Lucianna Carla Pezzolante Gerghi2

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CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL
CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL
4.
CENTRO EDUCACIONAL RIBEIRÃO PIRES
Ribeirão Pires - São Paulo - Brasil.
Rafael Perrone e Marcio do Amaral
Ano: 2004
Rafael Perrone graduou-se pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo em 1973. Em 1983
recebeu um prêmio do IAB pelo projeto do conjunto de edifícios Onde-Sol, na praia das Astúrias. Atravessou
durante sua formação um período político conturbado, mas como ele mesmo observa, formou uma geração
muito crítica. Em 1984 concluiu mestrado em planejamento urbano pela Fundação Getúlio Vargas, em 1993
formou-se doutor pela FAU-USP e em 2008 concluiu a livre docência, também pela FAU-USP. Além do
Centro Educacional de Ribeirão Pires, projetou o Centro de Apoio à Educação de Indaiatuba, entre outros
projetos significativos. Além da sua atuação na prática de arquitetura, é professor e pesquisador das
faculdades de arquitetura da USP e Mackenzie. Foi premiado pelo IAB/SP em 2004, com o Prêmio “Ex
aequo” pela requalificação do Moinho di Sêmola Fratelli Maciotta.
Marcio do Amaral graduou-se na FAUSP em 1980 e lecionou na FAUPUC de Campinas entre 1986 e 2003.
Em conjunto os arquitetos receberam, em 1998, o Premio Carlos Barjas Milan, pelo projeto do Centro
Cultural da cidade de Mauá (SP) e o Prêmio Votorantim na 5ª Bienal Internacional de Arquitetura de São
Paulo pelo projeto de igreja em Campinas.
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4.1. O CENTRO EDUCACIONAL
O projeto em análise está localizado no centro histórico do município de Ribeirão Pires, São Paulo, numa
região em processo de transformação lindeira à Estrada de Ferro São Paulo Railway. Em 1999 teve
transformações significativas com ampliação de espaços livres, requalificação de calçadas e equipamentos
públicos. Em outras regiões próximas foram feitas melhorias, como o tratamento paisagístico da Av. Brasil, a
remodelação do Paço Municipal e a recuperação do terminal ferroviário. Todas essas requalificações
aconteceram numa área conhecida como Centro Baixo. (PERRONE, 2005).
Do outro lado da ferrovia, numa região conhecida como Centro Alto, desapropriou-se o terreno de uma
antiga fábrica de sal desativada desde o início dos anos 1990, que se encontrava abandonada e em
processo de deterioração. O terreno, com 12.000m², tinha potencial de contribuir e complementar as ações
realizadas no Centro Baixo e por isso foi escolhida para receber duas grandes propostas de intervenção.
(PERRONE, 2005).
"O Centro Educacional introduziu o(s) arquiteto(s) nas questões práticas de patrimônio e preservação"
(CAMARGO, 2005) e seu projeto passou por diversas modificações durante o período de desenvolvimento: a
primeira proposta, apenas um estudo preliminar, foi elaborada sem uma real compreensão da importância da
fábrica para a cidade e do real estado de conservação das edificações originais. A primeira solução
apresentava apenas um edifício triangular e uma praça que reunia todos os itens do programa. Nessa
proposta estavam previstas demolições de quase todas as construções em ruínas. De fato, através da
análise fotográfica, nota-se claramente que o conjunto final da refinaria de sal estava completamente
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destruído. Nota-se também, a quantidade de "puxados" construídos ao redor da fábrica principal, que
dificultavam o reconhecimento do valor histórico dessa construção.
162. Implantação
1. Centro educacional|2. Estrada de ferro|3. Igreja da Matriz|4.Estação de trem|5. Centro baixo| 6. Requalificação Av. Brasil
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"Embora a visita ao local tenha proporcionado aos arquitetos
outra
compreensão
do
significado
da
estrada
de
ferro
e
principalmente dos remanescentes do complexo industrial, que
passaram a ser integrados ao projeto arquitetônico com outra
dimensão, estes não assumiram a condição de gênese do
projeto." (CAMARGO, Mônica Junqueira, 2005).
Assim, a segunda proposta criava uma ligação viária entre o
Centro Alto e o Centro Baixo e visava uma articulação de modo
163. Perspectiva da segunda proposta.
que possibilitasse a passagem de pedestres e veículos sob os
trilhos do trem, pois, ainda que responsável pelo desenvolvimento
da cidade, a ferrovia seccionou a malha urbana. As intervenções
haviam
sido
pensadas
para
que
fossem
realizadas
simultaneamente. Como em parte da proposição original as áreas
não edificadas seriam transformadas em praças. Havia, nesse
momento, a recomendação de que fossem mantidos alguns
elementos das construções existentes, principalmente a chaminé.
(PERRONE, 2005)
164. Perspectiva da proposta final.
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165. Perspectiva da proposta final.
166 e 167. Perspectiva da proposta
final.
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169. Centro de qualificação
Professores.
170. Escola pública
168. Implantação Centro Educacional.
1. Praça| 2. Centro de qualificação de professores | 3. Secretaria da
educação | 4. Escola pública | 5. Estacionamento | 6. Pátio descoberto
| 7. Quadra poliesportiva
171. Secretaria da educação.
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A partir de 2001, logo após a desapropriação do terreno, foi possível realizar verificações mais precisas in
loco com levantamentos cadastral e fotográfico. Neste momento identificou-se a importância histórica da
construção e repensou-se o partido do projeto a partir da constatação de que a chaminé estava em
condições para ser mantida. Ademais, o Centro de Apoio Técnico ao Patrimônio da cidade estabeleceu
algumas diretrizes que incluíam a ampliação da área preservada, a valorização da construção original, a
manutenção das relações entre o núcleo urbano e a ferrovia, além de ser importante evidenciar a
intervenção sobre a edificação preexistente.
O programa de necessidades, antes definido em um só bloco, dividiu-se em três edificações: o edifício
preservado que sofreu intervenção e onde foi instalado um centro de treinamento de professores e a
construção de dois novos edifícios para abrigar uma escola e a Secretaria de Educação.
"As dimensões e as características da antiga fábrica provocaram a fragmentação do projeto de modo a melhor acolher aquilo que ainda restava de sua integridade - e a reordenação do
programa, incrementando seu uso. Ao tratar o programa em três edifícios diferentes, Perrone
introduziu alguns ganhos: descartou o rigor na definição dos seus limites, fazendo surgir
espaços intersticiais; e valorizou a fluidez de sua inserção urbana, proporcionando a
comunicação e a troca mais intensa entre os usuários e a cidade. O projeto final apresentado,
ainda que com área edificada muito próxima à do primeiro, mudou não só de forma, mas de
escala - passou de objeto arquitetônico à condição de ação urbana." (CAMARGO, 2005, p.59).
A implantação dos novos volumes valeu-se de elementos existentes: os arquitetos traçaram uma série de
relações geométricas - a partir de uma árvore preservada, do edifício fabril e de suas ligações com a trama
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urbana e férrea - que definiram a posição dos blocos. A implantação do Pavilhão da Secretaria relaciona-se
com o posicionamento da fábrica no terreno; existem semelhanças entre a caixa d'água em balanço com a
chaminé de tijolos, pois ambas são fortes elementos verticais. A escola teve seu ponto de partida, uma
seringueira preservada que foi envolvida pela construção.
(SERAPIÃO, 2005). Para a autora Mônica Junqueira
de Camargo (2005), os edifícios foram resolvidos numa mesma linguagem que explora a volumetria, a
transparência e o jogo cromático, porém constituem exemplares muito distintos, pois a secretaria possui um
volume em forma de pavilhão enquanto a escola se configura num edifício pátio. Os três edifícios foram
implantados de forma a configurar uma grande praça que deixa em evidência e privilegia a arquitetura
preexistente do edifício fabril. Dessa forma, a implantação respeita e aproveita a topografia e promove uma
relação entre os espaços públicos e semi-públicos; a arquitetura cria um marco arquitetônico e os eixos
propõem percursos que estimulam a integração com a vida urbana.
Embora o conjunto de edifícios independentes pareça desconexo, a autora afirma ser uma das mais
equilibradas, "um exemplo dos mais didáticos da arquitetura como montagem: a estrutura visivelmente
independente, os elementos arquitetônicos constituindo as superfícies e estas configurando o volume. Um
equilíbrio que expressa com muita clareza o amplo domínio do arquiteto sobre formas, cores, volumes,
texturas, cheios e vazios, planos, superfícies e transparências" (CAMARGO, 2005).
Ainda segundo a mesma autora, o edifício preexistente assume no conjunto a condição de elemento
surpresa, pois ao não ter relação com a composição das edificações propostas, " tem sua excepcionalidade
valorizada pela intervenção, distinguindo-se enquanto objeto ímpar" (CAMARGO, 2005).
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Ainda que o centro educacional seja composto pelas três edificações
e que seu significado seja uma resultante enquanto conjunto, não
farão parte desta análise os dois novos edifícios. O foco será
justamente
o
edifício
fabril
que
passou
por
um
processo
de
intervenção com alteração de uso.
4.2. O EDIFÍCIO ORIGINAL
A construção original foi projetada para abrigar o Moinho Di Fratelli
Maciota, em 1898, implantado estrategicamente ao lado da ferrovia e
próxima à área central e à Igreja da Matriz. O formato do terreno e a
implantação dos edifícios do moinho são resultantes do traçado do
172. Vista aérea da região do moinho.
ramal da ferrovia. Em 1910 a construção foi comprada por José
Mortari e passou a ser conhecida como Moinho Mortari. A partir
desse momento, o moinho cresce de tamanho em função do aumento
da produção e começam a ser anexados à construção original novos
galpões em alvenaria. O moinho ganha importância e passa a ser um
agente de desenvolvimento urbano da cidade de Ribeirão Pires;
começam a surgir loteamentos em regiões próximas à fábrica durante
os anos de 1920, como, por exemplo, a Vila Mortari. (DE FREITAS,
2008).
173. Entrada do moinho. – edificação original
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174. Planta original do moinho.
A partir de 1946 o Moinho é adaptado para ser transformado numa refinaria de sal. Neste momento foram
construídos, além dos anteriores, anexos realizados sem quaisquer critérios projetuais. Houve demasiado
descuido técnico que provocou a descaracterização e deterioração das construções originais. Apesar da
importância da fábrica no desenvolvimento da cidade existem poucos registros que documentam a
transformação do edifício (PERRONE, 2005).
O sal da refinaria afetou grande parte da estrutura de concreto dos anexos, e após a desativação da
fábrica até o início dos estudos para o projeto do centro educacional, ficou visivelmente abandonada. Em
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2000, as edificações em ruínas foram desapropriadas pela municipalidade que pretendia fazer uma ligação
viária entre as duas partes do centro da cidade, fragmentada pela ferrovia (SERAPIÃO, 2005).
175. Planta cadastral do moinho.
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O centro é resultado de um estudo minucioso e detalhado que deu origem a dois percursos investigativos:
o histórico, com a documentação do lugar, suas características e transformações, e o técnico; descrevendo
e diagnosticando a situação para futuras soluções projetuais e identificando os elementos construtivos que
poderiam
ser
mantidos
e
recuperados
e
que
estavam,
irremediavelmente,
perdidos.
Este
processo
investigativo possibilitou que se determinassem algumas diretrizes para o projeto:
- Refazer a memória do prédio original do moinho caracterizando sua forma, escala e desenho com
relação à cidade;
- Resgatar as características do prédio permitindo que, em alguns pontos, fossem reconhecidas as
marcas decorrentes dos anos de descuido.
- Restaurar a chaminé por ser o símbolo da edificação industrial;
-Evidenciar a relação com a ferrovia, propulsora do desenvolvimento da cidade, e as edificações
industriais;
-Revelar as transformações sofridas pelas edificações de forma didática, destacando intervenção de
preexistência e revelando, em alguns pontos, o descaso com que se tratou a construção da fábrica
ao longo da sua vida.
"Foram definidos princípios de resgate, como a manutenção de algumas paredes, frontões e o
aproveitamento de uma grande seringueira existente [...]. Confirmou-se, também, a não manutenção
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dos galpões industriais com cobertura em arco, provavelmente dos anos 1950. Decisão tomada em
função da situação estrutural e porque 'escondiam' a construção original, e também porque, embora
fazendo parte da história, não apresentavam nada de exemplar em sua configuração.
Permaneciam,
além
da
chaminé,
o
suposto
corpo
original
da
fábrica
e
alguns
[...]
frontões
remanescentes que ainda não se encontravam colapsados" (PERRONE, 2005, p. 8).
176. Vista da fábrica de sal com os galpões de cobertura em arco agregados.
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
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Segundo os arquitetos as obras referenciais estudadas foram o Sesc Pompéia em
São Paulo de Lina Bo Bardi, o Museu do Parque do Caraça em Minas Gerais de
Meniconi, Leal, Climaco e Guimarães e o Parque das Ruínas no Rio de Janeiro de
Ernani Freire e Sônia Lopes. Ao revisitar estas obras, observou-se com atenção
como
as
questões
de
preservação
e
intervenção
foram
abordadas
nestas
propostas. No caso do SESC, houve uma preservação dos galpões industriais
juntamente com a construção de um novo edifício. O projeto do Caraça evidencia
com clareza a distinção entre passado e presente com a conjunção de espaços,
materiais, estruturas e reminiscências. No Parque das Ruínas a proposta é de
superposição
de uma
estrutura metálica sobre
elementos
preservados,
mas
desfigurados pelo uso e pelo tempo. Estas experiências ajudaram a resolver as
questões do projeto de intervenção no Moinho. (PERRONE, 2004)
177. Parque das ruínas – Rio de Janeiro.
Depois de várias definições, o edifício da fábrica de sal tinha como função ser
um centro de formação dos professores da cidade. Para isso o programa de
necessidades deveria abrigar um auditório, espaços para a internet, salas de aulas
e de atividades, espaços para reuniões e seminários, exposições transitórias e
outros tipos de encontros. Na ocasião da inauguração, foi organizada pelo
arquiteto Júlio Abesendo, uma exposição sobre a história da cidade de Ribeirão
Pires que contava com parte da documentação do edifício da fábrica.
178. Parque do caraça – Minas Gerais.
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Do edifício original foram mantidos três pavilhões e a chaminé. Definiu-se na configuração final do projeto a
incorporação do bloco dos fundos do corpo principal e a reconstrução dos portais da época do Moinho
Mortari.
179. Vista do conjunto oposta à chaminé antes da intervenção.
Pavilhão 1
Pavilhão 2
Pavilhão 3
Galpão demolido
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Para a recuperação do edifício do Moinho, depois das demolições necessárias,
entendeu-se que o projeto deveria ser realizado por meio de um contínuo
processo de assessoria técnica, o que ocasionava em constantes decisões
projetuais em função do desvendamento das condições das construções. Este
procedimento permitiu descobrir elementos não registrados nos levantamentos
cadastrais;
foram
revelados
arcos
no
salão
principal,
por
exemplo,
que
permitiram a descoberta de porões de pedras. Essa, e outras revelações,
levaram a novas considerações como um novo cálculo estrutural.
Alguns fechamentos foram recuperados utilizando-se os tijolos das demolições
que se encontravam em bom estado de forma a recompor e complementar as
alvenarias. Para este procedimento elaborou-se um caderno de detalhes com
desenhos e orientações. Na chaminé, demoliram-se paredes que haviam sido
apoiadas sobre sua estrutura e, posteriormente, realizaram-se tratamentos em
suas trincas e reforços com algumas cintas. A parte superior também foi
recuperada e aprumada e o desenho do topo também foi refeito. (PERRONE,
2004)
Todos os elementos necessários para a recuperação do edifício e para a
adaptação de seu uso foram devidamente destacados de modo a não se
180. Vista interna do
galpão em total
situação de
abandono e
destruição.
mesclarem com os originais e reforçarem o caráter histórico do edifício. Os
materiais empregados causam, junto com a escolha cromática, um grande
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contraste entre as arquiteturas e seus tempos.
É possível decifrar com
facilidade a arquitetura preexistente e a atual intervenção.
Os três pavilhões remanescentes serão identificados da seguinte maneira: O
pavilhão número 1 é o que está localizado à esquerda considerando o
observador do lado oposto ao da chaminé. É o pavilhão que faz divisa com o
ramal ferroviário. O pavilhão número 2 é o que está localizado ao centro; e o
número 3 o que está à direita. É possível observar na foto 179, que o pavilhão
número 1 sofreu alterações no decorrer da história do moinho e está
visivelmente descaracterizado em relação aos pavilhões 2 e 3.
181. Recuperação da chaminé e pavilhão 2.
Através das fachadas também conseguimos observar que o pavilhão 2 é o mais
elemento reconstruído como no edifício preexistente.
alto dos três, possuindo três níveis enquanto o 1º e 3º pavilhões são térreos.
Os arquivos fotográficos da época da obra de intervenção revelam que o
pavilhão número 1 teve uma das faces preservadas, a posterior, que está do
lado oposto da chaminé. O seu espaço interno foi completamente remodelado,
e recebeu um auditório com foyer. Entre o foyer e o auditório foram
construídos lavabos e uma pequena copa. A face próxima ao foyer recebeu
novo fechamento de caixilharia estrutural metálica e vidro. O auditório teve
suas paredes tratadas e pintadas de amarelo. A cobertura foi completamente
refeita com tesouras de estrutura metálica vermelhas, na inclinação das
182. Chaminé recuperada e pavilhão 2 ainda em obras.
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CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL
originais e cobertas com telhas, também vermelhas. Colocou-se também um
piso
elevado
que
permitiu
uma
inclinação
adequada
para
acomodar
as
poltronas.
O pavilhão número 2, é o mais alto como mencionado anteriormente e,
portanto, concentra a maior parte das atividades. Na sua lateral, podemos
observar aberturas ritmadas retangulares com fechamento em vidro. Sua face
posterior possui apenas duas aberturas, uma em formato circular no topo e
outra em formato de arco. No seu interior algumas alvenarias originais foram
mantidas; estas, assim como as laterais, também possuem aberturas ritmadas
183. Edificação preexistente antes da intervenção.
em formado retangular. Este pavilhão possui no térreo duas salas separadas
por um corredor de circulação para receberem exposições que serão nomeadas
como sala A e sala B. Na sala B, junto à face frontal, foram localizados os
sanitários Neste espaço executaram-se três aberturas onde foram instalados
caixilhos maximar. As laterais dos sanitários foram fechadas com caixilhos de
vidro da mesma linguagem do caixilho do foyer do pavilhão 1. Para garantir a
privacidade, um grande elemento em alvenaria pintada com massa texturizada,
"rasga" o pano de vidro das laterais dos sanitários. Neste espaço foram
concentradas as cubas.
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1
2
<
Pavilhão 1
184. Planta do pavimento térreo
B
<
A
<
C
6
Pavilhão 2
3
4
6
Pavilhão 3
5
1. Auditório| 2. Café| 3. Sala “A” de exposições | 4. Sala “B” de exposições| 5. Exposições| 6. Sanitários
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154
<
A
<
B
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185. Planta pavimento intermediário.
<
Pavilhão 1
C
3
Pavilhão 2
1
2
Pavilhão 3
1. Mezanino “A”| 2. Mezanino “B”| 3. Sala de aula
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155
<
B
<
A
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186. Planta pavimento superior
<
Pavilhão 1
C
Pavilhão 2
1
Pavilhão 3
1. Sala de aula
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1. Sala de exposições| 2. Mezanino “A”| 3. Sala de exposições “A”| 4. Auditório
Pavilhão 3
Pavilhão 2
Pavilhão 1
2
4
1
3
187. Corte A
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1. Sala de exposições “B”| 2. Copa (detalhe da exaustão)
Pavilhão 2
Pavilhão 3 em vista
Pavilhão 1
2
1
188. Corte B
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Chaminé
Sala de aula – Pavilhão 2
Pavilhão 3
1
2
1. Foyer| 2. Copa|
3. Auditório
3
189. Corte C
Pavilhão 3
Sala de aula – Pavilhão 2
Chaminé
190. Elevação lateral
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Pavilhão 3
Pavilhão 2
Pavilhão 1
191. Elevação frontal
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Pavilhão 1
Pavilhão 2
Pavilhão 3
192. Elevação posterior
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Este pavilhão possuía um pé direito triplo o que permitiu a construção de um
mezanino, um segundo piso em estrutura metálica totalmente independente da
estrutura do velho moinho. Para acessar o segundo nível, uma escada e um
elevador hidráulico foram instalados junto a uma das alvenarias preservadas na
sala de exposições B. Sobre esta sala a estrutura do mezanino encosta nas
paredes laterais do pavilhão. Dele sai uma passarela que atravessa as aberturas
das paredes preservadas até chegar ao mezanino sobre a sala de exposições
A. Este, ao contrário do que acontece na outra sala, está totalmente recuado
em relação às divisas laterais.
No mezanino B, um forte elemento retangular
revestido em chapa, atravessa e rompe com o perímetro original do moinho.
193. Vista do pavilhão 3 antes da intervenção
Este espaço abriga duas salas de aulas e é o elemento de grande destaque da
proposta de intervenção quando observamos o conjunto externamente. As vigas
metálicas em perfil "I" sustentam as salas que ficam em balanço. A área
20. Vista interna do Pavilhão 3 antes da intervenção.
compreendida pelo espaço B ainda recebe mais um nível que recebeu duas
salas de aulas. A cobertura deste pavilhão também foi refeita com tesouras em
estrutura metálica e cobertura em chapa pintada de vermelho.
O terceiro e último pavilhão é o menor dos três. Do edifício original restaram
apenas a fachada posterior e parte do seu embasamento. A lateral externa
recebeu caixilharia metálica e fechamento em vidro. A fachada posterior
194. Construção da cobertura do pavilhão 3.
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CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL
recebeu fechamento em chapa metálica pintada de vermelho. O seu interior
teve as paredes originais removidas e criou-se um grande espaço, o maior de
todos, para exposições. A cobertura deste pavilhão, assim como nos outros, foi
refeita com as mesmas características.
Atualmente, a construção projetada para abrigar a Secretaria de Educação,
funciona como a Biblioteca Municipal Olavo Bilac e o antigo edifício do Moinho
está desativado em função de uma interdição realizada em 2009. Tal fato
aconteceu depois que o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) emitiu um
laudo técnico sobre os efeitos nocivos da salinização sobre a construção.
195. Vista lateral do conjunto em obras.
Segundo o Jornal Mais Notícias1 o projeto executivo para a recuperação do
edifício já está autorizado e a empresa contratada. A edificação encontra-se,
lamentavelmente, abandonada e, apesar de não ser possível o acesso ao
interior das instalações, consegue-se perceber os muitos sinais de descaso:
vidros quebrados, caixilhos oxidados, calhas metálicas perfuradas, entre outros
fatores que demonstram uma triste realidade brasileira: o descaso com sua
própria história e referências. Houve intenção por parte do governo em
recuperar parte da história da cidade de Ribeirão Pires, mas parece que uma
vez conseguido o resultado, houve um retorno à postura anterior de total
descuido.
http://jornalmaisnoticias.com.br - Prefeitura contrata empresa para elaborar projeto de recuperação do prédio da antiga Fábrica de Sal - acessado
em 11/09/2011
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SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
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CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL
Este estudo de caso possui peculiaridades e se diferencia dos demais projetos
analisados nesta dissertação. A "matéria prima" com que se trabalhou, no caso
o edifício da fábrica, encontrava-se num estado avançado de destruição. Nos
outros casos analisados trabalhávamos com a ideia de construir no construído,
aqui, na realidade, podemos afirmar que houve grande esforço dos arquitetos
para conseguir, de forma exitosa, construir sobre o destruído.
O trabalho foi
minucioso e praticamente artesanal. Para recuperar a memória de sua história
foi preciso reconstruir partes da edificação ao mesmo tempo em que eram
necessárias soluções que permitissem a adaptação do seu uso. Não podemos
dizer que houve um trabalho de restauração, pois como dito no início desde
trabalho, Solà-Morales entende que o trabalho de interpretação da obra
existente deve ser entendido como uma intervenção. A restauração, passa a ser
uma reconstrução fiel da obra original. Perrone define este trabalho como uma
recomposição, pois entende que esta foi uma grande operação para alteração
do uso original, mas com tarefas de recuperação como eixos fundamentais do
196. Fachada frontal do projeto após a intervenção.
projeto. "A memória [...] deveria ser encontrada, restabelecida e, em alguns
pontos, reconstituída". (PERRONE, 2005, p.10). "A intervenção caracterizou-se
não como um “restauro” do edifício original, ou de outros que se agregaram a
ele, mas reafirmou os propósitos iniciais de reconhecimento do artefato
arquitetônico pela memória de sua trajetória." (PERRONE, 2004)
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197. Croqui ilustrando reconstrução das
alvenariasxaberturas.
198. Croqui ilustrando reconstrução das
alvenariasxaberturas.
199. Processo de recuperação da alvenaria
concluído.
200. Alvenaria parcialmente destruída.
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201. Detalhe do arco parcialmente destruído.
202. Croquis ilustrando processo de recuperação do
arco.
203. Arco recuperado.
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CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL
Segundo os critérios de análise do autor Francisco de Gracia (1992), podemos entender que esta obra
também pode ser classificada como uma intervenção com forma de inclusão, definida nos capítulos
anteriores. Todos os elementos entre arquitetura preexistente e intervenção são compartidos integralmente.
Por esse mesmo motivo, é possível expandir a classificação desta obra para a forma intersecção. A nova
arquitetura rompe, em alguns momentos, os perímetros originais interagindo com a preexistente. Ainda assim,
há uma grande preocupação por parte dos arquitetos de deixar em evidência os diversos momentos da
história da edificação.
Em relação aos níveis de intervenção elaborados e definidos pelo autor, poderíamos definir esta obra
analisando-a por dois contextos distintos: a intervenção pontual no antigo moinho e a do complexo
construído para o centro educacional em sua totalidade.
Pontualmente, podemos afirmar que esta obra enquadra-se como modificação circunscrita, afinal, a
intervenção fica limitada ao edifício como uma realidade individual, com uma ampliação muito discreta e
transformação de estrutura interna. Ainda podemos dizer que existe uma colisão de estruturas formais pois
há um contraste nos materiais sem negar a existência. Esta intervenção também tenta reconhecer a
fundamentação tipológica e reconhece a existência de uma arquitetura capaz de aludir a referências
estruturais consolidadas em experiências precedentes, o que a classifica como uma arquitetura de base
tipológica. Ao mesmo tempo, ao analisarmos o conjunto, podemos afirmar que, segundo os critérios de
análise usados como referência, esta obra enquadra-se como modificação do locus. Por sua dimensão, esta
intervenção não pretende repercutir, mas a sua presença no entorno imediato é marcante. Também existe a
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CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL
idéia de arquitetura do fragmento, pois não existe uma continuidade contextual entre os três edifícios. É
uma colagem de estruturas formais heterogêneas.
Na recomposição proposta, a atitude em relação às linguagens do antigo e o novo, foi didática
revelando uma clara distinção por oposição de materiais e ao mesmo tempo foi integradora
dos ambientes buscando respeitar certas continuidades visuais e tipológicas [...] Os critérios e a
linguagem arquitetônica utilizados enfatizaram as relações entre o novo e antigo mostrando as
intervenções. Os desgastes, o registro do tempo e dos usos de uma maneira didática e
explícita. O projeto no seu conjunto e as atividades da assessoria executadas, conduziram a
recomposição do prédio aos objetivos fixados. Intervir para um novo uso ao mesmo tempo que
restaurar para constituir a memória. (PERRONE, 2005)
Pelos conceitos elencados por Gonzalo Diaz, a obra em análise enquadra-se no que o autor chama de
sobreposição de uma arquitetura sobre outra preexistente que a transforma numa nova composição. Ainda
que os volumes incorporados externamente sejam discretos, esta proposta não se limita em manter a
estrutura da forma, incorporou-se um novo volume que resulta numa nova composição e ideia de edifício.
Há uma fusão de arquiteturas e consequente surgimento de um novo organismo no que se refere à
estrutura, significado e modo de utilização. A obra original é facilmente reconhecida e o esqueleto do antigo
moinho é norteador para o resultado final. Assim, como os demais projetos desta dissertação, há nesta
proposta a ideia de rearquitetura já definida anteriormente. A intervenção realizada é positiva, pois
recuperou, destacou, valorizou a importância histórica do edifício e se faz presente marcando o seu próprio
tempo.
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204. Fachada frontal.
Salas de aula
sanitários
Pavilhão 3
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205. Fachada frontal.
206. Fachada frontal.
207. Fachada lateral – pavilhão 2 com destaque para a sala de aula em balanço.
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208. Fachada lateral – pavilhão 3
209. Fachada lateral. – pavilhão 3
210. Fachada lateral. – pavilhão 2
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211. Fachada lateral e posterior.
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212. Detalhe da junção da alvenaria existente e reconstruída.
213. Pavilhão 2
214. Fachada posterior. Da esquerda para a direita: pavilhão 1| pavilhão 2| pavilhão 3.
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215. Escada metálica e elevador hidráulico para acesso ao pavimento
intermediário e superior. – pavilhão 2
216. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2.
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217. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2
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218. Mezanino – pavilhão 2.
219. Vista interna do térreo pavilhão 2 e pavilhão 1.
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220. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2
221 e 222. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2
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223. Auditório – pavilhão 3
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224. Pavilhão 2 em obras
225. Pavilhão 2 em obras
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As cidades desenvolvem-se por meio de contínuos processos de modificações, demolições e reconstruções
que acompanham as necessidades e transformações sociais. Para Marisa Barda cada cidade ou lugar tem
sua própria história onde memória e lembranças são os elementos fundamentais para a formação de uma
cultura local. Ignorar a importância desse processo de reconhecimento da sociedade e das suas referências
pode ser um erro. A memória não é simples lembrança do passado, mas uma fonte de identidades
representadas das mais diversas formas.
As grandes cidades brasileiras vivem, em quase toda sua extensão, um processo de grande especulação
imobiliária. Os terrenos estão cada vez mais valorizados e, em sua maioria, abrigam edificações com um
valor de construção irrisório comparado ao do próprio lote em que estão implantadas. Isso, acrescido das
demandas por espaços de uso comercial, habitacional ou de serviço e somados a alterações de legislações
que aumentaram o potencial construtivo do solo (no caso de São Paulo), estimula que construções não
protegidas
formalmente
pelo
patrimônio
histórico
sejam
demolidas
para
dar
lugar
a
grandes
empreendimentos imobiliários.
Entretanto, políticas conservacionistas mais rígidas podem causar a obsolescência de edifícios ou, até
mesmo, de áreas urbanas. Assim, as práticas para salvaguardar arquiteturas e garantir a sua continuidade
passam, muitas vezes, por um processo de adaptação às novas condições sociais, econômicas e
tecnológicas, tratando de encontrar o ponto de equilíbrio entre preservação e continuação que resulte numa
evolução positiva. “O interesse que vem se despertando sobre este tema deve ser visto, principalmente,
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
181
CONSIDERAÇÕES FINAIS
como uma tomada de consciência para o desenvolvimento das cidades e seu dinâmico crescimento”. (DIAZ,
2009, p.27).
Este tema, construir no construído; da arquitetura como agente modificador da arquitetura através das
sobreposições, desperta hoje como um reflexo da crescente atuação profissional neste tipo de desafios. São
projetos ambivalentes que têm como matéria prima um pedaço de forma do passado, mas que miram o
olhar para o futuro.
“Reciclagem, Requalificação, Rearquitetura vem se tornando problemas corriqueiros
na agenda do arquiteto contemporâneo. A situação reflete o interesse cultural e
econômico na conservação de testemunhos do passado, mesmo quando de um
passado recente. [...] O interesse abrange a edificação ordinária e a monumental,
qualquer seu compromisso com a durabilidade. Favorece a coexistência no espaço
de formas de épocas distintas, alia-se à valorização multifacetada da diversidade. O
espírito do presente não é exclusivista nem utópico. Estranha a ideia da construção
sobre terra arrasada – dum admirável mundo novo formalmente unificado. Parecelhe anacrônica culturalmente, absurda e economicamente míope” .
1
Para Solà-Morales, o problema com que nos encontramos na atualidade é o de repensar nossa relação com
os edifícios, passando de uma atitude evasiva e distante a uma atitude de intervenção projetual.
1
Retirado do texto para chamada de artigos do 7º Seminário DOCOMOMO Brasil e III PROJETAR realizados em Porto
Alegre, entre 22 e 26 de Outubro de 2007.
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
182
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidentemente não existe uma fórmula, nem a maneira mais correta de enfrentar a questão e dar-lhe
respostas a partir da incorporação de um projeto futuro com uma mínima congruência. Para o autor os
problemas de intervenção na arquitetura, são primeira e fundamentalmente, problemas de arquitetura, e
neste sentido, o primeiro momento classicista nas questões de intervenção, nos deixa a lição de que as
arquiteturas do passado travam um diálogo com a arquitetura do presente e que não devemos entender o
problema com uma postura defensiva e preservativa. A segunda lição seria a do “positivismo pós-hegeliano”
onde os problemas de intervenção na arquitetura (histórica) não são problemas abstratos nem problemas
que se possam formular, são apenas problemas concretos sobre estruturas concretas. Talvez por isso, deixar
falar ao edifício é ainda hoje a primeira atitude responsável e lúcida ante um problema de intervenção e
sobreposição.i
Para Francisco de Gracia, quanto mais se edifica, menos se reflete sobre a arquitetura. Atualmente não
podemos promover a recuperação ou a manutenção da cidade (histórica) baseando-nos em condições
produtivas pertencentes ao passado. Além disso, a prática arquitetônica contemporânea tem direito de
refletir a sua própria condição histórica, expressar o seu próprio tempo, ainda que sob certas condições
derivadas das pré-existências. As melhores propostas arquitetônicas seriam aquelas capazes de concretizar a
relação entre permanência e transformação dado que, como sinalizado por Ezio Manzini o “ novo é novo
porque introduz componentes que antes não existiam, mas também e, sobretudo, porque modifica e
reorganiza o existente”. (MANZINI apud DE GRACIA, 1992 p.VII)
Devemos nos basear na ideia de que todo projeto de intervenção deve apoiar-se em ações positivas,
admitindo-se que a velha arquitetura deve submeter-se a uma verificação ativa para que se determinem os
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
183
CONSIDERAÇÕES FINAIS
limites da ação conservativa e da ação modificadora. (CONTACUZINO, 1979 p. VIII). Para Marisa Barda
(2009), o interessante é não camuflar a intervenção na arquitetura preexistente, para que a sociedade saiba
reconhecer e distinguir passado e presente.
Esta pesquisa se propôs a analisar quatro estudos de caso onde a matéria prima de trabalho, ou seja, a
edificação preexistente, sofreu alterações e adaptações para um novo uso. Entretanto, cada projeto
analisado teve sua própria linha de raciocínio e de interpretação em relação à arquitetura anterior,
reafirmando a hipótese do autor Ignasi de Solà-Morales sobre o fato de não existir uma fórmula e uma
regra para conduzir este tipo de projeto. Assim como Francisco de Gracia alerta, não é possível catalogar
nem muito menos criar um manual para análise dos projetos, justamente, porque cada projeto é único e
cada arquiteto pode encontrar possibilidades e estabelecer estratégias de forma a enxergar o projeto com
seus próprios olhos.
No primeiro projeto analisado, o Museu Xul Solar, a intenção principal do arquiteto foi a de preservar, mais
do que a arquitetura representativa de uma época, a alma e certas características das obras do pintor que
fez do imóvel sua moradia e seu ateliê. Isso pode ser verificado pela escolha do arquiteto em manter
intacta a parte superior que abrigava a casa de Xul Solar e a de transformar a parte inferior da casa numa
grande obra de arte, como se um dos quadros do pintor tivesse se materializado. As duas arquiteturas
formam um sistema de engrenagem, uma relação de mutualismo. Ainda assim, dentro do espaço do museu
é possível reconhecer a arquitetura preexistente na diferenciação de linguagens arquitetônicas, no uso dos
materiais e pela própria forma da organização dos espaços. Portanto, Pablo Beitía consegue estabelecer a
relação entre permanência e transformação destacada pelos autores referenciados.
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
184
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segunda obra analisada foi a Fundação Proa. Este projeto que passou por duas intervenções, teve
também, seus dois momentos de interpretação. A primeira intervenção foi mais discreta em detrimento da
valorização e da manutenção da arquitetura preexistente. A parte inferior da casa que abrigava o armazém
passou por uma reorganização do espaço, teve um reforço estrutural com lajes steel deck e seus pilares
originais recolocados organizando o ambiente de exposições. Toda a intervenção é facilmente reconhecida,
pois os arquitetos utilizaram-se de elementos metálicos que diferem do material da casa original. Portanto,
esta primeira intervenção tinha como partido a preservação e manutenção da casa Dallorso.
A segunda intervenção da Fundação Proa aconteceu sob outras circunstâncias. Houve a solicitação de
ampliar os espaços e os arquitetos entenderam que seria importante refletir e expor as questões ligadas à
tecnologia. Neste segundo caso, a fachada da casa Dallorso foi usada como um elemento estético da
memória da casa como fator compositivo da totalidade do conjunto da fachada. Os arquitetos sabem da
polêmica que envolve este tipo de intervenção, mas acreditam que são bem sucedidos em manter viva parte
da história da casa. A autora Marisa Barda critica este tipo de abordagem por acreditar que existe embutido
neste pensamento uma intenção mercadológica, de apenas vender a imagem de uma empresa (no caso,
uma fundação) engajada com as questões socioambientais. De qualquer forma, os arquitetos envolvidos no
projeto acreditam que o resultado final reflete a tensão entre a história e futuro. Houve um reconhecido
respeito com o entorno, ainda que com um intencional contraste na escolha dos materiais empregados.
O Museu das Minas e do Metal foi o terceiro estudo de caso abordado. Sua peculiaridade era a de possuir
um trecho da edificação utilizada como ponto de partida protegido pelo patrimônio histórico de Minas
Gerais.
Evidentemente, tal fato era um limitador, pois todo o projeto de intervenção deveria acontecer
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
185
CONSIDERAÇÕES FINAIS
apenas no trecho posterior da edificação, que a rigor, não estava tombado. Os arquitetos envolvidos
entenderam que para demonstrar a evolução da edificação no decorrer da história, deveriam contrastar
tanto no uso de materiais quanto na linguagem compositiva. O resultado final revela uma arquitetura
colagem, com elementos justapostos que se contrapõem à preexistência no que diz respeito à linguagem
arquitetônica. Na Fundação Proa, apesar do contraste, a continuidade dialética fica evidente na relação dos
frisos com os caixilhos e na escolha das cores, por exemplo. Não há pretensão de ofuscar e ocultar a
arquitetura anterior; já as fachadas do MMM são antagônicas e a intervenção não quer passar sem ser
notada. Como dito no capítulo referente a este museu, o projeto exalta o que Solà-Morales nos diz sobre
abrandar a rigidez das medidas preservacionistas. É fácil identificar a sobreposição de momentos históricos,
pois muito além da sobreposição de volumes, houve um grande contraste na escolha dos materiais
empregados.
O quarto e último estudo de caso deste trabalho é o projeto para o Centro Educacional em Ribeirão Pires.
O projeto foi executado sobre as ruínas de um antigo Moinho e, para atingir o resultado esperado,
necessitou-se, muitas vezes, recompor trechos da edificação existente ao mesmo tempo em que se deveriam
encontrar soluções que permitissem a sua alteração de uso. Os arquitetos entenderam que a valorização do
patrimônio era uma premissa de projeto e, assim, fizeram uma intervenção respeitosa onde todos os
elementos incorporados marcam presença sem ofuscar a imponência do edifício original. Os materiais
empregados revelam e destacam a intervenção da preexistência, mas fica evidente que os arquitetos
buscavam uma continuação dialética e tipológica.
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
186
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os quatro projetos têm em comum, além da mudança de uso, a característica de incorporar volumes à
preexistência na tentativa de criar uma nova composição e um novo organismo, fundindo arquiteturas para
que
resultem
numa
nova
volumetria,
num
novo
significado
e
possibilitando
a
nova
utilização.
As
interferências reorganizam os espaços iniciais. Todas as intervenções analisadas demarcam seu tempo
histórico através da linguagem arquitetônica adotada em contraposição à anterior e na utilização de
materiais contemporâneos. Podemos verificar através destes exemplos, que as relações mais diretas e
comuns definidas pelo autor Francisco de Gracia, são as de inclusão e intersecção. Apenas no MMM se
verificou a relação definida pelo autor como uma exclusão. Ainda em relação às definições deste autor, as
quatro obras enquadram-se numa modificação circunscrita, pois ficam limitadas ao edifício com ampliações
moderadas e transformações de estrutura interna. Também possuem em comum o caráter de contraste, ou
seja, possuem um padrão de intervenção com colisão de estruturas formais.
Também podemos verificar que por se tratarem de obras que realizaram transformações, demolições e
acréscimos com aproveitamento do existente, porém diferenciando-se do original, podem ser enquadradas
como Rearquiteturas; conceito definido pelas autoras Ruth Verde Zein e Anita di Marco e explicitado no
primeiro capítulo desta dissertação.
Gonzalo Diaz diz que construir sobre o construído deve ser entendido como o elo de uma cadeia de formas
que se sucedem a outras. Entretanto, não é garantia de um bom final, pois não há razões para pensar que
a qualidade arquitetônica e a valorização histórica estejam garantidas com a sobreposição. Mas, ainda que
não possam resultar em edifícios magníficos, as ideias se somam às preexistentes e as novas formas se
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
187
CONSIDERAÇÕES FINAIS
acumulam sobre as antigas podendo originar um complexo e rico sistema de significados sempre
identificados com as memórias e identidades locais.
Neste trabalho não se pretendeu expor todas as formas de construir no construído, pretendeu-se apenas dar
continuidade a uma especulação sobre rearquitetura como forma de intervenção nas cidades e locais onde
preexistências possam ser significativas. Espera-se com isto abrir novos debates e estudos sobre as
possibilidades dos novos projetos incorporarem elementos que caracterizavam os lugares onde serão
instalados.
i
Em seu texto, Teorias de la Intervención Arquitectónica, Solà-Morales traça um panorama histórico das práticas de
preservação do patrimônio. A reflexão e a consciência histórica aparecem por primeira vez durante o Renascimento; antes
disso nenhuma intervenção feita considerava a arquitetura preexistente. Este primeiro mecanismo trabalha a arquitetura
como instrumento de intervenção que tem a sua própria congruência e que se relaciona com as estruturas já existentes,
não para respeitá-las em sua diversidade, mas para submetê-las a um projeto de cidade que deve ter uma unidade própria.
Neste momento a arquitetura tem a segurança de um projeto estabelecido em um princípio que permite dialogar com o
existente, mas sem renunciar à unidade da cidade gótica. Um segundo momento se inicia quando Viollet-le-Duc e Ruskin
teorizam as questões de preservação e restauração. Viollet-le-Duc, ao contrário de Ruskin, tinha uma visão mais positivista
e menos conservacionista em relação ao patrimônio edificado. Acreditava na compreensão de que o edifício existente tem
por si mesmo uma lógica, assim como o que convém é deixar falar a própria lógica sem tentar sobrepor um discurso
diferente. Portanto, para ele, restauração é deixar falar ao edifício e acreditar numa lógica existente que deve ser seguida.
Ruskin tinha uma visão mais conservacionista e no seu discurso havia a ideia de que a arquitetura preexistente é uma arte
e, como tal, é uma obra intangível. Para ele a ideia do restauro estava vinculada com as questões de preservação e SolàMorales acredita que esta seja uma colocação importante, pois marcou com mais força o conceito de intervenção
arquitetônica nos tempos contemporâneos.
Em suma, Solà-Morales acredita que o momento clássico manifestava qual era a atitude projetual prévia enfrentada em
relação ao edifício sem a necessidade de ajudas externas e com a certeza de que os instrumentos da arquitetura são
capazes de dar respostas. A cultura positivista manifestava a necessidade de um conhecimento científico do artefato
arquitetônico existente.
SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO
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