UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS A Equação de Onda do Campo Eletromagnético no Vácuo Prof. Dr. José Fernando Fragalli Departamento de Física – Centro de Ciências Tecnológicas Universidade do Estado de Sana Catarina 1. As Equações de Maxwell Como sabemos, o Eletromagnetismo baseia-se nas Equações de Maxwell. Em sua forma diferencial [1] as Equações de Maxwell são expressas como mostrado abaixo. r r ∇•D = ρ r r ∇•B = 0 r r r ∂B ∇× E = − ∂t r r r r ∂D ∇× H = J + ∂t 1a 1b 1c 1d r r Na Equação 1, D é o vetor deslocamento elétrico, ρ é a densidade de carga elétrica, B é o vetor r r r campo magnético, E é o vetor campo elétrico, H é o vetor intensidade magnética e J é o vetor densidade de corrente elétrica. O deslocamento elétrico e o campo elétrico estão relacionados através da equação constitutiva [2] mostrada abaixo. r r D =ε ⋅E 2 Na Equação 2, ε é a permissividade elétrica do meio. Por sua vez, o campo magnético e a intensidade magnética estão relacionados através da equação constitutiva [3] também mostrada abaixo. r r B = µ⋅H 3 Na Equação 3, µ é a permissividade magnética do meio. 2. As Equações de Maxwell para o Vácuo Por definição o vácuo é ausência de matéria. Assim, na situação em que o meio onde se encontra o campo eletromagnético é o vácuo não existem cargas elétricas, o que significa que tanto a densidade de carga elétrica é nula (ρ = 0), quanto a densidade de corrente elétrica também é nula r ( J = 0). Assim, no caso do vácuo a Equação 2 passa a ser escrita como abaixo. r r D = ε0 ⋅ E 4 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS Na Equação 4 ε0 = 8,8542×10-12 C2/N⋅m2 é a permissividade elétrica do vácuo. Por sua vez, também no caso do vácuo a Equação 3 passa a ser escrita como abaixo. r r B = µ0 ⋅ H 5 Na Equação 5 µ0 = 4⋅π×10-7 T⋅m/A é a permissividade magnética do vácuo. Substituímos a Equação 4 e a Equação 5 na Equação 1 e levando em conta que tanto ε0 r quanto µ0 são constantes, além do fato de ρ = 0 e J = 0 encontramos o conjunto de equações mostradas abaixo. r r ∇•E = 0 r r ∇•B = 0 r r r ∂B ∇× E = − ∂t r r r ∂E ∇ × B = µ0 ⋅ ε 0 ⋅ ∂t 6a 6b 6c 6d Observamos que na Equação 6 temos apenas representados o campo elétrico e o campo magnético em equações acopladas, isto é, equações nas quais o rotacional de um campo depende da variação temporal do outro campo (Equação 6c e Equação 6d). Por fim, temos que ter clareza que a Equação 6 é uma simplificação das Equações de Maxwell, válida apenas para o vácuo. 3. A Equação de Onda para o Campo Elétrico Partimos então da Equação 6c, e calculamos o operador rotacional em ambos os lados da igualdade. r r r r r ∂B ∇ × ∇ × E = −∇ × ∂t ( ) 7 Observemos o lado esquerdo da Equação 7. Vamos utilizar aí a identidade vetorial mostrada r abaixo, válida para qualquer campo vetorial F [4]. ( ) ( ) r r r r r r r ∇ × ∇ × F = ∇ ∇ • F − ∇2F 8 Em outras palavras a identidade vetorial expressa pela Equação 8 mostra que “o rotacional do rotacional de um campo vetorial é igual ao gradiente de sua divergência menos o seu laplaciano”. Aplicamos a identidade vetorial contida na Equação 8 especificamente para o campo elétrico e obtemos o resultado mostrado abaixo. ( ) ( ) r r r r r r r ∇ × ∇ × E = ∇ ∇ • E − ∇2E 9 Por sua vez, a Equação 6a nos mostra que para o vácuo a divergência do campo elétrico é nula, o que nos leva a uma simplificação da Equação 9, mostrada abaixo. UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS ( ) r r r r ∇ × ∇ × E = −∇ 2 E 10 Substituímos então a Equação 10 na Equação 7 e obtemos o resultado mostrado abaixo. r r r ∂B − ∇ E = −∇ × ∂t 2 11 Vamos agora voltar nossa atenção para o lado direito da Equação 11. Lembremos que derivadas parciais são operações comutáveis [5]. Desta forma, na Equação 11 não alteramos a igualdade ao inverter a posição da derivada temporal com a derivada espacial, o que nos leva ao resultado mostrado abaixo. r r ∂B ∂ r r ∇ × = ∇× B ∂t ∂t ( ) 12 Observamos que na Equação 12 surge o rotacional do campo magnético, cuja expressão está contida na Equação 6d. Substituímos então a Equação 6d na Equação 12. r r r r ∂B ∂ ∂E ∂2E = µ0 ⋅ ε 0 ⋅ 2 ∇ × = µ 0 ⋅ ε 0 ⋅ ∂t ∂t ∂t ∂t 13 Substituímos então a Equação 13 na Equação 11. r r ∂2E − ∇ E = −µ0 ⋅ ε 0 ⋅ 2 ∂t 2 14 Uma simples manipulação da Equação 14 nos conduz finalmente ao resultado final para a Equação de Onda do Campo Elétrico. r r 1 ∂2E ∇ E− 2 ⋅ 2 =0 c ∂t 2 15 Na Equação 15 escrevemos a velocidade da luz no vácuo c em termos das constantes µ0 e ε0 como mostrado abaixo. c= 1 = 2,9979 × 10 8 µ0 ⋅ ε 0 m/ s 16 Analisemos com atenção a Equação 15. Observamos que nela está presente apenas o campo elétrico respeitando uma equação diferencial cuja estrutura é conhecida como Equação de Onda. r No caso geral, uma onda escalar Ψ( r ,t) obedece a seguinte equação diferencial [6] UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS ∇2Ψ − 1 ∂ 2Ψ =0 v 2 ∂t 2 17 Na Equação 17 v é a velocidade de propagação da onda. Por analogia, podemos afirmar que no vácuo o campo elétrico obedece a uma Equação de Onda e que este campo elétrico se propaga com a velocidade da luz neste meio. 4. A Equação de Onda para o Campo Magnético Para obter um resultado similar para o campo magnético, repetimos o procedimento anterior. Partimos agora da Equação 6d, e calculamos o operador rotacional em ambos os lados da igualdade. r r r r r ∂E ∇ × ∇ × B = ∇ × µ 0 ⋅ ε 0 ⋅ ∂ t ( ) 18 Vamos utilizar no lado esquerdo da Equação 18 a identidade vetorial contida na Equação 8, já vista anteriormente, aplicada agora ao campo magnético. ( ) ( ) r r r r r r r ∇ × ∇ × B = ∇ ∇ • B − ∇2B 19 Por sua vez, a Equação 6b nos mostra que a divergência do campo magnético é nula, o que nos leva a uma simplificação da Equação 19. ( ) r r r r ∇ × ∇ × B = −∇ 2 B 20 Substituímos então a Equação 20 na Equação 18. r r r ∂E − ∇ B = ∇ × µ 0 ⋅ ε 0 ⋅ ∂ t 2 21 Vamos agora voltar nossa atenção para o lado direito da Equação 21. Lembremos que µ0 e ε0 são constantes e, portanto podem ser tiradas para fora do rotacional; além disso, lembremos mais uma vez que derivadas parciais são operações comutáveis [5]; desta forma, na Equação 21 não alteramos a igualdade ao inverter a posição da derivada temporal com a derivada espacial, o que nos leva ao resultado mostrado abaixo. r r ∂B ∂ r r = µ0 ⋅ ε 0 ⋅ ∇ × E ∇ × µ 0 ⋅ ε 0 ⋅ ∂t ∂t ( ) 22 Observamos que na Equação 22 surge o rotacional do campo elétrico, cuja expressão está contida na Equação 6c. Substituímos então a Equação 6c na Equação 22. r r r r ∂B ∂ ∂B ∂2B = µ0 ⋅ ε 0 ⋅ − = −µ 0 ⋅ ε 0 ⋅ 2 ∇ × µ 0 ⋅ ε 0 ⋅ ∂t ∂t ∂t ∂t 23 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS Substituímos então a Equação 23 na Equação 21. r r ∂2B − ∇ B = −µ 0 ⋅ ε 0 ⋅ 2 ∂t 2 24 Uma simples manipulação da Equação 24 nos conduz nos conduz finalmente ao resultado final para a Equação de Onda do Campo Magnético. r r 1 ∂2B ∇ B− 2 ⋅ 2 =0 c ∂t 2 25 Também na Equação 25 aparece velocidade da luz no vácuo, já definida anteriormente pela Equação 16. Analisemos com atenção a Equação 25. Observamos que, como no caso da Equação 15, nela está presente agora apenas o campo magnético respeitando uma equação diferencial que tem a mesma estrutura que o caso do campo elétrico; isto significa que o campo magnético no vácuo também obedece a Equação de Onda e que este campo magnético também se propaga com a velocidade da luz neste meio. 5. A Equação de Onda para o Campo Eletromagnético Coloquemos então lado a lado a Equação de Onda do Campo Elétrico e a Equação de Onda do Campo Magnético. r r 1 ∂2E ∇ E− 2 ⋅ 2 =0 c ∂t r r 1 ∂2B ∇2 B − 2 ⋅ 2 = 0 c ∂t 2 26a 26b A Equação 26 mostra duas equações diferenciais desacopladas, uma para o campo elétrico e outra para o campo magnético. Embora nesta estrutura o campo elétrico e o campo magnético obedeçam cada um à sua própria equação diferencial, a Equação 26a e a Equação 26b não são independentes. Lembremos que a sua derivação foi obtida a partir das Equações de Maxwell, onde o campo elétrico e o campo magnético são interdependentes entre si. Devemos ter sempre em mente que, mais importante que obedecer às Equações de Onda (Equação 26) o campo elétrico e o campo magnético tem que obedecer às Equações de Maxwell. Isto porque as Equações de Maxwell expressam matematicamente a natureza dos efeitos elétricos e magnéticos. A Equação 26 constitui o que se convenciona chamar de Equação de Onda Eletromagnética. Bibliografia [1] – REITZ, J. R., MILFORD, F. J. e CHRISTY, R. W. – Fundamentos da Teoria Eletromagnética – 3a Edição – pg. 326 – Editora Campus – Rio de Janeiro, 1982. [2] – REITZ, J. R., MILFORD, F. J. e CHRISTY, R. W. – Fundamentos da Teoria Eletromagnética – 3a Edição – pg. 92 – Editora Campus – Rio de Janeiro, 1982. [3] – REITZ, J. R., MILFORD, F. J. e CHRISTY, R. W. – Fundamentos da Teoria Eletromagnética – 3a Edição – pg. 195 – Editora Campus – Rio de Janeiro, 1982. [4] – REITZ, J. R., MILFORD, F. J. e CHRISTY, R. W. – Fundamentos da Teoria Eletromagnética UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE FÍSICA – DFIS – 3a Edição – pg. 31 – Editora Campus – Rio de Janeiro, 1982. [5] – SWOKOWSKI, E. W. – Cálculo com Geometria Analítica – Volume 2 – 2a Edição – pg. 377 – Pearson Education do Brasil, São Paulo, 1991. [6] – NUSSENZVEIG, H. M. – Curso de Física Básica – Volume 2 (Fluidos, Oscilações e Ondas, Calor) – 3a Edição – pgs. 98-103 – Editora Edgard Blücher Ltda. – São Paulo, 1983.