TRATAMENTO CONTRA AIDS Novidades sobre a 4ª IAS

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Saber Viver
P R O F I SS I O N A L D E SA Ú D E
nº 11 Dezembro/2007
TRATAMENTO CONTRA AIDS
Novos medicamentos, foco na adesão,
pesquisas sobre assistência e vacina: as mais
recentes conquistas, os próximos desafios
Novidades sobre a 4ª IAS
2007 / 2008:
conquistas,
novidades
e desafios
Saber Viver Profissional de Saúde
11ª Edição – Dezembro 2007
Correspondências à redação:
C. Postal 15.088 – Rio de Janeiro (RJ)
Cep 20.031-971
[email protected]
www.saberviver.org.br
Coordenação e edição:
Adriana Gomez e Silvia Chalub
Reportagem:
Ana Letícia Leal e Flávio Guilherme
Secretária de redação:
Ana Lúcia da Silva
Consultora lingüística:
Leonor Werneck
Foto:
Paulo Múmia, agência Pedra Viva
A
SUMÁRIO
A terapia anti-retroviral em 2008 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Vacina contra a aids sem previsão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Adesão ao tratamento, eterno desafio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Projeto Gráfico e Arte Final:
A 4Mãos Com. e Design
Números da aids em 2007 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Impressão:
Gráfica Josélia
Questões sobre aids e deficiências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Estudo sobre o uso de primeiro esquema ARV . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
A situação dos CTAs no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Apoio:
Artigo: Débora Fontenelle. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
DEZEMBRO 2007
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Colaboraram nesta edição:
Alexandre Grangeiro, sociólogo, pesquisador
do Instituto de Saúde de São Paulo; Debora
Fontenelle, clínica geral do Hospital
Universitário Pedro Ernesto da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro; Dirceu Greco,
infectologista do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Minas Gerais
(DIP/HC/UFMG); Estevão Portela, infectologista e pesquisador do Instituto de Pesquisa
Clínica Evandro Chagas (IPEC/Fiocruz); Flávia
Andrade Ribeiro, médica do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais (DIP/HC/UFMG); Ivana Drummond
Cordeiro, assessora técnica da Unidade de
Assistência e Tratamento (UAT) do Programa
Nacional de DST/Aids; Márcia Rachid, médica da Assessoria de DST/Aids da Secretaria
de Saúde do Estado do Rio de Janeiro; coordenadora da Câmara Técnica de Aids do CREMERJ e membro do Grupo de Consenso para
Terapia Anti-retroviral do PNDST/Aids;
Mariângela Simão, diretora do Programa
Nacional de DST/Aids; Mauro Schechter,
infectologista, pesquisador e coordenador do
Projeto Praça Onze da Universidade Federal
do Rio de Janeiro; Paulo Feijó Barroso,
médico pesquisador do Projeto Praça Onze da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
aids constitui um campo de trabalho extremamente dinâmico. É
preciso estar sempre atento às novidades científicas, às
mudanças nas diretrizes para o tratamento, à interface da aids
com outras doenças, entre outros fatores que interferem diretamente
na qualidade da assistência às pessoas que vivem com HIV/aids.
A Saber Viver Profissional de Saúde encerra 2007 e inaugura 2008,
comemorando as mais recentes conquistas e ciente dos desafios que
estão pela frente. A disponibilidade de novos medicamentos, o
fortalecimento das ações de adesão, a discussão sobre a interação
entre a aids e as deficiências são alguns dos temas de destaque neste
número que merecem ser celebrados. Duas pesquisas, uma sobre os
Centros de Testagem e Aconselhamento brasileiros e outra sobre o
impacto da primeira terapia anti-retroviral na vida dos pacientes também
demonstram o quanto o estudo nessa área vem se desenvolvendo.
Um panorama sobre a situação da aids em 2007 no Brasil e no
mundo e sobre o que talvez seja o maior desafio da comunidade
científica, a busca por uma vacina contra a aids, completam esta edição.
A todos vocês que acompanham a Saber Viver Profissional de Saúde
nesses quase três anos de vida, parabéns por sua dedicação a um
trabalho por vezes tão difícil, mas ao mesmo tempo tão instigante.
Agradecemos a companhia e esperamos que em 2008 tenhamos
ainda mais motivos para comemorar.
Boa leitura.
3
TRATAMENTO
CONTRA AIDS
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Novidades e desafios
para 2008
4
cada ano que passa a terapia anti-retroviral ganha reforços, com o desenvolvimento de novos medicamentos, ampliando assim as alternativas de
tratamento, principalmente àqueles pacientes que já não respondem mais aos
ARVs disponíveis. E 2008 não será exceção, uma vez que acaba de ser incorporado
ao Consenso de Terapia do Brasil, o darunavir, um inibidor de protease recomendado
para uso em pacientes com múltiplas falhas.
A
Mas, para ser bem sucedido, o tratamento contra aids não depende apenas de
medicamentos. Para enfrentar um dos maiores desafios atuais para o controle da
doença, a adesão dos pacientes à terapia anti-retroviral, o Ministério da Saúde acaba
de lançar um documento com orientações para os profissionais de saúde.
A revista Saber Viver foi investigar os novos instrumentos que, num futuro próximo,
poderão ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes assistidos.
DEZEMBRO 2007
O INOVADOR RALTEGRAVIR
Além do darunavir, outros dois
medicamentos estão sendo disponi-
“O raltegravir é o
principal evento
terapêutico desde a
aprovação para uso
clínico dos inibidores
células humanas. “Atualmente, este
novo medicamento será utilizado
apenas como terapia de resgate para
pacientes com poucas opções de
tratamento, mas há estudos
investigando o uso de raltegravir para
o início de tratamento, em substituição ao efavirenz, uma vez que
apresenta menos efeitos colaterais”,
diz Mauro Schechter.
de protease em 1995”
Mauro Schechter
bilizados para tratamento de
pacientes com histórico de múltipla
resistência: o maraviroc (Celsentri)
–inibidor de CCR5, uma nova classe
de medicamentos – e o raltegravir
(Isentress) –inibidor de Integrase, que
também atua de forma inovadora no
combate ao HIV. Os dois já foram
aprovados pelo FDA – agência
americana que regulamenta remédios e alimentos – mas aguardam
liberação da Anvisa para serem
comercializados no Brasil.
“O raltegravir é o principal evento
terapêutico desde a aprovação para
uso clínico dos inibidores de protease
em 1995”, comemora o infectologista
Mauro Schechter, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. “Age contra
todos os tipos de HIV existentes no
mundo, tem uma enorme potência
quando comparado aos demais ARVs,
o que possibilita uma queda muito
rápida da carga viral, e os efeitos
colaterais são praticamente os
mesmos que os observados em
pacientes que tomaram placebo,
durante os estudos clínicos”, garante
Schechter.
Por se tratar de um inibidor de
integrase, o raltegravir impede que o
vírus integre seu material genético nas
ESTAVUDINA E ZIDOVUDINA
EM BAIXA
Além de novos medicamentos,
outras mudanças no tratamento começam a ganhar força na comunidade científica internacional. Como a
retirada do estavudina da terapia combinada, em função dos seus efeitos
colaterais. Os cientistas recomendam
também que o zidovudina deixe de
ser utilizado como medicamento de
primeira linha.
“Para o início de terapia, o lamivudina continua sendo a melhor opção,
mas há uma corrente que defende o
seu uso com o tenofovir e outra com
o abacavir. Como terceira droga, o
efavirenz ainda é o medicamento
mais utilizado, seguido do lopinavir/ritonavir e do atazanavir”, afirma
Mauro Schechter.
RECOMENDAÇÕES PARA O
INÍCIO DA TERAPIA
Outra mudança esperada para os
próximos anos é em relação à definição do melhor momento para o início
do tratamento. Um estudo que
começa em 2008 pretende avaliar
esta questão. “Tudo indica que a
sugestão seja para o início mais precoce da terapia anti-retroviral, independente do número de CD4. Acreditase que com isso se possam reduzir
os riscos de doenças cardiovasculares
e metabólicas, hoje responsáveis por
grande parte dos óbitos por aids no
DEZEMBRO 2007
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
DARUNAVIR NO CONSENSO
No que diz respeito às descobertas
científicas que estarão disponíveis em
2008, a incorporação do darunavir
(TMC 114) à terapia anti-retroviral no
Brasil vai trazer um alento àqueles pacientes que já estavam sem opção de
tratamento devido às múltiplas resistências do HIV às drogas disponíveis.
Associado a uma dose pequena de
ritonavir, o darunavir mostrou resultados bastante promissores, ao reduzir
a carga viral para níveis indetectáveis
em 61% dos pacientes pesquisados.
Além disso, o novo medicamento
demonstrou ser um produto seguro,
bem tolerado e bastante eficaz contra
o HIV resistente.
“O darunavir possui estrutura nãopeptídica que contém em sua molécula um radical de sulfonamida e,
portanto, deve ser utilizado com
cuidado em pessoas com história de
alergia a sulfas”, alerta o Consenso
Terapêutico brasileiro, que teve sua
última edição ratificada em outubro
de 2007, pelo Comitê Assessor do
Ministério da Saúde. “A apresentação
é de compridos de 300 mg e a dose
indicada é de dois comprimidos (600
mg) co-adminstrados com 100 mg
de RTV a cada 12 horas, preferencialmente com alimentos”, continua o
texto. “Devido à sua comprovada
eficácia como droga de resgate e ao
seu alto custo, o DRV está sendo
considerado por este Comitê como
uma droga reservada para casos de
multirresistência”, afirma o documento, lembrando aos profissionais
de saúde que o darunavir não deve
ser usado em monoterapia funcional,
ou seja, sem acompanhamento de
outra droga ativa.
5
“A adesão é um objetivo
a ser buscado pelas
equipes e serviços de
saúde, estabelecendo-se
uma relação de
co-responsabilidade
entre os profissionais
e o paciente”.
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Márcia Rachid
6
mundo”, diz Schechter. O Comitê
Assessor do Ministério da Saúde,
responsável pelo Consenso de Terapia
brasileiro, já recomenda o início mais
precoce do tratamento para pacientes
assintomáticos com CD4 entre 200 e
350/mm3. Espera-se, com isso, evitar
que a contagem de CD4 se aproxime
de 200/mm3.
A infectologista Márcia Rachid, da
Secretaria Estadual de Saúde do Rio
de Janeiro, lembra, no entanto, que
o Consenso de Terapia brasileiro
recomenda o início do tratamento em
pacientes assintomáticos, somente
após eles entenderem e aceitarem a
importância da adesão. “A adesão é
um objetivo que deve ser buscado
pelas equipes e serviços de saúde,
estabelecendo-se uma relação de coresponsabilidade entre os profissionais
e o paciente”, afirma Rachid. “O mais
importante é definir o momento ideal
para início da terapia, não só em relação à indicação médica, mas, principalmente, levando em consideração
as expectativas do paciente e seu potencial de adesão para atingir pleno
sucesso terapêutico” diz a infectologista.
DEZEMBRO 2007
VACINA ANTI-HIV AINDA LONGE
Passados 25 anos desde que o HIV foi isolado, o desenvolvimento de
uma vacina contra a aids ainda é um dos maiores desafios da comunidade
científica internacional. Inúmeros estudos estão em andamento no mundo,
mas mesmo os pesquisadores mais otimistas afirmam que nos próximos
dez anos não teremos uma vacina contra a doença. Outros acreditam que
o futuro do controle da epidemia de aids depende única e exclusivamente
dos medicamentos anti-retrovirais, cada vez mais eficazes no combate ao
HIV.
ESTUDO SUSPENSO
Recentemente, um estudo clínico de vacinas com um produto considerado bastante promissor, o adenovírus 5, foi suspenso por não se mostrar
eficaz na prevenção da infecção em voluntários não portadores do HIV nem
na redução da carga viral dos voluntários que se infectaram durante o estudo. Segundo o laboratório que desenvolve a vacina, em comunicado à imprensa, “houve mais infecções nos voluntários que receberam a vacina do
que naqueles que receberam placebo”. A empresa garante que a vacina não
causa a infecção pelo HIV, mas admite que indivíduos com mais anticorpos
de adenovírus possam ter uma maior vulnerabilidade. “Estamos analisando
os dados para tentar determinar se os resultados se devem a respostas
imunológicas induzidas pela vacina, a diferenças nas populações de estudo
ou a algum outro fenômeno biológico que ainda não compreendemos, ou
se ocorreram simplesmente ao acaso”, diz o comunicado.
VOLUNTÁRIOS INFORMADOS
O médico Paulo Feijó Barroso, pesquisador do projeto Praça Onze da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, responsável por inúmeras
pesquisas de vacina no Brasil, lamenta o resultado do estudo com o adenovírus 5: “Este produto parecia ser muito superior aos demais”, diz ele.
“Tivemos um retrocesso de seis a sete anos na linha de desenvolvimento
de vacinas preventivas”. Outra pesquisa com o adenovírus como vetor combinado a uma vacina de DNA, o Pave 100, programada para iniciar em 2007,
foi adiada após a divulgação deste resultado.
De acordo com o pesquisador, os voluntários da pesquisa no Brasil já
estão informados sobre o resultado do estudo e continuarão sendo assistidos pela equipe do projeto, recebendo aconselhamento sobre formas de
prevenção e redução de risco de exposição ao HIV.
PREVENÇÃO REFORÇADA
Atualmente, três outros estudos de vacinas estão em andamento no
Praça Onze e serão continuados. Dois deles em fase I, com número reduzido de voluntários, para avaliar a segurança, tolerabilidade e a imunogenicidade da vacina; e um em fase II, com um grupo maior de pessoas. Há um
outro estudo de fase IIB em avaliação nos órgãos regulatórios. Segundo
Mauro Schechter, coordenador do Praça Onze, “nenhuma vacina preventiva
estará disponível num futuro próximo. Isto reforça a importância das ações
preventivas para a redução dos riscos de infecção pelo HIV”.
Arquivo do Programa
Diretrizes para
uma boa
adesão ao
tratamento
Projeto Eu conheço meu tratamento, do Programa
Municipal de DST/Aids de Contagem - MG, reúne
pacientes para maratona de conhecimento.
P
ESTRATÉGIAS QUE PODEM AJUDAR NA ADESÃO
Além de informar e orientar os profissionais de saúde, as
“Diretrizes” apresentam estratégias de ação que podem
ajudar na adesão dos pacientes ao tratamento anti-retroviral.
MANUAL, SEMINÁRIOS E OFICINAS VÃO
APROFUNDAR O TEMA
Após as Diretrizes, será lançado um Manual de Adesão
para aprofundar o debate sobre o tema. “Será um manual
mais prático, para ser utilizado pelos profissionais de saúde
que quiserem trabalhar a adesão, mas não sabem como”,
afirma Ivana Drummond, psicóloga e assessora técnica do
Programa de DST e Aids do Ministério da Saúde. “Vamos
incentivar a realização de seminários locais e regionais e
oficinas de adesão em congressos nacionais e
internacionais” diz a representante do Ministério da Saúde.
INICIATIVAS PREMIADAS
Recentemente, o Ministério da Saúde premiou seis ações
de adesão que concorreram ao Prêmio Nacional de Adesão.
Na categoria serviços de saúde, o vencedor foi o Centro de
Referência e Treinamento em DST e Aids (São Paulo/SP)
pelo projeto Assistência Domiciliar terapêutica e Paliativa –
ADTP, seguido do Serviço Ambulatorial Especializado de
Araçatuba pelo projeto Estratégias para a adesão e
resultados alcançados com pacientes em uso de
enfuvirtida do serviço ambulatorial especializado. Em
terceiro lugar, o Programa Municipal de DST/Aids de
Contagem/MG pelo projeto Eu conheço meu tratamento.
Na categoria sociedade civil, os premiados foram: o
Instituto Vida Nova, Integração Social, Educação e Cidadania
(São Paulo/SP), pelo projeto Malhação Vida Nova; a
Associação Sócio-cultural Dias da Cruz (Rio de Janeiro/RJ),
pelo projeto Estrelando – uma experiência de videoteca na
clínica de Aids do PAM Antônio Ribeiro Netto; e o Grupo
Hipupiara, Integração e Vida (São Vicente/SP), pelo projeto
Café Cidadão – Grupo de Adesão à Vida.
“O prêmio foi um grande incentivo aos serviços e às
ONGs e nos ajudou a mapear as ações em prática no país.
Estas ações servirão de exemplo e poderão ser replicadas
pelos estados e municípios”, conclui Ivana Drummond.
DEZEMBRO 2007
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
rofissionais de saúde comprometidos com seu
trabalho sabem que conquistar a adesão do paciente
à terapia anti-retroviral é um dos maiores desafios
para o sucesso do tratamento. Para auxiliá-los,
recentemente, o Ministério da Saúde publicou o
documento Diretrizes para o fortalecimento das ações de
adesão ao tratamento para pessoas que vivem com
HIV/Aids. Um instrumento com estratégias de ações de
adesão que podem ser replicadas.
“As atividades dos serviços de saúde devem ser
organizadas de forma a facilitar a adesão dos usuários não
só ao tratamento, mas ao próprio serviço, oferecendo
alternativas de atendimento diversificadas e estabelecendo
fluxo diferenciado para pessoas com maiores dificuldades.
Para tanto, alguns fatores merecem especial atenção:
flexibilidade de horário, atenção diferenciada para os
diversos grupos populacionais e garantia de cuidado
multidisciplinar”, diz o documento de 32 páginas.
Entre elas: rodas de conversa, atividades de sala de espera,
parcerias com a sociedade civil e consulta conjunta.
O documento conclui que “as ações de adesão ao
tratamento anti-retroviral pressupõem uma abordagem
integrada de diversos elementos, entre eles a redução de
vulnerabilidades e estigmas, o fortalecimento da participação
dos usuários nos serviços e o diálogo permanente entre as
pessoas vivendo com HIV/aids e profissionais de saúde. O
papel dos profissionais não é promover adesão a qualquer
custo, mas respeitar as escolhas, participando do processo
de co-responsabilização do tratamento”.
7
NÚMEROS
DA AIDS 2007
Boletim Epidemiológico
e relatório da Unaids:
dados da epidemia no
Brasil e no mundo
epidemia de aids no Brasil
tende a estabilizar-se nas
regiões Sul, Sudeste e CentroOeste e a crescer no Norte e Nordeste
do país. Essa é uma das conclusões
do Boletim Epidemiológico 2007, divulgado em novembro. Para Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/Aids há “uma leve
tendência de aumento da mortalidade” nas regiões Norte e Nordeste
do país. Já a região Sudeste registrou
o maior percentual de pessoas que
continuaram vivas, cinco anos após
terem detectado a infecção por HIV:
90%. Seguida do Sul (82%),
Nordeste (81%), Centro-Oeste
(80%) e Norte (78%).
De acordo com Mariângela Simão,
os números refletem o problema do
diagnóstico tardio e as desigualdades
regionais do Sistema Único de Saúde
(SUS). “Nosso desafio é reforçar a
qualidade da assistência do SUS e
ampliar o diagnóstico precoce da in-
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
A
8
fecção pelo HIV, seja nos exames de
rotina na rede pública seja no uso do
teste rápido”.
AIDS CRESCE MAIS ENTRE
HOMENS HETEROSSEXUAIS E
MULHERES
Segundo o Boletim, o número de
casos de aids está estável entre os
homens homossexuais e diminuiu
entre os que usam drogas injetáveis,
mas cresce entre homens e mulheres
heterossexuais. O levantamento revela ainda que a razão entre homens
e mulheres infectados pelo HIV mudou muito no Brasil nos últimos anos:
Se em 1985, havia 15 homens infectados para 1 mulher; hoje, a proporção é de 1,5 para 1. “Ainda existe
no imaginário coletivo a idéia de que
a mulher não faz parte do grupo de
risco, quando, na verdade, não há
grupo de risco”, comentou a diretora
do Programa Nacional de DST e Aids,
Mariângela Simão.
De acordo com Mariângela Simão, diretora do
Programa Nacional de DST/Aids, os números do
Boletim Epidemiológico de 2007 refletem o problema
do diagnóstico tardio e as desigualdades regionais do
Sistema Único de Saúde.
DEZEMBRO 2007
Desde o início da epidemia, foram
notificados 474.273 casos de Aids
em todo o Brasil, sendo 13.071 nos
seis primeiros meses deste ano. De
acordo com o novo Boletim, 86%
dos municípios brasileiros já registraram um caso de aids.
Entre 1980 e 2006, o Brasil registrou 192.709 óbitos decorrentes da
aids, sendo 9.561 só no ano passado. Número que mantêm a média de
11 mil óbitos por ano, uma vez que
os dados recentemente divulgados
são preliminares.
MORTALIDADE POR AIDS CONTINUA ALTA NO MUNDO
Relatório divulgado pela Unaids,
Programa das Nações Unidas para
HIV/Aids, mostra que a agência
superestimou o número de casos de
HIV em todo mundo, embora o
número permaneça crescente. Em
2006, a Unaids previu 39,5 milhões
de pessoas infectadas com o vírus
da aids. A metodologia foi revista
para 2007 quando se estima que
33,2 milhões de pessoas estão infectadas pelo HIV. A razão para a
redução nos números globais da
doença no último ano foi a recente
revisão das estimativas na Índia, e as
revisões feitas em cinco países da
África subsaariana (Angola, Quênia,
Moçambique, Nigéria e Zimbábue)
em 2006.
Autoridades da Unaids e da OMS
afirmam que estas novas estimativas
não mudam a necessidade de ação
imediata e de aumento das verbas
para dar acesso universal ao tratamento, serviços de apoio e prevenção do
HIV. Apesar de o investimento em tratamento contínuo e a prevenção estarem
apresentando bons resultados em alguns países, a mortalidade causada
pela aids continua alta no mundo.
NOVAS INFECÇÕES
O relatório da Unaids afirma que,
em 2007, 2,5 milhões foram infectados pelo HIV e outros 2,1 milhões
morreram devido à aids. A maioria
das infecções e óbitos ocorreu na
África subsaariana, a região mais
afetada pela doença, com 68% do
total do mundo. Na América Latina, segundo a agência da ONU, 100
mil novas pessoas foram infectadas
pelo HIV em 2007, alcançando 1,6
milhões em todo o continente, e
58 mil óbitos foram registrados na
região no último ano. O Brasil responde por quase um terço de todos
os infectados no continente.
m estudo com 891 prontuários de pacientes do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (DIP/HC/ UFMG)
revelou que, após dois anos, apenas 39% permaneciam em uso da
primeira combinação de anti-retrovirais. Dentre os que mudaram de tratamento, as causas foram, em primeiro lugar, os efeitos colaterais; em segundo, a não adesão ou abandono do tratamento; e, em um grupo menor, por
falha da medicação.
U
“Este achado preocupa, pois a primeira combinação é a que tem maior chance
de durar”, afirma a médica Flávia Andrade Ribeiro, que utilizou os resultados numa
Dissertação de Mestrado da Faculdade de Medicina da UFMG. “Considerando
que em pacientes virgens de tratamento, como os observados, é muito difícil que
a medicação não funcione se os remédios forem tomados corretamente, é possível
que na maioria dos casos o paciente não tenha usado a medicação de forma
correta”, observa a pesquisadora.
ADESÃO INTEGRAL
O estudo, segundo Flávia Ribeiro, fortalece a importância da adesão integral ao
tratamento com anti-retrovirais e da escolha da combinação que possa causar
menos efeitos colaterais aos pacientes. “O trabalho busca observar a efetividade
das primeiras combinações e, dentre as observadas, a combinação zidovudina +
lamivudina + efavirenz foi a que se mostrou mais efetiva”, afirma a médica,
reforçando a recomendação do Ministério da Saúde para início de tratamento.
A pesquisadora diz que as principais barreiras para uma boa adesão são de
fundo social e psicológico, além da falta de compreensão, por parte do paciente,
da importância do tratamento. “O acompanhamento das pessoas que vivem
com HIV/aids deve ser feito por uma equipe multiprofissional, com psicólogos,
farmacêuticos, assistentes sociais e pela equipe de enfermagem, além do
médico, para uma melhor adesão do paciente ao tratamento”, conclui.
ADESÃO E POBREZA
A maioria dos pacientes envolvidos na pesquisa era homem, solteiro, com
formação até o ensino fundamental e renda de até dois salários mínimos. O
estudo contou com orientação do infectologista mineiro Dirceu Greco, um dos
primeiros médicos a tratar pacientes portadores do HIV/aids no Brasil. “A
pobreza é o pano de fundo da falta de adesão ao tratamento. Há casos de
pacientes que deixam de ir ao hospital porque não têm dinheiro para a
condução”, afirma Greco, para quem o estudo ajuda a compreender melhor
“um dos maiores problemas de saúde pública do mundo”.
DEZEMBRO 2007
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
VULNERABILIDADE
FEMININA
“O rosto da Aids é cada vez mais
jovem e feminino”, descreveu Kathleen Cravero, diretora executiva do
Unaids. As mulheres representam
metade dos adultos vivendo com o
HIV e a proporção sobe para 60%
na região mais castigada pela epidemia, a África Subsaariana. Nessa
região, três quartos de todas as pessoas infectadas entre 15 e 24 anos
são meninas e jovens mulheres.
Segundo o documento do Unaids, as adolescentes estão
adquirindo o vírus em idades cada
vez menores e de homens mais
velhos. A violência contra a mulher
é um dos fatores que as tornam
vulneráveis à infecção.
O relatório diz ainda que muitas
mulheres não têm acesso à educação e ao emprego e que a dependência em relação ao homem
contribui para a vulnerabilidade feminina, já que elas não têm poder
para resistir ao sexo indesejado ou
pedir a seus maridos e parceiros
que usem preservativos.
Pesquisa avalia
impacto de primeira
combinação de ARVs
9
O encontro da
aids com as
deficiências
Reunião ampliada sobre aids e deficiências,
realizada no Hotel Glória, Rio de Janeiro, nos
dias 26 e 27 de novembro de 2007.
Encontro Nacional sobre Aids e
Deficiências, realizado de 26 a 27 de
novembro de 2007, no Rio de Janeiro,
colocou em debate uma questão importante,
porém ainda pouco explorada. Durante os dois
dias, pretendia-se identificar situações de vulnerabilidade às DST/HIV/Aids relacionadas às
deficiências, aprofundar o debate sobre deficiência como um dos agravos da aids, promover o intercâmbio de experiências e obter
subsídios para o aprofundamento destes temas
na formulação de políticas públicas. Para isso,
foram convidadas cerca de 60 pessoas com
trabalhos acerca do tema, além de pessoas
vivendo com HIV e aids e deficiências. Sobre o
resultado das discussões, a Saber Viver
Profissional de Saúde conversou com Ivana
Drummond Cordeiro e Ângela Pires, assessoras
técnicas do Programa Nacional de DST/Aids.
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
O
10
DEZEMBRO 2007
SV Prof: Há as deficiências decorrentes da aids e as deficiências que
acometem soropositivos independentemente do HIV. O Encontro
Nacional sobre Aids e Deficiências
contemplou os dois grupos?
Ivana Drummond e Ângela
Pires: Sim. Por um lado falamos do
acesso das pessoas com deficiência
à informação e insumos de prevenção, diagnóstico, assistência e
tratamento das DST/HIV/aids. É
comum vermos a família e profissionais de saúde tratando a pessoa
com deficiência como um ser
assexuado e imune, não passível de
adquirir uma DST ou infectar-se
pelo HIV/aids. Por outro lado,
falamos da deficiência como uma
conseqüência do viver com
HIV/aids. Muitas vezes o diagnóstico tardio, as complicações das
infecções oportunistas e as conseqüências do uso prolongado de
antiretrovirais podem levar a uma
limitação funcional. Dessa forma,
tanto as pessoas com deficiência
quanto os serviços de saúde precisam se adaptar a essa nova
condição. Nosso objetivo é trabalhar
esses dois eixos.
Como surgiu a idéia de realizar esse
Encontro? Foi o primeiro em torno
do assunto?
O tema já vinha sendo discutido e
acompanhado pelo Programa
Nacional nos foros internacionais.
Em janeiro de 2007, levamos o
tema como oficina para o Seminário
Nacional de Direitos Humanos e
HIV/aids que aconteceu em Brasília.
A partir de então, sentimos necessidade de reunir as diversas experiências para que elas pudessem dialogar e colaborar para a construção de
ações mais focadas, que dessem
conta das demandas das pessoas
com deficiência e HIV/aids. Em
seguida fizemos uma reunião
ampliada com as diversas áreas do
Programa Nacional e especialistas e
trabalhamos o tema nos Fóruns
Regionais da Saúde da Pessoa com
Deficiência. O passo seguinte foi
esse encontro que acrescentou as
experiências de ONGs e dos próprios portadores de aids e deficiências.
Qual foi o papel do PN-DST/Aids no
Encontro?
Sobretudo o papel de articular com
os diversos atores. Foi possível
construir uma organização compartilhada da reunião, da qual fez parte,
além do Programa de Aids, a Área
de Saúde da Pessoa com Deficiência/MS, a Secretaria Especial de
Direitos Humanos/Coordenadoria
Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência,
Coordenação Estadual de DST/Aids
do Rio de Janeiro, o CEDAPS Centro de Promoção da Saúde e o
Movimento Nacional das Cidadãs
Posithivas.
a família e profissionais
de saúde tratando
construção de materiais e até
lançou algumas chamadas de
pesquisa. Mas foi somente em
2006 que decidiu aprofundar o
debate e aproximar as diversas instituições para pensar o tema.
a pessoa com
deficiência como um
ser assexuado
e imune, não passível
de adquirir uma DST
ou infectar-se pelo
HIV/aids.
fórum de debates virtual, também
em fase de implementação.
Já existia uma ação específica do
Ministério da Saúde sobre a
questão “aids e deficiência”?
Sim. Ao longo dos anos, o PNDST/aids participou de eventos
sobre deficiências, colaborou na
Existe uma ação prevista para
2008?
Será um ano importante. Em junho,
teremos o VII Congresso Brasileiro
de Prevenção das DST e Aids em
Florianópolis, Santa Catarina. Em
agosto, teremos a XVII Conferência
Internacional de Aids, que reunirá
cerca de 20 mil pessoas, entre
médicos, cientistas, ativistas, políticos, membros da sociedade civil,
organizações não-governamentais
e portadores do HIV. Será um
espaço para discutirmos com maior
ênfase a questão do acesso universal bem como os efeitos secundários da doença, e buscaremos
dar visibilidade à correlação entre
aids e deficiências. Estamos também incentivando a produção de
pesquisas e publicações nessa
área, para que tenhamos mais
dados que subsidiem nossas
ações.
DEFICIÊNCIA E ADESÃO AO TRATAMENTO: UM
PROBLEMA DE DIFÍCIL SOLUÇÃO
o cruzamento entre a aids e as deficiências, o infectologista e pesquisador
do IPEC/Fiocruz, Estevão Portela, destaca a questão da regularidade no
tratamento. Se o paciente tem uma limitação motora e fica restrito ao leito,
ou se é vítima de um déficit cognitivo, isso dificulta sua adesão. Nesses casos em
que o paciente depende de um parente ou cuidador para comparecer às consultas médicas e tomar os medicamentos, a deficiência pode até mesmo impedir o
tratamento. Estevão lembra que um paciente que tenha perdido a visão ou que
tenha outra deficiência qualquer pode ter dificuldade de tomar os medicamentos.
O que ele considera mais prejudicial para a adesão, porém, são os casos em que
há déficit cognitivo. O tratamento do esquizofrênico, por exemplo, ele qualifica de
“uma barata kafkiana”: “Já tive muitos casos de soropositivos esquizofrênicos
rejeitados pela família que não podem ter alta simplesmente porque não têm
para onde ir”, observa.
N
DEZEMBRO 2007
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Como avaliam o resultado do evento?
Foi extremamente importante o encontro e compartilhamento das várias experiências. A partir de agora
fica mais fácil elaborarmos nossas
ações e dialogarmos com estados e
municípios a inclusão do tema. Durante a reunião, foram tiradas várias
recomendações quanto à abordagem e às estratégias a serem desenvolvidas pelo governo e pela
sociedade civil. Essas recomendações constarão de um documento
que está em fase de redação final
pelo CEDAPS. As instituições e pessoas que participaram da reunião
devem continuar compartilhando
suas experiências a partir de um
É comum vermos
11
Centro de Testagem
e Aconselhamento, uma
radiografia
ma pesquisa sobre os Centros
de Testagem e Aconselhamento (CTA) confirma a importância do CTA para promover o
diagnóstico e para os municípios
priorizarem o controle da epidemia.
Mas alerta sobre a extensão limitada
da rede no país: menos da metade
(209) dos 427 municípios considerados prioritários pelo Ministério da
Saúde para o controle da aids conta
com o serviço, e 85% das cidades
com mais de 25 casos de aids por
100 mil habitantes em 2005 não
possuem CTA. A pesquisa encomendada pelo Programa Nacional de DST
e Aids do Ministério da Saúde foi
elaborada por pesquisadores do
U
Instituto de Saúde da Secretaria
Estadual de Saúde (SP), do CRT em
DST e Aids (SP), da Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de
Misericórdia (SP) e da Faculdade de
Medicina da USP.
O Diagnóstico Situacional dos
Centros de Testagem e Aconselhamento do Brasil revela que os
desafios para o fortalecimento da rede
de CTA no país são inúmeros. “Precisamos aprimorar a estrutura dos serviços mais precários; incluir as populações prioritárias que encontram
dificuldades de acesso; agilizar e
desburocratizar a oferta de insumos
de prevenção e dos exames para
aumentar as taxas de retorno; e
RECOMENDAÇÕES PARA MELHORAR A
QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS NOS CTA:
1
2
3
4
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6
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8
9
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13
Priorizar populações mais vulneráveis, garantido a equidade no acesso aos
serviços.
Ampliar a rede de serviços, articulando estratégias de acesso universal e
eqüitativo em áreas prioritárias.
Respeitar as capacidades e potencialidades de cada serviço.
Definir objetivamente normas de organização e operação.
Garantir a realização do diagnóstico da sífilis em todos os serviços.
Adequar as ações de prevenção à realidade epidemiológica do município.
Incentivar e apoiar as experiências bem sucedidas.
Estimular a articulação com outros serviços e com a sociedade civil.
Aumentar a oferta de sorologias.
Definir estratégias de divulgação dos CTA.
Reduzir as taxas de abandono na busca de resultados.
Ampliar a abrangência do SI-CTA, o sistema de informação específico desses
serviços.
Envolver gestores estaduais e municipais e sociedade civil na resolução de
problemas.
garantir que a implantação de novos
serviços ocorra antes que a epidemia
ganhe dimensões alarmantes nos
municípios. Hoje eles estão sendo
implantados, em média, após 14
anos do surgimento dos primeiros
casos”, afirma Alexandre Grangeiro,
coordenador do estudo.
DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO
Embora todos os CTA devam
realizar o diagnóstico sorológico de
HIV e sífilis e a triagem sorológica para
hepatites virais, apenas 25% deles
oferecem o cardápio completo de
sorologias. A pesquisa descobriu ainda
que 70% dos CTA impõem algum
tipo de dificuldade para o acesso aos
insumos de prevenção, como a obrigatoriedade de identificação do
paciente, a passagem por atendimento prévio ou a definição de cotas. A
situação é mais grave no caso do gel
lubrificante, não disponível em 70%
dos serviços, e do kit de redução de
danos, presente em apenas 16% dos
CTA.
Os serviços apresentam ainda
dificuldades em cumprir o prazo de
15 dias para a entrega de resultados.
Apenas metade (53%) entrega o
resultado negativo do HIV em até 15
dias. No caso do exame confirmatório,
o índice cai para 28%. “Isso reflete
nas baixas taxas de retorno de
pacientes para o recebimento dos
resultados, uma vez que apenas 23%
dos serviços têm mais de 90% de
retorno”, afirma Grangeiro.
Outro problema observado referese à dificuldade de acesso aos serviços
por parte das populações mais vulneráveis, como profissionais do sexo,
homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis. O
estudo recomenda que ações como
direito ao anonimato, a prática de CTA
volante e a abertura dos serviços em
horário estendido – após as 18 horas
e nos finais de semana – “podem contribuir para um maior acesso dessas
populações marginalizadas que já possuem a característica de não procurar
os serviços de saúde por medo do
preconceito”, diz o estudo.
RECURSOS HUMANOS
Em relação à estrutura dos serviços
de testagem, a capacidade está longe
do ideal, na medida em que 30% dos
CTA não contam com todos os espaços necessários – salas de aconselhamento individual, de aconselhamento coletivo, de espera e de coleta.
Quando considerados os recursos humanos, 40% não atendem à
recomendação do Ministério da
Saúde de pelo menos oito pessoas
na equipe. Em 19% dos serviços faltam profissionais responsáveis pela
coleta e um terço não conta com o
mínimo de quatro profissionais de
nível superior. No entanto, quase
25% dos CTA têm mais de sete
profissionais de nível superior e 22%
possuem equipes com mais de 14
integrantes.
“Elaboramos uma lista com 13 recomendações básicas ao Ministério
da Saúde que, se implantadas, poderão
contribuir para a ampliação do diagnóstico do HIV, hepatites e outras DST e
para o maior acesso aos insumos de
prevenção”, afirma Alexandre Grangeiro.
“Como os CTA apresentam uma diversidade enorme em relação à oferta de serviços, potencializar as características que conferem identidade a
cada CTA pode permitir o aperfeiçoamento da rede nacional e a ampliação
da oferta do diagnóstico e da prevenção no país”, conclui Grangeiro.
ADESÃO AO TRATAMENTO: DESAFIOS PARA A
ASSISTÊNCIA INTEGRAL À PESSOA VIVENDO COM HIV/AIDS
acesso à terapia anti-retroviral no
Brasil já completou dez anos. Foi
a partir de 1996, após a repercussão da terapia tripla (o “coquetel”) na
XI Conferência Internacional de Aids, realizada no Canadá, que o governo
brasileiro consolidou sua política de
medicamentos para tratamento da infecção pelo HIV, que possibilitou às pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) o
acesso universal e gratuito aos anti-retrovirais, inclusive os inibidores de protease.
Em 13 de novembro de 1996, era promulgada a Lei nº 9.313/961, proposta
pelo Senador José Sarney, que garantia
o direito ao acesso universal e gratuito aos
portadores do HIV e doentes com Aids à
terapia anti-retroviral (Brasil, 1999).
Após dez anos da implementação
desta política, inegáveis avanços foram alcançados: estima-se que no período entre 1996 e 2002 houve redução de 50%
na mortalidade e de 70% da morbidade
dos casos de Aids no país. (Brasil, 2007)
Com a experiência acumulada pela
prescrição de anti-retrovirais ao longo
destes 10 anos, os profissionais de saúde
que assistem às PVHA paulatinamente entraram em contato com as vicissitudes que
a terapia anti-retroviral provoca na vida das
pessoas. Entendendo que adesão ao
tratamento não se restringe à simples
prescrição por parte dos médicos e tomada correta dos medicamentos por parte
da PVHA, é imperativo discutir modelos
de atenção que propiciem um olhar integral, voltado para a pessoa, levando
em conta a sua singularidade, com os
aspectos emocionais, culturais, econômicos e religiosos.
Abordar parâmetros biomédicos faz
parte da rotina profissional médica. Entre-
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
O
14
tanto, o momento atual na assistência
às PVHA demanda estratégias que vão
além do campo biomédico, direcionadas
para o enfrentamento das dificuldades de
adesão ao tratamento.
A vivência da soropositividade e o
tratamento da infecção pelo HIV suscitam sentimentos e questionamentos
por parte das PVHA. Os profissionais de
saúde devem estar atentos para os possíveis obstáculos à adesão. Algumas situações específicas merecem destaque
neste texto.
Algumas pessoas, por não apresentarem sintomas, demonstram dificuldades de aceitação para início da terapia
anti-retroviral. Existe uma concepção arraigada de que remédios devem ser prescritos para quem está adoecido, isto é, apresentando sinais e/ou sintomas da
doença. Nestes casos, é aconselhável
que o médico aborde esta questão no
momento de prescrição do primeiro esquema anti-retroviral.
As pessoas que vivem em situação
de exclusão social apresentam dificuldades que demandam ações, que vão
desde a garantia do acesso às unidades
de saúde (transporte, acolhimento pela
equipe de saúde, etc.) até respostas intersetoriais como o estabelecimento de
parcerias com ONG e serviços de assistência social e jurídica.
Algumas pessoas têm dificuldade para
custeio do transporte para a unidade de
saúde onde realizam seu tratamento. Em
alguns municípios está garantida a gratuidade em transportes coletivos, o que facilita o comparecimento às unidades de
saúde para consultas, realização de exames complementares e aquisição dos
medicamentos.
Debora
Fontenelle,
Clínica Geral
HUPE/UERJ,
doutorado em
saude coletiva
Concluindo, a adesão ao tratamento
tem representado um desafio para a assistência às pessoas vivendo com
HIV/Aids. Entendendo que adesão ao
tratamento não se limita ao uso correto
e adequado dos medicamentos antiretrovirais, as equipes de saúde devem
procurar abordar também outras questões
relacionadas ao viver e conviver com
HIV/Aids. Questões essas que permeiam
não apenas o processo de adesão ao
tratamento, assim como o próprio processo de cuidado em HIV/Aids.
Nos dias atuais, a abordagem da
adesão ao tratamento significa ampliar a
discussão para além de remédios e efeitos
colaterais. Afinal, tratamento não se limita a prescrever remédios e fornecer orientações. Tratar é cuidar e apreender
a singularidade de cada pessoa que
vive com HIV/Aids.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação
Nacional de DST e Aids. A resposta
brasileira ao HIV/Aids: experiências exemplares. 1999.
______. Ministério da Saúde. Programa
Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o
fortalecimento das ações de adesão ao
tratamento para pessoas que vivem com
HIV e Aids. 2007.
1 LEI 9.313/96 - É de responsabilidade do governo a disponibilização do tratamento mais adequado aos pacientes infectados pelo HIV dentro de
parâmetros técnicos e científicos definidos pelo Ministério da Saúde por intermédio do Programa Nacional de DST/Aids.
DEZEMBRO 2007
Compromisso com o melhor da
medicina e da informação
acesse: www.msdonline.com.br
Aids/HIV
Asma
SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Doenças
MC 462/05
09-2008-STO-05-BR-462-J
DEZEMBRO 2007
15
15
Área útil
ONGS QUE AUXILIAM NA ADESÃO AO
TRATAMENTO
ALAGOAS
Grupo de Adesão Renascendo a Esperança
Desenvolve ações na prevenção da TMI (Transmissão Materno Infantil) com grupos de mães e
gestantes soropositivas, priorizando a adesão ao
tratamento e a melhoria da auto-estima, através
de atividades educativas, oficinas profissionalizantes e dinâmicas psicológicas.
Rua Dias Cabral, 569 / Sala 205 - Centro.
Maceió - AL - Tel: (82) 3315-5197
[email protected]
[email protected]
BAHIA
Grupo Incentivo do Hospital Geral Roberto
Santos
Reuniões às 3ª feiras das 10h às 11h na sala de
espera do ambulatório de infectologia.
Avenida Saboeiro s/nº - Cabula - Salvador - BA
CEARÁ
COAS- Centro de Orientação e Apoio
Sorológico
Rede de assistência composta por Orientação e
Apoio Sorológico. Ambulatório de DST/Aids referência para 52 municípios da região norte do
estado do Ceará
Av. Jose Euclides Ferreira Gomes S/N Expectativa (Próximo ao Laboratorio Regional Saída para Massapê). Sobral - CE
Tel: (88) 3614-7251
MATO GROSSO
Gass- Grupo de Apoio e Prevenção a Aids
Rua do Touro, 493 - Vila Nhanhá.
Campo Grande - MS - Tel. (67) 3346-5066
PARAÍBA
Missão Nova Esperança
Serviços para as PVHA: Assessoria Jurídica;
Cursos de Informática e Artesanato; Acompanhamento Psicológico (individual e em grupo);
Acompanhamento ambulatorial; Visitas
domiciliares; Oficinas temáticas; Plantões espiritual; Grupo de Dança Gospel; Grupo de teatro
com fantoches.
Rua Eurípedes Tavares, 251 - Centro.
João Pessoa - PB. CEP: 58013-290.
Telefax: (83) 32228387
PARANÁ
Grupo Amigos
Formado por portadores do HIV/aids, seus
familiares e amigos. Faz palestras em escolas e
comunidades e visitas hospitalares.
Reuniões todas as quartas e sábados às 19h.
R João Zaleski, 35 - Vila Lindóia.
Curitiba - PR - CEP: 81010-080.
Tel. (41) 3346 565
[email protected]
Grupo Esperança
Conscientizar sobre a importância do uso da
medicação anti-retroviral, bem como trabalhar
questões de cidadania, auto-estima e sexualidade.
Reuniões Sexta-feira das 14h às 17h.
Travessa Tobias de Macedo, 53 / 2º andar,
sala 4. CEP: 80.020.210 Cx Postal 554
80.001.970. Curitiba - PR
Tel (41) 3323-7825 - Fax (41) 3323-2049
[email protected] /
www.grupoesperanza.com.br
RIO DE JANEIRO
AVIDHA - Assoc. Valorização e Integração
dos Diagnosticados de HIV/Aids
Reuniões todas as 6ª feiras a partir de 14h no
PAM 13 de Maio (Av. 13 de Maio, 23
15º andar - Centro).
Reuniões de 2ª a 6ª das 09h às 20h, na Sede:
Rua Fernandes Portugal, 18 - Engenho da Rainha
Tel. (21) 3979-5240
GATAHI
Grupo de adesão - 3ª feira (manhã) e
4ª feira (tarde)
Fisioterapia preventiva -3ª feira e
5ª feira (tarde)
Orientação Psicológica - 4ª feira (tarde) e
5ª feira (manhã e tarde)
No Hospital de Ipanema: Rua Antonio Parreira,
67 - térreo. Tel (21) 3111-2333
SÃO PAULO
GAPA/Ribeirão Preto
Apoio Técnico-Profissional, Prevenção,
Socialização e ativismo
Visconde do Rio Branco, 836
CEP:14015-000 - Ribeirão Preto -SP
[email protected]
www.gaparp.org.br
GIV - Grupo de Incentivo à Vida
O projeto Cuidador Solidário visa dar auxílio prático
aos soropositivos, como acompanhantes para
realizar exames, ajudar na adesão aos
medicamentos e diminuir a exclusão social. Os
cuidadores atendem domiciliarmente e nas salas
ambulatoriais. Já atua no CRT Santa Cruz e na
Casa da Aids. Em breve, estará também no Hospital
Emílio Ribas e no Hospital São Paulo.
Doações: O GIV tem a intenção de dar continuidade
ao projeto por um prazo maior, com a manutenção
do trabalho atual e a formação de novos
cuidadores solidários, mas para isso é necessário
encontrar novos parceiros que queiram financiar a
iniciativa. Os interessados em colaborar com
doações devem procurar uma agência do
Bradesco e fazer um depósito na conta corrente nº
076095-1, agência 093-0.
Outras Atividades:
Grupo Vivência Terapêutica (GVT): toda 2ª feira
às 19:45h
Viver Criança e Adolescente (ensinar a
respeitar a diversidade humana e o
enfrentamento da epidemia da Aids): aos
sábados (quinzenal)
Toque de Mulher: 5º feira (quinzenal) às 19:45h
Somos (espaço para gays masculinos):
5ª feira (quinzenal) às 19:45h
Rua Capitão Cavalcante, 145 - Vila Mariana.
São Paulo-SP - Cep: 04.017-000.
Tel : (11) 5084-0255
[email protected] / www.giv.org.br
VENCEDORES DO PRÊMIO NACIONAL DE ADESÃO DO
PNDST/AIDS (VER MATÉRIA PÁG 7)
CATEGORIA SERVIÇOS DE SAÚDE:
CATEGORIA SOCIEDADE CIVIL:
Centro de Referência e Treinamento em
DST/Aids
Projeto Assistência Domiciliar Terapêutica e
Paliativa - ADTP
Rua Santa Cruz, 81 - Vila Mariana
São Paulo - SP - Tel (11) 5084-5235
Responsável: Tânia Regina Corrêa de Souza
tâ[email protected]
Instituto Vida Nova - Integração Social,
Educação e Cidadania
Projeto Malhação Vida Nova
Rua Professor Assis Veloso, 226 - Jd.
São Vicente - São Paulo - SP. CEP. 08024-470
Tel (11) 6297-1516 / 6956-9817 / 9953-1101
Responsáveis: Américo Nunes Neto e Jorge
Eduardo Reyes Rodriguez
[email protected]
Serviço Ambulatorial Especializado de
Araçatuba
Projeto Estratégias para a adesão e resultados
alcançados com pacientes em uso de
enfuvirtida do serviço ambulatorial
especializado
Rua Afonso Pena, 1.537
Vila Mendonça - Araçatuba - SP
Tel (18) 3621-5171
Associação Sócio-cultural Dias da Cruz
Projeto Estrelando - uma experiência de
videoteca na clínica de Aids do PAM Antônio
Ribeiro Netto
Rua Itabaiana, 21 Parte - Grajaú - Rio de
Janeiro - RJ - Tel.: (21) 2565-8195 / 88398860
Responsável: Marilza Emília da Conceição
Rodrigues - [email protected]
Programa Municipal de DST/Aids de
Contagem
Projeto Eu conheço meu tratamento.
Av. João César de Oliveira, 2889 - Eldorado
Contagem - MG - Tel (31) 3352-5793
Grupo Hipupiara - Integração e Vida
Projeto Café Cidadão - Grupo de Adesão à Vida.
Rua Caminho dos Barreiros 74 - São Vicente SP- Cep: 11.320-080
Tel (11) 3467-0853 / (13) 3466-4007
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