Conhecimento e fatores de risco do câncer de boca

Propaganda
Artigo original / Review Articie
Conhecimento e fatores de risco do câncer de boca em um
programa de prevenção para motoristas de caminhão
Knowledge and risk factors of oral cancer in a prevention
program for truck drivers
Fernanda Zanetti1; Mário Lúcio da Costa Azevedo2; Danyel Elias da Cruz Perez3 ; Sílvio Rocha Corrêa da Silva4
1. Aluna de Graduação do Curso de Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto
2. Aluno do Curso de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto
3. Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco
4. Professor Doutor do Curso de Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto
Keywords:
ABSTRACT
Neoplasias bucais; Boca; Prevenção de
doenças; Autoexame.
O objetivo deste estudo foi identificar, entre motoristas de caminhão, os conhecimentos em relação ao câncer de boca, seus fatores de risco, as lesões cancerizáveis e o tratamento dessa doença. O estudo foi realizado
por meio de questionário em 776 pessoas que participaram de uma campanha de saúde realizada no estado
de São Paulo, em 2009. O questionário com 17 questões procurou caracterizar a população de estudo em
relação ao conhecimento, aos hábitos e às atitudes, como: fatores etiológicos; sinais e sintomas; prevenção;
autoexame; visitas ao cirurgião-dentista. Os resultados mostraram que a idade média dos participantes foi de
42 anos (dp±10,1) e com baixa escolaridade (63,1% apenas com o ensino fundamental). A maioria (64,6%)
não havia recebido nenhuma orientação sobre o câncer de boca, e apenas 32,1% souberam citar algumas
das prováveis causas da doença. Os sinais suspeitos da doença foram relatados por 27,6% das pessoas, e
apenas 15,9% responderam conhecer o autoexame da boca. Diante dos resultados apresentados, pode-se
concluir que é importante a realização de campanhas educativas que visem à prevenção e ao diagnóstico
precoce do câncer de boca, pois a desinformação mostrou-se elevada.
DESCRITORES:
RESUMO
Mouth neoplamy; Mouth, Disease Prevention; Self-examination.
The purpose of this study was to evaluate the knowledge of driver truck about oral cancer, its risk factors, injuries and treatment of disease. The study was conducted by questionnaire with 776 people who
participated in a health campaign in the state of Sao Paulo in 2009. The questionnaire had 17 questions,
wich looked for to characterize the population of study in relation to the knowledge, the habits and the
attitudes, as etiological factors, signs and symptoms, prevention, self-examination; visits to the dentist.
The results showed that the mean age of participants was 42 years (± 10.1), with low education (63.1%
with basic education). The majority (64.6%) had not received any guidance on oral cancer and only 32.1%
had known to cite some of the probable causes of the disease. The suspect signs of disease were reported
by 27.6% of the people and only 15.9% said knowing the mouth’s self-examination. Results of this study
suggested that it is important to carry out educational campaigns aimed at the prevention and early diagnosis of oral cancer, because the lack of information was high.
Correspondence and reprint requests should be addressed to:
Sílvio Rocha Corrêa da Silva
Rua Brigadeiro Tobias de Aguiar, 459
Ribeirão Preto, SP CEP 14076-160
Telefone: 16 3969 3398
e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
O câncer de boca se constitui como uma das principais causas de morte no Brasil, sendo um problema de saúde pública devido ao grande número de pacientes diagnosticados anualmente e a
sua repercussão na sociedade. O Estado de São Paulo teve estimativa de 15,19 casos a cada 100.000 homens e de 4,02 casos a cada
100.000 mulheres em 20101. Os fatores de risco mais significativos
para o seu desenvolvimento são o consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas, que são responsáveis por aproximadamente 75%
dos casos nos países desenvolvidos2, podendo, também, citados
os hábitos alimentares3 e a condição socioeconômica4,5.
O câncer de boca, geralmente, é assintomático nos seus
estágios iniciais, podendo mimetizar condições benignas comuns
da boca. A despeito da facilidade de diagnóstico desse tumor, da
existência de lesões precursoras bem definidas e de fatores de risco
reconhecidamente envolvidos em grande parte dos casos, poucos
resultados têm sido obtidos no tocante a sua prevenção junto às
populações6. No Brasil, o índice de identificação de lesões malignas
iniciais na boca é muito baixo, correspondendo a menos de 10%
dos casos diagnosticados7.
O exame de detecção do câncer de boca deve ser parte integrante tanto do exame médico quanto do odontológico, pois a
detecção precoce é fundamental. Entretanto, na maioria dos casos,
a sua detecção acontece tardiamente quando a doença já se encontra em estádio considerado avançado e com índices de mortalidade maiores. O diagnóstico no início da doença e a efetivação
do tratamento imediato possibilitam ao paciente de 80 a 85% de
chance de cura, enquanto que, no estágio avançado, a chance de
cura fica reduzida em 20 a 25%5.
Este estudo teve por objetivo identificar, entre motoristas de
caminhão que participaram de uma campanha de saúde dirigida a
esse grupo ocupacional, os conhecimentos em relação ao câncer
de boca, seus fatores de risco, as lesões cancerizáveis e o tratamento dessa doença. Também procurou comparar o conhecimento
dos motoristas que já participaram de campanhas anteriores com
os que participaram pela primeira vez.
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (3) 233-241, jul./set., 2011
www.cro-pe.org.br
233
Prevenção do câncer de boca em motoristas
Zanetti F et al.
MATERIAL E MÉTODOS
234
O estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa quantitativa
e descritiva desenvolvida entre motoristas de caminhão que participaram de uma campanha de saúde, realizada por uma concessionária de rodovias do estado de São Paulo, no ano de 2009. A
campanha teve duração de três dias, foi realizada em um posto de
combustível, aberta à participação de pessoas interessadas e divulgada ao longo da rodovia, por meio de faixas e placas indicativas.
Os participantes receberam orientações, fizeram exames médicos
e odontológicos e receberam folhetos com fotografias sobre como
realizar o autoexame bucal. Todas as atividades foram desenvolvidas por alunos dos cursos de graduação em Odontologia, Medicina e Enfermagem de uma universidade de Ribeirão Preto com a
supervisão de docentes das áreas.
Participaram da campanha 1005 pessoas, e a população de
estudo desse trabalho foi composta somente pelos motoristas de
caminhão, num total de 776 pessoas (77,2% do total de participantes da campanha). A escolha por esse grupo ocupacional se deu
em função de se constituírem em grupo de risco para o câncer de
boca e de faringe6 que, além de geralmente, passar longos períodos fora da residência, alega falta de tempo para a realização de
exames médicos preventivos e apresenta altos índices de hábitos
nocivos potencialmente carcinogênicos, como o tabagismo e o
alcoolismo8.
A coleta dos dados foi realizada mediante a aplicação de um
questionário autoaplicável, desenvolvido para esse estudo e composto por 17 questões, abertas e fechadas, relacionadas à caracterização da amostra, como idade e escolaridade, hábitos, conhecimento das causas e características do câncer de boca.
Foi considerada como variável dependente a participação
do entrevistado em campanhas anteriores. O questionário foi pré-testado, antes de sua aplicação definitiva, em população similar à
de estudo em campanha anterior para correção e ajuste do instrumento de coleta dos dados.
A variável tabagismo foi mensurada, segundo a experiência
com o tabaco de cada pessoa e, para isso, os participantes foram
classificados em: nunca fumou, parou de fumar há mais de um ano
e fuma atualmente. Para a ingestão de álcool, foi seguida a recomendação da Organização Mundial da Saúde9, na qual o consumo
atual de álcool deve ser caracterizado como, pelo menos, uma dose
de bebida alcoólica nos últimos 30 dias.
O estudo foi iniciado após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Ribeirão
Preto (Protocolo 023/09), e todos os participantes receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O processamento e a análise dos dados foram realizados por
meio do programa Epi-info versão 3.4.3. Foram construídas tabelas com as frequências absolutas e relativas dos dados coletados
e, para testar a variável dependente, foi empregado o teste qui-quadrado com nível de significância de 5%.
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (3) 233-241, jul./set, 2011
www.cro-pe.org.br
RESULTADOS
A caracterização da amostra mostrou que a idade média
encontrada foi de 42 anos (dp= 10,1 anos), com idade mínima
de 20 e máxima de 74 anos. A escolaridade dos participantes
foi baixa, pois 63,1% dos participantes haviam frequentado,
apenas, o ensino fundamental, 29,4% o ensino médio, e 7,5%,
o ensino superior. Já haviam participado de campanhas anteriores, 35,0% dos entrevistados.
Os hábitos da população estudada quanto ao consumo de bebida alcoólica indicaram que 47,8% ingeriram, pelo
menos, uma dose de bebida alcoólica nos 30 dias anteriores à
pesquisa, enquanto, em relação ao tabagismo, identificaram-se 20,5% de fumantes.
O uso de prótese total foi relatado por 16,5% dos entrevistados, e o de prótese parcial removível, por 19,3%, com uma
média de 12,6 anos de tempo de uso da mesma prótese. A escovação dentária era realizada, uma vez ao dia, por 13,1% dos
entrevistados, duas ou mais vezes/dia por 84,3% dos motoristas, enquanto 2,6% dos motoristas não faziam a escovação
dentária. Frequentavam um dentista, anualmente, 43,0% dos
participantes, e ocasionalmente, 57,0%.
Sobre as doenças que podem ocorrer na boca, o câncer foi a mais citada com 49,8%, percentual superior aos que
responderam cárie (23,7%) e gengivite (6,6%). Também foram
citadas: afta, herpes, tártaro, mau-hálito, micose e tuberculo-
Prevenção do câncer de boca em motoristas
Zanetti F et al.
se. O médico foi o profissional que 52,8% dos motoristas procurariam, caso tivessem alguma das doenças citadas acima,
enquanto o cirurgião-dentista seria procurado por 42,0% dos
entrevistados, enquanto 2,8% não procurariam ninguém ou
não saberiam a quem procurar.
Sobre o câncer de boca, 64,6% responderam que nunca foram orientados sobre essa doença, e apenas 32,1% dos
entrevistados souberam citar algumas das prováveis causas
(tabela 1); 27,6% disseram conhecer algum sinal ou sintoma
suspeito do câncer de boca (tabela 2). Sobre o autoexame bucal, apenas 15,9% dos motoristas o conhecem.
A tabela 3 compara o conhecimento e os hábitos dos
motoristas de caminhão que estavam participando, pela primeira vez, da campanha com aqueles que já haviam participado de campanhas anteriores.
DISCUSSÃO
Estudos10,11,12 que procuram avaliar o conhecimento e as
práticas de saúde da população adulta sobre o câncer de boca
apresentam em comum o baixo entendimento que as pessoas, em geral, têm dessa doença. Uma exceção foi o estudo de
Ribeiro et al.12, o qual mostrou que pessoas não pertencentes
aos principais grupos de risco, como mulheres não consumidoras de tabaco e álcool, apresentavam alto percentual de conhecimento da doença e de seus fatores de risco. Porém é preciso admitir que poucas campanhas de saúde são realizadas
com o objetivo de educar e informar sobre os sinais e sintomas
desse tipo de câncer bem como do autoexame bucal.
Este estudo confirma essa situação ao focar motoristas
de caminhão. Sabe-se que essa categoria profissional é composta majoritariamente por homens com pouca escolaridade
e que passam grandes períodos fora de casa. Conforme dados
da Confederação Nacional dos Transportes13, o Brasil tinha, em
2009, aproximadamente 2,5 milhões de trabalhadores no setor de transporte rodoviário, com idade média de 39 anos, escolaridade média de 8 anos de estudo e que trabalhavam, em
média, 6,4 dias por semana. Essa alta carga horária reflete diretamente na saúde dessas pessoas. Estudo realizado por Masson e Monteiro8, na cidade de Campinas, mostrou que 49,5%
dos motoristas ingeriam bebidas alcoólicas, 40,9% apresentavam sobrepeso, 21,0% eram tabagistas, e 54,2% admitiram o
uso de anfetaminas para suportar a rotina de trabalho.
A idade média dos participantes deste estudo (42 anos)
é muito próxima da idade na qual o câncer de boca é mais
comum (40 anos), por isso os resultados são importantes
para mostrar como a falta de informações e alguns comportamentos podem aumentar os riscos à doença. A proporção
de pessoas que nunca foi orientada sobre a doença (64,6%),
a baixa porcentagem de motoristas que soube citar as causas
do câncer (32,1%) ou ainda que citou algum sinal ou sintoma
(27,6%) são um indicativo de que esse desconhecimento pode
resultar em simplesmente ignorar um sinal da doença, se ela
ocorrer, com sérias consequências. Sabe-se que é importante
conhecer os fatores de risco associados às principais doenças,
porque, embora esse conhecimento não leve automaticamente a pessoa a uma mudança de comportamento, para que ela
possa decidir, é necessário que tenha acesso a informações
corretas e atuais.
O uso de bebidas alcoólicas pode ser considerado elevado (47,8%), embora a comparação com outros estudos seja
prejudicada, pois cada trabalho segue uma metodologia para
a caracterização do consumo de bebidas alcoólicas. Mesmo
assim, na cidade de São Paulo14, em 2004, foram considerados
bebedores 44,9% da população adulta, e em Taubaté, SP11, em
2005, o percentual foi de 32,7%. Santos et al.15 encontraram,
no ano de 2005, em estudo realizado na cidade de Feira de
Santana - BA, que 60% dos homens diagnosticados com câncer de boca eram etilistas e tabagistas. O consumo de álcool é
um dos principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de câncer de boca, principalmente quando associado
ao hábito de fumar, o que se observa na maioria das pessoas.
Ainda em relação aos fatores de risco, chama a atenção
para menção a fatores sem qualquer relação com a doença,
como: herpes, afta, sangramento e uso de drogas. O sol, fator
mais importante nos casos de câncer de lábio, foi lembrado por,
apenas, cinco pessoas. Quirino et al.11 tiveram resultados similares ao deste estudo com adultos na cidade de Taubaté, SP e
reforçaram a preocupação com a baixa lembrança da radiação
solar como fator de risco em um país tropical como o Brasil.
Apenas 27,6% dos entrevistados citaram algum sinal ou
sintoma da doença, sendo a ferida a mais lembrada, seguida
de manchas e sangramento gengival. Em estudo com adultos
norte-americanos, Horowitz et al.16 encontraram que apenas
25% dos entrevistados conseguiram identificar corretamente
um sinal precoce de câncer, enquanto 44% não conheciam nenhum sinal da doença. No Brasil, Quirino et al.11 encontraram
29% de adultos sem saber identificar uma situação suspeita de
câncer de boca.
Este estudo comparou alguns conhecimentos e hábitos
dos motoristas que estão participando pela primeira vez em
relação aos que já participaram anteriormente, para observar
se as informações, dadas anteriormente, foram retidas e as que
chegaram a provocar mudanças de comportamento. A campanha de saúde, no qual se baseou este estudo, é realizada
três vezes ao ano, sempre com o mesmo esquema de trabalho,
no mesmo local, e pelo menos um terço dos participantes são
pessoas que retornam para a atualização de vacinas ou de exames médicos. Os resultados mostraram que essas campanhas
melhoram o conhecimento dos participantes, pois quem já
passou por uma delas conhece mais sobre o autoexame bucal
e também já foram orientados sobre como fazê-lo. A mudança
de comportamento, porém, é mais difícil de ocorrer. Os dados
não mostraram diferença estatisticamente significante em
relação a uma maior procura por atendimento odontológico,
mas foi significante no número de vezes em que a higiene bucal é feita.
Lima et al.17 avaliam que é difícil melhorar o conhecimento sobre o câncer, uma vez que as pessoas não se veem
como sendo uma população de risco, com um agravante no
caso do câncer de boca, pois estudos11,18 mostraram que a população brasileira tem pouco conhecimento de que o câncer
pode ocorrer na boca e que a doença está ligada principalmente ao estilo de vida de cada indivíduo. Além disso, de acordo com Matos et al.19, de nada adianta dizer que o autoexame
é um método simples, se a população não tem essa prática
incorporada e que as lesões suspeitas do câncer (mudança de
cor, úlcera, inchaço) são difíceis de serem identificadas, pois
as pessoas percebem mais facilmente as manifestações mais
visíveis e concretas, que caracterizam os estágios avançados
da doença, como a dificuldade de mastigar, de falar, o emagrecimento rápido ou as dores.
De tudo isso, ressalta-se a importância da realização de
programas de educação em saúde, de incentivo ao autoexame
e de medidas de combate ao consumo de álcool e tabaco.
Programas de educação são importantes para a divulgação da doença, suas causas e modos de prevenção,
particularmente através de meios de comunicação de
massa, como televisão, rádio, outdoor ou folhetos, como já
demonstrado por Kujan et al.,20. O exemplo do autoexame
para a prevenção do câncer de mama, que recebe campanhas expressivas, deveria servir para uma maior divulgação
do autoexame da boca. Eadie et al.21 avaliaram o impacto de
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (3) 233-241, jul./set, 2011
www.cro-pe.org.br
235
Prevenção do câncer de boca em motoristas
Zanetti F et al.
uma campanha de televisão sobre o conhecimento dos sintomas do câncer de boca na Escócia, e os resultados mostraram uma grande repercussão no curto prazo, mas que
diminui com o tempo.
As campanhas para detecção precoce são realizadas
por meio de exame clínico dos tecidos duros e moles da
boca e têm por objetivo o diagnóstico da doença em seus
estágios iniciais. Pelo que é observado na literatura, não há
um consenso sobre a efetividade das campanhas de rastreamento do câncer de boca e, por isso, Kujan et al.20 realizaram revisão sistemática dessas estratégias e concluíram que
não existem evidências suficientes para recomendar ou não
a realização de exame visual na população em geral.
Aparentemente, quando a campanha de rastreamento é dirigida a pessoas com alto risco de desenvolvimento
da doença ela é eficaz, como demonstrou Cruz et al.22 em
estudo com 803 pessoas nos Estados Unidos. Os autores
concluíram que esses programas representam oportunidade não apenas para a detecção precoce da doença mas
também para aumentar a consciência e a preocupação
com relação ao câncer de boca. Gourin et al.23, em estudo
de rastreamento com 89 pessoas em Baltimore nos Estados Unidos, também concluíram que houve amplitude do
conhecimento do indivíduo, o que facilitou a identificação
de pessoas que requeriam uma avaliação mais detalhada.
Por outro lado, quando a campanha não foca grupos suscetíveis, tende a ser ineficaz, como demonstrado por Antunes et al.10, que avaliaram os resultados da campanha de
prevenção e diagnóstico do câncer de boca realizado em
conjunto com a campanha de vacinação contra a gripe no
Estado de São Paulo, em 2004.
CONCLUSÃO
236
Os dados desta pesquisa mostraram o desconhecimento dos motoristas entrevistados em relação aos fatores de risco
e à prevenção do câncer de boca. Campanhas de saúde de baixo custo são importantes para levar informações adequadas
a grupos populacionais, embora se faça necessário que sejam
realizadas com frequência e chamem a atenção das pessoas. Outro fator importante seria um maior envolvimento dos
profissionais de saúde, principalmente cirurgiões-dentistas,
na realização de exames e divulgação de informações sobre
a doença. Dessa forma, o câncer de boca poderá ser desmistificado, e as pessoas, incentivadas a adotar estilo de vida que
previna o desenvolvimento da doença.
REFERÊNCIAS
1 Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2010: Incidência de Câncer no Brasil/Instituto Nacional
de Câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2009. 98 p.
2 Wünsch-Filho V. The epidemiology of oral and pharynx câncer
in Brazil. Oral Oncol.2002; 38:737-46.
3 Zain RB. Cultural and dietary risk factors of oral cancer and precancer - a brief overview. Oral oncology. 2001, 37:205-10.
4 Biazevic MGH, Antunes JLF, Castellanos-Fernandez RA, Michel-Crosato E. Tendências de mortalidade por câncer de boca e
orofaringe no município de São Paulo, 1980-2002. Cad Saúde
Pública. 2006; 22(2): 105-14.
5 Maurício HA, Matos FCM, Guimarães TMR. Conhecimentos,
atitudes e práticas sobre o câncer de boca da comunidade atendida pelo PSF de São Sebastião do Umbuzeiro/PB. Rev. Bras. Cir.
Cabeça e Pescoço. 2009; 8(1):10-4.
6 Andreotti M, Rodrigues NA, Cardoso LMN, Figueiredo RAO,
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (3) 233-241, jul./set, 2011
www.cro-pe.org.br
Eluf-Neto J, Wünsch-Filho V. Ocupação e câncer da cavidade oral
e orofaringe. Cad. Saúde Pública. 2006; 22(3): 543-52.
7 Antunes AA, Takano JH, Queiroz TC, Vidal AKL. Perfil epidemiológico do câncer bucal no CEON/HUOC/UPE e HCP. Odontol
Clín-Científ. 2003; 2(3):181-6.)
8 Masson VA, Monteiro MI. Estilo de vida, aspectos de saúde e
trabalho de motoristas de caminhão. Rev Bras Enferm, 2010;
63(4): 533-40.
9 World Health Organization. International guide for monitoring
alcohol consumption and related harm. Geneva: WHO; 2000.
10 Antunes JLF, Toporcov TN, Wünsch-Filho V. Resolutividade da
campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal
em São Paulo, Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2007; 21(1):30–6.
11 Quirino MRS, Gomes FC, Marcondes MS, Balducci I, Anbinder
AL. Avaliação do conhecimento sobre o câncer de boca entre
participantes de campanha para prevenção e diagnóstico precoce da doença em Taubaté - SP. Rev Odontolo UNESP. 2006;
35(4): 327-33.
12 Ribeiro R, Martins MAT, Fernandes KPS, Bussadori SK, Miyagi
SPH, Martins MD. Avaliação do nível de conhecimento de uma
população envolvendo câncer oral. ROBRAC. 2008; 17(4): 194-9.
13 Confederação Nacional do Transporte. O perfil sócio-econômico e as aspirações dos caminhoneiros no país. Disponível em: <http://www.cnt.org.br/portal/webCNT/page.
aspx?p=f9de92fd-706c-4f08-9ec6-0f671cfd585f>. Acesso em 1
nov 2010.
14 Marcopito LF, Rodrigues SSF, Pacheco MA, Shirassu MM, Goldfeder AJ, Moraes MA. Prevalência de alguns fatores de risco
para doenças crônicas na cidade de São Paulo Rev Saúde Publ.
2005; (5): 738-45.
15 Santos GL, Freitas VS, Andrade MC, Oliveira MC. Fumo e álcool
como fatores de risco para o câncer bucal. Odontol Clin Cient.
2010; 9(2):131-3.
16 Horowitz AM, Nourjah P, Gift HC. U.S. adult knowledge of
risk factors and signs of oral cancers: 1990 J Am Dent Assoc
1995,126; 39-45.
17 Lima AAS, França BHS, Ignácio SA, Baioni CS. Conhecimento
de alunos universitários sobre câncer bucal. Rev Bras Cancerologia. 2005; 51(4): 283-8.
18 Molina APS, Ribeiro MG, Silva JA, Torres-Pereira CC. Conhecimentos, práticas e atitudes em relação ao diagnóstico do câncer
de boca na visão da população. Revista Dens. nov/abril 2006;
14(2): 28 -33.
19 Matos IB, Araújo LA. Práticas acadêmicas, cirurgiões-dentistas, população e câncer bucal. Rev. ABENO. 2003; 3(1):76-81.
20 Kujan O, Glenny AM. Evaluation of screening strategies for
improving oral cancer mortality: a Cochrane Systematic Review.
J. Dental Educ. 2005; 69(2):255-65.
21. Eadie D, MacKintosh AM, MacAskill S, Brown A. Development
and evaluation of an early detection intervention for mouth
cancer using a mass media approach. British J Cancer. 2009; 101:
S73– 9.
22 Cruz GD, Le Geros RZ, Ostroff JS, Hay JL, Kenigsberg H,
Franklin DM. Oral cancer knowledge, risk factors and characteristics of subjects in a large oral cancer screening program J
Amer Dent Assoc, Aug 2002; 133: 133 - 8.
23 Gourin CG, Kaboli KC, Blumi EJ, Nance MA, Koch WM. Characteristics of participants in a free oral, head end neck cancer
screening program. Laryngoscope. 2009, 119(4): 679-82.
Recebido para publicação: 29/12/10
Aceito para publicação: 15/04/11
Download