AVALIAÇÃO DE ISOLADOS BACTERIANOS DE GIRASSOL (Helianthus annus) PARA A PRODUÇÃO DE AUXINA Otto Stadler de Souza (IC/UEL), Paulo Ricardo Franco Marcelino, (IC/UEL), Evandro Zeidel (IC/UEL), André Luiz Martinez de Oliveira (Orientador), email: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Exatas – Departamento de Bioquímica e Biotecnologia Palavras-chave: Microbiologia crescimento vegetal, inoculante. do solo, bactérias promotoras do Resumo: Estudos de associações entre microrganismos promotores do crescimento em plantas apresentam enorme potencial devido aos benefícios dados sobre a produtividade. A cultura do girassol possui aspectos interessantes para o agronegócio, com a crescente demanda por óleos vegetais para a indústria alimentícia e como matéria-prima na produção de combustíveis renováveis. Nesse âmbito, a prospecção de microrganismos promotores de crescimento para esta cultura é uma importante ferramenta no desenvolvimento de insumos biotecnológicos para uso comercial. Dentre os efeitos atribuídos à promoção do crescimento vegetal por microrganismos, a capacidade de síntese de auxina aparece como um dos mecanismos ativos no aumento de produtividade. Neste trabalho foram avaliados 51 isolados bacterianos associados ao girassol, obtidos a partir de diferentes partes da planta (rizosfera, raízes, colo e capítulo), quanto à capacidade de produção de auxina. Os resultados mostram que 18 isolados apresentaram capacidade de produzir auxina em meio de cultivo específico. Dentre estes isolados, apenas 4 tiveram a produção quantificada, sendo identificado um genótipo altamente eficiente na produção deste fitormônio. Introdução O estudo de associações naturais entre microrganismos promotores do crescimento em plantas vem demonstrando enorme potencial para diversas culturas, existindo inclusive inoculantes comerciais para algumas delas (Bucher e Reis, 2008). Entretanto, pouco se sabe sobre a dinâmica dos microrganismos em culturas ainda pouco exploradas, dentre as quais a cultura do girassol. Esta cultura apresenta enorme potencial para o agronegócio brasileiro, pela crescente demanda de óleos vegetais para a indústria de alimentos e como matéria-prima na produção de combustíveis renováveis (Cáceres, D. R., documento eletrônico), e o conhecimento da diversidade microbiana associada ao girassol pode levar a técnicas e/ou produtos que explorem associações naturais e atuem positivamente sobre a produtividade vegetal. Dentre os efeitos atribuídos à promoção do Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 crescimento vegetal por microrganismos, a capacidade de síntese de auxina (ácido 3-indolacético ou AIA) é uma das mais estudada, e amplamente distribuída entre bactérias associativas (Dobbelaere et al., 2003). Acredita-se que o efeito do AIA produzido pelas bactérias estimule a proliferação radicular das plantas, aumentando assim a absorção de água e nutrientes do solo pela planta, estimulando o seu crescimento. Neste trabalho foram avaliados 51 isolados bacterianos obtidos a partir de diferentes partes da planta de girassol (rizosfera, raízes, colo e capítulo), identificando-se quais são capazes de produzir o fitormônio auxina, bem como a quantificação da produção deste fitormônio pelos isolados mais promissores. Materiais e Métodos Isolados Os isolados bacterianos foram obtidos a partir da rizosfera, da raiz, do colo da planta e do capítulo do girassol, a partir de duas variedades cultivadas no campo experimental da Embrapa Soja (Londrina-PR), segundo Porto et al., 2008. Os isolados obtidos compreendiam representantes da rizosfera (Z), da raiz (R), do colo (C) e do capítulo (A). Todos os isolados estavam armazenados a –20 oC em glicerol. Para a realização dos ensaios, os microrganismos foram cultivados em meio líquido Dygs por 24 h, sendo transferidos para os meios utilizados nas avaliações qualitativas e quantitativas. Teste Qualitativo Os isolados foram cultivados em tubos de ensaio com 5 mL de meio Dygs adicionado a 100µL de solução de triptofano para a produção de auxina, permanecendo em shaker por 48hrs a 200 rpm e a 28°C. Após esse período foi retirado 1 mL do cultivo e foi adicionado 0,667mL de Reagente de Salkowski (Rodrigues et al., 2007) verificando cor avermelhada característica da presença de indóis, caracterizando o resultado positivo. Foram utilizados os mesmos microrganismos cultivados em meio Dygs sem triptofano como controle negativo da reação. Teste Quantitativo Foram selecionados 4 isolados para a quantificação da produção de auxina, a partir dos resultados qualitativos. Para este fim, foram construídas duas curvas de calibração, uma para auxina utilizando ácido-3-indol-acético e outra para proteínas utilizando soroalbumina bovina. Para a quantificação de auxinas foi utilizado o ensaio de Salkowski, e para a quantificação de proteínas totais foi utilizado o método de Bradford (Rodrigues, 2008). O cultivo foi feito da mesma maneira que o teste qualitativo, sendo posteriormente tratado como segue. Os cultivos foram centrifugados a 9000 rpm por 5min, sendo utilizado 1 mL do sobrenadante para a reação de Salkowski. A biomassa bacteriana presente no precipitado foi lavada por 3 vezes em solução salina, e ressuspensa em 5mL de NaOH 0,1M para a lise das células, permanecendo em banho-maria a 90°C por 30 minutos. Deste Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 lisado, foi utilizado 0,1 mL para a quantificação de proteínas totais pelo método de Bradford. Resultados e Discussão AIA ug mL-1 Teste Qualitativo Dos 51 isolados estudados, 18 apresentaram coloração avermelhada característica da presença de indóis, quando submetidos ao reagente de Salkowski. Destes isolados, sendo 7 eram provenientes do ambiente rizosférico, 5 de raízes, 3 do colo da planta e 3 do capítulo. Diversas bactérias capazes de colonizar estes habitats já foram identificadas como capazes de produção de auxinas, sendo algumas inclusive utilizadas como inoculante comercial para gramíneas no Brasil e outros países (Bucher e Reis, 2008). Nossos resultados apresentam uma maior proporção de bactérias de rizosfera como capazes de síntese de auxina, além de identificar bactérias presentes em todos os tecidos estudados como produtoras deste fitormônio. Figura 1 - Concentração de auxina por proteína (µg/mg de proteína) Teste Quantitativo As avaliações qualitativas apresentam uma capacidade diferente de síntese de auxina entre os isolados estudados (Figura 1). Um isolado obtido a partir da raiz de girassol (variedade Aguará-3) apresentou um grande potencial de síntese, quando comparado aos isolados de capítulo e colmo. A capacidade de síntese de auxina pelo isolado RM, comparada aos dados de literatura (Soares-Júnior e Martin-Didonet, 2008), foi bem mais elevada. Os efeitos da inoculação deste isolado sobre o crescimento de plantas de girassol irá determinar se esta elevada produção de auxina promove efeitos tóxicos para as plantas inoculadas. Conclusões Foi possível identificar isolados bacterianos com capacidade de produção de auxinas, obtidos de todas as partes vegetais estudadas: rizosfera, raízes, colo e capítulo. Dentre os isolados identificados como produtores de auxina, Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 um se destacou pela elevada capacidade de síntese deste fitormônio, obtido de raízes de girassol. Referências Bucher, C. A. e Reis, V. M. Biofertilizante contendo bactérias diazotróficas. Série Documentos, Embrapa Agrobiologia, 17p. 2008. Cáceres, D. R. Cultura do girassol. DSMM/CATI – NPS Ribeirão Preto. Documento eletrônico acessado em 28/06/2009. Página da web: www.cati.sp.gov.br/novacati/tecnologias/producao_agricola/girassol/cultura_ girassol.htm. Dobbelaere, S.; Vanderleyden, J.; Yaacov, O. Plant growth-promoting effects of diazotrophs in the rhizosphere. Critical Reviews in Plant Sciences, 22(2):107-149, 2003. Fages, J.; Lux, B. Identification of bacteria isolated from roots of sunflower (Helianthus annuus) cultivated in a French soil. Canadian Journal of Microbiology, 37:971-974, 1991. Porto, T. P. C.; Horikoshi, H. M.; Zeidel, E.; Granzotto, G.; Marcelino, P. R. F.; Oliveira, A. L. M. Avaliação preliminar da comunidade bacteriana associada a plantas de girassol (Helianthus annus) e capacidade de produção de auxina por alguns isolados. In: IV Semana de Biotecnologia da Universidade Estadual de Londrina, Depto. de Bioquímica e Biotecnologia Ed., Anais. p. 8, 2008. Disponível em: www.uel.br/eventos/semanabiotec/2008/arquivos/Anais.pdf Rodrigues, E.P. Isolamento e Caracterização de mutantes de Gluconacetobacter diazotrophicus defectivos na produção de auxinas. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008. Rodrigues, E. P.; Oliveira, A. L. M.; Vidal, M. S.; Simões-Araújo, J. L.; Baldani, J. I. Obtenção e Seleção de Mutantes Tn5 de Gluconacetobacter diazotrophicus (Pal 5) com Alterações na Produção de Auxinas. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. Embrapa, Seropédica, Rio de Janeiro, 20 p. 2007. Soares-Júnior, C. P. e Martin-Didonet, C. C. G. Produção de ácido 3indolacético in vitro por bactérias Rhizobiaceas promotoras de crescimento vegetal. In: VI Seminário de Iniciação Científica da UEG, Resumo 81. 2008. Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009