Saber Viver P R O F I SS I O N A L D E SA Ú D E nº 11 Dezembro/2007 TRATAMENTO CONTRA AIDS Novos medicamentos, foco na adesão, pesquisas sobre assistência e vacina: as mais recentes conquistas, os próximos desafios Novidades sobre a 4ª IAS 2007 / 2008: conquistas, novidades e desafios Saber Viver Profissional de Saúde 11ª Edição – Dezembro 2007 Correspondências à redação: C. Postal 15.088 – Rio de Janeiro (RJ) Cep 20.031-971 [email protected] www.saberviver.org.br Coordenação e edição: Adriana Gomez e Silvia Chalub Reportagem: Ana Letícia Leal e Flávio Guilherme Secretária de redação: Ana Lúcia da Silva Consultora lingüística: Leonor Werneck Foto: Paulo Múmia, agência Pedra Viva A SUMÁRIO A terapia anti-retroviral em 2008 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Vacina contra a aids sem previsão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Adesão ao tratamento, eterno desafio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Projeto Gráfico e Arte Final: A 4Mãos Com. e Design Números da aids em 2007 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Impressão: Gráfica Josélia Questões sobre aids e deficiências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 Estudo sobre o uso de primeiro esquema ARV . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 A situação dos CTAs no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Apoio: Artigo: Débora Fontenelle. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 DEZEMBRO 2007 SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE Colaboraram nesta edição: Alexandre Grangeiro, sociólogo, pesquisador do Instituto de Saúde de São Paulo; Debora Fontenelle, clínica geral do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro; Dirceu Greco, infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (DIP/HC/UFMG); Estevão Portela, infectologista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC/Fiocruz); Flávia Andrade Ribeiro, médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (DIP/HC/UFMG); Ivana Drummond Cordeiro, assessora técnica da Unidade de Assistência e Tratamento (UAT) do Programa Nacional de DST/Aids; Márcia Rachid, médica da Assessoria de DST/Aids da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro; coordenadora da Câmara Técnica de Aids do CREMERJ e membro do Grupo de Consenso para Terapia Anti-retroviral do PNDST/Aids; Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/Aids; Mauro Schechter, infectologista, pesquisador e coordenador do Projeto Praça Onze da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Paulo Feijó Barroso, médico pesquisador do Projeto Praça Onze da Universidade Federal do Rio de Janeiro. aids constitui um campo de trabalho extremamente dinâmico. É preciso estar sempre atento às novidades científicas, às mudanças nas diretrizes para o tratamento, à interface da aids com outras doenças, entre outros fatores que interferem diretamente na qualidade da assistência às pessoas que vivem com HIV/aids. A Saber Viver Profissional de Saúde encerra 2007 e inaugura 2008, comemorando as mais recentes conquistas e ciente dos desafios que estão pela frente. A disponibilidade de novos medicamentos, o fortalecimento das ações de adesão, a discussão sobre a interação entre a aids e as deficiências são alguns dos temas de destaque neste número que merecem ser celebrados. Duas pesquisas, uma sobre os Centros de Testagem e Aconselhamento brasileiros e outra sobre o impacto da primeira terapia anti-retroviral na vida dos pacientes também demonstram o quanto o estudo nessa área vem se desenvolvendo. Um panorama sobre a situação da aids em 2007 no Brasil e no mundo e sobre o que talvez seja o maior desafio da comunidade científica, a busca por uma vacina contra a aids, completam esta edição. A todos vocês que acompanham a Saber Viver Profissional de Saúde nesses quase três anos de vida, parabéns por sua dedicação a um trabalho por vezes tão difícil, mas ao mesmo tempo tão instigante. Agradecemos a companhia e esperamos que em 2008 tenhamos ainda mais motivos para comemorar. Boa leitura. 3 TRATAMENTO CONTRA AIDS SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE Novidades e desafios para 2008 4 cada ano que passa a terapia anti-retroviral ganha reforços, com o desenvolvimento de novos medicamentos, ampliando assim as alternativas de tratamento, principalmente àqueles pacientes que já não respondem mais aos ARVs disponíveis. E 2008 não será exceção, uma vez que acaba de ser incorporado ao Consenso de Terapia do Brasil, o darunavir, um inibidor de protease recomendado para uso em pacientes com múltiplas falhas. A Mas, para ser bem sucedido, o tratamento contra aids não depende apenas de medicamentos. Para enfrentar um dos maiores desafios atuais para o controle da doença, a adesão dos pacientes à terapia anti-retroviral, o Ministério da Saúde acaba de lançar um documento com orientações para os profissionais de saúde. A revista Saber Viver foi investigar os novos instrumentos que, num futuro próximo, poderão ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes assistidos. DEZEMBRO 2007 O INOVADOR RALTEGRAVIR Além do darunavir, outros dois medicamentos estão sendo disponi- “O raltegravir é o principal evento terapêutico desde a aprovação para uso clínico dos inibidores células humanas. “Atualmente, este novo medicamento será utilizado apenas como terapia de resgate para pacientes com poucas opções de tratamento, mas há estudos investigando o uso de raltegravir para o início de tratamento, em substituição ao efavirenz, uma vez que apresenta menos efeitos colaterais”, diz Mauro Schechter. de protease em 1995” Mauro Schechter bilizados para tratamento de pacientes com histórico de múltipla resistência: o maraviroc (Celsentri) –inibidor de CCR5, uma nova classe de medicamentos – e o raltegravir (Isentress) –inibidor de Integrase, que também atua de forma inovadora no combate ao HIV. Os dois já foram aprovados pelo FDA – agência americana que regulamenta remédios e alimentos – mas aguardam liberação da Anvisa para serem comercializados no Brasil. “O raltegravir é o principal evento terapêutico desde a aprovação para uso clínico dos inibidores de protease em 1995”, comemora o infectologista Mauro Schechter, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Age contra todos os tipos de HIV existentes no mundo, tem uma enorme potência quando comparado aos demais ARVs, o que possibilita uma queda muito rápida da carga viral, e os efeitos colaterais são praticamente os mesmos que os observados em pacientes que tomaram placebo, durante os estudos clínicos”, garante Schechter. Por se tratar de um inibidor de integrase, o raltegravir impede que o vírus integre seu material genético nas ESTAVUDINA E ZIDOVUDINA EM BAIXA Além de novos medicamentos, outras mudanças no tratamento começam a ganhar força na comunidade científica internacional. Como a retirada do estavudina da terapia combinada, em função dos seus efeitos colaterais. Os cientistas recomendam também que o zidovudina deixe de ser utilizado como medicamento de primeira linha. “Para o início de terapia, o lamivudina continua sendo a melhor opção, mas há uma corrente que defende o seu uso com o tenofovir e outra com o abacavir. Como terceira droga, o efavirenz ainda é o medicamento mais utilizado, seguido do lopinavir/ritonavir e do atazanavir”, afirma Mauro Schechter. RECOMENDAÇÕES PARA O INÍCIO DA TERAPIA Outra mudança esperada para os próximos anos é em relação à definição do melhor momento para o início do tratamento. Um estudo que começa em 2008 pretende avaliar esta questão. “Tudo indica que a sugestão seja para o início mais precoce da terapia anti-retroviral, independente do número de CD4. Acreditase que com isso se possam reduzir os riscos de doenças cardiovasculares e metabólicas, hoje responsáveis por grande parte dos óbitos por aids no DEZEMBRO 2007 SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE DARUNAVIR NO CONSENSO No que diz respeito às descobertas científicas que estarão disponíveis em 2008, a incorporação do darunavir (TMC 114) à terapia anti-retroviral no Brasil vai trazer um alento àqueles pacientes que já estavam sem opção de tratamento devido às múltiplas resistências do HIV às drogas disponíveis. Associado a uma dose pequena de ritonavir, o darunavir mostrou resultados bastante promissores, ao reduzir a carga viral para níveis indetectáveis em 61% dos pacientes pesquisados. Além disso, o novo medicamento demonstrou ser um produto seguro, bem tolerado e bastante eficaz contra o HIV resistente. “O darunavir possui estrutura nãopeptídica que contém em sua molécula um radical de sulfonamida e, portanto, deve ser utilizado com cuidado em pessoas com história de alergia a sulfas”, alerta o Consenso Terapêutico brasileiro, que teve sua última edição ratificada em outubro de 2007, pelo Comitê Assessor do Ministério da Saúde. “A apresentação é de compridos de 300 mg e a dose indicada é de dois comprimidos (600 mg) co-adminstrados com 100 mg de RTV a cada 12 horas, preferencialmente com alimentos”, continua o texto. “Devido à sua comprovada eficácia como droga de resgate e ao seu alto custo, o DRV está sendo considerado por este Comitê como uma droga reservada para casos de multirresistência”, afirma o documento, lembrando aos profissionais de saúde que o darunavir não deve ser usado em monoterapia funcional, ou seja, sem acompanhamento de outra droga ativa. 5 “A adesão é um objetivo a ser buscado pelas equipes e serviços de saúde, estabelecendo-se uma relação de co-responsabilidade entre os profissionais e o paciente”. SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE Márcia Rachid 6 mundo”, diz Schechter. O Comitê Assessor do Ministério da Saúde, responsável pelo Consenso de Terapia brasileiro, já recomenda o início mais precoce do tratamento para pacientes assintomáticos com CD4 entre 200 e 350/mm3. Espera-se, com isso, evitar que a contagem de CD4 se aproxime de 200/mm3. A infectologista Márcia Rachid, da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, lembra, no entanto, que o Consenso de Terapia brasileiro recomenda o início do tratamento em pacientes assintomáticos, somente após eles entenderem e aceitarem a importância da adesão. “A adesão é um objetivo que deve ser buscado pelas equipes e serviços de saúde, estabelecendo-se uma relação de coresponsabilidade entre os profissionais e o paciente”, afirma Rachid. “O mais importante é definir o momento ideal para início da terapia, não só em relação à indicação médica, mas, principalmente, levando em consideração as expectativas do paciente e seu potencial de adesão para atingir pleno sucesso terapêutico” diz a infectologista. DEZEMBRO 2007 VACINA ANTI-HIV AINDA LONGE Passados 25 anos desde que o HIV foi isolado, o desenvolvimento de uma vacina contra a aids ainda é um dos maiores desafios da comunidade científica internacional. Inúmeros estudos estão em andamento no mundo, mas mesmo os pesquisadores mais otimistas afirmam que nos próximos dez anos não teremos uma vacina contra a doença. Outros acreditam que o futuro do controle da epidemia de aids depende única e exclusivamente dos medicamentos anti-retrovirais, cada vez mais eficazes no combate ao HIV. ESTUDO SUSPENSO Recentemente, um estudo clínico de vacinas com um produto considerado bastante promissor, o adenovírus 5, foi suspenso por não se mostrar eficaz na prevenção da infecção em voluntários não portadores do HIV nem na redução da carga viral dos voluntários que se infectaram durante o estudo. Segundo o laboratório que desenvolve a vacina, em comunicado à imprensa, “houve mais infecções nos voluntários que receberam a vacina do que naqueles que receberam placebo”. A empresa garante que a vacina não causa a infecção pelo HIV, mas admite que indivíduos com mais anticorpos de adenovírus possam ter uma maior vulnerabilidade. “Estamos analisando os dados para tentar determinar se os resultados se devem a respostas imunológicas induzidas pela vacina, a diferenças nas populações de estudo ou a algum outro fenômeno biológico que ainda não compreendemos, ou se ocorreram simplesmente ao acaso”, diz o comunicado. VOLUNTÁRIOS INFORMADOS O médico Paulo Feijó Barroso, pesquisador do projeto Praça Onze da Universidade Federal do Rio de Janeiro, responsável por inúmeras pesquisas de vacina no Brasil, lamenta o resultado do estudo com o adenovírus 5: “Este produto parecia ser muito superior aos demais”, diz ele. “Tivemos um retrocesso de seis a sete anos na linha de desenvolvimento de vacinas preventivas”. Outra pesquisa com o adenovírus como vetor combinado a uma vacina de DNA, o Pave 100, programada para iniciar em 2007, foi adiada após a divulgação deste resultado. De acordo com o pesquisador, os voluntários da pesquisa no Brasil já estão informados sobre o resultado do estudo e continuarão sendo assistidos pela equipe do projeto, recebendo aconselhamento sobre formas de prevenção e redução de risco de exposição ao HIV. PREVENÇÃO REFORÇADA Atualmente, três outros estudos de vacinas estão em andamento no Praça Onze e serão continuados. Dois deles em fase I, com número reduzido de voluntários, para avaliar a segurança, tolerabilidade e a imunogenicidade da vacina; e um em fase II, com um grupo maior de pessoas. Há um outro estudo de fase IIB em avaliação nos órgãos regulatórios. Segundo Mauro Schechter, coordenador do Praça Onze, “nenhuma vacina preventiva estará disponível num futuro próximo. Isto reforça a importância das ações preventivas para a redução dos riscos de infecção pelo HIV”. Arquivo do Programa Diretrizes para uma boa adesão ao tratamento Projeto Eu conheço meu tratamento, do Programa Municipal de DST/Aids de Contagem - MG, reúne pacientes para maratona de conhecimento. P ESTRATÉGIAS QUE PODEM AJUDAR NA ADESÃO Além de informar e orientar os profissionais de saúde, as “Diretrizes” apresentam estratégias de ação que podem ajudar na adesão dos pacientes ao tratamento anti-retroviral. MANUAL, SEMINÁRIOS E OFICINAS VÃO APROFUNDAR O TEMA Após as Diretrizes, será lançado um Manual de Adesão para aprofundar o debate sobre o tema. “Será um manual mais prático, para ser utilizado pelos profissionais de saúde que quiserem trabalhar a adesão, mas não sabem como”, afirma Ivana Drummond, psicóloga e assessora técnica do Programa de DST e Aids do Ministério da Saúde. “Vamos incentivar a realização de seminários locais e regionais e oficinas de adesão em congressos nacionais e internacionais” diz a representante do Ministério da Saúde. INICIATIVAS PREMIADAS Recentemente, o Ministério da Saúde premiou seis ações de adesão que concorreram ao Prêmio Nacional de Adesão. Na categoria serviços de saúde, o vencedor foi o Centro de Referência e Treinamento em DST e Aids (São Paulo/SP) pelo projeto Assistência Domiciliar terapêutica e Paliativa – ADTP, seguido do Serviço Ambulatorial Especializado de Araçatuba pelo projeto Estratégias para a adesão e resultados alcançados com pacientes em uso de enfuvirtida do serviço ambulatorial especializado. Em terceiro lugar, o Programa Municipal de DST/Aids de Contagem/MG pelo projeto Eu conheço meu tratamento. Na categoria sociedade civil, os premiados foram: o Instituto Vida Nova, Integração Social, Educação e Cidadania (São Paulo/SP), pelo projeto Malhação Vida Nova; a Associação Sócio-cultural Dias da Cruz (Rio de Janeiro/RJ), pelo projeto Estrelando – uma experiência de videoteca na clínica de Aids do PAM Antônio Ribeiro Netto; e o Grupo Hipupiara, Integração e Vida (São Vicente/SP), pelo projeto Café Cidadão – Grupo de Adesão à Vida. “O prêmio foi um grande incentivo aos serviços e às ONGs e nos ajudou a mapear as ações em prática no país. Estas ações servirão de exemplo e poderão ser replicadas pelos estados e municípios”, conclui Ivana Drummond. DEZEMBRO 2007 SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE rofissionais de saúde comprometidos com seu trabalho sabem que conquistar a adesão do paciente à terapia anti-retroviral é um dos maiores desafios para o sucesso do tratamento. Para auxiliá-los, recentemente, o Ministério da Saúde publicou o documento Diretrizes para o fortalecimento das ações de adesão ao tratamento para pessoas que vivem com HIV/Aids. Um instrumento com estratégias de ações de adesão que podem ser replicadas. “As atividades dos serviços de saúde devem ser organizadas de forma a facilitar a adesão dos usuários não só ao tratamento, mas ao próprio serviço, oferecendo alternativas de atendimento diversificadas e estabelecendo fluxo diferenciado para pessoas com maiores dificuldades. Para tanto, alguns fatores merecem especial atenção: flexibilidade de horário, atenção diferenciada para os diversos grupos populacionais e garantia de cuidado multidisciplinar”, diz o documento de 32 páginas. Entre elas: rodas de conversa, atividades de sala de espera, parcerias com a sociedade civil e consulta conjunta. O documento conclui que “as ações de adesão ao tratamento anti-retroviral pressupõem uma abordagem integrada de diversos elementos, entre eles a redução de vulnerabilidades e estigmas, o fortalecimento da participação dos usuários nos serviços e o diálogo permanente entre as pessoas vivendo com HIV/aids e profissionais de saúde. O papel dos profissionais não é promover adesão a qualquer custo, mas respeitar as escolhas, participando do processo de co-responsabilização do tratamento”. 7 NÚMEROS DA AIDS 2007 Boletim Epidemiológico e relatório da Unaids: dados da epidemia no Brasil e no mundo epidemia de aids no Brasil tende a estabilizar-se nas regiões Sul, Sudeste e CentroOeste e a crescer no Norte e Nordeste do país. Essa é uma das conclusões do Boletim Epidemiológico 2007, divulgado em novembro. Para Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/Aids há “uma leve tendência de aumento da mortalidade” nas regiões Norte e Nordeste do país. Já a região Sudeste registrou o maior percentual de pessoas que continuaram vivas, cinco anos após terem detectado a infecção por HIV: 90%. Seguida do Sul (82%), Nordeste (81%), Centro-Oeste (80%) e Norte (78%). De acordo com Mariângela Simão, os números refletem o problema do diagnóstico tardio e as desigualdades regionais do Sistema Único de Saúde (SUS). “Nosso desafio é reforçar a qualidade da assistência do SUS e ampliar o diagnóstico precoce da in- SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE A 8 fecção pelo HIV, seja nos exames de rotina na rede pública seja no uso do teste rápido”. AIDS CRESCE MAIS ENTRE HOMENS HETEROSSEXUAIS E MULHERES Segundo o Boletim, o número de casos de aids está estável entre os homens homossexuais e diminuiu entre os que usam drogas injetáveis, mas cresce entre homens e mulheres heterossexuais. O levantamento revela ainda que a razão entre homens e mulheres infectados pelo HIV mudou muito no Brasil nos últimos anos: Se em 1985, havia 15 homens infectados para 1 mulher; hoje, a proporção é de 1,5 para 1. “Ainda existe no imaginário coletivo a idéia de que a mulher não faz parte do grupo de risco, quando, na verdade, não há grupo de risco”, comentou a diretora do Programa Nacional de DST e Aids, Mariângela Simão. De acordo com Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/Aids, os números do Boletim Epidemiológico de 2007 refletem o problema do diagnóstico tardio e as desigualdades regionais do Sistema Único de Saúde. DEZEMBRO 2007 Desde o início da epidemia, foram notificados 474.273 casos de Aids em todo o Brasil, sendo 13.071 nos seis primeiros meses deste ano. De acordo com o novo Boletim, 86% dos municípios brasileiros já registraram um caso de aids. Entre 1980 e 2006, o Brasil registrou 192.709 óbitos decorrentes da aids, sendo 9.561 só no ano passado. Número que mantêm a média de 11 mil óbitos por ano, uma vez que os dados recentemente divulgados são preliminares. MORTALIDADE POR AIDS CONTINUA ALTA NO MUNDO Relatório divulgado pela Unaids, Programa das Nações Unidas para HIV/Aids, mostra que a agência superestimou o número de casos de HIV em todo mundo, embora o número permaneça crescente. Em 2006, a Unaids previu 39,5 milhões de pessoas infectadas com o vírus da aids. A metodologia foi revista para 2007 quando se estima que 33,2 milhões de pessoas estão infectadas pelo HIV. A razão para a redução nos números globais da doença no último ano foi a recente revisão das estimativas na Índia, e as revisões feitas em cinco países da África subsaariana (Angola, Quênia, Moçambique, Nigéria e Zimbábue) em 2006. Autoridades da Unaids e da OMS afirmam que estas novas estimativas não mudam a necessidade de ação imediata e de aumento das verbas para dar acesso universal ao tratamento, serviços de apoio e prevenção do HIV. Apesar de o investimento em tratamento contínuo e a prevenção estarem apresentando bons resultados em alguns países, a mortalidade causada pela aids continua alta no mundo. NOVAS INFECÇÕES O relatório da Unaids afirma que, em 2007, 2,5 milhões foram infectados pelo HIV e outros 2,1 milhões morreram devido à aids. A maioria das infecções e óbitos ocorreu na África subsaariana, a região mais afetada pela doença, com 68% do total do mundo. Na América Latina, segundo a agência da ONU, 100 mil novas pessoas foram infectadas pelo HIV em 2007, alcançando 1,6 milhões em todo o continente, e 58 mil óbitos foram registrados na região no último ano. O Brasil responde por quase um terço de todos os infectados no continente. m estudo com 891 prontuários de pacientes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (DIP/HC/ UFMG) revelou que, após dois anos, apenas 39% permaneciam em uso da primeira combinação de anti-retrovirais. Dentre os que mudaram de tratamento, as causas foram, em primeiro lugar, os efeitos colaterais; em segundo, a não adesão ou abandono do tratamento; e, em um grupo menor, por falha da medicação. U “Este achado preocupa, pois a primeira combinação é a que tem maior chance de durar”, afirma a médica Flávia Andrade Ribeiro, que utilizou os resultados numa Dissertação de Mestrado da Faculdade de Medicina da UFMG. “Considerando que em pacientes virgens de tratamento, como os observados, é muito difícil que a medicação não funcione se os remédios forem tomados corretamente, é possível que na maioria dos casos o paciente não tenha usado a medicação de forma correta”, observa a pesquisadora. ADESÃO INTEGRAL O estudo, segundo Flávia Ribeiro, fortalece a importância da adesão integral ao tratamento com anti-retrovirais e da escolha da combinação que possa causar menos efeitos colaterais aos pacientes. “O trabalho busca observar a efetividade das primeiras combinações e, dentre as observadas, a combinação zidovudina + lamivudina + efavirenz foi a que se mostrou mais efetiva”, afirma a médica, reforçando a recomendação do Ministério da Saúde para início de tratamento. A pesquisadora diz que as principais barreiras para uma boa adesão são de fundo social e psicológico, além da falta de compreensão, por parte do paciente, da importância do tratamento. “O acompanhamento das pessoas que vivem com HIV/aids deve ser feito por uma equipe multiprofissional, com psicólogos, farmacêuticos, assistentes sociais e pela equipe de enfermagem, além do médico, para uma melhor adesão do paciente ao tratamento”, conclui. ADESÃO E POBREZA A maioria dos pacientes envolvidos na pesquisa era homem, solteiro, com formação até o ensino fundamental e renda de até dois salários mínimos. O estudo contou com orientação do infectologista mineiro Dirceu Greco, um dos primeiros médicos a tratar pacientes portadores do HIV/aids no Brasil. “A pobreza é o pano de fundo da falta de adesão ao tratamento. Há casos de pacientes que deixam de ir ao hospital porque não têm dinheiro para a condução”, afirma Greco, para quem o estudo ajuda a compreender melhor “um dos maiores problemas de saúde pública do mundo”. DEZEMBRO 2007 SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE VULNERABILIDADE FEMININA “O rosto da Aids é cada vez mais jovem e feminino”, descreveu Kathleen Cravero, diretora executiva do Unaids. As mulheres representam metade dos adultos vivendo com o HIV e a proporção sobe para 60% na região mais castigada pela epidemia, a África Subsaariana. Nessa região, três quartos de todas as pessoas infectadas entre 15 e 24 anos são meninas e jovens mulheres. Segundo o documento do Unaids, as adolescentes estão adquirindo o vírus em idades cada vez menores e de homens mais velhos. A violência contra a mulher é um dos fatores que as tornam vulneráveis à infecção. O relatório diz ainda que muitas mulheres não têm acesso à educação e ao emprego e que a dependência em relação ao homem contribui para a vulnerabilidade feminina, já que elas não têm poder para resistir ao sexo indesejado ou pedir a seus maridos e parceiros que usem preservativos. Pesquisa avalia impacto de primeira combinação de ARVs 9 O encontro da aids com as deficiências Reunião ampliada sobre aids e deficiências, realizada no Hotel Glória, Rio de Janeiro, nos dias 26 e 27 de novembro de 2007. Encontro Nacional sobre Aids e Deficiências, realizado de 26 a 27 de novembro de 2007, no Rio de Janeiro, colocou em debate uma questão importante, porém ainda pouco explorada. Durante os dois dias, pretendia-se identificar situações de vulnerabilidade às DST/HIV/Aids relacionadas às deficiências, aprofundar o debate sobre deficiência como um dos agravos da aids, promover o intercâmbio de experiências e obter subsídios para o aprofundamento destes temas na formulação de políticas públicas. Para isso, foram convidadas cerca de 60 pessoas com trabalhos acerca do tema, além de pessoas vivendo com HIV e aids e deficiências. Sobre o resultado das discussões, a Saber Viver Profissional de Saúde conversou com Ivana Drummond Cordeiro e Ângela Pires, assessoras técnicas do Programa Nacional de DST/Aids. SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE O 10 DEZEMBRO 2007 SV Prof: Há as deficiências decorrentes da aids e as deficiências que acometem soropositivos independentemente do HIV. O Encontro Nacional sobre Aids e Deficiências contemplou os dois grupos? Ivana Drummond e Ângela Pires: Sim. Por um lado falamos do acesso das pessoas com deficiência à informação e insumos de prevenção, diagnóstico, assistência e tratamento das DST/HIV/aids. É comum vermos a família e profissionais de saúde tratando a pessoa com deficiência como um ser assexuado e imune, não passível de adquirir uma DST ou infectar-se pelo HIV/aids. Por outro lado, falamos da deficiência como uma conseqüência do viver com HIV/aids. Muitas vezes o diagnóstico tardio, as complicações das infecções oportunistas e as conseqüências do uso prolongado de antiretrovirais podem levar a uma limitação funcional. Dessa forma, tanto as pessoas com deficiência quanto os serviços de saúde precisam se adaptar a essa nova condição. Nosso objetivo é trabalhar esses dois eixos. Como surgiu a idéia de realizar esse Encontro? Foi o primeiro em torno do assunto? O tema já vinha sendo discutido e acompanhado pelo Programa Nacional nos foros internacionais. Em janeiro de 2007, levamos o tema como oficina para o Seminário Nacional de Direitos Humanos e HIV/aids que aconteceu em Brasília. A partir de então, sentimos necessidade de reunir as diversas experiências para que elas pudessem dialogar e colaborar para a construção de ações mais focadas, que dessem conta das demandas das pessoas com deficiência e HIV/aids. Em seguida fizemos uma reunião ampliada com as diversas áreas do Programa Nacional e especialistas e trabalhamos o tema nos Fóruns Regionais da Saúde da Pessoa com Deficiência. O passo seguinte foi esse encontro que acrescentou as experiências de ONGs e dos próprios portadores de aids e deficiências. Qual foi o papel do PN-DST/Aids no Encontro? Sobretudo o papel de articular com os diversos atores. Foi possível construir uma organização compartilhada da reunião, da qual fez parte, além do Programa de Aids, a Área de Saúde da Pessoa com Deficiência/MS, a Secretaria Especial de Direitos Humanos/Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, Coordenação Estadual de DST/Aids do Rio de Janeiro, o CEDAPS Centro de Promoção da Saúde e o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas. a família e profissionais de saúde tratando construção de materiais e até lançou algumas chamadas de pesquisa. Mas foi somente em 2006 que decidiu aprofundar o debate e aproximar as diversas instituições para pensar o tema. a pessoa com deficiência como um ser assexuado e imune, não passível de adquirir uma DST ou infectar-se pelo HIV/aids. fórum de debates virtual, também em fase de implementação. Já existia uma ação específica do Ministério da Saúde sobre a questão “aids e deficiência”? Sim. Ao longo dos anos, o PNDST/aids participou de eventos sobre deficiências, colaborou na Existe uma ação prevista para 2008? Será um ano importante. Em junho, teremos o VII Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e Aids em Florianópolis, Santa Catarina. Em agosto, teremos a XVII Conferência Internacional de Aids, que reunirá cerca de 20 mil pessoas, entre médicos, cientistas, ativistas, políticos, membros da sociedade civil, organizações não-governamentais e portadores do HIV. Será um espaço para discutirmos com maior ênfase a questão do acesso universal bem como os efeitos secundários da doença, e buscaremos dar visibilidade à correlação entre aids e deficiências. Estamos também incentivando a produção de pesquisas e publicações nessa área, para que tenhamos mais dados que subsidiem nossas ações. DEFICIÊNCIA E ADESÃO AO TRATAMENTO: UM PROBLEMA DE DIFÍCIL SOLUÇÃO o cruzamento entre a aids e as deficiências, o infectologista e pesquisador do IPEC/Fiocruz, Estevão Portela, destaca a questão da regularidade no tratamento. Se o paciente tem uma limitação motora e fica restrito ao leito, ou se é vítima de um déficit cognitivo, isso dificulta sua adesão. Nesses casos em que o paciente depende de um parente ou cuidador para comparecer às consultas médicas e tomar os medicamentos, a deficiência pode até mesmo impedir o tratamento. Estevão lembra que um paciente que tenha perdido a visão ou que tenha outra deficiência qualquer pode ter dificuldade de tomar os medicamentos. O que ele considera mais prejudicial para a adesão, porém, são os casos em que há déficit cognitivo. O tratamento do esquizofrênico, por exemplo, ele qualifica de “uma barata kafkiana”: “Já tive muitos casos de soropositivos esquizofrênicos rejeitados pela família que não podem ter alta simplesmente porque não têm para onde ir”, observa. N DEZEMBRO 2007 SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE Como avaliam o resultado do evento? Foi extremamente importante o encontro e compartilhamento das várias experiências. A partir de agora fica mais fácil elaborarmos nossas ações e dialogarmos com estados e municípios a inclusão do tema. Durante a reunião, foram tiradas várias recomendações quanto à abordagem e às estratégias a serem desenvolvidas pelo governo e pela sociedade civil. Essas recomendações constarão de um documento que está em fase de redação final pelo CEDAPS. As instituições e pessoas que participaram da reunião devem continuar compartilhando suas experiências a partir de um É comum vermos 11 Centro de Testagem e Aconselhamento, uma radiografia ma pesquisa sobre os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) confirma a importância do CTA para promover o diagnóstico e para os municípios priorizarem o controle da epidemia. Mas alerta sobre a extensão limitada da rede no país: menos da metade (209) dos 427 municípios considerados prioritários pelo Ministério da Saúde para o controle da aids conta com o serviço, e 85% das cidades com mais de 25 casos de aids por 100 mil habitantes em 2005 não possuem CTA. A pesquisa encomendada pelo Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde foi elaborada por pesquisadores do U Instituto de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SP), do CRT em DST e Aids (SP), da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia (SP) e da Faculdade de Medicina da USP. O Diagnóstico Situacional dos Centros de Testagem e Aconselhamento do Brasil revela que os desafios para o fortalecimento da rede de CTA no país são inúmeros. “Precisamos aprimorar a estrutura dos serviços mais precários; incluir as populações prioritárias que encontram dificuldades de acesso; agilizar e desburocratizar a oferta de insumos de prevenção e dos exames para aumentar as taxas de retorno; e RECOMENDAÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS NOS CTA: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Priorizar populações mais vulneráveis, garantido a equidade no acesso aos serviços. Ampliar a rede de serviços, articulando estratégias de acesso universal e eqüitativo em áreas prioritárias. Respeitar as capacidades e potencialidades de cada serviço. Definir objetivamente normas de organização e operação. Garantir a realização do diagnóstico da sífilis em todos os serviços. Adequar as ações de prevenção à realidade epidemiológica do município. Incentivar e apoiar as experiências bem sucedidas. Estimular a articulação com outros serviços e com a sociedade civil. Aumentar a oferta de sorologias. Definir estratégias de divulgação dos CTA. Reduzir as taxas de abandono na busca de resultados. Ampliar a abrangência do SI-CTA, o sistema de informação específico desses serviços. Envolver gestores estaduais e municipais e sociedade civil na resolução de problemas. garantir que a implantação de novos serviços ocorra antes que a epidemia ganhe dimensões alarmantes nos municípios. Hoje eles estão sendo implantados, em média, após 14 anos do surgimento dos primeiros casos”, afirma Alexandre Grangeiro, coordenador do estudo. DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO Embora todos os CTA devam realizar o diagnóstico sorológico de HIV e sífilis e a triagem sorológica para hepatites virais, apenas 25% deles oferecem o cardápio completo de sorologias. A pesquisa descobriu ainda que 70% dos CTA impõem algum tipo de dificuldade para o acesso aos insumos de prevenção, como a obrigatoriedade de identificação do paciente, a passagem por atendimento prévio ou a definição de cotas. A situação é mais grave no caso do gel lubrificante, não disponível em 70% dos serviços, e do kit de redução de danos, presente em apenas 16% dos CTA. Os serviços apresentam ainda dificuldades em cumprir o prazo de 15 dias para a entrega de resultados. Apenas metade (53%) entrega o resultado negativo do HIV em até 15 dias. No caso do exame confirmatório, o índice cai para 28%. “Isso reflete nas baixas taxas de retorno de pacientes para o recebimento dos resultados, uma vez que apenas 23% dos serviços têm mais de 90% de retorno”, afirma Grangeiro. Outro problema observado referese à dificuldade de acesso aos serviços por parte das populações mais vulneráveis, como profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis. O estudo recomenda que ações como direito ao anonimato, a prática de CTA volante e a abertura dos serviços em horário estendido – após as 18 horas e nos finais de semana – “podem contribuir para um maior acesso dessas populações marginalizadas que já possuem a característica de não procurar os serviços de saúde por medo do preconceito”, diz o estudo. RECURSOS HUMANOS Em relação à estrutura dos serviços de testagem, a capacidade está longe do ideal, na medida em que 30% dos CTA não contam com todos os espaços necessários – salas de aconselhamento individual, de aconselhamento coletivo, de espera e de coleta. Quando considerados os recursos humanos, 40% não atendem à recomendação do Ministério da Saúde de pelo menos oito pessoas na equipe. Em 19% dos serviços faltam profissionais responsáveis pela coleta e um terço não conta com o mínimo de quatro profissionais de nível superior. No entanto, quase 25% dos CTA têm mais de sete profissionais de nível superior e 22% possuem equipes com mais de 14 integrantes. “Elaboramos uma lista com 13 recomendações básicas ao Ministério da Saúde que, se implantadas, poderão contribuir para a ampliação do diagnóstico do HIV, hepatites e outras DST e para o maior acesso aos insumos de prevenção”, afirma Alexandre Grangeiro. “Como os CTA apresentam uma diversidade enorme em relação à oferta de serviços, potencializar as características que conferem identidade a cada CTA pode permitir o aperfeiçoamento da rede nacional e a ampliação da oferta do diagnóstico e da prevenção no país”, conclui Grangeiro. ADESÃO AO TRATAMENTO: DESAFIOS PARA A ASSISTÊNCIA INTEGRAL À PESSOA VIVENDO COM HIV/AIDS acesso à terapia anti-retroviral no Brasil já completou dez anos. Foi a partir de 1996, após a repercussão da terapia tripla (o “coquetel”) na XI Conferência Internacional de Aids, realizada no Canadá, que o governo brasileiro consolidou sua política de medicamentos para tratamento da infecção pelo HIV, que possibilitou às pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) o acesso universal e gratuito aos anti-retrovirais, inclusive os inibidores de protease. Em 13 de novembro de 1996, era promulgada a Lei nº 9.313/961, proposta pelo Senador José Sarney, que garantia o direito ao acesso universal e gratuito aos portadores do HIV e doentes com Aids à terapia anti-retroviral (Brasil, 1999). Após dez anos da implementação desta política, inegáveis avanços foram alcançados: estima-se que no período entre 1996 e 2002 houve redução de 50% na mortalidade e de 70% da morbidade dos casos de Aids no país. (Brasil, 2007) Com a experiência acumulada pela prescrição de anti-retrovirais ao longo destes 10 anos, os profissionais de saúde que assistem às PVHA paulatinamente entraram em contato com as vicissitudes que a terapia anti-retroviral provoca na vida das pessoas. Entendendo que adesão ao tratamento não se restringe à simples prescrição por parte dos médicos e tomada correta dos medicamentos por parte da PVHA, é imperativo discutir modelos de atenção que propiciem um olhar integral, voltado para a pessoa, levando em conta a sua singularidade, com os aspectos emocionais, culturais, econômicos e religiosos. Abordar parâmetros biomédicos faz parte da rotina profissional médica. Entre- SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE O 14 tanto, o momento atual na assistência às PVHA demanda estratégias que vão além do campo biomédico, direcionadas para o enfrentamento das dificuldades de adesão ao tratamento. A vivência da soropositividade e o tratamento da infecção pelo HIV suscitam sentimentos e questionamentos por parte das PVHA. Os profissionais de saúde devem estar atentos para os possíveis obstáculos à adesão. Algumas situações específicas merecem destaque neste texto. Algumas pessoas, por não apresentarem sintomas, demonstram dificuldades de aceitação para início da terapia anti-retroviral. Existe uma concepção arraigada de que remédios devem ser prescritos para quem está adoecido, isto é, apresentando sinais e/ou sintomas da doença. Nestes casos, é aconselhável que o médico aborde esta questão no momento de prescrição do primeiro esquema anti-retroviral. As pessoas que vivem em situação de exclusão social apresentam dificuldades que demandam ações, que vão desde a garantia do acesso às unidades de saúde (transporte, acolhimento pela equipe de saúde, etc.) até respostas intersetoriais como o estabelecimento de parcerias com ONG e serviços de assistência social e jurídica. Algumas pessoas têm dificuldade para custeio do transporte para a unidade de saúde onde realizam seu tratamento. Em alguns municípios está garantida a gratuidade em transportes coletivos, o que facilita o comparecimento às unidades de saúde para consultas, realização de exames complementares e aquisição dos medicamentos. Debora Fontenelle, Clínica Geral HUPE/UERJ, doutorado em saude coletiva Concluindo, a adesão ao tratamento tem representado um desafio para a assistência às pessoas vivendo com HIV/Aids. Entendendo que adesão ao tratamento não se limita ao uso correto e adequado dos medicamentos antiretrovirais, as equipes de saúde devem procurar abordar também outras questões relacionadas ao viver e conviver com HIV/Aids. Questões essas que permeiam não apenas o processo de adesão ao tratamento, assim como o próprio processo de cuidado em HIV/Aids. Nos dias atuais, a abordagem da adesão ao tratamento significa ampliar a discussão para além de remédios e efeitos colaterais. Afinal, tratamento não se limita a prescrever remédios e fornecer orientações. Tratar é cuidar e apreender a singularidade de cada pessoa que vive com HIV/Aids. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. A resposta brasileira ao HIV/Aids: experiências exemplares. 1999. ______. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o fortalecimento das ações de adesão ao tratamento para pessoas que vivem com HIV e Aids. 2007. 1 LEI 9.313/96 - É de responsabilidade do governo a disponibilização do tratamento mais adequado aos pacientes infectados pelo HIV dentro de parâmetros técnicos e científicos definidos pelo Ministério da Saúde por intermédio do Programa Nacional de DST/Aids. DEZEMBRO 2007 Compromisso com o melhor da medicina e da informação acesse: www.msdonline.com.br Aids/HIV Asma SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE Doenças MC 462/05 09-2008-STO-05-BR-462-J DEZEMBRO 2007 15 15 Área útil ONGS QUE AUXILIAM NA ADESÃO AO TRATAMENTO ALAGOAS Grupo de Adesão Renascendo a Esperança Desenvolve ações na prevenção da TMI (Transmissão Materno Infantil) com grupos de mães e gestantes soropositivas, priorizando a adesão ao tratamento e a melhoria da auto-estima, através de atividades educativas, oficinas profissionalizantes e dinâmicas psicológicas. Rua Dias Cabral, 569 / Sala 205 - Centro. Maceió - AL - Tel: (82) 3315-5197 [email protected] [email protected] BAHIA Grupo Incentivo do Hospital Geral Roberto Santos Reuniões às 3ª feiras das 10h às 11h na sala de espera do ambulatório de infectologia. Avenida Saboeiro s/nº - Cabula - Salvador - BA CEARÁ COAS- Centro de Orientação e Apoio Sorológico Rede de assistência composta por Orientação e Apoio Sorológico. Ambulatório de DST/Aids referência para 52 municípios da região norte do estado do Ceará Av. Jose Euclides Ferreira Gomes S/N Expectativa (Próximo ao Laboratorio Regional Saída para Massapê). Sobral - CE Tel: (88) 3614-7251 MATO GROSSO Gass- Grupo de Apoio e Prevenção a Aids Rua do Touro, 493 - Vila Nhanhá. Campo Grande - MS - Tel. (67) 3346-5066 PARAÍBA Missão Nova Esperança Serviços para as PVHA: Assessoria Jurídica; Cursos de Informática e Artesanato; Acompanhamento Psicológico (individual e em grupo); Acompanhamento ambulatorial; Visitas domiciliares; Oficinas temáticas; Plantões espiritual; Grupo de Dança Gospel; Grupo de teatro com fantoches. Rua Eurípedes Tavares, 251 - Centro. João Pessoa - PB. CEP: 58013-290. Telefax: (83) 32228387 PARANÁ Grupo Amigos Formado por portadores do HIV/aids, seus familiares e amigos. Faz palestras em escolas e comunidades e visitas hospitalares. Reuniões todas as quartas e sábados às 19h. R João Zaleski, 35 - Vila Lindóia. Curitiba - PR - CEP: 81010-080. Tel. (41) 3346 565 [email protected] Grupo Esperança Conscientizar sobre a importância do uso da medicação anti-retroviral, bem como trabalhar questões de cidadania, auto-estima e sexualidade. Reuniões Sexta-feira das 14h às 17h. Travessa Tobias de Macedo, 53 / 2º andar, sala 4. CEP: 80.020.210 Cx Postal 554 80.001.970. Curitiba - PR Tel (41) 3323-7825 - Fax (41) 3323-2049 [email protected] / www.grupoesperanza.com.br RIO DE JANEIRO AVIDHA - Assoc. Valorização e Integração dos Diagnosticados de HIV/Aids Reuniões todas as 6ª feiras a partir de 14h no PAM 13 de Maio (Av. 13 de Maio, 23 15º andar - Centro). Reuniões de 2ª a 6ª das 09h às 20h, na Sede: Rua Fernandes Portugal, 18 - Engenho da Rainha Tel. (21) 3979-5240 GATAHI Grupo de adesão - 3ª feira (manhã) e 4ª feira (tarde) Fisioterapia preventiva -3ª feira e 5ª feira (tarde) Orientação Psicológica - 4ª feira (tarde) e 5ª feira (manhã e tarde) No Hospital de Ipanema: Rua Antonio Parreira, 67 - térreo. Tel (21) 3111-2333 SÃO PAULO GAPA/Ribeirão Preto Apoio Técnico-Profissional, Prevenção, Socialização e ativismo Visconde do Rio Branco, 836 CEP:14015-000 - Ribeirão Preto -SP [email protected] www.gaparp.org.br GIV - Grupo de Incentivo à Vida O projeto Cuidador Solidário visa dar auxílio prático aos soropositivos, como acompanhantes para realizar exames, ajudar na adesão aos medicamentos e diminuir a exclusão social. Os cuidadores atendem domiciliarmente e nas salas ambulatoriais. Já atua no CRT Santa Cruz e na Casa da Aids. Em breve, estará também no Hospital Emílio Ribas e no Hospital São Paulo. Doações: O GIV tem a intenção de dar continuidade ao projeto por um prazo maior, com a manutenção do trabalho atual e a formação de novos cuidadores solidários, mas para isso é necessário encontrar novos parceiros que queiram financiar a iniciativa. Os interessados em colaborar com doações devem procurar uma agência do Bradesco e fazer um depósito na conta corrente nº 076095-1, agência 093-0. Outras Atividades: Grupo Vivência Terapêutica (GVT): toda 2ª feira às 19:45h Viver Criança e Adolescente (ensinar a respeitar a diversidade humana e o enfrentamento da epidemia da Aids): aos sábados (quinzenal) Toque de Mulher: 5º feira (quinzenal) às 19:45h Somos (espaço para gays masculinos): 5ª feira (quinzenal) às 19:45h Rua Capitão Cavalcante, 145 - Vila Mariana. São Paulo-SP - Cep: 04.017-000. Tel : (11) 5084-0255 [email protected] / www.giv.org.br VENCEDORES DO PRÊMIO NACIONAL DE ADESÃO DO PNDST/AIDS (VER MATÉRIA PÁG 7) CATEGORIA SERVIÇOS DE SAÚDE: CATEGORIA SOCIEDADE CIVIL: Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids Projeto Assistência Domiciliar Terapêutica e Paliativa - ADTP Rua Santa Cruz, 81 - Vila Mariana São Paulo - SP - Tel (11) 5084-5235 Responsável: Tânia Regina Corrêa de Souza tâ[email protected] Instituto Vida Nova - Integração Social, Educação e Cidadania Projeto Malhação Vida Nova Rua Professor Assis Veloso, 226 - Jd. São Vicente - São Paulo - SP. CEP. 08024-470 Tel (11) 6297-1516 / 6956-9817 / 9953-1101 Responsáveis: Américo Nunes Neto e Jorge Eduardo Reyes Rodriguez [email protected] Serviço Ambulatorial Especializado de Araçatuba Projeto Estratégias para a adesão e resultados alcançados com pacientes em uso de enfuvirtida do serviço ambulatorial especializado Rua Afonso Pena, 1.537 Vila Mendonça - Araçatuba - SP Tel (18) 3621-5171 Associação Sócio-cultural Dias da Cruz Projeto Estrelando - uma experiência de videoteca na clínica de Aids do PAM Antônio Ribeiro Netto Rua Itabaiana, 21 Parte - Grajaú - Rio de Janeiro - RJ - Tel.: (21) 2565-8195 / 88398860 Responsável: Marilza Emília da Conceição Rodrigues - [email protected] Programa Municipal de DST/Aids de Contagem Projeto Eu conheço meu tratamento. Av. João César de Oliveira, 2889 - Eldorado Contagem - MG - Tel (31) 3352-5793 Grupo Hipupiara - Integração e Vida Projeto Café Cidadão - Grupo de Adesão à Vida. Rua Caminho dos Barreiros 74 - São Vicente SP- Cep: 11.320-080 Tel (11) 3467-0853 / (13) 3466-4007