CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 4. CENTRO EDUCACIONAL RIBEIRÃO PIRES Ribeirão Pires - São Paulo - Brasil. Rafael Perrone e Marcio do Amaral Ano: 2004 Rafael Perrone graduou-se pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo em 1973. Em 1983 recebeu um prêmio do IAB pelo projeto do conjunto de edifícios Onde-Sol, na praia das Astúrias. Atravessou durante sua formação um período político conturbado, mas como ele mesmo observa, formou uma geração muito crítica. Em 1984 concluiu mestrado em planejamento urbano pela Fundação Getúlio Vargas, em 1993 formou-se doutor pela FAU-USP e em 2008 concluiu a livre docência, também pela FAU-USP. Além do Centro Educacional de Ribeirão Pires, projetou o Centro de Apoio à Educação de Indaiatuba, entre outros projetos significativos. Além da sua atuação na prática de arquitetura, é professor e pesquisador das faculdades de arquitetura da USP e Mackenzie. Foi premiado pelo IAB/SP em 2004, com o Prêmio “Ex aequo” pela requalificação do Moinho di Sêmola Fratelli Maciotta. Marcio do Amaral graduou-se na FAUSP em 1980 e lecionou na FAUPUC de Campinas entre 1986 e 2003. Em conjunto os arquitetos receberam, em 1998, o Premio Carlos Barjas Milan, pelo projeto do Centro Cultural da cidade de Mauá (SP) e o Prêmio Votorantim na 5ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo pelo projeto de igreja em Campinas. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 136 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 4.1. O CENTRO EDUCACIONAL O projeto em análise está localizado no centro histórico do município de Ribeirão Pires, São Paulo, numa região em processo de transformação lindeira à Estrada de Ferro São Paulo Railway. Em 1999 teve transformações significativas com ampliação de espaços livres, requalificação de calçadas e equipamentos públicos. Em outras regiões próximas foram feitas melhorias, como o tratamento paisagístico da Av. Brasil, a remodelação do Paço Municipal e a recuperação do terminal ferroviário. Todas essas requalificações aconteceram numa área conhecida como Centro Baixo. (PERRONE, 2005). Do outro lado da ferrovia, numa região conhecida como Centro Alto, desapropriou-se o terreno de uma antiga fábrica de sal desativada desde o início dos anos 1990, que se encontrava abandonada e em processo de deterioração. O terreno, com 12.000m², tinha potencial de contribuir e complementar as ações realizadas no Centro Baixo e por isso foi escolhida para receber duas grandes propostas de intervenção. (PERRONE, 2005). "O Centro Educacional introduziu o(s) arquiteto(s) nas questões práticas de patrimônio e preservação" (CAMARGO, 2005) e seu projeto passou por diversas modificações durante o período de desenvolvimento: a primeira proposta, apenas um estudo preliminar, foi elaborada sem uma real compreensão da importância da fábrica para a cidade e do real estado de conservação das edificações originais. A primeira solução apresentava apenas um edifício triangular e uma praça que reunia todos os itens do programa. Nessa proposta estavam previstas demolições de quase todas as construções em ruínas. De fato, através da análise fotográfica, nota-se claramente que o conjunto final da refinaria de sal estava completamente SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 137 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL destruído. Nota-se também, a quantidade de "puxados" construídos ao redor da fábrica principal, que dificultavam o reconhecimento do valor histórico dessa construção. 162. Implantação 1. Centro educacional|2. Estrada de ferro|3. Igreja da Matriz|4.Estação de trem|5. Centro baixo| 6. Requalificação Av. Brasil SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 138 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL "Embora a visita ao local tenha proporcionado aos arquitetos outra compreensão do significado da estrada de ferro e principalmente dos remanescentes do complexo industrial, que passaram a ser integrados ao projeto arquitetônico com outra dimensão, estes não assumiram a condição de gênese do projeto." (CAMARGO, Mônica Junqueira, 2005). Assim, a segunda proposta criava uma ligação viária entre o Centro Alto e o Centro Baixo e visava uma articulação de modo 163. Perspectiva da segunda proposta. que possibilitasse a passagem de pedestres e veículos sob os trilhos do trem, pois, ainda que responsável pelo desenvolvimento da cidade, a ferrovia seccionou a malha urbana. As intervenções haviam sido pensadas para que fossem realizadas simultaneamente. Como em parte da proposição original as áreas não edificadas seriam transformadas em praças. Havia, nesse momento, a recomendação de que fossem mantidos alguns elementos das construções existentes, principalmente a chaminé. (PERRONE, 2005) 164. Perspectiva da proposta final. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 139 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 165. Perspectiva da proposta final. 166 e 167. Perspectiva da proposta final. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 140 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 169. Centro de qualificação Professores. 170. Escola pública 168. Implantação Centro Educacional. 1. Praça| 2. Centro de qualificação de professores | 3. Secretaria da educação | 4. Escola pública | 5. Estacionamento | 6. Pátio descoberto | 7. Quadra poliesportiva 171. Secretaria da educação. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 141 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL A partir de 2001, logo após a desapropriação do terreno, foi possível realizar verificações mais precisas in loco com levantamentos cadastral e fotográfico. Neste momento identificou-se a importância histórica da construção e repensou-se o partido do projeto a partir da constatação de que a chaminé estava em condições para ser mantida. Ademais, o Centro de Apoio Técnico ao Patrimônio da cidade estabeleceu algumas diretrizes que incluíam a ampliação da área preservada, a valorização da construção original, a manutenção das relações entre o núcleo urbano e a ferrovia, além de ser importante evidenciar a intervenção sobre a edificação preexistente. O programa de necessidades, antes definido em um só bloco, dividiu-se em três edificações: o edifício preservado que sofreu intervenção e onde foi instalado um centro de treinamento de professores e a construção de dois novos edifícios para abrigar uma escola e a Secretaria de Educação. "As dimensões e as características da antiga fábrica provocaram a fragmentação do projeto de modo a melhor acolher aquilo que ainda restava de sua integridade - e a reordenação do programa, incrementando seu uso. Ao tratar o programa em três edifícios diferentes, Perrone introduziu alguns ganhos: descartou o rigor na definição dos seus limites, fazendo surgir espaços intersticiais; e valorizou a fluidez de sua inserção urbana, proporcionando a comunicação e a troca mais intensa entre os usuários e a cidade. O projeto final apresentado, ainda que com área edificada muito próxima à do primeiro, mudou não só de forma, mas de escala - passou de objeto arquitetônico à condição de ação urbana." (CAMARGO, 2005, p.59). A implantação dos novos volumes valeu-se de elementos existentes: os arquitetos traçaram uma série de relações geométricas - a partir de uma árvore preservada, do edifício fabril e de suas ligações com a trama SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 142 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL urbana e férrea - que definiram a posição dos blocos. A implantação do Pavilhão da Secretaria relaciona-se com o posicionamento da fábrica no terreno; existem semelhanças entre a caixa d'água em balanço com a chaminé de tijolos, pois ambas são fortes elementos verticais. A escola teve seu ponto de partida, uma seringueira preservada que foi envolvida pela construção. (SERAPIÃO, 2005). Para a autora Mônica Junqueira de Camargo (2005), os edifícios foram resolvidos numa mesma linguagem que explora a volumetria, a transparência e o jogo cromático, porém constituem exemplares muito distintos, pois a secretaria possui um volume em forma de pavilhão enquanto a escola se configura num edifício pátio. Os três edifícios foram implantados de forma a configurar uma grande praça que deixa em evidência e privilegia a arquitetura preexistente do edifício fabril. Dessa forma, a implantação respeita e aproveita a topografia e promove uma relação entre os espaços públicos e semi-públicos; a arquitetura cria um marco arquitetônico e os eixos propõem percursos que estimulam a integração com a vida urbana. Embora o conjunto de edifícios independentes pareça desconexo, a autora afirma ser uma das mais equilibradas, "um exemplo dos mais didáticos da arquitetura como montagem: a estrutura visivelmente independente, os elementos arquitetônicos constituindo as superfícies e estas configurando o volume. Um equilíbrio que expressa com muita clareza o amplo domínio do arquiteto sobre formas, cores, volumes, texturas, cheios e vazios, planos, superfícies e transparências" (CAMARGO, 2005). Ainda segundo a mesma autora, o edifício preexistente assume no conjunto a condição de elemento surpresa, pois ao não ter relação com a composição das edificações propostas, " tem sua excepcionalidade valorizada pela intervenção, distinguindo-se enquanto objeto ímpar" (CAMARGO, 2005). SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 143 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Ainda que o centro educacional seja composto pelas três edificações e que seu significado seja uma resultante enquanto conjunto, não farão parte desta análise os dois novos edifícios. O foco será justamente o edifício fabril que passou por um processo de intervenção com alteração de uso. 4.2. O EDIFÍCIO ORIGINAL A construção original foi projetada para abrigar o Moinho Di Fratelli Maciota, em 1898, implantado estrategicamente ao lado da ferrovia e próxima à área central e à Igreja da Matriz. O formato do terreno e a implantação dos edifícios do moinho são resultantes do traçado do 172. Vista aérea da região do moinho. ramal da ferrovia. Em 1910 a construção foi comprada por José Mortari e passou a ser conhecida como Moinho Mortari. A partir desse momento, o moinho cresce de tamanho em função do aumento da produção e começam a ser anexados à construção original novos galpões em alvenaria. O moinho ganha importância e passa a ser um agente de desenvolvimento urbano da cidade de Ribeirão Pires; começam a surgir loteamentos em regiões próximas à fábrica durante os anos de 1920, como, por exemplo, a Vila Mortari. (DE FREITAS, 2008). 173. Entrada do moinho. – edificação original SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 144 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 174. Planta original do moinho. A partir de 1946 o Moinho é adaptado para ser transformado numa refinaria de sal. Neste momento foram construídos, além dos anteriores, anexos realizados sem quaisquer critérios projetuais. Houve demasiado descuido técnico que provocou a descaracterização e deterioração das construções originais. Apesar da importância da fábrica no desenvolvimento da cidade existem poucos registros que documentam a transformação do edifício (PERRONE, 2005). O sal da refinaria afetou grande parte da estrutura de concreto dos anexos, e após a desativação da fábrica até o início dos estudos para o projeto do centro educacional, ficou visivelmente abandonada. Em SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 145 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 2000, as edificações em ruínas foram desapropriadas pela municipalidade que pretendia fazer uma ligação viária entre as duas partes do centro da cidade, fragmentada pela ferrovia (SERAPIÃO, 2005). 175. Planta cadastral do moinho. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 146 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL O centro é resultado de um estudo minucioso e detalhado que deu origem a dois percursos investigativos: o histórico, com a documentação do lugar, suas características e transformações, e o técnico; descrevendo e diagnosticando a situação para futuras soluções projetuais e identificando os elementos construtivos que poderiam ser mantidos e recuperados e que estavam, irremediavelmente, perdidos. Este processo investigativo possibilitou que se determinassem algumas diretrizes para o projeto: - Refazer a memória do prédio original do moinho caracterizando sua forma, escala e desenho com relação à cidade; - Resgatar as características do prédio permitindo que, em alguns pontos, fossem reconhecidas as marcas decorrentes dos anos de descuido. - Restaurar a chaminé por ser o símbolo da edificação industrial; -Evidenciar a relação com a ferrovia, propulsora do desenvolvimento da cidade, e as edificações industriais; -Revelar as transformações sofridas pelas edificações de forma didática, destacando intervenção de preexistência e revelando, em alguns pontos, o descaso com que se tratou a construção da fábrica ao longo da sua vida. "Foram definidos princípios de resgate, como a manutenção de algumas paredes, frontões e o aproveitamento de uma grande seringueira existente [...]. Confirmou-se, também, a não manutenção SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 147 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL dos galpões industriais com cobertura em arco, provavelmente dos anos 1950. Decisão tomada em função da situação estrutural e porque 'escondiam' a construção original, e também porque, embora fazendo parte da história, não apresentavam nada de exemplar em sua configuração. Permaneciam, além da chaminé, o suposto corpo original da fábrica e alguns [...] frontões remanescentes que ainda não se encontravam colapsados" (PERRONE, 2005, p. 8). 176. Vista da fábrica de sal com os galpões de cobertura em arco agregados. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 148 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Segundo os arquitetos as obras referenciais estudadas foram o Sesc Pompéia em São Paulo de Lina Bo Bardi, o Museu do Parque do Caraça em Minas Gerais de Meniconi, Leal, Climaco e Guimarães e o Parque das Ruínas no Rio de Janeiro de Ernani Freire e Sônia Lopes. Ao revisitar estas obras, observou-se com atenção como as questões de preservação e intervenção foram abordadas nestas propostas. No caso do SESC, houve uma preservação dos galpões industriais juntamente com a construção de um novo edifício. O projeto do Caraça evidencia com clareza a distinção entre passado e presente com a conjunção de espaços, materiais, estruturas e reminiscências. No Parque das Ruínas a proposta é de superposição de uma estrutura metálica sobre elementos preservados, mas desfigurados pelo uso e pelo tempo. Estas experiências ajudaram a resolver as questões do projeto de intervenção no Moinho. (PERRONE, 2004) 177. Parque das ruínas – Rio de Janeiro. Depois de várias definições, o edifício da fábrica de sal tinha como função ser um centro de formação dos professores da cidade. Para isso o programa de necessidades deveria abrigar um auditório, espaços para a internet, salas de aulas e de atividades, espaços para reuniões e seminários, exposições transitórias e outros tipos de encontros. Na ocasião da inauguração, foi organizada pelo arquiteto Júlio Abesendo, uma exposição sobre a história da cidade de Ribeirão Pires que contava com parte da documentação do edifício da fábrica. 178. Parque do caraça – Minas Gerais. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 149 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Do edifício original foram mantidos três pavilhões e a chaminé. Definiu-se na configuração final do projeto a incorporação do bloco dos fundos do corpo principal e a reconstrução dos portais da época do Moinho Mortari. 179. Vista do conjunto oposta à chaminé antes da intervenção. Pavilhão 1 Pavilhão 2 Pavilhão 3 Galpão demolido SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 150 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Para a recuperação do edifício do Moinho, depois das demolições necessárias, entendeu-se que o projeto deveria ser realizado por meio de um contínuo processo de assessoria técnica, o que ocasionava em constantes decisões projetuais em função do desvendamento das condições das construções. Este procedimento permitiu descobrir elementos não registrados nos levantamentos cadastrais; foram revelados arcos no salão principal, por exemplo, que permitiram a descoberta de porões de pedras. Essa, e outras revelações, levaram a novas considerações como um novo cálculo estrutural. Alguns fechamentos foram recuperados utilizando-se os tijolos das demolições que se encontravam em bom estado de forma a recompor e complementar as alvenarias. Para este procedimento elaborou-se um caderno de detalhes com desenhos e orientações. Na chaminé, demoliram-se paredes que haviam sido apoiadas sobre sua estrutura e, posteriormente, realizaram-se tratamentos em suas trincas e reforços com algumas cintas. A parte superior também foi recuperada e aprumada e o desenho do topo também foi refeito. (PERRONE, 2004) Todos os elementos necessários para a recuperação do edifício e para a adaptação de seu uso foram devidamente destacados de modo a não se 180. Vista interna do galpão em total situação de abandono e destruição. mesclarem com os originais e reforçarem o caráter histórico do edifício. Os materiais empregados causam, junto com a escolha cromática, um grande SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 151 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL contraste entre as arquiteturas e seus tempos. É possível decifrar com facilidade a arquitetura preexistente e a atual intervenção. Os três pavilhões remanescentes serão identificados da seguinte maneira: O pavilhão número 1 é o que está localizado à esquerda considerando o observador do lado oposto ao da chaminé. É o pavilhão que faz divisa com o ramal ferroviário. O pavilhão número 2 é o que está localizado ao centro; e o número 3 o que está à direita. É possível observar na foto 179, que o pavilhão número 1 sofreu alterações no decorrer da história do moinho e está visivelmente descaracterizado em relação aos pavilhões 2 e 3. 181. Recuperação da chaminé e pavilhão 2. Através das fachadas também conseguimos observar que o pavilhão 2 é o mais elemento reconstruído como no edifício preexistente. alto dos três, possuindo três níveis enquanto o 1º e 3º pavilhões são térreos. Os arquivos fotográficos da época da obra de intervenção revelam que o pavilhão número 1 teve uma das faces preservadas, a posterior, que está do lado oposto da chaminé. O seu espaço interno foi completamente remodelado, e recebeu um auditório com foyer. Entre o foyer e o auditório foram construídos lavabos e uma pequena copa. A face próxima ao foyer recebeu novo fechamento de caixilharia estrutural metálica e vidro. O auditório teve suas paredes tratadas e pintadas de amarelo. A cobertura foi completamente refeita com tesouras de estrutura metálica vermelhas, na inclinação das 182. Chaminé recuperada e pavilhão 2 ainda em obras. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 152 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL originais e cobertas com telhas, também vermelhas. Colocou-se também um piso elevado que permitiu uma inclinação adequada para acomodar as poltronas. O pavilhão número 2, é o mais alto como mencionado anteriormente e, portanto, concentra a maior parte das atividades. Na sua lateral, podemos observar aberturas ritmadas retangulares com fechamento em vidro. Sua face posterior possui apenas duas aberturas, uma em formato circular no topo e outra em formato de arco. No seu interior algumas alvenarias originais foram mantidas; estas, assim como as laterais, também possuem aberturas ritmadas 183. Edificação preexistente antes da intervenção. em formado retangular. Este pavilhão possui no térreo duas salas separadas por um corredor de circulação para receberem exposições que serão nomeadas como sala A e sala B. Na sala B, junto à face frontal, foram localizados os sanitários Neste espaço executaram-se três aberturas onde foram instalados caixilhos maximar. As laterais dos sanitários foram fechadas com caixilhos de vidro da mesma linguagem do caixilho do foyer do pavilhão 1. Para garantir a privacidade, um grande elemento em alvenaria pintada com massa texturizada, "rasga" o pano de vidro das laterais dos sanitários. Neste espaço foram concentradas as cubas. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 153 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 1 2 < Pavilhão 1 184. Planta do pavimento térreo B < A < C 6 Pavilhão 2 3 4 6 Pavilhão 3 5 1. Auditório| 2. Café| 3. Sala “A” de exposições | 4. Sala “B” de exposições| 5. Exposições| 6. Sanitários SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 154 < A < B CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 185. Planta pavimento intermediário. < Pavilhão 1 C 3 Pavilhão 2 1 2 Pavilhão 3 1. Mezanino “A”| 2. Mezanino “B”| 3. Sala de aula SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 155 < B < A CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 186. Planta pavimento superior < Pavilhão 1 C Pavilhão 2 1 Pavilhão 3 1. Sala de aula SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 156 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 1. Sala de exposições| 2. Mezanino “A”| 3. Sala de exposições “A”| 4. Auditório Pavilhão 3 Pavilhão 2 Pavilhão 1 2 4 1 3 187. Corte A SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 157 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 1. Sala de exposições “B”| 2. Copa (detalhe da exaustão) Pavilhão 2 Pavilhão 3 em vista Pavilhão 1 2 1 188. Corte B SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 158 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Chaminé Sala de aula – Pavilhão 2 Pavilhão 3 1 2 1. Foyer| 2. Copa| 3. Auditório 3 189. Corte C Pavilhão 3 Sala de aula – Pavilhão 2 Chaminé 190. Elevação lateral SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 159 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Pavilhão 3 Pavilhão 2 Pavilhão 1 191. Elevação frontal SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 160 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Pavilhão 1 Pavilhão 2 Pavilhão 3 192. Elevação posterior SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 161 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Este pavilhão possuía um pé direito triplo o que permitiu a construção de um mezanino, um segundo piso em estrutura metálica totalmente independente da estrutura do velho moinho. Para acessar o segundo nível, uma escada e um elevador hidráulico foram instalados junto a uma das alvenarias preservadas na sala de exposições B. Sobre esta sala a estrutura do mezanino encosta nas paredes laterais do pavilhão. Dele sai uma passarela que atravessa as aberturas das paredes preservadas até chegar ao mezanino sobre a sala de exposições A. Este, ao contrário do que acontece na outra sala, está totalmente recuado em relação às divisas laterais. No mezanino B, um forte elemento retangular revestido em chapa, atravessa e rompe com o perímetro original do moinho. 193. Vista do pavilhão 3 antes da intervenção Este espaço abriga duas salas de aulas e é o elemento de grande destaque da proposta de intervenção quando observamos o conjunto externamente. As vigas metálicas em perfil "I" sustentam as salas que ficam em balanço. A área 20. Vista interna do Pavilhão 3 antes da intervenção. compreendida pelo espaço B ainda recebe mais um nível que recebeu duas salas de aulas. A cobertura deste pavilhão também foi refeita com tesouras em estrutura metálica e cobertura em chapa pintada de vermelho. O terceiro e último pavilhão é o menor dos três. Do edifício original restaram apenas a fachada posterior e parte do seu embasamento. A lateral externa recebeu caixilharia metálica e fechamento em vidro. A fachada posterior 194. Construção da cobertura do pavilhão 3. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 162 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL recebeu fechamento em chapa metálica pintada de vermelho. O seu interior teve as paredes originais removidas e criou-se um grande espaço, o maior de todos, para exposições. A cobertura deste pavilhão, assim como nos outros, foi refeita com as mesmas características. Atualmente, a construção projetada para abrigar a Secretaria de Educação, funciona como a Biblioteca Municipal Olavo Bilac e o antigo edifício do Moinho está desativado em função de uma interdição realizada em 2009. Tal fato aconteceu depois que o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) emitiu um laudo técnico sobre os efeitos nocivos da salinização sobre a construção. 195. Vista lateral do conjunto em obras. Segundo o Jornal Mais Notícias1 o projeto executivo para a recuperação do edifício já está autorizado e a empresa contratada. A edificação encontra-se, lamentavelmente, abandonada e, apesar de não ser possível o acesso ao interior das instalações, consegue-se perceber os muitos sinais de descaso: vidros quebrados, caixilhos oxidados, calhas metálicas perfuradas, entre outros fatores que demonstram uma triste realidade brasileira: o descaso com sua própria história e referências. Houve intenção por parte do governo em recuperar parte da história da cidade de Ribeirão Pires, mas parece que uma vez conseguido o resultado, houve um retorno à postura anterior de total descuido. http://jornalmaisnoticias.com.br - Prefeitura contrata empresa para elaborar projeto de recuperação do prédio da antiga Fábrica de Sal - acessado em 11/09/2011 1 SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 163 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Este estudo de caso possui peculiaridades e se diferencia dos demais projetos analisados nesta dissertação. A "matéria prima" com que se trabalhou, no caso o edifício da fábrica, encontrava-se num estado avançado de destruição. Nos outros casos analisados trabalhávamos com a ideia de construir no construído, aqui, na realidade, podemos afirmar que houve grande esforço dos arquitetos para conseguir, de forma exitosa, construir sobre o destruído. O trabalho foi minucioso e praticamente artesanal. Para recuperar a memória de sua história foi preciso reconstruir partes da edificação ao mesmo tempo em que eram necessárias soluções que permitissem a adaptação do seu uso. Não podemos dizer que houve um trabalho de restauração, pois como dito no início desde trabalho, Solà-Morales entende que o trabalho de interpretação da obra existente deve ser entendido como uma intervenção. A restauração, passa a ser uma reconstrução fiel da obra original. Perrone define este trabalho como uma recomposição, pois entende que esta foi uma grande operação para alteração do uso original, mas com tarefas de recuperação como eixos fundamentais do 196. Fachada frontal do projeto após a intervenção. projeto. "A memória [...] deveria ser encontrada, restabelecida e, em alguns pontos, reconstituída". (PERRONE, 2005, p.10). "A intervenção caracterizou-se não como um “restauro” do edifício original, ou de outros que se agregaram a ele, mas reafirmou os propósitos iniciais de reconhecimento do artefato arquitetônico pela memória de sua trajetória." (PERRONE, 2004) SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 164 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 197. Croqui ilustrando reconstrução das alvenariasxaberturas. 198. Croqui ilustrando reconstrução das alvenariasxaberturas. 199. Processo de recuperação da alvenaria concluído. 200. Alvenaria parcialmente destruída. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 165 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 201. Detalhe do arco parcialmente destruído. 202. Croquis ilustrando processo de recuperação do arco. 203. Arco recuperado. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 166 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL Segundo os critérios de análise do autor Francisco de Gracia (1992), podemos entender que esta obra também pode ser classificada como uma intervenção com forma de inclusão, definida nos capítulos anteriores. Todos os elementos entre arquitetura preexistente e intervenção são compartidos integralmente. Por esse mesmo motivo, é possível expandir a classificação desta obra para a forma intersecção. A nova arquitetura rompe, em alguns momentos, os perímetros originais interagindo com a preexistente. Ainda assim, há uma grande preocupação por parte dos arquitetos de deixar em evidência os diversos momentos da história da edificação. Em relação aos níveis de intervenção elaborados e definidos pelo autor, poderíamos definir esta obra analisando-a por dois contextos distintos: a intervenção pontual no antigo moinho e a do complexo construído para o centro educacional em sua totalidade. Pontualmente, podemos afirmar que esta obra enquadra-se como modificação circunscrita, afinal, a intervenção fica limitada ao edifício como uma realidade individual, com uma ampliação muito discreta e transformação de estrutura interna. Ainda podemos dizer que existe uma colisão de estruturas formais pois há um contraste nos materiais sem negar a existência. Esta intervenção também tenta reconhecer a fundamentação tipológica e reconhece a existência de uma arquitetura capaz de aludir a referências estruturais consolidadas em experiências precedentes, o que a classifica como uma arquitetura de base tipológica. Ao mesmo tempo, ao analisarmos o conjunto, podemos afirmar que, segundo os critérios de análise usados como referência, esta obra enquadra-se como modificação do locus. Por sua dimensão, esta intervenção não pretende repercutir, mas a sua presença no entorno imediato é marcante. Também existe a SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 167 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL idéia de arquitetura do fragmento, pois não existe uma continuidade contextual entre os três edifícios. É uma colagem de estruturas formais heterogêneas. Na recomposição proposta, a atitude em relação às linguagens do antigo e o novo, foi didática revelando uma clara distinção por oposição de materiais e ao mesmo tempo foi integradora dos ambientes buscando respeitar certas continuidades visuais e tipológicas [...] Os critérios e a linguagem arquitetônica utilizados enfatizaram as relações entre o novo e antigo mostrando as intervenções. Os desgastes, o registro do tempo e dos usos de uma maneira didática e explícita. O projeto no seu conjunto e as atividades da assessoria executadas, conduziram a recomposição do prédio aos objetivos fixados. Intervir para um novo uso ao mesmo tempo que restaurar para constituir a memória. (PERRONE, 2005) Pelos conceitos elencados por Gonzalo Diaz, a obra em análise enquadra-se no que o autor chama de sobreposição de uma arquitetura sobre outra preexistente que a transforma numa nova composição. Ainda que os volumes incorporados externamente sejam discretos, esta proposta não se limita em manter a estrutura da forma, incorporou-se um novo volume que resulta numa nova composição e ideia de edifício. Há uma fusão de arquiteturas e consequente surgimento de um novo organismo no que se refere à estrutura, significado e modo de utilização. A obra original é facilmente reconhecida e o esqueleto do antigo moinho é norteador para o resultado final. Assim, como os demais projetos desta dissertação, há nesta proposta a ideia de rearquitetura já definida anteriormente. A intervenção realizada é positiva, pois recuperou, destacou, valorizou a importância histórica do edifício e se faz presente marcando o seu próprio tempo. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 168 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 204. Fachada frontal. Salas de aula sanitários Pavilhão 3 SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 169 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 205. Fachada frontal. 206. Fachada frontal. 207. Fachada lateral – pavilhão 2 com destaque para a sala de aula em balanço. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 170 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 208. Fachada lateral – pavilhão 3 209. Fachada lateral. – pavilhão 3 210. Fachada lateral. – pavilhão 2 SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 171 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 211. Fachada lateral e posterior. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 172 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 212. Detalhe da junção da alvenaria existente e reconstruída. 213. Pavilhão 2 214. Fachada posterior. Da esquerda para a direita: pavilhão 1| pavilhão 2| pavilhão 3. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 173 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 215. Escada metálica e elevador hidráulico para acesso ao pavimento intermediário e superior. – pavilhão 2 216. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 174 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 217. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2 SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 175 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 218. Mezanino – pavilhão 2. 219. Vista interna do térreo pavilhão 2 e pavilhão 1. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 176 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 220. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2 221 e 222. Passarela de acesso ao mezanino – pavilhão 2 SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 177 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 223. Auditório – pavilhão 3 SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 178 CAPÍTULO 4 - 4º ESTUDO DE CASO || CENTRO EDUCACIONAL || RIBEIRÃO PIRES || BRASIL 224. Pavilhão 2 em obras 225. Pavilhão 2 em obras SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 179 CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS As cidades desenvolvem-se por meio de contínuos processos de modificações, demolições e reconstruções que acompanham as necessidades e transformações sociais. Para Marisa Barda cada cidade ou lugar tem sua própria história onde memória e lembranças são os elementos fundamentais para a formação de uma cultura local. Ignorar a importância desse processo de reconhecimento da sociedade e das suas referências pode ser um erro. A memória não é simples lembrança do passado, mas uma fonte de identidades representadas das mais diversas formas. As grandes cidades brasileiras vivem, em quase toda sua extensão, um processo de grande especulação imobiliária. Os terrenos estão cada vez mais valorizados e, em sua maioria, abrigam edificações com um valor de construção irrisório comparado ao do próprio lote em que estão implantadas. Isso, acrescido das demandas por espaços de uso comercial, habitacional ou de serviço e somados a alterações de legislações que aumentaram o potencial construtivo do solo (no caso de São Paulo), estimula que construções não protegidas formalmente pelo patrimônio histórico sejam demolidas para dar lugar a grandes empreendimentos imobiliários. Entretanto, políticas conservacionistas mais rígidas podem causar a obsolescência de edifícios ou, até mesmo, de áreas urbanas. Assim, as práticas para salvaguardar arquiteturas e garantir a sua continuidade passam, muitas vezes, por um processo de adaptação às novas condições sociais, econômicas e tecnológicas, tratando de encontrar o ponto de equilíbrio entre preservação e continuação que resulte numa evolução positiva. “O interesse que vem se despertando sobre este tema deve ser visto, principalmente, SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 181 CONSIDERAÇÕES FINAIS como uma tomada de consciência para o desenvolvimento das cidades e seu dinâmico crescimento”. (DIAZ, 2009, p.27). Este tema, construir no construído; da arquitetura como agente modificador da arquitetura através das sobreposições, desperta hoje como um reflexo da crescente atuação profissional neste tipo de desafios. São projetos ambivalentes que têm como matéria prima um pedaço de forma do passado, mas que miram o olhar para o futuro. “Reciclagem, Requalificação, Rearquitetura vem se tornando problemas corriqueiros na agenda do arquiteto contemporâneo. A situação reflete o interesse cultural e econômico na conservação de testemunhos do passado, mesmo quando de um passado recente. [...] O interesse abrange a edificação ordinária e a monumental, qualquer seu compromisso com a durabilidade. Favorece a coexistência no espaço de formas de épocas distintas, alia-se à valorização multifacetada da diversidade. O espírito do presente não é exclusivista nem utópico. Estranha a ideia da construção sobre terra arrasada – dum admirável mundo novo formalmente unificado. Parecelhe anacrônica culturalmente, absurda e economicamente míope” . 1 Para Solà-Morales, o problema com que nos encontramos na atualidade é o de repensar nossa relação com os edifícios, passando de uma atitude evasiva e distante a uma atitude de intervenção projetual. 1 Retirado do texto para chamada de artigos do 7º Seminário DOCOMOMO Brasil e III PROJETAR realizados em Porto Alegre, entre 22 e 26 de Outubro de 2007. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 182 CONSIDERAÇÕES FINAIS Evidentemente não existe uma fórmula, nem a maneira mais correta de enfrentar a questão e dar-lhe respostas a partir da incorporação de um projeto futuro com uma mínima congruência. Para o autor os problemas de intervenção na arquitetura, são primeira e fundamentalmente, problemas de arquitetura, e neste sentido, o primeiro momento classicista nas questões de intervenção, nos deixa a lição de que as arquiteturas do passado travam um diálogo com a arquitetura do presente e que não devemos entender o problema com uma postura defensiva e preservativa. A segunda lição seria a do “positivismo pós-hegeliano” onde os problemas de intervenção na arquitetura (histórica) não são problemas abstratos nem problemas que se possam formular, são apenas problemas concretos sobre estruturas concretas. Talvez por isso, deixar falar ao edifício é ainda hoje a primeira atitude responsável e lúcida ante um problema de intervenção e sobreposição.i Para Francisco de Gracia, quanto mais se edifica, menos se reflete sobre a arquitetura. Atualmente não podemos promover a recuperação ou a manutenção da cidade (histórica) baseando-nos em condições produtivas pertencentes ao passado. Além disso, a prática arquitetônica contemporânea tem direito de refletir a sua própria condição histórica, expressar o seu próprio tempo, ainda que sob certas condições derivadas das pré-existências. As melhores propostas arquitetônicas seriam aquelas capazes de concretizar a relação entre permanência e transformação dado que, como sinalizado por Ezio Manzini o “ novo é novo porque introduz componentes que antes não existiam, mas também e, sobretudo, porque modifica e reorganiza o existente”. (MANZINI apud DE GRACIA, 1992 p.VII) Devemos nos basear na ideia de que todo projeto de intervenção deve apoiar-se em ações positivas, admitindo-se que a velha arquitetura deve submeter-se a uma verificação ativa para que se determinem os SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 183 CONSIDERAÇÕES FINAIS limites da ação conservativa e da ação modificadora. (CONTACUZINO, 1979 p. VIII). Para Marisa Barda (2009), o interessante é não camuflar a intervenção na arquitetura preexistente, para que a sociedade saiba reconhecer e distinguir passado e presente. Esta pesquisa se propôs a analisar quatro estudos de caso onde a matéria prima de trabalho, ou seja, a edificação preexistente, sofreu alterações e adaptações para um novo uso. Entretanto, cada projeto analisado teve sua própria linha de raciocínio e de interpretação em relação à arquitetura anterior, reafirmando a hipótese do autor Ignasi de Solà-Morales sobre o fato de não existir uma fórmula e uma regra para conduzir este tipo de projeto. Assim como Francisco de Gracia alerta, não é possível catalogar nem muito menos criar um manual para análise dos projetos, justamente, porque cada projeto é único e cada arquiteto pode encontrar possibilidades e estabelecer estratégias de forma a enxergar o projeto com seus próprios olhos. No primeiro projeto analisado, o Museu Xul Solar, a intenção principal do arquiteto foi a de preservar, mais do que a arquitetura representativa de uma época, a alma e certas características das obras do pintor que fez do imóvel sua moradia e seu ateliê. Isso pode ser verificado pela escolha do arquiteto em manter intacta a parte superior que abrigava a casa de Xul Solar e a de transformar a parte inferior da casa numa grande obra de arte, como se um dos quadros do pintor tivesse se materializado. As duas arquiteturas formam um sistema de engrenagem, uma relação de mutualismo. Ainda assim, dentro do espaço do museu é possível reconhecer a arquitetura preexistente na diferenciação de linguagens arquitetônicas, no uso dos materiais e pela própria forma da organização dos espaços. Portanto, Pablo Beitía consegue estabelecer a relação entre permanência e transformação destacada pelos autores referenciados. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 184 CONSIDERAÇÕES FINAIS A segunda obra analisada foi a Fundação Proa. Este projeto que passou por duas intervenções, teve também, seus dois momentos de interpretação. A primeira intervenção foi mais discreta em detrimento da valorização e da manutenção da arquitetura preexistente. A parte inferior da casa que abrigava o armazém passou por uma reorganização do espaço, teve um reforço estrutural com lajes steel deck e seus pilares originais recolocados organizando o ambiente de exposições. Toda a intervenção é facilmente reconhecida, pois os arquitetos utilizaram-se de elementos metálicos que diferem do material da casa original. Portanto, esta primeira intervenção tinha como partido a preservação e manutenção da casa Dallorso. A segunda intervenção da Fundação Proa aconteceu sob outras circunstâncias. Houve a solicitação de ampliar os espaços e os arquitetos entenderam que seria importante refletir e expor as questões ligadas à tecnologia. Neste segundo caso, a fachada da casa Dallorso foi usada como um elemento estético da memória da casa como fator compositivo da totalidade do conjunto da fachada. Os arquitetos sabem da polêmica que envolve este tipo de intervenção, mas acreditam que são bem sucedidos em manter viva parte da história da casa. A autora Marisa Barda critica este tipo de abordagem por acreditar que existe embutido neste pensamento uma intenção mercadológica, de apenas vender a imagem de uma empresa (no caso, uma fundação) engajada com as questões socioambientais. De qualquer forma, os arquitetos envolvidos no projeto acreditam que o resultado final reflete a tensão entre a história e futuro. Houve um reconhecido respeito com o entorno, ainda que com um intencional contraste na escolha dos materiais empregados. O Museu das Minas e do Metal foi o terceiro estudo de caso abordado. Sua peculiaridade era a de possuir um trecho da edificação utilizada como ponto de partida protegido pelo patrimônio histórico de Minas Gerais. Evidentemente, tal fato era um limitador, pois todo o projeto de intervenção deveria acontecer SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 185 CONSIDERAÇÕES FINAIS apenas no trecho posterior da edificação, que a rigor, não estava tombado. Os arquitetos envolvidos entenderam que para demonstrar a evolução da edificação no decorrer da história, deveriam contrastar tanto no uso de materiais quanto na linguagem compositiva. O resultado final revela uma arquitetura colagem, com elementos justapostos que se contrapõem à preexistência no que diz respeito à linguagem arquitetônica. Na Fundação Proa, apesar do contraste, a continuidade dialética fica evidente na relação dos frisos com os caixilhos e na escolha das cores, por exemplo. Não há pretensão de ofuscar e ocultar a arquitetura anterior; já as fachadas do MMM são antagônicas e a intervenção não quer passar sem ser notada. Como dito no capítulo referente a este museu, o projeto exalta o que Solà-Morales nos diz sobre abrandar a rigidez das medidas preservacionistas. É fácil identificar a sobreposição de momentos históricos, pois muito além da sobreposição de volumes, houve um grande contraste na escolha dos materiais empregados. O quarto e último estudo de caso deste trabalho é o projeto para o Centro Educacional em Ribeirão Pires. O projeto foi executado sobre as ruínas de um antigo Moinho e, para atingir o resultado esperado, necessitou-se, muitas vezes, recompor trechos da edificação existente ao mesmo tempo em que se deveriam encontrar soluções que permitissem a sua alteração de uso. Os arquitetos entenderam que a valorização do patrimônio era uma premissa de projeto e, assim, fizeram uma intervenção respeitosa onde todos os elementos incorporados marcam presença sem ofuscar a imponência do edifício original. Os materiais empregados revelam e destacam a intervenção da preexistência, mas fica evidente que os arquitetos buscavam uma continuação dialética e tipológica. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 186 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os quatro projetos têm em comum, além da mudança de uso, a característica de incorporar volumes à preexistência na tentativa de criar uma nova composição e um novo organismo, fundindo arquiteturas para que resultem numa nova volumetria, num novo significado e possibilitando a nova utilização. As interferências reorganizam os espaços iniciais. Todas as intervenções analisadas demarcam seu tempo histórico através da linguagem arquitetônica adotada em contraposição à anterior e na utilização de materiais contemporâneos. Podemos verificar através destes exemplos, que as relações mais diretas e comuns definidas pelo autor Francisco de Gracia, são as de inclusão e intersecção. Apenas no MMM se verificou a relação definida pelo autor como uma exclusão. Ainda em relação às definições deste autor, as quatro obras enquadram-se numa modificação circunscrita, pois ficam limitadas ao edifício com ampliações moderadas e transformações de estrutura interna. Também possuem em comum o caráter de contraste, ou seja, possuem um padrão de intervenção com colisão de estruturas formais. Também podemos verificar que por se tratarem de obras que realizaram transformações, demolições e acréscimos com aproveitamento do existente, porém diferenciando-se do original, podem ser enquadradas como Rearquiteturas; conceito definido pelas autoras Ruth Verde Zein e Anita di Marco e explicitado no primeiro capítulo desta dissertação. Gonzalo Diaz diz que construir sobre o construído deve ser entendido como o elo de uma cadeia de formas que se sucedem a outras. Entretanto, não é garantia de um bom final, pois não há razões para pensar que a qualidade arquitetônica e a valorização histórica estejam garantidas com a sobreposição. Mas, ainda que não possam resultar em edifícios magníficos, as ideias se somam às preexistentes e as novas formas se SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 187 CONSIDERAÇÕES FINAIS acumulam sobre as antigas podendo originar um complexo e rico sistema de significados sempre identificados com as memórias e identidades locais. Neste trabalho não se pretendeu expor todas as formas de construir no construído, pretendeu-se apenas dar continuidade a uma especulação sobre rearquitetura como forma de intervenção nas cidades e locais onde preexistências possam ser significativas. Espera-se com isto abrir novos debates e estudos sobre as possibilidades dos novos projetos incorporarem elementos que caracterizavam os lugares onde serão instalados. i Em seu texto, Teorias de la Intervención Arquitectónica, Solà-Morales traça um panorama histórico das práticas de preservação do patrimônio. A reflexão e a consciência histórica aparecem por primeira vez durante o Renascimento; antes disso nenhuma intervenção feita considerava a arquitetura preexistente. Este primeiro mecanismo trabalha a arquitetura como instrumento de intervenção que tem a sua própria congruência e que se relaciona com as estruturas já existentes, não para respeitá-las em sua diversidade, mas para submetê-las a um projeto de cidade que deve ter uma unidade própria. Neste momento a arquitetura tem a segurança de um projeto estabelecido em um princípio que permite dialogar com o existente, mas sem renunciar à unidade da cidade gótica. Um segundo momento se inicia quando Viollet-le-Duc e Ruskin teorizam as questões de preservação e restauração. Viollet-le-Duc, ao contrário de Ruskin, tinha uma visão mais positivista e menos conservacionista em relação ao patrimônio edificado. Acreditava na compreensão de que o edifício existente tem por si mesmo uma lógica, assim como o que convém é deixar falar a própria lógica sem tentar sobrepor um discurso diferente. Portanto, para ele, restauração é deixar falar ao edifício e acreditar numa lógica existente que deve ser seguida. Ruskin tinha uma visão mais conservacionista e no seu discurso havia a ideia de que a arquitetura preexistente é uma arte e, como tal, é uma obra intangível. Para ele a ideia do restauro estava vinculada com as questões de preservação e SolàMorales acredita que esta seja uma colocação importante, pois marcou com mais força o conceito de intervenção arquitetônica nos tempos contemporâneos. Em suma, Solà-Morales acredita que o momento clássico manifestava qual era a atitude projetual prévia enfrentada em relação ao edifício sem a necessidade de ajudas externas e com a certeza de que os instrumentos da arquitetura são capazes de dar respostas. A cultura positivista manifestava a necessidade de um conhecimento científico do artefato arquitetônico existente. SOBREPOSIÇÕES DE ARQUITETURAS COMO FORMA DE INTERVIR NO ESPAÇO URBANO CONSOLIDADO 188 BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA AURÉLIO, Claudio Rogerio; SCALABRINI, Marina Veiga. Patrimônio e Cidade. "Sobrevivências" do passado em Ribeirão Pires, São Paulo, 048.07, Vitruvius, jun. 2004. Disponível em: <http://vitruvius.es/revistas/read/arquitextos/04.048/587> Acesso: setembro 2011. BARDA, Marisa. Espaço (meta) Vernacular na Cidade Contemporânea. Kronos 26, editora Perspectiva. São Paulo: 2009. BEITÍA, Pablo. Arte y Tejido Urbano de Buenos Aires: El Museo Xul Solar . In GANT, Marísa Luisa Bellido (ed.) Aprendiendo de Latinoamerica, el museo como protagonista. Gijón: TREA, 2007 pág 215-234,. BEITÍA, Pablo; ADESSO, Gonzalez. Museo Xul Solar. Laprida 1214. Revista Summa+, Outubro/Novembro de 1993 nº. 03. Pág. 20/33. CAMARGO, Monica Junqueira de. 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