Um olhar sobre o Serviço Educativo do Teatro Viriato

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Um olhar sobre o Serviço Educativo do Teatro Viriato
A na Lúcia Figueiredo *
Sara barriga **
| O Serviço Educativo do Teatro Viriato foi
criado no início de 2004 (desde Janeiro de 2007
que assume a designação de Sentido Criativo), para
responder à necessidade de dotar o Teatro de uma
política pedagógica de sensibilização, captação
e formação de públicos. Este Serviço assume
premissas pedagógicas de orientação construtivista,
uma vez que a educação não formal é uma das
prioridades do Teatro Viriato. Como tal, funciona em
articulação com a programação da direcção artística,
desenvolvendo novos conceitos e práticas no
domínio das artes performativas e das artes visuais.
Missão
O Serviço Educativo do Teatro Viriato tem por finalidade
a criação de novas fórmulas de relação evento/
público, através de estratégias lúdico-pedagógicas de
abordagem às artes performativas.
A partir do conceito, do espaço e da programação do
Teatro Viriato, o Serviço Educativo pretende estimular
competências criativas, críticas e expressivas e
proporcionar experiências de partilha e de lazer.
As actividades, concebidas segundo premissas
transdisciplinares, procuram desenvolver a relação
do indivíduo com o espaço, com o corpo e com o
outro, através da descoberta, da interpretação e da
reinvenção de narrativas.
Este Serviço visa ainda sensibilizar e formar públicos de
idades, vivências e interesses diversificados e promover
a aprendizagem ao longo da vida.
Modelo de programação
Para além de visitas guiadas ao Teatro, específicas
para cada faixa etária, e de acções de sensibilização
nas escolas, o Serviço Educativo concebe uma
programação trimestral, que se desenvolve em
torno dos conceitos programáticos definidos pela
direcção artística do Teatro Viriato, por um lado,
e dos objectivos expostos no seu plano de acção
educativa, por outro.
Estas actividades e projectos podem ser
espectáculos, ateliês, workshops, conferências,
conversas, encontros, exposições, instalações,
etc.
1. Actividades de articulação com a programação:
–Actividades de abordagem pedagógica a um
espectáculo ou exposição;
–Actividades de abordagem pedagógica a
temáticas específicas;
–Actividades propostas por artistas e
companhias.
2. Projectos específicos:
– Projectos de continuidade;
– Projectos cíclicos;
– Projectos pontuais.
* Colaboradora externa regular do Teatro Viriato e Responsável do Serviço Educativo no período entre 2004 e 2006.
** Consultora do Serviço Educativo do Teatro Viriato entre 2004 e 2006.
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2004: pesquisa, reflexão e concepção
O ano de 2004 foi um período de pesquisa,
reflexão e concepção de conteúdos programáticos
e pedagógicos. Para além disso, o Serviço Educativo
deu especial atenção à reformulação de actividades
que já existiam, como as visitas guiadas ao Teatro e
as acções de sensibilização nas escolas.
No entanto, ao longo deste ano foram
vários os projectos pedagógicos desenvolvidos,
designadamente o Festival Percursos, em parceria
com o Centro Cultural de Belém.
Durante 2004, foram 10.736 as pessoas
que frequentaram as actividades com carácter
pedagógico programadas pelo Teatro Viriato.
2005: programação
José Alfredo
O ano de 2005 foi um ano de aposta na
programação de Serviço Educativo, por parte do
Teatro Viriato.
Em cada trimestre do ano, foi dado enfoque a
um ‘projecto-âncora’ específico, através do qual se
explorou o cruzamento entre linguagens: imagem e
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corpo, expressão plástica e expressão performativa,
artes visuais e artes do espectáculo.
No primeiro trimestre,o projecto-âncora foi o lançamento da parceria estabelecida com o Museu Grão
Vasco, que resulta em visitas-jogo/ateliês, dinamizadas
para o público escolar, durante 2005 e 2006.
O segundo trimestre foi marcado por Mariposas
e outros trajectos – festival para quem gosta de voar,
um festival de actividades pedagógicas para todos
os públicos.
No terceiro trimestre, o Teatro Viriato apresentou
o projecto Caixa para guardar o vazio, concebido
para crianças dos 1º e 2º ciclos do ensino básico, da
autoria da artista plástica Fernanda Fragateiro.
Para além destes três projectos principais,
foram programadas muitas outras actividades, que
envolveram a participação de 10.055 pessoas.
No total da programação do Teatro Viriato, o
público envolvido nas actividades pedagógicas
– que incluem espectáculos diurnos, ateliês,
workshops, visitas guiadas, cursos de formação,
debates, conversas… – representa 45% do público
global do Teatro.
Caixa para guardar o
vazio – Comentários
das crianças
“Esta caixa serve para
guardar segredos”
“Se tivesse uma caixa
destas, colocava lá o arc
o-íris”
“Eu colocava lá a saudad
e”
“A caixa guarda o son
ho”
“A caixa também pode
guardar a magia do silê
ncio”
“Eu senti como se a cai
xa fosse horizonte, porque
ela não tem fim”
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Figueiredo e Barriga
A (in)diferença dos números
Se compararmos os números relativos ao público
de actividades pedagógicas em 2004 e em 2005,
percebemos que existe uma diferença de quase 700
participantes, o que revela uma redução de público
ao longo do último ano.
É importante observar que, durante 2005,
houve uma especial preocupação em trabalhar
com públicos muito específicos (desde os bebés ao
público sénior, sem esquecer os públicos escolar
e familiar, bem como os públicos portadores de
deficiência), de modo a conhecer melhor os seus
interesses, expectativas, necessidades, vivências
e disponibilidades. Este trabalho, que pretende
criar laços mais efectivos de proximidade e de
cumplicidade, é eficaz em grupos com um número
reduzido de pessoas e não em grupos massificados.
É desta forma que se consegue, verdadeiramente,
desenvolver um projecto de continuidade e de
captação, sensibilização e formação de públicos
para as artes e a cultura e para a importância que
elas têm na vida.
Público e públicos
É importante referir que, enquadrados que
estamos no contexto da educação não formal, para
além do público escolar – que representa a maior
percentagem de público –, o Serviço Educativo
desenvolve actividades e projectos para outros
públicos. São eles: as famílias, crianças e jovens em
contexto de ATL ou a título individual, o público
adulto e outros públicos específicos (como os
seniores, por exemplo), diferenciados quer por faixas
etárias, quer por contextos sociais e relacionais, quer
ainda por necessidades educativas específicas.
Quanto ao público escolar, destaque-se que, em
2005, nas actividades pedagógicas, o peso relativo
do público escolar correspondeu a cerca de 78%.
Um dos principais critérios para a programação
de Serviço Educativo prende-se, precisamente, com
a oferta para cada público-alvo. No caso do público
escolar, o objectivo é ter como oferta, em cada
trimestre, uma actividade (no mínimo) para cada grau
de ensino. O mesmo acontece com o público familiar.
Quanto aos outros públicos, não sendo possível uma
regularidade trimestral, é garantido um projecto anual.
O público escolar:
origem e benefícios dos alunos
Entre o público escolar, são os jardins-de-infância
(ensino pré-escolar) que revelam maior avidez pela
participação nas actividades pedagógicas. Trata-se
de um público cada vez mais atento e exigente, que
dá origem a listas de espera de um trimestre para
o outro.
De um modo geral, o público escolar do Serviço
Educativo do Teatro Viriato situa-se geograficamente
no distrito de Viseu. As escolas que frequentam as
actividades pedagógicas, apresentadas no Teatro,
com maior regularidade são escolas da cidade e
de zonas limítrofes do concelho. No entanto, há
escolas mais distantes – em áreas mais interiores do
distrito – que, na impossibilidade de se deslocarem
regularmente, solicitam outras actividades que o
Serviço Educativo desenvolve nos próprios estabelecimentos de ensino. Muitas vezes, este é o primeiro
passo para a sensibilização dos alunos para as
expressões artísticas.
Com o objectivo de reduzir distâncias e
facilitar acessos, o Teatro Viriato estabeleceu uma
parceria com uma empresa de transportes, a União
de Autocarros, que, sob a forma de mecenato,
proporciona viagens a preços simbólicos para
o público escolar. Uma parceria que permitiu a
participação de quase 3000 crianças e jovens e
respectivos professores nas actividades do Teatro,
entre Outubro de 2004 e Dezembro de 2005.
A par deste apoio mecenático, o público escolar,
bem como o público oriundo de instituições de
solidariedade social, pode beneficiar de bilhetes
subsidiados pelos donativos dos Amigos do Teatro.
Entre 2004 e 2005, foram cerca de 2500 os
beneficiários deste apoio.
O público escolar: formação dos professores
A formação de professores e outros agentes
educativos (animadores, futuros professores…)
é outra das vertentes trabalhadas pelo Serviço
Educativo. É com especial agrado que se sente, aos
poucos, uma maior aproximação por parte deste
público, quer se trate de acções de sensibilização, de
workshops ou de formação por módulos.
RT & D
O intuito é diversificar as áreas de formação:
desde a expressão corporal e dramática à análise
psicossomática da criatividade, passando pela
sensibilização para problemáticas controversas no
contexto escolar, entre outras.
A confiança e a cumplicidade com os professores
são essenciais para que haja um efectivo trabalho
complementar e contínuo, extensível também aos
alunos.
O público familiar: descoberta e partilha
É preocupação do Serviço Educativo manter
uma oferta mais ou menos regular de projectos que
possam ser desenvolvidos em família. Normalmente, é
ao fim-de-semana que estas actividades se realizam.
Dentro deste público, são sobretudo as famílias
com crianças mais pequenas (dos 3 meses aos 5
anos) que revelam maior interesse na programação.
Para além da descoberta em conjunto, as actividades
para este público promovem a partilha da fantasia e
do encantamento entre pais e filhos.
O público individual: algumas experiências
José Alfredo
Inicialmente, o Serviço Educativo fez algumas
experiências com actividades para crianças a título
Visita/ateliê ao Teatro Viriato.
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individual (sem pais e sem grupo escolar). A verdade
é que, para além de haver pouca procura por parte
do público, o resultado se revelou bem menos
interessante do que nos outros dois casos (família
e escola). Esta não se tornou, portanto, uma prática
para o Serviço Educativo.
Parcerias: criar em conjunto
Desde 2004, o Serviço Educativo tem vindo
a estabelecer relações de parceria com escolas,
associações e outras instituições. Estes são alguns
exemplos:
– Parceria com o Museu Grão Vasco: consiste
no desenvolvimento de visitas-jogo/ateliê, que
partem das obras da colecção permanente
do Museu para a exploração de exercícios de
expressão corporal e dramática. Desde Janeiro
de 2005, foram apresentadas as visitas “Anjos
e Piruetas” (1.º ciclo do ensino básico), “Chá
Dançante com S. Pedro” (ensino pré-escolar) e
“História aos bocadinhos” (2.º e 3.º ciclos do
ensino básico). A partir de Outubro de 2006, será
apresentada a visita para o ensino secundário.
– Protocolo com o Centro Distrital da Segurança
Social – Programa Residencial S. José: para
além das jovens ao abrigo deste programa
frequentarem com regularidade as actividades do
Teatro Viriato, foi desenvolvida a dinamização de
uma oficina de expressão dramática e corporal,
com a duração de um ano e com regularidade
semanal. O público-alvo é constituído por jovens
menores que cumprem uma medida cautelar.
– Co-produção do projecto “Caixa para guardar
o vazio”, entre Teatro Viriato, Teatro Municipal
da Guarda, Teatro Aveirense, Câmara Municipal
de Santa Maria da Feira, A Oficina (Guimarães)
e Centro Cultural de Belém: é uma instalação,
da autoria da artista Fernanda Fragateiro,
constituída por uma escultura, um tapete e
dois bailarinos e que envolve a participação
do público (alunos do 1.º e 2.º ciclos do ensino
básico e famílias). O projecto pedagógico desta
instalação é da responsabilidade do Serviço
Educativo do Teatro Viriato.
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Figueiredo e Barriga
– Protocolo com a Escola Secundária Emídio Navarro
e Escola Infante D. Henrique (2007/2008) e no
pressuposto de trabalhar com as comunidades
artísticas da região e de aproveitar sinergias,
decidiu-se co-produzir com a Companhia Paulo
Ribeiro um projecto que nasce no seio escolar.
Trata-se de um segmento de público que tem
sido privilegiado no trabalho do Sentido Criativo
e, por isso, pensamos ser a altura de arriscar
num projecto mais ambicioso. A ideia inspira-se
em dois trabalhos de reconhecido sucesso que
o coreógrafo Paulo Ribeiro concebeu e dirigiu
há mais de quinze anos envolvendo escolas da
região de Lisboa, tendo o primeiro sido apoiado
pela Fundação Calouste Gulbenkian através
do empenho ímpar da Dr.ª Maria Madalena
de Azeredo Perdigão e o segundo financiado
pela Comissão dos Descobrimentos para ser
apresentado na Expo 92 em Sevilha. Em 2008
em Viseu, o trabalho criativo estará sob a
responsabilidade da encenadora Rafaela Santos
e do coreógrafo Romulus Neagu, que trabalharão
respectivamente com uma turma do 6.º ano da
Escola Infante D. Henrique e com uma turma do
12.º ano da Escola Secundária Emídio Navarro.
Prevê-se a realização de 5 sessões do espectáculo
resultante deste trabalho, uma parte dirigida a
grupos escolares e a outra parte ao público em
geral. Interessa-nos, também, com este projecto
incentivar a integração de propostas artísticas
nos curricula escolares e desta forma sensibilizar
e aproximar esta comunidade da prática artística,
em sintonia com as mais recentes linhas de
orientação e objectivos estratégicos em matéria
de políticas nacionais e europeias.
Reflexão: metas para o futuro
A identidade do Serviço Educativo está associada
a três importantes características: por um lado, os
projectos e as actividades programados partem,
muitas vezes, de desafios específicos lançados a
artistas e/ou companhias, permitindo ao Serviço
Educativo ter um papel activo no processo de
criação; por outro lado, todos os públicos são
potenciais públicos-alvo, uma vez que é necessário
um trabalho contínuo de sensibilização, captação e
formação para todos – todo o trabalho do Teatro
Viriato vai nesse sentido; por outro lado ainda, a
acção do Serviço Educativo não se fecha nos espaços
do Teatro, mas abre-se aos espaços da cidade e da
região (nas escolas, na rua, nos jardins, noutras
instituições culturais…).
No futuro, o Serviço Educativo pretende reforçar
e alargar redes de parceria e colaboração, com
instituições e artistas; dar continuidade ao processo
de fidelização de públicos, que nunca termina; manter
a qualidade e o ritmo de programação, de modo a
que o público se torne cada vez mais exigente e
crítico; dar resposta aos pedidos específicos que
chegam da comunidade onde o Teatro se insere. |
Créditos fotográficos de José Alfredo
Ateliê Anjos e Piruetas.
Ateliê Eu sou Tu.
Espectáculo Valentim e Valentina.
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