Texto integral - Embrapa Cerrados

Propaganda
CERRADO: OS ALUNOS DE BIOLOGIA E GEOGRAFIA CONHECEM OU
IGNORAM?
1
Marina Vasconcelos Kipnis (1.Centro Universitário UniCeub, Brasília-DF, email:
[email protected])
Palavras-chave: Cerrado; flora, fauna, Biologia, Geografia, Educação ambiental
Introdução
Nos dias de hoje, o crescimento urbanístico da sociedade está se desenvolvendo muito
rapidamente (Cortez, 2003). O ser humano urbano encontra-se cada vez mais afastado do
ambiente natural, por isso hoje se buscam formas de fazer com que as pessoas valorizem os
ambientes naturais (Carvalho, 2000). Tendo em vista essa problemática associada a um
processo de urbanização cada vez mais intenso, devem-se procurar formas para impedir essa
crescente degradação da natureza (Aquino, 2001). A educação ambiental cada dia mais se
expande na sociedade, ampliando as possibilidades do debate. Justamente, essa perspectiva
procura melhorar a relação entre o Homem e a natureza, proporcionando estímulos para a
valorização e a preservação da fauna e flora nativas (Correa, 2004). O Brasil é bastante rico
na sua biodiversidade. Nele existem inúmeros biomas. Um deles pode ser destacado como o
segundo maior do Brasil: o Cerrado. O seu nome deriva da língua espanhola e significa
fechado em de sua vegetação densa e é muito rico devido a sua fauna e flora. A flora do
Cerrado também necessita de mais estudos. Até hoje se descobriu em torno de dez mil
espécies nativas e ainda está se pesquisando a utilização delas. (Bizerril, 2004).
Essa preocupação com a educação, especialmente com a ambiental e direcionada para
um maior conhecimento sobre a flora e fauna dos biomas, está diretamente ligada à formação
de professores, principalmente para a educação básica (Pinheiro, 2004). Esse conhecimento é
trabalhado nos currículos das diversas licenciaturas e permitem que os futuros professores
conheçam esse assunto, tema central desse trabalho. Para isso, foi feita essa pesquisa em
caráter exploratório e bastante delimitada. Trabalhou-se com os alunos dos primeiros e
últimos semestres dos cursos de Biologia e Geografia de uma instituição de ensino superior1,
focando especificamente o conhecimento deles sobre a flora nativa do Cerrado.
1
Escolheu-se o Centro Universitário UniCeub, localizado em Brasília.
Nesse sentido, esse estudo teve dois objetivos principais: de um lado, buscou identificar
o nível de conhecimento dos estudantes dos cursos de graduação em Biologia e Geografia no
que se refere às plantas nativas brasileiras do Cerrado e por outro, procurou-se verificar se
existem diferenças no grau de conhecimento desses estudantes dos primeiros e últimos
semestres de cada curso e entre estudantes que escolheram cursos distintos.
Material e Métodos
A avaliação do conhecimento dos alunos a respeito das plantas nativas do Brasil e
especificamente do Cerrado foi realizada entre 03 de março a 30 de maio de 2005, por meio
de entrevista estruturada, semi-aberta empregando ainda 10 fotografias com imagens de
plantas do Cerrado. Havia 50 alunos do curso de Biologia e 50 do curso de Geografia, que
participaram deles do início do curso e metade do último ano. A escolha dos alunos não foi
sistemática. O questionário foi composto por cinco questões. Na primeira, o aluno deveria
citar o nome de 10 árvores, diferenciando entre nativas e exóticas. A segunda questão pedia o
nome de 10 plantas do Cerrado. Na terceira, a partir da apresentação de fotos sobre dez
espécies de plantas do Cerrado com flores e frutos, o aluno deveria responder se conhecia a
planta e informar seu nome. Na última etapa da entrevista, quarta e quinta questões, à medida
que as fotos de plantas eram novamente apresentadas, foram fornecidos os nomes vulgares de
cada uma e perguntado se o entrevistado conhecia aquele nome e se saberia dizer algo sobre
ela. As informações sobre as plantas, cujos nomes foram reconhecidos, foram consideradas
corretas, ou pertinentes, e incorretas ou sem pertinência. Neste último caso, registraram-se
como respostas incorretas aquelas que claramente não se relacionavam à espécie apresentada
(como por exemplo, dizer que frutos de canela de ema são usados na culinária) ou quando
eram vagos e se aplicavam a qualquer planta, disser que a planta ocorre no cerrado, ou é uma
espécie nativa. As fotos corresponderam às seguintes espécies: buriti (Mauritia flexuosa),
canela de ema (Vellosia squamata), cagaita (Eugenia dysenterica), ipê amarelo (Tabebuia
ochracea), faveira (Dimorphandra mollis), sucupira branca (Pterodon pubescens), pequi
(Caryocar brasiliense), pau-santo (Kielmeyera speciosa), lobeira (Solanum lycocarpum) e
caliandra (Calliandra dysantha). A significância da diferença entre respostas dos diversos
grupos analisados foi verificada através de testes de Chi-quadrado.
Resultados e Discussão
O número total de plantas citadas pelos alunos do curso de Biologia, independente do
semestre em curso, foi 107. Deste total, 81 foram árvores, 68 espécies de plantas brasileiras e
2
57 árvores nativas (Figura 1). No curso de Geografia, o número total de plantas citadas,
independentemente do semestre, foi de 99. Deste total, 83 foram árvores, 68 espécies de
espécies nativas e exóticas
0,75
0,7
0,65
0,6
0,55
0,5
0,45
0,4
Nativas
Exóticas
0,35
0,3
0,25
0,2
Indeterminada
0,15
0,1
0,05
0
Biologia
geral
Biologia
início
Biologia
final
Geografia
geral
Geografia
início
Geografia
final
plantas brasileiras e 59 árvores nativas.
Figura 1 – Proporção de plantas nativas, exóticas e indefinidas citadas pelos alunos dos cursos
de Biologia e Geografia.
Quando comparadas às respostas à pergunta N°1 entre os cursos, observou-se que o
número de espécies nativas citadas por alunos de ambos os cursos foi o mesmo, entretanto, os
alunos de primeiro ano da Biologia foram capazes de citar um menor número de espécies
nativas do que os de primeiro ano de Geografia e que também não diferiu do número citado
pelos alunos do último ano desse curso. Entretanto, os alunos do último ano de Biologia
foram capazes de citar um número maior de espécies nativas do que os de Geografia. Em
média, os alunos do primeiro ano de Biologia citaram 5,72 nomes de árvores (sendo 2,68
nativas). Já os alunos do último ano, 8,04 (sendo 5,44 nativas). Os alunos do primeiro ano do
curso de Geografia citaram em média, 7,74 nomes de plantas (4,6 nativas), enquanto que os
alunos do último ano citaram 7,64 (6,2 árvores nativas). O teste Chi-quadrado foi
significativo2, indicando que os alunos dos últimos semestres conhecem maior número de
árvores nativas do que os dos semestres iniciais. Também foi significativa a diferença de
resposta quando foram comparados os alunos de primeiro ano de ambos os cursos3, indicando
que os alunos de Geografia do primeiro ano conhecem mais plantas nativas do que os da
2
3
(biologia, χ2 = 19,9 p< 0,01; geografia χ2 = 4,05 p<0,05)
(Biologia χ2= 27,5 p<0,01, Geografia χ2 =21,4 p<0,05)
3
Biologia. Já para o último ano, a relação se inverte. Os alunos de Biologia apresentaram um
maior conhecimento sobre plantas nativas do que os de Geografia4.
Sobre o conhecimento de plantas do Cerrado, a média de plantas nativas citadas pelos
alunos do primeiro ano de Biologia foi de 1, 76, sendo que a média de acertos foi de apenas
0,88. Os valores médios obtidos para os últimos semestres foram de 5,88 plantas e 5,12 de
acertos. A espécie de planta mais citada foi o pequi para ambos os grupos entrevistados,
embora o número de alunos que a citou diferisse entre esses grupos (8 para o primeiro ano e
14 para o último). A comparação entre cursos indicou média mais elevada para os alunos do
curso de Geografia (3,84) comparadas aos de Biologia (1,76), demonstrando um maior
conhecimento daqueles sobre plantas nativas, nos semestres iniciais. O teste Chi-quadrado foi
significativo (χ2 = 24,4 p<0,01). Não houve significância para os alunos dos últimos
semestres.
De acordo com a média de acertos, os alunos de início do curso de Geografia (2,72)
conhecem um maior número de plantas nativas do Cerrado do que os de Biologia (0,88), com
Chi-quadrado significativo (χ2 = 74,90 p<0,01). Para os últimos semestres, a diferença foi
também significativa entre Biologia (5,12) e Geografia (4,72), com χ2 = 12,84p<0,01. Na
questão três, foram mostradas fotos de plantas nativas do Cerrado e solicitado o nome da
planta apresentada na fotografia. A média de respostas afirmativas, dizendo conhecer as
plantas apresentas, para o Curso de Biologia foi de 6,44 para os alunos dos primeiros
semestres (média de acertos dos nomes 1,52) e 6,92 dos últimos semestres (média de acertos
de 4,36). Os alunos de Geografia dos primeiros semestres apresentaram média de respostas
afirmativas de 5,56 (média de acertos de 2,76) e 6,52 dos últimos semestres (média de acertos
de 4,04). Na questão quatro, foi pedido um comentário sobre essas fotos identificadas por
eles. A média de respostas pertinentes para os alunos do primeiro ano, no curso de Biologia
foi de 1,72 e de 2,68 para os alunos de último ano. No curso de Geografia as médias de
respostas pertinentes foram, respectivamente, de 2,24 e 3,16, com. Percebe-se, portanto, um
melhor desempenho em relação aos alunos dos semestres iniciais para o curso de Geografia
(χ2 = 6,02 p<0,01, significativo). Já para os alunos de final de curso, ao contrário, os de
Biologia apresentaram melhor desempenho e significativo (χ2 = 90,65 p<0,01).
A média de plantas reconhecidas pelo nome, por alunos de iniciantes de Biologia foi de
6,76 e do último ano, 8,52,. A média de respostas com comentários pertinentes sobre as
plantas do Cerrado foi de 1,68 e de 4,76, respectivamente, com diferenças significativas (χ2 =
4
(Biologia χ2= 60,83 p<0,01, Geografia χ2 =174,9 p<0,05)
4
36,82 p<0,01). Resultado similar foi observado no curso de Geografia com médias de 6,84
para alunos iniciantes e 8,8 para os de último ano. A média de respostas com comentários
pertinentes dos alunos do 1º e 2º semestres foi de 4,16 e 3,95 para os de 7º e 8º, com
diferenças significativas. A comparação nas respostas entre todos os alunos de Geografia e
Biologia não foi significativa.
O teste de Chi-quadrado, utilizado para comparar a quantidade de respostas com
comentários pertinentes, quando foram mencionados os nomes das plantas, entre os alunos do
curso de Geografia e Biologia, não foi significativo para primeiros e últimos semestres de
Geografia (χ2 = 2,36 p<0,01) e significativo para todos os semestres de Biologia). Ao ser feito
uma comparação entre os primeiros semestres de Biologia e Geografia foi significativo (χ2 =
26,32 p<0,01) e com os últimos semestres de Biologia e Geografia também foi significativo
(χ2 = 6,4 p<0,01). A partir dos dados obtidos no primeiro momento, percebeu-se que os alunos
do primeiro ano de Geografia tiveram mais familiaridade com relação à vegetação do Cerrado
em relação aos alunos de Biologia. Analisado o currículo de ambos os cursos, identificou-se
que nos primeiros semestres do curso de Geografia uma matéria que é ensinada pelo professor
Barradas, cujo nome é Biogeografia, aborda as vegetações nativas do Cerrado. Com relação
aos dados dos últimos semestres, ocorreu o inverso. Os alunos de Biologia demonstraram um
maior conhecimento sobre as plantas do que os alunos de Geografia. Pelo currículo desse
último, percebeu-se um primeiro semestre com atenção a esse conhecimento, porém sem uma
continuidade sobre a flora do cerrado nos semestres seguintes. No curso de Biologia, ao
contrário, não havia no início matérias que abordassem a temática das plantas do Cerrado. No
entanto, a partir do terceiro semestre, outras disciplinas como Ecologia, Criptogamas,
Fanerógamas, Ecologia de Campo, Estágios I e II de Botânica e Biodiversidade, abordam
sobre as plantas do Cerrado. Grande parte dos alunos não conseguiu saber a diferença entre
árvore e planta, segundo Carniello & Neto (1997), pois o conhecimento deles era bastante
limitado. A árvore mais mencionada entre alunos de Biologia e Geografia independente do
semestre foi à mangueira, uma árvore muito comum no Plano Piloto.
Na segunda questão, as médias encontradas sobre os acertos não foram muito elevadas,
pois o cerrado é um dos ecossistemas menos enfatizado em livros didáticos e quando o é,
muitas vezes são conferidas características depreciativas a ele (Bizerril, 2003, 2004). Dessa
forma, é possível que os alunos da graduação, egressos do segundo grau, tenham pouco ou
nenhum conhecimento sobre a flora nativa do cerrado.
Na questão três, fazendo uma análise do que os alunos conheciam dessas plantas ao ver
a sua foto, pôde-se notar que grande parte diz conhecer, porém não foi capaz de dizer o nome
5
vulgar corretamente. O que significa que a maioria dos alunos não aprende a reconhecer as
plantas mais comuns do cerrado durante a graduação. Na questão quatro, percebeu-se o que os
alunos dos cursos de Biologia e Geografia sabiam sobre essas plantas identificadas por eles.
Nesse sentido, foi pedido o comentário sobre elas. As médias de respostas foram muito
baixas. Isso sugere a necessidade de reforço no currículo desses dois cursos em relação a um
maior aprofundamento sobre o assunto de plantas nativas do Cerrado. Na questão cinco, que
foi a última, solicitou-se o nome das plantas mostradas nas questões anteriores e alguma
informação sobre elas. No curso de Biologia, alunos dos últimos anos souberam falar mais
sobre essas plantas do que os alunos dos semestres iniciais. No entanto, no curso de Geografia
algo interessante ocorreu. A média de conhecimento sobre plantas nos primeiros semestres foi
maior quando comparada com as dos alunos do último ano. Uma possível explicação está na
matéria de Biogeografia ministrada pelo o professor Barradas.
Conclusões
Os alunos dos dois cursos estudados possuem certo conhecimento sobre plantas nativas
do Cerrado, no entanto de forma geral, a análise de todas as questões revelou médias não tão
elevadas como se esperava. Nesse sentido, sugere-se a necessidade de uma revisão curricular
para propiciar melhor compreensão dessa temática sobre o Cerrado, nos dois cursos.
Referencias bibliográficas
AQUINO, A.A.A. O Papel das Unidades de Conservação De Conservação na Preservação Da
Natureza. Monografia, Licenciatura em Biologia, Centro Universitário de Brasília,
Brasília-DF,2001.
BIZERRIL, M.X.A. O cerrado nos livros didáticos de geografia e ciências. Ciência Hoje,
v.32, nº 192, p.56-60. 2004.
CARVALHO, M.L; BENETTI.B. A introdução da temática ambiental nas aulas de ciências
naturais:perspectivas do professor do ensino fundamental. Revista Educação: teoria e
prática, v. 9, nº 16, 2001.
CORTEZ, A.S.J;LYRA,B.H.L; SILVA.M.W.C. A Educação Ambiental Contribuindo para a
Preservação da Mata de Dois Irmãos, Recife-PE. Revista Eletrônica Mestrado
Educação Ambiental, v. 11, 2003.
6
CORREA, C.S. Percepção do Alunos da Rede Oficial de Ensino Fundamental e média do
Recando das Emas Sobre a Ofidiofauna. Monografia, Licenciatura em Biologia, Centro
Universitário de Brasília, Brasília-DF, 2004.
PINHEIRO, L. Da ictiologia ao etnoconhecimento: saberes populares, percepção ambiental e
senso de Conservação em comunidade ribeirinha do rio Piraí, Joinville, Estado de Santa
Catarina. Revista Biological Sciences, Maringá, v. 3, nº 26, p. 325-334, 2004.
7
Download