a pesquisa de opinião como recurso pedagógico

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A PESQUISA DE OPINIÃO COMO RECURSO PEDAGÓGICO
Pricila Rocha dos Santos
No decorrer da História da Educação em todo o mundo, é desafio primordial para
os educadores encontrar alternativas diferenciadas que prendam a atenção de seus alunos,
valorize suas competências e, acima de tudo contribua para formar um adulto cidadão
comprometido com sua realidade social. Porém, isso não é tarefa fácil e pouco se evoluiu para
que isso ocorresse. Ainda hoje nos deparamos com aulas totalmente expositivas, ministradas
por professores desmotivados e alunos entediados com a mesmice que precisam enfrentar
todos os dias. Além disso, o professor ainda precisa conviver, senão competir com todo um
aparato tecnológico que vem conquistando com cada vez mais força todas as crianças que a
eles tem acesso.
Hoje nossos alunos, portanto, chegam nas salas de aula com inúmeras,
informações, questionamentos e teorias que vem formando diante aos meios extra-escolar que
lhes são fornecidos querendo utilizar seu pré-conhecimento e buscar mais e mais esclarecer as
dúvidas que lhes afligem. Diante disso, o professor deixou de ser o dono do saber, o mestre da
informação que precisa repassar seus conteúdos a um grupo de alunos moldados para ouvir e
atender ordens. O professor precisa, acima de tudo adaptar-se a essa nova realidade que a
escola precisa. Realidade essa, que está sendo silenciosamente gritada pelas crianças e que
muitas vezes são ignoradas pelo corpo docente.
Essa mudança não só é possível como urgente. É necessário em nossas escolas
alternativas pedagógicas capazes de suprir os problemas que afligem a educação atual para
assim realizarmos o verdadeiro processo educativo que o mundo atual exige.
O compositor Gabriel o Pensador em sua composição Estudo Errado trata o
assunto de maneira cômica porém não irreal...
“Sei que o estudo é uma coisa boa, o problema é que
sem motivação a gente enjoa. O sistema coloca um
monte de abobrinhas no programa...
Mas para aprender a ser um ignorante... Por mim eu
nem saía da minha cama!”
Precisamos, portanto, criar esses meios para que a escola torne-se um local atrativo
e interessante. E é com esse objetivo que nasceu a idéia pelo Instituo Paulo Montenegro as
escolas de todo o Brasil. A implantação do projeto NEPSO - Nossa Escola Pesquisa Sua
Opinião traz a pesquisa de opinião em nossas escolas surge como alternativa pedagógica na
luta pela escola que nós e nossos alunos estão procurando.
A pesquisa de opinião não se limita a uma série de perguntas, faz parte de todo um
processo que conta com a participação primordial do corpo discente. São os alunos quem
participam da elaboração do questionário, escolhem o tema a ser abordado, colocam o
trabalho em prática e colhem seus resultados. É um processo longo, mas que proporciona ao
aluno a liberdade para seguir o caminho que acha mais conveniente contribuindo no seu
processo ensino-aprendizagem sem tornar-se maçante. Como PERRENOUD expõe Não é
necessário que o trabalho pareça uma via crucis; pode-se aprender rindo, brincando, tendo
prazer.”
A parte inicial e de suma importância para o desenvolvimento do projeto em
questão trata do assunto a ser abordado. A questão inovadora neste tipo de trabalho é dar
liberdade a criança para que exponha suas dúvidas, suas curiosidades e anseios afim de que
possa escolher um tema de acordo com a sua realidade e que, acima de tudo venha de
encontro com seu próprio interesse. É fundamental para qualquer tipo de proposta pedagógica
trabalhada pelo professor que o tema abordado seja de curiosidade dos alunos para que o
resultado final seja alcançado, pois sem interesse não existe pesquisa. Segundo FREIRE
“...Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente
impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos”.
Nesse caso o papel do professor entra como motivador. Cabe ao professor trazer
para a aula materiais que envolvam o aluno no tema escolhido. O maior número de
informações possíveis são trazidas pelo professor e pelos próprios alunos para as aulas e
repassadas aos demais colegas. É dessa forma que a criança passa a fazer parte do tema
trabalhado para que assim, em parceria, professor e aluno possam problematizar o tema para
transformá-lo em pesquisa de opinião.
A turma de 5ª série da Escola Santa Catarina no município de Imbé/RS
demonstrou forte interesse em abordar o tema “animais” que após a motivação a
problematização foi feita, valorizando a questão dos animais de ruas existentes nas ruas do
município.
Já com o tema problematizado cremos ser de extrema importância que este seja de
forte conhecimento das crianças. Para isso, pode-se colocar a criança em contato com o
problema que foi abordado. Dessa forma, crianças de qualquer idade passam a perceber os
problemas que os cercam exercendo já a sua cidadania e percebendo que já podem fazer
alguma coisa para que o problema seja solucionado.
A elaboração do questionário também é realizada pelos alunos que tem a
possibilidade de colocar em prática todo o conhecimento que buscou durante o período de
motivação. É nessa etapa que aluno expõe sua aprendizagem e a sua sensibilidade diante dos
problemas condizentes com a sua realidade. O questionário torna-se extremamente rico por
ser dotado de dúvidas adquiridas pelos alunos e que serão compartilhadas com um número
maior de pessoas. Torna-se ainda mais importante o tema que vem sendo abordado ao
perceber posteriormente se a opinião da população condiz com a opinião dos alunos.
Com certeza a parte que torna o projeto ainda mais prazeroso diz respeito ao
trabalho de campo realizado no momento da aplicação do questionário. É quando o trabalho
realizado atinge seu clímax. É interessante perceber a empolgação das crianças com o fato de
abandonar o ambiente de sala de aula e confraternizar de uma forma totalmente inusitada com
a população do bairro onde moram. É daí que sai os dados para que o projeto tenha o
fechamento necessário.
Por fim é chegada a hora de tabular a pesquisa e analisar seus resultados. É nesse
momento que o aluno percebe a importância que seu trabalho teve e ainda pode ter para a
comunidade em geral. Como todas as pessoas as crianças também sentem a necessidade de
participar, de contribuir, de dar sentido para aquilo que realiza. E é o objetivo principal deste
processo, mostrar aos nossos alunos o quanto seu trabalho é válido e importante e o alcance
que ele pode vir ter.
A escola citada anteriormente realizou ao término do trabalho uma campanha
voltada para a adoção de animais de rua, demonstrando a importância que o tema escolhido
assumiu no dia a dia das crianças.
Nunca é demais salientarmos a empolgação com que as crianças realizaram as
etapas do projeto e a importância que este assumiu nas suas vivências escolares. Porém é
inevitável avaliarmos a contribuição pedagógica que este teve e as competências que cada
aluno pôde desenvolver. A partir do desenvolvimento do processo pudemos perceber um
crescente no que diz respeito da construção do senso crítico. É de suma importância o papel
da criticidade quando os alunos elegem uma problemática para o tema; essa ação exige uma
sensibilização diante dos problemas e um olhar especial em perceber porque eles ocorrem e o
que pode ser feito para resolve-lo. Esse é, sem dúvida um primeiro passo para que
posteriormente essa competência se solidifique.
Um outro ponto que não pode deixar de ser comentado trata da valorização das
habilidades individuais. Diante da inclusão, assunto tão atual e um tanto polêmico, ainda não
paramos para pensar no fato de, muitas vezes, excluirmos os alunos que estão em nossa sala
de aula, considerados “normais” pela sociedade, com valiosas habilidades prontas para serem
descobertas e os criticamos por não realizarem uma determinada tarefa que possuem uma
dificuldade maior. Esses alunos passam, portanto, a serem rotulados por possuírem
dificuldade de aprendizagem. Segundo HOFFMANN “...não se pode considerar como
competente uma escola que não dá conta sequer do alunado que recebe, promovendo muitos
alunos à categoria de repetentes e evadidos”.
O projeto realizado então, vem arrebentar as correntes que nos prendem a esse
pensamento retrógrado e exclusivo que permeiam nossas práticas pedagógicas. Abrimos um
leque de possibilidades para que cada aluno sinta-se parte do projeto, contribuindo das mais
diferentes formas para o andamento dos trabalhos. Podemos assim, dar importância para
quem tem habilidades com expressão escrita, oral, através de desenhos, matemática e quantas
mais a criatividade de nossos alunos alcançarem. A diversidade proposta valoriza não só a
habilidade como também a auto-estima das crianças que percebem que possuem talentos e
que merecem respeito.
Conseguimos também, através deste alguns quesitos básicos muito comentados
nas escolas e repetidos inúmeras vezes nas mais variadas instituições de ensino em todo o
Brasil a interdisciplinaridade. Assim, a pesquisa realizada ou a ser realizada possibilita a
implantação da interdisciplinaridade na escola, pois qualquer assunto que venha a ser
escolhido pode ser abordado de diferentes formas pelas disciplinas da grade curricular. Além
disso, possibilita um trabalho conjunto entre professor-aluno tirando o professor do falso
pedestal que mantinha sua superioridade primando pela participação mútua sem o professor
perder sua importância frente ao grupo.
Podemos também contar com a intensa participação dos pais na construção desse
processo. Eles são, em inúmeros momentos responsáveis pelo auxílio aos filhos em suas
pesquisas extraclasse, e em momentos especiais onde os pais podem comparecer na escola
para a culminância dos projetos.
Enfim, como toda tentativa de uma educação de qualidade, a pesquisa de opinião
vem permeada de esperanças e confiança por um resultado positivo. E tivemos no decorrer
dos estudos, das experiências e das aprendizagens uma resposta significativa em relação ao
processo pedagógico que esperamos para a educação atual. A pesquisa de opinião é, sem
dúvida, um maravilhoso recurso para atingirmos nossos objetivos enquanto professores. Basta
estarmos engajados para tornar a escola além de um centro de aprendizagem um espaço
instigante, interessante, divertido e atraente para nossos alunos. Segundo a aluna Vitória* “O
Projeto NEPSO é muito importante para os alunos porque nós aprendemos e ensinamos”, o
que comprova o que a educação precisa: ensinar e aprender para que professores e alunos,
unidos possam transformar os momentos na escola um espaço de crescimento mútuo e
contínuo.
REFERÊNCIA
PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar.
Médicas Sul, 2000.
Porto Alegre: Artes
HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora – uma prática em construção da pré-escola à
universidade. 20 ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 25 ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2002
Gabriel, O Pensador. Gabriel o Pensador – as melhores. Estudo errado. São Paulo: Sony,
1999
* Aluna da 5ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Estado de Santa Catarina, Imbé-RS
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