocial, Unidades de Referência Materno-Infantil
(UREMIA), Unidades de Referência (UREDIPE) e Postos de Saúde.
Os objetivos do Programa de Políticas Públicas:
• Formação de Assistentes Sociais comprometidos com a questão social, uma vez que a necessidade
de reflexão e discussão da questão social;
• Mediar e possibilitar a criação de políticas sociais que contemplem o desenvolvimento de políticas
regionais que atendem as demandas da Região Norte, levando em consideração suas peculiaridades
e os direitos sociais;
• Produzir conhecimentos através do Ensino, Pesquisa e Extensão na área da Saúde, tendo em vista os
usuários das políticas públicas;
Permitir a instrumentalidade teórico-metodológica da profissão, contribuindo com ações públicas e humanas
para o enfrentamento das questões sociais no contexto amazônico, trabalhando para a melhoria da qualidade das
políticas locais, além de possibilitar a criação de condições para o ensino da prática em Serviço Social, tentando
consolidar o Ensino, Pesquisa e Extensão nas dimensões interventivas, investigativas e propositivas, criando assim, um
567
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
espaço de interlocução entre a Universidade e o espaço institucional (equipes de trabalhos, usuários) e as
organizações locais.
Esse espaço de trabalho se multiplica e se interliga as Redes de Serviços existentes em Belém do Pará, como é
o caso da Rede de Combate à Violência Sexual Infanto-Juvenil representada por vários órgãos da sociedade, assim
como a de transplante, câncer também são locais de trabalho e divulgação do conhecimento produzido através da
apresentação de CDs, seminários, reuniões e outros que multiplicam a extensão universitária.
Segundo Michel Thiolent, o Serviço Social tem uma tradição de aplicação metodológica de pesquisa-ação. Tal
aplicação, no entanto, é marcada pelas especificidades e ambigüidades próprias ao Serviço Social enquanto forma de
atuação. (2002, p. 80-81).
O Programa está inserido no contexto da extensão universitária se processa de forma educativa, cultural e
científica articulando o Ensino, a Pesquisa de forma indissociável e viabilizando a relação transformadora entre
universidade e sociedade.
A extensão universitária é uma via de mão dupla, com trânsito interligado à comunidade acadêmica que
encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à
universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele
conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizado, acadêmico e popular, terá como
conseqüência a produção de conhecimento resultante da realidade brasileira e regional, a democratização do
conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade.
METODOLOGIA
O programa de extensão vem sendo desenvolvido significativamente na área hospitalar e ambulatorial dos
hospitais-escolas Bettina Ferro, Santa Casa de Misericórdia do Pará, e Ophir Loyola. Atua na perspectiva da saúde
coletiva e do exercício pluralista teórico-metodológico como elemento próprio da vida acadêmica e profissional,
principalmente em respeito à Ética Profissional e a democracia.
Os alunos são inseridos nos campos de estágio em ações, programas e projetos com várias equipes
multiprofissionais, tendo como supervisores neste processo um professor e um técnico Assistente Social da
instituição.
Os procedimentos metodológicos adotados no processo ensino e aprendizagem desenvolvem-se da seguinte
forma:
1. No primeiro momento, são realizadas leituras obrigatórias sobre o direito à saúde e as políticas sociais,
legislação social, leituras e seminários sobre supervisão em Serviço Social, o estudo sobre a técnica de observação,
exercícios de observação e revisão do instrumental teórico-metodológico do Serviço Social discutido através de
seminários, visita monitoradas as Instituições, prováveis campos de estágio objetivando a inserção, decorrente da
escolha por parte do aluno;
2. No segundo momento, o estudo é focalizado na instituição, de acordo com o objeto de estudo no campo
de estágio, projetos de ação interventiva escolhidos pelo aluno. São realizadas no processo de aprendizagem: leituras
dirigidas, estudo de instrumentais legais e técnicos, produção de relatório de observação e conhecimento do espaço
institucional, aproximação do objeto de investigação /intervenção sob a supervisão individual coletiva e a organização
do diário de campo;
3. No terceiro momento, com base nas experiências acumuladas, (acompanhamento técnico, supervisão
pedagógica, leitura dirigida, diário de campo, relatórios semestrais/ anuais, dossiês entre outros), o aluno-estagiário
produz o projeto de pesquisa para o TCC;
4. No quarto momento, os dados empíricos são sistematizados e o aluno elabora o Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) com exigências de um trabalho monográfico, obedecendo às regras da Associação Brasileira de Normas
e Técnicas - ABNT, e apresenta o TCC em forma de comunicação oral nas jornadas promovidas pelas instituições/
campos de estágio ;
A avaliação é realizada conjuntamente pelo supervisor de campo com base nas supervisões individuais e
coletivas, em todo processo de conhecimento.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Quanto à articulação entre o espaço institucional e a universidade, a equipe desenvolve os seguintes
procedimentos metodológicos:
• Reuniões semanais com os Assistentes Sociais orientadores de estágio nos hospitais-escola;
• Reuniões com os coordenadores acadêmicos dos hospitais-escola para tratar da política de estágio e
dos projetos de intervenção e investigação que deverão ser operacionalizados pelos alunos
estagiários;
• Oficinas de atualização dos profissionais de campo;
• Assessoria e consultoria aos programas promovidos pela instituição abordando a realidade local;
• Realização de seminários e reuniões avaliativas com as equipes de trabalho das instituições;
• Promoção de eventos como jornadas, encontros, seminários entre outros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Os resultados das ações desenvolvidas:
Três (três) dissertações de mestrado, um (uma) tese de doutorado e vários artigos publicados em congressos,
seminários, encontros e etc.
Produção de 240 (cento e vinte e cinco) TCC’s nos últimos Quatro (quatro) anos, focalizando uma diversidade
de temas, decorrentes das experiências realizadas nos programas/projetos institucionais ou mesmo de
interesse pessoal do aluno e/ou sugestões da equipe profissional. As temáticas versam de uma maneira geral
sobre: Municipalização e Descentralização da Política de Saúde, Saber e Poder Institucional, Análise
Institucional, Acesso aos Direitos Sociais, o estudo da prática profissional dos assistentes sociais na área da
saúde, a Inter e Multidisciplinaridade, Estudo e Avaliação de Programas relacionados à Violência Sexual
Infanto-Juvenil, Doenças Sexualmente Transmissíveis, Doenças Crônico-Degenerativas, Parasitárias e
Tropicais, Alcoolismo, Obesidade Mórbida, Doenças Terminais, Desnutrição Infantil/ Fome, Saúde da Mulher,
além de contextualizar e avaliar as Redes de Proteção Social, estudo sobre: Adoção, Albergues, Casas de
Apoio, entre outros.
Intercâmbio entre instituições parceiras para o ensino da prática contando com o apoio de mais de 96
assistentes sociais e outros profissionais de áreas afins.
Curso de atualização para Assistentes Sociais envolvidos no processo de ensino da prática;
Encontros semanais de discentes e técnicos;
Produção de material sócio-educativo e informativo com variados temas de acordo com a necessidade;
Realização de seminários, palestras, dinâmicas de grupo com o usuário das políticas sociais;
Atendimento direto a comunidade usuária das políticas públicas de saúde e assistência social;
Estudo em grupo do corpo docente e produção de artigos a partir da experiência acumulada;
Realização de pesquisas sobre: Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes na Amazônia, o perfil dos
atendimentos na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, período 2006;
Elaboração do Perfil das Instituições – campo de estágio;
Contribuição de propostas para o funcionamento do Serviço Social na Instituição, fortalecendo o movimento
dos profissionais como: aumento de número de profissionais, implantação do plantão na maternidade da
Santa Casa de Misericórdia do Pará;
Pesquisa sobre Câncer de Colo Uterino no Hospital Ophir Loyola.
DISCUSSÃO
A Região Amazônica apresenta especificidades de ordem geográfica, populacional, cultural e social que
implica num direcionamento diferenciado na resolutividade de questões ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à
Política de Saúde adotada em nosso país há aproximadamente quinze anos. Essas especificidades territoriais como a
distância entre os municípios que compõem o Estado do Pará dificulta o acesso aos serviços de saúde tanto no âmbito
da atenção básica como principalmente a atenção de média e alta complexidade. Os agravantes do quadro de saúde
pública estatal, portanto, geram deficiências como: ausência, precariedade, carência na implantação e execução de
políticas públicas de saúde nos demais municípios além da capital, cidade de Belém do Pará. Este fato provoca uma
migração populacional intensa para a capital paraense, recebendo uma demanda significativa de usuários do SUS que
se dirigem aos Hospitais Públicos a fim de ter acesso aos serviços de saúde que seu município de origem não garante o
acesso. Neste contexto o estudo sobre a questão da municipalização/ descentralização da Política de Saúde merece
destaque considerando a sua complexidade, uma vez que se evidencia um quadro peculiar quanto à demanda
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
atendida nas instituições, principalmente, no caso do usuário oriundo do interior do Estado que vive da ausência das
políticas Sociais. Para assegurar os direitos destes usuários, os profissionais precisam intervir junto aos municípios de
origem. Podendo evidenciar este fato quando estamos diante de garantir o acesso ao Tratamento Fora de Domicílio
(TFD), pois para o usuário ter esse benefício é necessário que o município de origem assuma a retaguarda financeira
do repasse de recursos, pois o SUS repassa às Prefeituras o recurso para o custeio.
Outro aspecto observado na experiência do Serviço Social junto aos hospitais públicos, que atendem o SUS
(Sistema Único de Saúde), é a existência da “demanda reprimida”, principalmente nos hospitais de Alta Complexidade,
demonstrada pela precariedade de recursos institucionais para responder o número expressivo de demanda.
Conseqüentemente tem-se registrado óbitos de usuários, antes de serem atendidos, assim como, existe um grande
número de pacientes em lista de espera para conseguir consultas especializadas, medicação controlada, leito
hospitalar e cirurgias. Estes fatos são desafios que ultrapassam a esfera institucional, pois estão também relacionadas
à falta de acesso as políticas públicas nos 143 municípios paraenses.
Quanto aos estudos sobre a interdisciplinaridade para SÁ (2000, p.82).
é uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente
ao problema do conhecimento, isto é, substituir a concepção fragmentada pela unitária do ser humano exigindo de
cada especialista a ultrapassagem de seus próprios limites, abrindo-se às contribuições de outras disciplinas.
Detectou-se, nesta experiência, que esta perspectiva ainda não se operacionaliza na maioria dos hospitais
observados de fato, parecendo muitas vezes uma questão utópica. No que se refere ao trabalho multi e
pluridisciplinar, que SÁ (2000, p.83) conceitua como uma atitude de justa posição de conteúdos de disciplinas
heterogêneas ou a integração de conteúdos numa disciplina alcançando a integração de métodos, teorias ou
conhecimentos, as ações vêm ao longo dos anos desenvolvendo-se em alguns setores, programas e projetos
institucionais.
Ressalta-se como uma das questões identificadas nos hospitais públicos, foco de nossas ações extensionistas,
o forte traço conservador nas relações entre os sujeitos institucionais. Observa-se ainda em alguns casos, a
centralidade do poder- saber na figura do médico e atitudes de submissão por parte dos usuários. Uma das
alternativas que se vem adotanda nestes hospitais é o Programa de Humanização (HUMANIZASUS), dando uma nova
funcionalidade nas relações institucionais, trazendo diversas ações que primam pela qualidade dos serviços de saúde,
na medida em que, aborda a discussão e propõe modificações no modo de atendimento do usuário objetivando
possibilitar maior acesso aos serviços institucionais, com mais rapidez e qualidade. Uma das atividades que merece
destaque é a implantação das ouvidorias nos hospitais públicos, espaços em que o usuário pode se manifestar,
posicionando-se diante do atendimento, opinando sobre a prestação de serviços.
Outro aspecto a focalizar nesta discussão são os atendimentos com expressividade aos portadores de
diabetes melittus, lupus, doenças cardíacas e as complicações decorrentes, tais como: amputações, contínuas
reinternações, desconhecimento das doenças, entre outros problemas. Por estar inserido em uma região tropical com
constantes agressões ao meio ambiente abordam-se também as doenças causadas pelo mercúrio além de outras sem
diagnóstico. Ressalta-se o trabalho com a doença Mola (falsa gestação), Genitália ambígua, ligado ao estudo da
genética humana, gênero e família.
Outro problema muito evidenciado nos hospitais da região amazônica, é a violência infanto-juvenil que é
marcada por determinações históricas que reportam ao colonialismo onde crianças e adolescentes não eram
considerados sujeitos de direitos e onde a subordinação da mulher se perpetuou por vários séculos. A violência
cotidiana está contida no relacionamento do ser humano, ou seja, onde existe mais de uma pessoa, o que anuncia
uma perturbadora interrogação, onde há necessidade de estabelecer hierarquias, ou seja, quando falamos que o ser
humano é violento, partimos da idéia de que ele busca cada vez mais, sua individualidade, movido, unicamente, por
seus interesses particulares, tendo como conseqüência lógica essa visão uma atitude de prepotência na busca de
soberania humana, discernindo várias formas de violência. A violência social é percebida quando as desigualdades se
colocam contra os seres humanos e estão presentes nos seus gestos e atitudes. Também decorre através da falta de
políticas públicas essenciais como: saúde, educação, nutrição, habitação, trabalho, segurança pública e lazer.
A Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes constituem-se em uma das manifestações estremas de uso
do poder, da força física, psicológica ou emocional, onde o abuso de poder subjuga a vontade do outro. Trata-se da
violação daquilo que a pessoa tem de mais íntimo: sua sexualidade. A violência sexual de uma criança ou adolescente
gera conseqüências psicológicas físicas e sociais, que acabam comprometendo seu desenvolvimento natural e sua
personalidade enquanto ser em formação.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Sobre a Saúde da Mulher no Brasil, nos termos propostos pelo Programa de Saúde da Mulher, entender a
mulher enquanto ser integral é recente, demarcando a década de 1980, com a aprovação do PAISM. No Serviço Social
o debate sobre cidadania feminina demarca a década de 1990 com a produção de artigo, estudos, pesquisas e
dissertações, o que está levando os profissionais da área social a lançar olhares de gênero sobre o estudo do ato da
concepção e o direito de ter ou não filhos, assim como, as demais questões existentes no Programa Saúde da Mulher
como: Pré-Natal, DST’s /HIV/AIDS, Gravidez na Adolescência, Maternidade, Planejamento Familiar, Paternidade,
Câncer de Colo Uterino, Mama, Climatério, Doença da Terceira Idade.
CONCLUSÕES
A experiência na extensão fica tão bem apropriada ao meio acadêmico e sua relação com as instituições e
equipe multiprofissionais confirmam as expectativas contidas no projeto Coletivo de Cooperação Técnica do Fórum
Nacional de Educação das Profissões da Área da Saúde do Ministério da Saúde que tem como objetivos: contribuir
para o processo de mudança na graduação das profissões na área da saúde, tendo como eixo a integridade na
formação e a atenção técnica entre as profissões participante na área da saúde; trocar experiências entre os diversos
cursos e realizar ações conjuntas voltas à formação obedecendo à lógica da integralidade e o acesso à política de
saúde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABEPSS. Formação dos Assistentes Sociais no Brasil e a consolidação do Projeto Ético- Político. São Paulo: Cortez,
2004.
ASSISTENTE SOCIAL: Ética e Direitos. Coletânea da Lei e Resoluções. 7ª ed. Rio de Janeiro: CRESS, 2001.
PLANO NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas
Brasileiras e SESU/ MEC. 2000/2001.
PROGRAMA DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SEGURIDADE SOCIAL. Belém: UFPA/ CSE, Serviço Social. 2004.
REVISTA DE SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE. Saúde e Serviço Social. nº 74, ano XXI, Cortez Editora, julho de 2003.
_______________________________________________. São Paulo, Editora Cortez: n 85, 2006.
SÁ, Jeanete (org). Serviço Social e Interdisciplinariedade dos fundamentos filosóficos à prática interdisciplinar no
ensino, pesquisa e extensão. São Paulo: Ed. Cortez, 1995.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. 11ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.
WEBER, Marx. Ensaios de Sociologia. 5ºed. Rio de Janeiro: LTC, 1979.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
APOIO TÉCNICO-CIENTÍFICO PARA O SISTEMA
DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DA REGIÃO NORTE
Sara Araújo da Silva (Bolsista)
Profa. Rosa Maria Dias (Coordenadora)
RESUMO: O projeto de extensão intitulado “Apoio Técnico-Científico para o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional da Região
Norte” tem como objetivo apoiar as Coordenações Estaduais de Alimentação e Nutrição da Região Norte, na execução da Política
Nacional de Alimentação e Nutrição-PNAN, publicada pelo Ministério da Saúde em 2005. O PNAN objetiva a garantia da qualidade
dos alimentos disponibilizados para consumo no País, promoção de práticas alimentares saudáveis e prevenção e controle dos
distúrbios nutricionais, bem como no estímulo às ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos alimentos. O Centro
Colaborador em Alimentação e Nutrição/ Norte/ UFPA com vista no seu papel de prestar apoio técnico-científico às secretarias de
saúde dos estados da região norte em consonância com a agenda de prioridades da Coordenação Geral da Política de Alimentação
e Nutrição/ Ministério da Saúde, viabiliza estratégias para a melhoria das condições nutricionais da população e promoção da
alimentação saudável.
Palavras-chave: Política Nacional de Alimentação e Nutrição; promoção; alimentação saudável.
INTRODUÇÃO
O Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição (CECAN-Norte)/ UFPA integra uma rede nacional,
coordenada pelo Ministério da Saúde/Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição, Departamento da
Atenção Básica, Secretaria de Atenção à Saúde. Tem sua sede na Faculdade de Nutrição, do Instituto de Ciências da
Saúde, da Universidade Federal do Pará.
As ações do projeto estão pautadas na Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), publicada pelo
Ministério da Saúde em 2005 que objetiva a garantia da qualidade dos alimentos disponibilizados para consumo no
País, promoção de práticas alimentares saudáveis e prevenção e controle dos distúrbios nutricionais, bem como no
estímulo às ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos alimentos.
No Brasil, há a presença de padrões de morbi-mortalidade por doenças infecto-parasitárias e crônicodegenerativas, caracterizada como transição epidemiológica e/ou nutricional.
A Transição Epidemiológica é o resultado das variações comportamentais dos padrões de morbimortalidade e
fecundidade, que determinam mudanças na estrutura populacional, ao se processarem as alterações na maneira de
adoecer e morrer. No entanto, o processo de Transição Epidemiológica/Nutricional, ainda não se concluiu. Apesar do
aumento significativo das causas de morte por Doenças Crônicas Não Transmissíveis-DCNT, a prevalência de doenças
infecciosas como causa ainda é significativa. Em países como o Brasil, com grande extensão territorial, significativo
número de habitantes e diferenças socioeconômicas e culturais, a heterogeneidade destes processos é bastante
visível e complexa. Pode-se dizer que "em média" o Brasil está no estágio intermediário da Transição
Demográfica/Epidemiológica/Nutricional, porém sem uniformidade em todo o país (PINHEIRO et al, 2004).
A transição nutricional refere-se a modificações no perfil nutricional da população, caracterizada pela
redução da prevalência de desnutrição e aumento da prevalência da obesidade. Em meio a essa mudança no perfil
nutricional, destaca-se como causa e conseqüência a transição epidemiológica, marcada por um modelo polarizado de
transição que se caracteriza pela coexistência de doenças infecciosas e não transmissíveis (OLIVEIRA, 2004).
Diversos fatores de risco para DCNTs, incluindo comportamentais e ambientais, são suscetíveis de
modificação mediante uma ação ajustada de saúde pública. Desta forma, em 2004 foi lançada a “Estratégia Global em
Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde” pela Organização Mundial de Saúde-OMS que reconhece a
importância da prevenção e controle integrado de DCNTs, incluindo o apoio aos modos de vidas saudáveis.
Diante da situação alimentar de nutricional vigente no País e relevando as discussões em torno do tema,
pelas autoridades competentes, o Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição/ Norte/ UFPA com vista no seu
papel de prestar apoio técnico-cientifico às secretarias de saúde dos estados da região norte em consonância com a
agenda de prioridades da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição /Ministério da Saúde, objetiva dar
apoio a estudos e pesquisas sobre alimentação e nutrição, com enfoque na recuperação nutricional e alimentação
saudável.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Apoiar as Coordenações Estaduais de Alimentação e Nutrição da Região Norte, na execução da Política
Nacional de Alimentação e Nutrição.
Objetivos Específicos
O Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição da Região Norte (CECAN-Norte), por meio do projeto de
extensão, promove a alimentação e práticas de vida de vida mais saudáveis, de acordo com as perspectivas da Política
Nacional de Alimentação e Nutrição-PNAN, com enfoque ao Direito Humano à Alimentação Adequada.
Dessa forma, busca a implantação e/ou implementação de ações em alimentação e nutrição, no âmbito
escolar, com vistas a promoção de hábitos alimentares saudáveis; viabilização de estratégias para a melhoria das
condições nutricionais da população da Região Norte por meio do fomento a estudos e pesquisas de interesse
regional junto às Coordenações de Alimentação e Nutrição das SES - Região Norte, qualificação de recursos humanos,
elaboração de materiais educativos para subsidiar as ações de capacitação e apoio à criação de cursos de educação
continuada com enfoque à recuperação nutricional e alimentar da população brasileira.
O CECAN-Norte tem ainda como objetivo, apoio, realização e/ou participação de reuniões técnicas e/ ou
seminários, grupos de trabalho e eventos, além de atividades científicas para divulgação de trabalhos sobre a situação
alimentar e nutricional da população.
As ações em alimentação e nutrição são estabelecidas, principalmente, sob demanda das Coordenações
Estaduais de Alimentação para profissionais da atenção básica e que atuem na área de saúde coletiva, buscando a sua
atualização e/ou aperfeiçoamento e/ou especialização na área de saúde coletiva.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada nas oficinas de capacitação, reuniões técnicas e/ou seminários foi a da pedagogia da
problematização, treinamentos práticos e palestras; as atividades educativas foram realizadas de forma individual
e/ou coletiva, com a apresentação da situação alimentar e nutricional da população analisada, propondo possíveis
estratégias para a melhoria da qualidade de vida e apresentação de materiais educativos, produzidos a partir de
pesquisas em artigos científicos, livros e revistas.
RESULTADOS
As ações em alimentação e nutrição foram pautadas nas diretrizes da PNAN e realizadas, principalmente, sob
demanda das Coordenações Estaduais de Alimentação e Nutrição por meio de atividades a nível regional, municipal e
estadual, envolvendo atores de diversas áreas da sociedade, a exemplo de escolares e professores de ensino
fundamental, manipuladores de alimentos, profissionais de saúde da atenção básica e áreas afins, sociedade civil
organizada, entre outros.
As ações de alimentação e nutrição no âmbito escolar foram contempladas no Projeto Saúde e Nutrição nas
Escolas, desenvolvido em duas etapas. A primeira etapa correspondeu à realização de diagnóstico nutricional de
alunos de 1ª e 4ª série do ensino fundamental e levantamento dos alimentos fornecidos pelo PNAE e os
comercializados em cantinas e por ambulantes nas proximidades das escolas, etapa denominada de diagnóstico. A
segunda etapa, denominada de intervenção, corresponderá às capacitações de recursos humanos, tanto de
professores, quanto de manipuladores de alimentos. Os professores capacitados serão os agentes multiplicadores das
ações de alimentação e nutrição na escola.
Para a realização da segunda fase do Projeto Saúde e Nutrição nas Escolas serão escolhidas de forma
intencional 3 escolas: uma municipal, uma estadual e uma federal, as quais serão denominadas de escolas-piloto para
o desenvolvimento de um instrumento de promoção da alimentação saudável no âmbito escolar.
A capacitação de professores terá como subsídio um material de apoio pedagógico para a promoção da
alimentação saudável, com enfoque no Direito Humano à Alimentação Adequada, que corresponde ao Guia do
Professor com os seguintes temas: Noções Básicas sobre Alimentação e Nutrição, Problemas Nutricionais, Prevenção e
Promoção da Saúde e Horta Escolar, além da Cartilha do Aluno, composta por atividades e jogos educativos, como
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
fator motivador das práticas de vida mais saudáveis. O material será composto, ainda, pelo Folder sobre Alimentação
Saudável do Escolar e Calendário de Datas Comemorativas em Saúde.
As orientações quanto à elaboração de cardápios e práticas de higiene na manipulação de alimentos às
merendeiras foram contempladas no Guia para Manipuladores de Alimentos, em fase de confecção.
O apoio as SES – Coordenações Estaduais de Alimentação e Nutrição na execução de capacitações de
recursos humanos nas ações de alimentação e nutrição abrangeram os seguintes temas: Antropometria, Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN, Aleitamento Materno e Alimentação Complementar para menores de 2
anos.
As reuniões técnicas e/ou seminários e grupos de trabalho realizados foram:
• Reunião técnica sobre o SISVAN;
• Reunião técnica sobre o SISVAN e Programa de Suplementação do Ferro no Estado do Amapá;
• Reunião técnica sobre as condicionalidades do Programa Bolsa Família;
• Planejamento das ações de alimentação e nutrição no Estado do Pará;
• Planejamento das ações para o desenvolvimento do Encontro Nacional de Aleitamento Materno –
ENAM;
• Seminário Preparatório para II Conferência Estadual de Segurança Alimentar;
• I Fórum Regional Amazônico de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável;
• Encontro sobre o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional do Município de Belém – PA;
• Reunião técnica com a Coordenação Estadual de Alimentação e Nutrição do Estado do Amapá;
• Reunião técnica para execução da II Conferência Estadual de SAN.
O projeto de extensão com o papel de mobilizador de alimentação e nutrição saudáveis organizou e/ou
apoiou alguns eventos e/ou atividades, como:
• I Colóquio de Alimentação e Nutrição;
• Comemoração do Dia da Saúde e Nutrição – 31 de Março;
• Seminário: Critérios e Desafios na Assistência às Crianças Portadoras de Intolerância Alimentar;
• Stand Ver-O-Peso da Saúde;
• Atividade educativa em comemoração ao Dia do Nutricionista;
• Palestra Vida Saudável;
• 3a Feira de Qualidade de Vida da Regional Belém;
• Palestra sobre o Estado de Saúde e Nutrição de servidores da Secretaria Executiva de Saúde Pública
do Estado do Pará – SESPA;
• I Feira de Ciências de Nutrição e Alimentação – FCNA;
• Oficina de Segurança Alimentar.
Anualmente, o CECAN-Norte comemora a Semana da Alimentação e este ano o tema é “O Direito à
Alimentação”, a programação estadual conta com encontros, mesa-redonda, capacitação de manipuladores de açaí,
ações educativas na Feira do Ver-O-Peso e Praça da República, com a realização do CECAN, SESPA, CRN7-Conselho
Regional de Nutricionista; Coordenação de Alimentação Escolar – Secretaria de Estado de Educação CAE/SEDUC,
Companhia Brasileira de Abastecimento – CONAB/PA, Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, FPSANS: Fórum
Paraense de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável e Pastoral da Criança.
A comemoração será realizada, também, na Escola de Aplicação Núcleo Pedagógico Integrado, com base nos
princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada, envolvendo toda a comunidade escolar nas práticas de vida
mais saudáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista que, a extensão é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa
de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e a sociedade na qual está inserida;
este projeto de extensão visa a promoção da alimentação saudável, tendo como base a articulação do Direito Humano
à Alimentação Adequada com os princípios de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), principalmente no que diz
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
respeito a educação alimentar e a alimentação saudável e ambientalmente correta, tendo como estratégias atividades
interativas, educativas e participativas, que assegurem o desenvolvimento e divulgação dos conhecimentos
necessários para qualificarem a capacidade de escolha alimentar da população, buscando a inclusão dos indivíduos e
coletividades no processo de construção da condição de saúde e melhoria da qualidade de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de
Alimentação e Nutrição. 2 ed. ver. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003.
Oliveira, Ronaldo Coimbra. A transição nutricional no contexto da transição demográfica e epidemiológica. Ver. Min.
Saúde Pub., a3, n.5, p. 16-23 – Jul./Dez. 2004.
Pinheiro, Anelise Rízzolo de Oliveira, FREITAS, Sérgio Fernando Torres de e CORSO, Arlete Catarina Tittoni. Uma
abordagem epidemiológica da obesidade. Rev. Nutr. [online]. 2004, vol. 17, no. 4 [citado 2007-10-15], pp. 523-533.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM PACIENTES SUBMETIDOS
A PROCEDIMENTOS INVASIVOS NO AMBIENTE HOSPITALAR
Julie Neves de Albuquerque Maranhão
Milene Maria Xavier Veloso (Bolsista)
HUBFS/UFPA
RESUMO: A Psicologia Hospitalar agrega os conhecimentos da Ciência Psicológica para aplicá-los às situações especiais que
envolvem os processos doença-internação e tratamento, permeados por uma complexa relação entre o médico, a família e equipe
de saúde. O psicólogo nesse contexto atua com o objetivo de minimizar a angústia e ansiedade do paciente, favorecendo a
expressão dos sentimentos e auxiliando na compreensão da situação vivenciada, proporcionando um clima de confiança entre o
paciente e equipe de saúde. O Presente trabalho tem como objetivo, relatar uma parte da experiência desenvolvida no Hospital
Universitário Bettina Fero de Souza, dentro do Projeto de Extensão intitulado: “A Psicologia da saúde e as estratégias de
intervenção no espaço hospitalar”. Este projeto realiza intervenção psicológica com pacientes que estão em preparação para
realização de exames e procedimentos invasivos. No período de fevereiro a setembro de 2007, foram atendidos 61 pacientes,
sendo 10 em situação de internação/pós-cirúrgica e 51 na sala de espera do setor de Endoscopia Digestiva. Os pacientes em
preparação para endoscopia apresentavam sintomas ansiosos como: palpitação/aceleração do coração; nervosismo, tremores nas
mãos, medo de perder o controle, medo que aconteça o pior. Estes sintomas algumas vezes, impediam a realização dos exames.
Foram realizadas técnicas de relaxamento em alguns pacientes, suporte emocional, priorizando a escuta e o repasse de
informações sobre os procedimentos. Os pacientes demonstraram melhora nas condições emocionais no momento da realização
dos exames, apesar das limitações deste tipo de intervenção pontual. Os resultados apontam para a necessidade de inclusão do
psicólogo no acompanhamento prévio de pacientes que deverão se submeter a procedimentos invasivos, visando a humanização e
a resolutividade dos procedimentos realizados no hospital.
Palavras-chave: Psicologia hospitalar; ansiedade; humanização.
INTRODUÇÃO
No final da década de 80, surge no Brasil a denominada Psicologia Hospitalar, que inicialmente utilizou o
modelo clínico tradicional em suas intervenções. De maneira geral, a Psicologia Hospitalar agregou os conhecimentos
da Ciência Psicológica para aplicá-los às situações especiais que envolvem os processos doença-internação-tratamento
permeados pela complexa relação entre o médico, a família e a equipe saúde. (Chiattone & Sebastiani, 1997; Gianotti,
1989;).
O desenvolvimento dessa área, portanto, contribuiu para o debate sobre o modelo de atendimento
psicológico desenvolvido no consultório e sua transposição para o hospital, fortalecendo o desenvolvimento de
teorias e técnicas específicas para a atenção às pessoas necessitando de atendimento médico. Os pacientes em sua
maioria apresentam demandas psicológicas associadas ao processo doença-internação-tratamento, tanto como
reações que podem agravar o quadro e/ou impor seqüelas dificultando ou inviabilizando sua recuperação.
Assim entende-se a necessidade da inserção do psicólogo no espaço hospitalar para identificação de temores,
frustrações e impedimentos de ordem psíquica que geralmente estão relacionados com a forma como o paciente se
posiciona frente à enfermidade, podendo produzir sintomas psíquicos de diversos tipos ou resultar no abandono do
tratamento e em dificuldades na comunicação equipe-paciente, entre outras conseqüências. (Benute & cols., 2001).
Dentre os vários sintomas presentes na situação hospitalar podemos ressaltar a ansiedade do paciente que se
encontra frente a algum tipo de procedimento médico.
Andrade & Gorenstien (1998) afirmam que a ansiedade é um estado emocional, formada por aspectos
psicológicos e fisiológicos, oriundos dos aspectos normais das experiências humanas. Podendo, os sintomas ansiosos
estarem presentes em qualquer pessoa e em qualquer período e situação de sua existência.
Aubrey Lewis, estudou e destacou alguns significados relevantes sobre a ansiedade, como demonstrou
Andrade & Gorenstien (1998), afirmando que a ansiedade é uma emoção desagradável, desencadeada por uma
experiência subjetiva de medo, onde a sensação de perigo está presente, além, de destacar um desconforto corporal,
causado por vários sintomas, durante o estado ansioso.
Tais sintomas são descritos pelo DSM IV (2005), entre eles tem-se: irritabilidade, perturbação de sono ou
sono insatisfatório, fatigabilidade, inquietude ou sensação de estar com os nervos a flor da pele, tensão muscular e
dificuldade em concentrar-se, ou seja, variedades de desconfortos somáticos conseqüentes da hiperatividade do
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sistema nervoso autônomo, além de um sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional social ou
ocupacional de áreas importantes do indivíduo, devido à preocupação, ou aos sintomas físicos.
A ansiedade passa a ser patológica quando não existe uma situação aparente ou específica que a
desencadeou, ou quando ela é desproporcional a essa situação, caracterizando neste caso, um transtorno ansioso, ou
uma característica persistente da personalidade da pessoa.
Sendo, primeiramente, um estado emocional, de acordo com Andrade & Gorenstien (1998), a ansiedade está
relacionada a uma sensação de medo, insegurança, antecipação apreensiva de uma situação, conteúdo de
pensamento por catástrofe ou incompetência pessoal.
Tal estado pode ser desencadeado quando o indivíduo necessita de atendimento numa unidade de saúde ou
hospital, onde, se depara com uma situação de doença ou de sua probabilidade, com realização de exames
diagnósticos e com a possibilidade de realização de procedimentos cirúrgicos.
Neste caso, o paciente pode temer a dor, a morte, o sofrimento, o sintoma físico. O sentimento de
impotência se instaura, o paciente vive um momento de apreensão, de preocupação, pois sabe que “pode ser
submetido a procedimentos médicos que, embora, visem sua melhora, podem adquirir um caráter ameaçador e
invasivo” (ROSSI et al. 2004).
A Endoscopia Digestiva Alta (ADA) é um exame indicado como auxílio no diagnóstico e tratamento de
doenças do esôfago, estômago e duodeno. Para sua realização é utilizado um endoscópio, aparelho constituído por
uma câmara de vídeo acoplada a um tubo de borracha flexível, que permite a visualização da mucosa através da outra
extremidade do aparelho ou de um monitor de vídeo, tendo como objetivo, investigar doenças no esôfago, estômago
e intestino.
De acordo com Silva & Santos (1996), a indicação e realização deste tipo de procedimento provoca sempre
certo nível de ansiedade no paciente e, por extensão, na equipe encarregada de atendê-lo. Este nível de ansiedade é
consideravelmente maior quando se trata de um procedimento ainda desconhecido para o paciente. A observação
empírica, de acordo com estes autores, tem demonstrado que esse desconforto já se instala a partir do momento da
indicação, quando seu imaginário passa a ser fortemente influenciado pelas informações que lhe chegam através de
pessoas de sua convivência.
Padilha e Kristensen (2006), também afirmam que as fantasias e crendices populares sobre esses possíveis
procedimentos são muitas e podem interferir com bastante intensidade na maneira como os pacientes as enfrentam,
sendo, bem constante, encontrar receios e preocupações a partir do momento da indicação do procedimento.
Dessa forma, o psicólogo deve atuar com o objetivo de minimizar a angústia, ansiedade e o medo do
paciente, favorecendo a expressão dos sentimentos e auxiliando na compreensão da situação vivenciada,
proporcionando também, um clima de confiança entre o paciente e equipe de saúde, facilitando a verbalização das
fantasias advindas do processo diagnóstico ou invasivo.
Dessa forma, o presente trabalho buscou uma maior participação do psicólogo no hospital, atuando para
minimizar o estresse e a ansiedade causados nos usuários em situações de exames de apoio diagnóstico como a
Endoscopia Digestiva Alta e procedimentos invasivos como as cirurgias, promovendo assim uma redução dos sintomas
psíquicos que podem resultar no abandono do tratamento ou em dificuldades na comunicação equipe-paciente, entre
outros. Dessa forma, contribuindo de maneira decisiva para uma atenção resolutiva e humanizada além de promover
a qualidade de vida do paciente.
METODOLOGIA
Participantes: Foram acompanhados 61 pacientes adultos, maiores de 18 anos, de ambos os sexos, inseridos
nos serviços de Apoio diagnóstico do HUBFS e pacientes em situação de cirurgia. Após um período de estudos e
levantamento da literatura de apoio foram realizadas as seguintes atividades:
1° Etapa: levantamento das demandas de atendimento, junto às equipes de profissionais que realizam
cirurgias e/ou exames diagnósticos. Elaboração de material educativo direcionado às salas de espera.
2° Etapa: Observação e realização de salas de espera para posterior planejamento da atuação da psicologia
nos Serviços de Apoio diagnóstico e cirurgias.
3° Etapa: Intervenção, priorizando os seguintes momentos:
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Extensão Universitária e Políticas Públicas
1.
Estabelecimento do vínculo inicial, a partir da explicação dos objetivos do projeto para os pacientes.
2.
Levantamento de informações que os pacientes já haviam recebido sobre os exames.
3.
Repasse de informação necessária para que o mesmo pudesse enfrentar a situação.
4.
Suporte emocional priorizando a escuta, quando necessário.
5.
Realização de técnicas de relaxamento, especialmente com pacientes internados.
RESULTADOS
No período de fevereiro a setembro de 2007, foram atendidos 61 pacientes, sendo 10 em situação de
internação/pós-cirúrgica e 51 na sala de espera do setor de Endoscopia Digestiva. Os pacientes em preparação para
endoscopia apresentavam sintomas ansiosos como: palpitação/aceleração do coração; nervosismo, tremores nas
mãos, medo de perder o controle, medo que aconteça o pior, incapacidade para relaxar, dormência ou formigamento,
tremores nas pernas. Em alguns casos estes sintomas, impediram a realização dos exames, em outros a intervenção
foi capaz de ajudar no controle dos sintomas e o procedimento foi realizado com êxito. Alguns pacientes relataram
desconhecimento quanto aos procedimentos que iriam se submeter e medo quanto ao resultado dos exames. Além
disso, a utilização de um tipo de medicamento a base de benzodiazepínico, pode desencadear reações emocionais
após a realização da endoscopia. Este fator também pode contribuir para dificultar o processo de recuperação do
paciente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De um modo geral os pacientes demonstraram melhora nas condições emocionais no momento da realização
dos exames, apesar das limitações deste tipo de intervenção pontual. Esta experiência inicial do projeto, apontou a
necessidade de organização de um protocolo de avaliação do paciente em situação pré e pós procedimentos de
exame ou cirúrgico, visto que os critérios de avaliação podem se tornar importantes indicadores de monitoramento da
qualidade de vida e da atenção dirigida ao paciente por parte da equipe de saúde.
Apesar de definido no projeto como instrumento de avaliação o inventário da Organização Mundial da Saúde
(WHOQOL-versão em Português/1998), observou-se a necessidade de inclusão de outros instrumentos de avaliação
que possam ampliar e aprofundar a análise do paciente. Este tipo de procedimento que envolve a utilização de
questionários e inventários requer a utilização das normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que
normativa as pesquisas envolvendo seres humanos.
Além disso, todo atendimento realizado no âmbito do HU, deverá estar acompanhado de um documento
(consentimento livre e esclarecido), que possa dar as devidas garantias e esclarecimentos para os usuários e
profissionais dos procedimentos realizados. Neste sentido os projetos de extensão realizados no contexto hospitalar
precisariam além de contemplar a resolução, serem submetidos à aprovação de um Comitê de Ética.
Para minimizar esta questão o projeto em tela deverá encaminhar ao Comitê de Ética o plano de trabalho dos
bolsistas, que deverão desenvolver pesquisas em seus procedimentos, além da assistência. Outra dificuldade
encontrada nesta fase inicial do projeto foi uma maior articulação com as equipes que compõem os serviços, algumas
avaliações não foram repassadas a equipe. As dificuldades em estabelecer uma rotina de encontros com os
profissionais, têm dificultado o processo de retorno dessas avaliações.
Além disso, os resultados apontam para a necessidade de inclusão do psicólogo no protocolo de
acompanhamento prévio de pacientes que deverão se submeter a procedimentos invasivos, visando a humanização e
a resolutividade dos procedimentos realizados no hospital.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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uma aproximação possível. Psicol. hosp. (São Paulo), dez. 2004, vol.2, no.2, p.0-0. ISSN 1677-7409.
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no
Exame
de
Endoscopia
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Disponível
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site:
http://www.proext.ufpe.br/cadernos/saude/interv.htm,1996.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
DOENÇAS GRANULOMATOSAS EM OTORRINOLARINGOLOGIA – UMA BREVE REVISÃO
Francisco Xavier Palheta Neto1
Angélica Cristina Pezzin Palheta (Coordenadora)2
Adilson Góes Rodrigues Júnior (Bolsista)3
HUBFS/UFPA
RESUMO: Introdução e Revisão da Literatura: As doenças granulomatosas vêm se tornando cada vez mais presentes nos
atendimentos otorrinolaringológicos. O estado nutricional do paciente, as condições de moradia, os hábitos pessoais e as visitas a
áreas endêmicas são fatores que facilitam o surgimento destas doenças. São abordados neste trabalho: tuberculose,
rinosporidiose, paracoccidioidomicose, hanseníase e leishmaniose, tratando-se de diversos aspectos como diagnóstico e
tratamento. Objetivo: Chamar a atenção dos médicos otorrinolaringologistas, sobretudo aqueles com menor experiência, para a
freqüente ocorrência destas doenças, além de realizar breve revisão. Material e métodos: Foram realizadas pesquisas em revistas
médicas e livros texto, através de pesquisa em bibliotecas e via Internet nos sites www.bireme.br e www.yahoo.com.br Discussão:
Inúmeras dificuldades são enfrentadas pelos pacientes durante seu diagnóstico e tratamento, sobretudo os de classe econômica
baixa. As principais são: dificuldade de acesso aos clínicos gerais e médicos especialistas, doenças em estágios já avançados
relatados na primeira consulta e grandes filas de espera para realização de cirurgias visando biópsias. Conclusão: A anamnese
detalhada destes pacientes revela importantes aspectos, como procedência e hábitos pessoais. A atuação interdisciplinar,
sobretudo de médicos otorrinolaringologistas e infectologistas, colabora para um preciso diagnóstico e adequado
acompanhamento do doente.
Palavras-chave: Doenças Granulomatosas; Infectologia; Otorrinolaringologia; Estomatologia.
INTRODUÇÃO
As doenças granulomatosas vêm se tornando cada vez mais presentes nos atendimentos
otorrinolaringológicos. O estado nutricional do paciente, as condições de moradia, os hábitos pessoais e as visitas a
áreas endêmicas são fatores que facilitam o surgimento destas doenças. São abordados neste trabalho: tuberculose,
rinosporidiose, paracoccidioidomicose, hanseníase e leishmaniose, tratando-se de diversos aspectos como diagnóstico
e tratamento. Objetiva chamar a atenção dos médicos otorrinolaringologistas, sobretudo aqueles com menor
experiência, para a freqüente ocorrência destas doenças, além de realizar breve revisão.
TUBERCULOSE - OTOMASTOIDITE
A Tuberculose (TB) é uma doença infecciosa de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium tuberculosis,
importante patógeno em termos de morbidade e mortalidade nos dias de hoje2,8.
Por várias décadas a TB foi um grave problema de saúde pública. Após um período de aparente controle com
esquemas terapêuticos variados, esta doença volta a preocupar, seja pelo aumento da resistência às drogas utilizadas,
seja pelo incremento da casuística em imunodeprimidos, sobretudo em infectados pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV)2,9.
No início do século XVIII, Jean Louis Petit descreveu com precisão o quadro clínico da tuberculose. Entretanto,
somente em 1882, Robert Koch descreveu o bacilo da TB – M. tuberculosis. Em 1883, Eschle foi o primeiro a identificar
o bacilo no ouvido10.
A anamnese deve ser detalhada e ressaltar aspectos como residência em áreas endêmicas, contato com
pacientes tuberculosos ou quadro ativo ou pregresso de TB3,5,7.
Sua dificuldade diagnóstica é conseqüente ao fato de acometer indivíduos aparentemente sadios, que podem
apresentar sinais/sintomas clínicos diversos7,10. Os mais freqüentes são otorréia – cristalina, serosa ou purulenta – e
hipoacusia em diferentes graus – seja de transmissão (20%), neurossensorial (30%) ou mista (50%)3-5,10. Zumbido e
1
Doutorando em Neurociências. Mestre em Otorrinolaringologia. Professor Assistente de Otorrinolaringologia da Universidade
Federal do Pará – UFPA e da Universidade do Estado do Pará – UEPA. Coordenador Científico e Preceptor da Residência Médica em
Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza – HUBFS.
2
Mestre em Otorrinolaringologia. Professora Assistente de Otorrinolaringologia da Universidade do Estado do Pará – UEPA.
Coordenadora do Projeto de Saúde Auditiva e Preceptora da Residência Médica em Otorrinolaringologia do Hospital Universitário
Bettina Ferro de Souza – HUBFS.
3
Bolsista do Projeto de Extensão Doenças Infecto-contagiosas em Otorrinolaringologia, no Hospital Universitário Bettina Ferro de
Souza – HUBFS. Aluno do Terceiro Semestre do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do Pará.
580
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vertigem podem também ocorrer10. Nos casos de paralisia facial em pacientes com história de otite média crônica não
colesteatomatosa, TB deve ser a primeira suspeita10.
A otalgia pode existir na fase aguda, sendo ainda mais rara na crônica3,5. Pode ocorrer quando associada à
infecção bacteriana4. Plester e colaboradores (1980) chamaram atenção para três sinais/sintomas que determinam
suspeita de etiologia tuberculosa: a) otalgia sem presença de sinais inflamatórios evidentes; b) coloração acinzentada
da mucosa; e c) presença de tecido de granulação, que se projeta quando as células da mastóide são abertas durante
o ato operatório, como se estivessem sob pressão no interior destas cavidades, justificando possíveis queixas álgicas.
Alguns critérios são utilizados, guiando hipóteses e confirmações diagnósticas. São eles: insucesso
terapêutico com antibióticos não tuberculostáticos, presença de tecido de granulação abundante, paralisia facial,
história de TB pulmonar ativa ou curada, importante disacusia condutiva, prova tuberculínica (PPD) positiva e
linfadenite regional, sobretudo em crianças. Três destes nos levam à suspeita e cinco ou mais ao diagnóstico1,6,8,9,10.
A TB de ouvido médio pode se apresentar de duas formas: aguda e crônica. Na primeira situação observa-se a
membrana timpânica com múltiplas perfurações na pars tensa, achado efêmero e patognomônico, logo convergindo
para formação de uma única e ampla perfuração. Já na forma crônica observa-se otorréia indolor e achados
otoscópicos desproporcionais a significativa e precoce perda auditiva do tipo condutiva1,3,4,8,9,10. É mais comum em
crianças e adultos jovens, podendo ocorrer nas primeiras semanas de vida ou ser congênita3, 4.
A baciloscopia e a cultura do corrimento aural são de baixa positividade, sobretudo em pacientes submetidos
ao uso crônico de gotas otológicas à base de neomicina3,5. O exame histopatológico positivo define a etiologia
tuberculosa3.
A radiografia e a tomografia computadorizada do ouvido médio podem mostrar matóides bem
pneumatizadas, velamento das células e/ou destruição óssea3, além de ser importante auxílio no diagnóstico
diferencial de otite média aguda colesteatomatosa4.
O tratamento clínico com tuberculostáticos é fundamental. Os antimicrobianos recomendados pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e mais comumente usados nos países em desenvolvimento nas Américas são8:
isoniazida, estreptomicina, etambutol, etionamida, rifampicina e pirazinamida. A associação medicamentosa
adequada, doses corretas, uso por tempo suficiente com supervisão da tomada dos medicamentos, são os meios para
evitar a persistência bacteriana e o desenvolvimento de resistência às drogas, assegurando assim a cura do paciente.
A reparação da hipoacusia de condução pode ser obtida após a cura, inclusive realizando-se timpanoplastia, o
que não costuma acontecer com a hipoacusia neurossensorial. O zumbido pode ceder ou não. A vertigem cessa
espontaneamente ou com tratamento. A paralisia facial pode ter regressão parcial ou total, dependendo do tempo de
evolução e do comprometimento do nervo3. É evidente que quanto mais precoces forem o diagnóstico e o
tratamento, melhor será o prognóstico7.
As complicações compreendem: mastoidites, osteítes ossiculares ou parietais, paralisias faciais, abscessos
extradurais, fístulas retroauriculares, comprometimentos do IX, X e XI nervos, hemorragias, meningites e
labirintopatias – conseqüentes ao comprometimento do ouvido interno pelo M. tuberculosis3. As seqüelas são
tratadas como se fossem decorrentes de otites médias crônicas de qualquer etiologia6,9. A abordagem cirúrgica varia
desde simples limpeza até mastoidectomia radical3.
RINOSPORIDIOSE
A Rinosporidiose é uma infecção granulomatosa crônica causado por um protozoário aquático11-16,19,20. A
primeira referência a esta doença foi feita por Guiliermo Seeber, em 1900, na Argentina14,18. O primeiro caso no Brasil
foi observado por Montenegro, em 1930, em um paciente atendido na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo16.
A distribuição geográfica permanece inadequada dada a falta de informação científica disponível16. É uma
doença típica de climas tropicais, endêmica no Sul da Índia e no Sri-Lanka, rara na Europa, observando-se casos
isolados e esporádicos em quase todo o mundo12,18,20. No Brasil, foi observada principalmente na região nordeste.
Acomete mais homens que mulheres com maior incidência na segunda e terceira décadas de vida18. A doença tem
sido encontrada também em animais como cavalos, mulas, gatos cachorros e patos selvagens12.
A natureza do agente causal tem sido muito debatida. Inicialmente descrito como protozoário, foi
posteriormente classificado como fungo por Askworth (1923), denominado Rhinosporidium seeberi18. Atualmente
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através da análise do 18S rRNA (Ácido Ribonucleico Ribossomal) tem sido enquadrado em um novo grupo de parasitas
aquáticos17. Seu habitat natural, hospedeiro, reservatório natural e ciclo vital são desconhecidos18.
A infecção resulta de uma inoculação local no organismo14. Estudos têm relacionado a infecção a nadadores
ou banhistas de represas, lagos e rios de água doce17. Não se relacione com imunodeficiências, sendo o contágio
homem a homem extremamente raro16.
Afeta principalmente as fossas nasais e os olhos, e ocasionalmente os ossos, a pele e as vísceras11,16,20.
Apresenta-se sob quatro formas: nasal, ocular, cutânea e disseminada (rara)11,12,15,16,18. A sintomatologia varia com a
localização e o estágio de desenvolvimento da lesão15,16.
Nas formas cutânea e sistêmica evidenciam-se pequenas pápulas, suscetíveis de grande crescimento e
coalescência, que podem assumir aspecto verrucoso friável ou tipo queimadura no couro cabeludo, abdome,
nasofaringe, cavidade oral, traquéia, uretra, ânus e pênis15,16,18,20. Na faringe posterior e na laringe os pólipos que
aumentam gradualmente de tamanho podem determinar sintomas obstrutivos, como disfagia e dispnéia16.
As infecções localizadas nas fossas nasais e nasofaringe correspondem a 70% do total dos casos11,20. A doença
nas mucosas se caracteriza por lesões de aspecto polipóide, friáveis, sangrantes, sésseis ou pediculadas, de
crescimento lento e superfície rósea-avermelhada, semeada de pontos branco-acinzentados, às vezes papilomatosas e
verrucosas e não dolorosas14.
A Rinosporidiose nasal pode se manifestar por rinorréia mucóide profusa, sensação de corpo estranho nasal,
obstrução nasal unilateral ou bilateral progressiva, respiração bucal, prurido, crises esternutatórias, coriza, epistaxes,
descarga pós-nasal e tosse14,16,17,20. Os locais de maior acometimento são os cornetos inferiores, o septo nasal e o
assoalho nasal11.
Seu correto diagnóstico baseia-se na anamnese, exame físico – com adequada rinoscopia anterior, e exames
complementares - endoscopia nasal com fibra óptica (rígida ou flexível), radiografia simples, tomografia
computadorizada e/ou ressonância nuclear magnética das cavidades paranasais são de suma importância na avaliação
da extensão do processo e programação terapêutica.
O R. seeberi não cresce em meios de cultura ou em cultivos celulares, nem tampouco é inoculável com
sucesso em animais de experimentação14,18-20. O quadro morfológico é distinto e, portanto, o diagnóstico é realizado
pelo exame microscópico obtido do material histológico/citológico dos exsudatos ou lesões tissulares16.
Faz-se diagnóstico diferencial da Rinosporidiose nasal com corpo estranho, hipertrofia e degeneração
polipóide dos cornetos nasais, tumores nasais ou de cavum, angioma, leishmaniose, escleroma, angiofibroma juvenil,
pólipo antrocoanal, condiloma acuminado e polipose inflamatória crônica14,16.
O tratamento de eleição é a exérese cirúrgica com ampla excisão e eletrocoagulação da base da lesão, que
promove um decréscimo na recorrência15. Observa-se a recorrência nos casos de simples excisão variando em torno
de 10% dos casos. O tratamento medicamentoso com Griseofulvina e a Anfotericina B tem sido utilizado,
aparentemente sem bom resultado nos casos multilantes ou disseminados16. A utilização local de Anfotericina B e
Nitrato de Prata a 2% pode ajudar15. A diaminodifenilsulfona foi utilizada com boa resposta15.
Infecção bacteriana local secundária, recorrência e disseminação com risco de vida - que é extremamente
raro, são as formas de complicação20. O prognóstico é excelente, exceto nos casos de disseminação, admitindo-se até
mesmo a possibilidade de regressão espontânea16,20. A profilaxia básica consiste em evitar o contato com águas
contaminadas, principalmente em regiões endêmicas.
PARACOCCIDIOIDOMICOSE
A Paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose profunda sistêmica causada por um fungo dimorfo conhecido
por causar doença primária no homem, de aspecto microscópico similar a roda de leme de navio, o Paracoccidioides
brasiliensis (Pb)21-24. Seu período de incubação pode variar de 15 dias a 40 anos24. Apresenta sinonímia variável:
estomatite moriforme de Aguiar-Pupo, blastomicose sul-americana e micose de Lutz-Splendore-Almeida21,23.
Foi inicialmente descrita por ADOLFO LUTZ, em 1908, em dois pacientes internados na Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo. ALFONSO SPLENDORE, em 1912, foi o responsável pelo isolamento do Pb, e FLORIANO PAULO DE
ALMEIDA pela descrição deste novo gênero21-23,26.
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Todas as raças parecem ser igualmente susceptíveis a doença. Apresenta predileção por trabalhadores rurais
do sexo masculino, entre a quarta e a quinta décadas de vida, sobretudo aqueles com hábito de mascar ou limpar os
interstícios dentais com pequenos fragmentos vegetais21,22,25,26. Pedreiros também representam um grupo profissional
freqüentemente acometido25.
Observam-se duas prováveis vias de contaminação: a via inalatória – a lesão primária seria pulmonar,
associada a linfadenopatia21; ou ainda a via tegumentar, através de traumatismos ou soluções de continuidade préexistentes na cavidade oral, como ulcerações aftosas, doença periodontal e processos cariosos profundos27.
Como micose profunda, apresenta diversas manifestações clínicas, como resultado da penetração do Pb no
hospedeiro. A anamnese revela a procedência e os hábitos do paciente, que comumente refere: salivação abundante,
sensação dolorosa à deglutição, rouquidão e falta de ar. Ocorre também comprometimento do estado geral, traduzido
por sintomatologia inespecífica: anemia, fraqueza, emagrecimento, cefaléia, inapetência e febre25.
Clinicamente apresenta a forma juvenil (aguda ou sub-aguda), que acomete indivíduos jovens, sendo de
curso rápido e apresentando marcante envolvimento do sistema retículo-endotelial, representando 3% a 5% dos
casos; e a forma adulta ou crônica, mais localizada, acometendo freqüentemente pulmões e vias respiratórias23,26,27.
Observam-se lesões cutâneo-mucosas, linfonodos regionais e tendência a disseminação linfática e/ou
hematogênica, por vezes fatal na ausência de terapêutica precoce e adequada21-23,26. As lesões cutâneo-mucosas
caracterizam-se por ulcerações com fundo granuloso e avermelhado, acompanhado por ponteado hemorrágico
característico, denominado estomatite moriforme. Mucosas nasal e oral são quase sempre acometidas25, sendo que
os lábios apresentam tumefação difusa22. Observam-se lesões laríngeas, com destruição da epiglote (Figura 1).
Gengivites úlcero-hemorrágicas, periodontites, mobilidade e perdas dentais são freqüentes22,23. As lesões pulmonares
predominam em terço médio e base, com nódulos, infiltração e fibrose27.
O diagnóstico pode ser realizado através do isolamento do fungo, provas sorológicas e histopatológicas. A
radiografia simples do tórax é também de grande valor.
Possui importante e vasto diagnóstico diferencial, sendo frequentemente confundido com lesões neoplásicas,
como no caso descrito por LODI, em 1985, cujo diagnóstico definitivo de PCM primária de laringe foi determinado
somente após a segunda biópsia, substituindo o equivocado diagnóstico inicial de carcinoma. A frequência com que as
lesões primárias se localizam na cavidade oral, diferem-na da Blastomicose norte-americana (Doença de GILCHRIST),
raramente aí observada22. Inclui-se também no diagnóstico diferencial: tuberculose, lupus eritematoso, sarcoidose,
sífilis, granuloma de Wegener, granuloma inguinal, actinomicose e leishmaniose25.
Derivados sulfamídicos, Anfotericina B e derivados imidazólicos, como o Cetoconazol, o Itraconazol e o
Fluconazol são citados com bons resultados terapêuticos, considerando-se boa tolerabilidade, poucos efeitos
colaterais e facilidade posológica, possibilitando um aumento da sobrevida dos pacientes afetados, já que no passado
o curso final da doença era fatal27.
HANSENÍASE
O agente causador da hanseníase é um bacilo denominado Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen,
pertencente à família das Mycobactérias, que incluem diversos microorganismos causadores ou não de doença
humana. Tem a característica de ser álcool ácido- resistente, corando-se pela fucsina ácida em vermelho28-34.
É parasita intracelular obrigatório, apresentando afinidade por células cutâneas e por células dos nervos
periféricos. O bacilo de Hansen se reproduz muito lentamente. Seu tempo médio de multiplicação é de doze a catorze
dias, muito longo se comparado ao do bacilo da tuberculose, que é de vinte horas. Esta lentidão biológica do bacilo
explica a cronicidade de sua evolução e longo período de incubação, o qual ocorre em média de dois a cinco anos29.
Acomete sobretudo pacientes do sexo masculino, sendo o contato direto prolongado com o paciente sua
principal forma de transmissão. Admite-se que a inoculação ocorra pela mucosa nasal e por meio de soluções de
continuidade, como nódulos feridos na pele, o leite materno, assim como cortes e rachaduras da pele dos doentes29.
A hanseníase pode ser classificada em: hanseníase indeterminada (HI) é a forma inicial não contagiante,
evoluindo espontaneamente para a cura na maioria dos casos. As lesões iniciais da doença são planas, esbranquiçadas
ou avermelhadas e com diminuição da sensibilidade. Na hanseníase tuberculóide (HT) as lesões são manchas
avermelhadas bem delimitadas e benignas. Não se encontram bacilos nesta lesão. Geralmente são pouco numerosas
ou únicas, e com ausência de sensibilidade. Ocorrem alterações nos nervos próximos à lesão, podendo causar dor,
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fraqueza e atrofia muscular. A hanseníase virchowiana (HV), apresenta-se com manchas vermelho-vinhosas ou
acastanhadas, mal delimitadas. A pele tem nódulos e caroços. Sempre se encontram bacilos nas lesões. Nestes casos a
resposta a imunidade celular é nula e o bacilo se multiplica muito, levando a um quadro mais grave e de forma
contagiante. Os órgãos internos também são acometidos pela doença. E por último, na hanseníase dimorfa (HD), as
lesões ora se assemelham a virchowiana ora à tuberculóide. Pode ser ou não contagiante. O número de lesões é
maior, o acometimento dos nervos é mais extenso e forma-se manchas que podem envolver partes da pele sadia30.
O Mycobacterium leprae pode ser encontrado em várias partes da superfície do corpo, como a pele das
extremidades, os lobos das orelhas, hélix, anti-hélix, tragus, cartilagem alar, septo e testículos. A temperatura destas
áreas é menor que a temperatura normal do corpo, propiciando meio favorável para o bacilo.
As regiões da cavidade oral mais comumente envolvidas são: lábios, palato mole, palato duro, úvula,
gengivas, língua e pilares anteriores. As lesões podem estender-se à parede posterior da nasofaringe, orofaringe e
amigdalas palatinas. Sinéquias e atresias residuais da faringe poderão ocasionar dificuldades da deglutição31. Podem
ocorrer alterações de mobilidade e motricidade de língua e redução da sensibilidade oral. O acometimento da laringe
inicia-se pela extremidade livre da epiglote e pregas vocais. Este envolvimento é progressivo e pode levar à estenose
completa da laringe.
O diagnóstico se faz por meio da história clínica e exame dermato-neurológico, complementado por testes e
exames laboratoriais, como o exame baciloscópico, realizado em todos os pacientes com suspeita clínica de
hanseníase. Os sítios de coleta de material são áreas com alterações da sensibilidade ou lesões ativas, sendo realizada
esta coleta em quatro sítios distintos. Na ausência de lesões ou áreas dormentes, a coleta será feita nos dois lóbulos
auriculares e nos dois cotovelos. Posteriormente são coradas com a coloração de Ziehl-Neelsen28,29.
Considera-se comprometida a mucosa nasal (Figura 2) quando nela evidenciamos, à rinoscopia anterior e
posterior, lesões típicas e individualizadas da rinite leprótica, como infiltração, lepromas, ulcerações e perfuração,
assim como outros aspectos observados não exclusivos da rinite leprótica, como descoramento ou palidez da mucosa,
congestão, ectasias, vasculites, crostas, atrofia, ressecamento e presença de sangue, que podem ser encontradas em
outras afecções nasais. Geralmente, as lesões estão localizadas na parte ântero-inferior das cavidades nasais, região
unânime entre os autores por oferecer fatores predisponentes como facilidade ao acesso do bacilo, trauma mecânico,
baixa temperatura, entre outros. Em muitos pacientes, entretanto, esses aspectos foram determinados pela infecção
leprótica, conforme demonstrado pela bacterioscopia e, sobretudo, à histopatologia, evidenciando infiltração
perivascular e neural específicas da hanseníase29.
O tratamento é eminentemente ambulatorial, realizado nos serviços básicos de saúde. Consiste em uma
associação de medicamentos -Rifampicina, Dapsona e Clofazimina- a poliquimioterapia padrão OMS (PQT/OMS). O
tempo de tratamento varia de seis meses a um ano. Após duas semanas do início do tratamento, o paciente
hanseniano deixa de ser infectante29,32,34. Durante o tratamento da hanseníase é igualmente necessário o controle dos
estados reacionais, intercorrências onde ocorrem episódios de agudização, com aumento da atividade da doença,
provenientes de alterações do estado imunológico e que têm importante significado na manutenção do estigma da
doença, por sua associação com a geração de deformidades33.
LEISHMANIOSE CUTÂNEO-MUCOSA
A Leishmaniose Cutâneo-Mucosa (LCM) é uma doença infecto-parasitária, não contagiosa, decorrente do
parasitismo de macrófagos por protozoário flagelado do gênero Leishmania, transmitido ao homem pela picada de
um artrópodo (flebótomo) fêmea infectado. Observam-se lesões cutâneas, mucosas e cartilaginosas, de caráter
destrutivo35,36.
Apresenta período de incubação variável. Esta presente em praticamente todos os estados brasileiros,
predominantemente na região norte.
A LCM ocorre primariamente em animais mamíferos, reservatórios onde a infecção tende a ser benigna,
assintomática e inaparente. O homem e os animais domésticos tendem a ser reservatórios a medida que o vetor se
aproxima de regiões domiciliares. Os patógenos se apresentam de duas formas: amastigota, encontrada no sangue e
nas lesões teciduais; e promastigota, forma infectante, vista no inseto vetor e em culturas.
As manifestações clínicas variam desde a forma subclínica até a forma difusa, de acordo com a espécie
infectante e a resposta imunológica do hospedeiro36.
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As lesões teciduais iniciam-se por edema e eritema local, evoluindo para lesão papulopustulocrostosa, que
evolui para ulceração característica, denominada úlcera de Bauru, forma típica da LCM. Apresenta-se por úlcera
circular ou reniforme de bordas elevadas, infiltradas, de fundo irregular, granulomatoso, geralmente recoberto por
secreção sero-purulenta. Tende a involução no período de seis a dezoito meses, deixando cicatriz atrófica típica.
As lesões mucosas podem ser simultâneas com as cutâneas, o que é mais freqüente, ou ainda surgirem
meses ou anos depois. Traduz-se por infiltração e eritema do septo nasal, seguindo-se de ulceração e perfuração da
cartilagem; infiltração do lábio superior e das asas do nariz. A destruição do septo cartilaginoso e consequente
desabamento do nariz configura a chamada fascies tapiróide (nariz de anta). Toda a mucosa oral, a faringe (Figura 3) e
a laringe poderão estar envolvidas, apresentando lesões úlcerovegetantes.
O diagnóstico da LCM pode ser eminentemente clínico através das características lesionais e refratariedade
ao tratamento com antibióticos. Podem ainda ser realizados exame direto corado pelo Giemsa, Wright ou Leishman
do material colhido por escarificação ou biópsia da borda da lesão, e exame histopatológico para identificação do
parasita nos tecidos. A intradermoreação de Montenegro tem alta sensibilidade e especificidade.
O diagnóstico diferencial deve ser feitos com outras doenças granulomatosas, carcinomas, sífilis terciária e
perfuração septal por uso de cocaína, dentre outras.
Diversas medicações foram utilizadas no passado como o cetoconazol e o iodeto de potássio37. Na atualidade,
o tratamento preconizado consiste na utilização de três drogas principais: N-metil-glucamina ou meglumina
(Glucantime®), Anfotericina B (Fungizon®) e Isotionato de pentamidina (Pentacarinat®). A prevenção consiste
basicamente na interrupção do ciclo e controle do vetor.
DISCUSSÃO
As doenças granulomatosas vêm ocupando nos últimos anos um espaço cada vez maior entre nossos
pacientes atendidos tanto em consultórios particulares, como nos ambulatórios dos hospitais públicos. A idéia de que
tais doenças acometeriam apenas indivíduos de baixo poder aquisitivo tende a mudar, como observado por PalhetaNeto e cols. (2003) em advogados e empresários diagnosticados com paracoccidioidomicose.
Talvez tais pacientes particulares possuam apenas uma única e fundamental vantagem em seu tratamento: a
facilidade de acesso ao atendimento médico. Em sua grande maioria, pacientes de baixo poder econômico
comparecem a consulta médica já em estágios avançados de suas enfermidades. São freqüentes os relatos de doentes
de que meses se passaram entre a consulta médica inicial, com clínico geral no atendimento primário em Unidade
Básica de Saúde (UBS), até a visita ao médico especialista em nível secundário ou terciário.
Tempo precioso é então desperdiçado, determinando muitas vezes a permanência de seqüelas, a
complicação do quadro e até mesmo a morte. A destruição de toda a pirâmide nasal em pacientes com leishmaniose
ou ainda a acentuada dispnéia observada em portadores de tuberculose de laringe que necessitam de traqueostomia
são bons exemplos. Evitar tais seqüelas, o conseqüente estigma da doença e a exclusão social são importantes
objetivos a serem alcançados.
Outra característica importante deste grupo de doenças é a particularidade em seus diagnósticos nosológicos
e diferenciais, que incluem muitas vezes exames sorológicos, cutâneos ou intervenções cirúrgicas visando biópsia com
subsequente exame histopatológico. A dificuldade e tempo de espera se maximizam quando então se fazem
necessários exames pré-operatórios e marcação de procedimentos cirúrgicos.
Hospitais sem equipamentos adequados e a baixa remuneração profissional corroboram para o agravamento
desta situação. Visando avaliar a complicada situação das filas de espera de cirurgias eletivas, a OECD (Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Econômicos), instituição com mais de 40 anos, realizou uma pesquisa na qual dividiu
seus países membros em dois grupos: aqueles em que a fila de espera para cirurgias era um problema (Austrália,
Canadá, Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Itália, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Espanha e Inglaterra) e aqueles em
que não era (Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Japão, Luxemburgo e Suíça), comparando então alguns aspectos da
política de saúde entre os dois grupos38-40.
As primeiras constatações já eram esperadas. Países com maior investimento em leitos hospitalares,
médicos, salas de cirurgia e tecnologia eram os que menos sofriam com filas de espera para cirurgia. Entretanto
algumas constatações do estudo chamam muita atenção. Segundo a pesquisa, a forma de remuneração do médico no
serviço público, quando analisada isoladamente, é um fator de forte impacto sobre a fila de espera. Países em que a
remuneração é feita por procedimento (o médico recebe por cirurgia) ou que adotam sistemas mistos de pagamento
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(salário mais produtividade) tinham menos problemas com filas de espera do que países em que o médico ganha um
salário fixo...
Voltando ao objetivo principal deste trabalho, percebemos que o estado nutricional do paciente e as
condições de moradia também propiciam o surgimento destas doenças. Outrossim, hábitos pessoais, visitas a áreas
endêmicas e número de co-habitantes de um mesmo domicílio devem ser avaliados.
Ressalta-se a importância da completa anamnese e do exame físico minucioso na abordagem destes
pacientes. Chama-se atenção para a necessidade da utilização de equipamentos endoscópicos como rotina na
investigação diagnóstica complementar, ou correremos o risco elevado de negligenciar o diagnóstico de lesões
laríngeas e da região posterior do septo nasal.
Para finalizar, defendemos a atuação multiprofissional, sobretudo entre os médicos otorrinolaringologistas e
infectologistas, unindo as facilidades no diagnóstico complementar vivida pelos primeiros, com a experiência no
tratamento e fellow up dos pacientes percebida no segundo grupo.
CONCLUSÃO
A anamnese detalhada destes pacientes revela importantes aspectos, como procedência e hábitos pessoais.
A atuação interdisciplinar, sobretudo de médicos otorrinolaringologistas e infectologistas, colabora para um preciso
diagnóstico e adequado acompanhamento do doente.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
COMPORTAMENTO ALIMENTAR E PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DE UNIVERSITÁRIOS
INTEGRANTES DE UM PROJETO DE ATENÇÃO EM SAÚDE NA CIDADE DE BELÉM-PA
Ana Carla Pinto da Silva
Janete Silva Conceição
RESUMO: Objetivo. Descrever o comportamento alimentar e o perfil sócio-econômico de estudantes universitários integrantes do
Projeto de Atenção Multiprofissional ao Aluno da Universidade federal do Pará (UFPA) com Baixo Peso, Sobrepeso ou Obesidade
(PAMAUFPA) do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS). Métodos: Estudo transversal descritivo realizado com uma
amostra sorteada de cinqüenta e oito estudantes universitários integrantes do Pamaufpa. Foram feitas entrevistas utilizando-se
formulário para colher o recordatório alimentar nas últimas 24 horas e outro questionário relativo às questões sócio-econômicas, o
estado nutricional foi obtido pelo Índice de Massa Corporal da OMS, 1997. Resultados: A maioria dos universitários era do sexo
feminino (65,5%), 36% residiam com familiares, pequena parcela consumia bebida alcoólica (24,13%). Cerca de 17,24% realizavam
atividade física e 8,62% fumavam. Em torno de 41,37% e 15,51%, respectivamente, consumiam hortaliças diariamente no almoço e
no jantar, 5,17% dos universitários não realizavam o desjejum e 20,68% não realizavam o jantar, este quase sempre substituído por
lanches. Os distróficos predominavam 36,2% com baixo peso; 22,21% com sobrepeso e 48,27% com obesidade. Foram encontrados
diagnósticos de obesidade I, II e III nesta amostra. Conclusão: Diante de tais resultados, pode-se observar a inadequação alimentar
destes universitários, associada a carência de informações quanto a obtenção de hábitos alimentares mais saudáveis e de um
planejamento alimentar adequado, haja visto que a vida acadêmica lhes requer muito tempo e dedicação, fazendo com que estes,
quase sempre negligenciem a saúde. Desta forma, os projetos de extensão voltados para área da saúde deveriam dar maior
atenção a este público, com o objetivo de sanar suas carências nutricionais, sociais e psicológicas, o que lhes daria um melhor
suporte para um bom desempenho acadêmico.
Palavras-Chave: Comportamento alimentar; sócio-econômico; universitários.
OBJETIVOS
Geral
•
Descrever o comportamento alimentar e o perfil sócio-econômico de estudantes universitários
integrantes do Projeto de Atenção Multiprofissional ao Aluno da Universidade federal do Pará
(UFPa) com Baixo Peso, Sobrepeso ou Obesidade (PAMAUFPA).
Específicos
•
•
•
•
Verificar o estado nutricional dos estudantes universitários
Verificar o consumo de álcool no meio acadêmico
Verificar a ocorrência de tabagismo entre os universitários
Verificar a prática de atividade física pelos universitários
INTRODUÇÃO
A alimentação, inclui o preparo, consumo, busca e escolha de alimentos, estando estes ligados a cultura de
cada país ou região (ASSIS, 2004).
O mercado alimentício é bem mais dinâmico economicamente do que outros setores como os de
automóveis, eletrônica e de armamento, evidenciando a importância da alimentação em qualquer etapa da vida,
garantindo o desenvolvimento e o crescimento das populações (PROENÇA, 2003).
O consumo inadequado e irregular de alimentos, pode causar danos graves à saúde, como o desenvolvimento
de doenças crônico-degenerativas, tais como as doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e câncer dentre
outras(BONOMO et al, 2003).
O entendimento dos aspectos culturais, nutricionais, sócio-econômicos e demográficos, que influenciam o
comportamento alimentar da população é de suma importância para avaliar o seu perfil alimentar, bem como suas
conseqüências (BONOMO et al, 2003).
O estudo dos hábitos alimentares pode revelar o que é comumente ingerido por uma dada população, bem
como também revelar a sua identidade, alem de ser de fundamental importância para a realização de outras
pesquisas neste campo (BORGES, 2000).
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Com o intuito de oferecer maiores informações nesta área, a presente pesquisa se propõe a caracterizar o
comportamento alimentar e o perfil sócio-econômico de estudantes universitários da Universidade Federal do Pará
inscritos num projeto de atenção à saúde de um hospital universitário da cidade de Belém.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
A população de estudo constituiu-se de 58 universitários da Universidade Federal do Pará (UFPa),
participantes do Projeto de Atenção Multiprofissional ao Aluno da UFPa com Baixo Peso, Sobrepeso ou Obesidade do
Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza.
O período de estudo foi de janeiro de 2007 à julho de 2007. Todos os dados foram coletados apenas uma vez.
As condições socioeconômicas e de saúde e variáveis comportamentais foram coletadas por meio de questionário
padronizado e previamente testado pelo Serviço de Nutrição e pelo Serviço Social do referido projeto.
O peso foi verificado através de uma balança calibrada de plataforma do tipo Welmy Modelo 110, com
capacidade 150 Kg e divisões de 100g. Os indivíduos foram posicionados em pé, no centro da base da balança,
descalço e com roupas leves.
Para a medição da estatura foi feita a aferição com estadiômetro fixo na balança que mede até 190
centímetros e graduado com precisão de 0,5 centímetros. Os indivíduos foram medidos em pé, descalços, com os
calcanhares juntos, costas retas, braços estendidos ao lado do corpo e cabeça posicionada num angulo de 90° com o
pescoço.
Quanto às características do hábito alimentar, foram questionados, durante a entrevista, os tipos de
refeições realizadas e os alimentos consumidos nestas refeições. A análise foi realizada considerando-se o
recordatório 24 hs aplicado aos alunos.
Após a verificação das medidas foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC), o qual baseia-se na relação
peso corporal (kg)/ estatura (m2). O estado nutricional foi classificado de acordo com a proposta da OMS (1997).
Os dados foram processados e analisados em banco de dados criado por meio do software Microsoft Office
Excel 2003.
A participação dos universitários neste estudo foi espontânea após terem sido esclarecidos sobre o mesmo,
sendo-lhes também livre a opção de abandoná-lo quando desejassem. Aqueles que apresentaram algum problema de
saúde ou nutricional receberam atendimento individualizado no Programa de Atenção Multiprofissional ao Aluno da
UFPa com Baixo Peso, Sobrepeso ou Obesidade da própria instituição.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maioria dos universitários estudados 79,3% era procedente da região metropolitana de Belém, com idade
entre 18 e 48 anos de ambos os sexos, sendo 38 (65,5 %) do sexo feminino e 20 (34,4) % do sexo masculino (Gráfico1).
Resultados parecidos com o desta pesquisa foram encontrados por Assis et al 2004 no estudo sobre o
consumo de alimentos industrializados na comunidade do centro universitário do leste de minas gerais, onde 74% dos
universitários era do sexo feminino, com faixa etária de 25 até 45 anos, possuindo uma renda de média de 2 a 5
salários mínimos.
No entanto, os resultados obtidos por Alves & Boog 2007 no estudo sobre o Comportamento alimentar em
moradia estudantil a maioria dos estudantes apresentou um percentual de 68% de alunos do sexo masculino e 32% do
sexo feminino. As idades variaram entre 19 e 39 anos, o que coincide com a idade encontrada no presente trabalho.
De acordo com o questionário sócio-econômico (Tabela 1) cerca de 36% deles não residiam com os pais e/ou
familiares, ou seja, moravam com parentes, amigos e outros. De acordo com Barros, 1991 o distanciamento da família
talvez possa favorecer a adoção de novos hábitos e estilos de vida. Poucos realizavam atividade remunerada (24,1%),
grande maioria referiu morar em casa própria e de alvenaria, a renda familiar predominante foi de 1 a 3 salários
mínimos.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Gráfico 1: Porcentagem de alunos por sexo inscritos no PAMAUBPSO.
34,48%
65,51%
Homens
Mulheres
Tabela 1: Perfil Sócio-Econômico dos alunos inscritos no PAMAUBPSO.
Perfil Sócio-Econômico
Moradia
Própria
Nº
44
%
79,3
Tipo de Construção
Madeira
Nº
4
%
6,8
Alugada
Financiada
7
2
12
3,4
Alvenaria
Mista
49
5
8,4
8,6
Cedida
5
8,6
Total
58
Total
58
Renda Familiar
1-3 Salários Mínimos
Nº
27
%
44,8
Reside com:
Pais
Nº
23
%
37,9
4-6 Salários Mínimos
22
36,2
Mãe
13
20,6
+ 6 Salários Mínimos
6
10,3
Pai
1
1,7
- de 1 Salário Mínimo
2
3,4
Parentes
8
13,7
Não Relatada
1
1,7
Sozinho
1
1,7
58
Outros
Total
12
58
3,4
Total
Trabalho
Nº
%
Estado Civil
Nº
%
Sim
14
24,1
Solteiro
55
94,8
Não
44
75,8
Casado
3
5,1
Total
58
Total
58
Reside em:
Belém
Ananindeua
Nº
46
9
%
79,3
15,5
Faixa Etária
18 à 22 anos
23 à 26 anos
Nº
23
24
%
39,6
41,3
Marituba
Castanhal
Total
2
1
58
3,4
1,7
27 à 35 anos
Mais de 35 anos
Total
8
3
58
13,7
5,1
591
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Observou-se que 17,24 % já usaram ou usam remédios para emagrecer e 29,31% algum dia, já fizeram algum
tipo de dieta sem acompanhamento profissional é notável em ambas as variáveis a predominância feminina (Gráfico
2). É sabido o grande perigo do uso de dietas da moda com promessas de perda de peso imediata e sem
acompanhamento profissional qualificado, bem como do uso indiscriminado de fármacos que induzem a queima de
gordura, apresentando indesejáveis efeitos colaterais.
Gráfico 2: Alunos inscritos no PAMAUBPSO que fazem uso de dieta sem prescrição
e utilizam remédios para redução de peso
Nº de Alunos
20
15
11
10
8
5
6
2
0
Remédio p/
Redução de Peso
Dieta Sem
Prescrição
Homem
Mulher
Observou-se que menos da metade dos universitários tinha o hábito de praticar esportes, dos quais apenas
quatro mulheres e seis homens perfazendo um total de 17,24%. Estes dados mostram a necessidade de se incentivar a
prática orientada de atividade física entre estes indivíduos, buscando-se evitar o sedentarismo.
Gráfico 3: Porcentagem quanto a prática de atividade física apresentada pelos alunos inscritos no PAMAUBPSO.
100%
80%
60%
89,7%
93,1%
65,5%
40%
17,24%
20%
6,89%
10,34%
0%
Homem
Mulher
Atividade Física
Total
Sedentário
Dentre os universitários estudados, o consumo de álcool limitou-se apenas a 14 alunos o que representa
24,13% da amostra. O tabagismo era menos comum, cerca de 8,62%, um total de 5 alunos.
592
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Gráfico 4: Porcentagem de vícios apresentados pelos alunos do PAMAUBPSO.
40%
8,6%
30%
8,6%
20%
10%
24,1%
3,4%
15,5%
5,2%
0%
Homem
Mulher
Etilista
Total
Fumante
Foi verificado baixo percentual de eutróficos 15,5% (n = 9), segundo o Índice de Massa Corporal (IMC), a
maioria apresentava baixo peso 36,2% (n =21), 22,41% (n =13) estavam com sobrepeso e 48,27% (n = 5) com
obesidade I,II e III.
A prevalência de sobrepeso foi maior no sexo feminino 13,79% (n = 8) e ambos os sexos apresentaram
diagnósticos de obesidade I e II, apenas no sexo masculino observou-se casos de obesidade III 3,44% (n=2) do total de
alunos. Estes resultados diferem dos encontrados por Ramos, 2005 em sua avaliação nutricional de universitários da
UFMG que encontrou um percentual maior de eutrofia 77,1% entre os universitários, a prevalência de eutrofia
ocorreu nos dois sexo, 82% nos homens e 75,3% nas mulheres. O sobrepeso ou obesidade foi de 12,9% nos homens e
5,9% nas mulheres, diagnósticos de obesidade II ocorreu apenas em 2 alunos do sexo masculino 2,6%.
Gráfico 5: Estado Nutricional dos alunos da UFPa inscritos no PA MAUBPSO.
60%
40%
Homem
Mulher
Obesidade
III
Obesidade
II
Obesidade
I
Sobrepeso
0%
Baixo
Peso
20%
Eutrófico
% de Alunos
80%
Total
Analisando-se algumas características do hábito alimentar, pôde-se constatar que 79,31% dos universitários
estudados não tinham o hábito de realizar os lanches da manhã e da tarde, o que pode sugerir ausência de
balanceamento das refeições almoço e jantar.
A realização do jantar, era hábito de 79,31% dos entrevistados, sendo comumente substituído por lanches.
O hábito de omitir o desjejum ocorria em cerca de 5,17% da população estudada. Bull & Phil (1992) em um
levantamento dietético com estudantes britânicos constataram que 18,0% deles nunca faziam o desjejum.
593
10ª. Jornaada de Extensãão na UFPA
Extensão Un
niversitária e Polítticas Públicas
No estudo do comportamen
c
nto alimentarr de recém-ingressos num
ma universidade pública, Vieira et all
q 60% dos entrevistados
e
não tinham o hábito de realizar o desjejjum, o almoço
o e o jantar.
verificaram que
Gráfico 6: Nº de alunos inscritos no PAMAUBPSO que omitem refeições.
70,6%
% de Alunos
80%
%
48,2%
60%
%
31%
40%
%
0,68%
20
20%
%
%
1,70%
5,10%
0%
%
Desjejum
Lanche
Almoço
Lanche
Ja
antar
Ceia
Analisando-se os dados acercaa do consumo dos grupos de alimentoss, verifica-se que 41,37% e 15,51% doss
universitários mencionarram consumiir hortaliças diariamente no almoço e no jantaar, respectivaamente. Doss
os 36,2% relaatou consumiir frutas diarriamente. A análise
a
da freqüência de consumo do
os grupos dee
entrevistado
alimentos, neste
n
caso, possibilitou veerificar a ingeestão insuficie
ente de frutaas em grandee parte dos universitárioss
estudados, o que confiram
m os dados daa pesquisa de orçamento familiar do IBG
GE 2002-2003
3, que relatou que uma em
m
cada cinco pessoas
p
conso
ome frutas e verduras tod
dos os dias e apenas um em
e cada oito consome essses alimentoss
segundo a recomendação
r
o mundial cin
nco ou mais porções por dia. Ressaltaa-se também a ingestão freqüente
f
dee
alimentos do
oces e gorduro
osos.
Obsservou-se atraavés da análise do record
datório 24 hs do desjejum
m que esta refeição apre
esenta poucaa
variedade qu
uanto a sua co
omposição, seendo basicamente compostta de café com
m leite e pão,, apenas 10,3%
% referiram o
consumo do grupo das fru
utas nesta prim
meira refeição
o do dia.
m
apresentou um elevado índicce de consum
mo 72,4% (n = 42), assim como o conssumo de leitee
A margarina
integral 82,7
7% (n = 48), no
o entanto, o consumo
c
de leeite desnatado foi pouco exxpressivo 5,1%
% (n = 3). De acordo
a
com a
Pesquisa do Orçamento Faamiliar o conssumo de leite apresentou uma
u
redução de
d 40% no ano de 2003 em
m comparação
o
002 (POF 2002
2/2003).
ao ano de 20
Gráfico 77:: Alimentos mais citados no recordatório 24 hs do Deessjejum dos alunos inscritos no Projeto de Atenção
Multiprofissional ao Aluno da UFPa com Baixo Peso, Sobrepeso ou Obesidade (PAMAUBPSO).
13,8%
5,2%
12
2,1% 5,2%
31,0%
82,8%
82,8%
72,4%
5,2
2%
3,4%
10,3%
Café
Leite Integ
gral
Leite
e Desnatado
Fruta
Margarina
Manteiga
Pão
o
Farelos
Bolacha Salgad
da
Achocolattado
Torrrada
594
10ª. Jornaada de Extensãão na UFPA
Extensão Un
niversitária e Polítticas Públicas
O laanche da maanhã referido
o pelos aluno
os teve como base princcipalmente o consumo de
e salgados e
refrigerantess, sendo que este
e hábito po
ode ser indício
o de uma alim
mentação poucco saudável.
Gráfico 8: Alimentos mais citados no recordatório 24 hs do lanche da manhã dos alunos inscritos no PAMAUBPSO.
10,3%
%
5,2%
8,6%
1,7%
%
12%
8,6%
6,9
9%
17,,2%
8,6
6%
8,6%
12,1%
Café
Leite Integrral
Leite Desnatado
Margarina
Fru
uta
Pão
Re
efrigerante
Massas
Ach
hocolatado
Bolacha Sa
algada
Do
oces
Durante o almoçço e o jantar dos universitáários é freqüe
ente o consum
mo de alimen
ntos do grupo
o dos cereais,,
onsumo do grupo das hortaaliças e das frrutas, em com
mparação com
m
leguminosas, carnes e obsserva-se aindaa um baixo co
dicar rejeição alimentar a este importantte grupo fontee de vitaminass, minerais e fibras.
f
os demais, o que pode ind
onsumo de óleos e gordurras foi baixo nesta refeição
o, resultado bem
b
diferentee foi encontraado por Assiss
O co
2004 em seu estudo sob
bre o consum
mo de alimentos industriallizados pelos universitários de mina ge
erais, onde o
8% consomem
m óleo vegettal. Segundo Martins et al, 1996 estess
consumo deeste grupo foi bastante exxpressivo 62,8
alimentos ap
presentam allto valor caló
órico e relaciionam-se com
m o desenvolvimento de doenças cardiovascularess
quando conssumido em exxcesso.
Gráfico 9: Alimentos mais citados no recordatório 24 hs do almoço dos alunos inscritos no
67,2
69
62,1
70
60
41,4
50
40
%
30
24,1
12,1
20
10,3
15,5
8,6
6,,9
12,1
10
0
Grupos
s de Alimento
os
1
cereais
leguminosa
as
carnes e ovos
fruttas
óleos
ma
assas
embutidos
tubércu
ulos
horrtaliças
farinha
refrigera
antes
Gráfico 10: Alimentos mais citados no recordatório 24 hs do jantar dos alunos inscritos no PAMAUBPSO.
595
10ª. Jornaada de Extensãão na UFPA
Extensão Un
niversitária e Polítticas Públicas
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
% 50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
87,9
9
94,8
77,6
6
67,2
41,4
34,5
24,1
19
6 13,8
8,6
12,1
Grupos de Alim
1 mentos
cereais
óleos
tubérculo
os
leguminosa
as
refrigerante
e
hortaliças
ccarnes e ovoss
m
massas
f
farinha
frutta
embutidos
O laanche da tard
de quando cittado pelos alu
unos apresenta pouca variedade, sendo
o composta de
d salgados e
refrigerantess quando feitos na universsidade, quand
do feito em caasa, baseia-see no consumo
o de café com
m leite, pão e
margarina. O grupo das frutas novamen
nte é pouco citado 10,34% (n=6) nesta reefeição.
Gráfico 11: Alimentos mais citados no recordatório 24 hs do lanche da tarde dos alunos inscritos no PAMAUBPSO
6,9
9%
13,8%
27,6%
22
2,4%
6,9%
20,7%
17,2%
%
13,8%
27,6%
10,3%
Café
Pão
Bolacha Salgada
S
Leite Integra
al
Refrigerante
Doces
Margarina
Massas
Fruta
a
Acho
ocolatado
CONSIDER
RAÇÕES FINA
AIS
A maioria
m
dos esstudantes apresentou inadequação nutrricional, além disso o consumo de álcoo
ol e de fumo,,
apesar de pequeno, aliado ao sed
dentarismo,ap
ponta para uma situação de saúdee futura preocupante. O
ojeto sugere a necessidaade de se estabelecer
e
o
comportameento alimentaar dos univeersitários do referido pro
desenvolvimento de práticas de cuidado com a alim
mentação parra obtenção de
d hábitos aliimentares maais saudáveis,,
o a melhoria da
d qualidade das
d refeições com
c
um consu
umo mais elevvado de frutas e hortaliças.
incentivando
A exxtensão, no caaso dos aluno
os da UFPa veem fazendo o seu papel, haaja visto que com o advento do Projeto
o
de atenção multiprofission
m
nal ao aluno da
d UFPa com baixo peso, so
obrepeso ou obesidadeo
PA
AMAUFPA, os alunos tem a
seu dispor um
ma importantte ferramenta de apoio parra a melhoria da
d sua qualidaade de vida.
596
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
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597
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ESTUDO DE CASO CONTROLE EM PACIENTES HANSENIANOS PORTADORES E NÃOPORTADORES DO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA MATRICULADOS NO
AMBULATÓRIO DE MEDICINA TROPICAL UFPA
Guimarães, F. D.
Marília Brasil Xavier (Coordenadora)
RESUMO: Introdução. Na hanseníase as manifestações clínicas e evolução da doença têm relação direta com a imunidade
celular.Na infecção pelo HIV esta imunidade é suprimida severamente.O pouco conhecimento sobre o comportamento clínico da
evolução e o aumento da incidência da co-infecção justificam seu interesse em saúde pública.Objetivos. Realizar estudo controlado
em pacientes co-infectados HIV/hanseníase comparando-os com pacientes controle hansenianos soronegativos. Metodologia:
Estudo de caso controle de pacientes co-infectados atendidos no ambulatório do Núcleo de Medicina Tropical no período de
janeiro de 2003 à agosto de 2007, aplicação de ficha protocolo e registro dos resultados em tabelas e gráficos no programa
Excel.Resultados:Entre os 30 pacientes co-infectados e os 30 hansenianos não HIV analisados a procedência foi em sua maioria da
capital, 76,7% e 80%, respectivamente.Prevaleceu entre os co-infectados o pólo tuberculóide da hanseníase, com 66,6%(TT e BT) e
no grupo controle BB foi a forma clínica predominante.O tratamento para a hanseníase foi concluído em 50% nos hansenianos
imunodeprimidos, contra 36,7% entre os não HIV.Conclusões. A freqüência das formas clínicas são compatíveis com os descritos na
literatura para pacientes de ambos os grupos. O abandono não foi mais prevalente em co-infectados apesar do grande uso de
medicamentos por esses pacientes. Reações hansênicas foram prevalentes nos co-infectados já por ocasião do diagnóstico da coinfecção, denotando a possibilidade de interação entre agentes infecciosos.
Palavras-chave: Co-infecção; AIDS; Hanseníase.
INTRODUÇÃO:
A hanseníase é uma doença crônica e incapacitante causada pelo Mycobacterium leprae. Possui distribuição
cosmopolita, o país com segunda maior prevalência é o Brasil, considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde)
como local de alta endemicidade. No Pará há aproximadamente 11 doentes por 1000 hab. As manifestações clínicas e
evolução da doença têm relação direta com a imunidade celular. A infecção humana pelo vírus HIV (Vírus da
Imunodeficiência Humana), constitui um problema de saúde pública mundial onde as células CD4+, principalmente
linfócitos T, infectados morrem. Posteriormente há alterações de linfócitos B, macrófagos e citocinas, com
imunodeficiência gradativa. A infecção culmina com a SIDA ou AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) que
constitui a fase caracterizada por severa supressão do sistema imune celular e humoral com diversas manifestações
clínicas incluindo infecções oportunistas, neoplasias e degeneração do sistema nervoso central. Desde o primeiro
relato de co-infecção humana pelo vírus HIV e a mycobacterium leprae várias questões foram levantadas sobre as
conseqüências dessa interação, principalmente levando-se em conta a direta participação do linfócito T helper CD4+
na patogenia de ambas as doenças. Devido à alta prevalência dessas duas moléstias, espera-se um aumento do
número de casos da co-morbidade.
A assistência prestada pelo sistema único de saúde (SUS) é feita aos pacientes portadores do HIV através das
unidades especiais de referência e para os pacientes portadores de hanseníase, através de todas as unidades do SUS.
O paciente portador da co-morbidade hanseníase-HIV recebe o atendimento nas duas unidades de saúde, muitas
vezes omitindo na rede básica sua condição de portador do vírus HIV.
O Núcleo de Medicina Tropical em parceria com as unidades de referência de atendimento de AIDS, realiza
dentro do projeto de Assistência especializada às doenças endêmicas regionais, atendimento ao portador de tais comorbidades proporcionando a estes assistência altamente especializada, observando aspectos específicos da comorbidade e oferecendo ao sistema de Saúde um programa de alta resolutividade técnica.
OBJETIVO GERAL:
Realizar um estudo controlado com pacientes com concomitância de hanseníase e HIV comparando-os com o
grupo controle constituído por portadores de hanseníase não portadores do vírus do HIV.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Descrever aspectos clínicos e epidemiológicos desses pacientes, tais como: sexo, faixa etária, procedência,
forma clínica, tratamento instituído, ocorrência de reações hansênicas e obtenção de alta.
598
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
METODOLOGIA:
Estudo de caso controle realizado no período de janeiro de 2003 a agosto de 2007 com 30 pacientes coinfectados encaminhados ao Ambulatório de Doenças Tropicais e Infecciosas do Núcleo de Medicina Tropical pelas
unidades de referência em AIDS, além de 30 pacientes com hanseníase não portadores do vírus do HIV, considerando
as informações obtidas no momento do diagnóstico da hanseníase. Foi considerado caso de co-infecção
HIV/hanseníase, indivíduos HIV positivos em testes sorológicos de triagem (ELISA) e confirmatórios
(Imunofluorescência Indireta e Western Blott), também apresentando sinais e sintomas para hanseníase segundo
critérios de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde (Ministério da Saúde, 2002) e complementados por
pesquisa de BAAR na linfa e histopatologia das lesões. Aplicou-se ficha protocolo para ambos os grupos, considerando
idade, sexo, procedência, forma clínica segundo Ridley e Jopling(1966), tratamento instituído, ocorrência de reações
hansênicas e obtenção de alta, seguido do registro dos resultados obtidos em tabelas e gráficos. O projeto de
pesquisa foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa em Seres humanos do Núcleo de Medicina Tropical da
UFPA.
RESULTADOS:
Dos 30 pacientes hansenianos portadores do vírus do HIVa maior procedência era da capital (Belém) com
76,7%, resultado esse percebido também entre os 30 pacientes do grupo controle (80%) (Tabela 1).
Tabela 1:
Procedência dos pacientes hansenianos portadores e não portadores do vírus da imunodeficiência
matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA.
Co-infectados
Grupo controle
PROCEDÊNCIA
N° Absoluto
%
N° Absoluto
%
Belém (Capital)
23
76,7
24
80
Interior
7
23,3
6
20
Total
30
100
30
100
Fonte: Ficha protocolo.
Entre os pacientes co-infectados 73,3% eram do sexo masculino, o que é compatível com os dados
epidemiológicos da AIDS e houve prevalência de indivíduos com idade maior de 40 anos. O sexo masculino também
foi maioria entre o grupo controle, entretanto a idade prevalente nesse grupo ficou entre 31 e 40 anos (Tabela 2 e 3).
Tabela 2:
Sexo dos pacientes hansenianos portadores e não portadores do vírus da imunodeficiência
matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA.
Co-infectados
Grupo controle
SEXO
N° Absoluto
%
N° Absoluto
%
Masculino
22
73,3
20
66,7
Feminino
8
26,7
10
33,3
Total
30
100
30
100
Fonte: Ficha protocolo.
599
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Tabela 3:
Idade em anos dos pacientes hansenianos portadores e não portadores do vírus da imunodeficiência
matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA.
Co-infectados
Grupo controle
IDADE (ANOS)
N° Absoluto
%
N° Absoluto
%
< 20
0
0
6
20
20-30
7
23,3
8
26,7
31-40
8
26,7
9
30
> 40
15
50
7
23,3
Total
30
100
30
100
Fonte: Ficha protocolo.
No que concerne ao tratamento instituído, metade dos pacientes hansenianos HIV positivo receberam a
terapêutica PQT para hanseníase multibacilar (MB), enquanto que entre os pacientes do grupo controle em 63,3%
administrou-se essa terapêutica (Tabela 4).
Tabela 4:
Tratamento instituído aos pacientes hansenianos portadores e não portadores do vírus da imunodeficiência
matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA.
Co-infectados
Grupo controle
TRATAMENTO
N° Absoluto
%
N° Absoluto
%
PQT-PB
15
50
11
36,7
PQT-MB
15
50
19
63,3
Total
30
100
30
100
Fonte: Ficha protocolo.
A forma clínica mais predominante entre o grupo dos pacientes co-infectados foi a BT, presente em 36,6%,
seguida da forma TT com 30%, o que indica o predomínio das formas tuberculóides, compatível com estudos em não
portadores de HIV, não havendo desvio de prevalência para formas multibacilares representantes do pólo maligno.
Percebe-se a prevalência da forma clínica BB entre o grupo controle (36,6%) (Tabela 5).
Tabela 5: Distribuição quanto à forma clínica segundo critérios de Ridley & Jopling dos pacientes hansenianos
portadores e não portadores do vírus da imunodeficiência matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA.
Co-infectados
Grupo controle
FORMA CLÍNICA
N° Absoluto
%
N° Absoluto
%
I
2
6,7
4
13,7
TT
9
30
7
23,4
BT
11
36,6
1
3,3
600
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
BB
6
20
11
36,6
BL
2
6,7
6
20
LL
0
0
1
3,3
Total
30
100
30
100
Fonte: Ficha protocolo.
Metade dos pacientes co-infectados recebeu alta do tratamento, essa porcentagem decresce para 36,7%
entre os pacientes do grupo controle. Vale ressaltar também que houve uma maior taxa de abandono (23,3%) entre o
grupo controle se comparado aos co-infectados, com somente 6,6% desses pacientes. (Gráfico 1).
16
15
13
14
12
11
11
10
Co-infectados
7
8
Grupo controle
6
4
2
2
1
0
0
Alta
Tratamento
Abandono
Transferência
Fonte: Ficha protocolo.
Gráfico 1:
Situação dos pacientes hansenianos portadores e não portadores do vírus da imunodeficiência
matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA.
No decorrer da hanseníase, 40% dos pacientes portadores do vírus HIV apresentaram episódios de reação
hansênica, evoluindo com reação reversa. Enquanto que entre o grupo controle os episódios de reação hansênica
corresponderam a 30%, desses sete pacientes com reação reversa e dois com eritema nodoso hansênico (Gráfico 2 e
3).
Co-infectados
Sim
40%
Não
60%
Fonte: Ficha protocolo.
601
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Gráfico 2:
Pacientes hansenianos portadores do vírus da imunodeficiência
matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA quanto a presença de reações hansênicas.
Grupo controle
Sim
30%
Não
70%
Fonte: Ficha protocolo.
Gráfico 3:
Pacientes hansenianos não portadores do vírus da imunodeficiência
matriculados no Ambulatório de Medicina Tropical UFPA quanto a presença de reações hansênicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A partir dos resultados obtidos conclui-se que a co-infecção HIV/hanseníase foi mais freqüente no sexo
masculino, com formas clínicas compatíveis a estudos em não portadores de HIV. O abandono não foi mais prevalente
em co-infectados apesar do grande uso de medicamentos por esses pacientes, ao contrário da significativa taxa entre
os não HIV. As reações hansênicas foram prevalentes nos co-infectados já por ocasião do diagnóstico da co-infecção,
denotando a possibilidade de interação entre agentes infecciosos.
Os achados do presente trabalho nos mostra aspectos epidemiológicos compatíveis com a epidemiologia da
hanseníase. Embora as conclusões sejam compatíveis com descrições da literatura há a necessidade do
prosseguimento da investigação para que questões levantadas sobre a co-infecção HIV/hanseníase sejam elucidadas e
favoreçam os pacientes acometidos por tais moléstias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
VERONESI, R. et al Doenças Infecciosas e Parasitárias. 8 ed. São Paulo:Guanabara-Koogan,.p.630-641.1991
XAVIER, M B. Epidemiologia e clínica dos pacientes HIV/SIDA atendidos no ambulatório do núcleo de medicina
tropical/Ufpa, janeiro/95 a agosto/01. Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 5, n. II, p. 74, 2001
RIDLEY DS, JOPLING WH. Classification of leprosy according to immunity: a five group
system. International Journal of Leprosy and Other Mycobacterum Diseases. 34:255-73, 1966.
MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Área Técnica
de Dermatologia Sanitária. Legislação sobre o controle da Hanseníase no Brasil-2000, Brasília.
MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia para o
controle da Hanseníase-2002, Brasília.
602
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
SAÚDE AUDITIVA NA INFÂNCIA:
AVALIAÇÃO MORFOFUNCIONAL DAS ORELHAS DE PACIENTES TONSILECTOMIZADOS
Angélica Cristina Pezzin Palheta (Coordenadora)
Maurício Moura dos Santos Netto (Bolsista)
Francisco Xavier Palheta Neto
HUBFS/UFPA
RESUMO: A audição é considerada fundamental na comunicação humana. Neste sentido, a privação sensorial auditiva na criança
compromete não só a sua comunicação, mas seu potencial de linguagem receptiva e expressiva, sua alfabetização, seu
desempenho acadêmico, seu desenvolvimento emocional e social. Considerando que um grande número dos casos de perda
auditiva na infância é devido à Otite Média e esta é uma doença freqüente em pacientes portadores de hipertrofia
adenoamigdaliana, nosso objetivo nesse trabalho é realizar a avaliação audiológica nesses pacientes com objetivo de detectar
prováveis desordens no sistema auditivo, utilizando para isso os recursos humanos e materiais do Serviço de Otorrinolaringologia
do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza da Universidade Federal do Pará.
Palavras-chaves: Perda auditiva; infância; otite média; tonsilas; tonsilectomia.
INTRODUÇÃO
A deficiência auditiva é a forma mais comum de desordem sensorial no homem, sendo que
aproximadamente 50% das deficiências auditivas profundas possuem etiologia genética.7 A Organização Mundial de
Saúde (OMS) estima que 5% da população de qualquer país é portadora de algum tipo de deficiência. Portanto,
baseados nas informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na população brasileira de
168.288.748 habitantes, teríamos 8.414.437 de pessoas deficientes. Estimando que 15% da população deficiente
sejam de deficientes auditivos, seriam então 1.262.166 indivíduos portadores de alguma perda auditiva, não
considerando o grau e tipo de perda.8
No Brasil, nos últimos anos, programas de identificação precoce dos distúrbios de audição vêm sendo
desenvolvidos junto à população, utilizando tanto métodos de triagem comportamental como eletrofisiológicos.9,10
Desta forma foi possível observar a ocorrência de perda auditiva neurosensorial entre 2,5 a 9% em crianças de alto
risco e de 0,2 a 0,85% em crianças, sem risco; as alterações da orelha média variaram de 8,5 a 15% na população sem
risco e de 25 a 35% na população de alto risco. Segundo o Comitê Brasileiro de Perdas Auditivas na Infância, a
incidência de perda auditiva bilateral significante em neonatos saudáveis é estimada entre um a três neonatos em
cada 1000 nascimentos e em cerca de dois a quatro em 1000 nos provenientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Dentre as doenças passíveis de triagem ao nascimento (fenilcetunúria 1:10.000; hipotireoidismo 2,5:10.000; anemia
falciforme 2:10.000 e deficiência auditiva 30:10.000), a deficiência auditiva apresenta alta prevalência.11
Conforme descrito no estatuto da American Speech-Language-Hearing Association (ASHA)12 a criança de risco
é aquela com potencial para desenvolver uma desordem baseada em fatores biológicos específicos, ambientais ou
comportamentais, sendo que este termo também pode ser aplicado à população assintomática12. Essas crianças,
devido às intercorrências pré, peri e pós-natais a que estão sujeitas e a uma maior exposição a fatores iatrogênicos,
ficam propensas a apresentar vários desvios do desenvolvimento global, inclusive do desenvolvimento da audição.12, 13
Um grande número dos casos de perda auditiva na infância é devido à otite média e esta é uma doença
freqüente em pacientes portadores de hipertrofia adenoamigdaliana. Portanto, faz-se necessário a avaliação
audiológica nesses pacientes com objetivo de detectar prováveis desordens no sistema auditivo.14
OBJETIVOS:
Objetivos gerais:
Verificar a presença de alterações morfofuncionais em pacientes no pré e pós-operatório de tonsilectomia.
Objetivos específicos:
a) Identificar as principais queixas auditivas dos pacientes que serão submetidos a tonsilectomias.
b) Descrever as alterações auditivas encontradas na avaliação pré-operatória de pacientes submetidos
a tonsilectomia.
c) Identificar os resultados dos exames audiológicos e as mudanças ocorridas após a tonsilectomia.
603
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
JUSTIFICATIVA:
O presente trabalho se justifica devido à escassez de pesquisas sobre a relação entre otites média e
hipertrofia adenoamigdaliana em nossa região, tendo em vista que um grande número de casos de perda auditiva na
infância é devido a otite média e esta é uma doença freqüente em pacientes portadores de hipertrofia
adenoamigdaliana. Portanto, faz-se necessário avaliar em nossos pacientes se essa relação é a mesma encontradas
nos estudos realizados em outras regiões do país.
A realização da pesquisa proporcionará o diagnóstico precoce de perdas auditivas, ainda que leves e/ou
temporárias. Desta forma poderemos oferecer à criança tratamento adequado e a intervenção precoce, o que irá
possibilitar à criança a chance de ter o seu desenvolvimento auditivo normal.
MATERIAL E MÉTODOS:
A população alvo será de pacientes na faixa etária de quatro a oito anos com indicação de tonsilectomias
atendidos no Setor de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza.
Os pacientes serão submetidos à avaliação audiológica através da audiometria tonal limiar e
impedanciometria com pequisa do reflexo estapédio, disponíveis no Setor de Otorrinolaringologia do Hospital
Universitário Bettina Ferro de Souza, no pré-operatório e no pós-operatório tardio (30 dias após) de tonsilectomia, de
acordo com a faixa etária e seu desenvolvimento psíquico.
DESENVOLVIMENTO
Para o projeto de extensão foi desenvolvido um protocolo de atendimento específico do projeto de saúde
auditiva na infância que será preenchido pelo médico assistente onde constatará fatores de risco para qualquer
desordem auditiva, além de servir para o acompanhamento do tratamento da criança. Esse protocolo, bem como o
projeto de pesquisa que serve de plano de trabalho dentro do projeto de extensão, encontram-se em análise no
comitê de ética do Hospital Universitário João de Barros Barreto aguardando aprovação para ser implantado no
Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a implantação do protocolo de saúde auditiva na infância, ele funcionará como valoroso método para
triagem de crianças com fatores de risco para desordem no sistema auditivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Northern JL, Downs MP. Audição em crianças. 3ª. ed. São Paulo: Manole; 1989.
Roslyng-Jensen AMA. Importância do diagnóstico precoce na deficiência auditiva. In: Lopes-Filho O. Tratado de
fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 1997. p. 297-309.
Santos TMM, Russo ICP. A prática da audiologia clínica. 3ª. ed.São Paulo: Cortez, 1991.
Azevedo MF, Vieira RM, Vilanova LCP. Desenvolvimento auditivo de crianças normais e de alto risco. São Paulo:Plexus;
1995.
Araújo.S.A; Moura.J.R e col. Avaliação auditiva em escolares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. V66. nº2, 263,
6 março de 2002.
Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (CBPAI).1ª Recomendação período neonatal. Correios da
sociedade Brasileira de pediatria (SBP) jan/mar. 2001; ano 7.
Granato L, Pinto CF, Ribeiro MQ. Perda auditiva de origem genética. In Lopes-Filho O. Tratado de fonoaudiologia. São
Paulo: Roca; 1997. p. 25-58.
Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS).
em:http:www.datasus.gov.br/cgi/labcgi.exe. Acessado em 20/03/07.
604
População
residente.
Disponível
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Azevedo MF. Programa de prevenção e identificação precoce dos distúrbios da audição. In: Schochat E.
Processamento auditivo. São Paulo: Lovise; 1996. p. 75-105.
Azevedo M.F. Avaliação audiológica no primeiro ano de vida. In: Lopes-Filho O. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo:
Roca; 1997. p. 239-264
Comitê Brasileiro Sobre Perdas Auditivas na Infância 1ª Recomendação - Período Neonatal. Disponível em
http:www.sbp.com.br. Acessado em 23/11/2006.
Joint Committee on Infant Hearing. Position statement. Asha 1994; 36:38-41.
Caldi V, Filizzola.C. Estudo bacteriológico da secreção de orelha média em crianças com otite média secretora crônica
Ano: 1999. Vol. 64 Ed.6 Novembro-Dezembro Revista Brasileira de Otorrinolaringologia.
Conceito de Otite média secretora Disponível em http://www.pediatriasaopaulo.usp.br. Acessado em 27/03/ 2007.
ANEXO
SAÚDE AUDITIVA NA INFÂNCIA
PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
1) IDENTIFICAÇÃO:
Nome: _________________________________
Registro nº: ________ HUBFS SUS Outros: ________________
Data de nascimento: ___/ ___/ _____ Sexo: M F Idade: ____ anos ___meses
Escolaridade: ___________________________________________________________
Responsável: ___________________________________________________________
Endereço completo: ______________________________________________________
Telefone: ______________________________________________________________
2) QUEIXA PRINCIPAL: _______________________________________________
3) ANAMNESE:
a) Escuta bem? Sim Não Dir Esq Bilateral
b) Tem dificuldade em manter atenção aos sons Sim Não
c) Dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita Sim Não
d) Dificuldade em compreender o que lê Sim Não
e) Necessidade de ser chamado várias vezes Sim Não
g) Pede para repetir informações: Ah? O quê? Sim Não
h) Dificuldade ao dar um recado ou contar uma história Sim Não
i) Problemas de memória para nomes, datas, números e etc Sim Não
j) Dificuldade em acompanhar uma conversa, aula ou palestra com outras pessoas falando ao mesmo tempo Sim
Não
l) Problemas de fala (troca /L/R/S/E/CH/) Sim Não
m) Dificuldade em localizar a origem dos sons Sim Não
4) HPP:
a) História familiar de deficiência auditiva congênita Sim Não
b) Consangüinidade materna Sim Não
c) Infecções congênitas: Rubéola Sim Não
Toxoplasmose Sim Não
Sífilis Sim Não
Citomegalovírus Sim Não
Herpes Sim Não
Sarampo Sim Não
d) Baixo peso ao nascer (< 1500 gramas) Sim Não
e) Hipóxia/ AnóxiaSim Não
f) Ventilação mecânica por período mínimo de 5 dias Sim Não
g) Alcoolismo materno Sim Não
605
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
h) Uso de drogas abortivasSim Não
i) Prematuridade (____ semanas de gestação)?)Sim Não
j) Trauma de parto Sim Não
l) Hiperbilirrubinemia (icterícia) Sim Não
m) Uso de drogas ototóxicas (_________________________)Sim Não
n) Exposição a “ruídos” Sim Não
o) Convulsões Sim Não
p) OMA: repetição/persistente com efusão – mínimo 3 meses Sim Não
q) Sarampo Sim Não
r) Meningite bacterianaSim Não
s) Encefalite Sim Não
t) Caxumba Sim Não
u) Sepse Sim Não
v) TCE com perda de consciência ou fratura de crânio Sim Não
x) Trauma acústico (fogos de artifício, explosões, raios, etc) Sim Não
z) Anomalias Crânio-encefálico: _______________________________ Sim Não
Outros: _______________________________________________________________
______________________________________________________________________
5) EXAME FÍSICO OTORRINOLARINGOLÓGICO:
Otoscopia: OD: normal alterada _________________________________________
OE: normal alterada __________________________________________
Rinoscopia: FND: normal alterada _______________________________________
FNE: normal alterada _______________________________________
Orofaringoscopia: amígdalas ____ +/4+. Outras alterações: _______________________
______________________________________________________________________
Rx cavum: _____________________________________________________________
Fibronasofaringolaringoscopia: _____________________________________________
6) EXAMES COMPLEMENTARES:
a) Audiometria tonal limiar:
OD: __________________________________________________________________
OE: ___________________________________________________________________
b) Impedanciometria: OD: curva tipo ___ OE: curva tipo ___
c) Reflexos:
500
1
2
4
500
1
2
4
OD
CL
I
OE
CL
I
d) Otoemissões:
Transiente: OD: presente ausente alteradas
OE: presente ausente alteradas
Produto de distorção: OD: presente ausente alteradas
OE: presente ausente alteradas
e) Outros exames: _______________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
7) INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES:
Gestação materna nº. ____ Parto: Normal Cesárea
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
606
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ULTRA-SONOGRAFIA EM ANIMAIS DE COMPANHIA E SILVESTRES
NO MUNICÍPIO DE CASTANHAL
Adriel Behn de Brito
Stefânia Araújo Miranda
Domingues, S.F.S.
Campus Universitário de Castanhal/UFPA
RESUMO: O projeto de extensão visa capacitar os alunos de Medicina Veterinária e Veterinários interessados no uso e
interpretação de diagnóstico ultra-sonográfico em animais de companhia e silvestres, disponibilizar o serviço de ultra-sonografia
para proprietários de animais de companhia, criatórios conservacionistas e de pesquisa reconhecidas pelo IBAMA envolvidas com a
reabilitação de animais silvestres, bem como prover um ambiente para o desenvolvimento de trabalhos de iniciação cientifica (IC),
trabalho de conclusão de curso (TCC), estágios supervisionados e pós-graduação (Mestrado) de alunos da Universidade Federal do
Pará e/ou de outras instituições de ensino superior.
Palavras-chave: Ultra-sonografia; educação continuada; extensão.
INTRODUÇÃO:
A ultra-sonografia é uma técnica de diagnóstico por imagem considerada não invasiva (NYLAND & MATTOON,
2002), que permite a avaliação em tempo real de secções (modo B) de órgãos parenquimatosos e cavitários (torácicos
e abdominais), diagnóstico de gestação, avaliação das estruturas do globo ocular, mapeamento do fluxo sanguíneo
baseado no princípio Doppler (SZATMARI et al., 2001), estudos de movimento (modo M) em órgãos como o coração e
visualização em 3D das estruturas anatômicas estudadas (KING, 2006). Atualmente, a compreensão destas técnicas é
de grande importância para a formação do médico veterinário. No entanto, no estado do Pará não existem
instituições e/ou programas de formação em ultra-sonografia para médicos veterinários, e poucas são as clínicas
veterinárias que dispõem deste serviço, estando estas restritas a capital Belém. Desta forma, a criação de um
ambiente para o ensino e prática da ultra-sonografia para estudantes e médicos veterinários no Campus de Castanhal,
da Universidade Federal do Pará, é de grande importância. O projeto visa capacitar os alunos e Médicos Veterinários
interessados no uso e interpretação de diagnóstico ultra-sonográfico. O projeto visa disponibilizar proprietários de
animais de companhia, bem como para criatórios conservacionistas e instituições de pesquisa reconhecidas pelo
IBAMA envolvidas com a reabilitação de animais silvestres o serviço de diagnóstico por imagem pela ultra-sonografia.
Aliado à atividade de extensão, o presente projeto visa apoiar o desenvolvimento de trabalhos de iniciação cientifica
(IC), trabalho de conclusão de curso (TCC), estágios supervisionados e pós-graduação (Mestrado) de alunos da
Universidade Federal do Pará e/ou de outras instituições de ensino superior.
DESENVOLVIMENTO:
Para o desenvolvimento do projeto foi utilizado equipamento de ultra-sonografia com dispositivo Doppler,
modelo HDI 4000 Philips (Philips Medical Systems, Bothel, WA, EUA), adquirido com recursos provenientes do Edital
CTINFRA-2003 (FINEP). Para realização dos exames ultra-sonográficos, dispomos de transdutores micro-convexo
multifreqüêncial (5-8MHz), linear multifreqüêncial (5 - 12 MHz) e 3D multifreqüêncial (4 - 7 MHz), gel para exames
ultra-sonográficos, luvas de procedimento, material de tricotomia, compressas de algodão, CD de dados não
regravável, impressora HP Laser Jet 1160, toner para impressora e papel A4. Os animais utilizados são oriundos do
atendimento a comunidade e das clínicas de pequenos animais da cidade de Castanhal. Após instalação dos
equipamentos em uma casa cedida pela Prefeitura Municipal de Castanhal, para Projetos de Extensão, e aprovação do
projeto de extensão, o serviço de atendimento ultra-sonográfico gratuito a comunidade foi divulgado. Conforme os
animais são encaminhados por professores do curso de medicina veterinária da UFPA de castanhal, por clinicas
veterinária ou pelos próprios proprietários, realizamos a triagem e de acordo com as suspeita clínica, posteriormente
o paciente é encaminhado ao aluno responsável conforme o trabalho de IC, TCC, estágio supervisionado ou
dissertação de mestrado em desenvolvimento.
Desde o inicio do atendimento, a partir do dia 01 de janeiro de 2007 a 25 de outubro de 2007, foram
beneficiados 75 proprietários de animais, 102 pacientes foram examinados e 233 exames ultra-sonográficos foram
realizados. Foram promovidos dois cursos de ultra-sonografia com turma de 20 alunos cada. Dois resumos expandidos
foram publicados no SBPC e atualmente sete alunos estão realizando TCC e cinco alunos estão realizando pré-projetos
de mestrado.
607
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Neste projeto foi possível atender a população do município de Castanhal, bem como conscientizar a mesma
sobre o controle da população de cães e gatos e posse responsável de animais domésticos, além de contribuir na
especialização de médicos veterinários e de alunos graduandos de medicina veterinária através de cursos de ultasonografia. Este projeto foi também de grade beneficio ao incentivar graduandos e graduados de medicina veterinária
a participar de extensão, realizar experimento para confecção de trabalho de iniciação cientifica, TCC e educação
continuada.
BIBLIOGRAFIA
KING, A. M. Development, advances and applications of diagnostic ultrasound in animals. The Veterinary Journal 171
408–420, 2006.
NYLAND, T.G., MATTON, J.S. (Eds.). Small Animal Diagnostic Ultrassound, second ed. W.B. Saunders, Philadelphia, PA.
2002.
SZATMARI, V.; SOTONYI, P.; VOROS, K. Normal duplex doppler waveforms of major abdominal blood vessels in dogs: A
REVIEW. Veterinary Radiology & Ultrasound, Vol. 42, NO. 2, pp 93-107, 2001.
608
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
INFLUÊNCIA DO CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL NAS ATRIBUIÇÕES DE CAUSALIDADE
RELATADAS PELOS PACIENTES AMBAD
Girlany Barbosa Tavares (Bolsista)
Eliana de Jesus da Costa de Souza (Estagiária)
Rose Daise Nascimento (Colaboradora)
Ana Maria Pires Mendes (Colaboradora)
Marco Aurélio Valle de Moraes (Coordenador)
Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza /IFCH/UFPA
RESUMO: Os fatores psicossociais têm impacto na capacidade das pessoas de suportar e fazer face ao estresse e ao
desenvolvimento de ansiedade e depressão, bem como impedem em uma recuperação completa. Assim, este trabalho pretende
mostrar as causas dos sintomas apresentados pelos pacientes atendidos no Ambulatório de Ansiedade e Depressão, analisando a
relação com o contexto social e cultural dos mesmos. A ansiedade e depressão configuram-se como graves problemas de saúde
pública que compromete o dia-a-dia das pessoas. Desta forma, busca-se entender como cada paciente acometido dos transtornos
citados, atendido no ambulatório, compreende e vivencia suas experiências cotidianas. A abordagem qualitativa foi utilizada como
método neste estudo, por focalizar o específico, almejando sempre a compreensão do fenômeno estudado. Por isso, é relevante
levar em consideração o ambiente social e fatores culturais em que os pacientes estão inseridos, já que dão significados às relações
interpessoais e eventos de suas vidas. Assim como, mostra o levantamento das causas atribuídas aos sintomas de ansiedade e
depressão pelos pacientes no AMBAD, tais como: morte de familiares, violência, problemas de ordem financeira, conflitos
familiares, situações estressantes, entre outros. O tratamento interdisciplinar se faz necessário, na medida em que permite ao
paciente ser tratado em sua totalidade, e se tenha uma visão ampliada de sua problemática, valorizando seu lado sadio e sua
capacidade de superação. E ainda, orientar o paciente e faze-lo entender os desencadeantes de suas crises pode ajudá-lo aprender
a lidar com as possíveis recorrências, fenômeno comum nesses transtornos.
Palavras-chave: Ansiedade e depressão; atribuição de causalidade e sócio-cultural.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem a intenção de mostrar as causas atribuídas aos sintomas de ansiedade e depressão,
relatadas pelos pacientes atendidos no AMBAD. E a justificativa deste estudo se estrutura na necessidade de se
conhecer a realidade de nosso paciente, uma vez que qualquer proposta de tratamento eficaz, precisa levar em
consideração o contexto sócio-cultural de sua demanda. Tal concepção requer uma compreensão muito mais
profunda do adoecer, exigindo dos profissionais envolvidos, uma abordagem biopsicossocial.
A saúde, atualmente, também vem passando por inúmeras transformações, superando o modelo de
hegemonia do médico e implicando em uma gestão voltada para a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade em
suas diversas áreas.
A relação da multidisciplinaridade tem proporcionado a reflexão e discussão sobre a operacionalização da
interdisciplinaridade1, pois a construção de práticas coletivas garante mais qualidade nos serviços de saúde.
Os transtornos de ansiedade e depressão constituem-se em problemas de saúde pública, cuja complexidade
exige não apenas abordagens multidisciplinares, mas também interdisciplinares, como se propõe o trabalho
desenvolvido pelo Programa AMBAD, que oferece ao seu paciente um tratamento mais completo, no modelo
biopsicossocial, através de uma equipe composta por médico psiquiatra, psicólogos e assistente sociais. Pois como
postula VASCONCELOS (2000), "A convivência buscada nos diversos saberes não interfere diretamente na autonomia
e na criatividade interna de cada ciência".
O Ambulatório de Ansiedade e Depressão é um Programa de Extensão vinculado ao Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará, em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão, Centro SócioEconômico e Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza. Desenvolve atividades integradas de ensino, pesquisa e
extensão desde 1997, nas dependências do referido hospital.
O Programa presta assistência à comunidade carente do Estado do Pará, de ambos os sexos, a partir de 16
anos de idade, que apresentem transtornos de ansiedade e/ou depressão. O enfoque de seu trabalho está pautado na
valorização da cultura, na maneira de adoecer do amazônida, utilizando como instrumentos terapêuticos a
1
A interdisciplinaridade entendida aqui, passa pela visão do enriquecimento mútuo, com tendência a horizontalização das relações
de poder entre os campos implicados, reconhecendo dialeticamente a necessidade de olhares diferenciados para um mesmo
objeto.
609
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
psicoeducação, psicofarmacoterapia, psicoterapia grupal e individual. Procura estimular a colaboração do paciente a
se perceber como principal responsável pelo seu tratamento e facilita sua re-inserção social no mercado de trabalho e
na família.
Este artigo tem o propósito básico de apresentar as atribuições de causalidade dos sintomas ansiosos e
depressivos que mais acometem os pacientes do Ambulatório de Ansiedade e Depressão, tendo em vista que as
mesmas podem estar relacionadas ao contexto sócio-cultural desses pacientes.
Observa-se que as atribuições oferecidas por pessoas para explicarem comportamentos e eventos
envolvendo sucesso e fracasso, constituem a área de interesse dos pesquisadores em atribuição de causalidade
(KELLEY & MICHELA, 1980). Contudo, na medida em que as causas usadas para explicar um resultado específico
podem variar, os pesquisadores nessa área têm enfatizado a importância de se considerar a estrutura subjacente das
atribuições comumente oferecidas pelos indivíduos (MEYER, 1980). Essa estrutura subjacente no caso dos pacientes
envolvidos nesse estudo está relacionada ao contexto sócio-cultural em que estão inseridos.
Para fins deste trabalho foi utilizada a abordagem qualitativa que possui como característica fundamental o
seu foco no centralizado, no específico, no peculiar, almejando sempre a compreensão do fenômeno estudado,
geralmente ligado às atitudes, crenças, motivações, sentimentos e pensamento da população estudada (SPENCER
1993, APUD NOGUEIRA-MARTINS e BÓGUS 2004.).
Este foco é fundamental neste estudo, que busca entender como cada paciente compreende e vivencia
subjetivamente suas experiências cotidianas.
2. ANSIEDADE E DEPRESSÃO
A ansiedade e a depressão configuram-se como graves problemas de saúde pública. Esses transtornos
comprometem o cotidiano das pessoas no relacionamento social, seja na família, trabalho ou comunidade.
"Aproximadamente 60% a 70% da população adulta sente, depressão ou ansiedade em grau suficiente para
influenciar em suas atividades quotidianas. Os transtornos depressivos e ansiosos ocupam o 4º lugar das patologias
incapacitantes”. (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2001).
A ansiedade é diagnosticada quando a pessoa apresenta sintomas nervosos e intranqüilos de forma
persistente e que afeta o seu dia-dia. É uma reação exagerada ao “perigo”, contra algo que ainda não aconteceu
(dirigida para o futuro), trazendo muito desconforto físico.
A principal característica psíquica do estado ansioso é uma excitação, uma aceleração do pensamento,
como se estivéssemos elaborando, planejando uma maneira de nos livrar do perigo e da maneira mais
rápida possível. Este movimento, na maioria das vezes acaba causando uma certa confusão mental, uma
ineficiência da ação, um aumento da sensação de perigo e de incapacidade de se livrar do perigo o que
pode se configurar em um círculo vicioso. Em estados de desequilíbrio emocional, o simples contacto com o
novo, com situações inesperadas e desconhecidas são o suficiente para disparar estados ansiosos. (GENTIL,
1994).
Este transtorno pode ter várias causas: sociais, psicológicas e biológicas, podendo afetar tanto as emoções
quanto o corpo, desencadeando uma série de respostas físicas, como dor no peito e palpitações; dificuldade de
concentração e freqüentes esquecimentos; irritabilidade; etc.
Já a depressão é uma doença que compromete o humor da pessoa e conseqüentemente, seu estado físico e
pensamento, alterando a maneira de ver o mundo e sua realidade; a forma de como manifesta suas emoções,
sentindo falta de disposição e prazer com a vida; afeta ainda, a forma como a pessoa se alimenta e dorme, e como se
sente em relação a si próprio.
Segundo VIDAL (1994), "A Depressão, de um modo geral, resulta numa inibição global da pessoa, afeta a
parte psíquica, as funções mais nobres da mente humana, como a memória, o raciocínio, a criatividade, a vontade, o
amor e o sexo, e também a parte física". Enfim, tudo parece ser difícil, problemático e cansativo para o deprimido.
A depressão se caracteriza também, por tipos próprios de esquema de pensamentos. As idéias e crenças da
pessoa deprimida são, freqüentemente, negativas. Apesar dessas idéias parecerem artificiais e completamente sem
fundamentos para as pessoas não deprimidas, ou mesmo para o próprio deprimido, quando não está em depressão,
durante o momento em que está deprimido, esses pensamentos parecem bastante verdadeiros. Depois de passar da
crise de depressão o próprio depressivo entende o absurdo de tais pensamentos.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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De acordo com LICINIO (2007), pesquisas recentes em países em desenvolvimento revelam que os fatores
mais consistentes relacionados à ocorrência de depressão foram: gênero feminino, idade avançada, baixa renda,
desemprego e presença de eventos estressantes na vida. As mudanças sociais também podem contribuir para o
aumento na morbidade psiquiátrica, em geral, e na depressão, em particular.
Portanto, “a ansiedade é uma antecipação cheia de medo de algo desagradável que irá acontecer e a
depressão, uma resposta a um evento desagradável que já aconteceu”. (NEMIAH, 1981).
3. A relevância do contexto Sócio-cultural
Deve-se entender e/ou compreender o processo do adoecimento levando em consideração, sobretudo, o
ambiente social e os fatores psicológicos, os quais irão decidir significativamente no comportamento e na recuperação
dos pacientes. É por isso, que se deve considerar a doença como um desequilíbrio na estrutura do indivíduo, ou seja,
como uma desarmonização2 de si mesmo e com o mundo.
Os pacientes atendidos no AMBAD são pessoas de baixa condição financeira, então é importante que seja levado em
consideração os contextos sociais e as forças culturais que modelam o cotidiano dessas pessoas, pois tais fatores dão
significado às relações interpessoais e eventos em suas vidas. Por isso, são freqüentes relatos no ambulatório de
sintomas que se refletem no aqui/agora do paciente.
Em 2020, estima-se que a depressão será a segunda causa de incapacidade no mundo. Estudos
internacionais e nacionais mostram que os sintomas de depressão e ansiedade são mais prevalentes entre
mulheres. Pessoas com baixa escolaridade e economicamente desfavorecidas possuem maior risco de
apresentar sintomas mistos depressão e ansiedade. (MARTIN, 2007)
Uma maneira de compreender esta maior vulnerabilidade feminina à depressão é abordar a questão do
ponto de vista cultural. Vários autores relatam como a experiência da depressão pode ser compreendida com
referência ao segmento cultural no qual as pessoas estão imersas.
A cultura não somente coloca ênfase diferencial em emoções particulares, mas pode designar atribuições
específicas para a intensidade de suas experiências, assim como sua expressão. "O melhor entendimento da
ocorrência da depressão deverá levar em conta muito mais do que simplesmente os sintomas expressos pelo
paciente. Devem ser considerados os contextos sociais e as forças culturais que modelam o cotidiano, que dão
significado às relações interpessoais e eventos na vida". (MANSON, 1995 APUD MARTIN, 2007). Desta forma, a
compreensão dos transtornos deve alcançar também o contexto sócio-cultural.
4. Atribuições de Causalidade: Análises dos Resultados
De acordo com a análise efetuada, em uma amostra de 15 fichas de triagens de um total de 69 pacientes
atendidos no AMBAD, no primeiro semestre de 2007 destacou-se as seguintes atribuições de causalidades, para os
sintomas dos transtornos depressivos e ansiosos relatados pelos próprios pacientes:
CATEGORIA
PERDA POR MORTE
VIOLÊNCIA
PROBLEMAS FINANCEIROS
CONFLITOS RELACIONAIS
FENÔMENOS RELATADOS
Morte de familiares, principalmente os mais próximos (filhos, pais, avós
etc);
Mortes trágicas;
Violência doméstica;
Medo de ser assaltado;
Trauma por sucessivos assaltos sofridos;
Ameaças de morte a familiares e amigos;
Assassinatos;
Preocupações financeiras;
Falta de dinheiro para as coisas básicas;
Desemprego;
A falta de carinho dos pais;
Envolvimento extra-conjugal;
Traição;
Conflitos familiares diversos;
2
Entende-se por doença a desarmonização orgânica ou psíquica, que, através, de sua manifestação, quebra a dinâmica de
desenvolvimento do indivíduo como um ser global, gerando desarmonização da pessoa; compreende-se esse abalo estrutural na
condição de ser dentro de sua sócio-cultura”. (Angerami-Camon, 1996)
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA
SITUAÇÕES COTIDIANAS
ESTRESSANTES
Insegurança no relacionamento conjugal;
Separação conjugal;
Companheiro alcoólatra;
Aparecimentos de doenças graves;
Nascimentos de filhos;
Várias atividades para desempenhar ao mesmo tempo;
Muita responsabilidade no trabalho;
A luta diária para sobreviver;
O estresse do dia-a-dia;
Falta de lazer;
Cobranças de responsabilidades.
Percebe-se que os sintomas dos transtornos depressivos e ansiosos estão relacionados a eventos ocorridos
na vida dos pacientes, a maioria deles externos. Geralmente os atribuem suas causas a eventos externos, que estão
intimamente relacionadas ao contexto em que eles vivem. O que aparece como “causas externas” são as situações
que se manifestam no contexto cultural e comunitário ou coletivo dos indivíduos, como por exemplo, as perdas
violentas e os assaltos sofridos pelas pessoas atendidas no Programa. Outras atribuições são de ordem privada, como
morte de parentes, agressões, traição e alcoolismo do companheiro etc.
Identificou-se que o contexto de vida desses pacientes também está marcado pela ausência de alegria e
prazer em viver. As análises indicaram que a ansiedade e depressão são também, transtornos que expressam a
infelicidade dos pacientes, num contexto tenso, de pobreza e medo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo mostrou como a sintomatologia dos transtornos ansiosos e depressivos, apesar de focado
no tratamento psiquiátrico e medicamentoso, remete a um contexto sócio-cultural específico, encontrando suas
razões e justificativas no mesmo.
É importante que o paciente com os transtornos referidos receba tratamento interdisciplinar para que seja
tratado de forma completa e tendo uma visão ampliada de sua problemática. Pois como foi observado, nos pacientes
atendida no AMBAD, a causa atribuída para os sintomas relatados está relacionada, tanto no contexto privado quando
no coletivo.
Essa percepção do paciente é melhor elaborada quando ele é tratado por uma equipe de diferentes
profissionais que conseqüentemente, irão perceber num todo os problemas que estão lhes afligindo. “O cliente por
ser um sujeito social, histórico e cultural é cercado de complexidades” (FILHO, 1998). Quando ele é visto de forma
mais totalitária pela equipe, se torna possível compreendê-lo enquanto sujeito que é afetado por múltiplos
problemas.
Assim, o trabalho interdisciplinar tem fortalecido a prática da equipe do Programa com o paciente, uma vez
que este e visto enquanto sujeito em sua totalidade, sendo valorizado o seu lado sadio e sua capacidade operativa, ou
seja, levando em consideração o meio social em que está inserido.
Essa tendência da interdisciplinaridade é cada vez mais marcante em nossos dias, principalmente na aérea da
saúde mental, pois reúne vários profissionais num trabalho de colaboração em benefício do usuário do serviço.
Possibilitando a prática de vários olhares sobre a problemática da ansiedade e depressão em cada sujeito.
Por isto se faz necessário que a equipe envolvida no tratamento do paciente escute as causas atribuídas pelos
mesmos. Levando em consideração que estas, podem não ser as causas reais, mas são as que influenciam
significativamente no surgimento dos sintomas, pois são as que explicitam a realidade dos mesmos.
Segundo JENKINS (1996), os acontecimentos de vida recentes são fatores de precipitação sociais que
envolvem perdas prováveis ou reais e que precedem doenças como exemplos: desemprego, doença grave na família,
saída de casa de um filho, separação ou divórcio e a perda de uma relação de apoio.
E então, se esses fatores não forem tratados podem desencadear os fatores de manutenção sociais que prolongam a
doença e retardam a recuperação como: estresse e pressões sociais crônicas relacionadas com habitação, finanças,
trabalho, casamento, falta de uma relação intima e confidente em casa ou de apoio de amigos e falta de informações
práticas sobre como lidar com problemas sociais.
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Entende-se que doença mental é fruto de um continuum de situações, uma vez que a etiologia é multifatorial
(biopsicossocial), mas para os pacientes esses relatos encerram a causa da depressão/ansiedade, quando na verdade
para a equipe do Programa, são entendidos como fatores que desencadearam suas crises. Saber lidar e tratar esses
fatores desencadeantes pode ajudar o paciente a lidar com possíveis recorrências, fenômenos esses que são comuns
nesse tipo de transtorno.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANGERAMI-CAMON, V. A (org) “E a Psicologia Entrou no Hospital”. São Paulo: Ed. Pioneira, 1996.
FILHO, Nilson Gomes. Clinica Psicossocial: Terapias, Intervenções e Questões teóricas. Recife: Ed. Universitária da
UFPG, 1998.
GENTIL, Vitória. Ansiedade e Transtornos Ansiosos. In: GENTIL, Vitória; et. al. Pânico, Fobias e Obsessões. São Paulo:
EDUSP, 1994.
JENKINS, Rachel et al. A Prevenção de Depressão e da Ansiedade: O papel dos cuidados primários. 1ª ed. Lisboa:
CLIMEPSI, 1996.
KELLEY, 11.11.& MICHCLA, J. L. Attribution theory and research. In: Rosenzwcig, M. R, & PorteI, L. M., ed. Annual
review of psychology. Palo Alto, Annual Review, 31,1980.
LICINIO, Julio et al. Biologia da Depressão. Porto Alegre: Artmed, 2007.
MORAES, M.A. Programa AMBAD: Ambulatório de Ansiedade e Depressão. Belém-PA, 2000.
MARTIN, Denise; et al. Depressão entre Mulheres da Periferia de São Paulo. São Paulo: Rev Saúde Pública, 2007.
MEYER, J. P. Causal attribution for success and failure: a multivariate investigation of dirnensionality, formation and
consequences. Joumal of Personality and Social Psychology, 38: 704-18, 1980.
NEMIAH, J. Fundamentos da Psicopatologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
NOGUEIRA-MARTINS, M. C. e BÓGUS, C. M. Considerações sobre a metodologia qualitativa como recurso para o
estudo das ações de humanização em saúde. Rev. Saúde e Sociedade v.13, n.3, p.44-57, set-dez 2004.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAUDE. Journee Mondiale de la Sante. 2001.
VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e Interdisciplinaridade: o exemplo da saúde mental. In: Saúde Mental
e Serviço Social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez. 2000.
VIDAL, Carlos. Eduardo. Depressão e Doença Física. Informativo Psiquiátrico, 13 (Supl. 1), 1994.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
OTIMIZANDO A SAÚDE EM CASTANHAL: AÇÕES DO LIAC
Prof. Esp. Elton Vinícius Oliveira de Sousa (Coordenador)
Profa. Dra. Ana Cristina Pimentel Carneiro de Almeida (Vice-coordenadora)
Profa. Esp. Carmem Tereza da Silva Xavier (Membro Participante)
Mirleide Chaar Bahia (Membro Participante)
Profa. M.sc. Lílian Silva de Sales (Membro Convidado)
Amanda Sheyla Dantas de Menezes (Estagiária)
Bianca Santos Soeiro (Estagiária)
Silvana da Silva Moraes (Estagiária)
Tatiana de França Moura (Estagiária)
RESUMO: A precariedade estrutural e material indispensável para o efetivo desenvolvimento da disciplina Bases Teóricas e
Metodológicas da Ginástica e Bases Teóricas e Metodológicas das Atividades Rítmicas, transforma-se na necessidade de buscar
estratégias a fim de atender as solicitações dos discentes do curso de Educação Física da Universidade Federal do Pará/Castanhal,
primeiro semestre de 2005 com o objetivo de ampliar o campo de ação da disciplina ginástica, pois a carga horária insuficiente não
contemplara os diversos campos de atuação profissional. Assim nasce o LIAC que objetiva de um modo geral oportunizar a
socialização do conhecimento e saberes da área de Educação Física junto à comunidade acadêmica e a circunvizinhança ao
CUNCAST, visando à promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas, mais especificamente, ofertando
gratuitamente serviços que propiciem a construção do conhecimento, referente às atividades corporais que levem a uma reflexão e
ao comportamento crítico em busca da interação entre os vários segmentos presentes no CUNCAST; difundindo a atuação do curso
de Educação Física perante o meio acadêmico e a sociedade, desmistificando a imagem atual do profissional de Educação Física e
mostrando a relevância de sua atuação diante da formação e promoção da saúde, criando espaço de discussão, pesquisa e
produção de conhecimento que qualifiquem os acadêmicos do curso de Educação Física e desse modo criar campo de estágio para
as disciplinas acadêmicas de Prática de Ensino.
SITUANDO NOSSOS PASSOS
O projeto LIAC, consiste numa iniciativa conjunta entre o corpo docente e o discente do Curso de Licenciatura
Plena em Educação Física do Campus Universitário de Castanhal. A necessidade de implementação de um projeto
desta natureza pauta-se na atual conjuntura do curso de Educação Física, que enfrenta diversos desafios no que tange
seu aspecto estrutural, curricular e de visibilidade diante dos demais segmentos acadêmicos e da comunidade. O
projeto LIAC surge diante das inquietações quanto à precariedade estruturais e materiais indispensáveis para o efetivo
desenvolvimento das disciplinas Bases Teóricas e Metodológicas da Ginástica e Bases Teóricas e Metodológicas das
Atividades Rítmicas. Atendendo as solicitações dos discentes no primeiro semestre de 2005 para ampliar o campo de
ação da disciplina ginástica, pois a carga horária insuficiente não contemplara os diversos campos de atuação
profissional. Assim, foi ministrado um curso extracurricular de ginástica de academia, com carga horária de 60
horas/aula, pela Professora Carmem Tereza da Silva Xavier e no decorrer do curso, sentiu-se a necessidade da
ampliação de espaços de reflexão e práxis profissional necessários ao seu pleno desenvolvimento e melhoria da
qualificação profissional; a inexistência de espaços de discussão e práxis. Do ponto de vista filosófico o presente
projeto embasa-se na visão da motricidade humana pela lente da corporeidade. O homem é seu corpo e ao agir no
mundo, age com e através dele. Somos um individuo único capaz de testemunhar a nossa própria existência em uma
rede complexa de inter-relações que se constrói a partir dessa vivencia singular. Entendemos que a Educação Física,
enquanto campo do conhecimento em busca de sua cientificidade precisa superar a visão cartesiana do homem que
dicotomisa corpo e mente. Pretendemos oferecer aos participantes, atividades de expressão e vivência corporal que
possam facilitar, e desvelar significados e percepções que permitam a ampliação da consciência de si, do outro e do
mundo. É de conhecimento que as práticas de atividades aeróbias proporcionam melhoria da saúde e da qualidade de
vida. Segundo Weineck (2002) a prática regular de exercícios aeróbios proporciona a melhoria da auto-estima, da
autoconfiança, aumento da resistência aos estressantes endógenos e exógenos, aumento da tolerância à dor,
aumento e manutenção do desempenho psicofísico, melhoria das funções cognitivas, entre outras.
O Laboratório Interdisciplinar de atividades corporais – LIAC – nasce também no momento em que o curso de
Educação Física, instalado em Castanhal a fim de atender a demanda na formação de profissionais que atuem na área
educacional e ampliando suas ações nos aspectos do esporte, lazer, recreação, tudo isso com o objetivo maior de
promover a saúde e o bem-estar do homem amazônico, especialmente no nordeste paraense. O curso iniciou no ano
de 2000 a partir contando com um corpo discente constituído de 40 alunos e um corpo docente formado por
professores vinculados ao Departamento de Educação Física, do Centro de Educação da UFPA/Belém, e professores de
outros centros, como Saúde, Ciências Humanas e Sociais. No ano de 2004 ocorreu a formatura da primeira turma.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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Neste mesmo período, houve a visita de representantes do MEC a fim de avaliar as condições de funcionamento do
curso para o seu devido reconhecimento. Dentre as deficiências apontadas pelos avaliadores esteve em destaque a
inexistência de projetos de ensino, pesquisa e extensão em Castanhal e Laboratórios específicos da área, além de
infra-estrutura para dar suporte às aulas práticas. A partir da realização do concurso para professor efetivo e
consequentemente a entrada de novos professores para o quadro docente no curso de Educação Física no primeiro
semestre de 2005, iniciou-se algumas ações no intuito de atender a essas referidas demandas tal como a “I Jornada
Pedagógica da Educação Física”; A reestruturação do colegiado; O incentivo a criação de projetos de extensão e grupo
de estudos em Ginástica. Outro item a ser levantado foi a possibilidade de utilização de alguns equipamentos
existentes no campus de Castanhal; cita-se como exemplo a sala de expressão corporal que está restrito as aulas
práticas das disciplinas de Educação Física e à cessões esporádicas para outros cursos e que poderia ser utilizado
também ao atendimento à comunidade circunvizinha ao Campus. Diante dos obstáculos financeiros enfrentados pela
comunidade carente ao buscar a prática de atividades corporais, o presente projeto objetiva de modo geral
oportunizar a socialização do conhecimento e saberes da área de Educação Física junto à comunidade acadêmica e a
circunvizinhança ao CUNCAST, visando à promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas, mais
especificamente, ofertando gratuitamente serviços que propiciem a construção do conhecimento, referente às
atividades corporais que levem a uma reflexão e ao comportamento crítico em busca da interação entre os vários
segmentos presentes no CUNCAST; difundindo a atuação do curso de Educação Física perante o meio acadêmico e a
sociedade, desmistificando a imagem atual do profissional de Educação Física e mostrando a relevância de sua
atuação diante da formação e promoção da saúde, criando espaço de discussão, pesquisa e produção de
conhecimento que qualifiquem os acadêmicos do curso de Educação Física e desse modo criar campo de estágio para
as disciplinas acadêmicas de Prática de Ensino.
Nossas estratégias metodológicas desenvolvem-se a partir das etapas: 1- O Diagnóstico, ou seja, o
levantamento das necessidades e interesses do público a ser atendido. Esse levantamento dá-se a partir de aplicação
de questionários, cujos dados obtidos, aliados às condições estruturais e orçamentárias, nortearão o tipo e o enfoque
das atividades corporais, como: dança, ginástica, hidroginástica, alongamento e relaxamento, bem como palestras,
oficinas e mini-cursos sobre saúde e qualidade de vida, que é colocado à disposição da comunidade local. 2- Após o
levantamento diagnóstico, ocorre o planejamento do trabalho, que compreende dois momentos: o primeiro de
capacitação dos estagiários, onde estes têm uma apropriação teórico-prática dos fundamentos das atividades que são
elencadas a partir do diagnóstico; e um segundo momento da construção de um plano de trabalho para cada
modalidade. 3- O próximo passo é a divulgação e sensibilização da comunidade alvo do projeto. Nestes é utilizado
cartazes e visitas às turmas e turnos dos diversos cursos existentes no CUNCAST, informando sobre as atividades
oferecidas pelo projeto, bem como sobre período de matrícula e número de vagas; além da realização de momentos
de vivências práticas de atividades a serem desenvolvidas na área externa do campus, que possam chamar a atenção
da comunidade para a necessidade de praticar uma atividade corporal. 4- As matrículas nas diferentes atividades
acontecem no local de realização do projeto, e tem suas datas e horários divulgados no hall de entrada do campus e
outros locais de grande movimentação. 5- Depois de matriculados, os participantes têm submetidos a uma avaliação
física e funcional, objetivando o levantamento das condições psico-sociais, de saúde e condicionamento físico. Essa
avaliação física e funcional é responsável pelo encaminhamento do participante para as atividades e, caso necessário,
para uma avaliação médica, nutricional ou psicológica mais detalhada. 6- Considerando a periodicidade das atividades,
estas são realizadas três vezes na semana, podendo ser ofertados nos períodos da manhã, tarde e noite, dependendo
da demanda, tendo a sua duração estabelecida de acordo com a especialidade de cada modalidade.
Concomitantemente as atividades, acontecerão oficinas, cursos e palestras, buscando ampliar o universo de
conhecimento dos que participam do projeto. 7- A avaliação ocorre ao longo de todo o projeto e envolve
participantes, estagiários e coordenação. A avaliação com os estagiários e a coordenação e realizada mensalmente;
com os participantes, os momentos avaliativos ocorrem semestralmente, nos quais serão levantados os obstáculos, as
conquistas e os desafios do projeto, a partir das suas vivências. É importante destacar que as atividades desenvolvidas
pelos estagiários são supervisionadas pela coordenação do projeto, através de reuniões e visitas. 8- O Replanejamento
acontece no final de cada semestre, como fruto da avaliação realizada entre a equipe técnica, estagiários e
comunidade atendida. 9- Ao final de cada ano é produzido um relatório, o qual descreve o desenvolvimento anual do
projeto, a fim de proporcionar um panorama do processo vivenciado, permitindo, desta forma, garantir o que foi
positivo e superar as dificuldades para construir novas alternativas para o ano seguinte.
AÇÕES CONJUNTAS: DIVIDINDO EXPERIÊNCIAS!
As atividades do LIAC vêm sendo desenvolvidas, em parceria com o SESI/CASTANHAL e o CENTRO
COMUNITÁRIO DO BAIRRO IMPERADOR, vem disponibilizando atividades físicas e recreacionais à comunidade de
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Castanhal nas modalidades de: natação para adultos, natação infantil , hidroginástica e Ginástica de Academia. O
corpo docente por sua vez coordena as atividades direcionadas a organização, planejamento e assesoramento técnico
administrativo, sendo esta operacionalização realizada em sintonia com as coordenações locais: SESI e CCI. Aos
discentes compete a execução técnica na forma de estagiários/bolsistas devidamente cadastrados no PROINT e
selecionados por meio de processo seletivo aberto ao público discente devidamente matriculado no Curso de
Educação Física.
As atividades no SESI, têm por meta oferecer atividades aos trabalhadores associados da indústria e
comércio, desta região vinculados ao SESI e disponibiliza (30) trinta vagas por turma, sendo 50% destinadas
inteiramente grátis a comunidade circunvizinha e as restantes ao parceiro apoiador que as administra com um valor
mensal de custeio aquem do valor de mercado, quando comparado as academias e clubes locais, demonstrando dessa
forma a iniciativa em atender a população de baixa renda. Iniciamos, as atividades na sala de Expressão corporal do
Campus de Castanhal e expandimos nossos serviços, além campus. No SESI, estamos atendendo um total superior a
60 participante em diferentes faixa etárias, nos dias de terça e quinta-feiras, nos horários de 07:30h. às 20:00h. Deste
total contabilizamos cinco técnicos administrativos vinculados ao departamento de administração do CUNCAST.
As atividades realizadas no CENTRO COMUNITÁRIO DO BAIRRO IMPERADOR (CCI,) são ofertadas turmas de
Ginástica com (30) trinta participantes, cada turma, na condição de 100% gratuitas, nos horários de 18:00h. às
19:00h. nos dias de 5ª. E 6ª. feiras. Atualmente está atendendo um número de 45 participantes.
Totalizando aproximadamente 95 participantes, distribuidos em diferentes locais do municipio de Castanhal
numa proporção de 30 alunos para cada aluno-bolsista.
Apartir do cronograma de atividades, contamos com a promoção de dois curso de formação direcionados
para a qualificação dos alunos bolsistas e também para os alunos dos campus de Castanhal e Belém, não vinculados ao
LIAC.
O primeiro curso denominado de “ Ginástica Escolar”, promovido pela Profª. Drª. Celi Nelza Z. Tafarell, que é
efetiva da UFBA, no período de 14 a 16 de dezembro de 2006. o qual expediu o total de 62 certificados ao alunos
participande, atendendo também a profissionais da área da educação física da rede de ensino de Castanhal e
Municipios vizinhos, como Santa Izabel do Pará.
O segundo curso “ Hidroginástica” promovido pela Profa. MSc.Mirleide Chaar Bahia, foi destinados aos
acadêmicos do curso de educação física, afim de atender a demanda local em busca destes serviços. Teve como
duração 20h. e realizopu-se no período de 10 à 12 de maio de 2007. contabilizou com a participação de 45 discentes.
Realizamos também processos seletivos para inserção de bolsistas em conformidade com o estabelecido pela
coordenação do PROINT, cuja essência fundamenta-se na transparência e imparcialidade das nossas ações legais.
Foram inseridos dois bolsistas em virtude da conclusão da formação acadêmica prevista.
Além das atividades desenvolvidas pelos estagiários, com vista a oferta de serviço a comunidade
castanhalense o LIAC, também vem disponibilizando de suas ações na execução do planejamento anual do parceiro
SESI, no qual evidenciou-se durante o 74º. Aniversário da Cidade de Castanhal, Olimpíadas do Trabalhador e eventos
relacionados a promoção de atividades físicas afim de difundir os cuidados necessários a boa manutenção da órdem
fisica, relacionados ao lazer e ao trabalho.
CONTINUANDO A CAMINHADA...
Acreditamos que as atividades desenvolvidas pelo LIAC, no que tange a promoção da melhoria da qualidade
de vida no sentido de otimizá-la, enquanto considerações finais, já disponibiliza de passos firmes em direção a um
novo patamar onde pretende-se dessa forma, agregar valores da promoção da saúde juntamente aos órgãos
municipais e estaduais, onde a idéia central pauta-se na formação de cidadãos, uma vez que estamos conquistando
juntamente a estes órgãos o reconhecimento, do que é possível a iniciativa da implantação de um curso de Educação
Física, em seus aspectos educacionais, esporte, lazer. Possibilitamos o envolvimento do quadro de técnicos
administrativos e de forma indireta estamos assistindo também o grupo da Terceira Idade formado neste Campus
(GETI), em primeira análise. Passamos ocupar a memória de pessoas que antes não tiveram a oportunidade de realizar
uma atividade física orientada. Temos uma fonte de recursos, cujos dados coletados ao longo do projeto poderão
subsidiar pesquisas realizadas pelo corpo docente e discente, tais como: trabalhos de conclusão de curso, produção de
artigos, apresentação de trabalhos em eventos científicos, entre outros. Não esquecendo que o presente projeto visa
suprir uma limitação da carga horária (60 h) da disciplina BTM da Ginástica, em virtude da expectativa e solicitações
do corpo discente.
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Extensão Universitária e Políticas Públicas
BIBLIOGRAFIA
Dantas, Estélio H.M. (org), Pensando o Corpo e o Movimento – Rio de Janeiro: Shape Ed, 1994.
Gonçalves, Maria Augusta Salin, Sentir, Pensar, Agir: corporeidade e educação - 2ª edição, Campinas/SP, Papirus,
1997.
Le Breton, David, Adeus ao corpo, Antropologia e sociedade - Campinas/SP, Papirus, 2003.
Metodologia do ensino da Educação Física / Coletivo de autores, São Paulo: editora Cortez, 1993.
Moreira, Wagner Wey (org), Educação Física e Esportes, perspectivas para o século XXI 2ª edição, Campinas/SP:
Papirus,1993.
Moreira, Wagner Wey e Simões, Regina (org), Esporte como fator de qualidade de vida. Piracicaba Editora Unimep,
2002.
Morin, Edgar, A religação dos saberes, o desafio do século XXI-2ª edição- Rio de janeiro: Bertrands Brasil, 2002.
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AVALIAÇÃO DA INCIDÊNCIA DE FILARIOSE CANINA
EM MUNICÍPIOS DA ILHA DO MARAJÓ – PA
Francisco Tiago Vasconcelos Melo
Lodney Coelho Nazaré
Elane Guerreiro Giese
Adriano Penha Furtado
Jeannie Nascimento dos Santos
ICB/UFPA
RESUMO: Animais de estimação oferecem significantes benefícios aos indivíduos e à comunidade. Entretanto, deve–se ter o
conhecimento do potencial de transmissão dos agentes parasitários destes animais para o homem, como por exemplo, a
transmissão de filarídeos, ancilostomídeos, ascarídeos e cestodas. Várias espécies de filárias, parasitos de outros animais, têm sido
isoladas de humanos, produzindo tipicamente infecções crípticas de difícil diagnóstico, através de outras espécies dos gêneros
Dirofilaria, Brugia, Onchocerca, Dipetalonema, Loa e Meningonema. O projeto visa analisar os aspectos epidemiológicos da filariose
canina na ilha do Marajó e suas implicações, enquanto zoonose, à comunidade residente. Para isto, diagnósticos hemoscópico,
moleculares e parasitológicos estão sendo realizados com cães domiciliados em municípios da Ilha do Marajó. Áreas endêmicas
para filariose canina têm sido caracterizadas e as implicações para a população humana residente na Ilha do Marajó deve ser
avaliada.
Palavras-chave: Filariose; Dirofilariose; Zoonose; Marajó; Endemias.
INTRODUÇÃO
A dirofilariose é uma zoonose causada pelo nematóide filarídeo Dirofilaria immitis e possuí uma distribuição
cosmopolita dentre as espécies conhecidas no mundo. Seus hospedeiros definitivos são mamíferos carnívoros,
principalmente canídeos e felinos e seus hospedeiros intermediários (vetores) são mosquitos dos gêneros Aedes,
Culex e Anopheles. A infecção em humanos leva a comprometimento pulmonar de gravidade variável, uma vez que o
parasito não se desenvolve plenamente e morre ao passar pelos pulmões (Barbosa & Alves 2006).
A dirofilariose humana, também conhecida por Dirofilariose Pulmonar Humana (DPH) é causada por D.
immitis, que infecta ocasionalmente o homem que por não ser o seu hospedeiro definitivo adequado, não desenvolve
a doença como o cão. Vários foram os casos já relatados de DPH em várias localidades do mundo, como Austrália,
França e Japão (Narine et al 1999; Vakalis et al 1998; Hirano et al 2002).
No Brasil, as infecções por dirofilariose em cães e gatos, ocorrem principalmente nos estados de Alagoas,
Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande
do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (Barbosa & Alves 2006).
Os animais domésticos possuem um estreito relacionamento com os seres humanos. Em torno de 70% da
população brasileira possui um animal de estimação e além de filarídeos, os parasitos intestinais desses animais
causam zoonoses de importância médica e veterinária como Toxocara sp., Acylostomideos, Dipylidium caninum e
Taenia sp. (D. Lopez et al 2006).
O presente trabalho realizou o levantamento epidemiológico da incidência de filariose e helmintos intestinais
na população canina em dois municípios da Ilha do Marajó, associando tais achados, com as investigações prévias
sobre a ocorrência de filariose canina na cidade de Belém e região metropolitana.
O inquérito hemoscópico foi realizado a partir das amostras sanguíneas colhidas da veia radial ou da veia
safena dos cães domiciliados nos municípios de Salvaterra e São Sebastião da Boa Vista, Ilha do Marajó - PA. As
amostras de sangue colhidas foram submetidas a três métodos de verificação de infecção por D. immitis: a) de cada
amostra foram confeccionadas duas (02) lâminas de extensão sanguínea coradas com Panótico Rápido (Laborclin®); b)
as amostras foram submetidas, à concentração de microfilárias pelo método de Knott modificado (centrifugação com
formalina 2% a 1500 rpm por 5 min); c) utilização de método de diagnóstico sorológico rápido utilizando o Kit HESKATM
Solo StepTM Filaria Cane®, para detecção de antígenos circulantes.
A Secretaria de Saúde do Estado do Pará (SESPA), através da 7ª Regional de Proteção Social da Ilha do
Marajó, possui um programa de vigilância e controle de endemias, dentro do Programa de Prevenção Integrada. Deste
modo, mantém uma equipe constante de investigação de Leishmaniose, dentre outras doenças infectocontagiosas de
notificação obrigatória. Cães diagnosticados soropositivos para calazar (leishmaniose visceral) são recolhidos do
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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domicílio para eutanásia. Assim, mediante autorização da SESPA-7ª RPS, nossa equipe do LBC-ICB-UFPA, acompanhou
duas viagens para recolhimento e eutanásia destes cães infectados, a fim de se realizar a necropsia para investigação
de múltiplas doenças parasitárias, através da colheita de fezes, vermes intestinais e pesquisa de filarídeos adultos.
Amostras de fezes dos cães necropsiados foram coletadas e conservadas em solução de Formalina a 10% e
examinadas pelo Método Direto e Método de Hoffman. Os helmintos coletados na luz do intestino delgado, intestino
grosso, coração e artérias pulmonares foram lavados em solução tampão (PBS, pH 7.4) e fixados em A.F.A.
Algumas amostras sanguíneas e de helmintos colhidos durante a necropsia no coração e artérias pulmonares
foram submetidas à extração de DNA pelo método de fenol-clorofórmio (Sambrook et al, 2001) e à reação em cadeia
da Polimerase (PCR) utilizando os primers e protocolo como descrito por Rishniw et al. (2006) que diferencia as
espécies de filárias segundo o tamanho do fragmento de DNA amplificado na reação.
Todo este material foi processado no Laboratório de Biologia Celular, do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal do Pará, assim como no Laboratório de Virologia do mesmo Instituto.
DESENVOLVIMENTO
Durante o projeto foram realizadas visitas a população domiciliada em Salvaterra e São Sebastião da Boa
Vista, Ilha do Marajó-PA, acompanhando-se o trabalho de pesquisa de Leishmaniose da Equipe de Controle de
Endemias da SESPA (7ª Regional de Proteção Social da Ilha do Marajó). Parte das amostras sanguíneas colhidas para
pesquisa de leishmaniose nos foi doada para a realização do inquérito hemoscópico para filariose canina, totalizando
185 amostras de sangue de cães como dispostos na Tabela 1 e 2. Durante as visitas domiciliares, efetuamos também
esclarecimento à população sobre a Dirofilariose canina.
Dos 154 cães domiciliados em Salvaterra, 57 foram positivos para a presença de microfilárias no exame de
distensão sanguínea e método de Knott. E, dos 31 cães residentes em São Sebastião da Boa Vista, apenas dois foram
positivos em lâmina e Knott.
Dos 20 animais eutanasiados, 10 residiam em Salvaterra. Destes, seis apresentaram parasitos no coração e
dos outros 10 animais domiciliados em São Sebastião da Boa Vista foram coletados helmintos adultos no coração de 4
deles. O método sorológico aplicado nos 10 cães eutanasiados de Salvaterra demonstrou positividade para 5 animais.
A análise coprológica destes 20 cães eutanasiados, revelou uma helmintofauna diversificada, como
observado na Tabela 3, mostrando uma maior sensibilidade para o método de Hoffman. Entretanto observamos uma
alta taxa de infecção da população canina, por helmintos Ancylostomídeos e dos gêneros Dypilidium e Toxocara.
O diagnóstico de filariose canina por Biologia Molecular foi realizado em 30 cães de Salvaterra e se obteve a
positividade de 20 cães para D.immitis.
De acordo com o levantamento epidemiológico para filariose canina, realizado em Belém-PA e Região
metropolitana, no período de 2004 a 2006, no qual foram analisadas 1397 amostras por distensão sanguíneas de cães,
não se encontrou animais infectados por Dirofilaria immitis. Achado interesante, pois em trabalhos realizados
anteriormente a prevalência de microfilaremia positiva foi de 5,04% nos cães de Belém em 1995 e se encontra alta
quando comparados a incidência em outros estados brasileiros como o encontrado em São Paulo (8,0%) e Rio de
Janeiro (8,61%) (Souza et al, 1995; Souza et al 2001; Labarthe et al 1997). No entanto quando se trata da região da Ilha
do Marajó–PA, observa-se a incidência de filariose canina, tal como observado por Garcez et. al. (2006), no município
de Salvaterra, porém apresentando uma prevalência menor no presente estudo, para o mesmo município e uma
primeira descrição de ocorrência no município de São Sebastião da Boa Vista.
Quando comparados os tipos de infecções e a prevalência das mesmas observa-se que grande parte dos
animais que foram analisados (60%) apresentou infecções múltiplas, ou seja, calazar, dirofilariose e infecções
helmínticas intestinais, que teve a prevalência em 100% dos animais, os quais foram realizados os exames
coprológicos.
Durante o trabalho não foi possível realizar as técnicas de citoquímica para fosfatase ácida, pois são muito
onerosas e necessitam mais investimentos para execução dessa parte do trabalho; portanto, as lâminas foram coradas
com o Panótico Rápido (Laboclin®). Foi possível observar que as microfilárias apresentaram certo padrão de coloração,
com grupos de células coradas mais intensamente em algumas partes do corpo, que possivelmente poderia fornecer
um método mais acessível e mais barato para diagnosticar a espécie infectante em questão. Mas para isso serão
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necessários estudos posteriores, até mesmo associados com a biologia molecular que poderão auxiliar no
desenvolvimento desses estudos.
Exames coprológicos e sorológicos concomitantes foram realizados em 10 cães do município de Salvaterra.
Contudo não foi possível confirmar a existência de reações cruzadas entre antígenos de parasitos intestinais e D.
immitis, pois o número de falso-negativos foi baixo e não houve falso-positivos nos exames sorológicos mesmo com
todos os animais soropositivos para calazar e contendo parasitos intestinais.
O acompanhamento para verificar a dinâmica de infecção desses cães ainda não foi realizado, pois faz-se
necessário outras visitas aos municípios e a expansão em outros municípios. Cães calazar-positivos tornam-se
debilitados decorrentes da infecção, podendo se tornar mais susceptíveis às infecções helmínticas.
As investigações epidemiológicas para casos de DHP ainda não foram realizadas, pois é necessária uma busca
minuciosa em pacientes nos hospitais dos municípios à procura de casos semelhantes aos relatados na literatura. Os
casos de DHP são muitas vezes sub-notificados e passam despercebidos por profissionais de saúde, por se
assemelharem a casos de neoplasias ou infecções pulmonares (Souza et al, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em estudos anteriores, realizados pela equipe do Laboratório de Biologia Celular – ICB – UFPA, não foram
observados cães infectados por D.immitis em Belém e Região Metropolitana. Entretanto, com a investigação desta
infecção nos municípios de Salvaterra e São Sebastião da Boa Vista ambos localizados na Ilha do Marajó – PA,
observamos uma alta prevalência dessa zoonose. Este fato torna-se preocupante, devido ao fluxo de pessoas, animais
domésticos e até mesmo de criadores e vetores de doenças entre Belém e as cidades do Marajó. Vale ressaltar que
não existem barreiras de fiscalização sanitária que controlem este fluxo. Portanto este fator poderia proporcionar a
reintrodução e disseminação de D. immitis para Belém e Região Metropolitana.
Novas técnicas para diagnostico da filariose canina - como testes sorológicos para pesquisa de antígenos e a
biologia molecular para identificação de seqüências gênicas específicas - foram desenvolvidas com a finalidade tornar
o diagnostico mais confiável. No entanto foi observado que ainda se faz necessário o uso do diagnóstico hemoscópico
por meio de distensão sanguínea e Knott como triagem inicial e menos onerosa para determinadas regiões.
Os resultados obtidos até o presente momento indicam ainda, alta infecção por helmintos intestinais nos
animais domésticos dos municípios investigados na Ilha do Marajó, evidenciando então a necessidade de estudos em
outras comunidades para melhor avaliar o potencial zoonótico destes parasitos.
Tabela 1 - Localidades do Município de Salvaterra onde foram realizadas coletas.
SALVATERRA-PA
LOCALIDADE
Nº DE CÃES INVESTIGADOS
Caldeirão
Joanes
Jubim
Pingo D´Água
Salvaterra – Centro
Vila Ceará
Vila São Vicente
Total
7
4
28
30
36
7
11
154
Tabela 2 - Bairros do Município de São Sebastião da Boa Vista onde foram realizadas coletas
SÃO SEBASTIÃO DA BOA VISTA-PA
BAIRRO
Bairro Novo
Centro
SED*
Terrinha
Total
Nº DE CÃES INVESTIGADOS
2
16
11
2
31
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Tabela 3 – Comparação do percentual de infecção por helmintos intestinais, de acordo com o Método Direto e
Método de Hoffman em cães de Savaterra, Ilha do Marajó - PA
Helminto
Método Direto
Método de Hoffman
Ancylostomideos
70%
100%
Dipylidium sp
60%
60%
Toxocara sp
10%
30%
BIBLIOGRAFIA
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXTENSIONISTAS EM SAÚDE PARA A INVESTIGAÇÃO DA
APTIDÃO FÍSICA EM PRATICANTES DE FUTSAL: EXERCÍCIO DE COMPROMISSO COM A
QUALIDADE DE VIDA E DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
Dinark Conceição Viana (Bolsista)1
Izaura Maria Vieira Cayres Vallinoto (Coordenadora)2
Bernadete Mendes Cavaleiro de Macêdo Neta3
ICB/UFPA
RESUMO: Estudos têm mostrado a importância de atividades esportivas como estratégia de inclusão social. O presente trabalho
propõe identificar os perfis ortopédico e cardiorrespiratório de um grupo esportivo de uma comunidade urbana de Belém. Médicos
ortopedistas procederam à avaliação locomotora de 110 homens e 22 mulheres praticantes de futsal. Os resultados mostram que
55% estavam aptos a realizarem o teste de aptidão cardiorrespiratória e 45% apresentavam patologias locomotoras, que
demandaram exames complementares e impediram a imediata realização do teste. Este foi realizado sob supervisão de
profissionais de educação física e, cujos resultados cardiorrespiratórios mostraram que: 100% dos meninos estavam abaixo do
regular, 1 menina regular e 1 muito ruim (7-9 anos); 69% dos meninos estavam abaixo do regular e 31% acima do regular, 1 menina
muito ruim (10-14 anos); 57% dos meninos estava acima do regular e 43% abaixo do regular, 1 menina regular e 1 ruim (15-16
anos); 1 mulher muito ruim, 65% dos homens acima da média, 28% na média e 7% abaixo da média (adultos). Os homens adultos
tiveram resultados satisfatórios, entretanto, crianças e mulheres obtiveram valores inadequados para as suas faixas etárias. Isso
mostrou a necessidade de ações extensionistas junto aos treinadores e à comunidade investigada para direcionar adequadamente
os treinamentos, com vistas ao melhor aproveitamento da prática esportiva.
Palavras-chave: Atividade física; avaliação clínica; testes de aptidão física.
INTRODUÇÃO
O exercício esportivo e a prática de atividade física sofreram influências relacionadas a modificações
ocorridas nos processos civilizatórios. Embora pareça um movimento cultural atual, há relatos desta prática, desde
tempos remotos, onde os exercícios eram constantes e parte integrante da vida. Com o tempo, além das atividades
naturais, as civilizações incorporaram a prática de jogos e de lutas. E somente na metade do século XVIII é que
sistemas regulares de educação física foram elaborados com certa ordenação e obedecendo a princípios pedagógicos.
Nessa esfera, o esporte e toda uma gama de usos sociais do corpo ligados a ele passam a deter a capacidade de
representar identidades e diferentes posições sociais. Nações rivais, por exemplo, utilizam-se de práticas esportivas
coletivas para se afirmarem, bem como a prática de atividades físicas passa a ser utilizada para expressar diferenças
de status entre grupos. (SALLES-COSTA, 2003; CHAVES, 2004).
A progressiva divulgação de informações e imagens a respeito de saúde, corpo e todas as formas de
movimento, resultam num aumento pela procura de atividade física, com objetivos individuais dos mais variados
entre eles: a estética, a interação social, a performance, a inclusão social, entre outros, mas não garantem a real
adesão continuada à mesma (SANTOS; KNIJNIK, 2006).
Seja qual for este objetivo, faz-se necessário o conhecimento das características dos exercícios, de suas
formas de realização, das modificações que eles provocam no organismo e dos cuidados a serem tomados para sua
execução pelo indivíduo que está realizando a atividade, e, principalmente, por quem está orientando tal realização.
Um treinador tem que ter um conhecimento profundo da modalidade e instruir os jogadores afim de executar os
movimentos de forma correta, dessa forma incrementando a performance física e técnica e prevenindo o
aparecimento de problemas musculoesqueléticos (CHAVES, 2004; BRANDÃO, 2006)
Entretanto, o número de leigos orientando atividades físicas, ainda, é grande no Brasil, especialmente em
bairros periféricos ou em localidades distantes dos grandes centros econômicos, onde a fiscalização é pouco eficaz. A
1
Bolsista PROEX/2007 vinculado ao Programa de Extensão “Parceria entre a Universidade Federal do Pará e a comunidade não
acadêmica, para aferição e acompanhamento do estado de saúde de moradores da área metropolitana de Belém”, Estudante da
Faculdade de Medicina/UFPA.
2
Coordenadora do Programa de Extensão “Parceria entre a Universidade Federal do Pará e a comunidade não acadêmica, para
aferição e acompanhamento do estado de saúde de moradores da área metropolitana de Belém”, Professora lotada no Instituto de
Ciências Biológicas, Coordenadora do Laboratório de Antropologia Biológica, Vice-Diretora da Faculdade de Medicina.
3
Aluna vinculada ao Programa de Extensão “Parceria entre a Universidade Federal do Pará e a comunidade não acadêmica, para
aferição e acompanhamento do estado de saúde de moradores da área metropolitana de Belém”, Estudante da Faculdade de
Medicina/UFPA.
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realização de atividade física sem acompanhamento profissional ou com acompanhamento inadequado pode ser
veículo que leva a lesões ou à degradação física seja aguda ou progressiva. (CHAVES, 2004).
De acordo com Fernandes Filho (2003), a maioria dos indivíduos que se auto-exercitam e os que treinam
mesmo sob a supervisão de professores de Educação Física não realizam, previamente, qualquer tipo de avaliação da
aptidão física total, cardiorrespiratória e motora. Ainda, segundo este autor, os motivos são os mais diversos e
nenhum deles é justificável.
Nas últimas quatro décadas, período de intensificação da urbanização do município de Belém tem
aumentado os índices de morbidade e mortalidade, tanto por doenças decorrentes do subdesenvolvimento quanto
por aquelas atribuídas ao desenvolvimento, como as provocadas pela violência, querem homicídios, suicídios,
acidentes no trânsito, entre outras (MACHADO, 2001).
Na luta contra essa realidade, o centro comunitário Clube de Mães Sagrada Família, localizado no bairro da
Pratinha, um bairro periférico de Belém, tem investido no desenvolvimento de atividades esportivas para crianças,
jovens e adultos, dos gêneros masculino e feminino, com vistas a esvaziar as ruas, pelo preenchimento da rotina diária
dessas pessoas e, assim, não contribuir para as estatísticas acima citadas. Dessa forma, atividades como futebol de
salão, masculino e feminino e dança são oferecidas aos moradores deste bairro, na perspectiva, também, de conferir
alguma qualidade de vida a estas pessoas. Entretanto, as atividades físicas realizadas no referido centro comunitário
são procedidas por monitores leigos, voluntários da comunidade, portanto carentes de treinamento técnico e de
conhecimentos teóricos acerca do que estão ensinando.
O centro comunitário carece, ainda de avaliação e de acompanhamento físicos para seus participantes, o que
pode a curto, a médio e a longo prazo levar a complicações e, mesmo, ao comprometimento da estrutura locomotora
dos integrantes do projeto esportivo, através de trauma agudo ou mecanismos de lesão por repetição (CHAVES 2004;
MICHELI, 1995).
Dessa forma, a partir de uma parceria realizada entre o Laboratório de Antropologia Biológica, da
Universidade Federal do Pará e o centro comunitário Clube de Mães Sagrada Família pretendeu-se realizar,
inicialmente, um levantamento do estado de saúde destes participantes do projeto esportivo mantido pelo centro
comunitário, considerando a estrutura locomotora e o potencial cardiorrespiratório dos indivíduos e, posteriormente,
o acompanhamento destes.
O presente trabalho apresenta os resultados de atividades extensionistas realizadas por estudantes de
Medicina e de Educação Física, acompanhados por profissionais destas áreas, junto a um grupo esportivo de uma
comunidade urbana de Belém, para avaliação inicial do estado de saúde locomotor e cardiorrespiratório dos
praticantes de futsal masculino e feminino.
DESENVOLVIMENTO
Metodologia
Inicialmente médicos ortopedistas procederam, via exame clínico, a avaliação da estrutura locomotora de
132 praticantes de futsal (110 homens e 22 mulheres) cadastrados no projeto esportivo desenvolvido no centro
comunitário Clube de Mães Sagrada Família, com vistas à obtenção do perfil locomotor. Antes de entrar no
consultório adaptado em uma das salas do centro comunitário, os investigados passavam com os estudantes de
Medicina vinculados ao projeto e, previamente treinados, para realizarem a mensuração de peso e de altura, assim
como de pressão arterial e de freqüência cardíaca.
Estes acadêmicos acompanharam um por vez, o exame clínico, auxiliando os médicos no preenchimento de
solicitação de exames e, ao mesmo tempo, aprendendo o protocolo de realização de exame ortopédico. Esse
protocolo consistiu em: esclarecimento prévio do que seria realizado; anamnese; exame físico ortopédico (inspeção,
exame estrutural, teste de movimentos ativos, passivos, acessórios e contra a resistência e palpação direcionada); e,
por fim, se necessário, requisição de exames, como raio-X e /ou escanometria. Os investigados categorizados aptos à
realização de prática de exercícios, por não apresentarem problemas na estrutura locomotora que demandassem
qualquer exame complementar, eram encaminhados ao agendamento para a realização do teste de aptidão
cardiorrespiratória. Os indivíduos com problemas locomotores eram encaminhados à Unidade Municipal da Pratinha
para realizarem os exames solicitados pelo médico, tendo em vista a parceria realizada pelo Laboratório de
Antropologia Biológica e a Secretaria Municipal de Saúde para dar suporte a estes atendimentos.
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O perfil cardiorrespiratório dos integrantes do projeto esportivo foi obtido a partir da realização de testes de
avaliação da aptidão cardiorrespiratória, específicos para as diferentes faixas etárias. Estes testes foram procedidos,
com a presença de profissionais de Educação Física, em pista de atletismo de 360 metros. Os testes aplicados foram: o
Teste de Cooper, para adultos de ambos os gêneros e o Teste de 6 Minutos (FERNANDES FILHO, 2003) para menores
de 16 anos de ambos os gêneros.
Após a obtenção dos resultados, foram realizadas reuniões comunitárias entre os membros e os monitores
do projeto esportivo para dar ciência do desempenho locomotor e cardiorrespiratório dos integrantes de cada
categoria esportiva e orientá-los quanto às alterações necessárias.
Posteriormente, foram procedidas palestras para os integrantes do projeto esportivo para socializar os
resultados de cada categoria esportiva, tentando deixar clara a importância de cada membro identificar seu objetivo
dentro do projeto: competição ou simplesmente exercício físico; para assim poder direcionar, juntamente com o
monitor devidamente orientado pela equipe técnica do projeto, a melhor performance de sua atividade física.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A prática de atividades físicas, com a devida instrução e adequadas às condições individuais, traz benefícios
físicos, psicológicos e sociais na vida adulta, contribuindo para a manutenção das funções físicas e cognitivas, e
conseqüentemente promovendo uma maior independência na velhice. (HOWLEY; FRANKS, 2000; SHEPHARD, 1997).
Um estilo de vida fisicamente ativo reduz os riscos de doenças crônicas incluindo hipertensão, derrame, câncer,
diabetes tipo dois, osteoporose, osteoartrite e depressão (COUSINS, 1997).
A aptidão física que nada mais é do que a abrangência inerente ao conceito de saúde oferecido pela OMS,
representa um estado multifacetado de bem-estar resultante da participação na atividade física. A aptidão física
relacionada à saúde é uma dimensão que sobrepassa a tradicional perspectiva de disponibilidade cardiorrespiratória.
Relaciona-se não apenas com a capacidade de resistência, como tanto se preconizou nos anos 70 e 80, mas também
com outras expressões motoras como a força, a resistência muscular localizada, a flexibilidade, a composição corporal,
as quais se julga estarem associadas à diminuição de problemas músculoesqueléticos, em particular das suas
incidências em relação a coluna vertebral (MARQUES, 1999).
Partindo dos pressupostos supracitados, o presente trabalho, propôs avaliar e identificar os perfis locomotor
e cardiorrespiratório de uma amostra populacional que desenvolve atividade física regular, com vistas ao
direcionamento adequado da atividade, considerando o gênero do praticante, sua idade e o seu objetivo para a
realização da atividade.
Os resultados do exame clínico ortopédico mostram que 55% dos avaliados clinicamente estavam aptos a
desenvolverem a prática de atividades esportivas, enquanto que 45% apresentavam patologias do aparelho
locomotor, as quais demandaram a realização de exames complementares. Entre as patologias identificadas estão
deformidades da coluna toracolombar (escoliose e cifose), deformidades do tórax e cintura escapular
(infradesnivelamento de ombros e escápulas, direitos e esquerdos e pectus escavatum), desigualdade de
comprimento dos membros inferiores (direito e esquerdo), deformidades angulares em membros inferiores
(genuvalgo), pé plano e Doença de Sever (avulsão do tendão de Aquiles). Dentre estas patologias, alguns fatores
etiológicos de origem postural foram detectados ao exame.
Dentre os exames solicitados pelos médicos ortopedistas, citamos o raio-X da coluna e dos membros, a
escanometria, o eletrocardiograma e a avaliação cardiológica.
Por ocasião da avaliação clínica, os indivíduos a serem atendidos pelos médicos tiveram aferidas a pressão
arterial e a freqüência cardíaca. Dos 72 indivíduos verificados para estes dois parâmetros, com idade variando de 6 a
41 anos, foi verificado que apenas dois do gênero masculino apresentaram valores de pressão arterial categorizados
como hipertensão leve, de acordo com a classificação de Fernandes Filho (2003), enquanto os demais apresentaram
valores que variaram dentro da faixa de normalidade quando comparados ao gênero e idade para estes dois
parâmetros.
Após a avaliação clínica, os indivíduos considerados aptos à realização de atividades físicas estavam,
automaticamente, liberados para realização do teste de aptidão cardiorrespiratória, enquanto que os que
necessitavam de algum exame e/ou avaliação complementar estava impedidos à imediata realização do teste de
aptidão cardiorrespiratória, podendo esta ser marcada tão logo procedessem o que fora solicitado pelo médico e seu
retorno a este para autorizar a realização do teste.
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A aptidão cardiorrespiratória é considerada o componente da aptidão física relacionado à saúde que
descreve a capacidade dos sistemas cardiovascular e respiratório em fornecer oxigênio durante uma atividade física
contínua O risco de morbimortalidade por doenças crônico-degenerativas tem sido associado a baixos níveis de
aptidão cardiorrespiratória e atividade física. (NETO, 2003). Daí a necessidade de realizar a avaliação da aptidão física
total, uma que vez a mensuração da capacidade cardiorrespiratória revela o estado funcional dos sistemas
respiratório, cardiovascular, muscular e de suas relações fisiológico-metabólicas (FERNANDES FILHO, 2003).
Foram realizados dois tipos de testes de aptidão, de acordo com a faixa etária de cada integrante do projeto
esportivo, o Teste de Cooper e o Teste de 6 Minutos. Os resultados do teste de aptidão aplicado aos integrantes do
projeto esportivo com idade inferior a 16 anos estão apresentados nas Tabelas I e II. Em ambos os testes, a eficiência
do sistema cardiorrespiratório será avaliada pela mensuração da capacidade aeróbia máxima (VO2Máximo),
parâmetro que permite a avaliação global ao invés do exame de cada um de seus componentes (função pulmonar,
função cardíaca, diferença artério-venosa, sangue, etc.) e que apresenta boa aceitação para os atletas de futsal, baixo
custo de sua aplicação, quando comparado ao teste direto (teste ergométrico) e o fornecimento de informações
importantes que podem auxiliar na prescrição e no acompanhamento do treinamento. (LIMA; SILVA; SOUZA, 2005;
FERNANDES FILHO, 2003).
Tabela I – Avaliação do rendimento em metros percorridos (m) e VO2Máximo (VO2Máx) para os meninos participantes
do projeto esportivo do Clube de Mães Sagrada Família, de acordo com o Teste de 6 Minutos (FERNANDES FILHO,
2003).
Idade
(anos)
Bom
M
VO2
Máx
Mais que
Regular
m
VO2
Máx
Regular
m
VO2
Máx
Menos que
Regular
VO2
Máx
M
Ruim
m
VO2
Máx
7
8
1063,5
1074,85
39,82
40,07
953,5
1020,55
1178
11
12
13
14
15
16
1498,5
49,32
1308,97
1291,6
1371,15
1329,45
1334
45,18
46,98
46,54
45,63
45,72
42,32
1090,25
40,4
966,33
1025,75
37,69
38,99
1028,55
1108,5
39,06
40,8
1005
38,54
1194
1220
42,67
43,24
1143,5
41,57
1196,5
1232
42,72
43,5
1143,5
41,57
743,5
849,45
VO2
Máx
32,83
35,15
747,5
747,5
884,85
900
889,5
900
900
32,92
32,92
35,92
36,25
36,02
36,25
36,25
895,5
36,15
37,42
38,88
9
10
Muito
Ruim
m
Categorias contempladas no teste de 6 minutos: Muito bom (49,72), Bom (49,69 a 47), Mais que regular
(47,03 a 44,37), Regular (44,37 a 41,7), Menos que regular (41,68 a 39,02), Ruim (39 a 36,36), Muito ruim (<36,36).
Tabela II – Avaliação do rendimento em metros percorridos (m) e VO2Máximo (VO2Máx) para as meninas participantes
do projeto esportivo do Clube de Mães Sagrada Família, de acordo com o Teste de 6 Minutos (FERNANDES FILHO,
2003).
Idade (anos)
8
Regular
Ruim
M
VO2Máx
1048
38,41
M
Muito Ruim
VO2Máx
11
15
1065
38,74
900
625
35,5
M
VO2Máx
783,71
33,21
708,31
31,73
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Categorias contempladas no teste de 6 minutos: Muito bom (44,27), Bom (44,25 a 42,4), Mais que regular
(42,38 a 40,53), Regular (40,51 a 38,66), Menos que regular (38,64 a 36,79), Ruim (36,77 a 34,91), Muito ruim
(<34,91).
Como pode ser visto nas Tabelas I e II, os valores das distâncias percorridas pelos meninos, média geral de
1116,09, foram superiores aos resultados obtidos pelas meninas, média geral de 868,89, considerando as idades de 8,
11 e 15 anos. Esses resultados corroboram os achados, anteriormente, por Costa et al. (1997), em uma amostra de
crianças entre 10 e 12 anos.
Os resultados mostraram que na faixa de 7 a 9 anos, 100% dos meninos testados estão classificados como
abaixo do regular, 1 menina como regular e 1 menina como muito ruim. Para os meninos entre 10 e 14 anos, 69% está
abaixo do regular e 31% está acima do regular e 1 menina foi classificada como muito ruim. Para os da faixa de 15-16
anos, 57% dos meninos está acima do regular e 43% está abaixo do regular, 1 menina foi classificada como regular e 1
menina como ruim.
À semelhança do estudo realizado em uma amostra de meninos canadenses de 8 a 16 anos, pode-se observar
na Tabela I um aumento gradual do VO2Máximo da presente amostra em função da idade cronológica. Em relação a
amostra das meninas, embora pequena, apresentou comportamento que parece ser diferente do dos meninos.
Resultados similares foram encontrados por Onakagawa & Ishiko (1970) e Mirwald & Bailey (1986), os quais indicam
uma variação em função da idade cronológica, seja manutenção ou a queda dos valores de VO2Máximo (FERNANDES
FILHO, 2003).
Os resultados do teste de aptidão aplicado aos integrantes do projeto esportivo com idade superior a 17 anos
estão apresentados na Tabela III.
Tabela III - Avaliação do rendimento em metros percorridos (m) e VO2Máximo (VO2Máx) para os participantes adultos
do projeto esportivo do Clube de Mães Sagrada Família, de acordo com o Teste de Cooper (Fernandes Filho, 2003).
Idade
(anos)
Bom
M
17
19
20
21
22
23
29
32
38
41
2669
2804
Acima da
Média
VO2
Máx
48,38
M
2565
2749
2715
VO2
Máx
46,05
50,17
49,41
Média
M
VO2
Máx
2439,4
2530
43,24
45,27
2529,5
2605,3
45,26
46,95
Abaixo da
Média
M
VO2
Máx
2160
Muito Ruim
m
37
51,39
1567,85
2592,4
2800,2
2697,8
2527,7
VO2
Máx
23,76
46,66
51,31
49,02
45,22
Nota: o participante de 22 anos corresponde a única mulher adulta testada; todos os demais são do gênero
masculino;
Categorias contempladas no teste de Cooper: Excelente, Bom, Acima da média, Média, Abaixo da média,
Ruim, Muito ruim.
A única mulher que realizou o teste de Cooper ficou classificada como muito ruim. Para os homens adultos,
65% ficamos classificados como acima da média, 28% na média e 7% como abaixo da média.
No conjunto, os resultados indicam que os homens adultos testados estão com resultados considerados
satisfatórios, seja pelo tempo que já vem realizando o treinamento seja pela adequação do treinamento realizado, o
que acaba, em última análise, promovendo a aquisição de uma boa capacidade cardiorrespiratória. O primeiro
aspecto citado, com relação ao tempo de treinamento, é corroborado por Fernandes Filho (2003) o qual coloca que os
melhores valores de VO2Máximo são atingidos após um período prolongado de treinamento, em geral de 8 a 18
meses de treinamento. O outro aspecto, relacionado à adequação do treinamento, é tratado por Chaves (2004), o
qual considera a necessidade de modificação continuada nos programas de exercício para evitar a acomodação, ou
seja, a não obtenção de melhorias no rendimento individual.
626
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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Entretanto, os meninos (crianças e jovens com idade inferior a 17 anos) e as mulheres (adultas e crianças)
estão com valores inadequados para as suas respectivas faixas etárias, embora estejam realizando atividade física.
Esses resultados mostraram a necessidade de realizar ações de extensão, pelos membros do projeto, junto aos
treinadores e à comunidade investigada para direcionar o treinamento destes, com vistas ao incremento da
capacidade cardiorrespiratória e melhor aproveitamento da prática esportiva. Isso será possível, uma vez que a
aptidão cardiorrespiratória tem relação com a resistência aeróbia generalizada e com a dinâmica do indivíduo, logo,
ela poderá ser melhorada por meio de treinamentos físicos específicos (FERNANDES FILHO, 2003). Para tanto,
reuniões entre os membros do projeto e os monitores do projeto esportivo foram realizadas, para dar ciência aos
monitores de cada categoria esportiva sobre os resultados da avaliação clínica, sobre as pendências, assim como o
rendimento obtido nos testes de aptidão cardiorrespiratória. Essas reuniões proporcionaram, ainda, a possibilidade de
apoio técnico especializado, com vistas à realização do treinamento mais adequado para aqueles que querem
enveredar pelo campo da competição, mas também a identificação dos valores necessários para aqueles que vêem a
atividade física como inclusão social ou como interação social.
Outro aspecto ressaltado por Chaves (2004) é o de que ao se planejar uma atividade física ou se desenvolver
um programa físico, é preciso identificar o objetivo pretendido pela pessoa que vai realizar a atividade, para que seja
estabelecido o nível de atividade a ser trabalhado. Portanto, foram realizadas palestras com os membros participantes
de cada categoria esportiva, para que cada integrante pudesse, individualmente, identificar o objetivo da realização
da atividade esportiva no centro comunitário.
Como posto por Nunes et al. (2000), o desenvolvimento de palestras nas comunidades incrementa a
confiança, a cooperação, a adesão a propostas externas à comunidade de melhorias, no caso do presente trabalho, à
qualidade de vida dessas pessoas e promoção da saúde destas. Esse é um aspecto relevante, uma vez que de acordo
com estes mesmos autores, de um modo geral as comunidades demonstram pouco entusiasmo por projetos que não
lhes dêem retorno financeiro em curto prazo ou que não disponibilizam algum tipo de financiamento. Nestas
palestras, o objetivo não era de divulgar publicamente o resultado dos indivíduos testados, mas sim o de apresentar
os resultados por categoria esportiva, assim como o de apresentar as possibilidades de treinamento, seja com vistas à
competição ou não, para então, cada um, individualmente, adequar seu objetivo pretendido ao tipo de atividade
proposta.
Uma vez realizado esse levantamento dos estados locomotor e cardiorrespiratório é pretendido pelos
membros do presente projeto dar continuidade ao mesmo, realizando o acompanhamento das atividades físicas
conduzidas pelos monitores e das alterações nos perfis dos praticantes de futsal vinculados ao projeto esportivo
desenvolvido por este centro comunitário, em Belém, Pará.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A determinação das cargas de trabalho por sessão e a freqüência semanal são algumas das variáveis
importantes para que sejam obtidos os benefícios das atividades físicas. Nesse contexto, a avaliação clínica procedida
por médico especializado e a avaliação da capacidade funcional do sistema cardiorrespiratório são fundamentais. Para
a minimização de aparecimento de problemas no estado de saúde de crianças, jovens e adultos de ambos os gêneros
e das mais diversas idades, ações extensionistas têm sido realizadas por estudantes e profissionais da Medicina e da
Educação Física. Para além de todas as vantagens técnicas a serem adquiridas pela amostra investigada, a
implementação destas atividades possibilita a construção de um cenário e um momento de integração
multiprofissional, que visa, a partir dessa troca de saberes, a melhoria da qualidade de vida da população assim como
a consolidação de outras ações que promovem a inclusão social, destes indivíduos tão desassistidos pelas instituições
formais, assim como a percepção da importância e da necessidade da responsabilidade social e da cidadania pelos
estudantes e pelos profissionais envolvidos.
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628
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
PSICOLOGIA PEDIÁTRICA NO SERVIÇO DE GENÉTICA CLÍNICA DO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO BETTINA FERRO DE SOUZA
Shirley dos Santos Carmona (Bolsista)
Claudia Tatiana Ferreira Cavalcante (Estagiária)
Danielle Castelo de Carvalho (Estagiária)
Eleonora Arnaud Pereira Ferreira (Coordenadora)
IFCH/UFPA
RESUMO: Estima-se que há cerca de 5.000 doenças/síndromes genéticas. Inúmeras pessoas sofrem de problemas devido a genes
ou cromossomos defeituosos. Julga-se que os fatores genéticos são responsáveis por 25% das doenças. Hoje os maiores problemas
de saúde e causas de morte em adultos apresentam um componente genético significativo. A indefinição diagnóstica e a falta de
comunicação médico-paciente geram ansiedade tanto para médicos como para os cuidadores que querem entender o paciente e
buscar a ‘cura’, que na maioria dos casos é impossível. Nesse sentido, cabe ao psicólogo favorecer a aceitação e adaptação das
limitações que a patologia impõe, e a adesão ao próprio tratamento que, nos casos das síndromes genéticas, duram por toda a vida
do paciente. O objetivo deste trabalho foi oferecer atendimentos individuais e em grupo, sob a forma de aconselhamento e
psicoterapia, a crianças e adolescentes encaminhados pela médica geneticista do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza,
extensivo a seus responsáveis. Com este objetivo, realizaram-se entrevistas de pré, peri e pós-consulta para levantar dados sobre o
conhecimento dos cuidadores acerca da doença das crianças que acompanham, visando a elaboração de um manual para orientar
os cuidadores de crianças portadoras de síndromes genéticas. Resultados parciais: foram realizados 21 atendimentos de préconsulta, na qual o principal motivo de encaminhamento das crianças para o serviço de genética relatado pelos cuidadores foi a
mal- formação física (n=5). Foram realizadas 10 peri-consultas nas quais foi observado que, em geral, os cuidadores são pouco
questionadores durante o atendimento. Também foram realizadas nove entrevistas de pós-consulta. Foram realizados
atendimentos individuais com 4 clientes, totalizando 16 sessões, 2 abandonos e 2 continuam em atendimento. O projeto ainda está
em andamento. O manual de orientações para cuidadores de crianças com alterações genéticas encontra-se em fase de confecção.
Espera-se continuar com as atividades desenvolvidas e auxiliar na melhora da qualidade dos serviços oferecidos.
INTRODUÇÃO
A psicologia da saúde é uma área relativamente nova, surgida a partir da década de 70 e tem como principal
objetivo entender e atuar na interação comportamento-saúde (Miyazaki, Domingos & Caballo, 2001). Essa nova área
da psicologia abrange qualquer intervenção, seja ela teórica ou prática, voltada a problemas ou temas relacionados ao
sistema de saúde (Stone, 1991, citado por Miyazaki & cols, 2001). No entanto, a novidade está no modo de aplicação
dos métodos, modelos e procedimentos da psicologia dentro da área da saúde como um todo (Miyazaki & cols, 2001).
A psicologia da saúde procura compreender a influência de variáveis psicológicas sobre a manutenção da saúde, assim
como sobre o surgimento e desenvolvimento de patologias (Miyazaki & cols, 2001). Desse modo, o psicólogo atuante
na área da saúde objetiva auxiliar na prevenção, no diagnóstico, no tratamento e na reabilitação. Este profissional
precisa também possuir conhecimentos de outras áreas, como das áreas biológicas, por exemplo (Kerbauy, 1999).
Como integrante do universo da psicologia da saúde, a psicologia pediátrica é o campo onde essa atuação
ocorre mais direcionada ao público infantil, adolescente e seus cuidadores. Em função disso, o psicólogo pediátrico
necessita de um treinamento profissional que inclua o desenvolvimento infantil, emocional, realização de avaliação,
psicoterapia infantil, terapia comportamental, desenvolvimento de habilidades, conhecimento de desordens da
infância e adolescência, avaliação comportamental, questões éticas e legais, avaliação familiar e terapia (Roberts,
Koocher & Willis, 1993). Dentro do contexto hospitalar, o psicólogo irá interagir com as demais especialidades
presentes, pois a formação de uma equipe multidisciplinar composta pelos profissionais de saúde é importante, uma
vez que suas especificidades são indispensáveis à efetivação dos conhecimentos mínimos exigidos do paciente sobre
sua patologia, ou seja, há necessidade de um trabalho em equipe, estendendo o conteúdo das informações para um
número maior de profissionais que, além de médicos e enfermeiras, incluiriam ainda nutricionista, fisioterapeuta,
assistente social, entre outros, dependendo da especificidade da doença (Benute & cols, 2001).
Considerando essa nova visão de multidisciplinariedade no ambiente hospitalar, cada vez mais há uma união
profissional em busca do melhor atendimento ao paciente, em diversos setores hospitalares como oncologia,
cardiologia, pediatria, dentre outros. E assim, o psicólogo vem ganhando cada vez mais reconhecimento de seu
trabalho nessas áreas, inclusive com apoio da legislação, onde se torna obrigatoriamente a sua presença em setores,
como por exemplo, a oncologia. Um setor em expansão onde o psicólogo está começando a estabelecer seu lugar é o
ambulatório de genética (Costa Júnior, 2000). No Hospital Universitário Betina Ferro de Souza (HUBFS) já há uma
parceria entre a psicologia e a genética buscando possibilitar uma melhor qualidade de vida aos seus pacientes.
629
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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Por qualidade de vida, de acordo com Siedl e Zannon (2004), pode-se ter duas perspectivas. Primeiramente
de forma genérica, seguindo a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), onde a qualidade de vida seria “a
percepção de indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele
vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (citado em Siedl & Zannon, 2004). Vale
ressaltar que alguns autores têm como qualidade de vida algo subjetivo, intrínseco, onde apenas o próprio indivíduo
pode avaliar o que é “bom” ou “ruim” para ele (Segre & Ferraz, 1997). Atualmente, a qualidade de vida está não só
dependente do tratamento médico, mas também em como o indivíduo procura viver com a sua patologia e do auxílio
e aceitação dos limites que a patologia impõe, da aceitação por parte dos cuidadores, e como ocorre a adesão ao
tratamento por parte do paciente e de seus cuidadores.
A adesão ao tratamento é um importante ponto a ser levado em consideração para melhorar ainda mais a
qualidade de vida no paciente, principalmente quando se trata de crianças ou adolescentes, os quais mostram maior
dificuldade de seguir regras e de se adaptar ao tratamento. Seja pela pouca idade e falta de compreensão das
crianças, ou, no caso dos adolescentes, mesmo sendo capazes de um autogerenciamento, se não houver supervisão
dos pais há uma tendência ao enfraquecimento do tratamento (Ferreira, 2006).
É importante destacar que o diagnóstico das síndromes genéticas não são fáceis de serem feitos. Essa
indefinição diagnóstica e a falta de comunicação médico-paciente geram ansiedade tanto para médicos como para os
cuidadores, que querem entender o paciente e buscar a ‘cura’, que na maioria dos casos é impossível. (Martins,
Cardoso & Lerena Jr, 2004). Nesse sentido, cabe ao psicólogo favorecer a aceitação e adaptação das limitações que a
patologia impõe, e auxiliar na adesão ao próprio tratamento que, nos casos das síndromes genéticas, duram por toda
a vida do paciente. Nesse aspecto também faz parte da atuação do psicólogo um apoio ao acompanhante (cuidador)
que possui uma grande importância para que o tratamento seja eficaz, auxiliando no manejo do estresse, nas tomadas
de decisões, na adaptação do estilo de vida, dentre outros (Fonseca, 2005).
O psicólogo também tem um papel fundamental no Aconselhamento Genético, o qual, possuindo um caráter
multidisciplinar, permite a interação entre várias profissões, inclusive a psicologia, não levando em consideração o
determinismo genético, mas a grande influência que o meio exerce sobre os comportamentos e patologias nos seres
humanos. A Psicologia se torna parte importante no ambulatório de genética quando leva em consideração que existe
uma subjetividade na aceitação, adesão ao tratamento da patologia. Dependendo da experiência de cada um, de sua
manifestação subjetiva, e de seu ambiente familiar, possuindo assim um foco característico para a atuação do
psicólogo.
O principal objetivo deste plano de trabalho foi oferecer atendimentos individuais e em grupo, sob a forma
de aconselhamento e psicoterapia, a crianças e adolescentes, encaminhados pela médica geneticista do Hospital
Universitário Bettina Ferro de Souza, extensivo a seus responsáveis. Para alcançar este objetivo, realizaram-se
entrevistas de pré, peri e pós-consulta para levantar dados sobre o conhecimento dos cuidadores acerca da doença
das crianças que acompanham, visando a elaboração de um manual de orientação para cuidadores de pessoas com
alterações genéticas.
MÉTODO
Participaram deste estudo crianças, adolescentes e seus respectivos cuidadores (acompanhantes) que são
usuários do serviço de genética do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), da Universidade Federal do
Pará. Foram excluídos deste estudo paciente e seus cuidadores (acompanhantes) que não fazem uso desse serviço ou
que se recusaram a participar. O estudo foi realizado na sala de atendimento individual, sala de espera e consultório
médico de genética, no ambulatório do HUBFS.
Foram realizadas as seguintes atividades:
Caracterização da clientela:
(a) Entrevista de Pré-consulta: Fez-se o levantamento sócio-demográfico da clientela atendida pela
genética e dos acompanhantes (cuidadores), assim como a investigação do conhecimento do
cuidador sobre a patologia (diagnóstico, dúvidas, origem do encaminhamento, sintomas, tempo
que apresenta os sintomas, tempo de diagnóstico, grau de entendimento sobre a patologia,
seguimento das recomendações médicas). Para isso foi utilizado um roteiro de entrevista semidirigida de pré-consulta.
630
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(b) Observação do atendimento: Fez-se a observação da interação médico-paciente, médicocuidador e cuidador-paciente, por meio do protocolo de observação do atendimento do serviço de
Psicologia.
(c) Entrevista de pós-consulta: Fez-se a investigação do grau de entendimento do cuidador a
respeito das orientações médicas, de suas expectativas com relação ao diagnóstico e tratamento,
se houve dúvidas durante a consulta e se ainda são pertinentes depois da consulta, se existem
dificuldades em seguir as recomendações médicas. Utilizou-se o roteiro de Entrevista semi-dirigida
de pós-consulta.
Atendimentos individuais:
Primeiramente foi realizada a análise do prontuário do caso encaminhado ao ambulatório. Fez-se
levantamento sobre o histórico de atendimento, obtendo-se indicadores clínicos e fatores relacionados à queixa
apresentada pelo profissional que encaminhou o caso. Em seguida foi realizada a entrevista inicial com os
responsáveis ou cuidadores na qual realiza-se um levantamento sobre a história de vida da criança, incluindo
características sócio-demográficas da família, histórico da queixa, informações sobre crescimento e desenvolvimento,
caracterização da rotina da criança e adesão ao tratamento médico. Posteriormente, foram realizados atendimentos
de avaliação e intervenção com as crianças, e acompanhamento dos casos auxiliando os cuidadores na manutenção
dos possíveis ganhos obtidos com a intervenção. Os pacientes eram atendidos em salas separadas, em horários
previamente agendados pelos estagiários.
RESULTADOS
Até o momento foram entrevistadas 21 cuidadores, na fase de pré-consulta.
Com relação às crianças, 11 são do sexo masculino e 10 do sexo feminino. Quanto à idade, 11 encontram-se
na faixa etária de 0 a 5 anos, 6 na faixa de 6 a 10 nos e 4 na faixa etária de 11 a 14 anos. A maioria ainda não freqüenta
a escola, sendo que duas freqüentam escolas que oferecem educação especial, 2 estão na educação infantil e 6 no
ensino fundamental.
Quanto aos cuidadores, obteve-se o seguinte grau de parentesco com a criança: mãe (n=17), avó (n=2), pai
(n=1) e tia (n=1). A maioria tem o nível médio como escolaridade (n=11), com idade entre 20 e 40 anos (n=18).
Os motivos de encaminhamento das crianças para o serviço de genética relatados pelos cuidadores foram:
má formação física (n=5), incompatibilidade sanguínea (n=1), autismo (n=1), problemas na visão (n=2), alteração
hormonal (n=2), síndrome de Down (n=2), problema de aprendizagem (n=1) e outros (n=7). Sobre o conhecimento do
diagnóstico, 15 participantes disseram ter conhecimento do diagnóstico, 7 disseram ainda não conhecer o diagnóstico
da criança e em dois casos não havia dados. Em 15 casos os cuidadores souberam informar características sobre o
diagnóstico, 4 não souberam informar características e em 2 casos não havia dados.
As perguntas que o cuidadores gostariam de fazer à médica estavam relacionadas à causa do problema
apresentado pela criança, sobre o tratamento, ou informações gerais (benefícios previdenciários, exames, laudos).
Foram realizadas 10 sessões de observação de atendimentos médicos, nas quais foi observado que, em geral,
os cuidadores são passivos durante o atendimento, sendo pouco questionadores. Foram realizadas 9 entrevistas de
pós-consulta, nas quais foi possível verificar que os cuidadores continuam com dúvidas ao sair da consulta.
O manual de orientação para cuidadores de pessoas com alterações genéticas encontra-se em fase de
confecção. Quanto aos atendimentos individuais, até o momento já foram encaminhadas, pelo Ambulatório de
genética, 6 crianças e seus acompanhantes. Somente 4 compareceram aos atendimentos, sendo que 2 abandonaram
o tratamento e 2 continuam em atendimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho ainda está em andamento, portanto os dados são parciais. Porém os dados destacam para a
importância em melhorar os atendimentos oferecidos à clientela atendida no HU, proporcionando elementos que
facilitem a compreensão e o conhecimento por parte dos cuidadores sobre os problemas apresentados pelas crianças.
631
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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Sugere-se a formação de grupo de cuidadores de crianças com alterações genéticas, que possam ser
desenvolvidos no ambulatório do HUBFS e que ofereçam informação sobre genética e até estimular tais cuidadores na
busca de conhecimentos e direitos. Os dados sugerem ainda a necessidade de ampliar a capacidade dos serviços de
atendimentos individuais oferecidos pela psicologia, visto que o número reduzido deve-se a limitações de recursos
humanos. Ainda sobre os atendimentos individuais, o fato dos clientes serem faltosos ou abandonarem o tratamento,
por diversos fatores (como a dificuldade de locomoção no caso de crianças com mal-formações, problemas financeiros
etc), dificulta o andamento dos atendimentos e da inserção de novos clientes no serviço. Espera-se continuar com as
atividades desenvolvidas e auxiliar na melhora da qualidade dos serviços oferecidos, assim como na qualidade de vida
desses participantes.
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632
10ª. Jornaada de Extensãão na UFPA
Extensão Un
niversitária e Polítticas Públicas
RELA
AÇÃO ENTR
RE CITOLOGIA ONCÓ
ÓTICA E HISSTOPATOLOGIA
DE PACIENTESS ATENDID
DAS EM SER
RVIÇO DE GINECOLO
OGIA
Brito; N.M.B..
Carvalho, T.J..
Viana, W.O..
Gon
nçalves, E.A.C..
Turiel, P.R.F..
RESUMO: Este estudo correelaciona os acchados de colp
pocitologia onccótica (CO) com os histopattológicos do co
olo uterino dee
ogia da UFPA, na Fundação Santa
S
Casa de Misericórdia. EEvidenciou-se que
q 75,4% doss
pacientes atendidas no servviço de ginecolo
O não concordaaram com os resultados histop
patológicos.
achados de CO
INTRODUÇ
ÇÃO
No mundo são diagnosticad
das 470 mil mulheres po
or ano com câncer de colo uterino, sendo quee
mente 230 mil chegam a óbito
ó
no mesm
mo período; a incidência to
orna-se mais significativa entre
e
20 a 29
9
aproximadam
anos e chegaa ao máximo entre 45 a 49
9 anos. O exam
me mais utilizzado para preevenção e diaggnóstico do cââncer de colo
o
uterino é a Colpocitologia
C
a Oncótica (C
CO), entretantto, esta apressenta várias limitações, ao
o passo que a biópsia com
m
histopatologia aumenta o êxito no diagnóstico
d
daas lesões. De
esta forma, este
e
estudo o
objetivou correlacionar oss
C com os reesultados histo
opatológicos do colo uterino de pacienttes atendidass no serviço de ginecologiaa
achados de CO
da Universid
dade Federal do Pará (UFP
PA), na Fundação Santa Casa de Misericcórdia (FSCMPA) através de
d um estudo
o
retrospectivo
o, transversal e de coorte com
c
prontuários de 130 mu
ulheres portad
doras de pato
ologia cervicall, cadastradass
no ambulató
ório de colposscopia da FSC
CMPA, durantee os meses de janeiro de 2002
2
a dezem
mbro de 2004
4, sendo estass
divididas em
m três faixas ettárias: 15 a 29
9 anos (64 paacientes), 30 a 44 anos (40 pacientes) e igual ou acim
ma de 45 anoss
(26 pacientees). Não houve possibilidad
de de estendeer a coleta paara os anos posteriores,
p
devido à ausência
a
dee
dados no ano
a de 2005
5 (ANDRADEE, 2000; BRASIL, 2006; MASSAD; COLLINS,
C
20
003).
DESENVOLLVIMENTO
O cââncer do colo do útero consstitui um prob
blema de saúd
de pública. Reepresenta a seegunda causa de morte porr
câncer de mulheres
m
no Brasil, estando
o diretamentee relacionado ao grau de desenvolvime
d
nto do país (FOCCHI et al,,
2001).
nção secundáária do cânceer de colo utterino, sendo
o
A ciitologia oncótica tem mérito indiscutívvel na preven
amplamentee utilizada em
m todo o mundo como prrincipal teste diagnóstico dos program
mas de screen
ning. Sua altaa
especificidad
de lhe conferre a capacidaade de excluir com maiorr confiabilidade pacientes realmente sadias,
s
sendo
o
vantajosa su
ua utilização como
c
teste padrão
p
em prrogramas de rastreamento
o em países com baixa prrevalência do
o
câncer cerviccal.
Destta forma, o presente trab
balho procuraa avaliar a co
olpocitologia oncótica com
mo método de
d prevenção
o
secundária do
d câncer dee colo uterin
no nas pacientes carentes atendidas na UFPA, um
ma vez que já se tem o
conhecimentto do perfil ep
pidemiológico
o das mesmas nos últimos anos.
a
41,02%
36,50%
3
31,74%
14%
32,1
23,07%
22,22%
%
17,94%
12,,82%
7,93%
%
1,58%
0%
%
15 - 29 anoss
25 %
10,71%
1%
10,71%
2,56%
30 - 44 an
nos
Inflamatórrio
21,42%
0%
≥ 45 anos
a
NIC
CI
633
NIC II
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Extensão Un
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* Caarcinoma de células
c
escamo
osas invasor
Figura 01 – Relação entre idade e achados cervicais por colpocitologia onnccótica, em pacientes atendidos no
ambulatório de colposcopia da FSCM-PA, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2004.
FONTE: Fiicha de Protoco
olo do Trabalho
o
nálise da relação entre idaade e achadoss cervicais por colpocitologgia oncótica rrevela que os pacientes daa
A an
primeira e seegunda faixa etária, 15 a 29
2 anos e 30 a 44 anos, re
espectivamentte, apresentavvam predomíínio de lesõess
inflamatóriass, com o índicce de 36,50%
% para o primeiro grupo e 41,02% para o segundo. Já entre os indivíduos com
m
idade igual ou
o superior a 45
4 anos, o prin
ncipal achado
o foram os de NIC II, isto é, 32,14%.
68,25%
6
64,10%
42
2,85%
1,42%
21
%
15,38%
14,28%
12,68
8%
10,71%
10,25%
%
6,3
34%
5,12%
3,57%
7%
56%
2,56% 3,57
1,58%
1
0%1,58% 2,5
0%
%
9,52
2%
Cervvicite
15 - Crônica
29 anoss
M30
Escaamosa
3etaplasia
- 44 anos
NIC II
NIC III
I
≥NIC
45 anos
Ca in Situ
CCEII
*Carcinoma de céélulas escamo
osas invasor
Figura 02 – Relação entre idade e achados cervicais por histopatologia, em pacientes atendidos no ambulatório de
colposcopia da FSCM-PA, no período de janeiro de 2002 à dezembro de 2004.
FONTE: Fiicha de Protoco
olo do Trabalho
o
A reelação entre idade e achaados cervicaiss por histopattologia demo
onstrou que n
nos três grup
pos etários ass
lesões refereentes à NIC I fo
oram predom
minantes (68,2
25%, 64,10% e 42,85%, resp
pectivamente)).
4,61
1%
1,53% 3,84%
14,61%
Sem Concordância histtopatológica
75,40%
NIC I
NIC II
NIC III
CCEI
*Carcinoma de céélulas escamo
osas invasor
Figura 03 – Análise da concordância dos resultados entre colpocitologia oncóttiica e histopatologia, no ambulatório de
colposcopia da FSCM-PA, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2004.
FONTE: Fiicha de Protoco
olo do Trabalho
o
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No entorno da análise da concordância
c
dos resultad
dos entre collpocitologia o
oncótica e histopatologia,,
ntre os possíveis resultadoss de ambas.
observou-se um índice de 75,40% de diiscordância en
3%
61,53
35,5
58%
23,07%
24,61%
10,74%
0%
10% 10% 8,46%
5,38%
% 6,15%
1,53% 0,76%
2
2,3%
C
Colpocitologia
a Oncótica
Histopatolo
ogia
*Carcinoma de céélulas escamo
osas invasor
opatológicas
Figura 04 - Relação entre a concordância entre os resultados de colpocitologia oncótica e as análises histto
realizadas no ambulatório de colposcopia da FSCM-PA no ppe
eríodo de janeiro de 2002 a dezembro de 2004
FONTE: Fiicha de Protoco
olo do Trabalho
o
O maior
m
índice de discordância entre os reesultados de colpocitologia
c
oncótica e as análises histopatológicass
diz respeito às lesões dee NIC I, pois as
a mesmas to
otalizaram 23
3,07% dos tesstes realizado
os pela CO e 61,53% pelaa
Histopatologgia.
8
86,95%
6,52% 4,34
4% 2,17%
%
NIC I
NIC II
NIC
C III
CCEI
*Carcinoma de céélulas escamo
osas invasor
Figura 05 – Análise histopatológica de achados cervicais indicados previamente pela
Colpocitologia Oncótica como processos inflamatórios, no ambulatório de colposcopia da FSCM-PA
no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2004.
o do Trabalho
o
FONTE: Fichaa de Protocolo
Em relação à análise histopato
ológica de achados cervicaiss indicados previamente peela Colpocitolo
ogia Oncótica
órios, 86,95% dos casos foraam diagnosticcados como NIC
N I, e 2,17% ccomo CCEI.
como processsos inflamató
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Contudo, a baixa sensibilidade do método, quando utilizado isoladamente, permite um número significativo
de testes falso negativos (1,5 a 55%), principalmente em regiões de alta prevalência da patologia, deixando de
aprofundar a investigação diagnóstica em pacientes doentes e permitindo a evolução da doença. Tal fenômeno
também foi observado no presente estudo, onde 75,40% dos achados da citologia oncótica discordaram dos da
análise histopatologica (MARTIN-HIRSCH et al, 2000 apud BOMFIM-HYPPÓLITO et al, 2005).
A baixa concordância entre a citologia cervical e a histopatologia sugere que a prática de confiar no exame
citológico como único método de triagem das mulheres que têm uma lesão típica deve ser evitada. Corroborando com
o exposto, o estudo mostra que somente 2,25% da constatação de presença de células inflamatórias pela citologia
oncótica concordaram com a análise histopatológica.
A faixa etária de maior ocorrência do câncer de colo uterino é entre 40 e 50 anos, 10 a 15 anos após a idade
de maior freqüência das lesões pré-invasivas (RUNOWICZ e FIELDS, 1999). Neste estudo pacientes com idade igual ou
acima de 45 anos obtiveram a maior incidência CCEI através da colpocitologia oncótica quanto histopatologia, estando
de acordo com os relatos da literatura.
Já a avaliação da colpocitologia oncótica e histopatologica de NIC III demonstrou que 6,34% e 7,93% das
pacientes entre 15 e 29 anos, respectivamente, apresentaram diagnóstico de NIC III. Estes dados reforçam o estudo
realizado por Monteiro et al (2006), no qual a freqüência de lesões escamosas intra-epiteliais de alto grau entre
adolescentes foi de 3%, sendo que a chance de desenvolver essa lesão aumenta 2,2 vezes a cada gestação e duplica a
cada ano de idade, sugerindo a importância de incluir adolescentes sexualmente ativas nos programas de prevenção
do câncer cervical, com o objetivo de detectar e assegurar o tratamento precoce destas lesões.
Lapin et al (2000), avaliou o resultado histológico de 100 mulheres encaminhadas por resultado da citologia
sugestivo de NIC II ou III, confirmando 61 desses casos. Esta informação se confirma no presente estudo, onde para
cada 10% dos casos sugestivos de NIC III na citologia oncótica, 8,46% foram confirmados na histopatologia como lesão
de alto grau. Além disso, é importante ratificar que o maior grau de concordância ocorreu em CCEI, pois 87,47% das
suspeitas foram confirmadas pelo histopatológico.
Diante da relevância do HPV na gênese de lesões precursoras e neoplasias malignas do colo uterino, este
estudo vem à tona com a finalidade de alertar a comunidade científica, na tentativa de prevenir e diagnosticar
precocemente esta infecção, a fim de diminuir as taxas de óbito da população feminina, causa esta tão freqüente no
Estado do Pará e em todo mundo.
Na esfera da prevenção o uso de vacinas tanto profiláticas como terapêuticas surge como uma nova
perspectiva, que não deve ser subestimada. Espera-se que esta seja acessível à população de baixa renda,
representando uma evolução da saúde em todos os níveis sócio-econômicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa evidenciou-se que 75,4% dos achados de CO não concordaram com os resultados
histopatológicos; essa idéia é ratificada pela biópsia e análise histopatológica em pacientes, que previamente
indicavam processos inflamatórios em CO, mas que na realidade, apresentavam carcinoma de células escamosas
invasivo e lesões cervicais de baixo e alto grau. Torna-se, portanto, interessante a opção de realização de estudos
histopatológicos como métodos de confirmação diagnóstica mediante lesões cervicais anteriormente já identificadas
pela colposcopia, respeitando a sensibilidade e especificidade de cada procedimento.
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637
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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DIAGNÓSTICO DE LINFOMAS NÃO-HODGKIN
(DE PEQUENAS CÉLULAS E DE BAIXO GRAU), E MIELOMA MÚLTIPLO,
POR CITOMETRIA DE FLUXO EM PACIENTES ATENDIDOS NO HOSPITAL DOS SERVIDORES
DO ESTADO – OFFIR LOYOLA E NA FUNDAÇÃO HEMOPA:
DIAGNÓSTICO DE NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS
Danielle Cristinne Azevedo Feio (Bolsista)
Lacy Cardoso de Brito Jr. (Coordenador)
RESUMO: Objetivos. As leucemias Agudas (linfóides e mielóides), são os cânceres mais comuns em crianças, de características
epidemiológicas, biológicas, e clínicas próprias, com diagnóstico inicial consistindo de contagens elevadas de blastos no sangue e,
caracterização citomorfológica da medula óssea e imunofenotipagem. As síndromes linfoproliferativas Crônicas (Linfomas Não
Hodgkin) são um outro grupo de neoplasias que também tem seu diagnóstico baseado na morfologia celular de linfócitos, no
sangue periférico, e pela caracterização imunomorfológica das células. Através da citometria de fluxo, então, é possível a
estratificação dos pacientes em diferentes grupos de risco, determinação de prognóstico e tratamento específico dos mesmos.
Assim, o objetivo deste projeto foi o diagnóstico diferencial, por Citometria de Fluxo, de linfomas não-Hodgkin e leucemias agudas
provenientes do Hospital Offir Loyola e Fundação HEMOPA; e promover treinamento, ensino e pesquisas nesta área. Métodos.
Foram estudados 61 pacientes com idades entre ZERO e 80 anos, para o diagnóstico diferencial da neoplasia hematológica por
citometria de fluxo no período de outubro de 2006 a outubro de 2007. Resultados. Após classificação morfológica foi realizada a
imunofenotipagem dos diversos tipos de neoplasia encontradas sendo observadas com maiores ocorrências pacientes
diagnosticados como LLA de células do tipo B (25/31) e LMA do tipo M2 (07/14 casos) ambas na infância, e de Linfoma Linfocítico
de Pequenas Células/LLC do tipo B (05/08) em indivíduos acima dos 58 anos. Conclusões. Nossos resultados confirmam dados da
literatura sobre a distribuição dos tipos de neoplasias hematológicas diagnosticadas neste estudo. Além de ter promovido
treinamento, ensino e pesquisas nesta área para discentes de graduação e pós-graduação.
Palavras-chave: Citometria de fluxo; imunofenotipagem; neoplasias hematológicas; diagnóstico e linfomas não-hodgkin.
INTRODUÇÃO
As leucemias e síndromes linfoproliferativas crônicas são doenças malignas de leucócitos de origem, na
maioria das vezes, desconhecida; e que tem como principais características laboratoriais o surgimento de células
jovens (blásticas), nas leucemias agudas, ou predomínio de linfócitos morfologicamente maduros, no sangue
periférico e medula óssea do paciente. Muitas vezes ocorrendo também com o comprometimento de outros órgãos,
como baço, fígado e linfonodos, dependendo do tipo e da origem destas células1-5.
As leucemias agudas, mielóide e linfóides, por sua vez, são as alterações hematológicas neoplásicas mais
conhecidas e comuns, tanto em adultos como em crianças, já tendo sido amplamente exploradas pela grande mídia
em todo território nacional através de novela. Os sintomas clínicos destas leucemias agudas decorrem
freqüentemente do acúmulo células jovens neoplásicas na medula óssea e no sangue periférico dos indivíduos
acometidos, o que prejudica ou impede a produção de glóbulos vermelhos (causando anemia), de glóbulos brancos
(facilitando as infecções) e de plaquetas (causando hemorragias). Podendo depois de instalada progredir rapidamente
até o óbito dos indivíduos acometidos. Assim, em função desta característica, principalmente quando estas doenças
acometem crianças e jovens, as mesmas têm um grande apelo social em relação seu ao diagnóstico e tratamento2,3,5.
A maioria dos casos de leucemias agudas em crianças e jovens é do tipo linfoblásticas agudas (LLA) e mielóide
agudas (LMA), e caracterizam-se por contagens elevadas de leucócitos no sangue com predomínio de células jovens
(blastos), propensões destas células em expressar marcadores fenotípicos (receptores protéicos) linfóides e mielóides,
doença extramedular volumosa, e alterações moleculares e citogenéticas. Tendo suas incidências exibindo variações
geográficas, étnicas e socioeconômicas2-5.
Segundo as estimativas de incidência de câncer no Brasil em 2006, publicadas pelo Instituto Nacional do
Câncer (INCA), as leucemias agudas atingiram 5.330 homens e 4.220 mulheres por 100.000 habitantes/ano, em todo o
Brasil. Quando esta estimativa do INCA foi reportada para uma distribuição por Estado observou-se que o Estado do
Pará em 2006 teve uma estimativa de incidência de Leucemias de 130 (3,72) novos casos em homens, sendo 60 (9,21)
novos casos de leucemias só em Belém, e 90 (2,59) novos casos em mulheres, com 50 (6,04) novos casos de leucemias
em Belém, por 100.000 habitantes/ano6.
A determinação imunomorfológica da linhagem celular acometida nos vários tipos de leucemias agudas
(mielóides ou linfóides) é de fundamental importância para o direcionamento do tratamento e conseqüente êxito do
mesmo. Assim, atualmente as leucemias agudas (mielóides ou linfóides) são classificadas a partir de sua
638
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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caracterização morfológica estabelecida pelo Grupo Franco Americana Britânica (FAB), que divide morfologicamente
as LLAs em três tipos morfológicos – L1, L2 e L3, e as LMA em sete tipos morfológicos de M0 a M7. E através de
critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que permite a determinação com exatidão da
linhagem celular envolvida através de métodos citogenéticos, moleculares e imunofenotípicos das LLAs de células B
ou células T, as LMAs em suas mais variadas formas, além dos tipos de leucemias agudas com duplo fenótipo
(mielóide e/ou linfóide B e/ou T), que são denominadas de Leucemias Bi-fenotípicas,2,5,7.
Os linfomas não-Hodgkin (LNH), tanto de células T como B, por sua vez, formam uma outra categoria de
doenças hematológicas que compreendem um grupo heterogêneo de neoplasias do tecido linfóide com subtipos
histológicos e apresentação clínica distintos; que representam à quinta forma mais comum de câncer no Brasil, com
incidência de 55 mil casos/anos e mais de 26 mil mortes entre indivíduos principalmente acima de 65 anos. Contra 69
casos diagnosticados / 100 mil habitantes nos Estados Unidos5,8-11.
As síndromes linfoproliferativas Cônicas (leucemias linfóides crônicas (LLC), imunocitoma ou
macroglobulinemia de Waldenström, linfoma folicular, linfoma de células do manto, tricoleucemia e linfoma
esplênico) formam um grupo de neoplasias que tem seu diagnóstico baseado em geral na morfologia celular de
linfócitos, que pode ser típica, no sangue periférico, mas que freqüentemente pode ocorrer com número variável de
prolinfócitos e células blásticas, em pequena quantidade. Entretanto, muitas vezes esta morfologia de linfócitos é
similar entre os vários tipos de síndromes linfoproliferativas crônicas, dificultando uma adequada classificação e
conseqüentemente a escolha do tratamento. Sendo necessários estudos de caracterização imunomorfológica5,8-12.
No Estado do Pará são diagnosticados, segundo dados de incidência de câncer no Brasil de 2006, publicadas
pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 55 novos casos / 100 mil habitantes de linfomas não-Hodgkin, em
indivíduos com mais de 60 anos de idade, principalmente, dos subtipos associados a neoplasias de Células B
(Leucemia Linfóide Crônica de Células B / Linfoma de Pequenas Células B, Linfomas de Baixo Grau – Linfoma Folicular
de Pequenas Células Clivadas, e Mieloma Múltiplo), provenientes do próprio Estado do Pará e de outros Estados da
Região Norte como Amapá, Tocantins, Maranhão e parte do Amazonas6.
A Citometria de Fluxo, assim, é um dos métodos utilizados nesta identificação dos vários tipos de leucemias
agudas e síndromes linfoproliferativas crônicas (linfomas não-Hodgkin) e que se baseia no diagnóstico rápido, preciso,
objetivo, quantitativo e reprodutível das células envolvidas nestas patologias hematológicas. Esta metodologia é
baseada na determinação de múltiplas propriedades físicas simultâneas das células isoladas em suspensão, para a
identificação dos vários antígenos celulares (receptores protéicos) de superfície, citoplasmáticos e nucleares,
orientadas num fluxo laminar e interceptadas uma a uma por um feixe de LASER. Sendo a luz dispersa coletada por
um sistema óptico que permite identificar as células pelo seu tamanho e granularidade interna. Podem ser assim
identificados e quantificados a partir dos diferentes fluorocromos que marcam cada anticorpo monoclonal específico
utilizado na reação antígeno-anticorpo (imunofluorescência direta) utilizada nesta metodologia, a partir da
caracterização do estagio de maturação das células malignas; definição da linhagem celular na crise blástica de
síndromes mieloproliferativas crônicas; diagnóstico diferencial entre linfocitose reacional e proliferação neoplásica de
células B; e da heterogeneidade e dos aspectos aberrantes das populações de células malignas5,7,13-20.
Assim, este projeto teve como objetivos permitir o diagnóstico diferencial preciso, por Citometria de Fluxo,
de pacientes portadores de doenças degenerativas crônicas, linfomas não-Hodgkin de células B, com idade superior a
60 anos, e de leucemias agudas (mielóides e linfóides) com idade entre ZERO e 30 anos, provenientes dos Estados do
Pará, Amapá, Tocantins, Maranhão e parte do Amazonas, atendidos no Hospital dos Servidores do Estado do Pará –
Offir Loyola e Fundação HEMOPA. De forma a auxiliar no tratamento destes pacientes, e no planejamento
orçamentário e de políticas de investimentos apoiadas pelo Ministério da Saúde e SUS para o Estado do Pará e para a
Região Norte. Além de promover treinamento, ensino e pesquisas nesta área do conhecimento.
METODOLOGIA
Amostras Biológicas: Participaram do estudo 61 pacientes provenientes dos programas de diagnóstico e
tratamento do Hospital dos Servidores do Estado do Pará – Offir Loyola (HOL) e da Fundação Centro de Hemoterapia e
Hematologia do Pará - HEMOPA, no período outubro de 2006 a outubro de 2007. Todos os pacientes foram
informados, de forma oral e por escrito, de sua possível participação neste projeto de extensão e pesquisa, através do
termo de consentimento livre e esclarecido. Tendo todos os pacientes concordado em participarem deste projeto.
Posteriormente todas as amostras (sangue periférico ou medula óssea) foram coletadas em tubos de hemólise, com
EDTA e encaminhadas à temperatura ambiente para o Laboratório de Biologia Molecular e Celular da Fundação
HEMOPA. As amostras encaminhadas eram acompanhadas de história clínica e impressão diagnóstica, cópias dos
639
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
laudos do mielograma e ficha com os dados clínicos. Com todos os dados clínicos e pessoais sendo mantidos em sigilo
médico.
Diagnóstico por Imunofenotipagem: O processamento das amostras foi feito imediatamente após o
recebimento das amostras de sangue total ou medula óssea, estas foram processadas de forma padrão e submetidas
à lise das hemácias. Evitando-se a seleção ou perda arbitrária de populações específicas de células, e permite a
enumeração de todas as populações de células da amostra. Minimizando, assim, as possibilidades de modificações na
expressão do antígeno; e reduzindo-se o tempo de trabalho e de preparação das amostras.
A identificação das populações de células foi feita adicionando-se, em média, 0,01ml de diferentes anticorpos
monoclonais específicos marcados com fluorocromos FITC, PE ou Percyp, em tríades de anticorpos por tubo; os quais,
posteriormente, foram incubados no escuro e a temperatura ambiente, para posterior aquisição média de 10.000
eventos, subseqüente análise das amostras, no Citometro de Fluxo FACSCalibur, através do sistema Cell Quest Pro
(Becton Dickinson, San Jose, CA) para 3 cores. O painel mínimo de anticorpos utilizado para o diagnóstico diferencial
dos diversos tipos de Leucemias agudas (mielóides e linfóides) e síndromes linfoproliferativas crônicas, compreende a
combinação de tríades dos seguintes anticorpos comerciais, Dako ou Becton Dickinson, CD33, CD34, CD13, CD117,
HLA-DR, CD14, CD15, CD19, CD10, CD20, CD5, CD23, CD3, CD2, CD7, CD4, CD8, anti-kappa, anti-lambda, FMC7, CD79b,
CD22, CD38, CD56, CD45, CD103, CD25, IgG e IgM
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo 61 pacientes distribuídos na Tabela I conforme a faixa etária e o tipo de neoplasia
hematológica diagnosticada (Leucemias agudas (mielóides e linfóides) e síndromes linfoproliferativas crônicas).
Dentre as patologias hematológicas mais freqüentes neste estudo destacam-se as LLA de células do tipo B comuns
com 31/61 ocorrências, sendo que 25/31 destas ocorrências estavam associados a indivíduos com idade entre ZERO e
10 anos (Tabela I), e 19/31 destes sendo do sexo masculino (61%) (Tabela II).
Nossos resultados, então, apontam que as LLA de células do tipo B comum foi o achado diagnóstico mais
freqüente se comparado os demais tipos leucemias agudas (mielóides e bi-fenotípicas) e de outras LLAs, em todas as
faixas etárias avaliadas (Tabela I). Em especial em crianças da faixa etária de ZERO e 10 anos as LLA de células do tipo
B comum representaram cerca de 83,33% (25/31) dos casos de leucemias agudas da infância. Dados estes que estão
em consonância com a literatura que apontam que os casos de LLA de células do tipo B comum representam cerca de
75% dos casos da LLA da infância e 50% dos casos em adultos5,7,14,15,17-20.
As Leucemias Mielóides Agudas, por sua vez, tiveram achado diagnóstico em 14/61 dos casos analisados.
Destes 08/14 foram de ocorrência em crianças e adolescentes da faixa etária de ZERO a 20 anos; 01/14 casos de
indivíduos adultos jovens em faixa etária de 21 a 30 anos e 05/14 de indivíduos adultos com idade superior a 41 anos
(Tabela I). O tipo mais comum de LMA observado neste estudo foi a LMA do tipo M2 (07/14 casos), que teve sua
ocorrência maior em indivíduos da faixa etária de ZERO a 10 anos (06/07 casos) (Tabela I) e do sexo masculino (05/07
casos) (Tabela II). Porém, em função do baixo número de casos identificados para estas LMAs não foi possível
determinarmos diferença estatística significativa deste patologia em relação ao sexo. De acordo com Silva, Graziele C.
et al21, a LMA é uma doença predominante em adultos mais velhos, com mais de 50% dos casos5,7,13,14,16,17,19. Sendo
também mais comum no sexo masculino do que no feminino. Discordando então da Literatura, nossa ocorrência
maior de LMA em indivíduos da faixa etária de ZERO a 10 anos (06/07 casos) se deu em função de que este serviço
diagnóstico não está totalmente disponibilizado para indivíduos adultos acima de 30 anos. Em função disto nossa
discrepância de informações com a de outros autores.
Foram observados ainda 02/61 casos diagnosticados como sendo de leucemias agudas do tipo bifenotípicas
de células Linfóides B e Mielóides, em crianças com idade inferior a 1 ano de idade (faixa etária entre ZERO e 10 anos).
Dados semelhantes aos observados por outros autores na literatura5.
As Síndromes Linfoproliferativas Crônicas foram achados diagnósticos de 08/61 casos, dos quais 05/08 destes
foram diagnosticados como sendo de Linfoma Linfocítico de Pequenas Células/Leucemias Linfocíticas Crônica (LLC) do
tipo B; 01/08 casos de Linfoma Linfocítico de Pequenas Células/Leucemias Linfocíticas Crônica (LLC) do tipo T; 01/08
casos de Leucemia de Células Cabeludas Variante, diagnostico bastante raro; e 01/08 casos de Linfoma de Células do
Manto. Todos os casos decorrentes de pacientes com idade superior a 58 anos. Dados estes que estão em acordo com
os observados por Milito, Cristiane Bedran, et al22, e outros autores5,8,9,10,12,22. Que afirmam em seus estudos que as
LLC do tipo B representaram cerca de 74% dos casos diagnosticados se comparado aos casos de LLC do tipo T.
640
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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Nossos resultados apontam, por fim, que a análise estatística do total de pacientes, 29 do sexo feminino e 37
do sexo masculino, ou parcial a partir da doença diagnosticada, em relação ao tipo de sexo de cada paciente, que não
ouve significância estatística (p≤0.05) (Tabela II). Provavelmente em decorrência do baixo número de pacientes
analisados.
CONCLUSÕES
Nossos resultados confirmam dados da literatura sobre a distribuição dos tipos de neoplasias hematológicas
diagnosticadas neste estudo (Leucemias agudas (mielóides e linfóides) e síndromes linfoproliferativas crônicas) em
relação à faixa etária. Demonstram que o uso da citometria de fluxo possibilitou, não só a identificação clara destas
neoplasias como também a caracterização molecular e celular exata das células envolvidas, o que viabiliza a
adequação do tratamento; a escolha correta das condutas de controle da doença; e o planejamento e as políticas de
investimentos em saúde na região norte e no Estado do Pará, apoiadas pelo Ministério da Saúde e o Sistema Único de
Saúde (SUS). Além de ter permitido a promoção de treinamento (12 discentes/ano), ensino (média de 79 discentes
atendidos em diversas palestras e disciplinas ministradas na graduação e na pós-graduação strito sensu) e pesquisas
nesta área do conhecimento, conforme previam os objetivos deste projeto. Embora tenhamos também encontrado
diversos obstáculos para a execução do mesmo como: (1) a demora na liberação dos recursos pela agencia de
fomento (recursos ainda não liberados até esta data); (2) a falta de material em função dos motivos supra expostos; e
(3) a demora na liberação dos pareceres do Hospital Ophir Loyola e do Comitê de Ética em Pesquisa que permitiriam o
início do projeto.
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Tabela I. Tipos de Leucemia Por Faixa Etária.
Faixa Etária
0a
10
11 a
20
21 a
30
31 a
40
41 a
50
51 a
60
61 a
70
71 a
80
Total
M0
00
00
00
00
01
00
01
00
02
M1
01
00
00
00
00
00
01
00
02
M2
06
01
00
00
00
00
00
00
07
M3
00
00
00
00
00
00
01
00
01
M4
00
00
01
00
00
01
00
00
02
B comum
25
03
03
00
00
00
00
00
31
Precursoras (Pré B)
01
00
00
00
00
00
00
00
01
Pro B
01
00
00
00
00
00
00
00
01
T intermediárias
02
00
00
01
00
00
00
00
03
T corticais
01
00
00
00
00
00
00
00
01
Linfóides B e Mielóides
02
00
00
00
00
00
00
00
02
LLPC do tipo B
00
00
00
00
00
04
01
00
05
LLPC do tipo T
00
00
00
00
00
00
01
00
01
Cabeludas Variantes
00
00
00
00
00
00
00
01
01
Tipos de Leucemias
L
M
A
L
L
A
B
I
L
I
N
F
O
642
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
M
A
S
Linfoma de Células do
Manto
TOTAL
00
00
00
00
00
00
01
00
01
39
04
04
01
01
05
06
01
61
Legenda: LMA – Leucemia Mielóide Aguda; LLA – Leucemia Linfóide Aguda; BI - Leucemias Aguda Bífenotípica;
Linfoma – Linfoma Não Hodgkin; LLPC - Linfoma Linfocítico de Pequenas Células / Leucemia Linfocítica Crônica.
Tabela II. Incidencia de casos por sexo
Tipos de Leucemia
L
L
A
L
M
A
L
I
N
F
O
M
A
B
I
Feminino: n(%)
Masculino: n(%)
Total:n(%)
B Comum
12 (39%)
19 (61%)
31(100%)
Pré B
1 (100%)
0 (0%)
1(100%)
Pró B
0 (0%)
1 (100%)
1(100%)
T intermediário
1 (33%)
2 (66%)
3(100%)
T cortical
1(100%)
0 (0%)
1(100%)
M0/M1
3 (75%)
1 (25%)
4(100%)
M2
2 (29%)
5 (71%)
7(100%)
M3
1 (100%)
0 (0%)
1(100%)
M4
1 (50%)
1 (50%)
2(100%)
LLPC do Tipo B
2 (40%)
3 (60%)
5(100%)
LLPC do Tipo T
1 (100%)
0 (0%)
1(100%)
Cabeludas Variantes
0 (0%)
1 (100%)
1(100%)
Linfoma de Células do Manto
0 (0%)
1 (100%)
1(100%)
Linfóides B e Mielóides
0(0%)
2(100%)
2(100%)
26
35
61
TOTAL
643
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
BIBLIOTERAPIA PARA PACIENTES INTERNADOS
NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JOÃO DE BARROS BARRETO
Vera Lúcia dos Santos Carvalho
Petronila Gomes Coutinho
Cleidizaura Souza do Nascimento (Bolsista)
HUJBB/UFPA
RESUMO: A pessoa doente tende a desenvolver estados psicológicos negativos decorrentes do desconforto físico, moral, espiritual
e principalmente do medo da morte. O próprio ambiente hospitalar se torna um espaço não muito atraente na vida das pessoas,
haja vista que muitas vezes está associado a espaço de dor e sofrimento. Pensando na melhoria da qualidade de vida e no
atendimento humanizado propomos atividades de biblioterapia com o objetivo de proporcionar o bem estar físico, mental e
espiritual através da leitura de textos e/ou visualização de imagens impressas e/ou em movimento e outros instrumentos para
pacientes, bem como o desenvolvimento de ações em educação para a saúde. As ações de biblioterapia consistem em atividades
como: contação de histórias, leitura de mensagens, exibição de filmes, peças de teatro, audição de músicas e textos, pintura,
disponibilização de leituras diversas (livros, revistas e jornais) de acordo com a temática definida. Tais atividades foram
desenvolvidas através de abordagem individual e em grupo. As grupais foram realizadas semanalmente e as individuais
diariamente. Após cada sessão foram realizadas avaliações com os participantes, constatando-se boa receptividade quanto ao
número de participantes e o estímulo para que essas atividades sejam realizadas com maior freqüência.
Palavras-chave: Biblioterapia; atendimento humanizado.
1. INTRODUÇÃO
A aplicação de ações de saúde que minimizem o sofrimento físico e emocional dos pacientes em regime de
internação hospitalar constitui o tema deste trabalho.
Sabe-se que quando hospitalizado o paciente passa por momentos de tensão emocional que dificultam a sua
recuperação. O próprio ambiente hospitalar é um espaço não planejado na trajetória do homem, sua estrutura
favorece mais o desempenho dos profissionais na busca de um tratamento eficiente do que propriamente o bem estar
do paciente, que o vê como um ambiente de solidão e isolamento, mesmo que cercado de profissionais de saúde e
outros pacientes. Ao deparar-se com sua nova situação, pode desenvolver sentimentos de ansiedade, revolta,
agressividade, angústia, tristeza, medo e outras reações devido a doença e/ou o afastamento do lar.
Pensando nisso e objetivando a humanização com a melhoria do atendimento no serviço público de saúde, o
Hospital Universitário João de Barros Barreto propôs desenvolver o Projeto de “Biblioterapia para Pacientes
internados no HUJBB” com o intuito de trazer resultados positivos e com isso a melhoria da qualidade de vida, dos
pacientes e acompanhantes.
A Biblioterapia vem como forma de contribuir na recuperação do paciente, promovendo o bem-estar e
transmitindo uma idéia mais positiva do hospital, não como espaço de dor e sofrimento, mas sim de lazer,
aprendizado e troca de experiências quando em contato com a leitura, objetivando minimizar os sentimentos de
angústia, ansiedade, isolamento, fragilidade física e emocional decorrentes da doença e do processo de espera pelo
atendimento e/ou internação; propiciar momentos de distração, alegria e lazer, contribuindo para melhorar o estado
psicológico e consequentemente acelerar o processo de recuperação ao paciente; possibilitar o auto-conhecimento
visando a introspecção e mudança de comportamento; diminuir o estresse dos acompanhantes preenchendo o tempo
ocioso com leituras; estimular o hábito de ler oferecendo informações atualizadas através de jornais e revistas
informativas e outros suportes para a ampliação de seus conhecimentos; colaborar para o atendimento humanizado;
promover a interação paciente – acompanhante – equipe, facilitando a comunicação; promover ações de educação
em saúde para pacientes e acompanhantes.
As atividades de biblioterapia realizadas no Hospital Barros Barreto são destinadas às crianças; aos pacientes
de longa permanência em condições psicológicas abaladas devido os estados de tensão, que envolve os tratamentos
de saúde e/ou pacientes que não recebem visitas e desacompanhados e consistem em: contação de histórias, leitura
de mensagens, exibição de filmes, peças de teatro, audição de músicas e textos, pintura, disponibilização de leituras
diversas (livros, revistas e jornais) de acordo com a temática definida.
No desenvolvimento do trabalho observou-se algumas limitações, tais como: o número reduzido de bolsistas
para o desenvolvimento das ações; suporte financeiros para provisão de material destinado às atividades lúdicas e
espaço para abrigar as publicações recebidas. Diante disso propõem-se o aumento no número de bolsistas,
644
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considerando que este trabalho possui um caráter multidisciplinar, bem como a destinação de recursos financeiros
para aquisição do material necessário ao desenvolvimento das ações.
2. RELATO DE EXPERIÊNCIA
Conforme proposto, o trabalho foi desenvolvido possibilitando a participação de uma equipe
multiprofissional formada por Bibliotecário, Assistente Social, Psicólogo, Terapeuta Ocupacional e bolsista de Serviço
Social a qual passou inicialmente por um processo de estudo e planejamento para a sistematização das ações.
A primeira fase consistiu em divulgar amplamente a proposta em âmbito interno (pacientes, funcionários e
estagiários) e externo (voluntários e comunidade em geral). Como veículos de divulgação utilizou-se o sistema de
Intranet do Hospital, a home page da UFPA, rádio Cultura, jornal O Liberal, reuniões com acompanhantes, além de
cartazes e folders afixados nos murais existentes nas dependências do Hospital. Foi também proposto a divulgação no
programa televisivo Minuto da Universidade, a qual deverá ser realizada.
Dentro das formas de abordagem propostas foram desenvolvidas ações individual e grupal para pacientes e
acompanhantes com ações específicas aos casos. As atividades em grupo foram realizadas semanalmente em clínicas
diferentes e as individuais, diariamente, destacando que durante as atividades grupais, o paciente que não
apresentasse possibilidade de locomoção, recebia atenção individualizada no leito.
Para as atividades em grupo procurava-se conhecer previamente o tema de interesse pela maioria dos
pacientes, para a preparação das sessões. Assim, foram aproveitadas como tema algumas datas comemorativas, bem
como momentos com significado especial como Dia Internacional da Mulher, Páscoa, Dia das Mães, Dias dos Pais,
Círio e outras, com maneiras diversificadas de apresentação dos conteúdos Para exemplificar, serão descritas algumas
atividades realizadas:
a) Dia Internacional da Mulher
Esta atividade foi realizada nas enfermarias femininas de Clínica Médica e Clínica Cirúrgica. Inicialmente a
equipe foi em cada uma das enfermarias expondo as bases do projeto, o qual propunha uma homenagem a todas as
mulheres. A homenagem iniciou-se de forma a proporcionar o riso através da leitura de uma mensagem de humor
intitulada, “Motivos para ser Mulher”. No texto, em várias situações, são colocadas as vantagens de ser mulher e isso
de forma bastante cômica, o que deixou os pacientes e seus acompanhantes bem à vontade mostrando que, mesmo
estando no ambiente hospitalar, os risos podem ser vistos e percebidos, desvencilhando-se assim a atenção do estado
patológico.
Em seguida à mensagem de humor os participantes relaxaram ao som das cordas do violão e a letra da
música “Mulher” de autoria de Erasmo Carlos, tocada ao vivo por um voluntário. Nesse momento todos cantaram
juntos formando um bonito coro e a alegria de estar vivenciando o momento era perceptível no rosto de cada
participante. Em seguida foi lida e entregue a cada mulher ali presente, a mensagem “Alma de Mulher”. A atividade
durou 45 minutos e contou com a participação de 40 pessoas entre pacientes e acompanhantes.
b) Páscoa
Foi apresentada uma peça pelo grupo de teatro “Motivação”, intitulada “Páscoa na Floresta” com o objetivo
de alegrar e melhorar as condições emocionais dos pacientes pediátricos. Ao final da apresentação da peça, as
crianças foram convidadas a brincar com os voluntários vestidos de bichinhos de pelúcia. O enredo da peça consistia
numa festinha de aniversário da coelha, e objetivava alimentar e motivar as crianças com o imaginário infantil. O
ambiente foi todo decorado como se fosse uma festa de aniversário e as crianças, os convidados. Ao final, todas
receberam presentes de páscoa, representando o brinde do aniversário da coelha. A apresentação da peça aconteceu
no Auditório do Hospital e aquelas que não puderam participar, receberam a visita dos bichinhos em seus leitos,
recebendo também um brinde.
c) Dia dos Pais
Essa atividade foi realizada no Auditório do Hospital. A ação foi divulgada por meio de cartazes afixados nos
quadros de avisos interno do hospital e convites orais em cada uma das enfermarias.
No dia marcado para atividade os pacientes e acompanhantes ocuparam o Auditório para assistir ao filme
“Uma Babá Quase Perfeita”. Durante a sessão de cinema, foi oferecido pipoca e refrigerante à platéia e ao final do
645
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filme todos os participantes receberam como lembrança, um marcador de página com uma mensagem alusiva ao dia
dos pais. Compareceram ao evento aproximadamente 50 pessoas.
d) Círio
Essa foi uma atividade religiosa solicitada pelos pacientes que aconteceu no pátio da enfermaria feminina da
Clínica Médica. Foram convidados todos os pacientes e acompanhantes presentes. Inicialmente a equipe foi em cada
uma das enfermarias convidando para aquela sessão e enquanto isso foi colocada a música Canção da Família na voz
do Pe. Zezinho para acolher o grupo.
Para iniciar a atividade foi lida uma passagem bíblica do evangelho de Marcos 6. 45-52 e em seguida uma
devoção baseada no livro de meditações diária Castelo Forte que complementava e explicava a leitura bíblica e em
seguida ouviu-se a música Noites Traiçoeiras na voz de Pe. Marcelo Rossi. A sessão deixou como mensagem que
mesmo nos momentos difíceis Deus sempre está com cada um pronto a ajudá-lo. Após esse momento a equipe
compartilhou palavras de conforto, forças e esperança e abriu para participação geral, momento que foi enriquecido
com depoimentos dos pacientes. Em seguida foi colocada a música Pai Nosso na voz de Pe Marcelo Rossi para que os
participantes refletissem na letra e se descontraíssem com a melodia. Ao final foi entregue a mensagem “Pegadas na
Areia” e distribuído algumas bíblias. O momento foi encerrado com a música “Não Temas”.
e) Outras atividades
Após seleção pela equipe, eram disponibilizadas diariamente, publicações diversas objetivando o
entretenimento e a informação no leito, ressaltando-se que tais publicações não retornavam ao acervo para evitar a
contaminação cruzada de germes hospitalares.
2.1 Avaliação
Após cada sessão era realizada uma avaliação da atividade desenvolvida quase sempre considerada pelos
pacientes e acompanhantes como uma iniciativa interessante “porque distrai”, havendo inclusive agradecimentos
pelas mensagens, músicas e atividades no todo. Foi enfatizada a importância desse trabalho e como sugestão
propunham que acontecesse com maior freqüência, porque contribuíram para deixá-los mais à vontade com o
ambiente hospitalar, considerando-o como um espaço de acolhimento e não mais como espaço de dor e sofrimento,
possibilitando externar os seus anseios e inquietações e melhorar o seu estado geral.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades de biblioterapia possibilitaram mostrar que, mesmo no ambiente hospitalar enquanto espaço
de dor e sofrimento, a atenção pode ser desviada da doença seja para a reflexão e/ou troca de experiências entre
pacientes, lazer através e/ou quando em contato com o conteúdo das leituras e até como espaço de alegria. Mostrou
ainda que além da melhora do estado físico o hospital pode contribuir para elevação da auto-estima e até mudanças
de comportamento através de diferentes formas de ação.
A palavra biblioterapia está associada à terapia através das leituras. Porém levando-se em consideração que a
população usuária dos serviço de saúde oferecidos pelo Hospital não tem o hábito da leitura, em função do acesso à
escola e à informação, a equipe utilizou a transmissão dos conteúdos em variadas formas como teatro, filme, leitura,
música, pintura e outros meios com a finalidade de transmitir a mensagem capaz de proporcionar a melhora do
estado geral da pessoa hospitalizada.
4. PARTE REFERENCIAL
Nas idades antiga e média a aplicação da leitura com objetivo terapêutico era uma constante e as bibliotecas
recebiam denominações bem interessantes como “Casas da Vida”, “Remédios para Alma”, “Tesouros dos Remédios
da Alma”, caracterizando assim o valor terapêutico da leitura.
Segundo ROCHA e de acordo com GALT (apud VICENTE) “a leitura afasta os pensamentos menos saudáveis,
informa, cria divertimento, melhora a atitude dos pacientes perante a terapia e mostra o interesse que o hospital tem
pelo doente”.
Segundo CALDIN “a função terapêutica da leitura admite a possibilidade de a leitura proporcionar a
pacificação das emoções”. A leitura de um texto produz no leitor e no ouvinte um estado de calma, podendo-se
afirmar que a literatura tem propriedades sedativa e curativa.
646
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
5. BIBLIOGRAFIA
CALDIN,
C.
F.
A
Leitura
como
função
terapêutica:
biblioterapia.
<http://www.encontros_bibli.ufsc.br/edicao_12/caldin.html>. Acesso em: 24/11/2006.
Disponível
em:
CALDIN, C. F. Biblioterapia para crianças internadas no Hospital Universitário da UFSC: uma experiência. Enc. Bibli: R.
Eletr. Biblioteconom. Ci. Inf., Florianópolis, n. 14, p. 1-18, out. 2002.
MATTOS, C. R. de e QUEIRÓZ, M. P. C. P. Uma experiência de biblioterapia com os idosos do Abrigo do Salvador.
Disponível em: <http//biblioteca.estacion.br/artigos/009.htm>. Acesso em 24/11/2006.
ROCHA, M.Q. Projeto biblioteca viva UNORP. São José do Rio Preto: Centro Universitário do Norte Paulista-UNORP,
s.d.
SEITZ, E. M. Biblioterapia: uma experiência com pacientes internados em clínicas médicas. Revista ACB:
Biblioteconomia em Santa Catarina. Florianópolis, v.11, n.1, p. 155-170, jan./jul., 2006.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ENTAMOEBA HISTOLYTICA E ENTAMOEBA DISPAR:
DIFERENCIAÇÃO POR UM TESTE IMUNOENZIMÁTICO
Elizabeth C. Quinto
Regina C. G. do Amaral
Edilene O. Silva
Laboratório de Parasitologia, ICB /UFPA
Sara L. S. Barbalho
Evander O. Batista
Instituto de Medicina Tropical-PA
RESUMO: Entamoeba histolytica é uma ameba patogênica ao homem e possui morfologia idêntica a Entamoeba dispar, uma
ameba não patogênica. Assim utilizamos um teste imunoenzimático para diferenciar as duas espécies. Os resultados obtidos
demonstram que E.dispar predomina nas amostras estudadas.
Palavras-chave: Amebíase; e. histolytica; e. dispar.
INTRODUÇÃO
A amebíase é uma doença de ampla distribuição geográfica, que afeta cerca de 10% da população mundial. È
causada por um protozoário da espécie Entamoeba histolytica, responsável por aproximadamente 100 mil mortes por
ano, infectando 500 milhões de pessoas em todo mundo(OMS). Esta doença constitui um sério problema de saúde
pública, principalmente nas áreas endêmicas. A forma assintomática é atribuída a Entamoeba dispar, uma ameba que
apresenta morfologia idêntica a Entamoeba histolytica, mas não é patogênica ao homem.
OBJETIVOS
Este trabalho teve como objetivo analisar a ocorrência de casos de Entamoeba histolytica e Entamoeba dispar
em pacientes provenientes do laboratório de Parasitologia Médica e Hospital Barros Barreto da Universidade Federal
do Pará, através da diferenciação por um teste imunoenzimático.
MATERIAIS E MÉTODOS
Coleta do material: As amostras foram coletadas nos laboratórios de Análises Clínicas do Hospital
Universitário João de Barros Barreto e Laboratório de Parasitologia Médica do Instituto de Ciências Biológicas.da
Universidade Federal do Pará. Foi utilizada a técnica coproparasitológica de exame direto em Microscópio Óptico.
Teste de ELISA (ensaio imunoenzimático): As amostras positivas para E.histolytica /E.dispar foram
submetidas ao teste imunoenzimático ELISA (E. histolytica Test, TechLab Inc.). A leitura foi realizada em um leitor de
ELISA (BIO-RAD, modelo 450), com comprimento de onda de 450 nm.
RESULTADOS
De um total de 67 amostras analisadas que apresentaram resultado positivo para E.histolytica/E.dispar pelo
exame direto em microscópio óptico, apenas 24 amostras (35,80%) foram positivas pelo método de ELISA e 43
amostras (64,2%) foram negativas.
CONCLUSÃO
Através do método de ELISA foi possível demonstrar que Entamoeba dispar é a espécie predominante entre
os pacientes estudados, o que demonstra a necessidade de se realizar testes específicos que possibilitem fazer a
distinção entre as duas espécies.
648
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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AVALIAÇÃO DAS AÇÕES PRECONIZADAS PARA O PARTO HUMANIZADO
NO HOSPITAL SANTO ANTÔNIO MARIA ZACCARIA
Vanessa de Jesus Marques da Silva
Elisângela da Silva Ferreira
RESUMO: Sendo o parto um momento extremamente importante e crítico, o parto humanizado resgata a naturalidade desse
momento para a mulher, sua família e para a equipe de profissionais de saúde envolvida. O objetivo do trabalho foi analisar se são
realizados partos seguindo os métodos do Parto Humanizado preconizados pelo Ministério da Saúde no Hospital Santo Antonio
Maria Zaccaria no município de Bragança-PA, identificando fatores que podem levar ao não cumprimento destas recomendações e
avaliar, através de questionários, a satisfação das parturientes quanto à assistência prestada.
Palavras-chave: Parto humanizado; avaliação; Ministério da Saúde.
Sendo o parto um momento extremamente importante e crítico, o parto humanizado resgata a naturalidade
desse momento para a mulher, sua família e para a equipe de profissionais de saúde envolvida. O objetivo do trabalho
foi analisar se são realizados partos seguindo os métodos do Parto Humanizado preconizados pelo Ministério da
Saúde no Hospital Santo Antonio Maria Zaccaria no município de Bragança-PA, identificando fatores que podem levar
ao não cumprimento destas recomendações e avaliar a satisfação das parturientes quanto à assistência prestada.
Participaram como sujeitos do estudo 12 puérperas, sendo analisados também seus prontuários para complemento
da coleta de dados.
Os dados apontaram que apesar do termo “Parto Humanizado” já ser uma realidade em várias maternidades
e ser tão discutida atualmente, verificamos o alto índice de falta de conhecimento entre as mulheres, objetos deste
estudo, pois em sua totalidade, nunca tinham outido falar em Parto Humanizado. Entre os fatores que aumentam a
percepção da dor estão o medo, o estresse mental, a tensão, a fadiga, o frio, a fome, a solidão, o desamparo social e
afetivo, a desinformação sobre o que está acontecendo, um meio estranho ao que se está habituado e o início das
contrações. Esse é o momento em que a equipe precisa promover atitudes que contribuam para a minimização desse
quadro, como, por exemplo: estimular, além da presença do acompanhante escolhido pela mulher, o uso de técnicas
alternativas, como o método de Dick-Read, de Bradley e o método de Lamaze. Tais métodos pressupõem que sua
utilização resulte em redução do medo, da tensão e da dor, contribuindo para o relaxamento, para a evolução do
trabalho de parto, por meio da respiração lenta e do relaxamento muscular. Contudo, podemos verificar que apenas
25% destas parturientes foram orientadas e 75% não foram orientadas sobre as técnicas que levam ao relaxamento,
redução da ansiedade e desconforto.
O Ministério da Saúde (Brasil, 2001) preceitua medidas não-farmacológicas e não-invasivas para minimizar o
estresse e aliviar a dor, como o uso do “cavalinho”, deambulação e massagens, que podem ser realizadas por
familiares e/ou profissionais. Porém, nos mostram que as orientações relacionadas a esses procedimentos não estão
sendo cumpridas pelos profissionais de saúde da Instituição, sendo que nenhuma das parturientes revelaram que
foram orientadas quanto ao uso do “cavalinho” e 41,7% não foram orientadas quanto a deambulação. Há muito se
sabe que a gestante não deve ficar muito tempo deitada de barriga para cima. O peso do útero com o bebê aperta
uma veia que passa entre a coluna e o útero e diminui a chegada de oxigênio para o feto. Muitos estudos mostram
que a mulher sente menos dor (principalmente no período expulsivo) se ficar na posição que lhe for mais confortável.
Durante o trabalho de parto também se acredita que a dor fica menos intensa se a mulher parturiente puder se
movimentar sem ficar “presa” à cama.
A orientação sobre a alimentação adequada das parturientes no pré-parto deve ser dada ainda durante o
pré-natal. A partir do momento em que estas mulheres chegam ao PPP em trabalho de parto, os profissionais de
saúde devem orientá-las quanto a suspensão de tudo e qualquer alimento sólido, permitindo e oferecendo apenas a
ingestão de pequenas quantidades de líquidos claros. Entretanto, 8,3% dessas parturientes foram orientadas
corretamente, sendo que o restante ficaram sem a informação necessárias sobre o que e quanto poderiam comer.
A parturiente deve ser orientada quanto aos cuidados higiênicos, pois durante o trabalho de parto, a gestante
perde secreções vaginais e sudorese considerável, para tanto os profissionais de saúde devem estimulá-las tomar
banho sempre que necessário, sobretudo banho de aspersão com água morna, que serve tanto para gerar uma
sensação de conforto e bem estar como para aliviar a dor do trabalho de parto. Neste caso, 58,3% dessas mulheres
não receberam orientações sobre os cuidados higiênicos e 100% destas não foram orientadas quanto ao benefício do
banho morno.
O Ministério da Saúde pontua que a mulher e seu acompanhante devem ser preparados para o momento do
parto, sendo que o objetivo principal deste preparo é favorecer que o trabalho de parto e parto sejam vivenciados
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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com mais tranqüilidade e participação, resgatando o nascimento como um momento da família (Brasil, 2001). O
acompanhamento de uma equipe multiprofissional (psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro e médico) tem a
responsabilidade de resgatar essa tranqüilidade e conforto da mãe e seu acompanhante na sua integridade, não
apenas física, como também psíquica, sendo esta última de grande interesse para o “sucesso do nascimento”. Apenas
33,3% das parturientes tiveram a oportunidade de serem acompanhadas por todos os membros da equipe
multiprofissional que atua no PPP.
O direito ao acompanhamento da gestante é já reconhecido pelo Ministério da Saúde, pois ajuda a
parturiente no momento do parto, inclusive com redução dos níveis de dor, é a presença de uma pessoa como
acompanhante, escolhida pela mulher, durante o todo o trabalho de parto. A presença de um familiar não envolve
necessariamente nenhum preparo técnico, representa o suporte psíquico e emocional da presença reconfortante, do
contato físico, para dividir o medo e a ansiedade e estimular a parturiente nos momentos difíceis e compartilhar as
alegrias. O resultado desta pesquisa mostrou que o local de estudo já está preparado para este processo, que
necessita de amparo e suporte por normas e diretrizes institucionais, evidenciado pelos dados coletados indicou que
66,7% das parturientes tiveram este acompanhamento. Observamos, também, que muitas das que não tiveram esta
oportunidade (33,3%) não foi por impedimento institucional ou pelos profissionais de saúde, e sim por outros motivos
que não cabe ressaltar.
Num contexto da humanização do nascimento, de respeito aos direitos e desejos das mulheres, e da prática
de uma obstétrica baseada em evidências, é importante que se esclareça que a indução do parto é um procedimento
aceitável e recomendável sob o ponto de vista médico e humano, sempre que existe uma indicação para isso, para
evitar um mal maior (Ministério da Saúde, 2001). O mais conhecido e utilizado método de indução do parto é a
infusão endovenosa de ocitocina, está sendo abandonada pelos profissionais da saúde por produzir efeitos adversos
como a taquissistolia, hipertonia e hiperestimulação uterina, podendo provocar inclusive a rotura uterina e sofrimento
fetal agudo. Essa prática é rotina do HSAMZ, sendo evidenciada por 100% respostas positivas sobre o uso de
ocitócitos.
A amniotomia é outro método de indução do parto que deve ser evitado, pois embora reduza a duração do
trabalho de parto, efeitos indesejáveis podem ocorrer como desacelerações precoces da freqüência cardiofetal (FCF) e
alterações plásticas sobre o pólo cefálico (bossa serossanguínea), além disso, no puerpério pode ocorrer infecções
devido a duração do trabalho de parto com membranas rotas. Dessa forma, a rotura artificial da bolsa deve ser
reservada àquelas condições onde sua prática seja claramente benéfica, como é o caso de algumas distócias
funcionais (Ministério da Saúde, 2001). No HSAMZ esta prática é evitada em 100% dos casos.
A OMS (1996) recomenda que, tanto no primeiro quanto no segundo período, a mulher deve adotar a
posição que melhor lhe agradar, para isso devem ser orientadas quanto a essa possibilidade. Esta orientação não está
sendo dada às mães, pois 100% das entrevistadas não foram orientadas.
Não existem evidências científicas claras sobre os benefícios da tricotomia dos pêlos pubianos, que seriam a
redução na incidência de infecção de episiotomia, a facilitação da episiorrafia e uma melhor higiene no pós-parto.
Além disso, sua utilização poderá gerar o desconforto no momento da sua execução e quando os pêlos começarem a
crescer e o risco de transmissão de doença, quando da utilização de lâminas não descartáveis. Por essas razões e
considerando o custo adicional só seja feita se esta for a opção da parturiente (Ministério da Saúde, 2001).
Segundo coleta de dados, a maioria das parturientes (50%) faz este procedimento em casa. Isto pode ser
relacionado a uma possível falta de orientação no pré-natal, pois sabemos que antigamente todas as mulheres que
entravam em trabalho de parto faziam este procedimento no hospital. Assim, estas mulheres talvez não queiram fazêlo por alguém desconhecido e optam por realizá-lo na sua própria moradia.
O Partograma é um instrumento muito importante, pois facilita o acompanhamento do trabalho de parto,
onde registram-se sobre a dilatação cervical, freqüência cardíaca fetal, características das contrações uterinas,
condições da bolsa das águas e líquido amniótico, a infusão de líquidos e as especificações da analgesia.
Em 1994 a OMS tornou obrigatório o partograma nas maternidades, considerando que seu uso deverá
interferir sobretudo na elevada incidência de cesárias sem indicação obstétrica e possibilita um diagnóstico precoce
das distócias e suas respectivas intervenções, melhorando a qualidade da assistência clínica ao parto.
Quanto à abertura deste impresso no local de estudo, os dados coletados nos mostram que 75% dos
prontuários das parturientes não chegaram a receber o partograma. Em análise observativa, verificou-se que haviam
os partogramas nos protuários, contudo, não eram abertos.
650
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
A grande maioria, 58,3% das entrevistadas, definiram como excelente a assistência ao parto e 41,7%.
Contudo, por causa do desconhecimento das ações preconizadas pelo Ministério da Saúde, as parturientes ficaram
satisfeitas com o que estavam recebendo. Se, ao contrário, as mulheres estivessem cientes de seus direitos e com seu
sentido crítico estimulado, talvez fossem mais exigentes, menos passivas e mais atuantes. Por conseguinte, as
cobranças também seriam muito mais acentuadas. O fato de a maioria das mulheres referir satisfação quanto à
assistência recebida prenuncia que elas não têm noção do que é assistência com a qualidade que merecem.
A análise dos dados coletados por entrevista e análise documental, mostrou limitações da equipe de saúde
para incorporar as referidas diretrizes no cotidiano da assistência, bem como, a acomodação das gestantes e
acompanhantes em estimular essa prática, especialmente pelo desconhecimento que têm de seus direitos. Isto
reforça a importância dessas diretrizes serem trabalhadas no pré-natal junto às gestantes e seus familiares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bodgan R & Bicklen S 1994. Investigação qualitativa em educação. Ed. Porto, Porto.
Brasil. Ministério da Saúde/Febrasgo/Abenfo 2001. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher.
Brasília.
Brasil. Ministério da Saúde 2004. Estratégias para redução
<http://saude.gov.br/datasus>. Acesso em 5 de janeiro de 2004.
de
partos
cirúrgicos.
Disponível
em:
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher 2002. Direitos da mulher. Disponível em <http://www.mne.gov.br/
cdbrasil/itamaraty.web/port/relext/mne/agintern/clmulher/apresent.> Acesso em 20 de agosto de 2002.
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher 1997. Estratégias da igualdade, plataforma de ação para implementar os
compromissos assumidos pelo Brasil na IV Conferência Mundial da Mulher. Ed. Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher, Brasília.
651
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE COM RELEVÂNCIA NAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO
Daniela Maria Raulino da Silveira (Bolsista)1
Vitória Carvalho Cardoso (Bolsista)2
Eliete da Cunha Araújo (Coordenadora)3
RESUMO: Introdução. O conhecimento de determinantes de saúde de uma população é de fundamental importância para o
planejamento e a implementação de estratégias efetivas de melhoria das condições de saúde, especialmente a identificação de
determinantes da morbimortalidade, sendo que os indicadores de saúde materno-infantil são ferramentas fundamentais para
avaliar a disponibilidade e a qualidade de serviços de saúde. Objetivo. Atuar na atenção básica em pediatria com relevância nas
medidas de prevenção Metodologia. Os pacientes foram cadastrados em fichas específicas, as quais constaram, o número de
consultas realizadas na puericultura, no pré-natal, bem como a notificação de DST’s, além dos dados de identificação, os agravos
apresentados, os planos terapêuticos efetuados, a evolução do quadro, o n° e temas de palestras participadas. Foram abordados na
educação em saúde, os seguintes temas: formas contraceptivas e prevenção de DST’s, aleitamento materno, questões de
saneamento e higiene. O público alvo foi composto por crianças, adolescentes e jovens até 20 anos de idade, correspondendo a um
total de 1275 pessoas atendidas e 668 ouvintes para as palestras de educação em saúde. Considerações finais. É perceptível o
enfoque preventivo do projeto “Atendimento ao Menor Carente”, com quase 36% dos atendimentos em Puericultura; 6,36% das
pacientes que realizaram o pré-natal eram adolescentes, o que ensejou a abordagem da prevenção das DSTs; 74% da população
abrangida pelo projeto foi beneficiada com palestras educativas e 21% da clientela apresentavam DSTs. A elevada prevalência de
agravos sociais (gravidez na adolescência) e infecciosos (DSTs) persistem como um problema de saúde pública. Essas ocorrências
sinalizam para a necessidade de se investir em educação em saúde.
Palavras-chave: Atenção básica; saúde pública; prevenção.
INTRODUÇÃO
O conhecimento de determinantes de saúde de uma população é de fundamental importância para o
planejamento e a implementação de estratégias efetivas de melhoria das condições de saúde, especialmente a
identificação de determinantes da morbimortalidade, sendo que os indicadores de saúde materno-infantil são
ferramentas fundamentais para avaliar a disponibilidade e a qualidade de serviços de saúde. Nas regiões do país com
maiores índices de mortalidade, como as áreas rurais da região Norte, muitas crianças e gestantes morrem e não são
registradas, resultando no sub-registro de óbitos, que chega a 22,8% para a região (Rouquayrol & Filho Almeida,
2003). O serviço de pré-natal não chega para aproximadamente 13,0% das mães brasileiras, para a região Norte, os
valores são maiores, cerca de 17,0% sem atendimento pré-natal. É importante destacar que esses dados são
provenientes da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (1996), realizada somente em áreas urbanas. Um outro
indicador importante é o baixo peso ao nascer, qual apresenta uma relação com a qualidade e cobertura dos serviços
de pré-natal ofertados à população. As informações sobre o peso ao nascimento são dificilmente identificadas, seja
por requerer a lembrança da mãe (inquéritos domiciliares) ou pela ocorrência de partos domiciliares (sub-registros em
sistemas de informação), principalmente nas regiões rurais do Norte e Nordeste, onde os dados podem estar
subestimados (Rouquayrol & Filho Almeida, 2003). Outros indicadores são relacionados para mensurar a qualidade da
assistência materno-infantil no Brasil, entre eles o aleitamento materno por oferecer proteção contra a morte por
infecções, por fornecer anticorpos, além de assegurar uma nutrição adequada nos primeiros meses de vida (Victora,
1991 e 2001) e a imunização que se reflete na redução de mortes por doenças imunopreveníveis (tétano, difteria,
coqueluche, tuberculose, sarampo, caxumba e rubéola) (PNDS, 1996). Precárias condições sócio-econômicas
contribuem para o pior estado de saúde da população como um todo e das crianças em particular (Friche et al, 2001).
O Projeto Atendimento ao menor Carente também atua na saúde da criança através da análise dos registro
dos recém-nascidos de risco, objetivando identificar por meio de estudos transversais quais as variáveis significativas
para que esse agravo aconteça; essas informações subsidiam os órgãos competentes na formulação de estratégias e
mesmo de políticas de saúde que visem a eliminação desses fatores; educação em saúde para que as crianças cresçam
e se desenvolvam satisfatoriamente, incentivando a imunização, o aleitamento materno, alimentação saudável,
atenção aos distúrbios nutricionais e anemias carenciais, abordagem das doenças respiratórias e infecciosas, bem
como a vigilância em saúde.
1
Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA) e bolsistas da Pró- Reitoria de Extensão (PROEX) do
Projeto Atendimento ao Menor Carente da UFPA.
2
Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA) e bolsistas da Pró- Reitoria de Extensão (PROEX) do
Projeto Atendimento ao Menor Carente da UFPA.
3
Profª Adjunta IV de Pediatria, Doutora em Medicina Tropical pela FIOCRUZ, Centro de Ciências da Saúde da UFPA, coordenadora
do Projeto Atendimento ao Menor Carente da UFPA.
652
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Outro enfoque muito importante é a questão da educação popular em saúde, que está baseada nos
princípios da reflexão crítica e em metodologias que tenham como base o diálogo. È instrumento para a formação de
atores sociais que participem na formulação, implementação e controle social de políticas de saúde.
Humanizar a atenção à saúde é valorizar a dimensão subjetiva e social, em todas as práticas de atenção e de
gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às questões de
gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios, quilombos, ribeirinhos, assentados, etc.).
Saúde se faz com gente.
OBJETIVOS
•
•
•
•
•
Atuar na atenção básica em pediatria com relevância nas medidas de prevenção, tais como:
incentivo ao aleitamento materno; orientação dietética quando em alimentação mista ou artificial;
vigilância do crescimento e desenvolvimento normais; controle efetivo da atualização do calendário
vacinal de acordo com o Plano Nacional de Imunizações (PNI) e o tratamento dos agravos
diagnosticados (parasitoses, anemia, dermatoses, pneumopatias, gastroenterites, etc.);
Atuar na prevenção e diagnóstico das DST/Aids em adolescentes, bem como intervir na transmissão
vertical dessas infecções através de terapêutica adequada;
Promover tratamento adequado a todas as afecções encontradas na população em estudo;
Promover humanização na saúde;
Detectar e estabelecer os indicadores de saúde dentro da população em estudo.
METODOLOGIA
1) Palestras educativas para todos os adolescentes contemplados no projeto sobre os temas: pré-natal;
planejamento familiar; atenção integral à saúde dos adolescentes; prevenção de DST’s e Aids,
utilizando os recursos áudio-visuais do Departamento de Pediatria (vídeo, retroprojetor, data-show,
etc.);
2) Avaliar variáveis demográficas e epidemiológicas para identificar possíveis fatores de risco para as
DST’s em populações de risco;
3) Realizar avaliação e acompanhamento sistemático dos resultados alcançados, como parte do
processo de planejamento e programação através de métodos estatísticos.
Os pacientes foram cadastrados em fichas específicas, as quais constaram, o número de consultas realizadas
na puericultura, no pré-natal, bem como a notificação de DST’s, além dos dados de identificação, os agravos
apresentados, os planos terapêuticos efetuados, a evolução do quadro, o n° e temas de palestras participadas.
Foram abordados na educação em saúde, os seguintes temas: formas contraceptivas e prevenção de DST’s,
aleitamento materno, questões de saneamento e higiene.
O público alvo foi composto por crianças, adolescentes e jovens até 20 anos de idade, correspondendo a um
total de 1275 pessoas atendidas e 668 ouvintes para as palestras de educação em saúde.
LIMITAÇÕES E PROPOSIÇÕES
Explicar aos pacientes, que nem todos seriam contemplados com o atendimento e orientação para a atenção
básica em saúde, assim como obter medicações para tratar possíveis patologias diagnosticadas, constituíram-se em
tarefa árdua, mas não intransponível. A experiência da coordenadora do projeto possibilitou o aprendizado para a
execução de abordagem humanizada à paciente; e a realização de palestras educativas com a utilização de recursos
áudio-visuais e vocabulário adequado à compreensão da clientela, permitiu, além da aquisição de conhecimento
sobre a epidemiologia e os agravos sociais da população, o aprimoramento da relação médico-paciente.
Realizou-se um estudo epidemiológico, objetivando-se conhecer a magnitude dos agravos sociais em
crianças, jovens e adolescentes.
Pretende-se continuar com o estudo já iniciado, contemplando uma população maior, de modo que seja
possível fazer inferências estatísticas que possibilitem o reconhecimento da magnitude do problema em nossa região.
653
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
A abordagem educativa se afigura como ferramenta valiosa no processo de educação em saúde. Encontrouse alguma dificuldade de comunicação, principalmente pela baixa escolaridade das pacientes e também pelo uso de
termos regionais, nem sempre familiares para as pesquisadoras. Entretanto, a experiência da coordenadora do
projeto, instruindo, fazendo, mostrando, possibilitou que o diálogo fluísse satisfatoriamente. A aquisição de material
ilustrado para facilitar o entendimento, foi um fator que demandou um esforço maior, mas não intransponível.
Utilizou-se nessa atividade, os recursos áudio-visuais (data show, retroprojetor, computador) do Departamento de
Pediatria da Universidade Federal do Pará.
Através da abordagem educativa às mães das crianças atendidas, pretendeu-se sensibilizar essa população,
tendo como meta reduzir as taxas de prevalência dos agravos sociais.
RESULTADOS
Tipos de Atendimento
64,01%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
35,79%
Puericultura
Pré-Natal
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Atendimentos
Figura 1. Tipos de Atendimento do Projeto Atendimento ao Menor Carente no ano de 2007.
Idade das pacientes que realizaram
pré-natal
93,64%
100,00%
80,00%
Gravidez < 20
anos
60,00%
Gravidez > 20
anos
40,00%
20,00%
6,36%
0,00%
Pré-Natal
Figura 2. Idade das pacientes que foram submetidas ao Pré-Natal no ano de 2007.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
N° de Beneficiários
Coleta de PCCU
7%
16%
3%
Detecção de Casos de
DST's
Educação em Saúde
Visitas Domiciliares
74%
Figura 3. Número de Beneficiários atendidos pelo Projeto Atendimento ao Menor Carente no ano de 2007.
PCCU
21,09%
DST's
DST's
Normal
78,91%
Normal
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
Figura 4. Realização de PCCU nas pacientes com vida sexual ativa do
Projeto Atendimento ao Menor Carente no ano de 2007.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É perceptível o enfoque preventivo do projeto “Atendimento ao Menor Carente”, com quase 36% dos
atendimentos em Puericultura; 6,36% das pacientes que realizaram o pré-natal eram adolescentes, o que ensejou a
abordagem da prevenção das DSTs; 74% da população abrangida pelo projeto foi beneficiada com palestras
educativas e 21% da clientela apresentavam DSTs.. A elevada prevalência de agravos sociais (gravidez na adolescência)
e infecciosos (DSTs) persistem como um problema de saúde pública. Essas ocorrências sinalizam para a necessidade
de se investir em educação em saúde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS, Cartilha da PNH – Humaniza SUS, 2006. Disponível em:
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
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TRH: RISCOS E BENEFÍCIOS:
AVALIAÇÃO DOS RISCOS E BENEFÍCIOS EM MULHERES USUÁRIAS DE TRH
Gisele de Siqueira Rosa
Carolina Passos Pereira
Ambulatório de Ginecologia/UFPA
RESUMO: Introdução: A menopausa é definida clinicamente como a parada dos ciclos menstruais decorrente da perda da atividade
ovariana, com cessação da secreção dos hormônios estrogênio e progesterona pelos ovários. A terapia de reposição hormonal
(TRH) tem sido indicada no sentido de melhorar a qualidade de vida e prevenir doenças da idade. A principal indicação da terapia
de reposição hormonal (TRH) na menopausa é o alívio dos sintomas climatéricos como ondas de calor, parestesias, insônia,
nervosismo, melancolia, artralgia, mialgia, cefaléia, palpitações, formigamento, atrofia urogenital, prurido vulvar, dispareunia,
sensação de secura vaginal, polaciúria e incontinência urinária. A TRH pode causar alguns riscos à saúde devido à sensibilidade de
alguns tecidos a reposição de estrogênio, sendo que o principal é o desenvolvimento de câncer de endométrio. Objetivo: Este
estudo se propõe a avaliar os principais riscos e benefícios da estrogenioterapia de reposição, avaliando a regressão ou persistência
dos sintomas climatéricos, adaptação ao tratamento, e repercussão ao aparelho ósseo, cardiovascular, útero, mamas e vesícula
biliar. Método: Foram avaliadas 95 mulheres atendidas no ambulatório de ginecologia da UFPA no primeiro semestre deste ano,
que são submetidas a TRH. Utilizou-se a entrevista seguido de completo exame clínico, laboratorial e de imagem, conforme
protocolo específico. Resultados: Observou-se que houve regressão dos sintomas climatéricos em 73.6% dos casos. A osteoporose
ocorreu em 5.26% delas, o perfil lipídico esteve dentro de padrões aceitáveis em 68,43%, a ocorrência de infarto foi de 1.05%, o
câncer de endométrio foi observado em 3.15%, o câncer de mama esteve presente em 2.10% e as doenças das vias biliares em
15.7%, o câncer colorretal não foi observado. A sobreposição desses eventos ocorreu em aproximadamente 30% dos casos.
Conclusão: A TRH é uma grande aliada no combate às modificações indesejadas pelas quais a mulher passa neste período, portanto
conhecer os benefícios e os possíveis riscos as quais usuárias são submetidas é de extrema importância para que promotores de
saúde e população possam se beneficiar com segurança deste tratamento.
Palavras-chave: menopausa; terapia hormonal; riscos; benefícios.
INTRODUÇÃO:
A menopausa é definida clinicamente como a parada dos ciclos menstruais decorrente da perda da atividade
ovariana, com cessação da secreção dos hormônios estrogênio e progesterona pelos ovários. O termo climatério
indica o período marcado pela diminuição gradual da função ovariana, no qual a mulher passa do período reprodutivo
para os anos pós-menopausa.(FEBRASGO, 2000)
Nos últimos anos, não houve modificação da média etária da menopausa, permanecendo em torno de 45 a
50 anos, apesar de ter ocorrido aumento gradual na expectativa de vida. (FEBRASGO, 2004) Embora a menopausa seja
considerada processo normal no desenvolvimento, a diminuição nos níveis de estrogênio endógeno que ocorre neste
período pode provocar sérios efeitos adversos. Portanto, recomenda-se que as mulheres menopausadas recebam
estrogênio exógeno com a finalidade de manter ou melhorar os níveis de estrogênios, prevenindo assim os efeitos
que a carência estrogênica exerce sobre os sistemas orgânicos. (FREITAS, 2006)
A terapia de reposição hormonal (TRH) tem sido indicada no sentido de melhorar a qualidade de vida e
prevenir doenças da idade. A principal indicação da terapia de reposição hormonal (TRH) na menopausa é o alívio dos
sintomas climatéricos: ondas de calor (fogachos), parestesias, insônia, nervosismo, melancolia, vertigem, fadiga,
artralgia ou mialgia, cefaléia, palpitações, formigamento, atrofia urogenital, prurido vulvar, dispareunia, sensação de
secura vaginal, polaciúria e incontinência urinária. Além disso, outras indicações da TRH incluem a prevenção de
doenças cardiovasculares, prevenção da osteoporose e melhorar a sexualidade. (SOBRAC, 2004)
Contudo, como todo tratamento, não está isento de riscos. A TRH pode causar alguns riscos à saúde devido a
sensibilidade de alguns tecidos a reposição de estrogênio. O principal é o desenvolvimento de câncer de endométrio.
Estão relacionados também o câncer de ovário, câncer de mama, doenças das vias biliares e fenômenos
tromboembólicos. (SPEROFF, 2005)
Este estudo se propõe a avaliar os principais riscos e benefícios da estrogenioterapia de reposição, avaliando
a regressão ou persistência dos sintomas climatéricos, adaptação ao tratamento, e repercussão ao aparelho ósseo,
cardiovascular, útero, mamas e vesícula biliar.
A pesquisa é realizada no ambulatório de ginecologia da UFPA com pacientes pós-menopausadas. Foram
avaliadas 95 mulheres submetidas a terapia de reposição hormonal. O método utilizado é a entrevista seguido de
completo exame clínico, laboratorial e de imagem, conforme protocolo específico.
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Este projeto apresenta limitações quanto à disponibilidade aos exames complementares necessários a
adequada avaliação das pacientes. No entanto o principal obstáculo à realização desta pesquisa deve-se a
descontinuidade do tratamento devido dificuldade na obtenção dos medicamentos de forma gratuita.
DESENVOLVIMENTO:
Este projeto consiste no atendimento de pacientes desde o período climatérico até o pós-menopausal, no
qual após avaliação clínica é indicado ou não terapia de reposição hormonal. É feito o acompanhamento destas
mulheres, com reavaliações constantes dos efeitos da hormonioterapia, comparando-as com aquelas que não usam
este tratamento no ambulatório de ginecologia da UFPA. Através de consultas regulares, realizações de exames
laboratoriais e de imagem, discussões de casos, realizações de palestras, é possível dar continuidade a este trabalho,
possibilitando conhecer a realidade desta fase da vida da mulher bem como os riscos e benefícios do uso da TRH nesta
população.
Foram avaliadas 95 mulheres usuárias de TRH pelo período mínimo de 3 meses. Considerando os efeitos
deste tratamento mais relatados na literatura, os parâmetros utilizados neste estudo foram: sintomatologia
climatérica, repercussão sobre os aparelhos ósseo e cardiovascular, útero, mama, cólon e vias biliares.
Nesta amostra, houve regressão dos sintomas climatéricos em 73.6% dos casos. A osteoporose esteve
presente em 5.26% delas, o perfil lipídico esteve dentro de padrões aceitáveis em 68,43%, a ocorrência de infarto foi
de 1.05%, o câncer de endométrio foi observado em 3.15%, o câncer de mama esteve presente em 2.10% e as
doenças das vias biliares em 15.7%, o câncer colorretal não foi observado. A sobreposição desses eventos ocorreu em
aproximadamente 30% dos casos.
Os índices de regressão dos sintomas climatéricos são semelhantes aos observados em outros estudos,
embora haja alta incidência de descontinuidade do tratamento.
Embora haja um possível efeito protetor da TRH sobre o aparelho cardiovascular, até o momento ela ainda
não pode ser indicada com este objetivo. Os possíveis efeitos benéficos da terapia incluem diminuição do colesterol
total e fração LDL e aumento de HDL (ROSANO, et al, 2001), o que condiz com esta pesquisa no qual o perfil lipídico
esteve dentro de padrões aceitáveis na maioria dos casos,que mostra também uma baixa incidência de infarto em
usuárias de TRH, resultado este semelhante ao encontrado em outro estudo que mostrou baixos índices de infarto
nessas mulheres. (SANDY, 2004)
O efeito protetor da hormonioterapia sobre a osteoporose é conhecido e a prevenção dela configura uma das
indicações para este tratamento. Neste trabalho somente uma minoria das mulheres apresenta osteoporose,
confirmando achados na literatura. (CURRY, F.2007).
Em estudo recente foi determinado um risco baixo na associação entre câncer de mama e TRH, não houve
diferença estatística no risco de câncer de endométrio no grupo de usuárias de hormonioterapia e no grupo de não
usuárias. (WHI, 2002). Ambos resultados se assemelham aos encontrados no ambulatório de ginecologia da UFPA que
mostra índices baixos dessas doenças. Este mesmo estudo mostra o efeito protetor do tratamento sobre o Câncer
colorretal e o risco aumentado de doença da via biliar (WHI, 2002), confirmando os resultados encontrados no
presente trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O aumento da expectativa de vida faz com que mulheres passem um terço de suas vidas após a menopausa.
Garantir a qualidade de vida dessas mulheres deve ser preocupação de todos os profissionais de saúde e alvo de
políticas públicas. A TRH é uma grande aliada no combate às modificações indesejadas pelas quais a mulher passa
neste período, portanto conhecer os benefícios e os possíveis riscos as quais usuárias são submetidas é de extrema
importância para que promotores de saúde e população possam se beneficiar com segurança deste tratamento.
Este estudo apresenta limitações e deve ser somente o primeiro passo para o conhecimento da realidade da
TRH nesta comunidade. Faz-se necessário esclarecer os efeitos específicos de cada regime de reposição e vias de
administração.
É importante ressaltar que a TRH deve ser indicada sempre levando em consideração a peculiaridade de cada
caso, procurando-se individualizar o regime terapêutico e estando a paciente consciente de todos os benefícios e
riscos aos quais ela está exposta.
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Extensão Universitária e Políticas Públicas
BIBLIOGRAFIA:
CURRY, F. Osteoporose: prevalência e fatores de risco em mulheres de clínica privada maiores de 49 anos de idade.
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FEBRASGO. Tratado de ginecologia. 2000.
FEBRASGO. Manual de orientação: climatério. 2004.
FREITAS, F. Rotinas em ginecologia. 5º ed., 2006.
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SANDY, L.F. Menopause and treatment management. Clinical Obstetrics and Ginecology., vol. 47, n. 2, 2004.
SOBRAC. Consenso sobre terapia hormonal na menopausa, 2004.
SPEROFF, L. Clinical ginecology endocrinology and infetility. 7th ed. 2005.
WHI. Risks and benefits os estrogen plus progestin in healthy postmenopausal women. JAMA., vol. 288, p. 288, n3,
2002.
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ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO DE PACIENTES COM ANOMALIAS DE DIFERENCIAÇÃO
SEXUAL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO BETTINA FERRO DE SOUZA
Ana Paula de Andrade Sardinha (Bolsista)
Inaê Bachaya Duarte (Bolsista)
Eleonora Arnaud Pereira Ferreira (Coordenadora)
Faculdade de Psicologia, IFCH/UFPA
RESUMO: Cerca de 2 a 3% dos recém-nascidos são portadores de uma ou mais malformações congênitas, dentre elas, as Anomalias
da Diferenciação Sexual (ADS). Este projeto tem como objetivo oferecer atendimentos psicoterápicos a pacientes com ADS no
ambulatório do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS) extensivo a seus familiares. Esses atendimentos visam
trabalhar as expectativas dos pacientes quanto ao tratamento (farmacoterápico e/ou cirúrgico), proporcionando-lhes uma melhor
qualidade de vida. Na avaliação de adultos são utilizados instrumentos como o Inventário de Qualidade de Vida (WHOQOL-breve) e
os Inventários Beck para adultos (depressão, ansiedade, desesperança e ideação suicida). Na avaliação de crianças, utiliza-se a
Escala DENVER II e atividades lúdicas. O presente trabalho apresenta os resultados obtidos com 11 pacientes encaminhados à
psicoterapia pelo serviço de endocrinologia e pelo ambulatório de genética clínica do HUBFS. Destes, 5 são do gênero feminino e 6
do gênero masculino, com idades entre 10 meses e 33 anos. Para a maioria dos casos, a avaliação inicial aponta descontentamento
com a aparência física; para poucos, dúvidas quanto a sua identidade de gênero. As seguintes metas foram estabelecidas: favorecer
a interação do paciente e de seus familiares com a equipe multiprofissional, avaliar a ansiedade e a depressão dos pacientes e de
seus familiares; esclarecer dúvidas e trabalhar as expectativas perante o diagnóstico, tratamento e cirurgia, e ampliar repertórios
de enfrentamento visando à qualidade de vida. Em 2007, observaram-se como resultados: (a) o tratamento da maioria dos
pacientes inclui farmacoterapia e procedimentos cirúrgicos, sendo válido ressaltar que o tratamento medicamentoso é para toda
vida; (b) a maioria dos pacientes e seus familiares necessita de esclarecimentos sobre o seu diagnóstico, e (c) a incerteza da
definição do sexo e dos resultados cirúrgicos causa grande ansiedade nos pacientes e familiares. Em todos os casos, sugere-se
continuidade no processo psicoterapêutico, visto que é papel do psicólogo e de toda a equipe apoiá-los no processo de tomada de
decisões que o tratamento requer, a fim de que se contribua para uma melhor qualidade de vida dos mesmos.
Palavras-chave: Anomalias da diferenciação sexual; atendimento psicoterápico; adesão ao tratamento; qualidade de vida.
INTRODUÇÃO
A Psicologia, nos princípios do seu código de ética, se compromete com a promoção da saúde e a qualidade
de vida das pessoas e das coletividades. É bem verdade que a psicologia está cada vez mais superando novos desafios,
o que inclui novos espaços de trabalho que exigem, cada vez mais, uma especificidade de ação. Nesse sentido, a
Psicologia da Saúde surge da necessidade de promover e de pensar o processo saúde/doença como um fenômeno
social. Além disso, os crescentes custos dos serviços de saúde têm colocado em evidência a importância da educação
sobre práticas saudáveis e políticas de prevenção que permitem intervenção global, aumento dos índices de adesão a
tratamentos e redução do impacto da doença sobre o funcionamento do indivíduo (Martins & Júnior, 2001). O
trabalho do psicólogo na educação em saúde deve ir além da simples transmissão de informações a respeito do
tratamento adequado ou ideal. Os clientes e seus familiares precisam de um espaço onde não só recebam
informações, mas onde seja possível expressar a ansiedade e a insegurança proveniente da desinformação, a
incapacidade sentida para lidar com a doença. Seu trabalho pode ser motivador ao paciente, no sentindo de propiciar
mudança de atitudes e sua efetivação (Benute & cols., 2001).
Houve um crescimento significativo da atuação profissional de psicólogos em diferentes serviços de saúde,
tanto na rede pública quanto na rede privada de assistência. Cada vez mais psicólogos habilitam-se ao atendimento e
acompanhamento de indivíduos e grupos populacionais portadores de variados transtornos físicos, sociais e mentais.
Equipes profissionais, em todos os níveis de atenção à saúde, da prevenção primária à reabilitação, e em diferentes
campos de especialização da medicina, odontologia e outras ciências, cada vez mais dispõem de psicólogos em seus
quadros, ou solicitam serviços especializados de consultoria em psicologia da saúde (Costa Júnior, 2000). A integração
entre os profissionais da equipe de saúde tornou-se necessária uma vez que suas especificidades são indispensáveis à
efetivação dos conhecimentos mínimos exigidos do paciente sobre doenças crônicas e complexas, como diabetes,
hipertensão e asma, por exemplo (Benute & cols., 2001).
O campo da genética clinica é um dos campos da saúde que o psicólogo vem sendo gradativamente solicitado
a contribuir, especificamente em atividades relacionadas a processos de aconselhamento genético de indivíduos
portadores e/ou afetados por anomalias de etiologia genética. Está muito clara a pluralidade de variáveis envolvidas
no processo de aconselhamento genético; trata-se de variáveis que ultrapassam a dimensão puramente médica ou
orgânica. Nesse sentido seria impossível não incluir, quando da realização do processo de aconselhamento genético, a
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existência de um ato, também, de caráter psicológico (Costa Júnior, 2000). Dentro desse campo vasto de inúmeras
doenças genéticas, encontramos as Anomalias da Diferenciação Sexual (ADS), onde os recém-nascidos apresentariam
seus corpos com uma genitália externa e/ou interna sem definição clara, nem para o sexo feminino nem para o
masculino (Machado, 2005).
As ADSs são conhecidas há um longo tempo. Em 1978, Michel Foulcault publicou a história de Adelaide
Herculine Barbin, que ao nascer em 1838 foi declarada mulher. Esse erro diagnóstico destruiu a sua vida, pois foi
criada como menina, e somente após uma batalha judicial conseguiu mudar sua certidão de nascimento, usar o nome
de Abel e ser designado do sexo masculino. Já na década de sessenta, uma criança de oito meses, foi mutilada
acidentalmente num procedimento de circuncisão, sendo os pais aconselhados pelo pediatra e sexólogo a criá-lo
como se fosse do gênero feminino. Foi a partir desse acontecimento que se fez a primeira tentativa de se criar um
vagina (Franssinette & cols., 2002). Como dados atuais têm-se os estudos de Horowitz, Llerena Jr. e Mattos (2005) que
realizaram um levantamento da epidemiologia dos defeitos congênitos e detectaram que cerca de 5% dos que nascem
apresentam alguma anomalia. O estudo aponta o aumento desse tipo de problema e uma diminuição de doenças
infecciosas. Outra relevância no que diz respeito aos estudos seria muito mais pelas morbidades envolvidas nessa
patologia o que acarreta uma série de implicações e grande investimento no tratamento. Nos grandes centros
urbanos e em seus respectivos hospitais, há um aumento de casos envolvendo esses defeitos.
Segundo Castro e cols. (2006), cerca de 2 a 3% dos recém-nascidos são portadores de uma ou mais
malformações congênitas, sendo responsáveis por 20% da mortalidade neonatal e 30 a 50% da mortalidade perinatal
nos países desenvolvidos. O caminho a ser percorrido para que se chegue a um desenvolvimento sexual normal, quer
masculino ou feminino, é bastante longo e sujeito a erros em vários momentos. Além da necessidade de que os
estímulos ocorram em determinadas estruturas embriológicas, também sua cronologia é fundamental para que o
processo se realize corretamente (Damiani, Setian, Kuperman, Manna & Dichtchekenian, 2001).
Dentre os fatores que determinam o sexo estão: cromossômico, gonadal, somático, civil e psicossocial. A
diferenciação sexual fetal ocorre entre a sexta e décima quarta semana da vida intra-uterina. A determinação das
gônadas e das estruturas genitais internas e externas depende da interação e expressão de genes específicos, sendo
que até a sétima semana de vida intra-uterina a gônada primitiva é indiferenciada e pode evoluir tanto para ovário
quanto para testículo (Franssinette & cols., 2002). A determinação gonadal é a transformação da gônada bipotencial,
indiferenciada em testículo ou em ovário; e a diferenciação sexual, é o que ocorre a partir da gônada diferenciada e
que leva o indivíduo ao seu fenótipo final, incluindo ductos internos e genitália externa. Todo ser humano tem uma
tendência para diferenciação sexual feminina que começa a ocorrer com o desenvolvimento dos ductos de Müller, os
quais darão origem a estruturas como as trompas, útero, fímbrias etc. No caso da diferenciação masculina, se torna
necessária a ativação de hormônio como o anti-mülleriano (AMH) que impede que haja o desenvolvimento das
estruturas femininas, e então, com a produção de testosterona pelas células de Leyding que irão desenvolver os
ductos de Woff dando origem aos ductos deferente e ejaculatórios, epidídimo e as vesículas seminais (Damiani & cols,
2001). Dentre os problemas relacionados ao determinismo gonadal estão: hermafroditismo verdadeiro, disgenesia
gonadal mista, homem XX, Pseudohermafroditismo masculino e Pseudohermafroditismo feminino. Uma das
características que parece comum a esses problemas é ambigüidade genital. É valido destacar que um indivíduo é
considerado com genitália ambígua, quando é portador de micro-pênis não sendo possível distingui-lo de um clitóris,
ou quando não há correspondência entre a gônada e o órgão genital.
Outro aspecto importante de ser abordado é quanto à escolha do sexo, que pode ou não corresponder ao
sexo de criação e ao gênero do indivíduo na vida adulta. Nesse aspecto, é importante levar em consideração
definições como sexo, sexo de criação e gênero, muitas vezes usados erroneamente como sinônimos. Quando se leva
em consideração as características físicas do indivíduo, fala-se então de sexo, sendo definido pelas gônadas, fenótipo
ou genótipo, normalmente definido com a observação do genital externo. Dessa forma, o sexo de criação seguido
pelos pais leva em conta o diagnóstico dos médicos (menina ou menino). A partir de então, há um refinamento no
tratamento, nos brinquedos, roupas, seguindo os preceitos culturais dos pais (Spinola-Castro, 2004). No que se refere
ao gênero, pode-se defini-lo como um “conjunto de sentimentos, assertivas, atitudes e comportamentos a partir dos
quais se reconhece o indivíduo como sendo menino, menina, mulher ou homem” (Silva, Brito, Ribeiro & BrandãoNeto, 2006, p.108). Assim, um indivíduo pode ser do sexo feminino e do gênero masculino, visto que eles não
possuem a mesma base de classificação e são independentes um do outro. Ser do sexo masculino ou feminino afeta
nossa aparência, nosso modo de andar, e muitas vezes, nosso modo de trabalhar, brincar e vestir, ou seja, influencia o
nosso modo de viver. As diferenças sexuais estão ligadas às diferenças biológicas entre macho e fêmea. Já as
diferenças de gênero estão ligadas às diferenças psicológicas ou comportamentais entre os sexos. A identidade de
gênero é um aspecto importante na formação do autoconceito. Desde a infância, ela afeta como meninos e meninas
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se sentem a respeito de si mesmos e como se comportam. Neste contexto, existem os papéis sexuais, que são os
comportamentos, interesses, atitudes, habilidades e traços de personalidade que uma cultura julga apropriados para
homens e mulheres. As crianças aprendem papéis sexuais cedo por meio da socialização, embora as pessoas variem
quanto ao grau no qual assumem papéis sexuais (Paplia & Olds, 2000). Admite-se que a sexualidade se manifesta
desde o início da vida e se desenvolve juntamente com o desenvolvimento geral do indivíduo. Do ponto de vista
fisiológico, os tecidos e as fibras nervosas do pênis e da vagina estão suficientemente formados. No entanto, somente
com certa idade, a partir das formas como vivem sua sexualidade, com parceiros (as) do mesmo sexo, do sexo oposto,
de ambos os sexos ou sem parceiros (as), é que o indivíduo irá constituir a noção das suas orientações sexuais. Sendo
assim, as pessoas podem exercer sua sexualidade de diferentes maneiras (Paplia & Olds, 2000). É importante perceber
que a sexualidade é diferente em cada fase do desenvolvimento humano. As crianças, os adolescentes, os adultos e os
idosos são seres sexuados e, a cada fase da vida, possuem interesses sexuais e exprimem em comportamentos a
própria sexualidade, os quais mudam de acordo com a idade, assumindo características próprias a cada período da
vida (Paplia & Olds, 2000).
A partir da década de 20, iniciou-se a ‘era cirúrgica’, onde em casos de crianças com ambigüidade genital a
decisão final era feita pelo cirurgião, baseada nas Teorias da Neutralidade Psicossexual ao Nascimento, proposta por
John Money. O objetivo principal, então, era permitir ao indivíduo a possibilidade de manter relações sexuais e/ou
reproduzir-se na fase adulta. O médico analisava a melhor forma de re-configurar a genitália, acreditando ainda que
as crianças nascessem com uma neutralidade psicossexual, devendo ocorrer intervenção cirúrgica e definição do sexo
até os 24 meses, pois após esse período poderiam ocorrer desordem de gênero e outros distúrbios psicopatológicos
(Santos, 2003). As cirurgias mencionadas acima são caracterizadas pela mudança na aparência física e na função de
suas características sexuais para aquelas do sexo oposto, conhecidas como Cirurgia de redesignação Sexual (CRS) ou
Sex reassignmente surgery (SRS). Normalmente efetuadas em pessoas com problemas de intersexo, podem ser usadas
também para tratamento de desordem do transtorno de identidade assim como transexuais e transgêneros
(Wikipédia, 2007). O termo vaginoplastia também se refere a esses tipos de cirurgia, porém nesse caso específico se
trata da reconstrução das genitais femininas. No caso de indivíduos com genitália ambígua, inicialmente os
procedimentos eram voltados para mudança apenas para o sexo feminino. As técnicas cirúrgicas ainda não eram
muito desenvolvidas, tornando mais fácil a formação da genitália feminina do que a masculina, levando em conta a
funcionalidade das mesmas (Machado, 2005). Nos anos 50, houve implementação de novas técnicas como a remoção
dos órgãos masculinos em um ou mais procedimentos; porém, leva muito tempo para ocorrer a cicatrização. Então,
houve nova tentativa onde os cirurgiões tiraram pele das coxas ou nádegas da paciente para construir uma vagina.
Somente ao final dos anos 50, um cirurgião plástico francês, o Dr. Georges Burou, M.D., inventou a técnica moderna
da inversão do pênis para a redesignação sexual, e tem sido utilizadas variações dessa técnica até os dias de hoje
(Conway, 2000-2005). É importante ressaltar os cuidados que devem ocorrer após a cirurgia, pois são de extrema
importância para a perfeita recuperação estética e total da paciente. Um cuidado necessário em todas as pacientes,
por exemplo, é o uso, de um molde genital por um longo período. O tamanho dos moldes vaginais varia entre
diâmetros de 28 a 38 mm. e têm que ser inseridos na neovagina à profundidade máxima de 10 até 15 cm ou mais, por
30 até 40 minutos, várias vezes cada dia durante muitos meses. Pouco a pouco se aumenta o tamanho do molde que
se usa para manter e aumentar a abertura, o diâmetro e a profundidade vaginal durante o período pós-operativo
(Conway, 2000-2005).
Brunhara e Petean (2003) realizaram uma pesquisa com sete mulheres portadoras de Hiperplasia Congênita,
buscando identificar dificuldades encontradas pela anomalia através de entrevistas. Esta pesquisa mostrou uma
insatisfação com seu corpo, apresentada por todas as participantes. Este sentimento apresentou uma diminuição após
a realização do procedimento cirúrgico. Uma dificuldade apresentada no tratamento foram os efeitos colaterais das
medicações, assim como os procedimentos pós-cirúrgicos. Nesse período conhecido como “era cirúrgica”, a condição
intersexo das crianças era vista como uma emergência médica: quanto mais rápida a tomada da decisão final, melhor
adaptação funcional da genitália, assim, como a diminuição da ansiedade, dúvida e problemas também seriam
trazidos para a criança e sua família. Vale ressaltar que a família era orientada para não discutir com a criança sua
condição e não possuíam força de opinião na tomada da decisão do sexo do filho(a), a qual era discutida apenas pelo
médico-cirurgião (Spinola-Castro, 2005). Por um longo período essa conduta foi utilizada, porém na década de 90,
com depoimentos de indivíduos adultos que nasceram com intersexualidade, inúmeras críticas foram feitas
questionando as atitudes médicas e o procedimento defendido por Money. Muitos desses indivíduos questionam a
falta da sua participação quanta a escolha de seu sexo, indicando a falta de comunicação como uma dificuldade
enfrentada, visto que em muitos casos ocorreram divergência entre gênero e sexo na fase adulta dos pacientes. De
acordo com Santos e Araújo (2003), nesse contexto, Milton Diamond propõe a Teoria de Tendência Interacionista
após o nascimento, a qual acredita que haveria uma predisposição ou tendência inata que favoreceria o
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desenvolvimento da sexualidade do indivíduo no mundo. Nessa nova proposta, há uma maior atenção à comunicação
entre os pais e a criança, incluindo ambos na tomada de decisão quanto ao tratamento. Leva-se em conta não apenas
o funcionamento sexual adequado, como também o desenvolvimento psicológico do indivíduo. A inclusão do próprio
indivíduo na tomada de decisão faz com que os adeptos a essa teoria defendam a idéia de que somente após a
puberdade deve ser feito os procedimentos definitivos (Santos & Araújo, 2003). Segundo Miranda, Oliveira Filho,
Marini, Silva e Júnior (2005), alguns autores sugerem que a correção cirúrgica da genitália deva ser, de fato, realizada
tão logo quanto possível, principalmente em vista das evidências de interferência do aumento clitoriano sobre a
identidade sexual feminina. Argumenta-se que a estimulação estrogênica materna promove uma vagina larga,
vascularizada e mais superficial, com paredes mais grossas e de fácil manipulação. Por outro lado, diversos autores
questionam a necessidade da correção precoce, com base no alto índice de complicações e na necessidade de
cirurgias corretivas múltiplas.
Diante de tantos aspectos a serem considerados, é importante voltar o tratamento dessas anomalias também
para o aspecto psicológico. Nesse quadro podem surgir inúmeras questões, medos e inseguranças por parte dos
pacientes e de seus familiares. O psicólogo então auxiliaria na tomada de decisão quanto ao tratamento, assim como
ao sexo escolhido. É comum encontrar tanto no discurso dos pais quanto nos dos próprios médicos relatos de
ansiedade e medo ao se depararem com o diagnóstico de genitália ambígua do recém-nascido (RN). Há sempre a
busca da normalidade em seus filhos, pregada pela sociedade, incentivando de maneira indireta um preconceito aos
indivíduos que possuam alguma característica física considerada ‘anormal’, sendo necessário um tempo para
aceitação do indivíduo (Martins, Cardoso & Llerena Jr, 2004). De acordo com Martins & cols. (2004), a indefinição do
diagnóstico e como ocorre a comunicação do mesmo são os maiores motivos da ansiedade nos pais por terem a
necessidade de classificação imposta pela sociedade, pelas suas próprias expectativas que vão se acumulando desde o
momento da notícia de gravidez, até os últimos preparativos do quarto, das roupinhas, na escolha do nome etc. E
ainda pela pressão dos familiares e amigos com aquela famosa pergunta “É menino ou menina?”. Fatores como
religião e escolaridade também devem ser levadas em consideração na medição da ansiedade e medo (Silva & cols.,
2006). É papel do psicólogo e de toda equipe apoiá-los e compreendê-los, possibilitando um total esclarecimento da
doença e de todos os processos que puderem vir a ocorrer. Segundo Silva & cols. (2003), “a ambigüidade genital é
uma patologia de alta complexidade e que agrava diretamente a estabilidade psicológica da família, que necessita de
suporte psicológico mais intensivo e uma maior atenção de modo a desmistificar os receios e angústias dos pais” (p.
112). O psicólogo deve então dar apoio refletindo-se na aceitação e enfrentamento da criança a sua condição,
auxiliando e solidificando o gênero designado aos bebês, sendo estendido esse apoio a toda família buscando
promover uma melhor qualidade de vida dos mesmos, para a criação de indivíduos adaptados ao contexto social em
que vivem e à sua própria condição.
O presente trabalho teve por objetivos a realização de atendimentos psicoterápicos a indivíduos com
anomalia de diferenciação sexual buscando proporcionar uma melhora na qualidade de vida aos mesmos,
trabalhando com eles as expectativas quanto ao tratamento, auxiliando na adesão do mesmo e na tomada de decisão.
Pretendeu-se investigar o quanto a anomalia afeta a qualidade de vida dessas pessoas e analisar as possibilidades de
tratamento de acordo com o perfil do paciente.
MÉTODO
Clientela: Em 2007, participaram deste estudo onze pacientes encaminhados ao serviço de psicologia pela
equipe do ambulatório de genética do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS) e de endocrinologia do
Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB). Critério de inclusão dos participantes: O paciente deveria
apresentar o diagnóstico ou ao menos a suspeita do diagnóstico de alguma anomalia da diferenciação sexual, ser
encaminhado pelo ambulatório de genética do HUBFS ou de endocrinologia do HUJBB, bem como assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Instrumentos: (1)Termo de consentimento livre esclarecido: Este termo visa descrever os procedimentos do
atendimento e oficializar a permissão dos pacientes para a realização dos atendimentos por estagiários; (2) Roteiro de
entrevista inicial: Elaborado pela equipe deste estudo, composto com dados de identificação do paciente,
encaminhamento, queixa, situação familiar, história de vida do paciente, conhecimento sobre a doença e tratamento;
(3) Escalas Beck: Composta pelo Inventário de Depressão (BDI), Inventário de Ansiedade (BAI) e Escala de
Desesperança (BHS). O BDI mede a intensidade da depressão, e o BAI, a intensidade da ansiedade. A BHS é uma
medida de pessimismo e oferece indícios sugestivos de risco de suicídio em sujeitos deprimidos ou que tenham
história de tentativa de suicídio; (4) WHOQOL-breve: Inventário de qualidade de vida aprovado pela Organização
Mundial de Saúde, formado por um questionário na versão em português, composto pelos domínios físico,
663
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
psicológico, relações sociais e meio ambiente; (5) Escala Denver II: Teste de desenvolvimento, delineado para
aplicação em crianças desde o nascimento até a idade de 6 anos, que consiste em 125 itens, divididos em quatro
grupos: (a) pessoal/social- referente a aspectos da socialização da criança dentro e fora do ambiente familiar; (b)
motricidade fina- coordenação olho/mão, manipulação de pequenos objetos; (c) linguagem-produção de som,
capacidade de reconhecer, entender e usar a linguagem; e (d) motricidade ampla- controle motor corporal, sentar,
caminhar, pular e todos os demais movimentos realizados através da musculatura ampla.
Atividades Realizadas: (a) Contato com os profissionais e observação da rotina do programa: Foram
realizados contatos com os profissionais, através de acompanhamento de consultas da endocrinologista e da
geneticista, assim como através de reunião com o cirurgião, a fim de que a equipe de psicologia fosse esclarecida
quanto aos procedimentos a serem realizados; (b) Levantamento da literatura: Fez-se o levantamento de textos
referentes ao tema deste estudo, tanto no que se refere aos aspectos médicos quanto ao tratamento psicológico de
pacientes com anomalia da diferenciação sexual; (c) Realização de grupo de estudos: A partir do levantamento da
literatura e da seleção prévia de textos, foram feitas, semanalmente, reuniões entre os estagiários visando à
apresentação e discussão dos textos; (d) Atendimentos individuais: Os pacientes adultos eram atendidos
individualmente em ambulatório, em horários previamente agendados pelos estagiários; (e) Atendimento à família:
Nos casos em que houve acompanhamento familiar, estes eram atendidos separadamente dos pacientes, havendo
alguns momentos de atendimento conjunto, e (f) Preparação para intervenção cirúrgica: Foram realizadas sessões de
orientação aos pacientes com encaminhamento cirúrgico, quanto ao esclarecimento de suas dúvidas referentes à
intervenção cirúrgica a ser realizada, incluindo elaborações de perguntas a serem feitas diretamente ao cirurgião no
momento de sua consulta com o mesmo. Fez-se também análise de custos e benefícios com os pacientes acerca de tal
procedimento. No atendimento com crianças: Trabalharam-se as expectativas dos pais quanto ao diagnóstico e
quanto ao tratamento da criança; fez-se o esclarecimento dos pais da criança quanto às dúvidas apresentadas; foram
realizadas atividades lúdicas com a criança, visando acolhimento e investigando sua provável preferência quanto a sua
escolha sexual; fez-se a aplicação do Teste Denver II em um paciente de 10 meses com vistas a avaliar seu
desenvolvimento. No atendimento com adultos: Fez-se a aplicação do inventário de qualidade de vida WHOQoLbreve; a aplicação do inventário de ansiedade de Beck; trabalharam-se aspectos referentes às expectativas do
paciente quanto ao seu tratamento, quanto a aspectos referentes às expectativas sobre o diagnóstico do paciente;
fez-se o esclarecimento dos pacientes quanto às dúvidas apresentadas para tomada de decisão, assim como dúvidas
quanto ao tratamento.
RESULTADOS
As principais características dos participantes estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1: Descrição dos pacientes com Anomalia da Diferenciação Sexual atendidos no HUBFS
Participantes
Gênero
Cariótipo
Idade
Período de Ingresso
no Hospital
Período de Ingresso no
Serviço de Psicologia
P1
F
46XX
33
anos
4/2/2000
25/4/2006
Icoaraci
P2
M
46XY
30
anos
14/11/2006
14/11/2006
Santana
Araguaia
P3
F
46XY
32
anos
4/11/2003
4/12/2003
Belém
P4
F
46XX
24
anos
30/5/2006
14/6/2006
Belém
P5
M
46XY
28
anos
16/1/2007
16/1/2007
Apeú
P6
M
46XY
26
anos
16/1/2007
16/1/2007
Apeú
664
Local de
Origem
do
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
P7
M
46XY
25
anos
16/1/2007
16/1/2007
Apeú
P8
M
46XY
23
anos
16/1/2007
16/1/2007
Apeú
P9
F
46XY
17
anos
2/5/2005
23/1/2007
Castanhal
P10
M
46XY
10
meses
23/11/2006
3/1/2007
Mojú
P11
F
46XX
6 anos
6/6/2007
6/6/2007
Macapá
Dentre os pacientes, cinco são do gênero feminino e seis do gênero masculino, com idades entre 10 meses a
33 anos, sendo apenas duas crianças. O local de origem destes pacientes consta de lugares dentro e fora do Estado do
Pará, sendo que apenas dois pacientes são da cidade de Belém, conforme apresentado na Tabela 1. Dos onze
paciente, três apresentam cariótipo 46XX e destes, todos optaram pelo gênero feminino. Dos pacientes com cariótipo
46XY, dois apresentam identidade de gênero feminino (apresentam aparência feminina e sentem-se mulheres) e um
optou pela mudança do gênero masculino para o feminino. Os resultados indicam presença de descontentamento
com a aparência física, incluindo aspectos além da genitália (n=8), descontentamento quanto à sexualidade (n= 8),
depressão (n=2) e dúvidas quanto a sua identidade sexual (n= 2). Ao início do atendimento, os pacientes
apresentaram relatos de ansiedade quanto ao tratamento, principalmente em relação à necessidade de cirurgia,
embora os resultados obtidos com o Inventário Beck tenham indicado nível baixo de ansiedade (n=5), conforme se
pode observar nas Tabelas 2 e 3. Ainda no que se refere ao Inventário de Beck, que permite discriminar os níveis de
depressão, ansiedade e desesperança em intensidade de mínima à grave, observou-se que apenas um paciente
apresentou nível grave de depressão, dois apresentaram nível moderado, e os outros cinco pacientes apresentaram
nível leve ou mínimo de depressão. Quanto aos índices de desesperança, prevaleceu o nível mínimo, tendo apenas
uma paciente apresentado nível leve (Tabela 3).
Tabela 2: Descrição dos casos dos pacientes com Anomalia da Diferenciação Sexual do HUBFS
Pacientes
Origem
P1
Endocrinologista
P2
Endocrinologista
P3
Endocrinologista
P4
Endocrinologista
P5
Endocrinologista
P6
Endocrinologista
P7
Endocrinologista
Motivo do
Encaminhamento
Disforia de Gênero
Queixa Principal
Queixas Secundárias
descontentamento
com a aparência
masculina
dúvidas quanto a sua identidade
sexual, sentimento de baixa autoestima, ansiedade, déficits de
habilidades sociais
habilidades sociais
Deficiência na
síntese do
hormônio
Hiperplasia adrenal
congênita
Hiperplasia adrenal
congênita
descontentamento
com identidade de
gênero
depressão
Deficiência na
síntese do
hormônio
Deficiência na
síntese do
hormônio
Deficiência na
síntese do
hormônio
descontentamento
com a aparência
problemas de relacionamento com a
mãe
descontentamento
com a aparência
problemas de relacionamento com a
mãe, dificuldades profissionais
descontentamento
com a aparência
problemas de relacionamento com a
mãe
baixa auto-estima,
depressão
665
sentimento
de
ansiedade,
insatisfação sexual
descontentamento sexual, dúvidas
quanto a sua identidade sexual,
sentimento de baixa auto-estima
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
P8
Endocrinologista
Deficiência na
síntese do
hormônio
Hiperplasia adrenal
congênita
P9
Endocrinologista
P10
Endocrinologista
Genitália ambígua
P11
Endocrinologista
Hiperplasia adrenal
congênita
dúvidas quanto ao
tratamento
excreção de secreção
com sangue pela
vagina
genitália ambígua
clitóris desenvolvido
dificuldades quanto a continuação
de sua escolaridade e busca para
vida profissional
dúvidas quanto a escolha do curso
universitário
saída da urina por outro orifício
Limitações escolares (não participa
das aulas de natação), problemas
emocionais, constrangimentos
Tabela 3: Grau de depressão, ansiedade e desesperança, segundo o Inventário de Beck, dos pacientes com Anomalia
da Diferenciação Sexual atendidos no HUBFS
Pacientes
Inventário de Beck de Depressão
– BDI
Inventário de Beck de Ansiedade
- BAI
Escala de Desesperança de Beck –
BHS
P1
Mínima
Mínima
Mínima
P2
Leve
Mínima
Mínima
P3
Grave
Mínima
Mínima
P4
Moderada
Moderada
Mínima
P5
Mínima
Mínima
Mínima
P6
Mínima
Mínima
Mínima
P7
Moderada
Moderada
Leve
P8
Leve
Grave
Mínima
O número de sessão entre os 11 pacientes variou de uma sessão até 17 sessões, sendo que oito casos
permanecem em atendimento e três foram considerados como evadidos. O tratamento de apenas um paciente é
somente medicamentoso e de outro paciente é somente cirúrgico (até o momento). Os demais casos (n=9) receberam
tratamento tanto cirúrgico como medicamentoso (Tabela 4). Durante o acompanhamento, houve melhora quanto ao
entendimento dos pacientes e de seus familiares quanto à patologia e ao tratamento. De acordo com os relatos dos
pacientes percebe-se que alguns ainda apresentam dificuldades na adesão ao tratamento. Há relatos de reclamação
quanto aos efeitos colaterais do medicamento (como aumento de peso) e de esquecimento de tomar os remédios.
Tabela 4:
Número de sessões realizadas, situação dos pacientes, instrumentos utilizados e formas de tratamento dos pacientes
Pacientes
Nº de
Sessões
P1
Situação
Instrumentos Utilizados
Tratamento
9
Em
andamento
Cirúrgico e Medicamentoso
P2
9
Em
andamento
P3
12
Em
andamento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck,
WHOQOL - abreviado
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck,
WHOQOL - abreviado
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck
P4
17
Em
andamento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck
Cirúrgico e Medicamentoso
666
Cirúrgico e Medicamentoso
Medicamentoso
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
P5
7
Em
andamento
P6
5
Em
andamento
P7
7
Em
andamento
P8
3
Evadiu
P9
1
Evadiu
P10
P11
2
1
Evadiu
Em
andamento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck,
WHOQOL - abreviado
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck,
WHOQOL - abreviado
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck,
WHOQOL - abreviado
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial, Inventário de Beck,
WHOQOL - abreviado
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial,
Cirúrgico e Medicamentoso
Denver II
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
Roteiro de Entrevista Inicial
Cirúrgico
Cirúrgico e Medicamentoso
Cirúrgico e Medicamentoso
Cirúrgico e Medicamentoso
Cirúrgico e Medicamentoso
Cirúrgico e Medicamentoso
Os resultados referentes ao Inventário de qualidade de vida (WHOQOL-abreviado), ainda não foram
concluídos, contudo, de um modo geral os pacientes parecem ter boa qualidade de vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente estudo trabalhou-se as expectativas de pacientes quanto ao tratamento da patologia, através de
atendimentos individuais, visando uma melhor qualidade de vida e adesão ao tratamento. A intervenção utilizada
pode ser considerada como eficaz, auxiliando os pacientes na tomada de decisão quanto ao tratamento, visto que a
maioria continuou comparecendo às consultas. Durante a intervenção, os pacientes apresentaram evolução no que
diz respeito ao esclarecimento da patologia e do tratamento, assim como a adesão ao tratamento, o que representa
um ponto positivo neste estudo. Entretanto, alguns pacientes ainda apresentam dificuldades em aderir ao tratamento
principalmente em função dos efeitos colaterais da medicação, como, por exemplo, o aumento de peso, confirmando
pesquisa desenvolvida por Brunhara e Petean (2003), na qual verificou-se que, entre a população investigada,
sintomas como sono, estria, aumento de peso, varizes, além do custo da resposta da administração do medicamento
(durante toda a vida), eram bastante freqüentes e facilitavam a não adesão ao tratamento. Foi observado que grande
parte dos pacientes apresentou como queixa principal um descontentamento com a aparência física (em especial a
genitália ambígua). De acordo com Brunhara e Petean (2003), essa queixa é muito comum nesses pacientes, podendo
desencadear descontentamento quanto à sexualidade e dúvidas quanto a sua identidade sexual, pela incerteza do
diagnóstico ou pela própria ambigüidade física. Desordem de identidade de gênero e gênero desviante são muito
comuns em portadores desta patologia, segundo pesquisas realizadas por Slipper e Drop, 1998 (citados por Brunhara
& Petean, 2003). Uma das formas de diminuir esse descontentamento com a aparência física tem sido resolvida em
grande parte dos pacientes com o procedimento cirúrgico. A única participante que foi submetida à cirurgia durante a
realização deste estudo ficou satisfeita com o resultado, observando mudança no relacionamento com outras pessoas
e um bem-estar pessoal, conforme observado em Brunhara e Petean (2003). Além da cirurgia, mudanças associadas
ao uso de medicação que proporcionaram uma mudança hormonal, conseqüentemente de características
secundárias, também promoveram satisfação pessoal. Os instrumentos utilizados, como o inventário de Beck e
WHOQOL-abreviado, permitiram identificar sintomas de depressão e ansiedade, que também são muito comuns entre
essa população. Essas características podem ser geradas, por exemplo, devido à forma como estes indivíduos são
inseridos e tratados no seu meio social e familiar. Sendo o ambiente familiar o primeiro contato de interação do
indivíduo com o meio social é de fundamental importância que os pais sejam agentes criadores de um ambiente
adequado. Entretanto, incentivados pela sociedade, é comum existir a busca, por parte dos pais, pela normalidade de
seus filhos, podendo gerar um sentimento de inadequação em função do diagnóstico (Martins, Cardoso & Llerena Jr,
2004). Outros fatores geradores de ansiedade, de acordo com Castro (2005), se referem ao ingresso do individuo na
vida sexual ativa, que é um ponto de grande complexidade, assim como a própria questão da fertilidade, que em
muitos casos está comprometida. Os resultados obtidos nesse trabalho correspondem ao que foi apontado como os
problemas mais freqüentes encontrados em pacientes de ADS, como mostram Damiani e cols (2001): hiperplasia,
667
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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deficiência na síntese de hormônio, disgenesia gonadal mista, disforia de gênero. Um ponto a ser melhorado seria a
inserção de outros profissionais (psiquiatria e ginecologia, por exemplo) na equipe multidisciplinar, os quais teriam
muito a contribuir no tratamento destes pacientes. Outro aspecto que influenciou na realização deste estudo foi a
dificuldade encontrada em acompanhar os pacientes no preparo da cirurgia, devido esta ser efetuada em outro
hospital universitário. A dificuldade de acesso aos prontuários deste outro hospital pelos estagiários acabando por
impossibilitar acesso a informações importantes que poderiam auxiliar o tratamento do paciente. Sugere-se, então,
uma tentativa de inclusão de novos profissionais na equipe multidisciplinar, promovendo um trabalho de maior
interação com os próprios profissionais envolvidos; a formação de um grupo de pais para auxiliar de forma mais direta
os familiares dos pacientes; assim como ampliar a investigação dentro das contingências que envolvem o gênero e o
ambiente social bem como a qualidade de vida envolvida nessa relação.
REFERÊNCIAS
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psicólogo na criação e implantação dos programas educativos e de prevenção em saúde. Revista Brasileira de
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BRUNHARA, F. & Petean, E. (2003). Hiperplasia congênita de supra-renal: a compreensão do diagnóstico e implicações
para a auto-imagem. Medicina, Ribeirão Preto, 36, 45-53.
CONWAY, (2000-2005). Vaginoplastia: Cirurgia de Redesignação Sexual (SRS) de Homem para Mulher (MtF).
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CopyMarket.com.
DAMIANI, D.; Dichtchekenian, V. & Setian, N. (1986). As ambiguidades genitais. Revisões e Ensaios (8:75-81). São
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diferencial e conduta. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia Metabólica, vol 45, nº 1. Campinas, SP.
MACHADO, P.S. (2005). “Quimeras” da ciência: a perspectiva de profissionais da saúde em casos de intersexo. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, vol 20 nº 59.
MARTINS, A.; Cardoso, M. & Llerena Jr, J. (2004). Em contato com as doenças genéticas. A norma e a razão como
tradições culturais presentes no discurso de profissionais médicos do Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo
Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública, vol 10 nº 4, 968-975, Rio de Janeiro, Rj.
MARTINS, D. G. e Júnior, A.R. (2001). Psicologia da Saúde e novo paradigma (pp.35-42). São Paulo.
MIRANDA, M.C.; Filho, A.G.O.; Marini, S. H.V.L.; Silva, J.M.B. & Júnior, G.G. (2005). Genitoplastia feminizante e
hiperplasia congênita das adrenais: análise dos resultados anatômicos. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia
Metabólica, vol 49 nº 1. Campinas, SP.
SANTOS, M. & Araújo, T. (2003). A clínica da intersexualidade e seus desafios para os profissionais de saúde.
Psicologia, Ciência e Profissão, vol 23 nº 3, 26-33.
668
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
PROGRAMA DE ATENÇÃO EM NUTRIÇÃO E SAÚDE – PRONUSA
Beatriz Bentes da Silva
Glenda Marreira Vidal
Naíza Nayla Bandeira de Sá
Profa. Dra. Erly Catarina Moura (Coordenadora)
RESUMO: O programa de Atenção em Nutrição e Saúde – PRONUSA visa melhorar as condições de saúde e nutrição da população
acadêmica da Universidade Federal do Pará (UFPA), assim como prevenir, tratar e sensibilizar o público alvo quanto aos riscos das
Doenças Crônicas Não – Transmissíveis. O PRONUSA oferece orientação e avaliação nutricional gratuitas para alunos, professores e
funcionários da referida instituição. O projeto será desenvolvido no laboratório de Antropometria, onde serão realizadas as
consultas previamente agendadas. Atualmente, o projeto está na fase de produção de materiais educativos.
Palavras-chave: Saúde; nutrição; doenças crônicas não-transmissíveis.
INTRODUÇÃO
A importância das doenças – crônicas não transmissíveis (DCNT) no contexto atual da área da saúde é de
extrema relevância. Estas se caracterizam por ser um conjunto de doenças cujo processo de instalação no organismo
geralmente se inicia com alterações, sem que o indivíduo perceba e que demoram um longo período para se
manifestar. Geralmente não há cura porque as lesões causadas são irreversíveis, levando à complicações com graus
variáveis de incapacidade ou morte, porém são passíveis de tratamento.
As principais doenças crônicas – não transmissíveis são as doenças do aparelho circulatório (hipertensão
arterial, infarto do miocárdio e outras doenças do coração, derrame ou acidente vascular cerebral), as dislipidemias,
os diversos tipos de câncer, o diabetes, as doenças pulmonares obstrutivas crônicas (asma, bronquite asmática,
bronquite crônica e enfisema), as doenças ósteo articulares e a obesidade.
É sabível que uma alimentação adequada pode diminuir os riscos às DCNT, assim como também pode
melhorar a qualidade de vida dos indivíduos portadores das mesmas, visando contribuir para a melhoria das
condições de saúde e nutrição da população acadêmicas da UFPA, o PRONUSA oferece atendimento em Nutrição.
Vale ressaltar que a sensibilização da população quanto aos riscos às DCNT, bem como a adesão a uma
alimentação saudável perpassa pela educação. Por este motivo, é que se fez necessário a produção de materiais
educativos na área de Nutrição e Saúde, tais como folders e cartilhas.
OBJETIVO GERAL
Contribuir para a melhoria das condições de saúde e nutrição da população acadêmica da UFPA.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
O projeto tem como objetivos específicos implantar o PRONUSA junto ao Curso de Nutrição da UFPA;
oferecer atendimento em Nutrição à comunidade acadêmica da UFPA; treinar estudantes da UFPA para o
atendimento em nutrição e saúde; produzir material educativo em Nutrição e Saúde em colaboração com o CECAN Norte (Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição da Região Norte); além de articular teoria e atividades práticas
da disciplina Avaliação Nutricional e viabilizar espaço de pesquisa em avaliação nutricional, formando multiplicadores
para orientação em nutrição e saúde.
METODOLOGIA
O convite está sendo feito à comunidade acadêmica através dos meios de comunicação internos da UFPA. Os
atendimentos estão sendo marcados em horários pré - agendados. Os agendamentos das consultas podem ser feitos
por telefone ou pessoalmente. O local de atendimento é o Laboratório de Antropometria do Curso de Nutrição.
Os indivíduos que comparecerem para o atendimento serão submetidos à medida do peso, da altura, de
circunferências, de pregas e da porcetangem de gordura para a avaliação do estado nutricional. Adicionalmente, será
realizado estudo dietético e levantamento de doenças associadas, bem como do hábito de fumar, do consumo de
669
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
bebidas alcoólicas e das atividades físicas do dia-a-dia. Todos os indivíduos serão orientados quanto à alimentação e
estilo de vida saudáveis conforme normatização do guia nacional (Brasil, 2005).
RESULTADOS PRELIMINARES
Tendo em vista a relevância da educação no processo de sensibilização do público – alvo primou-se, no
primeiro momento, pela confecção de material educativo, sendo este: o folder de DCNT, abordando de maneira
simplificada e de fácil entendimento os conceitos, os principais fatores de riscos, além de oferecer orientações quanto
a prática de atividade física e a adesão a hábitos alimentares saudáveis, neste material é disponibilizado uma sugestão
de cardápio equilibrado.
Além de materiais educativos, foram elaborados materiais de uso ambulatorial, cartazes de divulgação do
projeto, além da confecção da logomarca.
Os materiais de uso ambulatorial confeccionados foram a ficha de atendimento nutricional (esta engloba
dados pessoais, dados antropométricos, anamnese, lista de freqüência alimentar, acompanhamento de exames e
orientação nutricional elaborada pelo profissional) e a ficha de prescrição, esta contém as orientações nutricionais
individuais elaboradas pelo profissional nutricionista no momento da consulta e que depois é fornecida para o
paciente.
Os cartazes confeccionados para a divulgação, têm como objetivo principal atrair a atenção do público – alvo
do projeto, estes foram colocado em locais de fácil acesso e visibilidade por parte da comunidade acadêmica.
A logomarca visa vincular o nome do projeto a uma imagem, a mesma está presente em todos os materiais
produzidos até o momento.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que as DCNT são responsáveis por 58,5% de todas
as mortes e por 45,9% da carga total global de doenças, sendo que a mortalidade por DCNT nas capitais brasileiras
aumentou em mais de três vezes entre as décadas de 30 e 90 (Barreto & Carmo, 1998; WHO, 2002).
72,10%
2
3
59,00%
5
Riscos
6
7
8
16,70%
14%
4,20%
5,40%
Mulheres
16,70%
30,80%
43%
4
9,30%
21%
11,10%
1
Homens
15,50%
81,90%
43,50%
33,10%
48,20%
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
87,30%
Segundo dados do Ministério da Saúde (Brasil, 2007) um estudo desenvolvido em Belém junto a 2.620
adultos, os homens apresentam 48,2% de excesso de peso, 87,3% de consumo de frutas e hortaliças menor do que
cinco dias por semana, 43,5% de consumo excessivo de álcool, 21,0% de tabagismo, 43,0% de baixa atividade física no
lazer, 30,8% de sedentarismo, 15,5% de hipertensão arterial, 5,4% de diabetes e 14,0% de dislipidemias; para as
mulheres, os valores foram respectivamente: 33,1%, 81,9%, 11,1%, 9,3%, 72,1%, 59,0%, 16,7%, 4,2% e 16,7%, conforme ilustra figura 1.
9
Figura I – Prevalência de fatores de risco para doenças crônicas não – transmissíveis em homens e mulheres, Belém, 2006.
Fonte: Brasil, 2007.
670
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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Legenda:
1 - Excesso de peso; 2 - Consumo de frutas e hortaliças menor do que cinco dias por semana;
3 - Consumo excessivo de álcool; 4 - Tabagismo; 5 - Baixa atividade física no lazer;
6 - Sedentarismo; 7 - Hipertensão arterial auto-referida; 8 - Diabetes; 9 – Dislipidemias.
Vários são os fatores de risco destas doenças: o excesso de peso, o sedentarismo, a dieta pobre em frutas e
hortaliças, o hábito de fumar, a ingestão de excesso de bebida alcoólica, a hipertensão arterial e a diabetes, entre
outros (WHO, 2003). Todavia, estes fatores, comuns a muitas DCNT, são passíveis de monitoramento e intervenção
(Monteiro et al, 2005). No campo da nutrição destacam-se como desafio a redução da prevalência do excesso de
peso, o aumento do consumo de frutas e hortaliças e a redução do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, além da
contribuição na luta contra o sedentarismo e o tabagismo e na detecção e tratamento precoces da hipertensão
arterial e da diabetes.
A Pesquisa de Orçamento Familiar realizada em 2002 e 2003 aponta para a região Norte 35,9% de excesso de
peso em homens e 35,0% em mulheres (IBGE, 2005), sendo 38,7% na zona urbana e 28,0% na zona rural para os
homens e respectivamente 34,8% e 35,7% para as mulheres. Observa-se, ainda, o aumento acentuado do excesso de
peso nos últimos trinta anos: nos homens era 22,4% em 1974 e nas mulheres 25,9%. O excesso de peso atinge todos
os estratos sociais: na faixa de menor renda atinge 27,0% dos homens chegando a 52,3% na faixa de maior poder
aquisitivo; entre as mulheres observa-se 38,2% na faixa de menor renda e 34,5% na faixa de maior renda, seguindo a
tendência mundial dos países em desenvolvimento (Monteiro et al, 2004). Aliado a este fato, a dieta local se
caracteriza pelo baixo consumo de frutas e hortaliças, que representam menos de 0,5% das calorias diárias quando a
recomendação é de cerca de 25% (Brasil, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que a população acadêmica da UFPA comporta diferentes estratos sociais, todos eles sujeitos a
fatores de risco para as DCNT, o grande problema de saúde pública atual em todas as regiões do país, e que seu papel
precípuo é “gerar, difundir e aplicar o conhecimento nos diversos campos do saber, visando a melhoria da qualidade
de vida do ser humano em geral, e em particular do amazônida” (www.ufpa.br), este programa se justifica pela olhar
particular à sua comunidade e possibilidade de extensão aos familiares e população em geral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Barreto ML, Carmo EI. Tendências recentes das doenças crônicas no Brasil. In: Lessa I, organizador. O adulto brasileiro
e as doenças da modernidade: epidemiologia das doenças crônicas não-transmissíveis. São Paulo: Hucitec; 1998. p.
15-27
Barreto ML, Carmo EI. Tendências recentes das doenças crônicas no Brasil. In: Lessa I, organizador. O adulto brasileiro
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15-27.
Brasil. Coordenação Geral de Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população Brasileira. Brasília:
Ministério da Saúde, 2005.
Brasil, Ministério da Saúde. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico.
Brasília: MS, 2007. Moura EC, Dias RM, Reis RC – Determinantes do consumo de frutas, legumes e verduras na
população adulta de Belém, Pará, 2005. Nutrir, V.32, n.2, p. 29-40, 2007.
IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2002-2003. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
World Health Organization [WHO]. The world health report 2002: reducing risks, promoting healthy life. Geneva;
2002.
Monteiro CA, Moura EC, Jaime PC, Lucca A, Florindo AA, Figueiredo ICR, Bernal R, Silva NN. Monitoramento de fatores
de risco para doenças crônicas por meio de entrevistas telefônicas: métodos e resultados no Município de São Paulo.
Revista de Saúde Pública. São Paulo, v.39, n.1, p.47-57, 2005.
World Health Organization [WHO]. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Geneva; 2003.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
CUIDANDO DO ENLUTADO: UM ESPAÇO DE ACOLHIMENTO GRUPAL
Fernanda Nogueira Neves (Bolsista)
Airle Miranda de Souza (Coordenadora)
HUBFS/UFPA
RESUMO: O luto é uma reação normal à morte de pessoas queridas e às perdas por separação, de bens materiais e de mudanças.
Contudo, requer uma necessidade de adaptação à condição de viver sem o objeto perdido. Ele não é um estado estático e sim um
processo, um tempo de elaboração e transformação que atinge indivíduos e grupos, confundindo-os e desestabilizando seu
funcionamento (Bromberg, 2000). Para que o enlutado possa retomar sua identidade, sem o objeto perdido, e possa refazê-la com
outros objetos, é fundamental o trabalho do luto (Aberastury, 1978 apud Bromberg, 2000). Neste sentido propusemos um grupo
de suporte no luto, que é uma modalidade de psicoterapia breve ou longa, de suporte em grupo, com questões relacionadas ao
luto, durante o período de crise. O objetivo deste trabalho consistiu em realizar e coordenar esses grupos aos indivíduos que
sofreram perdas, por morte, de pessoas significativas. A metodologia foi de grupos abertos, homogêneos, semanais, com a
modalidade de psicoterapia de suporte de curto prazo, que é indicada para intervenções em crise (Cordiolli, 1993). Os grupos de
suporte aconteceram no Hospital Universitário Bettina Ferro Souza de 01 de fevereiro à 30 de Setembro de 2007, durante as
quartas-feiras. Participaram 19 pacientes, de ambos os sexos, apresentando perdas por morte: do cônjugue, do filho(a), pai ou
mãe, irmão(a) e amigo, ocasionadas, por: doenças físicas, acidentes e assassinatos. Os enlutados inicialmente apresentaram um
estado de desorganização com a presença de sintomas físicos, como: dores de cabeça, taquicardia, entre outros. O espaço grupal
proporcionou acolhimento, orientação e educação em saúde, uma reestruturação das funções egóicas, um reinvestimento em
novos objetos e ainda um crescimento emocional. O grupo de suporte favoreceu a minimização de manifestações psicopatológicas
ligadas ao luto, bem como a qualidade de vida desses individuos contribuindo assim para as ações preventivas em saúde.
Palavras-chave: Perda; luto; grupo de suporte.
INTRODUÇÃO:
O luto é uma reação normal à morte de pessoas queridas e às perdas por separação, de bens materiais e de
mudanças. Contudo, requer uma necessidade de adaptação à condição de viver sem o objeto perdido. O enlutado
deverá encarar face a face, as implicações dessa perda em seu presente e futuro (Bromberg, 2000).
Este é um processo de elaboração e resolução de uma perda real ou fantasiosa, pelo qual todos passamos
com maior ou menor sucesso. O êxito leva as pessoas a encontrarem novos significados as questões da vida, e o
fracasso pode trazer várias complicações médicas, psicológicas e sociais (Schiliemann et al. 2002).
Para Engel (1961), uma perda ocasiona no indivíduo sofrimento; um descompasso no funcionamento global
que pode durar dias, semanas e até meses, estado este denominado de crise. De acordo com Coelho (2001), ele nada
mais é do que um processo de cicatrização dolorosa, e necessário, onde ocorre a despedida de uma situação para que
o indivíduo possa se adaptar a nova realidade. Podendo ser acompanhado de um estado depressivo, ou maníaco; de
tristeza, ou negação da tristeza; de culpa e de ambivalência; de negação da morte, ou de identificação com a pessoa
perdida; de defesas predominantemente maníacas, ou mais obsessivas (Klein [1940] 1996; apud Quinodoz, 1993).
Mas Bromberg (2000), ainda ressalta que o luto não é um estado estático e sim um processo, um tempo de
elaboração e transformação que atinge indivíduos e grupos, desestruturando-os pela falta, confundindo-os e
desestabilizando seu funcionamento. Uma reação comum da pessoa que está em luto é seguir o destino do objeto,
morrer para não ter que se separar.
O processo de elaboração frente à ocorrência de uma perda envolve três tarefas distintas, afirmam Busse e
Blazer (1992) que descrevem da seguinte forma: que a perda seja cognitivamente aceita; que a perda seja
emocionalmente aceita; e que os mecanismos internos da pessoa e o mundo externo sejam alterados para se
harmonizarem à nova realidade.
Pois para Viorst (2002), é somente através dessa elaboração, da renuncia de desejos e idealizações que o ser
humano cresce, desenvolve-se, torna-se pessoa. No entanto a dor da perda sempre deixará marcas impressas que o
acompanharão ao longo da vida.
E para que o enlutado possa retomar sua identidade, sem o objeto perdido, e possa refazê-la com outros
objetos, é fundamental o trabalho do luto. (Aberastury, 1978 apud Bromberg, 2000)
Neste sentido propusemos um grupo de suporte no luto, que é uma modalidade de psicoterapia breve ou
longa e de suporte em grupo, que visa atingir as questões relacionadas ao luto, durante o período de crise. Ele é
672
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
definido como um grupo operativo visando o desenvolvimento nas fases do luto, do choque e desorganização até a
organização, onde há um desinvestimento no objeto perdido e um reinvestimento em novos objetos.
Este espaço de acolhimento, de orientação e educação em saúde, tem o objetivo de proporcionar uma rede
de apoio social e contribuir para a melhoria da qualidade de vida, estimulando o desenvolvimento biopsicossocial do
enlutado, minimizando a ocorrência das manifestações psicopatológicas crônicas e do luto adiado. Favorecendo assim
o processo de elaboração e resolução do luto, contribuindo para o estabelecimento das condições de vida
semelhantes aos existentes antes da perda.
OBJETIVOS PROPOSTOS:
Realização e Coordenação de grupos de suporte aos indivíduos que sofreram perdas, por morte, de pessoas
significativas.
METODOLOGIA:
Foram realizados grupos de suportes, com características específicas de grupo aberto, homogêneo (na
situação de perda), semanal, utilizando a modalidade de psicoterapia de suporte de curto prazo, ou longo em alguns
casos, que é indicada para intervenções em crise, onde segundo Cordioli (1993), adotam-se predominantemente
medidas de modificação do ambiente externo, como, remoção do fator estressante e afastamento do paciente de
uma situação conflitiva, que tem como objetivos o alivio dos sintomas agudos; prevenir descompensações maiores;
desenvolver a capacidade de enfrentar melhor futuras crises; e restaurar o nível prévio de equilíbrio.
Período e local de realização:
Os grupos de suporte aconteceram no período de 01 de Fevereiro a 30 de Setembro de 2007, durante as
quartas-feiras das 11:00 às 12:00 horas da manhã, na sala 33 do Hospital Universitário Bettina Ferro Souza.
Procedimento:
Os pacientes encaminhados de outros serviços, ou com demanda espontânea, por terem sofrido uma perda
real envolvendo morte de um ente querido e que estavam vivenciando uma situação de crise relacionada à perda,
primeiramente foram atendidos no serviço de plantão ao enlutado (APPESP-AMBAD) e, posteriormente
encaminhados ao grupo.
Limitações:
Durante a realização deste trabalho não foram observadas limitações.
Proposições:
O indivíduo em luto necessita de um espaço de favorecimento para a vivência desse momento do ciclo de
vida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram realizados 29 grupos de suporte, com a participação de 5 a 7 pacientes por grupo, com um total de 19
pacientes de ambos os sexos, sendo que por se tratarem de grupos abertos, houve uma rotatividade de pacientes,
tanto para o início quanto para o término da participação de cada um.
Estes apresentaram os seguintes tipos de perdas:
Æ Morte de um ente querido por doença: câncer, no estômago, pulmão; cardiopatias, sendo infarto e parada
cardíaca e um por enfisema pulmonar.
Æ Assassinato: por arma de fogo e por faca.
Æ Acidente: de carro e no trabalho, sendo esse eletrocutado.
Quanto ao grau de parentesco com o falecido, a maioria(6) perdeu o filho(a), em segundo(5) o cônjuge,
depois(4) pai ou mãe, seguido(3) de irmão(a) e 1 pessoa perdeu um amigo.
673
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Os pacientes ao iniciarem o grupo sempre apresentavam choro freqüente, reclamavam de sintomas físicos,
tais como, dores de cabeça, taquicardia, insônia, entre outros, em uma singularidade nos discursos de já terem
realizados exames médicos e não atestarem nada, muitas vezes acreditavam estarem enlouquecendo, pois a confusão
de sentimentos era tamanha que já se sentiam desordenados sem condição para realizarem nenhuma atividade.
Sentimentos comuns expressados, era a culpa, a raiva e ora a sua incapacidade perante a morte, eles
afirmavam que poderiam ter feito algo para evitar a morte de seu ente, e em outras vezes que o falecido havia o
deixado para trás de propósito, para que ele sofresse. Mas esse sentimento era momentâneo e logo esquecido.
Foi bastante comum entre os relatos, o desejo de morrer e em alguns casos de até dar fim a sua própria vida,
mas esse pensamento ia de encontro as suas crenças religiosas que estavam bastante exacerbadas no momento da
crise, ou pela revolta em relação a Deus ou pela confiança de que todo o sofrimento cessaria através da fé.
Todos os pacientes apresentaram dificuldades em continuar suas atividades normais de vida, ou seja,
atividades ocupacionais, todos relataram que a vida não tinha mais sentido e que o falecido havia levado embora uma
parte de si.
Na medida em que os grupos iam acontecendo o terapeuta se portava de modo acolhedor, mostrando
preocupação, envolvimento e simpatia, convidando o grupo para refletir acerca da esperança de reencontrar a figura
perdida e explicitar o medo da morte e a culpa em relação a perda, estimulando assim a fala, o que contribuiu para a
coesão grupal e a catarse, onde desse modo os sintomas mais agudos do luto foram aliviados.
Para ajudar os enlutados em sua reorganização e na contenção de suas angústias o terapeuta teve um
controle ativo, funcionou durante o grupo como “ego- auxiliar”, sugeriu em algumas situações de tomada de decisões,
aconselhou nas atitudes dos pacientes de modo que eles conseguiram voltar suas atenções ao aqui e agora, e os
aspectos sadios da personalidade foram reforçados.
Através da orientação e educação do terapeuta acerca dos sentimentos descritos pelos pacientes, puderam
entender o processo pelo qual estavam vivendo e conseguiram lidar com os sintomas do dia-a-dia, evitando
complicações mais graves, como por exemplo, em um caso de desespero e angústia intensa, o desejo de se suicidar e
a concretização desse desejo, foi evitado em virtude de terem compreendido esses sintomas.
O terapeuta em alguns casos confrontou o conteúdo trazido pelo enlutado para que ele percebesse algo em
que não havia ainda percebido e estimulou os pacientes a acreditarem nas suas capacidades, contribuindo para o
fortalecimento do ego que estava fragilizado no momento da crise e ainda para o crescimento emocional desses
indivíduos, que em alguns casos com o grupo de suporte se conscientizaram que precisavam de uma psicoterapia
individual, pois com o luto, outros conflitos inconscientes foram aflorados.
Os pacientes relataram que os grupos foram de tal modo acolhedor que conseguiram expressar seus
sentimentos e emoções reprimidas, compartilhando com os demais suas dores e suas histórias passaram a
compreender que outras pessoas entendiam o que estavam sentindo e desse modo conseguiram viver o momento de
maneira satisfatória, conseguindo no final re-significar suas perdas e alguns pacientes já tinham conseguido até
formar novos vínculos.
Todos enfatizaram que sozinhos não conseguiriam vivenciar esse momento de dor, e que quando
compartilharam com os demais, se sentiram mais fortalecidos para enfrentarem num futuro outras situações de crise.
Os resultados obtidos com a realização dos grupos de suporte foram positivos de modo que contribuíram
para a vivencia dos enlutados nas fases do luto e ainda propiciou uma importante rede de apoio social a esses
indivíduos, o que corroborou com a literatura encontrada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência da perda é um dos eventos mais estressantes que podemos viver. Todos nós temos a tendência
a estabelecer laços afetivos com outras pessoas. Inicialmente nos apegamos à nossa mãe e isso acontece segundo
Bowlby (1984) devido a necessidade que temos de segurança e proteção.
O luto pela morte de alguém que amamos talvez seja a mais intensa experiência de perda que pode nos
acontecer, e a dor é real, e não é uma experiência simples, nem fácil por isso alguma pessoa precisam de mais ajuda
do que outras. Ninguém pode ensinar como assumir o luto, pois o processo de cada pessoa é único, mas a “cura” de
problemas emocionais relacionados ao luto pode chegar através de profissionais especializados.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Bromberg (2000), afirma que o luto gera crise e Aguiar et al.(1993), enfatiza que durante uma crise o
indivíduo é mais suscetível de ser influenciado por outras pessoas ou circunstancias, sendo um momento propício
para intervenções saudáveis dos agentes da saúde, bem como para intervenções prejudiciais, que podem levar a
grave desestruturação da personalidade.
O grupo de suporte foi, para estes pacientes enlutados, um início no restabelecimento das suas relações
interpessoais, a constância, o carinho, o cuidado e a comunicação precisa e franca entre os participantes, foram
“ingredientes”necessários, para atender as demandas desses indivíduos, esta modalidade de assistência psicológica
apresentou-se eficaz nas situações de crise.
Ressaltamos na necessidade de continuidade desse trabalho, pois alguns pacientes ainda se encontram em
processo de luto e a demanda para este serviço junto ao plantão psicológico ao enlutado tem sido crescente, pois este
modelo de assistência ao enlutado, estimula a promoção de saúde e uma melhor qualidade de vida, contribuindo às
ações preventivas em saúde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AGUIAR, R W, LAGO, P F, STRASSBURGER, M, BLAYA, D & CAMPOS, M T – intervenções em crises. artes médicas. porto
alegre.1993.
BOWLBY, J. Apego e Perda. São Paulo, Martins Fontes, 1984.
BROMBERG, M. H. P. F. – As psicoterapias em situação de perda e luto. Ed. Livro Pleno.São Paulo. 2000.
BUSSE, R. W. & BLAZER, E. G. – “Perda e distúrbios de ajustamento”. In: Psiquiatria geriátrica. Artes médicas. Porto
Alegre. 1992.
COELHO, M. O. – “A dor da perda”. In: Angerani-Camon, V. A. (org). – Psicossomática e a Psicologia da dor. Pioneira.
São Paulo. 2001.
CORDIOLLI A. V. – Psicoterapias: abordagens atuais. Artes Médicas. Porto Alegre. 1993.
ENGEL, G. L. – Is Grief a diease? A challenge for medical researt. Psicossomatic. Vol.23. 1961.
QUINODOZ, J. A Solidão domesticada. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre. 1993.
SCHILIEMANN, A.L.; NACIF, M.R.G.& OLIVEIRA, M. C. Luto e Saúde. In: Franco, M.H.P.(org). Estudos avançados sobre o
luto. São Paulo: Livro Pleno, 2002.
VIORST, J. - Perdas Necessárias. São Paulo. 20 ed.: Melhoramentos. 2002.
675
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO
HUJBB: JULHO DE 2006 A JULHO DE 2007
Santos, A.S.
Cartágenes, V.D.
Dores, M.S.S.
Lima, S.S.
Duarte, V.B.
NVE/HUJBB/UFPA
RESUMO: Introdução: O avanço tecnológico na área da saúde não excluiu as doenças infecciosas transmissíveis como importantes
causas de morbi-mortalidade na população. Isto exige estabelecimento de estratégias mais eficientes para identificação oportuna
desses agravos e de medidas de prevenção e controle. O ambiente hospitalar, importante fonte de detecção de doenças
infecciosas, principalmente emergentes e reemergentes, é considerado instituição de saúde prioritária para o desenvolvimento de
ações de vigilância epidemiológica, incrementando e fortalecendo essas estratégias. Objetivos: Estudar os casos investigados e
notificados de Doenças de Notificação Compulsória atendidos nas enfermarias do Hospital Universitário João de Barros Barreto.
Métodos: Descritivo, analítico, transversal, retrospectivo, com análise de dados de pacientes notificados no SINAN, acompanhados
pelo Núcleo de Vigilância Hospitalar, de julho de 2006 a julho de 2007, conforme critérios do Ministério da Saúde. Resultados:
Notificados 1163 casos de DNC dos quais 1105 (95,0%) confirmadas e 58 (5,0%) descartados. Das confirmadas, 858 (77,7%) foram
laboratorialmente e 247 (22,3%) pelo critério clínico-epidemiológico. As mais incidentes foram tuberculose (420; 38,0%), meningite
(219; 19,8%), AIDS (136; 12,3%), leishmaniose visceral (107; 9,7%) e dengue (61; 5,5%). Maiores índices de letalidade ocorreram
com AIDS (32,4%), tétano acidental (25,0%), meningite (16,9%). Faixa etária de maior incidência da tuberculose foi 20 a 29 anos
(26,2 %), meningite 1 a 6 anos (20,0%), AIDS 30 a 39 anos (30,9 %), leishmaniose visceral 1 a 6 anos (53,3 %). Conclusão: Mesmo
com planejamento em saúde pública com enfoque nas medidas de prevenção e controle das Doenças de Notificação Compulsória,
estes agravos ainda representam preocupação constante no cenário epidemiológico, sobretudo na região amazônica. As
informações geradas no Núcleo de Vigilância Epidemiológica contribuem para orientar o planejamento do Hospital, ser fonte de
pesquisa acadêmica e guiar medidas de controle desses agravos nas comunidades.
Palavras-chave: Doenças de notificação compulsória; núcleos de vigilância epidemiológica hospitalar; doenças infecciosas
transmissíveis.
INTRODUÇÃO
As Doenças de Notificação Compulsória (DNC) são definidas no âmbito do Ministério da Saúde pela Portaria
n° 5, de 21 de fevereiro de 2006, e seu elenco é constituído mediante critérios que incluem regulamento sanitário
internacional, compromissos internacionais, surtos e agravos inusitados, além da magnitude, do potencial de
disseminação (transmissibilidade), da vulnerabilidade e transcendência (severidade, relevância econômica e social)
das doenças em questão (ROUQUAYROL & ALMEIDA FILHO, 2003).
Acuña & Romero (1984 apud WALDMAN, 1998, p.2), salientam que a pesquisa epidemiológica é responsável
pela produção do conhecimento sobre o processo saúde-doença por meio de estudo da freqüência e distribuição das
doenças na população humana com a identificação de seus fatores determinantes e da avaliação do impacto da
atenção à saúde sobre as origens, expressão e curso da doença.
A partir da Constituição de 1988 e da Lei Orgânica da Saúde (lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990), pela
primeira vez, define-se que é dever do Estado a garantia da saúde dos cidadãos por meio de medidas abrangentes e
tem-se a definição de Vigilância Epidemiológica como um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento,
detecção ou prevenção de quaisquer mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual ou
coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.
A Vigilância Epidemiológica (VE) é uma ação exclusiva do poder público e enquanto este não estiver
convencido da necessidade e da importância de uma rede forte e eficiente de VE, e que este fortalecimento passa
pela política de recursos humanos, o país continuará vulnerável a ser surpreendido por surtos e epidemias de doenças
emergentes e reemergentes. Os serviços de VE são os elos da corrente formada pelos diferentes atores envolvidos no
processo de investigação e controle das doenças transmissíveis, e o seu fortalecimento é que possibilitará a
revalorização da epidemiologia descritiva, como coloca Barata (1997 apud LUNA, 2002 p.240), com o desenvolvimento
de métodos e técnicas de análise mais modernos e apropriados.
Segundo Luna (2002, p.237), à exceção das doenças imunopreveníveis, as demais doenças infecciosas e
parasitárias vêm se mantendo num patamar quase constante nas últimas duas décadas, representando cerca de
676
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
10,0% das causas de internações hospitalares na rede hospitalar pública e contratada pelo SUS anualmente. Ao
discutir esta situação, não sem ironia, afirma existir no Brasil não apenas doenças emergentes e reemergentes, mas
também as “permanentes”.
Por recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1975, o Ministério da Saúde instituiu o
Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio de legislação específica (Lei nº 6.259/75 e Decreto nº
78.231/76). Desse instrumento legal destaca-se no artigo 8º que é dever de todo cidadão comunicar à autoridade
sanitária local a ocorrência de fato, comprovado ou presumível, de caso de doença transmissível, sendo obrigatória a
médicos e outros profissionais de saúde, no exercício da profissão, bem como aos responsáveis por organizações e
estabelecimentos públicos e particulares de saúde e ensino, a notificação de casos suspeitos ou confirmados de
doenças e agravos.
Como forma de incrementar a detecção das DNC e para fortalecer as ações de VE nos Hospitais, o Ministério
da Saúde instituiu em Portaria nº. 2529/GM de 23 de novembro de 2004 "o Subsistema Nacional de Vigilância
Epidemiológica em Âmbito Hospitalar", cuja implantação está regulamentada na Portaria nº. 01-SVS/MS de 17 de
janeiro de 2005. Este Subsistema define os hospitais de referência, incentiva a implantação de Núcleos Hospitalares
de Epidemiologia e tem como finalidade o aperfeiçoamento da VE através da ampliação da rede de notificação e
investigação de doenças transmissíveis mediante o aumento da sensibilidade e da oportunidade na detecção de
agravos de notificação compulsória.
Assim, foi constituída a rede de hospitais de referência em território nacional, totalizando 190 instituições,
sendo o Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) um dos sete hospitais do Estado do Pará, classificado
como nível III desde setembro de 2005. O Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NVE) do HUJBB foi constituído e
implantado em janeiro de 2004.
As informações geradas no NVE contribuem para orientar o planejamento e a gestão do HUJBB, além de
serem fontes de pesquisas acadêmicas e possibilitarem guiar as medidas de controle das DNC nas comunidades. O
NVE pretende manter a filosofia de sua Instituição e proporcionar, de forma qualitativa, a oportunidade de articular o
ensino, a prática e a pesquisa na área de epidemiologia hospitalar como extensão universitária.
1.1. Objetivos
1.1.1. Objetivo Geral
¾
Estudar os casos investigados de Doenças de Notificação Compulsória atendidos nas enfermarias do
Hospital Universitário João de Barros Barreto.
1.1.2. Objetivos Específicos
¾ Avaliar os casos acompanhados nas unidades de internação do Hospital Universitário João de Barros
Barreto no que se refere às Doenças de Notificação Compulsória;
¾
Analisar aspectos demográficos das Doenças de Notificação Compulsória nas enfermarias do
Hospital Universitário João de Barros Barreto;
1.2. Justificativa
As ações em vigilância epidemiológica, por se constituírem em atividades fundamentais nos serviços de
saúde, têm se destacado em importância no contexto de saúde pública. Estas atividades garantem informações
relevantes, conhecimentos que possibilitam intervenções eficazes para o controle das doenças e agravos
transmissíveis. É importante ressaltar que a vigilância epidemiológica não se restringe apenas a doenças, mas abrange
também os fatores que influenciam a ocorrência destas. É desta maneira, e com esse propósito que este estudo está
sendo realizado, a fim de avaliar o perfil clínico-epidemiológico das DNC e a partir disso propiciar a discussão das
medidas que estão sendo adotadas pela vigilância epidemiológica para prevenção e controle das DNC.
1.3. Metodologia
Empregou-se o modelo de estudo descritivo-analítico observacional transversal, retrospectivo, empregandose técnicas de análises exploratórias para avaliação do perfil epidemiológico dos dados. Definiu-se como população de
referência os pacientes atendidos nas enfermarias do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), tendo
como variáveis estudadas: características dos casos internados, características dos casos notificados, características
677
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
dos casos descartados. Foi definida como população de estudo amostra que incluem todos os pacientes internados,
no período de julho de 2006 a julho de 2007, de todas as faixas etárias, independente do tempo de internação e da
gravidade ou evolução, com qualquer diagnóstico médico de internação.
Esta pesquisa desenvolveu-se na cidade de Belém, Pará, no Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NVE) do
Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), referência nacional para atendimento em Doenças
Sexualmente Transmissível e AIDS, regional para infectologia, pneumologia e tuberculose, e estadual para
endocrinologia e diabetes. Atua nas áreas de internação, ambulatório, assistência domiciliar, diagnose e terapia.
Dispõem de capacidade instalada total de 320 leitos, sendo 29 de retaguarda, incluindo Unidade de Terapia Intensiva,
isolamentos, recuperação pós-anestésica e diálise peritoneal. Além das atividades assistenciais, o HUJBB é também
campo de ensino (médio, graduação e pós-graduação), das diversas áreas de saúde, contribuindo com o processo de
formação e qualificação, integrando assim o tripé ensino, pesquisa e extensão.
O NVE do HUJBB é formado por uma equipe multiprofissional, envolvendo enfermeiros, médicos e analistas
de sistemas, em parceria com os diversos setores do hospital e em interação com as demais esferas do sistema de
saúde pública, em consonância com os critérios da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil
(SVS/MS) para guiar suas ações, bem como capacitar o corpo técnico do HUJBB, com enfoque principal na lista
nacional de agravos de notificação compulsória.
Todos os casos acompanhados pela equipe do NVE foram digitados em um banco de dados no programa EpiInfo, e todos os casos suspeitos e/ou confirmados de Doenças de Notificação Compulsória foram digitados no Sistema
de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde.
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram acompanhados pelo NVE do HUJBB um total de 1163 casos. Deste total, 58 (5,0%) não foram
concluídos como Doença de Notificação Compulsória (DNC) e foram descartados, 858 (74,0%) foram confirmados e
encerrados pelo critério laboratorial e 247 (21,0%) foram confirmados e encerrados pelo critério clínico e
epidemiológico (Figura 1).
58; 5,0%
247; 21,0%
Critério Clínico e Epidemiológico
Critério Laboratorial
Descartado
858; 74,0%
Figura 1 - Distribuição dos casos acompanhados pelo NVE/HUJBB conforme encerramento, unidades de internação do
HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Fonte: SINAN/NVE(2007) – HUJBB
Os casos notificados de DNC têm um prazo de conclusão e encerramento de 60 (sessenta) dias. Nesse
período, é fundamental a parceria com o laboratório de análises clínicas e de patologia clínica para o êxito das
investigações, pois todos os exames solicitados que envolvam estes agravos devem ser de conhecimento imediato do
NVE. Portanto, os resultados laboratoriais devem estar vinculados à rotina do NVE, complementando o diagnóstico de
confirmação dos casos suspeitos a serem encerrados e, muitas vezes, servem como fonte de conhecimento de novos
casos que ainda não são de conhecimento do NVE, e que, logo assim, ainda não foram notificados.
Na Tabela 1, os casos de DNC foram distribuídos conforme a incidência e letalidade.
678
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Tabela 1 - Distribuição dos casos notificados de Doenças de Notificação Compulsória de acordo com a incidência e
letalidade, unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Doenças de Notificação Compulsória
Total
Incidência
%
Óbito
Letalidade
%
Tuberculoses
420
38,0
36
8,6
Meningites
219
19,8
37
16,9
AIDS
136
12,3
44
32,4
Leishmaniose Visceral
107
9,7
6
5,6
Dengue
61
5,5
0
0,0
Leptospirose
42
3,8
2
4,8
Hepatites
38
3,4
5
13,2
Acidente c/ animais peçonhentos
18
1,6
0
0,0
Malária
22
2,0
0
0,0
Tétano Acidental
12
1,1
3
25,0
Doença de Chagas
7
0,6
1
14,3
Varicela
7
0,6
1
14,3
Febre Tifóide
4
0,4
0
0,0
Hanseníase
3
0,3
0
0,0
PFA
0
0,0
0
0,0
Coqueluche
2
0,2
0
0,0
Doenças Exantemáticas
0
0,0
0
0,0
Eventos Adversos Pós Vacinais
2
0,2
0
0,0
Leishmaniose Tegumentar
2
0,2
0
0,0
Atendimento Anti-Rábico
1
0,1
0
0,0
Esquistossomose
1
0,1
0
0,0
Difteria
1
0,1
0
0,0
1105
-
135
-
TOTAL
Fonte: SINAN/NVE (2007) - HUJBB
Os maiores índices de letalidade foram observados na Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - AIDS
(32,4%), no Tétano Acidental (25,0%) e nas Meningites (16,9%).
A mortalidade por AIDS no Brasil é um relevante problema de Saúde Pública que atinge, de forma
heterogênea, diferentes segmentos da população (REIS; SANTOS; CRUZ, 2007, p.196).
Conforme dados do Guia de Vigilância Epidemiológica (GVE, 2005, p.699 a 700) no Tétano Acidental a
letalidade está acima de 30,0%, em todo o país, afetando principalmente os menores de cinco anos e os idosos, sendo
considerada elevada quando comparada com os países de maior desenvolvimento econômico, que apresentam taxas
entre 10,0% a 17,0%.
A VE para as Meningites se constitui em atividade prioritária para o controle da doença, justamente porque a
letalidade da doença é determinada pelo padrão assistencial, variando de 2,0 a 4,0% nos países desenvolvidos,
podendo alcançar patamares superiores a 50,0% nas regiões em desenvolvimento. Além disso, a proporção de casos
679
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
fatais pode variar em função do esquema terapêutico adotado (CLEMENTS; GILBERT, 1990; BIJLMER,1991; SCHUCHAT
et al., 1997 apud FREITAS; MERCHÁN-HAMANN, 2004 p.26).
A Tabela 2 aponta a distribuição da totalidade dos casos de DNC nos menores de 13 anos de idade.
Tabela 2. Distribuição dos casos notificados de Doenças de Notificação Compulsória de acordo com faixa etária 0 a 12
anos, unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Doenças de Notificação Compulsória
<1 ano
%
1 a 6 anos
%
7 a 12 anos
%
Total
%
Meningites
37
30,3
44
36,1
41
33,6
122
41,6
Leishmaniose Visceral
14
17,9
57
73,1
7
9,0
78
26,6
Tuberculoses
5
17,2
15
51,7
9
31,0
29
9,9
Dengue
2
8,0
7
28,0
16
64,0
25
8,5
Acidente c/ animais peçonhentos
0
0,0
2
22,2
7
77,8
9
3,1
Malária
1
14,3
3
42,9
3
42,9
7
2,4
Hepatites
0
0,0
3
60,0
2
40,0
5
1,7
Varicela
2
50,0
0
0,0
2
50,0
4
1,4
Leptospirose
0
0,0
1
33,3
2
66,7
3
1,0
Tétano Acidental
0
0,0
0
0,0
3
100,0
3
1,0
Febre Tifóide
0
0,0
0
0,0
3
100,0
3
1,0
AIDS
1
50,0
1
50,0
0
0,0
2
0,7
Coqueluche
2
100,0
0
0,0
0
0,0
2
0,7
Difteria
0
0,0
1
100,0
0
0,0
1
0,3
64
21,8
134
45,7
95
32,4
293
100,0
TOTAL
Fonte: SINAN/NVE (2007) - HUJBB
O grupo das crianças representou 26,5% do total de notificações (293/1105). Neste grupo, as cinco doenças
mais freqüentes foram Meningites (122/295; 41,6%), Leishmaniose Visceral (78/295; 26,6%), Tuberculose (29/295;
9,9%), Dengue (25/295; 8,5%) e Acidentes por Animais Peçonhentos (9/295; 3,1%). A faixa etária de 1 a 6 anos
mostrou-se a de maiores incidências para meningites (44/122; 36,1%), Leishmaniose Visceral (57/78; 73,1%) e
Tuberculoses (15/29; 51,7%), e a faixa etária de 7 a 12 anos para Dengue (16/25; 64,0%).
Na Tabela 3 estão distribuídos os casos de DNC em indivíduos com 13 anos ou mais de idade, representando
73,5% (812/1105). As cinco doenças mais freqüentes neste grupo foram: Tuberculose (391/812; 48,2%), AIDS
(134/812; 16,5%), Meningites (97/812; 11,9 %), Leptospirose (39/812; 4,8%) e Dengue (36/812; 4,4%).
Tabela 3. Distribuição dos casos notificados de Doenças de Notificação Compulsória de acordo com faixa etária, 13
anos ou mais, unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Doenças de Notificação
Compulsória
13 a
19
%
20 a
29
%
30 a
39
%
40 a
49
%
50 a
59
Tuberculoses
22
5,6
110
28,1
86
22,0
72
18,4
53
13,
6
48
AIDS
1
0,7
32
23,9
42
31,3
39
29,1
16
11,
9
4
680
%
≥
60
Tot
al
%
12,
3
391
48,2
3,0
134
16,5
%
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Meningites
29
29,
9
34
35,1
10
10,3
16
16,5
5
5,2
3
3,1
97
11,9
Leptospirose
6
15,
4
12
30,8
9
23,1
6
15,4
2
5,1
4
10,
3
39
4,8
Dengue
7
19,
4
10
27,8
8
22,2
4
11,1
4
11,
1
3
8,3
36
4,4
Hepatites
1
3,0
4
12,1
8
24,2
9
27,3
6
18,
2
5
15,
2
33
4,1
Leishmaniose Visceral
9
31,
0
9
31,0
8
27,6
1
3,4
2
6,9
0
0,0
29
3,6
Malária
1
6,7
5
33,3
6
40,0
3
20,0
0
0,0
0
0,0
15
1,8
Acidente c/ Animais
Peçonhentos
3
33,
3
1
11,1
1
11,1
1
11,1
1
11,
1
2
22,
2
9
1,1
Tétano Acidental
0
0,0
1
11,1
3
33,3
2
22,2
0
0,0
3
33,
3
9
1,1
Doença de Chagas
1
14,
3
1
14,3
2
28,6
1
14,3
1
14,
3
1
14,
3
7
0,9
Varicela
0
0,0
2
66,7
0
0,0
0
0,0
0
0,0
1
33,
3
3
0,4
Hanseníase
0
0,0
1
33,3
0
0,0
0
0,0
1
33,
3
1
33,
3
3
0,4
Eventos Adversos Pós Vacinais
0
0,0
2
100,
0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
2
0,2
Leishmaniose Tegumentar
0
0,0
2
100,
0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
2
0,2
Febre Tifóide
0
0,0
1
100,
0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
1
0,1
Atendimento Anti-Rábico
0
0,0
0
0,0
0
0,0
1
100,
0
0
0,0
0
0,0
1
0,1
Esquistossomose
0
0,0
0
0,0
1
100,
0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
1
0,1
80
9,9
227
28,0
184
22,7
155
19,1
91
11,
2
75
9,2
812
100,
0
TOTAL
Fonte: SINAN/NVE (2007) - HUJBB
Nos adultos, a Tuberculose apresentou-se como a DNC de maior incidência (391/812; 48,2%). Na década de
40, no século passado, a eficiência da terapêutica instituída controlou a tuberculose na população. Atualmente, é
considerada uma doença reemergente, reintroduzida no cenário epidemiológico com a emergência da AIDS, a partir
de 1981. Embora seja identificada uma prevalência maior da tuberculose em áreas de grande concentração
populacional e precárias condições socioeconômicas e sanitárias, a associação da tuberculose com a Aids tem sido
identificada tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. A Tabela 4 aponta para os casos
notificados de tuberculose conforme a sorologia anti-HIV (Vírus de Imunodeficiência Humana).
Tabela 4 - Distribuição dos casos notificados de tuberculose de acordo com a sorologia anti-HIV, unidades de
internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Anti-HIV
Forma
Pulmonar
Positiv
o
50
%
Negativ
o
17,
74
%
Em
andamento
25,
35
681
%
Não
realizado
%
12,
130
45,
Tota
l
%
289
68,8
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
3
6
27
30,
7
1
0
3
3,4
34
38,
6
88
21,0
Extra Pulmonar
24
27,
3
Pulmonar e
Extrapulmonar
13
30,
2
18
41,
9
4
9,3
8
18,
6
43
10,2
87
20,
7
119
28,
3
42
10,
0
172
41,
0
420
100,
0
Total
Fonte: SINAN/NVE (2007) - HUJBB
Observou-se que dentre os 420 (100,0%) casos notificados de Tuberculose, 87 (20,7%) foram soropositivos
para o vírus HIV, 119 (28,3%) negativos, 42 (10,0%) aguardavam o resultado e 172 (41,0%) não realizaram o teste. O
Manual de Normas Técnicas do Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde (2002), define ser obrigatório
oferecer, aos casos confirmados de Tuberculose, o teste sorológico para identificar infecção pelo HIV, contudo esta
ação ainda é renegada por muitos profissionais de saúde. Em infectados pelo HIV, principalmente aqueles na fase
avançada de imunodepressão (nível sérico de linfócitos T-CD4 inferior a 200 cels/mm3 ou linfócitos totais inferior a
1.000 cels/mm3), devem-se suspeitar de Tuberculose na presença de qualquer sintoma respiratório e quadros de
febre de origem indeterminada devido à alta freqüência de manifestações atípicas de tuberculose e à ocorrência de
outras doenças respiratórias causadas por agentes oportunistas.
De acordo com as normas do Ministério da Saúde (2002), prioritariamente, a procura de casos de tuberculose
deve ser efetuada nos sintomáticos respiratórios (indivíduos com tosse e expectoração por três ou mais semanas),
que deverão submeter-se à rotina prevista para o diagnóstico da doença, que inclui exame de escarro através da
baciloscopia e radiografia de tórax, quando houver disponibilidade deste recurso. Em relação a baciloscopia direta de
escarro, trata-se de um teste de baixo custo, rápido e fácil, e quando executado corretamente permite detectar de 70
a 80% dos casos de tuberculose pulmonar ativa (casos bacilíferos). A Tabela 5 mostra a distribuição dos casos de
tuberculose conforme a realização de baciloscopia de escarro positiva ou negativa para o Bacilo de Koch (BK).
Tabela 5 - Distribuição dos casos notificados de tuberculose de acordo com os resultados de baciloscopias de escarro,
unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Forma
Baciloscopia de Escarro
Total
%
12,5
289
68,8
50
56,8
88
21,0
37,21
11
25,6
43
10,2
31,43
97
23,1
420
100,0
BK(+)
%
BK(-)2
%
NR3
%
172
59,5
81
28,03
36
Extrapulmonar
3
3,4
35
39,77
Pulmonar e Extrapulmonar
16
37,2
16
Total
191
45,5
132
Pulmonar
1
Fonte: SINAN/NVE (2007) – HUJBB
1
BK(+): bacilo de Koch positivo; 2 BK(-): bacilo de Koch negativo; 3 NR: não realizado
Foram observados que dentre os 420 (100,0%) casos investigados de tuberculose, 289 (68,8%)
corresponderam à forma pulmonar da doença, 287 (99,3%) apresentaram imagem suspeita da doença ao exame
radiológico e 172 (59,5%) tiveram resultado positivo para BK ao exame direto de escarro. As unidades de referência
para tuberculose destinam-se ao atendimento de casos suspeitos ou confirmados da doença, referenciados pela rede
básica, devido à dificuldade de diagnóstico ou manejo do tratamento específico. Porém, estes dados mostram que o
diagnóstico de formas pulmonares bacilíferas e com imagem radiológica suspeita de tuberculose estão sendo
realizados no atendimento hospitalar, desviando o objetivo destas unidades de referência, sobrecarregando a rede
hospitalar, impossibilitando que outros pacientes, mais graves, tenham leitos disponíveis para a internação.
Além disso, a cultura para BK de escarro ou de outras secreções é indicada para todos os suspeitos de
tuberculose pulmonar e negativos ao exame direto de escarro, bem como para o diagnóstico de formas
682
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extrapulmonares. Conforme a Tabela 6, a cultura não foi realizada em 72,6% (305/420) dos casos notificados,
indicando que deve haver melhora no atendimento destes no que se refere à solicitação deste exame.
Tabela 6 - Distribuição dos casos notificados de tuberculose de acordo com culturas para
BK de escarro ou outras secreções, unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Cultura de Escarro
Forma
1
Total
%
68,2
289
68,8
75
85,2
88
21,0
14,0
33
76,7
43
10,2
18,3
305
72,6
420
100,0
%
Em and.3
%
NR4
%
12
4,15
64
22,1
197
1,1
5
5,68
7
8,0
2
4,7
2
4,65
6
19
4,5
19
4,52
77
(+)
%
(-)
Pulmonar
16
5,5
Extra pulmonar
1
Pulmonar E Extra pulmonar
Total
2
Fonte: SINAN/NVE (2007) – HUJBB
1
(-): negativo; 2(+): positivo; 3Em and.: em andamento; 4NR: não realizado
As Tabelas 7 e 8 demonstram a distribuição dos casos de AIDS notificados pelo NVE, conforme o sexo e a
letalidade, e por grupo etário estudado e letalidade, respectivamente. Foram seguidos critérios de definição de caso
conforme normas do Ministério da Saúde (2004).
Tabela 7 - Distribuição dos casos notificados de AIDS conforme o sexo e letalidade, unidades de internação do HUJBB,
julho de 2006 a julho de 2007.
Sexo
Freq.
%
Óbitos
Masculino
80
58,8
24
53,3
30,0
Feminino
56
41,2
21
46,7
37,5
136
100,0
45
100,0
33,1
Total
%
Letalidade
Fonte: SINAN/NVE (2007) - HUJBB
Tabela 8 - Distribuição dos casos notificados de AIDS conforme o grupo etário e letalidade,
unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Fx. Etária
Freq.
%
Óbito
< 13 anos
2
1,5
1
2,2
50,0
> 13 anos
134
98,5
44
97,8
32,8
100,0
33,1
Total
136
100
%
45
Letalidade
Fonte: SINAN/NVE (2007) - HUJBB
Na distribuição dos 136 (100,0%) casos de AIDS notificados no HUJBB, foram observados que a maioria
(80/136; 58,0%) foram do sexo masculino. Todos os casos em paciente menores que 13 anos de idade notificados no
HUJBB (2/136;1,5%) durante o período estudado tiveram como provável modo de transmissão a forma de vertical.
Ocorreram 45 óbitos, representando letalidade de 33,1%, sendo 50,0% em menores de 13 anos e 32,8% em maiores
ou igual a 13 anos de idade.
Num estudo realizado por REIS e cols. (2007, p.199), ao considerar a distribuição proporcional da mortalidade
por AIDS segundo algumas características sociodemográficas no Brasil das décadas de 1980 e 1990, tem-se que a
mortalidade por AIDS é predominantemente masculina. Contudo, é possível observar, mudança nesse
comportamento a partir dos anos de 1990, com o aumento da proporção de óbitos femininos (de 11,8% para 23%). O
processo de “feminização” da epidemia também fica caracterizado na análise da razão de sexo dos óbitos, que passou
de 7,5: 1, nos anos de 1980, para 3,4:1, na década seguinte.
Em relação a Leishmaniose Visceral, os dados obtidos com esta pesquisa (Tabela 1) demonstraram que este
agravo representou 9,7% do total de notificações (107/1105), e foi mais incidente em menores de 13 anos (78/107;
72,95). A Tabela 10 mostra a distribuição dos casos estudados conforme os municípios de procedência. No Brasil, a
683
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Leishmaniose Visceral é uma doença endêmica em expansão, com maiores prevalências na Região Nordeste. Acomete
principalmente crianças menores de 10 anos, sobretudo menores de 5 anos.
Tabela 9 - Distribuição dos casos notificados de Leishmaniose Visceral conforme o município de residência e
letalidade, unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Procedência
Freq.
%
Óbito
Letalidade
Acará
13
12,1
1
7,7
Bujaru
11
10,3
1
9,1
Cametá
10
9,3
1
10,0
Mocajuba
9
8,4
1
11,1
Moju
8
7,5
0
0,0
Tailândia
7
6,5
1
14,3
Concórdia do Pará
5
4,7
1
20,0
Outros
44
41,1
0
0,0
107
100,0
6
5,6
Total
Fonte: SINAN/NVE (2007) – HUJBB
Em relação às meningites, elas representaram 19,8% (219/1105) das DNC, com letalidade de 16,9% (37/219)
e mortalidade de 27,4% (37/135). A letalidade por grupo etário mostrou que em menores de 13 anos foi de 15,6%
(19/122) e nos com 13 anos ou mais foi de 18,6% (18/97). Na distribuição dentre os grupos etários, os menores de 13
anos representaram 41,4% (122/219), e a faixa etária mais acometida foi a de 1 a 6 anos (44/219; 20,1%). Até 1999, as
meningites por Haemophilus influenzae tipo b (Hib) representavam a segunda causa de meningites bacterianas depois
da doença meningocócica. A partir de 2000, após a introdução da vacina tetravalente (difteria, tétano, coqueluche e
Hib) no calendário de vacinação infantil, houve queda de 90,0% na incidência destes casos. A vacina previne formas
invasivas causadas Hib, como meningite, pneumonia, sepses, otite, dentre outras. Na Figura 2 está a distribuição dos
casos de meningite por etiologia conforme o grupo etário.
70
60
menores de 13 anos
59 57
13 anos ou mais
50
40
30
20
12
5
pneumoniae
Meningite NE
Doença
Streptococcus
1
0
meningocócica
Haemophilus
Criptocóccica
Bacteriana NE
2
influenzae
10
8
5
3
5
Viral NE
7
6
Tuberculosa
10
0
21
18
Figura 2 - Distribuição das etiologias de meningite conforme o grupo etário,
nas unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Fonte: SINAN/NVE (2007) – HUJBB
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A Dengue, arbovirose reemergente, de notificação compulsória, pode apresentar-se clinicamente mediante
formas inaparentes até quadros de hemorragia e choque, podendo evoluir a óbito. De acordo com França et al. (2002,
p.206), a Dengue é atualmente sério problema de Saúde Pública mundial. Em 1998, foram registradas 15 mil mortes e
1,2 bilhões de casos de Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue ou Síndrome do Choque de Dengue. Ainda não é
imunoprevenível e seu controle baseia-se em medidas antivetoriais. A produção de uma vacina contra os quatro
sorotipos do dengue, que seja segura e efetiva, tem sido apontada pela OMS como prioridade em face da gravidade
da situação epidemiológica e a baixa efetividade da maioria dos programas de combate ao Aedes aegypti(TEIXEiRA et
al.,1999).
A tabela 10 demonstra a distribuição dos casos atendidos no HUJBB conforme a forma clínica e o grupo
etário.
Tabela 10 - Distribuição dos casos notificados de Dengue
conforme a forma clínica e o grupo etário, unidades de internação do HUJBB, julho de 2006 a julho de 2007.
Forma Clínica da Dengue
Grupo etário
Total
Dengue
Clássico
%
Dengue com
complicações
%
Febre Hemorrágica
da Dengue
%
< 13 anos
11
44,0
7
28,0
7
28,0
25
41,0
≥13 anos
16
44,4
11
30,6
9
25,0
36
59,0
Total
27
44,3
18
29,5
16
26,2
61
100,0
%
Fonte: SINAN/NVE (2007) – HUJBB
Para a definição e classificação dos casos de dengue conforme a forma clínica foram seguidos critérios do
Ministério da Saúde (2005). Medidas efetivas de prevenção e controle da dengue dependem da identificação precoce
de casos para que as tomadas de decisões e implementação de medidas sejam oportunas. Os serviços de saúde, tanto
na área de vigilância epidemiológica quanto na prestação de assistência médica, precisam estar organizados para a
redução da letalidade das formas graves e conhecimento do comportamento da dengue, sobretudo em período de
epidemias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa mostraram que as principais Doenças de Notificação Compulsória que incidiram
no HUJBB no período estudado foram Tuberculoses, Meningites, AIDS, Leishmaniose Visceral e Dengue.
Nos menores de 13 anos de idade, as DNC mais incidentes foram Meningites, Leishmaniose Visceral,
Tuberculose, Dengue e Acidentes por Animais Peçonhentos.
Nos indivíduos com 13 anos ou mais, as DNC mais incidentes foram Tuberculoses, AIDS, Meningites,
Leptospirose e Dengue.
Os maiores índices de letalidade ocorreram na AIDS, no Tétano Acidental e nas Meningites.
Mesmo com planejamento em saúde pública com enfoque nas medidas de prevenção e controle das Doenças
de Notificação Compulsória, estes agravos ainda representam preocupação constante no cenário epidemiológico,
sobretudo na região amazônica. As informações geradas no Núcleo de Vigilância Epidemiológica contribuem para
orientar o planejamento do Hospital, ser fonte de pesquisa acadêmica e guiar medidas de controle desses agravos nas
comunidades.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Lei nº 6259, de 30 de Outubro de 1975. Dispõe sobre a organização das ações de Vigilância Epidemiológicas,
estabelece normas relativas à notificação compulsória de doenças. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 31 de outubro de 1975.
BRASIL. Lei 8080, de 19 de setembro 1990. Define as ações dos serviços de Vigilância Epidemiológica. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 20 de setembro de 1990.
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BRASIL. Portaria nº 5, de 21 de fevereiro de 2006. Inclui doenças na relação nacional de notificação compulsória
imediata, relação dos resultados laboratoriais que devem ser notificados pelos Laboratórios de Referência Nacional ou
Regional e normas para notificação de casos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, v. 132, n.
38, p. 34, 22 de fevereiro de 2006. Seção 1, pt. 1.
BRASIL. Artigo 196 a 200 da Constituição (1988). Constituição [da] Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal.
BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 6. ed. Brasília,
2005. 816 p. (A).
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2005. 24 p. (A).
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2.
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Brasília,
2004.
56
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Disponível
em:
http://www.aids.gov.br/data/documents/storedDocuments/%7BB8EF5DAF-23AE-4891-AD361903553A3174%7D/%7B2A9F7D1C-093E-4A04-8380-84ED432964A5%7D/criterios.pdf. Acesso em: 18 de outubro de
2007.
BRASIL. Comitê Técnico-Científico de Assessoramento À Tuberculose. Ministério da Saúde. Plano Nacional de
Controle da Tuberculose: manual de normas. 5. ed. Brasília, 2002. 107 p. (Manuais). Disponível em:
http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/atadulto/manual2000.doc. Acesso em: 18 de outubro de 2007.
FRANÇA, Elisabeth et al. Participação da população em projeto de controle de Dengue em Belo Horizonte, Minas
Gerais: uma avaliação. Informe Epidemiológico do Sus, Brasília, v. 11, n. 4, p.205-213, 2002.
FREITAS, Helen Selma de Abreu; MERCHÁN-HAMANN, Edgar. Aspectos epidemiológicos da meningite pelo
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de Saúde, Brasília, v. 13, n. 1, p.25-34, 2004. Trimestral.
LUNA, Expedito J. A. A emergência das doenças emergentes e as doenças infecciosas emergentes e reemergentes no
Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 5, n. 3, p.229-243, 2002.
REIS, Ana Cristina; SANTOS, Elizabeth Moreira dos; CRUS, Marly Marques da. A mortalidade por aids no Brasil: um
estudo exploratório de sua evolução temporal. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 16, n. 3, p.195-205,
2007. Trimestral.
ROUQUAYROL, Maria Zélia; ALMEIDA FILHO, Naomar de. Epidemilogia e Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.
TEIXEIRA, Maria da Glória; BARRETO, Maurício Lima; GUERRA, Zouraide. Epidemiologia e Medidas de Prevenção do
Dengue. Informe Epidemiológico do Sus, Brasília, v. 8, n. 4, p.5-33, 1999.
WALDMAN, Eliseu Alves; ROSA, Tereza Etsuko da Costa. Vigilância em Saúde Pública. São Paulo: Fundação Petrópolis
Ltda., 1998. 267 p. (Saúde e cidadania).
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AUTO-AVALIAÇÃO DO PACIENTES ACERCA DO SEU QUADRO CLÍNICO
NO CONTEXTO DA ALTA DO TRATAMENTO NO AMBAD
Eliana de Jesus da Costa de Souza (Estagiária)
Girlany Barbosa Tavares (Bolsista)
Rose Daise Nascimento (Colaboradora)
Sandra Bernadete Bastos (Colaboradora)
Marco Aurélio Valle de Moraes (Coordenador)
HUBFS/IFCH/UFPA
RESUMO: O foco de trabalho do AMBAD está pautado na valorização da cultura, na maneira de adoecer do amazônida,
psicofarmacoterapia, psicoterapia grupal e individual, adaptando técnicas clássicas para a realidade local, humanizando
sobremaneira a forma de atendimento público e estimulando a colaboração do paciente como um dos principais responsáveis pela
melhora de seu quadro clínico e qualidade de vida. Com isto, este estudo tem o objetivo de analisar auto-avaliação acerca do
quadro clínico paciente no contexto da alta. O para análise das fichas de entrevista dos pacientes que se encontravam no processo
de alta, foi utilizado o método qualitativo, pois ele permite compreender as experiências vivenciadas pelos pacientes. Foi
observado como resultados verificou-se que 1 paciente se auto-avaliou com nota 5, 1 com nota 6, um com nota 7 e 1 com nota 8. 4
pacientes se auto-avaliaram com nota 9 e 1 com nota 10. Estes resultados refletem o que a literatura apresenta em relação a dados
acerca da alta de pacientes, uma vez que a reações dos mesmos diante da alta dependem muito da natureza da personalidade,
vínculo com a equipe e experiências anteriores dos pacientes.
Palavras-chave: Processo de alta; auto-avaliação do paciente.
INTRODUÇÃO
O Programa AMBAD – Ambulatório de Ansiedade e Depressão é um Projeto de Extensão do ligado ao
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará e funcionando desde 1997 nas
dependências do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, onde desenvolve atividades integradas de ensino,
pesquisa e extensão. O grupo de trabalho é multiprofissional (composto por psiquiatras, psicólogos e assistentes
sociais), e interdisciplinar proporcionando um modelo de assistência biopsicossocial à comunidade carente de todo o
estado do Pará que apresentem sintomas dos transtornos ansiosos e depressivos.
Um aspecto importante entre os objetivos do AMBAD é tornar o paciente consciente de sua responsabilidade
pelo tratamento, fornecendo orientações a cerca do momento da crise e dos sintomas que apresentam, com o intuito
de aliviar a angústia em torno da situação em que se encontra e promoção da autonomia para que o mesmo possa
gerir eventuais momentos de crise quando já estiver desligado do programa.
Combinando técnicas de atendimento individual e grupal o paciente recebe um tratamento diferenciado e
com múltiplas formas de atendimentos integrados entre si, onde o enquadre institucional empregado oferece um
suporte desde a inclusão do paciente até o seu desligamento do programa, que tem sua fase final no denominado
Grupo de Alta.
A expressão “fase de término” designa o período que se prolonga a partir do momento em que, pela primeira
vez, o paciente ou o terapeuta propõe de forma mais séria o encerramento do tratamento e obtenção da alta. Uma
segunda fase do término refere-se ao período em que a data de encerramento concreto do tratamento é combinada.
(ZIMERMAN, 2004).
O dia em que o Grupo de Alta é realizado configura-se como este desligamento “oficial” do programa, o que
não significa um rompimento total, pois o paciente ainda é encaminhado para retornos de avaliação de seu estado
pós-alta, com 90 dias e 120 dias, após término do tratamento.
Para autores como Hegenberg (2004), um dos entraves que dificultam o trabalho em saúde mental está
arrolado aos critérios a serem considerados satisfatórios para o encerramento do tratamento. Dentre tais limitações,
as razões podem ser consideradas muito subjetivas quando se trata de um paciente com condições para alta. Dentre
os critérios mencionados pelo autor encontram-se: a) melhora dos sintomas; b) maior autonomia em relação ao
tratamento; c) maior tolerância às frustrações; d) melhor capacidade produtiva; e) superação do momento de crise,
etc. Critérios estes também adotados no momento de avaliar o paciente atendido no AMBAD e que está sendo
encaminhado à alta.
687
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Ao final do tratamento, Zimerman (2004) afirma ser necessário que se faça um “balanço”, ou seja, uma
avaliação honesta do que foi obtido pelo paciente durante o processo de tratamento e do que ainda pode se consistir
em uma fonte de conflitos ou capacidades latentes ainda não exploradas.
A alta pode gerar no paciente, variadas reações, muito ligadas a estrutura psíquica correspondente a cada um
deles. Os que possuem uma estrutura egóica mais sólida, aceitam melhor a alta e a encaram como uma oportunidade
de por em execução o aprendizado adquirido durante o tratamento. Porém, existem pacientes com personalidade
mais dependente, que vivenciam o final do tratamento como uma perda que pode traduzir-se em manifestações
diretas de pesar e preocupações. Nesses pacientes, que por diferentes motivos não toleram suficientemente, a
separação é possível que se produzam diferentes reações que vão desde o afloramento de novos conflitos, ao
aproximar-se o final do tratamento, passando por retrocessos e piora por simples manifestações de hostilidade
transferencial (BRAIER, 1986).
Com estas considerações é importante observar que inexiste uma forma típica e única das manifestações
clínicas que acompanham o período, maior ou menor, do término do tratamento. As características dessa fase são
muito variáveis, conforme a particularidade de cada paciente em particular e da natureza do vínculo que foi
estabelecido com a equipe.
Outro ponto importante a ser explicitado, é que no programa AMBAD, quando se trata de alta, não significa
curar o paciente e sim auxiliá-lo em um momento crítico que atravessa, oferecendo suporte e subsídios para
desenvolver a autogestão em relação ao seu tratamento e a doença, bem como desenvolver estratégias de
enfrentamento diante de possíveis recorrências das crises de Ansiedade e/ou Depressão. (SOUZA, NASCIMENTO e
MORAES 2006).
Com isto, este estudo tem o objetivo de analisar auto-avaliação acerca do quadro clínico paciente no
contexto da alta.
O método utilizado nesta pesquisa foi o qualitativo, pois é a abordagem metodológica que mais se adequa
aos fins desta investigação, pois segundo Turato (2003), refere-se ao estudo de significações, significados,
ressignificações, representações psíquicas, simbolizações, percepções, perspectivas, vivências, experiências de vida,
etc.
Outra característica fundamental para escolha desta abordagem metodológica baseia-se no que afirma
Spencer (1993, APUD NOGUEIRA-MARTINS E BÓGUS, 2004). Para este autor o foco da abordagem qualitativa, está
centralizado no específico, almejando sempre a compreensão do fenômeno estudado, geralmente ligado as atitudes,
crenças, motivações, sentimentos e pensamento da população estudada. Este foco é fundamental neste estudo, que
busca entender como cada paciente auto-avalia seu estado no momento do desligamento do programa.
1. MODALIDADES DE ATENDIMENTO NO AMBULATÓRIO DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO.
Em 2006 o AMBAD estabeleceu um protocolo estruturado para atender seus pacientes, com a finalidade de
oferecer um atendimento humanizado e que englobe todo os campos da vida do paciente. Este protocolo foi colocado
em vigor no primeiro semestre. O mesmo contém os seguintes estágios, no que se refere à terapêutica:
9 Grupo de acolhimento: neste o grupo os pacientes são recebidos em um ambiente acolhedor, onde o
paciente é convidado a se "apresentar como pessoa", desconstruindo a idéia da primeira consulta nos
modelos médicos e proporcionando ao paciente um momento de relaxamento. Após o grupo o paciente
preenche uma ficha de triagem com informações a cerca de seus dados de identificação e clínicos para
posterior avaliação de seu caso.
9 Grupo de Acompanhantes: paralelamente ao Grupo de Acolhimento é realizado um Grupo de
Acompanhantes onde é trabalhado com os mesmos, algumas questões a cerca dos sintomas
apresentados pelos pacientes bem como a co-terapia, onde os acompanhantes são motivados a auxiliar
no tratamento;
9 Avaliação do caso: Neste estágio a equipe se reúne para discutir e avaliar os aspectos de cada caso bem
como o melhor encaminhamento para o paciente dentro do programa;
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9 Retorno e devolutiva: nesta consulta o paciente recebe uma devolutiva a cerca de seu caso e é
encaminhado ao grupo de inclusão se seu perfil adequar-se ao AMBAD, caso não se adeqüe será
encaminhado para uma instituição ou serviço cabível ao seu perfil;
9 Grupo de inclusão: é a etapa do contrato terapêutico, onde o paciente fica ciente de seus passos dentro
do programa, bem como sua responsabilidade diante do tratamento;
9 Consulta psiquiátrica (07 dias) e encaminhamento: O paciente é avaliado pelo médico se seu caso
necessita de medicação e encaminhado para o serviço oferecido dentro do programa que ocorrem de
forma concomitante ao seu atendimento psiquiátrico ambulatorial, e que mais se adequar a sua
situação. Entre as possibilidades de encaminhamento dos pacientes do AMBAD estão:
o Grupo Terapêutico;
o APPESP (Assistência Psicológica a Pessoas que Sofreram Perdas);
o Terapia Cognitivo-Comportamental;
o Psicoterapia Psicodinâmica Breve;
o Atendimento Domiciliar.
9 Consultas psiquiátricas (15, 30, 30 e 60 dias): consultas para acompanhamento do caso (se houve
melhora, reincidência de sintomas, etc.) e medicação (quando houver);
9 Entrevista de alta: entrevista realizada para avaliar a aptidão do paciente a alta, bem como sua
sintomatologia.
9 Grupo de alta: grupo realizado no final do tratamento do paciente com fins de efetuar o desligamento do
mesmo de forma terapêutica. Ocorrendo neste grupo o fortalecimento da autonomia dos pacientes;
9 Retorno de 90 dias: Atendimento em forma de entrevista onde é preenchida uma ficha para averiguar a
situação do paciente 90 dias após a alta;
9 Retorno de 120 dias: Atendimento em forma de entrevista onde é preenchida uma ficha para averiguar a
situação do paciente 120 dias após a alta.
De acordo com o protocolo do programa o paciente recebe alta após um ano de tratamento.
2. RELATOS DOS PACIENTES NAS ENTREVISTAS E NOS GRUPOS DE ALTA: RESULTADOS E
ANÁLISE.
Foram analisadas 09 fichas de entrevistas (modelo – Anexo I) de pacientes que foram encaminhados para a
alta no AMBAD, no período entre dezembro de 2006 e junho de 2007. As fichas foram escolhidas aleatoriamente de
um universo de 91 pacientes atendidos no AMBAD no primeiro semestre de 2006.
9
10
GRANDE MELHORA
VOLTA AO NORMAL
MELHOR
8
MARCADAMENTE
UM POUCO MELHOR
689
7
MELHOR
6
MODERADAMENTE
5
INALTERADO
4
UM POUCO PIOR
3
PIOR
2
MODERADAMENTE
1
MARCADAMENTE PIOR
PIOR
NÃO PODERIA SER
0
MUITO MAL
Na ficha de entrevista de alta (Anexo I), utiliza-se uma tabela para avaliação subjetiva na qual o paciente
atribui uma nota para descrever seu estado geral, conforme o modelo abaixo:
PIOR
MELHOR
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Além da atribuição de uma nota para seu estado no momento da alta, o paciente relatava seu estado. A
tabela a seguir demonstra os relatos dos pacientes nas Entrevistas de Alta analisadas:
Nota
Relatos dos pacientes
05
“Sinto uma agonia na mente, insônia mesmo tomando remédio, tenho tontura, pensamentos negativos. Me
sinto fraco, tenho minha vista embaçada e fico mais ou menos com o remédio, medo e nervosismo” (J. L.)1
06
“Sinto agonia, agitação, coceira, tonteira, vontade de chorar e suor frio” (M. G.)2
07
“Estou triste, sinto dor de cabeça pela manhã, agonia medo de sair, penso que não vou ficar boa”. (S. O.)3
08
“Estou melhorando aos poucos, já consigo fazer alguns serviços” (J. F.)4
09
“Sinto alguns sintomas bem fracos, sinto um pouco de ansiedade, mas consigo controlar”. (E. C.)5
“Sinto-me bem, não sinto mais os sintomas que sentia antes, só de vez em quando tomo remédio para dormir”
(R. S.)6
“Sinto ainda ansiedade, medo nervosismo, sinto no fim da tarde, uma tristeza, um tremor, fico um pouco
agitada, mas não acontece sempre, só de vez em quando” (M. C.)7
“Muito bem” (C. O.)8
10
“Estou bem, estou ótima” (V. P.)9
O paciente 1 atribuiu nota 5 para seu estado no momento da alta, em seu relato observa-se a constância de
muitos sintomas presentes em sua queixa inicial. Durante sua trajetória no programa demonstrou-se um paciente
resistente à adesão ao tratamento, dependente da medicação e da figura do médico, única fonte para melhora de seu
quadro clínico. Sua resistência se estendeu ao contexto da alta mesmo estando de acordo com o protocolo do
programa.
Na auto-avaliação, os pacientes 2 e 3 se assemelham, apesar de atribuírem notas diferentes (notas 6 e 7,
respectivamente) ao relatarem seu estado no momento da alta, ambos falaram de sintomas que ainda apresentavam.
A paciente 2, uma senhora de 56 anos, abandonou o tratamento e retornou após dois meses de afastamento.
Paciente com dificuldade de adesão ao tratamento e com perfil de personalidade bastante dependente. A
dependência também era o foco do conflito da paciente 3, apesar de ser mais jovem. Apresentava uma “dependência
patológica” da mãe, que se estendeu à relação com a equipe dificultando a adesão ao tratamento e o
desenvolvimento da autonomia necessária para a melhora de seu quadro clinico.
Os pacientes que se auto-avaliaram com as notas 8 e 9 apresentam uma melhora no seu quadro clinico e uma
perspectiva positiva em relação ao futuro (pacientes 4, 5, 6, 7 e 8). São pacientes que relatam uma autonomia e uma
segurança para lidar com possíveis recorrências. Como por exemplo, o relato do paciente 5, que diz ainda apresentar
alguns sintomas, mas que consegue controlá-los.
Dentre estes pacientes, apenas uma que se auto-avaliou com a nota 9, limitou-se a relatar que estava muito
bem, não fazendo referência a nenhum sintoma. Esta paciente apresentou inicialmente queixas como falta de prazer
total e medo de ficar sozinha, tinha muito interesse em relação ao tratamento e apresentou melhora de seu quadro
clinico. A paciente 9 atribuiu nota 10 para seu estado geral e relatou estar muito bem, como a paciente anterior.
Um ponto importante a ser discutido neste trabalho trata-se do método utilizado na auto-avaliação dos
pacientes. A semelhança nos relatos e a diferença nas atribuições das notas podem estar relacionadas com os
comandos presentes na tabela preenchida no momento da avaliação. Os comandos: “Um pouco melhor”
correspondente a nota 6, “Moderadamente melhor” correspondente a nota 7 e “Marcadamente melhor”
correspondente a nota 8, podem não estar tão claros e ser motivo de confusão no momento do preenchimento da
ficha. Questões a serem avaliadas no emprego com futuros pacientes encaminhados a alta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dinâmica da fase de termino e as reações dos pacientes para com ela são variáveis e dependem da natureza
de personalidade, problemas e experiências anteriores do paciente (DEWALD, 1981).
Pode-se notar nesta análise na auto-avaliação de 9 pacientes em processo de alta no AMBAD, a replicação do
que apresenta a literatura. Braier, 1986 aponta que pacientes podem vivenciar a alta como uma perda que trazem a
690
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recaída dos sintomas. Realidade bem explicitada no relato de pacientes que se auto-avaliaram com notas baixas e
que, no decorrer do tratamento apresentavam uma personalidade mais dependente, configurando-se o final do
tratamento como um abandono que pode traduzir-se em manifestações diretas de pesar e preocupações.
Alguns pacientes podem ter uma reação ao grau de melhora e se atribuírem notas mais altas que outros e
ainda manifestando prazer e satisfação quando o progresso foi significativo. São pacientes que apresentam uma forte
estrutura egóica e conseguem lidar com as “perdas” inevitáveis em sua vida. Mesmo nos casos em que ocorreram
melhora significativa, pode haver a preocupação em relação à possibilidade do retorno dos sintomas após o termino
do tratamento. Por este motivo, não se espera a cura do paciente e sim fornecer assistência na crise que atravessa,
fomentando a autonomia e desenvolvendo e capacidade de enfrentamento, colaborando com os subsídios necessário
para enfrentar possíveis recorrências das crises.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAIER, E. A. Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
DEWALD, P. Psicoterapia: uma Abordagem Psicodinâmica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981.
HEGENBERG, M. Psicoterapia breve. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
NOGUEIRA-MARTINS, M. C. e BÓGUS, C. M. Considerações sobre a metodologia qualitativa como recurso para o
estudo das ações de humanização em saúde. Rev. Saúde e Sociedade v.13, n.3, p.44-57, set-dez 2004.
SOUZA, E. J. C.; NASCIMENTO, R. D. e MORAES, Marco Aurélio Valle de. O grupo de alta como recurso terapêutico
para efetuar o desligamento do paciente do Ambulatório de Ansiedade e Depressão. In: IX Jornada de Extensão
Universitária, 2006, Belém. Suestentabilidade e Diversidade na Amazônia. Belém: Editora Universitária UFPA, 2006. p.
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TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão
comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis: Vozes; 2003.
ZIMERMEN, D. E., Manual de Técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: ArteMed, 2004.
ANEXO I
E N T R E V I S T A
D E
A L T A
Nome ____________________________________________________________________________
Sexo () Feminino () Masculino Data de Nascimento ____/____/______ Idade ___________
1. Sintomatologia do paciente no início do tratamento (data ___/___/_____)
________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
2. O que você está sentindo atualmente?
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
3. Como você enfrentou a sua doença? (que recursos utilizou?)
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
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4. Desde o início do meu tratamento meu estado geral é (usando a escala abaixo, marque com um X o número que
melhor descreve sua situação atual)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
MUITO MAL
MARCADAMENTE PIOR
MODERADAMENTE PIOR
UM POUCO PIOR
INALTERADO
UM POUCO MELHOR
MODERADAMENTE MELHOR
MARCADAMENTE MELHOR
GRANDE MELHORA
VOLTA AO NORMAL
MELHOR
NÃO PODERIA SER PIOR
PIOR
5. Quais atendimentos oferecidos pelo AMBAD você participou?
Triagem
Grupo de Acolhimento
Avaliação do caso
Atendimento Psiquiátrico
Grupo de Inclusão
Grupo Psicoeducativo
Grupo Terapêutico Laércio
APPESP
Terapia Comportamental
Psicoterapia Psicodinâmica Breve
Atendimento Domicilia
6. Situação do Paciente
() Assintomático sem medicação.() Sintomático com medicação
() Assintomático com medicação.() Não está apto para obter alta
Encaminhamento
Instituição_____________________________________________________________________________
Endereço _____________________________________________________________________________
Medicação
7. Avaliação da Equipe Terapêutica
1- Muito melhor 2- Melhor 3 - Ligeiramente melhor
5- Ligeiramente pior 6- Pior 7- Muito pior
4- Sem alteração
9. Observações Finais:
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________
10. Tempo médio de atendimento: ______________________
Data do retorno de 90 dias: ____/_____/______
Responsável: __________________________________________Data: ____/_____/______
692
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
GRUPO DE ALTA
Resumo do comportamento do paciente no grupo (data ___/___/______)
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
TRANSMISSÃO DO HTLV ENTRE FAMILIARES DE PORTADORES
ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DO NMT/UFPA
Cossolosso, E.H.S.
Faculdade de Enfermagem/UFPA
Linhares, A. C.
Instituto Evandro Chagas
Costa, C. A. da
Ribeiro Lima, T. V.
Sousa, M.S.
Núcleo de Medicina Tropical/UFPA
RESUMO: O vírus-T linfotrópico humano (HTLV), é um retrovírus que tem sido epidemiologicamente associado a várias doenças. As
principais formas de transmissão podem ser através da relação sexual, via parenteral (transmissão horizontal) e da mãe para o
filho, principalmente através do leite materno (transmissão vertical). As doenças associadas ao HTLV impõem custos sociais e
financeiros aos indivíduos infectados, a seus familiares e ao sistema de saúde pública. No entanto, mais de 90% dos indivíduos
infectados por HTLV são assintomáticos e muitas vezes, não sabendo que estão infectados, tornam-se potenciais fontes de
transmissão do vírus. Este projeto integrou serviços clínico-ambulatorial e laboratoriais na busca de novos infectados, objetivando
o aconselhamento e orientação como medidas de prevenção da disseminação da infecção. De junho a setembro de 2007 foi
oferecido o exame sorológico aos familiares de portadores de HTLV cadastrados no ambulatório do Núcleo de Medicina
Tropical/UFPA. Das 42 famílias que realizaram a sorologia para o HTLV, a soroprevalência foi observada em 33,3% (14/42); sendo
que as prevalências para filho, mãe e parceiro sexual foram 7% (3/43), 25% (4/16) e 33,33% (7/21), respectivamente. Possíveis
transmissões verticais e horizontais foram observadas, cada, em 16,66% (7/42) dessas famílias. As taxas de prevalência do HTLV na
população estudada, sugerem a ocorrência de transmissão familiar, que se faz mais evidente por via sexual e mais eficiente do
homem para a mulher. Estes dados, portanto, demonstram a necessidade de ações preventivas que possam minimizar os níveis de
transmissão do HTLV. É importante estimular parcerias de modo a ampliar, fortalecer e descentralizar os serviços de atendimento
ao portador do HTLV, para a melhor e maior resolutividade desses casos.
Palavras-chave: HTLV; transmissão familiar.
INTRODUÇÃO
Segundo Poiez (1980), o vírus-T linfotrópico humano (HTLV), é um vírus que tem tropismo por linfócitos T e se
classifica em dois tipos. O tipo I (HTLV I), o primeiro retrovírus humano a ser identificado, tem sido associado
epidemiologicamente a leucemia de células T do adulto, paraparesia espástica tropical (PET), polimiosite, artrites,
uveíte, lesões dermatológicas e estrongiloidíase, entre outras doenças. A Paraparesia Espástica Tropical/Mielopatia
Associada ao HTLV (PET/MAH) e a Leucemia/Linfoma de Células T do Adulto (ATLL) são as principais patologias
associadas ao HTLV- I (Hirata, 1992). O tipo II (HTLV II) foi identificado em 1982 (KALYANARAMAN, 1982) e
compartilha 66% do genoma com o tipo I. Contudo, ainda não está claramente associado a patologias, embora
existam relatos de sua co-ocorrência com doenças neurológicas semelhantes às associadas ao HTLV-I (MURPHY,
1997). Globalmente, se estima que entre 10 e 20 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HTLV-I (de THÉ, 1993).
A presença do HTLV-I e II na América do Sul está bem estabelecida, embora sua origem e distribuição no
continente não estejam completamente esclarecidas. A infecção pelos vírus HTLV-I/II encontra-se presente em todas
as regiões brasileiras, mas as prevalências variam de um estado para outro, sendo mais elevadas na Bahia,
Pernambuco e Pará. As estimativas indicam que o Brasil possui o maior número absoluto de indivíduos infectados no
mundo. No país, triagem para HTLV-I e II tornou-se obrigatória em bancos de sangue em novembro de 1993. Cerca de
0,5% dos doadores de sangue no país apresentam sorologia positiva, com ampla predominância do tipo I (CATALANSOARES, 2002).
Os modos de infecção são comuns ao HTLV I e II, e incluem a transmissão vertical, principalmente através da
amamentação; a transmissão parenteral, por transfusão de componentes celulares do sangue e compartilhamento de
agulhas e seringas por usuários de drogas endovenosas; e a transmissão sexual, com maior eficiência no sentido
homem-mulher (HIRATA, 1992).
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Extensão Universitária e Políticas Públicas
JUSTIFICATIVA
Sabendo-se que atualmente, as principais formas de transmissão da infecção pelo HTLV são através da
relação sexual e da amamentação, acredita-se que esteja ocorrendo uma expansão silenciosa na sociedade, uma vez
que a maioria dos infectados (mais de 90%) segue sem desenvolver as manifestações clínicas conhecidamente
associadas ao vírus.
Em várias revisões sobre HTLV, assim como em reuniões técnicas e/ou científicas nacionais, enfatiza-se a
necessidade dessa infecção e suas doenças associadas serem consideradas dentro de um programa específico na
saúde pública e que medidas de prevenção contra a sua difusão devem ser adotadas. No entanto, o que se observa
são ações pontuais dentro das Coordenações Federais, Estaduais e Municipais de DST/AIDS; triagens de candidatos a
doadores em bancos de sangue e/ou pesquisas científicas isoladas, sem o acompanhamento assistencial dos
portadores e seus familiares.
As doenças associadas ao HTLV impõem custos sociais e financeiros aos indivíduos infectados, seus familiares
e ao sistema de saúde pública. Por estas razões é que intervenções, objetivando não só a identificação de portadores
do vírus, mas também o aconselhamento e educação dos indivíduos de alto risco e/ou infectados, assim como dos
profissionais de saúde para que saibam identificar os sinais e sintomas, são de grande importância para o controle da
disseminação da infecção.
Desta forma, torna-se importante disponibilizar exames para a identificação de portadores assintomáticos do
HTLV, inicialmente entre familiares e parceiros sexuais de portadores, uma vez que eles são os que apresentam os
maiores riscos de novas infecções.
O Núcleo de Medicina Tropical (NTM) da Universidade Federal do Pará (UFPA) possui um Ambulatório de
Aconselhamento e Acompanhamento em Doenças Tropicais que atende demanda referenciada, inclusive de
portadores de HTLV, de Unidades Básicas de Saúde (UBS) da capital e do interior do Estado, do Centro de
Hemoterapia do Pará (HEMOPA), do Instituto Evandro Chagas (IEC), de hospitais e clínicas públicas e particulares. Os
familiares e parceiros sexuais desses portadores não dispõem de um local especializado para realização de exames e
aconselhamento sobre a infecção pelo HTLV.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
O que se propõe neste projeto é a integração de serviços especializados, para que se possa disponibilizar um
programa voltado para o atendimento de portadores de HTLV, além de desenvolver estudos que identifiquem a
condição dessa infecção na população de Belém, visando o desenvolvimento de ações que contenham sua
propagação.
Objetivos Específicos
Identificar soropositivos entre familiares e parceiros sexuais de portadores de HTLV para aconselhamento e
acompanhamento no ambulatório do NMT.
Identificar a freqüência da transmissão familiar do HTLV na população atendida.
Identificar a freqüência da transmissão vertical e horizontal do HTLV na população atendida.
Elevar o nível de conhecimento da população, estudantes e profissionais de saúde com relação ao HTLV, suas
patolologias associadas e formas de transmissão, de acordo com as necessidades encontradas.
Metas idealizadas
Implantar banco de dados informatizado de todos os pacientes cadastrados no ambulatório do NMT;
Informar e recrutar familiares e parceiros sexuais dos portadores sintomáticos de HTLV cadastrados no NMT;
Realizar triagem sorológica para HTLV I e II, pelo teste de ELISA, nos familiares e parceiros sexuais estáveis de
portadores sintomáticos de HTLV cadastrados no NMT;
Realizar orientação e atendimento clínico-ambulatorial e laboratorial a todos os familiares e parceiros sexuais
soropositivos;
695
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Realizar pesquisa de níveis de conhecimento entre estudantes concluintes de enfermagem da UFPA e
profissionais de enfermagem da cidade de Belém;
Confeccionar e distribuir cartilhas informativas, orientando estudantes e profissionais da área de saúde, bem
como a comunidade em geral da região metropolitana de Belém, sobre formas de transmissão, sinais e sintomas das
patologias associadas ao HTLV.
Estimular novas parcerias laboratoriais e ambulatoriais envolvidas no atendimento de portadores de HTLV.
METODOLOGIA
Inicialmente, foi implantado o banco de dados informatizado com 506 portadores de HTLV sintomáticos e
não-sintomáticos cadastrados no ambulatório do NMT. A partir dos prontuários dos pacientes, foram incluídos os
dados pessoais, laboratoriais e sintomatológicos em planilhas do Microsof Office Access 2003.
O recrutamento dos familiares e parceiros sexuais dos portadores sintomáticos de HTLV cadastrados no NMT
foi realizado a partir dos contatos disponíveis nos prontuários dos pacientes cadastrados (casos-índices). Uma
tentativa inicial de convocação de familiares de 116 portadores sintomáticos foi frustrada pela incorreção dos dados
de prontuários. Efetivamente foram convocados familiares de 43 portadores de HTLV, totalizando 210. No entanto,
familiares de apenas 34 portadores compareceram para a realização do exame sorológico. Após nova orientação
quanto aos objetivos do projeto, seus riscos e benefícios, os familiares que concordaram em participar, assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de inclusão adotados para a seleção dos
comunicantes foram os seguintes: ser mãe, filho e cônjuge para os casos-índices femininos e, ser mãe e cônjuge para
os masculinos. Foram excluídos desta análise os familiares de portadores de HTLV cujos contatos encontravam-se de
forma incorreta ou incompleta nos prontuários e aqueles que foram convocados e não compareceram.
Os familiares e parceiros sexuais estáveis de portadores de HTLV que compareceram ao Laboratório de
Análises Clínicas do NMT, tiveram amostras de sangue coletadas, as quais foram processadas sorologicamente por
ELISA para HTLV I e II no Serviço de Virologia do IEC.
Foram realizadas orientações na forma de palestras direcionadas a pacientes atendidos no NMT, seus
familiares e comunidade em geral, totalizando aproximadamente de 25 pessoas por semana, sobre as formas de
transmissão e aspectos das doenças relacionadas ao HTLV.
Um trabalho de conclusão de curso foi desenvolvido, baseado em questionário contendo perguntas sobre o
vírus HTLV, suas formas de transmissão e patologias associadas. Este questionário foi aplicado a 51 alunos da turma
de 59 concluintes do Curso de Enfermagem do ano de 2007 da UFPA e os dados serão estatisticamente analisados. A
partir de técnicas de amostragem, a pesquisa abrangerá o universo total dos concluintes desta turma, garantindo a
diminuição de tempo e de custo, sem interferir em sua eficiência. Após análise, os resultados serão expostos na forma
de gráficos e tabelas. Para os cálculos estatísticos, foram adotados os seguintes valores: 95% de nível de confiança e
5% de margem de erro.
RESULTADOS
Das 34 famílias que compareceram para a realização do exame sorológico, representando 6,7% do total de
portadores cadastrados no banco de dados do NMT (n=506), foram identificados mais 8 novos casos-índices, (8 novas
famílias analisadas), totalizando 42 famílias estudadas para a soroprevalência do HTLV.
Das 42 famílias que realizaram a sorologia para o HTLV, a soroprevalência foi observada em 17,5% (14/80) do
número total de familiares e 33,3% (14/42) das famílias; sendo que as prevalências para filho, mãe e parceiro sexual
foram 7% (3/43), 25% (4/16) e 33,33% (7/21), respectivamente. Possíveis transmissões verticais e horizontais foram
observadas, cada, em 16,66% (7/42) dessas famílias.
A taxa de provável transmissão vertical (mãe para filho) foi observada em 19% das famílias analisadas, sendo
que o mesmo valor (19%) foi observado também para a provável transmissão horizontal (parceiros sexuais). Por outro
lado, 26 famílias pesquisadas (61,9%) não apresentaram transmissão familiar. Em uma das famílias (2,4%) foi
encontrado um caso de resultado indeterminado na sorologia, mesmo após repetição em duplicata do teste de ELISA.
O presente trabalho observou, ainda, a formação de 21 casais com relacionamentos estáveis, dos quais, 10
formados a partir de casos-índices femininos e 11 a partir de casos índices masculinos. Estes casais foram analisados
quanto às taxas de provável transmissão sexual do HTLV e demonstraram valores de positividade de 20% (2/10) e de
54,5% (6/11) entre os parceiros sexuais dos casos-índices feminino e masculino, respectivamente.
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DISCUSSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo demonstrou elevadas taxas de positividade entre familiares e parceiros sexuais estáveis de
portadores sintomáticos do HTLV, atendidos no ambulatório do NMT. Esses resultados, em conformidade com outros
trabalhos, demonstram que essa infecção está se propagando de forma silenciosa também em nossa região
Em conformidade com a literatura especializada, a análise da provável transmissão entre parceiros sexuais
dos casos índices, mostrou maior positividade entre cônjuges femininos, indicando a maior eficiência de transmissão
do vírus do homem para a mulher do que no sentido inverso.
Os resultados preliminares deste trabalho demonstram a necessidade de ações preventivas que possam
minimizar os níveis de transmissão do HTLV. As medidas para prevenir a disseminação dos vírus-T linfotrópicos
humanos devem ser enfatizadas, pois não existem maneiras efetivas de controlar a leucemia de células T do adulto ou
a paraparesia espástica tropical. Indivíduos soropositivos devem ser aconselhados para evitar a disseminação do vírus.
A disponibilização do teste de HTLV-I e II para familiares de indivíduos infectados, a introdução desse teste no prénatal e o aconselhamento e acompanhamento dos infectados em centros de referência são necessários para,
juntamente com a triagem dos doadores de sangue, evitar a disseminação silenciosa do HTLV.
Dentre as ações que pretendemos continuar realizando, incluem-se a busca ativa dos comunicantes dos
portadores, visando o esclarecimento de sua condição quanto à presença ou não da infecção pelo vírus e, ainda, sua
orientação no que diz respeito às vias de transmissão, doenças associadas e modos de prevenção da infecção. É
importante, portanto, estimular parcerias de modo a ampliar, fortalecer e descentralizar os serviços de atendimento
ao portador do HTLV, para a melhor e maior resolutividade desses casos.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos à técnica Srª Maria Assunção Lima da Silva, pela contribuição no atendimento e
cadastro dos pacientes; à Profª Drª Luíza Caricio Martins e à técnica Maria de Fátima de Lima Martins, pela
disponibilidade do Laboratório de Análises Clicas do NMT para coleta de sangue dos sujeitos envolvidos neste estudo
e ao técnico Sr. Antônio de Moura, pelo auxílio na realização dos exames sorológicos (ELISA) das amostras no IEC.
REFERÊNCIAS
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virus type I infection. Am J Trop Med Hyg. 2001;65(5):6501.
CATALAN-SOARES, BC. HTLV infection in public Brazilian blood centers and intravenous drug users (UDI):
considerations about prevention. Em: Schatzmayr HG, Gaspar AMC, Kroon EG, eds. Proceedings of the XII National
Meeting of Virology. Águas de Lindóia: Sociedade Brasileira de Virologia; 2002. Virus Reviews and Research 2002;7(1
Suppl 1):456.
de THÉ, GD, BONFORD, R. An HTLV-I vaccine: why, how, for whom? AIDS Res Hum Retroviruses. 1993;9(5):3816.
HIRATA, M, HYASHI, J, NOGUSHI, A, NAKASHIMA, K, KAJIVAMA, W, SAWADA,T, et al. The effects of breastfeeding and
presence of antibody to p40tax protein of HTLV-I on mother-to-child transmission. Int J Epidemiol. 1992;21(5):989
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KALYANARAMAM, VS, SARNGADHARAN, MG, ROBERT-GUROFF, M, MIYOSHI, I, GOLDE D, GALLO RC. A new subtype of
human T-cell leukemia virus (HTLV-II) associated with a T-cell variant of hairy cell leukemia. Science. 1982;218
(4572):5713.
MURPHY, EL, HANCHARD B, FIGUEROA JP, GIBBS WN, LOFTERNS WS, BLATTNER WA. Modelling the risk of adult T-cell
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MURPHY, EL, Fridey J, SMITH, JW, ENGSTRON, J, SACHER, RA, MILLER K, et al. HTLV associated myelopathy in a cohort
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POIEZ BJ, RUSCETTI, FWI, GAZDAR AF, BUNN PA, MINUA JD, GALLO RC. Detection and isolation of type-C retrovirus
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1980;77(12):7415
ROUET, F, HERMANN-STORCK, C, COUROBLE, G, DELOUMEAUX, J, MADANI, D, STROBEL, M. A case-control study of
risk factors associated with human T-cell lymphotropic virus type-I seropositivity in blood donors from Guadeloupe,
French West Indies. Vox Sang. 2002;82 (2):616.
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
PROMOVENDO EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA AS GESTANTES ATENDIDAS NA UNIDADE
MUNICIPAL DE SAÚDE DO TELÉGRAFO: A SÍFILIS MATERNA COMO TERMÔMENTRO?
Nazaré, D.L.S.
Damasceno, C.A.
Corvelo, T.C.O.
Laboratório de Imunogenética/UFPA
RESUMO: Introdução: A sífilis é uma doença sistêmica e de evolução crônica, causada pela bactéria Treponema pallidum subespécie
pallidum, cuja principal forma de transmissão é o contato sexual e via placentária, podendo causar danos ao feto. Sabendo da
importância de um pré-natal adequado para a saúde materno-infantil, torna-se fundamental que o serviço promova educação em
saúde visando contribuir para a modificação do comportamento humano Objetivo: promover atividades de educação em saúde
para grávidas atendidas no serviço de pré-natal da Unidade Municipal de Saúde do Telégrafo, após constatação prévia da situação
de infecção por sífilis, fatores de risco e o nível de informação sobre as DST Metodologia: após a tipagem do soro pelo método
treponêmico FTA-ABS IgM, de dois grupos de grávidas (estudo e controle), triados inicialmente pelo VDRL, e análise das variáveis
quanto aos fatores de risco que estavam expostas para aquisição de sífilis e outras DST, foi elaborada uma proposta de educação
em saúde, empregando uma metodologia participativa usada no ciclo de palestras para as gestantes atendidas na Unidade de
Saúde do telégrafo Resultado: Verificou-se que, 2,5% (13/505) das gestantes atendidas eram soropositivas para sífilis, sendo que
61,5% (8/13) tinham FTA-ABS IgM positivo, revelando sífilis primária. Além disso, 61,5% (8/13) referiram não conhecerem
suficientemente sobre a sífilis e outras DST. Após verificação desta situação, um ciclo de palestra sobre saúde materno-infantil foi
planejado e ministrado por uma equipe multiprofissional, sendo que a cada encontro foi notória a crescente adesão, interesse e
participação nas atividades, observando-se nestas mulheres maior segurança sobre os aspectos abordados da saúde maternoinfantil Conclusão: Esta investigação revelou que durante o acompanhamento pré-natal se faz necessário conhecer o perfil
epidemiológico da população atendida e promover atividades de educação em saúde com intuito de contribuir para a
conscientização e mudanças individuais que favoreçam a medicina preventiva.
Palavras-chave: Educação em saúde; sífilis materna; FTA-ABS IgM; fatores de risco.
1. INTRODUÇÃO:
A sífilis é uma doença antiga, infecto-contagiosa causada pelo Treponema pallidum subspécie pallidum, cuja
transmissão se faz essencialmente pelo contato sexual e por via transplacentária. Apresenta-se sob duas formas, a
sífilis adquirida e a sífilis congênita (SC).(1, 2, 3, 4,5).
A sífilis não diagnosticada e não tratada adequadamente na gestante e em seu parceiro pode levar a infecção
do feto, ocasionando desde abortamento, natimortalidade, nascimento prematuro, recém-nascido com sinais clínicos
de sífilis congênita, ou mais freqüentemente, bebê aparentemente saudável que desenvolve sinais clínicos
posteriormente. Na sífilis congênita a transmissão é do tipo vertical, ou seja, transmitida da mãe para filho por via
transplacentária sendo que a infecção pode ocorrer em qualquer fase da gravidez (1,4,5,6, 7)
A sífilis congênita é de notificação compulsória no Brasil desde 1986 (8). No entanto, somente a partir de 14 de
julho de 2005, segundo divulgação da Portaria n° 33 no Diário Oficial da União, os casos suspeitos ou confirmados de
sífilis em gestante também foram incluídos na relação de notificação compulsória, devido a sua importância
epidemiológica (9).
Dessa forma, é imprescindível ressaltar que a sífilis continua sendo um problema da saúde pública, devendo
ser realizado a contento a vigilância epidemiológica, pois estudos sentinela realizados no Brasil mostram uma
prevalência de sífilis de 1,7% entre as gestantes (10, 11, 12), sendo estes dados ratificados pelos trabalhos de Guimarães
(2000)13 com 1,7% e Damasceno (2004)14 que estudando a prevalência dos casos ocorridos na FSCMPA em 2004
revelou que 1,27% (75/5.902) tinham sífilis.
A assistência pré-natal é compreendida por um conjunto de atividades que visa à promoção da saúde da
mulher grávida e do feto, bem como a identificação de riscos para ambos, visando uma assistência adequada e
oportuna. Segundo o Ministério da Saúde a cobertura do serviço de pré-natal inclui a realização de seis ou mais
consultas de pré-natal, a partir do primeiro trimestre da gestação e realização de exames laboratoriais e
acompanhamento nutricional (15,16).
Sabendo da importância de um pré-natal adequado para a saúde materno-infantil, torna-se fundamental que
este serviço oferecido pela atenção primária da saúde possa também incluir atividades de educação em saúde para
conscientização e contribuição na qualidade de vida destas pessoas. Assim, a promoção em saúde é a combinação de
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
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fatores envolvendo apoios educacionais buscando uma modificação comportamento humano ao interagir com
ambiente, resultando em ações e condições de vida conducentes à saúde (17).
Neste contexto, o presente trabalho objetiva promover atividades de educação em saúde para as grávidas
atendidas pelo serviço de pré-natal da Unidade Municipal de Saúde do Telégrafo. Esta finalidade pretende ser atingida
mediante o desenvolvimento das seguintes etapas metodológicas:
o Empregar o método treponêmico FTA-ABS IgM nas mulheres soropositivas ao VDRL para verificação
de infecção ativa.
o Analisar os fatores de risco para sífilis e outras DST
o Realizar um ciclo de palestras sobre Saúde materno-Infantil
2. METODOLOGIA
Este trabalho está centrado em uma proposta de realização de educação em saúde, através da realização de
palestras para as grávidas atendidas pelo serviço de pré-natal da Unidade Municipal de Saúde do Telégrafo, a partir de
uma constatação prévia da situação de infecção por sífilis entre as gestantes, fatores de risco a que estão expostas e
nível de informação sobre as DST.
2.1. Caminhos metodológicos
No período de junho/2006 a fevereiro/2007, na Unidade de Saúde do telégrafo, foram coletadas as amostras
de soro e as informações epidemiológicas de dois grupos de grávidas (grupo de estudo e controle), após o
esclarecimento sobre o projeto e a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O grupo de
estudo foi constituído por sororeativas ao VDRL e um grupo controle, formado por soronegativas a este teste de
triagem para sífilis.
Neste período as amostras foram submetidas ao ELISA IgG para confirmar o resultado do VDRL e as
informações epidemiológicas analisadas. A constatação de altas freqüências de infecção de sífilis na população
estudada conduziu a uma análise das variáveis consideradas como fatores de risco para aquisição de sífilis e outras
DST (uso de preservativo, uso de fumo e álcool, tatuagem, número de parceiros sexuais nos dois últimos anos, idade
da primeira relação sexual, DST anterior), além de verificar o nível de informação sobre DST, informações esta
arquivadas em um banco de dados.
Complementando essa análise do ELISA IgG as amostras destas pacientes foram tipadas pelo FTA-ABS IgM
para determinar a proporção de mulheres que naquele período apresentavam uma infecção primária, constituindo-se
em uma fase de maior risco de transmissão vertical, e portanto serve de alerta para melhor diagnosticar e monitorar a
sífilis.
2.2. Atividades de Educação em Saúde
De posse das informações epidemiológicas e sorológicas da população estudada foi elaborada uma proposta
de educação em saúde, a qual foi bem aceita e apoiada pela gerente da Unidade de Saúde do telégrafo.
Antes do primeiro contato com a população alvo houve um planejamento para o qual foram convidadas duas
pedagogas, sendo uma especialista em psicopedagogia, para auxiliarem na abordagem quanto à integração interpessoal e interdisciplinar. A metodologia proposta foi à participativa, na qual a comunidade proporciona os elementos
da problemática a serem abordados, enquanto os diversos profissionais trabalham o conhecimento.
No período de fevereiro a junho de 2007 foram realizadas cinco palestras sobre saúde materno-infantil,
sendo que para estimular a freqüência das gestantes nas palestras foi acordado com as assistentes sociais,
responsáveis pela inscrição das grávidas no pré-natal, que a participação neste ciclo de palestras fosse uma etapa do
pré-natal. Paralelamente, como parte deste evento e para motivar o público alvo promovemos um café da manhã, no
qual realizamos sorteios de produtos de enxoval para recém-nascido.
A iniciativa de realizar o café da manhã visava o conhecimento de alimentos regionais baratos e nutritivos,
incentivando uma alimentação saudável, uma vez que se trata de um público alvo de baixo poder aquisitivo.
699
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1. Análise soroepidemiológica da sífilis
Durante o período do levantamento das amostras foram diagnosticadas no laboratório de análises clínicas da
Unidade de Saúde do telégrafo, 2,5% (13/505) de gestantes com sífilis materna. Destas mulheres, 61,5% (8/13) tinham
FTA-ABS IgM positivo, revelando sífilis primária. Estes achados são muito superiores à prevalência nacional estimada
para sífilis na gestação que é aproximadamente 1,7% (10,11,12); além disso, Damasceno (2004) em estudo realizado com
as puérperas atendidas na FSCMPA, encontrou um prevalência de 1,27% de mulheres com sífilis no pós-natal.
Na análise dos dados referidos em seus questionários quanto à orientação sobre sífilis e outras DST, 61,5%
(8/13) referiram não conhecerem o que é a sífilis e nem terem sido esclarecidas sobre esta e outras DST.
Evidentemente tal fato está em dissonância com o papel da atenção primária de saúde que por sua vez engloba entre
outras atribuições, a da prevenção de doenças na população. Este serviço deve ser efetivado pelas unidades de saúde
durante o atendimento e na triagem básica das doenças e agravos, e assim funciona como “porta de entrada” dos
pacientes que são assistidos pelo Sistema Único de Saúde. E deste modo, uma das atividades imprescindíveis nessa
ação é a promoção de educação em Saúde que favorece as mudanças individuais e coletivas (11,15).
A tabela 1 mostra que na análise das variáveis uso de preservativo, uso de álcool e tatuagem não foi
observada diferença estatística significativa entre o grupo estudo e controle. Esta constatação revela que tanto as
mulheres soropositivas para a sífilis quanto às soronegativas estão expostas a estes mesmos fatores de risco. No
entanto, as variáveis uso de drogas ilícitas, número de parceiros sexuais nos dois últimos anos e idade da 1º relação
sexual mostrou uma diferença estatística significativa entre os grupos analisados. Inúmeros estudos (18,19) mostram
que o não uso de preservativo vinculado a uma atividade sexual precoce e a promiscuidade expõe os indivíduos a
aquisição de diversas DST.
Tabela 1 – Distribuição das características quanto aos fatores de risco para DST no grupo de pacientes com sífilis e
controle entre mulheres atendidas pelo serviço de Pré-natal da Unidade de Saúde do Telégrafo, período de
junho/2006 a fevereiro/2007.
VARIÁVEIS
GRUPO DE ESTUDO
n = 13
GRUPO CONTROLE
n = 26
Uso de preservativo
n(%)
n%
Sim
1(7,6)
2(7,7)
Não
12(92,3)
24(92,3)
P valor*
p>0,05
Álcool
Sim
8(61,5)
12(46,1)
Não
5(38,5)
14(53,8)
Sim
3(23,0)
0
Não
10(77,0)
26(100)
1À2
7(53,8)
22(84,6)
2>
6(46,1)
4(15,4)
p = 0,0481
SIM
4(31,0)
2(7,7)
p> 0,05
NÂO
9(69,2)
24(92,3)
13 -16
11(84,6)
13 +1(53,8)
16>
2(15,3)
12(46,1)
Total
13
26
p> 0,05
Uso de drogas ilícitas
p = 0,0313
Número de parceiros sexuais (2 anos)
Tatuagem
Idade da 1ª relação sexual
* Teste exato de Fisher
700
p=0,0595
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
3.2. Promovendo atividades em Educação em Saúde
Inicialmente uma abordagem sobre os aspectos gerais de higiene humana foi explanada por meio de uma
primeira palestra com a finalidade interagir com o público alvo e melhorar o contato interpessoal da equipe com os
participantes, com aplicação de recursos pedagógicos para estimular os valores sócio-psicológicos no foco da saúde
coletiva. Neste primeiro momento foram convidadas duas pedagogas para avaliar o público-alvo quanto uma interrelação pessoal e uma dinâmica de grupo como forma de aproximar e desestruturar barreiras entre palestrantes e
público.
Em um segundo momento foi realizado uma palestra sobre aleitamento materno, pois foi um dos assuntos
que as mulheres presentes na primeira palestra tinham interesse na obtenção da informação. Esta palestra foi
ministrada por duas profissionais fonoaudiólogas, sendo que vários panfletos do ministério da saúde sobre este tema
foram distribuídos, e um deles especialmente foi confeccionado para reforçar aspectos específicos e relevantes e que
não são frequentemente abordadas. Esta palestra foi primordial para sinalizar e despertar o interesse do público alvo,
pois a grande maioria participou ativamente, interagindo com as palestrantes durante toda a atividade.
No terceiro encontro com a comunidade, o tema da palestra enfocou os aspectos gerais da saúde no período
gestacional. Este foi ministrado pelas alunas de iniciação científica do projeto, que utilizaram as informações relativas
aos aspectos epidemiológicos locais para introduzir e esclarecer o tema proposto.
O quarto encontro foi ministrado por uma farmacêutica, tendo com alvo a sífilis na gestação, temática que
motivaram muitas perguntas sobre a doença e suas conseqüências para o recém-nascido, refletindo o pouco
conhecimento da platéia, que neste caso não contou unicamente com as mulheres, mas com a participação de seus
parceiros e outros membros da comunidade.
A cada encontro foi notória a crescente adesão ao ciclo de palestras propostas, sendo verificado que muitas
das mulheres estavam acompanhadas de seus parceiros e/ou familiares, constatando-se um elevado empenho
daquelas mulheres em freqüentarem estas palestras, mesmo sem qualquer agendamento nestes dias para a consulta
de pré-natal.
Por outro lado, após este ciclo de palestra observou-se que estas mulheres demonstraram maior segurança
por estarem esclarecidas sobre os assuntos abordados, revelando que esta aprendizagem modificou o
comportamento e consequentemente a qualidade do estilo vida.
4. CONCLUSÃO
Esta investigação revela que a sífilis, uma doença sexualmente transmissível, a qual pode comprometer o
desenvolvimento e a saúde do feto, apresenta elevada freqüência entre as grávidas atendidas pelo serviço de prénatal da Unidade de Saúde do Telégrafo; fato este que pode estar sendo agravado pela falta de orientação e educação
em saúde à população atendida por este serviço. Esta situação reforça que as atividades de educação em saúde são
imprescindíveis para uma conscientização sobre os cuidados relacionados à saúde materno-infantil, e
consequentemente promova o desenvolvimento humano e a qualidade de vida, ação que deve ser desempenhada
pelos serviços de atenção primária da saúde.
REFERÊNCIAS
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AVELLEIRA J.C.R., BOTTINO G. Syphilis: diagnosis, treatment and control. Anais Brasileiros de Dermatologia, 81(2): 111126, 2006.
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BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. Atenção Humanizada ao Abortamento: norma
técnica. Brasília: Ministério da Saúde, 36p. 2005(a).
DOROSHENKO A, SHERRARD J, POLLARD AJ. Syphilis in pregnancy and the neonatal period. International Journal of
STD and AIDS 2007; 17(4): 221-229.
701
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
MINISTÉRIO
DA
SAÚDE.
Definição
de
Caso
de
Sífilis
http://www.aids.gov.br/ProgramaNacionaldeDSTeAids [25 janeiro 2005].
Congênita.
Disponível
em:
BRASIL. Portaria n° 33, de 14 de julho de 2005. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 15 de julho de 2005.
Secção 1, p. 111.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. PROGRAMA NACIONAL DE DST E AIDS. AIDS: Boletim Epidemiológico. Ano XVIII nº 01 01ª a 26ª Semanas Epidemiológicas - Janeiro a Junho de 2004. Brasília: PN DST/AIDS, 2004.
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Interne 2004; 25 (10): 715-9.
702
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE PLANTAS MEDICINAIS
COMERCIALIZADAS NA FEIRA DO VER-O-PESO, BELÉM-PA
Louzada, D.G.
Silva, P.E.
Costa, R.S.
Vieira, J.M.S.
ICS/UFPA
RESUMO: Ao longo dos anos, tem aumentado a utilização de plantas como medicamentos, sendo que estas são adquiridas, quase
sempre, em mercados e feiras livres, levando a população a consumir plantas com provável contaminação microbiológica, visto que
as condições de armazenamento muitas vezes não são adequadas, comprometendo a qualidade desses vegetais e a saúde do
consumidor. Deste modo, o objetivo da pesquisa foi verificar a qualidade microbiológica de plantas medicinais comercializadas na
feira do Ver-o-peso, no município de Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007, sendo adquiridas 50 amostras
compostas por 5 espécies distintas: canela, erva-cidreira, sene, boldo e erva-doce. Também foi verificada a contaminação
microbiana dos chás (decoctos) obtidos a partir destas plantas. Para as análises microbiológicas das plantas foram empregadas
metodologias da Farmacopéia Brasileira e a qualidade avaliada segundo os padrões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Os resultados indicaram que 84% das amostras estavam impróprias para consumo segundo os padrões utilizados. A
presença de fungos viáveis totais foi o maior responsável pela má qualidade das amostras. Todas as amostras de canela e ervacidreira estavam com a qualidade microbiológica em desacordo com a legislação. Todas as amostras de chás analisadas
apresentaram valores dentro do limite permitido, evidenciando a redução da carga contaminante. Com relação aos
microorganismos patogênicos, 8% das amostras foram positivas para Pseudomonas aeruginosa, 16% para Staphylococcus aureus,
10% para Escherichia coli e 2% para Salmonella spp, sendo que nenhum dos patógenos foi detectado nos chás (decoctos). Os
resultados demonstraram a necessidade de um melhor controle da qualidade microbiológica de plantas medicinais.
INTRODUÇÃO
O emprego de plantas medicinais na recuperação da saúde tem evoluído ao longo dos tempos desde as
formas mais simples de tratamento local até as formas tecnologicamente sofisticadas da fabricação industrial. No
Brasil, especialmente no nordeste e região Amazônica, embora existam muitos fitoterápicos produzidos
industrialmente, a maioria das plantas medicinais é utilizada na forma de planta fresca colhida pelo próprio
consumidor ou adquiridas pelo povo nos populares raizeiros que as comercializam em feiras e mercados.
A utilização de plantas para fins terapêuticos sem garantia de segurança e eficácia é agravada pela tendência
dos consumidores em adquirirem, preferencialmente, tais produtos no comércio varejista, realizado em mercados e
feiras livres, onde os mesmos são comercializados indiscriminadamente e sem controle, representando perigo ao
consumidor, pelo risco de aquisição e utilização de produtos de má qualidade. Um dos problemas mais freqüentes na
qualidade encontra-se relacionado às condições inadequadas de armazenamento durante a comercialização, expondo
o material vegetal à poeira, calor, umidade, insetos, roedores e microorganismos. A contaminação por bactérias e
fungos pode levar à destruição e/ou alteração dos princípios ativos e/ou ocasionar a produção de substâncias tóxicas,
como as micotoxinas produzidas por várias espécies de fungos.
Na preparação de chás a planta é submetida ao calor da água em ebulição. Evidentemente, o produto obtido
pode apresentar reduzida carga contaminante e até ser livre de patógenos que eventualmente pudessem estar
presentes na planta. Entretanto, dependendo da carga inicial, esse processo pode não ser efetivo. Portanto, faz-se
necessário melhor conhecimento, para que se possa avaliar o risco de infecções ou intoxicações às quais o consumidor
está sendo exposto pela utilização destes materiais.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram avaliadas 60 amostragens de plantas medicinais utilizadas na preparação de chás para uso oral,
comercializadas na feira do Ver-o-peso no município de Belém-PA, compostas por 5 espécies vegetais distintas:
canela, erva-cidreira, sene, boldo e erva-doce. As amostras foram selecionadas baseando-se na sua disponibilidade
comercial e popularidade de uso. Para a canela e erva-cidreira foram utilizadas folhas frescas, para boldo e sene folhas
secas e para erva-doce foram empregadas sementes.
Para a preparação das amostras foram pesados 10 g e, em seguida, adicionados a 90 mL de solução
tamponada pH 7,0 e homogeneizadas por 10 minutos, obtendo-se diluição 10-1 (0,1 g/mL).
703
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Para a preparação dos chás, porções de 5 g foram adicionadas a 100 mL de água potável e levada à ebulição
por 3 minutos sendo resfriados a temperatura ambiente.
Foi realizada a contagem de microrganismos mesófilos aeróbios viáveis totais (bactérias e fungos), utilizandose a técnica de semeadura por dispersão em superfície, nos meios Ágar Nutriente (OXOID) e Ágar Sabouraud dextrose
(ISOFAR).
A pesquisa de patógenos foi realizada utilizando-se a técnica de esgotamento, abrangendo a pesquisa para
Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Salmonella spp.
Para isolamento inicial foram realizados cultivos em meios de cultura seletivos, como ágar cetrimida (MERCK)
para a pesquisa de P.aeruginosa; ágar chapman (MERCK) para a pesquisa de S.aureus; ágar macConckey (HIMEDIA)
para a pesquisa de E.coli e ágar salmonella-shigella (HIMEDIA) para a pesquisa de Salmonella spp.
As colônias suspeitas foram posteriormente identificadas através de metodologias indicadas pela
FARMACOPÉIA BRASILEIRA (1988), OPLUSTYL et al 2002 e MURRAY et al 1999.
Figura 1 - Plantas medicinais expostas a venda no mercado do Ver-o-peso
Figura 2 - Mercado do Ver-o-Peso, Belém-PA
704
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
RESULTADOS
100%
100%
100%
84%
90%
80%
70%
70%
70%
60%
60%
50%
40%
40%
30%
30%
30%
16%
20%
10%
0%
0%
0%
Canela
Erva-cidreira
Boldo
Sene
Impróprias
Erva-doce
Total
Próprias
Figura 3 – Demonstrativo da qualidade microbiológica de 50 amostras de plantas medicinais comercializadas na Feira
do Ver-o-peso, Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007, de acordo com os padrões da ANVISA
(Portaria 123-MS/1994) e Farmacopéia Brasileira (1988).
100%
90%
98%
92%
90%
84%
78%
80%
70%
64%
60%
50%
36%
40%
30%
22%
16%
20%
10%
8%
10%
2%
0%
F ungos
Bac térias
S. aureus
E. c oli
705
P.aeruginos a
Salmonella
Impróprias
Próprias
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Figura 4 – Demonstrativo dos resultados considerando os padrões microbiológicos de 50 amostras de plantas
medicinais comercializadas na Feira do Ver-o-peso, Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007, de
acordo com a ANVISA (Portaria 123-MS/1994) e Farmacopéia Brasileira (1988).
Tabela 1 – Resultados das análises microbiológicas de amostras de folhas de canela comercializadas na Feira do Ver-opeso, Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007.
Bactérias
Fungos
UFC/g
UFC/g
1
> 3 x 105
> 1 x 105
2
5
5
Presença
5
Ausência
5
Presença
Amostra
3
4
> 3 x 10
5
> 3 x 10
5
> 3 x 10
5
> 1 x 10
> 1 x 10
> 1 x 10
5
5
> 3 x 10
> 1 x 10
Chá
0
0
6
5
> 3 x 10
5
Presença
E. coli
Salmonella
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Presença
Presença
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Presença
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
Ausência
> 1 x 10
> 3 x 10
> 1 x 10
8
> 3 x 105
> 1 x 105
9
5
5
5
5
Presença
P. aeruginosa
5
7
> 3 x 10
S. aureus
> 1 x 10
Ausência
Presença
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Presença
Presença
Presença
10
> 3 x 10
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
0
0
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Tabela 2 – Resultados das análises microbiológicas de amostras de folhas de erva-cidreira comercializadas na Feira do
Ver-o-peso, Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007.
Bactérias
Fungos
UFC/g
UFC/g
1
> 3 x 105
> 1 x 105
2
5
> 3 x 10
5
3
4
Amostra
P. aeruginosa
E. coli
Salmonella
Ausência
Presença
Presença
Presença
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
> 3 x 105
> 1 x 105
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
5
Ausência
Ausência
Ausência
> 3 x 10
5
> 1 x 10
5
S. aureus
Presença
5
> 3 x 10
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
0
0
6
7
8
5
> 3 x 10
5
> 3 x 10
5
> 3 x 10
5
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
> 1 x 10
> 1 x 10
5
> 1 x 10
5
Presença
9
> 3 x 10
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
10
> 3 x 105
> 1 x 105
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
0
0
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Tabela 3 – Resultados das análises microbiológicas de amostras de folhas de sene comercializadas na Feira do Ver-opeso, Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007.
706
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Bactérias
Fungos
UFC/g
UFC/g
1
> 3 x 105
> 1 x 105
2
5
> 3 x 10
5
3
4
Amostra
P. aeruginosa
E. coli
Salmonella
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
> 3 x 105
> 1 x 105
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
5
Ausência
Ausência
5
> 3 x 10
5
> 1 x 10
S. aureus
Presença
Ausência
5
> 3 x 10
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
0
0
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
6
5
> 3 x 10
>1 x 10
7
2,2 x 104
7 x 103
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
8
4
4
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
3,1 x 10
4
5
1 x 10
5
9
1,4 x 10
>1 x 10
10
3 x 103
1 x 104
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
4
3
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
6 x 10
3 x 10
Tabela 4 – Resultados das análises microbiológicas de amostras de folhas de boldo comercializadas na Feira do Ver-opeso, Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007.
Amostra
Bactérias
Fungos
UFC/g
UFC/g
S. aureus
P. aeruginosa
E. coli
Salmonella
1
7,2 x 104
> 1 x 105
2
4
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
7,3 x 10
3
5
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
2 x 10
5
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
4
7,1 x 104
> 1 x 105
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
4
8,3 x 10
5
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
0
0
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
6
1,1 x 104
2 x 103
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
7
8
9
> 1 x 10
3
0
4 x 10
4
2,4 x 10
5
> 3 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
5
> 1 x 10
Presença
Ausência
Ausência
Ausência
3
> 1 x 10
10
0
5 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
0
1 x 104
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Tabela 5 – Resultados das análises microbiológicas de amostras de sementes de erva-doce comercializadas na Feira do
Ver-o-peso, Belém-PA, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007.
Amostra
1
2
Bactérias
Fungos
UFC/G
UFC/g
7 x 104
> 1 x 105
4
4
4
4
4,3 x 10
4
3
4,4 x 10
4
5
2 x 10
4,1 x 10
2,9 x 10
5,8 x 10
S. aureus
P. aeruginosa
E. coli
Salmonella
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
707
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
9 x 104
5
Chá
4,2 x 104
3
0
2 x 10
5
5
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
6
> 3 x 10
> 1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
7
3
5 x 10
3
1 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
8
> 3 x 105
2 x 103
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
3
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
3
9
0
7 x 10
5
10
> 3 x 10
2 x 10
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Chá
2 x 103
2 x 103
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
CONCLUSÃO
– A qualidade microbiológica das plantas medicinais comercializadas na Feira do Ver-o-peso é deficiente
indicada pela alta carga microbiana encontrada.
– A presença de patógenos como E. coli e Salmonella representam alto risco de veiculação de doenças
gastrintestinais.
– A presença de grande número de amostras com valores de fungos totais acima dos limites permitidos indica
o risco de intoxicação por micotoxinas ao consumidor.
– A presença de S. aureus demonstra que as amostras analisadas podem estar envolvidas em casos de
intoxicação intestinal pela toxina estafilocócica.
– A preparação dos chás reduziu consideravelmente o número de contaminantes mesófilos aeróbicos, mas
não a eliminação total em todas as amostras.
– Os patógenos pesquisados foram todos eliminados durante o processo de preparação dos chás.
– Há necessidade da adoção de medidas de controle de qualidade microbiológica das plantas medicinais
expostas à venda na Feira do Ver-o-peso para evitar riscos à saúde do consumidor.
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709
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
INVESTIGAÇÃO DO NÍVEL DE INFORMAÇÃO SOBRE O PROGRAMA NACIONAL DE
TRIAGEM NEONATAL DOS RESPONSÁVEIS POR PACIENTES ENCAMINHADOS AO
LABORATÓRIO DE ERROS INATOS DO METABOLISMO
NO PERÍODO DE JANEIRO A OUTUBRO DE 2007
Carla Cristiane Soares da Silva1
Naiara Monteiro Parente Alves2
Lorena Martins Cunha3
Cleber Monteiro Cruz4
Luiz Carlos Santana da Silva (Coordenador)5
Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo/ICB/UFPA
RESUMO: A Triagem Neonatal ou Teste do Pezinho (TP) são vários testes que objetivam prevenir sintomas e morte de crianças
afetadas por uma desordem metabólica tratável antes do aparecimento dos primeiros sintomas. Por esta razão o TP deve ser
realizado nas primeiras semanas de vida do neonato. As doenças de triagem obrigatórias por lei são a Fenilcetonúria,
Hipotireoidismo Congênito, Fibrose Cística e hemoglobinopatias. O objetivo do trabalho é avaliar o nível de informação sobre o TP
que os responsáveis por pacientes suspeitos de apresentar um EIM têm em relação ao TP. A coleta de dados foi feita nas fichas de
112 pacientes que deram entrada no LEIM entre janeiro e outubro de 2007, sendo avaliadas apenas as fichas que apresentaram
resposta à pergunta referente ao conhecimento do teste do pezinho, somando 62 fichas. Dos entrevistados, 52% afirmaram
conhecer o TP. Das mães entrevistadas, 55% desconheciam o TP, predominando a faixa etária menor que 20 e maior que 30 anos,
com escolaridade em nível fundamental. A renda mensal predominante das pessoas que desconheciam o TP foi menor que três
salários mínimos. Na Região Metropolitana de Belém, predominou os entrevistados que conheciam o TP (52%). Nos outros
municípios, predominou os que desconheciam (56%). 86% dos entrevistados que conheciam o TP foram encaminhados por serviço
de saúde particular e 57% dos que desconheciam foram, encaminhada pelo SUS. A maioria dos pacientes, com responsável
informado ou não sobre o TP, realizou o teste. A investigação que o TP proporciona abrangeu a população estudada, conhecendo
ou desconhecendo seus objetivos. Mas, campanhas de esclarecimento sobre o TP são fundamentais em todo o estado, pois,
verificou-se que grande parcela da população, como mães abaixo de 20 e acima de 30 anos com renda mensal baixa e moradoras
do interior não apresentaram conhecimento algum sobre os objetivos do TP.
Palavras-chave: Triagem neonatal; teste do pezinho; doenças metabólicas.
1. INTRODUÇÃO
A triagem populacional, no âmbito da saúde pública significa selecionar, dentre os indivíduos aparentemente
normais, aqueles com risco de desenvolverem determinada doença.
As doenças de defeito do metabolismo, denominadas erros inatos do metabolismo (EIM), são de origem
genética, geralmente autossômica recessiva, que resulta na perda parcial ou total da atividade de uma determinada
enzima, que causa bloqueio na rota metabólica que participa, gerando acumulo e/ou falta de algum substrato no
organismo. Muitas dessas doenças geram graves problemas físicos e neurológicos se não forem identificadas e
tratadas precocemente, mas o tratamento em tempo hábil esbarra em um aspecto dessas doenças: muitas delas são
de aparecimento tardio, e quando os sintomas aparecem, os problemas mais graves são irreversíveis.
Com a preocupação de diagnosticar essas doenças ainda no período pré-sintomático que surgiu a idéia de
Triagem Neonatal (TN) ou, conhecido popularmente como Teste do Pezinho (TP). A TN é compreendida de vários
testes que objetivam prevenir a deficiência mental e a morte de crianças afetadas por uma desordem metabólica
tratável antes do aparecimento dos primeiros sintomas, além de proporcionar o tratamento do indivíduo, melhorando
assim a qualidade destas crianças. Por esta razão a TN deve ser realizada nas primeiras semanas de vida do neonato.
Além do diagnóstico de doenças metabólicas, a TN atual também diagnostica Fibrose cística e
hemoglobinopatias.
1
Graduanda do curso de Biomedicina.
Graduanda do curso de Biomedicina.
3
Pós-graduando em Neurociências e Biologia Celular.
4
Pós-graduando em Neurociências e Biologia Celular.
5
Professor Adjunto III do ICB.
2
710
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Para que uma doença seja incluída na TN em massa é preciso que preencha alguns requisitos básicos como:
freqüência elevada, doença grave, tratamento disponível e satisfatório, baixo custo, testes de diagnóstico simples e
aplicabilidade em larga escala.
O berço da triagem neonatal foi nos Estados Unidos, em 1961, quando o professor Robert Guthrie
desenvolveu uma metodologia para a dosagem de fenilalanina em amostras de sangue seco impregnados em papel
filtro. Este método de coleta de amostra foi um passo fundamental para a disseminação da triagem neonatal, já que
seria necessária uma pequena quantidade de amostra, e também o transporte seria facilitado, podendo a amostra ser
colhida e enviada à distância por correio a um centro especializado.
Na década de 70, muitos países, como os EUA, Japão e Canadá adotaram programas para triagem neonatal
de alguns EIMs. Nessa mesma década, a idéia de triagem neonatal é implantada no Brasil pelo professor Benjamin
Schmidt, que criou o projeto pioneiro de Triagem neonatal para Fenilcetonúria na Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais de São Paulo (APAE-SP).
No ano de 1985 é criada a legislação no Rio de Janeiro, que torna obrigatória a triagem neonatal para
Fenilcetonúria e Hipotireoidismo congênito. Esta lei contribuiu para a adoção de leis em outros estados, mas sem
relação uns com os outros. Por exemplo, foi aprovado um projeto incluído na lei orgânica de 1989 do Município de
Belém que também preconiza a obrigatoriedade da realização do teste do pezinho para estas duas doenças.
Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 pela lei federal n° 8.069, a triagem neonatal
se torna lei federal, obrigando hospitais e estabelecimentos de atenção à saúde da gestante a proceder a exames
visando o diagnóstico e tratamento de desordens metabólicas que afetam o recém nascido.
Em 1992, o Ministério da saúde lança aportaria n° 22, que especifica o Hipotireoidismo Congênito e
Fenilcetonúria como doenças que devem ser triadas em neonatos, mas é com a portaria n°822 de 06 de junho de
2001 que se pensa na organização de uma rede de triagem neonatal, o Programa Nacional de Triagem Neonatal
(PNTN), na qual são criados postos de coletas espalhados por todo o território, e esses postos encaminhas as amostras
para o centro de referência do estado, que fará os testes de triagem. Este programa também especifica as doenças de
triagem obrigatória: Fenilcetonúria, Hipotireoidismo congênito, Fibrose cística e Anemia falciforme e outras
Hemoglobinopatias.
As doenças contempladas não são aplicáveis em todos os estados, pois devem obedecer a fases de
implementação: a fase I contempla os estados com até 50% de cobertura e devem triar fenilcetonúria e
hipotireoidismo congênito; a fase II contempla os estados com cobertura maior que 50% e devem triar para
fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Anemia falciforme e hemoglobinopatias; A fase III Contempla os estados
com cobertura maior que 75% e deve triar todas as doenças da fase II mais Fibrose cística.
. No Estado do Pará, aproximadamente 75% das crianças recém-nascidas fazem a triagem neonatal. No
momento faltam apenas seis municípios implantarem o teste: Terra Alta, Cachoeira do Piriá, Aveiro, Curuá,
Jacareacanga e Prainha. Ao todo, são 380 postos de coleta que funcionam em hospitais e unidades de saúde6. Porém,
na cidade de Belém já é realizada a triagem para todas as doenças obrigatórias por lei. O tratamento também é
realidade se for detectado algum caso positivo, sendo que os casos de PKU e HC são tratados na Unidade de
Referência Especializada Materno Infantil e Adolescente (URE-MIA), os casos de hemoglobinopatias são
encaminhados para o Hemopa e os casos de fibrose cística são tratados no Hospital Universitário João de Barros
Barreto.
Quando um Programa de Saúde é implantado, espera-se que ele seja de fácil compreensão para as diferentes
camadas da sociedade. Além de que a compreensão dos objetivos e aplicações do PNTN pela sociedade tem
implicação direta na qualidade de vida desta bem como na diminuição dos custos do Estado com o tratamento dos
indivíduos afetados pelas doenças contempladas por este programa. Portanto, é esperado que o PNTN seja um dos
programas do Ministério da Saúde mais divulgados, supondo que as informações referentes à cobertura do mesmo
cheguem de forma clara e precisa à população. Com este intuito, todos os pais deveriam ser informados antes da
coleta para a triagem neonatal, sobre as doenças que estão sendo pesquisadas, sobre a chance de ocorrência de
falsos-negativos e falsos-positivos, ressaltando a importância do diagnóstico precoce com tratamento e assistência
gratuitos aos pacientes e sobre a eventual necessidade de recoleta de amostra de sangue do recém-nascido.
1.1 Objetivos
Para que o programa atinja 100% de cobertura nacional, é necessário que a população esteja informada
sobre a importância de se realizar o “teste do pezinho” e considerando este fato, o trabalho tem como objetivo avaliar
711
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
o nível de informação sobre o Plano Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) que os responsáveis por pacientes
suspeitos de apresentar um EIM têm em relação ao PNTN, assim como estabelecer parâmetros comparativos entre o
grau de informação e compreensão apresentado pela amostra e a situação sócio-econômica existente.
1.2 Metodologia
A amostra foi composta por responsáveis por pacientes em potencial de apresentar um EIM e que são
encaminhados para o Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo (LEIM) pelas unidades de saúde que mantém
convênio.
A coleta de dados foi feita nas fichas de 112 pacientes que deram entrada no LEIM entre janeiro de 2007 e
outubro de 2007. O critério de inclusão foi a resposta quanto ao conhecimento do TP na ficha do paciente, somando
62 fichas, respondidas por mães, pais e familiares dos pacientes, além de fichas sem identificação do entrevistado.
Apenas as fichas respondidas por mães e pais dos pacientes foram utilizadas nas análises dos seguintes dados: relação
entre nível de conhecimento sobre PNTN e idade dos pais; escolaridade dos pais; renda média; localidade de moradia;
e serviço de saúde utilizado.
Dentre as 112 fichas analisadas, 50 foram excluídas do estudo por não apresentarem respostas à pergunta
correspondente ao nível de conhecimento sobre o TP. Esta falta de registro provavelmente se deve ao não
questionamento pelo entrevistador, que perguntava somente se a criança havia realizado o teste do pezinho.
Quando o paciente é encaminhado ao LEIM, o responsável é submetido à entrevista, onde se preenche um
questionário com informações sobre o quadro clínico do paciente e informações econômicas e sócio-culturais da
família. Para este trabalho, foram coletadas informações referentes a dados econômicos e sócio-culturais, tais como:
conhecimento sobre o TP, idade materna e paterna, escolaridade dos pais, renda mensal, local de moradia e serviço
de saúde (público ou privado) que encaminhou o paciente. Também foi perguntado se o paciente havia feito o TP.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Resultados
Das 62 fichas incluídas no estudo, verificou-se que 44 (70%) foram respondidas por mães dos pacientes, três
fichas (5%) foram respondidas por pais, nove fichas (15%) foram respondidas por familiares dos pacientes e seis fichas
(10%) não apresentavam a informação sobre o entrevistado.
Em relação ao conhecimento sobre a existência do TP, 52% (32) dos entrevistados responderam que tinham
conhecimento sobre o teste do pezinho, enquanto que 48% (30) dos entrevistados não tinham noção do que significa
este teste.
porcentagem dos pacientes
Uma grande parcela dos entrevistados afirmou que o paciente já havia feito o TP, e dentre os que
desconheciam o TP a porcentagem entre os paciente que fizeram e não fizeram o TP foi muito próxima (gráfico 1).
100%
83%
80%
48%52%
60%
paciente não fez TP
40%
20%
paciente fez TP
17%
0%
pais
informados
pais não
informados
Gráfico 1
Porcentagem dos pacientes que fizeram o TP por categorias de pais informados sobre o TP e pais não informados.
A categoria que apresentou maior conhecimento relativo sobre o PNTN foi a dos pais entrevistados,
com100% de informados. Dentre as mães, obteve-se 55% (24/44) de mães que desconheciam o teste do pezinho e
712
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Porcentagem da população
45% (20/44) que conheciam. A maioria dos outros familiares que vieram à consulta (67,0%, 6/9) responderam
negativamente à pergunta. (Gráfico 2).
120%
100%
80%
60%
100%
67%
55%
45%
33%
40%
20%
possuem
conhecimento
não possuem
conhecimento
0%
mãe
pai
familiar
idade
Gráfico 2
Porcentagem de indivíduos que afirmaram possuir ou não conhecimento sobre o TP,
segundo categoria de pais, mães e familiares.
Para relacionar o nível de informação com as informações sócio-culturais, levaram-se em consideração
apenas as respostas dadas por mães ou pais (47 entrevistados), já que as perguntas dos questionários eram
relacionadas aos pais, não podendo correlacionar nível sócio-cultural dos pais com respostas dadas por familiares.
porcentagem de indivíduos
Em relação à idade das mães, foram avaliadas 43 entrevistadas, sendo que uma delas foi excluída por não
haver informação referente à idade. Dentre as entrevistadas, as mães com idade entre 20 e 30 anos apresentaram
maior conhecimento sobre o TP (50% 10/20) em relação ás faixas etárias abaixo de 20 e acima de 30 anos.Das mães
que desconheciam o assunto estudado, houve predomínio de mães acima de 30 anos (53% 12/23) (gráfico 3).
60%
50%
40%
53%
50%
40%
30%
30%
20%
14 - 20 anos
21 - 30 anos
maior 30 anos
10%
0%
sim
não
resposta
Gráfico 3
Porcentagem de mães que afirmaram possuir ou não conhecimento sobre PNTN, segundo faixa etária.
Em relação à escolaridade, 54% dos indivíduos que apresentaram algum conhecimento sobre o assunto
analisado possuem o ensino médio. Dos indivíduos que não apresentaram conhecimento, 65% possuem o ensino
fundamental. Todos os entrevistados que apresentaram ensino superior apresentaram conhecimento sobre o teste do
pezinho.(gráfico 4).
713
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Porcentagem da
amostra
Extensão Universitária e Políticas Públicas
80%
65%
54%
60%
40%
Fundamental
35%
32%
Superior
14%
20%
Médio
0%
sim
não
Nível de conhecimento
Gráfico 4
Porcentagem de indivíduos que afirmaram possuir ou não conhecimento sobre PNTN, segundo escolaridade.
percertagem da populaçã
Quando se relacionou informação e renda familiar mensal, foram excluídas 6 fichas por não apresentarem
resposta à pergunta sobre renda mensal. Das fichas incluídas, observou-se que, dentre os que afirmaram possuir
algum conhecimento sobre TP, houve o predomínio de renda salarial indefinida (44% - 10 fichas), seguido dos que
afirmaram possuir até 3 salários mínimos (39% - 9 fichas). Dos que disseram não ter conhecimento, predominou a
faixa de até 3 Salários mínimos (55% - 10 fichas) (gráfico 5).
55%
60%
50%
40%
30%
20%
44%
39%
39%
renda 1 - 3 SM
renda +3 SM
17%
6%
10%
0%
sim
renda indefinida
não
conhecimeto
Gráfico 5
Porcentagem de indivíduos que afirmaram possuir ou não conhecimento sobre PNTN, segundo renda mensal.
Porcentagem da população
Dentre os indivíduos encaminhados da Região Metropolitana de Belém (RMB), 52% (16/31) apresentaram
algum conhecimento sobre PNTN. Dentre os encaminhados do interior, 56% (9/16) responderam não ter
conhecimento sobre PNTN (gráfico 6).
60%
50%
40%
52%
56%
48%
44%
apresentavam
conhecimenro
30%
20%
não apresentavam
conhecimento
10%
0%
RMB
Interior
Local de moradia
Gráfico 6
Porcentagem de indivíduos que afirmaram possuir ou não conhecimento sobre PNTN, segundo local de moradia.
714
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
Percentual da populaçã
Em relação ao serviço de saúde utilizado, três indivíduos foram excluídos por não responderem à pergunta
referente ao serviço de saúde encaminhador. Dos indivíduos que responderam a pergunta, 86% (6/7) dos
encaminhados pelo serviço particular responderam que conheciam o PNTN. Dos encaminhados do serviço público,
57% (21/37) disseram não ter conhecimento sobre o PNTN (gráfico 7)
100%
86%
80%
57%
60%
43%
Não possuem
conhecimento
40%
20%
possuem
conhecimento
14%
0%
Part.
Sus
origem
Gráfico 7
Porcentagem de indivíduos que afirmaram possuir ou não conhecimento sobre PNTN, segundo serviço de saúde.
Avaliando qualitativamente o nível de informação dos indivíduos que afirmaram ter conhecimento sobre o
TP, foram obtidas respostas certas, porém muito vagas. Muitos entrevistados relataram que o TP servia para detectar
doenças, outros disseram que servia para detectar problemas neurológicos, falhas genéticas, problemas de
desenvolvimento. As respostas mais completas relatavam que o TP servia para detectar doenças metabólicas, e
também PKU e Hipotireoidismo congênito, mas os indivíduos entrevistados não tinham nenhum conhecimento sobre
essas doenças.
2.2 Discussão
Das 62 fichas incluídas no estudo, 70% (44) foram respondidas por mães dos pacientes, indicando que elas
são as principais acompanhantes dos filhos a serviços de saúde.
O universo de pais entrevistados foi muito pequeno em relação ao universo de mães, então o total de 100%
de pais informados sobre o TP pode não refletir a realidade. Provavelmente, se o tamanho amostral fosse aumentado,
esta situação poderia ser diferente.
O PNTN tem seis anos de criação, e leva-se algum tempo para concretizar um plano de abrangência como
este, principalmente quando se refere à sua divulgação em massa. Isto explica o predomínio das mães de 20 a 30 anos
entre as mais informadas, pois com o PNTN já instalado a algum tempo, as informações já estão difundidas e de mais
fácil acesso. Ao contrário, as mães com mais de 30 anos predominaram na resposta negativa porque na época em que
seus filhos nasceram o PNTN não existia ou estava iniciando, não atingindo toda a população.
Os meios de acesso à informação se tornam mais abundantes de acordo com o nível de escolaridade,
explicando o fato de que as pessoas com nível médio apresentarem maior conhecimento que as pessoas que
possuíam o nível fundamental. Também vale ressaltar que todas as pessoas que apresentaram nível superior
demonstraram algum conhecimento sobre o TP, mas não sendo muito expressivo em função do reduzido tamanho
amostral.
O acesso aos meios de informação é mais facilitado para os indivíduos com renda relativamente alta, pois
indivíduos com renda inferior a três salários mínimos por mês foram os mais desinformados sobre o PNTN. A categoria
que apresentou maior conhecimento foi os que declararam possuir renda mensal indefinida, não significando que
possuíam renda baixa, pois boa parte se tratava de autônomos.
Neste estudo foi observado que uma parcela significativa de entrevistados com maior renda e acesso a plano
de saúde privado apresentou maiores índices de informação sobre o TP. Por outro lado, os fatores renda baixa e a
dependência do sistema único de saúde (SUS) contribuíram para uma menor compreensão sobre o TP.
O nível de conhecimento na RMB apresentou predomínio de indivíduos que mostraram conhecimento.
Entretanto, os valores de porcentagem dos que conheciam e desconheciam o TP forma bastante próximos (52 e 48%
respectivamente) mostrando que apesar de Belém ser o local de referência no estado, parte da população não está
715
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
bem esclarecida, ao contrário do que deveria ser, pois esta população tem acesso com mais facilidade aos meios de
comunicação e a serviços de saúde. Quanto à população de outros municípios, a porcentagem entre os que
conheciam e desconheciam o TP também foi bastante similar (44 e 56%), mas com predominância de indivíduos que
desconheciam o assunto. Isso Demonstra que a informação está chegando a lugares distantes e de difícil acesso, mas
o predomínio do desconhecimento pode estar ligado justamente à dificuldade de acesso ao interior do Pará, já que
muitos lugares são de difícil acesso, os meios de comunicação são muitas vezes inacessíveis, e até mesmo pelo
trabalho feito por parteiras, que desvia a locomoção das gestantes para os centros de saúde.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A investigação que o PNTN proporciona abrangeu a população que foi estudada, conhecendo ou
desconhecendo seus objetivos, desde que a criança tenha nascido após sua implantação, já que muitos dos pacientes
que não realizaram o teste são nascidos anteriormente a sua criação, e até porque a coleta não existia em muita das
localidades.
Mas apesar dessa cobertura, campanhas de esclarecimento sobre o PNTN se tornam fundamental, tanto na
RMB quanto nos outros municípios, pois, apesar de a maioria do total estudado apresentar algum conhecimento,
verificou-se que grande parcela da população, como mães abaixo de 20 anos e acima de 30 anos, com baixa renda
mensal e moradoras do interior não apresentam conhecimento algum. Então é de extrema importância que se
difunda concretamente o PNTN, para que assim a população se conscientiza e transmita o conhecimento para outras
pessoas, dizendo que uma simples furada no pezinho do recém nascido não é um ato de crueldade, mas sim um ato
de amor e cuidado à saúde.
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716
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
PROGRAMA DE FIBROSE CÍSTICA HUJBB – UMA VISÃO FARMACÊUTICA:
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO PROGRAMA DE FIBROSE CÍSTICA
Priscila do Socorro Ferreira Loureiro
Renata Novaes Pinto (Bolsista)
RESUMO: O artigo refere à doença Fibrose Cística e a Assistência farmacêutica aos pacientes do programa de Fibrose Cística do
Hospital Universitário João de Barros Barreto, que tem como objetivo geral orientar o paciente quanto ao uso correto e racional do
medicamento, a fim de que o tratamento do mesmo se realize com eficácia e eficiência. Foi realizado um estudo comparativo entre
os meses de fevereiro a setembro de 2007, no atendimento por Autorização por procedimento de alto custo – APAC, com
resultados obtidos através de índice percentual e análise de adesão ao tratamento e uso adequado do medicamento.
INTRODUÇÃO
A fibrose cística ou mucoviscosidade é uma doença genética que se manifesta em ambos os sexos. É uma
doença hereditária transmitida pelo pai e pela mãe (embora nenhum dos dois manifeste a doença). A sua freqüência é
de 1:2.500 recém-nascidos da raça branca e de 1:17.000 recém-nascidos da raça negra. No entanto, ela é rara entre a
população asiática. Por outro lado, não existe variação de incidência em função do sexo, afetando ambos os sexos de
maneira igual. O maior índice de mortalidade está entre os jovens.
Cerca de 5% dos indivíduos da raça branca apresentam um gene anormal responsável pela fibrose cística,
mas o traço é recessivo e a doença desenvolve-se somente quando o indivíduo apresenta dois genes anormais.
Aqueles que apresentam apenas um gene anormal não têm sintomas perceptíveis. O gene controla a produção de
uma proteína que regula a transferência de cloreto de sódio (sal) através das membranas celulares. Quando os dois
genes são anormais, a transferência de cloreto de sódio é interrompida, acarretando desidratação e aumento da
viscosidade das secreções.
Essa doença afeta praticamente todas as glândulas exócrinas (glândulas que secretam líquidos no interior de
um conduto). A obstrução dos ductos pancreáticos pela secreção mais viscosa impede que as enzimas digestivas
sejam lançadas no intestino. O paciente tem má absorção de nutrientes e não ganha peso, apesar de alimentar-se
bem. Apresenta também maior número de evacuações diárias e elimina fezes volumosas, com odor forte e gorduroso.
Essa obstrução por secreção mais espessa também pode acometer os ductos biliares. A bile retida no fígado favorece
a instalação de um processo inflamatório.
O íleo meconial, um tipo de obstrução intestinal neonatal, ocorre em 17% dos recém-nascidos com fibrose
cística. O mecônio, uma substância de cor verde-escuro que aparece nas primeiras fezes de um recém-nascido, é
espesso e seu trânsito é mais lento do que o normal. Se o mecônio for muito espesso, ele produz uma obstrução
intestinal, que pode acarretar perfuração da parede intestinal ou torção intestinal.
O mecônio também pode formar obstruções (tampões) temporárias no intestino grosso ou no ânus.
Posteriormente, os recém-nascidos com íleo meconial quase sempre apresentam outros sintomas da fibrose cística.
Freqüentemente, o primeiro sintoma de fibrose cística de um recém-nascido que não apresenta íleo meconial é o
baixo ganho de peso nas quatro ou seis primeiras semanas de vida. Uma quantidade insuficiente de secreções
pancreáticas essenciais para a digestão adequada de gorduras e proteínas acarreta uma digestão deficiente em 85 a
90% dos lactentes com fibrose cística. O lactente apresenta evacuações freqüentes, com eliminação de grandes
quantidades de fezes gordurosas e fétidas, e tem um abdômen abaulado. O crescimento é lento, apesar de a criança
apresentar um apetite normal ou acima do normal. O lactente é magro e sua musculatura é flácida.
A absorção inadequada das vitaminas lipossolúveis (solúveis em gordura) – A, D, E e K – pode acarretar
cegueira noturna, raquitismo, anemia e distúrbios hemorrágicos. Em 20% dos recém-nascidos e lactentes não
tratados, ocorre uma exteriorização do revestimento intestinal através do ânus, condição denominada prolapso retal.
Os lactentes alimentados com formulações à base de proteína da soja ou leite materno podem apresentar anemia e
edema por não absorverem uma quantidade suficiente de proteínas.
Cerca de 50% das crianças com fibrose cística são levadas pela primeira vez ao médico por apresentarem
tosse, sibilos e infecções do trato respiratório.
O aparelho respiratório é a área mais delicada da doença. Os pulmões são normais no nascimento, mas daí
em diante os distúrbios respiratórios podem ocorrer em qualquer momento. As secreções brônquicas espessas
acabam obstruindo as pequenas vias aéreas, produzindo inflamação. À medida que a doença evolui, as paredes
717
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
brônquicas tornam-se espessas, as vias aéreas enchem-se de secreções infectadas, áreas do pulmão contraem
(condição denominada atelectasia) e os linfonodos aumentam de tamanho. Outros sintomas são tosse com secreção
produtiva, pneumonias de repetição, bronquite crônica. Todas essas alterações reduzem a capacidade dos pulmões de
transferir oxigênio para o sangue.
A tosse, o sintoma mais perceptível, é freqüentemente acompanhada por náusea, vômito e alteração do
sono. À medida que a doença evolui, o tórax assume uma forma de barril e a falta de oxigênio pode acarretar dedos
em baqueta de tambor e cianose. Pode ocorrer a formação de pólipos nasais e uma sinusite com secreções espessas.
Freqüentemente, os adolescentes apresentam um retardo do crescimento e da puberdade e uma diminuição da
resistência física. As complicações em adultos e adolescentes são: o colapso pulmonar (pneumotórax), a expectoração
de sangue e a insuficiência cardíaca. A infecção também é um problema importante. A bronquite e a pneumonia
recorrentes provocam uma destruição gradual dos pulmões. Comumente, a morte é decorrente de uma combinação
da insuficiência respiratória e da insuficiência cardíaca causadas pela doença pulmonar subjacente. Um dos objetivos
do tratamento é retardar ao máximo a instalação da infecção crônica, erradicando precocemente as bactérias
potencialmente patogênicas. A partir do momento em que a infecção torna-se crônica, a erradicação não é mais
possível, sendo apenas possível conseguir a estabilização da função pulmonar pela redução da carga bacteriana e da
inflamação pulmonar. Cerca de 2 a 3% dos indivíduos com fibrose cística apresentam diabetes insulinodependente,
pois o pâncreas cicatrizado é incapaz de produzir uma quantidade suficiente de insulina. A obstrução dos ductos
biliares por secreções espessas pode acarretar a inflamação do fígado e, finalmente, a cirrose hepática. A cirrose pode
aumentar a pressão no interior das veias que suprem o fígado (hipertensão portal), acarretando dilatação das veias na
região inferior do esôfago (varizes esofágicas). Essas veias anormais podem romper e sangrar copiosamente.
Quando um indivíduo transpira excessivamente em um clima quente ou devido à febre, ele corre o risco de
desidratar em decorrência da maior perda de sal e água. Os pais podem observar então a formação de cristais de sal
sobre a pele da criança, que pode inclusive apresentar um sabor salgado. Isso se da devido à alteração do transporte
iônico nas glândulas sudoríparas compromete a reabsorção de cloro.
Os indivíduos com fibrose cística freqüentemente apresentam comprometimento da função reprodutiva.
Mulheres portadoras de fibrose cística têm mais dificuldade para engravidar porque o muco cervical mais espesso
dificulta a passagem dos espermatozóides. No entanto, muitas mulheres com fibrose cística tiveram filhos. Entre os
homens adultos, 98% não produzem espermatozóides ou apresentam uma contagem baixa de espermatozóides,
devido ao desenvolvimento anormal do vaso deferente.
MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO DO GENE
Mutação no gene
⇓
Defeito no transporte iônico
⇓
Diminuição na secreção de fluidos
⇓
Aumento da concentração de macromoléculas
⇓
Tubulopatia obstrutiva
⇓
________________________________________________________
⇓⇓⇓⇓⇓
Pulmões Pâncreas Intestino Fígado Testículos
O diagnóstico para recém-nascidos com fibrose cística é feito através da concentração de tripsina (uma
enzima digestiva) no sangue, se ela for elevada o diagnóstico é positivo. Essa concentração de tripsina é feito no teste
do pezinho. Embora este método seja utilizado em programas de investigação de recém-nascidos, ele não é uma
718
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
prova conclusiva para o diagnóstico da fibrose cística. Já o teste do suor pode confirmar o diagnóstico em crianças
com mais idade e em adultos. Como a fibrose cística pode afetar diversos órgãos, vários outros testes auxiliam o
médico no estabelecimento do diagnóstico. Se as concentrações das enzimas pancreáticas encontrarem-se reduzidas,
um exame de fezes pode revelar uma redução ou o desaparecimento das enzimas digestivas tripsina e quimiotripsina
ou concentrações elevadas de gordura. Se a secreção de insulina estiver reduzida, a glicemia (concentração de açúcar
no sangue) estará elevada. As provas da função pulmonar podem revelar um comprometimento da função
respiratória. Além disso, uma radiografia torácica pode sugerir o diagnóstico. Além dos pais, os parentes de uma
criança com fibrose cística podem demonstrar interesse em saber se existe a probabilidade de terem filhos com essa
doença. Os exames genéticos realizados com uma pequena amostra de sangue podem ajudar a determinar quem
apresenta um gene anormal que produz a fibrose cística. A não ser que ambos os pais possuam pelo menos um gene,
os filhos não apresentarão fibrose cística. Se ambos os pais forem portadores de um gene anormal que produz a
fibrose cística, cada gravidez apresenta 25% de probabilidade dessa doença afetar o concepto. Geralmente, durante a
gestação, é possível estabelecer um diagnóstico de fibrose cística no feto.
É fundamental para o tratamento da fibrose cística, além de garantir a reidratação e a reposição de sódio,
especialmente nos dias de calor:
• Boa nutrição do paciente, por meio de dieta rica em calorias sem restrição de gorduras;
• Suplementação de enzimas pancreáticas para auxiliar a digestão;
• Reposição das vitaminas lipossolúveis A,D,E,K;
• Inalações diárias com soro fisiológico, broncodilatadores ou mucolíticos, conforme as características
da secreção;
• Fisioterapia respiratória para facilitar a higiene dos pulmões e evitar infecções
• Prescrição de antibióticos em casa ou no hospital, nos casos mais graves.
O tratamento de fibrose cística evolui bastante nas últimas décadas. Isso garante aos pacientes vida mais
longa e de boa qualidade.
De acordo com o supracitado, o objetivo do projeto é relatar a atuação da farmácia do HUJBB dentro da
equipe multiprofissional, e o seu trabalho com os pacientes no que diz respeito adesão do paciente ao tratamento,
uso adequado do medicamento e indicações fundamentais de assistência farmacêutica.
Durante o ano de 2007, no período de fevereiro a setembro foi realizado acompanhamento aos pacientes
com atuação no programa de fibrose cística, e os resultados foram obtidos através desta análise, e foi realizado um
estudo comparativo com o ano anterior, a fim de desenvolver uma avaliação do trabalho realizado no ano de 2007.
A metodologia utilizada foi revisão bibliográfica no que diz respeito à apresentação da doença fibrose cística;
e análise de dados dos pacientes fibrocísticos, obtidos através de atividades do projeto de extensão (reunião da
equipe multiprofissional; reuniões com associação de fibrose cística; atividades com a farmácia e/ou com os pacientes
do programa).
DESENVOLVIMENTO
No Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) existe o programa de fibrose cística, que consiste
em um programa voltado a dar assistência aos pacientes portadores de fibrose cística. Este programa só atende os
pacientes do estado do Pará e que são atendidos no próprio hospital, pelos profissionais que estão cadastrados na
unidade e no programa fibrose cística.
O programa de fibrose cística é formado por uma equipe multiprofissional composta por uma médica (Dra.
Valéria Martins), uma enfermeira (Dra. Adélia), assistente social (Dra. Alba), nutricionista (Dra. Rose), duas
farmacêuticas (Dra. Kelly Calderaro e Dra. Jacqueline Pinheiro), uma fisioterapeuta (Dra. Edilene Falcão), uma
biomédica (Dra. Herlane), uma psicóloga (Dra. Augusta) e duas estagiárias do curso de farmácia (Priscila e Renata),
que auxiliam a farmacêutica a prestar a assistência e atenção farmacêutica aos pacientes do programa. O hospital
atende não só aos pacientes de fibrose cística, mas também aos pacientes de outros programas, como os de Hipo e
Hipertireoidismo, Hepatite, Doença de Crow, Alzheimer, Parkinson, Asma, Osteoporose, Puberdade Precoce,
Síndrome de Turner, Deficiência do GH e Gigantismo.
Esta assistência e atenção farmacêutica consistem em orientar o paciente de fibrose cística ou o seu
responsável, a respeito do uso correto do medicamento e seu armazenamento, pois é muito importante saber
armazenar o medicamento corretamente, porque assim o medicamento mantém a sua eficácia e o seu uso correto faz
719
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
com que o paciente não sofra uma super-dosagem ou supra-dosagem. É importante ressaltar que essa orientação é
dada geralmente ao responsável pelo paciente, pois a maioria dos pacientes são crianças ou menores.
Os medicamentos usados pelos pacientes portadores de fibrose cística são as Enzimas Pancreáticas (Ultrase)
de 20.000, 12.000 e 4.500, que são enzimas que iram auxiliar na digestão dos lipídios (gorduras) ingeridos pelo
paciente. Estas enzimas pancreáticas estão na forma de comprimidos, que são ingeridos diariamente pelo paciente, de
acordo com a prescrição do médico. Também é utilizado o medicamento Dornaze Alfa (Pulmozyme), que é um
broncodilatador que atua sobre os pulmões, o seu uso é inalatório, feito com o auxilio de um nebulizador. O
nebulizador é um aparelho de inalação fornecido aos pacientes do projeto.
Alguns de nossos pacientes portadores de fibrose desenvolvem também o quadro de asma associado, devido
ao mau funcionamento das glândulas produtoras de muco.
A esses pacientes é feito a administração de alguns medicamentos que possuem em sua formula compostos
broncodilatadores e corticoides. São eles: Formoterol + Budesonida 12/400mcg, Formoterol + Budesonida 6/200mcg,
Fenoterol 0,2mcg, e o Salbutamol Spray.
Todos esses medicamentos citados são medicamentos fornecidos pela SESPA mensalmente ao ambulatório
do hospital. Os medicamentos ficam sobre a responsabilidade do farmacêutico. Deve-se ressaltar que esses
medicamentos são controlados, havendo assim um rígido controle por parte do farmacêutico na sua dispensação.
A dispensação dos medicamentos dos pacientes de fibrose cística é feito através de um processo
denominado Apac - (autorização para procedimento de alta complexidade/custo). A Apac é composta de um laudo,
em duas vias, e de um recibo, em três vias. Este processo é preenchido pelo próprio médico e entregue ao paciente, e
o paciente entrega o processo diretamente ao farmacêutico do ambulatório com os seus exames necessários, no caso
da fibrose cística é o teste de teor de cloro no suor, e se o médico não explicitar no laudo quando o paciente iniciou o
tratamento é necessário também ser entregue o termo de consentimento da doença, devidamente assinado pelo
paciente ou responsável. Depois de o processo estar com todos os documentos necessários corretos o processo é
encaminhado a SESPA para ser aprovado, porém o paciente já leva o seu medicamento para iniciar o tratamento.
A duração da Apac é de três meses, sendo que de três em três meses o médico deve preencher outro
processo e entregá-lo ao paciente, para que o mesmo dê entrada novamente ao novo processo para poder continuar
recebendo seu medicamento sem interromper o tratamento. É importante ressaltar que o paciente deve comparecer
todos os meses, do dia 1 até o dia 20 de cada mês, para receber o seu medicamento, pois se o mesmo não
comparecer o processo de Apac e cancelado. É importante salientar que os pacientes portadores de fibrose cística não
podem ficar sem a administração dos medicamentos, pois sua falta leva o paciente ao óbito.
Para que os pacientes e seus responsáveis não fiquem sem apoio, o hospital oferece todo mês uma reunião
com a equipe, pacientes e pais e/ou responsáveis. Durante a reunião os pais ou responsáveis falam de suas
dificuldades em manter uma vida normal ao paciente, pois o paciente tem uma alimentação diferenciada e de alto
custo. Os pais também falam de experiências novas que acontecem com os pacientes, com isso ajudam as outras
famílias a levar uma vida normal. Depois dessa troca de experiências alguém da equipe faz uma pequena palestra.
A primeira palestra assistida foi a da assistente social Alba, que explicitou a convivência dos pais com seus
filhos, e entre as famílias que apresentam alguém portador da doença. Mostrou também como é muito importante à
existência da associação dos portadores de fibrose cística, pois a associação ajuda os pais ou responsáveis obter meios
de como buscar os direitos do paciente, e também é ela que promove doações de cesta básica, que contém os
alimentos necessários ao paciente.
Os pais ou responsáveis foram bem receptíveis com a presença de novas pessoas na equipe, assim eles
podem ter um maior apoio e conseguem tirar melhor suas dúvidas sobre a doença.
Para que a equipe consiga ter uma melhor integração e consiga esclarecer todas as dúvidas dos pacientes,
pais ou responsáveis, a equipe também faz uma reunião mensal, e se houver necessidade se faz mais de uma reunião
por mês. Nesta reunião é discutido sobre como os pacientes estão; se buscam a medicação no ambulatório todo mês;
se os medicamentos estão sendo enviados pela SESPA; se há algum projeto em cima do programa, como o projeto da
nutricionista Rose. Este projeto é um estudo para que os pacientes além de receberem a medicação no ambulatório,
passem também receber um suplemento alimentar, que tem um custo muito elevado, e esse suplemento vai ajudar
na alimentação dos pacientes.
720
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o período de fevereiro a setembro, foi constatado que o aumento no número de pacientes cresceu
em 20%. O auxilio de bolsistas na equipe multiprofissional, possibilitou um grande auxílio na orientação farmacêutica
aos pais e pacientes, juntamente com os profissionais farmacêuticos da farmácia do HUJBB.
Com isso cabe aos bolsistas do projeto de extensão a função de co-orientar os pais e pacientes,
proporcionando uma relação farmacêutico/paciente com maior integração, possibilitando melhora na qualidade de
vida, aspecto social e psicológico do paciente.
No estudo comparativo constatou-se que no ano de 2006 a média de pacientes que utilizavam com
freqüência o serviço de farmácia foi de 50%, onde os números de adesões de novos pacientes foram de 5%. Neste
mesmo período o numero de internações ficou em torno de 40%. Tal fato se deu em virtude dos pais e pacientes não
possuírem um melhor esclarecimento quanto ao uso correto e freqüente do medicamento.
Em 2007 nos quatro primeiro meses (fevereiro a maio) detectamos que a média de pacientes efetivos no
programa que utilizaram o serviço da farmácia foi de 62%. Já nos meses de junho a setembro o índice atingiu os 80%
de efetividade de pacientes. Isso ocorreu devido um maior esclarecimento de que a doença pode ser encarada de
uma forma normal, desde que a administração dos medicamentos, utilizados pelos pacientes, seja feita de maneira
correta. O que proporcionou a diminuição no número de internações, diminuindo para 13%, sendo 7% foi de
pacientes que ainda não haviam sido diagnosticados como portadores desta patologia. Neste ano apenas um paciente
veio a óbito, pois o mesmo tinha abandonado o tratamento no inicio do ano de 2007.
BIBLIOGRAFIA
ABRAM, www.fibrose-cistica.com.br
FIBROSE CÍSTICA (XANDINHO), sites.uol.com.br/mgaragao
NOVO MILÊNIO, www.novomilenio.inf.br/ano01/0102b05.htm
TRIAGEM NEO NATAL, www.intercientifica.com.br/tfibro.htm
http://sites.uol.com.br/mgaragao/
http://www.intercientifica.com.br/tfibro.htm
http://www.hcnet.usp.br/otorrino/arq5/causas.htm
http://www.genetika.com.br/fibro.htm
http://www.criesp.com.br/inform/injan98.html
http://www.people.virginia.edu
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10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
ATENÇÃO INTEGRAL EM SAÚDE BUCAL NA CRECHE SORENA:
O SUCESSO DO PROJETO DE EXTENSÃO MOSTRADO ATRAVÉS DE
UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS
Danielle Tupinambá Emmi (Cirurgiã-Dentista)1
Izamir Carnevali de Araújo (Coordenador)2
Moema Ferreira dos Reis (Voluntária)3
Marcele Farias Silva (Estagiárias)4
Márcia Cristina da Silva Cruz (Estagiárias)5
Mônica Lídia Sousa Santos de Castro (Estagiárias)6
RESUMO: A cárie dentária é um dos problemas de saúde bucal de maior ocorrência no país, fazendo com que haja uma grande
preocupação dos profissionais da área à utilização de recursos educativos, preventivos e curativos na tentativa de minimizar o
problema. Os programas educativos voltados à população infantil têm sido grandes aliados para a manutenção da dentição sadia.
Com base nisso, o Projeto Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena promove a saúde bucal de crianças de 2 a 7 anos,
desde 2001, através de atividades de promoção, prevenção e controle das nosologias bucais. Dessa forma, o objetivo deste estudo
foi analisar comparativamente, as condições de saúde bucal de escolares do projeto durante os últimos 3 anos, através de uma
amostra de 113 crianças na faixa etária de 4 a 5 anos de idade, através do índice de dentes cariados, extração indicada e obturados
(ceo-d), fazendo uma co-relação com o índice ceo-d de crianças antes do início do projeto. Observou-se no ano de 2001, antes do
inicio do projeto, um Iceo de 7.12. Após 4 anos, em 2005, o Iceo era 2.0. Em fevereiro de 2006, tem-se um Iceo de 1.46, e em abril
de 2007 o Iceo alcança 1.29, na mesma faixa etária. Constatou-se então, a eficácia da metodologia do projeto implantado na
Creche, demonstrando que as práticas de educação continuada, promoção e prevenção de saúde bucal são fundamentais no
controle das doenças da cavidade bucal em todos os níveis de atenção, criando condições de gerar saúde e qualidade de vida às
crianças, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde.
Palavras-chave: Saúde bucal; Iceo-d; promoção de saúde.
INTRODUÇÃO
A cárie dentária continua sendo o principal problema de saúde bucal dos países industrializados, estando sua
ocorrência relacionada a dor, perda dentária e problemas na escola ou no trabalho. Segundo Brasil (2004), a perda
dentária precoce entre adultos, e edentulismo entre idosos, ainda são muito elevadas.
O Brasil ainda tem sido freqüentemente referido como um país detentor de altos índices de prevalência de
doenças bucais, em particular da cárie dentária e de doença periodontal (OLIVEIRA et al., 2002). Contudo, nos últimos
anos, os esforços governamentais têm sido amplos com a criação de diversos programas de saúde bucal, o que vem
proporcionando um decréscimo expressivo do índice de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D),
porém a saúde bucal do brasileiro ainda nos deixa na incomoda posição de um dos piores do mundo (LORRETO et al.,
2000).
No final do século XX, Narvai et al. (1999) analisaram a experiência de cárie dentária em escolares brasileiros
e apontaram uma redução no índice de CPO-D no período de 1980-1996. Aos 12 anos de idade, a média de dentes
atacados por cárie passou de 7,2 para 3,1, uma redução de cerca de 57%.
Os estudos epidemiológicos de cárie dentária têm explorado a associação do agravo com fatores de natureza
diversa, como informações sobre condição sócio-econômica, hábitos alimentares, características da higiene bucal,
oferta de flúor nas águas de abastecimento público e acesso aos serviços odontológicos (ANTUNES; PERES; FRAZÃO,
2006).
Atualmente, não existem mais dúvidas de que a prevenção tem sido a medida mais eficiente e produtiva para
se controlar as patologias bucais de maior ocorrência, como a cárie dentária e doença periodontal, onde o paciente
1
Mestre em Odontologia pela UFPA; Professora da Faculdade de Odontologia da UFPA; Cirurgiã-Dentista do Projeto Atenção
Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena.
2
Mestre em Clínica Integrada pela USP; Professor Adjunto IV da Faculdade de Odontologia da UFPA; Coordenador geral do Projeto
Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena.
3
Cirurgiã-dentista graduada pela UFPA e voluntária do Projeto Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena.
4
Acadêmica de Odontologia da UFPA e estagiárias do Projeto Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena.
5
Acadêmica de Odontologia da UFPA e estagiárias do Projeto Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena.
6
Acadêmica de Odontologia da UFPA e estagiárias do Projeto Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena.
722
10ª. Jornada de Extensão na UFPA
Extensão Universitária e Políticas Públicas
tem sua saúde otimizada sem necessitar passar por tratamentos invasivos e traumáticos. Entretanto, ainda existem
poucos programas que enfatizem essa visão.
Dini et al. (1996) mostraram que a prevalência de cárie dental em países desenvolvidos vem diminuindo pela
utilização de métodos de prevenção primária e de programas odontológicos, com ênfase na orientação de higiene
bucal, restrição ao uso de açúcar e uso de flúor, visando a manutenção da dentição sadia.
Os programas preventivo-educativos que priorizam a população-alvo infantil têm sido importante aliados na
manutenção da saúde bucal, visto a facilidade de conscientização desse grupo e de assimilação de novos conceitos
com relação a hábitos de higiene e dieta, levando a mudança comportamental e maior valorização de seus dentes.
Segundo Bijella (1993) através da educação em saúde torna-se possível a aquisição de conhecimentos,
desenvolvimento de habilidades, formação de atitudes e criação de valores que levam à motivação do paciente. Dessa
forma, é fácil que eles atuem como promotores de prevenção, podendo estimular outras pessoas por meio dos
conhecimentos adquiridos, ampliando a área de atuação (QUELUZ; FIGUEIREDO, 2002).
A Odontologia em Saúde Coletiva requer atuação multiprofissional e interdisciplinariedade no intuito de
prestar serviços integrais de saúde bucal à comunidade. Assim, docentes e discentes da Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal do Pará (UFPA) desenvolvem o Projeto de Extensão “Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche
Sorena” desde 2001, através de atividades preventivas, educativas, lúdicas e curativas, estando muitas vezes
responsáveis pela inclusão social dessas crianças, em uma proposta de integração docente assistencial inserida na
comunidade para a prestação de serviços dos alunos com a supervisão dos docentes em todos os níveis de atenção
em saúde bucal.
PROPOSIÇÃO
Analisar comparativamente as condições de saúde bucal de escolares do Projeto de Extensão da UFPA
“Atenção Integral em Saúde Bucal na Creche Sorena” durante os últimos 3 anos, através de uma amostra de 113
crianças na faixa etária de 4 a 5 anos de idade, através do índice de dentes cariados, extração indicada e obturados
(ceo-d), fazendo uma co-relação com o índice ceo-d de crianças antes do início do projeto.
MATERIAL E MÉTODOS
O projeto de extensão “Atenção Integral em saúde bucal na Creche Sorena” teve a aprovação da Comissão de
Bioética do Curso de Odontologia da UFPA e é conduzido no sentido de garantir a integridade dos indivíduos. O
universo da pesquisa foi constituído pelos escolares regularmente matriculados na Creche Sorena. A amostra, por sua
vez, foi composta de 113 alunos, na faixa etária de 4 a 5 anos de idade, que permaneceram na Creche pelo período
letivo de três anos.
No início de cada ano letivo é realizado um levantamento epidemiológico para conhecimento da saúde bucal
e necessidades de tratamento dos escolares, visto que segundo Peres e Peres (2006), os levantamentos
epidemiológicos são importantes instrumentos para definição, implementação e avaliação de ações coletivas e
individuais, preventivas e assistenciais.
O exame de avaliação segue o mesmo protocolo todos os anos, e é realizado sob ambiente de sala de aula,
obedecendo todas as normas de biossegurança preconizada pelos órgãos responsáveis (máscaras, luvas, gorros,
abaixadores de língua, gaze).
Foi realizada uma pesquisa nos prontuários odontológicos dos alunos de 2005 a 2007, para avaliar o Iceo e
comparar com o levantamento realizado antes do início do projeto, em 2001. Diante disso os dados foram levados ao
software Biostat 4.0, confrontados e comparados aos resultados obtidos no início do ano de 2007.
723
10ª. Jornaada de Extensãão na UFPA
Extensão Un
niversitária e Polítticas Públicas
RESULTAD
DOS E DISCU
USSÃO
68,67%
70%
%
61,14%
60%
50%
40%
32,34%
3
26,51%
30%
20%
10%
6,52%
4,82%
0%
2001
Caria
ados
2007
Ob
bturados
Extração indicada
i
Gráfico 1: Comparação percentual do ceo-d dos anos de 2001 e 2007.
Na análise do Gráfico 1, observa-se que em relação ao
a componen
nte cariado, h
houve uma diminuição
d
daa
omprovada pelo resultado de 68,67% do
o levantamento de 2001 em
m relação a 32
2,34% do levaantamento dee
incidência, co
2007. Analisaando o compo
onente obturaado houve um
m aumento de
e eventos, com
mo observado
o pelos 26,51%
% do primeiro
o
levantamentto para 61,14%
% do levantam
mento atual, demonstrando
d
o o atendimen
nto às necessiidades de trattamento. Estee
resultado concorda com os
o estudos de Gontijo et al. (2004), onde
e foi observad
da a diminuiçãão da ocorrên
ncia de lesõess
ndição de saúde bucal em crianças
c
participantes de um projeto de extensão da Universidadee
cariosas e melhora da con
M
Gerais em
e Belo Horizo
onte ao longo
o de 10 anos, e se contrapõ
õe aos de Scavvuzzi (2000), que
q avaliou ass
Federal de Minas
condições dee saúde bucal de escolaress, através de um estudo lo
ongitudinal co
om 186 criançças de 12 a 30
3 meses, em
m
Feira de Santtana, onde no
o exame inicial 12,4% apressentaram lesõ
ões de cárie e após um ano este percentu
ual aumentou
u
para 31,7%.
8
7
6
5
4
7,12
Iceod
3
2
1
2,00
1,46
1,29
2005
2006
2007
0
2001
Gráfico 2: Iceod dos anos de 2001, 2005, 2006, 2007.
G
2 faz uma
u
comparaação do Iceo em quatro an
nos distintos: em 2001, an
ntes da implementação do
o
O Gráfico
Projeto, o qual
q
se apressentou elevad
do (7,12), em
m 2005, apóss 4 anos de execução dee atividades preventivas
p
e
educativas na
n Creche Sorrena o Iceo já apresentou
u uma drásticca redução (2
2,0); em 2006
6 reduziu para 1,14, e em
m
2007chegou a 1,29. De acordo
a
com Menezes
M
e Taabecharani (2
2000), a educcação e motivvação do pacciente e seuss
ntes no proccesso de promoção de saúde bucal, pois permite
em que hajaa
responsáveiss são fatoress determinan
compreensão
o da necessidade dos cuidados com os dentes re
esultando na manutenção de um estado de saúdee
satisfatório. Além disso, Guedes-Pinto
G
esso de motivação deve ser contínuo, po
ois é isso quee
(1995) afirmaa que o proce
m
de hábitos.
implica em mudança
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De acordo com Pauleto, Pereira e Cyrino (2004) é importante que se valorize os programas odontológicos
educativos para que estes levantem e interpretem as necessidades das populações de menor acesso aos serviços de
saúde odontológicos.
Pauleto, Pereira e Cyrino (2004) ressaltam ainda que a luta pela melhoria da saúde bucal deve estar ligada,
fundamentalmente, na melhoria de determinantes sociais, políticos e econômicos.
CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos, julga-se lícito afirmar que o Projeto de Extensão Atenção Integral em Saúde
Bucal na Creche Sorena” promove saúde bucal, controla a incidência e a prevalência da cárie dentária e serve de
campo de integralização dos conhecimentos teóricos-práticos dos estudantes na comunidade sob a supervisão dos
professores. Assim sendo pode-se concluir que:
* O impacto das ações de atenção integral em saúde bucal, através da realização de atividades preventivas,
educativas e curativas, nos anos de projeto na creche, está sendo positivo no sentido de promover um controle da
incidência e da prevalência da doença cárie das crianças assistidas por este projeto e de permitir o tratamento das
necessidades diagnosticadas.
* O projeto de extensão tem alcançado seus objetivos pois promove saúde bucal, previne a cárie dentária e
controla a prevalência de nosologias prevalentes na cavidade bucal em todos os níveis de atenção preconizados pelo
Sistema Único de saúde.
* O indicador de saúde bucal utilizado, Iceo é mais adequado para este tipo de estudo e comparando os Iceod
do levantamento de 2001 que era 7,12 e o Iceod do levantamento de 2007 (1,29), pode-se observar que houve uma
redução de 81,88%, o que comprova epidemiologicamente os impactos produzidos e que os objetivos do projeto de
promoção de saúde e de prevenção da cárie dentária tem sido alcançados, promovendo qualidade de vida e inclusão
social das crianças e familiares da creche Sorena.
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